história da habitação e mobiliário · 2020-04-04 · shaker style, cujas linhas retas e sem...
TRANSCRIPT
História da Habitação e Mobiliário
Antonio Castelnou
EXTRA 01
Habitação Colonial
◼ Somente se pode falar em estilos coloniais a partir do século XVIII, já que no período entre 1500 e 1700, devido à forte influência europeia,
houve apenas importação e adaptação de modelos.
◼ Quando a supremacia política e cultural da METRÓPOLE foi finalmente superada, houve a possibilidade do aparecimento de versões
nacionais e criações originais, as quais puderam expressar certa identidade dos países coloniais.
◼ Durante os séculos XVII e XVIII, as colônias da Inglaterra, França e
Holanda reproduziram os estilos de viver e morar do velho continente; e adaptaram – ainda com
certo atraso – os estilos de decoração e mobiliário da Europa, predominando o
MANEIRISMO.
Rosalie Mansion(1820/22, Natchez MI )
Abraham Browne House(1696/98, Watertown MA - EUA)
◼ Do mesmo modo, os primeiros móveis fabricados
na AMÉRICA LATINA e BRASIL, desde o século XVI,
receberam a influência do estilos espanhóis e
portugueses através dos conquistadores e tinham, por isso, traços tardios do Gótico e Renascimento, sendo ainda mais simples e puristas nas
suas formas.
Pelourinho(Salvador BA - Brasil)
San Miguel de Allende(México)
Casa colonialespanhola
Estilos Coloniais Angloamericanos
◼ Fortemente influenciado pela Grã-Bretanha, o
interiorismo nos EUA do século XVII reproduziu os
estilos TUDOR, assim
como a casa inglesa tradicional, ocorrendo adequações devido ao
clima, madeiras nativas e ritmo da vida cotidiana, o que conferiu maior
praticidade e simplicidade.
◼ Os primeiros colonos dos EUA limitaram-se ao emprego dos móveis mais essenciais e úteis – arcas, camas, bancos e
mesas –, baseando-se na simplificação de modelos ingleses, os quais se tornaram mais leves e práticos em todo lugar.
Hoxie House(1672/75,
Cape Cod MA)
◼ No século XVII, além das influências espanholas e
francesas em algumas regiões, os americanos receberam grande contribuição com a
vinda dos puritanos ingleses
e irlandeses do navio
MAYFLOWER, os quais chegaram em dezembro de
1620, fundando novas cidades e implantado um estilo
simples e austero.
Parson Capen House(1683, Topsfield MA - EUA)
Mayflower(1620)
ShakerRevolving Chair
◼ Entre 1607 e 1733, fundaram-se as 13 colônias inglesas, que formaram três polos: ao Norte (Maine, New Hampshire, Massachusetts, Connecticut e Rhode Island); ao Centro
(New York, New Jersey, Delaware e Pensilvânia); e ao Sul (Maryland, Virgínia, Geórgia e as Carolinas).
Peak House (1680, Meadfield MA )
Josiah DennisHouse (1735,Dennis MA)
◼ Um estilo essencialmente norte-americano foi o
SHAKER STYLE, cujas linhas retas e sem ornamentos dos móveis revelavam os padrões
rígidos dos protestantes calvinistas: os shakingquakers ou shakers.
◼ Surgido a partir do século XVII, seu elemento mais característico foram os
travessões horizontais dos assentos (stretchers).
Roll Chair & Desk
ShakerInterior
Chair &Armchair
Chest-on-chest
Shaker Style
◼ No século XVIII, enquanto na Inglaterra já imperava o
Queen Anne Style, nos EUA surgia uma versão menos
luxuosa e decididamente mais prática do WILLIAM & MARY.
◼ Difundiram-se amplas poltronas com travessas torneadas; e cadeiras com característicos espaldares escalonados e
montantes verticais, derivados da Windsor Chair.
New EnglandStyle (Séc. XVIII)
Loveseat
Roll Armchair
Windsor Chair
American Tudor Style (Séc. XVII)
End table
Bench
◼ Entre os modelos com Ball feetmais apreciados estavam o highboy (cômoda alta com
uma série de gavetas de tamanho decrescente); o
lowboy (cômoda baixa de um ou dois níveis de gavetas);
chests of drawers e o kas(um armário maciço de origem
holandesa) todos feitos em caoba, arce e encina.
Highboy American William & Mary Style (Séc. XVIII)
Kas
Chests ofDrawers
Lowboy
◼ Em meados do século XVIII, o móvel colonial americano
encontrou seu apogeu, quando surgiram os pés em
forma de cebola (Onion feet) ou pincel (Brush feet) , além de concha ou esfera partida (Bandy Legs), em que as
pernas terminavam com uma breve curva para o exterior, semelhante à forma de um
pincel a ser pressionado contra uma superfície.
