histÓria do humor em portugal

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Joana Andrade © 2012 Portugal: Da Primeira República à Actualidade O HUMOR EM PORTUGAL Escola Secundária com 3º ciclo de Madeira Torres - Torres Vedras

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Trabalho anual realizado no âmbito da disciplina de História A, no 12º ano. 2011/2012

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Page 1: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Joana Andrade © 2012

Portugal: Da Primeira República à Actualidade

O HUMOR EM PORTUGAL

Escola Secundária com 3º ciclo de Madeira Torres - Torres Vedras

Page 2: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Escola Secundária com 3º ciclo de Madeira Torres - Torres Vedras

Discente: Joana Esperança Andrade

Docente: Cristina Mateus

Disciplina: História A

Ano lectivo: 2011/2012

Ano/Turma: 11º J

Trabalho: de Investigação (Anual)

Tema: Portugal - Da primeira República à Actualidade

Sub-tema: O Humor em Portugal

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Page 3: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Índice

Introdução! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Página 4

História do Humor Português - Evolução! ! ! ! !! Antecedentes da Primeira República!! ! ! ! Página 7

! Da Primeira República à Revolução dos Cravos! ! ! Página 8! Do 25 de Abril à Actualidade! ! ! ! ! ! Página 15

Influências Internacionais! ! ! ! ! ! ! Página 18

O Humor na Escrita! ! ! ! ! ! ! ! Página 20

O Humor na Televisão Página 23

O Humor na Imprensa! ! ! ! ! ! ! ! Página 27

O Humor na Internet! ! ! ! ! ! ! ! Página 28

Principais Intérpretes

! As mulheres no Humor! ! ! ! ! ! ! Página 30

! Os Homens no Humor! ! !! ! Os Actores de Comédia! ! ! ! ! ! Página 38! ! Os Argumentistas!! ! ! ! ! ! Página 47

Conclusão! ! ! ! ! ! ! ! ! ! P á g i n a 5 1 ! ! ! ! ! ! ! ! !Anexos

! Glossário de termos humorísticos! ! ! ! ! Página 53

! Imagens! ! ! ! ! ! ! ! ! Página 55

Bibliografia! ! ! ! ! ! ! ! ! ! Página 59

Observações ! ! ! ! ! ! ! ! Página 60

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Page 4: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Introdução

! Portugal é, a priori, um país “fértil” para a criação humorística. E porquê? Bem, um país que nasce, como reza a História, com D.Afonso Henriques a “bater na mãe” parece já estar destinado a produções de comédia, mas existem vários factores que acentuam ainda mais esse status: A língua portuguesa sempre traiçoeira e cacofónica, as diferentes formas de governação por que passámos (e que, olhando para trás, bem nos podemos rir de muita coisa), as próprias pessoas (ou não fosse o “Zé Povinho” - figura “bojuda” e de bigode - a representação do povo português), entre muitas outras coisas, fazem do nosso país um verdadeiro “paraíso humorístico”.! Ao longo deste trabalho pretende-se dar a conhecer a importância da criação humorística para a História portuguesa, nomeadamente através da resposta às seguintes questões:1. Quais as principais áreas de actuação do Humor?

! Ao contrário do que se possa pensar, o Humor não possui apenas uma função lúdica, e de entretenimento. Possui também uma forte componente política, sendo até muitas vezes considerado o “Contra-Poder”.! Para além disso, o Humor trabalha com os mais diversos temas da actualidade: o desporto (sobretudo o futebol), o jet-set, a economia, a televisão, e até com situações do quotidiano da população (as chamadas “situation comedy” - “sitcom”).2.Quais os principais intérpretes/criadores humorísticos?

! Muitos fazem já parte da “cultura geral” dos portugueses. Há quem defenda que a história do Humor português se divide em dois períodos: o período “antes” de Herman José e o “pós” Herman José. Contudo existem outras personalidades marcantes, já que é impossível falar de Humor português sem falar de Vasco Santana, António Silva, Nicolau Breyner, Vitor de Sousa, Nuno Markl, Ricardo Araújo Pereira, entre tantos outros.! Porém, é frequente não se referir as (poucas) mulheres humoristas/comediantes em Portugal - como Beatriz Costa, Ivone Silva, Ana Bola, Maria Vieira, Marina Mota, Maria Rueff, etc. - assim como os autores, que muita gente até desconhece - tais como João Quadros, Nuno Artur Silva, Nuno Costa Santos, entre muitos outros.3.De que forma tem vindo a “evoluir” o Humor em Portugal?

! A “evolução” do Humor está directamente relacionada com a evolução dos sistemas governativos e, consequentemente da mentalidade das populações.

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! Para além disso, dá-se também uma evolução nos formatos e conceitos humorísticos, à medida que os meios de comunicação social também “avançam”.4. Quais os principais formatos humorísticos utilizados em Portugal?

! O Humor “expressa-se” através dos mais variados meios de comunicação social, pelo que são utilizados diferentes formatos consoante o meio em questão. Existem, no entanto, formatos como as “sitcom” e os “sketches”, que são “importados” de países estrangeiros, mais precisamente de países de língua inglesa.5. Qual o papel do Humor na História Portuguesa?

! O humor possui, como já foi referido, um forte carácter de “contra-poder”, sendo assim extremamente importante na definição da história de Portugal.! Ao longo deste trabalho serão dadas a conhecer as várias “etapas” do Humor português, desde a I República aos dias de hoje.6.Quais as principais temáticas abordadas no humor português?

! Basicamente...tudo. A actualidade portuguesa, infelizmente, tem sido uma grande fonte de “material” humorístico, não propriamente pelas melhores razões.! Mas da cultura, ao desporto, passando pela política e pela economia, são muitos os temas abordados pelos humoristas portugueses.7.Como evoluiu a “liberdade humorística” ao longo dos anos?! Existem dois “marcos” temporais de períodos nos quais a criação humorística passou a ter mais liberdade: do final do regime monárquico à implantação da República e do final do Estado Novo ao “pós” 25 de Abril.! Basicamente, a liberdade da criação humorística é directamente proporcional à liberdade de expressão.8.Qual a influência do Humor na sociedade portuguesa actual?

! Actualmente, o Humor possui uma forte influência na sociedade, uma vez que a sua “propagação” é extremamente elevada, não só através dos meios de comunicação social - como a Televisão, a Rádio e a Imprensa escrita - mas também através da Internet e das redes sociais, o que leva a que a “mensagem humorística” chegue a um número de pessoas muito mais elevado e, sendo mais “ouvida”, tenha um maior destaque na sociedade.9. Quais as referências internacionais do Humor português?

! Os humoristas portugueses são, na sua maioria, bastante influenciados pelos países de língua inglesa, nomeadamente pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos da América. Nestes países existem não só excelentes intérpretes, como também vários formatos que acabam por ser “importados” e transformados no nosso País.

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10.De que forma é divulgado e qual o papel do Humor na imprensa portuguesa?

! Hoje em dia, o Humor encontra-se plenamente difundido por todos os meios da imprensa portuguesa: desde crónicas na Rádio e na Imprensa escrita dos mais conceituados humoristas portugueses, aos programas de humor que já fazem parte da grelha televisiva, passando até pela Internet e pelas Redes Sociais que possuem um papel fulcral na divulgação das criações humorísticas.

! Ao longo deste trabalho pretende-se dar resposta e desenvolver todas estas questões, fazendo-o de uma forma agradável e divertida, uma vez que não faria sentido um trabalho sobre Humor tornar-se numa verdadeira tragédia!!!

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História do Humor Português - EvoluçãoAntecedentes da Iª República

! Pouco se sabe sobre os tempos do Humor na monarquia portuguesa. Contudo, sempre se soube da existência de “bobos da corte”: “funcionários” das cortes que tinham como principal função “fazer rir” o Rei e a Rainha. Estas “personagens” existiam basicamente em todos os regimes monárquicos (sem excluir Portugal) e possuíam a liberdade de criticar a nobreza, os seus actos e vícios, algo praticamente “exclusivo” deste “ofício” na época em questão.! Embora esta “profissão” fosse vista de uma forma algo pejorativa, na época era a única que possuía o direito de “gozar”, “brincar” e “criticar” a nobreza, ainda que fosse esta classe social a sua audiência.! Para além disso, a monarquia portuguesa apesar de não possuir grande história humorística, contribui (ainda que involuntariamente) para a história humorística portuguesa.! São vários os episódios caricatos da nossa monarquia: o início do Condado Portucalense, com D.Afonso Henriques a “bater na mãe”, o episódio da “Padeira de Aljubarrota” contra os castelhanos, ou até mesmo o “mito Sebastianista”, já que passados vários séculos a crença de que “D.Sebastião voltará numa manhã de nevoeiro” ainda prevalece para muitos portugueses.! Para além disso, muitos dos cognomes dados aos Reis portugueses, tais como “O Gordo”, “O Desejado” ou “A Louca”, apesar de terem fundamento, não deixam de ter um cariz extremamente cómico.! Todos estes factores funcionam como indícios daquilo que viria a ser o Humor em Portugal “da Primeira República à Actualidade”. Por outras palavras, um país com estes “antecedentes” históricos, só poderia vir a ser próspero na criação humorística.

