histórias de acesso à terra que geram qualidade de vida
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O Assentamento Darcy Ribeiro, localizado no norte de Minas Gerais, no município de Capitão Enéas é um bom exemplo de preservação do meio ambiente, convivência com o semiárido e acima de tudo, demonstração real de que quando o pequeno agricultor tem terra para plantar ele tem dignidade, fortalecimento dos seus direitos e a consciência de que o projeto de convivência com o semiárido permite vida digna.TRANSCRIPT
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº1605
Novembro/2014
Capitão Enêas
Histórias de acesso à terra que geram qualidade de vida
Acesso à terra no Brasil é um grande desafio,
principalmente com a imagem negativa que se
construiu em torno dos movimentos sociais que lutam
por este direito. Portanto, as histórias e memórias que se
seguem são exemplos de quanto é importante para
pequenos agricultores(as) terem acesso à terra para
produzir, tanto para a cidade quanto para o próprio
campo.
O assentamento Darcy Ribeiro, localizado no norte de
Minas Gerais, no município de Capitão Enéas tem
aproximadamente 1.651 hectares de terra. O acesso à
terra transformou, positivamente, a vida de pequenos
agricultores e agricultoras no norte de Minas, ao
garantir um direito constitucional fundamental para as pessoas tomarem consciência de que são
dotadas de direitos, e não somente de deveres.
Em uma roda de conversa no Assentamento, com Vicente de Paulo Cardoso, Valter Menez de Lima
(coordenador), Nelson Batista de Araújo, Jose Nunes Lopes, Maria Natalia Gonçalves de Abreu,
Geraldo Gonçalves de Araújo e Anilza Maria de Jesus de
Oliveira foram relatadas as histórias de luta, desafios e as
caminhadas feitas pelos agricultores e agricultoras para
garantirem o direito à terra. Nessas conversas os(as)
agricultores(as) traçaram uma linha do tempo, do que
era a vida deles(as) antes do assentamento e o que é
agora na condição de Assentados. Essa linha do tempo
demonstra essa transformação e a urgência em fortalecer
movimentos que lutam por direitos fundamentais. Antes
de conquistarem o Assentamento, os agricultores (as)
viviam em um contexto de negação de direitos. Nas suas
memórias expõem de onde surgiu a necessidade de
participar de um movimento social para conquistar o
direito à terra.
A sede do Assentamento: símbolo de conquistas
‘ ‘O Assentamento deu um novo sent ido a vida das pessoas’’ relata seu Valter Menez de Lima
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais
Afirmaram que a busca dos direitos surge da
necessidade de quem está na roça e não tem lugar para
ficar, ficando na beira da estrada, nesse sentido ter uma
terra em que possam produzir sem correr o risco de
serem despejadas.
Marcante nas histórias dos trabalhadores é a vontade de
participar do movimento devido a necessidade, segundo
eles, de tirar os trabalhadores das fazendas, ou como
eles dizem “nossa gente” das garras dos fazendeiros,
que os explora como escravos. Dona Anilza relatou que
antes do Assentamento, ao longo da sua vida ela vivia de
fazenda em fazenda, quando seus pais eram dispensados, e nem na escola ela foi quando criança.
Segundo ela, “não tínhamos nada, mesmo depois de casada fiquei vivendo em fazenda. O
movimento convidou meu marido e ele me perguntou o que eu achava, eu falei não temos nada
mesmo vamos acompanhar esse povo, passei por dois acampamentos não deu certo, fomos para a
beira da estrada até chegar aqui”. Seu Vicente relata que “quando me convidaram para o
movimento eu fiquei um pouco cismado, a coisa que eu mais preocupava era de passar fome,
porque eu trabalhava o dia para comprar um quilo de alimento outro dia, sofria mas tinha um
pouco que comer. Então eu perguntei qual era o meio de sobrevivência. Eles falaram que o dia que
não ferve comida na panela do acampamento, não é acampamento do movimento”. Esses relatos
demonstram o contexto em que esses pequenos agricultores(as) viviam de total negação de seus
direitos.
Em 29 de outubro de 2005 os agricultores(as) saem da condição de acampados(as) para de
assentados(as), ou seja, tem seus direitos reconhecidos e a partir do acesso à terra conquistam
outros direitos, como acesso à agua, através das
tecnologias sociais da Articulação Semiárido
Brasileiro (ASA), acesso às políticas públicas como o
Programa de Aquisição Alimentar (PAA), entrega de
biscoito, rosca, queijo, doce, bolo, cebolinha verde,
polpa de fruta – o Umbu é coletado na área de reserva
do assentamento. Hoje dona Anilza diz que no
Assentamento “eu tenho casa, galinhas, cabeça de
gado, meus filhos têm escola, pois o ônibus passa aqui
e pega as crianças, eu mesmo estou estudando no
Mova Brasil e tenho acesso à agua através da caixa”.
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