histÓria secreta do brasil - gustavo barroso vol 1

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Na "HISTRIA SECRETA DO BRASIL", prope o Sr. Gustavo Barroso desprender da complexidade das foras que trabalharam na preparao dos acontecimentos polticos do BrasiL aquela que lhe parece predominante, seno decisiva, e, portanto, suficiente para nos dar, desses fatos, uma perfeita compreenso. E uma sondagem profunda a que procede, a procura da verdade histrica ou melhor da "histria subterrnea dos acontecimentos". Ter o ilustre escritor encontrado o fio da meada? Ter o mergulhador conseguido trazer suas sondagens, a prola da verdade histria ou uma parcela da verdade? Nos dramas, representados por personagens conhecidos, nos largos cenrios das agitaes pblicas, ou nos palcos dos teatros polticos, ter seu olhar penetrado os bastidores? A todas essas perguntas que se reduzem, afinal, a uma s, respondero os seus leitores, que sero muitos e os seus crticos que sero bastante competentes para julgar da imparcialidade, segurana e penetrao do historiador brasileiro. certo que, como diz Disraeli, citado pelo prprio autor, "o mundo governado por personagens muito diferentes dos que imaginam os indivduos cujo olhar no penetra os bastidores". Mas, quantas vezes esses "personagens diferentes" longe de serem "causa", no passam de "instrumentos" das foras reais e profundas que governam os acontecimentos polticos? E quantas vezes, dada a com plexidade dos fenmenos sociais, e, da a dificuldade de ver claro, o que se aponta como bastidores reais, no mais do que a armadura de cenrios fabricada pela parcialidade ou erguida pela imaginao? Em todo caso, este livro que representa um grande esforo de pesquisa, realmente digno de exame e de reflexo, pela documentao abundante que nele se recolheu; e das discusses e divergncias que suscitar a sua leitura, poder saltar um pouco de luz sobre as "zonas de mistrio" de nossa histria. A presente a 1 de uma srie de 6 (seis) volumes que compe a obra completa da HISTRIA SECRETA DO BRASIL. O CONCEITO DA HISTRIA A histria no propriamente urna cincia; antes uma arte. Muitos espritos avanados do sculo XIX se esforaram para dar histria esse conceito cientfico. Havia a mais generalizada do cientificismo. Seus esforos, porm, como que se anularam ante a concepo atual da histria. O esprito do sculo XX outro e no admite mais esses exageros do cientificismo generalizado, querendo impor a todos os departamentos e categorias do pensamento humano seus canones empricos ou pragmticos. A investigao dos fatos, a fixao das datas, a interpretao das dvidas, o confronto e a anlise dos documentos, devem certamente obedecer a princpios rigorosamente cientficos. Mas a narrao dos acontecimentos e sua fixao precisa no tempo e no espao, no so a verdadeira histria, no formam completamente a histria. Alm disso, h coisa mais importante, substancial, a projeo dos homens e dos acontecimentos no espelho das pocas, como as idias de cada sculo, seu esprito, seu gnio prprio. So as mudanas dos aspectos intelectuais do mundo que transformam os critrios dos homens. Para que a histria deixe de ser uma cronologia seca, um rol de frmulas mnemnicas, necessrio ilumin-la com o esplendor solar das idias, com a luz maravilhoda da vida espiritual. Assim, a histria se reflete melhor na obra dos pensadores, escritores, poetas, dramaturgos e crticos do que na enumerao dos governantes, na srie das batalhas ou nos sales dos congressos diplomticos. Por isso, em geral, o que se aprende na histria so movimentos dos corpos sociais, ignorando-se a ao e a vida das almas sociais, das almas dos povos. A verdadeira histria seria a revelao da vida espiritual dos homens. "A histria obra representativa - escreve um mestre- e, portanto, deve ser uma obra de arte. No nego os mritos da investigao cientfica no campo da histria. Sobre essa investigao se identificaram os mais belos monumentos da arte, no gnero mais difcil entre os gneros literrios. Entre a obra de arte histrica e a investigao que lhe serve de base, h a mesma diferena que entre a anatomia e a escultura estaturia. O escultor precisa conhecer a fundo,

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cientificamente, a anatomia do corpo humano; entretanto, isso no o bastante para que sua obra seja considerada cientfica. Nas formas humanas representadas no mrmore, revela-se um esprito, na emoo e nos sentimentos expressos pelas atitudes e gestos da esttua". Esta pgina do magnfico livro "La Guerre Occult de Emanuel Malynski e Lon de Poncins termina com essas palavras profundas, que resumem a histria da humanidade nos ltimos tempos; "Ainda se tem em vista toda a hierarquia humana, quando o mundo comea a se afastar de Cristo, no Renascimento. Ainda se tm em vista os Prncipes e os Reis, quando se afasta do Papa e do Imperador, na reforma. Ainda se tm em vista a burguesia quando se tiram a nobreza Reis e Prncipes, que so os seus pontos culminantes, na Revoluo Francesa. Ainda se tm em vista o Povo, quando se ultrapassa o plano da Burguesia de 1848 1917. E no se tm mais em vista seno a borra social guiada pelo judeu, quando se vai alm das massas em 1917". Todo esse plano, em todas as naes, foi cuidadosamente elaborado e lentamente executado pelo judasmo, raramente descoberto e sempre embuado nas sociedades secretas. Judasmo e maonarias criaram um meio social propcio guerra do que est embaixo contra o que se acha em cima, desmoralizando e materializando a humanidade pelo capitalismo mamnico, dividindo-a e enfraquecendo intimamente pela democracia, separando-a e tornando-a agressiva pelo exagero dos nacionalismos, dissolvendo-a e descaracterizando-a pelo cosmopolitismo, encolerizando-a pelas crises econmicas e enlouquecendo-a com o comunismo. Conhecendo isso, que se pode dar seu verdadeiro carter aos acontecimentos histricos e mostrar a verdadeira fisionomia das revolues. At hoje se tm escrito histrias polticas do Brasil. Empreendo, neste ensaio, a histria da ao deletria e dissolvente dessas foras ocultas. At hoje se escreveu a histria do que se via a olho nu, sem esforo. Esta ser a histria daquilo que somente se descobre com certos instrumentos de tica e no pequeno esforo. a primeira tentativa no gnero e, oxal possa servir de ensinamento gente moa, a quem pertence o futuro. GUSTAVO BARROSO H duas histrias, a oficial, mentirosa, Ad Usum Delphini, e a secreta, em que esto as verdadeiras causas dos acontecimentos, histria vergonhosa. (Balzac, Les Illusions Perdues t.III)

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CAPTULO I O monoplio do pau-de-tinta Amanhecera o dia 25 de setembro do ano da graa de 1498 e o que ia acontecer teria repercusso mais tarde nos destinos do Brasil, que ainda no fora descoberto. A armada portuguesa de Vasco da Gama ancorara diante da costa baixa e emoldurada de palmeiras da ilha de Anchediva, a doze lguas de Goa. Das longas vergas e das inclinadas antenas das naus se desdobravam, secando lenta mente ao sol matutino, as lonas das velas em que a salsugem dos mares nunca dantes navegados esmaecera a cor vermelha das cruzes da Ordem de Cristo. Sobre o castelo de popa, lavrado de douraduras e eriado de falconetes 1 de bronze, fundidos nos arsenais de Gnova, o almirante conversava com os capites, olhando a faina de limpeza a que se procedia em alguns navios. No seu, a capitnea "S. Gabriel", contra-mestre e maruja preparavam as espias que deviam pux-lo at a praia lisa onde morriam, sorrindo em espumas, as ondas do Oceano Indico, a fim de ser raspada a carena crostada de mariscos e algas na longa travessia dos mares tenebrosos. O vigia do "S. Gabriel" assinalou um barco ao longe que se aproximou, arfando sobre a toalha azul das guas debaixo da concha muito azul do cu. Era um parau que vinha de Goa, tangido pela sua vela pardusca de esteira. Encostou a nau. Um homem galgou o portal e saltou no convs. Vestia-se de maneira hindu: munda cabea, terado cinta, brincos nas orelhas. O nariz adunco se encurvava para os beios midos e sensuais. Queria falar ao almirante a quem abraou, como se usa no Oriente, com expanses. Curvando-se em salamaleques, disse em pssimo italiano que era cristo levantisco, viera muito criana para as terras do mouro Sabayo, senhor da ilha e da cidade de Ga. Enquanto falava, seus olhos, midos e vivos, como os de um camundongo, espreitavam todo o navio, detendo-se, sobretudo, na artilharia, como a computar-lhe o nmero de peas e a fora de cada uma. Vasco da Gama sorria na sua barba aoitada pelo vento. De repente: - Mestre! Um portugus moreno e seminu, de farta bigodeira, de braos peludos e atlticos, levantou a cabea dentre us marujos que desenrolavam os cabos de cnhamo. E o almirante deu-lhe esta ordem: - Amarre este espio ao mastro e meta-lhe o calabrote! Num abrir e fechar de olhos, o levantino estava nu da cintura para cima, amarrado ao mastro grande, e um chicote de cabo alcatroado cantava-lhe nas carnes que se tingiam de sangue. - Eu digo toda a verdade! uivou o supliciado na sua algaravia. Os aoites pararam, o almirante aproximou-se e o homem disse a verdade: no era cristo nem levantisco; era judeu e natural da Polnia. Os azares de sua vida aventureira e errante haviam-no trazido ndia. O Sabayo mandara-o como espio, mas preferia servir aos portugueses. A armada do Sabayo era grande e poderosa, bem tripulada de rumens2 e bem provida de canhes venezianos... No dia 26 de setembro, a frota aos Lusadas fazia-se de vela para Portugal e levava a bordo o astuto e inescrupuloso judeu polaco, "por ser de grande experincia e muito conhecedor das coisas da ndia, o qual foi, mais tarde, batizado e recebeu o nome de Gaspar da Gama, sendo vulgarmente1 2

Pequenas peas de artilharia. Soldados muulmanos da India, mercenrios leva_n tipos ou turcos, Cf. Alberto 0. de castro, "A cinza dos myrtos", pg. 193; Dalgado, "Glossrio, Luso-Asitico, t. II, pgs. 264 e segs.

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conhecido por Gaspar das ndias. Este judeu conversava muitas vezes com El Rei D. Manuel, que folgava de lhe ouvir falar sobre as coisas da ndia, e lhe fez muitas ddivas e mercs. A Vasco da Gama e outros almirantes portugueses, Gaspar das ndias prestou inestimveis servios3. Dois anos depois, vestida de luto, como era de praxe na poca, quando as armadas iam em busca de terras desconhecidas, a corte manuelina assistia do eirado da torre de Belm a partida dos navios de Pedro Alvares Cabral. O judeu Gaspar embarcara na nau do capito-mor como lngua e conselheiro, hoje diramos intrprete e tcnico, em coisas e negcios das ndias. Seus olhos vivos e espertos, olhos de rato fugido dos ghetos da Polnia, viram o nosso Brasil no primeiro dia de seu amanhecer. Ao lado de Pedro Alvares Cabral, "de quem no se apartava", avistou o vulto azul do Monte Pascoal nos longes do horizonte, contemplou a terra virgem e dadivosa, a indiada nua e emplumada de cocares, assistiu a primeira missa celebrada por frei Henrique de Coimbra e ouviu a leitura da carta de Pero Vaz de Caminha. O judeu Gaspar da Gama fez toda a viagem de Pedrol vares Cabral: Moambique, Melinde, Cananor, Calecut, Cochim; tornou s ndias em 1502 e 1505 com seu padrinho, Vasco da Gama. Na ltima dessas expedies, encontramo-lo com o nome de Gaspar de Almeida, "por amor de Viso-Rei, de quem era estimadssimo", declara um panegirista dos judeus4. Por adulao e baixeza, afirmamos diante dos fatos. Batizado por Vasco da Gama, o israelita tomou, de acordo com o costume em m hora institudo por D. Manuel e que estragou, na judiaria, os grandes apelidos da nobreza lusa, o nome de famlia do seu padrinho; mas, quando a estrela do navegador se foi empanando ante a glria de Dom Francisco de Almeida, o poderoso Vice-Rei do Ultramar, o hebreu mesquinho abandonou o nome de Gama e adotou o de Almeida, sem cerimnia... Ao tempo do governo de D. Francisco de Almeida, o judeu Gaspar da Gama, de Almeida ou, simplesmente, das ndias, casou-se com uma judia, "grande letrada na lei". Veja bem como os Gama, os Cabral e os Almeida, no seriam ilaqueados na sua boa f de navegadores rudes e heroicos batalhadores pela lbia e a solrcia do judeu polons! Batizado, sua converso era to sincera que se unia, no a uma crist, mas a uma israelita ferrenha, talmudista praticante. Foi ela quem fez com que os judeus das sinagogas hindus comprassem as bblias hebraicas que vendia Francisco Pinheiro, filho do Corregedor da corte de D. Manuel, o doutor Martim Pinheiro, por mando deste, decerto cristo-novo ou cristo judaizante. O episdio mostra como os judeus secretamente, influenciavam as decises dos grandes navegadores5, manobravam nos bastidores da governao das Indias e at faziam proselitismo e propaganda religiosa atravs do prprio Corregedor da Corte magistrado cuja maior atribuio era perseguir ao judasmo. A histria, referida pelos cronistas, da arca de biblias, EM HEBRAICO, enviadas de Lisboa para a India, um tanto escura. No h, infelizmente, documentao que faa suficiente luz sobre o interessante assunto. A vinda do judeu Gaspar ao Brasil est iniludivelmente comprovada pelas instrues dadas ao capito-mor Pedro lvares Cabral, conservadas entre os documentos da Torre do Templo, que se referem pessoalmente a ele. Fugido s perseguies que, do meado do sculo XV ao comeo do XVI, se desencadearam na Polonia contra os israeli tas, cortara as gadelhas reveladoras de sua procedncia e afundara-se no Oriente, tendo alcanado s ndias, depois de viver em, Jerusalm e Alexandria. Segundo o autor das "Lendas da ndia", Gaspar Corra, o rei Dom Manuel noel recomendou que ele servisse com Pedro Alvares Cabral, porque lhe havia dado "muita informao das coisas da India".3

