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Não há volta a dar. O Chefe do Exe- cutivo decidiu, está decidido. Chui Sai On voltou a prometer que não vai alterar a política assumida pelo Governo sobre a importação de tra- balhadores para o cargo de croupiers. O líder do Governo acaba mesmo por dizer não à ideia de Ambose So que recentemente afirmou ser preciso importar não-residentes. PÁGINA 4 IMPORTAÇÃO DE CROUPIERS Chui Sai On diz não à ideia de Ambrose So DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 SEGUNDA-FEIRA 17 DE FEVEREIRO DE 2014 ANO XIII Nº 3031 PUB Agnes Lam e Rui Leão, ligados à Associação Energia Cívica, consi- deram que “há coisas pouco transparentes” no panorama urbanístico existente no território. Para ambos é preciso fazer mais e, por isso, aplaudem a inicia- tiva de debate na AL sobre o projecto reservado para a zona norte da Taipa. hojemacau PUB Ter para ler PÁGINA 3 AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB Energéticos contra o conluio BENFICA E KA I EMPATAM Sporting continua na senda da vitória LIGA DE ELITE PÁGINA 16 DEPUTADOS CHEGAM-SE À FRENTE COM IDEIAS Financiamento parcial do serviço pedido ao Governo TÁXIS PÁGINA 5 Associação pretende mais transparência no urbanismo

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Edição do jornal Hoje Macau N.º3031 de 17 de Fevereiro de 2014

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Page 1: Hoje Macau 17 FEV 2014 #3031

Não há volta a dar. O Chefe do Exe-cutivo decidiu, está decidido. Chui Sai On voltou a prometer que não vai alterar a política assumida pelo Governo sobre a importação de tra-balhadores para o cargo de croupiers. O líder do Governo acaba mesmo por dizer não à ideia de Ambose So que recentemente afirmou ser preciso importar não-residentes. PÁGINA 4

IMPORTAÇÃO DE CROUPIERS

Chui Sai On diz não à ideia de Ambrose So

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ MOP$10 S E G U N DA - F E I R A 1 7 D E F E V E R E I R O D E 2 0 1 4 • A N O X I I I • N º 3 0 3 1

PUB

Agnes Lam e Rui Leão, ligados à Associação Energia Cívica, consi-deram que “há coisas pouco transparentes” no panorama urbanístico

existente no território. Para ambos é preciso fazer mais e, por isso, aplaudem a inicia-tiva de debate na

AL sobre o projecto reservado para a zona norte da Taipa.

hojemacau

PUB

Ter para ler

PÁGINA 3

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

Energéticos contra o conluio

BENFICA E KA I EMPATAM

Sporting continua na senda da vitória

LIGA DE ELITE PÁGINA 16

DEPUTADOS CHEGAM-SEÀ FRENTE COM IDEIAS

Financiamento parcial do serviço pedido ao Governo

TÁXIS PÁGINA 5

Associação pretende mais transparência no urbanismo

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2 hoje macau segunda-feira 17.2.2014POLÍTICAJOANA [email protected]

U MA informação relacionada com a atribuição da dez campas foi envia-

da por fax para o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) em 2003, quando mais ninguém saberia onde estavam os documentos sobre essas con-cessões. O Tribunal Judicial de Base (TJB) autorizou, por isso, que a Companhia de Telecomunicações de Macau (CTM) prescinda do seu dever de sigilo e ajude as autoridades a perceber em que nome estava registado o número de fax e quem o cancelou, em Abril do mesmo ano.

Em mais uma audiência do julgamento no âmbito do Caso das Campas - que senta no banco dos réus Raymond Tam, presidente suspenso do instituto, Lai Wai Nong, vice-presidente, Fong Vai Seng, Chefe de De-partamento de Serviços de Ambiente e Licenciamento, e Sio Kuok Kun, ajudante de encarregado -, Paulina Alves dos Santos, assistente no processo, apresentou um requerimento para pedir ao tribunal que investigasse esta situação. O pedido foi autorizado e subscrito, tan-to pelo Ministério Público (MP), como pela bancada da defesa. “É relevante saber com quem estavam os docu-mentos. Em 2003, o IACM teve de ir buscar informa-ções a um fax que tinha in-formação sobre a atribuição de sepulturas de Dezembro de 2001. O número de tele-fax está desactivado e era fundamental indagar quem é o proprietário”, começou por dizer Paulina Santos. Recorde-se que a também advogada foi quem denun-ciou o chamado Caso das Campas - relacionado com a atribuição alegadamente ilegal de dez sepulturas perpétuas no Cemitério de São Miguel Arcanjo. O caso levou à abertura de mais este processo contra Raymond Tam e os outros responsáveis, que o MP acusa de terem prolongado a entrega de documentos sobre as campas de forma propositada, atrasando a investigação do organismo. Os responsáveis respondem por prevaricação.

Também o MP quer saber quem esteve por trás disto. “É muito importante saber de onde veio, porque tinha uma informação sobre

O Tribunal Judicial de Base (TJB) autorizou a ex-tracção de certidão para

a abertura de um processo contra Ng Peng In, primeira testemunha do julgamento no âmbito do Caso das Campas, que coloca no banco dos réus Raymond Tam e outros três responsáveis do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (lACM). O presidente do instituto, agora suspenso, responde pelo crime de prevaricação por, alegadamente, ter demorado demasiado tempo entregar documentos relacionados com a atribuição das dez campas

perpétuas no Cemitério de São Mi-guel Arcanjo. Com ele, respondem Lei Wai Nong, vice-presidente, Fong Vai Seng, chefe do departa-mento dos Serviços de Ambiente e Licenciamento, e Siu Kok Kun, ajudante de encarregado.

Ng Peng In, agora assessor do Governo, era Chefe de Departa-mento dos Serviços de Ambiente e Licenciamento e, posteriormente, foi administrador do instituto. No decorrer das sessões de julgamento, onde Ng foi a primeira testemunha a ser ouvida, ficou a saber-se que o ex-responsável tinha consigo os

documentos solicitados pelo Mi-nistério Público aos responsáveis do organismo. Ng Peng In disse que guardar os documentos foi uma “opção”, porque não concordava com decisão sobre a atribuição das dez campas e explicou ainda que não colaborou com os responsáveis porque tinha medo de se tornar arguido, na eventualidade do caso ser investigado pelas autoridades. Admitiu, contudo, tê-los entregue ao MP.

Álvaro Rodrigues, advogado de Tam, prometeu tentar que a teste-munha viesse a responder por crime

num outro processo e, na última audiência confirmou-se que isso poderá vir a acontecer. “O tribunal já autorizou a extracção de certidão para abertura de um processo contra Ng Peng In”, revelou o advogado.

As contradições de Ng Peng In ao longo da inquirição foram constantemente motivos de queixa da bancada de defesa de Tam, Lei Wai Nong e Fong Vai Seng, até porque a testemunha começou por dizer que nunca tinha tido acesso aos documentos, estando sob jura-mento. Ng pode responder por falso depoimento em tribunal. – J.F.

Em 2003, alguém enviou um fax para o IACM com informações sobre as dez campas. Quem o fez, não se sabe, mas é certo que tinha acesso a papéis que os responsáveis do instituto não conseguiam encontrar. Agora, as autoridades vão investigar em que nome estava registado o número de fax, cancelado no mesmo ano

CASO DAS CAMPAS TRIBUNAL ORDENA INVESTIGAÇÃOPARA PERCEBER QUEM PODERIA TER OS DOCUMENTOS

Mistérios por telefax

sepulturas que não foi en-tregue ao MP e é [preciso] saber quem o enviou, para perceber quem estava pro-positadamente a esconder o documento”, acrescentou Paulo Chan, procurador--adjunto. “É importante saber junto da companhia [CTM], de quem era, porque já se sabe que não era um número do IACM.” Álvaro Rodrigues, advogado de Tam, disse “subscrever na íntegra” o pedido feito por Paulina Alves dos Santos, por considerar que o “impor-tante é descobrir a verdade”. O advogado assegura que o cliente que defende em nada esteve relacionado com a atribuição das campas e que o atraso na entrega de papéis ao MP foi apenas porque ninguém conseguia encontrá-los.

TAM SEM LIGAÇÃO ÀS CAMPAS, DIZ TESTEMUNHAIsso mesmo também confir-maram duas novas testemu-nhas ouvidas na sexta-feira. João Manuel Neves, segundo a ser ouvido, fazia parte do

departamento que adminis-trava os cemitérios nos anos 90, tendo saído do IACM nos anos 2000. A testemunha, conhecida por ser organizada com os arquivos, garante que alguns dos documentos que estavam a ser procurados não estavam lá, quando re-gressou ao IACM em 2010 para ajudar a procurá-los a pedido do terceiro arguido, seu superior. “Fui ao arquivo [dos serviços que adminis-travam os cemitérios, na Barra], mas era diferente de antigamente. Estava gente lá dentro sentada e tudo. Vimos as pastas lá, mas faltavam alguns documentos que andávamos a procura”, denunciou, acrescentando que, na sua altura, o arquivo era mais rigoroso e não era toda a gente que podia entrar. O ex-responsável diz ainda que, aquando da sua saída, foi criado “um núcleo” para administrar os cemitérios e admite que possam ter havido falhas que permiti-ram o desaparecimento dos documentos.

Isso foi, aliás, o que a de-fesa tentou provar, depois de confirmado por João Neves que haveria possibilidade de superiores hierárquicos entrarem nos arquivos e levarem documentos sem fa-zer registo disso. Ng Peng In, recorde-se, é tido pela defesa como tendo sido quem es-condeu alguns documentos do caso. O ex-administrador do IACM que serviu de pri-meira testemunha, já admi-tiu ter documentos consigo e não os ter entregue. Ng Peng In chegou a fazer um memorando contra a decisão de atribuir as dez campas perpétuas e João Manuel das Neves diz ser impossível que ele o tivesse feito sem ter

POSSIBILITADA ABERTURA DE PROCESSO CRIME CONTRA TESTEMUNHA

Ng Peng In pode passar a arguido

consigo documentos sobre as campas.

A testemunha explicou ainda que era normal haver uma cópia dos documentos no computador do serviço, mas que já não tinha o seu código de acesso quando foi chamado para ajudar nas buscas, em 2010. Paulina Alves dos Santos tentou de-monstrar ter sido o terceiro arguido a barrar o acesso ao computador - recorde-se que a assistente acredita que os arguidos atrasaram pro-positadamente a entrega das informações ao MP -, mas o ex-responsável diz acreditar que esta situação foi normal, por já lá não trabalhar. Além disso, João Manuel Neves diz ter a certeza de que Tam nunca interveio nos procedi-mentos das dez campas, “nem sequer tocou nos papéis”, até porque não era da área dos cemitérios e era apenas um chefe de departamento, sem poder para decidir qualquer atribuição de campas. E, acrescenta, “nunca recebeu instruções para atrasar a entrega” dos documentos.

O mesmo disse também na sexta-feira António Sio, a segunda testemunha a ser ouvida e Chefe de Departa-mento dos Serviços de Am-biente e Licenciamento - que tutelavam os cemitérios - na altura. Sio foi um dos funcio-nários do IACM que fez um relatório em 2011 a explicar porque não se encontravam os documentos, a pedido do MP. A testemunha garante que estes papeis já há muito que estavam desaparecidos. “Até disse que não valia a pena protelar o tempo à procura dos documentos, porque era impossível encontrá-los. Não valia a pena atrasar, tendo em conta a importância do caso.”

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TIAG

O AL

CÂNT

ARA

3 políticahoje macau segunda-feira 17.2.2014

ANDREIA SOFIA [email protected]

É hoje que a Assembleia Le-gislativa (AL) vai receber o debate proposto pelo deputado Ng Kuok Cheong

relativamente ao projecto de urba-nização na zona norte da Taipa. Rui Leão e Agnes Lam, ligados à Asso-ciação Energia Cívica, aplaudem a iniciativa. “Acho importante haver esse debate e outros, porque há um grande desconhecimento da parte das pessoas que não estão directa-

CECÍLIA L [email protected]

O deputado Si Ka Lon, número dois de Chan Meng Kam, escreveu

uma interpelação escrita onde diz não aceitar as respostas do Executivo em relação à política de responsabilização dos altos cargos. Tanto Chan Meng Kam como Song Pek Kei já elaboraram as mesmas questões ao Governo, mas, alegadamente, sem respos-tas concretas. Si Ka Lon diz que “não vê medidas práticas nem avanço na área da responsabiliza-ção dos altos cargos do Governo”.

A titulo de exemplo, o depu-tado lembrou os casos em que o Governo “falhou” no passado, como é o caso dos contratos do serviço de autocarros e o processo da TV Cabo. Si Ka Lon lembrou que, até ao momento, nenhum

A primeira comis-são permanente da Assembleia

Legislativa (AL), que dis-cute o regime jurídico de acreditação nas áreas da construção civil e do ur-banismo, quer reunir com as associações do sector. “Devemos também ouvir as opiniões do sector. Mas só recebemos pedidos de duas associações. Por isso, hoje, vou deixar um

Há coisas pouco transparentes. É um plano antigo que não avançou porque havia imensos problemas ao nível dos terrenos. Mas ter sido tirado da gaveta mais de dez anos parece-me importanteRUI LEÃO Arquitecto

À margem de uma mesa redonda sobre a nova lei do planeamento urbanístico, Agnes Lam defendeu que a zona norte da Taipa deve ser desenvolvida depois da legislação entrar em vigor. Rui Leão lembra que “não se podem encontrar conflitos de interesse em todo o lado”

NORTE DA TAIPA AGNES LAM E RUI LEÃO APLAUDEM DEBATE NA AL

“Parece que há coisas negociadas debaixo da mesa”

ALTOS CARGOS SI KA LON INSATISFEITO

Responsabilização “sem avanço”

URBANISMO ARQUITECTOS E ENGENHEIROS CHAMADOS A DAR OPINIÃO

Deputados querem ouvir sector

mente envolvidas no sector”, disse ao HM, à margem de uma mesa re-donda realizada ontem na Rotunda Carlos da Maia, sobre a nova lei do planeamento urbanístico.

O arquitecto considera que com a futura criação do conselho do planeamento urbanístico, e com a planificação “através da nova lei”, “tudo (pode ser) mais transparente”. Questionado com a polémica que associa o plano da Taipa a figuras importantes do meio político, como os deputados Chan Meng Kam e Chui Sai Cheong, Rui Leão lembrou que “não se podem encontrar con-flitos de interesse em todo o lado”.

Contudo, “há coisas pouco transparentes. É um plano antigo que não avançou porque havia

imensos problemas ao nível dos terrenos. Mas ter sido tirado da gaveta mais de dez anos parece-me importante.”

Agnes Lam também fala da pouca transparência em todo o pro-cesso. “Seria mais apropriado para o Governo incluir este projecto na primeira fase de desenvolvimento, depois da lei (do planeamento urba-nístico) entrar em vigor. É muito es-

tranho estar a desenvolver uma área tão grande na Taipa a duas semanas da lei entrar em vigor, as pessoas têm muitas dúvidas e ninguém percebe o que está a acontecer.”

Para a docente da Universidade de Macau (UMAC), está em causa a imagem do Executivo. “Se o Go-verno forçar o avanço do plano será muito mau porque parece que se está a trabalhar para os interesses priva-dos. Há muitas pessoas envolvidas e parece que há muitas coisas nego-ciadas debaixo da mesa, e isso não é bom para a imagem do Governo.”

