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HISTÓRIAS DE INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS, DIAMANTINA/MG: SUPRESSÃO E REABERTURA DA ESCOLA NORMAL OFICIAL DE DIAMANTINA (1938-1951). SOARES, Layane Campos i ; VIEIRA, Flávio César Freitas ii Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) [email protected]; [email protected] Palavras-Chave: História de Instituições; História da Educação, Diamantina. Introdução A Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda (EEPLM) é uma instituição educativa localizada na cidade de Diamantina/MG, que tem em sua origem a herança da Escola Normal Oficial de Diamantina, oficializada em 12 de outubro 1928, pelo Decreto 8.820. Com Decreto nº 63 de 15 de janeiro 1938, a mesma foi suprimida restabelecida pela Lei 840, de 26 de dezembro 1951. Além desses fatos apontados há outros que são fundamentais e envolvem outras instituições educativas que se entrelaçam com o objeto de pesquisa. Essa pesquisa surgiu em decorrência das primeiras ações de iniciação científica iii no campo da História da Educação na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), vinculada com as ações do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação Docente e História da Educação dos Vales (GEPFDHE_VALES) iv . Esse grupo tem entre as suas metas o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre a educação em Diamantina e região, nos períodos da Colônia, do Império e da República. O acervo encontrado na EEPLM data de meados do século XX. Tais documentos localizados e após a catalogação não satisfizeram diante das inquietações e dos porquês sobre a supressão dessa instituição em 1938 e do seu restabelecimento em 1951. Assim, o objetivo principal da pesquisa foi contribuir para desvelar sobre o fechamento e reabertura da EEPLM entrelaçadas com a existência de outras instituições educativas em Diamantina. Associado à trajetória da EEPLM há o entrelaçamento com a existência da Escola Estadual Matta Machado (EEMM), oriunda da herança do primeiro Grupo Escolar da Cidade de Diamantina, criado pelo Decreto nº 2091, de 20 de setembro de 1907, por ato do Governador João Pinheiro da Silva. Em 1926, o grupo escolar passou a ter nova denominação: Grupo Escolar Matta Machado. Em 1935, essa instituição escolar mudou de

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HISTÓRIAS DE INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS, DIAMANTINA/MG: SUPRESSÃO

E REABERTURA DA ESCOLA NORMAL OFICIAL DE DIAMANTINA (1938-1951).

SOARES, Layane Camposi; VIEIRA, Flávio César Freitas

ii

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM)

[email protected]; [email protected]

Palavras-Chave: História de Instituições; História da Educação, Diamantina.

Introdução

A Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda (EEPLM) é uma instituição educativa

localizada na cidade de Diamantina/MG, que tem em sua origem a herança da Escola Normal

Oficial de Diamantina, oficializada em 12 de outubro 1928, pelo Decreto 8.820. Com Decreto

nº 63 de 15 de janeiro 1938, a mesma foi suprimida restabelecida pela Lei 840, de 26 de

dezembro 1951. Além desses fatos apontados há outros que são fundamentais e envolvem

outras instituições educativas que se entrelaçam com o objeto de pesquisa.

Essa pesquisa surgiu em decorrência das primeiras ações de iniciação científicaiii

no

campo da História da Educação na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri (UFVJM), vinculada com as ações do Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação

Docente e História da Educação dos Vales (GEPFDHE_VALES)iv

. Esse grupo tem entre as

suas metas o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre a educação em Diamantina e

região, nos períodos da Colônia, do Império e da República.

O acervo encontrado na EEPLM data de meados do século XX. Tais documentos

localizados e após a catalogação não satisfizeram diante das inquietações e dos porquês sobre

a supressão dessa instituição em 1938 e do seu restabelecimento em 1951. Assim, o objetivo

principal da pesquisa foi contribuir para desvelar sobre o fechamento e reabertura da EEPLM

entrelaçadas com a existência de outras instituições educativas em Diamantina.

