história - pré-vestibular impacto - esparta lll

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CT280208 ESPARTA lll Frente: 01 Aula: 04 PROFº: RAMIRO A Certeza de Vencer FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! Fale conosco www.portalimpacto.com.br ENSINO MÉDIO - 2008 GUER RR REIR ROS HOPLITAS TEXTO I O TRABALHO DOS HILOTAS Ciro Flamarion Cardoso Os hilotas, na Lacônia e na Messênia, viviam em grupos familiares nos lotes de terras iguais (kleroi) que haviam sido repartidos pelo Estado aos esparciatas – cidadãos com plenos direitos, cujo número, ao longo dos séculos, diminuiu de uns 9000 para poucas centenas somente. Aqueles trabalhadores deviam entregar ao senhor do lote onde viviam a apophora, uma renda em produtos que segundo Tirteu (poeta do século VII a.C.) correspondia à metade das colheitas, e segundo Plutarco era uma quantidade fixa de cereais, frutas e legumes. A discrepância entre os dois autores pode refletir uma evolução; a verdade é que a hipótese de Plutarco se coaduna melhor com o fato conhecido de que em certas circunstâncias os hilotas conseguiam acumular alguma fortuna – e das famílias de camponeses hilotas neles instaladas – tinha como finalidade garantir a subsistência dos esparciatas, que eram guerreiros especialistas de tempo completo, e de suas famílias. Tal sistema atribuído pela tradição ao mítico legislador Licurgo, é difícil de datar com exatidão. Flamarion, CIRO. “Trabalho compulsório na Antiguidade”. RJ: Edições Graal, 2003. p. 63 TEXTO II A EDUCAÇÃO ESPARTANA Plutarco Quando uma criança nascia, o pai não tinha direito de criá-la: devia levá-la a um lugar chamado lesche. Lá assentavam-se os anciãos da tribo. Eles examinavam o bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam. Se era mal nascido e defeituoso, jogavam-no no que se chama os Apotetos, um abismo ao pé do Taigeto. Julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar viver um ente que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável... Os filhos dos espartanos não tinham por domésticos, escravos ou assalariados. Licurgo proibira-o. Ninguém tinha permissão para criar e educar o filho a seu gosto. Quando os meninos completavam sete anos, ele próprio os tomava sob sua direção, arregimentava-os em tropas, submetia-os a um regulamento e a um regime comunitário para acostumá-los a brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa punha aquele cuja inteligência sobressaía e que se batia com mais arrojo. Este era seguido com os olhos, suas ordens eram ouvidas e punia sem contestação. Assim sendo, a educação era um aprendizado de obediência. Os anciãos vigiavam os jogos das crianças. Não perdiam uma ocasião para suscitar lês brigas e rivalidades. Tinham assim meios de escutar, em cada um, as disposições naturais para a audácia e a intrepidez para a luta. Ensinavam a ler e escrever apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam um treinamento mais severo: raspavam a cabeça, andavam descalços, brincavam nus a maior parte do tempo. Tais eram seus hábitos. Quando completavam doze anos, não usavam mais camisa. Só recebiam um agasalho por ano. Negligenciavam o asseio, não conheciam mais banhos nem fricções, a não ser em raros dias do ano, quando tinham direito a essas “boas maneiras”. Dormiam juntos, agrupados em patrulhas e tropas, sobre catres que eles próprios fabricavam com juncos que crescem às margens do Eurotas e que quebravam sem faca, com as mãos. No inverno, colocavam nos seus catres o que se chama de Lycophones. Parece que essas plantas têm poder calorífico. Nessa idade, encontravam amantes entre jovens de boa família. Então, crescia ainda mais o zelo dos Anciãos; assistiam aos seus exercícios, olhavam-nos lutar ou brincar entre si. Não negligenciavam nada, considerando-se, de certa forma, todos para todos, pais, mestres e chefes. Não davam oportunidade nem refúgio ao culpado para escapar à reprovação ou ao castigo. No entanto, era também escolhido um paidonome entre as pessoas consideradas e, para chefiá-la, cada tropa escolhia o mais sério e o mais combativo dos que se chamam irenes. Chamam-se irenes aqueles que saíram há um ano da categoria dos paides (Crianças. Mas para os gregos, era-se paides até a puberdade, em geral 18 anos), e mellineres os mais velhos dos paides. Este irene, que tem vinte anos, comanda seus subordinados nos exercícios militares e, no quartel, encarrega-os das tarefas do mestiças, nas refeições. Manda os mais fortes trazerem lenha e, os menores, legumes. Para tanto, eles devem roubar. Uns penetram nos jardins, outros nos alojamentos dos homens, e devem usar muita destreza e precaução: quem for apanhado, é chicoteado sob pretexto de que não passa de um ladrão preguiçoso e inábil. Eles roubam toda a comida possível e adquirem prática para ludibriar quem dorme ou os guardas preguiçosos. Aquele que for apanhado está sujeito a chicotadas e jejum. Com efeito, sua alimentação é escassa. Obrigam-nos a defenderem-se por si mesmos contra as restrições e recorrer à audácia e à destreza... As crianças tomam tanto cuidado em não ser apanhadas quando roubam, que uma delas, conforme se conta, depois de roubar uma raposa que tinha enrolado