CONSELHOINDEPENDENTE E RÁPIDO Durante o debate, que juntou poucas pessoas na zona dos Três Candeei-ros, Rui Leão falou da importância do novo regime jurídico que vai

apelo para que os interes-sados apresentem opini-ões e tenham uma reunião com a comissão”, disse a presidente da comissão, no final do encontro, esta manhã, na AL.

Kwan Tsui Hang justi-fica a intenção por tratar-se de um tema “técnico”. Não disse, porém, quais os nomes das duas associa-ções que já pediram uma reunião com a primeira

comissão permanente. Kwan Tsui Hang adianta apenas que os encontros devem ser realizados no prazo de um mês.

O futuro regime jurí-dico de acreditação nas áreas da construção civil e do urbanismo prevê a criação de um conselho de arquitectura e enge-nharia.

O organismo vai ser presidido pelo secretá-

rio para os Transportes e Obras Públicas e será integrado por profissio-nais do sector público e privado.

De acordo com Kwan Tsui Hang, alguns depu-tados avisaram que essa representação deve ser feita em igual número. Tudo para “evitar” a predominância de mem-bros da Administração no conselho.

entrar em vigor já em Março, tendo destacado uma novidade: a criação do conselho do planeamento urba-nístico, encarregue de avaliar os projectos. “É uma nova peça em todo o processo e precisa mesmo de ser implementado. Não deve ser um órgão subserviente do Go-verno”, recomendou o arquitecto, que não esqueceu a importância de ter figuras ligadas às associações de arquitectura ou engenharia, entre outras áreas. “Não deve ser uma entidade sem grande actividade que apenas diz sim ou não, mas deve sim ser constituída por pessoas com experiência e capacidade para fazer trabalho mais técnico. O que vemos actualmente no Governo é que há muitos sim e poucos não. Temos de ter a capacidade de apresentar alternativas.”

Rui Leão pediu ainda transpa-rência na nomeação dos membros. “Não sabemos como é que as pes-soas vão ser eleitas e se o poder de decisão está nas mãos do secretário significa que é uma questão privada. Espero que não seja uma nomeação feita às escondidas, porque isso seria incorrecto.”

dirigente foi responsabilizado. “Na resposta do Governo é dito que, nas pequenas falhas, ou em situação provocadas por elemen-tos complicados, os dirigentes são levados a rever o seu trabalho e a melhorá-lo. Contudo, não está definido o que são falhas peque-nas ou elementos complicados. Como é que o Governo vai pôr em prática este regime de trabalho sem ter regras claras?”

Si Ka Lon menciona ainda o es-tado da avaliação dos dirigentes do Governo. “O Executivo disse que os que têm uma baixa avaliação no trabalho são alvo de punição, mas, obviamente, através dos casos que já mencionei, a avaliação do Governo é bem diferente face à avaliação feita pelo povo. Será que o Governo pode tornar públicas as avaliações completas, por forma a que o público possa fazer a sua supervisão?”

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O Chefe do Executivo diz que o que se pretende aumentar é apenas o tempo de permanência, o consumo e o nível de satisfação dos visitantes

O ESSENCIAL

política hoje macau segunda-feira 17.2.2014

CECÍLIA L [email protected]

A polémica sobre a im-portação de croupiers voltou a surgir desde que Ambrose So, di-

rector executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) disse, na passada sexta-feira, que era necessária a importação de não residentes para o cargo.

O Chefe do Executivo reagiu de imediato, garantindo que não vão haver mudanças na actual lei. O certo é que duas associações do sector vão hoje entregar cartas de reivindicação, uma ao Governo, outra à própria SJM.

Pedem que se limite o cres-cimento ao número de mesas, pois o seu aumento vai originar

C HUI Sai On presidiu a uma delegação de Macau que se encontrou de visita à província de Guangxi. No sábado à

tarde, o Chefe do Executivo e o secretário para os Assuntos Sociais e da Cultura usaram da palavra na iniciativa “Sentir Macau”, um evento organizado pelos Serviços de Turismo para atrair mais visitantes para o território. Enquanto, Chui Sai On disse que a visita tinha como finalidade conhecer melhor o desenvolvimento de Guangxi e Nanning, mostrando-se impressionado com os avanços regional e internacional, nomeadamente, nas relações com os países da ASEAN (Associa-ção de Nações do Sudoeste Asiático), Cheong U disse que os dois territórios precisavam de caminhar de mãos dadas - aproveitando as vantagens geográficas e o contexto linguísti-co - para explorar em conjunto os mercados turísticos da ASEAN e dos países lusófonos.

A ideia foi transmitida através de um comunicado do Gabinete de Comunicação Social, ao revelar também que a cerimónia de abertura das actividades promocio-nais turístic as foi presidida do Chefe do Executivo e pelo presidente do Governo Popular da Região Autónoma, Chen Wu. No mesmo dia, conta a nota, Chui Sai On encontrou-se com o secretário do Comité Municipal de Nanning, Yu Yuanhui, o

O Chefe do Executivo afirmou que o Go-verno não pretende

aumentar o número de entra-das em Macau. Em termos de política de turismo, Chui Sai On diz que o que se pretende aumentar é apenas o tempo de permanência, o consumo e o nível de satisfação dos visitantes.

O director executivo da Sociedade de Jogos de Macau disse que é preciso importar não residentes para o cargo de croupier, mas Chui Sai On garante que não vão haver mudanças. Duas associações entregam hoje cartas a reivindicar o limite às mesas de jogo

IMPORTAÇÃO DE TRABALHADORES CHUI SAI ON PROMETE QUE NÃO VAI MUDAR A POLÍTICA SOBRE CROUPIERS

Chefe diz não à proposta de Ambrose So

necessidades de importação de mão-de-obra.

Ambrose So falou claro quando afirmou, num evento público da empresa, que “se apenas os residen-tes poderem trabalhar nas mesas de jogo, não haverá possibilidades de promoção, e nem irei conseguir

mais pessoas para os substituir. Só podemos promover alguns locais, e se importarmos, parcialmente, trabalhadores de fora, acredito que possamos encontrar uma solução construtiva”, disse, citado na im-prensa chinesa.

As declarações foram comen-

tadas pelo Chefe do Executivo, aquando da sua partida para a visita oficial a Guangxi. “A promoção na carreira não é uma questão assim tão simples. As pessoas têm de trabalhar muito e devem lutar para ter essa oportunidade. Não vejo conflito entre as duas coisas. Se os trabalhadores locais não tiverem essa oportunidade, como é que o Governo consegue promover uma cidade rica?”

Chui Sai On frisou que “a po-lítica vai continuar a ser a mesma. Continuamos a insistir que os croupiers têm de ser trabalhadores residentes. Nada muda”.

ASSOCIAÇÕES DO SECTORCOM DÚVIDAS Apesar do Governo ter vindo a repetir que não vai alterar a lei em vigor, as associações do sector

do jogo continuam com dúvidas. Ieong Man Teng, presidente da Forefront of the Macao Gaming, espelhou as suas criticas na página pessoal do Facebook. “No ano passado o Governo não cumpriu a sua promessa sobre o limite do número de mesas de jogo de 3% por ano. O Chefe do Executivo também nunca prometeu que ia continuar a impor esse limite.”

“Até 2017, quando a construção dos projectos do Cotai terminarem e o número de mesas de jogo não tiver um limite, vamos precisar de cerca de 20 mil croupiers. Os residentes não serão suficientes para responder à procura dos re-cursos humanos e, naquela altura, os casinos terão uma desculpa para a importação de croupiers”, escreveu ainda.

GOVERNO NÃO QUER AUMENTO DE TURISTAS

Mais um estudo a caminhoMACAU E GUANGXI PODEM EXPLORAR EM CONJUNTO

De mãos dadas na lusofonia e na ASEAN

vice-presidente da Região Autónoma de Guangxi, Zhang Xiaoqin e o presidente do município de Naning, Zhou Hongbo.

Chui Sai On chegou sexta-feira a Nanning e, mal aterrou, deslocou-se de imediato para um encontro de cortesia com dirigentes locais do Partido Comunista Chinês (PCC). A reunião não durou mais de meia hora, tendo-se seguido um jantar.

Entre os representantes estavam o secretário do comité do PCC na região, Peng Qinghua, e o Presidente do Governo Popular, Chen Wu. Mais uma vez, o GCS explicou que Chui Sai On aproveitou a ocasião para agradecer às autoridades de Guangxi pelo abastecimento de água, assim como através das obras hidráuli-cas. Na resposta, Peng Qinghua garantiu que a região vai continuar a assegurar o abastecimento ao território.

O líder de Macau defendeu ainda o reforço da cooperação entre os dois ter-ritórios, nas áreas da cultura, economia, comércio e turismo. Chui Sai On afirmou que a visita a Nanning tem precisamente como objectivo ajudar a promover Macau como uma cidade turística. Peng Qinghua admitiu que Guangxi pode aprender com a experiência de Macau na área das con-venções e exposições. – R.M.R.

Em declarações aos jornalistas, antes da partida para Guangxi [ver segundo texto], na sexta-feira, Chui Sai On disse que as autori-dades irão ainda proceder a alguns trabalhos, de forma interdepartamental, incluin-do o estudo permanente da capacidade de acolhimento de turistas, assim como as

consequências para a quali-dade de vida dos residentes locais e o nível de satisfação dos visitantes.

O líder do Governo dis-se ainda saber a influência que o grande número de visitantes tem no quoti-diano da população, mas salvaguardou que Macau é um destino de turismo, logo, existem sempre mui-tos turistas na cidade, seja em dias úteis, feriados ou feriados prolongados.

O Chefe do Executivo mostrou-se satisfeito com o trabalho desenvolvido pelas autoridades durante o ano novo chinês, que contou com um aumento de 13% de turistas face ao período homólogo do ano passado. Nos sete dias da semana dou-rada, Macau recebeu mais de um milhões de visitantes, mas Chui Sai On disse que os serviços competentes prepararam e definiram po-sições e medidas de forma a gerir a situação nos postos fronteiriços, transportes e turismo, incluindo novas acções destinadas a desviar pessoas das zonas mais movimentadas. Sobre este último ponto, Chui disse que o Turismo irá concentrar-se este ano na reestruturação e promoção dos trajectos turísticos. – R.M.R.

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5 políticahoje macau segunda-feira 17.2.2014

PUB

Atribuição de subsídio a pilotos locais participantesnas corridas no exterior em 2014

Os interessados podem apresentar o requerimento, a partir do dia 17 de Fevereiro até ao dia 18 de Março de 2014, na Comissão do Grande Prémio de Macau.

I. Requisitos do pedido e critérios de atribuição do subsídio que se passam a citar:1. O requerente, ao abrigo do n.o 1 do artigo 34.o do Decreto-Lei n.o 67/93/M, de 20 de

Dezembro, deve satisfazer uma das seguintes condições:1) Ser natural da Região Administrativa Especial de Macau (R.A.E.M);2) Ser de nacionalidade portuguesa ou chinesa e ter na R.A.E.M. a sua residência

há mais de 1 ano;3) Residir na R.A.E.M. há, pelo menos, 3 anos.

2. O requerente deve, ainda:a) Ser sócio da Associação Geral de Automóvel de Macau, China (AAMC), e ser

portador de todas as licenças legais e indispensáveis para a participação em corridas no exterior, bem como obter a representividade da AAMC;

b) Ter terminado e obtido classificação oficial nas corridas do Grande Prémio de Macau (GPM) realizado no ano de 2013.

3. A atribuição de subsídio em 2014 será limitada à participação em corridas homologadas pela Fédération Internationale de Motocyclisme (FIM) ou pela Fédération Internationale de l’Automobile (FIA), devendo estas competições no exterior ser do mesmo tipo e de nível equivalente ao da efectivamente participada pelo piloto requerente no GPM em 2013 (motos, carros de turismo ou fórmula 3). A atribuição está sujeita aos seguintes padrões de avaliação:1) Classificação geral numa das corridas do Grande Prémio de Macau realizado no

ano de 2013 (em comparação com o resultado dos primeiros 3 classificados na mesma corrida), analisando o nível de competição do requerente nestas corridas;

2) Classificação geral do requerente nas corridas realizadas no exterior (em comparação com o resultado dos primeiros 3 classificados da mesma corrida), analisando-se o nível de competição do requerente nestas corridas;

3) Potencialidade de desenvolvimento do requerente no desporto motorizado (incluindo idade, etc.);

4) Importância e popularidade da corrida em que irá participar, analisando-se o nível de competição do requerente em diferentes tipos de corridas, internacionais ou regionais;

5) Efeito promocional e divulgação de Macau.4. A atribuição será calculada com base na percentagem correspondente à participação

efectiva nas corridas declaradas pelo piloto no pedido de atribuição de subsídio no ano de 2013.

II. Documentos a apresentar com o formulário especial para a atribuição de subsídio a pilotos locais participantes nas corridas no exterior:

1) Carta de pedido, indicando obrigatoriamente o valor do subsídio requerido;2) Plano de actividades (incluíndo a designação, datas, locais e os nos. das corridas

no exterior da RAEM e respectivas mangas);3) Mapa pormenorizado das despesas previstas;4) Curriculum vitae do requerente;5) Cópia do B.I.R. do requerente;6) Cópia do cartão de sócio na Associação Geral de Automóvel de Macau, China;7) Cópia de todas as licenças legais e indispensáveis para a participação em

corridas no exterior da RAEM;8) Documento comprovativo da obtenção de representatividade da Associação

Geral de Automóvel de Macau, China;9) Prova de participação obrigatória e obtenção de resultados oficiais das corridas

do Grande Prémio de Macau no ano de 2013;10) Prova da classificação final e oficial do requerente obtida em corridas realizadas

no exterior da RAEM no ano de 2013.

III. Qualquer alteração às informações apresentadas deve ser comunicada dentro do prazo de 30 dias a contar da apresentação do pedido de subsídio, com declaração expressa do motivo justificativo, findo o qual, salvo comprovadas situações de cancelamento por parte da organização do evento ou motivos de força maior, o piloto terá necessariamente que concretizar as restantes corridas que no pedido de atribuição de subsídio declarou ter a intenção de participar, para lhe ser reconhecido o direito à sua percepção.

Atribuição dos subsídios em 2014 seja concedida na seguinte forma:l Após a análise do pedido, ser concedido 50% do subsídio autorizado sendo os

restantes 50% concedidos após a conclusão da participação na corrida declarada (com partida efectuada) e apresentação do respectivo relatório. (O subsídio será calculado de acordo com a participação efectiva em cada evento)

l Caso se venha a confirmar que a corrida participada não foi a corrida declarada no pedido, os restantes 50% do subsídio não serão atribuídos e o montante já recebido, deve ser reembolsado.

Endereço da Comissão do Grande Prémio de Macau: N.o 207, Av da Amizade, Edif. do Grande Prémio de Macau. Telefone: (853) 87962200 ou 87962204.

CECÍLIA L [email protected]

O S deputados Mak Soi Kun e Au Kam San apresentaram

uma série de propostas ao Executivo para resolver a questão da falta de táxis, nomeadamente o financia-mento parcial por parte do actual Executivo para bai-xar os custos de operação por parte dos proprietários dos automóveis.

Na sua interpelação es-crita Mak Soi Kun defende que é necessária a abertura de mais um concurso de atribuição de licenças. O deputado considera ainda que o Governo poderia considerar a possibilida-de de implementar uma política de empréstimos

O número de turistas mais que duplicou, mas o número de táxis aumentaram menos de um terço. A existência de poucos táxis deve-se às medidas administrativas e essa é uma causa para a actual dificuldade em apanhar um táxiAU KAM SAN Deputado

TÁXIS DEPUTADOS DEIXAM SOLUÇÕES PARA A QUESTÃO

Pedido financiamento parcial do Governo

para as pequenas empre-sas do sector, por forma a incentivar a que mais indivíduos tenham os seus táxis e para baixar a pressão sobre o paga-mento mensal. “Deveria ainda considerar parte das licenças e atribui-las a esses motoristas, com uma renda mais razoável.”

