história do brasil colonial

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Resenha do livro do hisoriador marxista brasileiro Caio Prado Júnior apresentada como requerimento parcial de avaliação da disciplina de História do Brasil Colonial - História USP

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Histria do Brasil ColonialNome: Antonio V. B. Mota FilhoNUSP: 8887220

ResenhaPRADO JR, Caio. Evoluo poltica do Brasil e outros estudos. So Paulo: Companhia das Letras, 2012.

O livro Evoluo Poltica do Brasil foi publicado inicialmente em 1933, pouco depois da integrao de Caio Prado ao Partido Comunista Brasileiro. Desde seu prefcio podemos notar do autor um recorte terico-metodolgico que balizar o desenvolvimento do seu texto: seu texto uma sntese e uma tentativa de escrever uma histria completa da evoluo poltica brasileira. Com isso, o autor j deixa clara uma crtica perspectiva historicista e positivista que predominava at o momento pela qual Os nossos historiadores, preocupados unicamente com a superfcies dos acontecimentos ... esqueceram, quase por completo, o que se passa no ntimo da nossa histria (PRADO JR, 2012, pg. 9-10).Imbricada nessa tentativa de escrever uma histria completa, Caio Prado percebe uma orientao metodolgica de glorificao das classes dirigentes, parafraseando o historiador socialista Max Beer. Tratava-se, portanto, de compreender o movimento profundo da sociedade brasileira vinculado s classes despossudas. Se ainda tardariam alguns anos at que o autor sintetizasse sua perspectiva do sentido da colonizao podemos perceber seu embrio no caminho metodolgico proposta em Evoluo Poltica do Brasil. O livro encontra-se organizado em quatro captulos: dois dedicados colonizao Colnia (I) e Colnia (II) a que se seguem os captulos A revoluo e O Imprio. Ainda que curto, esse livro inaugura, junto com Casa Grande & Senzala do conservador Gilberto Freyre, um perodo particular da historiografia brasileira em que se buscar compreender a origem e desenvolvimento da sociedade brasileira. Como aponta Antonio Candido: O livro de Caio me deu a impresso de estar revendo o Brasil de um ngulo novo (pg. 278). O livro tambm se destaca por utilizar o materialismo histrico como perspectiva terica, como pode se notar na seguinte passagem: A sociedade colonial o reflexo fiel se sua base material: a economia agrria que descrevemos (PRADO JR, 2012, pg. 24).O primeiro captulo, se inicia com uma caracterizao da colonizao brasileira. Desde as primeiras linhas o autor identifica o que havia de novo no processo de colonizao desenvolvido por Portugal. J no se tratava de um processo de colonizao como aquele que se desenvolvera tendo a Grcia como centro. A montagem do Imprio portugus estava ligada diretamente a um contexto histrico de transio do feudalismo para o capitalismo, em que predominavam as marcas de um capitalismo comercial. Aqui o autor desenvolve uma interpretao contrastante daquela predominante at o momento entre a esquerda: de que teria havido nas colnias um feudalismo. O autor aponta que, ainda que na Europa as capitanias tenham assumido um carter feudal, o mesmo no ocorre na colnia: Esse ensaio de feudalismo no vingou. Decaiu com o sistema de colonizao que o engendrara, e com ele desapareceu sem deixar trao algum de relevo na formao histria do Brasil (PRADO JR, 2012, pg. 16). Essa polmica sobre o suposto carter da colonizao seria recorrente na obra de Caio Prado o que o contrapunha a posio oficial de seu prprio partido.O autor centra sua ateno particularmente na questo da distribuio da terra durante a colnia, a saber, o regime de sesmarias. Residiria a a principal diferena entre o sistema econmico da colnia e o feudalismo: nesse o predomnio dos senhores feudais ressaltava direta e unicamente da apropriao do solo, enquanto na colnia a clivagem social se daria mais pela propriedade dos meios para