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Curso Preparatório rasil [email protected] http://cursopreparatoriobrasil.blogspot.com/ História do Brasil Curso Preparatório para o Concurso Público de Soldado da PMBA 2012 Apostila preparatória especifica para o concurso público da PMBA 2012 Curso Preparatório Brasil Contato: cursop reparatoriobrasil@hotmail .com 

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    Histria do Brasil Curso Preparatrio para o Concurso Pblico de Soldado da PMBA 2012 Apostila preparatria especifica para o concurso pblico da PMBA 2012

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    HISTRIA DO BRASIL

    1. A sociedade colonial: economia, cultura, trabalho escravo, os bandeirantes e os jesutas.

    2. A independncia e o nascimento do Estado Brasileiro.

    3. A organizao do Estado Monrquico.

    4. A vida intelectual, poltica e artstica do sculo XIX.

    5. A organizao poltica e econmica do Estado Republicano.

    6. A Primeira Guerra Mundial e seus efeitos no Brasil.

    7. A Revoluo de 1930.

    8. O Perodo Vargas.

    9. A Segunda Guerra Mundial e seus efeitos no Brasil.

    10. Os governos democrticos, os Governos Militares e a Nova Repblica.

    11. A cultura do Brasil Republicano: arte e literatura.

    12. Histria da Bahia: Independncia da Bahia.

    13. Revolta de Canudos.

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    1. A SOCIEDADE COLONIAL

    1. O PERODO PR-COLONIAL

    No ano de 1500, os primeiros portugueses chegaram ao chamado Novo Mundo (Amrica), e com eles o navegador Pedro lvares Cabral desembarcou no litoral do novo territrio. Logo, os primeiros europeus tomaram posse das terras e tiveram os primeiros contatos com os indgenas denominados pelos portugueses de selvagens. Alguns historiadores chamaram o primeiro contato entre portugueses e indgenas de encontro de culturas, mas percebemos com o incio do processo de colonizao portuguesa um desencontro de culturas, comeando ento o extermnio dos indgenas tanto por meio dos conflitos entre os portugueses quanto pelas doenas trazidas pelos europeus, como a gripe e a sfilis.

    Entre 1500 a 1530, os portugueses efetivaram poucos empreendimentos no novo territrio conquistado, algumas expedies chegaram, como a de 1501, chefiada por Gaspar de Lemos e a expedio de Gonalo Coelho de 1503, as principais realizaes dessas expedies foram: nomear algumas localidades no litoral, confirmar a existncia do pau-brasil e construir algumas feitorias.

    O perodo pr-colonial (1500-1530) centrou sua economia no pau-brasil. A sua extrao foi declarada estanco (monoplio real): s o rei concedia o direito de explorao. As arvores eram cortadas e transportadas aos navios portugueses por indgenas, que em troca recebiam objetos de pouco valor. Essa relao de trabalho era chamado de escambo.

    A colonizao portuguesa no Brasil teve como principais caractersticas: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar. Sabemos que os termos civilizar, explorar, exterminar, conquistar e dominar est diretamente ligados s relaes de poder de uma determinada civilizao sobre outra, ou seja, os portugueses submetendo ao domnio e conquista os indgenas. J os termos explorar, povoar remete-se explorao e povoamento do novo territrio (Amrica).

    A partir de ento, j sabemos de uma coisa, que o Brasil no foi descoberto pelos portugueses, pois afirmando isto, estaremos negligenciando a histria dos indgenas (povoadores) que viviam h muito tempo neste territrio antes da chegada dos europeus. Portanto, o processo de colonizao portuguesa no Brasil teve um carter semelhante a outras colonizaes europeias, como, por exemplo, a espanhola: a conquista e o extermnio dos indgenas. Sendo assim, ressaltamos que o Brasil foi conquistado e no descoberto.

    A Coroa portuguesa, quando empreendeu o financiamento das navegaes martimas portuguesas no sculo XV, tinha como principal objetivo a expanso comercial e a busca de produtos para comercializar na Europa (obteno do lucro), mas no podemos negligenciar outros motivos no menos importantes como a expanso do cristianismo (Catolicismo), o carter aventureiro das navegaes, a tentativa de superar os perigos do mar (perigos reais e imaginrios) e a expanso territorial portuguesa (territrios alm-mar).

    No litoral do atual estado de So Paulo, Martin Afonso de Souza fundou no ano de 1532 os primeiros povoados do Brasil, as Vilas de So Vicente e Piratininga (atual cidade de So Paulo). No litoral paulista, o capito-mor logo desenvolveu o plantio da cana-de-acar; os portugueses tiveram o contato com a cultura da cana-de-acar no perodo das cruzadas na Idade Mdia.

    As primeiras experincias portuguesas de plantio e cultivo da cana-de-acar e o processamento do acar nos engenhos aconteceram primeiramente na Ilha da Madeira (situada no Oceano Atlntico, a 978 km a sudoeste de Lisboa, prximo ao litoral africano). Em razo da grande procura e do alto valor agregado a este produto na Europa, os portugueses levaram a cultura da cana-de-acar para o Brasil (em virtude da grande quantidade de terras, da fcil adaptao ao clima brasileiro e das novas tcnicas de cultivo), desenvolvendo os primeiros engenhos no litoral paulista e no litoral do nordeste (atual estado de Pernambuco), a produo do acar se tornou um negcio rentvel.

    Para desenvolver a produo do acar, os portugueses utilizaram nos engenhos a mo de obra escrava, os primeiros a serem escravizados foram os indgenas, posteriormente foi utilizada a mo de obra escrava africana, o trfico negreiro neste perodo se tornou um atrativo empreendimento juntamente com os engenhos de acar.

    2. AS CAPITANIAS HEREDITRIAS E A ADMINISTRAO COLONIAL

    As Capitanias hereditrias foram um sistema de administrao territorial criado pelo rei de Portugal, D. Joo III, em 1534. Este sistema consistia em dividir o territrio brasileiro em grandes faixas e entregar a administrao para particulares (principalmente nobres com relaes com a Coroa Portuguesa).

    Este sistema foi criado pelo rei de Portugal com o objetivo de colonizar o Brasil, evitando assim invases estrangeiras. Ganharam o nome de Capitanias Hereditrias, pois eram transmitidas de pai para filho (de forma hereditria). Estas pessoas que recebiam a concesso de uma capitania eram conhecidas como donatrios. Tinham como misso colonizar, proteger e administrar o territrio. Por outro lado, tinham o direito de explorar os recursos naturais (madeira, animais, minrios).

    O sistema no funcionou muito bem. Apenas as capitanias de So Vicente e Pernambuco deram certo. Podemos citar como motivos do fracasso: a grande extenso territorial para administrar (e suas obrigaes), falta de recursos econmicos e os constantes ataques indgenas.

    OS GOVERNOS-GERAIS

    Respondendo ao fracasso do sistema das capitanias hereditrias, o governo portugus realizou a centralizao da administrao colonial com a criao do governo-geral, em 1548. Entre as justificativas mais comuns para que esse primeiro sistema viesse a entrar em colapso, podemos destacar o isolamento entre as capitanias, a falta de interesse ou experincia administrativa e a prpria resistncia contra a ocupao territorial oferecida pelos ndios.

    Em vias gerais, o governador-geral deveria viabilizar a criao de novos engenhos, a integrao dos indgenas com os centros de colonizao, o combate do comrcio ilegal, construir embarcaes, defender os colonos e realizar a busca por metais preciosos. Mesmo que centralizadora essa experincia no determinou que o governador cumprisse todas essas tarefas por si s. De tal modo, o governo-geral trouxe a criao de novos cargos administrativos.

    O ouvidor-mor era o funcionrio responsvel pela resoluo de todos os problemas de natureza judiciria e o cumprimento das leis vigentes. O chamado provedor-mor estabelecia os seus trabalhos na organizao dos gastos administrativos e na arrecadao dos impostos cobrados. Alm destas duas autoridades, o capito-mor desenvolvia aes militares de defesa que estavam, principalmente, ligadas ao combate dos invasores estrangeiros e ao ataque dos nativos.

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    Na maioria dos casos, as aes a serem desenvolvidas pelo governo-geral estavam subordinadas a um tipo de documento oficial da Coroa Portuguesa, conhecido como regimento. A metrpole expedia ordens comprometidas com o aprimoramento das atividades fiscais e o estmulo da economia colonial. Mesmo com a forte preocupao com o lucro e o desenvolvimento, a Coroa foi alvo de aes ilegais em que funcionrios da administrao subvertiam as leis em benefcio prprio.

    Entre os anos de 1572 e 1578, o rei D. Sebastio buscou aprimorar o sistema de Governo Geral realizando a diviso do mesmo em duas partes. Um ao norte, com capital na cidade de Salvador, e outro ao sul, com uma sede no Rio de Janeiro. Nesse tempo, os resultados pouco satisfatrios acabaram promovendo a reunificao administrativa com o retorno da sede a Salvador. No ano de 1621, um novo tipo de diviso foi organizado com a criao do Estado do Brasil e do Estado do Maranho.

    Ao contrrio do que se possa imaginar, o sistema de capitanias hereditrias no foi prontamente descartado com a organizao do governo-geral. No ano de 1759, a capitania de So Vicente foi a ltima a ser destituda pela ao oficial do governo portugus. Com isso, observamos que essas formas de organizao administrativa conviveram durante um bom tempo na colnia.

    O sistema de Capitanias Hereditrias vigorou at o ano de 1759, quando foi extinto pelo Marqus de Pombal. Na segunda metade do sculo 16, comearam a ficar evidentes os interesses e os objetivos de Portugal nas terras brasileiras. As relaes econmicas que vigoravam entre as naes europeias baseavam-se no mercantilismo, cuja base era o comrcio internacional e a adoo de polticas econmicas protecionistas.

    PACTO COLONIAL

    Cada nao procurava produzir e vender para o mercado consumidor internacional uma maior quantidade de produtos manufaturados, impondo pesadas taxas de impostos aos produtos importados. Asseguravam, desse modo, a manuteno de uma balana comercial favorvel.

    As naes que possuam colnias de explorao levavam maiores vantagens no comrcio internacional. A principal funo dessas colnias era fornecer matrias-primas e riquezas minerais para as naes colonizadoras - ou seja, para as metrpoles. Ao mesmo tempo, serviam de mercado consumidor para seus produtos manufaturados. Havia uma imposio de exclusividade, ou monoplio, do comrcio da colnia para com a metrpole, que foi chamada de pacto colonial. O pacto colonial pode ser entendido como uma relao de dependncia econmica que beneficiava as metrpoles. Ao participarem do comrcio como fornecedoras de produtos primrios (baratos) e consumidoras dos produtos manufaturados (caros), as colnias dinamizavam as economias das metrpoles propiciando-lhes acmulo de riquezas.

    Portugal procurou criar as condies para o Brasil se enquadrar no pacto colonial. Os portugueses concentraram seus esforos para a colnia se transformar num grande produtor de acar de modo a abastecer a demanda do mercado internacional e beneficiar-se dos lucros de sua comercializao.