Associado à trajetória da EEPLM há o entrelaçamento com a existência da Escola

Estadual Matta Machado (EEMM), oriunda da herança do primeiro Grupo Escolar da Cidade

de Diamantina, criado pelo Decreto nº 2091, de 20 de setembro de 1907, por ato do

Governador João Pinheiro da Silva. Em 1926, o grupo escolar passou a ter nova

denominação: Grupo Escolar Matta Machado. Em 1935, essa instituição escolar mudou de

endereço para o mesmo terreno que funcionava a Escola Normal Oficial de Diamantina.

Nessa década ocorria um movimento de expansão das instituições públicas educativas no

Brasil, contrario a esse processo advém à supressão da Escola Normal Oficial de Diamantina

provocando uma interrupção desnecessária para a escolarização de parte da sociedade

diamantinense e região.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento dessa investigação foi à pesquisa

documental, associado ao processo de preservação da documentação da EEPLM, com

higienização, seguida da identificação e catalogação das fontes, da leitura e da transcrição de

alguns documentos da escola, bem como a busca dialogada com as fontes na imprensa

local/regional visando a análise e obtenção resultados. As fontes primárias consultadas foram

os documentos oficiais do Estado de Minas Gerais, da EEPLM, EEMM, de matérias

publicadas na imprensa: Estrela Polar, O Jequitinhonha, Voz de Diamantina e o Diário Oficial

de Minas Gerais.

Apresentaremos os resultados obtidos em dois tópicos, sendo o primeiro com respeito

à parte inicial do período da oficialização do funcionamento e supressão da Escola Normal

Oficial de Diamantina. E o segundo a cerca do ser restabelecimento a partir de 1951.

De “AMÉRICO LOPES” a “Escola Normal Oficial de Diamantina”: uma interrupção

inesperada.

Em 12 de outubro de 1913, foi criada a Escola Normal Américo Lopes por iniciativa

do Professor Leopoldo Luiz de Mirandav com apoio de amigos, a instituição educativa

vinculada diretamente à origem da EEPLM. Essa instituição particular tinha por objetivo

oferecer educação para as meninas cujas famílias não tinham condições de matricular e

custear as despesas no Colégio Nossa Senhora das Doresvi

, conforme sua filha expôs em sua

obra Frivolité:

Secundando o idealismo de Leopoldo, convidaram alguns amigos para

fundar, em [12 de outubro de] 1913, uma Escola Normal, que se denominou

“Américo Lopes”, e que prestou durante muito tempo, serviços à população

pobre da região, pois o Colégio Nossa Senhora das Dores só aceitava

meninas internas, ficando muito dispendioso para os pais que tinham família

grande. (MIRANDA, Maria Wanita Mourão, [s/d], p. 12)

A Escola Normal Américo Lopes funcionou de 12 de outubro de 1913 a 12 de outubro

de 1928, e proporcionou a escolarização para mais mil estudantes e obtenção de cerca de

duzentos diplomas de normalistas a estudantes “quase todos de famílias pouco abastadas”

(DIAMANTINA, 04 jan 1929, p. 1), uma vez que as escolas públicas não eram bem vistas

pelas famílias mais abastadas. Abaixo temos na Figura 01, fotografia de alunos e professores

da Escola Normal Regional Américo Lopes posicionados na frente do prédio. Estima-se que

essa fotografia seja entre 1913 e 1914, do início de suas atividades.

Essa escola passou a ser denominada Escola Normal Oficial de Diamantina, passou

também de particular para pública estadual, oficializada por ato do Presidente do Estado de

Minas Gerais Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, pelo Decreto nº 8.820, 12 de outubro de

1928. Essa oficialização ocorreu decorrente no movimento da Escola Nova no Brasil, a partir

de meados dos anos 1920. Em “Minas Gerais, protagonizada pelo então Secretário do Interior,

o jurista Francisco Luís da Silva Campos, durante o governo Antônio Carlos” (VEIGA, 2000,

p. 51). No discurso da imprensa diamantinense, esse ato fora considerado magnífico pelo

Presidente do Estado e, a oportunidade, a tanto esperada pela sociedade diamantinense de

reparação à supressão da Escola Normal de Diamantina, ocorrida quando da publicação da

Lei 183, de 09 de setembro de 1896 (AZEVEDO, 1935, p. 226).

