história do paraná: pré- história, colônia e império

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História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império 21 HISTÓRIA E CONHECIMENTO Lúcio Tadeu Mota (Organizador) 978-85-7628-403-1 Lúcio Tadeu Mota História do Paraná: Pré-história, Colônia e Império HISTÓRIA E CONHECIMENTO N 0 21

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Page 1: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

História do Paraná: Pré-história, Colônia e Império

21HISTóRIA E CONHECIMENTO

Lúcio Tadeu Mota(Organizador)

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Page 2: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

História do Paraná: pré-história, colônia e império / Lúcio Tadeu Mota, organizador. -- Maringá: Eduem, 2011. 88p.: il., 21cm. (Coleção história e conhecimento, v. 21)

ISBN 978-85-7628-403-1

1. História do Paraná – Estudo e ensino. 2. História regional – Paraná. 3. Indígenas – Paraná – História.

CDD 21.ed. 981.62

H673

Copyright © 2011 para o autor

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo

mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos

reservados desta edição 2010 para Eduem.

Endereço para correspondência:

Eduem - Editora da Universidade Estadual de Maringá

Av. Colombo, 5790 - Bloco 40 - Campus Universitário

87020-900 - Maringá - Paraná

Fone: (0xx44) 3011-4103 / Fax: (0xx44) 3011-1392

http://www.eduem.uem.br / [email protected]

HISTÓRIA E CONHECIMENTO

Apoio técnico: Rosineide Ferreira

Copydesk: Rosane Gomes Carpanese

Normalização e catalogação: Ivani Baptista CRB - 9/331

Revisão Gramatical: Tania Braga Guimarães

Edição, Produção Editorial e Capa: Carlos Alexandre Venancio

Fernando Truculo Evangelista

Eliane Arruda

Page 3: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Lúcio Tadeu Mota

(Organizador)

História do Paraná: Pré-

história, Colônia e Império

HISTÓRIA

EAD

Page 4: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Conteúdo

APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO .............................. 3

SOBRE OS AUTORES ................................................ 6

APRESENTAÇÃO DO LIVRO ..................................... 8

CAPÍTULO I A OCUPAÇÃO HUMANA DOS TERRITÓRIOS ENTRE OS RIOS PARANAPANEMA E IGUAÇU ATÉ A CHEGADA DOS EUROPEUS, EM 1500 11

CAPITULO II O GUAIRÁ: A CONQUISTA E AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS NOS TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO PARANÁ, DE 1500 A 1630 .................... 44

CAPITULO III. A FORMAÇÃO DO PARANÁ: DO POVOAMENTO DO LITORAL À EMANCIPAÇÃO DA 5ª COMARCA ......................................................................... 80

CAPÍTULO IV. O PARANÁ PROVINCIAL: 1853 – 1889 .................................................................................. 101

Page 5: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO

A coleção História e Conhecimento é composta de

42 títulos, que serão utilizados como material didático pelos

alunos matriculados no Curso de Licenciatura em História,

Modalidade a Distância, da Universidade Estadual de

Maringá, no âmbito do sistema da Universidade Aberta do

Brasil (UAB), que está sob a responsabilidade da Diretoria

de Educação a Distância (DED) da Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES).

A utilização desta coleção pode se estender às

demais instituições de Ensino Superior que integram a

UAB, fato que tornará ainda mais relevante o seu papel na

formação de docentes e pesquisadores, não só em História

mas também em outras áreas na Educação a Distância, em

todo o território nacional. A produção dos 42 livros, a qual

ficou sob a responsabilidade da Universidade Estadual de

Maringá, teve 38 títulos a cargo do Departamento de

História (DHI); 2 do Departamento de Teoria e Prática da

Educação (DTP); 1 do Departamento de Fundamentos da

Educação (DFE); e 1 do Departamento de Letras (DLE).

O início do ano de 2009 marcou o começo do

processo de organização, produção e publicação desta

coleção, cuja conclusão está prevista para 2012, seguindo

o cronograma de recursos e os trâmites gerais do Fundo

Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Num

primeiro momento, serão impressos 294 exemplares de

cada livro para atender à demanda de material didático dos

Page 6: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

que ingressaram no Curso de Graduação em História a

Distância, da UEM, no âmbito da UAB.

O traço teórico geral que perpassa cada um dos

livros desta coleção é o compromisso com uma

reconstrução aberta, despreconceituosa e responsável do

passado. A diversidade e a riqueza dos acontecimentos da

História fazem com que essa reconstrução não seja capaz

de legar previsões e regras fixas e absolutas para o futuro.

No entanto, durante a recriação do passado, ao historiador

é dado muitas vezes descobrir avisos, intuições e

conselhos valorosos para que não se repitam os erros de

outrora.

No transcorrer da leitura desta coleção

percebemos que os livros refletem várias matrizes

interpretativas da História, oportunizando ao aluno o contato

com um inestimável universo teórico, extremamente valioso

para a formação da sua identidade intelectual. A qualidade

e a seriedade da construção do universo de conhecimento

desta coleção pode ser tributada ao empenho mais direto

por parte de cerca de 30 organizadores e autores, que se

dedicaram em pesquisas institucionais ou até mesmo em

dissertações de mestrado ou em teses de doutorado nas

áreas específicas dos livros que se propuseram a produzir.

Esta coleção traz um conhecimento que

certamente marcará positivamente a formação de novos

professores de História, historiadores e cientistas em geral,

por meio da Educação a Distância, o qual foi fruto do

empenho de pesquisadores que viveram circunstâncias,

recursos, oportunidades e concepções diferentes, temporal

e espacialmente.

Como corolário disso, seria justo iniciar os

agradecimentos citando todos aqueles que não poderiam

ser nominados nos limites de uma apresentação como esta.

Rogamos que se sintam agradecidos todos aqueles que

Page 7: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

direta, indireta ou mesmo longinquamente, quiçá os mais

distantes ainda, contribuíram para a elaboração deste rico

rol de livros.

Além do agradecimento, registramos também o

reconhecimento pelo papel da Reitoria da UEM e de suas

Pró-Reitorias, que têm contribuído não apenas para o êxito

desta coleção mas também para o de toda a estrutura da

Educação a Distância da qual ela faz parte.

Agradecemos especialmente aos professores do

Departamento de História do Centro de Ciências Humanas

da UEM pelo zelo, pela presteza e pela atenção com que

têm se dedicado, inclusive modificando suas rotinas de

trabalho para tornar possível a maioria dos livros desta

coleção.

Agradecemos à Diretoria de Educação a Distância

(DED) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do

Ensino Superior (CAPES), e ao Ministério da Educação

(MEC) como um todo, especialmente pela gestão dos

recursos e pelo empenho nas tramitações para a realização

deste trabalho.

Outrossim, agradecemos particularmente à

Equipe do NEAD-UEM: Pró-Reitoria de Ensino,

Coordenação Pedagógica e equipe técnica.

Despedimo-nos atenciosamente, desejando a

todos uma boa e prazerosa leitura.

Moacir José da Silva

Organizador da coleção

Page 8: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

SOBRE OS AUTORES

• Dulce Elena Canieli

Possui mestrado em História pela

Universidade Estadual de Maringá (2001).

Atualmente é professora efetiva – Secretaria de

Estado de Educação do Paraná –, atuando

principalmente nos seguintes temas: Ensino,

Paraná Província e População Indígena.

• Lúcio Tadeu Mota

Possui graduação em Sociologia e Política

pela Fundação Escola de Sociologia e Política de

São Paulo (1980); mestrado em Ciências Sociais

pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(1992); doutorado em História pela Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1998); e

estágio de pós-doutorado em Antropologia Social

no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Atualmente

é Professor Associado I da Universidade Estadual

de Maringá. Tem experiência na área de

Antropologia, com ênfase em Etno-história

Indígena, atuando principalmente nos seguintes

temas: Fronteiras e Populações, Etno-história

Indígena, Relações Interculturais, Índios Kaingang

e História da Bacia do Rio da Prata.

• Nádia Moreira Chagas

Possui graduação em História pela

Universidade Estadual de Maringá (1992), e pós-

Page 9: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

graduação em Arqueologia, Etnologia e Etno-

História do Paraná, também pela Universidade

Estadual de Maringá. É pesquisadora no

Programa Interdisciplinar de Estudos de

Populações – Laboratório de Arqueologia,

Etnologia e Etno-história – UEM. Mestre em

História, na linha de pesquisa Fronteiras e

Populações, pela Universidade Estadual de

Maringá. Atualmente é professora do Centro

Estadual de Educação Básica Professor Manoel

Rodrigues da Silva e tutora no Ensino a Distância

– História, da UAB, na Universidade Estadual de

Maringá.

Page 10: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

APRESENTAÇÃO DO LIVRO

A princípio tudo representava um panorama selvático. O seio da terra virginal, recoberto de florestas seculares, abrigava tesouros inestimáveis de fecundação e fertilidade, prontos para fornecerem colheitas dadivosas [...]. Havia, de primeiro, a terra protegida pela floresta imensa. E lentamente a floresta, a floresta tão exuberante e impenetrável cedia lugar àqueles homens intrépidos e valentes.

Frases como essas acima, de diferentes autores, são

comuns nos escritos sobre a História do Paraná. Construiu-

se a ideologia de que esses territórios estavam vazios,

desabitados e prontos a serem ocupados. Essa construção

ocorreu dentro dos marcos da expansão capitalista, que

incorporou, no século XX, imensas áreas do norte, oeste e

sudoeste do Estado ao seu sistema de produção.

Os agentes dessa construção são muitos: desde a

história oficial das companhias colonizadoras; os discursos

governamentais; os escritos que fazem a apologia da

colonização; a geografia que trata da ocupação nas

décadas de 30 a 50 do século XX; a historiografia

paranaense produzida nas universidades; e por fim os livros

didáticos, que, utilizando-se dessas fontes, repetem para

milhares de estudantes do Estado a ideia de que os vastos

territórios ocupados por sociedades indígenas do segundo

e do terceiro planaltos do Paraná constituíam um imenso

“vazio demográfico”, pronto a ser ocupado por migrantes

vindos de várias partes do Brasil e mesmo do exterior. Com

isso são eliminados propositadamente da história regional

as populações indígenas, caboclas e quilombolas que ali

Page 11: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

viviam e resistiram à conquista de suas terras e à

destruição de seu modo de vida1.

Observando essas populações enquanto sujeitos ativos

da história percebemos que os territórios localizados entre

os rios Paranapanema, Paraná e Iguaçu foram ocupados

por populações caçadoras e coletoras desde há pelo menos

9 mil anos antes do presente, e que desde a chegada das

populações europeias no novo continente iniciou-se a

guerra de conquista contra elas.

Guerra é aqui entendida no sentido dado por Antônio

Carlos de Souza Lima: um processo que requer uma

organização militar conquistadora, que age em nome de um

Deus, um Rei, uma Nação ou um Império; um povo de onde

se origina o conquistador e que lhe dá uma identidade

social e uma direção comum; e o butim, composto pelo

povo conquistado com seus territórios e riquezas, que

passam a ser mercantilizadas. E conquista, quando parte

do povo conquistador se fixa nos territórios conquistados,

faz a exploração sistematizada do butim e passa a veicular

os elementos básicos da cultura invasora através de

instituições concebidas para tanto2.

A guerra de conquista iniciou-se nas primeiras décadas

do século XVI, com as expedições portuguesas e

espanholas que cruzaram o atual território do Paraná em

busca de metais, de escravos e de uma rota rumo ao

Império Inca no atual Peru. Acentuou-se nos anos

seiscentos com a implantação das reduções jesuíticas no

1. Para maiores detalhes sobre esse assunto ver MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios

Kaingang. Maringá: Eduem, 2009. 2. Cf. LIMA, Antônio C. de Souza. Um grande cerco de paz: poder tutelar e indianidade no

Brasil. Petrópolis: Vozes, 1995.

Page 12: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Guairá, e logo depois com as bandeiras paulistas, que

invadiram a região capturando índios, e com as atividades

mineradoras no litoral e no primeiro planalto. Prosseguiu no

século XVIII, com a instalação das fazendas de gado nos

Campos Gerais, com a descoberta de ouro e diamantes no

rio Tibagi e com as expedições militares, que construíram

fortificações e transitaram pelo território rumo ao Mato

Grosso. Recrudesceu, nos anos novecentos, com a

ocupação dos campos de Guarapuava, de Palmas e do

sudoeste da Província, e das terras da bacia norte do rio

Tibagi, pelos grandes fazendeiros dos Campos Gerais

paranaenses, na expansão de seus domínios. No século

XX a guerra de conquista continuou, sob o manto da

“colonização pacífica e harmoniosa”, levada adiante pelas

companhias de terras, que ocuparam, lotearam e venderam

os antigos territórios indígenas, com o aval institucional do

Estado do Paraná.

Dessa forma, a ocupação humana do Paraná apresenta,

numa primeira olhada, o aspecto da divisão em fronteiras.

Mas não no sentido de elas serem apenas uma divisa entre

os brancos e os indígenas, uma coluna móvel de

colonização em território novo não colonizado, ou como um

processo de conquista envolvendo a subjugação de não-

europeus por europeus. Mas sim, conforme os recentes

estudos de fronteiras têm apontado, os espaços fronteiriços

são como locais de encontro de populações diferenciadas,

e lócus privilegiado dos fluxos e das trocas culturais. A

fronteira é vista como local não do isolamento e da

separação de culturas (cultura x cultura), mas de

combinações inovadoras, de manejo e de somas culturais

(cultura + cultura), como bem aponta Ulf Hannerz.3.

3 Cf. HANNERZ, Ulf. Fronteras. Revista de Antropologia Experimental, [s.n.], n. 1,

p. 6, 2001. Para uma discussão mais completa sobre essa questão e outras

Page 13: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Assim, as numerosas “fronteiras” existentes no espaço

denominado Paraná não se ajustam ao ideal simplificador

de serem apenas divisores de culturas diferenciadas, entre

o “civilizado” e o “selvagem”, ou uma coluna móvel de

colonização em território novo não colonizado. Mesmo

porque, estudos recentes em Antropologia, História ou

Etno-história têm mostrado que as populações locais

ofereciam resistência, as doenças impediam a penetração

europeia, e a geografia limitava a intrusão estrangeira. Os

colonizadores europeus não impuseram simplesmente suas

culturas em todas as partes do planeta: inúmeros foram os

obstáculos, as derrotas, e inúmeros foram os processos de

negociação, alianças e acordos, que resultaram em fluxos

culturais, hibridismos e mestiçagens que compõem a

história de grande parte das populações do continente

americano e também do Paraná, estabelecendo aqui

processos de relações interculturais ricos e complexos4, o

que pretendemos apresentar na sequência deste livro.

CAPÍTULO I A OCUPAÇÃO HUMANA DOS

TERRITÓRIOS ENTRE OS RIOS PARANAPANEMA E

IGUAÇU ATÉ A CHEGADA DOS EUROPEUS, EM 1500

relativas a fronteiras e fluxos culturais, ver: Fluxos, fronteiras, híbridos: palavras

chaves da Antropologia Transnacional. Mana, Rio de Janeiro, v. 1, n. 3, p. 7-39, e

Conexiones Transnacionais – Cultura, Gente, Lugares. Ediciones Cátedra, 2001. 4 Sobre a mestiçagem na América ver BERNAND, Carmen; GRUZINSKI, Serge.

Historia del Nuevo Mundo II: los mestizajes. 1550 – 1640. México: Fondo de

Cultura Econômica, 1999.

Page 14: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

O debate sobre as questões relativas à humanização

do continente americano tem sido intenso e rico. As

disciplinas que tratam dessa temática, como a Arqueologia,

a História e outras, apresentam pontos de concordância e

muitos outros de discordância.

Hoje é consenso aceitar a premissa de que o homem

não é autóctone em nosso continente. Isto é, o homo

sapiens-sapiens que ocupou as Américas teve suas origens

no continente africano, há mais ou menos 100 mil anos

antes do presente (AP), e em algum momento migrou para

o continente americano.

O segundo ponto, ou a segunda pergunta muito usual

nesse debate é: se o homem não surgiu na América, de

onde ele veio? Uma grande parte dos pesquisadores do

tema são unânimes em afirmar que a maioria das levas

humanas que aqui chegaram atravessaram o estreito de

Bering, no extremo norte do continente. Existem outros

pesquisadores que afirmam que o continente também foi

povoado por grupos humanos vindos das ilhas do Oceano

Pacifico, navegando do oeste para o leste e

desembarcando na costa oeste da América Central e do

Sul. E ainda existe quem afirme que também recebemos

migrações de grupos humanos pelo extremo sul do

continente, que chegaram à Terra do Fogo vindos da

Austrália e da Nova Zelândia.

Page 15: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Figura 1: Povoamento do Continente Americano

Fonte: A AURORA da humanidade (1993)

A terceira pergunta, talvez a mais polêmica, é a que

questiona qual foi a época da chegada dos primeiros

humanos no continente americano. Nesse ponto temos um

debate intenso, que está longe de terminar. Existem autores

que afirmam que os primeiros homens chegaram à America

há mais de 300 mil anos antes do presente (AP). Mas as

datações mais aceitas pela comunidade científica são

aquelas que giram em torno de 12 mil AP. A grande maioria

dos pesquisadores aceitam a presença do primeiro homem

americano em torno de 11 mil a 12 mil anos AP, porque são

desse período as datações dos esqueletos humanos mais

antigos encontrados no continente, como é o caso do crânio

de uma mulher, batizada de Luzia, encontrado em Minas

Gerais, datado de 11.500 AP.

Page 16: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

As populações caçadoras coletoras pré-cerâmicas5

A bacia do Rio da Prata vem sendo continuamente

habitada por diferentes populações humanas6 há cerca de

pelo menos 11 mil anos AP. Para a região onde hoje é o

Paraná há datações que chegam a 9 mil anos AP.

Entretanto, se considerarmos a cronologia dos territórios

vizinhos que foram ocupados em épocas anteriores, é

provável que ainda possam ser obtidas datas que poderão

atestar a presença humana em períodos mais recuados.

Em 1958, um grupo de arqueólogos do Departamento

de Antropologia da Universidade Federal do Paraná foi

comunicado sobre achados arqueológicos nas margens do

rio Ivaí, no extremo oeste do Estado, na localidade de

Cidade Gaúcha7.

Escavações no sítio denominado José Vieira

demonstraram a existência de dois povoamentos no local.

O material lítico, colhido nos níveis mais profundos das

escavações e submetidos a datação, registrou uma idade

5 Uma primeira versão deste texto foi publicada em parceria com Francisco Silva Noelli, no

livro DIAS, Reginaldo Benedito; ROLLO, José Henrique (Org.). Maringá e Norte do

Paraná: estudos de História regional. Maringá: Eduem, 2000. 6 Consideramos, para fins didáticos, populações pré-históricas como as anteriores à

chegada dos europeus na região, isto é, em meados do século XVI; e populações

indígenas aquelas que entraram em contato com os europeus e vivem até o presente no

Paraná, isto é, os Jê do Sul – Kaingang e Xokleng, os Guarani e Xetá, falantes de línguas

do tronco linguístico Tupi. Evidentemente, como veremos adiante, em alguns casos houve

uma continuidade entre a Pré-história e a História. 7 Cf. LAMING, Anete; EMPERAIRE, José. A jazida José Vieira: um sítio Guarani e pré-

cerâmico no interior do Paraná. Arqueologia, Curitiba, v. 1, 1969. Nesse trabalho, os

autores também fazem observações em possíveis sítios arqueológicos na região de

Apucarana.

Page 17: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

entre o oitavo e o nono milênio antes de nossa era. Isso

significa assentamentos humanos nas barrancas do rio Ivaí

há 8 mil anos. O material lítico coletado nas camadas

superiores da jazida datam de 2 a 3 mil anos (AP), o que

significa novos acampamentos em épocas posteriores à

primeira. Existem, portanto, em um mesmo local,

acampamentos em épocas distantes 4 a 5 milênios uma da

outra, que permitem a verificação de grandes

transformações no clima e na vegetação. Outras

escavações, realizadas nas margens do rio Paraná, foram

datadas em 8 mil anos, assim como as escavações

realizadas no centro-leste do Estado, na região de Vila

Velha, também com 8 mil anos.

A indústria lítica lascada do homem pré-histórico

presente no norte paranaense espalha-se ao longo do rio

Ivaí. A 350 km, subindo o rio no município de Manoel Ribas,

no centro do Estado, pesquisas arqueológicas feitas em

1960 revelaram a existência de material lítico que

corresponde ao do Sítio José Vieira, datado em torno de 7 a

8 mil anos. Foi encontrada também uma grande quantidade

de material cerâmico, datado em torno de 800 anos AP8.

Por todo o Paraná vamos encontrar vestígios desses

antigos assentamentos humanos. O mais antigo deles,

datado de 9.040 AP, foi encontrado pela Drª Cláudia

Parellada, arqueóloga do Museu Paranaense, no vale do rio

Iguaçu. Essas evidências, anteriores a 6 mil AP, também

8 Cf. ANDREATTA, Margarida Davina. Notas parciais sobre pesquisas realizadas no planalto

e litoral do Estado do Paraná. In: SIMPOSIO DE ARQUEOLOGIA DO PRATA, 2., 1968,

São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisa; FFCL, 1968. p.

65-76. De acordo com a autora, o material lítico lascado, tanto o encontrado na gruta de

Wobeto, em Manoel Ribas, como o do Sítio José Vieira fazem parte da indústria lítica

lascada, que se estende por toda a bacia do Rio da Prata.

Page 18: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

podem ser encontradas em outras partes do território

paranaense, como podemos ver na tabela abaixo.

Sítios arqueológicos com mais de 6 mil anos (AP) no Paraná

PARELLADA, C. I. Revisão dos sítios arqueológicos com mais de seis mil anos BP no Paraná: discussões geoarqueológicas. Fumdhamentos, São Raimundo Nonato, n. 7, p. 118-135, 2008.

Assim, podemos afirmar que os territórios que hoje se

denominam Paraná vêm sendo continuamente habitados

por diferentes populações humanas há cerca de 9 mil anos

AP, de acordo com os vestígios materiais mais antigos

encontrados pelos arqueólogos. Entretanto, se

considerarmos a cronologia dos territórios vizinhos que

foram ocupados em épocas anteriores, é provável que

ainda possam ser obtidas datas que poderão atestar a

presença humana em períodos mais recuados, podendo

alcançar ate 11 mil ou 12 mil anos AP9.

9 Daqui em diante, optamos por incorporar parte de um texto feito em parceria com

Francisco Silva Noelli e publicado em outras obras, conjuntas ou separadas.

Page 19: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

As populações que viveram no Paraná entre 9 mil a 3

mil anos AP são denominadas, pela Arqueologia, de

caçadores e coletores pré-cerâmicos. Elas foram

substituídas pelas populações indígenas agricultoras e

ceramistas – Kaingang, Xokleng, Guarani e Xetá – a partir

de sua chegada na região, por volta de 3 mil anos AP, e

continuam a viver aqui até hoje.

