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História

Guerra Fria

Professor Thiago Scott

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História

GUERRA FRIA (1947 – 1991)

Prof. Thiago Scott Duarte – Conhecimentos Gerais – Casa do Concurseiro

A Guerra Fria se manifestou em todos os setores da vida e da cultura, representando a oposição entre dois ideais: o socialista e o capitalista. Os socialistas idealizavam uma sociedade igualitária. O Estado era o dono dos bancos, das fábricas, do sistema de crédito e das terras, e era ele, o Estado, que deveria distribuir riquezas e garantir uma vida decente a todos os cidadãos. Para os capitalistas, o raciocínio era inverso. A felicidade individual era o principal. O Estado justo era aquele que garantia a cada indivíduo as condições de procurar livremente o seu lucro e construir uma vida feliz. A solução dos problemas sociais vinha depois, estava em segundo plano. É por isso que a implantação de um dos dois sistemas, em termos mundiais, só seria viável mediante o desaparecimento do outro. Nenhum país poderia ser, ao mesmo tempo, capitalista e comunista. Esta constatação deu origem ao maior instrumento ideológico da Guerra Fria: a propaganda.

A partir do final dos anos 1940 e nas décadas de 1950 e 1960, o mundo foi bombardeado com imagens que tentavam mostrar a superioridade do modo de vida de cada sistema. Para ridicularizar o inimigo, os dois lados utilizavam muito a força das caricaturas. A propaganda serviu para consolidar a imagem do mundo dividido em blocos. A novidade era o surgimento do bloco socialista na Europa, formado pelos países com governos de orientação marxista: Alemanha Oriental, Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Iugoslávia, Albânia e Bulgária. No mundo ocidental, os capitalistas procuravam mostrar que do seu lado a vida era brilhante. As facilidades tecnológicas estavam ao alcance de todos. Os cidadãos comuns possuíam carros e bens de consumo, tinham liberdade de opinião e de ir e vir. Segundo a propaganda ocidental, a vida no lado socialista, retratada em diversos filmes de Hollywood, era triste e sem brilho, controlada pela polícia política e pelo Partido Comunista. No mundo socialista, as imagens mostravam exatamente o contrário. A vida no socialismo era alegre e tranqüila. Os trabalhadores não precisavam se preocupar com emprego, educação e moradia. Tudo era garantido pelo Estado. A cada dia, as novas conquistas tecnológicas, especialmente na área militar e espacial, mostravam a superioridade do socialismo. A propaganda socialista mostrava, ainda, o mundo ocidental como decadente e individualista, onde o capitalismo garantia, para alguns, uma vida confortável. E para a maioria, uma situação de miséria, privações e desemprego.

A Rússia soviética era vista pelos círculos governamentais do Ocidente como uma “maçã podre”, que poderia contaminar, como de fato ocorreu, outros países. Por isso, as potências capitalistas decidiram pela intervenção militar pouco depois da vitória da revolução. Mas o perigo que a União Soviética representava, segundo Chomsky, era menos militar que simbólico.

A URSS era um país da periferia do capitalismo, que se industrializou tardiamente, a partir de um movimento revolucionário que concentrou no Estado um enorme poder de intervenção na economia. Tudo isso contra a vontade das potências hegemônicas à época. Seu exemplo,

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mais pelo conteúdo nacionalista do que pelo socialismo, poderia influenciar, como de fato influenciou, muitos outros países, estimulando-os a percorrer o mesmo caminho, pelo menos no que se refere à industrialização e ao nacionalismo.

Isso, segundo o autor, era insuportável para as grandes potências. Ele mostra como o Reino Unido no passado frustrou a industrialização da Índia e, mais tarde, do Egito. Aos países periféricos cabia apenas um papel subordinado na divisão internacional do trabalho, essencial para a expansão do “livre-comércio”.

No século XX, essa vocação imperial foi assumida crescentemente pelos EUA. A política exterior norte-americana não sofreu modificações muito radicais no período posterior à Guerra Fria, pois esta, segundo Chomsky, foi uma “fase particular nos 500 anos de conquista européia do mundo – a história da agressão, subversão, terror e dominação, agora denominado confronto norte-sul”.

Mas o fato de impor o livre-comércio – hoje erigido como valor máximo – ao mundo não significa que as metrópoles tenham abraçado plenamente os dogmas liberais que exportam. Os EUA, sobretudo depois da Segunda Guerra, quando o mundo teve tempo para fazer uma reflexão mais detida sobre o significado da crise de 1929, adotaram um “keynesianismo militar”. O denominado “sistema do Pentágono”, ou o que antes se chamava de complexo industrial-militar, representou uma decisiva alavanca ao capitalismo norte-americano. Essa escolha alterava em boa medida as prioridades do New Deal. Crescer com o gasto militar era preferível a estimular o gasto social, o que apresentava perigosas conseqüências sociais e políticas.

Chomsky afirma que para atingir tal fim foi preciso magnificar o poderio militar soviético. O comportamento truculento dos EUA era exatamente aquele que Washington atribuía à URSS e que justificava a escalada armamentista.

Armamentismo e corrida espacial

A guerra da propaganda ganhou impulso com o acirramento da corrida armamentista, nos anos 1950. A corrida teve início com a explosão das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Em 1949 foi a vez de a URSS anunciar a conquista da tecnologia nuclear. Um componente fundamental da corrida armamentista foi a disputa pelo espaço. Em 1957, os soviéticos colocaram em órbita da Terra o primeiro satélite construído pelo homem, o Sputnik- Em 1961, os soviéticos lançaram o foguete Vostok, a primeira nave espacial pilotada por um ser humano. O cosmonauta Yuri Gagarin viajou durante cerca de 90 minutos em órbita da Terra.

Os EUA reagiram. Num histórico discurso em maio de 1961, o presidente John Kennedy prometeu que, em 10 anos, um astronauta norte-americano pisaria o solo da Lua. Toda a estrutura tecnológica e científica se direcionou para o programa espacial. Em 20 de julho de 1969, o astronauta Neil Armstrong, comandante da missão Apollo-11, e o piloto EdwinAldrin pisaram o solo lunar. A conquista foi transmitida ao vivo pela TV e acompanhada por 1 bilhão de pessoas no mundo.

O significado militar da corrida espacial não pose ser esquecido. Se um foguete podia levar ao espaço uma cachorrinha como a Laika, sem dúvida poderia transportar equipamentos mais ofensivos, como ogivas nucleares. A combinação da tecnologia nuclear com as conquistas

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espaciais colocou o mundo na era dos mísseis balísticos intercontinentais. Um míssil disparado em Washington, por exemplo, poderia atingir Moscou em cheio em apenas 20 minutos. O aperfeiçoamento constante das armas acentuou a corrida armamentista. A conquista sistemática de novas tecnologias, nos dois blocos, incentivou o desenvolvimento de um ofício milenar: a espionagem.

A espionagem foi um dos aspectos da Guerra Fria mais explorados pelo cinema, com o espião mais famoso das telas, James Bond. No mundo real, as duas grandes agências de espionagem, a KGB soviética e a CIA americana, treinavam agentes para atos de sabotagem, assassinatos, chantagens e coleta de informações. Nos dois lados criou-se um clima de histeria coletiva, em que qualquer cidadão poderia ser acusado de espionagem a serviço do inimigo. Na União Soviética, Stalin contribuiu para esse clima, confinando muitos de seus adversários em campos de concentração na Sibéria. Nos EUA, o senador anticomunista Joseph McCarthy promoveu uma verdadeira caça às bruxas, levando ao desespero inúmeros intelectuais e artistas, acusados de colaborar com Moscou (fenômeno conhecido macarthismo)

Bipolaridade Rígida (1947/1955)

Os anos entre 1947 e 1955 foram aqueles que corresponderam ao período mais “quente” da Guerra Fria, onde o acirramento de tensões chegou ao extremo entre as duas superpotências.

A primeira crise desse período foi o bloqueio de Berlim, resultante da reação soviética à política de contenção norte-americana em 1948. Stalin bloqueou Berlim como um teste do grau de determinação de seus adversários, cortando o tráfego ferroviário e rodoviário da zona ocidental da cidade. Os norte-americanos e britânicos, por sua vez, iniciaram o transporte aéreo maciço de alimentos e materiais necessários à resistência de Berlim ocidental. Lentamente a tensão se dissipou.

Em 1949, a Guerra Fria se intensificou. Em janeiro, a URSS criou o COMECON (Conselho de Ajuda Mútua Econômica), integrando os planos de desenvolvimento e lançando as bases de um mercado comum com os demais países socialistas, numa clara resposta ao Plano Marshall. Em abril, os EUA e seus aliados europeus criaram a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), a qual perpetuava a presença militar norte-americana na Europa. No final do ano, a Alemanha foi oficialmente dividida em Alemanha Ocidental, (RFA, capitalista, com capital em Bonn) e em Alemanha Oriental (RDA, socialista, com capital em Berlim). Outros conflitos periféricos ocorriam pelo mundo, calcados agora com pano de fundo do conflito Leste/Oeste. Aquele que teve maior impacto para o sistema internacional foi a Guerra da Coréia (1950/1953), onde as superpotências jogaram todos os seus esforços na demonstração do poder mundial (ver textos Guerra Fria na Ásia, África e Oriente Médio).

A bipolaridade imperfeita na coexistência pacífica (1955/1968)

Este período se caracterizou por uma flexibilização na ordem bipolar, onde as superpotências não operavam mais na lógica do período anterior. Ou seja, a coabitação pacífica, alimentada pela percepção da capacidade destrutiva que carregavam com seus armamentos atômicos e as forças profundas que alimentaram os novos movimentos nas relações internacionais evidenciaram a imperfeição da ordem bipolar.

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Muitos autores confundem a “coexistência pacífica” com a “deténte”. Neste trabalho, toma-se o período da segunda metade dos anos 1950 até grande parte dos 1960 como coexistência pacífica, pela gradual flexibilização da ordem bipolar. A deténte, por sua vez, sinaliza um momento tardio, entre 1960 e 1979, quando houve a fundação de um verdadeiro “concerto americano-soviético”, com o início da decomposição ideológica do conflito Leste/Oeste.

