história m3

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida REPÚBLICA VELHA Após a proclamação da República, se tem concluído com êxito o primeiro golpe civil-militar da História do Brasil. A força política dos militares permitiu que já no governo provisório o cargo de presidente fosse exercido por um militar, Deodoro da Fonseca (1889 – 1891). As principais medidas tomados por este governo foram: criação da primeira Constituição repúblicana, Transformações das províncias em Estados, Dissolução do Legislativo imperial, extinção da vitalidade no Senado, Separação entre Estado e Igreja, liberdade de culto, casamento civil, naturalização de todos os estrangeiros que viviam no Brasil e a criação de uma nova bandeira Nacional, entre outros. A nova Constituição brasileira seguiu o modelo da norte-americana, o Brasil passava a ser uma república federativa presidencialista (Estados Unidos do Brasil), fim do voto censitário e adoção das eleições diretas e populares, universais a todos maiores de 21 anos, alfabetizados e civis. (mulheres, analfabetos, militares sem patente, e religiosos não podiam votar ou serem votados). Através de uma eleição indireta para o quadriênio (1891 – 1894), foram eleitos para a presidência, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto como vice. Em novembro de 1891, Deodoro sofre uma tentativa de golpe, o que o leva a fechar o congresso e decretar estado de sítio, porem os congressistas unidos com a elite e com o vice-presidente, pressionam para renúncia de Deodoro. Após a renúncia, Floriano Peixoto desconsiderou a Constituição (que determinava que em caso do Presidente não cumprir 2 anos do mandato, deveria ser chamada uma nova eleição) e toma a presidência com o apoio dos barões do café , dos militares e da classe média urbana. Com a eleição de Prudente Morais (1894 – 1898), iniciou-se o período de domínio político da oligarquia, em nível nacional, isto acontecia com os partidos PRP (Partido Repúblicano Paulista) e o PRM (Partido Repúblicano Mineiro), no Rio Grande do Sul o domínio político pertencia ao PRR (Partido Repúblicano Rio-grandense). A nível nacional, o PRP e o PRM passaram a se revezar no poder, exerciam políticas que beneficiavam preferencialmente os grupos ao qual representavam os (Barões do Café em SP) e os (Coronéis do Leite em MG), criando assim a chamada Política Café com Leite. As demais elites locais se beneficiavam na medida em que o governo federal legitimava toda e qualquer eleição, assim as fraudes eram comuns e estas elites se perpetuavam no poder, em troca disto, estas elites não interferiam a nível federal. A política elitista da república velha agravou a miséria de grande parte da população brasileira, um exemplo de resistência e fuga da fome foi o surgimento de Canudos no sertão da Bahia, onde Antonio Conselheiro e seus seguidores fundaram o Arraial de Canudos (ou Arraial de Belo Monte), lá os sertanejos construíam suas casas, cuidavam das roças comunitárias e faziam artesanato. Rapidamente Canudos cresceu chegando a ter cerca de 30 mil habitantes, assim a mão de obra que antes era abundante e barata na região, ficou escassa e cara, e isso passou a incomodar aos latifundiários, a Igreja também passou a se sentir incomodada com a perda de fiéis, a recusa dos sertanejos de Canudos em pagar impostos federais passou a irritar também ao governo federal, disto se organizou uma operação de guerra para destruir o Arraial, após diversas batalhas com vitória dos sertanejos o governo enviou um contingente de 10.000 homens, o cerco durou 3 meses, até que Canudos foi derrotada. Euclides da Cunha, na época jornalista do jornal O Estado de São Paulo assim descreveu o momento da queda de Canudos. Canudos não se rendeu [...] resistiu até o esmagamento completo, quando caíram seus últimos defensores, quase todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos, e uma criança”. Depois de conquistada, o governo ordenou que tudo fosse destruído e que Canudos deveria servir de exemplo, a fim de se evitar iniciativas semelhantes. O episódio de Canudos ocorreu durante o governo de Prudente Morais e ilustra a situação de miséria da população, que pouco percebia a passagem para a república, de modo geral a população continuava apoiando a figura paternalista do Imperador. O Rio de Janeiro perdia força política e se transformava numa espécie e “panela de pressão”, devido à migração

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Apostila de História M3.

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida

REPÚBLICA VELHA

Após a proclamação da República, se tem concluído com êxito o primeiro golpe civil-militar da História do Brasil. A força política dos militares permitiu que já no governo provisório o cargo de presidente fosse exercido por um militar, Deodoro da Fonseca (1889 – 1891). As principais medidas tomados por este governo foram: criação da primeira Constituição repúblicana, Transformações das províncias em Estados, Dissolução do Legislativo imperial, extinção da vitalidade no Senado, Separação entre Estado e Igreja, liberdade de culto, casamento civil, naturalização de todos os estrangeiros que viviam no Brasil e a criação de uma nova bandeira Nacional, entre outros.