Também Au Kam San pede valores mais baixos no aluguer dos táxis, por forma a que exista mais oferta. Na sua interpelação explica que o número de turistas aumentou em 600 mil pessoas por ano desde a transição, mas que os táxis apenas aumentaram de 750 para 980. “O nú-mero de turistas mais que duplicou, mas o número de táxis aumentaram menos

de um terço. A existência de poucos táxis deve-se às medidas administrativas e essa é uma causa para a actual dificuldade em apanhar um táxi.”

LICENÇAS E ESPECULAÇÕES Au Kam San escreveu ainda que os limites à atri-buição de licenças acaba por causar especulação. Muitos taxistas sentem a pressão dos valores eleva-dos que se praticam no sec-tor, porque os preços das licenças aumentaram. Por isso defende que deveria ser cancelado o concurso público para a atribuição das licenças e dar mais flexibilidade aos taxistas.

O deputado pede ainda mais financiamento para a fiscalização dos táxis que não cumprem a lei. “Nin-guém vai recusar o dinheiro se os turistas pagarem mais para apanhar um táxi. O mais eficaz é usar sistemas de gravação, como no aeroporto, para gravar as conversas dos condutores e passageiros. Mas ninguém poderia ter acesso a isso para além dos funcionários do departamento responsá-vel pela análise das provas dos táxis.”

TIAGO ALCÂNTARA

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TIAG

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O AL

CÂNT

ARA

6 hoje macau segunda-feira 17.2.2014SOCIEDADE

JOANA [email protected]

O Tribunal de Se-gunda Instância (TSI) entende que as famílias dos

funcionários públicos não têm de ser residentes de Macau para viver nas habitações do Governo. Numa decisão torna-da pública na semana passada, o tribunal explica que a lei permite que isso aconteça em determinados casos.

L AU Si Io não ex-cluiu a hipótese de aguardar pelos três

diplomas, respeitantes a terrenos, que vão en-trar em vigor no dia 1 de Março, para avaliar construção em terreno adjacente à Casamata, em Coloane. O Governo continua a negociar com o proprietário do terreno a altura do prédio que poderá vir a ter lugar no local. “Vamos ouvir as opiniões da socieda-de. Se a sociedade está muito atenta e acha que este projecto deve ser apreciado conforme as três leis, vamos ponderar se será assim ou não”, indicou o secretário para Obras Públicas e Trans-

Poluição DSPA realizou sessão de consulta pública O auditório do Museu de Arte de Macau (MAM) foi ontem palco de uma sessão de consulta pública sobre as futuras normas de controlo da poluição do ar, no âmbito da consulta pública que arrancou no Sábado. O Governo promete analisar todas as opiniões e pareceres emitidos até ao final da consulta para, depois, apresentar o resultado final sem, no entanto, ter definido uma data concreta para o fazer. Em comunicado, a DSPA afirma que, depois das normas propostas e das respectivas “soluções de fiscalização”, “poder-se-ão reduzir anualmente 64% de óxidos de enxofre, 24% de óxidos de nitrogénio e 39% de partículas inaláveis em suspensão emitidas, contribuindo veemente para a melhoria da qualidade do ar em Macau”.

Saúde Sete doentes sem tratamento de hemodiálise devido a corte de energiaOs Serviços de Saúde asseguraram que a flutuação de tensão eléctrica que se fez sentir no passado dia 15 de Fevereiro, pelas 17h55, não afectou a segurança dos doentes das zonas de enfermaria do São Januário, incluindo a Clínica Psiquiátrica na Taipa e o Posto de Urgência das Ilhas. Também o banco de sangue, os armários congeladores para medicamentos e os sistemas informáticos não foram afectados. No entanto, sete doentes não puderam fazer o tratamento de diálise, que ficou adiado para outro dia, porque a bomba de água da sala de hemodiálise deixou de funcionar devido à interrupção no fornecimento de electricidade de curta duração.

Motoristas denunciam falhas no transporte de resíduosA Associação de Motoristas de Veículos Pesados denuncia falhas de segurança no transporte de resíduos de obras. “Diariamente, dois mil camiões entram e saem da zona de aterros [em Coloane]. Há veículos com excesso de carga e isso acontece desde o período antes de 1999”, explica o vice-presidente Chong Sio Man, em declarações divulgadas pela Rádio Macau. O responsável quer mais fiscalização do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). Chong Sio Man defende ainda que as empresas proprietárias de veículos pesados devem ser responsabilizadas, por uma questão de “justiça” em relação a quem cumpre a lei. O vice-presidente da Associação de Motoristas de Veículos Pesados acrescenta que os residentes podem vir a sofrer “consequências graves”, caso a situação não seja resolvida. “Se acontecerem acidentes com os camiões, a vida de pessoas estará em risco. A protecção ambiental é também um tema na ordem do dia e, actualmente, já se pode evitar a poeira no ar e a libertação de resíduos. Isto deve ser uma garantia para os residentes.” As críticas de Chong Sio Man são partilhadas pela deputada Ella Lei.

FAMÍLIAS DE FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS NÃO TÊM DE SER RESIDENTES PARA USUFRUIR DE HABITAÇÃO DO GOVERNO

Tribunal decide

CASAMATA TERRENO ADJACENTE AINDA A SER AVALIADO PELO GOVERNO

Secretário atento

A decisão saiu derivado de um caso de um residente de Macau , funcionário público, que tentou pedir uma casa maior ao Governo, por necessitar de mais espaço devido a viver com a esposa, a filha e os sogros. A Direcção dos Serviços de Fi-nanças (DSF), contudo, negou o pedido, considerando que os sogros não eram membros do agregado familiar por não serem portadores de BIR da RAEM.

O funcionário do Governo ainda tentou pedir a intervenção

de Francis Tam, secretário da tutela da DSF, mas o respon-sável da Economia e Finanças concordou com a decisão. Só no TSI a situação mudou.

Segundo a lei, agregado familiar é constituído pelo cônjuge e os descendentes e as-cendentes que confiram direito a subsídio de família e que co-abitem com o candidato.”Com efeito, aqui não se prevê ex-pressamente que os membros do agregado familiar devam ser residentes locais. Exige-se,

antes, que sejam parentes que coabitem com o candidato e que confiram direito a subsídio de família”, explica o tribunal. “A respectiva apreciação e aprova-ção devia fazer-se conforme se os parentes do recorrente que conferem direito a subsídio de família coabitam com ele e se tal coabitação alcança certo grau de estabilidade e continuidade.”

Se, em casos semelhantes, os familiares deste grau forem portadores de identificação que lhes permita permanecer em Macau três ou mais meses e se receberem direito a sub-sídio de família, têm de ser considerados como membros do agregado familiar. O TSI conclui que, ao não pensar desta forma, a DSF errou na forma como interpretou a lei.

portes, à margem de um encontro da primeira comissão permanente da Assembleia Legisla-tiva, na sexta-feira, que discutiu o futuro regime jurídico de acreditação nas áreas da construção civil e do urbanismo.

O Governo autoriza apenas construções com uma altura máxi-ma de 100 metros, mas Lau Si Io diz também que está ainda a ser ponderada a construção devido ao debate gera-

do na sociedade. Por essa razão, a decisão final poderá ser co-nhecida apenas quando entrarem em vigor a Lei do Planeamento Urbanístico, a Lei de Salvaguarda do Patri-mónio Cultural e a Lei de Terras. No entanto, o secretário prefere não avançar prazos para anunciar a decisão so-bre o empreendimento habitacional projectado para o sopé da colina, em Coloane.

A única coisa que parece certa é que a casa-mata – uma fortificação construída pelas Forças Armadas Portuguesas, na década de 1930 – será preservada.

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7 sociedadehoje macau segunda-feira 17.2.2014

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A primeira fase do Com-plexo Municipal de Serviços Comunitá-

rios da Praia do Manduco, na Barra, deverá estar concluída entre Julho e Setembro do próximo ano. Esta é a fase que compreende três pisos de cave e que serão construídos imediatamente antes do pré-dio de cinco pisos. Para já, continuam as mudanças das infra-estruturas subterrâneas de água, electricidade e tele-comunicações no local. Um comunicado do Governo da se-mana passada explica que estes procedimentos vão necessitar de dois meses para estarem completas e só depois deste período é que se dá início à construção total do complexo. A obra começou já no ano pas-sado, estando a CEM, a SAAM e a CTM encarregues de fazer as mudanças das ligações.

O Complexo está desti-nado a instalações de saúde, serviços sociais e áreas de lazer e desporto, a par de um

Alojamento Hotéis acolheram 10,67 milhões de hóspedes em 2013O número de hóspedes alojados nos hotéis de Macau ao longo de 2013 aumentou 11,8%, para 10,67 milhões de pessoas, indicam dados oficiais divulgados. De acordo com os números divulgados pelos serviços de estatística e censos do Governo local, a permanência média dos hóspedes nos hotéis locais fixou-se em 1,4 noites e a taxa de ocupação média dos estabelecimentos hoteleiros foi de 83,1%, apesar de tudo menos 0,5 pontos percentuais do que em 2012. No entanto, no final de 2013, Macau tinha 98 hotéis e pensões que disponibilizavam 27.764 quartos. Entre os quartos disponíveis 18.371, ou 66,2% do total, estavam localizados em hotéis de cinco estrelas, a maioria dos quais ligados aos novos complexos de hotelaria e jogo.

Fronteira Via especial mantém-se provisória por mais seis mesesO Governo decidiu manter a via especial para ciclomotores e motociclos da Ponte Sai Van por mais seis meses, a contar a partir de amanhã. O trânsito na ponte tem funcionado bem, diz um comunicado da DSAT, justificando o prolongamento da medida. Por outro lado, salienta, a população aceita bem esta forma de gestão de trânsito. O organismo diz que “continuará a acompanhar com atenção a aplicação da medida e a vigiar o tráfego da ponte”, bem como assegurar mais trabalhos de promoção da segurança rodoviária. Recorde-se que a via especial entrou em funcionamento em Agosto de 2012. A DSAT diz que tem avaliado os resultados, embora não dê conta por meio de números da eficácia da medida.

PRIMEIRA FASE DO COMPLEXO MUNICIPAL CONCLUÍDA EM 2015

Manduco em marcha lentaJogo Sands China aumenta lucros A Sands China, empresa de jogo liderada pelo magnata norte-americano Sheldon Adelson, anunciou lucros de 2.214,9 milhões de dólares, mais 79,2% do que em 2012. De acordo com os dados da companhia, que em termos de quota de mercado é o segundo maior operador de Macau e tem na Região Administrativa Especial os dois maiores casinos do mundo, as receitas líquidas subiram 36,8% para 8.907,9 milhões de dólares. Ao longo de 2013, os complexos da Sands China acolheram 63 milhões de visitas, incluindo seis milhões só no mês de Dezembro, referiu Shledon Adelson. “Estamos incrivelmente orgulhosos de contribuir para o aumento dos visitantes de Macau e do Cotai (aterros entre as ilhas da Taipa e de Coloane)”, referiu o mesmo responsável, ao salientar que o os benefícios dos ‘resorts’ integrados da companhia estão por detrás do sucesso da companhia. Perante os lucros, a Sands China vai distribuir lucros de 1.710 milhões de dólares norte-americanos.

parque de estacionamento público, com capacidade para 40 veículos ligeiros e cerca de 30 motociclos. O local, junto do Mercado de São Lourenço, é tido como sendo uma zona de muita pressão ao nível do tráfego e o Governo pretende tentar aliviar essa pressão.

Por agora, contudo, o impacto no trânsito não vai ser leve e o Governo apela à população que esteja atenta a eventuais condicionamentos provisórios de trânsito, prin-cipalmente na Rua de João

Lecaros e no Pátio da Papaia. A partir desta semana, o tro-ço da Rua de João Lecaros, compreendido entre a Rua do Almirante Sérgio e o Pátio da Papaia, passará a ser efectuado em sentido único de circula-ção, ou seja o trânsito da Rua do Almirante Sérgio somente poderá seguir em direcção da Rua dos Armazéns e o Pátio da Papaia será vedado ao trânsito rodoviário. Isto, porque as mudanças das infra-estruturas subterrâneas serão realizadas de forma faseada. - J.F.

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8 hoje macau segunda-feira 17.2.2014CHINA

COMISSÃO DE REGISTO DOS AUDITORES E DOS CONTABILISTAS

Aviso

Torna-sepúblicoque jáseencontrafinalizadaacorrecçãodasegundaprestaçãodasprovas para a inscrição inicial e revalidação de registo como auditor de contas, contabilistasregistadoe técnicode contas, realizadasno anode2013nos termosdodispostona alínea c)doartigo2ºdoRegulamentodaComissãodeRegistodosAuditoresedosContabilistas,pelareferidaComissão.Osrespectivosresultadosserãonotificadosaosinteressadosatéaodia19deFevereiro,solicitando-seaosmesmosquecontactemcomaSra.Wong,atravésdonº85995343ou85995344,casonãorecebamamencionadanotificação.

DirecçãodosServiçosdeFinanças,aos5deFevereirode2014.

OPresidentedoJúri,

IongKongLeong

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O secretário de Estado norte--amer icano , John Kerry, pe-

diu sexta-feira à China “maior transparência”, depois das tensões causadas pela instau-ração unilateral por Pequim de uma “zona de identificação de defesa aérea, no mar da China oriental. “Deixámos clara a nossa posição quanto aos anúncios unilaterais”, declarou Kerry, em Pequim.

“Esperemos que futuras medidas (das autoridades chinesas) sejam tomadas de forma mais aberta e transparente”, acrescentou o chefe da diplomacia norte--americana, depois de ser recebido pelo presidente chinês, Xi Jinping.

As reivindicações terri-toriais de Pequim na Ásia preocupam cada vez mais Tóquio e Manila, e os Es-tados Unidos estão a tentar obter garantias do governo chinês para evitar uma der-rapagem numa situação cada vez mais volátil. “Pedimos aos nossos amigos na China que estabeleçam normas muito exactas, em termos de anúncios, contactos, e partilha de informação, para reduzir os riscos de desenten-dimentos”, sublinhou Kerry.

O secretário de Estado norte-americano reuniu-se com o presidente Xi no Palá-cio do Povo e, depois com o homólogo chinês, Wang Yi.

Esta quarta visita, num ano, de Kerry a um continente apresentado pela administra-ção norte-americana como “o pivot” da sua diplomacia, surge num contexto de ten-sões regionais reactivadas.

A China desencadeou uma tempestade diplomática ao instaurar, em Novembro do ano passado, uma “zona de identificação de defesa aérea” (ADIZ, sigla em

Tragédia Oito mortose 90 feridos em queda de tecto durante casamentoUm casamento na província oriental de Zhejiang acabou em tragédia, quando o tecto do edifício onde decorria a cerimónia desabou, causando a morte de oito pessoas e mais de 90 feridos, informou sexta-feira a agência oficial Xinhua. O incidente foi registado na tarde de quinta-feira na localidade de Yazhuang, da comarca de Panan. O tecto do edifício, que os moradores da zona descreveram como antigo e pouco seguro, estaria alegadamente debilitado pela neve que recentemente afectou boa parte do país.

