holdings familiares e planejamento sucessório hereditário rodrigo silva miranda
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS
PÓS-GRADUAÇÃO EM CONSULTORIA E DIREITO EMPRESARIAL
ARTIGO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Orientando: Rodrigo Silva Miranda
Orientador: Prof. Esp. Frederico Gustavo Fleischer
HOLDINGS FAMILIARES E PLANEJAMENTO SUCESSÓRIO
HEREDITÁRIO
Rodrigo Silva Miranda
Orientador: Professor Especialista Frederico
Gustavo Fleischer.
Projeto de Artigo Científico apresentado em
conclusão ao curso de especialização lato
sensu em Direito e Consultoria Empresarial da
Pontifícia Universidade Católica de Goiás-
PUC/GOIÁS.
Endereço eletrônico: [email protected]
Goiânia
2013
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RESUMO
Essa pesquisa tem como objetivo apresentar o tema das holdings como formas societárias que
podem se tornar valiosas ferramentas para a solução de recorrentes conflitos jurídicos e
negociais. Conflitos estes advindos tanto do ambiente econômico quanto de outros ramos do
direito, como o direito de família e sucessões, por exemplo. Dessa maneira, foram
estabelecidos conceitos básicos empresariais para entendimento da natureza jurídica das
holdings, a apresentação de algumas das vantagens de sua constituição e também foram
delineados conceitos básicos do direito de sucessões. De posse desses elementos, pode-se
edificar um procedimento extremamente viável para aplicar as holdings a uma sucessão
hereditária de um(a) genitor(a) que detenha considerável patrimônio empresarial. Com isso
obtemos duas valiosas vantagens: a preservação do grupo empresarial produtivo e uma
sucessão hereditária com o mínimo de conflito possível.
Palavras-chave: direito empresarial. sociedades holdings. planejamento sucessório.
INTRODUÇÃO
A importância do estudo das holdings surge principalmente quando analisamos a
série de benefícios que essas estruturas societárias oferecem para a solução simples, segura e
rápida para diversas demandas patrimoniais que se arrastariam por anos se dependentes da
tutela do judiciário. Em contraposição ao que ainda se arriscaria a um resultado não muito
satisfatório para as partes envolvidas.
Passamos a entender o peso dessa consideração inicial se prestarmos atenção às
notícias que chegam até nós no meio jurídico e empresarial que envolvem o tema das
holdings. Reparamos que não se trata de uma seara desconhecida do direito empresarial. Na
verdade chegamos à conclusão de que se trata de uma poderosa ferramenta de organização
societária e patrimonial que se presta a vários objetivos e utilizada rotineiramente por
pouquíssimas bancas de advogados.
Enfim, para termos uma noção inicial de como funcionam as holdings, aduzimos
parte o introito da obra dos autores Gladston Mamede e Eduarda Cotta Mamede que trata
sobre o tema:
Muito se fala sobre as holdings e, mais especificamente, sobre holdings familiares. Esse
burburinho generalizado tem uma razão de ser bem clara: a descoberta por muitos dos
benefícios do planejamento societário, ou seja, da constituição de estruturas societárias que
não apenas organizem adequadamente as atividades empresariais de uma pessoa ou família,
separando áreas produtivas de áreas meramente patrimoniais, além de constituírem uma
instância societária apropriada para conter e proteger a participação e o controle mantido
sobre outras sociedades. Parece complicado, mas não é. Por um lado, uma boa estruturação
societária compreenderá as características e as necessidades das atividades negociais para,
então, sugerir uma distribuição do conjunto dos atos empresariais por uma ou mais pessoas,
concentrando numa só sociedade ou desmembrando por duas ou mais, de modo a otimizar
relações jurídicas, conter custos e riscos etc. Por outro lado, a parte não operacional do
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patrimônio da pessoa ou da família pode ser, ela própria, atribuída a uma sociedade
(holding), com as vantagens que serão aqui explicadas.(GLADSTON MAMEDE;
EDUARDA MAMEDE, 2012, p. 01)
Assim, as holdings se estruturam em múltiplas formas societárias que se adequam à
necessidade de cada caso especificamente. São compostas por várias pessoas, sendo elas
físicas ou mesmo jurídicas, ou ainda, o inverso, vez que uma holding pode ser formada com a
participação em diversas outras sociedades.
A extrema versatilidade das holdings permite, como apreciamos na citação do
Professor Mamede, um planejamento de concentração ou desconcentração de patrimônio, por
exemplo, segregando a parte operacional da parte detentora de propriedades e direitos dentro
de um grupo empresarial.
Essa possibilidade abre portas para um viés de utilização das holdings no campo do
direito das sucessões, tema bastante conhecido no direito por sempre estar associado a longas
contendas judiciais para formação e definição de partilhas.
Contribuindo ainda mais para as possibilidades de aplicação desse tema no ambiente
empresarial do país, é o fato de que a maioria dos grupos empresariais notoriamente se
confundem com grupos familiares. Aspecto decisivo para que seja despertado o interesse do
empresariado pelo tema e até mesmo para que a atividade econômica da empresa se perpetue
independentemente do afastamento dos principais administradores que iniciaram.