A nova Constituição brasileira seguiu o modelo da norte-americana, o Brasil passava a ser uma república federativa presidencialista (Estados Unidos do Brasil), fim do voto censitário e adoção das eleições diretas e populares, universais a todos maiores de 21 anos, alfabetizados e civis. (mulheres, analfabetos, militares sem patente, e religiosos não podiam votar ou serem votados). Através de uma eleição indireta para o quadriênio (1891 – 1894), foram eleitos para a presidência, Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto como vice.

Em novembro de 1891, Deodoro sofre uma tentativa de golpe, o que o leva a fechar o congresso e decretar estado de sítio, porem os congressistas unidos com a elite e com o vice-presidente, pressionam para renúncia de Deodoro. Após a renúncia, Floriano Peixoto desconsiderou a Constituição (que determinava que em caso do Presidente não cumprir 2 anos do mandato, deveria ser chamada uma nova eleição) e toma a presidência com o apoio dos barões do café , dos militares e da classe média urbana.

Com a eleição de Prudente Morais (1894 – 1898), iniciou-se o período de domínio político da oligarquia, em nível nacional, isto acontecia com os partidos PRP (Partido Repúblicano Paulista) e o PRM (Partido Repúblicano Mineiro), no Rio Grande do Sul o domínio político pertencia ao PRR (Partido Repúblicano Rio-grandense). A nível nacional, o PRP e o PRM passaram a se revezar no poder, exerciam

políticas que beneficiavam preferencialmente os grupos ao qual representavam os (Barões do Café em SP) e os (Coronéis do Leite em MG), criando assim a chamada Política Café com Leite. As demais elites locais se beneficiavam na medida em que o governo federal legitimava toda e qualquer eleição, assim as fraudes eram comuns e estas elites se perpetuavam no poder, em troca disto, estas elites não interferiam a nível federal.

A política elitista da república velha agravou a miséria de grande parte da população brasileira, um exemplo de resistência e fuga da fome foi o surgimento de Canudos no sertão da Bahia, onde Antonio Conselheiro e seus seguidores fundaram o Arraial de Canudos (ou Arraial de Belo Monte), lá os sertanejos construíam suas casas, cuidavam das roças comunitárias e faziam artesanato. Rapidamente Canudos cresceu chegando a ter cerca de 30 mil habitantes, assim a mão de obra que antes era abundante e barata na região, ficou escassa e cara, e isso passou a incomodar aos latifundiários, a Igreja também passou a se sentir incomodada com a perda de fiéis, a recusa dos sertanejos de Canudos em pagar impostos federais passou a irritar também ao governo federal, disto se organizou uma operação de guerra para destruir o Arraial, após diversas batalhas com vitória dos sertanejos o governo enviou um contingente de 10.000 homens, o cerco durou 3 meses, até que Canudos foi derrotada. Euclides da Cunha, na época jornalista do jornal O Estado de São Paulo assim descreveu o momento da queda de Canudos.

“Canudos não se rendeu [...] resistiu até o esmagamento completo, quando caíram seus últimos defensores, quase todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos, e uma criança”. Depois de conquistada, o governo ordenou que tudo fosse destruído e que Canudos deveria servir de exemplo, a fim de se evitar iniciativas semelhantes. O episódio de Canudos ocorreu durante o governo de Prudente Morais e ilustra a situação de miséria da população, que pouco percebia a passagem para a república, de modo geral a população continuava apoiando a figura paternalista do Imperador. O Rio de Janeiro perdia força política e se transformava numa espécie e “panela de pressão”, devido à migração

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida missiva de miseráveis de todo o País, sendo assim, era lá que se sentiam mais nitidamente os problemas sociais e as pressões populares, o governo reagia de forma violenta, reprimindo manifestações, prendendo vadios e limpando a cidade dos cortiços. A população ficava as margens da política e vivia como podia lentamente o País passou a se industrializar, para tanto, se contratava mão de obra imigrante, aos brasileiros (brancos) se destinavam trabalhos que não exigissem conhecimento técnico ou experiência, (em geral os trabalhos do campo), no que diz respeito aos negros, estes perambulavam pelas ruas, desempregados, ganhavam a vida como podiam, muitos retornavam as fazendas se oferecendo como escravos ou em condições semelhantes. O acesso à escola era privilégio de uma pequena elite, o que limitava o acesso ao voto e mantinha a estrutura social vigente. A eclosão da 1° guerra mundial, beneficiou os países produtores de alimentos, que tiveram as exportações ampliadas ao mesmo tempo em que gerava grandes dificuldades para a importação de produtos industrializados. Esta dificuldade beneficiou a pequena burguesia brasileira, que podia agora aumentar os seus preços e ampliar a produção, iniciando o que se chama de Política de Substituição de Importações.