As reivindicações territoriais de Pequim na Ásia preocupam cada vez mais Tóquio e Manila, e os Estados Unidos estão a tentar obter garantias do governo chinês para evitar uma derrapagem numa situação cada vez mais volátil

DIPLOMACIA JOHN KERRY DEIXA PEQUIM E SEGUE PARA JACARTA

EUA querem “maior transparência”

inglês) numa grande parte do mar da China oriental, e cujo traçado inclui as ilhas sob controlo japonês, mas reivindicadas pela China.

A situação sofreu nova deterioração a 26 de De-zembro, com a visita do primeiro-ministro japonês,

Shinzo Abe, ao templo de Yasukuni, em Tóquio. Para a China, este local simboliza a agressão e a ocupação mili-tar nipónicas antes e durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde então, os dois vi-zinhos e rivais nada fizeram para ultrapassar a tensão.

O diário japonês Asahi Shimbun noticiou recente-mente que a China tinha já lançado as bases para um projecto de uma nova zona de defesa aérea, que incluiria as Ilhas Paracels, pequeno arquipélago controlado por Pequim, mas reivindicado pelo Vietname.

A China reivindica a quase totalidade do mar do Sul da China, incluindo zonas muito afastadas das suas costas e, de acordo com vários observadores, a marinha chinesa exerce uma pressão acrescida em redor de pequenas ilhas rei-vindicadas pelas Filipinas, no arquipélago das Spratly.

O departamento de Esta-do norte-americano advertiu Pequim contra a iniciativa de uma nova ADIZ no mar do Sul da China, que seria

considerada como “um acto provocador e unilateral para aumentar as tensões”. “A China, enquanto Estado soberano, tem toda a legiti-midade para agir no domínio da sua segurança aérea, incluindo com a criação de uma zona de identificação de defesa aérea”, declarou o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

A COREIA DO NORTEOutro tópico da agenda de Kerry é a Coreia do Norte. Os Estados Unidos conti-nuam a esperar uma melhor cooperação de Pequim, único aliado de peso de Pyongyang, para convencer o regime de Kim Jong-un a abandonar o programa nuclear.

As conversações com Xi Jinping “foram muito construtivas, muito positivas

e congratulo-me por termos tido ocasião de analisar, em pormenor, alguns desafios co-locados pela Coreia do Norte”, declarou aos jornalistas John Kerry, que segue para Jacarta.

Inicialmente, alguns observadores consideraram que Kerry não iria a Tóquio para marcar o desagrado de Washington relativamente à visita de Abe a Yasukuni, mas a Casa Branca anun-ciou, entretanto, que o presi-dente Barack Obama visitará o Japão, aliado dos Estados Unidos, no âmbito de uma nova deslocação à região.

Na quinta-feira, em Seul, Kerry advertiu que os Es-tados Unidos só aceitarão negociar com a Coreia do Norte quando existirem si-nais claros de “boa vontade”.

O responsável norte--americano lembrou que as ilhas Diaoyu estavam incluí-das no tratado de segurança, que prevê a intervenção dos Estados Unidos em caso de ataque de um país terceiro.

John Kerry, deixou sába-do Pequim rumo à Indoné-sia, a próxima paragem do seu périplo asiático.

A viagem de Kerry, a segunda que faz à China em um ano de Governo, integra o périplo asiático do Secretário de Estado que está na Ásia pela quinta vez, confirmando assim a estratégia norte-ame-ricana de recentrar a política externa no Pacífico depois de décadas centrada no Atlânti-co e Médio Oriente.

John Kerry seguiu para a ilha de Java que tem a sua parte oriental em estado de emergência devido à erup-ção do vulcão Kelud que já fez dois mortos e mais de 200.000 deslocados.

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9 chinahoje macau segunda-feira 17.2.2014

A polícia chinesa abateu sexta-feira “oito terroristas”, na sequência de

um atentado, que causou um total de 15 mortos, na região autónoma chinesa de Xinjiang (noroeste), anunciaram as autoridades. “Oito terroristas foram mortos a tiro pela polí-cia e três fizeram-se explodir durante um ataque terrorista esta tarde [hora local]”, na prefeitura de Aksu, disse a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, que citou a polícia.

O grupo, que transpor-tava cilindros de gás na-tural liquefeito (GNL) em motorizadas e automóveis, aproximou-se dos agentes da polícia perto de um parque, na zona de Wushi, quando as autoridades se prepara-vam para sair em patrulha, afirmou a Xinhua.

O portal da internet ‘Tianshan’, gerido pelo governo de Xijiang, indicou que os 11 atacantes, dois polícias e dois cidadãos morreram no ataque, tendo um atacante sido detido.

A polícia da região autó-noma de Xinjiang e asses-sores oficiais, contactados por telefone, não quiseram falar com a agência noticiosa francesa AFP. Não foi possí-vel entrar em contacto com a administração de Wushi e responsáveis policiais locais.

No final de Janeiro, pelo menos três pessoas morre-ram em Aksu, no extremo ocidental de Xinjiang, na fronteira com o Quirguis-tão, na sequência de três explosões, de acordo com o

A China está a plane-ar construir o maior túnel subaquático do

mundo, com 123 quilómetros de extensão, entre os portos de Dalian e Yantai, no Mar de Bohai, nordeste do país, anunciou hoje o China Daily.

A obra, orçada em cerca de 270.000 milhões de patacas,

poderá começar em 2015 ou 2016, adiantou o jornal. Várias vezes mencionado nos planos de desenvolvimento regionais, o projecto será submetido à aprovação do governo central chinês em Abril.

É o mais longo túnel suba-quático do mundo - superior ao Túnel Seikan, no Japão,e

ao Túnel do Canal da Mancha juntos - e alberga duas linhas de caminho-de-ferro em secções separadas, com 10 metros de diâmetro cada uma.

A distância entre Dalian e Yintai, que um ferry-boat demora actualmente oito horas a percorrer, e que por estrada equivale a uma viagem de

1.400 quilómetros, será redu-zida para 40 minutos.

Os comboios, equipados para transportar pessoas e ve-ículos, poderão circular a 220 kms/hora. O túnel será cons-truído abaixo dos 30 metros de profundidade, sob rocha dura, disse um perito citado pelo China Daily.

Janeiro Inflação nos 2,5%O Índice de Preços no Consumidor na China, um dos principais indicadores da inflação, aumentou 2,5% em Janeiro passado, igualando o valor do mês anterior, anunciou sexta-feira o Gabinete Nacional de Estatísticas do país. Os preços dos produtos alimentares, que representam um terço do cabaz com base no qual é calculado aquele Índice, subiram 3,7% em relação a Janeiro de 2013 e os outros produtos 1,9%, indicou a mesma fonte. Nas zonas urbanas, onde já vive a maioria da população, a inflação subiu 2,6% e nas zonas rurais 2,2%. Em 2013, a inflação na China foi de 2,6%, abaixo da meta de 3,5% preconizada pelo governo. O Índice de Preços do Consumidor na China é o segundo mais importante indicador económico divulgado na semana passada pelas autoridades locais.

Para as organizações de defesa dos direitos humanos, o movimento separatista uigur é uma resposta à opressão cultural, excessivas medidas de segurança e imigração em massa da etnia han, dominante no país

XINJIANG POLÍCIA MATA “OITO TERRORISTAS”

Atentado faz 15 mortosmesmo portal. Em resposta, a polícia matou a tiro seis pessoas.

A Xinhua citou uma investigação policial para

descrever as explosões como “ataques terroristas preme-ditados e organizados”.

A vasta região monta-nhosa e deserta de Xinjiang,

ENGENHARIA MAIOR TÚNEL SUBAQUÁTICO DO MUNDO VAI SER CONSTRUÍDO

Mais de cem quilómetros de extensão

no noroeste da China, cobre um sexto do território chinês e conta mais de oito milhões de uigures, muçulmanos que falam turco, alguns dos quais

são acusados por Pequim de perpetrar ataques terroristas

O Xinjiang conta perto de 20 milhões de habitantes, pertencentes a 47 etnias. A região faz fronteira com oito países, nomeadamente com o Afeganistão e ex--repúblicas muçulmanas da URSS - Cazaquistão, Tadjiquistão e Quirguistão.

Árida e pobre, a região possui a principal reserva de hidrocarbonetos do país.

Os problemas intensifi-caram-se em 1990, depois da retirada das tropas so-viéticas do Afeganistão e da independência das três repúblicas muçulmanas da ex-URSS. Na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001, Pequim reforçou a repressão em nome da luta antiterrorista.

Com o apoio dos Estados Unidos, a China conseguiu que um movimento uigur - o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental (ETIM, sigla em inglês) - fosse integrado na lista da ONU das organizações terroristas ligadas à rede da Al-Qaida, em 2002.

Para as organizações de defesa dos direitos humanos, o movimento separatista uigur é uma resposta à opressão cultural, excessi-vas medidas de segurança e imigração em massa da etnia han, dominante no país.

De acordo com a Xi-nhua, que citou autoridades regionais, em 2012 foram perpetrados 190 “ataques terroristas”, “um aumento significativo relativamente a 2011”.

Peritos internacionais questionaram a força dos movimentos de resistência na zona, onde é muito difícil verificar a informação de forma independente.

Pelo menos 35 pessoas morreram em Turpan, em Junho passado, no mais grave e mais recente inci-dente na zona. Em 2009, confrontos entre uigures e han na capital da região, Urumqi, causaram perto de 200 mortos.

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10 hoje macau segunda-feira 17.2.2014EVENTOS

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

A PORTA DO SOL • Elias KhoryHá histórias que salvam vidas. Usando o método de Xerazade, o narrador de A Porta do Sol tece um longo e contínuo fio de histórias com que pretende resgatar a vida de um homem. Esse homem, em coma profundo na cama do hospital, é o seu pai espiritual e um herói da resistência palestiniana. No furor de o reanimar através da memória, é todo um povo e a sua epopeia que o narrador faz reviver diante dos olhos do leitor: os acontecimentos da guerra civil no Líbano, os episódios mais marcantes da sua vida e os dolorosos itinerários de um punhado de homens e mulheres apanhados pela história, após a sua expulsão da Galileia em 1948. Inspirado na estrutura narrativa de As Mil e Uma Noites, A Porta do Sol é um romance amplo, pungente, e considerado de forma unânime o grande relato do êxodo palestiniano.

DO LADO DE CANAÃ • Sebastian BarryContada na primeira pessoa, numa narrativa da vida da protagonista ao longo de dezassete dias, esta é a comovente história de uma mulher com uma enorme capacidade para amar e com uma espantosa compaixão, mesmo por aqueles que lhe fizeram mal. Sebastian Barry regressa com a extraordinária história de Lilly Bere. Obrigada a fugir da Irlanda com o noivo ainda adolescente, sob ameaça de morte pelo Exército Republicano, Lilly vê-se subitamente na América. A sua vida trágica e rica leva-a de Chicago, onde o noivo é brutalmente assassinado, para Cleveland, onde se casa e descobre a felicidade mesmo durante o período da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial, e finalmente para Washington, DC, onde encontra trabalho como cozinheira para uma das mais eminentes famílias americanas, os Kennedy. Dramaturgo, romancista e poeta, Sebastian Barry conquistou diversos prémios literários, incluindo o Irish-America Fund Literary Award, o Christopher Ewart-Biggs Prize, o London Critics Circle Award e o Kerry Group Irish Fiction Prize. Foi finalista do Man Booker Prize por duas vezes, com A Long Long Way e Escritos Secretos.

JOSÉ C. MENDES*[email protected]

O cartoonista por-tuguês Rodrigo de Matos venceu o Grande Prémio

Press Cartoon Europe com um trabalho, publicado no sema-nário Expresso em Novembro passado, sobre futebol e a crise económica portuguesa, anunciou sexta-feira o júri.

O Press Cartoon Europe é uma iniciativa do organismo Press Cartoon Belgium, para

E SPECULAVA-SE em Berlim que o único filme com “arcaboi-

ço” para vencer a morna competição de 2014 era o magistral Boyhood , de Richard Linklater. Como é habitual nestas ocasiões, o júri presidido por James Schamus trocou as voltas aos observadores: Black Coal, Thin Ice , policial satírico e desarmantemente prosaico do chinês Diao Yinan, levou o Urso de Ouro para melhor filme a concurso na 64.ª Ber-linale. Foi também o único filme a “repetir” prémios, com o Urso de Prata de Melhor Actor a ser atribuído a Liao Fan, no papel de um ex-polícia que se envolve com uma “viúva negra” cujos maridos aparecem sistematicamente mortos.

Boyhood, crónica de uma adolescência america-na rodada ao longo de 12 anos, não saiu de mãos a abanar: recebeu o Urso de Prata de Melhor Realiza-dor, que Richard Linklater aceitou dedicando-o aos seus actores. O júri tam-bém não se esqueceu de Wes Anderson, cujo Grand Budapest Hotel, filme de abertura do festival, rece-beu o Prémio Especial do Júri; nem de Alain Resnais, que, aos 92 anos, levou o rémio Alfred H. Bauer, entregue ao “filme que abra novas perspectivas à arte cinematográfica”, por Aimer, Boire et Chanter.

Não é o palmarés ideal, mas é o palmarés possível na edição mais letárgica da Berlinale que, apesar disso, bateu todos os recordes de afluência do certame, com 330 mil bilhetes vendi-dos até ao fecho de sexta-feira. O júri

RODRIGO DE MATOS VENCEU GRANDE PRÉMIO PRESS CARTOON EUROPE

“Estamos no bom caminho”

CINEMA E O URSO DE OURO FOI PARA A CHINA

Duplamente vencedor

distinguir os melhores carto-ons publicados em jornais, revistas e meios de comuni-cação na Internet, oriundos da Europa.

Rodrigo de Matos con-quistou o Grande Prémio, no valor de oito mil euros,

com um cartoon que revela um mendigo com uma tigela nas mãos, a ser servido com uma concha onde está colo-cada uma bola de futebol, fazendo referência à crise económica em Portugal e ao apuramento de Portugal para

prosseguiu a tradição de entregar o Urso de Ouro a um filme que possa bene-ficiar da exposição mediá-tica garantida pelo prémio máximo num festival de primeira categoria.

O prémio para Black Coal, Thin Ice vai tam-bém ao encontro das actuais ambições globais da actual produção chinesa. O filme de Diao Yinan tinha bas-tantes defensores entre a imprensa, que ainda assim considerava mais provável que o júri preferisse o se-dutor Blind Massage, de Lou Ye (que acabaria por receber o Urso de Prata de Contribuição Artística, pela fotografia de Zeng Jian). Curiosamente, Diao Yinan é um “velho conhecido” dos festivaleiros portugueses – a sua primeira realização, Ni-ght Train, esteve a concurso no IndieLisboa em 2008.

Ao receber o Prémio Alfred H. Bauer em nome de Alain Resnais, que não viajou até Berlim, André Dussollier, um dos actores de Aimer, Boire et Chanter, não resistiu a considerá--lo “uma bela recompensa para este jovem de 92 anos”. Terá sido um dos prémios mais mere-cidos mas menos es-

perados da noite (o filme foi surpreendentemente mal recebido). Igualmente inesperado foi o Urso de Prata de Melhor Actriz para a japonesa Haru Kuroki, vestida com um quimono tradicional, pelo pastelão melodramático de Yoji Yamada The Little House.