Legenda: Os Bobos da Corte7

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Da Primeira República à Revolução dos Cravos! É com o começo da Primeira República que começam também a surgir os primeiros registos humorísticos de que há memória em Portugal.! A primeira comédia cinematográfica lusófona data de 24 de Janeiro de 1910. Esta obra não é portuguesa, mas sim brasileira. No entanto. conta no seu elenco com vários actores portugueses, entre os quais António Silva - protagonista de várias comédias portuguesas emblemáticas. Tratava-se de um musical-cómico, sob a forma de “revista”, na qual se satirizam os “assuntos da época”, com o título de “606 contra o Espirocheta Pálido”. O nome da obra faz alusão a uma injecção - a 606 - “inventada” no ano de 1910 com vista a tratar doenças ginecológicas.! Mas entre 1910 e 1974 foram vários os formatos onde existiu criação humorística, nomeadamente:! Cinema - Corriqueiramente chamadas de “filmes portugueses” as comédias cinematográficas portuguesas tiveram grande sucesso no século XX.! Muitos deles protagonizados pela dupla António Silva e Vasco Santana, os “filmes cómicos” portugueses tiveram um grande sucesso entre a população portuguesa, e marcaram o seu lugar na História do Humor em Portugal. ! Em 1930 surge a película “Lisboa, Crónica Anedótica”, realizada por Leitão de Barros (um dos mais importantes cineastas portugueses do século XX), interpretada, entre outros, por António Silva, Vasco Santana, Beatriz Costa, Nascimento Fernandes, Augusto Costa, e que retrata vários episódios da vida nos bairros lisboetas, de forma alegre e bem disposta, através do pressuposto de “pobre mas alegre” as idiossincrasias da população moradora nos bairros populares da cidade de Lisboa. Contudo, esta película tratava-se de um filme mudo, já que o cinema sonoro só chega a Portugal na segunda metade da década de 30/início da década de 40.! É então nos anos 40 que os “filmes portugueses” atingem o seu auge de popularidade, e que surgem os grandes clássicos como “O Pai Tirano” (1941) de António Lopes Ribeiro, “O Pátio das Cantigas” (1942) de Francisco Ribeiro - conhecido como “Ribeirinho” -, “O Costa do Castelo” (1943), “A Menina da Rádio” (1944) e “O Leão da Estrela” (1947) de Arthur Duarte.! Para além de ser extremamente popular, o cinema cómico português criticava, ainda que de forma disfarçada, algumas características negativas dos regimes políticos

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em vigor (nomeadamente, durante o Estado Novo), tais como a pobreza, as fracas condições de vida, os vícios e a cultura (ou falta de cultura) que se viviam.

Teatro - No que toca à comédia, o Teatro no século XX teve uma grande importância

através do teatro de revista.! A “Revista à Portuguesa” recorre à junção de comédia “leve” com momentos musicais, tendo como principal objectivo a sátira política e social da época em questão. Este género teatral “criou” duas personagens, quase que obrigatórias: a comadre - que tinha de ser bonita e elegante - e o compadre - que devia ser cómico, desajeitado e popular.! Foram várias as salas de espectáculos que imortalizaram este género teatral, quase todas situadas no centro da cidade de Lisboa, tais como Parque Mayer (considerado a “sede” da Revista à Portuguesa), ABC, Maria Vitória, e Variedades. A primeira “Revista à Portuguesa” subiu ao palco no teatro Gymnásio (já extinto) ainda nos finais do século XIX.! Muitos foram também os intérpretes do teatro de Revista, entre os quais se destacam Beatriz Costa, Ivone Silva, Florbela Queiroz, Carmen Dolores, Camilo de Oliveira, Milú, Raúl Solnado, e até (mais tarde) Herman José que, apesar de não ser de conhecimento geral, começou a sua carreira neste género teatral. ! Apesar de este ter sido um género muito apreciado durante o século XX, actualmente entrou em decadência e praticamente já não existe. São poucos os actores que ainda se dedicam ao teatro de Revista, e muitas das salas de espectáculo que acolhiam este género acabaram por encerrar, dada a falta de apoios e de público.

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Legenda: Retratos do filme “Lisboa, Crónica Anedótica” (1930)

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Imprensa - Com a falta de liberdade durante a Primeira República e depois com a

censura, o Humor esteve sempre muito “camuflado” na imprensa portuguesa. Contudo, sempre existiu.! Na imprensa escrita, o Humor surgia maioritariamente através de caricaturas e cartoons, que satirizavam personalidades ou acontecimentos da época, ainda que “disfarçadamente”.! Tal como hoje acontece, durante a 1ª República, a crise económica, social e política foi motivo de inspiração para uma nova geração de humoristas que, aproveitando “os recentes ventos de liberdade de expressão”, criticou de forma incisiva o funcionamento das instituições e a instabilidade política que caracterizou esse período.! Eis alguns exemplos de representações humorísticas na imprensa da época em estudo:

Legenda: Parque Mayer, sala emblemática do teatro de “Revista à Portuguesa”

Legenda: Principais actores do teatro de Revisa em Portugal (mural situado no Parque Mayer)

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! Caricatura representativa de Manuel d’Arriaga, primeiro Presidente da República Portuguesa.! E s t a c a r i c a t u r a f o i c a p a d o suplemento “A Garra”, parte integrante do Jornal “A Sátira”; publicação do dia 8 de Setembro de 1991.

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! Legenda da imagem: “-Mais cuidado com o andamento meninos, que já me vou sentindo fatigada!”! Neste cartoon do jornal “A Bomba” (de 1912) é p o s s í v e l o b s e r v a r u m a fi g u r a f e m i n i n a , representativa da República, dançando ao som da música tocada por Manuel d’Arriaga (primeiro Presidente da República em Portugal) e por outros ministros portugueses.! A “República” queixa-se do “ritmo” a que Manuel d’Arriaga e seus ministros “actuam”, começando a ficar “cansada” do seu “Bailado Político.

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! Legenda da imagem: “Como se deve ir de futuro, tomar café à “Brasileira” do Rossio.! Neste cartoon estão representados um grupo de intelectuais armados com facas, espadas e armas de fogo, reunido para tomar café e discutir ideias.! Com esta representação pretende-se criticar a falta de liberdade de expressão, já que os intelectuais sentem a necessidade de se “defender” (através do uso de armas) para que possam debater os seus ideais e pontos de vista.

! Legenda da imagem: “Permita-me recordar-lhe Senhor Professor, de que o prazo para rendição está prestes a expirar...Rendemo-nos ou tenta-se mais uma “Conversa em Família”?”! Este cartoon enquadra-se no período pré-25 de Abril e nele encontram-se representados professor Marcelo Caetano (Primeiro Ministro de Portugal entre 1968 e 1974, logo, no período que antecedeu a Revolução de 25 de Abril de ’74) e seus ministros.! Na imagem, um dos ministros informa professor Marcelo Caetano de que o “prazo para rendição” (ou seja, para acabar com o regime ditatorial que liderava) estava a terminar, e que apenas possuía duas alternativas: ou se renderia, ou tentaria (como hipótese para “salvar” e para continuar o seu governo) fazer mais um programa “Conversa em Família”. “Conversa em Família” era um programa televisivo da responsabilidade de Marcelo Caetano, que estreou na RTP em 1969, altura em que o Estado Novo já se encontrava “fragilizado”. Neste programa, Marcelo Caetano falava ao povo, transmitindo-lhe o seu ponto de vista sobre as mais diversas temáticas do país e, consequentemente, “desfazendo” boatos.

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As imagens encontram-se em anexo e de forma ampliada, para que seja possível uma melhor observação das mesmas.

Rádio - O Humor na Rádio no período pré-25 de Abril foi sobretudo marcado por um grupo de comediantes chamado “Parodiantes de Lisboa”.! Este grupo surgiu no ano de 1947, com o encerramento do jornal “A Bomba” - um semanário humorístico de grande impacto nacional - que levou a que Ferro Rodrigues, Santos Fernando, Mário de Meneses, Mário Ceia, Manuel Poga, José Andrade, Rui Andrade, entre outros (equipa e/ou “apreciadores” do extinto jornal) se unissem para criar os “Parodiantes de Lisboa” - nome inspirado numa companhia teatral de António Lopes Ribeiro e Francisco Lopes Ribeiro, que dava pelo nome de “Os Comediantes de Lisboa”.! O primeiro programa desenvolvido e apresentado pelo grupo teve o seu início na Rádio Peninsular e tinha o nome de “Parada da Paródia”, mas rapidamente se aventuraram em novas produções de rádio, transmitidas através dos “Emissores Associados de Lisboa”.! Foi também em 1947 que foi para o ar o programa “Graça com Todos”, transmitido pela Rádio Clube Português, e que se tornou no programa radiofónico com maior longevidade (permanecendo “no ar” cerca de 50 anos) e também com maior cobertura “além fronteiras”, chegando a ser transmitido simultaneamente nas cidades de Lisboa e Porto, na Madeira, em muitas estações estrangeiras dedicadas a emigrantes, bem como em Angola e em Moçambique.! Foram várias as personagens criadas e imortalizadas pelos “Parodiantes de Lisboa”, tais como “Jack Taxas” e o seu cavalo “Cara Linda”, “Manas Catatua”, “Compadre alentejano”, “menino Arnestinho”, “Patilhas e Ventoinha”, “Delicadinho da Silva” e o “amigo Fresquinho”.! Os “Parodiantes de Lisboa” continuaram a sua actividade após o 25 de Abril, tendo só terminado a sua carreira em 1997 por decisão de Rui Andrade.! Todavia, a actividade deste grupo não se limitou à Rádio, tendo criado também várias peças de teatro, a longa-metragem “Cine-Riso”, vários anúncios e pequenas rábulas televisivas, e ainda um semanário humorístico denominado “Parada da Paródia”.! Em 1997 após o “fim” deste grupo, um dos seus fundadores criou o projecto “Novos Parodiantes”, numa tentativa de re-criar e re-viver as acções humorísticas deste grupo “mítico”.

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Televisão - Como é de conhecimento geral, a Televisão só chega a Portugal em 1957

com o surgimento da Rádio Televisão Portuguesa (RTP).! Nesse mesmo ano, surge o programa “Os Televizinhos” (um dos primeiros programas de estúdio feitos em Portugal), que juntava Elvira Velez e Vasco Santana numa “sitcom” da época.! Vasco Santana assegurava sozinho a “Anedota da Semana”, um programa cómico que passava nos serões de Sábado.! Em 1964 nasce um programa que juntava momentos de humor e momentos musicais, intitulado de “Os três saloios”, protagonizado por Humberto Madeira, Emílio Correia e “Costinha”, que seria substituído no elenco após a sua morte por Raúl Solnado.! Também em 1964, surge o primeiro programa de “sketches” - Riso e Ritmo - marcado pela inovação e irreverência dos diálogos de Francisco Nicholson e Armando Cortez.! Nesta altura, os “sketches” ainda não tinham esta denominação, mas foram vários os progrmas com pequenos segmentos humorísticos.

Legenda: Semanário “Parada da Paródia”, criado pelos “Parodiantes de Lisboa” (1961)

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! “O Senhor que se segue” foi um desses programas. Interpretado por Artur Agostinho e Camilo de Oliveira com o papel de “barbeiros”, numa “barbearia moderna” onde não só cortavam cabelos como “cortavam” na sociedade da época.! Contudo, é no pós-25 de Abril que surgem muitos mais programas de humor em televisão, já fora do domínio do “lápis azul”...ou talvez não.