A Arqueologia classifica essas populações caçadoras

coletoras em três tradições, conforme a Figura 2.

As populações indígenas no Paraná

Caçadores coletores pré-cerâmicos12.000 a 3.000 anos AP

HumaitáVale dos grandes rios

UmbuTerras altas

SambaquiLitoral

Figura 2: Populações caçadoras coletoras pré-

cerâmicas no Paraná

Os arqueólogos reuniram uma série de informações

sobre essas populações. Aqui apontaremos sucintamente

os dados que consideramos mais importantes em cada uma

delas.

Tradição Humaitá

As populações que os arqueólogos convencionaram

chamar de Tradição Humaitá não deixaram,

aparentemente, descendentes historicamente conhecidos.

Page 20: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Por enquanto, é sabido que ocuparam todos os estados do

sul brasileiro e as regiões vizinhas do Paraguai e da

Argentina, entre 8 mil e 2 mil anos atrás.

Os estudos de seus vestígios mostram que essas

populações possuíam características das culturas do tipo

bando, compostas de pequenos grupos (40-60 pessoas)

que viviam dentro de amplos territórios. Sua subsistência

era baseada em diversas fontes animais, obtidas por meio

da caça, da pesca e da coleta, bem como de fontes

vegetais. A exemplo de outros povos caçadores-coletores

sul-americanos, também deveriam ter uma série de

acampamentos sazonais espalhados dentro de um território

definido. Tais acampamentos estariam relacionados a uma

série de atividades de subsistência, obtenção e preparação

de matérias-primas, rituais e lazer. Suas habitações

poderiam ser desde uma simples meia-água até casas mais

elaboradas, de madeira, cobertas por palha ou folhas de

palmáceas. Eventualmente poderiam ocupar abrigos sob

rocha (reentrâncias em paredes rochosas).

Seus vestígios mais estudados até o presente

restringem-se aos instrumentos líticos feitos de pedra, pois

a maior parte de seus objetos eram provavelmente

confeccionados com materiais perecíveis, que se

destruíram ao longo da formação dos sítios arqueológicos.

Entre as ferramentas de pedra podemos mencionar os

grandes instrumentos lascados bifacialmente, lascas

usadas para raspar, rasgar, cortar, tornear, bem como

ferramentas para polir, furar, amolar, macerar, moer, pilar e

ralar.

Page 21: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Figura 3: Ferramenta lítica da Tradição Humaitá.

Acervo: Coleção Arqueológica do Museu Histórico de Santo

Inácio – PR. Foto de Edmar Alencar Jr / Josilene Aparecida

de Oliveira

Tradição Umbu

Também as populações que os arqueólogos chamam

de Tradição Umbu não deixaram descendentes

historicamente conhecidos. Os vestígios dessa tradição,

marcadamente as pontas de projéteis e resíduos de

lascamentos, são encontrados em toda a região sul do

Brasil, no Uruguai e em partes do Estado de São Paulo.

Esses vestígios foram datados entre 12 mil e 1 mil anos AP,

Page 22: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

o que demonstra a longa persistência dessa Tradição nos

mais variados ambientes do Brasil Meridional.

Essas populações ocuparam preferencialmente as

regiões de maior altitude nos planaltos do Paraná,

principalmente os interflúvios dos principais rios, mas há

também a presença de artefatos dessa Tradição nas

margens dos principais rios do Paraná, como o Iguaçu, no

sítio Ouro Verde, datado de 9 mil anos AP, e em vários

locais ao longo do rio Ivaí. Nesses locais construíram suas

habitações, tanto a céu aberto quanto nos abrigos sob

rochas. Já no Rio Grande do Sul e no Uruguai, nas áreas

alagadiças, construíram os cerritos – aterros artificiais –,

onde fixaram suas habitações.

Figura 4: Ponta de flecha da Tradição Umbu. Acervo:

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da

UEM. Foto: Lúcio Tadeu Mota

Tradição Sambaqui

Page 23: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Os pescadores/coletores do litoral sul do Brasil

ocuparam uma vasta faixa entre o mar e a Serra do Mar,

desde o Rio Grande do Sul até a Bahia, desde 6 mil anos

AP até mil anos depois de Cristo. Seus principais vestígios

são os inúmeros montes – conhecidos por sambaquis – que

construíram intencionalmente com restos alimentares,

adornos, conchas, ferramentas, armas, carvões de antigas

fogueiras, vestígios de sepultamentos humanos e de

antigas moradias.

Construídos tanto em planícies quanto em encostas,

diretamente na areia ou sobre o embasamento rochoso, os

Sambaquis têm ocorrências desde o Rio Grande do Sul até

a Bahia de Todos os Santos, basicamente no interior dos

ambientes lagunares que se apresentam em todo esse

trecho da faixa costeira. As baías, estuários e lagunas

dessa porção do litoral apresentam normalmente grandes

concentrações desses sítios arqueológicos.

A implantação dos Sambaquis nesses ambientes

estuarinos não foi fortuita: ela se deu devido à existência de

várias espécies de peixes, moluscos, crustáceos e outros

animais, componentes riquíssimos da dieta alimentar

desses grupos humanos.

Page 24: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

Figura 5: Sambaquis do litoral sul do Brasil. Fonte Gaspar: (2000, p. 49-53).

Page 25: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

As populações ceramistas

agricultoras - populações indígenas

históricas

Por volta de 2.500 anos antes do presente

(AP), agrupamentos maiores de populações

passaram a ocupar a região da bacia do rio

Paraná e de seus afluentes (Iguaçu, Piquiri, Ivaí,

Paranapanema Pirapó, Santo Inácio,

Bandeirantes, Tibagi, Itararé e outros menores).

Tratava-se de uma das frentes da ampla

expansão dos povos falantes da língua guarani,

os quais vinham ocupando sistematicamente o

território do atual Mato Grosso do Sul e as bacias

dos rios Paraguai e Paraná, e do Rio da Prata.

Podemos dizer que esses agrupamentos tinham

em comum a língua e a produção de artefatos

cerâmicos.

Os vestígios da cultura material dessas

populações agricultoras ceramistas são

denominados pela Arqueologia como Tradição

Tupi-guarani e Tradição Itararé/Taquara.

As mais antigas populações de ceramistas

começaram a chegar à bacia do rio Paraná em

torno de 2.500 anos AP, como podemos ver

numa série de sítios datados, na região, pelas

metodologias de C-14 (carbono 14) e

termoluminescência.

O rio Paranapanema, em sua junção com o

médio Paraná, é considerado, como já foi

sugerido por José P. Brochado e Francisco S.

Noelli (BROCHADO, 1984; NOELLI, 1998, 1999-

Page 26: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

24

2000), para o caso dos falantes do guarani, como

a “porta de entrada” para o Paraná e o sul do

Brasil. O conjunto das pesquisas indica que essas

populações, em contínuo processo de

crescimento demográfico e de expansão

territorial, teriam sucessivamente ocupado a área

do atual Mato Grosso do Sul e, através da bacia

do Paraná, teriam ingressado no sul do Brasil

pelo noroeste paranaense.

No caso dos Jê do sul (Kaingang e Xokleng),

como aponta a Arqueologia com os indícios de

cerâmica da Tradição Itararé, a porta de entrada

dessas populações para o sul do Brasil teria sido

os campos e cerrados do interflúvio dos rios

Paranapanema/Itararé e Ribeira.

Trabalhando com a hipótese de que os grupos Jê, que se deslocaram do Brasil central para o sul, foram ocupando regiões semelhantes às que ocupavam em seus locais de origem, podemos afirmar que após ocuparem os planaltos de cerrados entre os rios Tietê e Paranapanema eles iniciaram a ocupação dos Campos Gerais no Paraná. Esses campos se estendem desde o sul de São Paulo – região de Itapetininga até Itararé, entre as cabeceiras dos rios Paranapanema e Itararé – até a margem direita do rio Iguaçu, no segundo planalto paranaense. No século XVII os padres jesuítas fundadores das reduções anotam a presença de grupos não Guarani na região, que eles denominaram de Cabeludos e Gualachos (MOTTA, 2000, p. 49).10

10 . Cf.MOTA, Lucio Tadeu. Os índios Kaingang e seus territórios nos campos

do Brasil meridional na metade do século passado. In: Uri Wãxi: estudos

interdisciplinares dos Kaingang. Londrina, Eduel, 2000.

Page 27: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

25

Ancorados nas informações arqueológicas

podemos afirmar que a região da bacia do rio

Paraná e de seus afluentes da margem esquerda

onde é hoje o estado do Paraná foi densamente

povoada, até a chegada dos espanhóis e

portugueses, por populações caçadoras/coletoras

pré-ceramistas e pelos agricultores ceramistas,

principalmente os falantes do guarani.11

Tabela 3: Sítios arqueológicos com

datações de populações ceramistas

nas bacias do Paraná,

Paranapanema e Ivaí, da jusante

para montante

Rio Paraná

Da

ta A.P.

Síti

o

L

ab. nº

1.1.1.1.1

i

o

M

a

r

g

e

m

1.1.1.1.2

unicí

pio

Estad

o

1.1.1.1.3

o

nt

e

11 Existem ainda informações arqueológicas sobre a presença de vestígios

cerâmicos diferentes das tradições discutidas acima, e também existem

informações históricas sobre a presença de populações não-Guarani e

não-Kaingang principalmente na margem direita do médio Paranapanema.

São informações importantes para o entendimento da ocupação da região,

as quais discutiremos em outra oportunidade.

Page 28: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

26

20

10 ± 75

PR/F

I/140

S

I 5028

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

16

25 ± 60

PR/F

I/118

S

I 5021

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

15

65 ± 70

PR/F

I/99

S

I 5019

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

13

95 ± 60

PR/F

I/142

S

I 5033

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

12

35 ± 60

PR/F

I/97

S

I 5016

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

74

5 ± 75

PR/F

I/140

S

I 5027

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

70

0 ± 55

PR/F

I/112

S

I 5036

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

62

5 ± 55

PR/F

I/100

S

I 5020

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

60

0 ± 60

PR/F

I/103

S

I 5029

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

59

0 ± 55

PR/F

I/127

S

I 5024

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

41

5 ± 75

PR/F

I/104

S

I 5032

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

39

5 ± 60

PR/F

I/142

S

I 5034

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

34

0 ± 60

PR/F

I/118

S

I 5023

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

25

5 ± 80

PR/F

I/97

S

I 5017

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

23

0 ± 80

PR/F

I/22

S

I 5015

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

20

5 ± 80

PR/F

I/118

S

I 5022

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

19

0 ± 75

PR/F

I/98

S

I 5018

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

? ±

195

PR/F

I/141

S

I 5031

Es

querda

Foz do

Iguaçu - Pr

Chmy

z 1983

49

0 ± 60

PR/F

O/3

S

I 5040

Es

querda

Guaíra -

Pr

Chmy

z 1983

76

0 ± 40

PR/F

O/4

S

I 5039

Es

querda

Guaíra -

Pr

Chmy

z 1983

47

5 ± 45

MT/

IV/1

S

I 1017

Dir

eita

Bataiporã

- MS

Chmy

z 1974

18 MT/ S Dir Bataiporã Chmy

Page 29: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

27

0 ± 60 IV/1 I 1018 eita - MS z 1974

11

0 ± 60

MT/

IV/2

S

I 1019

Dir

eita

Bataiporã

- MS

Chmy

z 1974

26

0 ± 70

MT/

IV/1

S

I 1016

Dir

eita

Bataiporã

- MS

Chmy

z 1974

23

9 ± 10

MS/

PR/13

F

ATEC

Dir

eita

Anaurilând

ia - MS

Kashi

moto 1997

24

0 ± 30

MS/

PD/06

G

sy

Dir

eita

Anaurilând

ia - MS

Kashi

moto 1997

27

5 ± 20

MS/

PD/07

F

ATEC

Dir

eita

Anaurilând

ia - MS

Kashi

moto 1997

42

5 ± 25

MS/

IV/08

F

ATEC

Dir

eita

Anaurilând

ia - MS

Kashi

moto 1997

43

2 ± 32

MS/

PD/04

F

ATEC

Dir

eita

Anaurilând

ia - MS

Kashi

moto 1997

24

5 ± 15

MS/

PR/41

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

28

0 ± 15

MS/

PR/46

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

37

0 ± 20

MS/

PR/22

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

48

0 ± 30

MS/

PR/26

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

56

5 ± 32

MS/

PR/55

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

58

0 ± 40

MS/

PR/39

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

62

5 ± 40

MS/

PR/35

F

ATEC

Dir

eita

Bataguaçu

- MS

Kashi

moto 1997

14

93 ± 100

MS/

PR/85

F

ATEC

Dir

eita

Brasilândi

a - MS

Kashi

moto 1997

12

48 ± 100

MS/

PR/64

F

ATEC

Dir

eita

Brasilândi

a - MS

Kashi

moto 1997

10

15 ± 75

MS/

PR/64

G

sy

Dir

eita

Brasilândi

a - MS

Kashi

moto 1997

48

0 ± 30

MS/

PR/98

F

ATEC

Dir

eita

Três

Lagoas - MS

Kashi

moto 1997

90

9± 80

MS/

PR/90

F

ATEC

Dir

eita

Três

Lagoas - MS

Kashi

moto 1997

Rio Ivaí

Da Síti L 1.1.1.1.41.1.1.1.5 1.1.1.1.6

Page 30: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

28

ta A.P. o ab. nº i

o

M

a

r

g

e

m

unicí

pio -

Pr

o

nt

e

13

80 ± 150

José

Vieira

G

sy 81

Esq

uerda

Cidade

Gaúcha

Empe

raire, 1968

54

0 ± 60

PR/

QN/2

S

I 697

Dir

eita

Mirador Broch

ado 1973

10

65 ± 95

PR/

ST/1

S

I 695

Esq

uerda

Indianópol

is

Broch

ado 1973

61

0 ± 120

PR/

ST/1

S

I 696

Esq

uerda

Indianópol

is

Broch

ado 1973

30

0 ± 115

PR/F

L/5

S

I 693

Dir

eita

Paraíso do

Norte

Broch

ado 1973

47

0 ± 100

PR/F

L/5

S

I 694

Dir

eita

Paraíso do

Norte

Broch

ado 1973

13

5 ± 120

PR/F

L/13

S

I 698

Dir

eita

Doutor

Camargo

Broch

ado 1973

14

90 ± 45

PR/F

L/21

S

I 1011

Dir

eita

Doutor

Camargo

Broch

ado 1973

56

0 ± 60

PR/F

L/23

S

I 700

Dir

eita

Doutor

Camargo

Broch

ado 1973

59

0 ± 70

PR/F

L/15

S

I 699

Dir

eita

Doutor

Camargo

Broch

ado 1973

Rio Paranapanema

Da

ta A.P.

Síti

o

L

ab. nº

1.1.1.1.7

i

o

M

1.1.1.1.8

unicí

pio/E

stad

o

1.1.1.1.9

o

nt

e

Page 31: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

29

a

r

g

e

m

53

0 ± 55

PR/

NL/7

S

I 6400

Esq

uerda

Diamante

do Norte - Pr

Chmy

z 1986

±

930*

Alvi

m

Dir

eita

Pirapozinh

o - Sp

Kashi

moto 1997

±1

668*

Ragi

l

F

ATEC

Dir

eita

Iepê - Sp Facci

o 1998

11

30 ± 150

SP/

AS/14

S

I 422

Dir

eita

Iepê - Sp Chmy

z 1969

±

1093*

Ragi

l 2

F

ATEC

Dir

eita

Iepê - Sp Facci

o 1998

98

0 ± 100

SP/

AS/14

S

I 709

Dir

eita

Iepê - Sp Smith

sonian

±

755*

Nev

es

F

ATEC

Dir

eita

Iepê - Sp Facci

o 1998

* = datado por termoluminescência;

Page 32: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

30

As populações indígenas no Paraná

Populações indígenas históricas3.000 a aos dias de hoje

KaingangTronco lingüístico

Macro-Jê

Tradições PréCerâmicas

incorporadas

GuaraniTronco lingüístico

Tupi

XoklengTronco lingüístico

Macro-Jê

XetáTronco lingüístico

Tupi

Figura 6: Populações indígenas agricultoras ceramistas no Paraná

-

- -

-

Figura 6: Populações indígenas agricultoras

ceramistas no Paraná

���� Os Guarani

Dentre os povos pré-históricos e indígenas

de que estamos tratando, os Guarani são os mais

conhecidos em termos arqueológicos, históricos,

antropológicos e linguísticos. A denominação

Guarani define, ao mesmo tempo, a população e

o nome da língua por ela falada.

Uma série de estudos comparados –

arqueológicos e linguísticos – realizados no leste

Page 33: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

31

da América do Sul indica que os Guarani vieram

das bacias dos rios Madeira e Guaporé. A partir

daí, ocuparam continuamente diversos territórios

ao longo das bacias dos rios Paraguai e Paraná

até alcançar Buenos Aires, distante

aproximadamente 3 mil km do seu centro de

origem. Expandiram-se ainda para a margem

esquerda do Pantanal, nos atuais estados de São

Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do

Sul. Também ocuparam o Uruguai e o Paraguai.

Conforme as datações já obtidas, excetuando o

Uruguai, a foz do Rio da Prata e o litoral sul

brasileiro, as demais regiões citadas foram

ocupadas desde há pelo menos 2.500 anos AP.

Mantiveram esses territórios até a chegada dos

primeiros europeus, que, a partir de 1504,

registraram em centenas de documentos os

limites desse vasto domínio.

Os Guarani ocuparam os vales e as terras

adjacentes de quase todos os grande rios e de

seus afluentes. Raramente estabeleciam suas

aldeias e rocas em áreas campestres. A maioria

dos sítios arqueológicos da Tradição Tupi-guarani

estão inseridos em áreas cobertas por florestas,

seguindo o padrão de estabelecer as aldeias e as

plantações em clareiras dentro da mata.

Como se pode constatar na bibliografia

especializada sobre os Guarani, eles possuíam

um padrão para ocupar novas áreas, sem, no

entanto, abandonar as antigas. Os grupos locais

se dividiam, com o crescimento demográfico, ou

por divisões políticas, indo habitar áreas

próximas, previamente preparadas por meio de

manejo agroflorestal, isto é, abriam várias

Page 34: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

32

clareiras para instalar a aldeia e as plantações,

inserindo seus objetos e plantas nos novos

territórios. Assim como trouxeram suas casas,

vasilhas cerâmicas e outros objetos, os Guarani

também trouxeram de seus locais de origem

diversas espécies de vegetais, úteis para vários

fins (alimentação, remédios, matérias-primas

etc.), contribuindo para o aumento da

biodiversidade florística do sul do Brasil.

Dessa maneira iam ocupando as várzeas

dos grandes rios, e com o passar do tempo, áreas

banhadas por rios cada vez menores. Por

exemplo, após dominar as terras próximas aos

rios Ivaí, Pirapó e Tibagi, ocuparam trechos ao

longo de alguns dos ribeirões que banham o

divisor de águas desses rios.

As aldeias tinham tamanhos variados,

podendo comportar mais de mil pessoas,

organizadas socialmente por meio de relações de

parentesco e de aliança política. Essas famílias

extensas viviam em casas longas, e cada aldeia

poderia ter até sete ou oito casas, construídas de

madeira e folhas de palmáceas, podendo abrigar

até 300 ou 400 pessoas, e alcançar cerca de 30

ou 40 metros de comprimento por até 7 ou 8

metros de altura. Algumas aldeias, dependendo

de sua localização, poderiam ser fortificadas,

cercadas por uma paliçada.

A cultura material era composta por centenas

– talvez milhares – de objetos, confeccionados

para servirem a diversos fins, sendo a maioria

feita com materiais perecíveis (ossos, madeiras,

penas, palhas, fibras vegetais, conchas etc.) e,

Page 35: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

33

em minoria, de não-perecíveis (vasilhas

cerâmicas, ferramentas de pedra, corantes

minerais). Desse conjunto normalmente

sobrevivem apenas as vasilhas, as ferramentas

de pedra e, eventualmente, esqueletos humanos

e de animais diversos, conchas e ossos usados

como ferramentas ou enfeites. O reconhecimento

da existência desses objetos perecíveis, salvo

condições raras de conservação, só e possível

por meio de informações obtidas indiretamente

por pesquisas históricas, linguísticas e

antropológicas.

Figura 7: Fragmento cerâmico Guarani. Acervo:

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e

Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu

Mota

Page 36: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

34

Figura 8: Fragmento cerâmico Guarani. Acervo:

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e

Etno-história da UEM. Foto: Lúcio Tadeu

Mota

���� Os Xetá

O povo Xetá é conhecido e nominado, na

literatura, nos relatos de viajantes e em fontes

documentais, como: Botocudo, Héta, Chetá, Setá,

Ssetá, Aré e Yvaparé. Foi o último grupo indígena

contatado no Paraná, no final da década de 1940

e no início de 1950, quando a frente de ocupação

cafeeira chegou ao seu território tradicional, que

se estendia pelas margens do baixo rio Ivaí até a

sua foz, no rio Paraná.

A presença dos grupos Xetá no rio Ivaí e em

seus afluentes foi registrada por viajantes e

exploradores desses territórios desde a década

de 1840, quando Joaquim Francisco Lopes e

Page 37: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

35

John H. Elliot – empregados do Barão de

Antonina – fizeram contato com alguns deles nas

imediações da foz do rio Corumbataí, no Ivaí.

Posteriormente, em 1872, o engenheiro inglês

Thomas Bigg-Whiter capturou um pequeno grupo

nas proximidades do Salto Ariranha, também no

rio Ivaí. No início do século XX, em 1910, Albert

V. Fric ouviu dos Kaingang a informação da

presença de pequenos grupos Xetá no interflúvio

dos rios Ivaí e Corumbataí, muito acima do local

onde os Xetá foram contatados nos anos de

1950. Junto ao grupo Kaingang do cacique

Paulino Arak-xó, que vivia no salto Ubá, Fric

encontrou cativos Xetá, com os quais efetuou um

primeiro registro de vocabulário.

Esses locais de caça e coleta, os encontros

e confrontos com os exploradores do rio Ivaí, e os

conflitos com os Kaingang, que resultavam em

capturas e dispersão dos Xetá, fazem parte da

memória de sobreviventes Xetá mais velhos. Um

deles teve seu pai capturado no início do século

XX, porém conseguiu fugir e retornou para seu

grupo familiar na região da Serra dos Dourados

(SILVA, 1998, 2003).

Nessas primeiras décadas do século XX

muitos outros contatos foram noticiados, mas na

região conhecida como Serra dos Dourados,

onde hoje estão implantados os municípios de

Umuarama, Ivaté, Douradina, Icaraíma, Maria

Helena, Nova Olímpia, entre outros, é que se deu,

a partir de 1954, 1955 e mais principalmente em

fevereiro de 1956, o mais documentado encontro

com um grupo Xetá, que ocorreu entre

professores da UFPR e membros do Serviço de

Page 38: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

36

Proteção ao Índio-SPI da 7ª Regional de Curitiba

e dois meninos12 Xetá, capturados em 1952 por

agentes das Companhias de Colonização.