Solidnio Leite Filho, "Os judeus do Brasil" ed J. Leite & Cia., 1923, pg. 24 e 25. A documentao do resto do captulo est em Gaspar Corra, "Lendas da India", tomo I. Entre as mercs, segundo Damio de Gis, "Crnica d'E1 Rei D. Manoel", pg. 32. f-lo cavalheiro de sua casa, deu-lhe tenas, ordenados e ofcios. 4 Solidnio Leite Filho, op. cit., pg. 27. 5 C. Solidnio Leite Filho, op. cit. pg. 25. "A sua voz (do judeu Gaspar) foi sempre acatada nos conselhos dos capites". Na ndia, at o grande Afonso de Albuquerque, conforme depe Gaspar Corra, "Lendas da India", tomo II. pg. 177, muito se aconselhava com seu intrprete o judeu Hucefe. A tola confiana do cristo no judeu que permite a este dar os seus botes...

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Em Porto Seguro, quando as naus portuguesas lanaram ferros, no ano da Graa de 1500, o judeu procurou entender-se com os silvcolas, recorrendo s lnguas e dialetos que aprendera no Oriente. No se fez entender nem entendeu patavina. Mas compreendeu o que poderia valer a nova terra, na qual, se quisesse plantar, daria tudo, como anunciava o escrivo da feitoria de Calecut embarcado na Real Armada. Para no sermos taxados de fantasista ou parcial, da mos a palavra ao panegirista dos judeus, Sr. Solidnio Leite Filho, grifando suas afirmaes mais importantes: "Talvez por seu intermdio tivessem os israelitas percebido, desde logo, a importncia do novo descobrimento, que pouco impressionara o ambicioso esprito do Afortunado monarca portugus, cujas atenes estavam inclinadas para as riquezas da India. Aproveitando-se desta opinio conseguiram alguns cristos-novos, a cuja frente se achava Fernando de Noronha, arrendar a terra havia pouco descoberta. Sabiam eles PERFEITAMENTE que o comrcio do pau Brasil, por si s, os indenizaria das despesas6. Estes grifos auxiliam a clara viso do primeiro captulo da histria do Brasil, to diferente do que ns aprendemos nas escolas. Aos meninos e rapazes somente se mostra o palco e ningum se lembra de lev-los aos bastidores, onde os atores mudam de vestimenta e esto vontade. Aprende-se unicamente a aparncia da histria, que o melhor meio de ocultar a sua essncia. Na verdade, um judeu aventureiro da Polnia, apanhado por Vasco da Gama em flagrante delito de espionagem, adere aos lusos que o chicoteiam, batiza-se, toma nome fidalgo, casa com uma judia talmudista e vem, com Cabral, ao Brasil que examina em primeira mo. Os portugueses esto hipnotizados pela India, sonham epopias e conquistas. Ele no sonha nada, olha praticamente a vida, calcula todas as vantagens materiais. Que lhe importam os aoites amarrado ao mastro do "S. Gabriel" e a gua lustral do batismo? Por esse preo pagou o direito de assoprar informaes ao ouvido de D. Manuel o Venturoso e de dar hbeis pareceres, logo aceitos, nos "conselhos dos capites". Sua raa continuar a hipnotizar os lusos na conquista, navegao e comrcio da Etipia, Arbia, Prsia e India, a fim de que se possa enriquecer com os produtos que afloram por toda a vasta extenso da Terra de Santa Cruz, que um esforozinho de cartgrafos e cosmgrafos judeus, ou inspirados por judeus mais adiante mudar a Terra do Brasil7 (7). Compulsemos Capistrano de Abreu em suas notas a Varnhagen e este em suas notas ao "Dirio de Navegao" de Pero Lopes de Souza. O cristo-novo Fernando de Noronha, que tomara este nome fidalgo com a mesma desfaatez com que o judeu polnio tomara os de Gama e Almeida, em 1503 associado a outros cristos-novos, equipara uma frota e sara do Tejo, no ms de maio, rumo ao oeste. Navegao feliz. A 24 de junho, dia de So Joo, ps a capa sobre uma ilha penhascosa, de praias brancas, aqui e ali vestida de vegetao luxuriante. Os marujos deram-lhe o nom de So Joo devido data do descobrimento. Os israelitas mudaram-no, mais tarde, para o do prprio armador e comandante da frota, Fernando de Noronha. Como e por que vinham to cedo, mal findara a viagem redonda de Cabral e com eles conversara seu irmo Gaspar das Indias sobre as riquezas da nova terra? O judeu Fernando de Noronha e seus scios haviam arrendado o Brasil a D. Manuel, que continuava dentro do sortilgio, "deslumbrado com as maravilhas da sia". Pelo contrato de arrendamento, os judeus deviam mandar todos os anos seis navios ao Brasil, para explorar ou descobrir trezentas lguas de costa para alm dos pontos j conhecidos, fincando um forte no extremo em que tocassem. Esses navios poderiam levar qualquer produto para a metrpole sem pagar o menor imposto, tributo ou finta, no6

Op. Cit., pgs 36 e 37. Vejamos como sabiam perfeitamente. A 28 de abril de 1500, as equipagens de Pedro lvares Cabral descem terra para cortar lenha e pela primeira vez o machado dos civilizados retumba nos troncos das virgens florestas do Brasil. Cf. J. M. de Macedo, "Efemride Histrica do Brasil", Tip. do Globo, Rio. 1877, pg. 261. Nesse corte de madeira, com certeza, o judeu Gaspar descobriu o pau-brasil, pois conhecia, como prtico das coisas do Oriente, o verzino colombino de Ceilo. Nada disse Cabral nem ao Rei; mas informou os cristos-novos, seus irmos. No claro como gua?... 7 Simo de Vasconcelos. Mnica da Companhia de Jesus do Estado do Brasil". ed. A. J. F. Lopes, Lisboa, 1765, pg. XXXII, 9: "...Terra de Santa Cruza ttulo que depois converteu a cobia dos homens em Brasil,contentes do nome de nutro pau bem diferente do da cruz e de efeitos bem diversos",

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primeiro ano; pagando um sexto do valor, no segundo, e um quarto no terceiro. O prazo de arrendamento, como se v, era de trs anos8. No dia 24 de janeiro de 1504, D. Manuel fez doao da ilha de S. Joo a Fernando de Noronha, a qual foi confirmada por D. Joo III em 3 de maro de 1522. Desta sorte, antes de dividindo.o Brasil em capitanias hereditrias muito antes das primeiras concesses de sesmarias, origem dos primitivos latifndios, a coroa portuguesa alienava uma parte do Brasil, dando-a de mo beijada a um judeu traficante do pau-de-tinta, que era a anilina daquele tempo. Terminou o prazo de arrendamento da costa brasileira em 1506. Fernando de Noronha agenciou, na corte, sua renovao ou prorrogao, obtendo-a por dez anos, em troca do pagamento anual de quatro mil ducados, o que deixa ver que os lucros auferidos no comrcio da madeira de tinturaria, nico no amanhecer da vida brasileira, no tinham sido de desprezar. Alm da prorrogao, os judeus obtinham o monoplio do negcio, pois que o rei se obrigava a no permitir mais o "trato do pau-brasil com a India". Era, com efeito, do Oriente que vinha o pau-detin ta, berzi, ou verzino, segundo Muratori e Marco Polo. O descobrimento do nosso Pas, em verdade, graas s informaes levadas pelo astuto judeu que Vasco da Gama aoitara e conduzira pia batismal, tivera como resultado a formao, para empregar a linguagem moderna. de um TRUSTE DAS ANILINAS. Naturalmente, que era o monoplio do comrcio da madeira tintria, desde que o sapang de Java Ceilo fora corrido dos mercados europeus, seno isso? tan to assim que os navios do consrcio Fernando de Noronha carregavam por ano de nossas matas litorneas a bagatela de "vinte mil quintais da preciosa madeira"! 9. 0 primeiro carregamento foi levado logo em 1503, dois anos aps o descobrimento10. A famosa nau "breta", que em 1511 veio ao Brasil carregar o pau, batendo a costa at o Cabo Frio, foi armada e despachada por Fernando de No ronha e seus amigos11. Neste primeiro captulo da nossa histria, encarada por um mtodo novo e verdadeiro, se vem o palco e os bastidores. No palco: a armada de Cabral com as velas pendentes em que o sol empurpurava as cruzes herldicas; a cruz erguida na praia, diante da qual um frade diz a primeira missa; um padro cravado no solo virgem da terra descoberta em forma de cruz, a cruz nos punhos das espadas linheiras que retiniam de encontro aos coxotes de ao fosco; a cruz nas bandeiras aladas, os nomes de Vera Cruz e Santa Cruz impostos a toda a nova regio americana: o idealismo cristo, o herosmo cristo, o sentid cristo da vida, a propagao da F e a dilatao do Imprio que a gesta dos Lusadas cantaria com o ritmo do rolar das ondas. Nos bastidores, manobrando os cenrios e arranjando as vestiduras, o judeuzinho de Goa, o cristo-novo Fernando de Noronha, os Cristos-novos e israelitas do seu consrcio comercial, inspirados pela sinagoga e pelo kahal, realizando o lucro sombra do idealismo alheio; ganhando o ouro custa do esforo e do sangue dos outros, apagando o nome da Cruz com o nome do pau-brasil, o que indignou a Joo de Barros 12; usando a epopia da navegao e o poema do descobrimento para a fundao trivial de um monoplio de anilinas...

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Piero Rondinelli, "Raccolta Colombiana", 3Q pa. te, vol. II, pg. 121. Solidonio Leite Filho, op. cit. pag. 37: Leona_r do de Chade Messer in "Livro comemorativo do Descobrimento da Amrica", ed. da Academia de cincia de Lisboa. 10 Melo morais, Mnica do Imprio do Brasil", 1879, pg. 19. 11 Solidonio Leite Filho, idem, idem. Capristano de Abreu, "0 descobrimento do Brasil", pg. 267, Varnhagen, "Histria Geral do Brasil, 1 ed., I, pgs. 427432 "Dirio do Pero Lopes", Rio de Janeiro, 1867. 12 "Dcadas"... como que importava mais o nome de um pau que tinge panos que daquele pau que deu tintura a todos os sacramentos por que somos salvos...