A Alemanha, que tinha este ano quatro filmes em concurso, teve de se con-tentar com a “consolação” do galardão Melhor Argu-mento, para Kreuzweg de Dietrich Brüggemann, e a forte presença da América Latina saiu, surpreendente-mente, de mãos a abanar. E o Prémio Especial do Júri para Wes Anderson apenas foi uma surpresa porque não é habitual que os filmes de abertura, mesmo a concurso, acabem no palmarés, apesar da sua comédia melancólica Grand Budapest Hotel ter sido dos momentos altos do festival.

Para lá de James Scha-mus, produtor e argumen-tista de Ang Lee, compu-nham o júri a produtora Barbara Broccoli; a artista Mitra Farahani; as actrizes

Greta Gerwig e Tri-ne Dyrholm; os

actores Tony Leung e Chris-toph Waltz; e o realizador Mi-chel Gondry.

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hoje macau segunda-feira 17.2.2014 eventos 11

A Câmara de Condeixa--a-Nova está a “criar um movimento” para

preparar a candidatura das ruínas romanas de Coním-briga a Património Mundial da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cul-tura), revelou esta semana o presidente do município, Nuno Moita.

Em declarações à Lusa, o autarca explicou que a Câma-ra está a trabalhar “para criar um movimento, agregando as mais diversas entidades, para preparar a candidatura do complexo arqueológico de Conímbriga” a património da Humanidade.

Portugal não poderá apre-sentar qualquer candidatura até 2017 dado integrar, até essa data, o Comité do Património Mundial da UNESCO, mas a preparação

do processo deve começar o quanto antes por ser “com-plexo e moroso”, defendeu o edil.

A candidatura de Co-nímbriga, uma das maiores povoações romanas de que há vestígios em Portugal, à classificação pela UNESCO foi aprovada por unanimida-de pela Assembleia Muni-cipal de Condeixa-a-Nova (constituída por eleitos do PS, PSD, BE e CDU) a 23 de Dezembro de 2013, na sequência de uma moção apresentada pela CDU.

Segundo Nuno Moita, a proposta mereceu, “desde logo, todo o acolhimento da Câmara”, tendo sido propos-ta na moção “a constituição de um movimento”, em co-ordenação com a autarquia “e em parceria com o Museu de Conímbriga, a Direcção--Geral do Património Cul-

tural, a Universidade de Coimbra, a União de Juntas de Freguesias de Condeixa--a-Nova e Condeixa-a-Velha, a assembleia municipal, a Associação Ecomuseu de Condeixa e outros”, para candidatar Conímbriga a Património Mundial.”

Este movimento deverá desenvolver “um programa, a médio prazo, para a reali-zação do levantamento do inventário do património móvel e imóvel do municí-pio” e “um programa a longo prazo” para que, durante o “mandato de 2013-2017 sejam dados os passos es-senciais” para efectuar a candidatura.

De acordo com o autar-ca, “apenas um sexto das ruínas de Conímbriga está a descoberto”, pelo que é necessário investir neste património.

RODRIGO DE MATOS VENCEU GRANDE PRÉMIO PRESS CARTOON EUROPE

“Estamos no bom caminho”

CONÍMBRIGA QUER SER PATRIMÓNIO MUNDIAL

Candidatura está a andar

o campeonato do mundo, este ano, no Brasil.

Para o cartoonista a resi-dir em Macau, esta conquis-ta surge como um importante reconhecimento da qualida-de trabalho realizado. “ Para mim este prémio significa o reconhecimento do trabalho que tenho feito. Mas o mais importante é a qualidade do trabalho em si... o trabalho dum cartoonista é bastante solitário e às vezes é difícil ter um feedback das pessoas. Nem sempre tenho uma ideia muito clara do impacto que os meus cartoons têm jun-to do público. Ganhar um prémio desta importância, num concurso em que estão alguns dos melhores cartoo-nistas europeus é um motivo de orgulho muito grande”, disse ao HM.

A notícia da atribuição do

Grande Prémio Press Car-toon Europe não o apanhou completamente de surpresa. Curiosamente quem lhe deu a boa nova foi vence-dor do segundo prémio, o holandês Tjeerd Royaards. “ Tinha consciência de que as minhas duas obras que foram seleccionadas entre os 50 finalistas eram ideias boas e só soube que tinha ganho quando o cartoonista que recebeu o segundo pré-mio, o Tjeerd Royaards, me mandou um e-mail a dar-me os parabéns pelo primeiro prémio. Eu não estava bem a acreditar...tive de entrar no site para confirmar e claro que fiquei bastante contente”, confessou Rodrigo de Matos. “Este é primeiro prémio de grande relevância que recebo e aumenta o entusiasmo e a confiança pelo trabalho que

Rodrigo Matos conquistou o Grande Prémio, no valor de oito mil euros, com um cartoon que revela um mendigo com uma tigela nas mãos, a ser servido com uma concha onde está colocada uma bola de futebol, fazendo referência à crise económica em Portugal e ao apuramento de Portugal para o campeonato do mundo, este ano, no Brasil

desempenho. É um sinal de que estamos no bom cami-nho”, acrescentou.

Depois de, em 2012, ter tido uma exposição no Al-bergue, Rodrigo de Matos mostra-se disponível para uma segunda mostra este ano em Macau. “Gostava muito de fazer uma exposição este ano. Vamos ver se isso se consegue organizar com al-guém. Estou aberto a convites de instituições que estejam interessadas em expor os meus trabalhos”, disse.

Rodrigo de Matos, que colabora com o Expresso desde 2006, receberá o prémio no Festival Internacional de Cartoon, em Knokke-Heist, na Bélgica.

O cartoonista português nasceu em Angola, em 1975, estudou jornalismo em Coim-bra, viveu no Brasil, em Espanha, onde se diplomou em Ilustração Editorial e de Imprensa, e reside actualmen-te em Macau.

Além de colaborar com o Expresso, Rodrigo também publica no jornal Ponto Fi-nal. - *com Lusa

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12 hoje macau segunda-feira 17.2.2014

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

Bernardo Pinto de almeida

M ANUEL Casimiro é um artista que possui um invejável curriculum. Tendo começado a sua

carreira no final da década de sessen-ta do século XX — década que ficou marcada, no ocidente, e como todos sabem, por uma profunda transfor-mação dos paradigmas de produção, compreensão e legitimação das obras de arte e dos seus lugares de exposição — desenvolveu desde então uma obra consistente que o levou a ser reconhe-cido não apenas no seu próprio País como também internacionalmente. Com efeito, a sua obra foi já objecto de importantes exposições em Portu-gal, facto que a grande retrospectiva na Fundação de Serralves comprova por ter sido decerto um cume de prestígio, tendo igualmente sido adquirida pelas principais instituições privadas e de es-tado em cujas colecções passou a figu-rar destacadamente.

O artista viveu longamente no sul de França, em Nice, na década de setenta e depois ainda na de oitenta, e aí foi con-temporâneo de vários e importantes movimentos da arte internacional de-senvolvidos durante o período da sua estadia, tornando-se amigo de grandes artistas que o reconheceram como um par, e desse modo tornou-se partici-pante em importantes exposições que definiram um quadro de transformação na arte desse período.

Assim se explica que alguns dos prin-cipais pensadores da estética e da críti-ca de arte, como Jean François Lyotard, Michel Butor ou Vincent Descombes, entre inúmeros outros, lhe tenham dedicado textos de reflexão, que são outros tantos espelhos dessa multipli-cidade de questões que se reflectem no seu trabalho. Como também assim se compreende que o próprio artista tenha, ele mesmo, sido autor de diver-sos textos de reflexão que, ao longo dos anos, tem vindo a publicar, muitas vezes nos catálogos que acompanham as suas exposições.

Com efeito Manuel Casimiro de-senvolveu, ao longo de mais de quatro décadas, uma obra consistente e múlti-pla, que versou a pintura, a colagem, a instalação, a escultura, o cinema, os objectos e a fotografia e, em todos estes domínios soube encontrar meios para acrescentar à sua arte novas expressões que hoje, e à distância de várias déca-das, se reconhece como uma obra in-contornável na história da arte portu-

A PONTE ENTRE AS MARGENS

MANUEL CASIMIRO, INSPIRANDO-SE DA PAISAGEM

PRÓPRIA DA GRANDE HISTÓRIA DA PINTURA CHINESA

TRADICIONAL, RETOMA NAS SUAS TELAS UM

SENTIMENTO DA PAISAGEM QUE SE ENCONTRA, A

MEU VER DE UM MODO FELIZ E SUBSTANTIVO COM

AS INQUIETAÇÕES PRÓPRIAS DA SUA CULTURA DE

ORIGEM

guesa do século XX, capaz de dialogar, em igualdade de circunstâncias, com a arte internacional do mesmo período.

As obras dos primeiros anos aproxi-maram-se dos rumos da nova ab-stracção europeia, que questionava o

próprio suporte, e toda uma série de trabalhos com dobragens e colagens resultou dessa actividade, antes que o encontro, depois determinante, com a forma ovoidal que se tornou o em-blema do artista, viesse a ocupar um

lugar central nessa obra. A partir de então, dos inícios da década de setenta, o artista veio a explorar este sinal até às suas últimas consequências, e a desen-volver projectos capazes de se torna-rem significantes na sua operatividade visual. De que se tratou?

Tratou-se, primeiramente, de pro-ceder a uma espécie de inventariação de obras recolhidas na grande tradição da história da arte a que o artista simplesmente acrescentava, a tinta, a referida marca, ao mesmo tempo apropriando-se da sua imagem (como Duchamp o fizera, anos antes, com uma reprodução da célebre e celebrada Mona Lisa) reconduzindo o olhar do espectador através dessas obras.

Esta série, que mereceu a maior for-tuna crítica, seria desenvolvida ao lon-go de toda a década, culminando com uma importante edição de postais pelo Museu da Cooper Hewitt University e por uma intervenção em larga escala nos Museus de Nice em que o artista chegou a pintar sobre obras do acervo, com grande escândalo público, a sua marca ovoidal.

O regresso ao País de origem em inícios da década de oitenta e o seu grande reconhecimento já apoiado no sucesso crítico que tivera durante a longa estadia em França, permitiram a Manuel Casimiro desenvolver muitos dos seus projectos com uma redobrada força e consistência.

Durante toda a década de oitenta, o artista estabeleceu uma reputação firme em Portugal, participando em impor-tantes exposições colectivas, nacional e internacionalmente e, também, reali-zando algumas individuais nomeada-mente no Museu Nacional de Évora e no Museu Nacional de Soares dos Reis, pelo fim da década, onde desen-volveu as temáticas pensadas em torno da identidade, questão que longamente o interessou ao longo de toda a obra. Pensar os signos e os símbolos identi-tários que geram uma comunidade e ser capaz de os desconstruir como quem os interroga por dentro, foi um tema que o artista desenvolveu ao longo de várias séries.

Também o interesse cada vez maior pelas relações com o oriente aflora então na sua obra e realiza uma série de trabalhos que haveriam de culminar com o seu jardim Zen, uma gigantesca instalação, com pedra e areia, que foi apresentada no Museu do Chiado em Lisboa e que depois foi também vista

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(Continua na pagina seguinte)

13 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 17.2.2014

na grande retrospectiva do Museu de Serralves no Porto.

Este interesse pelo Oriente tornar-se ia doravante um tema de eleição. É as-sim que a sua obra chegou às séries ac-tuais, agora merecidamente mostradas no Oriente.

Numa série mais antiga (realizada já em 2006) e também menos conhecida, que intitulou, quando da sua primeira apresentação, “O vazio e a forma — vasos da antiguidade chinesa”, todas essas questões apareciam já senão completamente levantadas, pelo me-nos explicitadas até um certo ponto, que hoje reconhecemos ter estado na origem dos mais recentes trabalhos. Todavia, e como imediatamente per-cebemos, esses trabalhos existem inde-pendentemente da série e trazem, para cada nova circunstância, uma enorme actualidade que lhes advém das suas próprias ideias de pintura intrinsecamente expressas.

Esta série revestiu realmente, na lon-ga continuidade da sua obra, uma im-portância que merece ser destacada já que correspondeu a um momento par-ticular de recolhimento e de reflexão, que o artista procurou sintetizar através de uma meditação concreta sobre as condições do acto de criação artística.

Na apresentação que então escreveu para a primeira vez da sua exposição, referia o artista: “Marcel Duchamp dizia que as obras de arte deviam a sua ex-istência àqueles que as olhavam e viam. Numa perspectiva Taoista, a estética é qualquer coisa não totalmente definida pois vai-se revelando com a participação do espectador que observa e interpreta a partir do que sente e pensa, preenchen-do o vazio encontrado. Assim sendo, o vazio não é sinónimo de nada, mas antes um espaço que incita à participação.

No Oriente, o Zen dá grande im-portância à meditação e está estreita-mente ligado às artes, entre elas as mar-ciais, pois a mestria do gesto revela a mestria de si mesmo. Na China e no Japão a caligrafia é considerada uma arte em si e é objecto de um verdadeiro culto. 

O mestre Zen, como se sabe, depois de se sentar numa esteira em frente ao papel onde vai inscrever algo, procura com a ajuda da respiração desconstrair e encontrar um profundo recolhimento para atingir um determinado estado in-telectual e realizar a obra apenas com alguns traços, sem que seja necessário retocar. Assim o traço naturalmente exprime-se por si só, e aínda mais pelo vazio já referido.(...)

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14 h hoje macau segunda-feira 17.2.2014

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Jardim de InfânciaD. José da Costa Nunes

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Na prática do Zen pretende-se uma completa supressão de formações men-tais seja qual for o nivel psicologico a que pertencem.(...) As pinturas a acrí-lico que fiz espontaneamente sobre pa-pel ou tela, com poucos traços e sem recorrer à ajuda do lápis, foram desenha-das a pincel.

A ideia e a vontade de reproduzir formas de vasos da antiguidade chine-sa surgiram-me em Paris em finais de 2005, depois de ver uma rara exposição destes objectos no lindíssimo Museu Cernuschi.

Fiquei seduzido com a variedade de exemplares destes vasos de cerâmica, em vários tons de celadon, que conse-guiram chegar aos nossos dias, resistin-do ao tempo ao longo de muitos séculos, através de guerras, intempéries e tudo o mais. O persistir e permanecer, destes objectos tão frágeis, pareceu-me uma metáfora da resistência da arte e das ideias, ao tempo.”

A ideia da resistência, no sentido exac-to que o artista lhe dá, correspondente de um persistir e de um permanecer, bem como a própria ideia de um tempo longo que, através da arte, se poderia opor à passagem em si mesma apressa-da do tempo mais actual, é crucial para chegarmos a entender o pensamento que está por detrás do universo criativo deste artista. Ao contrário de outros, que procuram fixar uma ideia de actu-alidade e uma expressão do imediato, que não lhe interessa, para ele essa out-ra dimensão de um tempo inactual, que chega a transcender mesmo o que se contém no da temporalidade histórica para fixar uma duração quase imemo-rial, é já o ponto de partida, a base de procura de que parte, antes mesmo da verificação dos resultados, ou o sinal inscrito matricialmente na origem mais íntima de cada uma das suas obras.

Assim sendo, nesta evocação si-

multânea de pelo menos duas concep-ções culturais, a ocidental e a oriental, estendeu Manuel Casimiro a sua capa-cidade de cruzar temporalidades e isso permitiu-lhe, confrontando-as sobre um mesmo plano, estabelecer uma re-flexão concretizada sobre essa sua ideia do tempo próprio da obra de arte.