Em conclusão, as holdings são um tema explorado por poucos que desperta o
interesse dos titulares de empresas, em geral, detentores de considerável patrimônio.
Principalmente por atender aos anseios dessa classe econômica pela segurança de seu
patrimônio e também pela continuidade da exploração da atividade mesmo após seu
afastamento da sociedade.
CONCEITO DE HOLDING
A holding tem seu conceito definido atualmente com base na filosofia de controle nas
sociedades em que participa. Trata-se de um nome originado de derivação do verbo da língua
inglesa to hold, que significa segurar, manter, controlar e etc.(JOÃO BOSCO LODI; EDNA
PIRES LODI, 2011 p.4).
Basicamente são sociedades que podem ser constituídas por uma das diversas
naturezas legais, dentre as mais comuns: a forma de sociedade simples, a de sociedade
limitada ou a de sociedade por ações. Ademais, essa formação societária se presta a deter
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participações (cotas ou ações) de outras sociedades.
Diante desse quadro, temos a ideia mais recorrente sobre as holdings que é holding
pura, tendo em visa objetivar tão somente deter participação em outras empresas, atuando
como uma iniciativa empresarial investidora.
Todavia, e principalmente no Brasil, existem as holdings que, além de serem
detentoras de participações em outras empresas, também desenvolvem uma pequena atividade
secundária, conhecidas como as holdings mistas. Ou mesmo verificamos a criação de
holdings exclusivamente para deter um patrimônio, logicamente conhecidas como holdings
patrimoniais.
Assim, separação administrativa, patrimonial e operacional do grupo em sociedades
distintas geram uma gama de implicações na administração, nas deliberações entre sócios e
distribuição de obrigações.
Mais adiante entenderemos o porquê das vantagens dessas formas de estruturação de
sociedades holding. Entretanto já adiantamos que a formação de grupos empresariais
compostos por sociedades individualmente consideradas que se ligam por meio dos sócios são
conformações que geram muitos benefícios.
VANTAGENS OFERECIDAS PELAS HOLDINGS
A utilização das holdings no cenário dos negócios familiares se mostra bastante
eficaz no que diz respeito às vantagens e seguranças jurídicas que pode oferecer. Trata-se de
uma organização societária que, em função de suas peculiaridades operacionais, conforme
visto, proporcionam esses diferenciais para a tutela do patrimônio, algumas das quais
renomados autores do direito empresarial como Gladston Mamede e Eduarda Mamede
discorrem em suas obras e que passamos a analisar.(GLADSTON MAMEDE; EDUARDA
MAMEDE, 2012, p. 54)
Uma das primeiras vantagens que podemos citar referente à instituição de uma
holding é a uniformidade administrativa. Isso decorre do fato de a holding ser titular do
controle de várias outras sociedades operacionais por meio dos contratos sociais e também de
se transformar no centro administrativo de todo o grupo. Dessa forma, os processos, metas,
controles, cultura organizacional e, especialmente, a forma com que as sociedades controladas
se apresentam a terceiros serão uniformizados de acordo com as diretrizes exaradas da
holding central. E mais, esses elementos empresariais sofrerão um viés uniformizador, porém
a holding terá um olhar adequando ao perfil de cada uma de suas controladas, de modo que
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suas diretrizes sejam absorvidas mesmo se conformando a cada situação em específico. Logo,
o grupo ganha uma identidade, mesmo porque a holding passa a ser o principal contato na
relação com terceiros tais como credores, governo, imprensa e etc., sendo que o membro da
família detentor do patrimônio poderá tomar posição nessa função e garantir, ainda, a ideia de
que permanece titular da universalidade dos bens do grupo.
Outra decorrência das holdings é a contenção de conflitos familiares. Isso se deve ao
fato de os conflitos entre os membros da família dentro da holding não se resolverem por
regras de Direito de Família, mas pelas de Direito Empresarial. Dessa forma, a solução migra
de um ambiente de normas essencialmente baseado em relações afetivas, para um ambiente de
normas fundamentado nas relações contratuais com obrigações muito bem definidas e que
apresenta maneiras de se exigir o cumprimento das mesmas sem que se crie ressentimentos
entre os componentes da holding.
Sobre esse último aspecto das holdings, podemos citar uma importante solução para
não deixar que os desentendimentos entre os sócios familiares afetem os demais sócios que
não fazem parte da família. Basta reunir os sócios familiares em uma holding separada que se
apresentará aos demais sócios não familiares como um participante individual nas cotas ou
ações da empresa. Logo, todos os desentendimentos entre os sócios familiares ficarão restritos
ao âmbito da holding, sem que nenhum terceiro tenha contato com as deliberações ou a forma
como elas se deram, assim, a sócia holding sempre apresentará uma decisão certa aos demais
sócios não familiares. E isso evita desgastes e exposições desnecessárias de elementos da
intimidade parental e também evita que sócios familiares dissidentes não façam conluio com
sócios não familiares para gerar força contra os demais membros da família.
Na esteira das vantagens das holdings familiares trazidas pelos autores, podemos
citar também a distribuição de funções. Esse conceito trata basicamente do remanejamento
dos sócios parentes dentro do grupo empresarial em posições de administração ou operação
conforme o desejo de cada membro, mas que ainda sim permita que todos recebam uma
remuneração equitativa. Isso ocorre porque em empresas familiares, alguns membros optam
por trabalhar nas unidades produtivas, sendo que uns assumem cargos de gestão e outros
cargos com vínculo de emprego, e, dessa forma, os ganhos salarias mostram-se discrepantes.