Somos devedores ao Presidente Antônio Carlos da realização de mais

ardentes aspirações do povo diamantinense: a criação da Escola Normal

Official de Diamantina. Um gesto magnifico do eminente do Chefe do

Executivo Mineiro. [...] Assignando, nesta cidade, o decreto de creação da

escola normal oficial de Diamantina, s. exc. Crystallizou na mais bela

realidade um dos almos anseios dos filhos do velho e glorioso Tijuco,

Figura 01: Alunos e professores da Escola Normal Regional Américo Lopes, Diamantina, [s/d].

Fonte: Acervo Chichico Alquimim

restituindo-nos o instituto de ensino que premências financeiras do Estado

haviam tirado há vinte e tantos anos, e reatando tradições de cultura que

jamais sofreremos ver interrompidas no solo diamantinense.

(DIAMANTINA, 04 jan. 1929, p.01)

A Escola Normal Oficial de Diamantina contribuiu para consolidar a cidade por centro

de formação de normalistas para a própria cidade e região. A partir de 14 de maio de 1934, a

mesma foi elevada ao 2º grau no Decreto nº. 11.334, ampliando sua atuação na escolarização.

A instituição que nascera de uma iniciativa particular, do Professor Leopoldo

Miranda, contou com o apoio de amigos e de representantes políticos para sua manutenção e

posterior oficialização pelo governo mineiro. Houve investimentos para a contratação de

professores, a construção de prédio adequado para abarcar esse monumento para formação de

normalistas, que conforme noticiado na imprensa local, já teria de abarcar número expressivo

de interessados no prédio no qual funcionava provisoriamente:

o número de candidatos à matricular cresce dia a dia, de tal maneira que os

salões do edifício em que provisoriamente terá ella de funcionar, vão ser

pequenos para a frequência que se anuncia. Dissemos em o número passado

já haver cerca de duzentas moças e rapazes que desejam fazer o curso

normal; não é exagero esse cálculo. (DIAMANTINA, 01 mar. 1929, p.1).

A procura para o diploma de normalista, nesse período, predominantemente era do

gênero feminino, enquanto que para o gênero masculino a alta procura eram os cursos de

medicina, direito e engenharia. Prates (2000, p. 70) afirma:

As normalistas tinham prestígio social e a formação das moças era cercada

de cuidados especiais pelas famílias. Quando não moravam em cidades que

possuíssem um curso normal – particular, de freiras, porque estudar em

escolas públicas não era então muito bem visto – essas moças eram,

geralmente, enviadas a internatos católicos. Esses apresentavam-se aos pais

como aglutinadores de várias vantagens: permitiam a instrução da moça,

aprimoravam-na em conhecimentos e hábitos religiosos e não a deixavam

correr qualquer risco quanto à sua integridade física e moral.

Com vistas a atender com coerência ao movimento Escolanovista em Minas Gerais, o

projeto para a construção do prédio escolar destinado a receber a Escola Normal Oficial de

Diamantina foi incumbido ao Engenheiro Arthur Seixas, auxiliado pelo desenhista Sr.

Werneck Machado, com recomendação do Presidente Antonio Carlos de que “o edifício fosse

vazado nas linhas architectonicas das construcções coloniaes desta cidade (DIAMANTINA,

01 mar. 1929b). Na fachada a preservação do colonial, porém, no interior os espaços da

escolarização renovada.

O projeto elaborado por Seixas e Machado seria construído no espaço do antigo

quartel do 3º. Batalhão e na imprensa foi descrito da seguinte forma:

um magnífico edifício de dois andares, com quarenta e cinco metros de

frente, em que as linhas características de nossas casas, - onde o austero das

portas ferradas se une ao gracioso das sacadas de rendados de ferro, - se

combinam em um todo harmonioso e belho, verdadeira obra prima do estylo

que se poderá talvez denominar tijucano.[...] (DIAMANTINA 01 mar.

1929b)

Figura 02: Frente da Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda e ex. Escola

Normal Oficial de Diamantina, março 1995.

