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HL353 –L INGUÍSTICA I NDO - EUROPEIA II Em busca da proto-língua Márcio Renato Guimarães (UFPR-SCH-DELLIN)

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  • HL353 LINGUSTICA INDO-EUROPEIA II

    Em busca da proto-lngua

    Mrcio Renato Guimares (UFPR-SCH-DELLIN)

  • Lingustica Indo-europeia II: em busca da proto-lnuga

    O objeto de estudo da Lingustica Indo-europeia II o proto-indo-europeu, tal como ele concebido pela anlise lingustica histrico-comparada.

    Proto-indo-europeu a hipottica lngua ancestral das lnguas indo-europeias, uma famlia de lnguas que compreende mais de 400 lnguas faladas em todos os continentes do mundo, e que inclui, entre outras, o portugus.

  • Lnguas Indo-europeias

    Fonte:http://mentalfloss.com/sites/default/files/196.jpg

  • Proto-Indo-Europeu

    Segundo anlises feitas com dados lingusticos, histricos, arqueolgicos e genticos, o proto-indo-europeu foi falado por um povo que viveu nas estepes ao sul da atual Rssia, entre os mares Negro e Cspio, entre 4.300 e 3.500 a.C.

  • Proto-Indo-Europeu

    A partir de levas sucessivas de migrao, esse povo levou a lngua para outras partes da Eursia, como Europa, Ir, Subcontinente Indiano e Oriente Prximo.

    A partir do Sculo XV, a expanso colonial europeia difundiu lnguas indo-europeias pelos continentes americano, africano e pela Oceania.

  • Lnguas Indo-europeias

  • Proto-indo-europeu a expanso

    A disciplina HL352 Lingustica Indo-Europeia I conta a histria da procura pelas origens indo-europeias, da reconstruo da proto-lngua, e o que a cincia j descobriu sobre essa histria passada.

    Esta disciplina HL353 Lingustica Indo-Europeia II apresenta os aspectos fonticos, morfolgicos, sintticos e semnticos da reconstruo dessa proto-lngua.

  • Proto-indo-europeu a expanso

    Nosso ponto de vista no o de uma lngua estvel e esttica:

    No existem lnguas estveis e estticas.

    O proto-indo-europeu existiu como uma lngua (ou um conjunto de dialetos) ao longo de pelo menos dois mil anos (4.500-2.500 a.C.).

    As diversas subfamlias de lnguas indo-europeias apresentam caractersticas que sugerem terem se dispersado em pocas diferentes (ou de regies diferentes) a partir de um mesmo centro de disperso comum.

  • Proto-indo-europeu a expanso

    De maneira geral, reconhecem-se trs estgios: Antigo: antes de 4.000 a.C. lngua no possua flexes ou casos,

    provavelmente apresentava uma ordem cannica VS (provavelmente OVS, num perodo ainda mais antigo).

    Mdio: entre 4.000 e 3.000 a.C. a lngua desenvolve um sistema de flexes atemtico e provavelmente marcava o caso ergativo; uma distino entre um gnero animado e um gnero inanimado comea a se desenvolver, bem como uma ordem de tipo SOV; a lngua possua posposies.

    Recente: depois de 3.000 a.C. a lngua desenvolve um sistema de flexes temticas, que no princpio coexiste com o sistema atemtico; desenvolve um sistema complexo de casos baseado no eixo nominativo-acusativo; posposies tendem a se transformar em preposies; um gnero feminino se desenvolve.

  • 4.500-3.500 a.C - Eneoltico

  • 3.500-2.500 a.C. Idade do Bronze Antiga

  • 2.500-1.800 a.C. - Idade do Bronze Mdia

  • 1.800-1.200 a.C. Idade do Bronze Tardia

    Imagens: http://wiki.verbix.com/Documents/Pie

  • Proto-indo-europeu a reconstruo

    O proto-indo-europeu foi reconstrudo a partir da comparao entre as lnguas que se supe serem suas descendentes.

    Embora a noo de que as lnguas indo-europeias formassem uma famlia de lnguas que descendiam de uma fonte comum seja bastante antiga (remonta ao trabalho do fillogo holands Marcus Zuerius van Boxhorn, de 1647), a primeira proposta cientfica de reconstruo comeou em 1816 com a publicao da primeira edio do Conjugationssystem de Franz Bopp.

    O sistema bsico da proto-lngua, tal como aceito at hoje, foi apresentado pelos lingustas alemes Hermann Osthoff e Karl Brugmann, no final do sculo XIX.

  • Proto-indo-europeu a reconstruo

    O sistema brugmanniano comporta a maior parte dos timos aceitos consensualmente at hoje. Uns poucos acrscimos foram feitos at hoje no lxico reconstrudo. O sistema fontico estabelecido por Osthoff e Brugmann tambm bastante consensual.