Quando se tem a holding, todos os membros da família recebem igualmente conforme a
proporção de sua participação, logo, por mais que cada um ocupe um cargo em níveis
diferentes na empresa, os ganhos serão equitativos, pois não recebem salários, mas repartição
do lucro que ajudaram a construir.
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Adiante, outra solução que as holdings oferecem é a administração profissional. Esse
aspecto possibilita retirar os familiares que se prontificam a assumir a gestão e que não
tenham o necessário tino negocial de administrador dos pontos de decisão da empresa. O
administrador profissional, além de possuir melhor técnica, toma suas decisões
independentemente de fatores afetivos, como faria um administrador da família. Também se
torna mais fácil destituir um administrador que não esteja no nível esperado de rendimento
quando não é membro da família. E o estabelecimento de um administrador dentro do grupo
pode se dar em vários níveis, ou seja, pode ser alocado nas sociedades operacionais, sendo
que quem define as diretrizes do grupo é a cúpula gestora da holding da qual os familiares são
sócios. Evidentemente considerando que os poderes dos administradores profissionais serão
regulados por instrumentos de outorga de poderes muito bem definidos pelos sócios
familiares, de modo possibilitar que estes não tenham suas decisões sobrepostas pelas
decisões do administrador profissional.
Outra vantagem a se destacar é que as holdings também fornecem uma proteção
contra a entrada de terceiros na forma de sócios no grupo empresarial familiar. Tudo porque
se um sócio membro da família perde suas cotas por execução de alguma obrigação, o credor
não poderá simplesmente tomar assento na empresa, mas seu ingresso deverá passar pela
deliberação dos demais sócios familiares, e não sendo aprovada, suas cotas serão apuradas e
entregues em dinheiro, exatamente como o regimento legal das sociedades no código civil
brasileiro prevê.
Ainda, sobre a entrada de outras pessoas como sócias nas holdings familiares, os
autores apontam a proteção contra os fracassos amorosos. Essa tutela evita que cônjuges
adentrem o grupo das empresas na ocasião de separações e divórcios ao permitir que cotas ou
ações das sociedades sejam gravadas com cláusula de incomunicabilidade, quando doadas
pelos familiares titulares do patrimônio aos herdeiros que passam a se tornar sócios. Noutro
giro, o cônjuge meeiro também não pode exigir sua imediata entrada na sociedade, conforme
o mesmo regramento que se expôs acima para a entrada de terceiros , ou seja deve ser passada
por aprovação dos demais sócios.
Diante de todas essas seguranças jurídicas apresentadas, podemos notar as vantagens
das holdings familiares quando da análise de seus efeitos. Ainda, por mais que se prestem a
tutelar a continuidade da empresa permitindo-se a união da família, são as holdings uma
forma de personalização do grupo para melhor desenvolver seus negócios, possibilitando
assim, até um aumento de sua produtividade e consolidação no mercado.
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A NATUREZA SOCIETÁRIA DA HOLDING FAMILIAR E SUA FORMAÇÃO
Anos atrás se discutia a natureza societária correta para a constituição de uma
holding, tempo em que alguns afirmavam ser a sociedade por ações (estatutária) a forma a ser
constituída, já outros tinham por certo que as sociedades por cotas ( contratuais) eram as mais
adequadas. Ao bem da verdade, foi constatado que não existe disposição legal que vincule a
natureza societária das holdings, em especial as patrimoniais familiares. Mas sim conforme a
conveniência e adequação ao perfil a que essa ferramenta se presta.
Pensando assim, a holding familiar é um objetivo, uma conformação almejada pelos
seus constituintes e não uma receita legal com procedimentos devidamente pré-estabelecidos.
Os autores Gladston e Eduarda Mamede explicam muito bem essa ideia em sua obra, como se
analisa a seguir. (GLADSTON MAMEDE; EDUARDA MAMEDE, 2012, p. 86)
Diante disso, analisa-se a utilidade negocial em função da qual a sociedade que está
sendo formada, ou seja, qual espécie societária melhor se adequa aos objetivos da atividade
econômica que exercerá e como ela trará melhores resultados de forma eficiente.
Noutro giro, analisa-se o perfil da família a qual a holding servirá, ou seja, quais são
seus pontos de conflito, quantidade de membros envolvidos, modo como costumam dirimir as
divergências, enfim, também se leva em conta tais fatores na hora de se definir o tipo de
sociedade.
Em geral, são os tipos societários que mais apresentam adequação à utilidade da
holding: as sociedades simples, as sociedades em nome coletivo, as sociedades em comandita
simples e as por ações, as sociedades limitadas e as sociedades por ações.
Dentre as mesmas, podemos identificar as sociedades simples e as empresariais. As
sociedades simples, no caso, não se prestam à organização dos fatores de trabalho para a
prestação de serviços ou produção e circulação de bens, portanto não assumem caráter
essencialmente comercial, de modo que são registradas em cartório de registro civil e não
estão sujeitas a processo de recuperação e judicial ou falência. Conquanto que as empresariais
se destinam justamente à organização dos elementos econômicos e comerciais, dessa forma
são registradas no registro de empresas mercantis e estão sujeitas à recuperação judicial e
falência.