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PERÍODO VARGAS

A chegada de Getulio Vargas ao poder central passa obrigatoriamente pelas eleições de 1930. Washington Luís, Presidente entre 1926 – 1930 viu durante a quebra da bolsa de Nova York, o mudo capitalista entrar em grave crise econômica, e como conseqüência os preços do café desabarem em todo o mundo, principalmente nos EUA, que era o principal comprador. Por conta disto, Washington Luis rompeu com a aliança do Café com Leite e em vez de apoiar o mineiro Antônio Carlos, resolveu apoiar o paulista Júlio Prestes como candidato as eleições que se aproximavam. Revoltados, os mineiros procuraram os gaúchos e os paraibanos para que se organizasse uma chapa em conjunto para aquelas eleições, surge assim a Aliança Liberal, com Getúlio Vargas como candidato a Presidente e o paraibano João Pessoa para Vice-Presidente.

As campanhas foram tumultuadas, e ao final a Aliança Liberal saiu derrotada, porem João Pessoa foi assassinado na Paraíba, o que serviu do pretexto para que o movimento liderado por Getulio Vargas no Sul e Juarez Távora no nordeste, pegassem em armas a fim de depor Washington Luis, em 03 de outubro de 1930.

Washington Luis A era Vargas (1930 – 1945) O governo Vargas marcou de forma permanente a estrutura econômica, política e social do Brasil, esta fase está dividida três etapas: Governo Provisório (1930 – 1934), Governo Constitucional (1934 – 1937) e Estado Novo (1937 – 1945). O período conhecido como Governo Provisório, caracterizou-se por um vazio de poder político da elite nacional. Em 1932 a oligarquia paulista pega em armas contra Vargas na chamada Revolução Constitucionalista, o que levou Getulio a convocar uma assembléia constituinte, que foi concluída em 1934. Além de eleger Getulio Vargas presidente constitucional, a nova constituição estipulou o voto secreto, a nacionalização dos bancos, a jornada de oito horas, o descanso semanal remunerado, e a proibição do trabalho de menores de 14 anos. No entanto, em 1935 Getulio Vargas utiliza-se da intentona comunista; que queria derrubar o seu governo; como pretexto para revogar todas estas leis ao decretar estado de sítio, o que permite ao presidente governar acima de qualquer lei. Em 1937, o governo anunciou a descoberta do plano Cohen, que apontava para o perigo de um ataque comunista ao Brasil, o que leva ao governo cancelar as eleições daquele ano e decretar estado de guerra, iniciando o que ficou conhecido como Estado Novo. Quanto ao Plano Cohen e ao suposto ataque comunista, era tudo falso, servindo apenas de pretexto para o

cancelamento das eleições. O período do Estado Novo atravessa a segunda guerra mundial e termina em 1945, como reflexo do fim dos regimes fascista e nazista, o medo de um novo golpe de Vargas, faz com que diversos grupos se unam contra o governo, o que o leva a deposição do Presidente em 29 de outubro de 1945. Em termos trabalhistas, o governo do Estado Novo passou a regulamentar os sindicatos autorizando o funcionamento daqueles que tinham a diretoria aprovada pelo próprio governo federal, as negociações entre empregados e patrões passaram a ser conduzidas pelo recém criado Ministério do Trabalho, os sindicatos que não se submetessem ao governo, eram impedidos de funcionar. Com o objetivo do esvaziar as lutas operarias, o governo passou a se antecipar em algumas reivindicações, como a criação do salário mínimo e a consolidação das leis do trabalho CLT.

No plano econômico, Vargas utilizou-se de uma política de barganha entre as principais potencias mundiais a fim de obter recursos e benefícios para a industrialização do Brasil, disto temos a criação da Companhia Siderúrgica (1941), Usina de Volta Redonda, Companhia Vale do Rio Doce e a Fábrica Nacional de Motores (1942), criou os Institutos do Açúcar e do Álcool (IAA), do Mate e do Pinho, promoveu a diversificação agrária incentivando a policultura. Já no plano político houve a centralização absoluta do poder nas mãos do Poder Executivo, enfraquecimento do federalismo e nomeação de interventores para os Estados, proibiu greves, extinguiu todos os partidos políticos, regulamentou a pena de morte no Brasil, criou o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), criou o Ministério da Aeronáutica e enviou as Forças Expedicionárias Brasileiras (FEB) para a Itália durante a 2° Guerra.