Bandy Legs
Lowboy
Highboy
Brush feetChairs
Onion feet
◼ Os estilos barrocos da Inglaterra (Queen Anne e Georgian Styles)
foram adaptados nos EUA, destacando-se os trabalhos de William Savery (1721-87),John Goddard (1723-85) e
John Townsend (1733-1809).
◼ Difundiram-se as cômodas (chests), as escrivaninhas
(desks) e as diversas mesas (round-tables, butterfly-
tables, tea-tables, etc.), todas decoradas com ricos relevos
(BLOCKFRONTS).
Highboy
Lowboy
Armchair
Chest
Buffet
Chest of Drawers
American Queen Anne Style
Secretary
Chairs
Highboy & Bed
Desk
Side table
◼ O Chippendale também encontrou sua versão nacional, destacando-se o nome de Duncan Phyfe (1768-1854),
que transformou e adaptou o estilo inglês até criar um próprio, do qual são características as mesas e as cadeiras
de pés côncavos e com o motivo da lira no encosto.
AmericanChippendale
Style
AmericanCamelback
Settee
Armchairs
Phyfe Chairs & Tables
American Georgian
Style
Chests
Chairs
Highboy
American Georgian RoomTable
Wingchair
Spool
Monticello (1772, Charlottesville VI - EUA)Thomas Jefferson (1743-1826)
◼ Nos EUA, entre 1790 e 1830, predominou o chamado FEDERAL STYLE; uma
vertente de fortes conotações políticas, cujo elemento principal foram as pernas esbeltas retas
ou em forma de sabre.
◼ Embora nacionalista, este estilo foi bastante influenciado tanto
pelo NEOCLASSICISMO inglês (Hepplewhyte, Sheraton e Adam) como pelo francês (Louis XVI e Directoire).
Caleb Cushing House(c.1808, Newburyport MA)
The John Sill House(1817, Old Lyme CT)
◼ Predominaram os motivos decorativos neoclássicos
(caneluras, rosetas e guirlandas), além de espaldares nas formas de escudo, roda ou
retangulares com talhas de losangos, balaústres ou liras.
◼ Não faltaram os móveis pintados ou chapeados em caoba,
dominando mesas e cômodas de pernas bastante delgadas.
Butterfly Table
Chests
Tables
Chairs
Federal Style
Settee
BureauChest
Armchair & Chair
Mirror
◼ John Henry Belter (1804-63) ficou famoso em Nova
York, a partir de 1844, devido aos seus móveis de salão em madeira encurvada, realizada com camadas superpostas de
palissandra entalhada.
◼ Com a chegada do ecletismo, na segunda metade do século
XIX, criaram-se CASAS VITORIANAS em pedra e madeira que se tornaram bastante típicas no Oeste.
John H. Belter (1804-63)
AmericanVictorian Style
Samuel Newsom (1852-1908)& Joseph C. Newsom (1857-1930)
Carson Mansion(1884/86,Eureka CA)
Estilos Coloniais Latino-americanos
◼ Nos séculos XVI e XVII, as colônias iberoamericanasimportaram os modelos europeus, que somavam
elementos mouros, góticos e renascentistas em
versões locais dos estilosISABELINO (Espanha) e MANUELINO (Portugal)
Reino Unido
Portugal
Espanha
AMÉRICA COLONIAL(1770)
◼ A habitação colonial espanhola adaptou-se aos
diferentes climas das Américas, apresentando alguns traços
característicos, como o emprego de pátios e varandas, além de amplos telhados e implantação
em tabuleiro de xadrez.
◼ Houve o aparecimento de móveis adaptados à vida na colônia, como assentos (silas
e silones), bancos, mesas, arcas e bargueños.
Balcones
Patio
1 Portada (Portón) 8 Cômodo masculino (Sala)2 Saguão (Záguan) 9 Cômodo feminino (Cuadra)3 Reja (Muxarabi) 10 Segundo Pátio4 Lojas (Tiendas) 11 Capela5 Primeiro Pátio 12 Criadagem (Recamara)6 Escadas 13 Quarto dos donos (Camara)7 Galeria fechada 14 Corredor (Chiflón)
X Horta e Depósito (Silo)
Implantação Urbana
Casa Virreinal(Casa Colonial Espanhola)
Balcones
Lima (Peru)
◼ Com a influência barroca e a exploração mineral, o
interiorismo latino-americano ganhou mais rebuscamento e
luxo, através de talhas elaboradas e aplicações.
◼ Tanto o Plateresco como o Churrigueresco encontraram grande difusão nas Américas,
principalmente nas colônias mais ricas, o que fez surgir um mobiliário mais curvo e
elaborado.