    Alm da crescente demanda consumidora por esse produto, havia mais dois fatores importantes que estimularam o investimento na produo aucareira. Primeiro, os portugueses possuam experincia e

    tinham sido bem-sucedidos no cultivo da cana-de-acar em suas possesses no Atlntico: nas ilhas Madeira, Aores e Cabo Verde. Segundo, as condies do clima e do solo do nosso litoral nordestino eram propcias a esse plantio. Em 1542, o donatrio da prspera capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, j havia introduzido a cana-de-acar em suas terras.

    3. FORMAO ECONMICA DO BRASIL COLONIA

    Plantation O plantio da cana-de-acar foi realizado em grandes propriedades rurais denominadas de latifndio monocultor ou plantation. Essas propriedades tambm ficaram conhecidas como engenhos, porque, alm das plantaes, abrigavam as instalaes apropriadas e os equipamentos necessrios para o refino do acar: a moenda, a caldeira e a casa de purgar.

    Para o processo de produo e comercializao do acar ser lucrativo ao empreendimento colonial, os engenhos introduziram a forma mais aviltante de explorao do trabalho humano: a escravido. A introduo do trabalho escravo nas grandes lavouras baixava os custos da produo.

    Toda a riqueza da colnia foi produzida pelo trabalho escravo, baseado na importao de negros capturados fora na frica. O contexto social da colonizao e da super explorao da mo-de-obra pela lavoura canavieira tornava invivel contar com o trabalho dos homens livres.

    Com terras abundantes, os homens livres poderiam facilmente se apropriar de uma gleba e desenvolver atividades de subsistncia. Ou seja, no havia nem incentivo nem necessidade de que a populao livre trabalhasse no engenho. Completando o quadro, os portugueses tambm exploravam o lucrativo de trfico de escravos negros africanos. E a simples existncia do trfico j constitua um estmulo utilizao desta mo-de-obra nas colnias pertencentes a Portugal.

    Engenhos Os engenhos eram as unidades bsicas de produo das riquezas da colnia. Mais do qualquer outro local, o engenho caracterizava a sociedade escravista do Brasil colonial. No engenho, havia a senzala, que era a construo rstica destinada ao abrigo dos escravos; e havia a casa grande, a construo luxuosa na qual habitavam o senhor, que era o proprietrio do engenho e dos escravos; juntamente com seus familiares e parentes. Consta que por volta de 1560, o Brasil j possua cerca de 60 engenhos que estavam em pleno funcionamento, produzindo o acar que abastecia o mercado mundial.

    Nos moldes como foi planejada pela Coroa portuguesa, a colonizao do Brasil exigia enormes recursos econmicos que seriam empregados na montagem dos engenhos, na compra de escravos, de ferramentas e de mudas de cana-de-acar para iniciar a produo. Havia ainda a necessidade de transporte do produto e, por fim, sua distribuio no mercado internacional.

    Para solucionar o problema do financiamento da montagem da produo aucareira, Portugal recorreu aos mercadores e banqueiros holandeses. Por meio de inmeros mecanismos de cobrana de impostos, os lucros obtidos com a comercializao do acar eram rateados. A maior parcela dos lucros obtidos ficava com os negociantes holandeses que haviam investido na produo e distribuio do produto. Portugal ficava com a menor parcela dos lucros, mas em contrapartida assegurava a posse e a colonizao do Brasil, alm da imposio do pacto colonial.

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    O ciclo do acar no Brasil colonial se estendeu at a segunda metade do sculo 17. A partir de ento, a exportao do produto declinou devido concorrncia do acar produzido nas Antilhas. Ironicamente, eram negociantes holandeses que tambm financiavam e comercializavam a produo antilhana. Restava a Portugal encontrar outras formas de explorao das riquezas coloniais.

    No sculo 18, a explorao de ouro e diamantes daria incio a um novo ciclo econmico.

    PILARES DA ECONOMIA DO BRASIL COLNIA

    Desenvolvendo-se no apogeu do mercantilismo, a economia do Brasil colonial se assentou sobre trs pilares: a grande propriedade territorial, na qual se desenvolvia um empreendimento comercial destinado a fornecer a metrpole gneros alimentcios (em particular a cana-de-acar) e os metais preciosos, onde se utilizava essencialmente a mo-de-obra escrava. A opo pelo trabalho escravo - no incio da Idade Moderna - explica-se basicamente pela dificuldade de encontrar trabalhadores assalariados dispostos imigrao.

    Alm disso, seria difcil manter assalariados os semi-assalariados nas grandes propriedades: dada a disponibilidade de terras, eles poderiam tentar outras formas de vida - tornando-se artesos, posseiros e pequenos agricultores, por exemplo - o que complicaria o fluxo de mo de obra para a empresa mercantil, na qual o grandes comerciantes e proprietrios estavam associados Coroa portuguesa e seus afilhados.

    Escravizao indgena Em meados do sculo 16, quando a cana-de-acar comeou a substituir o pau-brasil como o principal produto da Colnia, desenvolveram-se primeiramente tentativas de escravizar os ndios. Entretanto, diversos fatores concorreram para o fracasso desse empreendimento: em primeiro lugar, o trabalho intensivo, regular e compulsrio no fazia parte da cultura indgena, acostumado a fazer somente o necessrio para garantir a sua sobrevivncia, atravs da coleta, da caa e da pesca. Em segundo lugar, ocorria uma contradio de interesses entre os colonizadores e os missionrios cristos, que visavam catequizar os ndios e se opunham sua escravizao.

    Por sua vez, os ndios tambm reagiam escravizao seja enfrentando os colonizadores atravs da guerra, seja fugindo para lugares longnquos no interior da selva onde era quase impossvel captur-los. Finalmente, h que se considerar que o contato entre brancos e ndios foi desastroso para estes ltimos no tocante sade.

    Os ndios no conheciam - e portanto no tinham defesas biolgicas - contra doenas como a gripe, o sarampo e a varola, que os vitimaram s dezenas de milhares, provocando uma verdadeira catstrofe demogrfica.

    Negros africanos Entretanto, os portugueses j contavam com uma outra alternativa em matria de trabalho escravo. Desde a colonizao da costa africana, no sculo 15, os portugueses j haviam redescoberto o trabalho escravo que desaparecera da Europa na Idade Mdia, mas que continuava a existir nas sociedades existentes na frica. Desse modo, os portugueses j haviam montado uma rede de comrcio negreiro, utilizando-se de escravos negros nas plantaes de cana-de-acar em suas ilhas do Atlntico (Aores, Madeira).

    Nem da parte da Coroa, nem da Igreja houve qualquer objeo quanto escravizao do negro. Justificava-se a escravido africana

    utilizando-se vrios argumentos. Em primeiro lugar, dizia-se que essa era uma instituio j existente na frica, de modo que os cativos "apenas" seriam transferidos para o mundo cristo, "onde seriam civilizados e teriam o conhecimento da verdadeira religio". Alm disso, o negro era efetivamente considerado um ser racialmente inferior, embora teorias supostamente cientficas para sustentar essa tese s viessem a ser levantadas no sculo 19.

    Enfim, a partir de 1570 a importao de africanos para o Brasil passou a ser incentivada. O fluxo de escravos, entretanto, tinha uma intensidade varivel. Segundo Boris Fausto, em sua "Histria do Brasil", "estima-se que entre 1550 e 1855 entraram pelos portos brasileiros 4 milhes de escravos, na sua grande maioria jovens do sexo masculino". Outros historiadores mais antigos como Pedro Calmon e Pandi Calgeras falam em quantias que variam entre 8 e 13 milhes. Caio Prado Jr. cita 7 milhes.

    Salvador e Rio de Janeiro Os grandes centros importadores de escravos foram Salvador e depois o Rio de Janeiro. Cada um deles tinha sua organizao prpria e os dois concorriam entre si. O fumo produzido no Recncavo baiano era uma valiosa moeda de troca, o que garantiu sua supremacia durante os primeiros sculos de colonizao. medida em o eixo econmico desviou-se para o sudeste com a descoberta de ouro em Minas Gerais, o Rio de Janeiro suplantou a Bahia e se firmou com o crescimento urbano da cidade no sculo 19.

    Resistncia e quilombos No se deve pensar que os negros aceitaram docilmente a sua condio de escravos e que nada fizeram para resistir ao trabalho compulsrio. Naturalmente, houve fugas individuais e em massa e a desobedincia ou resistncia se evidencia no uso das punies e castigos corporais muitas vezes cruis, que vinha a se somar aos maus tratos naturalmente dispensados a seres que eram considerados pouco superiores aos animais.

    Depois de comprado no mercado, o escravo podia ter trs destinos principais: ser escravo domstico, isto, fazer os servios na casa do senhor; escravo do eito, que trabalhava nas plantaes ou nas minas; e escravo de ganho, que prestava servios de transporte, vendia alimentos nas ruas, fazia trabalhos especializados como os de pedreiro, marceneiro, alfaiate, etc., entregando a seu senhor o dinheiro que ganhava.

    Poucos anos de vida Nas fazendas, principalmente, o escravo trabalhava de 12 a 16 horas por dia e dormiam em acomodaes coletivas chamadas senzalas ou mesmo em palhoas. Sua alimentao consistia basicamente de farinha de mandioca, aipim, feijo e banana. O tempo de vida mdia til de um escravo era de 10 a 15 anos, segundo muitos estudiosos.

    De qualquer modo, apesar das fugas e da formao dos quilombos, dos quais se destacou Palmares no sculo 17, os escravos africanos ou afro-brasileiros como um todo no tiveram condies de abolir por conta prpria o sistema escravocrata. Com a Independncia, embora a questo da abolio tenha sido levantada, a escravido continuou a vigorar no pas at a promulgao da Lei urea, em 13 de maio de 1888 - como coroao de uma ampla campanha abolicionista.

    Contudo, a abolio no significou o fim da explorao do negro no Brasil, nem a sua integrao - em p de igualdade - na sociedade brasileira, que ainda tem uma enorme dvida para com os descendentes dos escravos.

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    Mas o que pior: apesar das leis e da conscincia da maior parte da populao mundial, ainda se encontram pessoas em vrias partes do Brasil e do mundo que trabalham sem receber pagamento, ou seja, continua a existir escravido hoje. De qualquer forma, atualmente isso considerado um crime e quem o pratica, se for pego, recebe a punio que merece.

    A ECONOMIA AUCAREIRA

    A partir de 1530, presses econmicas e polticas foraram Portugal a modificar a tnica de sua dominao sob as terras brasileiras. Ao mesmo tempo em que se colocava em questo a necessidade de se proteger o territrio dos invasores, o governo portugus buscava meios de potencializar a explorao econmica da regio. Dessa maneira, Portugal buscou formas para que fosse possvel transformar o ambiente colonial em um local economicamente vivel.

    Ao contrrio dos povos orientais e africanos, no havia civilizaes no Brasil que tivesse uma economia complexa baseada na explorao de atividades comerciais. De tal forma, os portugueses tinham que enfrentar o desafio preparando os recursos, a mo-de-obra e a tecnologia necessria para se explorar as terras brasileiras. Como o investimento exigido era alto, Portugal optou por investir em um tipo de atividade econmica mais vivel.

