história do brasil - pré-vestibular impacto - a belle - epoque na amazônica

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KL 140408 A Belle – Epoque na Amazônica FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! PROFº: NETO Fale conosco www.portalimpacto.com.br VESTIBULAR – 2009 CONTEÚDO A Certeza de Vencer 05 4 INTRODUÇÃO: A partir da Segunda metade do século XIX e início do XX, a Amazônia será marcada pela ascensão da economia gomífera, Produtora de muitas riquezas, a borracha favorecerá a industrialização do sul do país, ocasionando uma espécie de colonialismo interno, e o próprio capitalismo internacional (colonialismo externo). Toda essa riqueza, que por sinal não será aproveitada para o desenvolvimento econômico, favorecerá a concentração de renda nas mãos de uns poucos privilegiados, enquanto a grande massa populacional será alvo de uma exploração desumana. POSIÇÃO GEOGRÁFICA A Amazônia abrange cerca de 6.500.000 Km 2 da América do Sul, correspondendo a 36% da superfície da América se estendendo por Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Colômbia. ANTECEDENTES As civilizações pré-colombianas já utilizam há muito a borracha. Aqui na Amazônia ocorria o mesmo, sendo as árvores conhecidas como "Cauchu" pelos gentios, e mais tarde seringueiras, após o domínio português. A AMAZÔNIA ATÉ A METADE DO SÉCULO XIX A Amazônia ingressa no século XIX com uma economia bastante relacionada com o exterior, entretanto não apresentava solidez interna, quer dizer, o principal produto o cacau, gerava grandes lucros, mas a maior parte tinha um caminho certo: a metrópole portuguesa. Sendo assim, em 1800, a renda per capita interna não passara de US$ 56. Entre 1805 e 1840, a economia regional apresentara um declínio maior. Destaque para ocupação militar das Guianas por D. João VI, desviando boa parte da mão-de-obra das atividades produtivas, e a guerra civil amazônica (Cabanagem), em 1835, causadora de grande mortalidade. Resultado disso tudo é que a renda per capita baixara para US$ 49. O AUMENTO NA DEMANDA DA BORRACHA Desde 1736, diversos estudiosos vinham desenvolvendo pesquisas no sentido de um melhor aproveitamento da borracha. Foram tais pesquisas anteriores que possibilitaram Charles Goodyear descobrir, em 1839 um processo pelo qual a borracha se tornava mais resistente e insolúvel. Era um processo de vulcanização. Cerca de três anos depois, Hanicoock torna a borracha mais resistente e quase insensível à temperatura, garantindo a sua elasticidade e impermeabilidade. E, finalmente, com a invenção do Pneumático, em 1890, a industrialização da borracha aumenta ainda mais. A resultante disso tudo é um crescimento da demanda, ou seja, de pouco mais de 5.000 indivíduos ocupados no subsetor gomífero em 1850. A borracha exigira mais de 31.000 em 1870. De 1825 a 1850, a produção comercial de borracha se concentrara principalmente em Belém, Xingu e Tapajós. Mas entre 1850 e 1870, vemos seringais nos rios Madeiras e Purus, iniciando um processo de devastamento do vale amazônico. Todo esse deslocamento de mão-de-obra para a zona da borracha acarretou problemas para os outros subsetores da economia, como por exemplo, a agricultura, que teve a predominância de mulheres, crianças e adultos idosos, levando ao decréscimo da produção. A QUESTÃO DA MÃO-DE-OBRA No final da década de 1870, o problema da mão-de-obra aumentara ainda mais, tento que a produção não passara das 10.000 toneladas, enquanto que a demanda mundial se situara entre 8.000 e 10.000 toneladas. A saída para o problema da força de trabalho foi incrementada pela migração - regional, e aí destacamos dois tipos: a) a imigração dirigida, que tinha como finalidade principal a colonização agrícola sobressaindo-se o poder público com finalidade principal a colonização agrícola sobressaindo-se o poder público com financiamentos. b) Já a imigração "espontânea" tinha como destaque a iniciativa privada, através do recrutamento de mão-de-obra para os seringais. A imigração dirigida, devido a sua própria estrutura, praticamente fracassou com certo destaque para a zona bragantina, onde uma estrada de ferro foi construída, assim como projetos agrícolas alí implantados, com o fim de abastecer Belém: "Com solos, culturas e colonos mal escolhidos, o saldo histórico dessa colonização é uma vasta região povoada, mas pobre e cheia de problemas na atualidade". (Roberto Santos - História Econômica da Amazônia, pág. 117). Ressaltamos ainda que parte da mão-de-obra dirigida se reorientou para os seringais, enquanto que parte da força de trabalho "espontânea" além dos seringais, de dirigiu para as atividades do setor terciário, e, às vezes, ao secundário com destaque para os trabalhadores da Madeira-Mamoré O SERINGUEIRO No que diz respeito ao seringueiro, no início da produção, era basicamente de origem indígena. Com o tempo a demanda mundial de borracha aumentaria bastante, sendo um dos fatores determinantes para o aproveitamento da mão-de-obra nordestina, que se retirava de sua região devido a seca de 1877 a 1880. Assim, chegando ao seringal, o imigrante já se encontrava endividado com o proprietário (seringalista). Aliado a isso, o trabalho era bastante perigoso e solitário, pois era quase impossível a utilização de mulheres na extração, além do que, os ataques de índios e de onças eram constantes. OS INVESTIMENTOS E AS DIVISÕES NA PRODUÇÃO Os diversos investimentos e os financiamentos que a fluíram para a região tinham duas origens principais: o estrangeiro, com destaque para o capital norte-americano, inglês, francês e belga, além, claro, do capital nacional, sobressaindo-se o empreendimento de navegação fluvial por MAUÀ e a construção da Madeira-Mamoré, sendo que ambas as empresa tinham dominância do capital público. No início da produção comercial, o exportador de borracha - principalmente norte-americanos e ingleses - era o mesmo que importava os bens de consumo, por exemplo. Quando a produção cresce, há uma nítida especialização entre exportadores e importadores. Os exportadores eram em sua maioria os portugueses, que passaram a abastecer as casas aviadoras. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico e populacional acarretara um aumento na demanda interna por alimento e a crescente importância dos pecuaristas do Marajó. Esse "rush" econômico também propiciara um aumento na receita dos governos estaduais, tanto que em Belém e Manaus, eram feitos investimentos no melhoramento e ampliação do sistema viário.