Se na arte ocidental a presença da pin-tura é definida por certo tipo de uso da cor e sobretudo de uma noção matem-atizada do espaço plástico e visual, que a modernidade tornou completamente bidimensional, a outra, mais a oriente, vem testemunhada através do modelo de abordagem ao acto de pintar (ou antes, de desenhar com o pincel) que o artista foi buscar explicitamente como processo à maneira própria da pintura Zen (sobre esse tema leia-se o defini-tivo ensaio de François Cheng, Vide et plein dans la peinture chinoise).  Esta re-lação de dois tempos, então, a que se junta ainda a noção duchampeana de espectador-activo, serviram ao artista para introduzir a necessidade de estender na longa duração essa temporalidade própria, imaterial, que deseja para a arte, opondo-a quer à temporalidade circunstancial do presente, quer à mera inscrição do que seria da ordem do reflexo de um processo histórico que transformaria cada gesto em elemento de uma cadeia infinita.

O tempo que Manuel Casimiro advo-ga para a arte, participa de uma espécie de congelamento que permite aproxi-mar o mais antigo do mais actual, na expressão de uma mesma função que, a seu ver, em todos os tempos a arte seria capaz de assumir. Uma função meditativa e contemplativa, mediada pela relação fundamental entre obra e espectador, onde esse processo de cria-ção recíproco estabelecido entre artista e espectador pode ancorar como acto singular, que cabe ao artista ser capaz de desencadear para além das formas que apresenta como vestígio de uma qualquer visualidade que só secundari-amente lhe chega a interessar. Poderia dizer-se que ele clama pelo inactual na arte.

A cor, a forma simplificada, o movi-mento ágil do pincel que não chega a interromper-se, e que pode chegar a acolher o erro, em que depois se fixa como uma assinatura jamais aban-donada nessa forma ovoidal que na sua obra sempre se fez presente, oper-am pois como dimensões desta outra noção de uma temporalidade que fun-da uma ideia de pintura muito particular, que tem mais a ver com a ideia do que com a execução, e que se resume no título feliz da exposição. Assim esta série mais recente — “Pintar a ideia” — partiu uma vez mais de um inter-esse profundo pelo Oriente e pela sua cultura ancestral, desde logo colhido nesta máxima zen que o título retoma. Mas desta vez abordado de um modo diferente: a partir de signos e de sím-bolos que o artista foi investigando e que soube sintetizar, que reflectem aspectos profundamente ancorados na grande e milenar civilização chinesa, que para um ocidental é cheia de mis-tério e de encanto.

As cores, os números, o jogo, as relações de distância, sobretudo as

paisagens e o seu modelo colhido na pintura oriental, serviram deste modo ao artista para desenvolver uma nova e surpreendente série que inova uma vez mais o seu próprio percurso e o acrescenta de fascinantes trabalhos. Nesta nova construção, que pressupôs uma aprendizagem e um estudo sérios, como o artista foi compreendendo, ja-mais está em jogo um certo verismo representativo que a pintura no oci-dente ajustou em perfeição formal du-rante séculos.

É antes a capacidade de tornar visível, e mais do que visível sensível, um certo sentimento da paisagem, a compreensão das suas forças e formas, a percepção profunda e interiorizada do seu sentido que para nós, humanos, frágeis pontos no meio de um universo imenso, permanece uma fonte de interrogação e espanto.

Desenha deste modo uma ponte, uma ponte ténue, subtil, delicada como uma ligeira ponte feita de bambus e ligada por finas tiras vegetais, mas cuja flexi-bilidade resistindo à força dos ventos e das chuvas unisse as duas margens de um imenso rio.

Aquele vasto rio que separa ainda as duas margens culturais do Ocidente e do Oriente, que todos hoje temos ob-rigação de ajudar a construir na per-spectiva de um mundo mais rico e har-monioso para todos.

Manuel Casimiro, inspirando-se da paisagem própria (a forma talvez mais clássica, ancestral e reconhecida) da grande história da pintura chinesa tradicional, que homenageia, retoma portanto nas suas telas, que não de-ixam de ser as de um artista nascido e criado na cultura ocidental, um senti-mento da paisagem que se encontra, a meu ver de um modo feliz e substan-tivo com as inquietações próprias da sua cultura de origem.

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15 artes, letras e ideiashoje macau segunda-feira 17.2.2014

GOSTA DE USAR A

IRONIA E APONTÁ-LA EM

DIFERENTES DIRECÇÕES,

SEJA O SISTEMA

POLÍTICO NACIONAL

OU OS NACIONALISTAS

NA SOCIEDADE. MAS

TUDO SEM DENEGRIR A

IMAGEM DA CHINA OU

APELAR À MUDANÇA DO

SISTEMA

Maria João Belchior

HAN HAN, O JOVEM ADULTOEscritor fenómeno e piloto de corridas

Q UEM o conhece conta que a sua principal preo-cupação são as pistas de corrida de automóveis e que o passatempo é a li-

teratura. Han Han, um jovem escritor fenómeno que nasceu pela internet chinesa, tem 32 anos e tem sido fre-quentemente apontado como a figura padrão de geração chinesa dos anos 80. Deu nas vistas pela primeira vez quando entrevistado pela televisão es-tatal chinesa, CCTV, disse que tinha desistido da escola porque não lhe en-sinavam nada que não pudesse apren-der por si mesmo.

Mas o jovem rebelde, que foge do padrão do sucesso dos colarinhos brancos ou estudantes aplicados na universidade, não consegue reunir consenso nem sobre os seus pensa-mentos nem sobre a sua habilidade literária ou capacidade de escrita. En-volto em polémicas frequentemente, Han Han parece ser sempre uma opi-nião de referência sobre os principais assuntos do país. Mas o jovem que aparece em campanhas publicitárias de roupa e em frequentes corridas de automóveis, consegue sair incólume das polémicas que cria.

Gosta de usar a ironia e apontá-la em diferentes direcções, seja o sistema político nacional ou os nacionalistas na sociedade. Mas tudo sem denegrir a imagem da China ou apelar à mu-dança do sistema.

Sobretudo conhecido pelos ensaios que publica, Han Han nem sempre convence todos da sua geração. Na verdade, num país onde as tendências mudam tão rápido, hoje ele é um entre muitos muito famosos “bloggers”. Mas mesmo não sendo o número um, che-ga facilmente a um milhão de leitores com os seus posts.

O que o diferencia de alguns ou-tros e que o leva a conquistar muitos leitores jovens é não seguir a linha comum de pensamento e muitas ve-zes apelar ao bom senso e à lógica, usando uma ironia por vezes refinada. Um certo sarcasmo que o caracteriza leva muitos a não alinhar com o seu pensamento.

NÃO PISAR A LINHAO que Han Han conquistou, um fe-nómeno popular mediático quando tinha menos de trinta anos, está neste caso muito afastado da vida política. Ao criticar com moderação, tem con-

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so na literatura jovem. Na China tem mais seis romances publicados e oito colectâneas de ensaios.

Ao escrever, dá coragem a outros para seguirem também os seus so-nhos, uma vez que Han Han largou a escola sem ter terminado o ensino secundário. Apesar de alguns críti-cos diminuírem o seu trabalho em escrita, Han Han está por enquanto seguro na vida. Aprendeu a conhecer as linhas de limite até onde pode ou não criticar. E embora agite frequen-temente as águas com ideias fora do baralho, não chega para criar ondas. Sem um objectivo específico a atin-gir com a escrita ou qualquer apelo ao activismo, Han Han consegue di-zer livremente o que pensa. As metas para ele, só existem nas corridas.

seguido nunca ser alvo de campanhas para o silenciar ou acusado.

Na sua vida em Xangai, já tornada pública em alguns documentários na internet, Han Han preocupa-se sobre-tudo com as corridas de automóveis onde gosta de ser fotografado como piloto. Apesar de ter algumas obras tra-duzidas em inglês e italiano, não apare-ce muitas vezes em festas literárias. O seu mundo é o da alta velocidade. E a literatura veio pelo caminho. Han Han foi primeiro traduzido em francês e em italiano e só depois em inglês.

A primeira obra “Porta tripla” (tra-dução livre) publicada no ano 2000 entrou no recorde das obras mais compradas dos últimos vinte anos. Depois deste, Han Han continuou a publicar e a afirmar-se como um suces-

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16 DESPORTO hoje macau segunda-feira 17.2.2014

MARCO [email protected]

O Sporting Clube de Macau con-tinua sem saber o que é perder

pontos na presente edição da Liga de Elite. Depois de na primeira jornada do prin-cipal campeonato de futebol de Macau terem assinado uma entrada de sonho na competição com uma vitória por duas bolas a zero frente ao campeão Monte Carlo, os leões do território somaram no sábado novo triunfo pelo mesmo parcial no frente-a--frente com a frágil forma-ção da Selecção de Sub-23 da Associação de Futebol de Macau.

Depois de se ter imposto sobre o titular da competição com um futebol atractivo e uma estratégia inteligente, o onze orientado por João Maria Pegado defrontou no fim-de-semana uma forma-ção que seria, à partida, um adversário menos exigente e somou o segundo triunfo con-secutivo no principal campe-onato de futebol do território. O triunfo dos leões acabou, no entanto, por se revelar tudo menos fácil. A postura declaradamente defensiva da Selecção de Sub-23 obrigou o grupo de trabalho às ordens de João Maria Pegado a estugar o passo para chegar ao último reduto adversário. Os dez primeiros minutos da partida ficaram, ainda assim, pautados pela inércia e pela incapacidade dos jogadores da formação de matriz portu-guesa em levarem a melhor sobre o corpete defensivo

O jogo grande da segunda ronda da edição de 2014 da Liga de Elite colocava frente-a-frente

duas formações vistas unanimemente como candidatas ao triunfo na compe-tição. O desafio entre a Casa do Sport Lisboa e Benfica de Macau e o Wind-sor Arch Ka I prometia equilíbrio e as duas formações não defraudaram, com um jogo cauteloso e muito disputado, com oportunidades repartidas.

Orientado pelo veterano Chan Man Kin, o Ka I entrou melhor na partida e construiu, ainda que num lance de bola parada, a primeira oportunidade do desafio. Encarregue de cobrar um livre-directo em posição frontal à baliza encarnada, Gustavo Oliveira obrigou o guarda-redes Rui Nibra a uma defesa atenta. O Benfica respondeu por inter-médio de Niki Torrão, mas perante a antiga equipa, o internacional do terri-tório mostrou-se perdulário, pegando mal na bola numa iniciativa em que apenas tinha pela frente Tam Heng Wa.

Mais expedito, o Benfica voltou a levar perigo ao último reduto do rival num cabeceamento de Bruno Martinho, mas o esférico acabou por morrer ao lado da baliza do Ka I. A formação orientada por Chan Man Kin respondeu numa acção rápida de contra-ataque, mas quase não incomo-dou Rui Nibra na baliza do Benfica.

O onze dirigido por Daniel Pin-to teve em Cuco um dos jogadores mais inconformados. O médio, de ascendência são tomense, visou por duas ocasiões – ainda que sem grande sucesso – a baliza à guarda de Tam Heng Wa. Descontente com o nulo que perdurava no marcador, o Ben-fica regressou do balneário com uma postura mais dinâmica e depois de Cuco, coube a Simbo Diakité, visar de cabeça o último reduto do adversário.

KA I, SÓ NA PONTA FINALO Ka I só na recta final do desafio conseguiu reagir e quase inaugurou o marcador na cobrança de um livre directo. Christopher Nwarou foi quem tomou em mãos a transformação do lance, fazendo embater o esférico na barra da baliza à guarda de Rui Nibra. A melhor oportunidade do desafio acabaria, no entanto, por pertencer ao Benfica. Nos últimos instantes do de-safio, o brasileiro Fabrício é derrubado em falta na grande área do Ka I e o

árbitro aponta para grande penalidade. Chamado a cobrar o penalti, Cuco bate para fora do alcance de Tam Heng Wa, mas a bola acaba por esbarra com o poste da baliza adversária. No final do desafio, Carlos Reginaldo da Silva reconheceu que o Ka I teve a sorte por seu lado, mas considerou o empate um resultado justo: “Foi uma partida que, como todo mundo esperava, se revelou bastante disputada. Parece-me que as duas equipas estão ao mesmo nível, mas tivemos uma certa sorte no final, uma vez que a equipa do Benfica não aproveitou bem. Acho que foi um re-sultado favorável e agora só nos resta dar continuidade no próximo jogo”, sustenta.

Do outro lado da barricada, Daniel Pinto, treinador das águias do território, reconhece que ficou mais satisfeito com a exibição do Benfica do que com o resultado: “Nós perdemos uma grande penalidade que normalmente seria de concretizar, mas é algo que acontece. Nós não fomos felizes na marcação do penalti, mas agora vamos levantar a cabeça. Foi um bom jogo de futebol. O Benfica esteve bem e o Ka I também es-teve bem. Foi um jogo muito agradável. Para segundo jogo da época, acho que houve já algum fio de jogo, jogadores mais entrosados. O Benfica está melhor, mas a margem de produção ainda é gran-de”, defende o técnico encarnado. – M.C.

LIGA DE ELITE LEÕES VENCERAM SUB-23 POR 2-0

Sporting firme na liderança

LIGA DE ELITE - 2.ª JORNADA

CLASSIFICAÇÃO

J V E D GM-GS P

1 Chao Pak Kei 2 2 0 0 11-2 6

2 Sporting 2 2 0 0 4-0 6

3 Benfica 2 1 1 0 1-0 4

4 Lai Chi 1 1 0 0 4-0 3

5 Polícia 2 0 1 1 1-2 1

6 Monte Carlo 2 0 1 1 1-3 1

7 Ka I 1 0 1 0 0-0 1

8 Sub-23 2 0 0 2 0-6 0

9 Kei Lun 2 0 0 2 2-11 0

RESULTADOS

Polícia 1 – 1 Monte Carlo

Kei Lun 2 – 7 Chao Pak Kei

Sporting 2 – 0 Sub-23

Benfica 0 – 0 Ka I

Folgou o Lai Chi

montado pela formação da Associação de Futebol de Macau. Os leões só aos 13 minutos conseguiram desmontar a estratégia dos adversários, mas a tentativa de remate acrobático de Ro-drigo Veloso valeu mais pelo esforço do que pelo perigo real que gerou.

O Sporting Clube de Macau acabaria, no entanto, por celebrar menos de um minuto depois. Na primeira jogada do desafio digna desse nome, os leões do ter-ritório saltaram para a frente do marcador, com Alexandre Matos a responder da melhor forma a um bom cruzamen-to do macaense Francisco Cunha e a marcar de cabeça um golo de belo efeito.

SUB-23 FROUXOSA Selecção de Sub-23 res-pondeu com um cruzamento frouxo para as mãos de Juninho. O guarda-redes brasileiro acabou por per-

manecer durante grande parte do desafio como mero espectador e só na recta final da partida se viu obrigado a mostrar credenciais. Emba-lado pelo golo, o Sporting passou a rondar com maior insistência o último reduto adversário, mas o desacerto no capítulo da finalização impediram o emblema de matriz portuguesa de cons-truir mais cedo um resultado mais volumoso. Bruno Brito tentou por duas vezes o as-salto à baliza dos Sub-23,

falhando por pouco as redes da formação da Associação de Futebol de Macau. Pouco depois, foi a vez de Amân-cio deitar a perder uma boa oportunidade, ao optar por fazer uma abertura para um colega de equipa quando se encontrava em boa posição para rematar.

O maior exemplo de des-perdício por parte da linha avançada dos leões acabaria, no entanto, por se materiali-zar no derradeiro minuto da primeira parte, com Ieong

Ka Hang a rematar denun-ciado para uma defesa fácil do guarda-redes da Selecção de Sub-23, depois de se ter isolado no último reduto da formação adversária.