A coexistência pacífica originou-se de seis grandes movimentos nas relações internacionais:

1. Recuperação econômica e política da Europa ocidental, como conseqüência direta do Plano Marshall, que trouxe seus países gradualmente para o centro das relações internacionais dos anos 1950/1960. Esse é o contexto em que em 1957 funda-se a Comunidade Econômica Européia (CEE), pelos Tratados de Roma;

2. flexibilização intra-imperial, tanto no sistema de poder dos EUA (fim da cruzada anticomunista nos EUA), quanto no da URSS (morte de Stalin, em 1953);

3. início da desintegração gradual do bloco comunista, com o conflito sino-soviético (anos 1960) acirrando as divergências entre os comunistas;

4. descolonização afro-asiática, que trouxe para o cenário internacional novos países constituintes do Terceiro Mundo, este passando a agir como ator internacional;

5. articulação própria de alguns países latino-americanos mais industrializados, com nova forma de inserção internacional (é o caso da Política Externa Independente no Brasil e da política de Aturo Frondizi na Argentina) e

6. declínio gradual das armas nucleares nas contendas da balança de poder mundial.

Estes fatores interligados atenuaram o peso da Guerra Fria. Segundo Saraiva,

(...) [estes fatores animaram] mecanismos mais dinâmicos e menos dicotômicos da vida internacional. A coexistência pacífica foi, portanto, o resultado de uma reacomodação de forças profundas que vinham alimentando as mudanças da ordem bipolar típica e do sistema de finalidades, dos novos cálculos e estratégias, que tornaram a vida internacional dos tardios anos 50 e grande parte da década de 60 menos insegura.

O Terceiro Mundo

O termo Terceiro Mundo, surgido nos anos 1940, designa um conjunto de mais de cem países da África, Ásia e América Latina que não faz parte do grupo de países industrializados do Primeiro Mundo, e nem do grupo de países socialistas do Segundo Mundo. Com o tempo, no entanto, os termos Primeiro Mundo e Terceiro Mundo, passaram a ser empregados como um conceito econômico, dividindo o planeta em grupos de países ricos e pobres. Foram justamente os países ricos da Europa o cenário principal da Guerra Fria, por razões de natureza histórica e geográfica. Mas as outras regiões do planeta foram incluídas no xadrez das superpotências por conta da própria lógica do jogo, que previa a destruição completa de um dos dois jogadores.

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Com o declínio do conflito Leste/Oeste no final dos anos 1980, o termo Terceiro Mundo deixou de ser usado em decorrência da nova dicotomia que se consolidava no sistema internacional: o Norte industrializado (países ricos) contra o Sul em desenvolvimento (países pobres).

A Guerra Fria na África

No final da Segunda Guerra Mundial, não havia mais clima político no mundo para a preserva-ção de impérios coloniais. A guerra marcou a derrota do Japão, da Alemanha e da Itália, países que tinham um projeto declaradamente colonialista. A própria criação da ONU, em junho de 1945, tinha formalmente, como premissa, assegurar a igualdade entre todos os países do mun-do.

Nesse quadro, os impérios coloniais ainda existentes eram uma anomalia, o resquício de um ciclo histórico já ultrapassado. Na realidade, a estrutura da ONU sempre refletiu a distribuição do poder na Guerra Fria. A composição do Conselho de Segurança é o melhor exemplo disso. Começou com 11 membros, depois ampliados para 15, sendo 5 permanentes e com poder de veto: Estados Unidos, União Soviética, França, Grã-Bretanha e China.

(...) A questão é que os países que realmente venceram a guerra – Estados Unidos, União So-viética, Grã-Bretanha, França e China – vão formar aquilo que se chama, no Conselho de Segu-rança, de bloco de países com direito a veto. Isso significa que qualquer decisão tomada pelo Conselho pode ser barrada por um desses cinco países. Agora, o que significa isso em termos, por exemplo, das regiões que estavam sendo colonizadas? Ficava muito estranho que essas nações todas tivessem lutado contra as nações totalitárias, pela democracia, pela liberdade, e ao mesmo tempo possuíssem colônias. Esse era o caso da França e especialmente da Grã-Bre-tanha, que possuía um vasto império colonial. Nesse sentido, fica claro que num determinado momento essas potências seriam colocadas em xeque e obrigadas a ceder a independência a todas as suas colônias.

Os sinais de enfraquecimento dos impérios coloniais, somados ao apoio retórico da União So-viética às lutas nacionalistas, estimularam as lideranças africanas a buscar o caminho da inde-pendência.

Um dos primeiros projetos foi o do pan-africanismo, ou a união de todas as nações africanas, formulado pelo líder negro Jomo Kennyata, do Quênia. O principal obstáculo do pan-africa-nismo era a diversidade étnica e cultural do continente. Existiam, como ainda existem, muitas “Áfricas” diferentes, impedindo as tentativas de aliança dos países africanos. Essa inexistência de uma identidade africana deve-se, em grande parte, ao fato de a África ter sido dominada, dividida e explorada por potências que nunca se preocuparam com os traços culturais daquelas populações.

Uma das raízes mais profundas da dura realidade africana é o mercado de escravos, explorado por árabes e europeus entre os séculos XVI e XIX. Naquele período, mais de 11 milhões de seres humanos foram capturados por portugueses, holandeses, ingleses e franceses, e transportados à força, principalmente para as plantations dos Estados Unidos e para as possessões portugue-sas na América.

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Encerrado o período escravagista, no século XIX, as potências coloniais mantiveram o controle sobre a África, que se tornou fonte de minerais e matéria-prima para a florescente indústria européia. No processo de colonização, muitas tribos e nações inimigas acabaram unidas à força pelos colonizadores. Por causa disso, as fronteiras dos Estados e regiões refletiam muito mais os interesses estrangeiros do que a história dos povos locais.

Bandung: tentativa de união dos países do Terceiro Mundo

Quando o líder nacionalista Jomo Kenyatta falava em pan-africanismo, ele tinha em vista, provavelmente, muito mais uma estratégia geopolítica do que cultural ou étnica. O objetivo era defender os interesses geopolíticos comuns dos países africanos. Da mesma forma, e também no começo dos anos 1950, outro líder nacionalista, o egípcio Gamal Abdel Nasser, defendia um ideal pan-arabista, que centralizasse os interesses do povo árabe. Nos dois casos, do pan-arabismo e do pan-africanismo, essa unidade serviria de cimento político e ideológico contra os interesses imperialistas. Foi com esse propósito, de unir os países do Terceiro Mundo, que se realizou a Conferência de Bandung, na Indonésia, em abril de 1955. A conferência proclamou-se representante dos países não alinhados nem ao bloco soviético nem ao bloco capitalista, mas favoráveis à criação de sociedades igualitárias.

O encontro, convocado pela Indonésia, Mianmar, Sri Lanka, Índia e Paquistão, reuniu 29 países da África e da Ásia. O presidente da Indonésia, Ahmed Sukarno, propôs um compromisso de todas as nações ali presentes de apoio mútuo em casos de agressões de países imperialistas. A Conferência soou como um sinal de alerta para as potências coloniais. Dez anos antes, Sukarno havia liderado o processo de independência da Indonésia, ex-colônia da Holanda. Além disso, em 1954, um ano antes de Bandung, a França havia sido expulsa da Indochina. E, para completar, o pan-arabista Gamal Abdel Nasser havia dirigido, em 1952, o processo de independência do Egito e despontava como líder do norte da África.

Gamal Abdel Nasser, na verdade, era o principal articulador do chamado pan-arabismo, que propunha a união de todos os países de maioria árabe-muçulmana, como forma de fortalecer a cultura e a causa islâmica frente ao mundo ocidental. Em função da identificação do Egito com o Islã, o país estava mais próximo do Oriente Médio, do ponto de vista cultural e político, do que dos países da África Negra. De qualquer forma, o pan-arabismo de Nasser foi de grande importância para a causa pan-africanista, já que as duas iniciativas tinham em comum a luta contra os interesses estrangeiros em seus países. E um dos pilares dessa luta, no caso da África, era exatamente a descolonização do continente.

Outra iniciativa importante para acelerar o processo de descolonização foi a realização, em 1958, da 1ª Conferência dos Povos da África, em Acra, capital de Gana. Na ocasião, os países fecharam um acordo de ajuda mútua contra a Grã-Bretanha, França, Bélgica e Portugal. Àquela altura, a descolonização do continente já estava em andamento. Em 1956, Marrocos e Tunísia, colônias da França, haviam conquistado a independência.

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Independência: efeito dominó

Na Argélia, onde a luta de libertação havia começado em 1954, o processo foi mais doloroso. Os colonos franceses, ou pés pretos, recusaram-se a entregar as terras aos argelinos e atacaram os nativos com violência. A independência da Argélia seria reconhecida pela França somente em 1962, durante o governo do general Charles de Gaulle. Na África subsaariana, ao sul do de-serto do Saara, foi Gana, o primeiro Estado negro a conquistar a independência, em 1957, sob a liderança de Kuame Nkrumah. Junto com Jomo Kenyatta, foi um dos principais partidários da política pan-africanista.

No Quênia, a revolta nacionalista ganhou impulso em 1952, quando membros dos kikuyu, a tri-bo mais numerosa do país, formaram uma organização clandestina, os Mau-Mau, contra os co-lonizadores britânicos. O Quênia obteve a independência em 1963 e elegeu como seu primeiro presidente o líder Jomo Kenyatta. Ele governaria o país até sua morte, em 1978, quando seria sucedido pelo vice, Daniel Arap Moi.

Um dos processos mais sangrentos de independência aconteceu no Congo Belga, depois cha-mado de Zaire, o segundo maior país africano em extensão territorial, depois do Sudão. O an-tigo Congo havia sido um presente da Conferência de Berlim ao Rei Leopoldo II, da Bélgica, em 1885. Um presente e tanto: um vasto território rico em cobalto, ferro, potássio e diamantes. Até 1908, o Congo era tratado como propriedade pessoal do rei Leopoldo. Só naquele ano tor-nou-se uma colônia da Bélgica. Com tantas riquezas naturais à disposição, os belgas resistiram com uma forte repressão ao movimento de independência do Congo. A luta dos nacionalistas fez nascer um novo líder negro na África: Patrice Lumumba.

A luta pela independência no Congo Belga ganhou intensidade em meados dos anos 1950. Em 1958, no Congresso Pan-africano, o líder nacionalista Patrice Lumumba faria um discurso anti-colonialista que lhe daria prestígio e fortaleceria a causa de seu país. Os confrontos entre nati-vos e colonos belgas se intensificaram até a conquista definitiva da independência, em junho de 1960.

Conflitos entre o novo governo e províncias separatistas, no entanto, fizeram Lumumba, já no cargo de primeiro-ministro, pedir a intervenção militar da ONU e da União Soviética. Em se-tembro de 1960, Lumumba foi afastado do cargo e preso, por ordem do presidente Joseph Ka-savubu. Em fevereiro de 1961, o governo anunciou oficialmente sua morte. Patrice Lumumba recebeu homenagens da União Soviética, que batizou com o nome dele uma universidade em Moscou destinada a alunos estrangeiros. Iniciativas desse tipo faziam parte da luta ideológica da Guerra Fria.

