histÓria local e regional leblon[1]

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QUILOMBO ABOLICIONISTA. UM QUILOMBO HISTORICAMENTE NOVO. As Camélias do Leblon Eduardo Silva A PROPOSTA DO AUTOR E A TEMÁTICA: O autor aborda a questão do surgimento de uma nova forma de quilombo, abordando especificamente o caso do quilombo do Leblon, dentro da corrente da história cultural, Eduardo Silva trás uma nova concepção de quilombo que são denominados por ele de quilombos abolicionistas. Seus integrantes e simpatizantes além de escravos fugidos, eram provenientes de uma elite política e intelectual, partindo do pressuposto de que os quilombos eram uma forma de resistência e subversão contra o escravismo, Silva enfatiza o quilombo do Leblon, pelo seu simbolismo representado pelas camélias cultivadas pelos ex-escravos, ostentadas no peito dos abolicionistas do Império. TEMÁTICA: Quilombos, abolicionismo, resistência. IDÉIA CENTRAL: "A crise da escravidão, no Brasil, deu lugar ao aparecimento de um modelo novo de resistência, a que podemos chamar quilombo abolicionista. No modelo tradicional de resistência à escravidão, o quilombo-rompimento, à tendência dominante era a política do esconderijo e do segredo de guerra." "Já no modelo novo de resistência, o quilombo abolicionista, as lideranças são muito bem conhecidas, cidadãos prestantes, com documentação civil em dia e principalmente, muito bem articuladas politicamente." (pp. 11) A idéia central do texto nos mostra a mudança ocorrida na formação dos quilombos, pois no modelo tradicional visava-se a política do esconderijo e o segredo de guerra. Os escravos fugidos não tinham nenhum tipo de contato com a sociedade. Já no novo modelo de quilombo

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Page 1: HISTÓRIA LOCAL E REGIONAL LEBLON[1]

QUILOMBO ABOLICIONISTA. UM QUILOMBO HISTORICAMENTE NOVO.

As Camélias do Leblon

Eduardo Silva

A PROPOSTA DO AUTOR E A TEMÁTICA:

O autor aborda a questão do surgimento de uma nova forma de quilombo, abordando

especificamente o caso do quilombo do Leblon, dentro da corrente da história cultural, Eduardo

Silva trás uma nova concepção de quilombo que são denominados por ele de quilombos

abolicionistas.

Seus integrantes e simpatizantes além de escravos fugidos, eram provenientes de uma

elite política e intelectual, partindo do pressuposto de que os quilombos eram uma forma de

resistência e subversão contra o escravismo, Silva enfatiza o quilombo do Leblon, pelo seu

simbolismo representado pelas camélias cultivadas pelos ex-escravos, ostentadas no peito dos

abolicionistas do Império.

TEMÁTICA: Quilombos, abolicionismo, resistência.

IDÉIA CENTRAL:

"A crise da escravidão, no Brasil, deu lugar ao aparecimento de um modelo novo de

resistência, a que podemos chamar quilombo abolicionista. No modelo tradicional de resistência

à escravidão, o quilombo-rompimento, à tendência dominante era a política do esconderijo e do

segredo de guerra."

"Já no modelo novo de resistência, o quilombo abolicionista, as lideranças são muito bem

conhecidas, cidadãos prestantes, com documentação civil em dia e principalmente, muito bem

articuladas politicamente."

(pp. 11)

A idéia central do texto nos mostra a mudança ocorrida na formação dos quilombos, pois

no modelo tradicional visava-se a política do esconderijo e o segredo de guerra. Os escravos

fugidos não tinham nenhum tipo de contato com a sociedade. Já no novo modelo de quilombo

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se dá prioridade a articulação política como forma de organização, onde os escravos fugidos

recebem ajuda de abolicionistas, os escravos fazem trabalhos manuais. O autor utiliza como

exemplo o quilombo do Leblon onde os escravos cultivavam as camélias, que era símbolo dos

abolicionistas. Pois comparavam a forma de cuidar e adaptação da planta vinda do Japão

sensível ao clima hostil do Brasil, que requeria muitos cuidados e precauções com a liberdade

tão almejada pelos escravos, que também requeria cuidados.

