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HISTÓRIA E SOCIEDADE
Portugal e Espanha
Os democratas portugueses e espanhóis entendem que a
fórmula mais perfeita da unidade ibérica é o estabelecimento da
república federativa. Por este sistema os antigos estados de
Espanha recuperavam a sua independência administrativa, sem
prejuízo dos interesses gerais da nação. A administração foral das
províncias vascongadas, que ainda em tempos do absolutismo lhe
facultava tão importantes privilégios, estendia-se ao resto do país.
Portugal entrava em igualdade de circunstâncias na liga dos povos
peninsulares. Perdia o nome vão, mentiroso, escarnecido de reino
independente, que a sua pequenez e situação geográfica lhe não
permitem que seja, para ganhar as vantagens de estado
independente deveras, e portanto bem administrado e prospero.
Não e vergonha confessar que somos pobres, havendo sido ricos. A
povoação, o espaço e o capital não se improvisam. Mas seria louca
exagerarão do espírito de nacionalidade desprezar, por injustificável
orgulho, o ensejo que se nos oferece de melhorarmos a nossa
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situação, concorrendo também para a força e prosperidade da
Península.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.45.
Bruno Daniel Ferreira Rodrigues, 12º PTG
Portugal e Espanha
Os povos peninsulares querem unir-se, não para exclusiva
utilidade de uma família, de uma classe ou de uma província, não
para exercerem uns sobre os outros injusta preeminência, mas para
prestarem mútuos auxílios, para melhor defenderem seus legítimos
interesses, para atingirem a altura de civilização a que têm chegado
outros países. Os povos peninsulares, aprendendo à sua custa na
escola dos reis, são agora, ou têm razão para ser, tão ibéricos
como o foram noutras épocas os seus ríspidos mestres. Os povos
conhecem já, felizmente, que separados hão-de continuar a ser
como até aqui o joguete dos estrangeiros e o pasto das facções, e
que unidos podem pagar menos tributos, gozar de maiores
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vantagens, exercer na Europa e no mundo uma grande influência e
sobretudo firmar a paz interna, sem a qual não há prosperidade.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo III, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.44.
Daniela Lúcio, 10ºPTM
Economia
O comércio acha-se montado de um modo inconveniente para
a agricultura. O negociante, pondo-se de permeio entre o produtor e
o consumidor pesa consideravelmente sobre um e outro - mas de
preferência sobre o primeiro. Umas vezes as falências mais ou
menos dolorosas dos homens de negócio arruínam o lavrador;
outras a sede do ganho leva-os a adulterar certos géneros, com
evidente descrédito para a agricultura do País: quase sempre a
mesquinhez é o seu móvel para a fixação dos preços. Classe pouco
numerosa e com interesses muito especiais e análogos, tem
conseguido conluiar-se por mais de uma vez para impor condições
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desfavoráveis aos lavradores, quase sempre fracos para lhas
modificarem.
Os nossos processos de fabrico são em parte rotineiros, tanto
pelo lado da perfeição como pelo da economia do trabalho. Não
admira portanto que a agricultura tire tão-somente, se tanto, uns 3
ou 5 por cento do seu capital. Desconhecemos a importância de
poupar tempo pelo emprego de máquinas ou de agentes mais
expeditos. Gastamos em pura perda o dobro ou o triplo do que seria
necessário despender para a ferragem dos animais do serviço, e
para o reparo dos carros, se melhor fosse o piso de nossas
estradas.
Não temos, em quantidade suficiente, pastos nem gados, nem
estrumes; porque nos falta a primeira condição para tudo isto, que é
a água das regras.
Compramos aos estranhos uma grande parte das substâncias
alimentares, que melhores e mais baratas poderíamos fabricar em
nossa casa ou produzir no nosso campo. Deixamos de cultivar em
grande escala algumas plantas úteis nas artes, que eram outras
tantas âncoras para a nossa agricultura.
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Aumentadas por tantos modos as despesas da produção
agrícola, elevado o gasto da economia doméstica do lavrador,
sobrecarregados os géneros pelos excessivos carretos, pela
comissão nada módica do negociante e pelos diversos impostos e
direitos de entrada ou de saída, a nossa agricultura dificilmente
pode competir em bondade e barateza de produtos com os das
nações mais adiantadas. E se ainda assim tira algum lucro, calcula-
se quão grande ele seria, removidos os obstáculos que deixamos
ponderados!
