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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA THAÍS MOYSÉS NOGUEIRA RODRIGUES HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA EM BRASÍLIA/DF: MEMÓRIAS DE LUTA - 1980 A 2000 Brasília 2013

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

THAÍS MOYSÉS NOGUEIRA RODRIGUES

HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA EM BRASÍLIA/DF:

MEMÓRIAS DE LUTA - 1980 A 2000

Brasília

2013

THAÍS MOYSÉS NOGUEIRA RODRIGUES

HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA EM BRASÍLIA/DF:

MEMÓRIAS DE LUTA - 1980 A 2000

Monografia apresentada ao Instituto de

Ciências Sociais da Universidade de

Brasília para obtenção do título de

Bacharel em Sociologia.

Orientadora: Profª Drª Lourdes Bandeira

Brasília

2013

THAÍS MOYSÉS NOGUEIRA RODRIGUES

HISTÓRIA DO MOVIMENTO FEMINISTA EM BRASÍLIA/DF:

MEMÓRIAS DE LUTA DE 1980 A 2000

Monografia apresentada ao Instituto de

Ciências Sociais da Universidade de

Brasília para obtenção do título de

Bacharel em Sociologia.

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Profª.: Draª Lourdes Maria Bandeira (orientadora)

_______________________________________

Profª.: Draª Tânia Mara Campos de Almeida

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à minha orientadora, Professora Lourdes Bandeira,

pela paciência, pelas correções, pelos puxões de orelhas, que me empurraram pra frente

e, principalmente, pela ideia de trabalhar com este projeto maravilhoso, pelo qual me

apaixonei e reapaixonei durante todo o processo.

Obrigada à Professora Tânia Mara pelo estímulo e disponibilidade para me

ajudar dentro do NEPeM, bem como às meninas que estavam lá dentro e tanto me

ajudaram na busca pelos documentos que fizessem referência ao movimento feminista –

Bianca, Catherini e Eliza, que atuam diretamente no projeto “UnB 50 anos”.

Não há palavras suficientes para agradecer à minha família. Obrigada, mãe, por

toda a credibilidade que me foi dada, pela confiança na minha capacidade dentro da

universidade, por todo suporte em todos os momentos. Ao meu pai, por todo o carinho e

compreensão, mesmo, muitas vezes, não entendendo nada dos processos acadêmicos. À

minha irmã e à minha vó por sempre estarem lá, acompanharem e darem força.

Obrigada, Raquel Lima, por acompanhar minha graduação como se fosse sua,

sempre disponível a me ajudar, fosse com estudos eternos e noite adentro, fosse com a

organização e escolha de matérias. Você sempre segurou a barra, os surtos de

madrugada e sempre disponível a revisar um trabalho ou a monografia.

Às amigas maravilhosas que me acompanham, dando todo suporte que eu

preciso há tantos anos: Ana Arcanjo, Águeda Macias, Helena Simões, Larissa Reis,

Luiza Dias, Maria Paula Azevedo. Mais recentemente, Ana Paula Gabatelli, Joana

Galinkin, Karina Mascarenhas e Patrícia Testa.

Àquele que faz da minha rotina muito mais legal, que me acompanhou nas

noites insones e naquelas de estudos, obrigada Gabriel Rechden.

A todas as mulheres que, de alguma

maneira, estiveram nessa luta.

Meu respeito àquelas que começaram esse

movimento em Brasília e àquelas que o

continuam.

RESUMO

A gênese do movimento feminista de Brasília/DF está diretamente conectada

ao momento histórico em que está inserida. Pensar o surgimento dos grupos

responsáveis pelo fortalecimento das pautas em meio a redemocratização e todo o

movimento social que fervilhava nas décadas de 1970, 1980 e 1990 é necessário para

compreender os caminhos que foram seguidos e que nos trouxeram até aqui. Há de se

considerar ainda todo o percurso feito pelo feminismo em âmbito nacional, que vai

fundamentar as bases deste movimento no pós-ditadura.

Recuperar essa memória através da consulta de acervos e, principalmente, de

entrevistas de mulheres que vivenciaram e participaram ativamente da construção do

movimento é o ponto de partida para a reconstrução dessa história. Através das falas,

apareceram grupos, mulheres e motivações fundamentais para o movimento feministas

de Brasília/DF. Através de entrevistas não estruturadas, temos a possibilidade de

abarcar diversas nuances da experiência de vida de cada uma dessas mulheres.

Três pontos importantes se destacaram – a ramificação do movimento

feminista entre militância política e crítica cultural, o silenciamento das mulheres e suas

demandas dentro do movimento social mais amplo e na história e, por fim, o pano de

fundo desse feminismo, a violência contra as mulheres. Pontuar esses três itens que nos

saltam aos olhos nos leva a voltar a atenção para o debate teórico dentro do movimento,

observando as motivações internas, como esse movimento se dividiu e subdividiu a

partir dos objetivos de luta e de mudança social encabeçados por essas feministas.

Palavras-chave: história do movimento feminista, Brasília, DF, grupos feministas,

memória, feminismo.

ABSTRACT

The genesis of the feminist movement in Brasília/DF (Brazil) is directly

linked with the historical moment in which it is inserted. The need to think about the

rising of the groups responsible for the strengthening of agendas in the midst of a

redemocratization and the whole social movement that was boiling in the 1970s, 1980s

and 1990s is necessary to comprehend the paths that had been taken and that brought us

here. The entire route taken by feminism nationwide must also be considered to

substantiate the foundations of this movement in the post-dictatorship.

To recover that memory through the consultation of archives and especially

of interviews of women who experienced and actively participated in the building of the

movement is the starting point for the reconstruction of this story. Through speeches,

groups appeared along with women and fundamental motivations for the feminist

movement in Brasília/DF. Through unstructured interviews, we are able to embrace

various shades of the life experience of each of these women.

Three key points stood out – the ramification of the feminist movement into

political activism and cultural criticism; the silencing of women and their demands

within the broader social movement and history; and finally, the background of this

feminism, the violence against women. Punctuating these three items that are eye

popping brings our attention to the theoretical debate within the movement, observing

the internal motivations, how this movement was divided and subdivided based on the

goals of struggle and social changing led by these feminists.

Keywords: history of the feminist movement, Brasilia, DF, feminist groups, memory,

feminism.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

1.1 Contextualização e emergência do Movimento Feminista em Brasília/DF

1.2 Motivação da pesquisa

10

11

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 13

3 PERCURSO DO MOVIMENTO FEMINISTA NO BRASIL 17

4 PRIMEIRO MOMENTO: DA DITADURA AOS CAMINHOS PARA A

REDEMOCRATIZAÇÃO (1970)

23

5 SEGUNDO MOMENTO: ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO

FEMINISTA (1980)

5.1 NEPeM e Cfemea – caminhos distintos

25

29

6 TERCEIRO MOMENTO: NOVO CONTEXTO E BRASÍLIA NO

CENÁRIO INTERNACIONAL (1990)

7 FALAS E MEMÓRIAS

7.1 Crítica Cultural e Militância Política

7.2 Silenciamento

7.3 Violência contra as Mulheres

31

34

35

36

38

8 CONCLUSÃO 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 43

ANEXOS 46

Anexo A – Lei nº 7.353, de 29 de agosto de 1985

Anexo B – Decreto nº 93.450, de 23 de outubro de 1986

Anexo C – Decreto nº 96.895, de 30 de setembro de 1988

Anexo D – Decreto nº 96.896, de 30 de setembro de 1988

Anexo E – Ato da Reitoria Nº 564/86

46

49

51

60

61

8

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho almeja explorar o surgimento do movimento feminista em

Brasília. Aponta-se como passo necessário para tal, explorar a noção de silêncio, do

não dito, o abafado, não divulgado, não considerado oficial. Sob esta perspectiva,

identifica-se que o silêncio faz parte da construção social da História, permeando várias

– se não pudermos apontar todas – esferas da vida cotidiana, seja no âmbito do público

ou do privado. O que não pode ser dito sempre foi contemplado na vida das minorias

políticas, e aqui diz respeito às mulheres brasileiras. Ao mesmo tempo opressor e

denunciador, o silêncio esconde as mulheres da história e nos mostra o nível alarmante

de opacidade das mesmas: se não nos denominamos mulheres, deixamos de existir

(DEL PRIORE, 2000; PERROT, 2005).

A construção da capital do país, a partir de 1955, não se trata apenas da parte

física, do concreto, prédios, ruas e construções; sobretudo, uma população se forma e dá

origem a novas dinâmicas e conjunturas sociais, desvinculadas de suas localidades de

origem, inaugurando processos históricos inéditos. Surgem novas demandas,

necessidades e representações populares. Neste contexto estavam as mulheres

brasileiras, vindas de diversas regiões do país, exatamente para compor a feição da nova

capital. Naqueles idos da década de 1980, as mulheres iniciaram o movimento feminista

na Capital do País, no contexto da ditadura militar, cenário político de muita repressão,

instabilidade econômica, inexpressividade legitimada pela dominação masculina e

heranças sexistas baseadas no patriarcado, sob a crença na existência de um sexo frágil

e inferior.

Brasília, enquanto centro do poder nacional, experienciou fortemente as tensões

do regime militar. Como exemplo de controle, a cidade viveu dias de extrema repressão

durante toda a ditadura. Ações na universidade eram limitadas, as produções culturais e

intelectuais contidas. Movimentos sociais locais se vinculavam a movimentos nacionais

para subsidiarem sua existência, ao mesmo tempo em que funcionavam como uma

incubadora da democracia, de pensamento social e democrático.

Esse estudo busca homenagear essas mulheres, ao reconstruir de maneira singela

suas histórias e trajetos. O intuito é traçar o caminho do movimento feminista em

Brasília e no DF com auxílio documental e com os depoimentos de algumas mulheres

9

que nele estiveram, sem escapar da compreensão de que essa história pode ser vista e

interpretada de outras maneiras e por outros olhares.

Os anos setenta foram fundamentais para o surgimento do movimento feminista

em Brasília/DF, tendo em vista o contexto político nacional, internacional e o histórico

do movimento no país. A criação de grupos de mulheres comprometidos com a

transformação da sociedade a partir das diferenças entre as hierarquias e as

discriminações que prevaleciam entre homens e mulheres, ainda muito demarcadas na

década de 1980 no Brasil, foi um fenômeno recorrente em todo o país, e na capital isso

não foi diferente.

A movimentação social gerada pela ditadura trouxe todo tipo de

questionamento. O movimento feminista nacional, que passava por uma fase de

calmaria até então, começa a se reorganizar motivado pela busca pela liberdade e pela

democracia. O feminismo aparece em reuniões privadas, grupos de amigas que se

reuniam para trocar vivências e buscar fortalecimento, ao mesmo tempo em que surgia

uma militância preocupada com a desmilitarização do governo, com toda a violência a

que a população era submetida. O encontro desses movimentos abre portas para a

formalização das questões de opressão das mulheres, bem como para a importação de

todo debate feminista que acontecia no exterior pelas mulheres exiladas.

É partindo dessa contextualização que meus esforços se concentram nas décadas

de 1980 e 1990, pois a partir de virada do século, ano 2000, o movimento feminista

nacional e regional se depara com novos paradigmas, passando por novas

transformações, distantes e distintas daquelas vividas nas décadas abarcadas por este

trabalho. A década da mulher estabelecida pela ONU, em 1975, com a Conferência

Internacional sobre as Mulheres, realizada na cidade do México, a volta à democracia

no Brasil (1989), e as grandes manifestações sociais organizadas fertilizam esses vinte

anos do movimento feminista, organizam suas motivações e objetivos. A virada do

século XXI encontra novas motivações e um novo contexto político-social para o

movimento feminista, já consideravelmente distante daqueles que o embasaram.

Em tempos de ditadura, surgem diversos movimentos e mulheres militantes sem

necessariamente ter uma consciência da situação de opressão/subordinação das

mulheres. Grupos formados por militantes lutavam pelo protagonismo dos movimentos,

outros se denominavam grupos de autoconsciência e assim formava-se uma consciência

coletiva sobre a condição de opressão/subordinação das mulheres.

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O exílio teve papel fundamental na construção do pensamento feminista ao

longo da ditadura. Mulheres militantes exiladas, aquelas que acompanhavam homens

exilados e muitas que saíram do país para estudar tiveram acesso aos debates feministas

que aconteciam em outros países da América Latina, Europa e Estados Unidos.

Formaram-se grupos de discussão que se comunicavam, dentro e fora do país. Dava-se

o embate entre aqueles que consideravam a luta das mulheres particularista e fora de

lugar e aquelas que compreendiam o movimento feminista como possibilidade para

transformação social (PINTO, 2003).

1.1. Contextualização e emergência do Movimento Feminista em Brasília/DF

Apenas a partir de 1980 surgiram em Brasília/DF grupos organizados de

mulheres com pautas feministas. Inaugurando o movimento na cidade, temos o grupo

Mulheres do Cerrado, vinculado a professoras da UnB, e o Grupo Feminista de

Brasília, formado por mulheres da sociedade civil que se consideravam

(autodenominavam como) independentes, desvinculadas de qualquer instituição ou

grupo. Nesse sentido, um rompimento do confinamento dos limites entre a vida privada

e a pública se torna nítido e, em meio à luta pela liberdade, lugar de mulher também

passa a ser a rua. A união desses dois grupos leva à formação do grupo Brasília Mulher,

que anos mais tarde vai ser dividido novamente, devido a visões e compreensões

diferentes sobre o movimento feminista por parte de suas integrantes. Surgem o Centro

Feminista de Estudos e Assessoria - CFEMEA -, criado em 1989, que visa atuar mais

concentrado na ação política; e o Núcleo de Estudos e de Pesquisa sobre a Mulher -

NEPeM, grupo de estudos e pesquisa vinculado ao CEAM (Centro de Estudos

Avançados Multidisciplinares), formado por professoras da Universidade de Brasília -

UnB, provenientes sobretudo da área das ciências sociais e que, como um Núcleo

criado no contexto universitário, se voltou ao desenvolvimento de atividades de

pesquisa sobre as mulheres, assim como para refletir a situação das mulheres no DF.

