história do brasil - pré-vestibular - 1874 - revolta dos muckers

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Conflitos na História do Brasil - Império - Segundo Reinado Revolta dos Muckers: 1874 A chamada Revolta dos Muckers foi um conflito regional que se verificou, ao final do século XIX, na atual cidade de Sapiranga, na então Província do Rio Grande do Sul, no Brasil. Os Muckers foram um grupo de imigrantes alemães envolvidos em um movimento messiânico liderado por Jacobina Mentz Maurer e seu marido, João Maurer. A expressão mucker, em alemão, significa falso santo em português. A jovem Jacobina, desde criança entrava em momentos de transe e conseguia diagnosticar doenças, apresentava-se como a própria encarnação de Cristo, prometendo estabelecer a Cidade de Deus. Após o seu casamento, a partir de 1866, o movimento começou a ganhar força e a organizar-se. Seguindo princípios morais muito restritos, rapidamente este grupo entrou em conflito com o resto da comunidade. Os muckers, assim designados pelos seus opositores que os acusavam de falsidade, entraram em choque aberto com os spotters, ou debochados, quando decidiram retirar as suas crianças das escolas comunitárias. Os atritos levaram à prisão dos líderes do movimento pela polícia local e uma libertação logo a seguir, a pedido do presidente da Província do Rio Grande do Sul. Os muckers, cada vez mais crentes no carácter messiânico de Jacobina, passaram a atacar aqueles que se opunham ao movimento: incendiaram a casa de Martinho Kassel, dissidente do movimento, levando à morte da sua esposa e filhos; pelo mesmo meio, mataram os filhos de Carlos Brenner, comerciante; e executaram, por fim, um tio de João Maurer, que se opunha abertamente ao movimento. Acirrados pela profecia de que quem acreditasse em Jacobina seria imune à morte, os muckers entram em confronto com forças policiais, deficientemente comandadas pelo coronel Genuíno Sampaio, a 28 de Junho de 1874. A crença dos revoltosos ficou ainda mais acesa perante a derrota que infligiram aos militares: 39 baixas, contra 6 entre os muckers. A 18 de Julho, o mesmo coronel cercou a casa onde o grupo religioso se mantinha, matando dezesseis muckers que aceitaram a sua sorte, esperando a sua breve ressurreição. Jacobina conseguiu, contudo, fugir com alguns seguidores, um dos quais alvejou Genuíno Sampaio, que faleceu no dia seguinte em consequência da hemorragia. Houve outro ataque, inconclusivo, a 21 de Junho. A 2 de Agosto, Carlos Luppa, um dissidente mucker traiu o grupo, levando os soldados até ao morro Ferrabrás onde Jacobina se escondia com o restante de seus seguidores. Assim que foram descobertos, foram chacinados. Sobreviveram alguns muckers que tiveram de aguentar a perseguição da justiça por oito anos e, depois, a mal-querença do resto da população. Alguns estiveram, posteriormente, envolvidos na Guerra dos Canudos. Em 2002, Fábio Barreto reproduziu a saga dos muckers no filme "A paixão de Jacobina".

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Page 1: História do Brasil - Pré-Vestibular - 1874 - Revolta dos Muckers