    Percebendo as caractersticas do solo brasileiro e a demanda do mercado europeu, Portugal decidiu explorar a cana-de-acar no Brasil. Antes disso, os lusitanos j tinham aprimorado algumas tcnicas de produo criando algumas plantaes de cana-de-acar nas ilhas de Cabo Verde e da Madeira. No Brasil, a plantao foi viabilizada por meio de trs elementos fundamentais: o trabalho escravo, a monocultura e a grandes propriedades.

    O grande nmero de terras frteis e a necessidade do rpido retorno financeiro possibilitaram a formao de grandes unidades de produo. Alm disso, a produo ficou focalizada na produo de um nico gnero agrcola trazendo pouca dinamicidade economia no interior da colnia. No que tange mo-de-obra, os portugueses no conseguiram submeter s populaes indgenas ao sistemtico e rigoroso ritmo de trabalho exigido nas plantaes de acar. Alm disso, a Igreja tinha interesse em manter essa populao livre para garantir a expanso da f catlica.

    Essa questo da mo-de-obra acabou sendo resolvida com a prtica do trfico negreiro. Desde os primeiros anos da expanso martima portuguesa, os lusitanos comearam a obter escravos para uso domstico em Portugal, e no trabalho desenvolvido nas Ilhas do Atlntico. Alm de possuir essa via de acesso j estabelecida, a explorao do trfico negreiro na Costa Africana aparecia como outra fonte de renda para a metrpole.

    Alm do espao dedicado colheita, a explorao aucareira exigia a instalao de uma fbrica onde o sumo da cana passaria por diferentes processos. Essa fbrica, chamada de engenho, contava com um conjunto de diferentes instalaes. A moenda era o local onde era extrado o caldo da cana. Depois disso, esse caldo passava por dois processos de purificao: um primeiro na caldeira e o segundo na casa de purgar. Auxiliando a montagem da unidade produtiva ainda havia a senzala (local de morada dos escravos), a casa grande (habitao do proprietrio), as estrebarias e oficinas.

    Do processo de produo eram produzidos diferentes tipos de acar: o acar macho (de colorao branca e pronto para consumo) e o acar mascavo (grosso e de colorao escura). Depois disso, o acar era encaixotado e enviado diretamente para Lisboa. Os holandeses

    participavam como parceiros, realizando a distribuio do produto no interior do mercado europeu. Muitas vezes, esses mesmos holandeses financiavam a produo aucareira do Brasil.

    Na verdade a empresa agrcola aucareira, integrada ao esquema colonial-mercantilista europeu, voltava-se essencialmente para a exportao. Monocultor, latifndio, trabalho escravo, produo para o mercado externo essas eram as principais caractersticas da estrutura econmica aucareira do perodo colonial. A esse conjunto de caractersticas d-se o nome de plantation.

    Ao longo dos anos, o acar se tornou um dos principais componentes da economia colonial. Mesmo passando por diversos perodos de crise, que atingiram principalmente a regio nordeste, o acar ainda tinha expressiva participao na economia colonial. Alm disso, o seu modelo de explorao agrcola fundou uma forma de uso da terra e relaes de trabalho que permeou toda a histria econmica brasileira. De um modo geral podemos afirma que a sociedade aucareira era: patriarcal, aristocrtica e escravista.

    Atividades complementares

    No decorrer do processo de colonizao do Brasil, observamos que a economia baseada no latifndio, na monocultura, na exportao e na mo-de-obra escrava foi predominante durante todo esse perodo. O mais claro exemplo onde contemplamos esse tipo de experincia econmica est presente na economia aucareira desenvolvida desde o sculo XVI.

    De certa forma, esse modelo de desenvolvimento econmico impediu a diversificao da economia brasileira. O Brasil conviveu historicamente com a formao de pequenas elites agroexportadoras responsveis por subjugar todo espao de explorao econmica do pas a um modelo visivelmente limitador. Conforme alguns historiadores, esse seria o principal sentido da colonizao brasileira.

    No entanto, o interesse exploratrio da metrpole lusitana e a demanda interna dos colonos possibilitaram o aparecimento de outras atividades econmicas. Tambm conhecidas como atividades complementares ou secundrias, tais modalidades de empresa foram responsveis pela dinamizao econmica e a ampliao dos territrios coloniais. Assim em torno da produo aucareira, organizavam-se atividades econmicas paralelas, necessrias a subsistncia das populaes, sendo o alimento bsico dos brasileiros no sculo XVI a mandioca.

    As primeiras atividades complementares implementadas na colnia foram o cultivo da mandioca e atividades pecuaristas. A mandioca era um item alimentar primordial entre os colonos, principalmente os escravos. Sua importncia era tamanha que a Coroa Portuguesa chegou a exigir que parte das terras dos senhores de engenho fosse destinada a esse tipo de cultura. Muitos deles no aceitavam perder recursos e mo-de-obra nesse tipo de atividade, tendo em vista os melhores lucros obtidos na explorao aucareira.

    Pecuria A pecuria tpica nas regies nordeste e sul trouxeram o surgimento de outras classes sociais e a ampliao dos territrios coloniais. No nordeste, o gado era criado em regies fora das reas de plantao aucareira. Criado de forma livre, o gado avanou em regies do Maranho, Cear e ao longo do Rio So Francisco. No sul, as pradarias gachas tambm propiciaram o desenvolvimento da atividade pecuarista, que atingiu seu auge com o comrcio do charque destinado s regies mineradoras. Alm de abastecer as populaes

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    coloniais, a pecuria tambm representou um peculiar instrumento de mobilidade social. Ao contar com brancos no proprietrios de terras, mestios e mulatos a pecuria remunerava-os com parte dos restos das tropas de gado. De tal maneira podiam usufruir de uma melhor condio financeira.

    Fumo Na regio do Recncavo Baiano, o fumo era plantado por pequenos lavradores que comercializavam a produo obtida com a metrpole portuguesa. Tal atividade era de suma importncia na realizao do escambo entre as tribos africanas que aprisionavam os escravos a ser comercializados no Brasil. A produo de aguardente e rapadura foram outras duas atividades que tambm se desenvolveram com esse mesmo intuito.

    Algodo O algodo, que era primordial para a confeco da vestimenta dos escravos, tambm passou a entrar na pauta de exportaes da economia colonial. O advento das primeiras manufaturas e a posterior consolidao da indstria txtil europeia foi responsvel pela insero do algodo entre as atividades de interesse da metrpole.

    Drogas do serto Por fim, a extrao das drogas do serto foi outro importante ramo da economia colonial. Ervas aromticas, plantas medicinais, cacau, canela, baunilha, cravo, castanha e guaran eram buscados pelos bandeirantes que circulavam as regies do interior do Brasil e a regio amaznica. Tais artigos eram consumidos no mercado europeu para o uso alimentcio e medicinal.

    Ao mesmo tempo em que essas atividades possibilitaram o alargamento das fronteiras coloniais, principalmente com a Unio Ibrica (1580 1640) e a invalidao do Tratado de Tordesilhas, demonstraram como a economia e a sociedade colonial no sobreviveram somente custa do controle e das determinaes do pacto colonial.

    BANDEIRANTES E JESUITAS

    Os Bandeirantes Aps viver um perodo de relativa prosperidade, a capitania de So Vicente passou a enfrentar algumas dificuldades para empreender o desenvolvimento econmico da regio. Primeiramente, a ateno dada economia aucareira na regio nordeste promoveu uma grave diferena de desenvolvimento entre as regies. Logo em seguida, o prprio declnio do acar no mercado europeu contribuiu para o agravamento dos problemas naquela localidade.

    Durante a Unio Ibrica (1580-1640) essas dificuldades se acentuaram com a expressiva diminuio de escravos africanos que pudessem empreender a execuo das pesadas atividades a serem cumpridas. Foi nesse momento que vrias expedies partiram da regio de So Paulo com o objetivo de se embrenhar pelas matas procura de ndios que pudessem suprir a visvel carncia de mo de obra. Dava-se incio ao desenvolvimento do bandeirantismo no Brasil colonial.

    Bandeira era o nome dado a essas expedies compostas por centenas de pessoas, das mais variadas classes sociais, que passavam longos perodos enfurnados pela mata. Cada um de seus integrantes, conhecidos como bandeirantes, participavam dessa ao que com o passar do tempo se consolidou como uma rentvel atividade econmica. Alm de gerar lucros, o bandeirantismo se desdobrou em outras modalidades que atenderiam a diferentes propsitos.

    O primeiro e mais conhecido tipo de bandeirantismo era conhecido como bandeira de apresamento. Nesse tipo de expedio, a busca por ndios tinha como objetivo estabelecer comrcio com os proprietrios de terra interessados em explorar a fora de trabalho deste tipo de pea que, em geral, custava vinte por cento do valor pago por um escravo proveniente da frica. Os ndios capturados das misses jesuticas eram mais caros por estarem acostumados a uma rotina diria de servio.

    No sendo organizada em separado, mas tambm fundando uma outra modalidade de atividade bandeirante, a bandeira prospectora saa em busca de produtos naturais comercializveis (drogas do serto) e de possveis regies onde poderiam ser encontrados metais e pedras preciosas. No fim do sculo XVII, esse tipo de expedio descobriu as primeiras regies ricas em minrio em Minas Gerais, Mato Grosso e, posteriormente, em Gois.

    Uma ltima e importante modalidade de bandeirantismo ocorreu graas demanda dos grandes proprietrios de terra e da prpria Coroa Portuguesa. O chamado sertanismo de contrato era feito com o objetivo de combater populaes indgenas que atacavam os centros coloniais e destruam as comunidades quilombolas organizadas pelos escravos que escapavam das fazendas. Dessa forma, alguns bandeirantes eram utilizados como fora de represso contra aqueles que se opunham aos moldes da colonizao.

    Os Jesutas Os jesutas faziam parte de uma ordem religiosa catlica chamada Companhia de Jesus. Criados com o objetivo de disseminar a f catlica pelo mundo, os padres jesutas eram subordinados a um regime de privaes que os preparavam para viverem em locais distantes e se adaptarem s mais adversas condies. No Brasil, eles chegaram em 1549 com o objetivo de cristianizar as populaes indgenas do territrio colonial.

    Incumbidos dessa misso, promoveram a criao das misses, onde organizavam as populaes indgenas em torno de um regime que combinava trabalho e religiosidade. Ao submeterem as populaes aos conjuntos de valor da Europa, minavam toda a diversidade cultural das populaes nativas do territrio. Alm disso, submetiam os mesmos a uma rotina de trabalho que despertava a cobia dos bandeirantes, que praticavam a venda de escravos indgenas.

    Ao mesmo tempo em que atuavam junto aos nativos, os jesutas foram responsveis pela fundao das primeiras instituies de ensino do Brasil Colonial. Os principais centros de explorao colonial contavam com colgios administrados dentro da colnia. Dessa forma, todo acesso ao conhecimento laico da poca era controlado pela Igreja. A ao da Igreja na educao foi de grande importncia para compreenso dos traos da nossa cultura: o grande respaldo dado s escolas comandadas por denominaes religiosas e a predominncia da f catlica em nosso pas.