De modo geral pode-se dizer que ao longo destes 15 anos no poder, seu governo procurou jogar como os interesses dos diversos grupos sociais, políticos e econômicos, ora atendendo uma parcela da população, ora atendendo outra, se em certo momento beneficiava uma elite, em um momento posterior atendia a outra.

Vargas em discurso

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge

no cenário mundial uma nova realidade, o surgimento de duas superpotências econômico-militares; os Estados Unidos e a União Soviética; que passaram a dividir o mundo em duas áreas de influências, uma capitalista e outra socialista. Nilo Odália , chama a atenção para outro importante acontecimento do período, que foi o fato de o término da guerra, ter permitido “... que se deflagrassem as lutas de libertação, causando novas brechas no antes monolítico sistema internacional europeu, repercutindo intensamente na política internacional do após-guerra...” (ODÁLIA, 1980, p. 354. In: MOTA, 1980). Desta forma, tínhamos agora a fragmentação do poder europeu através da descolonização da África, e o fortalecimento dos EUA e da URSS que serviam de modelos aos movimentos de independência.

Entre os anos de 1940 e 1945, o Brasil havia tido uma taxa de crescimento do produto interno real (PIR) de 4,7% com uma produção industrial (PI) de 6,2%, já para o período de 1946 a 1950 a taxa do PIR aumentou para 7,3% e o da PI para 8,6%1. Pouco antes de sua queda, Getulio Vargas havia restaurado a liberdade partidária e criado o PTB, vinculado ao movimento urbano, trabalhista e sindical. Foi através deste partido e contando com o apoio do jovem e já rico empresário João Goulart, que Getúlio Vargas pode retornar ao poder, após vencer de forma tranqüila as eleições.

Segundo Governo Vargas (1951 – 1954) Eleito diretamente pelo povo, o segundo governo de Vargas caracterizou-se pela forte oposição ao seu governo, a política de barganha internacional também já não era mais possível, devido a crise européia em decorrência da 2° guerra, restava assim apenas os EUA como grande nação, já que a URSS, por ser socialista era considerada rival. Disto, Vargas optou então em

1 Fonte: Fundação Getúlio Vargas e Cepal. In: BRESSER-PEREIRA,1968 p. 39.

intensificar a política populista2, se aproximou das massas e intensificou a política nacionalista, incentivou a indústria de base, de transportes, de energia, petroquímica e a agricultura. Entre os principais decretos estão a criação da Petrobrás, o planejamento da criação da Eletrobrás, a criação do Ministério da Educação e Cultura, e o Ministério da Saúde, criação do BNDE, incentivos a pesquisas nucleares, regulamentação da lei de remessa de lucros ao exterior, e a duplicação do salário mínimo. Politicamente, a situação de Vargas tornava-se cada vez mais complicada, na tentativa de agradar a todos os setores, terminava em não agradar a nenhuma em sua totalidade, as pressões da elite oligárquica, do empresariado internacional, dos EUA, do empresariado fluminense, das forças armadas e da mídia através principalmente do Jornal Tribuna de Imprensa, onde o jornalista Carlos Lacerda disparava contra Vargas, tornavam a situação política insustentável. Diante das medidas protecionistas e nacionalistas, intensificam-se as pressões sobre Vargas, principalmente no que diz respeito às criticas para as intervenções do Estado na economia nacional através das estatais, soma-se a isso, a alta da inflação que desestabilizava a economia. Diante de tantos problemas, Vargas ficou sozinho, isolado no poder e passou a perceber a construção de um golpe sobre o seu governo.

A Getúlio Vargas, restava ainda uma última cartada no jogo do poder, e assim termina por cometer suicídio em 24 de agosto de 1954, o povo saiu as ruas, e a comoção nacional freou por 10 anos a possibilidade do golpe.

2 Segundo Boris Fausto, a política populista se baseava em promover no plano econômico um capitalismo nacional, sustentado pela ação do Estado. [...] pretendiam no plano político reduzir as rivalidades entre as classes, chamando as massas populares e a burguesia nacional a uma colaboração promovida pelo Estado. Desse modo, o Estado encarnaria as aspirações de todo o povo e não os interesses particulares desta ou daquela classe.

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Carta-Testamento de Getúlio Vargas

Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa.

Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte.

Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História. (Rio de Janeiro, 23/08/54 - Getúlio Vargas).

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Introdução : As causas da Segunda Guerra Mundial(Texto transcrito de: http://www.suapesquisa.com/segundaguerra/)

Um conflito desta magnitude não começa sem importantes causas ou motivos. Podemos dizer que vários fatores influenciaram o início deste conflito que se iniciou na Europa e, rapidamente, espalhou-se pela África e Ásia.

