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Página 1 de 21 HISTÓRIA E SOCIEDADE Portugal e Espanha Os democratas portugueses e espanhóis entendem que a fórmula mais perfeita da unidade ibérica é o estabelecimento da república federativa. Por este sistema os antigos estados de Espanha recuperavam a sua independência administrativa, sem prejuízo dos interesses gerais da nação. A administração foral das províncias vascongadas, que ainda em tempos do absolutismo lhe facultava tão importantes privilégios, estendia-se ao resto do país. Portugal entrava em igualdade de circunstâncias na liga dos povos peninsulares. Perdia o nome vão, mentiroso, escarnecido de reino independente, que a sua pequenez e situação geográfica lhe não permitem que seja, para ganhar as vantagens de estado independente deveras, e portanto bem administrado e prospero. Não e vergonha confessar que somos pobres, havendo sido ricos. A povoação, o espaço e o capital não se improvisam. Mas seria louca exagerarão do espírito de nacionalidade desprezar, por injustificável orgulho, o ensejo que se nos oferece de melhorarmos a nossa

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HISTÓRIA E SOCIEDADE

Portugal e Espanha

Os democratas portugueses e espanhóis entendem que a

fórmula mais perfeita da unidade ibérica é o estabelecimento da

república federativa. Por este sistema os antigos estados de

Espanha recuperavam a sua independência administrativa, sem

prejuízo dos interesses gerais da nação. A administração foral das

províncias vascongadas, que ainda em tempos do absolutismo lhe

facultava tão importantes privilégios, estendia-se ao resto do país.

Portugal entrava em igualdade de circunstâncias na liga dos povos

peninsulares. Perdia o nome vão, mentiroso, escarnecido de reino

independente, que a sua pequenez e situação geográfica lhe não

permitem que seja, para ganhar as vantagens de estado

independente deveras, e portanto bem administrado e prospero.

Não e vergonha confessar que somos pobres, havendo sido ricos. A

povoação, o espaço e o capital não se improvisam. Mas seria louca

exagerarão do espírito de nacionalidade desprezar, por injustificável

orgulho, o ensejo que se nos oferece de melhorarmos a nossa

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situação, concorrendo também para a força e prosperidade da

Península.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p.45.

Bruno Daniel Ferreira Rodrigues, 12º PTG

Portugal e Espanha

Os povos peninsulares querem unir-se, não para exclusiva

utilidade de uma família, de uma classe ou de uma província, não

para exercerem uns sobre os outros injusta preeminência, mas para

prestarem mútuos auxílios, para melhor defenderem seus legítimos

interesses, para atingirem a altura de civilização a que têm chegado

outros países. Os povos peninsulares, aprendendo à sua custa na

escola dos reis, são agora, ou têm razão para ser, tão ibéricos

como o foram noutras épocas os seus ríspidos mestres. Os povos

conhecem já, felizmente, que separados hão-de continuar a ser

como até aqui o joguete dos estrangeiros e o pasto das facções, e

que unidos podem pagar menos tributos, gozar de maiores

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vantagens, exercer na Europa e no mundo uma grande influência e

sobretudo firmar a paz interna, sem a qual não há prosperidade.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p.44.

Daniela Lúcio, 10ºPTM

Economia

O comércio acha-se montado de um modo inconveniente para

a agricultura. O negociante, pondo-se de permeio entre o produtor e

o consumidor pesa consideravelmente sobre um e outro - mas de

preferência sobre o primeiro. Umas vezes as falências mais ou

menos dolorosas dos homens de negócio arruínam o lavrador;

outras a sede do ganho leva-os a adulterar certos géneros, com

evidente descrédito para a agricultura do País: quase sempre a

mesquinhez é o seu móvel para a fixação dos preços. Classe pouco

numerosa e com interesses muito especiais e análogos, tem

conseguido conluiar-se por mais de uma vez para impor condições

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desfavoráveis aos lavradores, quase sempre fracos para lhas

modificarem.

Os nossos processos de fabrico são em parte rotineiros, tanto

pelo lado da perfeição como pelo da economia do trabalho. Não

admira portanto que a agricultura tire tão-somente, se tanto, uns 3

ou 5 por cento do seu capital. Desconhecemos a importância de

poupar tempo pelo emprego de máquinas ou de agentes mais

expeditos. Gastamos em pura perda o dobro ou o triplo do que seria

necessário despender para a ferragem dos animais do serviço, e

para o reparo dos carros, se melhor fosse o piso de nossas

estradas.