    Alm de contar com o apoio financeiro da Igreja, os jesutas tambm utilizavam da mo-de-obra indgena no desenvolvimento de atividades agrcolas. Isso fez com que a Companhia de Jesus acumulasse um expressivo montante de bens no Brasil. Fazendas de gado, olarias e engenhos eram administradas pela ordem. Ao longo da colonizao, os conflitos com os bandeirantes e a posterior redefinio das diretrizes coloniais portuguesas deram fim presena dos jesutas no Brasil.

    No ano de 1750, um acordo estabelecido entre Portugal e Espanha, dava direito de posse aos portugueses sobre o aldeamento jesuta de Sete Povos das Misses. Nesse mesmo tratado ficava acordado que os jesutas deveriam ceder as terras administrao colonial portuguesa

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    e as populaes indgenas deveriam se transferir para o Vice-Reinado do Rio Prata. Os ndios resistiram ocupao, pois no queriam integrar a fora de trabalho da colonizao espanhola; e os jesutas no admitiam perder as terras por eles cultivadas.

    O conflito de interesses abriu espao para o incio das Guerras Guaranticas. Os espanhis e portugueses, contando com melhores condies, venceram os ndios e jesutas no conflito que se deflagrou entre 1754 e 1760. Depois do incidente o ministro portugus Marques de Pombal ordenou a sada dos jesutas do Brasil. Tal ao fazia parte de um conjunto de medidas que visavam ampliar o controle da Coroa Portuguesa sob suas posses.

    Rebelies nativistas No sculo XVIII, podemos observar que algumas revoltas foram fruto da incompatibilidade de interesses existente entre os colonos e os portugueses. Algumas vezes, a situao de conflito no motivou uma ruptura radical com a ordem vigente, mas apenas a manifestao por simples reformas que se adequassem melhor aos interesses locais. Usualmente, os livros de Histria costumam definir essas primeiras revoltas como sendo de carter nativista.

    Outras rebelies desenvolvidas no mesmo sculo XVIII tomaram outra feio. As chamadas rebelies separatistas pensavam um novo meio de se organizar a vida no espao colonial a partir do banimento definitivo da autoridade lusitana. Em geral, seus integrantes eram membros da elite que se influenciaram pelas manifestaes liberais que engendraram a Independncia das Treze Colnias, na Amrica no Norte, e a Revoluo Francesa de 1789.

    Mesmo preconizando os ideais iluministas e liberais, as revoltas acontecidas no Brasil eram cercadas por uma srie de limites. O mais visvel deles se manifestava na conservao da ordem escravocrata e a limitao do poder poltico aos membros da elite econmica local. Alm disso, ao contrrio do que apregoavam muitos historiadores, essas revoltas nem mesmo tinham a inteno de formar uma nao soberana ou atingir amplas parcelas do territrio colonial.

    Entre os principais eventos que marcam a deflagrao das revoltas nativistas, destacamos a Revolta dos Beckman (1684, Maranho); a Guerra dos Emboabas (1707, Minas Gerais); a Guerra dos Mascates (1710, Pernambuco); e a Revolta de Filipe dos Santos (1720, Minas Gerais). As nicas revoltas separatistas foram a Inconfidncia Mineira, ocorrida em 1789, na regio de Vila Rica, e a Conjurao Baiana, deflagrada em 1798, na cidade de Salvador; assunto esse que iremos ter a oportunidade de v-los mais adiante no decorrer da apostila.

    2. A INDEPENDNCIA E O NASCIMENTO DO ESTADO BRASILEIRO

    INVASES HOLANDESAS NO BRASIL

    Para entender a invaso dos holandeses no Brasil, necessrio falar de outros dois pases: Portugal e Espanha. Desde o incio da colonizao brasileira, os holandeses tiveram grande participao na comercializao do acar produzido no Brasil.

    Tendo um comrcio bastante organizado, os holandeses realizavam o refino e a distribuio do acar que chegava cidade de Lisboa, capital de Portugal. Com o tempo, essa participao se tornou bem mais importante: os holandeses chegaram a emprestar dinheiro para que plantaes e engenhos fossem criados no Brasil.

    A atividade gerava importantes lucros para a Holanda, o que acabava fortalecendo a parceria entre esse pas e Portugal. Contudo, em 1580, essa histria acabou mudando. Naquele ano os espanhis conquistaram o trono de Portugal e, com isso, tambm conquistaram

    o direito de controlar as atividades econmicas desenvolvidas no Brasil.

    Um ano antes os holandeses conquistaram sua independncia poltica em relao Espanha, que controlava o territrio. Desse modo, assim que passaram a controlar a colonizao brasileira, os espanhis determinaram que a Holanda no podia mais participar da explorao do acar no Brasil. Foi a que o governo holands decidiu invadir o Brasil e recuperar seus interesses na explorao aucareira.

    A primeira tentativa de invaso holandesa aconteceu no ano de 1624 e foi realizada na cidade de Salvador. Sendo a capital do Brasil e, por tal razo, tendo um grande nmero de autoridades portuguesas e espanholas, a primeira investida holandesa fracassou. Logo em seguida, para se recuperarem do golpe sofrido, os holandeses roubaram uma embarcao espanhola cheia de prata americana.

    Com esses novos recursos tiveram condies de realizar uma invaso mais forte e bem organizada. No ano de 1630, com o uso de 77 barcos, os holandeses chegaram at regio de Pernambuco. Liderados por Matias de Albuquerque, os portugueses ofereceram resistncia penetrao holandesa no territrio brasileiro.

    Para vencer essa resistncia, os holandeses realizaram vantajosos acordos em que prometiam investir na formao de novas lavouras e na construo de engenhos. Com isso, os proprietrios de terras pernambucanos passaram a apoiar a entrada dos holandeses no Brasil.

    A partir daquele momento, os holandeses no s se concentraram em dominar terras pernambucanas. Ao longo do tempo, expandiram a sua dominao para outras regies aucareiras do nordeste. Os holandeses construram diversos engenhos e financiaram novas plantaes. Alm disso, algumas cidades coloniais ganharam reformas e construes que deram uma nova aparncia ao espao colonial nordestino.

    A INSURREIO PERNAMBUCANA

    A presena dos holandeses que se colocava como oportunidade no desenvolvimento da economia aucareira na regio pernambucana, agora no mais agradava aos senhores de engenhos que se mostravam claramente insatisfeitos com a exigncia holandesa em pagar os emprstimos contrados e ampliar a produo das lavouras imediatamente. Assim, os prprios senhores de engenho entraram em conflito com a Holanda a partir do momento que os holandeses passaram a cobrar os emprstimos oferecidos.

    Nesse clima de forte tenso, eclode em 1645, a chamada Insurreio Pernambucana. Tal conflito marcou a mobilizao dos grandes proprietrios de terra em favor da expulso dos holandeses do Nordeste brasileiro. Nos anos de 1648 e 1649, a vitria nas batalhas ocorridas no Monte dos Guararapes determinou um grande avano da populao local contra os holandeses. Tempos mais tarde, a chegada de reforos militares portugueses acelerou ainda mais o processo de expulso.

    A verdade que a dominao dos holandeses no Brasil comeou no ano de 1630 e s terminou no ano de 1654. O fim da presena dos holandeses passou a ser negociado quando, em 1640, os portugueses recuperaram o domnio do espao colonial brasileiro. No mesmo tempo em que as armas eram utilizadas, devemos tambm salientar que Portugal negociava diplomaticamente a sada definitiva dos holandeses do Brasil. Segundo o trabalho recente de especialistas no assunto, Portugal teria pagado Holanda uma pesada indenizao de quatro milhes de cruzados (algo em torno de 63 toneladas de ouro)

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    para que os holandeses abandonassem o Nordeste. Assim, os holandeses finalmente deixaram nossas terras no ano de 1654.

    O NASCIMENTO DO ESTADO BRASILEIRO

    Durante o primeiro sculo da colonizao, apenas um trecho do litoral brasileiro era ocupado e efetivamente povoado, mesmo assim, de forma intermitente. Isso se explica pela concentrao, nessa rea da colnia, das nicas atividades lucrativas para a metrpole: a produo de acar e a extrao do pau-brasil.

    No sculo XVII, teve incio a expanso territorial, interiorizando a colonizao lusa, em que se destacaram trs figuras humanas: o bandeirante, organizando as expedies de apresamento indgena e de prospeco mineral; o vaqueiro, ocupando as reas de pastagens nordestinas e criando o gado, e, finalmente, o missionrio, prin-cipalmente o jesuta, envolvido na catequese e na fundao das misses.

    O restante do litoral brasileiro e o Sul da colnia foram marcados pela expanso oficial, onde a ao das foras militares portuguesas afastou a ameaa estrangeira.

    A conquista das regies setentrionais No final do sculo XVI, toda a faixa litornea acima de Pernambuco permanecia intocada. Franceses, ingleses e holandeses frequentavam a regio, procurando sempre estabelecer alianas com os indgenas, criando as condies para futuros projetos de colonizao. Nesse passo, a interveno militar portuguesa acabou por assegurar os domnios dessas reas, a partir de uma srie de conquistas.

    A presena portuguesa no sul Os portugueses sempre tiveram interesse na regio Sul, atrados pela prata que escoava pelos rios da bacia Platina e pelo rico comrcio peruleiro (peruano). Desde cedo, portanto, alimentavam o sonho de criar um estabelecimento na regio.

    Em 20 de janeiro de 1680, D. Manuel Lobo fundou a Colnia do Santssimo Sacramento, margem esquerda do esturio do Prata - atual cidade uruguaia de Colnia, garantindo a presena portuguesa em uma rea importante dentro do imprio colonial espanhol e, ao mesmo tempo, abrindo espao para o contrabando ingls na bacia do Prata. A fundao de Sacramento abriu um perodo de sucessivos conflitos e debates diplomticos entre os dois pases, que se estenderam at o sculo XVIII.

    A ocupao do Rio Grande do Sul e Santa Catarina est inserida nesse processo. No caso do territrio gacho, os ataques s misses foram os responsveis pelo aparecimento de um rebanho de gado pelos campos sulinos que, unido ao gado trazido da Europa, garantiram a sua ocupao durante o sculo XVIII. Ainda neste sculo, foram introduzidas milhares de famlias de colonos aorianos no litoral do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, possibilitando o aparecimento e a consolidao de importantes ncleos de povoamento, como Laguna, Florianpolis e Porto dos Casais, atual cidade de Porto Alegre. A expanso da pecuria: o gado abre caminho Da sua introduo nos engenhos do litoral nordestino, o gado se expandiu em direo ao serto, no primeiro sculo e meio da colonizao. Com isso, o Serto do Nordeste e o Vale do Rio So Francisco surgem como as principais regies pecuaristas da colnia, o que garantiu a ocupao de um grande territrio do interior brasileiro.