Do 25 de Abril à Actualidade! Com o fim do Estado Novo e, consequentemente, com o fim da censura o humor passou a ter mais liberdade para se expressar e passou a ser possível abordar temáticas que anteriormente seriam impensáveis.! Contudo, sendo o Humor o “Contra-Poder” de um país, a criação humorística é sempre uma tarefa complicada: são muitos os humoristas com processos disciplinares, são muitas as críticas negativas, e muitos também os programas televisivos/radiofónicos/

Legenda: Programas “Riso e Ritmo” e “O Senhor que se segue” (1964)

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Page 16: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

etc que deixam de existir já que, apesar de não existir abertamente censura, existem poderes e interesses que “manipulam” os meios de comunicação e “limitam” a criação humorística.! Por exemplo, o programa televisivo “Humor de Perdição” da autoria de Herman José foi literalmente “censurado”, visto possuir uma rubrica, intitulada de “Entrevistas Históricas” (na qual se “brincava” com figuras importantes da história portuguesa, trazendo-as para o presente e entrevistando-as), acusada de “ofender” e “ultrajar” figuras da história nacional. Contudo, os humoristas têm conseguido “dar a volta” a este tipo de contra-tempos, fazendo prevalecer os seus ideais.! Após o 25 de Abril verificou-se a passagem de actores do Teatro de Revista para a Televisão. Uma das mais bem sucedidas “transferências” foi a de Ivone Silva, que teve uma carreira intensa na televisão, ainda que “curta” no tempo.! É a partir da década de 80 que se dá uma grande “revolução humorística”, com o aparecimento de “O Tal Canal”, programa da autoria de Herman José e que contava com as interpretações de Miguel Guilherme, José Pedro Gomes, Lídia Franco, entre vários outros actores que viriam a ter um papel de grande destaque no Humor Português.! Mas o Humor não se resume à Televisão, sobretudo na actualidade: são inúmeras as crónicas humorísticas na imprensa escrita e na rádio e, com o surgimento da Internet, o Humor português chega a todo o mundo (e recebe também influências de todo o Mundo), ficando registado e “imortalizado” para a posteridade.! No início da década de 90 surge aquela que viria a ser a principal entidade “gestora” do Humor Português: as “Produções Fictícias”.! Como virá ainda a ser abordado neste trabalho, Herman José (que até então havia sido “criador” de todos os seus trabalhos em Rádio e Televisão) após um “esgotamento de ideias” pede a Nuno Artur Silva - argumentista freelancer, na altura, que escrevia textos para produções teatrais e televisivas, mas que não havia tido sucesso a “transpô-las” para a Televisão Pública - que, juntamente com alguns colegas, escrevesse textos para as suas crónicas radiofónicas e para os números iniciais de stand-up do seu programa “Parabéns”.! A partir de 1993, Nuno Artur Silva, juntamente com José de Pina, Rui Cardoso Martins e Miguel Viterbo começam a assinar os seus textos como “Produções Fictícias”. À sua equipa de argumentistas juntariam-se mais tarde Nuno Markl, Patrícia Castanheira, Maria João Cruz, João Quadros, entre outros, o que significaria a criação das “Produções Fictícias” como uma empresa.

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! Actualmente as “Produções Fictícias” são responsáveis por quase toda a criação humorística que é feita em Portugal, uma vez que não só possuem uma vasta equipa de argumentistas, como também funcionam de “agência” dos principais humoristas e comediantes nacionais.! No início do século XXI surge em Portugal uma nova técnica humorística: o stand-up comedy. Trata-se de um género humorístico surgido nos finais do século XX/ início do século XXI nos Estados Unidos da América, e que consiste num “one man show”, executado por um só comediante, de pé perante o público (daí o termo “stand-up), sem acessórios, cenários, caracterização, personagem ou o recurso teatral da “quarta parede”, sendo assim possível dissociar o “stand-up” de um monólogo tradicional. Este género surgiu em Portugal através do programa “Levanta-te e Ri”, transmitido pela SIC, e que serviu de “rampa de lançamento” para vários humoristas da actualidade, tais como Bruno Nogueira, Nilton, Francisco Menezes, Aldo Lima, entre outros.! Nos dias de hoje existe também uma vasta oferta formativa na área do Humor (não só através das “Produções Fictícias” como de outras identidades), com vista a ensinar todas as técnicas necessárias para quem pretende fazer carreira no Humor.

Legenda: Elenco de “O Tal Canal”

Legenda: Logotipo das “Produções Fictícias”

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Influências Internacionais

! Apesar de Portugal ser bastante original no que toca à criação humorística, existem várias influências, vindas sobretudo de países anglo-saxónicos como o Reino Unido e os Estados Unidos da América.! Nos já referidos “Filmes Portugueses”, as principais influências foram, sem sombra de dúvidas, Charlie Chaplin e Buster Keaton.! Charlie Chaplin foi um actor, director, produtor, humorista, empresário, comediante, dançarino e músico britânico, notabilizado pela comédia “slapstick” e pelos seus filmes mudos. O seu grande “rival” foi Buster Keaton, um actor e director americano muito ligado ao humor, sobretudo através dos seus filmes baseados em “gags”, ou seja, em tropelias, corridas quedas e fugas. Uma das suas principais inovações é o facto de os seus personagens serem impassíveis, ou seja, de manterem as mesmas expressões e feições face a qualquer tipo de factos ocorridos, tendo até ficado conhecido como “O Homem que nunca ri”.! Uma das principais influências desde o período pré-25 de Abril até aos dias de hoje, são os Monty Python: um grupo de 6 humoristas britânicos - Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Jones e Terry Gilliam - que aborda sobretudo o Humor “non-sense” e surreal. Criaram programas de televisão e de rádio, filmes, livros e jogos de computador, o que lhes permitiu ter grande sucesso no humor um pouco por todo o Mundo. A sua influência no Humor chega muitas vezes a ser comparada ao impacto causado pelos Beatles no mundo da Música. Foram também os “Monty Python” os principais impulsionadores dos programas de sketches, tendo assim influenciado vários grupos de humoristas portugueses na criação dos seus próprios programas, como é o caso dos “Gato Fedorento” e dos “Contemporâneos”.! Outra influência nítida no Humor português são os formatos utilizados. Para além dos já abordados programas de “sketches”, os “talk-shows” (formato americano de um programa no qual uma pessoa ou grupo se junta e discute diferentes temáticas sugeridas e moderadas por um ou mais apresentadores) são um formato bastante apreciado e utilizado na televisão portuguesa por vários humoristas portugueses, como Herman José (actualmente com o programa “Herman 2012”), os Gato Fedorento (com o programa “Gato Fedorento esmiuça os sufrágios), Nicolau Breyner (com o programa “Nico à Noite) ou Bruno Nogueira (com o programa Lado B); assim como as “sitcom”: como o nome indica, uma “comédia de situação” na qual são encenados ambientes comuns do dia-a-

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dia, tendo como tema a família, o grupo de amigos, o local de trabalho, etc., representando assim cenas do quotidiano.! Nos anos 90, Jerry Seinfeld influenciou grandemente os humoristas portugueses, nomeadamente no que toca à stand-up comedy. Jerry Seinfeld é um actor e humorista norte-americano, que começou a sua carreira a actuar em clubes e bares de Nova Iorque, tendo atingido o auge da sua carreira com a sitcom “Seinfeld”, uma “série sobre nada” que retratava as aventuras de Jerry e dos seus amigos Elaine Benes, Cosmo Kramer e George Costanza.! O mais recente intérprete que tem influenciado os humoristas portugueses é Ricky Gervais, um actor, humorista e director britânico, que ficou conhecido pelas suas sitcoms “Extras” e “The Office”.O humor de Ricky Gervais é apreciado pelos humoristas portugueses pelo seu carácter realista, objectivo e provocante.

Legenda: Monty Python

Legenda: Ricky Gervais

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O Humor na Escrita

! Existe uma tendência de reduzir o Humor português à televisão (aliás, existe uma tendência geral em Portugal de reduzir tudo o que é feito no país ao que é feito em televisão).! Contudo, não convém esquecer que todo o Humor televisivo e radiofónico é, primeiramente, um suporte escrito, e que desde muito cedo existe criação humorística.! São vários os escritores portugueses que, através de diversos recursos estilísticos (como a ironia), concedem uma forte componente humorística às suas obras.! É o caso de, por exemplo, Jorge de Sena (1919-1978) que, apesar de ser um erudito por excelência, critica a sociedade de forma extremamente audaz através do seu “mau génio”.! Tal é possível observar através da leitura do seu poema “História Trágico-Marítima”:

“Lapas e Boxers eminentes, Sérgios racionais,com que prazer glosais erros e culpas

qua às naus as afundaramna carreira das Índias!

Dos carpidores ecoais todas as queixasde Velhos do Restelo. O que quereis?

Que nada se afundassee o império fosse rico?

Ou que ninguém jamais o navegassesenão entre Coimbra e Celorico?”

28 de Setembro de 1971in Decácias, Três Sinais, 1999, pp.41 e 56.

Mário-Henrique Leiria (1923-1980) é outro escritor que, recorrendo ao surrealismo, trás o humor negro para as suas obras, utilizando uma escrita quase telegráfica que confere a ideia de que tudo é possível, através da capacidade de delírio e de imaginação do leitor.Eis um poema exemplificativo:

Rifão quotidiano“Uma nêspera

estava na camadeitada

muito calada

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a vero que aconteciachegou a Velha

e disseolha uma nêspera

e zás comeu-aé o que acontece às nêsperas

que ficam deitadascaladas

a esperaro que acontece”

! Já Mário Cesariny de Vasconcelos (1923-2006) foi o expoente máximo do surrealismo português na literatura, ao escrever textos dadaístas e surrealistas, carregados de humor non-sense e de agressividade (recorrendo até, frequentemente, ao uso de palavrões na sua escrita.! Também “membro” do “grupo” de escritores surrealistas portugueses foi Alexandre O’Neill (1924-1986), tenso sido até provavelmente de todos o que melhor introduziu o humor e a sátira nas suas obras, retratando de forma cómica a “gente” portuguesa e os seus defeitos, como no poema “Que vergonha, rapazes!”:

“Que vergonha, rapazes! Nós pràqui,caídos na cerveja ou no uísque,a enrolar a conversa no “diz que”

e a desnalgar a fêmea (“Vist’? Viii!”).

Que misérioa, meus filhos! Tão sem jeitoé esta videirunha à portuguesa,

que às vezes me soergo no meu leitoe vejo entrar quarta invasão francesa.

Desejo recalcado, com certeza...Mas logo desço à rua, encontro o Roque

(“O Roque abre-lhe a porta, nunca toque!”)e desabafo: - Ó Roque, com franqueza:

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Você nunca quis ver outros países?- Bem queria, Snr. O’Neill! E...as varizes!?”

! Mais recentemente, foram vários os escritores que, directa ou indirectamente, introduziram o humor nas suas obras literárias,. São exemplos Dinis Machado (1930-2008), Mário Zambujal (1938-), Álvaro Lapa (1936-2006), António Vitorino de Almeida (1940-), Miguel Esteves Cardoso (1955-), Adília Lopes (1960-), Rui ZInk (1961-), entre muitos outros.! Todavia, não é possível cingir a escrita humorística à literatura. É necessário ter em conta que, por trás de todas as comédias teatrais, todos os programas televisivos e de rádio e todas as crónicas radiofónicas, estão vários argumentistas.! Como já foi referido, muitos dos argumentistas portugueses pertencem às Produções Fictícias, como é o caso de Nuno Artur Silva e Nuno Markl, que têm escrito inúmeras criações humorísticas desde sketches para Herman José, a séries como “Os Contemporâneos” e Estado de Graça.! Apesar de ter feito parte da equipa das Produções Fictícias ao início, João Quadros acabou por se dissociar desta agência recentemente. No entanto, continua a escrever material de humor, como é o caso das crónicas diárias “Tubo de Ensaio” transmitidas pela rádio TSF (ao lado de Bruno Nogueira), as crónicas que escreve semanalmente para o “Jornal de Negócios”, e tendo tido já várias criações de sucesso no passado, como é o caso de vários programas de Herman José, de “O programa da Maria”, e de “O Último a Sair”, o que faz com que seja considerado um dos principais argumentistas de humor do nosso país.! Muitos dos filmes, peças de teatro, crónicas na imprensa escrita e na rádio e programas de televisão acabam por dar origem a livros, transformando-se assim em “Humor na escrita”.

Legenda: Mário Cesariny, Alexandre O’neill e Mário-Henrique Leiria

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O Humor na Televisão

! É na Televisão que o Humor tem tido mais relevância em Portugal nos últimos anos.! Como já foi referido anteriormente, a partir de 1957 com o aparecimento da Rádio Televisão Portuguesa surgem vários programas de humor, ainda que seja no pós-25 de Abril que se verifica um grande crescimento da criação humorística para televisão.! Depois dos já referidos “Os Televizinhos”, “A Anedota da Semana”, “Os três saloios”, “Riso e Ritmo” e “O Senhor que se segue”, surgiram programas no pós-25 de Abril, como “Nicolau no País das Maravilhas” (1975) onde o “sketch” atingiu a sua plenitude já sem a “sombra” do “lápis azul”, e que imortaizou personagens como “O Sr.Feliz e o Sr.Contente” (protagonizados por Nicolau Breyner e por Herman José). Nicolau Breyner aprefeiçoaria a “arte” do sketch em 1980 com o programa “Eu Show Nico”, programa que, entre outras situações, parodiava com as telenovelas, através da “sequela” “Moita-Carrasco”. ! Em 1981, o exuberante programa de entretenimento “Sabadabadú” tornaria Ivone Silva e Camilo de Oliveira nos principais comediantes da época, tendo sido o seu maior sucesso a rábula “Agostinho e Agostinha”, na qual duas personagens alcoólicas criticavam o estado do país.! Dois anos mais tarde surge aquele que viria a ser o mais revolucionário programa de humor da história nacional: “O Tal Canal”, programa de sketches diferente de tudo o que havia sido feito na televisão portuguesa até então. Neste programa ficaram para a história personagens como “Tony Silva”, “Nelito” e “José Esteves” que continuam a ser interpretadas, retratadas e recriadas nos dias de hoje por Herman José.! Depois do sucesso de “O Tal Canal”, o programa seguinte de Herman José - considerado “o verdadeiro artista” - seria “Hermanias”. Nele, Herman dá mais um passo em frente nas suas revolucionárias experiências de comédia. Um programa que, apesar de ter uma verdadeira sitcom dentro dele, narrando a “saga” de Serafim Saudade, continuava a “viver” de sketches.! Herman voltaria a explorar o formato “programa-de-sketches-com-fio-condutor-dentro” em “Humor de Perdição” de 1988. O programa era uma sátira aos bastidores da Televisão. Mas uma entrevista à Rainha Santa Isabel valeria a Herman um “triste milagre”: uma censura fora de época fez com que “Humor de Perdição” fosse suspenso pela RTP a dois episódios do final da série.

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! Felizmente, dois anos depois “Casino Royale” marcava o regresso de Herman José à televisão portuguesa, tratando-se de um misto de “noite de teatro” com “programa de variedades”. !! Em 1993 começa a era dos talk-shows em Portugal, novamente com Herman José e os seus “Parabéns”. O programa “Parabéns” viria a ser também alvo de “censura”, tendo sido proibida uma rábula que satirizava a Última Ceia.! Em 1997 surge “Herman Enciclopédia”, um típico programa de sketches sobre os mais variados temas, desde a mitologia à publicidade, passando pela política. Neste programa Herman contou com a contracena de Miguel Guilherme, José Pedro Gomes e Maria Rueff.! Maria Rueff viria a ter o seu próprio programa de sketches em 2001: “O Programa da Maria”, na SIC.! “O Programa da Maria” contou com uma vasta equipa de argumentistas, da qual faziam parte Ricardo Araújo Pereira e João Quadros, bem como de um elenco composto por excelentes actores, tais como Nuno Lopes, Sofia de Portugal, Mina Andala, entre outros.! Este foi um programa de sketches que satirizava a sociedade, recorrendo a personagens emblemáticas como “Zé Manel Taxista” e “Rosette”, ou à “imitação” de personagens reais (como, por exemplo, de Marco Borges, concorrente do Big Brother I).! Todavia, apesar de hoje em dia ser considerado um “programa de culto”, “O Programa da Maria” surgiu em plena “era Big Brother” pelo que sendo um programa demasiado experimental e inovador e tendo um nível de audiências extremamente reduzido, dado ser demasiado “alternativo”, o programa acabou por ser retirado do ar, sem ter sido criada sequer uma segunda série.! Dois anos mais tarde surgiria um grupo de comediantes que se viria a tornar num fenómeno nacional: os “Gato Fedorento.! Ricardo Araújo Pereira, Zé Diogo Quintela, Miguel Góis e Tiago Dores, apareciam num canal temático da televisão por cabo - SIC Radical - com um programa de sketches representativos de “tiques” e “manias” do povo português. Tendo começado com um orçamento muito reduzido, o grupo “Gato Fedorento” passaria para a estação pública ao fim de quatro séries no canal temático, com “Diz que é uma espécie de Magazine” em 2006: um misto de “talk-show” apresentado pelos quatro elementos, com sketches na linha humorística das séries anteriores.

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! O grupo “Gato Fedorento” voltaria à SIC (mas desta vez à “principal”, generalista) nos finais de 2007, com um formato muito semelhante ao do programa da RTP, intitulado de “Zé Carlos”, acompanhando sempre a actualidade nacional.! Também em 2007 surge um grupo de actores para uma série de sketches, mas na RTP: os Contemporâneos. Nesta série, Bruno Nogueira, Maria Rueff, Nuno Lopes, Gonçalo Waddington, Manuel Marques, Eduardo Madeira, Carla Vasconcelos, Dinarte Branco e Nuno Markl, protagonizavam sátiras quer baseadas na sociedade actual, quer completamente “non-sense”, num programa que viria a ter três temporadas.! Mas para além de todos estes variados programas de sketches, as sitcoms foram sempre bastante populares entre os portugueses.! São exemplos disso as séries “Gente fina é outra coisa” (1982) com Ruy de Carvalho e Simone de Oliveira, “Lá em casa tudo bem” (1988) protagonizada por Raúl Solnado, “Nico d’Obra” (1993) com Nicolau Breyner e Ana Zanatti, “A Mulher do Senhor Ministro” (1994), uma sátira política de Ana Bola, José Pedro Gomes, Vitor de Sousa e Maria Rueff, “As lições de Tonecas” (1996) que havia sido anteriormente um programa de rádio com Vasco Santana, veio a tornar-se uma das mais populares sitcoms dos anos 90, as histórias de “Berto” e “Idalete em “Nós os ricos” (1997),ou a sátira da vida conjugal com Marina Mota em “Um sarilho chamado Marina” (1998).! Outra sitcom de sucesso foi a transferência da “saga” de “Tóni” e “Zezé” (respectivamente António Feio e José Pedro Gomes) em “Conversa da Treta” do teatro para a televisão, no ano de 1999.! Em 2002, “Não há pai” foi a primeira (e, até hoje, única) sitcom “em directo” da televisão portuguesa. Este foi um dos últimos trabalhos do actor Camacho Costa antes do seu falecimento.! Outro formato de sucesso em Portugal é o “americano” talk-show. Pode dizer-se que “Zip Zip” (1969) foi o primeiro programa deste género, já que é considerado o programa “mais famoso” de toda a televisão nacional. Criado por Carlos Cruz, Raúl Solnado e Fialho Gouveia, este programa usufruiu da chamada “Primavera Marcelista” para se assumir como “o” programa que iria mudar mentalidades e atitudes, e “quebrar” tabus.! Herman José possuiu também um papel extremamente importante na história dos talk-shows portugueses, em primeiro lugar com os seus “Parabéns” (1993), e “Herman ’98” (1998), tendo “mudado de casa” para a SIC nos anos 2000, onde começaria com o “Herman SIC”. Herman voltaria, após uma longa pausa televisiva, aos talk-shows na “casa-mãe” (RTP) em 2010 para o programa “Herman 2010”.

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! Outro formato bastante apreciado pela população portuguesa no que toca ao Humor são as anedotas. Tal verifica-se com o sucesso de programas como “Os Malucos do Riso”, considerados quase como uma “instituição nacional”, surgidos em 1995 e que prevaleceram “no ar” por mais de 10 anos, com mais de 350 cenários, e com um elenco do qual constavam nomes como Camacho Costa e Guilherme Leite.! No entanto existiram também vários formatos menos conhecidos do público, e consequentemente, mais originais: tal é o caso de Humor de “animação” recorrendo a “bonecos” em vez de actores, como é o caso de “Contra Informação” (1996) da RTP1, que satirizava personalidades da política, televisão e desporto portugueses, “Café Central” 2011 um programa de animação da RTP” onde “desenhos animados” comentam, de forma cómica, as notícias da actualidade, ou até “O Programa do Aleixo” (2010) um programa de pura comédia non-sense onde Bruno Aleixo e Busto apresentam um talk-show sem tema aparente.! Como já foi referido, o stand-up comedy chegou a Portugal com o programa “Levanta-te e Ri”, transmitido pela SIC no ano de 2004. Apresentado por Marco Horácio, o programa “Levanta-te e Ri” despultou um “boom” de novos comediantes, e trouxe para a ribalta alguns dos mais conceituados humoristas da actualidade, como é o caso de Bruno Nogueira, Ricardo Araújo Pereira, Nilton, Aldo Lima, entre vários outros.! No início da segunda década de 2000, a RTP voltou a apostar num programa de sketches: o “Estado de Graça” (ainda em exibição). Interpretado por Ana Bola, Eduardo Madeira, Joaquim Monchique, Manuel Marques e Maria Rueff, “Estado de Graça” baseia-se totalmente na sociedade actual, satirizando os acontecimentos mais marcantes do nosso país.! O último formato humorístico criado até agora em Portugal teve origem em 2011 na RTP. Tratou-se de uma ideia original de Bruno Nogueira, que a transpôs para o papel em conjunto com João Quadros e Frederico Pombares. Intitulada de “Último a Sair” consistiu na recriação de um reality-show falso, no qual os actores, com os seus próprios nomes, representavam personagens de eles próprios, fingindo estar a participar num reality-show.! Este programa gerou muita controvérsia, já que muitas pessoas acreditaram que se tratava de um reality-show de verdade, achando inadmissível que uma estação pública investisse os seus fundos num programa daquele género.! Por ter sido uma ideia extremamente inovadora e, até aos dias de hoje, o último grande sucesso do humor português, o programa “Último a Sair” já foi galardoado com diversos prémios e o seu formato encontra-se “em estudo” para ser exportado para outros países.

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O Humor na Imprensa

! Como já foi referido anteriormente, antes da revolução de 25 de Abril de 1974 o Humor na imprensa escrita esteve sempre muito “camuflado” e “disfarçado” através de cartoons e caricaturas.! Embora actualmente estes formatos ainda sejam utilizados, acabaram por cair ligeiramente em desuso, já que são permitidas muitas outras maneiras de expressar ideias e opiniões, ainda que de forma “cómica” e humorística.! Na imprensa escrita hoje em dia o formato mais utilizado pelos humoristas é a crónica, na qual podem expressar a sua opinião sobre os mais diversos temas da actualidade. Tal é o caso, por exemplo, do humorista Luís Filipe Borges no semanário “Sol” e de Ricardo Araújo Pereira na revista “Visão”.! Outro dos principais meios de comunicação utilizado pelo Humor no nosso país é a Rádio. Depois dos já falados longos anos de “hegemonia” dos “Parodiantes de Lisboa”, surge, em 1981, o emblemático programa “Pão com Manteiga”. Ao longo de dois anos, José Duarte, Mário Zambujal, Carlos Cruz, Orlando Neves, Bernardo Brito e Cunha e Eduarda Ferreira trouxeram uma boa dose de sarcasmo e má-língua à Rádio Comercial.! Este programa foi o primeiro grande exercício de subversão da linguagem e dos seus lugares-comuns na década de oitenta. Sem recados nas entrelinhas, o humor libertou-se da censura e das suas tradicionais amarras, servido por Carlos Cruz, considerado o melhor locutor e apresentador de rádio e televisão daquela época.! Também durante a década de 80, Herman José dá cartas na Rádio, em simultâneo com a Televisão. Herman desenvolveu uma forte actividade radiofónica, primeiramente na Rádio Comercial, depois na TSF e, por fim, na Antena 1 como autor da “Hermandifusão Portuguesa”.! Nos dias de hoje, a rádio “renasceu” com o aparecimento da Internet, mais concretamente com os “podcasts” e com as rádios “on-line”.

Legenda: “Herman Encicloédia”, “Os Malucos do Riso” e “Último a Sair” foram três dos programas que marcaram a história do humor em Portugal

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! Com este “renascimento”, são vários os humoristas que têm grande sucesso em Rádio. Tal acontece com Bruno Nogueira e João Quadros nas crónicas diárias “Tubo de Ensaio e com a reunião semanal do “Governo Sombra”, constituído por Carlos Vaz Marques, João Miguel Tavares, Pedro Mexia e Ricardo Araújo Pereira, na estação TSF; e também com Nuno Markl e o seu revivalismo da “era croma” dos 80 com as crónicas diárias “Caderneta de Cromos”; bem como da rubrica humorística mais recente: “Mixórdia de Temáticas”, onde Ricardo Araújo Pereira dá largas ao “non-sense” diariamente na Rádio Comercial.

O Humor na Internet

A Internet tem servido de impulsionador de criações e descobertas nas mais

variadas áreas, pelo que o Humor não é excepção.! Este “mecanismo” tem servido não só para a descoberta de comediantes estrangeiros,que vem renovar o “leque” de influências dos humoristas portugueses, como também para “lançar” novos humoristas, já que qualquer pessoa pode,por exemplo, fazer um vídeo de teor humorístico, colocá-lo na Internet, e tentar a sua sorte para que seja descoberto. Foi baseado neste princípio que o Canal Q - Canal televisivo das “Produções Fictícias” iniciou (desde 2010) o concurso “Caça ao Cómico”, com vista a descobrir “novos talentos” na área do Humor e da Comédia.! Um dos principais “motores” da Internet que tem contribuindo eficazmente para a criação humorística são as redes sociais.! Por exemplo, os tão conceituados e prestigiados “Gato Fedorento” começaram a sua carreira através de um blog, um pequeno site onde os quatro humoristas publicavam textos da sua autoria com as suas opiniões e ideias, sempre (obviamente) de uma forma cómica e humorística,

Legenda: “Tubo de Ensaio”, “Governo Sombra” (TSF); “Caderneta de Cromos”, “Mixórdia de Temáticas” (Rádio Comercial)

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! As redes sociais têm servido, nos últimos anos, para a divulgação do trabalho dos vários humoristas. Muitos argumentistas utilizam, por exemplo, o Facebook e o Twitter para “testar” os seus “materiais”, ao mesmo tempo que divulgam o seu trabalho e se mantém em contacto com a reacção (extremamente eficaz e rápida) dos outros utilizadores da Internet, ou seja, do público.! A Internet serve também de “base de dados” na qual estão guardados praticamente todos os registos humorísticos actuais. Tal faz com que, muitas vezes, alguns programas televisivos tenham mais “audiência” a posteriori nos sites e nas redes sociais, do que quando são exibidos pela primeira vez em Televisão.

!!

Legenda: As redes sociais - tais como Facebook, Twitter, Blogspot e Youtube - são mecanismos cada vez mais utilizados pelos humoristas para a divulgação do seu trabalho

e para pesquisa de novos “materiais”.

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Principais HumoristasAs mulheres no Humor! O Humor é (ainda nos dias de hoje) visto como uma actividade predominantemente masculina. Apesar de todas as tentativas feitas até então para a emancipação feminina, continuam a existir algumas “falhas”, sobretudo no que toca às actividades profissionais.! E é isso que acontece no Humor: ainda prevalece o ideal explícito nas obras de Eça de Queirós de que “uma senhora não ri dilatadamente”, e de que não é “bonito” nem “elegante” uma mulher fazer humor.! Sendo o Humor o Contra-Poder, e visto que existem poucas mulheres no verdadeiro “Poder” (e que as que existem, não estão nos seus cargos pelos seus ideais, nem pelo que podem trazer de bom ao País, mas sim numa função meramente estatística para “cumprir quotas”), é natural que existam poucas mulheres no Humor, não só em Portugal como um pouco por todo o Mundo.! Tal acontecimento leva a que, para se “afirmarem” no mundo humorístico, as mulheres tenham de, muitas vezes, se “transformar” e “disfarçar” para conseguirem um papel de destaque no Humor.! Essa afirmação poderá necessitar que as mulheres, um pouco como aconteceu no Jornalismo, tenham de adoptar uma postura mais masculina e agressiva para conseguirem a tal afirmação desejada.! Seguem-se alguns exemplos de mulheres portuguesas que “vingaram” no Humor.

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Beatriz Costa

Beatriz da Conceição - de nome artístico Beatriz Costa - nasceu a 14 de Dezembro

de 1907 em Charneca do Milharado, Mafra, tornou-se actriz de teatro e cinema e veio a ser considerada um dos principais ícones da cultura portuguesa,! Estreou-se aos 15 anos no teatro de revista como corista na peça “Chá e Torradas”, levada a palco no Éden Teatro em 1923.! Um ano depois, actua pela primeira vez no Parque Mayer com a revista “Rés Vés”, que a “transporta” para o Rio de Janeiro pela imprensa e pelo público após a representação de duas outras peças de revista.! Para além do teatro de Revista, Beatriz Costa teve também um papel de extrema importância no cinema cómico português.! Participou na longa-metragem de Leitão de Barros “Lisboa, Crónica Anedótica”, e três anos mais tarde veria a sua imagem ficar imortalizada com o filme “Canção de Lisboa”, que protagonizou ao lado de Vasco Santana e António Silva.! Beatriz teve uma carreira cheia de sucessos, dividida entre Portugal e Brasil, teatro e cinema.! A actriz viria a falecer aos 88 anos de idade, no dia 15 de Abril de 1996, em Lisboa.

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Ivone Silva

Maria Ivone da Silva Nunes Viana,mais conhecida simplesmente por Ivone Silva,

foi uma actriz portuguesa conhecida pelo seu trabalho humorístico na televisão e teatro de revista.! Entre os seus mais variados trabalhos quer em teatro de revista quer em televisão, destaca-se a rábula que fez ao lado de Camilo de Oliveira, “Agostinho e Agostinha”, na qual duas personagens alcoólicas critcavam o “estado” da nação.! Foram várias as frases imortalizadas por Ivone Silva, das quais se destaca a expressão “com um simples vestido preto, nunca me comprometo”.! A actriz nascida a 24 de Abril de 1936 viria a falecer em Lisboa a 20 de Novembro de 1987, vítima de cancro da mama.

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Ana Bola

! Nascida em Lisboa a 2 de Junho de 1952, Ana Bela dos Santos Simões -

vulgarmente conhecida por Ana Bola - fez parte de um grupo de teatro amador que a levou a estrear-se no Teatro Adóque em 1976, com a comédia “1926 Noves fora Nada”.

! Tornou-se “popular” com o seu trabalho em televisão, no qual começou com participações nos programas “O Fungagá da Bicharada” (1976) e “O passeio dos

alegres” (1981). “Assinou” sitcoms como “A mulher do Senhor Ministro” (1994) e “Os Bonecos da Bola” (1996), e participou em diversos programas ao lado de Herman José

como “Humor de Perdição” (1988) e “Casino Royale”.! Já no século XXI, protagonizou com a sua “parceira” Maria Rueff a série Vip

Manicure (2007) e actualmente divide a sua actividade de actriz no programa “Estado de Graça” da RTP1, com a de autora de textos humorísticos, sendo ainda formadora e

fundadora da escola de artes performativas “DEGRAU”.

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Page 34: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Maria Vieira

Nascida a 2 de Março de 1957, Maria Vieira estreou-se como actriz no já extinto

Teatro Adóque, com a pela “Paga as Favas” (1981), interpretação que lhe valeu de imediato o Troféu “Nova Gente” para “Revelação do Teatro de Revista”.! Em televisão começou por colaborar com Júlio Isidro no programa “Festa é Festa”, iniciando depois uma longa relação profissional com Herman José, participando em programas como Hermanias (1984), Humor de Perdição (1988), Casino Royale (1989) Herman SIC (2000/06).! Actualmente tem-se dedicado a personagens cómicas, mas no domínio das telenovelas, não só em território nacional, como além fronteiras, nomeadamente no Brasil.

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Marina Mota

Marina da Conceição Ribeiro Mota actriz, produtora e cantora, sendo uma das

caras mais conhecidas do humor em Portugal.! Nascida em Lisboa, a 7 de Novembro de 1962, Marina Mota é detentora de um invejável currículo na área do teatro de revista e dos programas de humor na televisão. Durante muitos anos, além de presença diária nos seus programas televisivos, a artista participou ainda em inúmeras peças de teatro de revista onde, além do desempenho enquanto actriz, também actuava como cantora.! Recentemente, Marina foi convidada por Miguel Falabella para participar numa novela sua, a ser produzida pela televisão brasileira.

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Maria Rueff

Nascida a 1 de Junho de 1972, em Beira, Moçambique, Maria de Deus Rueff de

Saro Negrão é vulgarmente referenciada como “a” humorista portuguesa.! Uma vez que a média de conclusão do ensino secundário lhe falhou em uma décima para que pudesse entrar no curso de Direito (numa tentativa de seguir as pisadas de uma das suas irmãs mais velhas), decidiu concorrer ao Conservatório de Teatro, actual Escola Superior de Teatro e Cinema, tento entrado e concluído a licenciatura no ramo de Actores.! A sua estreia teatral profissional deu-se em 1991, numa peça de Francisco Ors, “Quem Muda a Fralda à Menina?”, encenada por Armando Cortez. De seguida, interpretou uma série de cafés-teatro com o actor João Baião, onde viria a ser “descoberta” por Herman José e Ana Bola, que cedo a viriam “transportar” para os seus programas.! Maria Rueff estreia-se em televisão no ano de 1994, fazendo pequenas rábulas humorísticas no talk-show “Eu tenho dois Amores”, apresentado por Marco Paulo.! Mais tarde, viria a fazer parte do elenco da sitcom de Ana Bola “A Mulher do Senhor Ministro”, bem como de todos os programas de Herman José desde “Herman Zap” (1996) até “Hora H” (2007).! Em 2001 estreou-se em televisão “a solo” com o programa de sketches “O Programa da Maria” que, anos mais tarde viria a ser considerado um “programa de culto” e um “marco histórico” no Humor Nacional.! A par da sua carreira televisiva, Maria continuou sempre a representar em inúmeras peças de teatro, tais como “Inox” (2002), “Antes eles que nós” (2005), “Celadon” (2005) e “Vip Manicure” (2009), tendo esta última dado origem a um programa de televisão com o mesmo nome.! Actualmente, Rueff está em cena com a peça “A Fuga” e encontra-se a gravar o programa “Estado de Graça”.

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Page 37: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Maria João Cruz

! Maria João Cruz é uma das poucas argumentistas mulheres em Portugal. Estudou jornalismo no CENJOR e frequentou o Curso de Cinema da Escola Superior de Teatro e Cinema. Trabalha nas “Produções Fictícias” desde 1995, pelo que possui já um vasto currículo no que toca à escrita de Humor.! Entre as obras que escreveu destacam-se “HermanJornal”, “As Fitas do Herman”, “HermanSF”, “Herman Enciclopédia”, “A Última Noite”, “O Fabuloso Destino de Diácono Remédios”, “Sic Contra Sic”, “Manobras de Diversão” e “Os Contemporâneos.! Foi directora-geral da “Manobras de Diversão TV” e da “Inimigo Público TV” e, actualmente, faz parte da equipa de argumentistas do progama “Estado de Graça” da RTP1.

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Page 38: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Os Homens no Humor

Os Actores de Comédia

António Silva

Nascido a 15 de Agosto de 1886 no seio de uma família humilde, António Maria da

Silva foi um dos mais importantes actores dos chamados “Filmes Portugueses”.! Teve a sua formação teatral em grupos amadores de Lisboa, estreando-se profissionalmente em 1910 com a peça “O Novo Cristo” de Tolstoi no Teatro da Rua dos Condes.! Em 1913 vai para o Brasil, onde permanece até 1921, fazendo uma digressão com a companhia teatral de António de Sousa. No seu regresso a Portugal, passa vários anos em peças de teatro “ligeiro” e de Revista à Portuguesa.! Em 1933 atinge o seu “auge” com o filme “A Canção de Lisboa”, que firma a sua popularidade e talento enquanto actor. Depois do seu primeiro sucesso cinematográfico, António Silva viria a representar inúmeras personagens cómicas e dramáticas em mais de trinta filmes, tais como “O Pátio das Cantigas” (1942), “O Costa do Castelo” (1943), “O Leão da Estrela (1947) entre outras.! António Silva faleceu aos 84 anos, a dia 3 de Março de 1971.

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Vasco Santana

Vasco António Rodrigues Santana nasceu em Lisboa no dia 28 de janeiro de 1898,

foi um dos maiores actores portugueses de todos os tempos.! Aos 19 anos, Vasco Santana abandonou o curso de Belas-Artes para se dedicar exclusivamente à carreira dramática, após ter feito uma substituição na peça “O Beijo” de Arnaldo Leite e Cavalho Barbosa. Fez grandes temporadas no Teatro São Luiz e viajou pelo Brasil em digressão com várias companhias teatrais.! Em 1933 estreou-se no cinema, protagonizando “A Canção de Lisboa” ao lado de António Silva e Beatriz Costa. Foi também protagonista de outros filmes emblemáticos, tasi como “O Pai Tirano” (1941) ou “O Pátio das Cantigas” (1942).! Para além do teatro e do cinema, Vasco Santana deu ainda cartas na escrita e na rádio.

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Camilo de Oliveira

! Camilo de Oliveira nasceu a 23 de Julho de 1924, em Buardos, Figueira da Foz e tornou-se actor e argumentista.! No teatro, participou nas peças “As Calcinhas Amarelas” de José Vilhena, “Padre Camilo” e “Cá estão eles”.! Em televisão, estreou-se ao lado de Artur Agostinho em “O Senhor que se segue”, imortalizou a rábula “Agostinho e Agostinha” com Ivone Silva no programa “Sabadabadu”, e foi protagonista de várias sitcoms, tais como “Camilo, o Pendura”, “Eu, Camilo”, “Camilo em Sarilhos”, entre muitas outras.! No cinema, participou no filme “O Ladrão de quem se fala”.

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Page 41: HISTÓRIA DO HUMOR EM PORTUGAL

Raúl Solnado

! Raúl Augusto Almeida Solnado foi um humorista, apresentador e actor, nascido a 19 de Outubro de 1929 em Lisboa.

! Unanimemente reconhecido como um dos maiores nomes do humor português, Raúl Solnado estreou-se no teatro de revista em 1953, com a peça “Viva o Luxo” no

Teatro Monumental. Cinco anos mais tarde participa nos filmes “Sangue Toureiro” e “O Tarzan do Quinto Esquerdo”.

! Em 1960 torna-se primeiro actor na peça “A Tia de Charley” e participa no filme “As Pupilas do Senhor Reitor”. Em 1961, adapta o sketch espanhol “A Guerra de 1908” de

Miguel Gila e interpreta-o quer na revista “Bate o Pé”, quer no filme “Sexta-feira, 13”.! Em 1962 entra em "Lisboa à Noite", em cena no Teatro Variedades, onde interpreta

os sketcks "É do Inimigo" e "Concerto do Inimigo". É protagonista do filme neo-realista "Dom Roberto”, de José Ernesto de Sousa. Vence o Prémio de Imprensa para melhor

actor de cinema.! No dia 24 de Maio de 1969 foi gravado o primeiro programa de "Zip Zip”, no Teatro

Villaret. A última emissão foi no dia 29 de Dezembro do mesmo ano. O programa da autoria de Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz foi um dos marcos desse ano.

! Mais tarde, e já após o 25 de Abril, Raúl Solnado alcança mais um sucesso televisivo com o programa “A Visita da Cornélia”.

! Ao longo das décadas de 80 e 90 continuou a ter vários sucessos teatrais - como, por exemplo, com as peças “Checkup” e “Há petróleo no Beato” - mas também televisivos

- como com os programas “O Resto são Cantigas, “Faz de Conta” e “Lá em casa tudo bem”.

! Raúl Solnado viria a falecer no dia 8 de Agosto de 2009, vítima de doença cardiovascular. Até à sua morte, foi director da Casa do Artista, instituição de apoio aos

artistas, que fundou juntamente com Armando Cortez.

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Herman José

! Ao longo deste trabalho, já quase tudo foi dito acerca da obra de Herman José von Krippahl. Nascido a 19 de Março de 1954, Herman é considerado o maior humorista português de sempre (ainda que tenha nacionalidade alemã!).! Herman José estreia-se como actor em Outubro de 1974, na peça “Uma no Cravo, Outra na Ditadura” levada a palco no Teatro ABC e escrita por José Carlos Ary dos Santos, César de Oliveira e Rogério Bracinha. No elenco constavam também Ivone Silva, José de Castro e João Lagarto. É nesta pela que Nicolau Breyner “descobre” Herman e o “transporta” para a televisão, para consigo representar a rábula “Senhor Feliz e Senhor Contente”.! Nos anos 80, Herman José “brilharia” nas suas rábulas no programa “O Passeio dos Alegres” de Júlio Isidro e, em 1983 teria o seu próprio programa: O Tal Canal. Um ano mais tarde, Herman e a sua equipa voltariam para mais um programa de sketches, desta vez com “Hermanias”.! Mas eis que, em finais de 1987/início de 1988, Herman viria acontecer um dos episódios mais polémicos da sua carreira: a censura de “Humor de Perdição” a dois episódios do fim da série.! Felizmente, Herman voltaria ao pequeno ecrã com “Casino Royale”, uma fusão de “noite de teatro” com “programa de variefafes”.! Ainda no início da década de 1990, entrega-se à apresentação de concursos, tais como “Com a verdade m’enganas” e “Roda da Sorte”.! Em 1993, Herman começava a sua “viagem” pelos talk-shows com “Parabéns”, programa que também veria uma das suas rábulas ser “censurada”.! Os programas de sketches voltam em 1997 com a “Herman Enciclopédia”, série emblemática que viria a ter duas temporadas de enorme sucesso.! Na primeira década do século XXI, Herman José divide-se entre os concursos - como “Chamar a Música - os talk shows - “após uma “estadia” na SIC entre 2000 e 2006 com o programa “Herman Sic”, e mais recentemente de regresso à estação pública com Herman 2012.

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António Feio

! Nascido em Lourenço Marques, Moçambique, a 6 de Dezembro de 1954, António Jorge Peres Feio foi um actor e encenador português de extrema importância para a história do humor em Portugal.! Estreou-se no teatro aos onze anos com a peça “O Mar”, dirigida por Carlos Avilez, no Teatro Experimental de Cascais.! Cedo chega à televisão e ao cinema, participando sobretudo em várias campanhas publicitárias.! Em 1974 formou, juntamente com Fernando Gomes, o Teatro Aquiarius e, em paralelo, encenou vários espectáculos e dirigiu cursos de formação de actores no Centro Cultural de Benfica.! Seguem-se diversas encenações de grande importância, mas também vários trabalhos em televisão, dos quais se destacam a sitcom “Conversa da Treta” e as participações no programa “1, 2, 3”, bem como a realização de uma crónica humorística na rádio TSF.! António Feio viria a falecer no dia 29 de Julho de 2010, vítima de um cancro no pâncreas, contra o qual lutou durante largos meses de forma heróica e corajosa.

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Joaquim Monchique

! !! Joaquim Manuel Leitão Lopes - mais conhecido por Joaquim Monchique - nasceu a 23 de Agosto de 1968, e tornou-se num nos mais conceituados actores (e teatro e televisão) e encenadores a nível nacional.! A sua carreira como actor começa após a conclusão de um curso de formação de Actores no Centro Cultural de Benfica, em 1987.! É um ano mais tarde que, após fazer um casting e ser seleccionado, Joaquim Monchique começa a actuar na companhia teatral do Teatro Aberto, onde ficaria durante quatro anos como actor residente, actuando em inúmeras peças da companhia.! Monchique vieira a tornar-se mais reconhecido e popular com a sua ida para a televisão em 1992, tendo sido convidado por Filipe La Féria para participar no programa “Grande Noite”. Neste programa viria a criar e a “imortalizar” personagens como “Compadre Alentejano”, “Maria da Luz” ou “Senhora da Casa de Banho”, juntamente com João Baião.! Em televisão, participou também nos programas “Cabaret”, “Trapos e Companhia”, “Saudades do Futuro”, e também “Herman Sic”, no qual protagonizou sketches memomráveis (como, por exemplo, na pele de “Dona Pilita” ou de “Telmo”, concorrente do Big Brother).! Joaquim Monchique passou também pelo teatro de revista, como foi o caso na peça “Ao que nós chegámos”, última encenação de Varela Silva, protagonizada ao lado de Camilo de Oliveira e Maria João Abreu.! Joaquim Monchique já teve também várias participações na televisão brasileira, ao lado de Maria Vieira.

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! Actualmente, encontra-se em cena com a peça “Júlio de Matos” e na televisão em “Estado de Graça”.

Ricardo Araújo Pereira

Nascido a 28 de Abril de 1974, Ricardo Araújo Pereira é um dos mais importantes

humoristas da actualidade.! Lincenciou-se em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica Portuguesa, tendo começado a trabalhar como jornalista para o “Jornal de Letras, Artes e Ideias”.! De seguida tornou-se argumentista as “Porduções Fictícias”, tendo sido co-autor de vários programas de sucesso do humor, tais como “Herman 98” e “Herman 99”, “O Programa da Maria” ou “Herrmandifusão Portuguesa”.! Em meados de 2003, após as suas primeiras aparições em televisão, nomeadamente no programa “Levanta-te e Ri” e em “O Perfeito Anormal”, vem criar, em conjunto com Zé Diogo Quintela, Tiago Dores e Miguel Góis o programa “Gato Fedorento”, que se viria a tornar numa grande referência do humor português contemporâneo.! Ricardo e a sua “equipa” assinaram várias temporadas do programa Gato Fedorento na Sic Radical, tendo mudado para a RTP em 2007 com o “talk-show-de-sketches” “Diz que é uma espécie de magazine”. No ano seguinte o grupo voltaria à Sic, mas desta vez à generalista, com o programa “Zé Carlos” (2008) e mais tarde com “Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios” (2009).! Actualmente, Ricardo Araújo escreve crónicas todas as semanas para o jornal “A Bola” e para a revista “Visão”, faz parte do painel de debate do “Governo Sombra”, programa da TSF, ao lado de João Miguel Tavares, Pedro Mexia e Carlos Vaz Marques, e tem também a rubrica “non-sense” diária “Mixórdia de Temáticas” nas manhãs da Rádio Comercial.

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Bruno Nogueira

! Bruno Nogueira nasceu em Lisboa a 31 de Janeiro de 1982 e é um dos mais “populares” humoristas da actualidade portuguesa.! A sua carreira de actor começou com pequenas participações em séries e telenovelas como “A minha família é uma animação” e “Anjo Selvagem”, mas ficou conhecido em televisão através do programa de stand-up comedy “Levanta-te e Ri” (2003/06). Foi apresentador do programa “Curto Circuito” da Sic Radical durante quatro anos, mas viria a confirmar a sua carreira humorística ao participar em programas como “Manobras de Diversão” ou “Herman Sic”.! Em 2007 é “fundador” do grupo de protagonistas do programa de sketches “Os Contemporâneos”, série qeu viria a ter três temporadas bem sucedidas.! Em 2010 estreou-se no mundo dos talk-shows com “Lado B” nos serões de Sábado à noite.! Em 2011 foi o criador de um formato humorístico extremamente inovador não só em Portugal, como nunca antes feito em qualquer parte do Mundo, com o programa “Último a Sair”. Tratou-se de um “falso reality-show” que gerou bastante controvérsia e que, por ter sido de tal forma original, já foi galardoado com diversos prémios, entre os quais o de “Melhor Programa do Ano” pela Associação de Telespectadores Portugueses e de “Melhor Programa de Ficção” pela Sociedade Portuguesa de Actores.! Bruno Nogueira participou em várias produções teatrais, tais como as comédias “Antes Eles que Nós”, “Avalanche”, “Os melhores sketches de Monty Python” ou “A Bizarra Salada”.! Actualmente, Bruno Nogueira encontra-se em cena com a peça “É como diz o outro”, escrita por Henrique Dias e Frederico Pombares, que protagoniza ao lado de

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Miguel Guilherme, bem como diariamente na TSF com as crónicas “Tubo de Ensaio” onde, em parceria com João Quadros, satiriza a sociedade actual.

Os Argumentistas

Nuno Artur Silva

! Fundador e Director-geral da agência “Produções Fictícias”, Nuno Artur Silva nasceu em Lisboa a 5 de Outubro de 1962.! Pelas ”Produções Fictícias”, foi Director-geral, Director Criativo e co-autor de programas como “Herman Zap”, “Herman Enciclopédia”, “Contra-Informação”, “Não és homem não és nada”, “O Programa da Maria”, “Paraíso Filmes”, “O Inimigo Público”, “Os Contemporâneos”, “Herman 2010/11/12”, “Estado de Graça”, entre outros.! Com as “Produções Fictícias” fundou o “Canal Q”, um canal televisivo inteiramente dedicado ao Humor, no qual apresenta os programas “Mapa” e “Os Culturistas”.! É apresentador e coordenador do programa “O Eixo do Mal”, transmitido pela SIC Notícias, e foi Assessor Criativo da direcção de programas da RTP entre 1996 e 1997.! Foi professor de Português entre 1985 e 1992 (antes de fundar as “Produções Fictícias”), visto ser licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade Nova de Lisboa.! Actualmente, é também professor de “Escrita Criativa” nas formações realizadas pelas “Produções Fictícias”.