Apesar dos esforços dos professores da

Universidade Federal do Paraná (UFPR), do

Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI)

e de funcionários do SPI, o Governo do Estado do

Paraná vendeu os territórios Xetá para as

Companhias de Colonização, que os lotearam

para revenda aos interessados no cultivo de café

na região.

Até a década de 1990 os Xetá eram tidos

pelo órgão indigenista brasileiro Fundação

Nacional do Índio – FUNAI – como grupo extinto

ou quase extinto, pois constam nos seus dados

populacionais apenas cinco pessoas. No entanto,

a pesquisa antropológica de Carmen Lúcia da

Silva apontou que, ao contrário do que se

afirmava nos levantamentos oficiais, os Xetá não

estavam extintos.

Em 1997, por solicitação dos Xetá, foi

realizado o primeiro encontro dos seus

sobreviventes em Curitiba, intitulado “Encontro

Xetá: Sobreviventes do Extermínio”, com o apoio

do Instituto Socioambiental (ISA) e do Museu de

Arqueologia e Etnologia da UFPR (MAE), do qual

participaram todos os sobreviventes do grupo,

crianças, jovens, mais velhos e cônjuges, além do

Prof. Dr. Aryon Dall’Igna Rodrigues, que efetuou

os primeiros estudos da língua Xetá junto a um

grupo familiar na década de 1960 (1960, 1961 e

posteriormente em 1967).

12 Um deles viveu até o ano de 2008 e foi um dos colaboradores ativos do

estudo de Silva (1998; 2003).

Page 39: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

37

Como resultado desse encontro, os Xetá

solicitaram o seu reconhecimento enquanto

pertencentes à etnia Xetá e a retificação de seus

nomes nos registros civis, levando em conta os

registros que já vinham trabalhando na pesquisa

antropológica, os quais apresentavam como se

dava o sistema de nominação do grupo. Também

colocaram em pauta a indenização financeira de

suas perdas e a recuperação de seus territórios

tradicionais, na Serra dos Dourados, bem como

reivindicaram o retorno a seu território de origem,

nominando-o como Terra Indígena Herarekã

Xetá.

Atualmente os Xetá somam

aproximadamente 100 (cem) pessoas, em 25

(vinte e cinco) famílias. Estão em processo de

luta para que seu território tradicional seja

reconhecido junto à FUNAI, para que seus

direitos sejam reconhecidos e para se

reconstituírem enquanto povo e revitalizarem sua

cultura. Além da demanda para reaverem parte

de seus territórios, os Xetá solicitaram ao Estado

do Paraná um atendimento especifico e

diferenciado de: educação escolar indígena

bilíngue Português/Xetá; o ensino da sua história

na escola; produção de literatura e materiais

didáticos que retratem a realidade do povo,

trazendo inclusive a memória coletiva da antiga

sociedade narrada por seus pais, hoje

considerados “guardiões da memória Xetá”

(SILVA, 1998; 2003).

Page 40: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

38

���� Os Kaingang

A denominação Kaingang define

genericamente, ao mesmo tempo, a população e

o nome da língua por ela falada.

Embora exista uma volumosa bibliografia e

inumeráveis conjuntos de documentos não

publicados sobre esses povos, ainda se conhece

pouco sobre seus ascendentes pré-históricos.

Os resultados de estudos comparados –

Arqueologia e Linguística – apontam o Brasil

central como a região de origem dos Kaingang,

que ocuparam imensas áreas dos estados da

região sul, parte meridional de São Paulo e leste

da província de Missiones, na Argentina. Embora

não existam ainda datas mais antigas do que as

dos Guarani, e provável que os Kaingang e os

Xokleng tenham chegado primeiro ao Paraná,

pois em quase todo o Estado os sítios dos

Guarani estão próximos ou sobre os sítios

arqueológicos dos Kaingang e Xokleng.

Com a chegada dos Guarani, à medida que

iam conquistando os vales dos rios os Kaingang

foram sendo empurrados para o centro-sul do

Estado e/ou foram sendo confinados nos

territórios interfluviais, enquanto os Xokleng foram

sendo impelidos para os contrafortes da Serra

Geral, próximo ao litoral. A partir do final do

século XVII, quando as populações Guarani

tiveram uma drástica redução, os Kaingang

voltaram a se expandir por todo o centro do

Paraná.

Em meados do século XVIII, com as

primeiras expedições coloniais nos territórios hoje

Page 41: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

39

denominados Paraná, foi possível conhecer

parcialmente a toponímia empregada pelos

Kaingang para nominar seus territórios: Koran-

bang-rê (campos de Guarapuava); Kreie-bang-rê

(campos de Palmas); Kampo-rê (Campo Ere –

sudoeste); Payquerê (campos entre os rios Ivaí e

Piquiri, hoje nos município de Campo Mourão,

Mamborê, Ubiratã e outros, adjacentes);

Minkriniarê (campos de Chagu, oeste de

Guarapuava, no município de Laranjeiras do Sul);

campos do Inhoó (em São Jerônimo da Serra).

Os Kaingang: a produção da cerâmica

� Mulher Kaingang confeccionando cerâmica na T. I. Vanuire em SP em 1970. Fonte: Delvair M Melatti. Aspectos da organização social dos Kaingang Paulistas. FUNAI, 1976

� Vasilha reconstituída a partir de fragmentosencontrados em uma casa subterrânea no RS.Fonte: Pedro Ignácio Schmitz. CIÊNCIA HOJE •vol. 31 • nº 181

Figura 9

Page 42: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

40

���� Os Xokleng

A denominação Xokleng define

genericamente, ao mesmo tempo, a população e

o nome da língua por ela falada. Na bibliografia

arqueológica esses povos são conhecidos como

Tradição Itararé. Apesar da volumosa bibliografia

e de inumeráveis conjuntos de documentos não

publicados a seu respeito, ainda se conhece

pouco sobre seus ascendentes pré-históricos Sua

chegada e sua presença no Paraná já foram

resumidas no item sobre os Kaingang,

necessitando ainda de mais pesquisas para se

corroborar ou desabonar as conclusões e

hipóteses vigentes. Suas aldeias eram

geralmente pequenas, no interior das florestas,

abrigando poucos habitantes. Também ocupavam

abrigos sob rocha e casas semissubterrâneas.

Fabricavam vasilhas cerâmicas semelhantes às

feitas pelos Kaingang, a tal ponto que, devido às

pesquisas pouco sistemáticas realizadas até o

presente, ainda é problemático definir claramente

as diferenças.

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Atividades:

1. Você já viu alguma família indígena circulando por sua cidade? O que observou, a respeito?

2. Por ocasião da chegada dos europeus no Paraná, quais eram os povos indígenas que aqui se encontravam?

3. Recolha junto a sua comunidade (cidade, bairro ou vizinhos) o que eles sabem sobre os índios no Paraná.

Page 46: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

44

CAPITULO II O GUAIRÁ: A CONQUISTA E

AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS NOS

TERRITÓRIOS INDÍGENAS NO PARANÁ, DE

1500 A 1630

Nádia Moreira Chagas13

Lúcio Tadeu Mota14

Introdução

A História dos territórios entre os rios

Paranapanema ao norte e Iguaçu ao sul,

pertencentes hoje ao Estado do Paraná, está

inserida nos processos de ocupação da América

Meridional pelos europeus, no século XVI.

Denominados nos primeiros séculos da

colonização como Guairá, sua história é,

portanto, parte da História do Paraná Colonial,

13 Especialista pela UEM em Arqueologia, Etnologia e Etno-História do

Paraná, Mestre em História pela UEM, Profª. da Rede Estadual de Ensino, Núcleo de

Educação de Maringá, Pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de

Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História – UEM. E-mail:

[email protected] 14 Professor Associado no Departamento de História da Universidade

Estadual de Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de

Populações – Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. [email protected]

[email protected]

Page 47: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

45

que inicia com a chegada dos europeus ao litoral

meridional da América do Sul.

Para conhecermos a história de períodos

mais remotos sobre a região temos que recorrer à

historiografia clássica da Bacia Platina, sobre a

história do Paraguai e da Argentina, e também a

estudos sobre os bandeirantes paulistas.

A relevância dessa historiografia está no

debate sobre a ocupação do atual Paraná e no

reconhecimento das populações que aqui viviam,

a fim de se desmistificarem algumas ideias, como

a de que a região era um deserto a ser

desbravado.

A ocupação dos territórios do atual Paraná e

as relações interculturais ocorridas entre o início

da colonização até o século XVII possibilitam

compreender os contatos que ocorreram antes e

depois da chegada dos europeus. Ou seja, é

possível reconstruir a história de povos que foram

considerados etnocentricamente como sem

história, por não dominarem a escrita

O importante nos estudos da ocupação

desses territórios é determinar o impacto da

conquista sobre as sociedades indígenas que

aqui viviam, procurando se entender como se

desenvolveram as estruturas sociais e

compreender que os europeus não foram os

únicos sujeitos que fizeram a história desta parte

do continente americano.

A história da conquista dos territórios entre

os rios Paranapanema e Iguaçu, os quais mais

tarde se tornariam o Estado do Paraná, está

presente em alguns autores clássicos da

historiografia paranaense, dentre os quais se

Page 48: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

46

destacam: Silveira Neto, que escreveu no início

do século XX; David Carneiro, um dos que mais

escreveu sobre o Paraná; Romário Martins, autor

da ideia do paranismo; Faris A. S. Michaelle, que

aborda a presença indígena e as dificuldades que

tornavam seu estudo difícil; Altiva P. Balhana,

Brasil P. Machado e Cecília M. Westphalen, que

tratam da descoberta do ouro e da procura do

indígena para o trabalho no estabelecimento do

português; Ruy C. Wachowicz, com sua

publicação didática sobre a História do Paraná.

Na década de 1980, Cecília M. Westphalen e

Jaime A. Cardoso publicaram o Atlas Histórico do

Paraná. Existem ainda outras obras mais

recentes, na década de 1990, como a de Maria

A.M.S. Schmidt, que apresenta em publicação

paradidática uma História do Paraná, e ainda a de

Sérgio O. Nadalin, sobre a ocupação do território.

Pode-se dizer que algumas das obras mais

antigas seguem uma mesma linha de estudo:

indo da chegada dos europeus à formação de

vilas e povoações em regiões consideradas como

despovoadas, prontas para serem ocupadas, não

contando com a presença do indígena, o que

justificaria, assim, a prática da conquista dos

territórios empreendida pelos europeus. Havia, na

verdade, uma política de omissão com respeito

aos povos indígenas, segundo a qual os

europeus acreditavam que, se não podiam fazer

esses povos desaparecerem, eles seriam então

integrados.

Page 49: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

47

Uma historiografia mais recente15 discute a

ocupação do Guairá como uma guerra de

conquista, ou seja, a exploração das populações

indígenas pelos conquistadores não foi sem

obstáculos como afirmam muitos autores, e a

conquista dos seus territórios também não

ocorreu de forma pacífica. Em todos os

momentos, e por várias etnias, a resistência foi

renhida e sangrenta. O território do Guairá, que

compreendia quase todo o Paraná, foi local de

trânsito de portugueses e espanhóis que iam e

vinham de Assunção em direção às vilas do litoral

brasileiro, palco de guerras variadas e

constantes. A conquista desses territórios foi feita

palmo a palmo, com o uso da espada, do

arcabuz, da besta, da cruz, de doenças e de

acordos. Alianças foram estabelecidas e

rompidas, e de ambas as partes fidelidades foram

sacramentadas e traições meticulosamente

planejadas.

2.1 O GUAIRÁ E SUA POPULAÇÃO,

ENTRE 1500 E 1632

• O território

Por ocasião da expansão marítima, havia

uma divergência entre Portugal e Espanha sobre

os limites das terras que conquistaram. Isso levou

à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494),

15 Conferir os trabalhos de Lúcio Tadeu Mota, Francisco Noelli e outros

pesquisadores sediados no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história da Universidade Estadual de Maringá.

Page 50: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

48

segundo o qual o mundo ficaria dividido entre as

duas metrópoles coloniais, ou seja, as terras

descobertas e a descobrir seriam divididas entre

as duas nações. Pelas determinações desse

tratado, uma linha imaginária passaria a 360

léguas da Ilha de Cabo Verde, e todas as terras

que estivessem a leste pertenceriam a Portugal; e

a oeste, à Espanha.

O território do atual Paraná estava localizado

a ocidente dessa linha, mas não havia

concordância entre espanhóis e portugueses

quanto à divisão. Para

[...] cosmógrafos espanhóis caia no mar na altura de Iguape, embora para os portugueses terminasse na altura de laguna, e a expedição de (1532), ainda mais ao sul, procurasse estender o direito lusitano colocando marcos na foz do rio da Prata (MARTINS, 1995b, p. 59)16

A discussão sobre os limites territoriais

avançaram pelos séculos XVII e XVIII, quando se

estabeleceram as reais fronteiras nas nações. A

presença de portugueses avançando pelo sertão

após a linha de Tordesilhas foi intensa ao longo

dos séculos XVI e XVII, sentida, por exemplo,

pela atuação dos bandeirantes paulistas em

busca de metais preciosos e indígenas para o

trabalho escravo, o que determinou uma divisão

diferente da estabelecida.

O que se pode afirmar é que, pela divisão

imposta pelo Tratado de Tordesilhas de 1494,

ficava bastante evidente que a quase totalidade

do atual território do Paraná era domínio dos 16 Cf. MARTINS, 1995b, p. 59.

Page 51: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

49

espanhóis, ficando para os portugueses uma

pequena faixa de terra do litoral.

Informações detalhadas sobre o Guairá são

encontradas nos escritos do historiador e

conquistador Ruy Diaz de Guzmán, sobrinho-neto

de Don Álvar Nuñes Cabeza de Vaca, o primeiro

espanhol que passou por essas terras e as

denominou de Província de Vera. Para o autor, o

território correspondia aos [...] campos que corren

y confinan com el Río de la Plata, que llaman de

Guayra.17

O delineamento do Guairá também é

encontrado nos escritos do Padre Nicolas del

Techo, segundo o qual

[...] El Guairá está situado en la parte del Paraguay que mira al Brasil y al Occidente del rio Paraná; por el Sur acaba en los campos que baña el Uruguay, y por Norte en selvas y lagunas no bien conocidas; su extensión es considerable […]18

17. Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de 1836, p. 32 e 67. Com respeito a essa

demarcação, na mesma obra, no Índice Geográfico e Histórico, p. 392, existe a explicação

de que o Guairá era um “[...] Vasto e inculto território entre las províncias meridionales del

Brasil y el Paraguay y tan poco conocido que no es posible demarcar sus limites [...]”, ou

seja, o autor erra quando diz que a região limitava-se com o Rio da Prata. 18 Cf. TECHO, Nicolas del. [1673], 2005, p. 196),

Page 52: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

50

Figura 1. Mapa do Guairá

Fonte: Ramon Cardoso, 1918

• O encontro

Como vimos no capitulo anterior, o sul do

Brasil e mais especificamente o Paraná, quando

da chegada dos europeus, estava habitado pelas

populações falantes do tronco linguístico Tupi, no

caso os Guarani e Xetá, e os falantes das línguas

do tronco Macro-jê, os Kaingang e Xokleng.

Dessa forma, os marinheiros que desembarcaram

dos navios espanhóis e portugueses na costa sul

do Brasil fizeram contato primeiro com os Carijós,

como eram chamados os Guarani, e quando eles

começaram a percorrer o interior passaram a ter

contatos com populações de fala diferente dos

Carijós, os grupos falantes do tronco linguístico

Jê, hoje conhecidos como Kaingang e Xokleng.

Page 53: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

51

Os primeiros contatos de europeus com as

populações indígenas no Guairá ocorreram a

partir do início do século XVI, quando os navios

portugueses e espanhóis começaram a aportar

no litoral sul. Esses navegantes procuravam, num

primeiro momento, uma passagem para as Índias,

até que em 1520 Fernão de Magalhães cruzou o

estreito que levaria seu nome, no extremo sul do

continente, e alcançou o objetivo de chegar às

Índias navegando para o ocidente. A partir da

descoberta de ouro e prata no Peru, o principal

objetivo desses europeus era chegar ao Império

Inca, e para isso a travessia do território do

Guairá era uma opção se não quisessem

contornar todo o sul até o Rio da Prata e subir o

rio Paraguai.

Dessa forma é que os navegadores

realizaram contato com os Guarani, e com eles

fizeram as primeiras trocas comerciais. Objetos

vindos da Europa, principalmente artefatos de

metais, foram trocados por comida, lenha, peles

de animais, pássaros e outras raridades de

interesse dos marujos. Também deixaram no

litoral os “desterrados”, ou “náufragos”. Nesse

momento pode-se constatar que relações entre

povos diferentes ocorreram em torno dessas

trocas, e o objetivo de descobrir se havia metais

preciosos na região aceleraram esses contatos.

Pelo lado dos portugueses e espanhóis, a busca

de metais, pedras preciosas e outras mercadorias

de valor a serem comercializadas na Europa; e

pelo lado dos indígenas, a possibilidade de

acessar ferramentas de metal e outros objetos

trazidos da Europa foram o motor dessas

Page 54: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

52

relações interculturais, de populações

diferenciadas culturalmente, no Guiará.

Foram inúmeras as armadas e embarcações

vindas da Europa que passaram no litoral sul do

Brasil ou aí aportaram, nos primeiros 30 anos da

conquista.

Quadro 1: Embarcações vindas da Europa que

aportaram no sul do Brasil até 1535

D

ATA

VIAJA

NTE

A

RMAD

A

LOCAIS de

CHEGADA

DESEMBARQUE

DE TRIPULANTES

1

501/08/

17

Gonzal

o Coelho

Américo

Vespúcio

3

Caravel

as

Cananéia SP

Oceano

Atlântico 53º

Latitude. Sul altura

de Punta Arenas na

Patagônia

Em Cananéia

15/02/1502, G. Coelho

deixa um degredado

(Bacharel de Cananéia)

1

503/08/

10

Gonzal

o Coelho

Américo

Vespúcio,

João Lopes

de Carvalho e

João de

Lisboa –

Pilotos

6

Caravel

as

Bahia de

Todos os Santos

BA, até São

Vicente SP

Foram deixados 24

homens em uma fortaleza

em São Vicente, em São

Paulo, daí entraram 40

léguas terra adentro

1

504/01/

05

Binot

Paumier de

Gonneville

1

Navio

L’Espoi

r

Espera

nça

São

Francisco do Sul

SC,

Desembarcaram

nesse local onde

permaneceram seis meses:

de janeiro a julho de 1504,

vivendo com os Guarani do

cacique Arosca

1

514/07/

00

Estevã

o Frois e João

de Lisboa

2

Caravel

as

Cabo de

Santa Maria –Punta

del Leste Uruguai

Encontro com os

índios Charruas depois de

subirem 300 Km pelo Rio

da Prata

1

516/01/

00

Juan

Dias de Solis

2

Caravel

as

Cananeia,

Santa Catarina, Rio

da Prata

Solis e seus homens

foram mortos na

embocadura do rio Uruguai

no Rio da Prata, ficando

vivo Francisco Del Puerto,

um grumete de 14 anos

Page 55: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

53

1

516/08/

00

Cristóv

ão Jaques

3

Naus

Cabo Frio,

Rio de Janeiro,

Santa Catarina

Jaques fora

nomeado guarda- costa do

Brasil, pelo Rei de Portugal.

Perseguiu os espanhóis e

franceses que aportaram

na costa brasileira

1

519/12/

13

Fernan

do de

Magalhães

4

Naus e

1

Caravel

a

Rio de

Janeiro, Rio da

Prata (1520/01/11)

Contornou o estreito

que levou seu nome na

Patagônia

1

521/00/

00

Cristóv

ão Jaques

2

Caravel

as

Santa

Catarina

Em SC recolheu

Melchior Ramires, um dos

náufragos da expedição de

Solis, e subiram 200 Km

acima no rio Prata, na Ilha

de São Gabriel, onde

encontrou Francisco Del

Puerto. Subiu o rio mais

140 Km, até onde hoje é a

cidade argentina de

Rosário

1

526/08/

00

Jofre

de Loyasa,

D.Rodrigo de

Acuña

Porto dos

Patos SC

Estavam

percorrendo a rota de

Magalhães, e por mau

tempo tiveram que voltar às

costas do Brasil

1

526/10/

31

Sebasti

ão Caboto

(Veneziano)

3

Naus

Santa

Catarina

Caboto encontrou

Henrique Montes, náufrago

de Solis, que lhe deu

noticias da expedição de

Aleixo Garcia ao Peru.

Caboto entrou no rio da

Prata, navegou os rios

Paraguai e o Paraná

1

528/05/

07

Diego

Garcia

1

Nau e 1

Galeão

São Vicente,

Cananéia(1528/01/

15),

Encontrou com

Caboto descendo o rio

Paraná. Seu destino era as

Ilhas Molucas na Ásia

1

531/01/

00

Martin

Afonso de

Souza

1

Galão,

2 Naus,

2

Caravel

as

Percorreu o

litoral sul do Brasil

até Punta Del

Leste, no Uruguai.

Pero Lopes subiu o

rio Paraná e na volta

estiveram na Baía de

Paranaguá

1 Pedro Percorreu o

Page 56: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

54

535/00/

00

de Mendonça litoral sul do Brasil

e foi fundar a

cidade de Buenos

Aires

Quando os primeiros europeus começaram a

desembarcar no litoral sul do Brasil para

abastecer seus navios com água, lenha e

alimentos, ou foram deixados como desterrados

ou náufragos, eles tomaram conhecimento, por

meio dos Guarani, das enormes riquezas

existentes a oeste dos seus territórios. Em

conjunto com esses índios prepararam

expedições para irem até as terras onde existiam

ouro e prata em abundância. Começou então o

processo de desvendamento e conquista dos

territórios indígenas do interior do que seria mais

tarde o Estado do Paraná.

Do litoral os conquistadores subiram a Serra

do Mar em direção ao poente, rumo às minas de

prata na Cordilheira dos Andes. As primeiras

expedições, como a de Aleixo Garcia em 1522,

tiveram o objetivo de fazer o reconhecimento e

descobrir a origem do ouro encontrado com os

Carijós na costa de Santa Catarina.

Acompanhados de cerca de 2 mil Guarani, a

viagem demorou três anos. Partiu do litoral de

Santa Catarina, passou pelo interior do Paraná,

pelo Paraguai e pela Bolívia, até chegar ao Peru,

nas periferias do Império Inca; na volta, em 1526,

Garcia foi morto pelos Guarani na região da Foz

do Iguaçu. A história dessa expedição foi contada

e recontada na tradição oral dos Guarani até que

Page 57: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

55

chegou aos ouvidos dos primeiros cronistas

espanhóis em Assunção, no Paraguai.19

Interessado em buscar riquezas no sertão,

Martim Afonso de Souza enviou de Cananeia, a

Francisco de Chaves e Pero Lobo juntamente

com 80 homens, rumo ao interior do Paraná, por

terra. Esses homens foram mortos pelos Guarani

em algum lugar entre Sete Quedas e Foz do

Iguaçu, provavelmente em 1531. Podem ter

seguido os mesmos caminhos percorridos por

Aleixo Garcia.