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Frente: 01 Aula: 04

PROFº: RAMIRO A Certeza de Vencer

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TEXTO I O TRABALHO DOS HILOTAS

Ciro Flamarion Cardoso Os hilotas, na Lacônia e na Messênia, viviam em grupos familiares nos lotes de terras iguais (kleroi) que haviam sido repartidos pelo Estado aos esparciatas – cidadãos com plenos direitos, cujo número, ao longo dos séculos, diminuiu de uns 9000 para poucas centenas somente. Aqueles trabalhadores deviam entregar ao senhor do lote onde viviam a apophora, uma renda em produtos que segundo Tirteu (poeta do século VII a.C.) correspondia à metade das colheitas, e segundo Plutarco era uma quantidade fixa de cereais, frutas e legumes. A discrepância entre os dois autores pode refletir uma evolução; a verdade é que a hipótese de Plutarco se coaduna melhor com o fato conhecido de que em certas circunstâncias os hilotas conseguiam acumular alguma fortuna – e das famílias de camponeses hilotas neles instaladas – tinha como finalidade garantir a subsistência dos esparciatas, que eram guerreiros especialistas de tempo completo, e de suas famílias. Tal sistema atribuído pela tradição ao mítico legislador Licurgo, é difícil de datar com exatidão. Flamarion, CIRO. “Trabalho compulsório na Antiguidade”. RJ: Edições Graal, 2003. p. 63

TEXTO II A EDUCAÇÃO ESPARTANA

Plutarco Quando uma criança nascia, o pai não tinha direito de criá-la: devia levá-la a um lugar chamado lesche. Lá assentavam-se os anciãos da tribo. Eles examinavam o bebê. Se o achavam bem encorpado e robusto, eles o deixavam. Se era mal nascido e defeituoso, jogavam-no no que se chama os Apotetos, um abismo ao pé do Taigeto. Julgavam que era melhor, para ele mesmo e para a cidade, não deixar viver um ente que, desde o nascimento, não estava destinado a ser forte e saudável... Os filhos dos espartanos não tinham por domésticos, escravos ou assalariados. Licurgo proibira-o. Ninguém tinha permissão para criar e educar o filho a seu gosto. Quando os meninos completavam sete anos, ele próprio os tomava sob sua direção, arregimentava-os em tropas, submetia-os a um regulamento e a um regime comunitário para acostumá-los a brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa punha aquele cuja inteligência sobressaía e que se batia com mais arrojo. Este era seguido com os olhos, suas ordens eram ouvidas e punia sem contestação. Assim sendo, a educação era um aprendizado de obediência. Os anciãos vigiavam os jogos das crianças. Não perdiam uma ocasião para suscitar lês brigas e rivalidades. Tinham assim meios de escutar, em cada um, as disposições naturais para a audácia e a intrepidez para a luta. Ensinavam a ler e escrever apenas o estritamente necessário. O resto da educação visava acostumá-los à obediência, torná-los duros à adversidade e fazê-los vencer no combate. Do mesmo modo, quando cresciam, eles recebiam um treinamento mais severo:

raspavam a cabeça, andavam descalços, brincavam nus a maior parte do tempo. Tais eram seus hábitos. Quando completavam doze anos, não usavam mais camisa. Só recebiam um agasalho por ano. Negligenciavam o asseio, não conheciam mais banhos nem fricções, a não ser em raros dias do ano, quando tinham direito a essas “boas maneiras”. Dormiam juntos, agrupados em patrulhas e tropas, sobre catres que eles próprios fabricavam com juncos que crescem às margens do Eurotas e que quebravam sem faca, com as mãos. No inverno, colocavam nos seus catres o que se chama de Lycophones. Parece que essas plantas têm poder calorífico.

Nessa idade, encontravam amantes entre jovens de boa família. Então, crescia ainda mais o zelo dos Anciãos; assistiam aos seus exercícios, olhavam-nos lutar ou brincar entre si. Não negligenciavam nada, considerando-se, de certa forma, todos para todos, pais, mestres e chefes. Não davam oportunidade nem refúgio ao culpado para escapar à reprovação ou ao castigo. No entanto, era também escolhido um paidonome entre as pessoas consideradas e, para chefiá-la, cada tropa escolhia o mais sério e o mais combativo dos que se chamam irenes. Chamam-se irenes aqueles que saíram há um ano da categoria dos paides (Crianças. Mas para os gregos, era-se paides até a puberdade, em geral 18 anos), e mellineres os mais velhos dos paides. Este irene, que tem vinte anos, comanda seus subordinados nos exercícios militares e, no quartel, encarrega-os das tarefas do mestiças, nas refeições. Manda os mais fortes trazerem lenha e, os menores, legumes. Para tanto, eles devem roubar. Uns penetram nos jardins, outros nos alojamentos dos homens, e devem usar muita destreza e precaução: quem for apanhado, é chicoteado sob pretexto de que não passa de um ladrão preguiçoso e inábil. Eles roubam toda a comida possível e adquirem prática para ludibriar quem dorme ou os guardas preguiçosos. Aquele que for apanhado está sujeito a chicotadas e jejum. Com efeito, sua alimentação é escassa. Obrigam-nos a defenderem-se por si mesmos contra as restrições e recorrer à audácia e à destreza... As crianças tomam tanto cuidado em não ser apanhadas quando roubam, que uma delas, conforme se conta, depois de roubar uma raposa que tinha enrolado