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tom I, organizada por António
Carlos Leal da Silva, 1979, p. 321.
(Colaboração da encarregada de educação Maria Teresa Timóteo e do seu educando,
José Rodrigo, 12ºA)
Organização municipal
Nos primeiros anos da monarquia asturiana, em que a
povoação insurgente era mui escassa e ainda rareada pelas
contínuas guerras com os Árabes, as pequenas aldeias habitadas
por servos adscritos eram facilmente regidas a arbítrio dos
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delegados do rei, e essa foi a situação geral naquela época.
Posteriormente a repovoação ou o aumento de certos lugares por
homens livres (antigos proprietários e novos tomadores de solo,
colonos espontâneos e algum artista ou mercador) trouxe a
necessidade de uma tal ou qual organização, que servisse para
defender a comunidade dos ataques e violências dos poderosos, e
ao mesmo tempo para conservar a paz interna e dirimir os pleitos
dos moradores. Esta necessidade, aviventada pelas tradições das
antigas municipalidades, deu origem aos primitivos concelhos, deu
origem aos primitivos concelhos de Oviedo e Leão nos séculos IX e
X. Os forais daquela época, estatuindo expressamente os direitos e
obrigações que ligavam os moradores ao senhorio ou à coroa,
pouco dizem sobre o mecanismo interno da administração, sobre os
direitos e deveres civis, sobre a forma da eleição (se a havia) e
sobre os privilégios e deveres dos magistrados, cuja existência se
pressupõe.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 23.
(Colaboração de Joana Sarreira da Silva, turma 12º PTG, nº11)
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Organização municipal
As principais magistraturas, nos concelhos perfeitos, eram as dos
alcaides, juízes e almotacés. Os alcaides, postos geralmente pelo rei
nas povoações acasteladas, exerciam as funções de chefes militares,
intervindo mais ou menos nos negócios judiciais e administrativos. Estes
oficiais, por via de regra fidalgos, delegavam a sua extensa autoridade
em um burguês, que se denominava alcaide-menor. Na segunda
metade do século XIII alguns concelhos ao norte do Doiro alcançaram o
importante privilégio de elegerem os seus alcaides. A necessidade de
converterem os direitos reais em renda certa obrigava os reis a fazerem
tamanhas concessões. Por outro lado os concelhos tinham o direito de
repelir qualquer senhorio, se o reputavam perigoso, ainda quando a vila
era dada em préstamo*.
« Dou-vos por foro que não tenhais por senhor senão o rei ou seu
filho, ou quem vós, os concelho, quiserdes.» - (Foral de Freixo)
* Consignação de certa quantia de frutos ou dinheiro, imposta em algum terreno ou cousa
rendosa, e destinada para sustento e manutenção de alguma pessoa – (Eluc.).
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 25.
(Colaboração de Paula Leal, professora de Português e Francês)
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Organização municipal
No longo período que decorre desde o século XV, em que os
reis começaram a introduzir nos concelhos os seus corregedores e
juízes de fora, até os nossos dias, o município viveu sempre
tutelado pela coroa. A escassez de recursos nunca deixou medrar.
As suas rendas, tiradas quase exclusivamente de tributos odiosos,
direitos de consumo e multas, levavam consigo a maldição da sua
origem, e além disso sendo poucas para pouco chegavam. Os
nossos antigos vereadores atamancavam o seu bocado de calçada,
à saída da vila ou no meio dela, por medo de “correição”. Em um
país cheio de fundações graciosas, sés, mosteiros, palácios, não
existe um só monumento de alguma consideração, paço municipal,
aqueduto ou estrada, que denote, por excepção sequer, a riqueza
ou vigor dos concelhos. As vastas possessões dos baldios nunca se
aproveitaram, apesar das repetidas e inúteis prescrições da lei.