Em 1971, sob o governo de Joseph Mobutu, o Congo Belga passou a se chamar Zaire. Todos os zairenses com nomes europeus foram obrigados a adotar nomes africanos. O próprio presiden-te passou a ser Mobutu Sese Seko. Em 1997, após a queda do ditador Seko, o Zaire passaria a se chamar República Democrática do Congo.

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As colônias portuguesas: independência tardia

Um a um, todos os Estados africanos conquistaram a independência, com exceção das colônias portuguesas Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A África do Sul também constituía um caso à parte, em função do regime de segregação racial, o apartheid, que vigorava no país.

As possessões portuguesas estavam entre as mais antigas da África, e foram também as que duraram mais tempo. Os três Estados só chegaram à independência nos anos 1970, depois da morte do ditador Antonio Salazar, que governou Portugal entre 1932 e 1970.

Moçambique, uma das nações mais pobres do planeta, foi a que permaneceu mais tempo sob domínio colonial: de 1505, quando os portugueses se apossaram de seu litoral, até 1975. O mo-vimento nacionalista surgiu na década de 1950 e ganhou impulso em 1962, com a criação da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), de linha marxista, liderada por Eduardo Mon-dlane. Através da tática de guerrilha, a Frelimo adquiriu em 1964 o controle de todo o norte da colônia. Mondlane seria assassinado em 1969, no exílio, e substituído por Samora Machel. Depois da morte de Salazar, em 1970, as derrotas de Portugal nas colônias africanas foram am-pliando a insatisfação entre os militares portugueses. O processo político em Lisboa resultou na Revolução dos Cravos, em abril de 1974, que reinstalou a democracia no país.

Os novos governantes cumpriram a promessa de pôr fim ao império colonial português, em 1975. Moçambique passou a ser governado pelo líder da Frelimo, Samora Machel, que implan-tou um modelo socialista inspirado no leste europeu e na China de Mao Tse-tung. Além das dificuldades econômicas, Machel precisou enfrentar as ações da Resistência Nacional Moçam-bicana (Renamo), um grupo anticomunista apoiado pela África do Sul.

Samora Machel morreu em 1986, num desastre aéreo, e foi sucedido pelo chanceler Joaquim Chissano. O novo governo reintroduziu a agricultura privada e se afastou gradativamente dos países socialistas, a fim de obter ajuda econômica ocidental. Em 1990, sob o impacto da queda do Muro de Berlim, a Frelimo abandonou o marxismo. Mas a guerra entre o governo e a Rena-mo continuou, num país repleto de minas explosivas, terras cultiváveis afetadas pela devasta-ção das batalhas e uma população vitimada pela fome, tifo e cólera.

Outro país que só conheceu a independência nos anos 1970 foi Angola. Ali, a presença de Por-tugal foi particularmente marcada pelo tráfico de escravos, a principal atividade comercial até meados do século XIX. No total, cerca de 3 milhões de angolanos foram vendidos, a maioria para o Brasil. Somente no século XX é que Portugal passou a considerar Angola uma colônia de povoamento. Quando o país conquistou a independência, em 1975, havia 350 mil colonos por-tugueses em Angola, ou 6% da população.

A luta pela independência em Angola teve início na década de 1960. A rebelião anticolonial se expressava através de três grupos rivais. Os principais eram o Movimento Popular de Liber-tação de Angola (MPLA), e a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). A rivalidade entre os grupos resultou em luta armada após a Revolução dos Cravos. O apoio es-trangeiro a cada facção em luta espelhava claramente a Guerra Fria na África. A Unita recebeu ajuda dos Estados Unidos, da França e da África do Sul, enquanto o MPLA teve o auxílio sovié-tico e cubano. Em outubro de 1975, a África do Sul enviou tropas para lutar em Angola, ao lado da Unita. A ofensiva contra a capital Luanda foi detida pela chegada de soldados cubanos, a pe-dido do MPLA. O governo sul-africano justificou o ataque alegando que Angola fornecia armas aos guerrilheiros da vizinha Namíbia, um país pequeno mas rico em ouro e outros minerais.

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Na verdade, a África do Sul queria deter o avanço de movimentos de esquerda no continente, avanço que poderia estimular a luta contra o apartheid sul-africano.

Em novembro de 1975, Lisboa renunciou oficialmente ao controle da colônia e o MPLA proclamou a República Popular de Angola. Mas foi um difícil começo para a nova república: os colonos portugueses abandonaram o país, e com isso Angola perdeu praticamente toda sua mão de obra qualificada.

O novo governo tinha como presidente Agostinho Neto. Em 1976, o MPLA assumiria o controle da maior parte do território e conquistaria o reconhecimento internacional. A Unita, liderada por Jonas Savimbi, prosseguiria a guerrilha com o apoio dos Estados Unidos. Em 1979, com a morte de Agostinho Neto, o novo presidente seria José Eduardo dos Santos.

Em 1988, um acordo entre Angola, Cuba e África do Sul fixou prazos para a independência da Namíbia, proclamada em março de 1990, e para a retirada das tropas cubanas, em maio de 1991. No mesmo mês, um novo acordo entre o governo e a Unita estabeleceu a convocação de eleições democráticas, realizadas em setembro de 1992. José Eduardo dos Santos foi confirmado presidente nas urnas, mas a Unita não aceitou o resultado e reiniciou a guerra civil. Os combates devastaram o país e provocaram a fome em grande escala. Segundo dados da ONU, 1,5 milhão de angolanos estavam ameaçados de morrer de inanição em 1993. Naquele ano, os Estados Unidos reconheceram o governo do MPLA e retiraram o apoio à Unita.

África na Guerra Fria: excelente mercado para a venda de armas

De um modo geral, os conflitos e guerras civis nos países africanos foram causados por uma combinação de componentes ideológicos, econômicos e étnicos. As superpotências e as antigas metrópoles coloniais estimulavam a formação de facções, contribuindo com armas e dinheiro. Nesse jogo complexo, os interesses de Washington e Moscou muitas vezes se misturavam às relações de ódio entre as tribos africanas, uma herança da época da escravidão e da administração colonial.

Esse emaranhado de conflitos étnicos e geopolíticos está bem representado pela história da África do Sul, iniciada ainda no século XVII, época da chegada dos holandeses à região. Os europeus chegaram à região sul africana em 1487, quando o navegador português Bartolomeu Dias contornou o cabo da Boa Esperança. A partir do século XVII, os imigrantes holandeses, inicialmente interessados em explorar a rota comercial para a Índia, passaram a considerar a região como sua pátria.

Em 1806, os ingleses tomaram a cidade do Cabo e se instalaram no lugar, lutando contra os nativos negros e contra os descendentes de holandeses, chamados de bôeres. Os choques atravessaram todo o século XIX, provocando movimentos migratórios dos bôeres para o nordeste do país, onde fundaram duas repúblicas, o Transvaal e o Estado Livre de Orange.

Na passagem para o século XX, a Guerra dos Bôeres resultou na vitória dos ingleses. Os Estados bôeres foram anexados pela Coroa Britânica. Em 1910, juntaram-se às colônias do Cabo e de Natal para constituir a União Sul-Africana. Os negros, no entanto, eram a imensa maioria e constituíam uma ameaça ao domínio da minoria branca.

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Ingleses e africâners, para minimizar a inferioridade numérica, fecharam em 1911 o primeiro acordo para a aprovação de leis segregacionistas contra a população negra. A política de segre-gação racial seria oficializada em 1948, com a chegada ao poder do Partido Nacional. O candi-dato Daniel Malan, simpatizante da ideologia nazista, elegeu-se usando na campanha a palavra apartheid, que em africâner significa separação.

O apartheid impedia o acesso dos negros à propriedade da terra, à participação política e às profissões melhor remuneradas. Também confinava os negros em áreas separadas. Foram proi-bidos os casamentos e as relações sexuais entre pessoas de raças diferentes.

Durante todo o período da Guerra Fria, a África do Sul foi tratada pelas superpotências na con-dição de país mais industrializado do continente africano. Em 1961, a África do Sul obteve sua independência completa e retirou-se da Comunidade Britânica. A política do apartheid foi ra-dicalizada. A partir de 1971, os negros foram confinados nos bantustões, nações tribais instala-das numa área correspondente a 13% do território sul-africano. O objetivo dos bantustões era dividir a população negra, acentuando as diferenças históricas e culturais entre as tribos. Além disso, os governantes negros dos bantustões passaram a apoiar o apartheid, sistema que lhes assegurava o privilégio do poder local.

A oposição ao regime segregacionista tomou corpo na década de 1960, quando o CNA (Con-gresso Nacional Africano), uma organização negra fundada em 1912, lançou uma campanha de desobediência civil. Nascia ali a semente de uma longa luta que culminaria no fim do apartheid, nos anos 1990. A luta na África do Sul começou a sensibilizar a opinião pública mundial ainda em 1960. A polícia racista matou 67 negros durante uma manifestação liderada pelo Congresso Nacional Africano em Sharpeville, uma favela a 80 quilômetros de Johanesburgo. O “massacre de Sharpeville” provocou marchas de protesto em todo o país. Em conseqüência, o CNA foi declarado ilegal. Seu principal líder, o advogado Nelson Mandela, foi preso em 1962 e depois condenado à prisão perpétua.

A dominação branca começou a perder força com o processo de descolonização em toda a Áfri-ca, principalmente após o fim do império colonial português e a queda do governo de minoria branca da Rodésia, atual Zimbábue, em 1980.

Para os Estados Unidos, no início dos anos 1980 a situação da África do Sul era incômoda. De um lado, Washington tinha o apoio do exército sul-africano na luta contra os comunistas em toda a região. De outro lado, o apartheid provocava indignação cada vez maior em todo o mun-do, tornando difícil a manutenção do apoio ao regime racista.

Do ponto de vista dos capitalistas, o apartheid não era um regime interessante, porque limi-tava o acesso da população negra ao mercado de consumo. Além disso, o Partido Comunista sul-africano também lutava contra o racismo, o que poderia levar a uma aproximação entre o partido e o Congresso Nacional Africano.

Em 1984, a lei marcial foi estabelecida numa tentativa de conter a revolta popular contra o apartheid. A economia do país entrou em crise, por causa das sanções internacionais adotadas para pressionar o governo racista. Os protestos prosseguiram nas ruas das principais cidades sul-africanas. Paralelamente, começou a ganhar corpo, no mundo inteiro, o movimento pela libertação do principal líder da luta contra o apartheid: Nélson Mandela.