Dez anos depois, quando já havia sido criada a

cidade de Nossa Senhora de Assunção, a capital

do Paraguai, Dom Alvar Nuñez Cabeza de Vaca,

após várias aventuras na América do Norte, veio

tomar posse e comandar a província do Paraguai,

em nome do Rei da Espanha. Desembarcou na

ilha de Santa Catarina, e no final de 1541,

partindo da foz do rio Itapucu, rumou para

Assunção no Paraguai, aonde chegou quatro

meses depois, acompanhado por 250

arcabuzeiros e balesteiros. Durante a expedição

foi acompanhado por centenas de índios Guarani.

A cada novo território que ingressava a expedição

dispensava os acompanhantes do território

anterior, e mediante pagamentos em espécie

(machados, contas, etc.) integrava novos guias

para o percurso seguinte. Subiram a Serra do

Mar, alcançaram o rio Negro (na altura de Rio

Negrinho - SC) e desceram até a sua

desembocadura, no rio Iguaçu. Para contornar o

19 Cf. GUZMÁN, Ruy Diaz de. La Argentina. Emece, Buenos Aires, [s.n.,

]1998, p. 50-59.

Page 58: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

56

território dos Kaingang20 tiveram de atravessar o

rio Iguaçu e se dirigiram a noroeste em direção às

cabeceiras do rio Tibagi. Nas proximidades da foz

do rio Iapó no Tibagi, na atual cidade de Tibagi, a

expedição dirigiu-se para oeste até chegar ao rio

Ivaí. Dali Cabeza de Vaca rumou para o

sudoeste, atravessando o rio Piquiri até alcançar

o rio Iguaçu, a poucos quilômetros de sua foz, de

onde seguiram até Assunção.

O relato de Alvar Nunez Cabeza de Vaca é

importante na medida em que descreve, ao longo

de sua expedição, o contato e a entrada em

territórios pertencentes a diferentes grupos

Guarani, e desvia no seu trajeto dos territórios

Kaingang em Guarapuava e Palmas. Esse foi o

primeiro documento a informar que quase todo o

interior do Paraná estava habitado e, ao mesmo

tempo, a mostrar que havia uma divisão política

entre esses diversos grupos de mesma matriz

cultural, organizados politicamente em

cacicados.21 E ainda que indiretamente, devido à

imensa volta que a expedição fez não seguindo o

vale do rio Iguaçu, isso nos dá uma noção da

extensão do território dominado pelos Kaingang

nos Koran-bang-rê (Campos de Guarapuava).

20. O Barão de Capanema sustenta que Cabeça de Vaca deu uma volta de

mais de 80 léguas, evitando seguir diretamente pelas margens do rio Iguaçu ou pelos

campos de Guarapuava ao norte, e os campos de Palmas ao sul desse rio, porque esses

eram territórios ocupados por índios ferozes, mais valentes que os guaranis. Cf.

CAPANEMA. Questões a estudar em relação aos princípios da nossa história. RIHGB,

52(1):499-509. Cabeza de Vaca evitou transitar pelos territórios dos Kaingang, por isso

desviou-se dos Koran-bang-rê (campos de Guarapuava) e dos Kreie-bang-rê (campos de

Palmas) e seguiu o caminho indicado pelos Guarani ao norte. 21 Conjunto de aldeias sob a liderança de um prestigioso cacique, que

dominava certas porções de territórios bem definidos.

Page 59: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

57

Rota aproximada da expedição de Dom Alvar Alvar Núñez Cabeza de Vaca - 1541

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-HistóriaUniversidade Estadual de Maringá

Denominação: Data:

Fevereiro de 2011

Fontes:

Autores: Éder da Silva Novak; Everson Cézar; Juliano Martins da SilvaMarcelo Luiz Chicati; Marcos Rafael Nanni; Lúcio Tadeu Mota

Cartas Topográficas do Estado do Paraná

Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações

Rio Paranapanema

Rio

Tibagi

IvaíRio

Piquiri

Iguaçu

Rio

Rio

Paraná

Rio

Rio Itapocú SC

P/ Assunção

Rios

Rota da Expedição deCabeza de Vaca

Rota da Expedição deCabeza de Vaca - 1541 Relatos do Cabeza

de Vaca

Figura 2: Rota aproximada da expedição de Dom Alvar Alvar Núñez Cabeza de Vaca - 1541

Os contatos entre europeus e indígenas no

litoral do Paraná também foram registrados por

Hans Staden. Viajando em direção ao Rio da

Prata na expedição do adelantado Diego de

Sanabria, sob o comando de Juan de Salazar, ele

naufragou em 1550 na baia de Paranaguá, no

porto de Superagui.

Staden foi um dos que primeiro escreveu

sobre o litoral do Paraná e sua população, como

podemos conferir em: Duas viagens ao Brasil.

Relata que ele e sua expedição, depois das

manobras e dos perigos que tiveram que

enfrentar numa noite de tempestade,

conseguiram aportar em algum lugar da Baía de

Paranaguá, onde encontraram degradados

portugueses vivendo com os índios Tupiniquins.

Vejamos:

Page 60: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

58

[...] nos disseram que o porto onde estávamos era Supraway, que estávamos a 18 léguas de uma ilha chamada S. Vicente, [...] La moravam eles e aqueles outros que tínhamos visto no barco pequeno a fugirem por pensarem que eramos franceses. Perguntamos também a que distância ficava a ilha de Santa Catarina, para onde queríamos ir. Responderam que podia ser umas trinta milhas para o Sul e que lá havia uma tribo de selvagens chamados Carios e que tivéssemos cautela com eles. Os selvagens do porto onde estávamos chamavam-se Tuppin Ikins (STADEN, 2000, p. 38-39).22

Dessa forma, os dois portugueses que

viviam com os índios na Baia de Paranaguá

informaram que o lugar se chamava Supraway

(Superagui), e que os índios que ali viviam eram

os Tuppin Ikins (Tuniquim), que dominavam a

costa de Paranaguá até São Vicente e eram

aliados dos portugueses. Informaram também

que ao sul de Superagui encontravam-se os

Carios (Guarani), inimigos dos Tupiniquim.

22 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.

38-39

Page 61: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

59

Figura 3: Superagui – Xilogravura de Hans Staden

Fonte: (STADEM, 2000, p 38).

Em 1544, Domingos Martínez de Irala, então

governador do Paraguai, saiu de Assunção e veio

ao Guairá apresar índios para as encomiendas.

Fundou a cidade de Ontiveros junto ao rio

Paraná, pouco acima da foz do Iguaçu. No início

da década seguinte, em 1551, Diego de Sanabria

viajou pelo mesmo itinerário de Cabeza de Vaca.

Page 62: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

60

Ainda nesse ano, Cristoval de Saavedra

atravessou a região indo do Paraguai até o porto

de São Vicente, em São Paulo. No ano seguinte,

Hernando de Salaza também fez o mesmo

roteiro, de Assunção no Paraguai até o porto de

São Vicente, em São Paulo. Esse também foi o

roteiro percorrido por Ulrich Schmidl, no mesmo

ano. Ele partiu de Assunção em 1552,

acompanhado de 20 índios Guarani, com destino

ao porto de Santos, aonde chegou em 1553.

Ruy Dias Melgarejo, em 1553/1554, percorreu

duas vezes o interior do Paraná, desde Ontiveros

até São Vicente, e regressou em 1555, partindo

do litoral, em Santa Catarina, e seguindo o

mesmo roteiro de Cabeza de Vaca, pois ele havia

participado em 1541 da expedição de Don Alvar

Nunez. Melgarejo teve um destacado papel entre

os conquistadores espanhóis no interior do

Paraná, pois conduziu a fundação de Ciudad Real

del Guairá (foz do rio Piquiri, município de Terra

Roxa) e participou da segunda fundação de Villa

Rica del Spiritu Sancto, junto à foz do rio

Corumbataí, município de Fênix, hoje Parque

Estadual de Vila Rica do Espírito Santo23.

O ano de 1555 foi marcado por várias

ocorrências nesses territórios. Francisco de

Gambarrota veio do Paraguai até o porto de São

Vicente, em São Paulo. Nuflo Chaves saiu de

Assunção para combater e apresar índios no

Guairá, e Juan de Salazar e Cipriano de Góes

fizeram o caminho inverso, partindo de São

Vicente para o Paraguai.

23. FRANCO, Francisco de Assis Carvalho. Dicionário de bandeirantes e

sertanistas do Brasil. [S.l.: s.n.],, 1954. p. 241.

Page 63: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

61

No ano de 1588 os padres Manuel Ortega e

Thomas Fields percorreram o Guairá fazendo

trabalho missionário. A expedição dos padres

coletou informações sobre a região, e os dados

foram passados ao governador de Assunção,

relatando sobre a existência de “milhares de

índios Guarani” vivendo ali (MOTA, 2005,p. 25).

Como se viu, todos os viajantes informaram

sobre a existência de numerosos índios no

território, inclusive de grupos distintos –

Kaingang, além dos Guarani, que predominavam

na região. Os contatos muitas vezes resultaram

em lutas e morte, tanto de portugueses quanto de

espanhóis, pelos índios, mas também em

conquista e desagregação dos indígenas, por

meio dos europeus. Praticamente nada ocorreu

de forma pacífica, havendo resistência por parte

dos indígenas.

Nesse contexto é que os espanhóis

procuraram dominar e estabelecer-se cada vez

mais para o ocidente do Paraná, para defender as

terras segundo o Tratado de Tordesilhas de 1494.

Nessa região eles fundaram Ontiveros, perto da

foz do Piquiri (1544); Ciudad Real del Guairá, na

confluência do Piquiri, no Paraná (1555), e Vila

Rica del Espiritu Santu, em 1576, que foi

transferida para perto da foz do rio Corumbataí,

hoje no município de Fênix (Parque Estadual de

Vila Rica do Espírito Santo)

As relações entre os espanhóis nas recém-

fundadas vilas e os Guarani, que eram

numerosos, não eram boas, pois os indígenas

foram obrigados ao trabalho nas encomiendas, o

que provocou diversas formas de resistências.

Page 64: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

62

Essas resistências e a fuga para locais distantes

das vilas espanholas levou parte dos

conquistadores, no caso os religiosos, a traçarem

uma nova estratégia para a conquista das almas

dos indígenas. Essa nova estratégia foi a

organização das reduções jesuíticas como forma

de catequizá-los.

• Caminhos

Certamente pode-se ainda falar sobre as

relações ou os encontros de indígenas com os

europeus, na região do Guairá, no período que

vai até a destruição das reduções jesuíticas,

considerando-se que a comunicação dentro dos

territórios realizava-se por meio de diversos

caminhos, os quais foram percorridos pelos

viajantes, exploradores europeus, desde o início

do século XVI: ligavam o litoral ao planalto, mas

também havia rotas terrestres que se estendiam

do Rio Grande do Sul, por Santa Catarina, até os

territórios do Paraná e de São Paulo.

Assim como os espanhóis e os jesuítas, os

bandeirantes paulistas também transitaram

intensamente na região, e com toda a certeza

pelos caminhos e pelas trilhas construídos pelos

índios. As penetrações pelo território foram feitas

pelos vales dos grandes rios (Iguaçu, Tibagi, Ivaí,

etc.). As vias de comunicação, chamadas de

“caminhos históricos” eram de condições de difícil

trânsito, mas é por onde também passaram, num

período posterior, tropas de gado bovino e muar.

Esses caminhos tiveram muita importância na

ocupação dos territórios do atual Paraná. Alguns

Page 65: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

63

deles ficaram conhecidos como Caminho do

Peabiru, de Cubatão, do Itupava e do Arraial, de

Sorocaba e Viamão. Este último teve grande

importância na formação de diversas cidades do

Paraná Velho, indo ele do Rio Grande do Sul até

Sorocaba, atravessando o Paraná.

Quadro 2. Viajantes e conquistadores que

cruzaram os territórios indígenas, hoje

denominados Paraná, no século XVI e

inicio do XVII

A

no de

entrada

Destino da

Entrada ou Bandeira

Chefe da

Bandeira

15

25 Viagem ao Peru Aleixo Garcia

15

26 Paraguai

Jose

Sedenho

15

28 Rio da Prata Diogo Garcia

15

31 Paraguai

Francisco de

Chaves e Pero

Lobo

15

34 Paraguai

Antonio

Lopes de Aguiar,

Martim de Orue

15

38 Rio da Prata

Gonçalo

Mendonça

15

41

Paraguai/Assumpç

ão

Alvaro Nunez

Cabeza de Vaca

15

44 Guairá

Domingos

Martinez de Irala

15

51

Paraguai/Assunçã

o

Diego de

Senabria

15

51

Paraguai para São

Vicente

Cristoval de

Saavedra

Page 66: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

64

15

52 Assunção

Nuflo de

Chaves

15

52

Paraguai para São

Vicente

Hernando de

Salazar

15

52

Paraguai para São

Vicente

Ulrich

Schmidl

15

54

Ontiveros para

São Vicente

Ruy Dias

Melgarejo

15

55

Assunção para o

Guairá

Nuflo de

Chavez

15

55

Assunção para o

Guairá

Rodrigo de

Vergara

15

55 Paraguai

João de

Salazar e Espinosa

15

55

Paraguai para São

Vicente

Francisco de

Gambarota

15

55

São Francisco SC

para Assunção

Ruy Dias

Melgarejo

15

56

São Vicente para

o Paraguai

Juan de

Salazar e Cipriano

de Goes

15

57

Ciudad Real del

Guairá

Ruy Dias de

Melgarejo

15

76

Cidade Real do

Guairá para Vila Rica

do Espírito Santo

Ruy Dias

Melgarejo

15

81 Guairá

Jerônimo

Leitão

15

85

São Vicente para

Paranaguá

Jerônimo

Leitão

15

88 Guairá

Padres

jesuítas Ortega e

Fields

15

94

São Vicente

Paranaguá Jorge Correia

15

95 Paranaguá

Manoel

Soeiro

Page 67: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

65

16

01 Guairá

Hernando

Arias de Savaedra

16

02

São Paulo para o

Guairá

Nicolau

Barreto

16

07

São Paulo para o

Guairá Manoel Preto

16

07

Paraguai via

Paraná

Pedro Franco

de Torres

16

11 Guairá

Pedro Vaz de

Barros

16

15 Santa Catarina

Lázaro da

Costa

16

16

São Paulo para o

Paraguai

Antonio

Fernandes

16

23

São Paulo para o

Guairá

Henrique da

Cunha Gago

16

23

São Paulo para o

Guairá

Manuel e

Sebastião Preto

16

28

São Paulo para o

Guairá

Antonio Luis

Grou

16

28

São Paulo para o

Guairá

Antonio

Raposo Tavares

16

28

São Paulo para o

Guairá

Nicolau

Barreto

16

31

São Paulo para o

Guairá

Antonio

Raposo Tavares

16

31

São Paulo para o

Guairá

Cristóvão

Diniz

16

48

São Paulo para o

Guairá

Antonio

Domingues

16

48

São Paulo para o

Guairá

Antonio

Raposo Tavares

Fonte: Adaptado de JACOMINI, 2003.

2.2 AS REDUÇÕES JEDUÍSTICAS NO

GUAIRÁ

Page 68: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

66

A atuação dos jesuítas no Guairá iniciou bem

antes da fundação das reduções. Os documentos

da Coleção de Angelis, de jesuítas e bandeirantes

no Guairá, compõem-se de várias cartas,

informes e outros documentos que dão conta de

todo esse trabalho. Os documentos tratam da

doação de terras para a Companhia de Jesus na

região, feita pelo governo do Paraguai; sobre as

encomiendas de índios também dessa região aos

espanhóis conquistadores; e incluem toda

espécie de documentos relativos ao apoio que se

deveria dar aos padres para o início das

reduções.

Um desses documentos, por exemplo, diz

respeito a uma ordem do governador do Paraguai

e Rio da Prata, D. Antonio de Añasco, para que

em Ciudad Real se dessem apoio aos padres a

fim de que fundassem reduções no rio

Paranapanema e no Tibagi. É um documento da

referida Coleção em que é possível se entender

que os padres receberam apoio para tal

empreendimento, e também que era do interesse

dos espanhóis que os indígenas estivessem

reduzidos, evangelizados e civilizados. O

documento é do ano de 1609. As primeiras

reduções do Guairá foram organizadas em 1610,

como se lê:

[...] Por el presente mando al cap. Pero garçia y outra qualquer Justiçia de guayra, que en ninguna manera precisa asta que outra cosa se ordene y mande, no salgan ni embien a hacer malocas

Page 69: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

67

Jornadas ni entrada ninguna a la Provª del yparanapane y Atibaxiva, ni outro ningun rio que cayga en el paranapane, porquanto de presente se pretende reduçir a los naturalles della por médio del Padre Joseph Cataldino y el P. Simon Maseta de la compañia del nombre de Jesus a quien les esta cometida la dha reduçion, antes para Ella les acudiran y haran acudir con todo el favor y ayuda que fuere neccessº [...] (CORTESÃO, 1951, p. 137.24

Assim, Nossa Senhora do Loreto e Santo

Inácio, nas margens do rio Paranapanema, foram

as primeiras reduções jesuíticas fundadas no

Guairá, e após elas mais 12 outras se

organizaram, nos vales dos rios Paraná, Iguaçu,

Piquiri, Ivaí, e Tibagi.

As reduções de São José, São Francisco

Xavier, Encarnación e São Miguel localizaram-se

no Vale do Rio Tibagi. Nas margens do Rio Ivaí

localizavam-se as reduções de Jesus Maria,

Santo Antônio e São Paulo. São Tomás e Sete

Arcanjos estavam nas terras do cacique Taioba

(Cortesão, 1951, p. 245). Nas cabeceiras do Rio

Piquiri, as de São Pedro e Concepção. E

finalmente, no médio Piquiri, a redução de Nossa

Senhora de Copacabana, totalizando as 14

reduções conhecidas, fundadas na região do

Guairá.

24 . CORTESÃO, Jaime. Jesuítas e bandeirantes no Guairá. Rio de

Janeiro: Biblioteca Nacional, 1951. p. 137.

Page 70: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

68

Figur

a 12

: As

Redu

ções

Jes

uítica

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idade

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me

Luiz

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ere

ira

Figura 4: Mapa do Paraná com as reduções jesuíticas

Fonte: Adaptado de MOTA; NOVAK, 2008

O padre Antonio Ruiz de Montoya informa o

significado do termo redução:

Chamamos reduções aos povos de índios que vivendo à sua antiga usança nos montes, foram reduzidos pelas diligências dos padres a povoações grandes e à vida política e humana (MONTOYA, 1639, p. 6).

Page 71: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

69

O ato de reduzir os indígenas em povoados

tinha o objetivo de ensinar a doutrina católica e

promover a civilização, como pretendia a

Companhia de Jesus.

Capdeville (1923, p. 19) diz:

Se entiende por Misiones Jesuiticas, los establecimientos fundados por los jesuítas em América para la civilización y la formación cristana de los índios [...]. Se las há llamado también Reducciones, porque mediante um sistema particular, trataron los Jesuitas de hacer pasar a los índios de la vida salvaje de los bosques a la vida Cristiana de la comunidad.

É preciso anotar, também, que os conceitos

de missões, reduções e doutrinas foram usados

para designar as povoações de indígenas sob o

governo teocrático dos jesuítas.

A organização das reduções não foi bem-

vista nem pelos fazendeiros espanhóis instalados

no Guairá nem pelos paulistas da recém- fundada

São Paulo de Piratininga. Estes últimos já faziam

incursões no Guairá para prear índios desde o

inicio do século XVII. No limiar dos anos

seiscentos os portugueses chegaram à região em

busca do seu butim: escravos indígenas para o

trabalho nas fazendas paulistas, metais preciosos

e outras riquezas25. Porém, desde a fundação de

São Vicente eles já preavam os Guarani do litoral

e da encosta das serras paranaenses.

25. Sobre a preação de índios na região para o trabalho escravo em São Paulo, ver o

livro de MONTEIRO, John M. Negros da terra. São Paulo: Cia das Letras, 1994.

Page 72: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

70

Em 1602 Nicolau Barreto desceu o rio Paraná,

passando pelo Guairá rumo às minas de Potosi,

no Peru. Em 1607 foi a vez de Pedro Franco de

Torres atravessar a região rumo ao Paraguai para

fazer o roteiro já conhecido desde meados do

século XVI. Nesse mesmo ano Manuel Preto, um

dos maiores preadores de índios da época, dirigiu

uma bandeira para o aprisionamento dos índios

Guarani nas proximidades da cidade espanhola

de Vila Rica do Espírito Santo. Procurando

medidas estratégicas para conter as investidas

dos bandeirantes paulistas contra o “seu” butim, o

Rei da Espanha criou a Província del Guairá em

1608, que abarcava praticamente quase todo o

Paraná.

Ignorando as medidas protecionistas da coroa

espanhola, Manuel Preto, acompanhado pelo

temido Raposo Tavares, voltou ao Guairá em

busca de mais índios nos anos de 1611, 1618,

1623 e 1628. Seu fim foi a morte por ferimentos

de flechas em plena campanha de

aprisionamento de índios no sul do Brasil

(AZEVEDO, 1983).26.

As primeiras décadas do século XVII foram

marcadas por uma intensificação das ações dos

europeus no Guairá. De um lado houve os

choques entre os índios Guarani e os

encomendeiros espanhóis, que os exploravam no

trabalho semiescravo da coleta da erva-mate. Os

padres jesuítas, em sua pregação religiosa,

tentavam inculcar os valores da sociedade

invasora junto às populações indígenas

26 . Cf. AZEVEDO, Victor de. Manuel Preto “O herói de Guairá”. São Paulo:

Governo do Estado de São Paulo, 1983.

Page 73: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

71

existentes na região. Contrariando os interesses

dos encomendeiros espanhóis e dos padres da

Companhia de Jesus vieram os paulistas, com a

intenção de buscar seu butim.

De uma perspectiva oposta, os índios faziam

uma leitura própria da conjuntura, resultando

eventualmente em alianças, acordos e guerras, o

que torna complexo o entendimento sobre os

fatos ocorridos nas relações deles com os

invasores de seus territórios. Disso resulta que a

análise histórica da ocupação da região não pode

ser dicotômica: índios contra brancos ou vice-

versa. Devem-se considerar os grupos

conquistadores europeus e seus interesses

localizados, bem como os Guarani e os Kaingang,

que eram inimigos mas que, estrategicamente,

estabeleceram alianças entre si. Alianças

explícitas ou não, o fato de que em determinados

momentos um grupo indígena podia procurar as

reduções, mesmo sendo refratário à pregação

missionária, pode significar apenas uma tática

política momentânea para se livrar dos invasores

paulistas ou do trabalho escravo nas

encomiendas espanholas.