Fonte: Acervo da Escola

Ao adentrarmos nos anos 1930, o Brasil passava por sérias crises tanto política quanto

econômica que reverberou na educação. As escolas estavam em um estado deplorável pela

falta de manutenção e assistência dos órgãos públicos. Nesse cenário, o Governo de Getúlio

Vargas, num período transitório, volta-se intensivamente para os debates sobre a importância

da educação, como instrumento de controle, persuasão e formação de cidadão brasileiro, que

se caracterizou pela proposta do nacionalismo autoritarismo com uso da censura. O governo

provisório de Vargas priorizou suas atuações para as classes mais desfavorecidas socialmente

e, sabendo da importância do instrumento educacional, aliou-se a ele, no ideal de se construir

cidadãos com formação voltada para a moralidade e civismo, criando-se assim a imagem de

um Estado educador.

Peixoto (2000, p.87) argumenta:

O período que se estende entre 1930 e 1937 marca a atuação do governo

provisório e as lutas ideológicas sobre a forma que deveria assumir o regime

no campo político; a atuação do governo no setor econômico (tentativas de

superação da crise econômica), no setor social e educacional (tentativa de

solução para os problemas relacionados ao disciplinamento da força de

trabalho). Trata-se de um período muito rico em debates e em medidas no

campo institucional, no sentido do estabelecimento, pela primeira vez no

país, desde o Ato Adicional, das bases para uma política nacional de

educação.

Em 1931, em consonância a busca por implantar uma política nacional de educação, o

Governo Provisório de Vargas criou o Ministério de Educação e Saúde Pública (MESP),

provocando uma série de mudanças que visava à orientação de um padrão na educação do

país.

Em Minas Gerais, a educação é incorporada ao programa de governo, por exemplo,

durante o Governo do Presidente Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, na crença na

reconstrução social pela escola, nos anos 1920.

Nesse período são criadas, em Minas Gerais, 3.555 unidades de ensino

primário e 19 escolas normais. Em relação à matrícula verifica-se um

crescimento de 87% no período (de 230.873 alunos matriculados nas escolas

primárias do Estado, em 1926; passando a ter 448.810 em 1930)

(COLEÇÕES LEIS E DECRETOS, 1926-1930). (PEIXOTO, 2000, p. 88),

Todavia, nos 1930 surge outro momento para a educação mineira, de viés mais

restritivo para manutenção e expansão. Justifica-se inicialmente por circunstancial e

provisório, “pouco a pouco se constitui numa tendência que marcará o período. Isto se

evidencia pelo fato de o governo procurar minimizar seu significado e seus efeitos sobre a

educação escolar” (PEIXOTO, 2000, p. 89).

Em 15 de janeiro 1938, o governador Benedito Valadares, assinou o Decreto n. 63,

que estabelece que as escolas das cidades de Diamantina, Montes Claros, Curvelo, Campanha,

Uberaba e Itabira fossem suprimidas; e ainda os internatos Ginasiais de Barbacena e

Uberlândia. Nesse mesmo momento é assinado o Decreto n. 65 que suprime o ensino no

Ginásio de Pará de Minas. Na imprensa local a notícia foi assim publicada:

O Sr. Governador do Estado baixou, em data de 16 do cadente, os seguintes

decretos-lei:

No. 63 – Supprimindo as Escolas normaes de Diamantina, Montes Claros,

Curvello, Campanha, Uberaba e Itabira. Motivou o decreto a projectada

reforma do ensino normal.

No. 63 – Supprime os internatos nos Gymnasios de Barbacena e Uberlandia.

No. 65 – Suspende o ensino no Gymnasio Mineiro de Pará de Minas que

funcionou anteriormente em Muzambinho. (VÓZ DE DIAMANTINA, 22

jan. 1938, p. 2)

A instituição diamantinense em que Valadares se referia era o primeiro Grupo Escolar

da Cidade de Diamantina, que foi criada pelo Decreto nº 2091, em 20 de setembro de 1907,

por ato do Governador João Pinheiro da Silva, e em 1926 passou a uma nova denominação:

Grupo Escolar Matta Machado (GEMM). Em 1935, essa instituição mudou de endereço para

o mesmo terreno aonde funcionava a Escola Normal Oficial de Diamantina. O Grupo Escolar

Matta Machado foi mantido, por certo, por ocupar maior relevância ao papel de instituição

formadora da civilidade e de nacionalismo para a sociedade diamantinense.