Um dos mais importantes motivos foi o surgimento, na década de 1930, na Europa, de governos totalitários com fortes objetivos militaristas e expansionistas. Na Alemanha surgiu o nazismo, liderado por Hitler e que pretendia expandir o território Alemão, desrespeitando o Tratado de Versalhes, inclusive reconquistando territórios perdidos na Primeira Guerra. Na Itália estava crescendo o Partido Fascista, liderado por Benito Mussolini, que se tornou o Duce da Itália, com poderes sem limites.

Tanto a Itália quanto a Alemanha passavam por uma grave crise econômica no início da década de 1930, com milhões de cidadãos sem emprego. Uma das soluções tomadas pelos governos fascistas destes países foi a industrialização, principalmente na criação de indústrias de armamentos e equipamentos bélicos (aviões de guerra, navios, tanques etc).

Na Ásia, o Japão também possuía fortes desejos de expandir seus domínios para territórios vizinhos e ilhas da região. Estes três países, com objetivos expansionistas, uniram-se e formaram o Eixo. Um acordo com fortes características militares e com planos de conquistas elaborados em comum acordo.

O Início

O marco inicial ocorreu no ano de 1939, quando o exército alemão invadiu a Polônia. De imediato, a França e a Inglaterra declararam guerra à Alemanha. De acordo com a política de alianças militares existentes na época, formaram-se dois grupos : Aliados (liderados por Inglaterra, URSS, França e Estados Unidos) e Eixo (Alemanha, Itália e Japão ).

Desenvolvimento e Fatos Históricos Importantes:

- O período de 1939 a 1941 foi marcado por vitórias do Eixo, lideradas pelas forças armadas da Alemanha, que conquistou o Norte da França, Iugoslávia, Polônia, Ucrânia, Noruega e territórios no norte da África. O Japão anexou a Manchúria, enquanto a Itália conquistava a Albânia e territórios da Líbia.

- Em 1941 o Japão ataca a base militar norte-americana de Pearl Harbor no Oceano Pacífico (Havaí). Após este fato, considerado uma traição pelos norte-americanos, os estados Unidos entraram no conflito ao lado das forças aliadas.

- De 1941 a 1945 ocorreram as derrotas do Eixo, iniciadas com as perdas sofridas pelos alemães no rigoroso inverno russo. Neste período, ocorre uma regressão das forças do Eixo que sofrem derrotas seguidas. Com a entrada dos EUA, os aliados ganharam força nas frentes de batalhas.

- O Brasil participa diretamente, enviando para a Itália (região de Monte Cassino) os pracinhas da FEB, Força Expedicionária Brasileira. Os cerca de 25 mil soldados brasileiros conquistam a região, somando uma importante vitória ao lado dos Aliados.

Final e Consequências

Este importante e triste conflito terminou somente no ano de 1945 com a rendição da Alemanha e Itália. O Japão, último país a assinar o tratado de rendição, ainda sofreu um forte ataque dos Estados Unidos, que despejou bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagazaki. Uma ação desnecessária que provocou a morte de milhares de cidadãos japoneses inocentes, deixando um rastro de destruição nestas cidades.

Bomba Atômica explode na cidade japonesa de Hiroshima

Os prejuízos foram enormes, principalmente para os países derrotados. Foram milhões de mortos e feridos, cidades destruídas, indústrias e zonas rurais arrasadas e dívidas incalculáveis. O racismo esteve presente e deixou uma ferida grave, principalmente na Alemanha, onde os nazistas mandaram para campos de concentração e mataram aproximadamente seis milhões de judeus.

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida Com o final do conflito, em 1945, foi criada a

ONU ( Organização das Nações Unidas ), cujo objetivo principal seria a manutenção da paz entre as nações. Inicia-se também um período conhecido como Guerra Fria, colocando agora, em lados opostos, Estados Unidos e União Soviética. Uma disputa geopolítica entre o capitalismo norte-americano e o socialismo soviético, onde ambos países buscavam ampliar suas áreas de influência sem entrar em conflitos armados.

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GUERRA FRIA (Hobsbawm)

Características:

• não se constitui em um período único e domina

o cenário internacional na segunda metade do século XX

• em termos objetivos não existia perigo eminente

de guerra mundial: os governos das duas potências

aceitaram a distribuição global de forças no fim da 2ª

GM que equivalia a um equilíbrio desigual mas não

contestado em sua essência na Europa

• nas áreas dos novos estados pós-coloniais é que

as superpotências continuaram a competir por apoio e

influência durante toda a GF

• mediante a aceitação da divisão desigual do

mundo faziam esforços para resolver disputas de

demarcação sem que um choque aberto entre suas

Forças Armadas que pudesse levar a uma guerra –

trabalhavam na suposição de que a coexistência pacífica

entre elas era possível a longo prazo

Fases:

1ª FASE

1945 - início da década de 70

período relativamente estável

Surgimento:

• ameaça de depressão no pós-guerra – EUA:

preocupação maior em evitar outra depressão do que

uma nova guerra

• os países beligerantes tornaram-se um campo em

ruínas habitados por populações que os norte-

americanos interpretavam como famintos, desesperados

e propensos à radicalização (dispostos a ouvir o apelo da

revolução social) – políticos destes países desejam

alianças que os estabilizem e ao sistema capitalista

• URSS não era expansionista (desmobiliza suas

tropas tão rapidamente qt os EUA) – sua posição era

defensiva frente aos EUA que exercia hegemonia sobre

todas as partes do mundo não ocupadas pelo Exército

Vermelho. Em contrapartida a URSS representavam

para os EUA uma possibilidade num dado momento

futuro

• A política de intransigência mútua, e mesmo de

permanente rivalidade de poder, não implicava perigo

diário de guerra – Períodos mais delicados: enunciação

formal da Doutrina Truman (03/1947) e na Guerra da

Coréia (04/1951 – demissão do general Douglas

MacArthur)

• política interna norte-americana e as demandas

da opinião pública leva-os a utilizar o anticomunismo

apocalíptico como instrumento interno de poder:

preocupação com demandas do eleitorado, mais

impostos para a composição dos orçamentos – EUA

mais perigosos e propensos à radicalização

• guerra fria como instrumento de política externa:

defesa, uso de excedentes bélicos para obter aliados e

parceiros comerciais

Conseqüências:

A histeria pública tornava mais fácil para os presidentes obter de cidadãos famosos, por sua

ojeriza a pagar impostos, as imensas somas necessárias para a política norte-americana e o

Contenção era a política de todos; a destruição do comunismo, não

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida • polarizou o mundo controlado pelas

superpotências em dois blocos: alijamento das

tendências divergentes internamente

• os dois lados viram-se comprometidos com uma

corrida armamentista relacionada ao complexo

industrial-militar

• provoca a criação da Comunidade Européia:

necessidade dos EUA como aliado contra a URSS //

ameaça para as economias européias

2ª FASE

início da década de 70 – 1989

período instável do sistema internacional no qual suas

unidades entram em extensa crise política e econômica

Conjuntura:

• enfraquecimento dos EUA externamente:

econômica (ascensão da Europa e Japão) e política

(derrota no Vietnã e Guerra Yom Kipur (1973) junto aos

aliados // falência da URSS e inadaptação de sua

economia às novas tecnologias

• opinião pública norte-americana descontente:

crescimento econômico estagnado, fim do estado de

bem-estar-social

• economia mundial em mudança

• 1974/79 onda revolucionária na Ásia e África:

desfavorável aos EUA

Saldo:

• congela as rivalidades e conflitos que

moldavam a política mundial antes da 2ª GM

(nacionalismos, questões étnicas...)

• encheu o mundo de armas

• retirou os esteios que sustentavam a

estrutura internacional e as estruturas dos sistemas

políticos internos mundiais, não foi o fim dos conflitos

internacionais, mas o fim de uma era.

Menina de Napalm (Guerra do Vietnã)

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Os anos dourados

Passada a comoção nacional pelo suicídio de Vargas, o país mergulha em um período de confusão financeira, que termina possibilitando ao então Presidente provisório; Café Filho; a criação da instrução 113 da SUMOC3, que dava permissão para que fosse

importado equipamento industrial para a produção de bens, favorecendo dessa forma ao capital internacional, em detrimento as fábricas nacionais e gerando fortes protestos dos grupos nacionalistas. No plano político, a candidatura de Juscelino Kubitschek, fazia com que Carlos Lacerda, temeroso pela volta dos getulistas ao poder, disparasse acusações contra o mesmo e clamasse por uma intervenção militar afim de que as eleições não ocorressem. As preocupações de Lacerda não eram sem propósito já que Kubitschek representava a união de duas máquinas eleitorais, PSD no campo e PTB na cidade. No entanto, Café Filho buscou a legalidade e conduziu o país as eleições presidenciais em 3 de outubro de 1955, que elegeu Juscelino Kubitschek Presidente da Republica com 36% dos votos, contra 30% de Juarez Távora, 26% de Adhemar de Barros e 8% de Plínio Salgado.