Ambos existem e estão em atividade até hoje, o CFEMEA acompanhando políticas

nacionais e internacionais em prol da igualdade de gênero e o NEPeM congregando

estudantes de graduação e de pós-graduação, no sentido de contribuir com a sua

formação.

11

Nos vinte anos de movimento feminista tratados neste trabalho, Brasília/DF viu

o surgimento e fortalecimento de correntes distintas de pensamento. Na década de 1980

observamos mulheres dedicadas à militância política trabalhando dentro dos mesmos

grupos daquelas voltadas a critica cultural. A experiência do resto do país foi de grande

utilidade. Diversas militantes passaram pela jovem capital do país em decorrência da

militância contra a ditadura e pela própria luta pelos direitos das mulheres. Palco da

Assembleia Constituinte, a cidade recebeu mulheres de todo o país em busca de

mudança social.

Após a primeira década de movimento feminista em Brasília/DF, tínhamos

grupos fortes e estruturados, articulando-se nacional e internacionalmente. A capital se

tornou elo entre grupos por todo país. Academicamente, avançaram na produção

intelectual e em ações para uma mudança estrutural da sociedade.

1.2. Motivação da pesquisa

Recuperar essas memórias e dar voz a esse movimento tão atual se torna uma

tarefa irresistível para qualquer feminista. Não posso negar o cunho pessoal que este

trabalho assume, pois, vinculada a grupos ou de maneira independente, participo do

movimento feminista de Brasília há 10 anos.

Vivenciei, em parte, essa luta, me componho dela enquanto mulher, brasiliense e

feminista. Conheço muitas dessas mulheres que bravamente o criaram e o levam adiante

e herdei daquelas que já não lutam mais essa ânsia por tornar nossa cidade, e o mundo,

mais igualitários. Fui também oprimida pela violência do silêncio e, porque ele existe,

nossa luta se dissipa, diluindo nossas lutas na história.

Além do cunho pessoal, identificar e registrar as motivações e o contexto

histórico, político e social do surgimento do movimento feminista em Brasília/DF é um

reflexo da necessidade de se construir a história da cidade dentro de toda sua

pluralidade. As ações do movimento feminista trouxeram mudanças, influenciaram a

legislação e proporcionaram novos espaços de debate e reflexão.

Não troquei de lugar de fala, mas descobri dentro da academia uma nova

possibilidade de nos fazer ouvidas. Este trabalho é a concretização dessa possibilidade,

uma intenção sincera de dar início a uma reflexão sobre nossas histórias.

12

A recuperação e registro da memória e da história do movimento feminista em

Brasília/DF que possibilitou a criação do NEPeM, consiste na pesquisa dos movimentos

sociais e acadêmicos que emergiram a partir de 1980, nesta cidade. Partiremos dos

primeiros grupos feministas – Mulheres do Cerrado e Grupo Feminista de Brasília –

para traçar uma cronologia dos acontecimentos e da formação dos grupos seguintes –

CFEMEA e NEPeM. Ou seja: construir o cenário para criação do NEPeM a partir do

contexto histórico de seu surgimento, analisando outros grupos envolvidos e pessoas

responsáveis. Traçar sua trajetória ao longo dos primeiros vinte anos de movimento

feminista em Brasília/DF.

Mapear e registrar os movimentos sociais ativos e originados em uma cidade

significa resgatar a memória da constituição social local. Essa memória não é a oficial –

memórias de lutas de classes subjugadas tendem a ser esquecidas, deixadas de lado por

não dizerem respeito aos vencedores. A história das mulheres se enquadra nesse

aspecto: esquecida e silenciada ao longo da história da humanidade. Voltar no tempo e

dar voz a essas mulheres significa não apenas justiça social, mas principalmente a busca

por uma compreensão mais abrangente dos caminhos percorridos.

Nesse sentido, resgatar a história das mulheres em Brasília/DF é a tentativa de

reescrever essa história, de traçar os movimentos que nos trouxeram até aqui. A luta

dessas mulheres se origina junto com a construção da cidade e com as demandas

políticas e sociais que ela acarretou.

Garantir o registro dessas memórias é um dever político e social, capaz de nos

fazer entender a constituição do poder local e do lugar ocupado pelas mulheres. Brasília

surgiu em plena terceira onda feminista e muitas batalhas já haviam sido travadas no

Brasil. Como localizar nosso movimento feminista e de mulheres no tempo e na

história? Esse trabalho é importante para que essas vozes jamais se calem e para que as

lutas não caiam no esquecimento.

13

2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa proposta foi planejada considerando-se a inexistência de material

produzido previamente com a intenção de abarcar todo o histórico do movimento

feminista de Brasília/DF. Busquei tratar o assunto com muito cuidado, sabendo que essa

história perpassa a história pessoal e política de muitas mulheres e grupos organizados.

A decisão metodológica de recolhimento de dados foi por entrevistas não estruturadas e

vasta pesquisa documental foi privilegiada. As fontes de informação documental foram

buscadas no arquivo do NEPeM (Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Mulher – UnB),

que disponibilizou documentos diversos, assim como publicações lá arquivadas;

entrevistas selecionadas com algumas das mulheres que participaram desses

movimentos, arquivos particulares e notícias veiculadas nos jornais impressos locais.

Segundo Minayo (2007), a entrevista não estruturada pode ser definida como

uma conversa com objetivo que segue um roteiro invisível, servindo somente como

orientação para o entrevistador e não como cerceamento da fala do entrevistado. Para a

autora, a informação aberta almeja vários objetivos, como: a descrição do caso

particular; a compreensão das especificidades mais profundas da vivência do grupo

sobre aquele determinado assunto; a comparabilidade de diversos casos (2007, p. 265).

Para Michelat (1975), quanto mais livre de estruturas é a entrevista, mais possível se

torna a emersão e a capacidade de se ressaltar as esferas sócio-existenciais, permitindo

às entrevistadas a exploração de suas memórias e emoções ao relembrar de fatos.

O objetivo da entrevista não estruturada é possibilitar a maior troca possível de

informações entre entrevistadora e entrevistada, tendo em vista a necessidade de se

adentrar nas esferas de motivações pessoais, memórias e emoções que estejam

envolvidas em um contexto social, histórico e político pré-determinado. Dado o caráter

personalista da informação intencionada, a possibilidade de uma intervenção rígida

impede a construção da oralidade e da memória individual.

Na pesquisa, objetivamos a realização de, pelo menos, três entrevistas que

pudessem nos apresentar as motivações e vivências de mulheres que estiveram

envolvidas na gênese do movimento feminista de Brasília/DF. A impossibilidade de

comunicação com todas as mulheres que fizeram parte da origem do movimento

feminista de Brasília/DF e a dificuldade de conciliação de agendas com o calendário da

universidade tornaram viáveis a realização das três entrevistas necessárias para que o

14

trabalho se debruçasse nas experiências delas. Nesse sentido, usei-as como forma de

exemplificar as informações obtidas pela pesquisa documental, bem como dar vida a

determinadas datas e eventos e iluminá-los. Foi de extrema importância trabalhar com

as entrevistadas, pois elas trouxeram motivações pessoais e de grupos existentes na

época, muitas vezes impossíveis de serem extraídas de documentos. As entrevistadas

fizeram parte da gênese movimento feminista, têm longo histórico na militância formal

e foram responsáveis pela criação de grupos e trabalhos importantes na cidade.

Trabalharei com nomes fictícios pela necessidade acadêmica de preservar as

entrevistadas. G.R.T. foi a primeira entrevistada. Com vasta participação em

organizações não governamentais, teve experiência na formação de partidos e

acompanhamento de legislação e ações governamentais. A.G.H., a segunda

entrevistada, acompanha organizações que datam da primeira metade da década de

1980, participou de ações com o governo, teve vínculo com a academia e realizou

produção teórica sobre gênero e feminismos. A terceira entrevistada, M.B.K., tem todo

seu trabalho vinculado à academia e à crítica social a partir do feminismo.

Os documentos pesquisados concentram-se principalmente nos arquivos do

NEPeM, que, além do próprio acervo, conta com parte da biblioteca pessoal cedida por

colaboradoras e parte de bibliotecas cedidas por organizações. As informações

encontradas não trouxeram de forma explícita a história que busco recompor, pelo

contrário, me deparei justamente com uma lacuna de registros. Notícias, panfletos,

campanhas diversas me apresentaram as ações e atividades de diversos grupos entre os

anos 1970 e 1990, mas por muito tempo segui sem resposta às questões básicas – de

onde esses grupos vieram, como começaram.

O registro que vai abrir as portas para meus questionamentos e determinar meu

caminho nesta pesquisa é o trabalho apresentado pela Professora Lourdes Bandeira, no

evento Pré-ALAS - Seminário Internacional de Sociologia: 50 anos de Brasília e 40

anos do PPGSOL/UnB, realizado em novembro de 2010, ocorrido na Universidade de

Brasília e co-escrito com a Professora Mireya Suarez. Nesse trabalho elas dão início à

pesquisa sobre a memória do movimento feminista de Brasília/DF, focando na

implementação dos estudos de gênero da UnB.

Para análise do material selecionado, algumas abordagens metodológicas foram

consideradas mais interessantes. Enquanto pesquisa de natureza qualitativa e de caráter

histórico, recompondo origens de um movimento social, o trabalho de pesquisa

perpassou fontes orais e documentais. As entrevistas se mostraram muito importantes

15

para a contextualização da pesquisa e, portanto, a História Oral é fundamental para sua

interpretação. Concomitantemente, a abordagem da Análise Documental foi escolhida

por atender as necessidades do trabalho com o material selecionado dos acervos.

A construção da História Oral não implica necessariamente uma teoria empírica

como resultado da pesquisa, mas sim enraizada na realidade social (THOMPSON,

2002). O trabalho com a experiência social real tornam inseparáveis a vida cotidiana dos

atores sociais, a linguagem, as práticas e os acontecimentos. Ao mesmo tempo, a

pesquisa documental anuncia o espírito da época, fatos relevantes e possíveis

motivações para ações individuais e de grupos.

Para Jacques Le Goff (1992), a função da memória é guardar determinadas

informações que acessam funções psíquicas que nos remetem a uma série de

informações passadas. A lembrança individual está conectada ao contexto histórico de

cada individuo, relacionando-se a comportamentos e mentalidades coletivas. Assim, a

memória nos é útil para abordarmos problemas do tempo e históricos, possibilitando

uma análise crítica da lembrança.

A capacidade de adquirir, armazenar e evocar momentos vividos transforma a

História Oral em um meio formal de se trabalhar com a memória coletiva e social,

mesmo que nem sempre visto com bons olhos. A necessidade de construção

historiográfica do assunto trabalhado nos impele a buscar em lembranças e histórias

individuais informações capazes de remontar o coletivo em uma determinada época.

Tratando-se de uma reconstrução histórica baseada primordialmente na memória

daquelas mulheres que vivenciaram a formação do movimento feminista de Brasília/DF,

considerar a fenomenologia como metodologia se faz pertinente. Para Merleau-Ponty

(1999) o mundo consiste no que vivemos, não naquilo que pensamos. Nos

comunicamos com o mundo, mas de maneira nenhuma o possuímos, pois é inesgotável.

Em seu livro, Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty desconstrói o modo

de pensar as coisas por partes, como um objeto que faz parte do todo e é classificado,

justificado pela ciência. Se tudo passa pela visão particular de cada indivíduo, mesmo

sob o entendimento científico, a experiência de mundo não teria sentido sem os

símbolos que cada um/a tem para si. A ciência não tem sentido para um mundo que não

é vivido e, por sua vez, não tem nem terá sentido de ser se este mundo não for

percebido. O autor sugere outro modo de pensar as coisas, em conjunto e não

compartimentadas, afirma que é necessário pensar primeiramente o mundo pela

percepção, pela vivência, pela experiência humana.

16

A análise documental tem por objetivo dar forma e representar de outro modo a

informação, na medida em que for mais conveniente ao pesquisador. Com o propósito

de armazenar as informações e facilitar o seu acesso, o documento passa por um

processo de transformação, de tal forma que se possa obter dele o máximo de dados e de

pertinência. (BARDIN, 2004).

17

3 PERCURSO DO MOVIMENTO FEMINISTA NO BRASIL

A década de 1970 foi marcada pelas ditaduras do cone sul. A violência política,

a luta armada e o terrorismo de esquerda e direita predominavam, bem como o

endurecimento do aparato estatal. No Brasil, a ditadura atingiu seu auge em 1970 com o

desenvolvimento econômico do país sendo chamado de “milagre brasileiro”. Ao mesmo

tempo, o regime censurava todos os meios de comunicação e usava de todos os meios

para conter os opositores. A década de 80 foi marcada pela decadência desse regime,

sendo oficialmente extinto em 1984 com as eleições presidenciais.

O feminismo no Brasil já vinha se alastrando desde o final do século anterior e

era caracterizado por sua fragmentação e múltiplas pretensões. Celi Pinto separa o

feminismo no Brasil em dois grandes momentos: final do século XIX até 1932, e após

32 (PINTO, 2003). O primeiro momento é caracterizado como “bem comportado”,

tendo como referência forte o feminismo de Bertha Lutz, onde a feminilidade foi usada

a favor das mulheres e da sua participação política (SOIHET, 2006). Esse feminismo

traz todo o peso da participação da mulher na política, tendo como foco o movimento

sufragista.