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CAPTULO II O emprio do acar Passaram-se muitos anos antes que a coroa portuguesa desse f do Brasil. Monarca e povo "tinham os olhos ofuscados pelos resplendores das predirias do Oriente13". Esse pensamento repete-se de tal modo nos historiadores filo-judaicos que somos forados a admitir o propsito por parte dos judeus em conservar as atenes voltadas para outro lado, afim de poderem, vontade, no s tirar, sem grande trabalho, custa de bugigangas dadas ao ndio, milhares e milhares de quintais de pau-brasil, produtor de tintura, ou de canafstula produtora de mirra14, como de preparar uma espcie de refugio para a sua raa deste lado do Atlntico. "Aconteceu que os judeus foram obrigados a emigrar, aoitados por uma perseguio feroz (1506). Seu instinto mercantil adivinhara15 as riquezas naturais do Novo Mundo. Teriam aqui tranqilidade e segurana, o Santo Ofcio no os inquietaria 16". Tanto assim que a ordem dos Dominicanos, qual estava quase sempre afeto este tribunal, nunca logrou estabelecer-se no Brasil.Em todo o nosso vastssimo pas, no existe um nico convento de S. Domingos. O nmero e a influncia dos cristos novos impediram o funcionamento da Inquisio entre ns. Houve somente visitaes e quem l seus processos fica assombrado da persistncia do judasmo nos marranos convertidos e que viviam dentro da religio catlica com o simples fito de auferir vantagens. Alis, esse sistema vem do fundo dos sculos: em Roma, j havia os cripto-judeus ou judeus ocultos17 . Citemos dois exemplos elucidativos dessa persistncia: o cristo-novo Jorge Fernandes, que veio para c no tempo do segundo Governador-Geral, D. Duarte da Costa, e faleceu em 1567, antes de morrer pediu que lavassem e sepultassem o cadver segundo os ritos da sinagoga; o cristo-novo Afonso Mendes, vindo com Mem de S, costumava, s escondidas, aoitar o crucifixo... At freiras claustradas judaizavam...18. No Reino, as Ordenaes puniam com rigor os cristos -novos judaizantes. Num pas brbaro em vias de colonizao, as leis eram, naturalmente, interpretadas com maior benevolncia e liberalidade, permitindo o prprio meio, melhor defesa para os acusados, at mesmo a facilidade da fuga e da ocultao. Fechavam-se os olhos sobre muita coisa19 (7). "No admira, pois, que as famlias hebrias tivessem emigrado para a Amrica Portuguesa, onde, livres dos tribunais do Santo Ofcio, viviam na mais absoluta tranqilidade, guardando a lei de Moiss20". Vieram, assim, para o Brasil, nos primeiros tempos, os Guilhens, os Castros Boticrios, os Mendes, os Rabelos, os Antunes, os Valadares, os Bravos, os Nunes, os Sanches, os Diques, os Cardosos, os Coutinhos, os Montearroios, os Cirnes, os Ximenes, os Peres, os Calaas, os Teixeiras, os Rodrigues, os Barros, os Siqueiras. Anos e anos deslizaram sobre mui tos deles sem lhes abrandar a impenitncia talmudista. Continuaram, como rezam os documentos coevos, convictos, fictos, falsos, simulados, variantes, revoltantes, impenitentes, profluentes, diminutos, confluentes, negativos e pertinazes", merecendo as penas inquisitoriais21. Rodolfo Garcia22, acha que "O Caramuru", Joo Ramalho, Francisco de Chaves, o prprio misterioso Bacharel de Canania aquele castelhano que vivia no Rio Grande do Norte, entre os Potiguaras, com os beios furados como os deles, e tantos outros13 14

Solidonio Leite Filho op. cit. pag. 39. "Livro de Centenrio", I, 42 carta de Amrico Vespcio a Pedro Soderini. 15 O grifo nosso. 0 historiador diz adivinhara, porque no se lembrou do espio Gaspar da Gama, que veio reconhecer a terra e levou, em 1501, informaes sinagoga lisboeta. Em 1503, o pau-de-tinta j estava sendo carregado! 16 Pedro Calmon, "Histria da civilizao Brasilei ra", ed. da Cia. Editora Nacional, S. Paulo, 1933, pg. 12. 17 Chamberlain,"Die Grundlagen desneunzehnten Iahrhunderts". 18 Rodolfo Garcia, "Os Judeus no Brasil Colonial" in "Os judeus na Histria do Brasil", pgs. 13, 14 e 41, ed. do vendedor de livros judeu Uri Zwerling. Este isra_e lita fez o livro como propaganda judaica, mas, muito ignorante, coitado! aceitou o que lhe quiseram dar ea obra um repositrio de documentao anti-judaica. 19 Cf. Joo Ribeiro, "Histria do Brasil", pg. 78. 20 Solidnio Leite Filho, op. cit. pg. 46. 21 Vide "Primeira visitao do Santo Ofcio s par tes do Brasil" pelo licenciado Heitor Furtado de Mendona, ed. de Paulo Prado, 1922, 1925, 1929. 22 Loc. cit. pg. 10.

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desconhecidos - seriam, quem sabe, desse nmero de judeus, colonizadores espontneos das terras de Santa Cruz". Com efeito, "os navios que, enviados pela coroa portuguesa, aportavam s nossas plagas duas vezes por ano traziam somente judeus e degredados, com os quais se formou o primeiro ncleo de populao23". Isto confirma a suposio de Rodolfo Garcia, da qual s discordamos quanto a Caramuru. A religiosidade de Paraguassu, sua mulher, como que demonstra o esprito profundamente catlico do marido, o que no se d com os cristos-novos. Vede como Joo Ramalho, por exemplo, se obstina em no praticar o culto catlico e entra em luta contra os padres da Companhia de Jesus. O monoplio da madeira de tinturaria, habilmente con seguido por Fernando de Noronha e seu grupo, vivia de alimentar a desateno do rei D. Manuel quanto ao Brasil, levando-o a s dar tento aos negcios da ndia. Enquanto isso, por via da proibio do comrcio do pau-de-tinta com o Oriente, o consrcio judaico ia se enchendo de ouro. Cada quintal de madeira posto em Lisboa, ficava com todas as despesas, por meio ducado. Era vendido em Flandres por dois e meio a trs ducados 24. Lucro formidvel! Esse lucro atraiu, naturalmente, "a cobia dos corsrios europeus", sobretudo diepeses e malonos. Seus barcos percorreram a costa, arribaram as abras e enseadas, comercializando com o gentio e carregando o Brasil. No era mais unicamente o judeu luso que exercia a funo comercial de brasileiro. Outros a disputavam: franceses, alemes, espa nhis, ingleses, e, entre eles, muitos judeus dessas procedncias. A, os scios de Fernando de Noronha e ele mesmo, de certo, compreenderam que era necessrio reagir contra os piratas audazes, que vinham de Honfleur, Dieppe, Saint-Ma l, San Lucar, Corunha e outros portos para a Terra dos Papagaios, considerada res nullius. Para comerciar e lucrar, os judeus do grupo Noronha estavam sempre prontos; mas, para trocar tiros mortferos de bombarda e arcabuz de navio Onavio, no balano das ondas, ou saltar de terado em punho nas abordagens furiosas a bordo do barco inimigo, eles absolutamente no tinham sido feitos. Povo eleito para tudo, menos para a luta armada, o judeu segue o preceito do almud, que diz: "Na guerra s o ltimo a partir e o primeiro a voltar"... Todavia, como expelir aos piratas que prejudicavam o futuroso negcio da tinturaria? Era preciso apelar para o rei Afortunado, que perseguia o judasmo, mas se deixava influenciar pelos conselheiros hebreus, entre os quais o sabido Gaspar da Gama. Ele, sem dar por isso, ia servir para defender os ino Gentes cristos-novos que ganhavam o mnimo de dois ducados em cada quintal de pau-brasil. Era chegada a hora de entrar em cena o cristovelho -a fim de derramar seu sangue, batendo-se contra os corsrios que estavam prejudicando, grandemente, os lucros opimos do kahal... Eis porque, logo, o soberano voltou sua ateno para o Brasil. Os hebreus a desviaram, quando assira, era preciso; agora, a solicitavam."Foi graas aos israelitas - escreve seu panegirista 25 - que Portugal comeou j nos ltimos tempos de D. Manuel, a perceber a importncia da Terra de Santa Cruz". 0 rei observou tambm "os esplndidos resultados colhidos pelos hebreus em prejuzo do errio (14); e decidiu a colonizao do novo pas. Desde mais ou menos 1516, comeou a tomar medidas nesse sentido, bem como assecuratrias do comrcio do pau-brasil. Naquele ano, Cristovam Jaques vem com dois navios policiar a costa e fundar uma feitoria em Pernambuco, a qual floresce. Nela se faz a primeira experincia do plantio da cana-deacar, riqueza que, em breve, vai suceder da extrao da madeira de tinturaria. O ciclo da indstria extrativa vai desaparecer e ser substitudo pelo da indstria aucareira, cujo emprio enriquecia aos judeus e marcava o segundo perodo da histria colonial. Em 1530, Martim Afonso de Souza d caa aos corsrios franceses, reaviva o vestgio do domnio de Portugal, distribui povoadores, ba te a costa at o Prata e traa o primeiro contorno polti co da colnia26. Em canania, encontra servindo de li gua ou intrprete, o judeu Francisco de Chaves; em So Vicente, no meio dos goianases, o judeu

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Solidnio Leite Filho, op. cit. pg. 40. cf.W. Sombart "Oie Juden in des Wirtchafts'eben, pg. 34. Peragalo, "Memria do Centenrio", pags 83-84. 25 Solidonio Leite Filho, op. cit. pg. 40. (14) Idem. 26 Pedro Calmon, op cit pgs 13-15.

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Joo Ramalho. A se lanam os fundamentos de uma verdadeira colnia, a primeira que se construiu boa maneira portuguesa27". A coroa dava licena a quem quisesse tentar fortuna no Brasil, com a condio de pagar-lhe o quinto dos produtos; a Casa da ndia fornecia instrumentos de lavoura a quem desejasse ir povoar a nova terra; favorecia-se com os meios necessrios a quem fosse capaz de dar prin cpio a engenharia de acar28. No sculo XVI, o acar era raro e caro. At o achado do caminho das ndias, pelos portugueses, o pouco acar que chegava Europa vinha do Oriente, trazido e distribudo pelos venezianos. As populaes europias, na sua maioria, contentavam-se com o mel das abelhas para suas comidas e bebidas. S os ricos conheciam o acar oriental. Imagine-se a revoluo econmica produzida pela entrada larga do acar nos mercados em que antes no aparecia. J nas ilhas de S. Tom, Cabo Verde e da Madeira se cultivava cana; porm, na mo dos judeus, o Brasil iria ser o verdadeiro instrumento dessa revoluo, cujas ltimas cenas ainda esto se desenrolando em Cuba. Morto D. Manuel, D. Joo III prossegue no intuito de povoar colonizar o Brasil. Alm de fazer vrias doaes de latifndios a fidalgos ilustres e de confirmar outras, do seu antecessor, como a ilha de S. Joo ao cristo-novo Fernando de Noronha, dividiu o imenso territrio em doze capitanias hereditrias. Esses feudos de cinqenta a cem lguas de litoral foram concedidos e escolhidos capites cobertos de servios, como Duarte Coelho, Martin Afonso, Pero Lopes, Aires da Cunha, Pero de Gis e Vasco Fernandes Coutinho; a homens ricos, como Pero de Campos Tourinho; a altos funcionrios do Reino e outros, como Jorge de Figueiredo Correa, Fernando lvares de Andrade, Antnio de Barros Cardoso e Joo de Barros. A cargo dos donatrios das capitanias, deixou o governo real povoao e defesa das novas terras e dos estabelecimentos que montassem, o que no era coisa fcil pois os piratas costumavam destruir o que podiam. Em 1530, um galeo francs no arrasou o primeiro engenho de acar da Amrica, o do capito Pero Capico, em Pernambuco, fundado em 151629? A fazenda real no se podia consumir nesse servio e por isso largava em mos dos concessionrios todo o peso da colonizao. Dois deles meteram ombros empresa e suas capitanias progrediram: Pernambuco e S. Vicente. Outros abandonaram as doaes. Ainda outros apelaram para os judeus ou lhes venderam suas terras. "No podendo recusar trabalhadores, os capites-mores estenderam s pessoas de origem hebraica, os favores concedidos s demais. Fundados nos privilgios excepcionais que lhes davam doaes e forais, trouxeram algumas famlias israelitas30, tendo um dos donatrios contra tado com judeus laboriosos a montagem de engenhos em Pernambuco... Quando os capites-mores chegaram s suas terras, a encontraram, exercendo grande influncia sobre o gentio, vrios cristos-novos, vindo durante os trinta anos em que o governo portugus as deixara em quase completo abandono. Qualquer perseguio contra eles provocaria o dio dos ndios, o que tornaria dificultosssima, seno impossvel, toda tentativa de estabelecimento. Para a colonizao das capitanias, seu auxlio era, portan to, precioso e necessrio31". O exemplo de Joo Ramalho , desse ponto de vista, o mais concludente possvel. "Bastaria para demonstr-lo o dio que sempre teve pelos jesutas, mantendo contra eles uma luta incessante, o que naquela poca de fanatismo e submisso ao clero era de estranhar". O mesmo autor destas linhas, que judeu32, acrescenta: "Mas o que confirma incontestavelmente a origem judaica de Joo Ramalho deu origem a inmeras controvrsias. Grande nmero de historiadores negava-lhe todo valor, achando que se tratava de um trao sem sentido; outros afirmavam o contrrio, sem apresentar, porm, argumentos convincentes. No princpio deste sculo foi publicado um trabalho27 28

Idem pag. 14. Varnhagen, "Histria Geral do brasil", pg. 145. Solidnio Leite Filho op. cit. pg 41. 29 Pedro Calmon, op. cit. pg. 13. 30 Varnhagen, "Antonio Jos da Silva" in "Revista do Instituto Histrico", vol. IX pg. 114. 31 Solidonio Leite Filho, op. cit. pgs. 41-42. 32 Dr. Isaque Izeckson; "A contribuio judaica na formao da nacionalidade brasileira", in "Almanaque Israelita do Brasil", 5695-96, 1935 pg. 5.