    Outra regio que se voltaria tambm para a pecuria seria o sul de Minas Gerais, j no sculo XVIII. Ali, a criao de gado envolvia certa tcnica superior, fazendas com cercados, pastos bem cuidados e raes extras para os animais; no manejo dos rebanhos era utilizada a mo-de-obra escrava. O seu mercado era representado pelas zonas urbanas mineradoras, o que provocou uma diversificao da produo: gado bovino, muares, sunos, caprinos e equinos.

    Tambm os Campos Gerais, correspondendo ao interior de So Paulo e Paran, foram outra regio de pecuria, com a produo de animais de tiro para a regio mineradora. Nessa regio predominava a mo-de-obra livre, constituda pelos tropeiros.

    Por fim, a pecuria seria desenvolvida ainda no Rio Grande do Sul, no sculo XVIII. Nesse caso especfico, a pecuria promoveu no apenas a ocupao do territrio rio-grandense, mas, tambm, o seu povoamento. A atividade criatria gacha utilizava-se do trabalho livre, havendo, contudo, o emprego paralelo de escravos e dos indgenas oriundos das misses. Voltada tambm para o abastecimento da regio das Gerais, a pecuria gacha desenvolveu a indstria do charque e a criao de gado bovino, muar, equino e ovino.

    Os tratados de limites Conforme sabemos, a atual configurao do territrio brasileiro bem diferente daquela que foi originalmente estipulada pelo Tratado de Tordesilhas, em 1494. A explicao para a ampliao de nossos territrios est atrelada a uma srie de acontecimentos de ordem poltica, econmica e social que, com passar do tempo, no mais poderiam ser suportadas pelo acordo assinado entre Portugal e Espanha no final do sculo XV.

    Um primeiro evento que permitiu a expanso foi a Unio Ibrica, que entre 1580 e 1640 colocou as possesses lusas e hispnicas sob controle de um mesmo governo. Nesse momento, a necessidade de se respeitar fronteiras acabou sendo praticamente invalidada. Contudo, no podemos pensar que o surgimento de novos focos de colonizao se deu somente aps esse novo contexto.

    Desde muito tempo, personagens do ambiente colonial extrapolaram a Linha do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes saram da regio paulista em busca de ndios, drogas do serto e pedras preciosas para atender suas demandas econmicas. Ao mesmo tempo, cumprindo seu ideal religioso, padres integrantes da Ordem de Jesus vagaram pelo territrio formando redues onde disseminavam o cristianismo entre as populaes indgenas.

    Por outro lado, a criao de gado tambm foi de fundamental importncia na conquista desses novos territrios. O interesse dos senhores de engenho e da metrpole em no ocupar as terras litorneas com a pecuria possibilitou que outras regies fossem alvo dessa crescente atividade econmica. Paralelamente, o prprio desenvolvimento da economia mineradora tambm fundou reas de domnio portugus para fora das fronteiras originais.

    Para que esses fenmenos espontneos fossem reconhecidos, autoridades portuguesas e espanholas se reuniram para criar novos acordos fronteirios. O primeiro foi firmado pelo Tratado de Utrecht, em 1713. Segundo este documento, os espanhis reconheciam o domnio portugus na colnia de Sacramento. Insatisfeitos com a medida, os colonos de Buenos Aires fundaram a cidade de Montevidu. Logo em seguida, os lusitanos criaram o Forte do Rio Grande, para garantir suas posses ao sul.

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    O Tratado de Madri, de 1750, seria criado para oficialmente anular os ditames propostos pelo Tratado de Tordesilhas. Segundo esse documento, o reconhecimento das fronteiras passaria a adotar o princpio de utis possidetis. Isso significava que quem ocupasse primeiro uma regio teria seu direito de posse. Dessa forma, Portugal garantiu o controle das regies da Amaznia e do Mato Grosso. Contudo, os lusitanos abriram mo da colnia de Sacramento pela regio dos Sete Povos das Misses.

    A medida incomodou os jesutas e ndios que habitavam a regio de Sete Povos. Entre 1753 e 1756, estes se voltaram contra a dominao portuguesa em uma srie de conflitos que marcaram as chamadas guerras guaranticas. Com isso, o Tratado de Madri foi anulado em 1761. Em 1777, o Tratado de Santo Idelfonso estabelecia que a Espanha ficasse com as colnias de Sacramento e os Sete Povos. Em contrapartida, Portugal conquistou a ilha de Santa Catarina e boa parte do Rio Grande do Sul.

    Somente em 1801, a assinatura do Tratado de Badajs deu fim aos conflitos e disputas envolvendo as naes ibricas. De acordo com seu texto, o novo acordo estabelecia que a Espanha abriria mo do controle sobre os Sete Povos das Misses. Alm disso, a regio de Sacramento seria definitivamente desocupada pelos lusitanos. Com isso, o projeto inicialmente proposto pelo Tratado de Madri foi retomado.

    A MINERAO NO BRASIL COLONIAL

    A poca da minerao no perodo colonial abrangeu basicamente o sculo XVIII, com o seu apogeu entre 1750 e 1770. Nessa fase da vida econmica da colnia que se voltou quase que exclusivamente para o extrativismo mineral, as principais regies aurferas foram Minas Gerais, Mato Grosso e Gois. Anteriormente, j haviam ocorrido as exploraes do ouro de lavagem, em So Paulo, Paran e Bahia, mas, com resultados inexpressivos.

    Aps sua extrao, o ouro era levado para as Casas de Fundio. Ali, era quintado, fundido e transformado em barras, assegurando o controle dos lucros da explorao aurfera pela coroa portuguesa.

    A minerao dos anos setecentos foi desenvolvida a partir do ouro de aluvio, tendo como caractersticas o baixo nvel tcnico e o rpido esgotamento das jazidas. No extrativismo aurfero, as formas de explorao mais comuns encontradas eram as lavras e a faiscao. A primeira representaria uma empresa em que era utilizada a mo-de-obra escrava e se aplicava uma tcnica mais apurada. J a faiscao era a extrao individual, realizada principalmente por homens livres.

    Legislao, rgos e tributos da minerao A organizao da explorao aurfera comeou em 1702, quando o Estado portugus editou o Regimento das Terras Minerais, disciplinando a explorao aurfera estabelecida pela Carta Rgia de 1602, que declarava a livre explorao, mediante o pagamento do quinto; em outras palavras, a quinta parte do que se extraa (20%) era o imposto devido metrpole. Por esse regimento, organizava-se a distribuio das jazidas que eram divididas em datas - pores das jazidas que representavam a unidade de produo - e passadas para os exploradores mediante o sistema de sorteio, promovido pela Intendncia das Minas, principal rgo de controle e de fiscalizao da minerao do ouro.

    No que refere a tributao, inicialmente existia o quinto, cuja cobrana era dificultada pela circulao do ouro em p, que permitia a prtica cotidiana do contrabando; como exemplo, o ouro era

    contrabandeado na carapinha dos escravos ou nos famosos santos de pau oco. Com o intuito de efetivar sua cobrana e evitar o contrabando, em 1720, foram criadas as Casas de Fundio - que s vieram a funcionar em 1725, em Vila Rica - com a finalidade de transformar o ouro em barras timbradas e quintadas. Em 1730, o quinto foi reduzido para 12% e, em 1735, foi criado um novo imposto, a capitao, onde se cobrava 17 gramas por escravo em atividade na minerao.

    Em 1750, poca do apogeu do ouro, foi institudo o quinto por estimativa, conhecido como finta, ou seja, a fixao de uma cota fixa de 100 arrobas que incidia sobre toda a regio aurfera. A partir da, j com o prenncio da decadncia da minerao, essa cota no era alcanada, gerando-se o dficit que se avolumava a cada ano. Com isso, em 1765, foi instituda a derrama, forma arbitrria de cobrana do quinto atrasado, que deveria ser pago por toda a populao da regio, inclusive com bens pessoais. E esse quadro, marcado pela extorsiva tributao, aumentou o descontentamento contra os abusos da metrpole.

    A explorao dos diamantes Por volta de 1729, Bernardo da Fonseca Lobo descobriu as primeiras jazidas diamantferas no arraial do Tijuco ou Serro Frio, hoje Diamantina. Teve incio, assim, a explorao dos diamantes, que, como a do ouro, tambm era considerada um monoplio rgio.

    Em 1733, foi criado o Distrito Diamantino, nica rea demarcada em que se podia explorar legalmente as jazidas. A explorao era livre, mediante o pagamento do quinto e da capitao sobre o trabalhador escravo. Em 1739, a livre extrao cedeu lugar ao sistema de con-trato, que deu origem aos ricos contratadores, como Joo Fernandes, estreitamente ligado figura de Xica da Silva. Diante das irregularidades e do desvio dos impostos, alm do alto valor que alcanavam as pedras na Europa, em 1771, foi decretada a rgia extrao, que contava com o trabalho de escravos alugados pela coroa. Posteriormente, com nova liberao da explorao, foi criado o Livro de Capa Verde, contendo o registro dos exploradores, e o Regimento dos Diamantes, procurando disciplinar a extrao. Contudo, o monoplio estatal sobre os diamantes vigorou at 1832.

    As consequncias da minerao

    A minerao foi responsvel por importantes consequncias que se refletiram sobre a vida econmica, social, poltica e administrativa da colnia. De sada, provocou uma grande migrao portuguesa para a regio das Gerais. Segundo alguns autores, no sculo XVIII, aproximadamente 800.000 portugueses transferiram-se para a colnia, o que corresponderia a 40% da populao da metrpole.

    No Brasil, paralelamente a isto, ocorreu um deslocamento do eixo econmico e demo grfico do litoral para a regio Centro-Leste, acompanhado da intensificao do trfico negreiro e do remanejamento do contingente interno de escravos. Com isso, a colnia conheceu uma verdadeira exploso populacional, ultrapas-sando com folga a casa de um milho de habitantes, no sculo XVIII.

    O entorno da regio mineradora, compreendendo o eixo Minas-Rio de Janeiro, passou a ser o novo centro de gravidade econmica, social e poltica da colnia; em 1763, um decreto do marqus de Pombal transferiu a capital de Salvador para o Rio de Janeiro.

    Geradora de novas necessidades, a minerao condicionou um maior desenvolvimento do comrcio, associado ao fenmeno da urbanizao. Desenvolveu-se o mercado interno, possibilitando a

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    dinamizao de todos os quadrantes da colnia, que se organizaram para abastecer a regio do ouro. A vida urbana e o prprio carter da explorao aurfera geraram uma sociedade mais aberta e heterognea, convivendo lado a lado o trabalho livre e o trabalho escravo, embora este fosse predominante. Como consequncia, a concentrao de renda foi menor, enriquecendo, principalmente, os setores ligados ao abastecimento.

    Finalmente, a "corrida do ouro" promoveu a penetrao e o povoamento do interior do Brasil, anulando em definitivo a velha demarcao de Tordesilhas.

    Uma cultura mineira Todo o conjunto de consequncias, anteriormente citadas, refletiu-se na vida cultural e intelectual da minerao, marcada por um notvel desenvolvimento artstico.