O segundo momento é tratado como “mal comportado”, oficializando a luta

feminista pelos direitos das mulheres. O direito à educação e o questionamento da

dominação masculina entram em evidência. Novas questões aparecem, debates sobre

corpo e sexualidade tomam forma e o O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, entra

com força na formação intelectual das feministas.

O movimento feminista não para, mas retoma forças na década de 1970. O lema

“Brasil: ame-o ou deixe-o”, traduz a situação política da época com maestria. Qualquer

atuação política enfrentaria grande repressão. A ditadura faz com que renasça um

movimento feminista do exílio, com grande efervescência política. As mulheres

exiladas voltam do hemisfério norte com uma nova visão sobre o que é ser mulher

(PINTO, 2003). Esses movimentos se envolvem também com a política e com a

academia, sofrendo influências e abalos dos dois lados.

Feministas como Heleieth Saffioti já estavam produzindo na década de 70 e

vinham influenciadas por Beauvoir (MENDÉZ, 2008). Tratando assuntos como

trabalho, patriarcado, opressão e violência de gênero, Saffioti foi umas das responsáveis

18

pela disseminação do feminismo pelo país. Começam os questionamentos de gênero,

perpassando todos os aspectos da vida e organização social.

Muitos desses movimentos foram caracterizados inicialmente por reuniões de

mulheres em âmbito privado. Diferentemente do que ocorria no exterior, no Brasil

grupos de mulheres se constituíam como grupos discussão, reflexão e compartilhamento

de experiências dentro de casa. Formavam-se por todo o país “grupos de amigas”, onde

a participação era feita através de convite, partindo não da necessidade de pôr em xeque

a condição de opressão da mulher e sim da vontade de intervir no mundo político a

partir da condição de esposa, mãe, dona de casa.

A distância entre esses debates e entre a emergência de grupos feministas e de

mulheres foi diminuindo. A importação do debate que acontecia em outros países foi se

propagando e cada vez mais os grupos de mulheres passavam a problematizar a

“condição de mulher” (PINTO, 2003). Nesse momento, está marcado o paradoxo do

desenvolvimento do feminismo no Brasil – apesar de diretamente ligado com a

mudança da sociedade e com vínculo estreito com movimentos contra a ditadura, estes o

viam como um desvio particularista, um tema a ser tratado em segundo plano.

O ano de 1975 foi definido pela ONU (Organização das Nações Unidas) como

Ano Internacional da Mulher e o primeiro ano da década da mulher. Esta escolha foi um

grande marco na história do feminismo e possibilitou um novo status para as questões

da mulher no Brasil. Foi um marco tanto para entrada definitiva das mulheres na esfera

pública, bem como da impossibilidade de se rejeitar a existência e importância do

movimento feminista crescente no país.

Para definirmos o surgimento e fortalecimento do movimento feminista no

Brasil é também importante ressaltar o vínculo das feministas com a SBPC (Sociedade

Brasileira pelo Progresso da Ciência). O espaço proporcionado pela SBPC era na época

um dos únicos espaços onde se conseguia burlar a rígida censura do regime militar. Em

1975, um grupo de feministas se juntou à reunião anual da instituição e dela participaria

pelos próximos dez anos. Surgem nesse momento os indicadores do que seria o

feminismo acadêmico no Brasil e que levaria a atuação fundamental para a consolidação

do movimento nos anos seguintes: “a pesquisa científica sobre a condição da mulher no

Brasil” (PINTO, 2003, p. 62).

A virada para a década de 1980, portanto, foi marcada por um grande

questionamento do lugar da luta das mulheres. Em uma época em que grande parte da

população ocupava o lugar de dominado, a condição da mulher tendia a ser incluída

19

nessa dominação global pelo modo de produção capitalista, ou na luta de classe. O

debate das questões de gênero em si era relegado à questões de menor importância por

aqueles que se empenhavam numa luta que visava a ampliação do campo político.

Mas novos caminhos se apresentam ao feminismo. A promessa de

democratização gradual do governo militar e o alto custo da repressão política presente

até então começavam a mudar os ares do país. A estratégia de enfraquecer a oposição

acabando com o bipartidarismo para aumentar as chances da manutenção dos militares

no poder pelas urnas gera, além do rompimento da unidade de oposição, possibilidade

para manifestações dos diversos movimentos político-ideológicos que a compunham.

O surgimento do PT (Partido dos Trabalhadores) e do PMDB (Partido do

Movimento Democrático Brasileiro) impeliu as feministas, que se identificavam com o

MDB (Movimento Democrático Brasileiro), a se dividirem. A redemocratização

provocou também a divisão entre feministas que acreditavam na institucionalização do

movimento e em seu vínculo com a esfera estatal e aquelas que acreditavam na

autonomia.

Observamos, a partir 1982, que esses conflitos vêm à tona em meio a um

movimento feminista que busca espaço em todo o processo de redemocratização.

Feministas do PMDB são pressionadas e criticadas por agora fazerem parte do governo.

Rompe-se a barreira de adentrar o governo, mas perde-se autonomia e independência. A

criação de conselhos foi parte desse processo, que ocupava espaços políticos, contudo

não conseguia acessar a estrutura do poder.

O grande marco da década de 1980 foi a criação do Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher em 1985. Com o objetivo de articular as demandas do movimento

feminista e das mulheres em geral, o Conselho inicia suas atividades possuindo

orçamento próprio e contando com uma presidenta com status de ministra. Ele

centralizava as lutas feministas brasileiras e teve grande impacto na Constituição de

1988. Com a entrada do governo Collor, o Conselho perde seu orçamento e seu caráter

político, tendo atividades expressivas apenas até 1989. (PINTO, 2003)

A Constituinte foi o acontecimento da década para a democracia e para o

feminismo. O Conselho Nacional teve papel fundamental na garantia dos direitos das

mulheres, porém o movimento feminista em si estava organizado do lado de fora da

Câmara. 26 deputadas foram eleitas na época, nenhuma delas com atividade

significativamente feminista. Ao contrário do que se poderia esperar, elas apresentaram

30 emendas sobre os direitos das mulheres, tratando de praticamente todas as

20

reivindicações do movimento feminista. Além das mulheres que ocupavam cargos de

representação, a Constituinte foi fortalecida pela pressão organizada, atuando nas

demandas e nas proposições pelos direitos das mulheres.

Ainda se faz importante ressaltar dois pontos do movimento feminista

desenvolvido na década de 1980 que vão influenciar diretamente a década seguinte – o

feminismo profissionalizado (intervencionista) e o feminismo acadêmico. Já no início

dos anos 1980, o movimento feminista se depara com as necessidades de mulheres que

não querem se tornar militantes, cujos principais problemas enfrentados referem-se à

saúde e à violência. Para acomodar essas demandas, surgem grupos organizados de

profissionais no intuito de abarcar também essas mulheres, as Organizações Não-

Governamentais (ONGs), que vão pautar ações feministas até os dias de hoje. Outra

vertente do movimento feminista abre portas para as pesquisas e estudos acadêmicos

sobre as mulheres. Surgem grupos de pesquisa, núcleos de estudos e publicações

especializadas, ocupando espaços nas universidades e empenhados em produzir sobre a

realidade brasileira.

A década seguinte, 1990, é marcadamente mais calma que as anteriores. Com a

democracia reestabelecida e o clima político voltando ao normal, muitos movimentos

sociais se dissipam. Muitas demandas foram incorporadas ao senso comum, e podemos

observar os primórdios do politicamente correto. Piadas racistas, machistas e

homofóbicas deixam de ser vistas com bons olhos, por exemplo. O contexto das

relações de trabalho também dá sinais de mudanças, e a não-discriminação por sexo é

uma luta que começa a fazer parte do discurso público.

Ao mesmo tempo, em âmbito nacional, a teoria feminista se desvincula dos

movimentos. Academicamente os debates e produções crescem, enquanto o movimento

se especializa e formaliza no formato de ONGs. A questão da violência continua

marcando a temática do movimento, com foco agora em violências simbólicas como o

assédio sexual. Observa-se que os direitos das mulheres passam a fazer parte da pauta

do governo, e seu uso em campanhas políticas demonstra como as pautas feministas se

difundiram na população.

A participação política das mulheres ainda é pequena, com os cargos de alto

escalão raramente sendo ocupados por mulheres. Mesmo assim, o comprometimento

com as causas se mostra forte e determinado desde a década anterior. A mudança mais

significativa de lugar de fala consiste na alteração de estrutura das ONGs, que deixam

de ser grupos inclusivos e abertos à participação para tornarem-se estruturas fechadas,

21

rígidas. A institucionalização leva a um fechamento cada vez maior em diretorias e

conselhos.

Temos em 1990 uma nova demanda para o movimento feminista. Apesar do

diálogo praticamente constante com movimentos internacionais nos anos anteriores, a

organização do movimento feminista nacional agora se envolve com as agendas

internacionais. Durante toda a década, diversos grupos se envolveram em encontros

internacionais onde acordos eram firmados – a II Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada em 1992 no Rio de Janeiro (Rio

92), a Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), mais

conhecida como Conferência do Cairo, realizada em setembro de 1994, a IV

Conferência Mundial Sobre a Mulher, realizada em Pequim no ano de 1995,

normalmente referida como Beijing 95 – e governos se comprometiam com mudanças e

melhorias sociais. A participação na construção desses acordos era fundamental para

que fosse possível cobrar suas deliberações nas esferas governamentais. A troca de

experiências nesses encontros enriqueceu o movimento ao proporcionar especificidade e

objetivos claros para a luta de mulheres.

Nas questões acadêmicas, a década de 1990 é marcada pela entrada do conceito

de “gênero” no Brasil. Margareth Rago é uma das responsáveis pela entrada do

conceito, após uma conferência em New York, onde os “gender studies” (em português,

“estudos de gênero”) estavam a todo vapor. Ela define gênero como a “construção

social e cultural das diferenças sexuais” (RAGO, 1998). Essa entrada abre portas para

uma nova concepção entre as relações sociais entre os sexos, promovendo novos grupos

de estudo e uma renovação na formação feminista.

A chegada do novo milênio trouxe novamente mudanças dramáticas no contexto

social e político para o movimento feminista. A pressão exercida pelos movimentos

sociais, principalmente aqueles com base nos acordos internacionais, não surtem mais

os mesmo efeitos. Novas possibilidades de diálogo com os setores do governo e

detentores do poder são procuradas, um novo momento para os movimentos sociais

definem a necessidade de uma grande reviravolta. Encerra-se, a meu ver, um ciclo de

vinte anos de construção e fortalecimento de um movimento feminista nacional.

É importante ressaltar a retomada, a partir dos anos 2000, de um movimento de

estudos e pesquisa interessado em micro história e resgate de memória. Esse retorno

demonstra brevemente os interesses na construção teórica do feminismo, a volta da

22

necessidade de munir as mulheres com suas próprias vozes. Em As Mulheres ou Os

Silêncios da História, Michelle Perrot nos apresenta a questão das mulheres silenciadas:

A voz das mulheres é um modo de expressão e uma forma de

regulação das sociedades tradicionais onde predomina a oralidade.

Mas sua palavra pertence à vertente privada das coisas; ela é da ordem

do coletivo e do informal; ela é proferida no boca-a-boca da conversa

familiar, na melhor situação possível, no quase ritual da conversação

(...) O que é recusado às mulheres é a palavra pública. Sobre ela pesa

uma dupla proibição, cidadã e religiosa. (PERROT apud PIETRA

MÉNDEZ, 2008, p.2)

23

4 PRIMEIRO MOMENTO: DA DITADURA AOS CAMINHOS PARA A

REDEMOCRATIZAÇÃO (1970)

Brasília foi palco da efervescência política pós-ditadura militar. Entender o

surgimento dos movimentos sociais na cidade, principalmente o movimento feminista,

só é possível se conseguirmos visualizar as motivações políticas e sociais que pairavam

no ar no final dos anos 1970. Uma cidade nova, com sua população ainda composta

majoritariamente de pessoas de outros estados e no epicentro da repressão política.

Buscamos aqui a semente de um feminismo brasiliense, completamente

vinculado ao movimento do resto do país e a outros movimentos sociais ativos na

época. Não aconteceu de maneira diferente do que em outros lugares: houve a formação

de grupos de mulheres desvinculadas da problematização da condição da mulher na

sociedade, ocupando lugares de fala como mãe, esposas e donas de casa. Movimentos

pela anistia e a briga direta contra o governo trouxeram uma diversidade de mulheres e

lutas para as ruas.

A Universidade de Brasília foi vítima da repressão, invadida pelos militares em

quatro datas distintas (1964, 1965, 1968 e 1977), e passou por quase todo o regime

militar, de 1964 a 1979, sob constante vigilância. A proximidade com o poder e a fama

de ser uma universidade com professoras/es e estudantes marxistas colocaram a

Universidade no centro das atenções do governo militar. Muitos professores e

estudantes foram acusados de subversão e perseguidos, muitos foram expulsos e

acabaram sendo exilados, outros foram para outras universidades, e muitos ficaram, se

organizaram e lutaram contra o regime, apesar de serem vitimas permanentes da

repressão no cotidiano da vida universitária.