Como haviam de fazer grandes benfeitorias os míseros concelhos
que mal tinham para o seu custeamento ordinário? Como podiam
eles capitalizar, se o fisco oprimia os contribuintes com a apertada
rede dos tributos, e se ainda tirava para si um terço dos minguados
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rendimentos do concelho? Era impossível. Enquanto meia dúzia de
frades, estabelecidos de pouco tempo numa charneca ou num
canto de povoação, conseguia levantar o seu convento, amanhar a
sua cerca, engrossar as rendas da casa com donativos, legados e
juros de capitas, os concelhos, com muitos séculos de existência,
senhores de extensos terrenos, árbitros da bolsa dos moradores,
nunca chegaram a regular a sua economia pelos seguros princípios
da conservação e reprodução das riquezas. O falso zelo pelo
religioso instituía capelas, dotava igrejas e ermidas, fundia-se, mais
ou menos directamente em benefício do clero; mas, á excepção dos
legados às misericórdias, ainda assim raros e mesquinhos, nunca o
espírito de beneficência ou de afeição local enxergou o concelho
para objecto de suas derradeiras liberalidades. A sede de oiro
desvairou os ânimos do povo para as conquistas do Oriente e para
a colonização do Brasil. O solo da Pátria, privado de braços
robustos, falto de comunicações, vinculado ao clero e á nobreza,
deixou de sustentar os seus filhos. Os desastres políticos do fim do
século XVI, a opressão castelhana, o domínio do absolutismo, com
a inquisição, os jesuítas, a dissipação da corte e a prodigalidade de
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despesas inúteis, tudo isto devia entorpecer, e efectivamente
entorpeceu a vida íntima do País. Não admira, portanto, que os
concelhos, as fracções do Estado, se conservassem na miséria,
quando este chegava aos abismos dela.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 65-66.
(Colaboração de Ricardo Coelho e João Patrocínio 10ºC)
Organização municipal
Fazenda – o município concentra a administração dos
seus bens e rendimentos, de qualquer natureza sem contudo os
desviar da sua legítima aplicação. Os bens e rendimentos que
constituem o património municipal são conservados religiosamente
e aumentados para o benefício público de ano para ano. Um tombo
minucioso e autenticamente feito indica a qualidade, valor e
procedência de todos os bens municipais.
Capital. – o município funda um banco hipotecário,
dando-lhe por base a massa dos seus bens. Este banco, fonte
inexaurível de prosperidade, facilita á administração municipal dos
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meios de empreender os seus gigantescos trabalhos, e aos
produtores pequenos e grandes, o ensejo de se livrarem da
agiotagem. O fundo do banco é progressivamente aumentado com
os valores dos bens particulares, que seus donos quiserem
associar-lhe. O banco compreende as diversas instituições de
crédito e previdência, como montepio, caixa económica, seguro,
caixa de desconto, depósito e agência.
Indústria – O município auxilia, por todos os modos, o
desenvolvimento da indústria local. As suas oficinas criam
excelentes operários para as artes e ofícios. As suas granjas
fornecem campos de inteligentes trabalhadores. A sua escola e
museu habilitam os fabricantes a usar dos processos mais
vantajosos e recentes. As exposições que promove e ostenta em
seus paços, os prémios com que distingue o mérito são outros
tantos meios de proteger o trabalho.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p. 73.
(Colaboração de Carla Umbelino, professora de Educação Física)
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Organização municipal
Polícia. – o município organiza uma guarda para a
conservação do sossego publico e para a defesa das pessoas e
propriedades. No tempo das colheitas esta guarda necessita
aumentar em número. Os guardas devem ser indivíduos prudentes
e bem morigerados. A proporção que o povo se for educando
melhor convém que abandonem as armas de fogo – e que
empreguem simplesmente a força moral. A desobediência e as
intimações destes funcionários deve ser cuidadosamente punida.
Edifícios. – o município constrói sucessivamente a série
de edifícios necessários para montar as suas instituições. Na
cabeça do concelho edifica, em local vasto e bem situado, o seu
paço com a vastidão precisa para alojar a câmara e a
administração, o tribunal de justiça, a cadeia, o quartel, a
misericórdia, a escola, a biblioteca, museu, arquivo, a imprensa, a
oficina, o trem, o correio, a posta, o mercado, o banco, a
hospedaria, o clube, o teatro e o ginásio. Junto ao edifício ou a uma
pequena distancia deve haver uma grande cerca para o
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estabelecimento da granja, horta e pomar, passeio e jardim
botânico e zoológico.
Associações. – O município associa os membros das
diversas profissões úteis para representarem, defenderem e
aumentarem os seus interesses. Contem, portanto, as associações
agrícolas, fabril, comercial, literária, artística e filantrópica. Todas
estas associações têm a sua sede no paço municipal. Contribui, por
último, para o estabelecimento das associações locais pelas
aldeias, como meio de favorecer poderosamente as classes menos
abastadas.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 75-76.