Diante dessas duas instituições públicas de ensino, funcionava o Colégio Nossa

Senhora das Dores, que desde 1866, se ocupava em oferecer múltiplos espaços de formação e

interdição à sociedades de Diamantina e região, orfanato, internato. Após mais de 70 anos de

consolidada atuação na formação de órfãs e jovens normalistas, com matriz religiosa católica,

para uma comunidade de alunas advindas de diversas localidades. O relato de uma das

internas à época, Odete Ribeiro Coelho descreve melhor a importância dessa instituição

confessional para a comunidade de Diamantina e região.

Mas era sem dúvida o internato que fazia a fama do tradicional Colégio

diamantinense. A maioria das internas era gente de alto poder aquisitivo,

filhas de fazendeiros e comerciantes da região. Vinham de lugares como

Araçuaí (Arassuahy), Minas Novas, Capelinha, Itamarandiba, Serro,

Gouvêia, Curvelo, Jequitinhonha, Montes Claros, Patrocínio de Guanhães

(Guanhães), Amparo (Januária), Rio Vermelho, Peçanha, etc. Não era

incomum o internato receber moças da Capital, Belo Horizonte, e de Estados

como Bahia e Pernambuco. A partir da segunda metade da década de 20, o

Colégio Nossa Senhora das Dores contava, anualmente, com uma população

oscilando entre 200 e 300 moças, sendo pouco mais de um quarto do total

era de órfãs. Em 1926, o educandário tinha aproximadamente 200 alunas e

dentre elas, 60 órfãs. Em 1942, havia aproximadamente 100 órfãs e cerca de

240 alunas internas e externa. (COELHO, Odete Ribeiro Coelho apud

MARTINS; MARTINS, Edu. Rev., 1993, p. 13-14):

Diante dessas duas instituições educacionais, uma pública, o Grupo Escolar Mata

Machado e outra confessional, o Colégio Nossa Senhora das Dôres, a Escola Normal Oficial

de Diamantina sofreu a interrupção de suas atividades por ato governamental. Além, disso,

nesse mesmo Decreto, Valadares determinava a condição dos funcionários públicos e

professores que trabalhavam nas instituições suprimidas pelo ato, os que fossem eletivos e

trabalhassem a mais de dez anos no órgão público ficaria a disposição podendo ser realocados

para outras instituições, os outros que não respondessem a esses requisitos seriam

dispensados, podendo futuramente ser reaproveitados pelo Estado.

[...] os funcionarios administrativos desses estabelecimentos que contarem

mais de 10 annos de exercício, e os professores effectivos que, em virtude de

dispositivos legaes tenham garantia de estabilidade nos cargos, ficam em

disponibilidade remunerada, até que sejam aproveitados em outros cargos.

Os demais professores e funccionarios, que não preencherem as referidas

condições, ficam dispensados, podendo, porém, ser aproveitados em cargos

equivalentes. (VÓZ DE DIAMANTINA, 22 jan. 1938, p. 2).

Novo recomeço: 1951, reabertura da Escola Normal Oficial de Diamantina

Treze anos se passaram, em 26 de dezembro de 1951, após quatorze anos fechada, o

Governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck, na Lei nº. 840 reestabelece a

reabertura da Escola Normal Oficial de Diamantina com a mesma nomenclatura. Novamente

uma instituição educativa pública estadual de 1º e 2º graus, com a tradição obtida nos anos

anteriores reabre as portas para oferecer oportunidade de escolarização para parte das

sociedades de Diamantina e região.

O Povo do Estado de Minas Gerais, por seus representantes, decretou e eu,

em seu nome, sanciono a seguinte lei:

Art. 1º - Fica revogado o disposto no artigo 1º do decreto-lei número 63, de

15 de janeiro de 1938, no que diz respeito à Escola Normal de Diamantina, e

restabelecida a vigência do decreto número 8.820, de 12 de outubro de 1928.