Não podemos tentar compreender o surgimento do movimento feminista sem

enxergar os diversos caminhos que essas mulheres estavam percorrendo. Movimentos

sociais diversos se engajavam na luta pela democracia. Em meio a total repressão e um

movimento feminista voltando à atividade no resto do país, surgem grupos dentro e fora

da universidade. Podemos ver uma das primeiras fagulhas do feminismo neste trecho da

entrevista de G.R.T.:

Tinha um grupo de mulheres, estudantes, ativistas do movimento estudantil.

A gente começou a se incomodar, a gente não chamava assim, com as

relações de gênero dentro do movimento. E aí a gente criou um

24

grupinho de estudos pra ler O Segundo Sexo e a gente começou a criar

problema dentro do movimento, a gente começa a trazer essa agenda,

essa questão do corpo, das mulheres. Naquele momento ali, anos

1980, tinha o Gabeira desbundando, era o desbunde, tinha uma

discussão sobre o corpo, sobre sexualidade, que era e que havia uma

aversão muito grande a essa discussão dentro da esquerda, que era o

movimento estudantil, um movimento de esquerda. Ele consegue

sobreviver e aparecer naquele movimento em plena ditadura militar.

Se ele traz esse vigor de protesto, ele também traz os ranços. Então eu

acho que ali tem os gérmens do que seria o movimento de mulheres

mais adiante, o feminismo.

Observamos fagulhas de um movimento que se oficializará em pouco tempo,

mas não necessariamente com essas pessoas que se organizavam. Torna-se importante

ressaltar que o feminismo começa a se espalhar pelos movimentos, as mulheres

demandam atenção a questões específicas, são as fagulhas da luta contra a opressão e

submissão das mulheres.

25

5 SEGUNDO MOMENTO: ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO FEMINISTA

(1980)

A década de 1980 foi marcada pelo surgimento de grupos de mulheres e grupos

feministas em Brasília/DF. O programa da Rádio Nacional Viva Maria, com sua

primeira transmissão em 14 de setembro de 1981, foi o primeiro programa popular local

a chamar mulheres, em toda sua diversidade, para o debate da condição feminina e

propor questionamentos feministas. A radialista Mara Régia, responsável pelo

programa, convoca mulheres para o diálogo, realizando reuniões presenciais.

Mulheres já envolvidas com a ideologia feminista formavam dois grupos

distintos e informalmente constituídos de reflexão na cidade: o grupo Mulheres do

Cerrado, liderado pela Professora Mireya Suarez, que reunia professoras como Ana

Vicentini e Lucia Sander e estudantes da Universidade de Brasília; e o Grupo Feminista

de Brasília, liderado por Marlene Libardoni, agregando mulheres vinculadas à sociedade

civil, aos sindicatos e ao Itamaraty. Podemos observar na composição desses grupos o

caráter reflexivo que possuíam, a presença de mulheres que acessavam a academia,

daquelas que estiveram fora do país dada sua profissão com acesso facilitado aos

debates feministas internacionais, além de grupos de militantes.

Em abril de 1980, esses dois grupos se encontram em um evento realizado na

UnB chamado “Movimento Cultural no Distrito Federal” e surge a ideia de unificar

esforços para a criação de um grupo feminista institucionalizado. Marlene Libardoni

assume a liderança das ações para criação do grupo em reunião no dia 27 de novembro

do mesmo ano. Da unificação desses dois grupos nasce o Brasília-Mulher.

O grupo Brasília-Mulher institui-se como sociedade civil de interesse público,

sem fins lucrativos, constituído por prazo indeterminado, com sede e foro em Brasília-

DF (Diário Oficial No. 33.887, 23 de abril de 1981; pg.7490). Estatuto do Brasília-

Mulher dispõe que:

“O Brasília-Mulher tem por objetivo e por finalidade:

Estudar a situação da mulher dentro da sociedade e as causas da

opressão de que é objeto;

I- Trabalhar para que as mulheres se conscientizem do papel que

desempenham atualmente na sociedade e, a partir dali, se tornem

protagonistas da luta por sua emancipação;

26

II- Dar apoio às mulheres, grupos e instituições que lutam pela

eliminação das diferentes formas de discriminações de que é objeto a

mulher:

III- Servir de porta-voz da luta e das reivindicações feministas junto às

autoridades e conseqüente força de pressão para o cumprimento,

reformulação e criação de leis que beneficiem a mulher;

IV- Lutar pelo desenvolvimento de uma sociedade mais justa, onde todos

sejam considerados iguais”.

O Brasília-Mulher tinha como objetivos lutar pelo desenvolvimento social e

político, fomentar estudos, promover a conscientização de mulheres sobre mulheres,

servir de grupo de apoio e de porta voz das mulheres. Ele evidenciava duas tendências:

a reflexão e a crítica cultural, encabeçadas por Mireya Suarez e Ana Vicentini, entre

outras, e a centralidade na mobilização social e ação política, vertente liderada por

Marlene Libardoni. Sobre esse momento do Brasília-Mulher, nas palavras da

entrevistada M.B.K:

Por um lado a necessidade de politizar, politizar no sentido de politica

partidária o movimento e por outro lado a necessidade de mantê-lo

com a experiência que essas mulheres traziam. Então, era uma época

muito engraçada a do Brasília-Mulher, aliás, não sei qual é a sua

informação da origem do Brasília mulher, sua origem foi a junção do

Mulheres do Cerrado (algumas eram alunas minhas) e um grupo que

recém tinha se formado. As mulheres do cerrado eram um grupo

muito mais subjetivo, daqueles de chorar as mágoas e de colocar a

necessidade de mudança cultural – isso é uma diferença bem grande -

à questão politica. Ai se juntou numa reunião da UnB, se encontrou

este grupo de Mulheres do cerrado com um grupo menor, mas muito

politizado, menos cultural e mais politico. Grupo que virou depois o

Cfemea – e depois a Agende, com a liderança indubitável de Marlene

Libardoni. (...) Eu queria que você destacasse a grande importância da

Marlene. Eu diria que fomos nós duas, Marlene do lado desse grupo

muito pequeno que chegou na UnB nessa noite (...) e ai eu a conheci, e

ai que se criou o Brasília-Mulher com essa fusão. Uma fusão que não

deu, não aglutinou todo mundo, justamente pela diferença. O lado da

Marlene era muito politizado e o outro lado culturalista. Um pouco eu

que ficava no meio, acho que fui eu que tentava fazer a articulação,

conseguimos durante um tempo, mas depois várias dessas mulheres do

cerrado se afastaram e entrou gente nova, muita gente nova.

Chegamos a reunir em uma sala que alugávamos na asa norte, 30 a 40

mulheres. É nesse processo que o Brasília-Mulher cresceu, mas parei

pra dizer que quase éramos obrigadas a politizar. Tudo que acontecia

nessa cidade, no país e as vezes no mundo, os jornalistas vinham ao

Brasília Mulher pedir opinião, tinhamos que saber de tudo, e eu diria

que foi uma bela oportunidade de ir jogando a questão feminista nos

problemas do mundo. Era frequente que uma matéria que tinha haver

com a fome em algum lugar, dava um artigo mais interessante do que,

por exemplo, a sexualidade. Quando a gente falava da opção sexual,

do direito a dispor do corpo, nem falar em tom de aborto, era um

negocia que saia tão ruim. Por que de uma forma ou outra, os

27

jornalistas eram contra, ou seja as questões feministas não eram bem

tratadas, mas as questões feministas inseridas em outros problemas

eram melhor tratadas.

Aproximadamente no meio da década de 1980, o grupo Brasília-Mulher sai de

cena, dando lugar a outros dois grupos distintos, representantes das duas tendências que

o grupo evidenciava – o NEPeM, associado à Universidade de Brasília e o Cfemea,

organização não-governamental de luta pela cidadania das mulheres. A declaração de

Mireya Suárez nos contextualiza a situação da época:

No começo a gente (do Brasília Mulher) se pensou participante de um

único movimento de vanguarda em prol de todas as mulheres do

mundo. Não havia expertas em gênero ou em teoria feminista. Havia

um pequeno grupo de mulheres (em media 30) que atuavam como

feministas e que acreditavam falar uma linguagem comum a todas as

mulheres, bem como praticar algo assim como uma irmandade

universal.

Porém, já em mediados da década de 1980, com o aumento do número

de participantes, começamos a perceber que tal linguagem comum e

tal irmandade não existiam de fato, embora a solidariedade parecesse

estar de algum modo sempre presente. Ocorre que as mulheres

começaram a enunciar “discursividades” localizadas em lugares de

fala muito diversos: partidos políticos, classes sociais, grupos

étnico/raciais e preferências sexuais, dentre os mais importantes.

Como ocorreu com muitos outros grupos de reflexão cidadã, no Brasil

e fora mesmo, o Brasília-Mulher implodiu e suas participantes se

afiliaram a instituições mais homogêneas, como as ONGs, as

instituições governamentais e as universidades, uma vez que se

iniciava a abertura de um novo campo de estudos e de pesquisas.1

Os anos de 1985 e 1986 são marcados por inúmeras transformações sociais no

contexto local e nacional. O fim do regime militar e a redemocratização do país estão se

concretizando, os novos partidos políticos criados a partir do início da década crescem,

e a pressão por eleições diretas trazem consigo pautas novas e cada vez mais intensas. O

movimento feminista se divide enquanto mulheres lutam por espaço dentro de seus

partidos e dentro do próprio movimento. G.R.T. relembra os posicionamentos do

movimento estudantil e posteriormente do Partido dos Trabalhadores, do qual fazia

parte:

1 Texto retirado de: BANDEIRA, Lourdes; SUAREZ, Mireya. A emergência dos estudos e pesquisas

feministas do Distrito Federal. In: PRÉ-ALAS: Seminário Internacional de Sociologia, 2010, Brasília.

Mesa redonda Estudos de Gêneros na UnB e atuações feministas em Brasília: histórico e perspectivas.

Não publicado.

28

A gente tava no movimento estudantil, com uma outra aspiração,

quando digo uma outra aspiração é a gente não queria ser dona de

casa, mãe de filhos, a gente tava construindo, era parte de um

movimento de protesto, a gente não queria fazer o papel de

mulherzinha, mulherzinha no pior sentido. E os homens do

movimento, jovens como nós, eles queriam mudar varias coisas mas

isso eles não tavam nem vendo que tinham que mudar. E essas

agendas de sexualidade, de corpo, que de alguma maneira nos

convocava, a esquerda tinha uma aversão a isso, droga, sexualidade,

de uma maneira geral, mas gays e lésbicas eram assuntos proibidos,

era segredo. (...) E nós, as mulheres, trouxemos essa questão de

alguma maneira pro movimento estudantil. (...) Dentro do PT eu fui

vendo a coisa se complicar bastante, discutir licença paternidade, por

exemplo, era uma piada, aborto era discutido de maneira honesta, era

assim, tem que colocar a questão do aborto dentro da plataforma, mas

se a gente colocar a questão do aborto a gente vai perder o apoio da

igreja e a gente tem que saber se quer ganhar. Foi bastante

complicado, eu vi vários embates nessas questões e eu resolvi sair do

partido no processo da assembleia constituinte.

Em junho de 1985, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher2.

Sediado em Brasília e vinculado ao Ministério da Justiça, teve como objetivo promover

políticas contra a discriminação da mulher e reforçar a participação política, cultural e

econômica da mulher no país. A primeira relação de Conselheiras foi composta por

nove presidentas, dentre elas a atriz e produtora luso-brasileira Ruth Escobar, referência

artística e política na luta contra a ditadura, e a antropóloga Ruth Cardoso, também

primeira-dama do país de 1995 a 2003. O Conselho foi muito ativo até a troca do

Ministro da Justiça em 14 de fevereiro de 1986 por Paulo Brossard, quando seu

orçamento foi cortado e suas ações, restritas3. Mara Régia foi representante do Distrito

Federal na criação do Conselho. A partir de 2003, o Conselho passa a constituir a

Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, filiado à Presidência da República,

atuante até o presente momento.

A pré-constituinte tem início em 1986. Movimentos sociais de todo o país

voltam-se para a construção da Constituição Federal. O movimento feminista organiza-

se em prol das questões das mulheres e atua como polo agregador dos mais diversos

grupos e mulheres feministas. Em junho de 1986, é criado o Fórum de Mulheres do

Distrito Federal. No Fórum, encontravam-se mulheres de diferentes partidos e setores

feministas, feministas independentes, mulheres trabalhadoras, acadêmicas, dentre outras

(THURLER, 2010). O Fórum já mostra sua força a partir do ano seguinte, ao investir

2 Vide Anexo A.

3 Vide Anexos B, C e D.

29

em lutas para denunciar e combater a violência contra as mulheres. A demanda pela

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) foi atendida em 1986, e a

criação do Conselho dos Direitos da Mulher do Distrito Federal (CDM-DF), em 8 de

março de 1988.

5.1. NEPeM e Cfemea – caminhos distintos

Em 1986 é criado dentro da Universidade de Brasília o Núcleo de Estudos e

Pesquisas sobre a Mulher – NEPeM4 –, pelas Professoras Lúcia Sanders, Ana Vicentini

de Azevedo, Mireya Suarez e Lia Zanotta Machado. O NEPeM é vinculado ao Centro

de Estudos Multidiciplinares (CEAM), criado mais cedo no mesmo ano, com objetivo

de estimular e agregar pesquisadores de diferentes áreas da Universidade, unir o avanço

cientifico à transformação social, socializar o saber, tornar o conhecimento e as práticas

da Universidade acessíveis a sociedade brasileira.

Suas idealizadoras marcaram seu tempo de coordenação do Núcleo: Ana

Vicentini e Lúcia Sanders definem o perfil inicial, com o trabalho focado na área da

literatura feminista. A crítica cultural e debate sobre as relações de gênero consolidam

as intenções que levaram a formação do NEPeM.