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em que o Kaf de Joo Ramalho era apresentado como um signo esotrico, cabalstico, o que, apesar de no se prender bem ao caso, viria indicar que Joo Ramalho era um estudioso da Cabala, como a maioria dos judeus daquela poca (!). Hoje, porm, com os recentes estudos do Sr. Ben Israel, diretor deste almanaque 33, podemos afirmar que a questo se acha ple namente esclarecida e pela afirmativa. Trata-se de um Kaf, um verdadeiro Kaf sem sentido cabalstico e esse Kaf demonstra que Joo Ramalho era judeu, do mais puro sangue. O Sr. Ben Israel demonstra que todo judeu pertencente a estirpe dos "cohannin", plural de "cohen" (descendentes de Aaro, sacerdotes hereditrios do povo judeu), acrescentam; ainda hoje, sua assinatura duas letras hebraicas, um Kaf e um Tzedek, iniciais das duas palavras: "cohen tzedek", isto , cohen puro. Destas duas letras formou-se at um nome: Katz, que hoje o sobrenome de muitas famlias israelitas. O cohen que por qualquer modo infringe a religio no pode ser considerado puro e no tem direito a usar o Tzedek. Deve, portanto, limitar-se a assinar com o kaf, simplesmente. Ora, Joo Ramalho, que tinha casado com uma gentia, a filha de Tibiri, infringira as regras da proibio (que racismo!) e tinha deixado de ser um cohen puro,"cohen tzedek", tornando-se, um "cohen" simples, que s tinha direito a assinar com o Kaf. O sr. Israel demonstra, pois, cabalmente, que Joo Ramalho era um judeu, to consciente de seu judasmo que, apesar de isolado num mundo distante, no deixa de cumprir, na medida do possvel, os preceitos de sua religio Com isso fica afirmado que o movimento inicial para a formao da grande metrpole, que a So Paulo de hoje, foi um movimento promovido por um judeu. Ele no foi, porm, o nico. Tangidos pela inquisio, que ento era rigorosa em Portugal, inmeras famlias judaicas ou crists-novas, como ento se chamavam, vieram estabelecer-se na Paulicia. So de origem judaica os Pintos, Costas, Silvas, Pereiras, Castros, Salgados, Buenos, Mesquitas, etc.". A citao um tanto longa, mas preciosa, no pelo estilo, que horrvel, sim pelo documento que representa. Vemos por ela a infiltrao judaica no Sul, atravs de S. Vicente, subindo ao planalto piratiningano, do mesmo modo que a vimos no Norte, em Pernambuco. As duas capitanias que prosperavam, chamavam logo a judiaria. Mostra ainda essa pgina judaica seu racismo at em relao ao gentio, a persistncia dos ritos e dos estudos cabalsticos, o dio ao missionrio jesuta catequizador do indgena, que o judeu queria to somente escravizar para explorar-lhe o trabalho. A Amrica meridional era um timo refgio para os judeus convictos e para os disfarados. Vinham aos milhares Lendo a obra de Argeu Guimares, verifica-se o perigo social que representavam; infiltrados no prprio cerne do catolicismo. No ano de 1581, a Inquisio queimou em Lima dois padres portugueses idos do brasil, porque os mesmos praticavam o judasmo: frei Alvaro Rodrigues e frei Antonio Osrio da Fonseca. Nos primeiros sculos da nossa histria, houve um grande comrcio de ouro e prata, por terra, com o Peru. Os homens que se ocupavam dessa espcie de contrabando de metais preciosos, na maioria judeus eram at denominados peruleiros34. Muitos peruleiros judeus ou judaizantes foram pilhados pela rigorosa inquisio espanhola, em Lima, e levados fogueira. Entre outros, Baltazar Rodrigues de Lucena e Duarte Nunes, em 1600; Gregrio Dias, Diogo Lopes de Vargas e Duarte Henriques, em 1605; Diogo de Andrade, Joo Noronha e Manuel de Almeida, em 1625; Manuel Batista Pires em 1639. No se v pensar que o judeu entrou com entusiasmo na indstria do acar que nascia. Do mesmo modo que veio na sombra dos descobridores, examinar a terra e ver o que nela havia de mais facilmente aproveitvel - o pau-brasil esperou que o negcio do acar fosse desbravado por outros at chegar a um bom ponto. Eis como se explica a falncia dos primeiros edificadores de engenhos. Perdido o capital inicial, o judeu adquiriu os engenhos abandonados e, como neles no invertera as somas que os cristos haviam perdido, seus lucros teriam de ser muito grandes. Assim, agiria, mais tarde, com o ouro: o bandeirante audaz descobriria, aps mil tormentos, as lavras; eles se apoderariam delas, depois, pela traio. Toda a histria do Brasil assim: uma aparncia - o33

"Almanaque Israelita do Brasil": O trabalho sobre o Kaf de Joo Ramalho a que o autor se refere com essa fingida displicncia o erudito volume de Horcio de Carvalho "0 Kaf de Joo Ramaho" tip. do "Dirio Oficial", S. Paulo, 1903, com prefcio de Teodoro Sampaio . uma obra admirvel que revela os segredos da cabala judaica. 34 A obra de Argeu Guimares intitula-se: "Os cristos-novos portugueses na Amrica Espanhola". Sobre os peruleiros e o trfico da prata, vide "Dilogos da Grandeza ", ed. da Academia Brasileira, pg. 37 e 144;

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idealismo construtor do portugus, do mameluco e do brasileiro, dos cristos; uma realidade - o utilitarismo oculto do judeu, explorando as obras do idealismo alheio. Os agricultores e os guerreiros, diz o imparcial Joo Lcio de Azevedo, so os elementos produtores e construtores das ptrias. O judeu no nem agricultor nem guerreiro. Vejam o quadro dos desbravadores, dos bandeirantes do acar, pintado por Pedro Calmon35: " ..fracassaram todas as empresas de grandes cabedais, - incio do desenvol vimento mundial do comrcio - que se aplicaram a explor-los: ou porque os portugueses s sabiam trabalhar para si no para capitalistas, que, moda da Holanda, esperavam em Lisboa o seu provento, ou porque no se antecipara aos trabalhos um reconhecimento da terra e sua efetiva ocupao. Assim, em Ilhus, Lucas Giraldes, que comprou a capitania ao seu donatrio, fez edificar oito engenhos, e tan to foi roubado pelo feitor (que depois se estabeleceu no Recncavo com engenho prprio) como pelos Aimors, que tudo perdeu ... Em Porto Seguro, o duque de Aveiro, que adquiriu a capitania ao seu dono, igualmente mandou construir vrios engenhos que pereceram. Vasco Fernandes Coutinho donatrio do Esprito Santo e homem opulento, inverteu a riqueza qrangeada na India em engenhos poderosos, e de tal forma lhes atacou o gentio, que morreu sem lenol para mortalha. Desgraa maior ocorreu ao capito da Bahia, que gastou numa boa frota sua fortuna, comeou dois engenhos, teve-os demolidos pelos Tupinambs e acabou trucidado por eles". A indstria do acar, porm, progrediu admiravelmente em duas capitanias: Pernambuco e S. Vicente. Os engenhos eram movidos por gua ou por bois. A lavoura da cana era feita, primeiramente, pelos ndios escravizados, depois pela escravaria africana. Maquinrio simples, de fcil montagem, de mais fcil reparo e de custo relativamente baixo. Mo-de-obra abundante e barata. O acar comeou a criar para o judasmo negcio novo e lucrativo: o trfico dos negros. O acar era negociado com os mercados das Flandres desde 1532, quando Martim Afonso de Souza se associara ao holands Erasmo Schetz, cujo engenho sessenta anos mais tarde valeria quatorze mil ducados36. D. Joo III via com bons olhos essa nova fonte de riqueza ultramarina e mandava passar ao Brasil vrios lavradores de cana das ilhas da Madeira e Cabo Verde37. O fidalgo-agricultor, o gentilhomme-compagnard, o hobereau, riqueza social de todos os pases, ligado profundamente terra pela tradio, pela alma e pelo interesse encontrado sempre, no Brasil colonial, encabeando todas as iniciativas com sua coragem e seu idealismo. A sua sombra caminha agachado o judeu, negaceando, buscando o proveito de suas conquistas com o maior e menor risco possveis. Duarte Coelho quem manda, em 1549, buscar homens prticos, isto , tcnicos, no Reino, nas canrias e na Galiza sua custa, para montar os engenhos38. So homens de prol os que iniciam o plantio de cana na Bahia,vencendo todas as dificuldades 39. o nome usual de senhor de engenho, transmitido at nossos dias, tem um sabor de titulo nobilirquico.35

Pedro Taques, "Nobiliarquia Paulistana", ed. de Escragnolle Taunay, I, 245; Pedro Calmon, "Histria da Civilizao Brasileira", cap. o caminho do per, pgs. 76 e 77. De acordo com a documentao reunida por Alcibades Furtado em "Os Schetz da Capitania de S. Vicente", Rio de janeiro, 1914 creio que h um certo feitor judaico nessa dinastia de homens de negcios. Tinham casa bancria em Anturpia sob a firma Erasmus ende Sonen, Erasmo & Filhos, Erasmo comprou as partes da capitania de 5, Vicente de Martin Afonso e do piloto Francisco Lobo. Os Schetz estavam ligados ao banqueiro Joo Venistre ou Wenix de Lisboa. Um filho de Erasmo, Gaspar Schetz foi tesoureiro de Felipe II nos Paises Baixos. O Rei o enobrecera com ttulos e senhorios, o que os reis costumavam fazer com seus ecnomos judeus. Os filhos de Gaspar manejavam cabedais em Bruxelas.36

"Publicaes do Arquivo NacionaV, vol. xiv, 200; Ferrind Donnet. "Notes Llhistoire des emigrations des anversois". 37 Pedro Calmon, "Histria da Civilizao Brasileira", pg. 18. 38 Capistrano de Abreu, nota a Porto Seguro, i, 230-1. 39 Pedro Calmon, op. cit. 19. Valia a pena venc-las. Os lucros eram convidativos. Em 1699, um quilo de acar valia 2 mil ris no porto da Bahia, "preo fabuloso para poca". Cf. Escragnolle Taunay, "Na Bahia Colonial", separata da "Revista do Instituto Histrico Brasileiro", Imprensa Nacional, Rio de janeiro, 1925, pags. 303.