(LEI nº. 840, de 26 de dezembro de 1951)

Do mesmo modo, Kubitscheck reestabelece as condições dos professores e

funcionários da instituição:

Art. 3º - Serão aproveitados os funcionários em disponibilidade que serviam

na antiga Escola Normal de Diamantina, ao tempo de sua extinção,

observado o disposto no artigo 79, parágrafos 1º e 6º do decreto-lei nº 804,

de 28 de outubro de 1941. (LEI nº. 840, de 26 de dezembro de 1951)

O Governador ainda autoriza o Poder Executivo do Estado a abrir crédito necessário

para a execução da lei, disponibilizando até o limite de Cr$ 300.000,00. Após a publicação da

lei e o pedido de execução imediata, através as leituras e análises do conjunto de Atas da

Congregação dos Professores da Escola Normal Oficial de Diamantina do período de 1952 a

1957, nota-se que esta instituição desempenhava um papel fundamental para a sociedade

diamantinense e como ela estava inserida no cotidiano. O fechamento dessa escola durante

treze anos provavelmente acarretou em diversos prejuízos para a população local, o que pode

em parte ser confirmado através dos relatos registrados nas atas das primeiras reuniões do

corpo docente da reaberta Escola Normal Oficial, considerada por parte da sociedade

diamantinense, uma reconquista.

A análise das primeiras atas, podemos observar a preocupação com o

reestabelecimento imediato com o início às aulas. O Sr. Inspetor Técnico do Ensino Anselmo

Barreto, na primeira reunião realizada dia 14 de abril de 1952 se mostra preocupado com isso,

e pede agilidade para:

[...] despacho do material tomando todas as medidas necessárias para que se

pudesse fazer a reinstalação da escola ainda neste mês, ficando a instalação

solene para quando o Exmo. Sr. Governador pudesse assisti-la.

(CONGREGAÇÃO, 14 abr. 1952, p.1)

A Escola Normal Oficial de Diamantina tinha um papel importante, tanto político

quanto social e sua supressão em 1938 causou certos detrimentos na sociedade, na solenidade

de reabertura da escola, que aconteceu no dia seis de maio de 1952, há a presença de

autoridades locais e de políticos importantes. Relata o texto na ata do mesmo dia:

[...] com a presença ilustre Governador do Estado Dr. Juscelino Kubitschek;

o Sr. Governador do território do Acre Dr. João Kubitschek de Figueiredo;

Dr. Odilon Behrens, secretário da Educação; Dr. Joubert Guerra, presidente

do Tribunal de Contas do Estado; Dr. Celso Murta, diretor do Departamento

de Estradas de Rodagem; Dr. Oswaldo Penido, oficial de Gabinete do

Ministério da Justiça; Major Afonso Heliodoro, assistente Militar do

Governador do Estado; o arcebispo D. Serafim G. Jardim; Dr. Moacyr

Pimenta Brant, Juiz de Direito da Comarca; Dr. Lomelino Ramos Couto,

prefeito; Sr. Anselmo Barreto; Inspetor Técnico do Ensino, o Sr. Diretor,

professores e alunos do estabelecimento, realizou-se a reinstalação solene da

Escola Normal Oficial. (CONGREGAÇÃO, 14 abr. 1952, p. 3).

As personalidades presentes na solenidade nos reforçam a ideia de que esta instituição

educativa já havia conquistado prestígio tanto político quanto com a população, pois

desempenhou, desempenhava e desempenharia um papel fundamental na articulação com

vários setores da sociedade.

Embora do Governo do Estado de Minas Gerais ter prometido apoio financeiro,

proporcionando créditos especiais à escola, nas atas da Escola Normal Oficial, há relatos que

demonstram que passava por muitos problemas econômicos, em decorrência a falta de

investimento no setor, o que estava acontecendo em grande parte do país naquele período, a

manutenção das escolas reabertas não estavam ocorrendo como haviam garantido, e as

atividades estavam sendo prejudicadas.