Não temos, em quantidade suficiente, pastos nem gados, nem

estrumes; porque nos falta a primeira condição para tudo isto, que é

a água das regras.

Compramos aos estranhos uma grande parte das substâncias

alimentares, que melhores e mais baratas poderíamos fabricar em

nossa casa ou produzir no nosso campo. Deixamos de cultivar em

grande escala algumas plantas úteis nas artes, que eram outras

tantas âncoras para a nossa agricultura.

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Aumentadas por tantos modos as despesas da produção

agrícola, elevado o gasto da economia doméstica do lavrador,

sobrecarregados os géneros pelos excessivos carretos, pela

comissão nada módica do negociante e pelos diversos impostos e

direitos de entrada ou de saída, a nossa agricultura dificilmente

pode competir em bondade e barateza de produtos com os das

nações mais adiantadas. E se ainda assim tira algum lucro, calcula-

se quão grande ele seria, removidos os obstáculos que deixamos

ponderados!

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tom I, organizada por António

Carlos Leal da Silva, 1979, p. 321.

(Colaboração da encarregada de educação Maria Teresa Timóteo e do seu educando,

José Rodrigo, 12ºA)

Organização municipal

Nos primeiros anos da monarquia asturiana, em que a

povoação insurgente era mui escassa e ainda rareada pelas

contínuas guerras com os Árabes, as pequenas aldeias habitadas

por servos adscritos eram facilmente regidas a arbítrio dos

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delegados do rei, e essa foi a situação geral naquela época.

Posteriormente a repovoação ou o aumento de certos lugares por

homens livres (antigos proprietários e novos tomadores de solo,

colonos espontâneos e algum artista ou mercador) trouxe a

necessidade de uma tal ou qual organização, que servisse para

defender a comunidade dos ataques e violências dos poderosos, e

ao mesmo tempo para conservar a paz interna e dirimir os pleitos

dos moradores. Esta necessidade, aviventada pelas tradições das

antigas municipalidades, deu origem aos primitivos concelhos, deu

origem aos primitivos concelhos de Oviedo e Leão nos séculos IX e

X. Os forais daquela época, estatuindo expressamente os direitos e

obrigações que ligavam os moradores ao senhorio ou à coroa,

pouco dizem sobre o mecanismo interno da administração, sobre os

direitos e deveres civis, sobre a forma da eleição (se a havia) e

sobre os privilégios e deveres dos magistrados, cuja existência se

pressupõe.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 23.

(Colaboração de Joana Sarreira da Silva, turma 12º PTG, nº11)

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Organização municipal

As principais magistraturas, nos concelhos perfeitos, eram as dos

alcaides, juízes e almotacés. Os alcaides, postos geralmente pelo rei

nas povoações acasteladas, exerciam as funções de chefes militares,

intervindo mais ou menos nos negócios judiciais e administrativos. Estes

oficiais, por via de regra fidalgos, delegavam a sua extensa autoridade

em um burguês, que se denominava alcaide-menor. Na segunda

metade do século XIII alguns concelhos ao norte do Doiro alcançaram o

importante privilégio de elegerem os seus alcaides. A necessidade de

converterem os direitos reais em renda certa obrigava os reis a fazerem

tamanhas concessões. Por outro lado os concelhos tinham o direito de

repelir qualquer senhorio, se o reputavam perigoso, ainda quando a vila

era dada em préstamo*.

« Dou-vos por foro que não tenhais por senhor senão o rei ou seu

filho, ou quem vós, os concelho, quiserdes.» - (Foral de Freixo)

* Consignação de certa quantia de frutos ou dinheiro, imposta em algum terreno ou cousa

rendosa, e destinada para sustento e manutenção de alguma pessoa – (Eluc.).

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 25.

(Colaboração de Paula Leal, professora de Português e Francês)

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Organização municipal

No longo período que decorre desde o século XV, em que os

reis começaram a introduzir nos concelhos os seus corregedores e

juízes de fora, até os nossos dias, o município viveu sempre

tutelado pela coroa. A escassez de recursos nunca deixou medrar.

As suas rendas, tiradas quase exclusivamente de tributos odiosos,

direitos de consumo e multas, levavam consigo a maldição da sua

origem, e além disso sendo poucas para pouco chegavam. Os

nossos antigos vereadores atamancavam o seu bocado de calçada,

à saída da vila ou no meio dela, por medo de “correição”. Em um

país cheio de fundações graciosas, sés, mosteiros, palácios, não

existe um só monumento de alguma consideração, paço municipal,

aqueduto ou estrada, que denote, por excepção sequer, a riqueza

ou vigor dos concelhos. As vastas possessões dos baldios nunca se

aproveitaram, apesar das repetidas e inúteis prescrições da lei.