Tais fatores são importantes para a análise das holdings, porque se sujeitar ou não ao
processo de falência pode ou não ser uma vantagem para o grupo empresarial familiar. Esses
processos são de simples instalação e de tramitação judicial bastante dinâmica, vide artigo 94
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da Lei 11.101/2005, que autoriza o pedido de falência para o devedor de títulos protestados
com soma superior a quarenta salários mínimos. Logo, é um facilitador da desestruturação de
um eventual grupo empresarial familiar.
Já nas sociedades simples que não se vinculam à falência, o processo de exigência de
todas as obrigações não honradas ocorre por insolvência civil, processo de difícil instalação e
mais trabalhoso.
Adiante na análise das formas societárias, temos as contratuais e as estatutárias. As
primeiras oferecem eficaz tutela contra a participação de terceiros no capital social tendo em
vista o quorum de deliberação para tal acontecimento de 75% dos participantes do capital
social nos termos do artigo 1.057 do Código Civil, dentre outros casos de honra de
compromisso de credores com cotas sociais em que o credor não pode simplesmente alçar a
posição de sócio.
Do outro lado, temos as sociedades estatutárias em que a livre participação e
facilidade nas trocas de sócios pode ameaçar a concentração do poder familiar sobre o grupo
de empresas, além de que por força das Leis 6.404/76 e 11.638/07 deve ser dada publicidade a
toda escrituração da empresa, franqueando os detalhes das estratégias familiares a quem se
fizer interessar. Muito embora os autores listem tais desvantagens, citam também as vantagens
para a holding, como a facilidade de captação de recursos para a evolução das atividades da
empresa, a quase mínima possibilidade de dissolução parcial do patrimônio e a divisão entre
ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (sem direito a voto) para alocar
familiares com maior tino negocial para aquelas e sem tino negocial nenhum para estas.
Como se percebe, são diversas as formas societárias possíveis para o cumprimento
do objetivo de uma holding familiar, mas que englobam um pacote de benefícios a cada
situação, além do que seguem as formas de constituição como rege cada tipo societário citado,
sem formalidades específicas ou complexas.
A criação da holding segue os procedimentos legais e administrativos dos órgãos de
registro ( cartório ou registro mercantil de empresas), com exigência de documentos e
comprovações como qualquer outra empresa.
Já a integralização do capital social dessas holdings ocorre em geral pela subscrição
do patrimônio da família. Os ascendentes podem destacar parte de seu patrimônio ou mesmo
sua totalidade e alocar na empresa, sempre respondendo em caso de evicção, claro. Cabe
atentar que a composição do capital social segue somente por bens que permitem a estimativa
de seu valor, respondendo os sócios pelos prejuízos aos credores em decorrência da avaliação
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em patamares incompatíveis com o valor de mercado.
Os custos que envolvem a criação da holding também seguem como se uma empresa
qualquer estivesse sendo criada, em especial o valor a ser separado para fins de integralização
do capital social, serviços contábeis e legais de profissionais especializados, custos para
constituição de livros de registros, eventual caixa inaugural, locação de imóvel para instalação
de sede, taxas para arquivamento nos órgãos registrais enfim, desembolsos dessa natureza.
Por fim, a noção da criação de uma holding não se distancia muito da atual realidade
empresarial praticada pelos profissionais de assessoria ou mesmo dos próprios empresários,
que têm ao seu dispor naturezas societárias variadas mediante procedimentos e custos já
conhecidos.
Entretanto deve ser analisado juntamente com a estrutura dos custos as implicações
tributárias na formação de uma holding, em especial as patrimoniais familiares, conforme
veremos a seguir.
OBSERVÂNCIA DOS EFEITOS TRIBUTÁRIOS NA CRIAÇÃO DE UMA HOLDING
FAMILIAR
Cumpre, nesse trabalho, ressaltarmos alguns pontos relevantes da criação de holdings
familiares que geram consequências tributárias. Estas devem ser consideradas, vez que podem
inviabilizar todo o objetivo de implantação dessa sociedade patrimonial.
Conforme análise das obras dos autores Gladston e Eduarda Mamede e Joao Bosco e
Edna Lodi sobre o tema da tributação das holdings familiares entendemos que existe um mito
de que as holdings são formas essencialmente criadas para menos pagamentos de tributos.
(GLADSTON MAMEDE; EDUARDA MAMEDE, 2012) (JOÃO BOSCO LODI; EDNA
PIRES LODI, 2011).
A criação da holding, quando bem projetada por uma equipe multidisciplinar,
realmente pode evitar a incidência de alguns tributos e reduzir bases de cálculos e alíquotas.
Entretanto, como dissemos, não é o mero estabelecimento de uma nova sociedade que
ensejará menos recolhimento de impostos e seu estabelecimento mal planejado pode até
estabelecer recolhimentos que antes não eram necessários.
A exemplo, temos impostos que não são recolhidos por pessoas físicas como o PIS e
Cofins, dessa forma, o estabelecimento de uma pessoa jurídica já remete ao pagamento de tais
tributos. Por isso a necessidade de sopesar a criação de uma nova empresa.