A Escola Normal Oficial de Diamantina funcionou durante onze anos, quando em 12

de setembro 1968, o Governador do Estado de Minas Gerais, Israel Pinheiro da Silva sanciona

a Lei de nº 4.941, que mudaria a nomenclatura das instituições de ensino do estado. A saber:

O Povo do Estado de Minas Gerais, por seus representantes, decretou e eu,

em seu nome, sanciono a seguinte lei: Art. 1º - Os estabelecimentos de

ensino médio, mantidos pelo Estado, serão designados de acordo com as

normas desta lei. Art. 2º - Designar-se-á "Ginásio Estadual" o

estabelecimento que ministrar apenas curso ou cursos de primeiro ciclo; e

"Colégio Estadual" o que ministrar, também apenas, curso ou cursos de

segundo ciclo. (Lei 4.941 12 de setembro de 1968)

Na Escola Normal Oficial de Diamantina, as discussões sobre as designações ditadas

pelo Estado e as mudanças nas quais a instituição deveria sofrer a partir da lei já estavam

sendo discutidas em reuniões do professorado. Em algumas atas transcritas e após analise

feita, observamos que a pauta em questão é a adequação sob o Regimento do Colégio

Estadual de Minas Gerais, antes mesmo da publicação da lei, pois se a instituição educativa

que não adequasse as normas poderia, em casos extremos, ser fechada.

[...] Prosseguiu-se a sessão e antes de declarar fundada a Congregação leu-

se o Regimento do ao Colégio Estadual de Minas Gerais, que é extensivo a

todos os colégios regidos pelo Estado. Após a leitura do Regimento por Dr.

Giovanni de Miranda Pereira, foi declarada fundada a Congregação de

acordo com o art. 44 deste Regimento. Foram escolhidos os elementos que

comporiam os Conselhos Técnicos Administrativos (dois – um para o curso

Ginasial e outro para o Curso de Formação de acordo com .art. 11 parágrafo

1º do mesmo Regimento). [...]

O Colégio Estadual de Diamantina, em 1969, passava por mais um momento de

adequação a sua denominação, porém, desta vez, tal alteração partia da própria população

interessada em homenagear professor responsável pela sua existência. Através de um abaixo

assinado, a sociedade diamantinense queria que o Colégio Estadual de Diamantina passa-se a

ser chamado de Colégio Estadual Professor Leopoldo Miranda:

(...) Por ocasião do centenário do nascimento de Leopoldo Miranda, o povo

diamantinense fez uma representação à Assembleia Legislativa, que mudou

o nome do estabelecimento para Colégio Estadual Prof. Leopoldo Miranda,

em homenagem a seu fundador. (MIRANDA, [s/d], p. 12)

A partir dessa representação na Assembleia Legislativa, em seis de maio de 1969, o

atual governador sancionou a Lei nº 5175, e dispõe a nova denominação de “Professor

Leopoldo Miranda” ao Colégio Estadual de Diamantina.

O Colégio Estadual Professor Leopoldo Miranda, funcionou assim durante cinco anos,

quando, em oito de maio de 1974, o Governador de Estado Rondon Pacheco publicou o

Decreto nº 16.244 que dispõe sobre a denominação e tipologia das unidades de ensino [...] no

Sistema Público Estadual de 1º e 2º graus de Minas Gerais (DECRETO nº 16.244, 06 maio.

1974). De tal modo, essa instituição passou por mais uma nova denominação de Colégio

Estadual Professor Leopoldo Miranda para Escola Estadual Professor Leopoldo Miranda,

nome que permanece até presente momento.

A busca de fontes bem como a sistematização das mesmas para a construção de uma

história que fizesse sentido para a identidade dessa instituição educativa da cidade de

Diamantina foi de extrema importância para o entendimento da relevância que tal escola tem

para a sociedade diamantinense, não só no sentido de proporcionar acesso a educação, mas

também os porquês da população ter uma ligação forte com tal estabelecimento.

Ainda a muito que ser desvelado, o resultado apresentado é apenas uma parte dos

fragmentos que foram encontrados, que tornaram-se vestígios deixados pelos sujeitos

históricos que fizeram parte de todas as instituições que deram origem a atual Escola Estadual

Professor Leopoldo Miranda, processo demorado que precisou de paciência e dedicação de

todos os envolvidos. A escola que passara por momentos obscuros, até então desconhecidos,

pode agora esboçar uma momento de desvelamento de sua história.