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Nuno Markl

! Humorista, escritor, locutor de rádio, apresentador de televisão, cartoonista e argumentista, Nuno Frederico Correia da Silva Lobato Markl, nascido em Lisboa a 21 de Julho de 1971, possui uma carreira recheada de “pérolas” humorísticas.! Nuno Markl formou-se em jornalismo pelo CENJOR no ano de 1990, com o “desejo” de entrar no mundo da rádio.! Depois de um estágio na “Correio da Manhã Rádio”, Markl viria a ter uma estadia bastante preenchida na “Rádio Comercial”, onde iniciaria a rubrica de sucesso “O Homem que Mordeu o Cão” (que viria a dar origem a um programa de televisão com o mesmo nome).! Nesta altura viria a ser convidado por Nuno Artur Silva para integrar a equipa das “Produções Fictícias”, ao lado de Miguel Viterbo, José de Pina, Maria João Cruz, João Quadros, Filipe Homem Fonseca, entre outros. Assim, foi co-autor de importantes programas como “Herman Zap”, “Contra-Informação”, Herman Enciclopédia”, “Conversa da Treta”, “O Programa da Maria” e “Os Contemporâneos”.! A par da sua carreira de humorista, Nuno Markl continuou sempre a fazer rádio, tendo estado durante cerca de seis anos na “Antena 3” como responsável pelo “Programa da Manhã”, tendo regressado em 2009 à Rádio Comercial.! Actualmente, possui um enorme sucesso com a sua rubrica revivalista da cultura pop dos anos 80, “Caderneta de Cromos”, bem como com o talk-show radiofónico “PRIMO: Programa Realmente Incrível Mas Obtuso”, que “conduz” juntamente com Vasco Palmeirim.

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João Quadros

! João Quadros nasceu em Lisboa, a 13 de Fevereiro de 1964, e é um dos principais argumentistas de humor da actualidade.! Foi parte integrante da equipa das “Produções Fictícias” tendo acabado por sair por motivos pessoais.! Foi co-autor de vários “programas de culto” do Humor, tais como “Herman Enciclopédia” (tendo escrito sketches emblemáticos como “Eu é que sou o Presidente da Junta” e “Não pirilamparás a mulher do próximo”), “Herman 98/99”, “O Programa da Maria”, “Os Contemporâneos” e “O último a sair”.! Actualmente, escreve uma crónica semanal para o “Jornal de Negócios” e é co-autor das crónicas diárias da TSF “Tubo de Ensaio” com Bruno Nogueira.!! ! !

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José de Pina

! José de Pina, nascido em Lisboa no ano de 1962, é humorista, escritor e

apresentador da televisão portuguesa.!! Formado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Pina foi um dos sócios e fundadores das Produções Fictícias, tendo sido assim co-autor de programas emblemáticos, tais como “Boião de Cultura”, “Herman Zap”, “Herman Enciclopédia” e “Hora H”.!! Criador e apresentador do programa “Fogo Posto!” transmitido pela SIC Radical, José de Pina é conhecido pelo seu humor inteligente e pela sua postura seráfica.

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Conclusão

!! Este trabalho consiste numa síntese da História do Humor em Portugal, desde o início da Primeira República até aos dias de hoje.!! Como foi possível verificar, Portugal sempre foi um território “fértil” para a criação humorística, ainda que tenham existido vários contratempos que dificultaram a “vida” do Humor em território português, tais como a falta de mecanismos e de liberdade de expressão durante a Primeira República, e o terrível “lápis azul” da censura durante o Estado Novo.!! Apesar de a censura ter acabado graças à “Revolução dos Cravos” a 25 de Abril de 1974, ainda hoje prevalecem algumas dificuldades para a criação humorística: são vários os casos de programas “censurados” (ainda que indirecta e “disfarçadamente”), ou que vêem o seu percurso chegar ao fim por falta de orçamento ou por fracos níveis de audiências.!! Assim, e ao contrário do que possa parecer à população portuguesa, o trabalho dos humoristas não se resume a “dizer piadas” ou a “contar anedotas. Trata-se de uma profissão extremamente precária e muitas vezes mal-vista pela sociedade, estando sempre dependente de várias condicionantes e “jogos de interesses” para poder ter sucesso.!! Ao longo da História de Portugal, os humoristas têm contribuído não só para o entretenimento da população portuguesa, mas também como “líderes” do “Contra-poder”, tendo, muitas vezes contribuído para a luta de direitos e liberdades individuais e colectivas.!! Como foi possível analisar, apesar das nítidas influências estrangeiras, desde o tempo dos “FIlmes Portugueses” até à Actualidade, o Humor português manteve sempre um carácter original, quer nas temáticas abordadas, quer nos formatos utilizados, quer nas performances dos vários (e excelentes) comediantes portugueses.!! Com este trabalho foi também possível conhecer e dar a conhecer alguns factos que não eram do “conhecimento geral” do público, tais como alguns episódios da vida profissional dos humoristas portugueses, bem como referenciar os principais argumentistas que, muitas vezes acabam por ficar na “sombra” dos intérpretes, não sendo conhecidos ou referenciados pela imprensa ou pela população portuguesa.!! Apesar de já terem sido “descobertos” e “inventados” praticamente todos os formatos humorísticos possíveis e imagináveis, todos os anos surgem novos programas de Humor na televisão portuguesa, que se “superam” e surpreendem os telespectadores.

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!! No entanto, considero que ainda é possível dar mais algum destaque ao Humor português, não só em televisão como nas restantes áreas - teatro, cinema, rádio, imprensa escrita, literatura, etc. - uma vez que esta área possui um papel de extrema importância para o público português.!! Contudo, tenho noção de que essa maior “abertura” ao Humor tem que partir não só das entidades produtoras/reguladoras, mas também do próprio público, já que existe ainda uma tendência retrógrada para menosprezar a criação humorística, vendo “a arte do ridículo” como algo pejorativo e não como vertente de intervenção, de “catarse” e de entretenimento.!! A título pessoal, considero que este trabalho veio enriquecer a minha “cultura-geral” sobre esta área que possui um grande relevo no meu leque de interesses.!! Serviu-me para “descoberta” de factos históricos que até então desconhecia, para além de me “abrir os horizontes” no que toca à História do Humor português.!! Como já referi, esta é uma área que possui elevado destaque no meu leque de interesses pessoais, pretendendo até ter formação humorística (pelo curso de “Humorismo para Rádio, Televisão e Teatro” proporcionado pela escola de artes performativas DEGRAU, em parceria com a Universidade Autónoma de Lisboa, bem como pela formação em “Escrita Criativa” proporcionada pelas “Produções Fictícias”), com vista a seguir esta via profissionalmente.!! Tal como considero que este trabalho enriqueceu a minha “cultura-geral” no que toca ao Humor, penso que poderá também fazê-lo a quem ler este trabalho.!! Acho que esta é uma temática de grande interesse, pelo que poderá continuar a ser trabalhada (se não por mim, por alunos e turmas vindouras), já que o Humor português se encontra em constante “evolução”, assim como o próprio país.!! Será então extremamente interessante observar a evolução das criações humorísticas em Portugal, quiçá daqui a algumas décadas, comparando este estudo a possíveis estudos que poderão vir a ser realizados sobre esta temática.

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Anexos

Dicionário de termos humorísticosGag - Qualquer efeito cómico, geralmente muito breve, inserido numa representação.

Humor físico - Também conhecido por humor não verbal, é caracterizado por isso mesmo: fazer rir sem uma única palavra, apenas com gestos, expressões faciais, etc.

Humor de intervenção - Humor como forma de “contra-poder”, utilizado numa tentativa de resolução de problemas (políticos, sociais, culturais, etc.).

Humor involuntário - Situações despropositadas que, por algum motivo, possuem um

forte cariz cómico

Humor negro - Sub-género humorístico que utiliza situações consideradas geralmente como de “mau gosto” ou “politicamente incorrectas”, usualmente de natureza mórbida, para fazer rir ou divertir um público menos susceptível.

Humor de observação - Sub-género humorístico que se baseia em personagens/situações reais, observando-as para posteriormente as caricaturar.

Non-sense - Expressão inglesa para “sem sentido”, denota algo disparatado e se, nexo.

Esta expressão é utilizada para caracterizar um estilo humorístico perturbado e livre de sentido.

Puch-line - Parte final de uma piada ou interpretação/segmento cómico. Geralmente, essa palavra/frase/conjunto de frases tem a intenção de “concluir” a piada e, consequentemente, de provocar o riso perante a audiência.

Rábula - (ou vulgarmente chamada “Rabuleta”) Trata-se de um formato humorístico curto, geralmente interpretado por um só personagem. No humor português as “rabuletas” começaram nos talk-shows, sendo muitas vezes introduzidas pela cómica expressão “então você interrompe-me o programa, Homem?”.

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Sitcom - Abreviatura da expressão inglesa “situation comedy” (comédia de situação”),

serve para designar uma série de televisão com personagens comuns onde existe uma ou mais histórias de humor encenadas em ambientes comuns como família, grupo de amigos ou local de trabalho.

Sketch - Termo inglês muito utilizado para referir pequenas peças ou cenas dramáticas, geralmente cómicas e com menos de dez minutos de duração.!! São frequentes em programas cómicos de televisão, mas também em cinema, teatro e em cafés-concerto.

Slapstick - Género de comédia cinematográfica em que predominam cenas de tropelias, explorando-se motivos de riso fácil e gosto discutível, implicando, por vezes, violência física.

Talk-show - Génerero de programa televisivo ou radiofónico, no qual uma pessoa ou

grupo se junta e discute vários tópicos que são sugeridos/moderados por um ou mais apresentadores. Poderá, ou não, ter teor humorístico.

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Imagens

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Bibliografia

* Silva, Nuno Artur, Santos, Inês Fonseca, “Antologia do Humor Português”, 2008, Texto Editores, Lisboa, 2ª Edição, 2009

* Santos, António Costa, José Herman, “O Verdadeiro Artista”, Guerra e Paz Editores, 1ª Edição, Lisboa, Outubro de 2011

* http://cemanosderepublica.blogspot.com/2010/02/humor-na-1-republica.html* http://www.producoesficticias.pt/edicoes/producoesficticias/index.aspx* http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal* http://www.parodiantes.com/historia.php* http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=210* http://omalestafeito.blogs.sapo.pt/* http://teatromv.com.sapo.pt/* http://www.tsf.pt/paginainicial/* Documentário: “As Divinas Comédias” - RTP - 2009* Reportagem: “Humor à Pátria” - Linha da Frente - RTP - 2010

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Observações:

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