Como haviam de fazer grandes benfeitorias os míseros concelhos

que mal tinham para o seu custeamento ordinário? Como podiam

eles capitalizar, se o fisco oprimia os contribuintes com a apertada

rede dos tributos, e se ainda tirava para si um terço dos minguados

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rendimentos do concelho? Era impossível. Enquanto meia dúzia de

frades, estabelecidos de pouco tempo numa charneca ou num

canto de povoação, conseguia levantar o seu convento, amanhar a

sua cerca, engrossar as rendas da casa com donativos, legados e

juros de capitas, os concelhos, com muitos séculos de existência,

senhores de extensos terrenos, árbitros da bolsa dos moradores,

nunca chegaram a regular a sua economia pelos seguros princípios

da conservação e reprodução das riquezas. O falso zelo pelo

religioso instituía capelas, dotava igrejas e ermidas, fundia-se, mais

ou menos directamente em benefício do clero; mas, á excepção dos

legados às misericórdias, ainda assim raros e mesquinhos, nunca o

espírito de beneficência ou de afeição local enxergou o concelho

para objecto de suas derradeiras liberalidades. A sede de oiro

desvairou os ânimos do povo para as conquistas do Oriente e para

a colonização do Brasil. O solo da Pátria, privado de braços

robustos, falto de comunicações, vinculado ao clero e á nobreza,

deixou de sustentar os seus filhos. Os desastres políticos do fim do

século XVI, a opressão castelhana, o domínio do absolutismo, com

a inquisição, os jesuítas, a dissipação da corte e a prodigalidade de

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despesas inúteis, tudo isto devia entorpecer, e efectivamente

entorpeceu a vida íntima do País. Não admira, portanto, que os

concelhos, as fracções do Estado, se conservassem na miséria,

quando este chegava aos abismos dela.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 65-66.

(Colaboração de Ricardo Coelho e João Patrocínio 10ºC)

Organização municipal

Fazenda – o município concentra a administração dos

seus bens e rendimentos, de qualquer natureza sem contudo os

desviar da sua legítima aplicação. Os bens e rendimentos que

constituem o património municipal são conservados religiosamente

e aumentados para o benefício público de ano para ano. Um tombo

minucioso e autenticamente feito indica a qualidade, valor e

procedência de todos os bens municipais.

Capital. – o município funda um banco hipotecário,

dando-lhe por base a massa dos seus bens. Este banco, fonte

inexaurível de prosperidade, facilita á administração municipal dos

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meios de empreender os seus gigantescos trabalhos, e aos

produtores pequenos e grandes, o ensejo de se livrarem da

agiotagem. O fundo do banco é progressivamente aumentado com

os valores dos bens particulares, que seus donos quiserem

associar-lhe. O banco compreende as diversas instituições de

crédito e previdência, como montepio, caixa económica, seguro,

caixa de desconto, depósito e agência.

Indústria – O município auxilia, por todos os modos, o

desenvolvimento da indústria local. As suas oficinas criam

excelentes operários para as artes e ofícios. As suas granjas

fornecem campos de inteligentes trabalhadores. A sua escola e

museu habilitam os fabricantes a usar dos processos mais

vantajosos e recentes. As exposições que promove e ostenta em

seus paços, os prémios com que distingue o mérito são outros

tantos meios de proteger o trabalho.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 73.

(Colaboração de Carla Umbelino, professora de Educação Física)

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Organização municipal

Polícia. – o município organiza uma guarda para a

conservação do sossego publico e para a defesa das pessoas e

propriedades. No tempo das colheitas esta guarda necessita

aumentar em número. Os guardas devem ser indivíduos prudentes

e bem morigerados. A proporção que o povo se for educando

melhor convém que abandonem as armas de fogo – e que

empreguem simplesmente a força moral. A desobediência e as

intimações destes funcionários deve ser cuidadosamente punida.

Edifícios. – o município constrói sucessivamente a série

de edifícios necessários para montar as suas instituições. Na

cabeça do concelho edifica, em local vasto e bem situado, o seu

paço com a vastidão precisa para alojar a câmara e a

administração, o tribunal de justiça, a cadeia, o quartel, a

misericórdia, a escola, a biblioteca, museu, arquivo, a imprensa, a

oficina, o trem, o correio, a posta, o mercado, o banco, a

hospedaria, o clube, o teatro e o ginásio. Junto ao edifício ou a uma

pequena distancia deve haver uma grande cerca para o

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estabelecimento da granja, horta e pomar, passeio e jardim

botânico e zoológico.