Armário
Poltronas de Reisadoalta e baixa
Mesa
Bargueño
◼ No caso das colônias lusas, a linguagem estética implantada foi o ESTILO MANUELINO, o qual se desenvolveu do
reinado de D. Manuel I (1495-1521) ao de D. João IV (1640-1656), de influências árabes, hindus e chinesas.
Casa-Grande(Sécs. XVI-XVII)
1 Capela2 Quartos de hóspedes3 Salão (jantar)4 Sala de estar5 Cômodo das mulheres
◼ Assim, pode-se dizer que o
ESTILO COLONIAL PORTUGUÊS correspondeu
à versão local do Manuelino, este adaptado conforme a matéria-prima e a mão-de-
obra disponíveis, mantendo-se as madeiras entalhadas e torneadas, os couros e as
ferragens rústicas.
Salão Manuelino(Sécs. XVI-XVII)
Contador
Pernastorneadas
Móveis em Jacarandá,Pau-Santo e Marfim
◼ De 1750 a 1777, o reinado de D. José I (1768-1844) produziu um estilo próprio
que se espalhou pelas colônias da Espanha e
Portugal, inclusive o Brasil.
◼ Fortemente influenciado pela França, este estilo
rebuscado apresentava um mobiliário com pés e
contornos entalhados, além de cadeiras e poltronas com espaldares recortados, de pés tipo “pata de burro”.
Meia-Cômoda
Mesa
Poltrona
Cômoda
Patasde burro
◼ Introduzido pelo colonizador português no século XVIII,
nosso Rococó manifestou-se principalmente na
decoração e mobiliário em Estilo D. José, que aqui
recebeu o nome de ESTILO POMBALINO, expressão mais delicada e refinada
que a arte anterior, ligada à classe dominante.
Estilo Pombalino(Séc. XVIII)
Cama
Mesa
Cômoda
Cadeira
Marquês de Pombal(1669-1782)
Casa Colonial Brasileira
◼ A habitação colonial no Brasil manteve seu partidoarquitetônico imutável por cerca de 300 anos, uma vez que as condições de vida somente se alterariam após a Independência (1822) e,
principalmente, com a República (1889).
◼ A condição de colônia, a dependência da mão-de-obra escrava e o papel feminino de submissão
foram alguns dos fatores que contribuiram paraessa estagnação no nosso país.
◼ No Brasil colonial, a relação homem/mulher era uma mera
relação de mando e obediência, sem contestação,
raramente atenuada com demonstrações de afeto.
◼ Restrito à reprodução e criação dos filhos, o papel
feminino ia além das tradições lusitanas, refletindo a clausura
de bases mulçumanas.
Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
Ilustraçõesde Debret
◼ Situadas nas periferias dos centros urbanos, as
CHÁCARAS COLONIAISpossuíam profundos alpendres;
paredes internas em gaiola(baixas e sem forro); e
dependências de serviços externas, incluindo grandes
cozinhas.
Casa Grande(centro do poder e moradia
do colonizador)X
Senzala(espaço dos escravos e área
de produção e serviços)
Ilustraçõesde Debret
Engenho
◼ A CASA URBANA, com
planta homogênea, feita em pedra, barro e cal, possuía telhado cerâmico em duas
águas, sem calhas ou qualquer sistema de captação pluvial.
◼ De partido uniforme, padronizado pelas Cartas
Régias ou posturas municipais, tinham previstos: o alinhamento, a altura dos pavimentos e o número de aberturas da casa, podendo ser térrea ou assobradada.
Paraty RJ
Salvador BA
◼ Dispostas em correnteza, as casas térreas eram
destinadas aos estratos sociais mais simples e possuíam piso em chão batido, cobertura em palha ou cerâmica e vedos em
adobe ou pedra entaipada.
◼ Os sobrados urbanos eram edificações estreitas, feitas em pedra e cal, para os mais ricos,
com o piso assoalhado e o térreo destinado a um
estabelecimento comercial (loja) ou acomodação de
carroças, animais e escravos.
Nova Viçosa BA
1 Loja2 Corredor3 Salão4 Alcovas5 Sala de viver
ou varanda6 Cozinha
e serviços
Sobrados urbanos (Sécs. XVI-XVII)
Pav. Superior Pav. Térreo
◼ Derivada de um conceito isolacionista e privativo do íntimo,
a ALCOVA brasileira
permaneceu ,até o século XIX, como o local exclusivo do repouso, sono e sexo, de
dimensões mínimas e mobiliário escasso.
◼ A arquitetura residencial não possuía preocupações formais,
somente funcionais, caracterizando-se pelo forte gregarismo, repetição de padrões e rebatimento de
plantas.