A criação do NEPeM é de extrema importância para o movimento feminista de

Brasília/DF, por ser o único grupo com foco em pesquisa e produção acadêmica

feminista da cidade até aquele momento e único em porte até hoje. Foram realizadas

incontáveis pesquisas e trabalhos acadêmicos através do NEPeM, devendo ser citados

os de maior envergadura: “Relações de Gênero e Raça: Hierarquias, Poderes e

Violências”, com apoio do CNPq; “Violência e Cidadania no Distrito Federal”, com

apoio da FAP/DF; e “A Resolução Institucional de Conflitos - Acesso aos Direitos

Humanos das Mulheres no Brasil”, apoiado pela Fundação Ford, coordenado pela

Profas. Lourdes Bandeira e Mireya Suarez.

As atividades de ensino também ocuparam espaço de importância crescente.

Além de assistentes de pesquisa treinados dentro do Núcleo, ele atendeu a uma demanda

4 Anexo E.

30

crescente por parte dos estudantes em formação nas abordagens feministas e de gênero.

Suarez narra que

Centenas de estudantes de graduação e pós-graduação receberam

formação teórica e metodológica nessas abordagens por meio do

engajamento nos projetos de pesquisa, da participação nos Seminários

de Pesquisa do NEPeM, da oferta de disciplinas em cursos

disciplinares, e da orientação de graduandos, mestrandos e

doutorandos das áreas de sociologia, antropologia, comunicação,

psicologia, serviço social, ciências sociais, história e direito. Muitas

monografias, dissertações e teses de doutorado foram realizadas a

partir das pesquisas e orientações realizadas via o NEPEM (SUAREZ,

2010)

A Assembleia Constituinte tomou conta dos anos de 1987 e 1988. Os

movimentos feministas de Brasília estiveram envolvidos na formulação de propostas e

demandas, abrindo portas para o diálogo com grupos de outros estados. O Fórum de

Mulheres do DF e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher se ocuparam muito

desse momento, tendo em vista que as mulheres que faziam parte de partidos ou grupos

não feministas enfrentavam problemas para tratar das pautas das mulheres.

Na mesma época, as integrantes do Conselho Nacional rompem com o

Ministério da Justiça após a troca de ministro. O Conselho foi formado tendo em suas

cadeiras mulheres feministas e militantes muito ativas na época, situação muito

discrepante do contexto político geral em que se encontravam. Com a saída do ministro

Fernando Lyra, as conselheiras se demitem e junto com elas vai todo o corpo técnico.

Foi dessa saída que as mulheres residentes em Brasília decidem buscar uma nova opção.

Foi o primeiro passo para a criação do Cfemea.

Em 1989 a criação do Cfemea é formalizada, tendo em sua frente Marlene

Libardoni, Guacira Cesar de Oliveira e outras. Com poucos recursos, o Cfemea

consegue seu primeiro financiamento com a Fundação MacArthur e busca apoio do

NEPeM, passando a dividir uma sala Universidade de Brasília. Em 1991 seu primeiro

projeto é aprovado, e partir de 1992 o grupo começa realmente a trabalhar, articulando

movimentos feministas nacionais e internacionais.

31

6 TERCEIRO MOMENTO: NOVO CONTEXTO E BRASÍLIA NO CENÁRIO

INTERNACIONAL (1990)

Última década do século e do milênio, os anos 1990 foram caracterizados pelo

fortalecimento da democracia e pela busca por confiança, tanto da população, quanto de

governantes. Em cinco anos passamos de um regime ditatorial para uma democracia

participativa, tivemos uma Constituição promulgada e a proliferação de movimentos

sociais, inclusive e principalmente de movimentos feministas. Em Brasília, entramos em

1990 com a criação do Cfemea, com o NEPeM atuante dentro da Universidade, o

Fórum de Mulheres do DF atuando junto ao movimentos e a população e o Conselho

Nacional dos Direitos da Mulher passando por um período de baixa e descrédito.

Essa década foi marcada especialmente pela agenda internacional. Governos

mobilizados pelo debate sobre questões sociais, ambientais e políticas levaram a

diversos encontros dentro e fora do país, mobilizando todo um grupo de pessoas que

tinham se envolvido com a redemocratização do Brasil. O foco foi transformado: depois

de vinte e um anos de repressão, o Brasil assina diversos acordos pela promoção de

direitos humanos, desenvolvimento social e cuidado com meio ambiente.

As principais conferências da década são:

Junho 1992 - Também conhecida como Cúpula da Terra, Eco-92 e Rio-92, a

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

acontece na cidade do Rio de Janeiro.

Junho 1993 - Acontece em Viena (Áustria) a Conferência Mundial sobre

Direitos Humanos.

Setembro 1994 - Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento

é realizada no Cairo, Egito.

Março 1995 - ONU organiza a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social

em Copenhague, na Dinamarca.

Setembro 1995 - A capital chinesa Pequim recebe a 4ª Conferência sobre

Mulheres, promovida pela ONU.

Novembro 1995 - O enforcamento do escritor e ativista ambiental nigeriano Ken

Saro - Wiwa pelo governo de seu país atrai atenção internacional para as

32

ligações entre direitos humanos, justiça ambiental, segurança e crescimento

econômico.

Junho 1996 - Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos

(Habitat II) acontece em Istambul, na Turquia.

Setembro 1996 - ISO 14001 é formalmente adotada como padrão voluntário

internacional para sistemas de gestão ambiental corporativos.

Novembro 1996 - Roma sedia a Cúpula Mundial da Alimentação, convocada

pela FAO.

Setembro 1999 - Lançamento dos índices de sustentabilidade da Dow Jones, em

Nova York, para medir o desempenho nas bolsas de valores de empresas com

políticas de responsabilidade socioambiental.

Novembro 1999 - Durante sua terceira conferência ministerial, realizada em

Seattle, nos Estados Unidos, a OMC é alvo do primeiro grande protesto

antiglobalização.5

Duas das mais importantes conferências internacionais para o movimento

feminista brasileiro foram sem dúvida a Conferência Internacional Sobre População e

Desenvolvimento realizada no Cairo em setembro de 1994 e a 4ª Conferência sobre

Mulheres, realizada pela ONU em Pequim, em setembro de 1995. A partir delas, forma-

se uma agenda nacional feminista, e surgem as grandes redes feministas brasileiras. A

Conferência do Cairo dá início à Rede Feminista de Saúde. A preparação para Pequim

envolve mulheres do Brasil todo e Brasília centraliza boa parte das atividades

preparatórias. Toda essa atividade leva à criação, em 1994, da Articulação de Mulheres

Brasileiras (AMB).

Em Brasília, o movimento feminista se fortalece e cresce. O NEPeM teve dez

anos de muito trabalho e atividade, com diversas pesquisas sendo realizadas e a

formação de estudantes dentro da área de gênero e feminismo. Projetos de pesquisa

extremamente importantes foram realizados, como a pesquisa dentro de delegacias e a

capacitação da polícia militar do DF realizada pelo NEPeM com o compromisso de

trazer as questões das mulheres e de direitos humanos ao centro dos debates. M.B.K.

fala sobre esse momento:

5 Retirado de http://www.radarrio20.org.br/index.php?r=conteudo/view&id=9

33

O núcleo nunca teve o apoio suficiente financeiro da universidade,

como a maior parte dos núcleos. Ele sobrevivia com nossas próprias

pesquisas. Até que entramos em um projeto com a policia militar de

Brasília e se realizaram pesquisas bem importantes da qual resultou

um livro, teve uma capacitação de policiais que durou dois semestres,

tiveram as pesquisas que se fizeram em diversas delegacias.

Formamos gente, com essas atividades e com esse dinheiro, com esse

financiamento tivemos uma secretária, acesso a computador...

Formamos muitos alunos de graduação, homens e mulheres, na teoria

de gênero, mais ampla porque havia muitos meninos também. Tanto

da graduação quanto da pós graduação.

Mais um rompimento acontece, dando origem a um novo grupo. Marlene

Libardoni sai do Cfemea em 1991 e arregimenta uma nova organização: nasce a Agende

– Ações em Gênero, Cidadania e Desenvolvimento. Com objetivo de monitoramento

social e político, a Agende foi responsável por grandes campanhas e projetos, como as

Promotoras Legais, monitoramento governamental, advocacy. Com aproximadamente

vinte anos de atividades, a Agende finaliza suas ações em 2012. M.B.K. contextualiza a

relação entre esses dois grupos e o NEPeM no momento dessa ruptura:

Quando o NEPeM estava em seu esplendor, na década de 1990,

acontece a ruptura no Cfemea. E o NEPEM apoia a Marlene, apoio no

sentido do feminismo mesmo, desse feminismo culturalista, subjetivo,

guerreiro no sentido dos direitos das mulheres. O NEPeM acolhe

agende, ela nasce fisicamente no NEPeM. Interessante que a Agende,

igual ao Cfemea, nunca teve militantes do NEPeM, o que a Agende

teve foi um apoio de pesquisa e de nome. A essas alturas o nome de

Lia Zanotta era fundamental, de Lourdes Bandeira também, eu já

estava me recuando, sou bem mais velha que elas. Eram importantes

esses nomes nossos no conselho, então éramos do conselho, mas

nunca militamos como ONG. Até hoje, muitas tristezas, desavenças,

vem desse fato. Nunca fomos de ONG, éramos solidárias com a

Marlene, ajudávamos no que podíamos. Ai chegou o momento bem

crítico, quando a Agende estava quase sem poder sobreviver.

O Cfemea encabeça a agenda do feminismo na década de 1990, juntamente com

a AGENDE, envolvendo-se em âmbito local e nacional, além de fazer parte de

representações internacionais. Pauta suas atividades pela agenda do ciclo social da ONU

e pela fiscalização das ações do governo no cumprimento de acordos internacionais.

Em meados de 1995 surge em Brasília o primeiro grupo de mulheres negras

feministas local. Pouco se tem notícia, mas o Fórum de Mulheres Negras do DF

permanece em atividade até a década seguinte, quando se divide em outros grupos de

menor expressão. Já o Fórum de Mulheres do DF segue suas atividades, envolvendo-se

com a população e dando suporte para outros grupos.

34

7 FALAS E MEMÓRIAS

Reconstituir o caminho percorrido pelas mulheres e pelo movimento feminista

de Brasília foi muito além da busca por registros de grupos e ações. Foi na fala de

mulheres que vivenciaram essa gênese que encontramos motivações, necessidades e

sentimentos que levaram o movimento ao que ele é hoje.

As três entrevistadas percorreram caminhos distintos, mesmo que paralelos e

mesmo cruzando-se em diversos momentos da história. Nas falas delas surgiram

angustias, memórias pessoais de luta, motivações para transformar um cenário político e

social. Essas questões não podem e não devem ser deixadas de lado, são elas o pano de

fundo, não apenas deste trabalho, mas de um período histórico fundamental para a

compreensão de quais espaços foram ocupados pelo feminismo e como isso se deu.

Perceber dentro dessas falas aquilo que as unia e aquilo que as distanciava foi

um ponto central para a compreensão do movimento feminista de Brasília/DF.

Marcadamente dicotômico, desde a criação do primeiro grupo em Brasília podemos

observar dois caminhos distintos: uma parte das mulheres se dedicava a crítica cultural,

buscando uma mudança estrutural na sociedade; e outra parte se origina da militância

política, lutando pelo diálogo com o governo e pelo espaço das mulheres em âmbito

político.

De certa maneira, esses dois caminhos que levam diretamente a outros dois

pontos de convergência nas falas. Tratando-se da militância, as questões de

opressão/submissão das mulheres foi, e ainda é, negligenciada. Tratada como uma luta

menor e descentralizadora da luta importante, as questões das mulheres eram vistas

como secundárias em meio a luta pela redemocratização do país. O grito pela liberdade

política, partidária e de expressão encontrava sua barreira mais significativa ao tentar

manter as companheiras de luta sem voz, sem espaço.

Esse conflito pode ser visto como um reflexo do segundo ponto. O pano de

fundo para o movimento feminista nacional na segunda metade do século XX e,

principalmente, para o movimento feminista de Brasília/DF que se formalizava na

década de 1980, foi a questão da violência contra as mulheres. Podemos observar na

fala das três entrevistadas a maneira como a violência determinava motivações e ações,

a busca pelo fim desta e por novas possibilidades de relações entre gêneros foi um dos

35

principais motivadores do movimento feminista. Uniu a militância e a academia, pautou

debates, estudos e pesquisas, além de demandas políticas e sociais para o governo.

7.1. Crítica Cultural e Militância Política

O movimento feminista de Brasília/DF foi marcado em sua gênese pela

dicotomia entre grupos de mulheres militantes politicas e grupos de acadêmicas,

voltadas à pesquisa e à universidade. A troca de vivências entre essas duas linhas foi

intensa, como podemos perceber com a formação do grupo Brasília-Mulher, bem como

a tensão existente entre elas. A necessidade de acompanhar o que estava sendo feito

pelo governo e em âmbito do poder público pelas e para as mulheres era prioridade para

algumas, enquanto para outras, o sentido da luta ia em direção de uma mudança mais

abrangente da sociedade, a busca por uma transformação cultural que vai muito além da

política.

Compreender a coexistência da crítica cultural e da militância política é central

para analisarmos a década de 1980, quando eclodem os grupos feministas em

Brasília/DF. A incorporação do feminismo na academia fortalece cada vez mais uma

critica mais profunda da sociedade, porém mantem-se um diálogo e vinculo estreito

com o feminismo que acontece nas ruas, na militância política (BANDEIRA, 2000).