Dominadores nos pri-meiros 45 minutos, os leões voltaram a entrar melhor na etapa complementar, com duas iniciativas de ataque quase consecutivas. Depois de um primeiro cabecea-mento pouco substancial, Jardel atira à malha lateral da formação adversária. Muito activo ao meio-campo, Bru-no Brito toma em mãos a tarefa de converter os livres em posição frontal à baliza adversária, mas no fim--de-semana acabou por se revelar bem mais perdulário do que no encontro frente ao campeão Monte Carlo.

A Selecção de Sub-23 da Associação de Futebol de Macau só à passagem da hora de jogo consegue

CANDIDATOS AO TÍTULO NÃO FORAM ALÉM DE UM EMPATE A ZERO

Benfica e Ka I anulam-se

levar perigo ao reduto à guarda de Juninho. Uma de-satenção de Wamba permite que a bola chegue a Lam Ka Seng, mas o dianteiro falha o entrosamento com o esférico e desperdiça uma oportunidade de ouro para a selecção jovem do território. Quem não marca arrisca-se a sofrer e foi o que sucedeu ao frágil emblema patro-cinado pela Associação de Futebol do território a dez minutos dos noventa regu-lamentares. Dominador, o Sporting só na recta final da partida consegue consolidar o triunfo, numa jogada que volta a envolver Alexandre Matos. O jovem extremo dos leões cruza para um cabeceamento de Gaspard Laplaine, o guarda-redes dos Sub-23 defende, mas na recarga Rodrigo Veloso não perdoa, apontando o segundo do plantel às ordens de João Maria Pegado. O triunfo foi o segundo do Sporting Clube de Macau na temporada de estreia na principal compe-tição futebolística do territó-rio. Os leões mantêm-se na liderança da prova, ainda que em igualdade pontual com o Chao Pak Kei.

Page 17: Hoje Macau 17 FEV 2014 #3031

hoje macau segunda-feira 17.2.2014 FUTILIDADES 17

TEMPO MUITO NUBLADO MIN 13 MAX 18 HUM 75-95% • EURO 10.9 BAHT 0 .2 YUAN 1.3

LAIS DELEON É UMA MULHER DO MUNDO

Nasceu em São Paulo (Brasil), mudou-se para o Panamá com apenas quatro anos, viveu em Inglaterra e Itália, durante quatro anos e recentemente mudou-se para Albuquerque (EUA). Motivos profissionais justificam estas constantes mudanças. Manequim de profissão, De Leon é professora de fitness, dando aulas a alguns dos atletas mais mediáticos do planeta. Nos últimos meses saltou para as capas de várias revistas por ter dado uma aula muito especial. Tudo pelo aluno. Nada mais que o gigante LeBron James, jogador de basquetebol norte-americano, que actua pelo Miami Heat, sendo uma das estrelas da NBA.nas páginas da revista GQ, com uma produção, no mínimo, ousada.

Dia dos NamoradosChinês compra bilhetesdos cinemas em Xangai• “Beijing Love Story” era um dos filmes que as salas de cinema de Xangai tinham em cena no Dia dos Namorados. Mas um chinês, solteiro e sem namorada, quis sabotar a celebração e comprou todos os bilhetes das salas de cinema. O chinês fez a compra pela Internet, até que esgotou o limite que o sistema lhe permitia. No entanto, não deu por finda a sua batalha e deslocou-se às diversas salas de cinema de Xangai, para comprar mais e mais bilhetes. O objectivo era impedir que os casais pudessem ver o filme lado a lado. Assim, infeliz por não ter companhia neste dia, este homem avançou com a estranha decisão, que pretende ver repetida por todos os homens que não tenham namorada.

Nigéria Polícia fecha restaurante canibal• A polícia fechou um restaurante especializado em menu canibal na cidade de Anambra (Nigéria). Os agentes encontraram no estabelecimento, situado num hotel, duas cabeças humanas cobertas por papel celofane. Onze pes-soas foram presas no local, de acordo com o jornal londrino “Independent”. Policias apreenderam, ainda várias armas, entre elas Ak-47. Segundo a investigação inicial, a carne humana estava a ser servida no restaurante como uma iguaria exótica e cara. Cabeça humana assada fazia parte do cardápio. Além disso, os donos do restaurante enganavam outros clientes. Um pastor, que frequentava o local, contou ter comido carne humana sem saber.

João Corvofonte da inveja

Deves procurar um mestre, mas livra-te de o seguir.

C I N E M ACineteatro

SALA 1ROBOCOP [C]Um filme de: José PadilhaCom: Joel Kinnaman, Gary Oldman, Michael Keaton, Abbie Cornish14.00, 16.00, 18.00, 21.45

FROM VEGAS TO MACAU [C](FALADO EM CANTONÊSLEGENDADO EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Wong JingCom: Chow Yun-Fat, Nicholas Tse20.00

SALA 2 WINTER’S TALE [B]Um filme de: Akiva GoldsmanCom: Colin Farrell, Jessica Brown Findlay,

Jennifer Connelly14.30, 16.30, 21.30

THE BOOK THIEF [B]Um filme de: Brian PercivalCom: Sophie Nelisse, Geoffrey Rush,19.00

SALA 3ENDLESS LOVE [B]Um filme de: Shana FesteCom: Alex Pettyfer, Gabriella Wilde14.15, 16.05, 18.00, 21.45

THE LEGO MOVIE [A](FALADO EM CANTONÊS)Um filme de: Phil Lord, Chris Miller19.50

ROBOCOP

HOJE NO PRATO

Alho

Paula BichoNaturopata e Fitoterapeuta • [email protected]

Nome botânico: Allium sativum L.Família: Amaryllidaceae (Liliaceae).Nomes populares: Alho-comum; Alho-hortense; Alho-ordinário; Alho-vulgar.

Originário da Ásia Central, o Alho é atualmente cultivado em todo o mundo. É uma planta herbácea que pode atingir os 80 cm de altura, de flores levemente rosadas agrupadas em umbela; apresenta um bolbo (cabeça de Alho) composto por vários bolbilhos, os dentes de Alho, envolvidos numa casca.Uma das plantas medicinais mais an-tigas, o Alho é referido no Papiro de Ebers, um documento médico egíp-cio datado de 1500 a.C., participando em 22 fórmulas terapêuticas. Foi consumido pelos construtores das pirâmides e utilizado na mumifica-ção. Os atletas Gregos ingeriam-no antes das competições olímpicas. Desde então tem sido uma das mais utilizadas e investigadas plantas medicinais. São usados os bolbos.

COMPOSIÇÃOAliina, um glicósido sulfurado que, pela ação de uma enzima (aliinase) que atua quando o Alho é esmagado, se converte primeiro em aliicina e depois em bissulfureto de alilo. Con-tém ainda fructosanas, açúcares, compostos tiociânicos, saponina, vitaminas (A, B1, B2, B3, C) e sais minerais.A aliina e o bissulfureto de alilo são compostos altamente voláteis e odo-ríferos que se dissolvem facilmente nos líquidos e nos gases; transpor-tados pelo sangue comunicam o seu odor a todos os órgãos e tecidos do organismo, especialmente pulmões, rins e pele, órgãos através dos quais são eliminados. Por esta razão, o hálito, os arrotos, os gases, a urina, o suor e até o leite das lactantes denunciam o seu cheiro.

AÇÃO TERAPÊUTICAGrande planta para o sistema cardio-vascular, o Alho dilata os vasos san-guíneos baixando a pressão arterial e fluidifica o sangue protegendo as artérias e melhorando a circulação; tem ação antioxidante e diminui os níveis de colesterol e triglicéridos. É especialmente recomendado na hipertensão, hiperlipidemias, claudicação intermitente, angina de peito, enfarte e na prevenção de trombos. Esta aromática normaliza ainda o nível de glicose no sangue

sendo útil aos diabéticos (como adjuvante) e obesos.Excelente aliado do sistema imuno-lógico, o Alho combate bactérias, vírus e fungos e, ao contrário dos antibióticos de síntese que depri-mem as defesas do organismo, estimula a sua capacidade defen-siva e regula a flora intestinal. Esta planta é, por isso, muito utilizada em diversas afeções: diarreias, gastrenterites, colites, cistites e pielonefrites, tosse e catarro, sinu-site, faringite, bronquites agudas e crónicas e SIDA (como adjuvante). Vários estudos científicos têm as-sociado o seu consumo a um menor risco de cancro (linfoma, cólon, estômago, próstata, endométrio e ovário).

OUTRAS PROPRIEDADESDiurético e depurativo, o Alho facilita a eliminação de resíduos ácidos do organismo, beneficiando gotosos, artríticos e reumáticos. Para os que desejam abandonar o vício de fumar, esta planta favorece a eliminação das mucosidades dos brônquios ao mesmo tempo que regenera a sua mucosa, regulariza a tensão arterial e ajuda a vencer o desejo de fumar.

COMO TOMARUso interno• O Alho é utilizado em diversas preparações culinárias: temperos e marinadas, refogados, sopas, molhos, etc.• Alho cru: 2 a 5 dentes de Alho por dia. Mastigar de preferência pela manhã.• Cozimento de dentes de Alho: Uma cabeça por litro de água, 5 minutos de fervura. Tomar 3 chávenas por dia. Com o cozimento perde pro-priedades mas evita-se o mau hálito.• Na forma de tintura, cápsulas ou comprimidos com o pó, óleo ou extrato. Marca presença em nume-rosas fórmulas praticamente para todos os sistemas do organismo.

PRECAUÇÕESTer em atenção a sua ação fluidifi-cante do sangue em caso de cirurgia. Pode interagir com medicamentos anticoagulantes. Doses elevadas são desaconselhadas na gravidez, em caso de hemorragia ou trans-tornos da coagulação. Embora raramente, podem ocorrer irritação gastrintestinal ou reações alérgicas. Em caso de dúvida, consulte o seu profissional de saúde.

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hoje macau segunda-feira 17.2.2014

Barrigas de aluguer

18 OPINIÃO

N O dia 26 de Janeiro de 2014, o website “Yahoo” publicou uma notícia sobre as barrigas de aluguer. As empresas do ramo colocam anúncios nos seus sites para recrutar “mães de aluguer”. Uma jornalista fez-se passar por uma pos-sível candidata e respondeu

a um anúncio, tendo sido entrevistada por três empresas de mães de aluguer.

A primeira entrevista foi feita, via telefone, por empresa de Shen Zhen. A entrevistadora foi a Sra. Zhang com quem a repórter teve uma conversa detalhada. Zhang disse: “Se for residente do interior da China, só pagamos cerca de 200.000 renminbi. Mas se for cidadã de Hong Kong, podemos pagar 500.000 ren-minbi. Mas os requisitos são mais elevados. Tem de passar nos nossos exames físicos.”

A jornalista respondeu: “Tenho 25 anos e possuo um corpo bonito e sensual. Tive um filho há dois anos de parto natural”

Zhang gritou, “Você é perfeita! Tenho a certeza de que vai ter muitos clientes.”

“O nosso processo é simples. Inserimos no seu corpo o esperma e o óvulo dos clientes. Quando estiver grávida pode ficar em Hong Kong para o feto ter estabilidade. O parto tem de ser feito em Hong Kong para o bebé ter cidadania de Hong Kong”.

“Tem também de assinar um contrato em que concorda com a renúncia da custódia do bebé. Só pode registar o seu nome como mãe do bebé na certidão de nascimento. O nome do pai fica em branco.”

A segunda entrevista foi feita em Shen

Zhen. O entrevistador foi o Sr. Lam. Disse que pagava 300.000 renminbi, mas que durante o período de gravidez a jornalista tinha de permanecer em Shen Zhen.

“Damos-lhe um quarto privado e uma em-pregada. O seu vencimento será pago em dez prestações, a partir do terceiro mês da gravidez. Na data prevista de parto tem de ir para Hong Kong, para um hospital designado por nós. Os custos serão todos suportados por nós.”

“No entanto, em caso de aborto apenas pagamos 20.000 renminbi. As despesas hospitalares serão pagas por si. ”

O local da terceira entrevista não estava mencionado na notícia. A entrevistadora foi a Sra. Weng, que disse: “A mãe de aluguer tem de dar à luz num hospital na China, indicado por nós. Se quisermos, podemos por os nomes do pai e da mãe do bebé na certidão”

“Poderá receber 200.000 renminbi”.

Ao olharmos para estes casos percebe-mos que as barrigas de aluguer envolvem matérias de direito e de moralidade. Supo-

macau v is to de hong kongDAVID CHAN*[email protected] • http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog

*Professor Associadono Instituto Politécnico de Macau

Não ouvimos falar, até agora, de casos de barrigas de aluguer em Macau. No entanto, os problemas acima mencionados podem ocorrer aqui. Por outras palavras, Macau pode ter de enfrentar as mesmas dificuldades. É bom reflectir sobre as questões de índole social ligadas à cidadania de Macau e às barrigas de aluguer

O caso entre A, B e C, envolve ainda outro aspecto: cidadania. Se o bebé nascer de parto de C em Hong Kong, e esta for cidadã de Hong Kong, o bebé pode tam-bém ganhar a mesma cidadania. Mas se C é apenas a mãe de aluguer e A e B são os pais “reais”, é possível que estes façam testes de ADN (i.e. material genético) ao bebé. Se o resultado for favorável a A e B estes podem pedir o visto para ir para Hong Kong. Como sabemos este negócio está envolvido no mais alto segredo entre as várias partes, os outorgantes e a empresa de barrigas de aluguer. Como tal, é difícil de ser provado, o que pode criar um problema legal e moral.

Talvez a melhor maneira de evitar este problema seja efectuar um teste de ADN a saber se C é a mãe genética do bebé. Mesmo assim, A pode mudar de estratégia e inserir o seu esperma no óvulo de C. Neste caso, C é a verdadeira mãe. Ela pode ainda abdicar da custódia do bebé e deixá-lo entregue aos cuidados de A. Se o bebé nascer em Hong Kong, ganha essa cidadania. A pode requerer um visto para ir para Hong Kong. Continua a existir um caso de “negócio de barriga de aluguer”; neste caso só temos o senhor A e a senhora C. É mais difícil denunciar este acordo.

Não ouvimos falar, até agora, de casos de barrigas de aluguer em Macau. No entanto, os problemas acima mencionados podem ocorrer aqui. Por outras palavras, Macau pode ter de enfrentar as mesmas dificulda-des. É bom reflectir sobre as questões de índole social ligadas à cidadania de Macau e às barrigas de aluguer.

nhamos que A B são um casal, e que B é infértil. Arranjam uma mãe de aluguer, C. O bebé depois de nascer fica ao cuidado do casal. Qual é a relação do bebé com a mãe de aluguer? Do ponto de vista moral, a criança quando crescer não pode ignorar C porque foi esta quem o deu à luz. A criança pode ter problemas em chamar mãe a B, porque esta apenas o ajudou a criar, não foi ela que o deu à luz. Talvez a melhor solução seja que B e C sejam amigas e o bebé possa chamar mãe a ambas.

O artigo 3º da《人類輔助生殖技術管理辦法》proíbe o negócio de barrigas de aluguer. Em caso de infracção, os artigos 21º e 22º indicam as penas e a responsa-bilização.

O artigo 17º da Human Reproductive Technology Ordinance (Cap. 591) de Hong Kong fornece as mesmas indicações. Mais uma vez, o negócio de barrigas de aluguer é proibido.

Em Macau, o artigo 1726º do nosso Código Civil também indica que os acordos de barriga de aluguer não têm validade. O resultado é igual a Hong Kong e à China.