Destruídas as reduções jesuíticas, as

populações indígenas se dispersaram: parte foi

para o sul junto com os padres fundar os sete

povos das missões no Rio Grande do Sul, e outra

parte voltou a ocupar seus antigos territórios. Mas

a região não deixou de ser um atrativo para os

paulistas tentarem aumentar seu butim. A partir

de 1651, Fernão Dias Paes Leme ficou por três

anos na região da Serra da Apucarana e

submeteu os caciques da nação Guaianá,

Page 74: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

72

ancestrais dos Kaingang, levando-os prisioneiros

para São Paulo, com todo o seu povo. Pedro

Taques, na Nobiliarquia Paulistana, relata essa

expedição:

Penetrou Fernão Dias Paes o sertão do sul até o centro da serra de Apucarana, no reino dos índios da nação Guyanãa, pelos annos de 1651; nelle existiu alguns annos, tendo estabelecido arraial com o troço das suas armas, para vencer a reducção daquelle reino, que se dividia em três differentes reis. [...] Poz-se em marcha o grande corpo daquelles reinos e todos seguiam gostosos esta transmigração debaixo do commando inteiramente do seu conquistador e amigo Fernão Dias (TAUNAY, 1955, p. 167).27

Esse fato ainda requer estudos mais

aprofundados, pois certamente os índios não

“seguiram gostosos” o “amigo” Fernão Dias. O

paulista invasor teve de permanecer vários anos

na região, estabelecendo um arraial,

provavelmente um local fortificado, nos moldes do

construído em 1628 por Raposo Tavares para

conter o ataque dos índios. Taques fala em cerco

imposto por Fernão Dias às plantações desses

índios. Também fala de três caciques, Tombu,

Sondá e Gravitay. Este ultimo morreu antes da

partida para São Paulo; Sondá morreu na marcha

(podemos sugerir a hipótese de que teria havido

uma resistência desses caciques em seguir o

27. Cf. TAUNAY, Affonso de E. A grande vida de Fernão Dias Pais. São Paulo: [J.

Olympio], 1955. p. 167.

Page 75: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

73

bandeirante). Apenas o primeiro, Tombu, chegou

a Santana do Paraíba, em São Paulo, onde

morreu alguns anos depois.

2.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os territórios do Guairá, atual Paraná,

estiveram, desde pelo menos 7 a 8 mil anos

atrás, ocupados por diversos grupos indígenas.

No início do século XVI os europeus, ao

aportarem na região, iniciaram contatos com os

indígenas, na maior parte das vezes, com o

objetivo de subjugá-los. Por isso, para estudar a

ocupação territorial paranaense é necessário

buscar elementos etno-históricos que permitam

entender essas populações como vivendo de

forma dinâmica, produzindo cultura, as quais não

podem ser tratadas como integrantes da história

da região apenas após a chegada dos europeus.

O que se pode confirmar é que relatos dos

próprios viajantes, exploradores, missionários e

outros que por ali passaram comprovam que o

território era densamente habitado por milhares

de indígenas, perfeitamente organizados cultural

e politicamente, que mantiveram contatos com os

europeus desde o início do século XVI.

Os registros mostram que, após diversas

tentativas de manter sua liberdade e seu modo de

vida, os indígenas procuraram fazer alianças com

os europeus ou fugiram, por exemplo, do domínio

espanhol, que os obrigavam às encomiendas.

Outras vezes empreenderam sangrentas guerras,

Page 76: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

74

e embora fossem quase sempre em maior

número acabaram sendo subjugados,

escravizados, mortos ou segregados. Por seu

lado, os europeus também tiveram sua parcela de

dificuldades. As entradas para o interior dos

territórios exigiram deles grandes esforços para

chegar ao seu objetivo, que foi, sempre, alcançar

as riquezas que sabiam ou imaginavam que

houvesse no interior da América. Nesse caso, o

Paraná atual foi território que os europeus

atravessaram, partilharam e exploraram para

conseguir seus objetivos As fontes revelam que

os europeus penetraram no território e que as

perdas foram enormes, principalmente para as

populações primitivas.

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ATIVIDADES

1) A discussão em relação à ocupação e à exploração das novas terras destaca como fator importante a ideia de que a terra era despovoada. Tais questões são confrontadas pela historiografia recente. Discuta esse posicionamento conforme aponta o texto. Para isso, utilize também fontes indicadas na bibliografia.

2) Elabore um texto-comentário sobre as primeiras expedições que passaram pelo sul do Brasil, utilizando os dados descritos no quadro 1, p. 5 e 6.

3) Utilizando a leitura do texto aponte, de forma sintética, os interesses dos bandeirantes paulistas, dos padres jesuítas e dos índios em relação à expansão colonial pelo sul do Brasil.

4) Aponte, com base no texto, quais foram as cidades espanholas fundadas no Guairá, a região em que se localizaram seus fundadores, o período em que foram fundadas, e sua importância para os espanhóis.

5) Destaque a importância da fundação das cidades espanholas no Guairá para a expansão e a colonização espanhola na região. Aponte os interesses em relação ao

Page 82: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

80

território, às populações indígenas e aos portugueses.

CAPITULO III. A FORMAÇÃO DO

PARANÁ: DO POVOAMENTO DO LITORAL À

EMANCIPAÇÃO DA 5ª COMARCA

Lúcio Tadeu Mota

3.1 O POVOAMENTO DO LITORAL E AS

ORIGENS DE CURITIBA

Desde os primeiros anos de 1500 os

europeus aportaram na região, e nessa época a

baía de Paranaguá já era conhecida dos

navegantes. Ocupada primeiramente pelas

populações construtoras dos sambaquis, em

1500 ela era habitat dos Tupiniquins, que

disputavam esses territórios com os Guarani,

então chamados de Carijós. O grande estuário foi

denominado de Paranaguá, que em Tupi, Paraná-

guá, significa algo como “seio do mar”, ou “grande

mar redondo”.

Page 83: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

81

Uma das primeiras informações que temos da

região é o mapa feito por Hans Staden, quando

ele aqui esteve junto com Martim Afonso de

Sousa e seu irmão Pero Lopes de Souza, em

1534, por ocasião da posse de suas capitanias

hereditárias no sul do Brasil. Pelas informações

de Hans Staden ali já viviam, em meio aos

Tupiniquins, dois portugueses.

Eram mais ou menos duas horas da

tarde, quando deitamos âncora. De

tarde, veio uma grande embarcação

com selvagens, que queriam falar

conosco. Nenhum de nós, porém,

entendia a língua deles. Demos-lhes

algumas facas e anzóis, com que

voltaram. Na mesma noite, veio uma

embarcação cheia, na qual estavam

dois portugueses (STADEM, 2000, p.

38).28

Podemos inferir a presença de europeus na

região da baía de Paranaguá desde os primeiros

momentos de sua chegada no continente. Mas a

região passou a ser frequentada com mais

assiduidade por faiscadores de ouro e preadores

de índios vindos de São Vicente, no litoral

paulista, desde 1554. Foram várias as bandeiras

que percorreram o litoral do Paraná com esses

objetivos. Em 1585 Jerônimo Leitão, em 1594

Jorge Coréia, em 1595 Manoel Soeiro, e em 1617

foi a vez da bandeira de Antonio Pedroso, até que

foi descoberto ouro nos ribeirões da região. Teve

28 Cf. STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca, 2000. p.

38.

Page 84: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

82

inicio então o povoamento definitivo, com a

fundação das primeiras vilas do litoral.

Page 85: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

83

Figura 1: Extrato do Mapa. Demonstração do

Pernagua e Cananeia. Livro de toda a costa da

província de Santa Cruz feito por João Teixeira

Albbernaz, Anno D. 1666.

Fonte: Mapoteca do Ministério das

Relações Exteriores (654).

� Paranaguá

A primeira sesmaria, requerida por Diego de

Unhate em 1614, abrangia vastos territórios no rio

Superagui. Anos mais tarde Gabriel de Lara

fundou uma povoação na ilha da Cotinga, depois

transferida para o continente. Em seis de janeiro

de 1646 foi levantado o Pelourinho, e em junho

de 1648 ocorreu a primeira eleição para a

Câmara Municipal de Paranaguá. As

possibilidades de gerar riquezas, com o garimpo

de ouro nos riachos da serra e do planalto,

aumentaram a importância da região diante da

coroa. Tanto que em 1660 Gabriel de Lara foi

nomeado capitão-mor da Capitania de Nossa

Senhora do Rosário de Paranaguá. Ela existiu até

1709, mas a partir de 1711, com a diminuição das

atividades do faiscamento do ouro, perdeu o

status de capitania e foi integrada à Capitania de

São Paulo, como a Quinta Comarca de

Paranaguá e Curitiba (WACHOWICZ, 1988, p.

39-51).29

� Antonina

29 Para maiores detalhes sobre o assunto ver: WACHOWICZ, Ruy. História do

Paraná., Curitiba: G. Vicentina, 1988. p. 39-51. Cap. 3.

Page 86: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

84

Como as outras vilas do litoral, Antonina

também surgiu em decorrência da presença de

faiscadores de ouro na região. No entanto, a

fundação da povoação só ocorreu no século

XVIII, em 1714, com a construção da capela de

Nossa Senhora do Pilar da Graciosa. Somente

muito mais tarde, em 1797, é que ela foi elevada

a vila, com a denominação de Antonina, em

homenagem ao Príncipe D. Antonio, primeiro filho

do Rei Dom João VI e de Dona Carlota Joaquina.

� Morretes

Situada às margens do rio Nhundiaquara, local

de passagem dos faiscadores de ouro que

subiam a serra, Morretes foi fundada por

determinação do ouvidor Rafael Pires Pardinho,

em 1721. Anos depois, em 1769, a população

teve permissão para erguer a capela de Nossa

Senhora do Porto e Menino Deus dos três

Morretes, e somente no século seguinte, em

1841, Morretes foi desmembrado de Antonina e

elevado a município.

� Guaratuba

Os historiadores dão como data provável da

fundação da povoação de Guaratuba, por Gabriel

de Lara, o ano de 1656. Um século depois ela foi

inserida na política de defesa do litoral sul do

Brasil pelo então governador da Capitania de São

Paulo, D. Luiz A. de Souza, o Morgado de

Mateus. Este enviou para a região o tenente-

coronel Afonso Botelho com a missão de

incrementar a ocupação de região e construir

fortes para defesa do litoral.

Page 87: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

85

� Curitiba

Na primeira metade do século XVII os

faiscadores de ouro já tinham chegado ao

primeiro planalto paranaense e exploravam seus

riachos e ribeirões em busca do metal precioso. O

local era habitado pelos índios Guarani, que

exploravam os imensos pinheirais da região, e

com certeza mantinham relações sociais e

comerciais com os habitantes não-índios do litoral

e com os mineradores de ouro já algum tempo

antes da elevação do Pelourinho, em 1668, por

Gabriel de Lara. Com o crescimento da

povoação, no final de século XVII foram eleitas as

autoridades locais com a constituição da Câmara

Municipal em 1693, data da fundação da cidade.

3.2 A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS

GERAIS: AS FAZENDAS DE CRIAR E O

CAMINHO DO VIAMÃO

Os campos Gerais, situados no segundo

planalto paranaense, começaram a ser povoados

por fazendeiros de São Paulo, Santos, Paranaguá

e pelos estabelecidos nos campos de Curitiba, no

início do século XVIII, quando foi descoberto ouro

em Minas Gerais e se criou uma forte demanda

por animais cavalares e muares, criados em

abundância nos campos do sul do Brasil e no

Uruguai. Essa demanda e essa possibilidade de

negócios fizeram com que as famílias abastadas

de São Paulo requeressem enormes sesmarias

na região e para ali enviassem parentes ou

Page 88: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

86

capatazes para estabelecerem fazendas de criar

gado. Com o inicio das atividades do tropeirismo,

que consistia em comprar animais nos campos de

Vacaria, no Rio Grande do Sul, e vendê-los em

Sorocaba, em São Paulo, começaram a surgir as

povoações ao longo dessa rota.

Essas povoações, que no inicio eram locais de

pouso e descanso dos tropeiros, passaram a

aglutinar pequenos artesãos e pequenos

comerciantes, e logo se transformaram em vilas e

cidades, como Ponta Grossa, Castro, Lapa e

muitas outras. Assim é que ocorreu a ocupação

dos vastos campos naturais do segundo planalto

do Paraná: enormes sesmarias em torno da rota

Sorocaba – Vacaria.

A sociedade estabelecida nos Campos Gerais

se caracterizou por ser uma sociedade

constituída de famílias patriarcais, que iam além

da família nuclear. Abrigavam em seu seio

agregados e homens pobres livres, protegidos

dos grandes proprietários por ser uma sociedade

sustentada no trabalho escravo, com a

característica de que esse trabalho típico de

escravos – a lida com o gado em campos abertos

– requeresse que andassem armados para

protegerem, a si e ao gado do seu senhor, dos

índios e dos animais predadores. Tratava-se de

uma sociedade assentada na grande

propriedade, ou seja, nas grandes sesmarias de

criação de gado bovino, muar e cavalar.

Page 89: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

87

3.3 A DESCOBERTA DE OURO E

DIAMANTES, AS EXPEDIÇÕES MILITARES E A

IMPLANTAÇÃOA DAS FAZENDAS NO VALE DO

RIO TIBAGI,NOS SÉCULOS XVIII E XIX

A serra de Apucarana e o vale do Tibagi

continuaram sendo atrativos para os aventureiros

e uma esperança de riquezas. Esses aventureiros

deram continuidade aos bandeirantes do século

XVII. Em meados do século XVIII, Francisco Tosi

Colombina apresentou aos governantes um plano

de ocupação dos territórios do rio Tibagi, que no

seu entendimento eram ricos em ouro e

diamantes. E qual era o seu plano?

E para senhorearse com facilidade dessas terras do Tabagy que agora estão ocupadas do numeroso Gentio Guayanã, [...] um dos melhores meyos hé transportar huns Casaes dos indios mansos, que se achaão nas aldeas de São Paulo, e lá Aldealos (COLOMBINA, 1974, p. 33).30.

O plano de Colombina não foi levado adiante,

mas foram descobertos ouro e diamantes em

Pedras Brancas, a sudoeste da atual cidade de

Tibagi, por Ângelo Pedroso e Frei Bento de Santo

Ângelo31. Essas descobertas causaram a disputa

das terras das minas do Tibagi por poderosos

donos de lavras de Minas Gerais e autoridades

de Paranaguá. Em 1757 o Ouvidor de Paranaguá

30. Cf. COLOMBINA, Francisco Tosi. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá:

UEM,, 1974. p. 33. [1753]. 31. Cf. MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz L. História do Tibagi. Curitiba: Prefeitura

Municipal de Tibagi, 1977. p. 23.

Page 90: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

88

enviou uma bandeira de 200 soldados para

Pedras Brancas com a finalidade de submeter os

posseiros. Enviada pela Câmara de Curitiba para

vigiar os garimpos de Pedras Brancas, essa

guarda ficou acantonada, no registro de Nossa

Senhora do Carmo, na foz do rio Capivari, junto

ao rio Tibagi, até 1765. Nessa área foi instalado o

forte militar de Nossa Senhora do Carmo.

Ainda no século XVIII os vales do Tibagi e do

Ivaí foram marcados pela passagem das

expedições militares de Morgado de Mateus,

governador de São Paulo, com destino ao Forte

Militar de Iguatemi, no Mato Grosso. Entre os

anos de 1769 e 1774, várias expedições partiram

do Porto de São Bento, no Tibagi, com destino ao

rio Ivaí, e daí para o Mato Grosso32. Conforme

Edmundo Mercer, o Porto de São Bento foi uma

antiga fazenda situada à margem esquerda do

Tibagi, 4 léguas acima da cidade do mesmo

nome. Esse porto foi estratégico para as

expedições que iam para o forte de Iguatemi, no

Mato Grosso

Em março de 1771 a terceira expedição da

campanha de Afonso Botelho, comandada pelo

capitão Francisco Lopes da Silva, desceu o rio

Ivaí até as ruínas de Vila Rica do Espírito Santo,

abandonada pelos espanhóis devido aos ataques

bandeirantes em 1632: alí mandou o capitão

botar roças e principiou o seu estabelecimento

32 . Para maiores detalhes sobre a campanha do Morgado de Mateus no Paraná e

Mato Grosso ver: BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento

dos sertões do Tibagi; BELLOTTO, Heloísa L. Autoridade e conflito no Brasil

Colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo; Davi CARNEIRO.

Afonso Botelho de São Payo e Souza.

Page 91: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

89

dando-lhe o nome de Vila Real do Rio Mourão33.

Essa tentativa de estabelecer um posto de

suprimentos para as expedições que desciam o

rio Ivaí em direção ao Mato Grosso, desde a

barra do rio Corumbataí com o Ivaí, não

prosperou, e em pouco tempo a localidade foi

novamente abandonada, e a floresta voltou a

cobrir os vestígios da ocupação humana no local.

No século XIX também foi iniciada a ocupação

da bacia ocidental do Tibagi e dos campos ao seu

norte pelos grandes fazendeiros dos Campos

Gerais paranaenses, que procuravam expandir

seus domínios. Em 1794, Antonio Machado

Ribeiro – capitão de mato do sargento-mor José

Felix da Silva – atravessou o rio Tibagi, acima do

rio Iapó, e ocupou o lugar onde seria a cidade de

Tibagi, no coração dos territórios kaingang. Em

1812, o próprio José Felix da Silva comandou

uma expedição militar ao Tibagi. Por esse feito

lhe foi dada a patente de tenente-coronel de

milícias, para que ele comandasse, às próprias

custas, uma expedição para descobrir o que

houvesse no Tibagi. Entrou ele com uma

companhia de aventureiros pelo Tibagi e

descobriu diamantes na região. Essas

descobertas explicam o rápido enriquecimento de

José Felix da Silva, dono da Fazenda Fortaleza e

de muitas outras na região de Castro e Tibagi34.

33. Cf. BOTELHO, Afonso. Noticia da conquista e descobrimento dos sertões do

Tibagi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956. 34. Cf. CHICHORRO, Manuel da Cunha Azeredo Coutinho. Memória em que se

mostra o estado econômico, militar e político da Capitânia de São Paulo, quando

seu governo tomou posse, em 8/12/1814. RIHGB, Rio de Janeiro, v. 36,p. 219,

1873.

Page 92: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

90

Em 1820, Auguste de Saint-Hilaire excursionou

pelos territórios do Paraná, vindo de Sorocaba -

SP, pelo caminho dos tropeiros, até Curitiba. Aí

presenciou a partida de expedições militares

organizadas pelos fazendeiros da região contra

os Kaingang, a oeste das grandes fazendas de

criação. Dessa forma é que foram sendo

implantadas fazendas de criar gado nas terras

conquistadas dos Kaingang.

A conquista desses territórios prosseguiu para

o norte, no curso do rio Tibagi. Em 1838 iniciou-

se a ocupação dos Campos do Inhoó, por Manoel

Inácio do Canto e Silva. John Elliot informou que

oito anos antes de sua entrada nesses campos,

em 21/10/1846, o neto de José Felix da Silva,

coronel Manoel Inácio, tinha mandado abrir uma

picada de cargueiros até esses campos, e para

poder tomar posse mandou queimá-los.

A partir da década de 1840 as iniciativas de

ocupação das terras da bacia do Tibagi foram

levadas adiante pelo Barão de Antonina (João da

Silva Machado), o qual encarregou Joaquim

Francisco Lopes e John Henrique Elliot de

realizarem várias expedições de reconhecimento

na região. Conforme Elliot, a 2ª expedição

enviada pelo Barão foi comandada por Joaquim

Francisco Lopes e ele, como piloto mapista, num

total de nove pessoas. Saíram da fazenda Monte

Alegre, pertencente a Manoel Inácio do Canto e

Silva, atravessaram o Tibagi e seguiram rumo

norte-noroeste em direção à Serra da Apucarana.

No dia 15/9/1846 chegaram ao rio Apucarana,

nas fraldas da serra. Subiram essa serra, e por

vários dias esperaram até que as condições

Page 93: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

91

atmosféricas lhes permitissem vislumbrar toda a

região. Elliot afirmou que desse local avistou os

campos do Inhoó, distantes de 8 a 9 léguas a

nordeste da margem ocidental do Tibagi, bem

como as grandes áreas de florestas que se

estendiam em direção aos rios Ivaí e

Paranapanema. Por causa da visão que tiveram a

partir desse mirante, concluíram que o Tibagi

deveria ser navegável logo abaixo desses

campos, e que seria necessário explorá-los para

ver se comportariam a instalação de um depósito

de gado, bem como para verificar as condições

para o fornecimento de pastagens para as tropas

que seguissem com mercadorias para embarcar

no Tibagi, rumo ao Mato Grosso. Após estudar os

relatos, o Barão determinou que eles deveriam

prosseguir as explorações para abrir um caminho

de Curitiba até o Mato Grosso.

Uma semana após terem chegado da Serra da

Apucarana, Lopes e Elliot, mais o genro do Barão

de Antonina, partiram para os campos do Inhoó.

Era uma expedição de 30 pessoas com dois

índios como guias. Iniciaram a picada em

21/10/1846, e em 20/11/1846 chegaram a esses

campos. Lá queimaram-nos, e os índios

responderam com fogos em três lugares

diferentes; a norte, distante 6 a 8 léguas, e mais

um a nordeste, a 4 léguas. Demoraram na

exploração dessas campinas durante 10 dias,

pois eram várias campinas entremeadas de

matos. No dia 4/12/1846 eles se encontravam nos

campos de Inhoó, que denominaram de São

Jerônimo. Concluíram que eles, os componentes

da expedição, constituíam número suficiente para

Page 94: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

92

a instalação de um depósito, isto é, um

entreposto entre o futuro porto do Jataí e Castro.

Em 16/12/1846, Lopes e Elliot e mais 12

pessoas, por determinação do Barão, rumaram

dos Campos do Inhoó rumo ao norte por 1 ou 2

léguas, acompanhando o Tibagi. Seguiram para

o ribeirão Santa Bárbara, depois acompanharam

o rio Congonhas. Tudo indica que o itinerário

seguido tenha sido o divisor de águas entre o rio

Congonhas e o rio Tibagi. Em 13/1/1847 estavam

de volta aos campos do Inhoó, depois de 25 dias.

Em 15/3/1847, a 5ª entrada de Lopes e Elliot,

também por determinação do Barão de Antonina,

partiu dos Campos do Inhoó em direção aos

fogos dos índios que eles tinham visto na

exploração de novembro de 1846. Após

atravessarem o rio Congonhas35, a 6 léguas dos

campos de Inhoó, chegaram às terras queimadas.