Plantas de casascoloniais brasileiras
◼ No partido arquitetônico da
casa colonial brasileira,
é possível identificar:
✓ Influências lusitanas (uso de paredes caiadas e portais coloridos, com nas regiões de Algarve e Minho)
✓ Influências orientais (emprego de beirais alongados e amplos telhados graciosos)
✓ Influências árabes (presença de alcovas, treliçados de madeira e paredes azulejadas)
✓ Influências indígenas (técnica da taipa e práticas de cozinha fora do corpo da casa)
Muxarabie
Balcões
◼ A cidade colonial era um centro de negócios que permanecia quase
sempre vazio, exceto em ocasiões especiais, sendo seu maior
problema o abastecimento, resolvido por pomares e hortas.
◼ A partir do século XVII, as entradas e bandeiras
possibilitaram o ocupação do interior brasileiro, fazendo surgir
um novo tipo de habitação, verdadeira recriação vinculada às
novas condições ambientais.
Ilustraçõesde Debret
Mercadode escravos
Casa Bandeirista
◼ No interior paulista, as condições diversas do litoral
e Nordeste, somadas ao isolamento e à mestiçagem cultural, possibilitaram um novo partido habitacional.
◼ O uso sistemático da taipa, a adoção de amplos beirais e a existência do antialpendre,
além de particularidades programáticas, caracterizaram um novo tipo de casa rural.
Sítio do Pe. Inácio Cotia SP (Séc. XVII)
◼ No período bandeirista, a hospitalidade era questão de sobrevivência, o que conduziu à criação do quarto de
hóspedes, ligado ao antialpendre. E a capela ou oratório particular era ideal para as rezas do clã agrícola (moradores,
índios, agregados e hóspedes).
Sítio do Pe. InácioCotia SP (Séc. XVII)
◼ No partido arquitetônico da
casa bandeirista,
é possível identificar:
✓ Influências lusitanas (volumetria alternando cheios e vazios, beirais
e telhas cerâmicas)
✓ Influências hispânicas (presença de varandas decoradas, balaústres
e rendilhados de madeira)
✓ Influências árabes(partido centrípeto, muxarabis, azulejos e pequenas aberturas)
✓ Influências indígenas (técnica da taipa, existência de
tacaniças e urupemas).
Fazenda Sto. AntonioSão Roque SP (Séc. XVI)
Casa Barroca
◼ O barroco brasileiro, mesmo apresentando um atraso temporal em relação ao
europeu e uma deficiência em diversas técnicas e materiais, possibilitou
recriações nacionais que simbolizavam o anseio pela
liberdade a partir de meados do século XVIII.
Ouro Preto MG
Diamantina MG
◼ Quanto à arquitetura residencial, alterações
gradativas ocorreram, como
a incorporação do PORÃOque se tornou habitável, além de mudanças no conforto e
ornamentação interior.
◼ Servindo de palco de eventos sociais, onde a mulher
passou a participar, a ÁREA SOCIAL se desenvolveu, passando de um único
aposento ou varanda para dois ambientes: uma sala de receber e outra de comer.
1 Sala de visitas2 Sala de jantar3 Dormitórios4 Pátio5 Sala de estar6 Sala de banho7 Cozinha e
dormitório de criados
Casaurbana
(Séc. XVII)
Janelas barrocas
◼ O uso de técnicas mestiças (brancas, indígenas e mamelucas) na cerâmica, tecelagem e construção, acabou
atingindo o espaço habitacional. Em paralelo, criou-se vestíbulos térreos situados ao lado das lojas dos artífices.
Cadeira D. José I(1750/77)
Poltrona D. João V(1706/50)
◼ A partir da vinda da Coroa Portuguesa (1808) e a
implantação do
NEOCLASSICISMO,
predominou no país a arquitetura historicista, que
reproduzia estilos e decorações do passado.
◼ A europeização levou a um novo modo de organização
dos espaços interiores, devido ao aumento da vida social e de privacidade das
áreas íntimas.
D. João VI (1767-1826)
EstiloD. João VI
Bibliografia
❑ BAYEUX, G. SAGGESE, A. O móvel da casa brasileira. São Paulo: Museu da casa Brasileira, 1997.
❑ LEMOS, C. A. C. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1996.
❑ POUNDS, N. G. J. O mundo doméstico. Rio de Janeiro: Abril, 1993.
❑ REIS FILHO, N. G. Quadro da arquitetura no Brasil. 8. ed. São Paulo: Perspectiva, 1997.
❑ UPTON, D. Architecture in the United States. Oxford UK: Oxford University Press, 1998.
❑ VERÍSSIMO, F. S.; BITTAR, W. S. M. 500 anos da casa no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro, 1999.