Em outros casos, como o citado pelos autores Gladston e Eduarda Mamede, na
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integralização do capital de uma holding com bens, se for constatado pelo fisco de que a
avaliação do bem para a composição do capital social for maior do que o valor de quando foi
adquirido pelo alienante, incide imposto de renda sobre ganhos auferidos com essa alienação!
(GLADSTON MAMEDE; EDUARDA MAMEDE, 2012, p. 101)
Mas é bem verdade que empresas com determinados regimes de tributação, como o
caso do lucro real ou lucro presumido, têm bases de cálculo reduzidas para apuração lucros,
vez que primeiro se subtrai do faturamento total as despesas e recolhimentos sociais, para, a
partir daí, incidirem impostos sobre o lucro líquido.
Ademais, certas atividades econômicas possuem alíquotas diferenciadas para
tributação de suas atividades, o que pode refletir em menores custos tributários quando da
instituição de uma pessoa jurídica.
E já concluímos que uma análise fiscal da instituição de uma holding pode ser
bastante benéfica quando se estuda a estrutura do grupo empresarial familiar, ou mesmo das
pessoas físicas dos membros da família; quando se adequam e implementam mudanças nos
procedimentos da empresa, e, assim, mudar a cultura de atuação nas atividades no sentido de
manter o planejamento proposto. (GLADSTON MAMEDE; EDUARDA MAMEDE, 2012, p.
86)
Além do que as vantagens que uma holding patrimonial traz para o processo de
sucessão devem ser sopesadas com eventual elevação dos custos tributários, pois muitas vezes
a agilidade dessa forma de sucessão por não envolver litígios, compense um ou outro aumento
de incidência de tributo para ter acesso a tão importante ferramenta.
Sob outro prisma, concluímos também que a centralização da administração que as
holdings permitem forma uma verdadeira estrutura de governo dentro do grupo empresarial
familiar, conforme próprio entendimento dos autores Gladston e Eduarda Mamede.
Assim, surge uma gestão do próprio planejamento fiscal da empresa com o objetivo
de elisão fiscal, vez que a administração da holding se encontra em um patamar distante das
rotinas operacionais das empresas controladas, permitindo uma visão geral do funcionamento
do grupo. De modo que podem ser tomadas medidas muito mais eficazes para alterações nos
procedimentos com vistas à menor ocorrência de hipóteses de incidências.
Os autores João Bosco e Edna Lodi até defendem a criação de um comitê fiscal nas
holdings para gerir o processo de planejamento com mais eficácia. Comitê esse formado por
profissionais da contabilidade, administração, direito, técnicos e outros que contribuirão para
mais exata mensuração das consequências tributárias das operações do grupo empresarial.
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(JOÃO BOSCO LODI; EDNA PIRES LODI, 2011, p. 87).
Portanto, nas conformações empresariais para estabelecimento da holding familiar
devem os profissionais e empresários atentarem para as consequências tributárias, sopesando
as possíveis vantagens que a nova pessoa jurídica trará frente aos seus custos.
A SOCIEDADE HOLDING COMO FERRAMENTA NA SUCESSÃO HEREDITÁRIA
Em considerando as análises que foram realizadas neste trabalho sobre o conceito de
holding, as vantagens por ela oferecidas, sua operacionalidade e natureza jurídica, aspectos
tributários e estrutura de custos, cumpre agora aduzir sua funcionalidade na questão da
sucessão hereditária. Função essa como sendo o foco desta pesquisa.
Como bem observaram os autores Gladston e Eduarda Mamede em suas pesquisas, a
sucessão hereditária é uma recorrente fonte de disputas na maior parte das famílias em que se
instala quando um ente provedor deixa patrimônio a se distribuir. Mas o enfoque das
consequências dessa disputa recai sobre a estrutura produtiva do grupo empresarial, como
discorreram os autores.
Essas situações ocorrem porque a morte do empresário abre a sucessão com o
inventário, onde já se instalam as divergências que perduram todo o processo judicial por
parte dos herdeiros.
Com o fim do inventário, se dá início à partilha dos quinhões da empresa a que
cabem a cada herdeiro e nesse ponto os conflitos familiares se misturam com a participação
dos sucessores nas deliberações da administração da empresa. Mas também existem outras
situações em que os sucessores solicitam a realização de suas cotas advindas da herança
transcorrendo na dissolução parcial da empresa, podendo até liquidar partes vitais do
patrimônio desta e comprometer seu funcionamento. Ou seja, de uma forma ou de outra o
legado do árduo trabalho edificado pelo de cujus se vê completamente ameaçado.
Mesmo quando o titular da empresa firma um testamento e estabelece a quem
compete cada quinhão, as disputas dentro do ambiente de negócios da empresa acabam
ocorrendo da mesma forma. Isso acontece porque os sucessores são integrados à sociedade e,
a partir disso, buscam instituir sua hegemonia ou mesmo realizar sua fração da empresa
liquidando suas cotas.
Logo, os autores Mamede concluem que o conflito será posto da mesma maneira,
independentemente de organização testamentária ou não. Entretanto, esses mesmos autores
apontam a solução por meio das holdings patrimoniais familiares como base em seus
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benefícios.