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Diz o "Dilogo das grandezas" que o soberano o dava em cartas e provises40. Assim se formou a nossa primeira aristocracia rural. A esse novo feudalismo no faltou at uma das mais comuns e interessantes instituies de carter socialista da Idade Mdia: a banalidade. Havia os "engenhos reais", idnticos ao lagar do prncipe" em Portugal ou ao "moulin banal" da Frana, destinados a moer a cana da gente pobre, que plantava sem ter engenho41. O acar espalhava-se por toda a Europa que o consumia com avidez, tantos e tantos sculos fora privada de coisa to deliciosa, dependendo a sua pastelaria do mel das abelhas! Que estupendo pas esta Terra dos Papagaios, ou do Brasil, surgida do seio do Mar Tenebroso! Dali vinha a madeira corante que tingia os panos flandrenses. Dali vinha mais o doce, coisa rara, cujo preo dobrava, triplicava nos mercados flandrinos, onde pontificavam, depois dos judeus do paubrasil, os judeus do acar brasileiro. Os Paises-Baixos, como Nova York hoje, eram a Judia da poca. Pinta o quadro um historiador que ningum poder taxar de anti-semita, mas que conhece a documentao em que alicera suas afirmativas: Os judeus que vendiam acar enriqueciam a termos de estender-se a cultura pelos Aores e Canrias, febrilmente fomentada, a ocupar grandes organizaes financeiras que teciam, entre as vrias praas europias, a rede de crdito 42. Duarte Coelho contou em Pernambuco com o auxilio daqueles capitalistas comissrios43; Subrogavam-se nas responsabilidades do governo para intensificar, criar uma economia, que lhes devolveu em altos juros os cruzados do emprstimo44. No houve melhor negcio na poca e aos impulsos dessas cobias resolveu Joo III dar ao Brasil um governo regular. Em 1549, depois de ter comprado aos herdeiros de Francisco Pereira Coutinho a capitania da Bahia, mandou Tom de Souza fundar a capital da colnia.45 Desta sorte, a primeira cidade e o primeiro governo resultam do comrcio aucareiro, que os judeus internacionais manobram das Flandres por meio de uma rede de crdito. A emigrao israelita, que fugia Inquisio peninsular, bifurcava-se para as Indias e para o Brasil. Estabelecido o Santo Oficio em Goa, a corrente veio toda para ns. A esse sangue judaico, que inmeras vezes se misturou ao sangue cristo, deve qui a maioria dos brasileiros os defeitos que lhes so apontados: falta de fixidez no carter, inclinao a no levar nada a srio, capacida de de deformar todas as idias, indisciplina inata e pri-zer do despistamento. Muitos judeus permaneceram puros at nossos dias, fingindo-se mesmo de cristos, mas conservando s ocultas a f talmdica, praticando os ritos, judaizando, como diriam os inquisitores 46. Outros se fundiram na conscincia e na raa, exemplo raro, talvez nico no mundo inteiro. O Brasil absorveu-os completamente. Tantos milhares de hebreus se encaminharam para nossa terra que, em 1532, D. Joo III proibiu a sada dos cristos novos do Reino com mudana de casa e venda de propriedades, sob graves penas. Eles porm, continuaram a fugir para c, forando o governo real a novos alvars de mais rigorosa proibio, em 1567. Dez anos mais tarde, premido pelas necessidades de dinheiro para a infeliz jornada de Africa, D. Sebastio revogou as proibies por duzentos e vinte cinco mil cruzados que lhe pagou o Kahal de Lisboa, o que motivou uma representao da Inquisio ao poder real, em 1578. O cardeal D. Henrique revalidou os atos de D. Joo III47. A enxurrada judaica encheu o Brasil que amanhecia, atirando-se aos negcios de mascate, de acar e de escravos. Dia a dia, o nmero de israelitas crescia nos primitivos ncleos da40 41

Edio da Academia Brasileira, pg. 33. Frei Gaspar da Madre de Deus, "Memria para a Histria da Capitania de S. Vicente", ed.-Taunay, pg171 42 Data de longe o internacionalismo do capital judaico ... 43 bem claro, manifesto, o papel do judeu como intermedirio. os grifos em toda citao so nossos. 44 Velha e conhecidssima tcnica. A histria precisa ser lida s vezes, nas entrelinhas. Quanto segredo escondido! "Fundemo-nos todos em haver dinheiro, porque, quer seja nosso, quer seja alheio, Deus verdadeiro". Gil vicente "Obras", ed. Mendes dos Remdios, tomo I pg. 182. 45 Pedro Calmon, op. cit. pg. 19. 46 As visitaes do Santo Ofcio citadas e o livro de Mrio Sa. "A invaso dos judeus", demostram a permanncia do judasmo e do judeu dentro das populaes de Portugal e do Brasil. Em 1714, o viajante Frezler observa que a devoo religiosa na Bahia servia "para capear o judasmo," pois estava a Bahia repleta de judeus. "Havia bem pouco, depois de longos anos"de falsa devoo exterior, fugira subitamente para a Holanda um vigrio carregando as alfaias de sua igreja e, uma vez ali, chegado, mostrara o que era, correndo sinagoga". Taunay. "Na Bahia Colonial", pg. 345. 47 Solidonio Leite Filho, op. cit. pags. 47-48.

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populao. Suas sinagogas, que o povo denominava esnogas, multiplicavam-se. Havia-as em casas particulares, como a de Matuim, na Bahia, na residncia do cristo-novo muito conhecido Heitor Antunes. Havia-as nos prprios engenhos, como a do cristo-novo Bento Dias de Santiago, em Camaragibe, onde, nas luas novas de agosto, em carros enramados, os judeus da terra iam celebrar o YOM KIPPUR e outras cerimnias do rito judaico"48. As qrandezas do Brasil servem aos dilogos judaicos. O Brandnio dos "Dilogos das Grandezas do Brasil" era o judeu Ambrsio Fernandes Brando, ex-feitor do engenho sinagogal de Bento Dias de Santiago, onde tambm fora empregado o cristo-novo Nuno Alvares, "por ventura o interlocutor Alviano dos referidos dilogos"49, como feitor dos dzimos reais que o seu patro arrematava, consoante o velho hbito dos publicanos hebreus. Essa judiaria do primeiro sculo do ciclo de negcio do acar, adorava trancilamente, apesar de batizada, o Deus de Israel50. Eram todos como aquele Diogo Fernandes, natural de Viana, a quem se referem os documentos, o qual, na agonia, quando lhe diziam que chamasse por Jesus Oirava sempre o focinho e nunca o quis nomear51. Depois de cado Portugal sob o dominio Espanhol, o nmero de familias judaicas no Brasil no cessou de aumentar52. No reinado de Filipe III, o alvar de 4 de abril de 1601, conseguido pelo Kahal a peso de ouro, e a bula papal de 23 de agosto de 1604, que custou judiaria um milho e seiscentos mil cruzados, permitiram aos cristos-novos deixar as terras peninsulares e sair dos crceres inquisitoriais. Mal se apanharam soltos, foram vendendo o que tinham e fugindo. Assim, quando veio a cobrana do que haviam prometido dar pelo alvar e pela bula, o rei no conseguiu receber nem a metade. Indignado, o soberano revogou a licena de salda e estabeleceu a obrigatorieda os dos engenhos brasileiros. Da Holanda se mandavam por ano, para o Brasil, 3 a 4 mil Biblias em hebraico, como j vimos que eram mandadas para a India, o que documentam as denunciaes do Santo Oficio. Para o Brasil e para a Europa, o sculo XVI fora o do pau-de-tinta, das anilinas, por assim dizer; o sculoXVII foi o do acar. Nas primeiras dcadas do centenrio, o desenvolvimento da indstria aucareira se tornou impetuoso53. Em 1610, segundo um viajante observador, era o nico meio de vida 54. Os preos subiam ao ponto de criar nos senhores de engenho esse delirio de gastos, grandezas e luxo, que vimos contemporaneamente nos donos de seringais da Amaznia e nos fazendeiros de caf ... o que dizem os cronistas: Cardim, Soares, Barlaeus, Frei Vicente. Segundo os estudos de J. Lcio de Azevedo55 , em 1610, a produo de acar foi de 735 mil arrobas, no valor de 1500 contos, soma respeitvel para a poca. O trabalho braal do escravo, a fortuna dos fidalgos e sua iniciativa, bem como as de outros portugueses cristos, criaram no Brasil o Emprio do Acar56. Nas trevas, unidos os de Portugal, os da colonia nascente e os da Holanda pelos seus Kahals, os judeus exploram essa riqueza como intermedirios, armadores, especuladores, fornecedores de capitais, onzeneiros cruis57. Mas isso ainda no bastante para eles:precisam apoderar-se do emprio, domin-lo completamente, fazer pesar sua mo-de-ferro sobre os ricos e senhores de engenho, orgulhosos de sua linhagem e de sua crena, e tirar vingana dos soberanos peninsulares, arrancando precioso floro de sua coroa. Os48 49

Rodolfo Garcia, loc. cit. pg. 49 Idem pg. 20. 50 Solidonio Leite Filho, op. cit. pg. 48. 51 Rodolfo Garcia, loc. cit. pg. 18 52 Solidonio leite Filho, op. cit. pg. 49. Os portugueses da Bahia eram geralmente de raa judia, observou o viajante Froger, no fim do sculo XVII. Cf. Taunay, "Na Bahia Colonial, pg. 291. Por isso, antes dele, diz outro viajante, Pyrard de Laval, eram na maioria, criminosos ou falidos. Como a indstria judaica de falncia antiga! Cf. op. cit. pgs. 251. 53 Pedro Calmon, op. cit. pg. 79. 54 Pyrard de Laval, "Voyages", Paris, 1615, pg580. 55 "pocas de portugal Economica, pg. 271 56 Vide as acusaes do judeu Joo Nunes: Largo de consciencia", me matria de usura, in Rodolfo Garcia, loc. cit pg. 17. 57 Pedro Calmon, op. cit. pg. 52.

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Estados Gerais da Holanda, regorgitando de ouro judaico58, podiam iniciar a desagregao do imprio colonial luso-espanhol, conquistando o Brasil, terra do acar, e Angola, terra do escravo que plantava a cana, aqum e alm Atlntico. Que tm sido sempre o judeu seno o fermento desagregador dos imprios e das civilizaes? Ele faltaria ao chamamento do seu destino, se no tentasse abocanhar o emprio do acar, com expedies pagas e companhias organizadas com o dinheiro ganho com o prprio acar...

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"A influncia dos negociantes israelitas estendia-se ao engenho produtor, firma embarcadora, ao intermedirio de Lisboa a quem era consignada a mercadoria, s praas consumidoras do centro e do sul da Europa. Quando a Espanha se colocou de permeio entre os engenhos do Brasil e os compradores flamengos, estes imaginaram a organizao de uma companhia-mercantil de conquista e empreendem a guerra de 1624-1654". Pedro Calmon, "Espirito da Sociedade Colonial Companhia Editora Nacional So Paulo, 1935, pg. 36. Cf. Frei Vicente do Salvador, Histria do Brasil, 3 ed. pg. 404.