Ainda em 1847, o Barão de Antonina ordenou

a José Francisco Lopes e João H. Elliot que

partissem para descobrir o caminho para o Mato

Grosso. Em 14/6/1847, Elliot, Lopes e 3

camaradas embarcam no Tibagi, uma légua

abaixo dos Campos do Inhoó. No dia 20/9

iniciaram a viagem de retorno de Albuquerque, no

Mato Grosso, para Perituva, em São Paulo, onde

chegaram a 27/12, com 6 meses e 13 dias de

viagem.

A partir dessa data os territórios do cacique

Inhoó nos planaltos a leste do rio Tibagi seriam

transformados em entreposto comercial, caminho

para o Mato Grosso, e fazenda de criação do

35. John Elliot disse que puseram esse nome nesse rio por causa da abundância de

erva- mate que havia no local.

Page 95: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

93

Barão de Antonina. O comerciante Antonio

Prestes, em viagem para o Mato Grosso, em

1851, passou por São Jerônimo e lá encontrou

José Raymundo Curim como administrador da

fazenda do Barão de Antonina36. Podemos

constatar que após seis anos da chegada de

Lopes e Elliot aos campos do Inhoó, o Barão de

Antonina já havia consolidado uma fazenda no

território Kaingang, que após alguns anos seria

repassada ao Império para a criação do

aldeamento indígena de São Jerônimo.

Mas a ocupação branca avançou para o norte

e ultrapassou o rio Tibagi para as terras de suas

margens ocidentais. Na década de 1850 foi

instalada a Colônia Militar do Jataí, hoje cidade

de Jataizinho, e em frente, na outra margem do

rio, foi instalado o aldeamento indígena de São

Pedro de Alcântara, com a finalidade de aldear os

índios Guarani-Kaiová, que viviam no Mato

Grosso às margens do rio Paraná, e os Kaingang,

que viviam nas terras ao sul do aldeamento.

A partir desse momento, tanto o aldeamento

indígena quanto a colônia militar tornaram-se

entreposto para os viajantes que seguiam para o

Mato Grosso.

3.4 A OCUPAÇÃO DOS CAMPOS DE

GUARAPUAVA E PALMAS

36. Cf. PRESTES, Antonio Dias Baptista. Viagem do Capitão D. Prestes e seu irmão

Manoel D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851.

RIHGSP, São Paulo, n. 28, p. 775, 1851.

Page 96: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

94

No século XVIII, a corte reagia indignada ao

desassossego que imperava nos territórios do sul

do Brasil, que no dizer das autoridades estavam

infestados de selvagens. A Carta Régia de

novembro de 1808 relata ataques generalizados

por todo o sul do Império, principalmente nos

Campos Gerais de Curitiba, de Guarapuava e nos

campos das cabeceiras do rio Uruguai. O

Príncipe Regente propunha então guerra contra

os índios, que matavam cruelmente todos os

fazendeiros e proprietários estabelecidos nesses

campos. Indignava-se ele com o abandono dos

Campos Gerais de Curitiba e os de Guarapuava,

assim como das terras com as vertentes voltadas

para o rio Paraná.

Tentativas de conquista e de ocupação

efetivamente tinham sido feitas, como as das

expedições de Afonso Botelho, nos anos de 1769

a 1774, as quais foram rechaçadas pelos índios

Kaingang, então senhores desses territórios.

Passados 40 anos, os campos Gerais, os de

Guarapuava e Palmas continuaram

[...] infestados pelos índios denominados Bugres que matão cruelmente todos os fazendeiros e proprietários que nos mesmos Paizes tem procurado tomar sesmarias e cultivalas, em beneficio dos Estado. [...] a maior parte das Fazendas que estão na dita Estrada (São Paulo - Rio Grande do Sul) serão despovoadas humas por terem os índios Bugres morto os seus moradores e outras com o temor que sejão igualmente victimas (MARTINS, 1915, v. 2, p. 86).37

37 Cf. Carta Régia de novembro de 1808. In: MARTINS, Romário. Documentos

Comprobatórios, vol. II, p. 86. Em a Política Indigenista Brasileira no Século

Page 97: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

95

Desde a expulsão de Afonso Botelho e suas

tropas dos Koran-bang-rê, (Campos de

Guarapuava), em 1772, os Kaingang,

encorajados, faziam incursões cada vez mais ao

ocidente. No início do século XIX, eram senhores

dos territórios a oeste da estrada do Viamão, e

atacavam constantemente fazendas, vilas e

viajantes nas suas imediações.

Com a chegada de Dom João VI ao Brasil, o

Império tomou uma resolução: os índios deveriam

ser combatidos, catequizados, "civilizados", e

seus territórios deveriam ceder lugar a prósperas

fazendas de gado. O governador da província de

São Paulo convocou o experiente militar Diogo

Pinto de Azevedo para organizar a ocupação dos

territórios dos Kaingang e mantê-los afastados

das fazendas de gado. Diogo Pinto era um militar

disciplinado, duro, experiente e conhecedor dos

campos de Guarapuava, pois ali estivera com o

capitão Paulo Chaves em 1774. Era o perfil ideal

para realizar o empreendimento, e em 1809 já se

encontrava nos Campos Gerais, refazendo o

antigo caminho das expedições de Afonso

Botelho.

Dessa forma, o ano de 1810 foi marcado pela

chegada aos campos de Guarapuava de uma

enorme expedição, com mais de 300 pessoas,

das quais cerca de 200 eram soldados. O objetivo

da expedição era ocupar esses campos, abrindo

XIX, Carlos Araujo MOREIRA NETO afirma que a política indigenista brasileira

durante o Império foi formulada em torno de critérios "estritos de dominação e

subordinação", e tinha como objetivo a implementação e a consolidação do

domínio da sociedade nacional sobre os grupos tribais.

Page 98: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

96

espaço para as fazendas de criação. No dia dois

de julho, acampam no lugar denominado Atalaia,

último ponto alcançado pelo capitão Paulo

Chaves em 1774. No dia 29 de agosto, os

Kaingang fizeram um ataque em massa ao

acampamento. Diogo Pinto e o padre Francisco

das Chagas Lima atestaram a firme defesa do

tenente Antonio da Rocha Loures.

Sustentou corajosamente a defeza deste Aquartelamento da Atalaia por espaço de seis horas no primeiro e profiado combate que atentarão os índios deste continente quando virão nossa gente abarracado nos seus campos (FRANCO, 1943, p. 95).(38

38 . Cf. Atestado do comandante Diogo Pinto de Azevedo Portugal e do padre

Francisco das Chagas Lima, elogiando a ação do tenente Rocha Loures na defesa

do quartel de Atalaia, atacado pelos índios em 29 de agosto de 1810. In:

FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba:

Museu Paranaense, 1943. p. 95.

Page 99: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

97

Figura 2: Fortaleza de Atalaia, primeiro local de fundação

da vila de Guarapuava Fonte: Kruger (1999)

Na batalha foram mortos e feridos muitos

índios, ocorrendo na força militar de Rocha

Loures apenas ferimentos leves. Os Kaingang

sofreram uma forte derrota e dispersaram-se

pelos campos ao sul e a oeste da fortificação de

Atalaia. Mas continuaram a atacar as forças de

Diogo Pinto. Foram três meses de guerra contra

uma tropa de mais de 200 soldados armados,

inclusive com peças de artilharia, e acantonados

na fortaleza de Atalaia, o primeiro nome da futura

vila de Nossa Senhora do Belém de Guarapuava.

Os Kaingang foram derrotados em 1810,

porém sua resistência continuou. Passados cinco

anos da ocupação dos campos guarapuavanos

entre os rios Coutinho e Jordão, os brancos

começaram a se movimentar em direção aos

Page 100: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

98

campos de Palmas, ao sul de Guarapuava, onde

chegaram 20 anos depois. Em 1839 os

fazendeiros de Guarapuava tinham conquistados

os Krei-bang-rê (Campos de Palmas). Ali tinham

instalado 37 fazendas, com mais de 30 mil

cabeças de gado, e fundaram a vila de Palmas.

REFERÊNCIAS

BELLOTO, Heloísa Liberalli. Autoridade e conflito no Brasil colonial: o governo de Morgado de Mateus em São Paulo. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1979.

BOTELHO, Afonso. Notícia da conquista e descobrimento dos sertões do Tibagi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, v. 76, p. 10, 1956

CHICHORRO, Manuel da Cunha A. C. Memória em que se mostra o estado econômico, militar e político da Capitania de São Paulo quando do seu governo tomou posse a 8/12/1814. Revista do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, v. 36, p. 219, 1873.

COLOMBINA, Francisco Tose. Descobrimento das terras do Tibagi. Maringá: Universidade Estadual de Maringá, 1974.

FRANCO, Arthur Martins. Diogo Pinto e a conquista de Guarapuava. Curitiba: Museu Paranaense, 1943.

KRUGER, Nivaldo. Guarapuava. Guarapuava, Fundação Santos Lima, 1999.

MARTINS, Romário. Documentos comprobatórios dos direitos do Paraná na questão de limites com Santa Catharina. Rio de Janeiro: Jornal do Comércio, 1915.

Page 101: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

99

MERCER, Edmundo; MERCER, Luiz Leopoldo. História do Tibagi. Tibagi: Prefeitura Municipal de Tibagi, 1977.

MOREIRA NETO, Carlos Araújo. Política indigenista brasileira no século XIX. 1971. Tese (Doutorado em História)-FFCH, Rio Claro, 1971.

MOTA, Lúcio Tadeu . As guerras dos índios Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924). 2. ed. Maringá: Eduem, 2009. v. 500. 301 p.

MOTA, Lúcio Tadeu; NOVAK, Eder da Silva. Os Kaingang do vale do rio Ivaí Pr: História e relações interculturais. 1. ed. Maringá: EDUEM, 2008. v. 500. 190 p.

NOELLI, Francisco Silva; SILVA, F. A.; VEIGA, J.; TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio Tadeu; D'ANGELIS, W. R. (Org.). Bibliografia Kaingang: referências sobre um povo Jê do Sul do Brasil. 1. ed. Londrina, Pr: EDUEL, 1998. v. 1000. 250 p.

PRESTES, Antônio Dias Baptista. Viagem do capitão D. Prestes e seu irmão Manoel D. B. Prestes desta província de São Paulo a Cuiyabá em 21/04/1851. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, São Paulo, n. 28, p. 777, 1851.

STADEM, Hans. Duas viagens ao Brasil. São Paulo: Beca Produções Culturais, 2000.

TOMMASINO, Kimiye; MOTA, Lúcio Tadeu; NOELLI, Francisco Silva (Org.). Novas contribuições aos estudos interdisciplinares dos Kaingang. 1. ed. Londrina: Eduel, 2004. v. 500. 430 p.

Page 102: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

100

WACHOWICZ, Ruy. História do Paraná. Curitiba: G. Vicentina, 1988.

Atividades:

1. Conforme o texto estudado neste capitulo, O povoamento do litoral e as origens de Curitiba, aponte as cidades surgidas no litoral, naquela época.

2. O oeste e o noroeste do Paraná foram ocupados pelos europeus antes da fundação das cidades do litoral. Aponte quais foram as principais atividades desenvolvidas pelos espanhóis, pelos jesuítas e pelos bandeirantes na região, nos séculos XVI e XVII.

3. Qual foi a atividade econômica responsável pela ocupação e pelo surgimento das fazendas e cidades nos Campos Gerais, no século XVIII?

Page 103: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

101

CAPÍTULO IV. O PARANÁ PROVINCIAL:

1853 – 1889

Dulce Elena Canieli39

Lúcio Tadeu Mota40

4.1 A LUTA PELA EMANCIPAÇÃO DA

PROVÍNCIA DO PARANÁ

Entre 1660 a 1770, a região onde hoje é o

Estado do Paraná e parte de Santa Catarina,

entre os rios Paranapanema ao norte e Uruguai

ao sul, foi elevada ao status de capitania,

39 Mestre em História pela UEM, professora da Rede Estadual de Educação do

Paraná – NRE/Maringá e pesquisadora no Programa Interdisciplinar de Estudos de

Populações - Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. E-mail:

[email protected] 40 Professor Associado no Departamento de História da Universidade Estadual de

Maringá, e pesquisador no Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações –

Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-História - UEM. [email protected]

[email protected]

Page 104: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

102

denominada Capitania de Paranaguá. Em 1770,

com a restauração da Capitania de São Paulo,

ela foi extinta e incorporada por esta como

comarca. Em 1812 a sede da comarca, que era

em Paranaguá, foi transferida para Curitiba, e

passou a se chamar Quinta Comarca de

Paranaguá e Curitiba.

A luta pela emancipação política do Paraná

teve seus antecedentes em 1811, quando Pedro

Joaquim Correia de Sá, com pretensões de ser

capitão-mor, tentou, junto à corte no Rio de

Janeiro, a emancipação da comarca, mas

fracassou.

A segunda tentativa ocorreu em 1821, quando

os defensores da emancipação retomaram o

movimento, organizando a denominada "Conjura

Separatista". Essa tentativa também fracassou,

pois o Juiz de Fora Antonio Azevedo Melo e

Carvalho – que visitava o Paraná – não atendeu

ao apelo de Bento Viana – capitão da Guarda de

Regimento de Milícia de Paranaguá – para que

nomeasse um governo provisório independente

de São Paulo.

Mesmo com um desfecho desfavorável, o

desejo de autonomia permanecia.

Frequentemente, as câmaras de vereadores de

Paranaguá, Morretes, Antonina, Lapa, Curitiba e

Castro solicitavam autonomia ao Governo

Imperial Brasileiro.

Mas em 1835 ocorreu um fator favorável e

decisivo para a autonomia do Paraná. Os liberais

do Rio Grande do Sul entraram em luta contra o

Império, organizados na "Revolução Farroupilha",

e os liberais do Rio de Janeiro, São Paulo e

Page 105: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

103

Minas Gerais, revoltados com a política

"conservadora" do governo central, uniram-se

com os farrapos e organizaram uma única frente

revolucionária. Os liberais da Quinta Comarca em

Curitiba, cooptados pelo Barão de Antonina, não

aderiram, no entanto, ao movimento. O Governo

Imperial negociou com os liberais curitibanos, por

intermédio de João da Silva Machado e do chefe

das forças legalistas, Duque de Caxias, a

emancipação da comarca. O governo do império

conseguiu, assim, o apoio dos liberais da Quinta

Comarca para vencer os revolucionários.

Dessa forma retomou-se, em 1843, o projeto

de emancipação da Quinta Comarca na

Assembleia Geral Legislativa no Rio de Janeiro.

Entre idas e vindas foi conseguida a aprovação,

em 2 de agosto de 1853, elevando-se a Quinta

Comarca de São Paulo à categoria de Província

do Paraná. A instalação oficial foi realizada em 19

de dezembro de 1853, quando tomou posse o

primeiro presidente, Zacarias de Góes e

Vasconcelos, tendo Curitiba como Capital.

Lei nº 704 de 29 de agosto de 1853

Eleva a Comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, à categoria de Província, com a denominação de Província do Paraná.

Dom Pedro Segundo, por graça de Deus, e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos nossos súditos que a Assembléia Geral Legislativa decretou e nós queremos a Lei seguinte:

Art. 1º - A comarca de Curitiba, na Província de São Paulo, fica elevada à categoria

Page 106: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

104

de Província, com a denominação de Província do Paraná. A sua extensão e limites serão os mesmos da referida Comarca.

Art. 2º - A nova Província terá por Capital a cidade de Curitiba, enquanto a Assembléia respectiva não decretar o contrário.

Art.3º - A Província do Paraná dará um Senador, e um Deputado à Assembléia Geral; sua Assembléia Provincial constará de 20 membros.

Art.4º - O Governo fica autorizado para criar, na mesma Província, as estações fiscais indispensáveis para arrecadação e administração das rendas gerais, submetendo depois o que houver determinado ao conhecimento da Assembléia Geral para definitiva aprovação.

Art.5º - Ficam revogadas as disposições em contrário.

Mando, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento desta lei pertencer, que a cumpram, e a façam cumprir e guardar tão inteiramente quanto nela se contém.

O Secretário de Estado dos Negócios do Império

A faça imprimir, publicar e correr. Dado no Palácio do Rio de Janeiro, aos 29

de agosto de 1853, trigésimo segundo da Independência e do Império.

Assinam : Imperador Pedro II E Francisco Gonçalves Martins

Fonte: Coleção de Leis do Império do Brasil - 1853 , Página 50 Vol. 1 pt I (Publicação Original)

4.2 A VIDA POLÍTICA DA PROVÍNCIA

PARANAENSE, DE 1853 A 1889

Page 107: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

105

A Província do Paraná teve, ao longo do

período de 1853 a 1889, 53 períodos de

governos; 27 presidências; 41 presidentes em

exercício e 26 períodos de vice-presidência e

retorno presidencial.

Os presidentes eram escolhidos entre aqueles

que pertenciam ao partido político dominante, e

nomeados diretamente pelo Imperador D. Pedro

II. De 1853 a 1870 os governantes vieram de

outras províncias. No período subsequente (1870

a 1889), o Imperador fez algumas nomeações de

pessoas procedentes da própria província para

ocupar o cargo de presidente e vice-presidente.

As justificativas para a nomeação dos

presidentes e dos vice-presidentes oriundos de

outras províncias era de que o Paraná tinha uma

pequena projeção política e econômica no

império. E não possuiria elementos com "boa

formação político-administrativa" para o cargo

majoritário na província. No entanto, sabemos

que a nomeação para a presidência das

províncias no Brasil era utilizada pelo Imperador

Pedro II41 para acomodar as forças políticas que

o apoiavam.

41 A Carta outorgada em 1824 por D. Pedro I e elaborada pelo Conselho de

Estado atribuiu ao Imperador o poder de nomear os presidentes de

província. O capítulo VII, que trata da Administração e Economia das

Províncias diz, no primeiro artigo: “Haverá em cada Província um

presidente, nomeado pelo Imperador, que poderá remover, quando

entender que assim convém ao bom serviço do Estado”. Essa era a

Constituição em vigor no Brasil em 1853, quando da criação da Província

do Paraná

(http://www.alep.pr.gov.br/assembleia.php?pag_int=assembleia_historico.p

hp. Acesso em: 11 mar. 2008).

Page 108: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

106

O Imperador geralmente escolhia governantes

que eram fiéis e aliados ao governo imperial. A

intenção era criar e estabelecer governos

provinciais comprometidos com os interesses do

governo central, além de promover alianças com

as elites dominantes locais. Eram dois os partidos

políticos dos quais esses representantes faziam

parte: o Conservador e o Liberal. Os partidos na

província eram dominados pelas oligarquias

locais, que escolhiam seus representantes aos

cargos políticos42. A disputa entre os

conservadores e liberais não representava um

empecilho à nomeação dos cargos; na realidade,

seus programas políticos não diferiam um do

outro e não havia uma oposição efetiva entre

eles. No Paraná, os principais líderes liberais

foram: Jesuíno Marcondes de Oliveira e Manuel

Alves de Araújo, que formavam as famílias dos

Barões do Tibagi e dos Campos Gerais. Os

líderes conservadores foram: Manuel Antonio

Guimarães (Visconde de Nácar) e Manoel

Francisco Correia, que formavam as famílias do

litoral, controladoras do comércio importador e

exportador da erva-mate.

Quando foi instalada oficialmente, o cargo

majoritário da província paranaense foi ocupado

pela primeira vez em 19 de dezembro de 1853,

sendo seu primeiro presidente o baiano Zacarias

de Góes e Vasconcellos.

42 Esses representantes aos cargos políticos geralmente eram eleitos pelo

“voto de cabresto”, ou seja, por meio da troca de “favores” os coronéis

(elites dominantes locais) exigiam que as pessoas votassem nos

candidatos indicados por eles. Aquele que se negasse a votar podia sofrer

violência dos capangas ou jagunços que trabalhavam para os coronéis.

Page 109: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

107

Quadro I - Galeria de presidentes e vice-presidentes da província do Paraná (1853-1889)

º

PRESIDENTES E VICE-

PRESIDENTES

NOMEAÇÃ

O

PERÍODO DE GOVERN

O

OBSERVAÇÃO

Zacarias de Goes e Vasconcelos (Pres.)

17.09.1853

19.12.1853 a

03.05.1855

1º Presidente e Instalador da Província. Origem: Bahia. Era do partido Conservador, e em 1862 passou a ser Liberal

Theófilo Ribeiro de Rezende (Vice)

17.09.1853

03.05.1855 a

27.07.1855

Nomeação para 2º vice-presidente. Origem: São Paulo. Era do Partido Conservador

Henrique de Beaurepaire Rohan (Vice) – Liberal

-27.07.18

55

27.07.1855 a

01.03.1856

Origem: Rio de Janeiro

Padre Vicente Pires da Mota (Pres.)

15.09.1855

01.03.1856 a

26.09.1856

Origem: São Paulo. Era do Partido Conservador

José Antônio Vaz de Carvalhaes (Vice)

06.09.1856

26.09.1856 a

11.11.1857

2º vice-presidente. Origem: São Paulo.

Era do Partido Conservador

Francisco Liberato de Matos (Pres.)

18.08.1857

11.11.1857 a

26.02.1859

Origem: Bahia - Partido Liberal

Luis Francisco

Câmara Leal (Vice)

24.

03.1857

26.0

2.1859 a

02.05.185

9

3º vice-presidente e passou a 1º vice no início de 1859. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador

José Francisco Cardoso (Pres.)

28.02.1859

02.05.1859 a

16.03.1861

Deposto pelas “Cardosadas”. Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal

Antônio Barbosa Gomes Nogueira (Pres.)

31.01.1861

16.03.1861 a

31.03.1863

Origem: Minas Gerais. Era do Partido Conservador

0

Manoel Antônio Ferreira (Vice)

26.11.1862

31.03.1863 a

05.06.1863

1º paranaense a compor o governo Provincial - 2º vice-presidente. Origem: Paraná.

Era do Partido Conservador

1

Sebastião Gonçalves da Silva (Vice)

26.11.1862

05.06.1863 a

07.03.1864

1º vice-presidente. Origem: Pernambuco.

Sem menção de Partido

2

José Joaquim do Carmo (Pres.)

23.01.1864

07.03.1864 a

18.06.186

Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal

Page 110: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

108

4

3

André de Pádua Fleury (Pres.)

s/d 18.06.1864 a

19.08.1864

Origem: Paraná - Partido Liberal

4

Agostinho Ermelino de Leão (Vice)

s/d 19.08.1864 a

18.11.1864

1º período de governo. Origem: Paraná –

s/menção de partido

5

André de Pádua Fleury (Pres.)

12.10.1864

18.11.1864 a

04.06.1865

2º período de governo. Origem: Paraná - Partido

Liberal

6

Manoel Alves de Araújo (Vice)

10.12.1864

05.06.1865 a

18.08.1865

1º vice-presidente. Origem: Paraná - Partido

Liberal

7

André de Pádua Fleury (Pres.)

s/d 18.08.1865 a

23.03.1866

3º período de governo. Origem: Paraná - Partido

Liberal

8

Agostinho Ermelino de Leão (Vice)

31.01.1866

23.03.1866 a

15.11.1866

2º vice-presidente - 2º período de governo.