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Page 1: História do Brasil - Pré-Vestibular Impacto - A Belle - Epoque na Amazônica

KL 140408

A Belle – Epoque na Amazônica

FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!

PROFº: NETO

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CONTEÚDO

A Certeza de Vencer

05

4

INTRODUÇÃO: A partir da Segunda metade do século XIX e início do XX, a Amazônia será marcada pela ascensão da economia gomífera, Produtora de muitas riquezas, a borracha favorecerá a industrialização do sul do país, ocasionando uma espécie de colonialismo interno, e o próprio capitalismo internacional (colonialismo externo). Toda essa riqueza, que por sinal não será aproveitada para o desenvolvimento econômico, favorecerá a concentração de renda nas mãos de uns poucos privilegiados, enquanto a grande massa populacional será alvo de uma exploração desumana.

POSIÇÃO GEOGRÁFICA A Amazônia abrange cerca de 6.500.000 Km2 da América do Sul, correspondendo a 36% da superfície da América se estendendo por Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Colômbia.

ANTECEDENTES As civilizações pré-colombianas já utilizam há muito a borracha.

Aqui na Amazônia ocorria o mesmo, sendo as árvores conhecidas como "Cauchu" pelos gentios, e mais tarde seringueiras, após o domínio português.

A AMAZÔNIA ATÉ A METADE DO SÉCULO XIX A Amazônia ingressa no século XIX com uma economia bastante relacionada com o exterior, entretanto não apresentava solidez interna, quer dizer, o principal produto o cacau, gerava grandes lucros, mas a maior parte tinha um caminho certo: a metrópole portuguesa. Sendo assim, em 1800, a renda per capita interna não passara de US$ 56. Entre 1805 e 1840, a economia regional apresentara um declínio maior. Destaque para ocupação militar das Guianas por D. João VI, desviando boa parte da mão-de-obra das atividades produtivas, e a guerra civil amazônica (Cabanagem), em 1835, causadora de grande mortalidade. Resultado disso tudo é que a renda per capita baixara para US$ 49.