De início já se pode afirmar a vantagem de o titular do grupo empresarial entender
que lidar com sua sucessão é um aspecto fundamental para a manutenção de seu legado.
Diante disso, passa a organizar seus herdeiros no ambiente empresarial em o que seria uma
definição hereditária após sua partida. Ninguém melhor que o empresário para conhecer o
perfil ideal de cada herdeiro dentro do negócio que instituiu.
A proposta da holding familiar se fundamenta exatamente nesse ponto. Uma
sociedade patrimonial é criada, com a participação do ascendente e dos descendentes
somente. Trata-se de uma pessoa jurídica destacada do grupo empresarial, mas que detém
patrimônio que se presta à operacionalização da atividade das empresas e que também
titulariza a participação societária controladora de todas as demais pessoas jurídicas do grupo.
E no próximo item dessa pesquisa vamos delinear de forma mais prática como isso pode
ocorrer.
Dessa forma, como o empresário já estruturou cada herdeiro nos cargos da empresa e
as cotas já estão distribuídas, no momento de sua partida a sucessão ocorrerá somente nas
cotas que detinha. Sua morte acarretará somente os danos sentimentais e não os patrimoniais
(Mamede, 2011).
Ainda assim, se ocorrerem eventuais disputas entre os herdeiros, conforme já
dissemos nesse trabalho, não serão expostas as divergências familiares para as demais
empresas do grupo. A holding sempre terá que expressar em uma única decisão tomada
quando chamada a participar na administração das empresas operacionais.
No tocante à proteção do patrimônio do grupo familiar contra a participação de
terceiros ou eventuais cônjuges, é possível a gravação de cláusula de incomunicabilidade na
herança (artigo 1.668 do Código Civil), evitando a ingerência destes na atividade econômica
familiar. Em não sendo tão expresso assim contra o cônjuge, é possível gravar cláusula de
inalienabilidade, que carrega também os efeitos da incomunicabilidade e impenhorabilidade
(artigo 1.911 do Código Civil). Assim, o empresário tem a certeza de que seu legado não
tomará rumos diferentes do que planejou e ainda evita mais fontes de divergências entre seus
sucessores, claro, devendo apresentar justa causa para gravar essas cláusulas na herança,
conforme exigência legal (artigo 1.848 do mesmo diploma legal).
E para que esses projetos de sucessão tenham ampla eficácia, é necessário que sejam
averbados nos registros mercantis do grupo empresarial como bem determina o artigo 979 do
Código Civil.
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Finalmente, compreendemos com os estudos que as várias seguranças oferecidas pela
instituição da sociedade holding refletem em benefícios inestimáveis tanto para a família
quanto para a manutenção do negócio construído com tanto esmero pelos ascendentes durante
toda uma vida. Importando agora descrever como pode funcionar, na prática, essa transição do
patrimônio do genitor a seus herdeiros.
PROCEDIMENTOS PARA A SUCESSÃO HEREDITÁRIA POR MEIO DE UMA
SOCIEDADE HOLDING
Ao pensarmos na situação de um genitor, em seu falecimento, deixar patrimônio
constituído por empresas em plena produtividade e herdeiros com a devida vocação
hereditária, não podemos nos afastar dos institutos do direito sucessório previstos em nossa
legislação civil. Ademais, o que a ferramenta holding nos oferece para evitar conflitos ligados
à sucessão é simplesmente a aplicação das regras de direito empresarial nessa situação
sucessória.
Como bem afirmamos neste trabalho, a sucessão deixa de ser regida por normas de
família para ser tratada por regras negociais, desvencilhando os vínculos afetivos das
obrigações. E como os autores Gladston Mamede e Eduarda Mamede esboçaram em sua
pesquisa sobre o tema, as definições de direito sucessório e direito empresarial se
complementam.
Assim, cabe aqui descrevermos algumas regras básicas do direito das sucessões para
fundamentarmos os procedimentos da constituição da holding e, a partir dela, projetarmos a
herança.
Primeiramente devemos observar que a transmissão do patrimônio do genitor aos
sucessores ocorre de duas maneiras: por meio de legítima ou por meio de testamento (artigo
1.786 do Código Civil). A legítima é a transmissão baseada em lei, quando o de cujus não
indicou como seria dividido seu patrimônio, em que se define o espólio, se procede ao
inventário e culmina com a partilha. Geralmente é a forma de sucessão mais problemática,
pois os herdeiros não entram em consenso, gerando longevas contendas judiciais. A sucessão
por meio de testamento ocorre por disposição de última vontade, quando o genitor define a
distribuição de seu patrimônio entre os sucessores antes de falecer. Sendo esta última a forma
de sucessão a que mais interessa para o projeto da holding.
Outra regra importante das sucessões para o caso em voga é que, na sucessão por
meio de testamento, o testador pode dispor livremente apenas da metade de seu patrimônio,
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vez que a outra metade é de direito dos herdeiros legítimos (ascendentes, descendentes e
cônjuge). Ou seja, da totalidade de seus bens, metade deve ir aos parentes de 1º grau mais
cônjuge e a outra metade pode ser distribuída conforme livre vontade do genitor (artigo 1.789
do Código Civil).