A libertação de Mandela tornou-se uma das principais bandeiras do movimento contra o apar-theid. As tímidas mudanças promovidas pelo então presidente Pieter Botha, em 1986, foram

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seguidas de reformas mais profundas, articuladas a partir de 1989 por seu sucessor, Frederik de Klerk. De Klerk revogou, uma a uma, as leis racistas do apartheid e iniciou entendimentos com o CNA. Em fevereiro de 1990, Mandela foi colocado em liberdade, após 28 anos de prisão.

As reformas de Frederik de Klerk foram apoiadas em plebiscito realizado em 1992. Foi a últi-ma consulta popular restrita à população branca. Dois anos depois, em abril de 1994, foram realizadas as primeiras eleições multirraciais da história da África do Sul. Eleições vencidas por Nélson Mandela.

Com o fim da Guerra Fria, a África perdeu sua importância relativa. Nos anos 1990, o continen-te foi de novo entregue ao esquecimento. Os Estados africanos, artificialmente divididos, ainda são cenário de guerras civis provocadas por ódios tribais. Muitas ditaduras são mantidas atra-vés das armas, e a doença, a fome e a seca continuam ceifando a vida de milhões de pessoas.

A miséria da África não tem causas naturais. Ela é um legado da escravidão, da dominação colo-nial e, na segunda metade do século XX, do jogo entre as superpotências durante a Guerra Fria. O mundo tem uma dívida para com a África. Uma dívida infinita.

A Guerra Fria na Ásia

Uma dessas regiões, a Ásia, entrou de forma espetacular nesse contexto. Foi em 1949, quando o líder comunista Mao Tsé-tung tomou o poder na China, um país que na época contava 600 mi-lhões de habitantes. O comunismo chinês alterou o equilíbrio geopolítico no continente asiático. A revolução de Mao Tsé-tung encorajou a Coréia do Norte a atacar a Coréia do Sul, em 1950.

A guerra, que teve a intervenção militar dos Estados Unidos, durou 3 anos e causou a morte de mais de dois milhões de pessoas. Na época, a Índia, que havia conquistado sua independência em 1947, mantinha-se neutra, sem aderir a nenhum dos grandes blocos econômicos. Em 1954, foi a vez de a França sofrer uma derrota humilhante na Ásia, durante a Guerra da Indochina. A vitória do líder comunista vietnamita Ho Chi Min consolidou a formação do Vietnã do Norte e aumentou a preocupação dos Estados Unidos com o rumo político dos países do sudeste asiático.

Alarmado com a expansão comunista na região, o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, envolveu seu país na Guerra do Vietnã, em 1960. Depois de treze anos de batalhas, a maior superpotência do planeta seria derrotada por soldados pobremente armados e por guerrilheiros camponeses munidos de facas e lanças de bambu. Os Estados Unidos perderam a guerra não pelas armas, mas pela falta de apoio da opinião pública de todo o mundo, em particular da americana.

A oposição à Guerra do Vietnã foi uma das bandeiras dos jovens no final dos anos 1960, quando explodiram, nos dois blocos, movimentos por liberdade e democracia. No lado ocidental, em 1968, os jovens saíram às ruas em Paris e em outros centros importantes, como Londres e São Francisco. No Brasil, os protestos foram principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Todas essas manifestações culminaram num grande evento pacifista, contra a Guerra do Vietnã e o racismo: o Festival de Woodstock, realizado numa fazenda no estado de Nova York, em agosto de 1969. No lado socialista, o movimento atingiu o auge com a Primavera de Praga, na antiga Tchecoslováquia, em 1968. A luta pela democracia naquele país foi duramente reprimida pelas forças do Pacto de Varsóvia.

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A Guerra Fria no Oriente Médio

A Guerra Fria envolveu também uma das áreas mais fascinantes e estratégicas do planeta: o Oriente Médio. Habitada desde tempos imemoriais, a região destaca-se por três razões. Do ponto de vista econômico, é a mais rica em reservas de petróleo. Do ponto de vista geopolítico, serve de passagem entre Ásia e Europa. E no aspecto cultural, é o berço das três principais religiões monoteístas: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

Com todas essas características, o Oriente Médio tornou-se um dos centros nevrálgicos da Guerra Fria. O interesse pela região já era visível nos anos 1940, quando as principais potências mundiais negociaram a criação do Estado de Israel, em 1948. Havia muitos interesses geopolíticos em jogo no Oriente Médio. A União Soviética, de um lado, e os Estados Unidos, de outro lado, acreditavam que Israel poderia se tornar um importante parceiro político na região. Os palestinos e os países árabes vizinhos, no entanto, nunca aceitaram a criação de Israel.

A primeira guerra árabe-israelense, vencida por Israel em 1949, teve como conseqüência o fim do Estado árabe-palestino. Foi dividido entre Israel, Jordânia e Egito. Nas décadas seguintes, outras três guerras modificariam o panorama geopolítico do Oriente Médio. Por trás de cada conflito estava um jogo de alianças internacionais que evidenciava o interesse das superpotências na região. Somente em 1993, quando Israel e a OLP assinaram um acordo de paz, é que se acendeu uma pequena luz de esperança na região.

Em outra parte do Oriente Médio, no entanto, havia um elemento complicador: em 1979, o Irã converteu-se ao islamismo xiita, com pretensões de levar o mundo na direção da fé muçulmana. Uma situação que fugia à lógica da Guerra Fria. O Aiatolá Khomeini tratava Estados Unidos e União Soviética como o Grande Satã, como inimigos que deveriam ser combatidos em nome do Islã.

A revolução iraniana era um fato novo no cenário internacional no fim dos anos 1970. Até hoje, terminada a Guerra Fria, o Islã continua sendo um grande enigma contemporâneo. A Guerra Fria, na verdade, permeou os principais fatos políticos no mundo inteiro, desde o término da Segunda Guerra até o final dos anos 80. O complexo jogo das superpotências envolveu todos os continentes, inclusive a África.

A Guerra Fria na América Latina

“A América para os americanos”. Esse slogan resumia a doutrina lançada em 1823 pelo presi-dente dos Estados Unidos, James Monroe. A doutrina estabelecia como prioridade, na política externa, a ampliação da influência de Washington sobre os países do continente americano.

Até a primeira metade do século XX, os Estados Unidos de fato garantiram sua hegemonia nas Américas. Mas com a nova configuração geopolítica do planeta, depois da Segunda Guerra, os americanos precisaram reformular sua política externa para fazer frente à expansão do socialis-mo no mundo. Era o início da Guerra Fria.

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Cuba e o início da Guerra Fria na América Latina

No final dos anos 1950, a revolução cubana representou uma ameaça ao controle de Washing-ton sobre os países americanos. Os Estados Unidos não mediram esforços para garantir esse controle, inaugurando a Guerra Fria na América. Nos primeiros anos da Guerra Fria, a Casa Branca já havia demonstrado a disposição de afastar qualquer vestígio de influência comunista na América.

Em 1954, na Guatemala, a CIA, o serviço secreto norte-americano, articulou um golpe que de-pôs o presidente Jacobo Arbenz, eleito em 1950 com apoio dos comunistas. Arbenz, que havia realizado a reforma agrária e a expropriação de terras de empresas americanas, foi deposto pelo coronel Carlos Castillo Armas, que implantaria uma sangrenta ditadura no país. Cuba seria o próximo país a sofrer profundas transformações, cinco anos após o golpe na Guatemala. Os guerrilheiros liderados por Fidel Castro e Ernesto “Che” Guevara, que até então não apresenta-vam posições esquerdistas, lutavam para derrubar o ditador Fulgêncio Batista.

Sob a ditadura de Batista haviam se multiplicado em Cuba os hotéis de luxo, os cassinos e as casas de prostituição. Grandes plantações exploravam a cultura do tabaco, mas sem permitir qualquer liberdade sindical ou partidária aos trabalhadores. Com o apoio da população e até uma discreta simpatia da Casa Branca, os guerrilheiros tomaram o poder em janeiro de 1959, provocando a fuga de Batista. Começava a era de Fidel Castro.

Pouco depois de assumir o governo, Fidel Castro iniciou um programa de reforma agrária e de nacionalização das empresas americanas, além de levar a julgamento os principais colabora-dores de Fulgêncio Batista. As medidas surpreenderam os Estados Unidos, que passaram a se preocupar com os rumos do novo regime de Havana.

À medida que Fidel Castro se aproximava da União Soviética, o governo americano adotava medidas de represália, como a suspensão da compra de açúcar cubano. A ruptura diplomática aconteceria em janeiro de 1961, inaugurando um período de relações tensas entre Washington e Havana.

Em abril de 1961, meses depois do rompimento diplomático, a CIA organizou uma invasão de Cuba a partir da Baía dos Porcos. Recrutou cubanos exilados em Miami, na maioria refugiados e cidadãos expulsos pelo governo de Fidel. A invasão foi um fracasso. Uma série de desencon-tros, falhas de estratégia e má coordenação permitiu que as forças armadas de Cuba realizas-sem um contra-ataque fulminante.

A principal conseqüência da tentativa de invasão, do ponto de vista geopolítico, foi o aprofun-damento dos laços entre Cuba e União Soviética. Essa proximidade provocaria uma das mais sérias crises da Guerra Fria e do século XX, a crise dos mísseis.

Em outubro de 1962, aviões de espionagem dos Estados Unidos detectaram movimentos que indicavam a disposição soviética de instalar uma base de mísseis nucleares em Cuba. Seguiram--se duas semanas de tensão, período em que o presidente Kennedy advertiu Moscou de que usaria armas nucleares caso a União Soviética insistisse na base de mísseis. O dirigente Nikita Khruschev recuou, mas conseguiu um compromisso de Kennedy da não-intervenção americana em Cuba. Esse compromisso, no entanto, não impediu que os Estados Unidos iniciassem um bloqueio econômico e naval do país, numa tentativa de asfixiar a economia cubana. Washing-ton também fez pressões para que Cuba fosse expulsa da Organização dos Estados Americanos,

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a OEA. Na prática, os Estados Unidos passaram a considerar Cuba como integrante do bloco oriental, o grupo de países do leste europeu aliado de Moscou. Mas a Casa Branca jamais per-deu de vista a proximidade geográfica da pequena ilha, e utilizou a revolução cubana como pretexto para uma grande ofensiva anticomunista no continente americano.