Juscelino Kubitschek deu seguimento a política de nacional-desenvolvimentismo iniciada no período Vargas, no entanto, JK procurou se associar ao capital internacional a fim de resolver pontos eleitos como de estrangulamento do desenvolvimento do País. Segundo Santos (2002, p.39), O Plano de Metas do governo Kubitschek foi influenciado pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, o que indica uma clara interferência do governo norte-americano na estratégia de crescimento adotada pelo governo brasileiro da época. Beneficiado de uma base industrial já implantada, e de um mercado consumidor em expansão, logo no inicio do governo de Juscelino Kubitschek, são instalados grupos de trabalhos voltados a setores prioritários como: energia, indústria de base, alimentação e transporte, disto resultou o plano de metas. Ao longo do seu governo o Brasil ampliou de

3 Tal instrução é de vital importância para a implementação da política de industrialização/desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek, pois permite às empresas multinacionais transferir seus equipamentos para o Brasil praticamente isentas de impostos. (SANTOS, 2002, p.19).

forma significativa os seus números de desenvolvimento “[...] entre 1955 e 1961, a produção industrial cresceu

80% (em preços constantes), com as porcentagens mais altas registradas pelas indústrias de aço (100%), indústrias mecânicas (125%), indústrias elétricas e de

comunicação (380%) e indústrias de equipamentos de transportes (600%). De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real foi de 7% ao ano e, aproximadamente, 4% per capita. Para a década de 1950, o crescimento per capita efetivo do Brasil foi aproximadamente três vezes maior que o do resto da América Latina” (FURTADO, 1965, p.88-90. In: SKIDMORE, 1976, p. 204). No entanto o seu governo deixou ao Brasil um elevado índice inflacionário, e uma gigantesca dívida externa, impulsionada principalmente pelos custos da criação de Brasília e isenções de impostos para a implantação de empresas multinacionais, que abasteceriam o mercado brasileiro com inovações como, liquidificadores, batedeiras, ferros de passar elétricos, aspiradores de pó e geladeiras entre outros. Disto surge uma questão importante e que cabe aqui nos questionarmos, que mercado consumidor era este? Quem eram os consumidores? Engana-se quem pensa que pensou que estes produtos estavam disponíveis a toda a população, o desenvolvimento proposto por JK atendia as demandas da classe média e de uma elite oligárquica, enquanto que a maior parte da população permanecia longe do acesso a estes bens, no entanto, participavam do desenvolvimento não como consumidores, mas como trabalhadores destas novas fábricas.

Construção de Brasília

Oscar Niemayer na construção de Brasília

Placa indicando Brasília

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Em fim, a vez da oposição!

Para as eleições outubro de 1960, os partidos governistas PTB/PSD mantiveram a aliança que elegerá JK presidente, e agora

lançavam o Marechal Henrique Lott como seu sucessor. Lott era reconhecido pelo seu caráter nacionalista, pela sua posição favorável as restrições de remessas dos lucros das multinacionais ao exterior e pela defesa do voto aos analfabetos. Já a UDN lançava como candidato o controverso e carismático Jânio Quadros, que afirmava ser um político independente de qualquer corrente política da época. Nessa época os candidatos à vice-presidência eram escolhidos de forma separada, sendo assim o resultado das eleições de 1960 elegeram pela primeira vez um candidato da oposição, tratava-se de Jânio Quadros (UDN) e como vice-presidente um da situação, João Goulart (PTB/PSD), Goulart era eleito como vice-presidente pela segunda vez, pois já era vice de JK, sendo que naquela oportunidade se elegera com a maior votação da eleição, ou seja, recebeu mais votos do que o próprio presidente eleito, neste caso Juscelino Kubitschek.

Empossado em janeiro de 1961, Quadros imediatamente lança um arrojado plano econômico afim de conter a grave crise financeira do País. (elevou o preço do pão, dos transportes e outros produtos básicos, alterou a taxa de cambio, desvalorizou o cruzeiro em 100%, investiu no setor exportador e congelou os salários, entre outras medidas).

No plano de política internacional, Jânio Quadros começa a se inclinar ao grupo de países independentes; ou seja; o Brasil começava a se tornar neutro frente à Guerra Fria, desta forma, se aproximava da URSS, da China, da Iugoslávia e de Cuba. O ápice da nova posição política do Brasil frente ao mundo bi-polar deu-se com a condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul oferecida a Ernesto Che Guevara. Tal política levava Quadros a um perfil nacionalista, ao contrario dos interesses do partido que o elegera (UDN). Disto, os problemas entre Jânio Quadros e seus apoiadores começam a ficar cada vez mais graves. Carlos Lacerda utiliza-se de sua influencia nos veículos de comunicação e dispara acusações contra o Presidente, que passa a ter

dificuldades para a aprovação dos seus projetos de governo.

Diante da complexidade da situação, JQ elabora um plano de renúncia como forma de pressionar o congresso a lhe conceder maiores liberdades (Jânio pretendia jogar a possibilidade do governo cair novamente nas mãos dos getulistas, já que o seu vice era João Goulart). Porem o seu plano dá errado e o congresso aceita o seu pedido de renuncia em 25 de agosto de 1961.