Ainda, nossa legislação civil permite, além de elaborar um testamento, ao genitor
distribuir seu patrimônio ainda em vida por meio do instituto da partilha em vida, desde que
respeitado os direitos dos herdeiros legítimos conforme acima descrito (artigo 2.018 do
Código Civil).
De posse dessas regras básicas entendemos o quão simples é a sucessão por meio de
holding. Pode o genitor constituir uma sociedade desta natureza, em que figure como sócio e
incluindo seus herdeiros legítimos também como sócios. Com a sociedade estabelecida, basta
integralizar o capital dessa holding com todo o patrimônio do genitor, sejam em bens, sejam
em cotas das outras empresas das quais é sócio. Ressaltando-se que a legislação determina
que o ascendente deve reservar bens suficientes que assegurem sua subsistência. (art. 548 do
Código Civil).
Nesse ato já se estabelece em testamento como será a distribuição desse patrimônio
remanescente que continuou de propriedade do genitor, quando do seu falecimento, que, com
certeza, será uma fração bem pequena.
A fração de cada herdeiro no capital social dessa holding corresponderá ao percentual
do que seria o espólio conforme a vontade do genitor, que transferirá a propriedade por meio
de operação com natureza de doação (partilha-doação).
Mas nesse ponto devemos resgatar a regra de que o genitor não pode dispor
livremente o patrimônio, deve respeitar a metade a que fazem jus os herdeiros legítimos.
Ademais as limitações ao intuito de repartição do genitor não prejudicarão relevantemente,
mesmo porque só a metade destinada aos herdeiros legítimos deve ser dividida igualmente
entre eles (artigo 1.849 e 2.017 do Código Civil), a outra metade disponível pode ser
livremente repassada ao arbítrio do genitor, podendo ser atribuída a um único herdeiro se
assim quiser. Aventa-se a possibilidade aqui, inclusive, de o genitor apontar um terceiro como
participante da herança, mesmo não possuindo a vocação hereditária.
Com essa possibilidade, abre-se toda a operabilidade que mencionamos no item
anterior desse trabalho, em que o empresário pode definir com tranquilidade como cada
herdeiro poderá participar de seu patrimônio empresarial, planejando sua sucessão;
preservando a produtividade da empresa e não expondo os conflitos familiares nos ambientes
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societários das demais empresas ou aos sócios não pertencentes à família.
Logo, essa divisão do patrimônio empresarial entre os herdeiros (partilha em vida)
precisa ser expressa e formalizada por meio de escritura pública de partilha, que deve ser
averbada às margens dos registros comerciais da sociedade holding.
Podemos enriquecer ainda mais as possibilidades nesse modelo de sucessão ao
aplicarmos mais institutos civis nas relações entre os herdeiros e o genitor até que este tenha a
plena segurança de que seu plano se conforma ao que imaginou após sua falta.
Importante ressaltar, que nessa doação com efeitos sucessórios, o genitor pode
estabelecer condicionantes para que o herdeiro se submeta aos seus planos mesmo quando
receber a propriedade das cotas, como sendo uma das formas de limitação ao direito de
fruição e livre disposição (artigo 553 e aplicação análoga do art. 1.897, ambos do Código
Civil).
Outro exemplo: temos que muitas vezes o empresário não se sente seguro na
capacidade empresarial que cada herdeiro vem demonstrando com o passar do tempo e que
precise tomar frente nas decisões relativas àquelas frações de cotas em lugar o herdeiro
inapto. Assim, não poderia já de pronto deixar que o sucessor exerça plenamente as
faculdades sociais advindas da propriedade de suas cotas. Uma solução para esse problema é
instituir o usufruto do genitor sobre as cotas sociais do herdeiro, nos moldes do Código Civil
em seus artigos 1.390 a 1.411 nas disposições aplicáveis.
Se institui o usufruto com a elaboração de instrumento formal e sua averbação à
margem do registro da holding, se sociedade contratual, ou no livro de ações nominativas ou
instituição depositária, se sociedade por ações. O estabelecimento do usufruto transforma o
herdeiro em nu-proprietário das cotas, mas o genitor se torna o usufrutuário dessas mesmas
cotas. Isso implica que o herdeiro será o proprietário das cotas, mas o genitor é quem exercerá
todos os direitos sociais advindos daquelas cotas, sejam sobre questões decisórias, sejam
sobre direitos remuneratórios.
Diante disso, no caso em que o genitor venha a faltar, o usufruto se extingue como
previsto no artigo 1.410, I do Código Civil e os direitos de uso e gozo retornam em plenitude
para o herdeiro.