    Na literatura, destacaram-se os poetas intimamente relacionados ao Arcadismo. Na arquitetura e na escultura, emergiram as figuras de Antnio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e mestre Valentim, nomes importantes do barroco mineiro. Na msica, alm da disseminao de uma msica popular - modinhas e lundus - sobressaram-se os grandes mestres da msica sacra - barroca, com as missas e rquiens de Joaquim Emrico Lobo de Mesquita e do padre Jos Maurcio Nunes Garcia.

    Nesse contexto, a influncia europeia, com os novos princpios liberais disseminados pela Enciclopdia, alimentaria o primeiro movimento de carter emancipacionista: a Inconfidncia Mineira.

    REBELIES NATIVISTAS

    A partir de meados do sculo XVII, um conjunto de movimentos nativistas polticos exprimiu a repulsa dos colonos aos abusos do colonialismo portugus, endurecido depois da Restaurao. Esses movimentos, denominados nativistas, podem ser caracterizados pela no contestao ao domnio portugus como um todo e sim por rebeldias ou conflitos regionais contra aspectos isolados do colonia-lismo, principalmente aps 1640, quando a "relativa harmonia" entre interesses da aristocracia rural local e os da Metrpole foram-se rompendo, na medida em que se intensificava a explorao colonial portuguesa.

    A Insurreio Pernambucana no de 1645 tambm contribuiu para o advento desses movimentos, visto que durante a sua ocorrncia registrou-se a divergncia entre os interesses dos colonos e os objetivos pretendidos pela Metrpole. Da estarem os movimentos nativistas menos relacionados com um ideal emancipacionista, ligando-se mais a um sentimento de defesa de interesses locais ou regionais.

    Na verdade as rebelies no se manifestaram com a ideia de conseguir a independncia do Brasil. Foram s condies internas da colonizao os fatores preponderantes para tais rebelies nativistas; uma vez que apenas contestavam os aspectos especficos do pacto colonial, e no a dominao integral da metrpole. Alm disso, tinha um carter regionalista, no se preocupando com a unidade nacional. Vejamos cada uma delas.

    Aclamao de amado Bueno: Um Rei de So Paulo?

    Em abril de 1641, Amador Bueno da Ribeira foi aclamado Rei de So Paulo. Essa aclamao, entretanto, resultou da divergncia

    entre cls locais (Garcia-Pires, portugueses, e Camargos, espanhis), diante da notcia da Restaurao em Portugal. Este fato fora interpretado como uma ameaa aos interesses espanhis na regio. Mais tarde, evidenciou-se a tenso entre jesutas e bandeirantes, devido escravido indgena, ocorrendo ento um movimento que se denominou a Botada dos Padres para Fora, por parte dos colonos paulistas. Este episdio repetir-se-ia em 1661, no Par, e em 1684, no Maranho.

    Revolta contra os governadores

    No Rio de Janeiro, entre 1660 e 1661, ocorreu um movimento nativista devida forte poltica fiscalista aplicada pelo governador portugus Salvador Correia de S e Benevides. Seu lder foi Jernimo Barbalho, que, aps ter deposto o governador devido decretao dos novos tributos, foi preso e executado. Na Revolta de "Nosso Pai", em Pernambuco (1664-65), tambm houve a rebelio local contra o governador portugus Jernimo de Mendona Furtado, alcunhado "Xumbrega", acusado de corrupo e de ser conivente com os franceses. Na realidade, nesse acontecimento j havia indcios da rivalidade entre Olinda e Recife.

    Revolta de Beckman ou Bequimo

    Na Revolta de Beckman ou Bequimo, movimento nativista ocorrido no Maranho, em 1684, mais uma vez evidenciou-se a divergncia de interesses entre colonos locais, representados pelos irmos Manuel e Toms Beckham e a Companhia Geral de Comrcio do Estado do Maranho, que possua o monoplio do comrcio e de introduo de escravos africanos. A rebelio ocorreu contra os abusos da Companhia de Comrcio, que no cumpriu os acordos feitos com os colonos, e contra a Companhia de Jesus, que se opunha escravido indgena.

    Guerra dos Emboabas

    Outro movimento nativista foi a Guerra dos Emboabas, ocorrida em Minas Gerais (1708-09), resultante da rivalidade entre os paulistas e os "emboabas" - forasteiros, principalmente portugueses, que acabavam sendo protegidos pelos rgos do governo colonial, com o monoplio de diversos ramos comerciais. O movimento eclodiu devido a uma srie de incidentes, nos quais sempre havia de um lado os paulistas e do outro os emboabas.

    Revolta de Vila Rica ou Felipe dos Santos

    Em 1720, novamente na regio de Minas Gerais, em Vila Rica, ocorreu a revolta de Felipe dos Santos, um dos movimentos nativistas em que mais uma vez encontramos a rebelio contra os abusos do fiscalismo portugus, caracterizados pela elevao dos impostos decretada pelo governador, conde de Assumar. Os mineradores revoltados reivindicavam a reduo dos impostos, abolio dos monoplios exercidos pelos portugueses e a extino das Casas de Fundio.

    Guerra dos Mascates

    Um dos mais famosos movimentos nativistas foi a Guerra dos Mascates (1710-12), em Pernambuco, motivada pela forte rivalidade entre os senhores-de-engenho de Olinda e os comerciantes portugueses de Recife, apelidados de mascates, e

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    que contavam com o apoio do governador Sebastio de Castro Caldas. O conflito irrompeu quando Recife foi elevado categoria de vila, o que favorecia o grupo portugus. Ao terminar o movimento, em 1712, Recife passava a ser cidade e capital de Pernambuco, o que acentuou ainda mais a rivalidade da aristocracia pernambucana contra os portugueses. Neste movimento, como nos demais, deve ser percebido o seu sentido no-emancipacionista e a inexistncia de interesses que visassem ultrapassar os limites locais ou regionais.

    REBELIES SEPARATISTAS

    Diferente das rebelies nativistas, as rebelies separatistas eram movimentos de visavam a libertao nacional. Pretendia romper com as exigncias portuguesas sobre a explorao da atividade mineradora. Como veremos adiante a primeira das rebelies separatistas aconteceu em Minas Gerais, quando uma srie de insurretos da cidade de Vila Rica, no ano de 1789. No ano de 1798, foi a vez da chamada Conjurao Baiana que marcou poca ao abrir portas para um projeto de independncia com tons mais amplos e populares. Por fim, a Revoluo Pernambucana de 1817 surgiu como ltimo levante antes do nosso processo de independncia, ocorrido em 1822.

    A Inconfidncia Mineira ou Conjurao Mineira (1789)

    No sculo XVIII, o Brasil ficou marcado pela descoberta e a explorao de suas minas de ouro. Encontradas principalmente nas regies de Minas Gerais, Mato Grosso e Gois, o ouro despertou o interesse dos colonizadores portugueses. Afinal de contas, o encontro de metais preciosos foi uma das mais antigas ambies que os portugueses tiveram assim que chegaram por aqui.

    Com a descoberta do ouro, o governo portugus tratou de criar uma srie de impostos que garantiam a obteno de lucros junto atividade mineradora. Com o passar dos anos, o esgotamento das minas passou a diminuir bastante as toneladas de ouro que eram enviadas para Portugal. Isso se explica at pelo fato de que o ouro um bem natural no renovvel e com a constante explorao foi perdendo fora.

    Na medida em que percebeu a diminuio da quantidade de ouro recolhido, o governo portugus decidiu aumentar a cobrana de impostos feita nas minas. A fiscalizao nas cidades mineiras aumentou e um polmico imposto chamado de derrama passou a ser cobrado. A derrama era um tipo de cobrana em que Portugal recuperava os impostos atrasados, com a tomada de outros bens dos mineradores que estavam em dvida com o governo portugus.

    Nesta rebelio encontramos diversos antecedentes, como o crescente abuso do fiscalismo portugus na regio aurfera, acompanhado pelo acirramento da dominao poltica-militar lusa. As influncias das idias liberais (do Movimento das Luzes) e da independncia dos Estados Unidos so ntidas nas manifestaes dos participantes da Inconfidncia Mineira.

    Esse tipo de cobrana gerou muita insatisfao e acabou sendo um dos motivos pelos quais alguns mineradores, intelectuais e proprietrios de terra de Minas Gerais, l pelos fins da dcada de 1780, se reuniram para criticar e elaborar um plano pelo fim da colonizao portuguesa. Essas reunies deram fora ao planejamento de uma revolta, que ficou conhecida em nossa histria como Inconfidncia Mineira.

    Os chamados inconfidentes acreditavam ser possvel lutar pela independncia de Minas Gerais e implantar um governo de caracterstica um tanto mais justa e democrtica. Apesar de no serem visivelmente contra a escravido, os inconfidentes lutavam pela modernizao da economia local, a criao de universidades e a separao entre a Igreja e o Estado. Alm disso, traaram um plano de rebelio que aconteceria assim que a derrama fosse cobrada na cidade de Vila Rica. Os inconfidentes acreditavam que se a revolta acontecesse no momento da cobrana, o apoio da populao aconteceria naturalmente.

    O fim da Inconfidncia Mineira A ecloso da revoluo tinha na cobrana da derrama (596 arrobas) de ouro o seu pretexto. Em maio de 1789, porm, a conjura foi denunciada pelos portugueses Joaquim Silvrio dos Reis, Brito Malheiros e Incio Correia Pamplona. Presos os conspiradores, foi iniciada a devassa (inqurito) dirigida pelo prprio governador, o visconde de Barbacena, e que se prolongou at 1792. Embora, num primeiro momento, todos fossem condenados morte, um decreto de D. Maria I comutou a pena de morte dos inconfidentes, exceo de Tiradentes, que foi executado no mesmo ano. Com sua morte, em 1792, Joaquim Jos da Silva Xavier - o Tiradentes - tornou-se o mrtir da independncia do Brasil.

    Logo, apesar de todo o planejamento, a revolta acabou no acontecendo. Um envolvido na revolta, chamado Joaquim Silvrio dos Reis, preferiu entregar o plano em troca do perdo de suas dvidas. Desse modo, as autoridades portuguesas prenderam grande parte dos envolvidos e os processaram pelo crime de traio. No ano de 1791, as investigaes foram encerradas e os acusados tiveram suas penas decretadas. Entre os condenados, somente o inconfidente Joaquim Jos da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi condenado morte.

    Alguns historiadores dizem que Tiradentes foi o nico punido, pois era o envolvido na revolta que tinha a condio financeira mais humilde. Tiradentes era militar e dentista, duas profisses que garantiam uma vida modesta, mas no muito confortvel. No fim das contas, principalmente a partir do sculo XX, esse inconfidente foi transformado em heri nacional. Sua condenao forca e ao esquartejamento virou smbolo de luta pela independncia do Brasil. Contudo, l naquela poca, a defesa da independncia de toda nao estava longe de acontecer.

    Dessa forma, percebemos que a Inconfidncia Mineira foi fruto do autoritarismo e da violncia que eram empregados por Portugal no sculo XVIII. Contudo, por outro lado, no podemos dizer que os inconfidentes tinham um grande plano de independncia para a nao brasileira. Os revoltosos de Minas pensavam apenas em sua regio, mas acabaram sendo transformados em heris nacionais.