    A maior parte das divergncias posteriores diz respeito aos sistemas fontico e morfossinttico da lngua reconstruda:

    Teorias divergentes acerca do inventrio de sons da proto-lngua apareceram; na verdade, a primeira delas aparece na Memoire, de Saussure, em 1879.

    A reconstruo do sistema morfossinttico do proto-indo-europeu estava bastante incipiente no incio do sculo XX, tendo se desenvolvido basicamente aps essa poca.

  • Proto-indo-europeu a reconstruo

    De maneira geral, algumas dessas contribuies posteriores tm sido incorporadas ao sistema, na medida em que se tornam consensuais:

    Alm dos fonemas consonantais descritos por O&B, e para os estgios mais antigos do PIE, em geral se aceitam os [trs?] fonemas laringais propostos por Saussure; esse sistema implica que o PIE, nesse estgio, possua apenas um fonema voclico /e/.

    Teoria dos trs estgios, exposta anteriormente.

    Carter recente e secundrio do gnero feminino.

    Conjugao temtica mais recente que a temtica.

  • Proto-indo-europeu a fbula

    O PIE reconstrudo no s no entendido como uma lngua estvel, como tampouco apresenta as formas completas. Muitas caractersticas da proto-lngua permanecem ignoradas. Nesse sentido, reconstrues de sentenas, ou at textos. Poucas palavras da proto-lngua apresentam uma reconstruo completa:

    *ekwos > lat. equus, a.in. svah cavalo

    *widheweh1 > *widhewa> lat. uidua > port. viva, al. Witwe, a.i.

    vidhv.

    A reconstruo completa depende do reconhecimento de todos os morfemas que compem a palavra, bem como de toda a histria derivativa. No caso de *weidheweh1 , o sufixo *(e)h1 > *-a denotava o coletivo ou aumentativo (cf. lenha, barca) ou um substantivo abstrato (em geral, nome de ao ou processo, cf. luta, muda, soma).

    A raiz *widh- significava separar (cf. lat. di-uid). O significado original aparece no grego < jovem [homem] no casado. Vem de *wi- separado e *dhe- pr.

  • Proto-indo-europeu a fbula

    Em geral, na melhor das hipteses, a reconstruo de um timo vai at uma forma bsica da raiz. A partir da reconstruo, a histria do timo pode ser rastreada ao longo de sua evoluo:

    *swekr- > lat. socrus sogra; posteriormente, um masculino socer foi recriado a partir da raiz, seguindo o padro dos masculinos atemticos que designam parentesco ( pater, frater); um feminino regularizado em a (socra) foi criado e transmitido s lnguas romnicas (cf. port. sogra); finalmente um masculino regular em o foi criado (provavelmente j no latim vulgar), origem entre outros do port. sogro. Por outro lado, formas regularizadas no feminino so bastante antigas em outras lnguas: a.i. svsur, gr.

  • Proto-indo-europeu a fbula

    AVIS AKVASAS KA (Schleicher, 1868) Avis, jasmin varna na ast, dadarka akvans, tam, vgham garum vaghantam, tam, bhram magham, tam, manum ku bharantam. Avis akvabhjams vavakat: kard aghnutai mai vidanti manum akvans agantam. Akvsas vavakant: krudhi avai, kard aghnutai vividvantsvas: manus patis varnm avisms karnati svabhjam gharmam vastram avibhjams ka varn na asti. Tat kukruvants avis agram bhugat. A OVELHA E OS CAVALOS Uma ovelha, sobre a qual no havia l viu cavalos, um deles puxando uma pesada carroa, outro um grande peso, um terceiro transportando pessoas com rapidez. A ovelha falou aos cavalos: o corao se aperta em mim, vendo os cavalos levando as pessoas. Os cavalos disseram: oua, ovelha, o corao se aperta naqueles que tm conhecimento: o ser humano, o homem faz da l das ovelhas uma roupa quente para si e para as ovelhas no h mais l. Tendo ouvido isso, a ovelha dirigiu-se para o campo

  • Gwrei owis, kwesyo wlhna ne est, ekwons espeket, oinom ghe gwrum woghom weghontm, oinomkwe megam bhorom, oinom oinomkwe ghmenm oku bherontm.

    Owis nu ekwobhyos ewekwet: Ker aghnutoi moi ekwons agontm nerm widntei.

    Ekwos tu ewekwont: Kludh, owei, ker aghnutoi nsmei widentbhyos: ner, potis, owiom wlhnam sebhi gwermom westrom kwrneuti. Neghi owiom wlhna esti.

    Tod kekluwos owis agrom ebhuget.