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CAPITULO III O trfico de carne humana DEPOIS de haver sido a terra do pau-de-tinta, o Brasil era o acar e o acar era o negro, afirma documentado historiador de nossos dias59. Est de acordo com o velho cronista Antonil que assegura serem os escravos ps e mos dos senhores de engenho60. a mesma opinio que se encontra no Breve discurso sobre o estado da quatro capitanias conquistadas": sem escravos,os engenhos no podiam moer. Monocultura latifundiria, a da cana de acar, exigia enorme massa de escravos61. Florescia, pois, o comrcio de carne humana medida que prosperava a Indstria aucareira. O suor do negro cimentava a riqueza do segundo ciclo da colonizao. Ligados, o comrcio de escravos e a produo do acar, acabariam caracterizando toda a economia ultramarina62. A escravizao do indio, tupi ou g, realizada a principio brutalmente; depois, legalizada pelas famosas cartas-rgias, pelos alvars e provises das guerras de corso e pelas condenaes ao cativeiro63, no satisfez as exigncias de mo-de-obra para o plantio e moagem da cana. O indio furtava-se pela fuga, pela resistncia, pela selvatiqueza e pela prpria morte ao trabalho braal, ao papel forado de coolie a que o colonizador o queria submeter. Era inadaptvel e indomvel. Morria aos montes, de clara o padre Antnio Vieira. E sua captura custava maior desperdicio de gente e de esforos do que a obteno do transporte dos negros da Africa64. Demais, o catequizador, alando a cruz, defendia o indigena e o aldeava. Por isso, segundo Gilberto Freyre, os jesuitas eram "inimigos terriveis dos senhores de engenho65". A luta entre padres e escravizadores foi longa e spera. Comeou em Piratininga com o judeu cohen Joo Ramalho e terminou, infelizmente, com a vitria dos escravizadores. Foi mais acesa em So Paulo, porque ali o sitio merecia melhor acolhida imigrao judia66. No Norte, os senhores de engenho viviam endividados67, presos usura judaica. O judaismo os manobrava e forava a lanar mo do operrio africano, que os negreiros, tambm enfeudados a Israel, iam buscar do outro lado do oceano Atlntico. Assim, desde os albores do ciclo do acar, comeou o emprego da mo-de-obra negra. O horror atividade manual e a instituio do trabalho escravo, ambos caracterizadores das colonizaes peninsulares, tiveram como primeiros impulsionadores os judeus de Portugal68. A metrpole estava sob o dominio judaico, que se exercia atravs de uma rede de crditos, do giro de fundos, das alianas de sangue, do exercicio dos cargos tcnicos, da usura, da agiotagem, da corrupo, da prpria influncia dos mdicos, na quase totalidade hebreus, no seio das familias, influncia que contrastava at a dos capeles, curas e confessores69. Ali, desde o recuado tempo das monarquias visigticas, os judeus haviam se especializado no comrcio de escravos70. O que estava de pleno acordo com o cdigo judaico CHOSCHEN HAMISCHPOT, em 227,26:

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Gilberto Freyre, Vasa Grande e Senzala", 22 ed Schimidt, Rio, 1936, pg. 196. Andr Joo Antonil. Vultura da Opulncia do Brasil por sua drogas e mina V, ed. Taunay, S. Paulo - Rio, 1923. 61 Gilberto Freyre, op. cit. prefcio, pg. XII. 62 Pedro Calmon, "Histria da Civilizao Brasileiro, pg. 29. 63 Gustavo Barroso, Mias e Palavras", Rio, 1917, cap. Cartas Rgias Alvars e Provisnes, D. Domingos do Loreto Couto, Mesagravos do Brasil e Glrias de Pernambuco, ed. da Biblioteca Nacional, Rio, 1904 pg. 69. 64 Joo Lcio de Azevedo, "Os jesutas no Gro-Par 65 Op. cit. prefcio, pg. XVIII, e pg. 135. No seu livro "O templo Manico, o maon Dario Veloso tem a desfaatez de dizer que eram os jesutas que escravizavam os ndios ... 66 Paulo Prado, "Paulstica". 67 Gilberto Freyre, op. cit. pg. 39. 68 Idem, idem pg. 165. 69 Varnhagen, "Histria Geral do Brasil". 70 Chamberlain, "Die Grundlagen des neuenzehnten Iahrhunderts".

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" permitido explorar um no-judeu, porque est escrito que no permitido explorar seu irmo71. Como negar ainda a intromisso judaica no trfico de carne humana, quando um judeu de nota declara textualmente que: No h exagero em afirmar que no h quase fato histrico de importncia nos quatrocentos anos de vida nacional, no qual no tenham influido ou colaborado, s vezes proeminentemente, elementos de raa hebraica72. Ora, que fato de maior importncia histrica para ns do que a escravido? O comrcio de escravos to fundamentalmente semita que sempre foi denominado trfico fenicio". Visando os lucros fceis do comrcio de escravaria, por si e pelos seus prepostos, a judiaria de Espanha e Portugal se entregou ao trfico. Toda a Europa, depois seguiu o horrivel exemplo 73. O acar exigia braos negros para enriquecer o judaismo sem entranhas, que manobrava a sua produo e seu comrcio, tanto nas praas da metrpole lusitana como nas bolsas das cidades flamengas. Os judeus portugueses, na quase totalidade, possuiam cabedais nas companhias mercantis dos Paises-Baixos74. Uma simbiose de interesses e finalidades unia as sinagogas de Lisboa e do Porto s de Roterdam, Amsterdam, e Anturpia. As Flandres protestantes e revs casa de Austria eram o refgio natural do ouro judaico e das pessoas judacas, as quais tinham suspenso sobre a cabea, cqntnuamente, na Peninsula, o gldio vingador do Santo Oficio. H uma correspondncia constante entre o judaismo que age no Mar do Norte e o judaismo que age no esturio do Tejo. Dentro da histria dos tempos coloniais, impossivel tratar de um sem ter o outro em conta. Ambos se articulam no sentido vingativo de destruir a riqueza, de abater o prestigio e de minar a fora dos reis catlicos. Um dia, quando as circunstncias se mostrarem favorveis, com as armas dos mercenrios holandeses, os judeus se lanaro sobre a presa cobiada. Amsterdam, declara o escritor judeu E. Eberlin, era uma Nova Jerusalm, onde se haviam acolhido os israelitas expulsos da Espanha em 1492, de Portugal em 1497 e 1498, de Npoles em 1519, de Gnova e Veneza em 155075. A sua sinagoga chamava-se Casa de Jacob e foi clebre. O negcio de escravos se torna o mais lucrativo e amplo da terra" 76. Rgulos e sobas de Dahomey, de Angola, da Serra Leoa, do Congo e da Guin vendiam os prisioneiros capturados em suas razzias bestiais ou os prprios compatriotas condenados, por certos crimes, escravido. Vendiam-nos por bzios que serviam de moeda, por fumo em corda, por um galo de aguardente. Trs rolos de fumo bastavam para pagar um negro forudo. Com essa massa negra se atulhavam os infectos pores dos horrendos navios negreiros. E cada escravo custava no Brasil, nos primeiros tempos, 150 a 200 mil ris. Na segunda metade o sculo XVI, comeou o infame negcio, que durou trs sculos. Trouxeram negros da Guin, do Congo, de Angola, doSenegal, do Sudo, da Hotentcia e de Moambique. O grande entreposto era a baa de Cabinda 77. De 1575 a 1591, somente de Angola vieram 52.053, favorecidos por uma reduo de direitos78. Barbinnais calcula as entradas de escravos em 15 mil anualmente79.

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Werner Sombart, "Le Bourgeois", pg. 323. Dr. Isaque Izecksom. "A contribuio judaica na formao da nacionalidade brasileira" in "Almanaque Israelita do Brasil, ed. Samuel Weiner, Rio 1935. 73 A. Cochin, Mabolition de llesclavege", Paris, 1851, vol. II pg 281 74 Joo Lcio de Azevedo, "Histria dos cristos novos portugueses, pg 183 e 186. 75 E. Eberlin. Nes juifs dlaujourdhui", ed. Rieder, Paris, 1932, pg. 36. 76 Pedro Calmon, op. cit. pg. 26. Os judeus no podiam deixar de lado negcio to amplo e lucrativo. E no o deixaram. Leiam-se estes trechos de um Memorial de 1602 citado de Mrio Sa, "A invaso dos judeus", pg. 75: "Havero os da maam (os judeus) mais o contrato dos negros da Guin ... feitores cristos-novos que tm arrendado o comrcio da provincia da Guin, Santo Domingo, Rio Grande; e esto por senhores destas partes, aonde contratam com os negros, e haver nestes dois pontos e terra, de gente perto de mil vizinhos que resgatam negros para mandarem s Antilhas ... 77 Visconde de.paiva Manso. "Histria do CongU, Lisboa, 1877, pg.04. 78 Idem, pgs. 84 e 140. 79 "Nouveau voyage autor du monde", Paris, 1728, pgs. 111 e 181.

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Segundo o alvar de D. Joo III, de 29 de maro de 1549, cada senhor de engenho "montado e em estado de funcionar" podia receber 120 negros da Guin e So Tom 80. Para mostrar a quantidade de negros introduzida no Brasil, basta dizer que a populao total do pais em1798, era computada em 3.250.000 habitantes, sendo escravos 1.361.000; em 1818, em 3.817.000, sendo escravos 1.728.000! O comrcio judaico de carne africana corre parelho com o comrcio judaico do acar. Pero de Magalhes Gandavo calcula, no seu tempo, a produo aucareira anual de 6 a 10 mil arrobas81. No sculo XVII, o mascavo valia 20 shillings a arroba82. Um negocio da China, obtido pelo brao negro com a direo e iniciativa do reinol ou do ilhu agricola, que encheu de ouro a judiaria luso-flamenga! Desde que o judeuzinho de Goa, o inconstante e ladino Gaspar da Gama, desceu no primeiro bote da armada de Cabral em Porto Seguro e foi, talvez, o primeiro a desembarcar 83 reconhecendo a nossa terra antes de todos - E com certeza, verificando a existncia do lenho que os naturais chamavam ibirapitanga, o pau-vermelho, j encontrado pelos castelanos nas suas conquistas84; desde o alvorecer do Brasil, o judaismo o explorava. Primeiramente, tomou conta da indstria extrativa do pau-de-tinta; depois dominou a do accar e o negcio de escravos, do qual ela dependia. Com este, alm de se engorgitar de ouro, ainda conseguiu a formao de uma sociedade fcil de ser dominada atravs da depravao social que fatalmente decorre da passividade da escravido. Quantos proveitos num saco? Na sua nsia de tirar desforra dos reinos catlicos da Pennsula, onde eram, de certa maneira vigiados e, uma vez por outra, perseguidos, os judeus procuraram firmarse bem nos pases protestantes do Norte e, com suas armadas e soldados, desferir golpes mortais no poderio colonial peninsular. As rivalidades entre Inglaterra e Castela, Holanda e Portugal, foram criadas, desenvolvidas e exploradas pelo judasmo. Enquistados, primeiramente, nos Paises-Baixos, procuraram, depois, penetrar na Inglaterra, de onde outrora haviam sido expulsos por exigncia dos po vos cansados de suas traficncias. Haviam participado d revoluo de Cromwell por portas travessas, como sempre, tirando a sardinha com a mo do gato. Alis, na opinio de grande publicista judeu, foi o esprito judaico que triunfou com o protestantismo85. As colnias judaicas, de Hamburgo e da Holanda, compostas de "marranos escapos Inquisio espanhola", como escreve Bernard Lazare, acharam meios de se entenderem com o governo do Protetor, a fim de poderem os judeus voltarem Inglaterra, de onde, h sculos, tinham sido banidos86. Encontraram facilidades no caminho. Em primeiro lugar, existiam "incontestveis afinidades" entre o esprito mercantil do judeu e o esprito positivo do ingls,"cujo carter, diz Emerson, pode ser reduzido a um dualismo irredutvel, que fez desse povo o mais sonhador e o mais prtico do mundo, o que igualmente se pode dizer dos judeus87". Depois, que o puritanismo, no apogeu do poder de Cromwell? Sombart diz que o mesmo que o judasmo88. Macaulay considera os puritanos judaizantes fanticos que se encerravam nas doutrinas e prticas do Antigo Testamento, nica fonte, para eles, da vida religiosa, civil e poltica 89. Taine sente neles o farizasmo estreito90, embora lhes reconhea a grave e rude energia semi-brbara dos nrdicos. Aliado ao judaismo, o puritanismo setentrional, na opinio de Vermeil, construir o mundo80 81

Perdigo Malheiros. "A escravido no BrasiV, tomo III, pgs. 6-7. "Histria da Provncia de Santa Cruz", Rio, 1924. 82 William Dampier, "Voyage aux Terres Australes, a la Nouvelle Hollande, etc., en 1699", Amsterdam, 1705. 83 Dr. Izaque Izeckson, loc. cit. pag. 4. 84 Varnhagen, "Histria Geral do Brasil", vol. I, pg. 21. Os orientais chamavam ao Brasil sapang segundo diz Marco Polo, V. na ed. Yule. 85 Bernard Lazare, "L'Antismitisme", ed. Crs, Paris, 1934, tomo I, pg. 225. 86 Idem, idem pg. 240. 87 ) Idem, idem, idem. 88 "Le BourgeoM, cap. XI e VO, pg. 292-295. 89 Lord Macaulay, Mstoire D'Angleterre depuis l'avnement de Jacques II", trad. Montgut, cap. I. 90 "Histoire de la littrature anglaise", tomo 14 pg. 7.