O AUMENTO NA DEMANDA DA BORRACHA Desde 1736, diversos estudiosos vinham desenvolvendo

pesquisas no sentido de um melhor aproveitamento da borracha. Foram tais pesquisas anteriores que possibilitaram Charles Goodyear descobrir, em 1839 um processo pelo qual a borracha se tornava mais resistente e insolúvel.

Era um processo de vulcanização. Cerca de três anos depois, Hanicoock torna a borracha mais resistente e quase insensível à temperatura, garantindo a sua elasticidade e impermeabilidade. E, finalmente, com a invenção do Pneumático, em 1890, a industrialização da borracha aumenta ainda mais. A resultante disso tudo é um crescimento da demanda, ou seja, de pouco mais de 5.000 indivíduos ocupados no subsetor gomífero em 1850. A borracha exigira mais de 31.000 em 1870.

De 1825 a 1850, a produção comercial de borracha se concentrara principalmente em Belém, Xingu e Tapajós. Mas entre

1850 e 1870, vemos seringais nos rios Madeiras e Purus, iniciando um processo de devastamento do vale amazônico.

Todo esse deslocamento de mão-de-obra para a zona da borracha acarretou problemas para os outros subsetores da economia, como por exemplo, a agricultura, que teve a predominância de mulheres, crianças e adultos idosos, levando ao decréscimo da produção.

A QUESTÃO DA MÃO-DE-OBRA No final da década de 1870, o problema da mão-de-obra aumentara ainda mais, tento que a produção não passara das 10.000 toneladas, enquanto que a demanda mundial se situara entre 8.000 e 10.000 toneladas.

A saída para o problema da força de trabalho foi incrementada

pela migração - regional, e aí destacamos dois tipos: a) a imigração dirigida, que tinha como finalidade principal a colonização agrícola sobressaindo-se o poder público com finalidade principal a colonização agrícola sobressaindo-se o poder público com financiamentos. b) Já a imigração "espontânea" tinha como destaque a iniciativa privada, através do recrutamento de mão-de-obra para os seringais. A imigração dirigida, devido a sua própria estrutura, praticamente fracassou com certo destaque para a zona bragantina, onde uma estrada de ferro foi construída, assim como projetos agrícolas alí implantados, com o fim de abastecer Belém: "Com solos, culturas e colonos mal escolhidos, o saldo histórico dessa colonização é uma vasta região povoada, mas pobre e cheia de problemas na atualidade". (Roberto Santos - História Econômica da Amazônia, pág. 117). Ressaltamos ainda que parte da mão-de-obra dirigida se reorientou para os seringais, enquanto que parte da força de trabalho "espontânea" além dos seringais, de dirigiu para as atividades do setor terciário, e, às vezes, ao secundário com destaque para os trabalhadores da Madeira-Mamoré

O SERINGUEIRO No que diz respeito ao seringueiro, no início da produção, era

basicamente de origem indígena. Com o tempo a demanda mundial de borracha aumentaria bastante, sendo um dos fatores determinantes para o aproveitamento da mão-de-obra nordestina, que se retirava de sua região devido a seca de 1877 a 1880.

Assim, chegando ao seringal, o imigrante já se encontrava endividado com o proprietário (seringalista). Aliado a isso, o trabalho era bastante perigoso e solitário, pois era quase impossível a utilização de mulheres na extração, além do que, os ataques de índios e de onças eram constantes.

OS INVESTIMENTOS E AS DIVISÕES NA PRODUÇÃO Os diversos investimentos e os financiamentos que a fluíram

para a região tinham duas origens principais: o estrangeiro, com destaque para o capital norte-americano, inglês, francês e belga, além, claro, do capital nacional, sobressaindo-se o empreendimento de navegação fluvial por MAUÀ e a construção da Madeira-Mamoré, sendo que ambas as empresa tinham dominância do capital público.

No início da produção comercial, o exportador de borracha - principalmente norte-americanos e ingleses - era o mesmo que importava os bens de consumo, por exemplo.

Quando a produção cresce, há uma nítida especialização entre exportadores e importadores. Os exportadores eram em sua maioria os portugueses, que passaram a abastecer as casas aviadoras. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico e populacional acarretara um aumento na demanda interna por alimento e a crescente importância dos pecuaristas do Marajó.

Esse "rush" econômico também propiciara um aumento na receita dos governos estaduais, tanto que em Belém e Manaus, eram feitos investimentos no melhoramento e ampliação do sistema viário.