Observamos um ciclo desse vínculo na formação inicial desses grupos feministas, a

união do Mulheres do Cerrado e um grupo feminista da UnB dando origem ao Brasília-

Mulher e posteriormente, ele se dividindo em novos dois, assumindo formalmente essas

duas linhas de ação, o Cfemea e o NEPeM.

A tensão entre as feministas acadêmicas e as “profissionalizadas” permeia os

primeiros vinte anos de movimento feminista em Brasília. M.B.K. fala sobre sua visão,

avaliando o desenrolar do trabalho dessas duas vertentes do feminismo.

E agora o que se pode dizer bem tranquilamente é que a linha da

crítica cultural foi a que se firmou com muita força, todos os partidos

tem a “cozinha feminina”, a questão do feminino, agora feminista?

Ainda os partidos não engolem. Também não exageremos, dentro dos

partidos se fez um trabalho de participação politica das mulheres, isso

não pode ser subestimado, a participação política. Mas se você

observa essas mulheres, elas não são feministas, são mulheres de

partidos, e aumentou e saiu a lei e aquilo tudo, coisa que foi muito

36

boa, ou seja, houve avanços notáveis na linha política, mas acho que

os mais notáveis foram os culturais. Hoje é politicamente incorreto

que um jornalista diga que mulher é pra cozinha, ai acaba o jornalista,

ele acaba. Ou seja, seja por que o Brasil mudou ideologicamente nesse

sentido, ou por que é inconveniente ser patriarcal, de qualquer modo

houve um grande avanço e vem da crítica cultural, sem tirar o mérito

dos avanços políticos. Mas quando você examina o crescimento dos

dois, a crítica cultural leva.

7.2. Silenciamento

As décadas de 1970 e 1980, no Brasil, foram marcadas por profundas mudanças

sociais. A luta pela redemocratização mobilizou quase que a totalidade dos movimentos

sociais e levou para um segundo plano lutas e reinvindicações que não fossem

considerados fundamentais para o fim da repressão política e social. G.R.T. descreveu o

incomodo causado pelas pautas feministas e aponta, não apenas a hostilização dessas

pautas, mas a falta de consciência dos movimentos sociais para as questões das

mulheres.

A gente tava no movimento estudantil, com uma outra aspiração,

quando digo uma outra aspiração é a gente não queria ser dona de

casa, mãe de filhos, a gente tava construindo, era parte de um

movimento de protesto, a gente não queria fazer o papel de

mulherzinha, mulherzinha no pior sentido. E os homens do

movimento, jovens como nós, eles queriam mudar varias coisas mas

isso eles não tavam nem vendo que tinham que mudar. E essas

agendas de sexualidade, de corpo, que de alguma maneira nos

convocava, a esquerda tinha uma aversão a isso, droga, sexualidade,

de uma maneira geral, mas gays e lésbicas eram assuntos proibidos,

era segredo.

M.B.K. já entra na questão do grupo formalizado e seu espaço no movimento

mais amplo. O espaço para “as mulheres avançadas” foi restrito e todas as energias

voltadas para as questões consideradas emergenciais. Mais uma vez as questões

oriundas das mulheres são restritas ao privado.

Por um lado, eu diria que nessa linha contra o militarismo as mulheres

abriram mão da especificidade do movimento feminista, porque

razões politicas claras, se você era da avançada você tinha que

absorver a demanda que era maior: fora os militares, diretas já, aquilo

tudo. Esse mesmo grupo, (o Brasília-Mulher era isso) trabalhava o

37

nível bem mais como que eu te diria, bem mais subjetivo e feminista,

em encontros bastante fechados, no sentido de que eram basicamente

só mulheres, um ou outro homem, um ou outro gay, o movimento gay

ainda era nada (...) em essas reuniões eram reuniões de desabafo, onde

a subjetividade estava posta, onde estava posta a totalidade da

demanda feminista.

O silenciamento do movimento reflete o silenciamento da história das mulheres.

Para Michelle Perrot o silencio não abarca somente a história das mulheres, mas pesa

principalmente sobre elas devido as relação de desigualdade dos sexos. Em entrevista,

Perrot afirma:

Os homens estão aí. A história dos homens está aí, onipresente. Ela

ocupa todo o espaço e há muito tempo. As mulheres sempre foram

concebidas, representadas, como uma parte do todo, como particulares

e negadas, na maior parte do tempo. Podemos falar do silêncio da

História sobre as mulheres. Não é de espantar, portanto, que uma

reflexão histórica participe dessa descoberta das mulheres sobre elas

próprias e por elas mesmas, aspecto de sua afirmação no espaço

público.6

A não percepção das demandas feministas pelos movimentos sociais, bem como a

hierarquização das prioridades de luta, traduz essa noção de mulheres concebidas,

representadas. O espaço público é palco de lutas por voz e representação, mulheres

sempre estiveram presentes nessas lutas, assim como nos espaços públicos, nem que

fossem travestidas de homens. A obscuridade, o anonimato, o preconceito transformam a

luta das mulheres, resignificam sua fala como atrevimento e exaltação e busca novamente

retirá-las do espaço público.

A tentativa de se desconstruir atividades políticas encabeçadas por mulheres

também reside na expropriação de registros históricos. O oficial sendo o público, sendo o

masculino, transforma os registros do privado em mera literatura subjetiva. Retira-se seu

caráter político, de comunicação e de salvaguarda historiográfico, capaz de relatar muito

mais do que vivências vazias ou supérfluas. O silencio do relato se institui na medida em

que o oficial é o politico, o econômico e o social masculino, aquele que constrói a

história de mulheres imaginadas e idealizadas pelos homens.

A relação das mulheres com militância politica durante a após a ditadura militar

traz consigo um exemplo da realidade do silenciamento, Não é simplesmente considerar

que elas não participaram, mas sim enquadrá-las em determinados espaços e

6 Entrevista disponível em http://www.ambafrance.org.br/abr/label/label37/dossier/01perrot.html. Acesso

em Agosto de 2013.

38

principalmente, cercear a possibilidade de demandas que não estejam previstas pelo

status quo do movimento. Estar no movimento social para as mulheres abre um leque de

várias lutas simultaneamente – ocupar espaço dentro dele, ter voz e participação e

colocar suas demandas torna a luta muito mais interna e reflete os reais espaços

destinados às mulheres.

7.3. Violência contra as mulheres

A violência contra as mulheres serviu como pano de fundo para o debate

feminista brasiliense. O debate acadêmico foi orientado no sentido da problematização e

da mudança social para o fim da violência. O NEPeM foi o grande responsável por esse

debate acadêmico, realizando pesquisas, formando estudantes da universidade e ainda,

agindo proativamente na sociedade, capacitando policiais militares. M.B.K.

problematiza a questão da violência:

Certamente a violência foi um ponto central do NEPeM. E essa é a de

âmbito cultural. Acho que uma das linhas que continuam muito fortes

é essa. Eu tenho muitas criticas, eu acho que ao mesmo tempo que as

ações denunciam a violência, a insistência da violência acaba servindo

de apoio institucional. As pessoas acabam ascendendo pelo lado da

violência, é como se as ações fossem muito pequenas, perante o

grande discurso da violência. É mal compreendida, Tem se trabalhado

só com leis e punições e pouco se sabe dos fundos dela.

Essa temática, central para o feminismo brasileiro, não apenas para o brasiliense,

levou a profissionalização do movimento feminista. Mulheres passaram a se organizar

em organizações não-governamentais para tratar das questões da violência a partir da

década de 1980, coincidindo com o fortalecimento do movimento feminista de

Brasília/DF e indicando os caminhos a serem seguidos. Segundo G.R.T., a militância

baseava suas ações em busca do empoderamento das mulheres e do fim da violência:

A ação estava muito colada a questão da violência contra as mulheres,

essa era uma questão super importante, e a questão das creches, essa

eram as duas bandeiras, até onde eu me lembro, mais importantes, mas

a violência ganhava na frente assim, esse era o tema. (...) E as

mulheres, a questão do empoderamento. (informação verbal)

39

Desde os programas da radialista Mara Régia, a criação do Cfemea –

oficializando o acompanhamento do governo pela sociedade civil organizada – o

movimento feminista voltado a militância política trabalha com o problema da violência

contras as mulheres. Em 1985 a organização do movimento feminista consegue um

grande avanço em relação ao problema da violência, é criada pelo governo a primeira

DEAM – Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher – em São Paulo.

Podemos definir a virada da década de 1970 para a de 1980 como de

transformação para a questão da violência contra as mulheres. O privado também é

político (BANDEIRA, 2000) rompe com a barreira da intocabilidade do agressor e põe

fim ao silêncio que circundava a violência entre quatro paredes. Crimes contra a honra

são severamente questionados e o movimento feminista exerce pressão fundamental

para que tenham fim.

As primeiras publicações que tratam da violência focam a violência intrafamiliar

e principalmente a criança, ignorando-se a situação da mulher e seu contexto, ou seja, se

ela é ou não agredida. É no sentido da individualização da violência, para que a mulher

ganhe visibilidade, que o movimento feminista cunha, em 1970, o termo “violência

contra a mulher”. A partir daí, o movimento feminista e de mulheres começa uma luta

atrás da outra, ganhando espaço e promovendo mudanças. Ainda em 1970, luta-se

contra a absolvição de maridos que mataram suas esposas (crimes de honra), em 1980

cria-se as delegacias de atendimento a mulher, a questão da violência chega ao campo

jurídico e ao campo da saúde, emerge a denominação “violência doméstica”, em 1990

estudos enfocam os vários pontos de vista das mulheres, a expressão utilizada é a

“violência de gênero” e surgem estudos que tomam o homem e as questões das

masculinidades como objeto.

A violência contra a mulher é considerada uma questão invisível. Difícil de

nominar e de ser reconhecida, não há consenso em relação a ela. Não é uma violência

valorizada como problema social ou de saúde, no máximo, é um problema individual,

de cada mulher. A “perda de cabeça” do parceiro não é identificada como violência e,

portanto não parece uma violação (SCHRAIBER, 2005).

Para Rita Segato, a violência contra a mulher age no intuito de restaurar a

autoridade masculina abalada, de uma virilidade frágil. Ela não acontece pela situação

constante de submissão das mulheres, ao contrário, é a necessidade de se obter esses

poder, de reforçar a todo o momento essa relação de poder em uma sociedade onde o

valor das pessoas é desigual. Em seu livro “Las estructuras elementales de la violência:

40

ensayos sobre género entre la antropología, el psicoanálisis y los derechos humanos”, a

autora entende que essa desigualdade começa em âmbito familiar, instituindo a

violência moral como ponto chave da reprodução de relações violentas e embasando a

estrutura hierárquica que será eternizada. Sobre isso Segado (1998:3) diz:

Poderia se dizer que a estrutura, a partir da primeira cena em que

participamos (a cena familiar - ou substituta - primigênia, não importa

a cultura de que se trate ou o grau de desvio em relação ao padrão

social numa cultura particular) se transveste de gênero, emerge nas

caracterizações secundárias com os traços do homem e a mulher, e nos

seus papéis característicos. Kaja Silverman (1992) chama este cena de

"ficção dominante" e considera os papéis de gênero nesta cena

originária como uma verossimilhança do que acontece, de fato, na

estrutura que organiza as relações desta cena e que se encontra, ao

mesmo tempo, oculta e revelada por elas.

Nesse sentido, a violência atua como restauradora do poder, sendo enunciado de

um mandato de violação. Compreender a estrutura dessa hierarquia só é possível se

conseguirmos abarcar um estrato simbólico de condução de afetos e que vai distribuir

valores aos personagens do cenário social.

Heleieth Saffioti (2004) fortalece o pensamento de Segato. A violência contra as

mulheres é banalizada e em certa medida, apoiada e reforçada pela sociedade conivente,

tendo em vista que há incentivo para o uso da força quando se trata de preservar a

virilidade masculina. Assim, podemos ter a violência como forma de controle social e

manutenção do poder.

O movimento feminista exerce papel fundamental ao longo da história como

contra partida dessa violência. A luta pela implementação e acompanhamento de

politicas públicas, capacitação de agentes, teorização e desenvolvimento de pesquisas

que elucidem esses problemas e, principalmente, na politização do privado e

publicização da violência. Com o movimento de Brasília/DF não é diferente, assumindo

o fim da violência como principal demanda, tornando-a pilar da luta.

41

8 CONCLUSÃO

A partir da ditadura militar, floresce em Brasília um diversificado e forte

movimento feminista. Capaz de grandes transformações e bebendo em fontes nacionais

e internacionais, se fortalece e demarca os parâmetros em que vai se estabelecer.

Pudemos observar dois caminhos muito distintos desse movimento. O primeiro

deles é a crítica cultural e reflexão social, caminho inicialmente percorrido pelo

Mulheres do Cerrado, chegando ao Brasília-Mulher e se estabilizando no NEPeM. O

segundo se inicia na fala da radialista Mara Régia e é assumido de corpo e alma por

Marlene Libardoni, com uma visão muito mais política, vinculada diretamente a ela.

Ainda nesse segundo caminho, observamos o Cfemea e posteriormente a Agende

assumirem funções de monitoramento, acompanhando agendas nacionais e

internacionais de compromisso do governo com a mudança social.

Muito se pautou nesses vinte anos de movimento feminista. Direitos

fundamentais, direito sobre o corpo, sexualidade, opressão e submissão das mulheres

em uma sociedade patriarcal, mas nenhum tema foi tão transversal a todos os grupos e

durante todo esse tempo como a violência contra as mulheres. A luta pelo fim da

violência balizou todo um movimento e continua absolutamente atual.