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moderno. No seu pensamento dogmtico, os bens materiais so um dom de Deus e a prpria reliqio que inspira e encoraja o esprito empreendedor aventureiro91. E, afinal, Cromwell ia se tornar o protetor dos judeus e do judasmo na Inglaterra. "Nenhum homem no mundo, entre os no-judeus, estava mais imbudo de judaismo do que Cromwell; nenhum ter, tal vez, contribudo mais para a judaizao da civilizao mo derna no mundo inteiro. Cromwell o profeta no sentido hebraico da palavra, o profeta que no hesita em se pr testa dos descontentes e a dirigir a revoluo, buscando suas inspiraes e justificaes na bblia, profundamente convencido de ser o eleito de Deus, o instrumento da Divina Providncia92". O maior instrumento de aproximao entre os judeus holandeses e hamburgueses, quase todos de origem lusa, e Cromwell foi o clebre Manass-ben-Israel, que se serviu dos bons ofcios do cristo Edward Nicolas. Os sentimentos nacionais eram vivamente contrrios entrada dos judeus no pas, apesar do puritanismo das hostes do Protetor e das inclinaes pessoais deste. O parlamento opsse. Depois de dissolvido, Manass voltou a insistir. Enfim, os judeus "fixados margem do rio Tmisa, tinham amigos, parentes e espies em todas as comunidades (Kahals) do continente. Demais, havia-os nas colnias e por toda parte. Por meio dessas mil inteligncias, toda a dispora estava a servio de Cromwell. E, sobretudo, dispunha do poder do ouro93". Outro judeu que muito serviu nas negociaes para a entrada dos israelitas na Inglaterra foi aquele circuncidado natural da terra portuguesa de nome Manuel Martins Dormido, que emigrara para as Flandres e l passara a chamar-se Avid Abravanel. Ele "fez penetrar no convencimento de Cromwell as vantagens em aceitar os judeus naquele pais, dando-lhes todas as liberdades de culto... O judeu errante achou acolhimento na Gr-Bretanha. E hoje a Sinagoga de Londres que exerce hegemonia em todo o mundo sobre o povo de Israel94". Seu descendente, Salomo Dormido, foi o primeiro corretor da Bolsa de Londres. O ouro judaico, obtido em maior parte nos comrcios, e indstrias resultantes dos descobrimentos e conquistas dos peninsulares, mudava de pouso ao sabor dos intereses da gente sem ptria, criando e desfazendo hegemonias. O sculo XVII o grande sculo do comrcio negreiro. Os judeus vo exerc-lo manobrando habilmente por trs do governo ingls conquistado desde Cromwell, de cujas boas graas dispusera vontade o riqussimo Antnio Fernandes Carvalhal, o Rotschild da poca. Em 1560, escreve Gina Lombroso, de raa judaica, baseando-se em fontes inglesas, a Inglaterra toma Espanha "o comrcio que mais lucros lhe iria dar", o dos escravos95! "Os navios ingleses so os navios negreiros por excelncia e enxameiam a receber a carga infame nas abras e enseadas da costa da Guin. A moeda inglesa Guinu guarda a memria do trfico de carne preta96. 0 governo britnico recompensa com ttulos nobilirquicos os grandes91 92

E. Vermeil, "Etudes sur la Reforme", pg. 907. Georges Batault, Le problme juiV, ed. Nourrit Paris, pg. 189. 93 L. Hennebicq. "Gense de I'imperialisme anglais", Paris, 1913, pg. 118. 94 Mario Sa, "A invaso dos judeus, 1935 pg. 47. 95 Gina Lombroso, "La ranon du machinisme", ed Pavot, Paris, 1931, pg. 136. A respeito do judeu luso Antonio Fernandes Carvalhal, o Rotschild do tempo de Cromwell, citado um pouco antes, V. Joo Lcio de Azevedo, "Histria dos cristos-novos portugueses", pg. 422. Em 1696, Carlos II de Espanha assinou contrato com a companhia judaicoportuguesa da Guin para o fornecimento de escravos Amrica Espanhola, o qual foi rompido em 1701 por abusos. Os armadores judaico-franceses organizaram a Compagnie Royale de Guin e contrataram o trfico com a Espanha. O testa-de-ferro dos judeus era Bubasse, governador de S. Domingos. Deviam fornecer 4.800 peas por ano. Adiantaram ao Tesouro 200 mil escudos para fornecer mais 800. Em 1712, o negcio foi feito com o prprio Governo Britnico. Como, depois, a Espanha o no quisesse renovar, diz o "Grande Dicionrio universal do Sculo XX", a Inglaterra acendeu a guerra na Europa, obrigando Portugal a entrar nela contra a Espanha, a fim de prejudicar o trfico francoespanhol. Cf.Taunay "Na Bahia Colonial", pgs. 321-322. 96 Cf. Cunnigham, "The growth of english industry and commerce in modern times", Cambridge University Press, pg 25. Sobre o comrcio de escravos exercido pela Gr-Bretanha conveniente ler o cap. I da obra de Anton Zishka, "Der Kampf mundie Welmacht Baumwoll". Os ingleses chegaram a organizar fazendas de reproduo de escravos na Virgnia, verdadeiros Haras de negros! De 1680 a 1700, em vinte anos, tiraram da Africa 300 mil pretos nos trs primeiros decnios do sculo XVIII, 150 mil. Dizia-se que "Liverpool era calada com crnios de negros". Era o monoplio da fora motriz, ento muscular.

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negreiros. Joo Hawkins, por exemplo, elevado a baronete pelo impulso dado ao comrcio de escravos97. Os cuidados da judiaria inglesa, alarpadada sombra do governo real, pelo vil e rendoso negcio, se manifestam a cada passo, durante sculos, nos tratados diplomticos. Pelo tratado de Utrecht, em 1713, a Inglaterra consegue o monoplio do comrcio de escravos por trinta anos. Pelo tratado de Paris, seguido da Paz de Quebec, em 1763, a Inglaterra obtm o direito de ancorar navios em Porto Franco e Porto Belo, nas Antilhas, bases de contrabando e do "monoplio do trfico para Amrica do Sul98" Em 1799, o ministro Cannig declara, sem pejo, ao parlamento, com todas as letras, que efetivamente, a Gr-Bretanha "exercia o monoplio do trfico". Mais tarde, a confisso de Benjamin Disraeli, primeiro ministro, nos dar a conhecer que no era a Inglaterra, mas os judeus governando-a e servindo-se dela... No sculo XIX, mal o Brasil se tornou independente de Portugal, a Inglaterra esqueceu que havia exercido o infamante monoplio do comrcio de carne humana, que o havia advogado e defendido com unhas e dentes, que o havia consagrado nos tratados internacionais e nas discusses do parlamento, e comeou a fazer da sua supresso, em nome da humanidade,"uma questo de honra". Contra o Brasil fraco, desarmado, ameaou at empregar a fora99. que ao judasmo do Kahal londrino, dominador do mundo, no convinha se desenvolvesse na Amrica do Sul um grande imprio, sendo necessrio, para entravar-lhe o progresso desde logo, diminuir-lhe a mo-deobra e desmantelar-lhe a economia. Nos bons tempos do sculo XVII, a Inglaterra no fora to humanitria. O judasmo angloholands enchia-se com o ouro do acar produzido pelo suor do escravo e com o ouro do preo do escravo. O acar vinha de Pernambuco. O negro que o produzia vinha de Angola. Um e outro lado do Atlntico tropical davam o mesmo resultado: ouro! No seria melhor, ao invs de continuar ganhando como intermedirio e fornecedor de mo-de-obra, tornar-se o dono incontestado das duas fontes de riqueza? Os ganhos se multiplicariam. A esse pensamento, a cobia do judasmo se alvoroou. Os estados-maiores das sinagogas estudaram a questo e, ajudados da poltica europia em que influam, lanando protestantes contra catlicos e vice-versa, decidiram o golpe. A conquista do Nordeste brasileiro e de Angola e Luanda pela companhia das Indias Ocidentais revela um plano judaico de grande envergadura. A documentao histrica mostra-o na sua limpidez. O conde de Nassau, fidalgo alemo a servio do Kahal, quando toma o lugar de preposto ou procnsul da colnia judaica de Pernambuco, traz com escopo principal, tornar o Recife "o centro distribuidor da escravaria100". Logo em 1640 ou 41, uma expedio mandada do Brasil holands se apoderava de So Paulo de Luanda101. Ento, o tal centro distribuidor de escravos pode funcionar do seguinte modo: as urcas holandesas saam dos portos da Zelndia ou do Texel em demanda da frica, enchiam os infectos pores de escravos e vinham de rota batida para Pernambuco, de onde voltavam Holanda, carregadas de acar102. Cada viagem redonda, ida e volta, era, assim, admiravelmente aproveitada para os lucros judaicos. O negcio de escravos rendia por ano aos judeus holandeses a respeitvel soma de 6 milhes de florins!

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Nina Rodrigues, "Os africanos no Brasil", pg. 13. Gina Lombroso, op. cit. pg. 163. 99 Armitage, "Histria do Brasil", pgs. 189-191. Todas as misrias, infmias e violncias praticadas pelo governo judaico da Inglaterra em matria de trfico negreiro, que ela explorava, se encontram descritas no panfleto "A liberdade dos mares ou o governo ingls descoberto", traduzido livremente do espanhol, sem nome de autor, tipografia Miranda e Carneiro, Rio, 1833. 100 Hermann Watjen, "das Iudentum und die Aufgang der moderno Kolonisation", apud "Der Hollandische Kolonisation in Brasilien", Gotha, 1921. 101 Barlaeus, "Res Gestae". 102 Dapper, "Description de 1'Afrique, pags. 370-371; David B. Warden, "Histoire de 1'Empire du Bresil", Paris, 1832, pg. 425. Cf. Constncio, "Histria do Brasil", decalcada da de Warden.

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Em 1703, o trfico judaico de escravos para o Brasil era de tal importncia que, entre a Bahia e a frica, retomada aos holandeses, mais de 200 brigues ou bergantins nele eram empregados103

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Taunay, "Na Bahia Colonial", pg. 327.

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CAPITULO IV A pirataria e a conquista A DINASTIA de vis sossobrou, morrendo devagar e matando, heroicamente, nos fulvos areais de Alccer- Quibir. A poderosa mo de Filipe II, o grande rei catlico, o asceta do Escorial, se estendeu sobre o reino lusitano, e o Brasil passou, em 1580, para o domnio espanhol. Espanha significava a luta aberta contra a heresia protestante e o judasmo. Todos os portos brasileiros foram logo fechados ao comrcio das Provncias Unidas. As sinagogas, estremeceram de pavor, encarando os prejuzos que disso adviriam. Apresentava-se a ocasio de conquistar, usando a valentia flamenga, os emprios cobiados do acar e do negro. J as ambies europias vinham corvejando sobre o vasto Brasil. As tentativas huguenotes da criao de uma Frana-Antrtica e de uma colnia no Maranho haviam fracassado diante dos esforos de Mem de S e Jernimo de Albuquerque. A pequena nobreza provinciana calvinista da Frana ensaiara o corso martimo contra o comrcio e as feitorias de Portugal e Espanha 1. Das suas pretenses, a estabelecimentos definitivos, somente ficaram os nomes de uma ilha na Guanabara e da capital maranhense. O esprito emprendedor pr-capitalista europeu se projetava, nos sculos XVI e XVII, no corso e na pirataria, sem que fosse possvel traar uma linha ntida de demarcao entre essas atividades. A pirataria protestante, insuflada pelo judasmo, se exercia incessantemente contra os reinos catlicos. Na Inglaterra, houve uma verdadeira idade urea de piratas: sir Walter Raleigh, o grande Frobisher,os irmos William e John Hawkins, o ltimo dos quais foi feito baronete, como j vimos, pelos servios prestados ao comrcio negreiro, sendo chamado pelos seus contemporneos: "a wonderful hater of spaniards"2. Entre eles, estavam os que salteavam nos mares e costas do Brasil: Lancaster, "agente de uma companhia de Londres" (?), que tomou o Recife em 1595, Drake, Me noble pirate" e Cavendish, prncipe dos ladres do mar, o qual, de volta das suas frutuosas expedies, subira o Tmisa com mastros dourados e velas de damasco nos seus galees3! No comeo do sculo XVII, durante o governo de Dom Luiz de Souza, entre 1616 e 1621,os piratas ingleses pretenderam estabelecer-se no Esprito Santo e Rio de Janeiro, desistindo do intento, porque, avisado a tempo, o governador tomara providncias adequadas. A pirataria, eminentemente protestante, serve como reconhecimento das possesses do adversrio catlico e para a obteno de recursos para o assalto definitivo. a tcnica judaica da desapropriao forada em que foram mestres os judeus bolchevistas. A luta que, ento, se travava tinha um que de religioso. Vde bem os fatos. Os entrelopos huguenotes franceses durante longo tempo percorrem s costas abandonadas do Brasil que acordava, pilhando as naves abarrotadas de pau-de-tinta, at que se estabelecem nas ilhas de S. Luiz e de Villegaignon. Os corsrios puritanos ingleses atacam as povoaes litorneas e tambm pretendem fixar-se. Afinal, os piratas calvinistas holandeses tomam a frota espanhola da Prata, na baa de Matanzas, a qual lhes fornece meios pecunirios para o equipamento de grandes expedies, e vem saltear nossas cidades, como fez Paulo Van Ceulen, repelido da Bahia de Todos os Santos em 1604. Os prprios bucaneiros e flibusteiros das Antilhas andam de longada at Santa Catarina. Tudo isso preludia a conquista das prsperas capitanias do Norte. Conforme depe Gabriel Soares, os moradores do extenso litoral braslico viviam to aterrorizados com a pira taria que traziam sempre "a roupa entrouxada", para se fazerem ao mato, mal avistavam o velame de qualquer nau grande. A acometida de Van Ceulen foi a quarta sofrida pela Bahia, assegura o autor da "Razo do Estado do Brasil". Os resultados dessas pilhagens so quase sempre magnficos.1