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2009

O SUBSETOR INDÚSTRIA Desde os tempos coloniais, o aviamento surge graças ao escambo

entre as sociedades tribais e as mercantis, e se fortalecera mais ainda quando a região entrou em contato com o capitalismo externo.

A principal parcela de onde se originava o excedente da produção era a espoliação do seringueiro, que ficava sempre na condição de devedor perpetuo. Foi graças a essa poupança forçada que muitos seringalistas e aviadores enriqueceram de um momento para o outro. Além dessa espoliação dos trabalhadores da borracha, o aviamento também influenciou bastante na atrofia do setor terciário o mais ainda do secundário, pois com os juros altíssimos, não era possível desenvolver um razoável parque industrial, quer dizer, quanto mais crescia a demanda externa pela borracha, mais o aviamento era fortalecido destimulando a industrialização. Nesse caso temos uma concentração de renda em Belém e Manaus, além do "laissez-faire" dos governos estaduais que freqüentemente davam apoio a essas relações de trabalho injustas.

O TRATADO DE PETRÓPOLIS Em 1901, um grupo de capitalistas organizado em Londres e Nova York decide tomar posse do Acre: "Era a Bolivian Syndicate, a mais explícita das tentativas do imperialismo em terras sul americanas desde as façanhas de Portugal e Espanha no remoto passado". (Roberto Santos - História Econômica da Amazônia, pág. 207).

Tal procedimento contou com o apoio do governo boliviano que tentava de qualquer maneira barrar pretensões brasileiras naquela região que apresentava os maiores índices de produtividade gomífera. Mas em 1903, o governo federal brasileiro firma com a Bolívia o TRATADO DE PETRÓPOLIS, onde o Acre seria incorporado ao Brasil, tendo em contra partida uma indenização de US$ 550.000 (cento e dez mil libras) e da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré que custara milhares de vida.

APOGEU E DECADÊNCIA DA BORRACHA AMAZÔNICA De 1910 a 1912, a economia gomífera amazônica atingira o apogeu com sua exploração concentrada principalmente no Pará, Amazonas e Acre.

Alguns anos antes, mais exatamente em 1876, Henry Wickham, capitalista inglês contrabandeia milhares de semente HEVEAS BRASILEIRAS e passa a aclimatar a planta no Jardim Botânico de Kew. Pouco depois o governo britânico e o capital estrangeiro de uma maneira geral, começam a experimentação na Ásia (Ceilão, Malásia, Indochina, dentre outras regiões coloniais). De três toneladas em 1910, a oferta asiática passa para 8.753 toneladas em 1910, 107 mil em 1915 e 382.860 toneladas em 1919.

Com uma exploração mais racional, a Ásia destrona a Amazônia, visto que as árvores eram plantadas em terrenos limpos e a alguns metros umas das outros, barateando os custos e aumentando a produção, enquanto aqui o produto era coletado no meio da mata.

A LIGA DOS AVIADORES O resultado de toda essa conjuntura foi que os aviadores regionais

formaram uma liga passando a estocar a borracha para que o preço subisse. Mas, em 1912, não agüentando os custos, foram forçados a soltar a produção estocada que, se juntando a safra do ano, aumentara estupidamente a oferta, fazendo com que os preços caissem ainda mais.

A longo prazo, a maioria dos grandes grupos regionais que dominavam a produção gomífera, transferira o capital para a produção de castanha e para o setor madeireiro, ao mesmo tempo em que os latifundiário, pecuaristas marajoaras aumentaram sua influência na administração republica.

AS TENTATIVAS DE SOLUÇÃO POR PARTE DO PODER PÚBLICO

A nível estadual e regional, veremos o Convênio Pará-Amazonas, e a nível federal, o Plano de Defesa da Borracha. Tinham em comum a tentativa de salvar a economia gomífera. No que se refere ao plano federal, era mais abrangente, pois previa investimentos na produção agrícola alimentar, pesca industrialização, saúde, dentre outras atividades. Há não ser no setor saúde (e mesmo assim limitado), onde veremos a presença de OSWALDO CRUZ, CARLOS CHAGAS, JOÃO PEDROSA e GASPAR VIANA, enquanto em 1870 a população amazônica não passava de 323.000 pessoas, em 1910 subira para 1.2000000.