explor-la. Ligado a isso tambm estaria o predomnio do latifndio na economia colonial. Devendo a colnia produzir produtos tropicais num contexto em que o fator terra era abundante e a disponibilidade de capital a ser invertido era um fator diferencial, explica-se que o minifndio e o trabalho livre no tenham tido chance na colnia: o latifndio permitia ganhos de escala produo e conseguiam produzir todo o necessrio para o seu consumo interno, dependendo pouco das cidades que, alis, eram quase inexistentes. Com isso, o autor traz para o centro de sua obra a luta de classes em seus contornos colnias: o pequeno agricultor e o latifundirio. Pode-se notar no livro tambm uma cida crtica escravizao dos indgenas e como a historiografia tratara de travestir esses triste episdio como uma epopeia bandeirante. Na descrio da sociedade colonial ainda se destacam os escravos negros, que ... at o Imprio continuaram simplesmente equiparados s bestas das Ordenaes Manuelinas, os trabalhadores livres que pouco se diferenciava do trabalho do escravo e os agregados (PRADO JR, 2012, pg. 28).Caio Prado tambm indica um interessante conceito, que, no entanto, no chega a desenvolver, de um Estado colonial, que seria um instrumento de ao das classes dominantes (latifundirios) sobre as classes dominadas. Novamente podemos notar a influncia de conceitos marxistas na montagem das categorias desenvolvidas na obra.Buscando na dinmica material da colnia aspectos que explicassem a evoluo poltica - ou seja, da anlise da relao entre base econmica e superestrutura - o autor avana no tempo buscando em que momento se irrompe o processo histrico que desembocaria na independncia poltica da colnia. Para o autor a partir da segunda metade do sculo XVII, ou seja, aps o fim das guerras holandesas, o desenvolvimento econmico da colnia avanara de modo o que pe em contradio os interesses da colnia com os da metrpole. Essa clivagem que acabaria por resultar na independncia.No terceiro captulo, o autor se dedica ao processo de independncia poltica e o perodo que vai at o fim da regncia. A independncia ter-se-ia feito na realidade em 1808 com a vinda da famlia real para o Brasil, dado que isso implicava a transferncia da sede do Imprio e, portanto, a abolio do status de colnia. No entanto, a transformao poltica no chegaria a alterar as estruturas sociais do Brasil que seguiam fundadas no latifndio, na dependncia externa (agora com relao a Inglaterra) e no escravismo. Nas palavras do prprio Caio Prado: ... a revoluo no ir alm daquilo que para o Brasil estava preparado... (PRADO JR., 2012, pg. 49). Isso se faria patente na elaborao da Constituio e no modelo que o Imprio brasileiro tomara com suas ideias fora do lugar, como formulara Roberto Schwarz retratando o caricato formato do liberalismo no Brasil. Nesse captulo tambm o autor se dedica longamente a analisar as revoltas ocorridas durante a regncia apontando que no passavam de afloramentos espontanestas que no conseguiriam avanar em seus objetivos, dada a permanncia da base econmica inalterada. Por fim, o autor analisa o segundo reinado atentando para a estrutura econmica que comea a ruir com o fim do trfico negreiro e, por fim, com a abolio da escravido. Nesse captulo o autor ressalta o papel que a legislao inglesa e mesmo sua fora militar teriam como condicionantes da poltica nacional, por meio da anlise da chamada Bill Aberdeen. Ainda que politicamente independente, se articula nesse perodo novas formas de dependncia, a saber, aquela prpria do imperialismo que j se gesta na segunda metade do sculo XIX. Assim, o avano da foras produtivas relacionadas ao caf e a integrao do pas ao circuito imperialista aprofundam as contradies da sociedade brasileira e com isso o Imprio acaba ruindo, bastando, de acordo com o autor, uma simples passeata militar ... para lhe arrancar o ltimo suspiro (PRADO JR., 2012, pg. 96).