Dentro da estratégia de evitar o surgimento de “novas Cubas”, os Estados Unidos voltaram a atenção para o maior e mais importante país da América Latina, o Brasil. No início dos anos 1960, a situação no Brasil era de instabilidade política. Em 25 de agosto de 1961, o presiden-te Jânio Quadros renunciou ao cargo sete meses depois de eleito, numa frustrada manobra política para ampliar seus poderes. O Congresso aceitou a renúncia e o país mergulhou numa séria crise política. Os militares de direita não queriam a posse do vice de Jânio, João Goulart, um político identificado com o trabalhismo de Getúlio Vargas. A construção de hidrelétricas, a instalação da indústria automobilística e a criação de Brasília, durante o governo de Juscelino Kubitschek, entre 1955 e 1959, haviam estimulado o surgimento de grandes concentrações de trabalhadores urbanos, que se organizaram em sindicatos para exigir seus direitos. Dentro des-se contexto, a ascensão de um líder trabalhista como João Goulart parecia significar uma ame-aça aos interesses tradicionais dos grupos dominantes brasileiros. Num primeiro momento, a crise foi contornada e Jango tomou posse. Em 1962, no entanto, as centrais sindicais convoca-ram greves gerais por melhores condições de trabalho e para exigir do governo um ministério nacionalista e democrático.

O avanço das lutas trabalhistas e o prestígio de líderes como Luís Carlos Prestes, dirigente do Partido Comunista Brasileiro, assustavam os setores mais conservadores da classe média e da Igreja Católica. Políticos influentes, grupos de direita, setores da igreja e donas-de-casa organi-zaram passeatas em defesa da religião, da família e da liberdade, valores que julgavam ameaça-dos pelo avanço comunista. A sociedade marchava para uma crise de graves proporções.

Os anos 1970 foram extremamente difíceis também para outros países da América Latina. Mui-ta violência política aconteceu no Chile, onde o presidente socialista Salvador Allende foi derru-bado por um golpe militar, em 1973. Tanto no Brasil como no Chile, o rumo dos acontecimentos foi acompanhado de perto por Washington. Na visão da Casa Branca, a imposição de ditaduras militares nos países latino-americanos fazia parte da luta contra o comunismo. No Chile, a CIA colaborou com um golpe de Estado contra o presidente Salvador Allende, em 1973.

Eleito democraticamente em 1970, Allende estava realizando a reforma agrária e promovendo uma série de programas sociais, como alfabetização e melhoria do sistema de saúde e do sa-neamento básico. Além disso, estava nacionalizando diversas empresas norte-americanas. Em conseqüência, Allende passou a sofrer uma campanha de desestabilização estimulada por Wa-shington, que resultou no golpe militar de setembro de 1973. Depois de confrontos armados, o presidente foi encontrado morto no Palácio de La Moneda, sede oficial do governo chileno. O poder passou às mãos de uma junta militar chefiada pelo general Augusto Pinochet. Num clima de forte repressão, Pinochet dissolveu os partidos políticos e perseguiu os adversários do novo regime. O Estádio Nacional foi transformado em campo de concentração, lotado de presos po-líticos. Muitos deles desapareceram. Houve casos de prisioneiros torturados até a morte, como o cantor Victor Jara, muito querido entre o povo chileno por suas canções sobre os ideais de justiça e solidariedade.

Pinochet devolveu aos antigos proprietários a maioria das empresas nacionalizadas por Allen-de. Governou com poderes absolutos e impôs, em 1980, uma nova Carta Magna instituciona-lizando o regime autoritário. Apesar da repressão, a ditadura começou a declinar a partir de

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1983, com as manifestações contra os planos econômicos recessivos do governo, que compri-miram os salários, cortaram subsídios à saúde e educação e geraram desemprego. A repressão policial já não era suficiente para intimidar os manifestantes.

Em 1988, o general sofreu uma séria derrota política. Num plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, 55% dos votantes disseram não à proposta. O resultado forçou a transição do país para a democracia. As oposições se uniram para eleger à presidência o demo-crata-cristão Patrício Aylwin, em dezembro de 1989. O general Pinochet, no entanto, assegurou sua permanência como chefe das Forças Armadas. Com isso, evitou seu próprio julgamento e o de militares acusados de tortura e de responsabilidade na morte de mais de 2.200 presos polí-ticos durante o regime militar. Em março de 1998, Pinochet deixou o cargo e tornou-se membro vitalício do Senado, em meio a fortes protestos de políticos e de setores da opinião pública chilena.

Na primeira metade da década de 1970, Brasil e Chile eram os principais países da América do Sul onde vigoravam ditaduras. Em 1976, no entanto, a Argentina passaria a integrar o grupo. Durante sete anos, os argentinos viveram sob um regime militar repressivo que passaria à his-tória como o período da “guerra suja” empreendida pela ditadura contra os seus opositores. No final dos anos 1960, a Argentina vivia uma crise política e um período de mobilização po-pular contra o governo do general Juan Carlos Onganía. Em 1970, Onganía foi deposto. Vários militares se sucederam no poder até que, em 1973, novas eleições livres foram convocadas. O novo presidente, Hector Câmpora, permaneceria apenas 3 meses no cargo. Em junho de 1973, renunciou à presidência para permitir a eleição de Perón, um líder carismático e populista que voltava à Argentina depois de um longo exílio na Espanha. Perón havia sido presidente de 1946 a 1952, quando foi deposto em meio a acusações de corrupção. No período, alcançou grande prestígio popular com a ajuda da esposa, Evita.

Eleito novamente em setembro de 1973, com mais de 60% dos votos, Perón não conseguiu pacificar o país. Seu próprio partido, o Justicialista, dividiu-se em duas facções antagônicas que recorreram à violência para resolver suas divergências. Com a morte de Perón, em julho de 1974, sua segunda mulher, a vice-presidente Isabelita, assumiu a chefia do governo e ampliou o espaço dos políticos conservadores do Partido Justicialista. Em conseqüência, os grupos guerri-lheiros intensificaram a luta contra o governo.

Isabelita foi deposta em março de 1976 por um golpe liderado pelo general Jorge Rafael Videla. Uma junta militar passou a dirigir o país. Fechou o Congresso, dissolveu os partidos políticos e iniciou a chamada "guerra suja" contra os oposicionistas. Até o fim da ditadura, em 1983, desa-pareceriam mais de 30 mil pessoas na Argentina.

Em 1982, o regime militar argentino enfrentava dificuldades políticas provocadas por uma forte crise econômica. Para desviar a atenção e apelar ao nacionalismo dos argentinos, o presidente, general Leopoldo Galtieri, ordenou a invasão das Ilhas Malvinas, ou Falkland, um território bri-tânico situado no Oceano Atlântico a sudeste da Argentina.

Inicialmente, a decisão de Galtieri atingiu seu objetivo. Milhares de argentinos foram às ruas para apoiar a ocupação das Malvinas. A ação militar, no entanto, não teve apoio internacional. Além disso, Galtieri precisou enfrentar o poderio bélico da Grã-Bretanha, que possui uma das frotas navais mais sofisticadas do mundo. Os conflitos armados entre Argentina e Grã-Bretanha pela posse das Ilhas Malvinas, um arquipélago com cerca de duzentas ilhas sob domínio britâ-nico desde o século XIX, duraram apenas dois meses, do início de abril a meados de junho de 1982.

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Com a derrota, o general Galtieri foi forçado a renunciar. Em seu lugar assumiu o general Rey-naldo Bignone, que iniciou as negociações para devolver o poder aos civis. Em dezembro de 1983, o candidato da União Cívica Radical, Raul Alfonsín, venceria as eleições, pondo fim à dita-dura na Argentina. Em 1984, os ex-presidentes militares foram presos. Uma comissão liderada pelo escritor Ernesto Sábato constatou a existência de campos de prisioneiros, onde quase 9 mil opositores do regime militar foram comprovadamente mortos entre 1976 e 1982.

Em 1985, cinco dos nove membros das juntas militares que governaram o país foram condena-dos a penas que variavam de 4 anos à prisão perpétua. No ano seguinte, os militares responsá-veis pela Guerra das Malvinas foram condenados e pegaram de 8 a 14 anos de prisão.

Em 1989, o candidato Carlos Menem venceu as eleições e tornou-se o novo presidente da Ar-gentina, marcando o retorno do peronismo ao poder. Contra a vontade da opinião pública, assi-nou um indulto beneficiando os militares condenados pela guerra suja.

Nem só de golpes de direita viveu a América Latina nos anos da Guerra Fria. Em 1979, um pequeno país da América Central desafiou o poderio norte-americano e fez sua revolução nitidamente popular chegar à vitória: a Nicarágua. A revolução sandinista marcou mais um capítulo na longa história de luta da Nicarágua pela sua soberania. A ingerência dos Estados Unidos sobre a vida política da Nicarágua vem desde o século XIX. No começo do século XX, o governo de Washington ampliou sua influência, interessado em proteger seu monopólio sobre o canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico, inaugurado no vizinho Panamá em 1914.A ostensiva presença norte-americana na Nicarágua gerou a criação de movimentos nacionalistas de resistência.

O principal líder guerrilheiro, AugustoCésar Sandino, foi morto em 1934 por ordem do então comandante da Guarda Nacional nicaragüense, Anastasio Somoza Garcia. Em 1936, Somoza venceu as eleições presidenciais e inaugurou uma ditadura dinástica que atravessaria quatro décadas. Em 1962, três anos depois da revolução cubana, o intelectual marxista Carlos Fonseca lançou o movimento guerrilheiro Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), com o objetivo de derrubar a ditadura da família Somoza e implantar um regime socialista no país. Em poucos anos a Frente Sandinista conquistou a simpatia da população, especialmente dos camponeses, que viviam em condições miseráveis e permanentemente aterrorizados pela Guarda Nacional somozista. Nos anos 1970, com a exacerbação da tirania e da corrupção do governo, até mesmo os setores burgueses e da classe média começaram a manifestar simpatia pelos sandinistas.

A crise atingiu um dos pontos mais altos em 1978, quando o jornalista Pedro Joaquín Chamorro, diretor do jornal La Prensa, foi assassinado por agentes de Somoza. Foi o estopim de uma insurreição nacional liderada pelos sandinistas. Os guerrilheiros derrotaram a Guarda Nacional e tomaram o poder em julho de 1979. Anastasio SomozaDebayle, ditador desde 1967, conseguiu fugir do país, mas seria morto num atentado em 1980 em Assunção, no Paraguai.