Origem: Paraná – s/menção de partido

9

Polidoro César Burlamaque (Pres.)

06.09.2866

15.09.1866 a

11 /17.08.186

7

Abandona o governo em 17.08.1867

Origem: Piauí – s/menção de partido

0

Carlos Augusto

Ferraz de Abreu

(Vice)

23.

03.1867

16.0

8.1867 a

23/31.10.1

867

1º vice-presidente. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador

1

José Feliciano Horta de Araújo (Pres.)

29.09.1867

31.10.1867 a

05.05.1868

Origem: Minas Gerais - Partido Liberal

2

Carlos Augusto Ferraz de Abreu (Vice)

s/d 05/29.05.1868

a 14.09.186

8

2º período de governo. Origem: Rio de Janeiro. Era do Partido Conservador

3

Antônio Augusto da Fonseca (Pres.)

22.07.1868

14.09.1868 a

01.09.1869

Pediu demissão em 27.03.1869

Origem: São Paulo – Partido Conservador

4

Agostinho Ermelino de Leão (Vice)

s/d 28.08.1869 a

26.09.1869

3º período de governo. Origem: Paraná –

s/menção de partido

5

Antônio Luís Afonso de Carvalho (Pres.)

20.10.1869

27.11.1869 a

28.08.1870

Origem: Bahia - s/menção de partido

6

Agostinho Ermelino de Leão (Vice)

s/d 20.04/05.1870

a

4º período de governo. Origem: Paraná -

s/menção de partido

Page 111: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

109

24.12.1870

7

Venâncio José de Oliveira Lisboa (Pres.)

s/d 24.12.1870 a

15.01.1873

Origem: Rio de Janeiro – Partido Conservador

8

Manoel Antônio Guimarães (Vice)

03.01.1873

15.01.1873 a

13.06.1873

3º vice-presidente – Visconde de Nácar - Origem: Paraná – Partido Conservador

9

Frederico José de Araújo Abranches (Pres.)

29.03.1873

13.06.1873 a

02.05.1875

Origem: São Paulo – Partido Conservador

Agostinho Ermelino de Leão (Vice)

s/d 02.05.1875 a

08.05.1875

5º e último período de governo.

Origem: Paraná - s/menção de partido

0

Adolfo Lamenha Lins (Pres.)

10.04.1875

03.05.1875 a

16.07.1877

Origem: Pernambuco - Partido Liberal

1

Manoel Antônio Guimarães (Vice)

s/d 16.07.1877 a

17.08.1877

2º período de governo. Origem: Paraná – Partido

Conservador

2

Joaquim Bento de Oliveira Junior (Pres.)

04.07.1877

17.08.1877 a

07.02.1878

Origem: Minas Gerais – Partido Conservador

3

Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Vice)

01.02.1878

07.02.1878 a

23.03.1878

1º período de governo – 1º vice-presidente.

Origem: Paraná - Partido Liberal

4

Rodrigo Otávio de Oliveira Menezes (Pres.)

30.01.1878

23.03.1878 a

31.03.1879

Origem: Bahia - Partido Liberal

5

Jesuíno Marcondes de oliveira e Sá (Vice)

s/d 31.03.1879 a

23.04.1879

2º período de governo. Origem: Paraná - Partido

Liberal

6

Manoel Pinto de Souza Dantas Filho (Pres.)

15.03.1879

23.04.1879 a

04.08.1880

Origem: Bahia - Partido Liberal

7

João José Pedrosa (Pres.)

25.07.1880

04.08.1880 a

03.05.1881

1º paranaense nomeado pelo Imperador - Origem: Paraná - Partido Liberal

8

Sancho de Barros Pimentel (Pres.)

24.03.1881

03.05.1881 a

26.01.1882

Origem: São Paulo - Partido Liberal

9

Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Vice)

s/d s/d 3º período de governo. Origem: Paraná - Partido

Liberal

Carlos Augusto de Carvalho (Pres.)

01.02.1882

06.03.1882 a

Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal

Page 112: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

110

0 26.05.1883

1

Antônio Alves de Araújo (Vice)

14.05.1883

26.05.1883 a

03.09.1883

1º vice-presidente – 1º período de governo.

Origem: Paraná - Partido Liberal

2

Luís Alves Leite de Oliveira Belo (Pres.)

30.06.1883

03.09.1883 a

05.06.1884

Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal

3

Brasílio Machado de Oliveira (Pres.)

29.07.1884

05.06.1884 a

21.08.1885

Origem: São Paulo - Partido Liberal

4

Antônio Alves de Araújo (Vice)-

s/d 24/26.08.1885

a 18.09.188

5

2º período de governo. Origem: Paraná - Partido

Liberal

5

Joaquim de Almeida Faria Sobrinho (Vice)

30.08.1885

20.09.1885 a

29.09.1885

1º vice-presidente – 1º período de governo.

Origem: Paraná – Partido Conservador

6

Alfredo D’Escragnolle Taunay (Pres.)

30.08.1885

29.09.1885 a

03.05.1886

Origem: Rio de Janeiro - Partido Liberal

7

Joaquim de Almeida Faria Sobrinho (Pres.)

18.10.1886

03.05.1886 a

26.12.1887

2º paranaense p/ nomeação direta do Imperador. 3º período

Origem: Paraná – Partido Conservador

8

Antônio Ricardo dos Santos (Vice)

15.12.1887

29.12.1887 a

09.12.1888

2º vice-presidente em 03.12.1887 e 1º em 15.12.1887

Origem: Paraná – Partido Conservador

9

José Cesário de Miranda Ribeiro (Pres.)

23.12.1887

09.02.1888 a

30.06.1888

Origem: Minas Gerais – Partido Conservador

0

Ildefonso Pereira Correia (Vice)

26.11.1887

30.06.1888 a

04.07.1888

Barão de Serro Azul Origem: Paraná –

s/menção do partido

1

Balbino Candido da Cunha (Pres.)

15.06.1887

04.07.1888 a

29.05.1889

Origem: Minas Gerais – Partido Conservador

2

Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Pres.)

15.06.1889

16.06.1889 a

23.08.1889

3º e último paranaense presidente – 4º p. de governo. Origem: Paraná - Partido Liberal

3

Joaquim José Alves (Vice)

15.06.1889

03.09.1889 a

11.09.1889

1º vice-presidente. Origem: Paraná - Partido

Liberal

Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá (Pres.)

s/d 12.09.1889 a

16.11.1889

5º e último período de governo provincial

Origem: Paraná - Partido Liberal

Page 113: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

111

Fonte: CARNEIRO, D. História do período provincial

do Paraná: galeria de presidentes 1853-1889. Curitiba:

Tipografia Max Roesner, 1960.

4.3 AS PRINCIPAIS POLÍTICAS DE

GOVERNO NO PERÍODO PROVINCIAL

A preocupação dos presidentes e vice-

presidentes, de forma geral, foi a de construir e

melhorar estradas, instalar colônias de imigrantes

europeus para aumentar a população,

implementar a segurança pública para promover

a defesa dela, organizar a instrução pública e as

finanças da província, implantar a catequese e a

civilização dos índios, e desenvolver e organizar a

cidade de Curitiba como sua capital.

Essas ações políticas foram frequentemente

tratadas nos relatórios dos presidentes e vice-

presidentes. Esses documentos, apesar do

caráter descritivo, tratam dos principais

acontecimentos ocorridos durante cada período

de governo na província. A periodicidade usual

dos relatórios era anual, mas a cada mudança

de presidente ou a cada abertura da

Assembleia Legislativa da província era

elaborado um relatório e apresentado ao seu

sucessor ou aos representantes do legislativo

provincial. Foram 76 relatórios, alguns dos

quais vinham em forma de ofício,

principalmente quando o período de ocupação

da administração do governo era breve.

Nesses casos, não apresentavam a estrutura

usual de relatórios. A estrutura desses

Page 114: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

112

documentos possui mais semelhanças que

diferenças. Neles, podemos destacar alguns

pontos que abordam as principais ações dos

governantes provinciais.

• Política de segurança pública

Durante o período provincial, desde o

primeiro presidente, Zacarias de Góes e

Vasconcellos, a política de segurança pública

foi uma preocupação de todos os governantes.

Frequentemente, nos relatórios e nos ofícios é

destacada a importância da força pública,

composta pela Guarda Nacional, pela força

policial e pela companhia de marinheiros, que

eram responsáveis pela proteção e guarda do

território paranaense. As reclamações pela falta

de recursos para investir na segurança foram

constantes:

[...] pode-se affirmar que he superior ao que permittem os escassos recursos, que na actualidade estão à disposição da polícia, e com que, provalvemente, por algum tempo ainda se há de contar na província (VASCONCELLOS, 1854, p. 3).43.

Para os governos, era importante obter

mais verbas que se destinassem à manutenção

da ordem social, numa província onde ocorriam

inúmeros conflitos, como os decorrentes de

43 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório... 15 de julho de

1854. p. 3.

Page 115: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

113

desavenças pessoais, de furto de animais, do

confronto entre os fazendeiros e indígenas, da

posse da terra etc. O conflito pela demarcação

da propriedade da terra foi muito comum nesse

período, pois a província estava aplicando a Lei

de Terras de 1850.

[...] Agitão-se frequentes questões de posses e limites, que em geral procedem do estado confuso e desordenado da propriedade territorial, as quaes, no futuro he provavel se reduzirão à pouco ou nada, com a observancia da lei das terras e respectivos regulamentos, que procuranmdo definir e fazer conhecida a porção de terra, de que cada um he proprietario, tendem a assegurar á todos o gozo de seus direitos sem o temor de força do vizinho, nem da conta do escrivão e do advogado [...] (VASCONCELLOS, 1854, p. 5).44.

Isso provocava discordâncias e discussões

frequentes em relação à posse e aos limites.

Outra questão mencionada pelos governantes

se refere ao costume que os habitantes tinham

de usar armas, o que contribuía para a

“desordem” na província:

[...] O uso de armas de defezas era, por assim dizer, hum direito consuetudinário neste paiz.

O vasto poncho, serve-se a maioria dos habitantes, e as largas e estrepitosas chilenas, não erão artigos mais essenciaes ao trajar de hum homem do povo, do que a inseparavel cartucheira, a faca, e as

44 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 5.

Page 116: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

114

pistolas, já não digo em viagem, nas estradas, ou em seus trabalhos do campo, mas em passeio à cidade, e (parece incrível) até nos templos do Senhor!(VASCONCELLOS, 1854, p. 6).45.

A atitude tomada pelo presidente foi a

proibição do uso de armas de defesa, com o

intuito de diminuir a violência. Essa medida teve

um resultado eficaz nas cidades, onde a ação

da polícia pôde ser mais efetiva, mas em

localidades distantes dos centros urbanos,

longe das autoridades, o uso das armas foi

mais difícil controlar:

[...] nas estradas e lugares remotos, longe das autoridades, que tem alguma força, ainda voga o uso criminoso, mas essa fonte de crimes irá diminuindo por toda a parte com a progressiva actividade e desenvolvimento da policia (VASCONCELLOS, 1854, p. 6).

Essas ações desenvolvidas para a

manutenção da segurança pública sofreram

alterações à medida que a população46

paranaense crescia, e em decorrência de outra

45 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854.. p.

6. 46 A população que constituía o período provincial paranaense em 1854

contava com 60.625 habitantes, dos quais quase 16% eram escravos, em

torno de 10 mil. Mas com a entrada de migrantes, a partir da década de

1860 e com a saída de escravos para a lavoura paulista ocorreram

mudanças no quadro demográfico da província. A população, com o censo

de 1872, totalizava 126.722 habitantes, incluindo 10.560 escravos (8,3%)

(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383).

Page 117: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

115

política desenvolvida pelos governantes, a de

implantação de colônias de migrantes europeus,

principalmente ao redor de centros urbanos. As

tensões e os conflitos provocados pela

aglomeração de populações mobilizaram as

autoridades policiais da província, que

demonstravam preocupação em manter a

“tradição” provincial de tranquilidade pública,

combatendo a criminalidade, principalmente no

período de 1860 a 1880, quando foram fundados

28 núcleos coloniais, com a entrada de 19.215

migrantes.

• Política de Educação

A “Instrução Pública” foi uma das

preocupações constante dos governantes e das

elites locais. Desde a primeira gestão

governamental esse era um desafio a ser

enfrentado, pois o desenvolvimento da

Educação influenciaria a prosperidade da

província.

[...] Todas as corporações e funcionários, á quem ouvi acerca do estado da instrucção na província, derão-me as mais desfavoráveis informações desse ramo do serviço publico, e assim parece ser, á vista de documentos que tive presentes. Seja, pois, este hum dos assumptos que mais mereção vossa solicitude e attenção, pois que, por certo, he de maior alcance e influencia para a prosperidade [...]. Consideremos o ensino publico tanto primário como secundário, á ver o que mais importa

Page 118: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

116

na actualidade (VASCONCELLOS, 1854, p. 12).47

[...] É a instrucção o primeiro elemento da educação, a primeira necessidade da humanidade o primeiro dever de todas as nações.

Nas nações que se dizem livres, isto é, em que as classes que se presume illustradas e capazes, são chamadas a tomar na direcção dos negócios públicos a parte proporcionada á sua capacidade, e em que o dever de gerir os interesses collectivos exige de cada um maior somma de sacrifício e abnegação, a necessidade da instrucção sobreleva a todas as outras.

A constituição chamando a maior parte da nação ao exercício dos pesados deveres da soberania, garantia com razão a instrucção primaria gratuita a todos (PARANÁ, 1869, p. 9).( 48.

Com a instrução pública seria possível não

apenas a formação de mão de obra, mas a

conquista de visibilidade dos governantes em

relação aos governados. Também, no Paraná o

ensino primário vinha a atender à questão do

“abrasileiramento” dos migrantes estrangeiros

que se estabeleciam na província, com sua

língua, seus hábitos, costumes e valores. Os

governantes e as elites dominantes sempre

47 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p..12.

48 PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca). Relatório... 6 de abril de 1869. p. 9.

Page 119: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

117

viam isso como uma ameaça à sua hegemonia

(MAGALHÃES, 2001).49

Nos relatórios vimos que é constantemente

mencionada a importância do desenvolvimento

da Educação formal para a província, e como

era a organização do ensino para meninos e

meninas.

O ensino era dividido em: instrução

primária, secundária e escola normal,

considerada necessária para suprir a falta de

professores da época.

As escolas públicas eram frequentadas

pelas crianças das camadas pobres, e as

escolas particulares eram em geral

frequentadas pelos filhos das famílias mais

providas economicamente, as quais se

estabeleceram nos centros urbanos mais

populosos, onde havia uma clientela com vida

econômica, social e cultural mais elevada50.

Os estudos superiores eram cursados em

São Paulo, Recife, Rio de Janeiro ou em

faculdades europeias, e somente pelos jovens

da elite dominante, que tinham recursos

financeiros para cursar esse nível.

49 MAGALHÃES, Marion Brepohl. Paraná: Política e Governo. Curitiba:

SEED, 2001. (Coleção História do Paraná – textos introdutórios). 50 Para maiores detalhes sobre essa questão da Educação, ver: OLIVIEIRA,

1986; TRINDADE; ANDREAZZA, 2001; GUARNIERI, 2006.

Page 120: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

118

O ensino era baseado no princípio da

moralidade e dos costumes da época, com a

preocupação de manter o ordenamento social,

que visava à obediência à autoridade, cujo

centro era a Corte, devendo a periferia ser

moldada segundo seus interesses.

[...] Nos paizes, que presão a civilização do povo, e vêem nas escolas a origem della, aprender as matérias do ensino primário he mais que hum direito, he huma rigorosa obrigação, imposta á todos, sob certas penas. Assim o deveis considerar e dispor na legislação da nova província.

Obriga-se o povo á vaccina, e elle obedece ou deve obedecer sem reparo, porque he hum meio de preservar-se de hum flagello fatal.

Ora a instrucção primaria he, por assim dizer, huma vaccina moral, que preserva o povo do peior de todos os flagellos conhecidos e por conhecer – a ignorância – das nações elementares, que nivela o homem ao bruto, e o torna matéria apta e azado instrumento para o roubo, para o assassinato, para a revolução, para todo mal, enfim (VASCONCELLOS, 1854, p. 12).51.

As instituições escolares, principalmente

as públicas, mantinham um maior número de

unidades direcionadas aos alunos do sexo

masculino em relação às destinadas ao sexo

feminino, isso pelo fato de terem sido criadas

escolas primeiro para os meninos, e depois, se

houvesse necessidade, para as meninas. Para

se ter uma ideia, em 1854 eram 22 escolas

51 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 16.

Page 121: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

119

masculinas para 08 femininas, e em 1889 eram

61 masculinas para 24 femininas (OLIVEIRA,

1986, p. 201).52.

As escolas mistas ou promíscuas sugiram

pela falta de professores. Com isso os

governantes tiveram que criar escolas que

comportassem meninos e meninas. A aceitação

pela comunidade paranaense a esse tipo de

escola ocorreu aos poucos, e de 1886 a 1889 o

número delas chegou a 114.

O ensino primário e secundário esbarrou em

diversos problemas, como: falta de prédios

públicos, de verbas, de professores, de estradas

em condições adequadas para o deslocamento

dos estudantes das comunidades distantes para

as cidades e vilas onde existiam as escolas etc.,

o que dificultava o seu desenvolvimento na

província, ou seja, isso inviabilizou o que se

pretendia em face do que se podia fazer, diante

da realidade social e econômica paranaense da

época.

Mas as diversas ações tomadas para a

regulamentação e organização do ensino

primário e secundário na província, apesar dos

problemas enfrentados pelas autoridades,

fomentaram um crescimento significativo em

52 Para obter os índices de todos os anos do período provincial, conferir

tabela em: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na

província do Paraná 1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do

Paraná, 1986, p. 201.

Page 122: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

120

comparação ao atendimento precário herdado

do período anterior à emancipação. Em 1853, o

Paraná tinha um número limitado de escolas:

eram 28 estabelecimentos públicos de ensino,

distribuídos entre 18 localidades, e 3 escolas de

ensino particular. Ao final do período provincial,

devido à política de investimento na Educação

Pública, o resultando foi de 199 escolas de

ensino primário e secundário, distribuídas por

130 localidades, sendo 180 escolas da rede

pública e 19 da rede particular53.

Quadro 2: Resumo do desenvolvimento do ensino primário e secundário na província do Paraná, de 1854 a 1889

PERÍODO AÇÕES

1854 a

1857

• Regulamentação da instrução pública na província.

• Estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.

• Estabelecimento e planejamento de divisão do ensino nas escolas primárias.

• Regulamento de ordem para as escolas da Instrução Primária.

• Preparação e organização do professorado.

• Instituição de normas para o ensino particular, primário e secundário.

1858 a

1869

• Regulamentação e estabelecimento de orçamento para a Instrução Pública.

• Estabelecimento e organização dos conteúdos de ensino para as escolas secundárias.

• Encaminhamentos com relação ao

53 OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná

1853-1889. Curitiba/PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.

Page 123: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

121

valor despendido à Instrução Pública.

1870 a

1880

• Desenvolvimento do ensino secundário, principalmente na iniciativa privada (1870).

• Obrigatoriedade do ensino primário para os meninos de 7 a 12 anos e meninas de 7 a 10 anos (1874).

• Normatização da fiscalização das escolas primárias (1874).

• Criação da Escola Normal, em Curitiba, para formação de professores para a Instrução Pública (1876).

1881 a

1889

• Criação de escola noturna, na capital, para adultos (1882), e também em outros municípios.

• Vinculação de 20% do imposto predial para a Instrução Pública.

• Incentivo à criação de escolas através de estipulação de subvenções do governo.

• Câmaras municipais responsáveis em instituir, em suas sedes, casas escolares.

• Criação de alguns colégios particulares, fundados por ordens religiosas ou civis.

Fonte: OLIVEIRA, Maria Cecília Marins. O ensino primário na província do Paraná 1853-1889. Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 1986.

• Política de construção e manutenção de

estradas

A questão das estradas obteve grande

atenção dos governantes, pois delas dependia

todo o transporte de produtos e mercadorias

produzidos e consumidos na província, como

também a comunicação do interior com as

principais cidades, vilas e povoados. As

estradas existentes eram precárias, o que para

Page 124: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

122

as autoridades impedia o “progresso da

província”.

A primeira necessidade desta província he, decididamente, o melhoramento de suas vias de communicação.

A lavoura, tão atrazada, [...], não póde alar, o commercio não póde desenvolver-se, em quanto as estradas se conservarem como estão, e o anhelo de attrahir, aos excellentes terrenos da província, colonos europêos em certa escala, encontra forte resistência no estado deplorável das vias actuaes de communicação, onde não póde rodar hum carro, e tudo se transporta, mal e mui dispendiosamente em costas de animaes (VASCONCELLOS, 1854, p. 86).54.

Assim que o Paraná se emancipou, desde

o seu primeiro governante, Zacarias de Góes e

Vasconcellos, iniciou-se o projeto da Estrada da

Graciosa, que ligava Curitiba ao litoral, e

também o de uma estrada planejada para

estabelecer a ligação entre o Paraná e o Mato

Grosso. Vários foram os engenheiros que

trabalharam na construção e em melhorias de

estradas nesse período: Francisco Antonio

Monteiro Tourinho (1835-1883), Henrique

Beaurepaire Rohan (1812-1894), Antonio

Rebouças (1839-1874), Willian Loyd e os

Irmãos Keller, entre outros.

54 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.

86.

Page 125: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

123

As estradas eram vias de comunicação

fundamentais para a província do Paraná, como

ainda é hoje, pois isso representava o

desenvolvimento econômico e social, segundo

Wilson Martins (1989, p. 12).55:

[...] a sua falta (estradas) foi talvez o principal entrave ao progresso do Paraná em geral e ao sucesso integral da colonização (migrantes estrangeiros) em particular. [...] a súplica pelas estradas é uma espécie de lugar-comum na história administrativa do Paraná e o clamor ininterrupto que se ouve, em todas as línguas, desde os primeiros dias de sua história provincial.

No Paraná havia quatro estradas

principais: a da Graciosa, Ytupava, Arraial e a

Estrada Geral. Esta última servia de passagem

para o gado e os muares que vinham de

Viamão/RS para Sorocaba/SP. Além dessas,

outras estradas também necessitavam de

investimentos, pela utilidade que tinham:

[...] as estradas de serra-ácima, particularmente daquellas por onde se faz todo ou grande parte do commercio entre as provincias do Sul e as de S. Paulo, Minas-Geraes, e Rio de Janeiro (VASCONCELLOS, 1854, p. 93).56.

As estradas que ligavam uma localidade a

outra dentro da província paranaense, como a

de Guarapuava a Ponta Grossa, estavam na

55 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de

aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p.12. 56 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p. 93.

Page 126: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

124

pauta de governo, conforme informa o

presidente Zacarias de Góes e Vasconcellos

(1854, p. 93) nesse mesmo Relatório.