    As propostas dos inconfidentes Nos planos dos conjurados, idealistas mais caracterizados pelo despreparo militar e por uma certa inconsistncia ideolgica, evidenciavam-se, no entanto, alguns princpios tericos, tais como o ideal emancipacionista vinculados a uma forma republicana de governo. Esta teria como sede a cidade mineira de So Joo del-Rei. Quanto abolio da escravido, porm, no chegaram a um acordo. Dada a composio de seus participantes, a conspirao perdia-se em um plano ideal ligado ao intelectualismo de alguns conjurados, em que preocupaes com o que viria, como a criao de uma Universidade em Vila Rica, a criao de uma bandeira (Libertas Quae Ser Tamem) e os planos em relao ao incremento natalidade, sobrepunham-se organizao militar do prprio movimento.

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    Estes eram em sua maioria letrados: alguns estudantes brasileiros na Europa, como Jos Joaquim da Maia, que tentou o apoio de Thomas Jefferson; os poetas Cludio Manuel da Costa, Incio de Alvarenga Peixoto, Toms Antnio Gonzaga; os doutores Jos lvares Maciel, Domingos Vidal Barbosa e Salvador Amaral Gurgel; os padres Manuel Rodrigues da Costa, Jos de Oliveira Rolim e Carlos de Toledo Piza; e alguns militares como o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade e o alferes Joaquim Jos da Silva Xavier, o Tiradentes.

    Apesar de seu carter idealista e intelectualizado, a Inconfidncia Mineira foi a contestao mais consequente ao Sistema Colonial Portugus, sendo um dos mais importantes movimentos sociais da Histria do Brasil. Significou a luta do povo brasileiro pela liberdade, contra a opresso do governo portugus no perodo colonial. Ocorreu em Minas Gerais no ano de 1789, em pleno ciclo do ouro.

    A Conjurao Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798)

    Um importante movimento emancipacionista foi a Conjurao Baiana ou dos Revolta dos Alfaiates (1798), na qual a influncia da Loja Manica Cavaleiros da Luz fornecia o sentido intelectualizado do movimento. Os seus lderes, Cipriano Barata, Francisco Muniz Barreto, Pe. Agostinho Gomes e tenente Hermgenses de Aguiar, contavam, no entanto, com uma boa participao de elementos provenientes das camadas populares, como os alfaiates Joo de Deus e Manuel Faustino dos Santos Lira ou os soldados Lucas Dantas e Lus Gonzaga das Virgens. Esse foi um movimento separatista que contou com o apoio da elite, mas sobretudo com a participao das camadas populares, como os negros e mulatos, artesos, pequenos comerciantes, sapateiros, alfaiates, bordadores e escravos e libertos (ex-escravos).

    Em um outro campo de ao essa revolta tambm teve o apoio de padres, mdicos e advogados. O liberal Cipriano Barata, mdico da cidade de Salvador, foi um dos grandes defensores dos ideais separatistas e republicanos no Brasil, sofrendo constantes perseguies por parte das autoridades.

    Este movimento apresenta um elemento que o diferencia dos demais, ocorridos na poca: o seu carter social mais popular, propugnando pela igualdade racial e contando com uma grande participao de mulatos e negros. Em 1799, no entanto, aps devassa, os principais representantes das camadas mais simples foram enforcados, tendo sido os intelectuais absolvidos.

    Para compreender a deflagrao do movimento, devemos nos reportar transferncia da capital para o Rio de Janeiro, em 1763. Com tal mudana, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilgios e a reduo dos recursos destinados cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigncias colnias vieram a piorar sensivelmente as condies de vida da populao local.

    Ao mesmo tempo, as notcias do xito alcanado nos processos de independncia dos Estados Unidos e Haiti, e a deflagrao da Revoluo Francesa trouxe junto os ideais de liberdade e igualdade defendidos pelo pensamento iluminista. Empolgados com tais processos revolucionrios, alguns representantes dos setores mdios e das elites ligados maonaria montaram uma sociedade secreta denominada Cavaleiros da Luz. Durante suas reunies os cavaleiros da luz discutiam a organizao de um movimento anticolonialista e a criao de um novo governo baseado em princpios republicanos e liberais.

    Podemos dizer que a participao dos Cavaleiros da Luz foi relativamente limitada. Muitos de seus integrantes no concordavam nas discusses de cunho social, como no caso da abolio da escravido. Paralelamente, seus participantes distribuam panfletos convocando a populao a se posicionar contra o domnio de Portugal. Com a delao do movimento, seus representantes foram presos pelas autoridades coloniais.

    Os membros da elite que estavam envolvidos no movimento foram condenados a penas mais leves ou tiveram suas acusaes retiradas. Em contrapartida, os populares que encabearam o movimento conspiratrio foram presos, torturados e, ainda outros, mortos e esquartejados. Buscando reprimir outras revoltas, o governo portugus exps os restos mortais de alguns dos revoltosos espalhados pela cidade de Salvador.

    3. A ORGANIZAO DO ESTADO MONRQUICO

    O PERODO JOANINO E A INDEPENDNCIA

    A vinda da famlia real ao Brasil A vinda da famlia real portuguesa para o Brasil se deu no ano de 1808, aps a invaso das tropas de Napoleo Bonaparte a Portugal. Essa invaso foi causada porque a Frana no conseguiu derrotar a Inglaterra em uma disputa militar, fato pelo qual Napoleo proibiu que os pases da Europa Continental fizessem qualquer tipo de comrcio com os ingleses. Para isso criou um decreto que constitua o bloqueio continental.

    Dom Joo no teve outra alternativa seno fugir com sua famlia e parte da corte para as terras brasileiras, vieram um total de dez mil pessoas, em 29 de novembro de 1807. Aps sua chegada ao Brasil, dom Joo decretou que os portos brasileiros fossem abertos para o comrcio com todas as naes com as quais mantinham relaes cordiais, inclusive com a Inglaterra. Antes dessa deciso o Brasil s mantinha comrcio com Portugal e suas colnias.

    A famlia real permaneceu por um ms na Bahia, fazendo melhoras na regio, como: a criao da Escola de Cirurgia que mais tarde tornou-se faculdade de medicina do estado; a criao da Junta do Comrcio virando a associao comercial; a criao do Passeio Pblico e a construo do Teatro So Joo a melhor casa de espetculos do pas.

    Em seguida, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde foi instalada a sede do governo de Portugal, por mais de treze anos. Com isso, o Rio de Janeiro cresceu muito e o estado obteve novas estruturas.

    As principais benfeitorias foram: o Banco do Brasil, a Academia Militar e da Marinha, a Imprensa Rgia, a Academia de Belas Artes, o Jardim Botnico, o Museu da Biblioteca Nacional, alm de outros museus, bibliotecas, teatros e escolas.

    O Brasil, at ento, era tido como colnia, mas em 19 de dezembro de 1815, passou a Reino Unido a Portugal e Algarve, tendo suas capitanias transformadas em provncias.

    O perodo joanino caracterizou-se pelo esforo da Coroa Portuguesa no sentido de estabelecer um equilbrio entre os interesses dos grandes proprietrios de terras brasileiros e os dos comerciantes. Alguns estancos foram mantidos para satisfazerem estes ltimos. Estabeleceram-se impostos pesados e progressivos, necessrios manuteno do luxo da Corte. Para evitar incompatibilidades, foram concedidos aristocracia rural alguns privilgios fiscais. O absolutismo

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    permaneceu em vigor, mas sempre fazendo concesses aos senhores de terra que eram atrados para a Corte atravs da outorga de ttulos.

    Com o falecimento da me de D. Joo, a ento rainha de Portugal, este teve que assumir o trono do pas, administrando o mesmo daqui do Brasil, enviando suas ordens atravs dos mensageiros. Mas em 1820 aconteceu uma revolta em Portugal e D. Joo teve que retornar ao pas, deixando seu filho, D. Pedro I, como Prncipe Regente do Brasil.

    Em 1820, os portugueses organizaram a chamada Revoluo Liberal do Porto. Nesse advento, lideranas polticas lusitanas formaram uma assembleia que exigia o retorno de D. Joo VI para a elaborao de uma nova carta constitucional. Desde 1808, este monarca se encontrava em terras brasileiras e havia transformado a cidade do Rio de Janeiro na nova capital do imprio.

    Temendo perder a condio de rei de Portugal, D. Joo VI voltou Europa para participar das discusses que pretendiam mudar a situao poltica de Portugal. As Cortes Portuguesas, nome dado assembleia que havia tomado o poder, tinham inteno de modernizar o regime poltico de seu pas. Contudo, sob o ponto de vista econmico, tinham o expresso interesse de recolonizar o Brasil e dar fim aos privilgios assegurados pela administrao joanina.

    Ao saber das intenes polticas das Cortes, as elites brasileiras se organizaram em um partido que pretendia viabilizar a organizao de nossa independncia. Entre as vrias opes de projeto, os membros do Partido Brasileiro preferiram organizar uma transio poltica sem maiores levantes populares na qual o Brasil fosse controlado por um regime monarquista. Para tanto, se aproximaram de D. Pedro I, que ocupava a funo de prncipe regente, e seria empossado como futuro imperador.

    A explicao para o tom conservador desse projeto de independncia se manifestava na prpria origem social de seus representantes. Na maioria, os partidrios de nossa autonomia definitiva eram aristocratas rurais, funcionrios pblicos e comerciantes que figuravam a elite econmica local. Por isso, vemos que a possibilidade de organizao de um movimento popular ou o fim do regime escravocrata foi indiscriminadamente descartada por esse grupo poltico.

    Entre os principais integrantes destaca-se a atuao de Gonalves Ledo, Janurio da Cunha Barbosa e Jos Bonifcio de Andrada e Silva. Esse ltimo, praticante da maonaria, conseguiu reunir vrios membros da elite nas reunies de sua loja manica, incluindo o prprio prncipe regente Dom Pedro I. Outra importante ao desse partido foi a organizao de um documento, com mais de oito mil assinaturas, que pedia pela permanncia de D. Pedro I no Brasil.

    A realizao dessa e outras aes polticas, que sugeriam a permanncia de Dom Pedro I no poder, foram determinantes para que a independncia alcanasse esse modelo conservador. Nos primeiros meses de 1822, o regente confirmava seu apoio independncia ao assegurar sua permanncia no Brasil no Dia do Fico. Logo em seguida, baixou o Cumpra-se, decreto que estabelecia que nenhuma lei portuguesa seria vlida no Brasil sem a autorizao prvia do regente. O episodio do Dia do Fico marcou a primeira adeso pblica de D. Pedro a uma causa brasileira.

    Temendo as possveis pretenses polticas de D. Pedro I, as Cortes de Portugal enviaram um documento em que ameaavam o envio de tropas que trariam o prncipe regente fora para o Velho Mundo. Mediante a represlia, os membros do partido brasileiro aconselharam D. Pedro I a proclamar a independncia imediatamente,

    antes que os conflitos com as tropas portuguesas transformassem nossa independncia em um movimento popular.