O novo governo, encabeçado por Daniel Ortega e formado por sandinistas e setores liberais, expropriou todos os bens da família Somoza, nacionalizou bancos e companhias de seguro e passou grande parte da economia para o controle do Estado. A convivência pacífica de liberais e sandinistas duraria pouco. Em 1980, Violeta Chamorro e Alfonso Robelo, os dois liberais da junta, romperam com o governo e passaram para a oposição. Estava cada vez mais claro que os sandinistas caminhavam na direção de um regime socialista simpático a Cuba e à União Soviética.

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Essa idéia era intolerável para o governo conservador do presidente norte-americano Ronald Reagan. Ainda mais porque movimentos guerrilheiros esquerdistas ameaçavam tomar o poder em outros países da América Central, em particular em El Salvador e na Guatemala. A situação era explosiva. Em 1981, os Estados Unidos suspenderam a ajuda econômica à Nicarágua, acusando os sandinistas de apoio à guerrilha esquerdista de El Salvador. Ao mesmo tempo, passaram a financiar os "contras", guerrilheiros anti-sandinistas recrutados entre os membros da antiga Guarda Nacional, que fustigavam os sandinistas a partir de bases instaladas em Honduras. Em 1983, o governo de Washington enviou uma frota naval para patrulhar a costa nicaragüense, exatamente como havia feito com Cuba a partir dos anos 1960. Em outubro de 1983, Reagan ordenou a invasão de Granada, uma pequena ilha da América Central próxima da costa da Venezuela. Na época, a ação foi interpretada como um alerta à Nicarágua.

O pretexto para a invasão foi garantir a segurança de cidadãos norte-americanos, supostamente em risco depois do golpe de Estado que derrubou o primeiro-ministro Maurice Bishop. As tropas norte-americanas, no entanto, desmantelaram a formação do novo governo, de tendência socialista, liderado pelo general Hudson Austin.

As medidas do presidente norte-americano Ronald Reagan faziam parte de uma política externa inflexível com relação à União Soviética e ao comunismo de modo geral.

Escândalo Irã-Contras

A disposição anticomunista da administração Reagan acabou gerando episódios como o escândalo “Irã-Contras” – também conhecido como Irangate –, uma operação clandestina e ilegal montada pelo governo para ajudar a guerrilha anti-sandinista da Nicarágua. A operação veio a público em novembro de 1986, quando a imprensa americana denunciou as negociações secretas entre a Casa Branca e o governo xiita do Irã. De acordo com as denúncias, o governo iraniano adquiriu armas dos Estados Unidos em troca da libertação de reféns norte-americanos presos por xiitas no Líbano. Além disso, o dinheiro da compra dos armamentos foi depositado na Suíça, em contas movimentadas pelos “contras” da Nicarágua. Washington, por sua vez, além de armar os muçulmanos xiitas, comprometeu-se a liberar bilhões de dólares do Irã congelados em bancos americanos desde 1979, quando a revolução iraniana derrubou o xá Reza Pahlevi e levou o aiatolá Khomeini ao poder. A operação contrariava uma decisão do próprio Congresso americano, que havia proibido qualquer ajuda aos contras da Nicarágua. Pressionado pela imprensa e pela opinião pública, o governo Reagan acabou admitindo sua participação no caso.

Em conseqüência, o chefe do Conselho de Segurança Nacional, almirante John Poindexter, e seu subordinado, coronel Oliver North, foram forçados a renunciar a seus cargos. As investigações apontaram ainda o envolvimento de outros funcionários de alto escalão do governo, incluindo o então vice-presidente George Bush. Durante várias semanas, a TV americana transmitiu ao vivo os trabalhos da comissão de investigação, que descobriu uma complexa rede envolvendo contrabandistas de armas, especulação financeira em paraísos fiscais e jogos de influência e de poder. O coronel North assumiu toda a responsabilidade pela operação. Uma das principais conseqüências do escândalo “Irã-contras” foi a redução da ajuda americana aos guerrilheiros anti-sandinistas da Nicarágua. Dali para frente diminuiu sensivelmente o peso da influência dos Estados Unidos sobre o rumo dos acontecimentos em Manágua.

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Em 1988, o governo sandinista assinou uma trégua com os “contras”. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e enfrentando índices de inflação de 33 mil por cento ao ano, os sandinistas convocaram eleições gerais em março de 1990. Com a vitória de Violeta Chamorro, da União Nacional Opositora, os Estados Unidos cancelaram o embargo econômico e os “contras” suspenderam as hostilidades.

Cuba e a Glasnost: crise econômica

A derrota do sandinismo lançou dúvidas sobre o futuro da vizinha Cuba. Além de enfrentar o embargo dos Estados Unidos, o presidente Fidel Castro viu a crise econômica cubana agravar-se com a redução da ajuda soviética. Desde 1985, ano da ascensão de Mikhail Gorbatchev ao poder em Moscou, os soviéticos haviam reduzido substancialmente o apoio financeiro a Cuba. A ajuda de Moscou foi integralmente cortada em 1991, quando a própria União Soviética deixou de existir. E, para complicar ainda mais as coisas para Fidel, o Congresso americano aprovou, em 1992, a emenda Torricelli, apertando ainda mais o embargo comercial contra Cuba.

Em janeiro de 1998, a ilha de Fidel recebeu a visita do Papa João Paulo II. Durante uma semana, o sumo pontífice celebrou missas campais e manteve reuniões com o presidente cubano. A visita teve dois objetivos principais, segundo observadores: por um lado, exortar Castro a democratizar a política interna do país. E, por outro lado, pressionar os Estados Unidos pelo abrandamento do embargo comercial imposto contra a ilha.

Justamente por representar uma exceção no Ocidente, o regime cubano não interferiu no novo arranjo das forças nas Américas. Os anos pós-Guerra Fria caracterizam-se como um período de mudanças somente na atuação e na retórica de Washington para a América Latina, e de manutenção da absoluta hegemonia geopolítica dos Estados Unidos no continente americano.

Gorbatchev e o fim da Guerra Fria

De 1917 até 1990, o povo soviético viveu sob um regime de partido único, que exercia um estreito controle sobre a vida dos cidadãos. A partir da ascensão de Gorbatchev, em 1985, a União Soviética experimentou uma fase de transição rumo a uma nova ordem política, ao modelo de economia de mercado e a uma nova orientação nas relações internacionais. Com as reformas liberalizantes de Gorbatchev, surgiram na União Soviética as organizações políticas e sindicais independentes e o pluripartidarismo.

URSS, anos 80: crise econômica

No início dos anos 1980, a economia soviética, inteiramente controlada pelo Estado, encontrava-se à beira do colapso. O parque industrial, em sua maior parte, estava obsoleto. Os níveis de produção caíam a cada ano e a qualidade de vida tornava-se insatisfatória para a maioria da população. Oficialmente não havia desemprego na União Soviética. O governo não

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divulgava informações sobre a verdadeira situação do Estado. Na verdade, em algumas regiões, como no Cáucaso, mais de um terço da população economicamente ativa estava sem trabalho. A crise chegou a alguns bairros de Moscou. Os moradores enfrentavam a falta de alimentos e produtos básicos e a precariedade de serviços, como o fornecimento de luz, água e telefone. A população formava grandes filas para comprar pão, leite e outros produtos essenciais.

Essa realidade contrastava com o dia-a-dia de um reduzido grupo de cidadãos com acesso a todo tipo de privilégios. A opulência dos altos funcionários do Partido Comunista, uma das mais notórias distorções dos ideais marxistas, ficava ainda mais visível num momento de crise econômica. Os funcionários da burocracia estatal, moradores de amplos apartamentos, faziam suas compras em lojas especiais, longe das filas. Possuíam carros novos ou andavam em limusines, viajavam sempre ao exterior e se refugiavam em confortáveis casas de campo, as famosas “datchas”. Os cidadãos comuns, de modo quase oposto, moravam em pequenos apartamentos, muitas vezes com outras famílias, viajavam para as colônias de férias determinadas pelo governo, e aguardavam alguns anos na lista de espera para adquirir um carro popular.

A KGB e a burocracia soviética

De um modo geral, um quadro como esse, de desequilíbrio econômico e injustiça social, costuma estimular o surgimento de grupos de oposição. Mas, na União Soviética, as tentativas de oposição organizada eram logo reprimidas com rigor pela KGB, a temida polícia política que não media esforços para eliminar os focos de resistência ao regime.

De 1964 a 1982, mais do que nunca, a KGB foi utilizada para preservar os privilégios dos burocratas de alto escalão do PCUS. Durante esse período o homem forte da União Soviética era Leonid Brejnev, que chegou ao poder em outubro de 1964, em substituição a Nikita Khruschev.

Considerado nos meios políticos ocidentais um dirigente de linha dura e pouco afeito às formalidades da diplomacia, Brejnev marcou seu governo com medidas graves como a invasão da Tchecoslováquia, em 1968, para pôr fim ao período liberal conhecido como Primavera de Praga. Onze anos depois, em dezembro de 1979, outra medida dura e de grande repercussão: o líder ordenou a ocupação militar do Afeganistão, para preservar o domínio de Moscou na região centro-oeste da Ásia. Na era Brejnev, a KGB lançou mão de métodos duros para combater os focos de oposição a este quadro de privilégios dos burocratas, e aos rumores de envolvimento do governante e de sua filha Galina com episódios de corrupção e contrabando. Muitos oposicionistas foram presos, enclausurados em hospitais psiquiátricos ou confinados em localidades determinadas pelo governo. Alguns dissidentes tornaram-se célebres no Ocidente, como o escritor Alexander Soljenítsin e o físico Andrei Sakharov, prêmio Nobel da Paz em 1975.

O fim da era Brejnev

Na época da morte de Brejnev, em 1982, o único setor em boas condições, além da burocracia do Partido Comunista, era o militar. A indústria bélica e espacial manteve a produção de mísseis e foguetes de alto nível de sofisticação, apesar do elevado custo social.

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O novo secretário-geral do Partido Comunista era Yuri Andropov, uma figura enigmática que assumiu o poder com fama de linha dura, por ter sido chefe da KGB durante 15 anos. Essa imagem foi reforçada com a derrubada, em 1983, de um avião de passageiros da Korean Air Lines, por invasão do espaço aéreo soviético. Por outro lado, Andropov iniciou um processo de pequenas mudanças liberalizantes na economia, estimulou uma campanha contra a corrupção na máquina administrativa do Estado e reuniu em seu governo alguns auxiliares que mais tarde estariam envolvidos nas reformas de Mikhail Gorbatchev. Andropov ficou no poder até a morte, em fevereiro de 1984.