[...] São por certo, dignas de attenção as ramificações, que de Ponta Grossa e de Guarapuava se dirigem á colonia Thereza; [...].

[...] De Castro [...] há huma estrada que vem directamente encontrar-se com a Graciosa; sua importância he immensa, e o direito que tem á attenção desta assembléia incontestável. Da mesma Villa segue hum ramal do porto de Jatahy, de summa utilidade, como parte da via de communicação com Mato-Grosso. Dirige-se huma estrada desta cidade á de S. Francisco na província de Santa Catharina, que muito convem melhorar para manter entre as duas cidades e províncias huma communicação regular.

Essa questão foi muito clamada quando do

estabelecimento de colônias de migrantes

estrangeiros, a partir da década de 1860. Eram

constantes as reclamações dos colonos à

administração pública sobre as péssimas

condições das estradas. Os presidentes da

província constantemente abordavam a

importância da melhoria e da construção de

estradas que permitissem a comunicação das

colônias com a capital e com os centros

maiores, principalmente para a comercialização

e para o consumo de produtos. Esse era um

grande problema, pois, segundo as autoridades

da província, as colônias não estavam

prosperando em virtude da falta de estradas.

Page 127: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

125

[...] Esta colônia é assentada em fértil terreno, próprio para vários gêneros de cultura. Não tem prosperado, tanto quanto se esperava, por diversas causas, nascidas já da grande distancia e da falta de vias de communicação, que liguem-a a cidade de Castro, em cujas visinhanças se acha e com quem entre em relações commerciaes, posto que em pequena escala, e já de se não ter applicado a necessária attenção ao seu desenvolvimento57.

A administração pública, durante o período

provincial, apesar das dificuldades encontradas

pela falta de recursos técnicos e financeiros,

sempre tomou providências em relação à

construção e conservação de estradas, mesmo

não conseguindo avançar com algumas obras

importantes, como a conservação da Estrada

da Graciosa.

A navegação despertou grande interesse

das autoridades desde os primeiros anos de

província. O “empreendimento” de tornar os rios

navegáveis, naquele momento, vinha ao

encontro do fato de que os rios poderiam servir

para determinar os limites geográficos da

província, como também servir de referência

para o estabelecimento de novas localidades

(colônias de povoamento). Essa questão é

constantemente mencionada nos relatórios dos

presidentes e vice-presidentes, principalmente

no período de 1850 a 1870, pois os rios

representavam a possibilidade de um

desenvolvimento econômico para o Paraná.

57 Carvalho, 15 de fevereiro de 1870, p. 39.

Page 128: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

126

Para explorar e mapear os rios foram

contratados engenheiros como os irmãos

Keller58. Vários rios foram estudados, como:

Iguaçu, Tibagi, Ivaí, Piquiri, Paraná,

Paranapanema etc. Além de os rios servirem

como referenciais geográficos, poderiam ser

transformados em vias de comunicação,

considerados como estradas para o transporte

de mercadorias. Isso traria um beneficio muito

grande à província, pela diminuição dos gastos

em relação ao transporte realizado

normalmente por via terrestre.

1º o rio Tibagy que se lança no Paranapanema, assim como este no Paraná, offerece com o Yvinheima e Brilhante de Mato-Grosso huma via fluvial, que, á partir do porto do Jatahy nesta, vae ter ao interior daquella província, ocassionando despezas incomparavelmente menores do que as que se fazem pela actual via de communicação, avista da distancia que encurta-se e do tempo que se poupa. A não ser pelos rios da Prata, Paraná, e Paraguay, parece averiguado não haver mais prompto nem mais fácil meio de communicação para o Mato-Grosso do que a indicada via fluvial, o que pode deixar de produzir assignalados benefícios a esta província por motivos que estão ao alcance de todos (VASCONCELLOS, 1854, p. 76-77).59.

58 Nos anexos dos relatórios estão os relatórios dos engenheiros informando

sobre o desenvolvimento do seu trabalho com os rios na província. 59 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...15 de julho de 1854. p.,

p. 76-77.

Page 129: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

127

Diversos outros fatores são abordados

pelos governantes a respeito dos rios, como a

possibilidade de exploração por meio da

cobrança de “pedágios” na utilização de balsa

para a travessia de um lado para outro, e

também o fornecimento de peixes, o que

poderia beneficiar as localidades às suas

margens.

As inúmeras dificuldades que ocorreram

sobre essa questão são informadas nos

relatórios, como por exemplo em relação ao rio

Tibagi, onde a navegação poderia ser realizada

apenas em algumas partes, pois em outras

havia obstáculos.

[...] não he, porem, o Tibagy rio tal, que consinta navegação não interrompida e sem perigo, porque sabe-se que tem muitas cachoeiras e baixos que com dificuldade se transpõe, e não he possível navegal-o com vantagem senão em certas monções (VASCONCELLOS, 1855, p. 770.60.

A mesma questão é referida quanto ao rio

Iguaçu.

[...] Yguassú – Este rio, que tem sua origem proxima a Serra do Mar, nos municipios de Curytiba e S. José dos Pinhaes, não é navegável em todo seu curso, por causa das rochas que obstruem, e muito mais pelo

60 VASCONCELLOS, Zacarias Góes e. Relatório...8 de fevereiro de 1855, p.

77.

Page 130: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

128

magnifico salto que apresenta [...] ROHAN, 1856, p. 168).61.

Mesmo assim, com todas as dificuldades

apresentadas com relação à navegação dos rios,

os presidentes acreditavam nesse

empreendimento. [...] E todavia bastantemente

vantajosa seria aos interesses da provincia

huma tal navegação, e capaz de compensar

qualquer sacrifício que com ella se houvesse de

fazer, defendia o presidente Zacarias em 1855.

Mas esse interesse veio a desaparecer quando

surgiu a possibilidade de construção das

ferrovias na província, por volta da década de

1880.

Essa questão não se esgota aqui, e nem é

o que pretendemos. Apenas procuramos

apontar as perspectivas dos governantes

provinciais em relação à pretendida navegação

dos rios, principalmente quanto à utilização

deles como estradas. Sem dúvida, é um

assunto que posteriormente deve ser mais

pesquisado.

• Política de povoamento

As colônias de povoamento com migrantes

europeus eram citadas seguidamente pelos

governantes nos relatórios, demonstrando a

61 ROHAN, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire. Relatório... 1 de março

de 1856, p.168.

Page 131: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

129

preocupação em dinamizar a instalação de

colônias produtoras de gêneros agrícolas para

suprir o mercado local e a comercialização do

excedente, como também a criação de mão de

obra assalariada.

A migração estrangeira para povoar o

Paraná teve início em 1828, quando chegaram os

primeiros alemães na região de Rio Negro, e

continuou com a posse do primeiro presidente da

província, Zacarias de Góes e Vasconcelos. Ele

via o imigrante como o individuo “trabalhador”,

que traria técnicas e desenvolveria a agricultura,

de que a província necessitava.

A Lei nº 29 de 21 de março de 1855, em seu artigo 1º autoriza o governante a promover a imigração de estrangeiro para a província e empregar os meios necessários para atrair os estrangeiros que estiverem em qualquer outra província do Brasil (PARANÁ, 1912, p. 16-17).62.

Essa lei inaugurou oficialmente o processo

de povoamento com migrantes europeus, no

Paraná. Todos os governantes da província

mencionaram as dificuldades e os obstáculos

enfrentados para o desenvolvimento da política

de migração, como a falta de recursos

financeiros, a falta de planejamento, os atritos

culturais entre os estrangeiros e a populações do

local, o que dificultava a relação entre eles. Mas

acreditava-se nesse empreendimento, pois,

62 Fonte: PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações.

Governo da Província do Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia Penitenciária. 1912, p.16-17. t. 2.

Page 132: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

130

apesar dos problemas, os migrantes europeus

eram um bom investimento.

E meu sentimento, senhores, que a província do Paraná, nos seus ensaios de colonisação [...] crêe um estabelecimento agrícola, onde se admittão os estrangeiros e nacionaes, [...]. Estou plenamente convencido que, dirigida a empreza por pessoa intelligente, a província tiraria vantagens, que largamente a compensarião das despezas adiantadas.63

O grande impulso da política de

povoamento ocorreu entre as décadas de 1860 e

1880, quando se instalaram, por todo o território,

mais de 60 núcleos coloniais, oficiais e

particulares.

Quadro 3: Colônias de migrantes europeus na província do Paraná

ANO

LOCALIDADE

COLÔNIA ETNIA64

1829

Rio Negro

Colônia do Rio Negro

Alemães

1847

Ivaí Colônia Tereza (hoje município de Reserva)

Franceses

1852

Guaraqueçaba

Colônia do Superagui

Suíços, alemães, franceses e outros.

1860

Serro Azul

Colônia do Assungui

Ingleses, franceses, italianos, alemães e outros.

1868

Curitiba, Colônia Argelina Franceses da Argélia, alemães,

63 RELATÓRIO. Rohan, 01 de março de 1856, p.39.

64 Fonte: PARANÁ. Dicionário histórico-biográfico do Paraná. Curitiba:

Chain, 1991. p. 90-91.

Page 133: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

131

suíços, ingleses e italianos.

1870

Curitiba Colônia do Pilarzinho

Poloneses, alemães e italianos

1871

Curitiba Colônia São Venâncio

Alemães, poloneses e suecos.

1871

Paranaguá

Colônia Alexandra

Italianos

1873

Curitiba Colônia Abranches

Alemães e poloneses.

1875

Curitiba Colônia Santa Cândida

Poloneses, suíços e franceses

1875

Curitiba Colônia Orleans Poloneses, italianos, franceses e outros

1875

Paranaguá

Colônia Eufrasina e Pereira

Italianos e espanhóis

1876

Curitiba Colônia Bento Inácio

Poloneses, siberianos e galicianos

1876

Curitiba Colônia Lamenha

Poloneses, silesianos e alemães

1876

Curitiba Colônia Dom Augusto

Poloneses

1876

Curitiba Colônia Dom Pedro

Poloneses, galicianos e silesianos

1876

Araucária

Colônia Tomaz Coelho

Poloneses, galicianos e silesianos.

1877

Curitiba Colônia Riviére Franceses, poloneses e alemães

1877

Antonina e Morretes

Colônia Nova Itália

Italianos

1878

Curitiba Colônia Dantas Italianos

1878

Curitiba Colônia Alfredo Chaves (hoje Colombo)

Italianos

1878

São José dos Pinhais

Colônia Santa Maria do Novo Tirol

Italianos

1878

São José dos Pinhais

Colônia Zacarias Poloneses e silesianos

1878

São José dos Pinhais

Colônia Inspetor Carvalho

Poloneses e italianos

1 São José Colônia Muricy Poloneses e

Page 134: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

132

878 dos Pinhais italianos

1878

Campo Largo

Colônia Antonio Rebouças

Poloneses e italianos

1878

Ponta Grossa

Colônia Otávio Alemães do Volga

1878

Palmeira Colônia Sinimbu Alemães do Volga

1878

Lapa Colônia Wirmond

Alemães do Volga.

1879

Paranaguá

Colônia Maria Luiza

Italianos, alemães e espanhóis

1883

Campo Largo

Colônia Mendes Sá

Italianos e poloneses

1886

Campo Largo

Colônia Alice Poloneses

1886

Araucária

Colônia Barão de Taunay

Poloneses

1886

Curitiba Colônia Santa Gabriela

Poloneses e Italianos

1886

Curitiba Colônia Antonio Prado

Poloneses e Italianos

1886

Curitiba Colônia Pres. Faria

Poloneses e italianos

1887

Curitiba Colônia Maria José

Italianos

1887

Rio Negro

Colônia João Alfredo

Alemães e poloneses

1887

Rio negro

Colônia São Lourenço

Alemães

1888

Curitiba Colônia Santa Felicidade

Italianos

1888

Paranaguá

Colônia Visconde de Nacár

Italianos

1888

Paranaguá

Colônia de Santa Cruz

Italianos

1888

Paranaguá

Colônia Santa Rita

Italianos

1889

Campo Largo

Colônia Balbino Cunha

Italianos

1889

Campo Largo

Colônia Dona Mariana

Italianos

Fonte: MARTINS, Wilson. Um Brasil Diferente:ensaio sobre o fenômeno de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 66-67.

Page 135: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

133

A entrada de migrantes europeus durante o

tempo da província foi de 19.215 indivíduos. Esse

fato alterou a constituição da população, que em

1854 contava com 60.625 habitantes, e passou a

126.722 habitantes em 187265.

Quase a totalidade dos presidentes do

período provincial, com exceção de um e outro,

investiram nessa política de povoamento, o que

marcou o Paraná e selou um rumo que não seria

abandonado, fato que promoveu a diversidade

étnica presente no Estado hoje. Tal questão leva

a muitas pesquisas sobre o que é ser

paranaense. Dentre os estudos apresentados, o

sociólogo Wilson Martins aponta como sendo

essa política de migração a responsável por dar

uma constituição populacional diferenciada do

restante do Brasil66.

O resultado dessa política, prosseguida sistematicamente há um século, deu ao Paraná a sua fisionomia humana particular e típica, definidora e essencial, [...]. Assim, ainda no domínio etnológico, o

65 Cf. MARTINS, 1989, p. 69. Não se pode esquecer de que nessa cifra

numérica existia a população negra. A composição da população do

Paraná segundo a cor, no século XIX, variou de 58,6% de brancos e

41,4% de negros, pardos e mulatos em 1800, passando a 55,1% de

brancos e 44,9% de negros, pardos e mulatos, em 1822; 57,2% de

brancos, sem população da Lapa, e 42,9% de negros, pardos e mulatos

em 1854; e 55% de brancos e 45% de negros, pardos e mulatos, em 1872

(Dicionário histórico-biográfico do Paraná, 1991, p.383). 66 Para se ter uma visão critica sobre essa forma de ver a constituição da

sociedade paranaense: MOTA, Lúcio Tadeu. As guerras dos Índios

Kaingang: a história épica dos índios Kaingang no Paraná (1769-1924). Maringá-

PR: EDUEM, 2009. p. 19-71.

Page 136: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

134

Paraná repete o exemplo de equilíbrio [...] como a sua característica fundamental. Em certas regiões brasileiras o esquema da população pode ser um “triângulo retângulo” [...] o elemento português, o índio [...] o africano – aqui a figura geométrica seria, na mais simplificadora das hipóteses, um polígono irregular de sete lados, cujas faces, em extensão decrescente e tamanho variável, representariam os elementos polonês, ucraniano, alemão, italiano, [...] o índio e o negro (MARTINS,1989, p. 108).67

Assim, segundo essa explicação, a

representação da formação do povo brasileiro e

do povo paranaense ocorreria conforme os

esquemas a seguir 68, na Figura 1.

O Paraná, visto dessa forma por Martins,

dilui todas as etnias no povo paranaense, na

sociedade paranaense, que, na sua visão

sociológica, é uma sociedade “diferente” da do

resto do Brasil.

67 MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação

no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 1989. p. 108. 68 O desenho dos esquemas foi retirado de: MOTA, Lúcio Tadeu. História do

Paraná: ocupação humana e relações interculturais. Maringá-PR: EDUEM, 2005.

p. 53-54. (Formação de professores EAD, n. 28).

Page 137: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

135

POVOBRASILEIRO

PORTUGUESES

NEGROS

ÍND

IOS

POVOPARANAENSE

NE

GR

O

ÍND

IO

PORTUGUÊS

ALEMÃO

UCRANIANO

PEQUENOS GRUP OS

ITALI

ANOPOLONES

^

Figura 1. Esquema geral de explicação da formação do povo brasileiro e do povo paranaense

Também verificamos, nas informações dos

presidentes da província, preocupação com as

populações indígenas e ações direcionadas a

elas, como a implantação de colônias militares,

também mencionadas nos relatórios. Além de

serem priorizadas como pontos estratégicos na

defesa das áreas limítrofes da província, essas

colônias eram consideradas como uma política

mais ampla para ocupação dos territórios, no

sentido de promover o povoamento.

Tanto a implantação das colônias militares

quanto a dos indígenas constituíram ações

desenvolvidas em conjunto pelo governo

imperial e o provincial. Assim, foram

Page 138: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

136

implantadas tais colônias em vários pontos da

Província.

As colônias militares foram as seguintes:

Colônia Militar de Jataí, criada em 21 de janeiro

de 1855 pelo decreto Imperial nº 751, localizada

às margens do rio Tibagi, hoje cidade de

Jataizinho; Colônia Militar do Chopim, criada em

16 de novembro de 1859 pelo decreto Imperial

nº. 2.502, instalada em 27 de dezembro de

1882, localizada onde hoje é a cidade de

Chopinzinho; Colônia Militar do Chapecó, pelo

decreto nº 2502 de 16 de novembro de 1859,

instalada em 14 de março de 1882, e que hoje

integra o território do Estado de Santa Catarina;

Colônia Militar de Foz do Iguaçu, fundada em

23 de novembro de 1889, onde hoje é a cidade

de Foz do Iguaçu.

As colônias indígenas foram: Colônia de

Nossa Senhora do Loreto do Pirapó, criada em

1855, localizada na foz do rio Pirapó, no

Paranapanema, hoje cidade de Itaguagé;

Colônia de Santo Inácio do Paranapanema,

criada em 1862 na embocadura do rio Santo

Inácio do Paranapanema, atualmente município

de Santo Inácio; Colônia de São Pedro

Alcântara, criada em 1855 às margens do rio

Tibagi, em frente à cidade de Jataizinho, que foi

a que teve maior duração, sendo extinta apenas

em 1895; Colônia de São Jerônimo, em 1859,

hoje cidade de São Jerônimo da Serra; Colônia

do Xongu (Chagu) instalada em 1859, nos

campos do Chagu, a oeste de Guarapuava,

onde atualmente se localiza a Terra Indígena de

Page 139: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

137

Rio das Cobras, no município de Laranjeiras do

Sul; Colônia de Catanduvas, implantada em

1891, localizada entre a colônia militar de Foz

do Iguaçu e Guarapuava; Colônia de São

Tomás de Papanduva, instalada em 1875 na

região do Rio Negro.

• Considerações finais

Ao abordarmos as principais políticas

públicas dos presidentes e vice-presidentes do

Paraná provincial constatamos como eles

buscaram promover o desenvolvimento político,

social, cultural e econômico da província para

consolidar a sua autonomia por meio de ações

políticas, como: organizar e garantir a segurança

pública, que, apoiada na ordem dominante, agiu

em defesa dos interesses de uma determinada

classe social – a elite; o desenvolvimento de

práticas educacionais, para criar uma sociedade

com uma cultura pautada na moralidade e nos

costumes da época; a busca por ocupar, unificar

e garantir o domínio do território, ligando uma

região a outra pela política de estradas,

investindo na sua construção e em suas

melhorias, e no projeto de navegação dos rios,

visando impulsionar a economia e a comunicação

do interior com o centro dominante do poder;

como também povoar com gente “civilizada,

morigerada e laboriosa” as terras paranaenses,

constituindo uma sociedade pautada na ideologia

do progresso e da civilização.

Esperamos que, a partir do que foi abordado

neste capítulo, seja possível se conhecer um

Page 140: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

138

pouco sobre esse período da história paranaense

que não costuma ser abordado nas escolas, e

praticamente não é estudado pelos alunos.

Apesar de a história paranaense ser objeto de

estudos desde meados do século XIX até os dias

de hoje, de forma geral muito pouco contato os

educadores e estudantes têm com esses estudos.

REFERÊNCIAS

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Page 142: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

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PARANÁ. Governador (1869-1870: Affonso de Carvalho) Relatório do Presidente da Província do Paraná Dr. Antonio Luiz Affonso de Carvalho apresentado à Assembléia Legislativa na abertura da 1ª sessão da 9ª legislatura em 15 de fevereiro de 1870. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em 17/mar. 2008. PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca). Relatório do Presidente da Província Antonio Augusto da Fonseca a Assembléia Legislativa de 6 de abril de 1869. Disponível em:<http://www.pr.gov/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008. PARANÁ. Lei nº. 13.381, de 18 de dezembro de 2001. Torna obrigatório, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual de Ensino, conteúdos da disciplina História do Paraná. Diário Oficial do Estado, Curitiba, n. 6.134, 18 dez. 2001. PARANÁ. Leis, Decretos, Regulamentos e Deliberações. Governo da Província do Paraná. 1855 –1857. Curitiba: Typographia Penitenciária, 1912. t. 2, p.16-17. ROHAN, Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Paraná no di 1 de março de 1856 pelo vice-presidente em exercício Henrique de Beaurepaire Rohan. Curityba: Typ. Paranaense de C. Martins Lopes, 1856. p.168. SANTOS, Carlos Roberto Antunes dos. Vida material e econômica. Curitiba: SEED, 2001. TRINDADE, Etelvina Maria de Castro; ANDREAZZA, Maria Luiza. Cultura e Educação no Paraná. Curitiba: SEED, 2001. VASCONCELLOS, Zacarias de Góes. Relatório do Presidente da Província do Paraná na abertura da Assembléia Legislativa Provincial em 15 de julho de 1854. Curityba: Typ. Paranaense de Cândido Martins Lopes, 1854. WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. 2. ed. Curitiba: Editora dos Professores, 1968. 185p.

Page 143: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

141

Documentos On line

PARANÁ. Relatórios dos Presidentes e Vice-presidentes da Província do Paraná. Curitiba, 1854-1889. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 14 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente da Província do Paraná Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 15 de julho de 1854. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Presidente da Província do Paraná o Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos na Abertura da Assembléia Legislativa Provincial, em 8 de fevereiro de 1855. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 15 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1854-1856: Góes e Vasconcellos) Relatório do Vice-Presidente da Província Henrique de Beaurepaire Rohan à Assembléia Legislativa, em primeiro de março de 1856. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1868-1869: Augusto da Fonseca) Relatório do Presidente da Província Antonio Augusto da Fonseca à Assembléia Legislativa em 6 de Abril de 1869. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em 17 mar. 2008.

PARANÁ. Governador (1869 - 1870: Affonso de Carvalho) Relatório do Presidente da Província do Paraná Dr. Antonio Luiz Affonso de

Page 144: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

142

Carvalho apresentado à Assembléia Legislativa, na abertura da 1ª sessão da 9ª legislatura, em 15 de fevereiro de 1870. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/arquivopublico/>. Acesso em: 17 mar. 2008.

ATIVIDADES

Observando o quadro I da galeria de

presidentes verificamos grande número de

governantes no período provincial paranaense.

Estabelecendo um paralelo com dados

recentes, responda às seguintes questões:

1- Você sabe quantos governantes o Paraná

teve nas últimas duas décadas?

2- Quais as prioridades de cada governante?

3- De que regiões eram oriundos?

4- Quais partidos políticos representavam?

5- Pesquise e elabore um quadro semelhante

ao “quadro I”, com informações sobre os

governantes das últimas duas décadas

(nomes, partidos, região de origem,

principais políticas de governo etc.).

Page 145: História do Paraná: Pré- história, Colônia e Império

143