    Dessa forma, percebemos que a elite agrria e os demais membros das classes dominantes do Brasil conduziram habilmente o nosso processo de independncia. Mesmo alcanando a condio de nao soberana, boa parte da populao se viu atrelada s mesmas prticas e instituies que garantiam os privilgios dos mais poderosos. Sendo assim, o nosso 7 de setembro se transformou em uma ruptura cercada por uma srie de problemticas continuidades.

    INDEPENDNCIA POLITICA

    Independncia politica sem independncia econmica

    A independncia brasileira foi em boa parte fruto da influencia inglesa, e por isso mesmo implicou compromissos econmicos muitos fortes com a Inglaterra, visto que passou a funcionar em conformidade com o mercado mundial controlado pelos ingleses. A independncia no provocou nenhuma mudana profunda na estrutura social do pas, que passou da independncia econmica com relao a Portugal subordinao Inglaterra.

    Nossa economia sujeitava-se ao capital estrangeiro e aos interesses dos mercados externos. O modelo econmico da poca colonial permaneceu intacto: produo agraria, monocultora, escravista e exportadora. A sociedade caracterizava-se fundamentalmente pela existncia de duas classes antagnicas: o escravo e o proprietrio de terras escravistas. Logo conclui-se que os maiores beneficiados da independncia foram os proprietrios rurais brasileiros e os ingleses.

    PRIMEIRO REINADO

    O surgimento do Primeiro Reinado marca definitivamente o abandono da condio de colnia e a transformao do Brasil em uma nao politicamente soberana. Apesar do significado histrico dessa mudana, percebemos que nosso processo emancipatrio no permitiu a conquista de outras modificaes mais amplas e significativas. Afinal de contas, os privilgios das classes dominantes e a condio de misria dos subalternos foram tacitamente preservados.

    Apesar da manuteno dos privilgios, vemos que nessa poca foram necessrias grandes aes que organizassem o Estado brasileiro. Internamente, uma primeira medida foi a discusso da primeira carta constitucional, que deveria afixar as diretrizes legais do pas formado. No mbito internacional, o governo imperial deveria buscar o reconhecimento de sua independncia e o estabelecimento de relaes diplomticas que promovessem o desenvolvimento da economia.

    No perodo que esteve frente do governo, D. Pedro I mostrou uma liderana bastante questionvel. A opo por uma constituio por ele mesmo elaborada e o pagamento de uma pesada indenizao aos cofres portugueses colocavam em dvida o seu compromisso com os interesses da populao. J em 1823, a Confederao do Equador, revolta ocorrida na regio nordeste, enfrentou os desmandos da estrutura poltica autoritria do imperador.

    O episdio acabou no promovendo nenhuma transformao nos ditames polticos empregados pelo governo de Dom Pedro I. Valendo-se da autonomia concedida pelo Poder Moderador, o monarca ainda autorizou os enormes gastos com a Guerra da Cisplatina. Neste conflito, a populao local visava dar fim ao mando do governo brasileiro. No fim do conflito, a derrota das tropas nacionais acabou fortalecendo os crticos do governo imperial.

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    O fim do primeiro reinado

    A autoridade de Dom Pedro I, desde os primrdios de seu governo, sofreu forte oposio de setores polticos diversos. Seja por sua ineficincia e por suas atitudes autoritrias, Dom Pedro I foi alvo de crticas que desgastavam a ordem poltica instituda. A imposio da Constituio de 1824, o episdio da Confederao do Equador e o envolvimento do rei na sucesso do trono portugus figuravam os principais episdios responsveis pelo desgaste poltico de Dom Pedro.

    Dom Pedro I se envolveu nas disputas que rondavam a sucesso do trono portugus. A preocupao do imperador com assuntos de origem lusitana tambm instigou a reao negativa daqueles que duvidavam do compromisso do imperador para com as questes nacionais. Em 1830, as circunstncias obscuras que marcam o assassinato do jornalista Lbero Badar, franco opositor do Imprio, contriburam para o esfacelamento da imagem do poder imperial.

    No ano seguinte, a Noite das Garrafadas, embate ocorrido entre os defensores e opositores de D. Pedro I, acabou deixando a sustentao poltica do imperador precria. Para contornar a situao, criou-se um ministrio somente formado por brasileiros. Na semana posterior Noite das Garrafadas, o rei criou um novo ministrio liberal composto apenas por brasileiros. Em abril de 1831, em data prxima s festividades que comemorariam o aniversrio da princesa Maria da Glria, Dom Pedro I ordenou que seus ministros tomassem medidas contra possveis novas manifestaes de repdio. No tendo sua exigncia atendida, Dom Pedro tomou providncias destituindo o ministrio brasileiro e reintegrando antigas figuras polticas que apoiavam o autoritarismo monrquico.

    Quando a notcia sobre o novo ministrio chegou aos ouvidos dos populares, uma nova onda de protestos sitiou o Campo de Santana. A presso poltica exercida pelos manifestantes foi em vo. Empunhando um exemplar da constituio, outorgada, Dom Pedro reafirmou os artigos que lhe garantiam o direito de nomear e demitir ministros a qualquer hora. A intransigncia imperial s agravou a delicada situao. Os revoltosos do Campo de Santana passaram a ganhar expresso apoio de algumas autoridades militares do Imprio.

    Com apoio poltico reduzido, Dom Pedro I no viu outra opo seno renunciar. Na noite de 7 de abril de 1831, o rei entregou ao major Miguel de Frias a carta contendo a oficializao de sua renncia. No mesmo documento, o rei deixava seu filho Dom Pedro II como prncipe sucessor do trono brasileiro. Aos cinco anos de idade, Dom Pedro II teve seus poderes transferidos para um governo regencial, que duraria a at o alcance de sua maioridade.

    O PERODO REGENCIAL

    Perodo de Regncias ou Perodo Regencial um perodo da Histria do Brasil que marca a passagem entre o Primeiro Reinado e o Segundo Reinado. Esse perodo se inicia no ano de 1831, quando o imperador Dom Pedro I deixou o governo brasileiro e voltou para Portugal, seu pas de origem. Dom Pedro I deixou o Brasil porque, na poca, vrias de suas aes como rei foram duramente criticadas e o apoio poltico da populao diminuiu, chegando a ocorrer protestos contra sua presena no governo do pas.

    Ao deixar nosso pas, Dom Pedro I determinou que seu filho, o jovem Dom Pedro II, que ento tinha somente cinco anos de idade, seria herdeiro do trono brasileiro. Logicamente, o pequeno Dom Pedro II no tinha condies de tomar conta de um pas do tamanho do Brasil sendo ainda uma criana. Foi ento que o governo foi provisoriamente deixado nas mos dos regentes. Os regentes eram polticos da poca

    que assumiriam o lugar deixado por Dom Pedro I at que Dom Pedro II atingisse os dezoito anos de idade.

    Como Dom Pedro I deixou o governo do Brasil de forma inesperada, a primeira regncia foi organizada s pressas e sem nenhum tipo de escolha mais elaborada. Depois disso, os polticos brasileiros elegeram uma nova regncia formada por trs integrantes, sendo assim chamada de Regncia Trina. No ano de 1835, uma reforma poltica determinou que a regncia fosse assumida por apenas um regente eleito pela populao Regncia Una. Nessa poca, somente os que tinham uma renda mnima de 100 mil ris anuais o que representava uma parte muito pequena da populao tinham o direito de votar.

    Nessa poca houve muitos conflitos entre os polticos da poca. Uns desejavam que o governo continuasse forte e centralizado, como nos tempos em que Dom Pedro I se tornou imperador. Outros desejavam que as provncias brasileiras tivessem maior liberdade poltica para resolver seus problemas regionais. A oposio entre esses dois grupos acabou gerando grandes problemas e servindo de motivo para que vrias revoltas acontecessem. Entre tais revoltas, podemos destacar a Cabanagem, no Par; a Guerra dos Farrapos, no Rio Grande do Sul; a Revolta dos Mals e a Sabinada, ambas desenvolvidas na Bahia.

    REBELIES REGENCIAIS

    Farroupilha Rio Grande do Sul (1835-1840)

    Longa guerra civil comandada pela elite gacha, produtora de charque. A reclamao dos farroupilhas era a concorrncia do charque platino tendo como reivindicao a elevao dos impostos sobre o charque platino (protecionismo). Defendiam o ideal separatista. Os farroupilhas queriam proclamar as seguintes republicas: Rio-Grandense, com sede em Piratini (RS) e Juliana (SC). Os destaques desta revolta foram: Bento Gonalves, Davi Canabarro e Garibaldi.

    Em 1845, o governo imperial realizou um acordo com os farroupilhas. Os rebeldes assinaram a paz, mas exigiram: a) Aumento das tarifas alfandegrias sobre o charque platino. b) Anistia poltica. c) Indenizao dos prejuzos sofridos com a guerra. d) Direitos para soldados farroupilhas de ingressar para as tropas imperiais, ocupando os mesmos cargos.

    Cabanagem - Para (1835-1840)

    A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na provncia do Gro-Par (regio norte do Brasil, atual estado do Par). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres que moravam em cabanas nas beiras dos rios da regio. Estas pessoas eram chamadas de cabanos. No incio do Perodo Regencial, a situao da populao pobre do Gro-Par era pssima. Mestios e ndios viviam na misria total. Sem trabalho e sem condies adequadas de vida, os cabanos sofriam em suas pobres cabanas s margens dos rios. Esta situao provocou o sentimento de abandono com relao ao governo central e, ao mesmo tempo, muita revolta. Os comerciantes e fazendeiros da regio tambm estavam descontentes, pois o governo regencial havia nomeado para a provncia um presidente que no agradava a elite local. Causas e objetivos - Embora por causas diferentes, os cabanos (ndios e mestios, na maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se uniram contra o governo regencial nesta revolta. O objetivo principal era a conquista da independncia da provncia do

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    Gro-Par. Os cabanos pretendiam obter melhores condies de vida (trabalho, moradia, comida). J os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participao nas decises administrativas e polticas da provncia. Revolta - Com incio em 1835, a Cabanagem gerou uma sangrenta guerra entre os cabanos e as tropas do governo central. As estimativas feitas por historiadores apontam que cerca de 30 mil pessoas morreram durante os cinco anos de combates. Aps cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial conseguiu reprimir a revolta. Em 1840, muitos cabanos tinham sido presos ou mortos em combates. A revolta terminou sem que os cabanos conseguissem atingir seus objetivos.

    Sabinada Bahia (1837 - 1838)

    Movimento de curta durao, comandado por elementos das camadas mdias. Tinha como lder o mdico Francisco Sabino (da o nome "Sabinada"). O objetivo dos rebeldes era proclamar a Repblica baiense durante a menoridade de D. Pedro de Alcntara.

    Balaiada - Maranho (1838 - 1841)

    Contou com ampla participao da populao pobre: negros escravos, negros livres, vaqueiros e fazedores de balaios. Os principais lderes eram Raimundo Gomes, Manuel Francisco dos Anjos e o Preto Cosme. O movimento era desorganizado e no p