Conflitos na História do Brasil - Império -

Segundo Reinado

Revolta dos Muckers: 1874 A chamada Revolta dos Muckers foi um conflito regional que se verificou, ao final do século XIX, na atual cidade de Sapiranga, na então Província do Rio Grande do Sul, no Brasil. Os Muckers foram um grupo de imigrantes alemães envolvidos em um movimento messiânico liderado por Jacobina Mentz Maurer e seu marido, João Maurer. A expressão mucker, em alemão, significa falso santo em português. A jovem Jacobina, desde criança entrava em momentos de transe e conseguia diagnosticar doenças, apresentava-se como a própria encarnação de Cristo, prometendo estabelecer a Cidade de Deus. Após o seu casamento, a partir de 1866, o movimento começou a ganhar força e a organizar-se. Seguindo princípios morais muito restritos, rapidamente este grupo entrou em conflito com o resto da comunidade. Os muckers, assim designados pelos seus opositores que os acusavam de falsidade, entraram em choque aberto com os spotters, ou debochados, quando decidiram retirar as suas crianças das escolas comunitárias. Os atritos levaram à prisão dos líderes do movimento pela polícia local e uma libertação logo a seguir, a pedido do presidente da Província do Rio Grande do Sul. Os muckers, cada vez mais crentes no carácter messiânico de Jacobina, passaram a atacar aqueles que se opunham ao movimento: incendiaram a casa de Martinho Kassel, dissidente do movimento, levando à morte da sua esposa e filhos; pelo mesmo meio, mataram os filhos de Carlos Brenner, comerciante; e executaram, por fim, um tio de João Maurer, que se opunha abertamente ao movimento. Acirrados pela profecia de que quem acreditasse em Jacobina seria imune à morte, os muckers entram em confronto com forças policiais, deficientemente comandadas pelo coronel Genuíno Sampaio, a 28 de Junho de 1874. A crença dos revoltosos ficou ainda mais acesa perante a derrota que infligiram aos militares: 39 baixas, contra 6 entre os muckers. A 18 de Julho, o mesmo coronel cercou a casa onde o grupo religioso se mantinha, matando dezesseis muckers que aceitaram a sua sorte, esperando a sua breve ressurreição. Jacobina conseguiu, contudo, fugir com alguns seguidores, um dos quais alvejou Genuíno Sampaio, que faleceu no dia seguinte em consequência da hemorragia. Houve outro ataque, inconclusivo, a 21 de Junho. A 2 de Agosto, Carlos Luppa, um dissidente mucker traiu o grupo, levando os soldados até ao morro Ferrabrás onde Jacobina se escondia com o restante de seus seguidores. Assim que foram descobertos, foram chacinados. Sobreviveram alguns muckers que tiveram de aguentar a perseguição da justiça por oito anos e, depois, a mal-querença do resto da população. Alguns estiveram, posteriormente, envolvidos na Guerra dos Canudos. Em 2002, Fábio Barreto reproduziu a saga dos muckers no filme "A paixão de Jacobina".

Page 2: História do Brasil - Pré-Vestibular - 1874 - Revolta dos Muckers

Revolta do Quebra-Quilos: 1874-1875 A revolta do Quebra-Quilos, em fins de 1874 a meados de 1875, por sua conotação popular, preocupou as autoridades provinciais de forma mais incisiva. Afinal, vilas inteiras do Nordeste rebelaram-se contra a implantação de um novo sistema métrico, saqueando feiras e destruindo pesos e medidas do comércio. Os pesos e medidas eram alugados ou comprados à Câmara Municipal, que cobrava ainda por sua aferição. Um dos impostos que provocaram a ira dos revoltosos foi o chamado "imposto do chão", cobrado à queles que expunham suas mercadorias no chão da feira. Na verdade, não podemos reduzir essa sedição somente à insatisfação contra a imposição do novo sistema de mensuração das mercadorias. O Quebra-Quilos foi a gota d’água entornada no caldeirão de novos impostos e novas regras de recrutamento - dizia-se na época que não escapariam do "voluntariado" militar nem as pessoas de posses. Por essas razões, juntavam-se na mesma turba de revoltosos, comerciantes, elementos da camada proprietária, pequenos agricultores que vendiam sua produção semanalmente na feira e consumidores atingidos com a elevação de preços dos produtos. No Rio Grande do Norte, das 13 vilas rebeladas, cinco eram do Seridó: Acari, Currais Novos, Flores, Jardim e Príncipe. A repressão foi bem sucedida, "foram enviadas forças militares que conseguiram, sem esforço maior, a pacificação pública" Cf. CASCUDO, L. da C. Op. cit., p.183.