H. Pigeonneau, "Histoire du commerce de &rance'' Paris, 1889, tomo II, pg. 170. A pirataria sempre foi eminentemente protestante. 2 Formidvel abominador de espanhis. W. Sombart, Me Bourgeois", payot, Paris, 1926, pg. 93. J. M. de ma cedo. Memride Histrica do Brasil, typ. do Globo, Rio de Janeiro, 1877, pg. 188. 3 Douglas Campbell, Me Puritans in Holland. England and Amrica, 1892, tomo II, pg. 120. Cf. Hakluyt, "Histoire des Voyages".

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Na frota da prata, por exemplo, os holandeses se apoderaram de quinze milhes de torneses, por certas libras tornesas ou escudos torneses, que valiam muito mais do que os simples escudos ou libras parisis, nos velhos sistemas monetrios. O historiador Pedro Calmon andou bem inspirado, quando escreveu: "Por detrs dos marinheiros flamengos, estava o judeu portugus de Amsterdam e Haia4". Adivinhou um pedao da verdade, mas no a verdade toda. Por detrs de todos os piratas herejes, anticatlicos, estava o judeu internacional, o homem sem ptria, o mamonista adorador do Bezerro de Ouro. No houve expedio de corso ao Brasil que no contasse com as informaes dos judeus residentes no seio da populao brasileira. Esses espies informavam os navios piratas das condies de defesa oas praas, permitindo-lhes dar os golpes com toda a segurana. O maior defensor dos judeus na nossa literatura hist rica, Sr. Solidnio Leite Filho, glorifica-os por esse papel infame: os israelitas foram os mais poderosos auxiliares dos corsrios estrangeiros e se aliaram aos ingleses que pretendiam estabelecer-se entre ns5. A pirataria foi o prefcio da conquista. O judeu, que to poderosamente colaborara no prefcio, melhor ainda colaborou na obra. H um fundo religioso e racial nessa luta de herticos assolados e ajudados por judeus, contra catlicos, papistas, como se dizia, os quais haviam expulso os israelitas da Peninsula, para no se afogarem na sua invaso. O rancor judaico no conhecia limites contra as coroas de Castela e Portugal, unidas na cabea dos Filipes. Confessa-o, quase sem ambages, o judeu Mendes dos Remdios: "A prosperidade dos judeus lusos na Holanda vingou-os do desprezo do monarca peninsular que os expulsara6". Em Captulo anterior, documentadamente, mostramos como a Holan da estava abarrotada de judeus e de capitais judaicos. Segundo escrevia, em 1644, o embaixador Souza Coutinho ao conde de Vidigueira, Holanda era a me dos cristos-novos que dali se derramavam para o Brasil. Era ainda a fonte da trindade invisvel do aforisma alemo vulgarizado por Goethe: Krieg, Handel und Piraterie, dreienig sind sie; nicht zu trenen7. O judeu explorava essa trindade invisvel, valendo-se das disposies guerreiras e aventureiras que o comrcio despertaria nos pacatos holandeses, os quais, j agora, vidos de pecnia, quando no tiravam grandes lucros de uma atividade ou regio, se voltavam para outras8. Na insuspeita opinio de Oshlow Burrish9, as grandes companhias de comrcio dos sculos XVI e XVII no passavam de companhias de conquistas, providas de privilgios e poderes polticos, que fundavam fortalezas e estabeleciam governos, verdadeiras organizaes permanentes de pirataria, a qual, segundo Sombart, formava um ramo de comrcio regular dessas associaes. A das Indias Ocidentais, idealizada por Wilhelm Usselimex, que conquistou o Brasil para os judeus, entre 1623 e 1636, despendeu 4 milhes e meio de florins, armando 800 navios; mas capturou 540, cuja carga somente valia 6 milhes, ganhando ainda 3 milhes como que pirateou mares afora aos portugueses10. A espoliao dos engenhos dos pernambucanos que se opuseram conquista rendeu mais de 500 mil florins! Formaram-se duas companhias de comrcio e pirataria na Holanda, com capitais israelitas. A primeira, das Indias Orientais, nasceu em 1602 e deu tais lucros que inspirou a segunda, das Indias Ocidentais, em 1621, com privilgio exclusivo do trfico e navegao na Amrica e na costa da frica, isto , o domnio dos emprios do acar e do negro. Os judeus peninsulares forneceram para essa ltima companhia a soma redonda de 18 milhes de florins 11. De posse a companhia de4 5

Pedro Calmon, op. cit. pg. 60. Solidonio Leite Filho. op. cit. pg. 60. 6 "Os judeus em Portugal", pQ. 342. 7 Guerra, comrcio e pirataria formam uma trindade invisvel... 8 E. Laspeyres, "Geschichte der Volkswirthschaftlichen Anschauungen der Niederlander", 1863, pg. 60. 9 "Batavia ilustrada or a wiew of the Policy and Commerce of the United Provinces", 1728, pg. 333. 10 Werner Sombart, op. cit. pg. 94. A companhia idealizada por Usselimex, foi proposta aos Estados Gerais da Holanda por Jans Andres Moerthecan, que Frei Rafael de Jesus, no "Castrioto Lusitano, pg. 14, denomina "holands de capacidade e esperteza". Substitua-se holands por judeu e d no vinte... 11 Joo Lcio de Azevedo, "Histria de Antonio Vieira", tomo I, pg. 135

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suas patentes de exclusividade, seus diretores "movidos pelos hebreus", determinaram fosse o Brasil o alvo da conquista12. No capitulo antecedente, fizemos notar como o regime da escravido, alm de proporcionar grandes lucros aos judeus, permitia o amolecimento da sociedade, facilitando-lhes domin-la mais adiante. A decadncia moral do Brasil do sculo XVII chegara ao mais alto ponto. O judeu e o flamengo aproveitaram-se disso. O panorama da corrupo, da venalidade, do escndalo, da desmoralizao, est pintado em muitos autores. Calado resume-o admiravelmente nesta frase: "os ricaos no estavam acostumados a morrer". Foi o que contribuiu para favorecer a conquista13. Judeus impeliram e custearam, de fora, a empresa conquistadora; judeus esperavam, aqui dentro, os conquistadores, prestes a desempenhar todos os papis, de modo a aligeirar-lhes a tarefa. Esperavam melhor sorte receosos da inquisio, declara Solidnio Leite Filho, que vinha assentar casa naquela capitania14". Do mesmo modo que haviam sido os melhores auxiliares de corsrios e piratas, foram os melhores auxiliares dos conquistadores que lhes sucediam 15. O grave Southey confirma que, ou faziam causa comum com o batavo ou fraca resistncia lhe opunham16. Os judeus e cristos-novos do Brasil deram dinheiro', segundo Frei Manuel Calado para "os gastos da conquista de Pernambuco". Ministraram todas as informaes destinadas a permitir os ataques, desembarques e marchas dos conquistadores. A invaso ainda se aprestava nos portos zelandeses e j, aqui., informada dos preparativos, a judiaria se entregava mais terrvel espionagem. "Largas informaes sobre as coisas do Brasil" recebia, "por intermdio dos hebreus brasileiros", o almirante holands17. A primeira expedio holandesa visou a Bahia, capital da colnia, em 1624. Portas adentro, os judeus, muito numerosos, espionavam por conta dos generais batavos18. Em menos de dois dias, os inimigos se apoderaram da cidade. Segundo documentos do Instituto Histrico, a esquadra vinha pejada de judeus e judias. A populao israelita da Bahia delirou de contentamento e envidou todos os esforos, o que repetiria em outros lugares e oportunidades, para induzir os no-judeus a se submeterem ao jugo estrangeiro19. Escrevendo a sua "nua do Estado da Bahia", datada de 30 de setembro de 1626, o padre Antnio Vieira conta que a cidade foi toda saqueada. Na sua maioria, os cristos-velhos baianos, temendo no poder resistir ao mpeto do agressor, devido grande quantidade de judeus que existiam na cidade e nos quais ningum devia confiar, retiraram-se para os matos e, sob a direo do bispo D. Marcos Teixeira, prepararam a reao. Atormentaram os intrusos com guerrilhas e emboscadas continuas, at que vieram os reforos e auxlios da Espanha, na famosa esquadra de D. Fradique de Toledo, composta de naus lusas, castelhanas e napolitanas. A judiaria deu dinheiro a rodo para a resistncia flamenga. Tudo em vo, porque, dentro da praa, fermentavam dissenses judaicas 20, como na jerusalm sitiada de Flvio Josefo. Batidos no mar e sem poder manter-se em terra, os ocupantes da Bahia capitularam no curto espao de um ms, espanhois, napolitanos e lusos tomaram novamente conta da capital da colnia e sua reao em contra dos judeus traidores no foi alm da condenao morte de alguns dos mais comprometidos. Como os da Bahia, os judeus de Pernambuco incitaram a invaso flamenga e contriburam para ela com fundos21. Reconhece Joo Lcio de Azevedo que eles "cooperaram grau demente para facilitar a conquista22". Seria de espantar que, useiros e vezeiros nisso, assim no12 13

Solidonio Leite Filho, op. cit. pg. 58. Rebelo da silva, "Histria de portugal", nos s culos XVII e XVIII, tomo II pg. 338. Solidonio Leite Filho, op. cit. pg. 59. Manuel Calado, "Valeroso Lucideno". 14 Rodolfo Garcia, loc. cit. pg. 33. 15 Solidonio leite Filho, op. cit. pg. 61. 16 Roberto Southey, "Histria do Brasil", tomo II, pg. 146. 17 Solidonio leite Filho, op. cit. pg. 60. 18 Idem, idem, idem. 19 Roberto Southey, op. cit. tomo II, pg. 156. 20 Barnhagen, "Histria das lutas com os holandeses no Brasil, Lisboa, 1872, pg. 38. 21 Frei Manoel calado, "Veleroso Lucideno", pg. 10. 22 "os judeus portugueses na disperso". in "Revista de Histria", tomo IV, pg. 214.

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procedessem. A guerra da Restaurao Pernambucana durou nove anos, em alternativas de derrotas e vitrias, e durante esse perodo em que se afirmou um verdadeiro esprito de brasilidade, anterior nossa independncia poltica, os judeus, empenharam contra ns "vida e fazenda"23. A expedio para a conquista de Pernambuco veio quatro anos depois da Bahia, em 1630. No se atrevendo a atacar o Recife, diretamente, desembarcou as tropas que trazia, alm de Olinda, na praia do Pau-Amarelo, sob o comando do "coronel-de-guerra", Teodorico Weerdenburg, que desconhecia completamente a regio por onde pisava pela primeira vez. Guiou-o pela costa, pelos mangues e alagadios, dos quais era prtico, o judeu Antnio Dias Paparoblos, o qual vivera muito tempo em Pernambuco e fora, depois, para a Holanda 24. Outros judeus serviram constan temente