(Colaboração de Carla Umbelino, professora de Educação Física)
Organização municipal
I
Enumerámos sucintamente as instituições que devem alimentar a
vida municipal. É justo que demos sobre elas alguns detalhes, que
habilitem o leitor ajuizar melhor da sua proficuidade. Ser-lhe-á fácil,
então, observar como essas instituições se desencadeiam umas de
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outras, aperfeiçoando-se e completando-se mutuamente e convergindo
de per si e no seu todo para a resolução de importantes problemas
sociais e económicos, que até aqui por outros meios ou a não acharam,
ou a não tiveram satisfatório. Não é isto virtude nossa, mas da poderosa
organização que estudamos. Município, pequena pátria que o cidadão
primeiro ama, e que primeiro serve, tem na índole gratuita de suas
magistraturas, na contínua renovação delas, na acção constante da
vigilância pública, nas advertências e louvores da opinião, elementos de
força que fizeram atravessar, nobre veterano das instituições do mundo
velho, sobre o campo ermo, assolado ou pacífico de cem gerações, e
que ainda hoje, enriquecidos com os princípios humanitários da ciência
política, o tornam a mais popular, a mais eficaz e a mais esperançosa,
talvez, das instituições modernas. Em harmonia com o nosso plano,
exporemos sucessivamente nas condições que devem reunir, e o fim
que devem propor-se os diversos estabelecimentos municipais.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp. 77-78.
(Colaboração de Inês Henriques, 10ºC e Pedro Botelho, 10ºC)
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Instituições municipais
A guarda municipal é destinada a proteger, tanto quanto for
possível, as pessoas e propriedade dos habitantes do município – e
a executar as decisões das autoridades. Sendo as funções desta
guarda, como são, inteiramente civis, não lhe compete a
organização, nem o aparato militar. Os cidadãos a quem por seu
turno pertence fazer este serviço são escolhidos entre os chefes de
família que forem mais bem morigerados, prudentes e animosos. É
necessário que eles tenham estas qualidades – e sobretudo a de
verdadeiros em suas asserções – porque num certo número de
casos, o seu único depoimento pode ser base de acusação contra
qualquer indivíduo. Os guardas municipais devem andar geralmente
sós, e combinar as suas excursões de modo que possam auxiliar-se
mutuamente, ou requisitar o auxílio dos habitantes. Para este fim
precisam usar, mormente nos campos, de instrumentos que façam
ouvir-se ao longe. O concurso dos habitantes para a apreensão dos
malfeitores é recompensado pecuniariamente aos que forem pobres
– e honorificamente aos abastados. O serviço dos guardas é pago
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mensalmente na proporção do tempo que empregarem nas suas
diversas comissões.
A guarda municipal deve estar espelhada por todos os lugares
do concelho, às ordens dos comissários de polícia e dos regedores
de paróquia. Na cabeça do município é necessária uma forma
permanente (de dez homens a pé e a cavalo pelo menos) às ordens
do chefe municipal. Pertence-lhe a guarda dos espaços e oficinas, a
execução das diligências mais importantes de polícia e a segurança
das estradas.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.78.
(Colaboração de Ana Rita Oliveira e Telma Antunes 12ºA)
Instituições municipais
O tribunal municipal toma conhecimento das causas cíveis e
crimes que estejam da sua alçada. Compõe-se de um certo número de
juízes, proporcionando à povoação do município. Os juízes são eleitos à
pluralidade de votos, nas assembleias paroquiais. Os membros do
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tribunal dividem-se em secções formadas a sorte. Estas secções
revezam-se pelo decurso do ano.
No princípio de cada mês há audiência geral, e nela são julgadas,
por sua ordem, as causas pendentes. O júri de sentença é composto de
seis membros, e toda a decisão deve pelo menos ter o acordo de quatro
deles. Havendo empate dobra-se o numero de juízes. A administração
da justiça municipal não tem férias, nem emolumentos.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, pp.78.79.
(Colaboração de Nuno Mendes e Henrique Matias, 10ºC)
Instituições municipais
A penitenciária municipal é destinada a recolher e corrigir os
condenados pelos tribunais paroquiais e pelo tribunal municipal.