Considerações Finais

A possibilidade de termos acesso aos documentos e outras fontes da Escola Estadual

Professor Leopoldo Miranda, podemos observar prontamente que ela desempenha um papel

importante para a sociedade de Diamantina e região. A mesma tem em suas raízes

institucionais vínculos com a Escola Normal Regional Américo Lopes (1913-1928), com a

Escola Normal Oficial de Diamantina (1928-1938 – 1951 ...). Porém, diante da precariedade

de informações, dados e fontes com documentação do período entre 1913 a 1938, aonde os

documentos da escola foram transferidos para a Capital, não foi possível aprofundar com

maiores detalhes. Havendo prosseguimento de pesquisas com este enfoque, fazendo uma

leitura sistematizada daquele período, podemos saber um pouco mais dos entrelaçamentos das

trajetórias de instituições educativas históricas dessa cidade.

A pesquisa, que tinha como seu objetivo principal desvelar a supressão e reabertura da

escola, conseguiu sistematizar esse processo, entretanto os resultados apresentados aqui são

parciais, ainda há muito que ser pesquisado. Contudo, ao iniciarmos a pesquisa, tivemos um

contato maior com a realidade e com o cotidiano da escola e da população local, e pudemos

notar que esta escola, ainda conhecida por muitos como “Escola Normal”, é uma instituição

que está na história da própria cidade e de seus moradores e que ela é importantíssima para a

identidade diamantinense, estando presente no inconsciente do coletivo da sociedade.

Todo nosso trabalho, que passou por várias etapas, desde a higienização dos

documentos até a contextualização do período abordado, foi um longo processo. Até

chegarmos nesse resultado nossa pesquisa foi articulada com outros projetos que contribuíram

para que fosse viabilizada. Nossa equipe trabalhou de forma conjunta e harmonizada, tendo

paciência e dedicação, sabendo claramente que os resultados apresentados são parciais e

devemos continuar nossas ações.

REFERÊNCIAS

A Creação da escola normal oficial de Diamantina. DIAMANTINA. Diamantina, MG, Anno

II, n. 65, 04 jan. 1929, p.1.

ALMG. LEI nº. 840, de 26 de dezembro de 1951. Belo Horizonte. 2013. Disponível

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Já está elaborada a planta do futuro edifício da Escola Normal Official de Diamantina: uma

obra notável de architectura colonial. DIAMANTINA. Diamantina, MG, Anno II, n. 69, 01

mar. 1929b, p.1.

Supprimida a Escola Normal de Diamantina. VÓZ DE DIAMANTINA, Diamantina, Ano II, n.

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65.

i Graduanda do Bacharelado em Humanidades (BHu) da UFVJM. Bolsista de IC da CNPq. Participante do

Grupo de Estudos e Pesquisas em Formação Docente e História da Educação dos Vales (GEPFDHE_Vales). ii Orientador de IC, Professor dos Cursos de Humanidades, Pedagogia, dos Programas de Pós-Graduação

Mestrado Profissional Gestão de Instituições Educacionais e do Ensino em Saúde da UFVJM. iii

Pesquisas com vistas no levantamento de fontes sobre processos educativos e de escolarização nas sociedades

do Vale do Jequitinhonha, desde agosto de 2011, tendo apoio do CNPq com bolsa de IC, sob coordenação do

Prof. Dr. Flávio César Freitas Vieira (UFVJM). iv

O GEPFDHE_VALES foi criado em junho de 2011 sob a liderança do Prof. Dr. Flávio César Freitas Vieira

(UFVJM) e tem entre seus membros pesquisadores, graduandos e mestrandos da UFVJM e da Universidade

Federal de Uberlândia. v Leopoldo Luiz de Miranda nasceu no dia 31 de outubro de 1868, na cidade Senador Mourão, MG. Faleceu em

10 de novembro de 1947, em Belo Horizonte, MG. Foi escrivão da coletoria e Procurador Geral de Diamantina.

Casou-se com a filha de Olímpio Mourão, Maria Mercedes Corrêa de Oliveira Mourão, e fundou a Escola

Américo Lopes e lecionando na mesma instituição. vi

Instituição educativa confessional da cidade de Diamantina fundada em 1875 e administrada pelas Irmãs

Vicentinas.