O PROCESSO PRODUTIVO Como vimos anteriormente, a partir de 1850 a produção

amazônica de borracha começara a se organizar mais efetivamente. A despeito disso, o processo produtivo era baseado no extrativismo, onde a extração do látex era feita de forma rudimentar.

A identificação das árvores era feita por um mateiro, geralmente de origem indígena. A abertura das "estradas" era efetuada pelos toqueiros, que abriam picadas por onde os trabalhadores chegavam às plantas.

A extração do látex inicialmente se desenvolver de maneira predatória, ou seja, o tronco da árvore era aberto de alto para baixo, e logo após amarrados com cipós para que a seiva fosse espremida. Como esse processo matava o vegetal, a extração foi melhor racionalizada, com os troncos sendo cortados em forma de "VÊS", embaixo dos quais eram amarradas cuias.

Perto do seringal se encontravam defumadores, que transformavam o látex em bolas para a comercialização.

As casas aviadoras, por sua vez completavam o seringal, eram elas as abastecedoras dos campos de trabalhos. grande capacidade. O restante do plano foi por água abaixo. Tal desinteresse oficial pela região era atômica até a década de 1950.

A CRISE NO SETOR RURAL Boa parte dos contingentes expulsos da extração gomífera, era imediatamente empregada na agricultura, extração madeireira e de castanha. Ao mesmo tempo uma grande porção dos nordestinos refluíra principalmente para o Maranhão reduzindo consideravelmente a população regional; isso representará maior oferta de bens de consumo no mercado interno. Ao lado disso atividades não monetizadas como a pesca, a caça e a coleta de frutos, diminuíram em muito o rigor da crise.

A CRISE NO SETOR URBANO É na cidade que a crise se apresentara mais aguda, onde casas comerciais e financeiras apresentam altos índices de falências. Além do mais, o número de habitantes de Belém e Manaus aumentara muito, tanto que a oferta de bens de consumo, por exemplo, não era suficiente frente à crescente demanda, ocasionando constantes revoltas. Enquanto isso, o abastecimento urbano de carne era feito majoritariamente pelos fazendeiros marajoaras que, como dissemos, aumentaram sua força política.

A renda per capita, que atingiu US$ 362 em 1885, caíra para US$ 74 em 1920, além do que "(...) todos os sacrifícios imposto à população pelo poder público derivam da intenção de satisfazer corretamente aos credores estrangeiros, a fim de facilitar a obtenção de novos empréstimos externos" (Roberto Santos). Enfim, a borracha entreva em decadência depois de gerar durante anos divisas para a economia brasileira, favorecendo inclusive a indústria do sul.

TEXTOS PARA ANÁLISE 01. O SISTEMA DE AVIAMENTO O aviamento é um sistema tradicional de crédito existente na Amazônia desde os tempos áureos da borracha. Aviar, significa fornecer mercadorias à crédito, tanto para a produção quanto para consumo. Sistema hierarquizado de dois fluxos onerava sucessivamente os produtos aviados e tentava aviltar o valor da produção no fluxo inverso. Mantinha numa ponta o industrial ou banqueiro estrangeiros, que fornecia capital a grandes comerciantes da cidades maiores. Estes abasteciam os donos dos seringais, que forneciam produtos aos seus trabalhadores. A produção seguia caminho inverso. Os diversos níveis da hierarquia geralmente, também envolviam capital de giro, excetuando-se o produtor final, que se endividava continuadamente com o patrão. Raymundo Garcia Costa - Carajás: A invasão desarmada. Ed. Vozes, 1984

(p. 33) 02. TESTEMUNHOS CLÁSSICOS DA ESPOLIAÇÃO "(...) os lucros avultadíssimos dessa indústria (extrativo da borracha), que absorve e aniquila todas as outras, longe de tenderem à criança da pequena propriedade, com a sua permanência e as suas vantagens, e à divisão da riqueza, só dão em ultimo resultado acumularem esta em poucas mãos, e pela maior parte estrangeiro, acarretando a miséria à grande massa, daqueles que atrás dela abandonam seus lares, os seus pequenos estabelecimentos e talvez, suas famílias, para se entregarem a uma vida de encerteza e privação e na qual os ganhos de véspera evaporam-se no dia seguinte”.