Como síntese do que foi apresentado nesse tópico da pesquisa, segue excerto da obra
dos autores Mamede a respeito do tema:
Alguns instrumentos jurídicos podem ser utilizados para tanto. O primeiro deles,
obviamente, é a constituição de sociedade holding, constituição essa que se dará nos
moldes que serão estudados nos próximos capítulos. Assim, o patrimônio da família, ou a
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parte eleita pelo interessado, já não mais pertencerá à pessoa natural, mas à pessoa física
(sic). A sucessão hereditária, assim, se fará não nos bens ou na empresa ou na participação
societária na(s) sociedade(s) operacionais, mas na participação societária na holding. No
entanto, será ainda preciso decidir se a transferência das quotas ou ações da sociedade de
participação se fará antes ou após a morte. Se antes, a transferência se fará por doação,
caracterizando adiantamento da legítima, ou seja, entrega antecipada da parte que caberá
aos herdeiros necessários após a morte. Aliás, pode haver, mesmo, a doação da parte
disponível do patrimônio. Se a preferência é a transferência após a morte, deve-se utilizar
do testamento; assim, o controle da holding se mantém com os ascendentes, sendo
transferido para os descendentes apenas após a morte. Alternativamente, há o recurso ao
usufruto: transfere-se aos herdeiros apenas a nua propriedade dos títulos societários (quotas
ou ações), mantendo o(s) genitor(es) a condição de usufrutuários, ou seja, podendo exercer
dos direitos relativos àqueles títulos e, dessa maneira, podendo manter a administração da
holding e, com ela, o controle das sociedades operacionais e demais investimentos da
família. (GLADSTON MAMEDE; EDUARDA MAMEDE, 2012, p. 80)
Como observamos, as mais diversas possibilidades jurídicas podem ser adaptadas ao
modelo de sucessões por meio de holdings, tendo em vista a dinâmica dos institutos civis
empresariais. Sendo o processamento acima apenas um exemplo prático das mais variadas
formas que se podem estabelecer.
CONCLUSÃO
As pesquisas realizadas sobre as holdings e sua função na contenção de conflitos
familiares permitiram edificar as ideias expostas nesse trabalho de formas clara e simples.
Tudo porque as vantagens oferecidas pelas sociedades de participação são
consideravelmente maiores frente aos dispêndios da criação desse tipo de empresa. Mesmo
porque o próprio conceito de holding e as naturezas jurídicas que pode assumir em nada
diferem das demais empresas tão comuns em nosso dia-a-dia.
A separação do patrimônio ou administração em uma pessoa jurídica distinta das
demais empresas do grupo é o que permite todas as vantagens listadas nessa pesquisa, em
especial as vantagens no direito de família e sucessório.
E sob o enfoque da conservação das empresas e sua função social percebemos que as
holdings prestam enorme tutela, mesmo porque a iniciativa da exploração de atividade
econômica não admite uma fria análise somente do ponto de vista da propriedade sobre o
patrimônio e o livre direito disposição dele.
As empresas hoje são responsáveis pela circulação da riqueza, subsistência de
famílias de trabalhadores, atendimento às necessidades dos consumidores, obrigações com
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fornecedores, contribuem para a evolução econômica de um país e fomentam o
desenvolvimento tecnológico. Ou seja, são aspectos estruturais básicos, mas de grande valia e
que devem ser preservados juntamente com a empresa. E as holdings se mostram como
ferramentas ideais para essa manutenção.
Dessa forma, foi visto que a transferência do patrimônio empresarial para os
sucessores quando da morte do empresário pode significar o desarranjo de toda estrutura
produtiva. Vez que a empresa passa a ser tratada por regras de direito de sucessões e não mais
empresariais.
Por isso a solução sucessória apresentada nesse trabalho, pois se trata de uma
convergência entre as regras de direito empresarial em adaptação ao direito das sucessões, o
que permite a regular transição do patrimônio produtivo, totalmente planejada e administrada
por quem é mais apto a entender a sociedade empresarial: o empresário.
Os institutos civis estão à disposição dos operadores do direito justamente para serem
aplicados nas mais variadas hipóteses, desde que resguardem a forma prevista ou não
infrinjam proibição legal.
Ademais, medidas civis devidamente formalizadas e planejadas no tocante às
sucessões contribuem para a diminuição das contendas judiciais entre os herdeiros, o que
também contribui para a unidade familiar e até mesmo para o não surgimento de outros
conflitos judiciais com origem nos desentendimentos por disputa patrimonial. Principalmente
por causa da presença do genitor encabeçando a distribuição de seu legado, que exerce toda
sua autoridade familiar sobre o destino de seus bens, o que evita também o levante de
inconformismo dos herdeiros.
Concluímos com essa pesquisa, portanto, que a união entre o instituto empresarial da
holding e o instituto sucessório da partilha em vida se mostram extremamente eficazes para
uma sucessão hereditária tranquila no seio familiar e também nas relações negociais da
empresa, tudo porque disciplina muitos elementos da transferência de patrimônio se mantendo
hígida a questionamentos, além de se mostrar perfeitamente viável juridicamente e
economicamente.
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BIBLIOGRAFIA
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 2: direito de empresa. 11ª ed.
Rev. E atual.. São Paulo: Saraiva, 2008.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, volume 7: direito das sucessões. 6ª
ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
LODI, Edna Pires;LODI, João Bosco. Holding. 4ª ed. rev. e atual. São Paulo: Cengage
Learning, 2011 (série profissional).
MAMEDE, Gladston; MAMEDE, Eduarda Cotta. Holding familiar e suas vantagens:
planejamento jurídico e econômico do patrimônio e da sucessão familiar. 3ª. ed. São Paulo:
Atlas, 2012.
BRASIL. Lei Nº 6.404 de 15 de dezembro de 1986. Lei das S/A.
BRASIL.Lei Nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro.