história - edine p/ estela =)

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Em 1965, novamente os militares entraram em ação, com a edição do Ato Institucionalnº 2.\fom o AI-2, o governo extinguiu os partidos políticos e criou duasagremiações: a AliançaRenovadora Nacional (Arena) - grupo composto por políticosoriundos da UDN,PSDe demais grupos de direita e que deveria dar base de sustentação ao regime militar - e o Movimento Democrático Brasileiro(MDB) - grupo de oposição moderada composto principalmente por políticos oriundos do PTB e políticos contrários ao regime militar, vindos de outros partidot! Co movimento estudantil voltou às ruas, lutando contra a extinção de importantes organizações, como os partidos políticos, a UNE, os DCEs e os centros acadêmicos. As passeatas estudantis foram severamente reprimidas pela polícia, mas se espalharam pelos centros urbanos do país, recebendo apoio de setores combativos da sociedade brasileira. Outro pilar na estrutura do regime militar foi a reforma da Constituição de 1946, por meio do Ato Institucional nº 3, de fevereiro de 1966. O AI-3 estabeleceu eleições indiretas para governadores e prefeitos das capitais e cidades consideradas áreas de segurança nacional, consolidando a intervenção militarna vida pública. A ele seguiu-se o Ato Institucional nº 4, que impôs o novo texto constitucional ao Congresso. A nova Constituição, que entrou em vigor em março de 1967, deu mais po- deres ao Executivo e diminuiu a autonomia dos governadores dos estados. Em 1967,ainda no governo CastelloBranco, foidecretada a Leide SegurançaNacional, que eliminava os princípios das liberdades civis. Com essa medida, toda ação que pudesse ser considerada ameaça ao regime militar - greves, pronunciamentos, manifestações- estava sujeita aos rigores da repressão política.:l As medidas econômicas do governo (No campo econômico, o governo do general Castello Branco tomou me- didas para estimular a entrada de capital estrangeiro, controlar as linhas de crédito para o setor privado, reduzir os gastos públicos e controlar os salários, a fim de combater a inflaçã~ A Lei de Remessa de Lucros, instituída no governo jango, foi revogada e, em agosto de 1964, foi aprovada nova lei, no intuito de incentivar os in- vestimentos estrangeiros. Com essas medidas, ficou claro que o governo beneficiaria o capital em detrimento do trabalho. À classe trabalhadora foi negado o direito de greve legal.Além disso, em 1966 foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Ser- viço (FGTS), medida que extinguiu a estabilidade no emprego. Os sindicatos não puderam reagir porque estavam na mira da repressão policial. 2. O governo Costa e Silva (1967-1969)/ (o general Arthur da Costa e Silva foi recebido na Presidência com forte movimento de resistência ciV[] Greves operárias prolongadas, como as de Contagem (MG) e Osasco (SP), em 1968, foram as principais expressões da resistência à ditadura no final dos anos 1960, liderada pelos trabalhadores. [9 ano de 1968 foi marcado pela rearticulação do movimento estudantiD em torno da União Nacional dos Estudantes (UNE).~as ruas os estudantes exigiam mais vagas nas universidades e a melhoria na qualidade do ensino, além de protestar contra o acordo MEC-Usaid, uma tentativa de introduzir o pagamento de mensalidades nas universidades públicai] '.' ~.~!--"'.' lVNOIlVNlIllNI DCE: Diretório Centra I dos Estu- dantes, entidade de representação autônoma dos alunos de uma universidade. 223

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Page 1: História - Edine p/ Estela =)

Em 1965, novamente os militares entraram em ação, com a edição do AtoInstitucionalnº 2.\fom o AI-2, o governo extinguiu os partidos políticos e criouduasagremiações: a AliançaRenovadora Nacional (Arena) - grupo composto porpolíticosoriundos da UDN,PSDe demais grupos de direita e que deveria dar basede sustentação ao regime militar - e o Movimento Democrático Brasileiro(MDB)- grupo de oposição moderada composto principalmente por políticos oriundosdo PTBe políticos contrários ao regime militar, vindos de outros partidot!

Co movimento estudantil voltou às ruas, lutando contra a extinção deimportantes organizações, como os partidos políticos, a UNE, os DCEs e oscentros acadêmicos. As passeatas estudantis foram severamente reprimidaspela polícia, mas se espalharam pelos centros urbanos do país, recebendoapoio de setores combativos da sociedade brasileira.

Outro pilar na estrutura do regime militar foi a reforma da Constituiçãode 1946, por meio do Ato Institucional nº 3, de fevereiro de 1966. O AI-3estabeleceu eleições indiretas para governadores e prefeitos das capitais ecidades consideradas áreas de segurança nacional, consolidando a intervençãomilitarna vida pública. A ele seguiu-se o Ato Institucional nº 4, que impôs onovo texto constitucional ao Congresso.

A nova Constituição, que entrou em vigor em março de 1967, deu mais po-deres ao Executivo e diminuiu a autonomia dos governadores dos estados. Em1967,ainda no governo CastelloBranco, foidecretada a Leide SegurançaNacional,queeliminava os princípios das liberdades civis.Com essa medida, toda ação quepudesse ser considerada ameaça ao regime militar - greves, pronunciamentos,manifestações- estava sujeita aos rigores da repressão política.:l

As medidas econômicas do governo(No campo econômico, o governo do general Castello Branco tomou me-

didas para estimular a entrada de capital estrangeiro, controlar as linhas decrédito para o setor privado, reduzir os gastos públicos e controlar os salários,a fim de combater a inflaçã~

A Lei de Remessa de Lucros, instituída no governo jango, foi revogadae, em agosto de 1964, foi aprovada nova lei, no intuito de incentivar os in-vestimentos estrangeiros.

Com essas medidas, ficou claro que o governo beneficiaria o capital emdetrimento do trabalho. À classe trabalhadora foi negado o direito de grevelegal.Além disso, em 1966 foi criado o Fundo de Garantia do Tempo de Ser-viço (FGTS), medida que extinguiu a estabilidade no emprego. Os sindicatosnão puderam reagir porque estavam na mira da repressão policial.

2. O governo Costa e Silva (1967-1969)/(o general Arthur da Costa e Silva foi recebido na Presidência com forte

movimento de resistência ciV[] Greves operárias prolongadas, como as deContagem (MG) e Osasco (SP), em 1968, foram as principais expressões daresistência à ditadura no final dos anos 1960, liderada pelos trabalhadores.[9 ano de 1968 foi marcado pela rearticulação do movimento estudantiD

em torno da União Nacional dos Estudantes (UNE).~as ruas os estudantesexigiam mais vagas nas universidades e a melhoria na qualidade do ensino,além de protestar contra o acordo MEC-Usaid, uma tentativa de introduzir opagamento de mensalidades nas universidades públicai]

'.' ~.~!--"'.'

lVNOIlVNlIllNI

DCE: DiretórioCentra I dos Estu-dantes, entidadede representaçãoautônoma dosalunos de umauniversidade.

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Saulo
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Saulo
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Saulo
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De nada Estela!! by: Edine haha
Page 2: História - Edine p/ Estela =)

Bate-papoa) Segundo o

texto, em 1968,a maioria dosuniversitáriosestudavaem escolaspúblicas. Oensino públicoe gratuito nasuniversidades semantém nos diasde hoje?

b)Qual é a suaopinião sobreesse assunto?

Figura 2. ~Manifestantes

protestamcontra a morte

do estudanteEdson Luís Lima

Souto, mortopela repressãopolicial. Rio deJaneiro, 28 de

março de 1968.

224

• •

"L ..] 1968 iniciou no Brasil com manifestações de estudantes. Por um lado,eles reivindicavam ensino público e gratuito para todos, uma reforma que demo-cratizasse o ensino superior e melhorasse sua qualidade, com maior participaçãoestudantil nas decisões, mais verbas para pesquisa - voltada para resolver osproblemas econômicos e sociais do Brasil. Por outro lado, os estudantes contes-tavam a ditadura e o cerceamento ãs liberdades democráticas. Naquela época,a maioria dos universitários estudava em escolas públicas e o acesso ao ensinosuperior era bem mais restrito que nos dias de hoje, havendo uma demandamuito maior que a oferta de vagas. L ..]

L ..] Essas reivindicações específicas associavam-se à luta mais geral contra apolítica educacional e contra a própria ditadura. L ..]"

RlDENTI, Marcelo. 1968: "rebeliões e utopias".In: O século XX: o tempo das dúvidas.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 150.

e- estudantes passaram a utilizar a tática dos comícios-relâmpago. a me-dida, porém, em que esses comícios foram sendo bem-sucedidos, organizaramgrandes passeataSJprincipalmente no Rio de Janeiro.[fJuma dessas manifes-taçãebem que se reclamava do preço e da qualidade da comida servida norestaurante "Calabouço", destinado a alimentar estudantes sem recursos~dsonLuís Lima Souto, um jovem de 17 anos, foi morto pela Polícia Milita0

[O assassinato do jovem estudante causou indignação geral. Seu sepultamen-to reuniu milhares de pessoas e, em um ato de solidariedade, os presentes nocemitério ouviram o juramento dos estudantes: "Neste luto, a luta começou':]

A missa de sétimo dia da morte do estudante, realizada na igreja daCandelária, no Rio de Janeiro, reuniu mais de 30.000 pessoas, que foramreprimidas pela polícia (figura 2).

Page 3: História - Edine p/ Estela =)

~~------------------=-~---------------=~----------~--~--------------TFP: sigla pelaqual ficou conhe-cida a SociedadeBrasileira de De-fesa da Tradição,Família e Proprie-dade, entidadecivil fundada em1960 por PlínioCorrêa de Oli-veira. De caráterconservador, ti-nha como metasprincipais com-bater as ideiassocialistas e de-fender os valores

cristãos.

•. Figura 4. Fachadado antigo prédiodo Dops no bairroda' Luz, em SãoPaulo. Hoje nesseprédio funcionao Museu do Ima-ginário do Povo

Brasileiro. Foto demarço de 2004.

226

A luta armada I(A descrença na ação parlamentar, que se mostrava incapaz de reformar as

instituições e barrar o avanço da ditadura, levou setores da esquerda brasileiraa organizar a luta armada para derrubar o regimf] O Partido Comunista Bra-sileiro (P defendia a a - . stitucional, ou seja, dentro das regras do jogopolítico democrático. Uma dissidência entre os comunistas levou à criação doPartido Comunista do Brasil (PC do B), que defendia a B..~rra revolucionáriae a realização de uma campanha de guerrilhas rurais, com ôapoio camponês.AIémCíesses partidos, havia ~tos menores que defendiam uma ououtra posição política e que atuavam na clandestinidade.

G medida que a oposição intensificava a luta contra o regime, o governorespondia com eficientes aparelhos de repressão e controle da "ordem". Dessaforma, combinando a ação do Exército e das polícias no combate à guerrilha,criou-se a Operação Bandeirantes (Obani]órgão financiado por empresários.

, [No Exército foram criados o Destacamento de Operações e Informações e o'centro de Operações de Defesa Interna, mais conhecido pela sigla DOI-CODI.Esse aparato repressivo foi responsável por centenas de prisões, desapareci-mentos, mortes e torturas. O aparato repressivo do Estado se completava comos Departamentos de Ordem Política e Social (Dops), que centralizavam asações das secretarias estaduais de seguranç~e eram subordinados ao Serviço

acional de Informações (SNI) (veja a figura 4).

Além do aparato repressivo do Estado, agremiações de extrema direita,como o CCC, a TFP, entre outros, perseguiam os opositores da ditadura .

Page 4: História - Edine p/ Estela =)

.Â. Figura 13. Daesquerda para adireita, CaetanoVeloso, Gal Costae Gilberto Gil,em foto de 1976.

6. Rebeldia versus cultura de consumou..década de 1960 foi um período de rebeldia, contesta-ção e repress~em vários cantos do mundo. Nesse contextode intensa militância políticaú música teve grande impor-tância e figurou no centro das mudanças de comportamen-to da juventude. A arte musical foi um importante veículode divulgação de ideias, estilo de vida e protestos]

A bossa nova, que marcou a produção musical brasileira,contava na década de 1960 com a experiência dos grandesfestivais e com o calor das grandes plateias. Em 1965 estreouna TV Record o programa "O Fino da Bossa", apresentadopor Elis Regina e Jair Rodrigues .

....".Uma parte do movimento bossa-novista evoluiu emdireção a um gênero musical que apresentava críticas ao

governo e às desigualdades sociais. Dentre os vários compositores e in-térpretes, muitos ainda atuam com grande sucesso nos nossos dias, comoCaetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Edu Lobo e Carlos Lyra, entreoutros (figura 13).

Principalmente após a edição do AI-5, em 1968, aWrodução culturalbrasileira de conteúdo contestador tornou-se alvo da censura e da repressãopolítica. Filmes, letras de música, peças teatrais, livros - nada era liberadosem antes passar pelo crivo da censura federal. Muitos artistas foram presos,torturados ou obrigados a sair do paí0

Apesar da repressão, a criatividade brasileira fervilhava. O CinemaNovo éconsiderado a versão brasileira do cinema surgido na Europa após a SegundaGuerra Mundial, com destaque para o neorrealismo italiano. O Cinema Novotrazia a proposta de produção de filmes a baixo custo e inspirados na reali-dade social e cultural brasileira. Filmes como Vidas secas (Nelson Pereira dosSantos, 1963), Deus e o Diabo na terra do sol (Glauber Rocha, 1964), Terraem transe (Glauber Rocha, 1967), Osfuzis (Ruy Guerra, 1964), Macunaíma(Ioaquim Pedro de Andradre, 1969) são bons exemplos de uma propostacinematográfica que conquistou o respeito internacional (figura 14).

Figura 14. ~O cineasta

Glauber Rochadurante as

filmagens deDeus e o Diabo

na Terra doSol, 1963.

234

Page 5: História - Edine p/ Estela =)

A arte de protesto e de vanguarda chegou ao teatro com os grupos Oficinae Arena. Diretores como Gianfrancesco Guarnieri (Eles não usam black-tie)e José Celso Martinez Corrêa (O rei da vela, Roda-viva, Pequenos burgueses)introduziram a temática da luta de classes e da crítica à sociedade de consumona dramaturgia brasileira.

Era o ano de 1967 quando os baianos Gilberto Gil e Caetano Veloso parti-ciparam do movimento que ficou conhecido como tropicalismo, provocandouma revolução musical no país. Rompendo com o formalismo da música deprotesto, representada por Geraldo Vandré, Edu Lobo e Chico Buarque, osdois músicos resgatavam valores musicais nacionais deixados de lado pelabossa nova e pela MPB, juntando a eles a arte irreverente de Glauber Rochae Zé Celso e o som eletrizante de Janis joplin e Jimi Hendrix.

Nos grandes festivais da época, Éproibido proibir, Alegria, alegria e Do-mingo no parque, sucessos do tropicalismo, provocaram tumultos, receberamvaias e aplausos de um público apaixonadamente dividido entre a músicapolítica de Chico (figura 15) e Vandré e o som moderno e universal de Gil eCaetano. Essa polêmica marcou a história da nossa música em uma época deintensa repressão política e fértil produção cultural.

Ainda em 1965, a TV Record de São Paulo pôsno ar ':AJovem Guarda", programa 2irigido. pelo"rei" Roberto Carl~pelo "tremendão" Erasmo cã[:los e pela "ternurinha" Vanderléia. Foi o lançamentoda indústria cultural de consumo. AJovem Guardavirou uma febre para a juventude brasileira, quepassou a ter seus próprios reis do iê-iê-iê, a ditarmodelos de comportamento e assumiu os primei-ros lugares nas paradas de sucesso, tornando-secampeã em vendagem de discos no país .

Tropicalismo, MPB com forte conteúdo deprotesto, Cinema Novo, Teatro Oficina, Teatrode Arena. Apesar da censura, esses movimentosexpressaram uma época fecunda da arte brasileira,que deve ser compreendida como parte de umatendência artística mundial, rebelde e criativa.

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Figura 15. O cantor e compositor Chico ~Buarque se apresentando na TV Record, em

São Paulo, em novembro de 1968.

.------------ [Lembre-se!]• O período da ditadura militar foi caracterizado pela perseguição política aos

críticos do regime, por meio de práticas autoritárias como a censura e a torturade prisioneiros.

• Nesse período a sociedade brasileira tornou-se predominantemente urbana e aeconomia do país viveu o período do "milagre", caracterizado por altas taxasde crescimento econômico e expansão do mercado interno.

• O período militar terminou com uma abertura política lenta e gradual, em meioao crescimento dos índices de inflação e da dívida externa.

235

Page 6: História - Edine p/ Estela =)

~

AV~~ ~, 1. O governo José Sarney (1985-1990).•. ~ ~ %Derrotada a emenda Dante de Oliveira, que estabel~cia eleições diretas para

I•.~ ck- ~ - presidente da República, o sucessor de João Baptista Figueiredo foi também~ (S .-,.~rY\Q>.P)<:scolhidopor via indireta. Assim, em 15 de janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral(~ ~v. -~legeu o civil Tancredo Neves para a Presidência da República e José Sarney.:~. ~ ~ como seu vice'j.• ~ fuma grave enfermidade, no entanto, impediu Tancredo eves de assumir_ ~ ~_o cargo, e a faixa presidencial foi entregue ao vice Iosé Sarn~Depois de três

.~ meses de internação e grande expectativa por parte da populaçãoÚ'ancredo/'\ Of) ~ Neves faleceu (veja figura 1). José Sarney assumiu efetivamente a Presidência

•. ~, ~t- da Repúblic~~ fh.... Uosé Sarney (figura 2) era muito contestado por parte dos brasileiros.

- r--u::ru-v YY\.)V Vl)l-<../ Afinal ele havia sido presidente do PDS e filiado à Arena durante a ditaduraQvJb. _ ~ militauMovimentos e partidos de oposição lançaram palavras de ordem que_ /? ~A_.fi· expressavam a indignação com um presidente associado ao velho regime: "O, ,~u ~ t~' - povo não esquece, Sarney é PDS!", "Sarney não dá, Diretas Já!".~O::.;;,~~ ~em contar com o apoio popul'!Ík visto com reservas pelos oposicionistas,~~v I vv Uosé Sarney se comprometia a dar continuidade à redemocratização do país

e reduzir a inflação. Para isso, o presidente aprovou uma Emenda Constitu-cional que restabeleceu às eleições diretas para as prefeituras das capitais epara as cidades consideradas áreas de segurança nacional pelo regime militar.Além disso, diminuíram-se as exigências para registrar novos partidos, o quefavoreceu a legalização do PCB e do PC do B e o surgimento de inúmerospequenos partidos]

••. Figura 1. Cortejofúnebre deTancredo Neves,em São João DeIRei, Minas Gerais,em 24 de abrilde 1985.

274

Page 7: História - Edine p/ Estela =)

~ Figura 2.O presidenteJosé Sarney emseu gabinete, 1985.

o Plano CruzadoAo mesmo tempo em que eram tomadas as primeiras medidas para a

redemocratização da vida política do paíS,\9 governo Sarney deu início àsreformaseconômicas. Com o objetivo de promover o desenvolvimento internoe combater a inflaçã~em fevereiro de 1986 o governo apresentou o ~oC~o, elaborado pelo ministro da Fazenda Dílson Funaro.

C9 "pacote" de medidas econômicas substituiu o cruzeiro pelo cruzad~Ocom cortes de três zeros na moeda antiga, congelou os preços e os salários ecriou o "gatilho salarial", um mecanismo que reajustava automaticamente ossalários toda vez que a inflação atingisse o índice de 20%)

Em 1985, a inflação anual havia chegado a 235,1%, e em 1986, com asmedidas do governo, baixou para 62,4%. I2 plano mostrava-se eficaz, e opaís foi tomado por um clima de euforia, pois o consurpo cresceu em todasas camadas sociais. Milhares de pessoas, principalmente as donas de casas,passaram a vigiar o tabelamento dos preços e a denunciar as remarcaçõesno comércio. Proprietários e gerentes de estabelecimentos comerciais forampresos por transgredir a lei.] .

O presidente da República convocou os cidadãos a participar dessa luta,denunciando os "maus patriotas", que se colocavam ao lado do "inimigo",como você vai ler a seguir:

Documento

o congelamento de preços

"Cada brasileira ou brasileiro será um fiscal dos preços em qualquerlugar do mundo. Ninguém poderá, a partir de hoje, praticar a indústria daremarcação. O estabelecimento que o fizer poderá ser fechado, e esta práticaensejará a prisão dos representantes. "

José Sarney, em discurso à nação, 28 fev. 1986.

275

2

Page 8: História - Edine p/ Estela =)

\9 Plano Cruzado beneficiou politicamente o partido do governo, o PMDB,que conseguiu eleger a maioria dos governadores de estado e deputadosfederais nas eleições'de 1986.~as, do ponto de vista econômico, em algunsmeses os problemas começaram a surgir: o tabelamento de preços começou aser desrespeitado~alguns produtos desapareceram do mercado (veja a figura3)'~ plano sofria o boicote de empresários, produtores e comerciantes, quenão podiam aumentar os preços das mercadori:i:D

Com ofracasso do Plano Cruzado, novos "pacotes" econômicos se suce-deram, igualmente infrutíferos.

T Figura 3. Diante do congelamento depreços, fuIuitos empresários passaram

a reter os produtos para forçaraumentos de preçà]J O resultado foi o

desabastecimento - prateleiras vazias nossupermercados. Fotos de abril de 1986.

xc As relações internacionaisDurante seu mandato, o presidente Sarney procurou ficar atento às ques-

tões ligadas à política externa. O esvaziamento da Guerra Fria e o crescimen-to da dívida externa levaram a diplomacia brasileira a tomar posições maisindependentes em relação à política norte-americana.

Durante o governo Sarney, o Brasil reatou relações diplomáticas com Cubae estreitou os laços com os países africanos de colonização portuguesa. Noentanto, a iniciativa mais expressiva uniu os governos do Brasile da Argentina.

~ Declaração de Iguaçu, assinada em novembro de 1985 por Sarney e pelopresidente argentino RaulAlfonsin, representou um importante instrumento deaproximação com o Estado vizinho, que culminou na formação do MercadoComum do Sul, o Mercosu!J

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Uma nova Constituição para o paíso dia 5 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituição do

Brasil (figura 4). O presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, chamou-a deÇ.onst@liçãoCidadã,.numa referência aos avanços na área da ~dire' os so .. e olíticos das minorias e dos ~em [email protected] boxealgumas medidas estabelecidas pcla nova lei.

A Constituição de 1988 4-Legislação eleitoral• ~ções diret~ com dois turnos para a Presidência, governos estaduais e

prefeituras com mais de 200 mil eleitores.• yoto facultativo ara os 'ovens a artir de 16 anos o i atório depoi

anos) e para os analfabetos, até então sem ireito ao voto ...---- -Legislação trabalhista• Cria ão do se uro-desem re o am liação da licença-maternidade para 120

dias e criação da licença-paternidade, posteriormente xa a em 5 dias.• L' ita ã da 'ornada de trabalho em 44 horas semanais.• 'Fixação de uma multa paga pelo empregador no caso de demissão sem justa

causa)Crimes hediondos• A lei considerou crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou arusua a

prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o racismo,o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendoos mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.

Minorias• O~conheCimento do direito das populações indígenas às suas terras ancestraiU

O Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias reconheceuo direito das comunidades remanescentes de quilombos às terras ocupadaspelos seus antepassados. Muitos estudos estão em andamento nos dias atuais,buscando comprovar o direito desses povos a essas terras.

~ Figura4.PromulgaçãodaConstituiçãoFederaldo Brasil,noCongresso acionaICBrasília-DF,5 deoutubro de 1988).

Bate-papo

• Escolha umdos artigosconstitucionaisque vocêacabou de lere demonstrede que formaele representaum avançodemocrático paraos brasileiros. •

277--------------------------~==~/

Page 10: História - Edine p/ Estela =)

Depois das esperanças suscitadas pelo início da ova República, e apesarde alguns êxitos no plano internacionaljo governo Sarne.Y}se encerrava emclima de descrédito. ~ gastos públicos subiram, os problemas políticos eeconômicos se agravaram e a inflação atingiu níveif}.té então desconhecidospela população: 85% ao mês e 2.750% ao ano.

A campanha presidencial de 1989Depois de 29 anos sem eleição direta para presidente, @s brasileiros

finalmente iam votar para escolher o chefe da naçã<:9Apresentaram-se 24candidatos dos mais diferentes partidos, entre eles Fernando Collor de Mello(PRN), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ulys es Guimarães (PMDB), LeonelBrizola (PDT), Roberto Freire (PCB) e Paulo Maluf (PDS).

A campanha presidencial mobilizou o país, tomado por atos públicos quereuniram políticos, artistas, estudantes, trabalhadores em comícios gigantescos.Como previa a Constituição de 1988, is eleições ocorreram em dois turnoS] Oprimeiro turno, realizado em 15 de novembro, teve como vencedores FernandoCollor de Mello (com 28,52% dos votos) e LuizInácio Lulada Silva(com 16,08%).Vejaas figuras 5 e 6.

Bate-papo

-Com umainflação de 85%ao mês, o queacontecia como alário dostrabalhadores? •

.• Figuras 5 e 6. Imagens dacampanha presidencial de1989: acima, Fernando Collorde Mello discursa na favelada Rocinha, na cidade doRio de Janeiro; ao lado, LuizInácio Lula da Silva discursana Esplanada dos Ministérios,em Brasília.

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Page 11: História - Edine p/ Estela =)

-- ~-_.._-~---~----~-------------

Collor ficou conhecido, durante a campanha, como o "caçador de mara-jás", pelas propostas de reforma administrativa que previam a demissão defuncionários públicos com altos salários. O ex-govenador do estado de Alagoaspregava a necessidade de moralizar o país e conter a inflação. Adotando areceita do neoliberalismo, defendia a abertura da economia ao capital inter-nacional e o apoio às empresas brasileiras para se tornarem mais eficientese competitivas diante da concorrência externa.

Contrapondo-se ao candidato do Partido da ReconstruçãoNacional (PRN),oex-metalúrgicoe lídersindicalLuizlnácio Lulada Silvaapresentava-secomo o can-didato dos trabalhadores e dos excluídos do crescimento econômico do Brasil.

O segundo turno foi marcado por forte polarização ideológica: Collor eLula eram as novas caras da direita e da esquerda no Brasil (figura 7).

Em 17 de dezembro de 1989, os eleitores voltaram às urnas para o se-gundo turno. Collor venceu com 42,75% dos votos contra 31,07% de Lula.Houve 14,4% de abstenções, 1,2% dos eleitores votaram em branco e 3,7%anularam o voto.

2. O governo Fernando Collor de Mello( 1990-1992)Fernando Collor foi o primeiro presidente brasileiro escolhido por voto

direto desde 1960, quando foi eleito Jânio Quadros.F~ª-ndQ..coll.9r e o vice-presidente Itamar Franco assumiram o governo

Q?rometendo conduzir o país para a "modernidade:JPara isso, Collor deu osprimeiros passos num programa de 12rivatizações.Mais ainda, bem afinadocom as técnicas de marketing político, o presidente tratou de personificaro projeto de modernização. Sempre a postos, a mídia mostrou-o pilotandoaviões de caça e jet skis, ou fazendo exercícios físicos enquanto usava cami-setas com frases de efeito (figura 8, na página seguinte). As imagens eramlegendadas com declarações polêmicas - por exemplo, quando o presidentechamou os automóveis brasileiros de "carroças" e prometeu abrir o mercadopara aumentar a qualidade e competitividade dos veículos.

.••Figura 7. FernandoCollor soube usar amídia a seu favor,especialmente atelevisão. Na foto,o debate finalentre Collor e Lula,transmitido pela 1Vtrês dias antes dosegundo turno.

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~ Figura 8. O presidente Collorpilotando um jet ski no LagoParanoá, em Brasília, em fotode 1990.

o Plano CollorNo dia seguinte ao da posse, ocorrida em 15 de março de

1990, a nação inteira foi surpreendida com as medidas do planoeconômico do novo governo, encabeçado pela ministra daFazenda e Planejamento Zélia Cardoso de Melo. O,~Collor, como ficou conhecidoGnha entre seus principais

-~vos o controle da inflaçã~ara [email protected] pro-moveu o confisco dos depósitos nas contas correntes, nascadernetas de poupança e demais aplicações financeiras.Como já havia acontecido no Plano Cruzado, os preçose os salários foram congelados:]

O programa deQ!.~Y.ª.tjz.ªç;ªpdas empresas estataisera parte fundamental das reformas estruturais do go-verno Collor. Para isso, foi criado o Programa Nacional

de Desestatização (PND), no qual foram incluídas 34empresas estatais e 32 empreendimentos em que o Estadopossuía participação minoritária.

Empresa UF Ramo principal Data da Valor (bilhões de reais)de atuação privatização

Usiminas MG Siderursia 24/1 /1991 1.941

Celma RI Manutenção de motores 1/1111991 91

Mafersa RI Indústria ferroviária 11/11/1991 49

Cosinor PE Siderurzia 14/11/1991 15

SNBP MS Navegação 14/1/1992 12

Piratini RS Siderurgia 14/2/1992 107

Petroflex RI Petrocuirnica 10/4/1992 234

Copesul RS Petroquímica 15/5/1992 862

Álcalis RJ Produção de barrilha 15/7/1992 81

Siderúrzica de Tubarão ES Metalurgia 16/7/1992 354

Fosfértil MG Química 12/8/1992 182

Goiasfértil GO Química 8/ I0/ 1992 13

Acesita MG Siderurgia 22/10/1992 465 •

Empresas federais privatizadas durante o governo Collor

280

Page 13: História - Edine p/ Estela =)

As denúncias e a campanhapelo impeachment

Em 1991,@ plano econômico de Collor começou aapresentar sérias dificuldades para sua execução, uma vezque não conseguiu acabar com a inflação nem promovero crescimento econômico do país]Foi nesse contextoque começaram a circular notícias sobre o envolvimentode ministros, altos funcionários do governo e da própriaprimeira-dama, Rosane Collor, em negociações obscurase desonestas.

As suspeitas transformaram-se em denúncias em abrilde 1992 quando Pedro Collor, irmão do presidente, deuuma entrevista explosiva à imprensa. Declarou estar cienteda existência de um eSÇJ,J!etXl.;Jde tráfico de influências,•irregularidades financeiras, existência de contas bancárias,"fantasmas" entre out~::g~_pJ:Qblem~envolvendo o l2E..e-sTciente e aliados polítjcos .Segundo Pedro Collor, todaessa operação era dirigida por Paulo César Farias, o "PC",tesoureiro de campanha e amigo pessoal de Collor. Vejafiguras 10 a 12.

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.•. Figura 9. Charge sobre a devoluçãodas reservas em caderneta de poupançaconfiscadas por 18 meses durante ogoverno Collor (publicada no jornalO Estado de S.Paulo em agosto de 1992).

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281

.•. Figura 10. Coltor games, chargemostrando a rápida perda deprestígio do presidente Collor apartir das denúncias de corrupçãoem seu governo (publica da nojornal O Estado de S.Paulo emagosto de 1992).

Figuras l1 e 12. Charges sobre Collor e ~PC Farias, publicadas em julho de 1992

(ao lado) e em fevereiro de 1993(acima) no jornal O Estado de S.Paulo.

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Á. Figura 13. Cançõesde protestocompostas duranteo regime militar,como Pra nãodizer que nãofalei deflores(Geraldo Vandré),transformaram-seem hinos dessanova geração,que agitava faixase cartazes comos dizeres: "ForaColloril" (foto deagosto de 1992)

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A CPI e a queda de Colloro chamado "esquema PC" passou a to-

mar conta do noticiário em todo o país, o quegerou novas denúncias e revelações sobre ir-regularidades no governo. O desgaste políticodo presidente atingiu um ponto extremo e,em maio de 1992, a Câmara dos Deputadosestabeleceu uma Comissão Parlamentar deInquérito (CPI) para investigar a veracidades _

das acusações.(Manifestações populares eram organiza-

das em várias cidades do Brasil, exigindo asaída do presidente da Repúblic~ a apuraçãodos crimes cometidos pelo governo.

Os estudantes secundaristas e universitá-rios participaram ativamente das manifesta-ções. Apoiados por entidades representativasda sociedade civil, como a OAB (Ordem dosAdvogados do Brasil), CUT (Central Únicados Trabalhadores) U E (União acional dosEstudantes), os estudantes de rostos pintadospassaram a clamar nas ruas pelo impeach-ment do presidente (figura 13).

Em 29 de setembro de 1992Q Câmara dosDeputados aprovou a abertura do processo deimpeachment e afastou Collor da Presidência]por 180 dias, prazo necessário para a conclu-são dos trabalhos da CPI. Três meses depois,em 29 de dezembro, antes do início dos tra-

balhos no Senado, o advogado d0l:Éresidente apresentou a carta-renúncia deCollor, esperando que essa medida lhe garantisse os direitos políticos. Foi umatentativa inútil. Por ampla maioria, o Senado aprovou a continuidade do julga-mento, condenou o presidente por crime de responsabilidade e cassou seusdireitos políticos por oito anosJO vice Itamar Franco completou o mandato.

~. O governo Itamar Franco (1992-1994)o vice-presidente Itamar Franco já vinha governando o Brasil, interina-

mente, desde a abertura do processo de impeachment de Fernando CollgljCom o afastamento definitivo de Collor, em dezembro de 1992, ItamarFranco foi empossado na Presidência, (ipoiado pelas oposições por terrompido com Collor logo no início das denúncias contra seu governci;J

[Çoube a Itamar prosseguir com a redemocratização de um país trauma-tizado com os episódios associados ao impeachment)~fui conduzir, em abril de 1993, ljm plebiscito previsto pela Constituição de1988. Por essa consulta, o povo escolheu a forma e o sistema de gove~odo Brasil: mais de 66% dõs eleitores votaram na República e mais de 55%-----no sistema presidencialista.

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Page 15: História - Edine p/ Estela =)

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Plebiscito, referendo e iniciativa popular

A Constituição de 1988 estabeleceu a possibilidade deos cidadãos brasileiros participarem diretamente das deci-sões políticas, através de instrumentos como o plebiscito, oreferendo e a iniciativa popular.

De acordo com a cientista política Maria Vitória Bene-vides, "através do referendo a população aprova ou rejeitaum projeto que já tenha sido aprovado pelo Legislativo;noplebiscito, a população decide pelo voto uma determinadaquestão".

Os cidadãos brasileiros também podem propor leispara a apreciação do Legislativo, na forma de um abaixo--assinado, o que configura a iniciativa popular.

Em nosso país, em mais de um século de história repu-blicana, houve apenas dois plebiscitos (em 1963 e 1992),para a definição do sistema de governo. Um referendo foirealizado em 2005, para votar contra ou a favor do comérciode armas e munição. Naquela ocasião, venceu o "não", ouseja, não foi aprovada a proibição do referido comércio emterritório nacional. Todavia, os fabricantes, comerciantes eportadores de armas devem submeter-se às regras previstasno Estatuto do Desarmamento.

Baseado em: BENEVIDES,M. Vitória.A cidadania ativa: plebiscito, referendo e iniciativa

popular. São Paulo: Ática, 2003. p. 36.

Figura 14. A discussão em torno do "Sim" ou ••"Não" à proibição do comércio de armas ganha

as ruas das grandes cidades em faixas e outdoors,em 2005, convidando a sociedade à reflexão.

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o Plano Real VCõ governo Itamar deu continuidade ao programa de privatizações

iniciado por Fernando Collor. esse período foram privatizadas grandesempresa!J como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Cosipa, a Açominase a Embraer. Além disso,{Q governo enfrentou sérios problemas para com-bater a inflaçã21 comprometendo seriamente o prestígio alcançado logoapós o afastamento de Fernando Collor. Vários ministros sucederam-se noMinistério da Fazenda até a nomeação do sociólogo Fernando HenriqueCardoso para o cargo.

No final de 1993; Fernando Henrique anunciou seu grojeto de esrabj1ihaçãe---- ~econômica: o Plano RcªL MaIs uma vez surgiu uma nova moeda OQ Brasil,~, e grandes promessas de acabar com a inflação. Em março de 1994entrou em vigor a URV (Unidade Real de Valor), um indexador para realizara transição entre o cruzeiro e o real.

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Figura 15. ~Manifestação contra

a privatizaçãoda Companhia

Siderúrgica NacionalCCSN),no Rio deJaneiro, em abrilde 2003. Apesar

dos inúmerosprotestos, várias

empresas estataisforam privatizadas

na década de 1990,especialmente nosetor siderúrgico,

de energia e detelecomunicações.

Esperando impedir a desvalorização do real, o governo estabeleceu aparidade da nova moeda com o dólar norte-americano. Também foi lançado,um conjunto de [email protected] o obieti~de garantir <;3stabiliz~o econômisae reduzir o déficit público, ,considerado o responSável pela inflação: ~zação de empresas estatais (figura 15),.elevação das taxas de juros, liberação

<-aomerc~o nacional as lmportações, entre outras.. -

A implementação do Plano Real possibilitou a valorização da mo~estabilização eCQnô~, afastando o "fantasma" da inflação. Desse modo, apopularidade de Itamar Franco atingiu níveis elevadíssimos. E, junto, cresceuo prestígio de seu ministro da Fazenda, que conseguira reduzir a inflação,sem choques nem congelamentos.

.0 sucesso d Plano Real favoreceu o lançamento da candidatura de Fer-nando Henri ue Cardoso para a resi encia do país, apoiado pela aliançaentre o PSDB (Parti o a Socia -Democracia rasi eira) e o PFL (Partido daFrente Liberal). Para vice-presidente foi escolhido o senador Marco Maciel(PFL), partidário da Arena durante o regime militar. A vitória de FernandoHenrique, no primeiro turno, contra o candidato do PT (Partido dos Traba-lhadores), Luiz Inácio Lula da Silva, demonstrou o sucesso do Plano Real nasociedade brasileira da época.

4. O governo Fernando Henrique Cardoso(1994-1998/1998-2002)° sociólogo e político Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro presi-

dente do Brasil a se reeleger para um segundo mandato consecutivo, em 1998.a. campanha eleitoral de FHC contou com uma publicidade habilidosa, queexplorou sua imagem como idealizador do Plano Real, responsável pela quedada ínflaçãojque corroía o poder de compra de milhões de brasileiros.

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Para convencer os eleitores a votar em FHC,@sresponsáveis pela propa-ganda política procuraram neutralizar a liderança de Luiz Inácio Lula da Silv~que despontava como um dos favoritos. {[s pesquisas de opinião indicavamque a falta de escolaridade era um dos pontos mais frágeis de Lula. Assim,os estrategistas de campanha procuraram enfatizar o currículo de FernandoHenriquj (figura 16), seus diplomas, as universidades onde deu aula. Foifirmado o objetivo de fixar sua imagem como professor, com competênciareconhecida aqui e no exterior.

Para tentar neutralizar os efeitosnegativos da aliança com o PFL,queabrigava políticos mais conservado-res, alguns ligados aos governos mili-tares, a propaganda política enfatizouo passado do candidato: a defesa deposições democráticas, o exílio du-rante a ditadura, a sua participação nacampanha das Diretas Já, a solidarie-dade nas greves operárias - inclusivenaquelas lideradas por Lula, quandoera líder sindical no ABC paulista.

.•. Figura 16. FernandoHenrique Cardosoem campanhaeleitoral nomunicípio deDelmiro Gouveia,no sertão alagoano,em maio de 1994.

o primeiro mandato de FHC (1994-1998)Empossado em 1Q de janeiro de 1995, 1Q. novo presidente procurou

manter a estabilidade monetária e restaurar a confiança dos investidoresestrangeiros no país)

Em sua primeira gestão[Êõs fim ao monopólio da Petrobras na exploraçãodo petróleo e privatizou grande parte das empresas estatai~ Apesar de contarcom uma ampla base de apoio no Congresso Nacional,U:::HCenfrentou difi-culdades para derrubar a estabilidade de emprego dos servidores públicos eaprovar as novas regras para as reformas na Previdência Social e TributáriD

• A luta no campoCJma das maiores batalhas enfrentadas pelo primeiro

governo de FHC foi travada no campo. Vários foram oscombates envolvendo integrantes do Movimento do~Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)e forças policia~Os mais violentos ocorreram em Corumbiara (RO), em1995, e em Eldorado dos Carajás (PA), em abril de 1996,quando 19 sem-terra foram massacrados por policiais doestado (figura 17). Esses episódios, principalmente o doPará, chocaram a comunidade nacional e internacional edemonstraram que a questão agrária estava longe de serresolvida no Brasil.

Figura 17. Caixões com os corpos dos ~sem-terra assassinados por policiais noincidente de Eldorado dos Carajás, no

Pará, em abril de 1996.

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Explorandoo textoa)Justifique com

suas palavrasa seguinteafirmaçãodo texto: "Aconcentraçãoda terra namão de poucosproprietáriosdetermina umcírculo viciosoque acabaimpedindo odesenvolvimentode amplasparcelas dapopulação" .

b)Qual é suaopinião sobrea necessidadede uma reformaagrária noBrasil?Apresenteargumentos emfavor de suaposição.

286

MOLINA, Mônica. A legitimidade do conflito pela terra.Assessoria de Comunicação Social da UnB, 2 ago. 2003.

Disponível em www.unb.br. Acessado em 7 jul. 2006.

~A questão agrária no Brasil

o texto a seguir apresenta uma visão geral da questão agrária no Brasil.

"As estatísticas registram que aproximadamente 30 milhões de pessoas foramexpulsas das áreas rurais nas últimas décadas. ['..J

Esses conflitos são consequência de um problema não enfrentado até hoje pelasociedade: os absurdos níveis de concentração da propriedade da terra vigentesno Brasil e as distorções no acesso ao trabalho que ela gera. A concentração daterra na mão de poucos proprietários determina um círculo vicioso que acabaimpedindo o desenvolvimento de amplas parcelas da população, reproduzindouma cadeia sequencial de miséria econômica, social, política e cultural que seabate sobre o campo e a cidade.

É por isso que a questão agrária não envolve apenas aspectos agronômicos,econômicos ou sociais. Esses aspectos estão todos relacionados e decorremde uma característica básica da estrutura fundiária do Brasil - a concentra-ção da propriedade no polo superior da pirâmide dos proprietários, o queprovoca extrema fragmentação dos níveis inferiores e a existência de umagrande população rural destituída de terra.

Dados do Atlas Fundiário do Instituto Nacional de Colonização e ReformaAgrária Onera) de 1996 mostram que os latifúndios (2,8% dos imóveis rurais)ocupam 56,7% da área total, enquanto os minifúndios (62,2% dos imóveis)ocupam 7,9% da área total. Os altos índices de concentração fundiária guardamrelação intrínseca com a forma como se dá a utilização das terras no Brasil.O Atlas Fundiário registra o desperdício das terras - 185 milhões de hectares,40% da área aproveitável, têm proprietários, mas não são produtivos e quasetoda essa terra é apropriada sob a forma de latifúndios. [,..1"

o segundo mandato de FHC (1998-2002)~o HeQl:ique Cardoso conseguiu uma das maiores vitórias polí-

ticas do seu governo: aprovar alei Que peünite a Leeleição para os~~xecutivos. (presidente, governador e prefeito). ~sa l~eneficiou o pró~~ em 1998 reelegeu-se ~a um segundo mandat~TI~~tmeiro turno da eleição. Fernando Henrique obteve 53% dos votoSVili os,derrotando o candidato Lula (31%), que ficou em segundo lugar.

Mesmo vitoriosc[êra grande a rejeição ao presidente Fernando Henrique:1No final do primeiro mandato as \É.esquisasapontavam que no governo deFHC o Brasil apresentou a menor taxa de crescimento e a maior taxa de de-semprego da história do paíS]

~lantação do programa ie privatizações, que segundo o g~anecessáriüpãrãretluzir o déficit público, parecia ter provocado o efeito con-trário. Entre 1994 e 1999, período de inúmeras privatizações, ~ dívida jnternapública saltou de 108 para 328 bilhões de reais, representando no final doprimeiro ma~ato 39% do PIE brasileirQ'fiJm dos motivos desse crescimento~foram os gastos feitos pelo governo parI manter o real, a nova moeda, estáveldiante do dólar.:!

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Empresas federais privatizadas durante o governo Fernando Henrique

Empresa UF Ramo principal Data da Valor (bilhões de reais)de atuação privatização

Escelsa ES Distribuição de energia elétrica 11/7/1995 400

RFFSA (malha oeste) SP Ferrovia 5/3/1996 63

Light RJ Distribuição de energia elétrica 2115/1996 2_507

RFFSA MG Ferrovia 14/6/1996 316(malha centro-leste)

RFFSA MG Ferrovia 20/9/1996 2.507(malha sudeste)

RFFSA SC Ferrovia 22/1111996 18(Tereza Cristina)

RFFSA (malha sul) PR Ferrovia 13/12/1996 209

RFFSARJ Ferrovia 18/7/1997 15(malha nordeste)

Vale do Rio Doce RJ Mineração 6/5/1997 3.299•

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A economia brasileiraestava desgastada e o fato acabourepercutindo em outros setores do governo.@ma forte crisede energia colocou em questão os projetos de privatizaçãodo govern§JDez estados do Centro-Sul sofreramjpterrup-ção de energia...-emvirtude da gueda do sistema, atingindocerca de 60 milhões de consumidores. O acontecimentoficou conhecido como a g:~ (figura 18).

Apesar da crescente dívida externa e de sucessivascrises, o Brasil manteve-se entre as 10 maiores economiasdo mundo. Entretanto, como o próprio governo admitiu,esse potencial econômico ainda não havia promovido odesenvolvimento humano. Era esse o desafio colocadopara os governos que sucederam o regime militar.

Durante a era FHC, o movimento sindical aumentouseu poder como interlocutor junto ao empresariado e aogoverno por meio de negociações e greves organizadaspelas centrais sindicais como a Central Única dos Traba-lhadores (CUT) e a Força Sindical. Veja a figura 19.

A violação dos direitos humanos e de cidadania re-sultou na formação de diversas organizações não-gover-namentais e movimentos de solidariedade em torno dediversas questões: a fome e a miséria; a violência contraas crianças, principalmente as de rua; a depredação; a de-marcação de terras indígenas; a discriminação das minorias(sociais, raciais e sexuais); e a luta contra a aids.

.••.Figura 18. Charge sobre o apagãopublicada em maio de 2001 nojornal do Engenheiro, editado peloSindicato dos Metalúrgicos do Estadode São Paulo.

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Figura 19. ~Professores federais

em greve durantemanifestação na

frente do Palácio doPlanalto em Brasília,novembro de 2001.

Os servidoresfederais ocuparam

papel centralnas mobilizações

ocorridas nogoverno FHC.

T Figura 20. Abaixo,à esquerda, capado CD Para todos,de Chico Buarque,lançado em 1993.À direita, cena dofilme Abrildespedaçado,de 2001, dirigidopor Walter Salles.

• Inovações culturaisWesde o governo de Itamar Franco~ atividade cultural foi beneficiada]

pela regulamentação da Lei n. 8.685 (Lei do Audiovisual), criada em 1993. Alei criou mecanismos fiscais de incentivo à atividade audiovisual ao permitiràs empresas que exploram comercialmente obras audiovisuais estrangeirasutilizar parte do imposto de renda devido à União à coprodução de obrascinematográficas brasileiras. O incentivo fiscal possibilitou o revigoramento'do cinema nacional: Filmes como Sábado, Lamarca, O quatrilbo, Carlotajoaquina, O guarani, Tieta, O baile perfumado, Central do Brasil, Eu, tu,eles e Abril despedaçado foram sucessos de bilheteria nacional e tiveram oreconhecimento internacional (figura 20).

O mercado editorial produziu obras de autores expressivos e reeditou osclássicos da literatura brasileira, por meio de coleções voltadas para o grandepúblico. Concomitantemente, a indústria fonográfica lançou no mercado osmais diversos gêneros, da música sertaneja a obras-primas como Paratodos,de Chico Buarque, Tropicália 2, de Caetano Veloso e Gilberto Gil, e aindaconsagrou as cantoras e compositoras Adriana Calcanhoto e Marisa Monte.

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~s relações internacionaiso Mercado Comum do Sulou ~~~..?.~~!foi constituído em 1991, reunindo

os países do chamado Cone Sul:Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, numa~ºPJl~vre comércio e união alfandegária. Esse acordo entrou em vigorem 1º de janeiro de 1995 com~Q d;-;;Jiminar as barreiras ~

e s aíses-me ros unifi ar as taxas alfandegárias cobradas sobre as1!lercad~ importadas de países não-in~rantes ~ loco.

lÁ formação desse bloco econômico impulsionou as transações comerciaisentre os quatro países-membros, além de atrair empresas estrangeiras pararealizar investimentos, principalmente no Brasil e na ArgentinaJ

Estar sob regime democrático é uma das condiçõesexigidas para que um país se associe ao Mercosul. Assim,qualquer ameaça ao regime democrático em qualquerum dos países-membros é motivo de preocupação paraos demais associados. O país que desejar. promovermudanças em sua política de comércio exterior deveráantes consultar seus parceiros que, se desejarem, poderãoapresentar restrições.

O Mercosul,no entanto, tem gerado protestos por partede setores prejudicados pelo acirramento da concorrência.Pecuaristas e plantadores de trigo gaúchos reclamam daação de concorrentes argentinos e uruguaios, enquanto naArgentina industriaise muitos trabalhadores protestam con-tra as facilidades de importação de artigos industrializadosbrasileiros, muitas vezes mais baratos e modernos.

No final de 2005, o bloco do Cone Sul teve a adesãode um novo sócio, a Venezuela, governada pelo polêmicopresidente Hugo Chávez. O ingresso da Venezuela geroumuitas apreensões nos demais países-membros, afinal aposição política de Chávez, de confronto e independênciaem relação aos Estados Unidos, pode comprometer asrelações comerciais dos países do bloco com o governode Washington.

CA criação da Área de Livre Comércio das Américas CAlca)foi propostapelo governo dos Estados Unido~m 1993, em um encontro que reuniu 34países do continente americano, denominado Cúpula dasAméricas. O projetode reunir as economias do continente (à exceção de Cuba) em única áreade livre comérciou..evecomo principal motivação o elevado déficit comercialnorte-americano e a necessidade de ampliar o mercado do continente paraos produtos estadunidenses]

Qodemos destacar três grandes objetivos da Alca: assegurar o mercadolatino-americano para a economia dos Estados Unidos, promover o cresci-mento das relações comerciais entre os países americanos e ampliar os laçoseconõmicos da América com os países da União Europeia. A formação dessebloco revela a importância da América Latina para os investimentos norte--amerícanojj Se levado às últimas conseqüências, os acordos regionais cons-tituídos no continente, como12 Mercosul, deixariam de existir, já que haveriauma zona de livre comércio integrando toda a América. Bom para os EstadosUnidos; mas como seria para a América Latini!}veja a figura 21.

~ Figura 21. Chargesobre a Alca,de julho de2002, na cartilhaSoberaniasim, Alca não,da ComissãoPastoral da Terrae da ConferênciaNacional dosBispos do Brasil.

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Page 22: História - Edine p/ Estela =)

Inativo: aposen-tado; que estáfora do mercadode trabalho.

Bate-papoa) Que avaliação

você faz doensino públicoe do sistema desaúde no Brasil?

b) Há pessoaspassando fome,crianças quevivem nas ruas?

c) Por que o Brasilocupa umaposição tão ruimno Índice deDesenvolvimentoHumano?

Figura 22. No ~Brasil, a política

neoliberalproduziu cortes

na saúde pública,saneamento básico,

na previdênciasocial e nas verbaspara pesquisas emuniversidades. Nafoto, esgoto a céuaberto em favelana cidade de São

Paulo (2004).

290

o Brasil na rota do neoliberallsmoComo você já estudou, a partir dos anos 1980, com a política desenvol-

vida por Margareth Tatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA,o papeldo Estado na vida econômica dos países começou a ser criticado, e reformasforam implementadas para reduzir essa participação. Esse conjunto de medidasfoi denominado de política neoliberal.

No Brasil, o neoliberalismo começou a ser implantado no governo deFernando Collor 0990-1992) e se aprofundou no governo de Fernando Hen-rique Cardoso, a partir de 1994. Desde então, importantes empresas estatais,como a Companhia Siderúrgica Nacional, a Companhia Vale do Rio Doce eo Sistema Telebrás, entre muitas outras, foram privatizadas.

A reforma constitucional iniciada em 1992 impulsionou o programa dedesestatização da economia e de redução dos investimentos públicos nosserviços essenciais, trazendo, por exemplo, o fim do monopólio estatal sobreas telecomunicações e sobre a exploração do petróleo, bem como a reformaprevidenciária, que ampliou o tempo de trabalho necessário para a obtençãoda aposentadoria, mas acabou reduzindo os recursos destinados ao paga-mento dos inativos.

No Brasil, a implantação dessas medidas enfrentou a resistência dos setoresmais atingidos pelo corte das verbas públicas, como os funcionários públicosem geral e trabalhadores das estatais. O mesmo ocorreu em outros paíseslatino-americanos governados na época segundo a cartilha do neoliberalismo,como Argentina, México, Venezuela e Chile.

A realidade demonstrou que as medidas neoliberais dos últimos go-vernos agravaram a miséria e a concentração de renda no país (figura 22).Em 2004, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud)divulgou seu relatório anual sobre a situação social e econômica de 174países. No ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasilficou em 72º lugar. O cálculo do IDH é feito com base em três indicadoressocioeconômicos: educação (taxa de alfabetização de adultos), longevidade(expectativa de vida ao nascer) e renda (PIE per capita).•

Page 23: História - Edine p/ Estela =)

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5. A campanha presidencialde 2002 e a eleição de Lula

a campanha eleitoral de2002, Luiz lnácio Lula da Silva dis-putou a presidência pela quartavez (figura 23). O maior opositorao candidato do PT era José Serra,filiado ao PSDB, partido do entãopresidente Fernando Henrique.

Para perder a fama de radicale a imagem de comunista, o PTsurpreendeu o meio político aoaliar-se ao PL, partido de centr-o--direita. Um claro sinal da apro-ximação e do bom trânsito do PTcom setores conservadores foi aescolha, para vice, do empresá-rio José Alencar Gomes da Silva.Político mineiro do PL, o senadorfoi um dos interlocutores do novogoverno com setores empresariaise conservadores.

Essa guinada para o centroveio acompanhada de uma inten-sa campanha de transformaçãoda imagem de Lula: elegante, bem vestido, ponderado e conciliador, umaimagem bem diferente da do líder sindical e político de esquerda das pri-meiras disputas eleitorais. Esse novo perfil menos radical, mais maduro esóbrio, tornou o candidato da oposição mais palatável à classe média eao empresariado, diminuindo sua rejeição.

Depois de três eleições perdidas para candidatos conservadores, ocandidato do PT era a alternativa política para uma classe média desiludi-da com os rumos da economia do país. Para as camadas mais pobres dapopulação, Lula era uma figura com enorme carisma, a esperança de umBrasil com mais empregos e melhores salários.

Sem obter bons resultados, Serra mudou sua estratégia de marketingpolítico e partiu para o ataque. Para assombrar a classe média alta, lembrouque Lula foi líder sindical e comandou greves operárias, além de vincularsua imagem ao fantasma do comunismo. Explorou também o temor dosinvestidores nacionais e estrangeiros com relação ao perigo de um governopetista mudar as regras do mercado.

Ao final de uma disputa em que os dois principais candidatos investiramem marketing político e ataques recíprocos, Lula foi eleito, no segundoturno, presidente da República com cerca de 53 milhões de votos - 61%dos votos válidos. Pela primeira vez na história do Brasil, um operário elíder de um partido de esquerda era eleito presidente do país.

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.6. Figura 23. Luizlnácio Lula daSilva participade carreatapelas ruas deJoão Pessoa,na Paraíba,em campanhaeleitoral paraa Presidência,outubro de 2002.

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Intenção de votoem setembro de 2002

LULA39%

6. O governo Luiz InácioLula da Silva (2003-2006)

Fonte: Federação Nacional do Comércio..••.Figura 24.

Depois de vencer a eleição, o novo presidente en-controu o país numa situação não muito favorável. Nosúltimos meses do ano de 2002, as expectativas do mer-cado e dos investidores com relação ao resultado daseleições presidenciais agravaram a situação da economiabrasileira.~ governo Lula herdou uma enorme dívidapública, a moeda desvalorizada e a inflação dando sinaisde que estaria de volta em brev:!]se medidas urgentesnão fossem tomadas.

Programa Fome ZeroNo primeiro ano de governo, Lula criou a principalmarca da sua administração, oTProgramaFome Zero,um plano de combate à fome e à miséria no paí~ :li

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(figura 25), A implantação do Fome Zerodeu-se a partir da Caravana Contra aFome, que reuniu Lula e 29 ministrosem uma viagem a Teresina (PO,Recife(PE) e Itinga (MG)no final de janeirode 2003. O programa teve início efetivoem Guaribas e Acuã, no Piauí, onde500 famílias de cada cidade passarama receber R$ 50,00 mensais através docartão-alimentação. O plano do gover-no era que, até o fim daquele ano, 1,5milhão de famílias de mil municípiosestivessem recebendo os recursos. En-tretanto, esse programa - carro-chefe

do governo Lula- recebeu muitas críticasem relação ao seu funcionamento, eficácia

e propósitos eleitoreiros .Em 23 de dezembro de 2003, o presidente da República

nomeou a Comissão Executiva Interministerial para imple-mentar ações direcionadas à produção e ao uso de óleovegetal - biodiesel - como fonte alternativa de energia.

O objetivo do Programa Biodiesel é promover aimplantação de projetos autossustentáveis, produzindobiodiesel a partir de diferentes oleaginosas, cultivadas emdiferentes regiões do país. Como exemplo real encontra-se a mamona, plantada no estado do Piauí, município deCanto do Buriti, que certamente gerará renda às famíliasque lá habitam, incluindo-as de forma sustentável nasociedade brasileira.

O governo acredita que a produção do biodiesel vaigerar no Brasil um novo ciclo do setor de energia.

.••.Figura 25. Frei Betto, coordenador daMobilização Social para o ProgramaFome Zero, em seminário realizado noRio de Janeiro sobre o novo papel dasempresas, em 2003.

8iodiesel: combustível biodegradável deri-vado de fontes renováveis como óleos ve-getais e gorduras animais que, estimuladospor um catalisador, reagem quimicamentecom o álcool ou o metanol.

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<11I Figura 26.O presidente Lulaergue o braço de HuJintao, presidenteda RepúblicaPopular da China,no encerramentodo Seminário Brasil--China: desafios naconstrução de umaparceria estratégica.Palácio do Itamaraty,Brasília, 2004.

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Realizações na política externaPoucas áreas de atuação do governo ganharam tanta notoriedade quanto

a diplomacia e a negociação internacional. Com a coordenação do ministroCelso Amorim, foi uma das principais responsáveis pelo aumento da credí-bilidade do país no exterior. O presidente Lula realizou muitas viagens inter-nacionais, levou a maior comitiva de empresários à África e fez a segundavisita ao Oriente Médio em mais de cem anos.

Em campanha pela inclusão do Brasil como membro do Conselho de Se-gurança da Organização das Nações Unidas (ONU), pela primeira vez o paísliderou uma Força de Paz. Desde junho de 2004, o Brasil mantém em PortoPríncipe, capital do Haiti, 1.200 militares. Além disso, está à frente de umgrupo de 6.700 militares de vários países, que têm a missão de restabelecera paz e assegurar a ordem naquele país.

O Brasil também estreitou laços comerciais com a China (figura 26), oJapão e a Coreia do Sul, além de abrir novas oportunidades de negócioscom a Rússia e com a União Européia. Com a realização da Cúpula Américado Sul-Países Árabes, que teve a presença de 34 países CBrasília, maio de2005), o Brasil avançou mais alguns passos rumo à formação de novos eixospolítico-comerciais independentes.

Críticas ao governoo governo Lula decepcionou parte dos seus eleitores quanto ao dírecío-

namento da política econômica e à articulação política no Legislativo ..>

'i2Lula manteve a política econômica de seu antecessor, baseada nos jurosaltos e no controle dos gastos públicos. O compromisso de manter a estabi-lidade econôm~e o aperto fiscal levou o governo a propor e a aprovar noLegislativo a reforma da Previdência e a reforma tributária. Elas possibilitam aredução dos gastos públicos e o aumento da arrecadação, política que recebeumuitas críticas, especialmente dos agrupamentos de esquerda .

A manutenção da política cambial, ou seja, a valorização do real diantedo dólar, também provocou a queda no valor das exportações de produtosagrícolas brasileiros, levando a uma grave crise na agricultura nacional e à orga-nização de vários protestos de produtores rurais em várias regiões do Brasil.

A partir de 2004, o governo Lula enfrentou uma grave crise política, queatingiu seu apogeu em julho de 2005. Na época foi confirmado o envolvimentode membros do próprio governo em esquemas de corrupção.