Se existir um acordo de mãe de aluguer entre A, B e C, o mais provável é que C deixe de ver o seu bebé. Será que isto é moralmente correcto? O que vai sentir a criança quando souber a verdade? Não surpreende que em Macau, na China e Hong Kong se proíba as barrigas de aluguer para evitar sentimentos desnecessários.

GUST

AV K

LIM

T, E

SPER

ANÇA

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19 opinião

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editor Gonçalo Lobo Pinheiro Redacção Andreia Sofia Silva; Cecilia Lin; Joana de Freitas; José C. Mendes; Rita Marques Ramos Colaboradores Amélia Vieira; Ana Cristina Alves; António Falcão; António Graça de Abreu; Hugo Pinto; José Simões Morais; Marco Carvalho; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; Correia Marques; David Chan; Fernando Eloy ; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Gonçalo Lobo Pinheiro; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

hoje macau segunda-feira 17.2.2014

Outra não há mais leal

N O princípio, quando o tempo subsistia ainda à margem da marcha e do entendimento dos dias e o silêncio tomava como seus os desertos e os mares, o mundo era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. De um rasgo de luz, o velho arqui-

tecto consumou os alicerces da criação, com um suspiro decretou o fim da quietude e um aceno bastou para que os céus se enchessem de vento e os rios se preenchessem de ânsia, sem no entanto se encherem de vida, sem no entanto surtirem sentido.

Defraudado talvez, intrigadíssimo cer-tamente, o Todo Poderoso esteve vai não vai para amarrotar a criação com o mesmo ímpeto visceral com que quem escreve estrangula e amarfanha um enunciado mal conseguido. Antes de desmanchar as mon-tanhas e calcinar promontórios e ilhas, o divino afastou com um esgar um rebanho de nuvens, passeou o olhar pela obra e an-corou a vontade na lama amarelo-enxofre do Yangtzé, ainda e tão só um dragão d’água imaginado, e nela moldou uma tragédia à sua imagem e semelhança. Acendeu nela o fôlego da vida e no mesmo barro retalhou um nome e só então se fez mundo. Só então a intemporalidade impregnou todas as coi-sas, o ausente se tornou presente e os rios correram com destino e com sentido.

Na mitógenese linguística chinesa, o Todo Poderoso tomou o nome de Cangjie e mais do que inventor foi um redentor de mundos; com quatro olhos e quatro pupilas e a capacidade de ver para além do imediato, Cangjie ajudou o Homem a apropriar-se pela língua do que o rodeava. Quando inventou os caracteres em que se alicerça parte fundamental do ser e do saber chinês, as divindades e os espíritos choraram e do céu jorraram dilúvios de painço. Lamentada pelos deuses, a intervenção de Cangjie não mereceu, ainda assim, a resposta irada com que a ousadia de uma outra intervenção providencial é punida. Depois de facultar ao Homem o fogo e a sabedoria sonegados aos deuses, Prometeu é condenado pelo Olimpo à mais atroz das maldições. Consciente de que o roubo o privou, a ele e aos deuses, de parte do providencialismo que os tornava divinos, Zeus manda agrilhoar o titã ao cume do Cáucaso e condena-o dia após dia após dia ao suplício de uma dilaceração mil vezes repetida.

Acorrentado à montanha, punido por Zeus por ter dado aos homens o fogo sa-grado, Prometeu não pede clemência, não clama por misericórdia; desafia antes a có-lera do Olimpo na certeza da imortalidade

Incrível é o facto da mais abrangente rede social do mundo ter acedido ao pedido de mil e muitos utilizadores e ter reconhecido como marcador geográfico do território a designação pelo qual ele se deu a conhecer ao mundo

expediente c ín icoMARCO CARVALHO

conquistada. Como Cangjie, sabe que a sua intervenção foi heróica e justa por permitir a comunicação entre os céus e a terra, por esbater as barreiras que sempre apartaram homens e deuses.

Heróica e necessária foi também a pe-quena vitória alcançada há meia dúzia de dias pelo grupo Consciência de Macau no mais improvável dos campos de batalha, o “Facebook”. Ninguém, no uso circunstan-cial, e o mais das vezes instintivo, que se faz da linguagem, se apresta a ver nela uma centelha de transcendência ou de essência divina, mas o Verbo continua – talvez mais do que nunca – a estar com Deus e a com Ele confundir-se. Se não constrói o mundo de um mesmo modo que um nódulo de átomos furiosos se conjugam para dar azo à matéria, a linguagem consente a apropria-ção do mundo, torna tangíveis as ideias, transforma o ausente em presente, mantém vivo o passado e abertas as portas do futuro. Se não garantiu ao Homem os desígnios

da eternidade, ofereceu-lhe pelo menos a benesse da intemporalidade.

Mais do que a apropriação do mundo pela linguagem, importa a forma como essa apropriação é conduzida e é neste domínio particular que a importância da língua sobressai. Mais do que um simples repositório de vocábulos e de enunciados, a língua que se fala é a mais elevada expressão de individualidade de uma comunidade ou de um povo, é uma marca incontornável de carácter e de identidade.

De um mesmo modo que “incrível” e “inacreditável” são sinónimos mas não significam exactamente o mesmo, “Macau”, “Ou Mun” e “Ao Men” designam o mesmo rincão de mundo mas não designam neces-sariamente a mesma coisa. Incrível é o feito a que se tira o chapéu de tão magnânimo que é: o desempenho inultrapassável de um Usain Bolt voador nos Jogos Olímpicos, a voz angelical da dona de casa balofa e emaciada pela qual ninguém dava nada no

concurso de talentos, o cão que gasta os seus dias consumido em saudade ao lado do jazigo do dono.

Inacreditável, não sendo exactamente o oposto, é como que o fantástico nos seus an-típodas. É o que, misturando o mau, o nefasto e o péssimo, se torna tão difícil de aceitar e assimilar que nada mais resta que o pasmo. É a desfaçatez de Lance Armstrong anos a fio, pedalando montanhas de eritropoietina. É o preço do imobiliário não dar sinais de estabilizar e o senhor Chui assobiar para o lado, como se Macau não fosse nada com ele.

Incrível é o facto da mais abrangente rede social do mundo ter acedido ao pedido de mil e muitos utilizadores e ter reconhecido como marcador geográfico do território a designação pelo qual ele se deu a conhecer ao mundo. Inacreditável é a erosão compulsiva de que foi alvo o Cantonense nas últimas décadas na província que lhe deu o nome. Num trabalho académico apresentado em 2011, o sociólogo sueco Alexander Gamst Page denuncia o desaparecimento inequí-voco do Cantonense dos espaços públicos urbanos da vizinha província de Cantão e o confinar progressivo do dialecto aos limites do lar, cada vez mais uma língua de afectos, num mundo onde o afecto corre sérios riscos de extinção.

Parte das estratégias de consolidação política e territorial dos modernos estados--nação passaram no passado por práticas que tiveram na homogeneização linguística e cultural instrumentos de afirmação incon-tornáveis. A tendência, outrora inflexível, caiu de moda um pouco por todo o mundo, mas continua a ser um dogma de estado na República Popular da China, ao ponto de um inofensivo casal de pandas não poder ostentar os nomes – Hoi Hoi e Sam Sam – com que foram baptizados por aclamação popular. Os pandas – oficialmente Kai Kai e Xin Xin para que Macau tenha a perfeita noção do lugar a que pertence – são um exemplo apenas, ainda que – lá está – um exemplo inacreditável.

A República Popular da China, que ven-ceu pelo coração os ânimos de Hong Kong e de Macau, arrisca-se a perdê-los pela boca se não compreender atempadamente que a língua é uma expressão de individualidade de que muitos não estão dispostos a abrir mão. O Cantonense, com o seu cadilho de tons e aliterações, com a sua espontaneidade e jovialidade, com um farto e constante des-lumbramento, moldou o carácter, a cultura e a excepcional abertura e abrangência dos povos do Sul da China. É uma chave para a alma e um caminho para a identidade. Mesmo que fosse apenas uma língua, outra não há mais leal ao que Macau é e ao que significa.

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hoje macau segunda-feira 17.2.2014

Macau Pedro Abrunhosa dá palestra no IPM dia 20O cantor e compositor Pedro Abrunhosa vem até Macau a convite do Centro Pedagógico e Científico de Língua Portuguesa, do Instituto Politécnico de Macau (IPM), para uma palestra sobre “Música e Arte: antídotos para a angústia em tempos de números”, no auditório do Edifício Chi Un. O evento, aberto ao público, está marcado para quinta-feira, dia 20 de Fevereiro, pelas 18h30, e vai ter tradução simultânea para chinês. A iniciativa é organizada em colaboração com a Escola de Artes, a Escola Superior de Línguas e Tradução, ambos do IPM, e conta com o patrocínio institucional do Consulado de Portugal.

Coreia do Norte Kim homenageia o paiO líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, prestou hoje tributo ao pai, o antigo ditador Kim Jong-il, que este domingo celebraria 72 anos de idade. Kim Jong-un depositou flores perante o corpo embalsamado do conhecido «Querido líder» no Palácio do Sol de Kumsusan em Pyongyang, capital norte-coreana. A televisão estatal do país, a KCTV, transmitiu documentários e vídeos de homenagem a Kim Jong-il, nascido em 1942 e que morreu em Dezembro de 2011 de ataque cardíaco.

Nepal Aviãocom 18 passageiros desaparecidoUm avião da companhia Nepal Airlines com 18 ocupantes, a voar sob más condições atmosféricas desapareceu nas montanhas. O director da Autoridade da Aviação Civil referiu que o avião - com 15 passageiros e três tripulantes - saiu do resort de Pokhara e que o contacto rádio foi perdido minutos depois, cita a AP, sem chegar ao destino, Jumla. A zona está com má visibilidade e a chegada de helicóptero de busca e salvamento revela-se complicada.

Macau Rui Velosonos 40 anosdo 25 de AbrilO músico Rui Veloso é a grande atracção das comemorações em Macau dos 40 anos do 25 de Abril num espectáculo organizado em parceria pela Casa de Portugal e Fundação Oriente, confirmou sábado fonte da casa de Portugal. A fonte explicou à agência Lusa que Rui Veloso actua em Macau a 25 de Abril no grande auditório do centro cultural local e que o espectáculo integra um conjunto de actividades culturais organizadas pela Casa de Portugal que, no concerto do cantor português, se associa à Fundação Oriente. Rui Veloso, de 56 anos, nascido em Lisboa, saltou para a ribalta da música em 1980 com o álbum “Ar de rock”. Daí para cá contam-se vários êxitos, nomeadamente, “Chico Fininho”, “Não há estrelas no céu”, “Sei de uma camponesa”, “Rapariguinha do shopping”, “Porto Sentido”, “A Paixão (segundo Nicolau da Viola)” e “Porto Covo”. Ao longo da carreira editou mais de uma dezena de álbuns de originais e gravados ao vivo.

Japão Nevão levou ao cancelamento de voosA neve afecta grande parte do Japão nos últimos dias e levou ao cancelamento de muitos voos no principal aeroporto de Tóquio. As autoridades fecharam estradas e as ligações ferroviárias foram suspensas. A companhia aérea japonesa All Nippon Airways anunciou a suspensão de 29 voos nacionais, enquanto a Japan Airlines cancelou outros cinco, avançou a NHK.

Venezuela Protestos continuam nas ruasSão diárias as manifestações em Caracas contra o governo de Nicolás Maduro, com milhares de estudantes e cidadãos nas ruas. Por haver confrontos com a polícia, há detidos, mas há também denúncias de pessoas desaparecidas. Após as manifestações de protesto contra o governo que acontecem desde quarta-feira e fizeram três mortos e dezenas de feridos, os estudantes têm exigindo nos últimos dias a libertação dos detidos nos protestos e justiça na investigação das mortes. Este sábado, estiveram novamente concentrados desde o início da tarde cerca de três mil militantes da oposição; alguns atirara pedras, a polícia dispersou-os com recurso a gás lacrimogéneo e canhões de água, tendo-se registado 23 feridos.

cartoonpor Stephff

O CANIVETE

CECÍLIA L [email protected]

O número de candidatos de habitação eco-nómica não reflecte a realidade da procura da sociedade porque muitos candidatos

procuram uma casa pública por “pânico”. A ideia é defendida por Leong Keng Seng, vice-presidente de Conselho para os Assuntos de Habitação Pú-blica, que ao Jornal do Cidadão fez saber que o fenómeno acontece pelo facto do edifício Ip Heng ter sido a primeira habitação económica a receber

HABITAÇÃO PÚBLICA CANDIDATOS NÃO REFLECTEM REALIDADE

Muito pânico na procura

HABITAÇÃO SOCIALREVISÃO AO REGIMEO secretário para as Obras Públicas e Transportes disse na sexta-feira que vai continuar, através de várias medidas afectas ao mercado privado e habitação publica, a tentar resolver a dificuldade dos residentes. “A questão de habitação não se resolve por meio de uma medida específica. Estamos a continuar a procurar terrenos para construção de mais habitação económica. Também não esquecemos a construção de mais habitação social porque estes candidatos correspondem a camadas mais baixas da sociedade e o Governo preocupa-se com esta franja da sociedade, especialmente quando hoje em dia o nível das rendas causa grande pressão a estes residentes”, lembrou Lau Si Io, à margem de um evento da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau. O governante também revelou que, este ano, vai ser feita uma revisão ao regime de habitação social.

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IMOBILIÁRIO REDUÇÃO DO NEGÓCIO CAUSARÁ DESPEDIMENTOSO presidente da Associação Geral dos Sector Imobiliário de Macau, Zhong Xiaojian, previu que este ano um terço dos participantes vão perder o seu emprego devido ao fraco negócio de compra e venda de habitações. “O ajuste de imposto de selo, o período de proibição de vende e a lei de mediação imobiliária resultam em pouco negócio para o sector. O volume de negócio diminuiu para dez mil casos no ano passado. Os que não fizeram qualquer negócio vão ser eliminados este ano”, frisou.

candidaturas depois da nova lei de habitação económica entrar em vigor, há três anos, e depois de concluído o plano de entrega das 19 mil habi-tações. E, sobretudo, porque o empreendimento apenas aceitou candidatos para os T1. “É preciso abrir mais tipos de fracções e iniciar diferentes processos de candidatura. Só desta forma se pode tirar conclusões sobre a nova lei, até o Governo aceitar fazer revisão da lei”, lembra o especialista.

Recorde-se que, na semana passada, o Instituto de Habitação (IH) admitiu 11942 pedidos para fracções T1 no edifício Ip Heng, quando a oferta das fracções é de apenas 1544.

O responsável admitiu que, desta vez, os candidatos de edifício Ip Heng terão dificuldades para adquirir casa, mas a candidatura do edifício Ip Heng é especial, não pode servir de referência ao Governo. “Agora a questão não é a revisão da lei, mas o facto da oferta não ser suficiente. Como a oferta é muito menor do que a procura, há um volume de candidatura anormal. Por exemplo, há famílias com cinco pessoas que pedem uma casa T1, isso não é nada racional”, exemplifica.

Segundo a lei actual, as famílias nucleares têm prioridade na aquisição de casa. Ou seja, só quando as famílias com idosos e deficientes escolherem uma casa, os candidatos solteiros têm possibili-dade de escolher uma fracção. Leong Keng Seng revelou que, dentro do conselho, houve membros a apresentar soluções percentuais para o sorteio das fracções dependendo do tipo de candidato. A proposta, acrescentou, está na fase de recolha das opiniões, para que no futuro seja discutida.