O NEPeM nasce da necessidade da reflexão e da crítica cultural, buscando

mudanças profundas na sociedade. Hoje é o mais antigo núcleo de pesquisa em gênero e

feminismos do país, sendo impossível ignorar sua importância e sua atualidade neste

debate. Ele floresce com a necessidade destes estudos no país e se renova a cada

pesquisa e a cada nova influência teórica.

Grupos como Cfemea e Fórum de Mulheres do DF também resistem ao tempo e

às novas dinâmicas do movimento feminista. Deparam-se com um novo contexto a

partir dos anos 2000 e conseguem incorporar novas lutas e encarar necessidades

completamente diferente daquela em que surgiram.

Na política, todos esses grupos levaram a uma maior participação das mulheres.

A pressão durante a constituinte, o diálogo internacional, o aprofundamento nas

questões de violência, monitoramento pelo desenvolvimento social e a produção teórica

voltada para questões de gênero e feminismos fez com que muito fosse incorporado ao

discurso político, mas mesmo assim o movimento feminista de Brasília/DF não foi

absorvido dentro dos partidos.

42

O movimento feminista no Brasil se mobilizou e fortaleceu pela

redemocratização. Em Brasília isso aconteceu de maneira ainda mais intensa, grupos

recém formados ou ainda em construção tiveram participação ativa nas ações, como a

participação do Cfemea em apoio a Assembleia Constituinte. Esses grupos estavam no

epicentro da transformação social. Nesse sentido, sua trajetória foi diluída em meio a

grandes eventos históricos sem que, por muito tempo, se olhasse com cautela a

participação fundamental dessas mulheres nesse processo. Esse silenciamento reflete a

necessidade dessa luta e o objetivo desse trabalho foi dar o primeiro passo em direção a

recuperação dessa memória.

Temas centrais no desenvolvimento do movimento feminista continuam atuais e

pautando a luta pela igualdade entre os sexos. O silenciamento anda lado a lado com a

violência, a busca pela auto representação e voz são o caminho para o fortalecimento

das mulheres e mudança mais profunda da cultura.

43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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transformação, reclassificação e extinção de funções de confiança na Tabela

Permanente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM e dá outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1980-

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Acesso em: 09 ago. 2013.

46

ANEXO A – Lei nº 7.353, de 29 de agosto de 1985.

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI No 7.353, DE 29 DE AGOSTO DE 1985.

Regulamento

Cria o Conselho Nacional dos Direitos

da Mulher - CNDM e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que a Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art 1º Fica criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, com a

finalidade de promover em âmbito nacional, políticas que visem a eliminar a

discriminação da mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de igualdade de

direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas, econômicas e

culturais do País.

Art 2º O Conselho é órgão vinculado ao Ministério da Justiça, com autonomia

administrativa e financeira. (Revogado pela Lei nº 8.028, de 1990)

Art 3º O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher compor-se-á de:

a) Conselho Deliberativo;

b) Assessoria Técnica;

c) Secretaria Executiva.

Art 4º Compete ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher:

a) formular diretrizes e promover políticas em todos os níveis da administração

pública direta e indireta, visando à eliminação das discriminações que atingem a

mulher;

b) prestar assessoria ao Poder Executivo, emitindo pareceres e acompanhando a

elaboração e execução de programas de Governo no âmbito federal, estadual e

municipal, nas questões que atingem a mulher, com vistas à defesa de suas necessidades

e de seus direitos;

47

c) estimular, apoiar e desenvolver o estudo e o debate da condição da mulher

brasileira, bem como propor medidas de Governo, objetivando eliminar todas as formas

de discriminação identificadas;

d) sugerir ao Presidente da República a elaboração de projetos de lei que visem a

assegurar os direitos da mulher, assim como a eliminar a legislação de conteúdo

discriminatório;

e) fiscalizar e exigir o cumprimento da legislação que assegura os direitos da

mulher;

f) promover intercâmbio e firmar convênios com organismos nacionais e

estrangeiros, públicos ou particulares, com o objetivo de implementar políticas e

programas do Conselho;

g) receber e examinar denúncias relativas à discriminação da mulher e

encaminhá-las aos órgãos competentes, exigindo providências efetivas;

h) manter canais permanentes de relação com o movimento de mulheres,

apoiando o desenvolvimento das atividades dos grupos autônomos, sem interferir no

conteúdo e orientação de suas atividades;

i) desenvolver programas e projetos em diferentes áreas de atuação, no sentido

de eliminar a discriminação, incentivando a participação social e política da mulher.

Art 5º O Presidente do CNDM será designado pelo Presidente da República

dentre os membros do Conselho Deliberativo.

Art 6º O Conselho Deliberativo será composto por 17 (dezessete) integrantes e 3

(três) suplentes, escolhidos entre pessoas que tenham contribuído, de forma

significativa, em prol dos direitos da mulher e designados pelo Presidente da República,

para mandato de 4 (quatro) anos, sendo presidido pelo Presidente do CNDM.

Parágrafo único. 1/3 (um terço) dos membros do Conselho Deliberativo será

escolhido dentre pessoas indicadas por movimentos de mulheres constantes de listas

tríplices.

Art 7º O CNDM contará com pessoal próprio, constante da Tabela de Empregos

criada nos termos da legislação em vigor e regido pela Consolidação das Leis do

Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Parágrafo único. O CNDM poderá requisitar servidores de órgãos e entidades da

administração direta e indireta, sem perda de sua remuneração a demais direitos e

vantagens.

48

Art 8º Fica instituído o Fundo Especial dos Direitos da Mulher, destinado a gerir

recursos e financiar as atividades do CNDM.

§ 1º O F.E.D.M. é um Fundo Especial, de natureza contábil, a crédito do qual

serão alocados todos os recursos, orçamentários e extra-orçamentários, destinados a

atender às necessidades do Conselho, inclusive quanto a saldos orçamentários.

§ 2º O Presidente da República, mediante decreto, estabelecerá os limites

financeiros e orçamentários, globais ou específicos, a que ficará submetido o CNDM.

Art 9º Fica o Poder Executivo autorizado a abrir crédito especial, em favor do

F.E.D.M., no valor de até Cr$6.000.000.000 (seis bilhões de cruzeiros), destinado a

despesas de instalação e funcionamento do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher -

CNDM.

Art 10. Os membros do primeiro Conselho Deliberativo serão nomeados pelo

Presidente da República, por sua livre escolha, sendo 9 (nove) Conselheiros para

mandato de 4 (quatro) anos e 8 (oito) para mandato de 2 (dois) anos.

Parágrafo único. O Presidente será escolhido dentre os Conselheiros com

mandato de 4 (quatro) anos.

Art 11. A estruturação, competência e funcionamento do CNDM serão fixados

em Regimento Interno, aprovado por decreto do Poder Executivo.

Art 12. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art 13. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 29 de agosto de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY

Fernando Lyra

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 30.8.1985

49

ANEXO B – Decreto nº 93.450, de 23 de outubro de 1986.

Senado Federal Subsecretaria de Informações

DECRETO Nº 93.450, DE 23 DE OUTUBRO DE 1986

Dispõe sobre a criação de funções de

confiança na Tabela Permanente do Conselho

Nacional dos Direitos da Mulher.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o

art. 81, item III, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 7º e 8º da Lei nº

5.645, de 10 de dezembro de 1970, no Decreto nº 77.336, de 25 de março de 1976, no

Decreto nº 83.844, de 14 de agosto de 1979 e o que consta do Processo nº

00600.001031/86-90,

DECRETA:

Art. 1º São criadas e suprimidas na Presidência do Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher funções de Assessoramento Superior, para composição do Grupo-

Direção e Assessoramento Superiores, código LT-DAS-100, de sua Tabela Permanente,

na forma do anexo a este Decreto.

Art. 2º As atribuições das funções de Assessor de que trata este Decreto são as

definidas no regimento interno de cada órgão de sua estrutura básica, aprovado por

portaria ministerial.

Art. 3º O provimento das funções de confiança de que trata este Decreto far-se-á

gradualmente na medida das necessidades e dos recursos financeiros disponíveis, na

forma da legislação vigente.

Art. 4º As despesas decorrentes da execução deste decreto serão custeadas pelos

recursos alocados ao Fundo Especial dos Direitos da Mulher.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 23 de outubro de 1986; 165º da Independência e 98º da República.

JOSÉ SARNEY

50

Paulo Brossard

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 30.8.1985

DECRETO Nº 93.450, DE 23 DE OUTUBRO DE 1986.

Dispõe sobre a criação de funções de confiança na

tabela Permanente do Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o

art. 81, item III, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 7º e 8º da Lei nº

5.645, de 10 de dezembro de 1970, no Decreto nº 77.336, de 25 de março de 1976, no

Decreto nº 83.844, de 14 de agosto de 1979 e o que consta do Processo nº

00600.001031/86-90,

DECRETA:

Art. 1º São criadas e suprimidas na Presidência do Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher funções de Assessoramento Superior, para composição do Grupo

Direção e Assessoramento Superiores, código LT-DAS-100, de sua Tabela Permanente,

na forma do anexo a este Decreto.

Art. 2º As atribuições das funções de Assessor de que trata este Decreto são as

definidas no regimento interno de cada órgão de sua estrutura básica, aprovado por

portaria ministerial.

Art. 3º O provimento das funções de confiança de que trata este Decreto far-se-à

gradualmente na medida das necessidades e dos recursos financeiros disponíveis, na

forma da legislação vigente.

Art. 4º As despesas decorrentes da execução deste Decreto serão custeadas pelos

recursos alocados ao Fundo Especial dos Direitos da Mulher.

Art. 5º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 6º Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 23 de outubro de 1986; 165º da Independência e 98º da República.

JOSÉ SARNEY

Paulo Brossard

(*) Republicado por ter saído com omissão do anexo no D.O. de 24.10.86.

51

ANEXO C – Decreto nº 96.895, de 30 de setembro de 1988.

Senado Federal Subsecretaria de Informações

DECRETO N° 96.895, DE 30 DE SETEMBRO DE 1988

Aprova o Regimento Interno do Conselho

Nacional dos Direitos da Mulher-CNDM.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o

art. 81, itens III e V, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 11 da Lei n°

7.353, de 29 de agosto de 1985,

DECRETA:

Art. 1° Fica aprovado o anexo Regimento Interno do Conselho Nacional dos

Direitos da Mulher-CNDM, criado pela lei n° 7.353, de 29 de agosto de 1985.

Parágrafo único. As alterações do Regimento Interno serão procedidas por

Portaria do Ministro de Estado da Justiça.

Art. 2° Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 3° Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 30 de setembro de 1988; 167° da Independência e 100° da República.

JOSÉ SARNEY

Paulo Brossard

CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA MULHER - CNDM

REGIMENTO INTERNO

CAPÍTULO I

Categoria e Finalidade

Art. 1º - O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, criado pela Lei

nº 7.353, de 29 agosto de 1985, órgão de deliberação coletiva do Ministério da Justiça,

com autonomia administrativa e financeira, concedida pelo Decreto nº 91.696, de

27.09.85, tem por finalidade promover, em âmbito nacional, políticas que visem a

52

eliminar a discriminação, da mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de

igualdade de direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas,

econômicas, sociais e culturais do País, especialmente:

I - formular diretrizes e promover políticas em todos os níveis da administração

pública direta e indireta, visando à eliminação das discriminações que atinjam a mulher:

II - prestar assessoria ao Poder Executivo, emitindo pareceres e acompanhando a

elaboração e execução de programas de Governo no âmbito federal, estadual e

municipal, nas questões que atingem a mulher, com vistas à defesa de suas necessidades

e de seus direitos;

III - estimular, apoiar e desenvolver o estudo e o debate da condição da mulher

brasileira, bem como propor medidas de Governo, objetivando eliminar todas as formas

de discriminação identificadas;

IV - sugerir ao Presidente da República a elaboração de projetos de lei que

visem a assegurar os direitos da mulher, assim como a eliminar a legislação de conteúdo

discriminatório;

V - fiscalizar e exigir o cumprimento da legislação que assegura os direitos da

mulher.

VI - promover intercâmbio e firmar convênios com organismos nacionais e

estrangeiros, públicos ou particulares, com o objetivo de implementar políticas e

programas do conselho;

VII - receber e examinar denúncias relativas à discriminação da mulher e

encaminhá-las aos órgãos competente exigindo providências efetivas;

VIII - manter canais permanentes de relação com o movimento de mulheres,

apoiando o desenvolvimento das atividades dos grupos autônomos, sem interferir no

conteúdo e orientação de suas atividades;

IX - desenvolver programas e projetos em diferentes áreas de atuação, no sentido

de eliminar a discriminação, incentivando a participação social e política da mulher.

CAPÍTULO II

Organização do Colegiado

Seção I

Composição

53

Art. 2º - As funções de deliberação do CNDM serão exercidas pelo Conselho

Deliberativo.

Art. 3º - O Conselho Deliberativo do CNDM será presidido pela Presidente do

CNDM e composto de 17 (dezessete) integrantes e 3 (três) suplentes, designadas pelo

Presidente da República, mediante escolha entre pessoas que hajam contribuído, de

forma significativa, em prol dos direitos da mulher.

Parágrafo único - As suplentes poderão ser convocadas para as reuniões do

Conselho Deliberativo e passarão à condição de titulares do Colegiado, nos casos de

vacância ou impedimento das Conselheiras efetivas.

Art. 4º - O Conselho Deliberativo terá assegurado, em sua composição, a

participação dos grupos autônomos de defesa dos direitos da mulher, dos movimentos

femininos das associações de caráter civil, da comunidade acadêmica vinculada ao

estudo de condição feminina, dentre outros setores interessados nos direitos da mulher,

indicados por listas tríplices.