A aceitação do pedido de renuncia de JQ teve forte influencia dos autos escalões dos militares, que tentariam agora impedir a posse do vice-presidente João Goulart, que estava em viagem diplomática para assuntos econômicos na China. A notícia de que Goulart seria impedido da posse logo foi divulgada, o que fez o então Governador do Rio Grande do Sul; Leonel Brizola; promover um levante contra os golpistas, lançando a Campanha da Legalidade onde o objetivo era pegar em armas e garantir a legalidade da constituição proporcionando a posse do agora Presidente João Goulart. Devido a possibilidade de uma guerra civil e o equilíbrio bélico entre ambos os lados, o movimento golpista recua e aceita a posse de Goulart, no entanto, sob a forma parlamentarista, JG assumia assim a Presidência no dia 07 de setembro de 1961.

Entre setembro de 1961 e janeiro de 1963, Jango realizou importantes manobras políticas, articulando-se cuidadosamente conseguiu ganhar força e realizar um plebiscito nacional para a abolição do Ato Adicional que havia estabelecido o sistema parlamentar. Vitorioso João Goulart restabelece o sistema presidencialista e recupera sua autoridade de Presidente, porem teria ainda que desarmar a oposição e resolver os graves problemas econômicos e sociais do Brasil.

Condecoração a Ernesto Che Guevara

Jânio em comício

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A Carta-renúncia de Jânio Quadros

Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

"Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

"Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

"Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

"Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.

"Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno

agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Jânio Quadros

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Colégio Mauá – M3 – História – Prof. Ms. Michel Willian Zimmermann de Almeida Após recuperar o sistema presidencialista, João

Goulart implantou medidas para conter a grave crise

econômica do país. O Plano Trienal, tinha como objetivo

combater a inflação, reduzir o déficit público e promover

o crescimento econômico. Para isso, foram tomadas

algumas medidas, como a desvalorização da moeda e a

redução das importações.

Ainda em 1963, Jango apoiado pela esquerda e

pelos grupos nacionalistas, lançou as chamadas

Reformas de Base, que abrangiam educação, política

agrária, tributação e sistema bancário. As propostas

apresentadas pelos setores de esquerda assustaram os

grandes proprietários de terra. Outros projetos

acentuaram a desconfiança das elites empresariais,

burocráticas e militares, que passaram a tramar um

golpe contra o presidente. Os opositores de Jango

argumentavam que as medidas do governo punham

em risco as bases do capitalismo no país e o poder

hegemônico dos Estados Unidos no continente.

As forças reacionárias organizaram-se

em torno do Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais

(IPES), criado em 1961;do Instituto de Ação

Democrática (IBAD), fundado no final dos anos 50; e da

Escola Superiro de Guerra, (ESG), fundada em 1949 por

ex-integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Civis e militares uniram-se contra o “perigo vermelho”,

ou seja, contra as reformas de base, que simbolizavam a

ideologia socialista.

Do lado de Jango, colocaram-se o PTB, setores

nacionalistas, lideres sindicais urbanos e os partidos de

esquerda. Com apoio desses grupos, Jango procurou

fortalecer seu governo, realizando uma série de comícios

pela aprovação das Reformas de Base. Após um comício

realizado em 13 de março de 1964, Jango comprometeu-

se com o programa reformista e acirrou o clima de

radicalização política vivido pela sociedade brasileira.

A tensão social atingiu seu auge em 31 de março

de 1964, com a deposição de João Goulart. A partir

daquele momento, o país ingressou em um longo

período de obscurantismo, em que as arbitrariedades e

todo tipo de violência venceram a democracia. Os

militares tomaram o poder e só o devolveram aos civis

duas décadas depois.

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REFERÊNCIAS:

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BRESSER-PEREIRA, L. C. Desenvolvimento e crise no Brasil: 1930 – 1967. Rio de Janeiro: Zahar, 1968. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp/FDE, 1997. FURTADO, Celso. Um projeto para o Brasil. 4°ed. Rio de Janeiro: Saga, 1968. FURTADO, Celso. Um projeto para o Brasil. 4°ed. Rio de Janeiro: Saga, 1968. FURTADO, Celso. Um projeto para o Brasil. 4°ed. Rio de Janeiro: Saga, 1968. ODÁLIA, Nilo. O Brasil nas relações internacionais: 1945 – 1964. In: MOTA, C. G. Brasil em perspectiva. 11° ed. São Paulo: Difel, 1980. SANTOS, P. A. G. A classe média vai ao paraíso: JK em manchete. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. SANTOS, P. A. G. A classe média vai ao paraíso: JK em manchete. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. VARGAS, Lutero Sarmanho. Getúlio Vargas: A Revolução Inacabada. Rio de Janeiro: Bloch, 1988.

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