Neste alojamento-oficina os corrigendos ficam sujeitos a um
regímen mais ou menos restrito, segundo a sua culpabilidade,
saúde, educação e comportamento o tempo preenche-se em
exercícios alternados do trabalho manual nas oficinas ou na cerca,
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de estudo nas aulas, de moral na capela, e de higiene, forçado, o
trabalho celular, o isolamento total, devem empregar-se tão-
somente como meios disciplinares e repressivos das infracções do
regulamento.
A penitenciária tem um certo número de comissários para
vigiar pela execução do regulamento. Estes funcionários devem pôr
cobro nos abusos e violências, já os empregados, já dos
corrigendos. As queixas são feitas aos comissários, verbalmente ou
por escrito, na visita periódica do estabelecimento. Os condenados
por crimes que indiquem ferocidade são transportados aos
presídios penais.
O trabalho dos corrigendos é-lhes computado no seu justo
valor, e o produto dele entrega-se-lhes à saída da penitenciária,
deduzidas as despesas de alimentação e vestuário.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.79.
(Colaboração de Inês Vila Verde, 12A e Tiago Joaquim, 10ºC)
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Instituições municipais
A botica fornece os medicamentos, tanto para as enfermarias
como para as casas locais, e vende-os aos particulares com um
certo interesse. As plantas medicinais são cultivadas em suficiente
escala na granja municipal e as preparações mais usuais fazem-se
no laboratório do estabelecimento.
O asilo dos órfãos recolhe e educa as crianças enjeitadas e
aquelas que seus parentes não puderam criar. Nenhuma criança
deve sair doo asilo, a não ser reclamada pelos pais, ou por pessoa
de bem que a adopte. As crianças de leite que tenham uma
compleição fraca, são criadas por amas, empregadas no
estabelecimento. As crianças mais robustas são sustentadas com o
leite dos animais domésticos, com os caldos nutritivos e afinal com
a dieta ordinária. As crianças de 2 a 10 anos carecem de
desenvolver principalmente as suas faculdades físicas. A
alimentação abundante, o descanso suficiente, o anseio nos corpos
e vestidos, a distracção nos jogos e folguedos, a ginástica, o canto,
a inspecção de variados objectos, o estudo e a leitura da escrita, a
nomenclatura das línguas, tudo isto convém a educação da infância
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neste segundo período. Os educandos de 10 anos para cima
aprendem, na oficina e na granja municipal, o ofício para que
mostrarem aptidão. Os que possuírem um talento distinto seguem o
curso da escola municipal – e alguns deles, os que se houverem
tornado distintíssimos, são mandados frequentar, à custa do
município, as escolas superiores. Os educandos são submetidos a
regras de urbanidade no tratamento usual e de asseio e boa ordem
no seu pequeno mobiliário. As gratificações e os prémios que eles
merecerem pela sua assiduidade e aproveitamento depositam-se
na caixa económica para ulteriormente lhes serem entregues com
os respectivos juros. As educandas de 10 anos para cima instruem-
se em um ou mais ofícios dos trabalhos próprios das mulheres.
Todas se exercitam nos diversos misteres de economia doméstica,
e também nas prendas da sociedade, cuja primazia pertence à
música. As que mostrarem um génio superior devem ser
convenientemente protegidas e aproveitadas. Chegadas a uma
certa idade as educandas tomam diferentes rumos segundo a sua
opinião e circunstancias particulares. Muitas delas vão ser mestras
nas escolas locais. Outras entram como excelentes criadas no
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serviço doméstico. Outras casam-se, e assim prendadas por uma
boa educação independentes pelo seu trabalho, todas elas podem
encontrar os necessários meios de subsistências. Todavia as portas
da misericórdia nunca se fecham para as suas filhas: em qualquer
sinistro da vida elas devem achar ali a possível protecção. O que
houverem ganho a titulo de gratificação no serviço da casa ou nos
prémios anuais é-lhes, igualmente, capitalizado na caixa
económica, e constitui o seu pecúlio na época da maioridade.
NOGUEIRA, José Félix Henriques, Obra Completa, tomo II, organizada por
António Carlos Leal da Silva, 1979, p.81.
(Colaboração de Diogo Mateus 11ºB, Nº4 e João Pereira 11ºB, Nº10 )