Para alguns historiadores, Andropov estava bem informado sobre a precária situação econômica do país, em virtude de suas ligações com a KGB. Assim, teria decidido antecipar algumas reformas para evitar a eclosão de movimentos sociais e trabalhistas que poderiam abalar a estrutura de poder na União Soviética. O sucessor de Andropov, Konstantin Tchernenko, assumiu o poder já em condições precárias de saúde. Governou por 11 meses, até morrer em março de 1985. Hoje, sabe-se que sua indicação pelo partido foi um modo de adiar por algum tempo a questão sucessória, até que os dois grupos em disputa chegassem a um acordo. De um lado, os herdeiros políticos de Brejnev não queriam saber de reformas. De outro lado, a ala mais jovem do partido pretendia levar adiante as mudanças políticas e econômicas no país. No final, deu Gorbatchev.

Começa a era Gorbatchev

Mikhail Sergueievitch Gorbatchev assumiu a secretaria-geral do Partido Comunista em março de 1985, aos 54 anos. Sua ascensão ao cargo foi resultado de uma trajetória rápida e brilhante dentro da estrutura do partido. Membro desde 1980 do Politburo, a instância máxima do Comitê Central do PCUS, Gorbatchev demonstrava uma habilidade diplomática incomum, e quando assumiu o poder já era uma figura conhecida nos meios políticos ocidentais.

Em agosto de 1985, Gorbatchev surpreendeu o mundo ao suspender os testes nucleares subterrâneos, declarando uma moratória nuclear unilateral. A medida, no entanto, soou como mais uma peça de propaganda soviética. O líder reservava mais surpresas para o XXVII Congresso do Partido Comunista, em fevereiro de 1986, quando expôs um audacioso programa de reformas políticas e econômicas. No plano político, Gorbatchev queria enterrar a corrida armamentista e estabelecer um projeto de colaboração entre as nações. No plano econômico, a meta era revitalizar todos os setores de produção, estagnados desde a época de Leonid Brejnev.

Glasnost e Perestroika

As expressões glasnost e perestroika começaram a se popularizar na imprensa ocidental. Glasnost, em russo, quer dizer transparência. Com esse conceito, Gorbatchev queria expressar uma nova relação entre o poder e a sociedade. Para ele a censura deveria ser abolida, para que os problemas pudessem ser discutidos abertamente pela população. Perestroika significa reconstrução. Indicava a necessidade de reformulação da economia soviética, sobre novas bases. Em 1986, Gorbatchev mostrava-se um defensor do estatismo socialista e do igualitarismo

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econômico, mas afirmava também que seria bem-vinda a iniciativa empreendedora de cada cidadão. Para ele, o Estado não deveria ser um obstáculo para o progresso individual. As propostas eram consideradas muito avançadas dentro da própria União Soviética. Observadores acreditavam que Gorbatchev poderia ter o mesmo fim de Nikita Khruschev, deposto em 1964 ao tentar introduzir reformas vistas com antipatia pelos burocratas do Partido Comunista.

Chernobyl: sinais de abertura política

O primeiro grande teste do novo líder aconteceu em abril de 1986, quando um vazamento na usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, liberou uma nuvem radiativa que contaminou diversas regiões da União Soviética e da Europa. O aumento dos níveis de radiatividade na atmosfera foi detectado pela Suécia, que pressionou o governo soviético por mais informações.

Depois da relutância no primeiro momento, as autoridades de Moscou admitiram a responsabilidade pelo acidente e passaram a tratar do assunto com uma abertura sem precedentes. A imprensa internacional recebeu todas as informações que procurava, e iniciou-se um amplo debate sobre o programa nuclear e as condições das usinas instaladas na Europa.

Outro exemplo dos novos tempos foi a libertação, em dezembro de 1986, do físico Andrei Sakharov, confinado por quase sete anos na cidade de Gorki, a 400 quilômetros de Moscou. O célebre dissidente havia sido condenado por Brejnev em razão de sua luta pelos direitos humanos e por suas críticas à invasão do Afeganistão. Em pouco tempo, Gorbatchev deu ao mundo provas de que falava sério ao propor reformas substanciais no Estado soviético. Essa disposição começou a inquietar setores do Partido Comunista. No final de 1987, o governante lidava com duas alas antagônicas dentro de seu partido. Não demorou para que essas divergências fossem de conhecimento público.

Em seu segundo ano de governo, Mikhail Gorbatchev enfrentava duas correntes formalmente inconciliáveis. Uma delas, adversária das mudanças, acreditava que a saída para a crise estava no aprofundamento dos traços coletivistas da União Soviética. Liderada por Igor Ligatchov, a ala tinha o apoio dos burocratas da época de Brejnev. O outro grupo, ao contrário, queria acelerar as reformas. Defendia a limitação dos privilégios usufruídos pela cúpula do poder e maior apoio à iniciativa privada. Essa corrente, formada pelos setores mais jovens, tinha a liderança de Bóris Ieltsin, chefe do partido em Moscou. Gorbatchev tentou o caminho da conciliação. Em vez de adotar um dos pontos de vista e combater o outro, escolheu uma política de compromissos e concessões. Num certo momento, cedia às pressões dos reformistas.

Em outro momento, criticava os excessos e satisfazia a chamada ala burocrática. A primeira grande vítima desse processo foi Bóris Ieltsin, que no final de 1987 caiu em desgraça e perdeu todos os cargos de chefia do Partido Comunista. O ano de 1988 foi decisivo para a implantação da glasnost e da Perestroika. Gorbatchev autorizou a Igreja Ortodoxa Russa a celebrar seu milésimo aniversário em todo o país. A medida contribuiu para criar um clima inédito de festa e de liberdade espiritual. Além disso, em maio de 1988, o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, visitou Moscou numa atmosfera de descontração política que prenunciava importantes acordos sobre desarmamento.

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Gorbatchev e Reagan assinando um tratado antinuclear

Costumes soviéticos tornam-se mais liberais

As mudanças chegaram aos costumes, que se tornaram mais liberais. Em junho, o primeiro concurso de Miss Moscou mostrava que a preocupação com a beleza frívola já não era mais considerada um sinal de decadência burguesa ou um desvio do socialismo.

O cinema soviético logo refletiu a liberalização dos costumes. O filme “A Pequena Vera”, por exemplo, mostrava o comportamento dos jovens na era da Glasnost e as relações sociais e familiares na União Soviética no fim dos anos 80. Foi nesse clima que se instalou, em junho e julho de 1988, a XIX Conferência do Partido Comunista. Gorbatchev anunciou sua determinação de permitir o pluralismo político no país, respeitando as particularidades do regime socialista. A partir dessa data, os membros do partido precisariam disputar para valer, através do voto, os cargos eletivos do Estado e as vagas do Soviete Supremo, o órgão máximo de poder do país. Na mesma conferência, Gorbatchev condenou abertamente, pela primeira vez, a natureza do socialismo soviético, classificada por ele de arbitrária. Defendeu a criação de um sistema de garantias dos direitos dos cidadãos, o estado de direito.

Com essa postura, o dirigente entrou em confronto direto com Igor Ligatchov, o líder dos burocratas do partido. Os ventos da mudança começavam a soprar mais rapidamente sobre Moscou. A primeira decisão importante depois da conferência do Partido Comunista foi tomada em agosto de 1988: as tropas do exército soviético começaram a deixar o Afeganistão depois de nove anos de ocupação e guerra.

Surgem as frentes populares

Outro fato significativo foi o surgimento das Frentes Populares nas repúblicas que formavam a União Soviética. Eram organizações não partidárias, mas com uma plataforma política definida, que reuniam milhares de membros do Partido Comunista, especialmente os mais jovens. De um modo geral, essas frentes lutavam pelo fim da opressão exercida durante décadas pelo poder central. Faziam denúncias dos crimes da era stalinista e lutavam contra o descaso do governo em relação às questões ambientais. Nas repúblicas de maioria islâmica, as frentes populares impulsionavam movimentos religiosos, como no Tadjiquistão. Muitas dessas frentes, desde o início de suas atividades, enfatizavam a necessidade da proclamação da independência em relação à União Soviética.

No final de 1988, a paisagem cultural estava substancialmente diferente, como se podia observar nas ruas de Moscou. Mas verificava-se um vácuo no sistema político soviético. Com tantas mudanças em curso, não havia ainda um novo sistema definido, em substituição ao antigo. A economia do país não ia bem. Sem medo de punições, funcionários públicos procuravam fortuna fácil no mercado negro, tirando mercadorias de circulação para revendê-las a preços mais altos. Além disso, uma resolução da XIX Conferência do Partido Comunista permitiu a criação de cooperativas privadas, com objetivos claros de lucro. Com elas surgiu uma casta de prósperos negociantes, em geral antigos burocratas do Estado ou integrantes de grupos mafiosos internacionais. Enquanto isso, a maioria da população sofria os efeitos da desordem administrativa.

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(...) A situação da economia soviética durante o período da Perestroika foi resultado de dois movimentos contraditórios e assimétricos no tempo. O primeiro foi aquele que resultou no desmanche dos ministérios e no desmanche do aparelho de planificação. O outro foi aquele que pretendia introduzir um novo sistema, de relações de mercado, descentralizando decisões, desestatizando as empresas estatais. O primeiro se fez muito rapidamente. O segundo levou mais tempo. E, exatamente por tomar mais tempo, está sendo introduzido na Rússia até hoje. Era inevitável que esses movimentos gerassem a desorganização econômica que se refletiu numa série de dificuldades, entre elas o abastecimento. Cabe acrescentar que esse problema no abastecimento foi agravado pelo comportamento da própria população, que, ainda sob o trauma da guerra, resolveu estocar mantimentos em suas casas.

Todos os setores da sociedade foram sacudidos pelas reformas de Gorbatchev. As pressões políticas e econômicas sobre Moscou vinham de todos os lados. Nas repúblicas, movimentos nacionalistas queriam a independência. Na economia, a população temia a instabilidade, a inflação e os abusos do mercado negro. Na política, o Partido Comunista estava cada vez mais dividido, enquanto as frentes populares cresciam.

Eleições agitam a União Soviética

Nesse cenário de incertezas, Gorbatchev precisou enfrentar um novo teste, em março de 1989: as eleições para o Congresso dos Deputados do Povo, também chamado de Assembléia do Povo, que escolheria o novo presidente da República. Pela primeira vez na União Soviética, muitos candidatos concorriam ao Parlamento. As ruas se encheram de faixas e cartazes de campanha. Os eleitores compareciam aos comícios e faziam questão de manifestar apoio aos seus candidatos.