Associações. – O município associa os membros das

diversas profissões úteis para representarem, defenderem e

aumentarem os seus interesses. Contem, portanto, as associações

agrícolas, fabril, comercial, literária, artística e filantrópica. Todas

estas associações têm a sua sede no paço municipal. Contribui, por

último, para o estabelecimento das associações locais pelas

aldeias, como meio de favorecer poderosamente as classes menos

abastadas.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 75-76.

(Colaboração de Carla Umbelino, professora de Educação Física)

Organização municipal

I

Enumerámos sucintamente as instituições que devem alimentar a

vida municipal. É justo que demos sobre elas alguns detalhes, que

habilitem o leitor ajuizar melhor da sua proficuidade. Ser-lhe-á fácil,

então, observar como essas instituições se desencadeiam umas de

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outras, aperfeiçoando-se e completando-se mutuamente e convergindo

de per si e no seu todo para a resolução de importantes problemas

sociais e económicos, que até aqui por outros meios ou a não acharam,

ou a não tiveram satisfatório. Não é isto virtude nossa, mas da poderosa

organização que estudamos. Município, pequena pátria que o cidadão

primeiro ama, e que primeiro serve, tem na índole gratuita de suas

magistraturas, na contínua renovação delas, na acção constante da

vigilância pública, nas advertências e louvores da opinião, elementos de

força que fizeram atravessar, nobre veterano das instituições do mundo

velho, sobre o campo ermo, assolado ou pacífico de cem gerações, e

que ainda hoje, enriquecidos com os princípios humanitários da ciência

política, o tornam a mais popular, a mais eficaz e a mais esperançosa,

talvez, das instituições modernas. Em harmonia com o nosso plano,

exporemos sucessivamente nas condições que devem reunir, e o fim

que devem propor-se os diversos estabelecimentos municipais.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 77-78.

(Colaboração de Inês Henriques, 10ºC e Pedro Botelho, 10ºC)

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Instituições municipais

A guarda municipal é destinada a proteger, tanto quanto for

possível, as pessoas e propriedade dos habitantes do município – e

a executar as decisões das autoridades. Sendo as funções desta

guarda, como são, inteiramente civis, não lhe compete a

organização, nem o aparato militar. Os cidadãos a quem por seu

turno pertence fazer este serviço são escolhidos entre os chefes de

família que forem mais bem morigerados, prudentes e animosos. É

necessário que eles tenham estas qualidades – e sobretudo a de

verdadeiros em suas asserções – porque num certo número de

casos, o seu único depoimento pode ser base de acusação contra

qualquer indivíduo. Os guardas municipais devem andar geralmente

sós, e combinar as suas excursões de modo que possam auxiliar-se

mutuamente, ou requisitar o auxílio dos habitantes. Para este fim

precisam usar, mormente nos campos, de instrumentos que façam

ouvir-se ao longe. O concurso dos habitantes para a apreensão dos

malfeitores é recompensado pecuniariamente aos que forem pobres

– e honorificamente aos abastados. O serviço dos guardas é pago

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mensalmente na proporção do tempo que empregarem nas suas

diversas comissões.

A guarda municipal deve estar espelhada por todos os lugares

do concelho, às ordens dos comissários de polícia e dos regedores

de paróquia. Na cabeça do município é necessária uma forma

permanente (de dez homens a pé e a cavalo pelo menos) às ordens

do chefe municipal. Pertence-lhe a guarda dos espaços e oficinas, a

execução das diligências mais importantes de polícia e a segurança

das estradas.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p.78.

(Colaboração de Ana Rita Oliveira e Telma Antunes 12ºA)

Instituições municipais

O tribunal municipal toma conhecimento das causas cíveis e

crimes que estejam da sua alçada. Compõe-se de um certo número de

juízes, proporcionando à povoação do município. Os juízes são eleitos à

pluralidade de votos, nas assembleias paroquiais. Os membros do

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tribunal dividem-se em secções formadas a sorte. Estas secções

revezam-se pelo decurso do ano.

No princípio de cada mês há audiência geral, e nela são julgadas,

por sua ordem, as causas pendentes. O júri de sentença é composto de

seis membros, e toda a decisão deve pelo menos ter o acordo de quatro

deles. Havendo empate dobra-se o numero de juízes. A administração

da justiça municipal não tem férias, nem emolumentos.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, pp.78.79.