§ 1º - Estende-se por movimentos femininos as organizações ou grupos de

mulheres cuja razão de associação seja a luta em prol dos direitos da mulher.

§ 2º - Serão escolhidas, dentre as pessoas indicadas por movimentos femininos,

seis integrantes do Conselho Deliberativo e uma suplente.

Art. 5º - As integrantes do Conselho Deliberativo serão denominados

Conselheiras.

Art. 6º - O mandato das Conselheiras será de 4(quatro) anos.

Art. 7º - A Conselheira que não compadecer, no período de um ano, sem motivo

justificado, a 3 (três) reuniões consecutivas e a 5 (cinco) interpoladas, será dispensada

de membro do Conselho Deliberativo.

Parágrafo único - Caberá ao Conselho Deliberativo examinar e decidir sobre o

mérito da justificativa de que trata este artigo.

Art. 8º - A Presidente do CNDM será designada pelo Presidente da República

dentre as integrantes do Conselho Deliberativo, com mandato de 4 (quatro) anos.

Art. 9º - A Presidente, em suas faltas ou impedimentos, será substituída por uma

das Conselheiras, por ela designada.

Seção II

Funcionamento

54

Art. 10 - O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher reunir-se-á,

ordinariamente, 6 (seis) vezes por ano e, extraordinariamente, por convocação da

Presidente ou em decorrência de requerimento subscrito por, no mínimo, nove

Conselheiras.

§ 1º - As reuniões ordinárias serão convocadas, por escrito, com antecedência de

, no mínimo, 8 (oito) dias.

§ 2º - As reuniões serão realizadas com a presença mínima de 9 ( nove)

Conselheiras.

Art. 11 - As deliberações do CNDM, observado o “quorum” estabelecido, serão

tomadas por maioria simples de seus membros, mediante ato específico para cada caso,

assinado pela Presidente.

Parágrafo único - A Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

terá direito a voto nominal e de qualidade.

Art. 12 - O CNDM, observada a legislação vigente, estabelecerá normas

complementares relativas à ordem de seus trabalhos.

Art. 13 - O Conselho Deliberativo deliberará sobre:

I - aprovação do plano anual de atividade;

II - previsão orçamentária, plano anual de aplicação de recursos e relatório anual

de atividades do Conselho;

III - proposição de alteração do Regimento Interno;

IV - pedidos de licença das Conselheiras;

V - substituição de Conselheiras;

VI - matérias que lhe sejam encaminhadas e digam respeito à condição da

mulher;

VII - definição das estratégias e políticas nas relações de intercâmbio, convênios

e acordos com outros órgãos nacionais e estrangeiros, públicos ou privados; e

VIII - instituição de comissões consultivas.

Art. 14 - Os Diretores da Diretoria de Articulação Política e da Assessoria

Técnica poderão participar das reuniões do Conselho Deliberativo, sem direito a voto.

§ 1º - A critério da Presidente, poderão participar das reuniões e debates, sem

direito a voto, os dirigentes das demais unidades organizacionais do CNDM.

§ 2º - A critério da Presidente, poderão participar das reuniões e debates, sem

direitos a voto, pessoas interessadas no movimento em prol dos direitos da mulher e que

possam contribuir para o esclarecimento da matéria em discussão.

55

Seção III

Atribuições dos Membros do Colegiado

Art. 15 - A Presidente do CNDM incumbe dirigir, coordenar, avaliar e

supervisionar as atividades do Conselho e, especialmente:

I - convocar reuniões ordinárias e extraordinárias do Conselho;

II - presidir as reuniões ordinárias e extraordinárias do Conselho;

III - autorizar a apresentação de matéria nas reuniões do Conselho, por pessoas

que não sejam Conselheiras;

IV - indicar, dentre as integrantes do Conselho, a relatora de matérias;

V - homologar os atos específicos relatados em cada reunião;

VI - propor ao Conselho o programa de atividades e a previsão orçamentária, o

plano anual de aplicação de recursos e o relatório anual de atividades;

VII - representar o CNDM ou se fazer representar, perante autoridade federais,

estaduais, municipais e internacionais;

VIII - representar o CNDM, ou se fazer representar, em eventos nacionais e

internacionais.

IX - comunicar ao Ministro de Estado da Justiça e demais autoridades

representativas as recomendações do CNDM, solicitando as providências necessárias;

X - zelar pelo funcionamento do CNDM;

XI - requisitar recursos humanos e materiais necessários à execução dos

trabalhos do CNDM;

XII - contratar especialistas, de nível médio superior e consultores técnicos, nos

termos da legislação em vigor;

XIII - efetuar as designações de seu pessoal;

XIV - firmar convênios, contratos e ajustes com organismos nacionais e

internacionais, públicos ou privados visando a obtenção de recursos e serviços;

XV - expedir, “ad referendum” do Conselho, normas complementares relativas à

execução dos trabalhos do CNDM;

XVI - gerir o Fundo Especial dos Direitos da Mulher-FEDM; e

XVII - praticar os demais atos necessários ao cumprimento das finalidades do

Conselho;

Art. 16 - Às Conselheiras incumbe;

I - participar e votar nas reuniões;

56

II - relatar matérias que lhes forem distribuídas;

III - propor e requerer esclarecimento sirvam à melhor apreciação das matérias

em estudo; e

IV - desempenhar outras atividades que lhes forem atribuídas pela Presidente.

CAPÍTULO III

Organização Administrativa

Seção I

Estrutura

Art. 17 - O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher-CNDM terá a seguinte

estrutura:

1 - Diretoria de Articulação Política:

1.1 - Coordenadoria de Comunicação Social;

1.2 - Coordenadoria de Assuntos jurídicos;

1.3 - Coordenadoria de Assuntos Políticos;

2. Assessoria Técnica:

2.1 - Centro de Estudos, Documentação e Informação sobre a Mulher - CEDIM;

3. Secretaria Executiva:

3.1 - Serviço de Administração;

3.2 - Serviço Administração;

3.3 - Serviço de Orçamento e Finanças.

Parágrafo único. O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher-CNDM disporá

de 8 (oito) funções de Coordenador para executar as tarefas compreendidas nas suas

atividades finalísticas, inerentes a estudos, projetos, programas e articulação regional,

respeitada a distribuição prevista no anexo do Decreto que tratará sobre a criação e

transformação de funções de confiança de sua Tabela Permanente.

Art. 18 - A Diretoria de Articulação Política e a Assessoria Técnica serão

dirigidas por Diretor; a Secretaria Executiva, por Secretário-Executivo; as

Coordenadorias e o Centro de Estudos, Documentação e Informação, por Coordenador;

os serviços, por chefe. Essas funções serão providas na forma da legislação pertinente.

Art. 19 - Os ocupantes das funções previstas no artigo anterior serão

substituídos, em suas faltas ou impedimentos, por servidores por eles indicados e

previamente designados pela Presidente do CNDM.

57

Seção II

Competência das Unidades

Art. 20 - A Diretoria de Articulação Política compete:

I - manter articulação sistemática com o Conselho Deliberativo;

II - manter o Conselho Deliberativo permanentemente informado sobre as

atividades do CNDM e especialmente sobre o cumprimento das suas deliberações;

III - promover e apoiar o intercâmbio e a articulação entre as instituições

governamentais e privadas no âmbito das áreas de atuação do CNDM;

IV - manter intercâmbio e contato com outros órgãos da administração pública

ou com as entidades privadas, inclusive internacionais ou estrangeiras, visando à

celebração de convênios, acordos, contratos e ajustes inerentes às suas atividades;

V - acompanhar a tramitação no CNDM de assuntos de interesse do movimento

de mulheres;

VI - incentivar a criação e o desenvolvimento de grupos e instituições voltadas

para eliminação das discriminações que atinjam a mulher;

VII - acompanhar os projetos de interesse do Conselho, em tramitação no

Congresso nacional;

VIII - articular-se com órgãos e entidades, públicas ou privadas, estrangeiras ou

nacionais, visando à obtenção de recursos financeiros;

IX - emitir pareceres em matérias relativas à questão da mulher, encaminhando-

os aos órgãos competentes;

X - coordenar a elaboração do relatório anual do CNDM;

XI - promover as relações públicas do Conselho.

Art. 21 - A Coordenadoria de Comunicação Social compete planejar, coordenar

e executar a política de comunicação social do CNDM, observadas as diretrizes

estabelecidas na legislação específica.

Art. 22 - A Coordenadoria de Assuntos Jurídicos compete pronunciar-se sobre a

matéria de natureza jurídica pertinente à área de competência do conselho, bem como

zelar pela fiel observância e aplicação de leis, decretos e regulamentos;

Art. 23 - A Coordenadoria de Assuntos Políticos compete providenciar o

atendimento às consultas formuladas pelo Congresso nacional e acompanhar a execução

de programas de governo, no âmbito federal, estadual e municipal, nas questões

atinentes à mulher.

58

Art. 24 - A assessoria Técnica compete:

I - realizar estudos e promover o levantamento de dados para a elaboração dos

projetos;

II - elaborar planos e projetos;

III - orientar, supervisionar, compatibilizar e acompanhar a execução dos planos

e projetos;

IV - propor à Presidente a contratação de serviços necessários ao

desenvolvimento das atividades do CNDM;

V - propor à Presidente a indicação de pessoas, grupos de trabalho ou comissões

necessários ao desenvolvimento das atividades do CNDM;

VI - elaborar o relatório anual das atividades;

VII - organizar e propor à Presidente os eventos necessários ao desenvolvimento

das atividades do CNDM; e

VIII - promover treinamento específicos de pessoas envolvidas nas atividades do

CNDM;

Art. 25 - Ao Centro de Estudos, Documentação e Informação sobre a Mulher -

CEDIM compete promover a execução das atividades relacionadas com a

documentação, informática, coleta, manutenção e disseminação de informações.

Art. 26 - A secretaria Executiva compete supervisionar, coordenar e controlar a

execução das atividades de apoio administrativo necessárias ao funcionamento do

Conselho.

Art. 27 - Ao serviço de Pessoa compete a execução das atividades de

administração de pessoal e recursos humanos.

Art. 28 - Ao serviço de Administração compete orientar, coordenar,

supervisionar e executar as atividades relativas ao Sistema de Serviços Gerais - SISG e

patrimônio.

Art. 29 - Ao Serviço de Orçamento e Finanças compete orientar, coordenar,

supervisionar e executar as atividades relativas à administração orçamentária e

financeira.

Seção III

Atribuições dos Dirigentes

Art. 30 - Aos dirigentes da Diretoria de Articulação Política, da Assessoria

Técnica e da Secretaria Executiva incumbe:

59

I - planejar, dirigir, coordenar, orientar e supervisionar as atividades das

respectivas unidades;

II - assessorar a Presidente do CNDM em assunto de sua competência; e

III - praticar os demais atos necessários à consecução das finalidades do CNDM;

Parágrafo único - Ao Secretário-Executivo incumbe, ainda, assinar, em conjunto

com o Chefe de Orçamento e Finanças, os documentos inerentes à execução

orçamentária e financeira do CNDM;

Art. 31 - Aos Coordenadores e aos Chefes dos Serviços incumbe:

I - dirigir, coordenar, orientar e supervisionar a execução das atividades das

respectivas unidades;

II - submeter às chefias imediatas os planos de trabalho de suas unidades, bem

como os relatórios das atividades desenvolvidas;

III - assessorar os Diretores em assuntos de competência das respectivas

unidades organizacionais;

IV - propor estudos e medidas que visem à melhoria da execução de suas

atividades; e

V - praticar os demais atos necessários à consecução dos objetivos das

respectivas unidades.

CAPÍTULO IV

Disposições Gerais

Art. 32 - O CNDM é órgão de deliberação coletiva de 2º grau, de acordo com a

letra a e b, do artigo 1º, do Decreto nº 69.382, de 19 de outubro de 1971.

Art. 33 - Manter-se-ão na situação atual os empregos e funções de confiança do

CNDM, até serem adaptados à nova estrutura estabelecida neste Regimento Interno.

Art. 34 - Os casos omissos e as dúvidas surgidas na aplicação do presente

Regimento Interno serão solucionadas pela Presidente do CNDM.

Brasília, 30 de setembro de 1988.

60

ANEXO D – Decreto nº 96.896, de 30 de setembro de 1988.

Presidência da República

Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO Nº 96.896, DE 30 DE SETEMBRO DE 1988.

Revogado pelo Decreto nº 11, de 1999

Dispõe sobre a criação, transformação, reclassificação e extinção de funções de confiança na Tabela Permanente do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher- CNDM e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando das atribuições que lhe confere o

artigo 81, item III, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos artigos 7° e 8° da

Lei n° 5.645, de 10 de dezembro de 1970,

DECRETA:

Art. 1° Ficam criadas, transformadas, reclassificadas e extintas as funções de

confiança, para composição das categorias Direção Superior, código LT-DAS-101, e

Assessoramento Superiores, código LT-DAS-100, da Tabela Permanente do Conselho

Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, na forma do Anexo deste Decreto.

Art. 2° O provimento das funções de confiança compreendidas no artigo 1° far-

se-á na forma da legislação vigente.

Art. 3° As despesas decorrentes da execução deste Decreto correrão à conta de

recursos constantes do Orçamento do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher

CNDM.

Art. 4° Este Decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 5° Ficam revogadas as disposições em contrário.

Brasília, 30 de setembro de 1988; 167° da Independência e 100° da República.

JOSÉ SARNEY

Paulo Brossard

Aluizio Alves

Este texto não substitui o publicado no DOU 3.10.1988

61

ANEXO E – Ato da Reitoria Nº 564/86.