Embora só o PC estivesse legalizado, qualquer pessoa podia se candidatar, bastando o aval de quinhentos moradores do bairro. As eleições, realizadas em clima de liberdade, marcaram o retorno triunfal de Bóris Ieltsin, o deputado mais votado do país. E também liquidaram o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. Inúmeros candidatos reformistas conseguiram se eleger, ampliando a base de apoio de Gorbatchev.

Nessa época, Mikhail Gorbatchev era identificado, no Oriente e no Ocidente, como um estadista empenhado no fim da corrida armamentista, que levaria o mundo a uma nova era de paz. Em maio de 1989, a visita de Gorbatchev a Pequim acendeu o estopim do movimento dos jovens pela democratização da China, que resultaria no massacre da Praça da Paz Celestial, no começo de junho.

A queda do Muro de Berlim

Em outubro do mesmo ano, na Alemanha Oriental, o dirigente advertiu o líder comunista Erich Honecker de que a União Soviética não toleraria uma repressão violenta ao movimento pela democracia, cada vez mais forte naquele país. A visita de Gorbatchev à capital do país fez deslanchar o movimento popular que resultaria, no mês seguinte, na queda do Muro de Berlim. A queda do muro representou o fim do socialismo no mais rico, próspero e politicamente fechado país da Europa Oriental. Em pouco tempo, o processo se alastrou por todos os países do bloco socialista.

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Os episódios mais violentos foram vividos na Romênia, em dezembro de 1989. A luta popular pelo fim da ditadura custou a vida de pelo menos 10 mil pessoas, que tombaram diante das forças da Securitate, a polícia política do ditador Nicolai Ceaucescu. O processo terminou quando o Exército, que se voltou contra o governo, prendeu e realizou o julgamento sumário e a execução de Ceaucescu e de sua mulher Helena, no Natal de 1989.

URSS, anos 90: dissolução

Pacto de Varsóvia deixa de existir

Na prática, com esses acontecimentos deixava de existir o Pacto de Varsóvia, um acordo de cooperação econômica e militar entre os países do bloco socialista criado em 1955 e formalmente extinto em julho de 1991. No entanto, o tratado dos países ocidentais, a OTAN, seguia firme e forte. Foi nesse contexto que Gorbatchev reuniu-se pela primeira vez com o presidente norte-americano George Bush na ilha de Malta, no final de 1989. Para muitos historiadores, esse encontro representa o início do que se convencionou chamar de Nova Ordem Mundial, uma fase da história contemporânea marcada pela existência de uma única superpotência. O bloco socialista estava em ruínas e o Ocidente dava as cartas. Na volta a Moscou, o líder da Perestroika ainda precisou enfrentar novos obstáculos, na difícil condução da União Soviética à normalidade institucional.

No início de 1990, Gorbatchev organizou o XXVIII Congresso do Partido Comunista, que viria a ser o último da história soviética. O encontro tornou-se especialmente importante por duas razões. Bóris Ieltsin, recém-eleito presidente da Rússia pelo Congresso do Povo, rompeu definitivamente com o comunismo. Além disso, o Partido Comunista aprofundou suas divergências internas, determinando o fim da política conciliatória de Gorbatchev.

Tentativa de golpe contra Gorbatchev

O acelerado processo de desmantelamento do socialismo no leste europeu estimulava as especulações sobre o futuro da própria União Soviética. Para tentar evitar o colapso, Gorbatchev concedeu mais autonomia às repúblicas, procurando mantê-las unidas em um só país. Ofereceu insumos econômicos a preços mais baixos e garantias de proteção militar. Num esforço final, o líder preparou o Tratado da União, para ser assinado por todas as repúblicas soviéticas em 21 de agosto de 1991. O golpe de Estado do dia 19, no entanto, frustrou as negociações.

(...) A data do golpe de agosto não foi escolhida ao acaso. Dois dias depois que o golpe foi desfechado, seria assinado o tratado da união que, pela primeira fez, asseguraria uma certa horizontalidade de poder entre a Rússia e as demais repúblicas que constituíam a União Soviética. Pela primeira vez haveria uma certa democracia, uma certa repartição de poderes, e a Rússia perderia seu caráter centralizador de um império solidamente ancorado em Moscou. Por isso o golpe foi desfechado: porque as pessoas que deram o golpe não toleravam a possibilidade de que a Rússia deixasse de ser o grande império, a grande mãe Rússia.

José Arbex Jr.

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Os golpistas permaneceram menos de 72 horas no poder. O presidente da Rússia, Bóris Ieltsin, que havia sido reconduzido ao cargo em maio de 1991 pelo voto direto, liderou a resistência ao golpe. Gorbatchev ainda tentou manter a estratégia do Tratado da União, mas era tarde demais. Em poucos dias, as repúblicas do Báltico conquistaram a independência. Nos meses seguintes, todas as repúblicas soviéticas seguiram o mesmo caminho.

O fim da União Soviética

No dia 8 de dezembro de 1991, Bóris Ieltsin proclamou a independência da Rússia e a formação da Comunidade dos Estados Independentes, integrada também pela Bielo-Rússia e pela Ucrânia. As demais repúblicas foram ratificando a decisão, com exceção das bálticas – Letônia, Estônia e Lituânia. Na prática, a União Soviética não existia mais.

Mikhail Gorbatchev renunciou no dia 25 de dezembro de 1991, por não concordar com a forma como se concretizou o fim da União Soviética. De qualquer modo, em 6 anos e nove meses o líder da Perestroika esteve à frente de acontecimentos que conduziram o planeta a uma nova ordem mundial, às vésperas do século XXI.

Com o fim do militarismo exacerbado e da política de amedrontamento da Guerra Fria, o jogo geopolítico deixou de estar diretamente relacionado ao poderio nuclear deste ou daquele país. O fator econômico passou para o primeiro plano, desencadeando a formação de blocos supranacionais que disputam interesses num cenário cada vez mais competitivo. As mudanças que resultaram no fim da União Soviética e do bloco socialista aconteceram com uma rapidez vertiginosa.

Ao mesmo tempo em que o mundo se reorganiza sem a polarização da Guerra Fria, os países que abandonaram o socialismo estão construindo seus próprios modelos políticos e de relacionamento com as demais nações do planeta. Um processo que o mundo deve acompanhar ainda nos primeiros momentos do próximo século.

No plano econômico, Gorbatchev instituiu a Perestroika, ou Reconstrução, buscando novas formas de conduzir a economia soviética. No plano político, retomou negociações para pôr fim à corrida armamentista. Internamente, libertou opositores do regime, viabilizou o abrandamento da censura e permitiu que os problemas fossem discutidos abertamente pela população. As reformas iniciadas em Moscou logo se refletiram na Europa socialista, onde os movimentos democráticos ganharam força para mudar todo o panorama político do antigo bloco soviético. Esse processo iniciado por Gorbatchev culminou no fim da própria União Soviética, em 1991. A partir daí, os Estados Unidos, vencedores da Guerra Fria, tornaram-se a única superpotência mundial e encontraram novos inimigos contra os quais lutar, como os fanáticos do Islã, de um lado, e os narcotraficantes, de outro lado. Ou seja, novos elementos para a mesma fórmula do Bem e do Mal dos tempos da Guerra Fria. É um mundo que enfrenta novos problemas, como o ressurgimento de conflitos nacionais e étnicos; a disputa entre blocos econômicos; e as grandes máfias que controlam o crime organizado internacional. Para entender esse mundo temos de voltar nossos olhos ao passado recente e fazer uma reflexão que, talvez, nos indique o caminho para um futuro melhor.

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SLIDES – GUERRA FRIA

Mundo Bipolar

URSS X EUA

Características

• Corrida armamentista• Conflitos indiretos e regionalizados• Disputas tecnológicas• Conflitos políticos e econômicos• Espionagem• Corrida espacial• Guerra cultural

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“A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados, mas sobretudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra Mundial (...). A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predominante influência - a zona ocupada pelo Exército Vermelho e/ou outras Forças Armadas comunistas no término da guerra - e não tentava ampliá-la com o uso da força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos (...). Em troca, não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética.“

(HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 224)

Sobre esta “retórica apocalíptica” que ohistoriador inglês Eric Hobsbawm se refere, ogrande destaque simbólico do conflito foi aquestão cultural, a criação de um imagináriosobre o próprio regime e sobre o inimigoatravés de imagens criadas pelo cinema, pelapublicidade e pela indústria cultural comoum todo.

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• Primeira Fase – Guerra Fria Clássica (1947-53):• EUA - Doutrina Truman (1947), Plano Marshall, OTAN (1949); • URSS – Kominform (“Cortina de Ferro”), Comecon, bomba atômica soviética

(1949), Pacto de Varsóvia (1955);• Revolução Chinesa (1949)• Guerra da Coréia (1950-53)

• Segunda Fase – Coexistência Pacífica (1953, décadas de 1960 e 1970):

• URSS: Morte de Stalin e assume Kruschev (1953)• Revolução Cubana (1959)• Muro de Berlim (1961), Crise dos Mísseis (1962), Corrida espacial.;• Guerra do Vietnã (1961-75)

Macartismo: a “caça às bruxas” (1950 – 1957)

• Durante o macartismo, milhares de americanos foram acusados de ser comunistas ou simpatizantes e tornaram-se objetos de agressivas investigações e de inquéritos abertos pelo governo ou por indústrias privadas. O principal alvo das suspeitas foram funcionários públicos, trabalhadores da indústria do entretenimento, educadores e sindicalistas.

• As suspeitas eram frequentemente dadas como certas mesmo se fossem baseadas em evidências inconclusivas e questionáveis e se o nível de ameaça representado pela real ou suposta afiliação do indivíduo a ideias ou associações de esquerda fosse exagerado

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Divisão da Alemanha

(1949)

Guerra da Coréia (1950 – 1953)

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Maio de 1968 na França

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Primavera de Praga (1968)

Guerra do Vietnã (1955 – 1975)

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• Terceira Fase – a Nova Guerra Fria (1980):• Governo Ronald Reagan (1981-89): Guerra nas Estrelas, financiou

guerrilhas anti socialistas (Talibãs, Afeganistão / Contras, Nicaráguas) “Reaganomics” (política econômica neoliberal);

• Leonid Brejnev (1964-1982): Primavera de Praga (1968), invasão do Afeganistão (1979) + Desgaste econômico (baixa produtividade, corrida armamentista, sociedade desmobilizada).

• Fim da Guerra Fria:• Esgotamento econômico da URSS • Gorbatchev (Perestroika e Glasnost), movimentos reformistas, queda do

muro (1989), eleições democráticas (1990), CEI (1991);

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