(Colaboração de Nuno Mendes e Henrique Matias, 10ºC)

Instituições municipais

A penitenciária municipal é destinada a recolher e corrigir os

condenados pelos tribunais paroquiais e pelo tribunal municipal.

Neste alojamento-oficina os corrigendos ficam sujeitos a um

regímen mais ou menos restrito, segundo a sua culpabilidade,

saúde, educação e comportamento o tempo preenche-se em

exercícios alternados do trabalho manual nas oficinas ou na cerca,

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de estudo nas aulas, de moral na capela, e de higiene, forçado, o

trabalho celular, o isolamento total, devem empregar-se tão-

somente como meios disciplinares e repressivos das infracções do

regulamento.

A penitenciária tem um certo número de comissários para

vigiar pela execução do regulamento. Estes funcionários devem pôr

cobro nos abusos e violências, já os empregados, já dos

corrigendos. As queixas são feitas aos comissários, verbalmente ou

por escrito, na visita periódica do estabelecimento. Os condenados

por crimes que indiquem ferocidade são transportados aos

presídios penais.

O trabalho dos corrigendos é-lhes computado no seu justo

valor, e o produto dele entrega-se-lhes à saída da penitenciária,

deduzidas as despesas de alimentação e vestuário.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p.79.

(Colaboração de Inês Vila Verde, 12A e Tiago Joaquim, 10ºC)

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Instituições municipais

A botica fornece os medicamentos, tanto para as enfermarias

como para as casas locais, e vende-os aos particulares com um

certo interesse. As plantas medicinais são cultivadas em suficiente

escala na granja municipal e as preparações mais usuais fazem-se

no laboratório do estabelecimento.

O asilo dos órfãos recolhe e educa as crianças enjeitadas e

aquelas que seus parentes não puderam criar. Nenhuma criança

deve sair doo asilo, a não ser reclamada pelos pais, ou por pessoa

de bem que a adopte. As crianças de leite que tenham uma

compleição fraca, são criadas por amas, empregadas no

estabelecimento. As crianças mais robustas são sustentadas com o

leite dos animais domésticos, com os caldos nutritivos e afinal com

a dieta ordinária. As crianças de 2 a 10 anos carecem de

desenvolver principalmente as suas faculdades físicas. A

alimentação abundante, o descanso suficiente, o anseio nos corpos

e vestidos, a distracção nos jogos e folguedos, a ginástica, o canto,

a inspecção de variados objectos, o estudo e a leitura da escrita, a

nomenclatura das línguas, tudo isto convém a educação da infância

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neste segundo período. Os educandos de 10 anos para cima

aprendem, na oficina e na granja municipal, o ofício para que

mostrarem aptidão. Os que possuírem um talento distinto seguem o

curso da escola municipal – e alguns deles, os que se houverem

tornado distintíssimos, são mandados frequentar, à custa do

município, as escolas superiores. Os educandos são submetidos a

regras de urbanidade no tratamento usual e de asseio e boa ordem

no seu pequeno mobiliário. As gratificações e os prémios que eles

merecerem pela sua assiduidade e aproveitamento depositam-se

na caixa económica para ulteriormente lhes serem entregues com

os respectivos juros. As educandas de 10 anos para cima instruem-

se em um ou mais ofícios dos trabalhos próprios das mulheres.

Todas se exercitam nos diversos misteres de economia doméstica,

e também nas prendas da sociedade, cuja primazia pertence à

música. As que mostrarem um génio superior devem ser

convenientemente protegidas e aproveitadas. Chegadas a uma

certa idade as educandas tomam diferentes rumos segundo a sua

opinião e circunstancias particulares. Muitas delas vão ser mestras

nas escolas locais. Outras entram como excelentes criadas no

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serviço doméstico. Outras casam-se, e assim prendadas por uma

boa educação independentes pelo seu trabalho, todas elas podem

encontrar os necessários meios de subsistências. Todavia as portas

da misericórdia nunca se fecham para as suas filhas: em qualquer

sinistro da vida elas devem achar ali a possível protecção. O que

houverem ganho a titulo de gratificação no serviço da casa ou nos

prémios anuais é-lhes, igualmente, capitalizado na caixa

económica, e constitui o seu pecúlio na época da maioridade.

NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por

António Carlos Leal da Silva, 1979, p.81.

(Colaboração de Diogo Mateus 11ºB, Nº4 e João Pereira 11ºB, Nº10 )