O QUE O AUTOR DESCONSTRÓI:

A historiografia brasileira durante muito tempo identificou como quilombos, espaços de

resistência a escravidão formados unicamente por africanos, sendo um local de resistência tais

quilombos representam uma afronta a ordem pública, por isso eram clandestinos, e os

envolvidos, uma vez identificados sofriam violentas punições, já Eduardo Silva amplia a idéia

de quilombo e resistência com o conceito de Quilombo abolicionista. O quilombo do Leblon,

por ser formado de negros e uma elite intelectual foge aos modelos apresentados pela

historiografia tradicional, o quilombo abolicionista é uma forma de resistência sim, no entanto,

por ter o apoio de pessoas influentes como a própria princesa Isabel não era clandestino, apesar

da reprovação das autoridades do Império, entretanto, o conceito de quilombo abolicionista é

datado do final do império, quando a escravidão já mostrava sinais de falência e o movimento

abolicionista já possuía maior força, portanto não poderíamos falar de quilombo abolicionista

no século XVIII, por exemplo.

AS FONTES UTILIZADAS PELO AUTOR:

Ao tratar do movimento abolicionista no Rio de Janeiro, Eduardo Silva utiliza como

fontes obras literárias de autores como Rui Barbosa, Olavo Bilac e Machado de Assis, além de

documentos dos anais do Senado Federal em 1888 e periódicos produzidos ao final do Império

como Cidade do Rio de Janeiro de 1888, Gazeta da Tarde de 1884 a 1888. O autor utilizou

também de iconografias do século XIX.

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OUTRAS FONTES QUE PODERIAM SER UTILIZADAS PELO AUTOR:

O conceito de Quilombo abolicionista foi criado pelo próprio Eduardo Silva, logo seria

pretensioso indicar outras fontes para o estudo da temática, no entanto ao ler alguns trechos da

obra do autor, percebemos que se volta unicamente para uma elite de intelectuais e nobres

abolicionistas, talvez tenha havido uma escassez de fontes que tratassem da condição dos

escravos no quilombo do Leblon, pelo fato de ser protegido pela princesa Isabel e o próprio

imperador D. Pedro II, estes escravos não sofriam punições, poderíamos então concluir que

quase não há documentações sobre processos criminais contra os negros. Em relação a fontes

secundárias, uma das obras que Eduardo Silva poderia ter utilizado seria História dos

Quilombolas de Flávio dos Santos Gomes, o livro oferece uma discussão sobre a resistência

escrava no Estado do Rio de Janeiro.

Ex-escravos decorando uma foto da princesa Isabel com camélias

e uma criança oferecendo camélias a princesa

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Quintino de Lacerda:

A experiência dos quilombos

abolicionistas não se restringiu ao Rio de

Janeiro, em Santos uma figura influente

fundou o quilombo da Jabaquara, Quintino de

Lacerda foi o primeiro líder político negro de

Santos, nascido em 8 de junho de 1839. O

quilombo de Jabaquara em Santos gerava

grande tensão, uma vez que seu líder,

defendia os escravos fugidos com a ação de

sentinelas, Quintino Lacerda fora um dos

maiores agitadores do movimento

abolicionista em São Paulo, com o fim da

escravidão em 1888, lança-se a política. Em

1895 é eleito vereador, o que gera uma crise política, devido a manifestações de setores racistas.

O líder recusa-se a tomar posse do cargo o que gera protestos populares, o

presidente da câmara Maria Tourinho renunciou ao mandato, o novo presidente José

André do Sacramento Macuco se viu obrigado a empossar Quintino, também

renunciando em seguida. As atividades da Câmara foram suspensas até 1º de junho,

quando voltou a funcionar, sob a presidência interina do próprio Quintino, os cargos

vagos foram preenchidos e Quintino passou a sofrer críticas ácidas de um jornalista

da Tribuna do Povo, culminando com a revogação da Constituição Municipal

autônoma , que fora em 15 de novembro de 1894 e durou menos de um ano.

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BIBLIOGRAFIA:

SILVA, EDUARDO. As Camélias do Leblon: uma investigação de história cultural, São Paulo: Cia das Letras,

2003.

SITE: http://www.afrodescendente.com.br/quintino.htm acessado em 15 de junho de 2010 às 17 horas.