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no seu agasalho, se deixou arrancar o ventre pela fera que lhe cravou os dentes e as garras. Para não ser descoberta, resistiu até a morte. Esta estória não é de estranhar se se considera os efebos atuais. Muitos, no altar de Ortia, deixam-se chicotear até morrer. Eu pude vê-los. Após a refeição, o irene, ainda na mesa, mandava uma das crianças cantar. À outra fazia uma pergunta cuja resposta exigia reflexão, por exemplo: “Qual o melhor cidadão?” ou “Qual o mérito da conduta deste ou daquele?” Assim, eles eram treinados para apreciar o valor e interessar-se pela vida da cidade desde a meninice. Se a criança a que se perguntava quem era um bom cidadão ou quem era indigno de estima não sabia responder, via-se aí índice de uma alma lerda e pouco ciosa de valor. Além disso, a resposta devia conter sua razão e sua justificativa, condensadas numa fórmula breve e concisa. A resposta descabida trazia uma punição. O autor era mordido no polegar pelo irene. Frequentemente, os anciãos e os magistrados estavam presentes para ver o irene punir as crianças e mostrar se o fazia devidamente e como convinha. Não impediam que ele as castigasse. Mas, após a partida das crianças, ele devia explicar se fora demasiado severo no castigo ou, ao contrário, se fora indulgente e brando demais. PLUTARCO, A Vida de Licurgo. XVI, 1-2, 7-14 XVII, 1-6 XVIII, 1-7 In: PINSKY, Jaime. “100 textos de História Antiga”. SP: Contexto, 2000. p. 68-69

ATIVIDADES 01. (UNICAMP-SP) “A época arcaica (séculos VIII-VI a.C.) é talvez o período mais importante da história grega. O período arcaico trouxe consigo inovações capitais em todos os domínios. A novidade maior é o desenvolvimento da polis (cidade-estado grega) cuja característica essencial é a unificação entre cidade e campo. Outras conquistas da época arcaica foram o aparecimento da noção de cidadão e a codificação das leis, que limitavam os poderes arbitrários dos poderosos, a justiça torna-se, portanto, um negócio público”. Adaptado de M. Austin e P. Vidal-Naquet, Economia e Sociedade na Grécia Antiga, Edições 70, s/d Tendo como base a citação acima, cite três características da polis grega: ______________________________________________

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02. (FUVEST 1998) Comente a especificidade da estrutura social espartana, no contexto da cidade-estado grego clássica. ______________________________________________

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03. (UFRS-RS) Em relação à sociedade espartana, assinale a opção que NÃO CORRESPONDE à camada social dos hilotas: a) Constituíam a massa da população vencida, subjugada e pertencente ao Estado. b) Enquanto força-de-trabalho, eram expropriados pelos espartanos. c) Como prevenção de revoltas e frente ao perigoso aumento demográfico que apresentavam, sofriam regularmente as “kríptias”, formas de repressão e/ou controle realizadas por jovens espartanos. d) Desenvolviam atividades mercantis que lhes possibilitava acumular pequenas fortunas com as quais compravam títulos de cidadania, passando a governar a Cidade-Estado junto com os espartanos. e) Era a base das relações de trabalho. 04. “Nas outras cidades todos se esforçam para ganhar todo dinheiro possível. Um trabalha a terra, outro pratica o comércio e outros se dedicam a outros ofícios. Mas Licurgo proíbe os homens livres de exercerem qualquer tarefa lucrativa. Assegurar a Liberdade de Estado é, segundo ele, a única atividade da qual devem se ocupar”. XENOFONTE, “República dos Lacedemônios”. In: ACKER, Tereza Van. “Grécia, a vida cotidiana na cidade-estado”. SP: Atual, 1994. Em relação ao trabalho, os cidadãos em Esparta desenvolveram uma atitude diferente dos cidadãos em Atenas, isto porque: ______________________________________________

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a) Os esparciatas desprezavam o ócio e supervalorizavam as atividades manuais, sobretudo a dos agricultores. b) Os espartanos valorizavam o ócio indispensável ao exercício da cidadania e desprezavam totalmente as atividades agrícolas, militares e artesanais. c) A principal atividade exercida pelos cidadãos espartanos era a guerra ou/e a preparação militar, através da qual eles asseguravam a proteção do Estado. d) O desenvolvimento das forças produtivas em Esparta permitiu a liberação dos esparciatas para o exercício exclusivo da cidadania. e) O crescimento da escravidão, em Esparta, desenvolveu uma atitude negativa em relação aos trabalhos manuais, que eram essencialmente trabalhos de espartanos.