história do brasil

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História do Brasil A História do Brasil compreende, tradicionalmente, o período desde a chegada dos portugueses até os dias atuais, embora o seu território seja habitado continua- mente desde tempos pré-históricos por povos indígenas. Após a chegada de Pedro Álvares Cabral, capitão-mor de expedição portuguesa a caminho das Índias, ao litoral sul da Bahia em 1500, a Coroa portuguesa implementou uma política de colonização para a terra recém-descoberta a partir de 1530. A colonização européia se organizou por meio da distribuição de capitanias hereditárias pela co- roa portuguesa a membros da nobreza e pela instalação de um governo-geral em 1548. A economia da colônia, iniciada com o extrativismo do pau-brasil e as trocas entre os colonos e os índios, gradu- almente passou a ser dominada pelo cultivo da cana-de- açúcar para fins de exportação. No início do século XVII, a Capitania de Pernambuco atinge o posto de maior e mais rica área de produção de açúcar do mundo. [1] Com a expansão dos engenhos e a ocupação de novas áreas para seu cultivo, o território brasileiro se insere nas rotas de comércio do velho mundo e passa a ser paulatinamente ocupado por senhores de terra, missionários, homens li- vres e largos contingentes de escravos africanos. No fi- nal do século XVII foram descobertas ricas jazidas de ouro nos atuais estados de Minas Gerais, [2] Goiás e Mato Grosso que foi determinante para o povoamento do in- terior do Brasil. Em 1789, quando a Coroa portuguesa anunciava a Derrama, medida para cobrar supostos im- postos atrasados, eclodiu em Vila Rica (atual Ouro Preto) a Inconfidência Mineira. A revolta fracassou e, em 1792, um de seus líderes, Tiradentes, morreu enforcado. [3] Em 1808, com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, fugindo da sua possível subjugação da França, consequência da Guerra Peninsular travada entre as tro- pas portuguesas e as de Napoleão Bonaparte,o Príncipe- regente Dom João de Bragança, filho da Rainha Dona Maria I, abriu os portos da então colônia, permitiu o fun- cionamento de fábricas e fundou o Banco do Brasil. Em 1815, o então Estado do Brasil, apenas um Vice-reino do império português, tornou-se temporariamente a sede de um enorme reino que unia todo esse império, com a nova designação oficial de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em que a então Rainha Dona Maria I foi coro- ada. Com a morte da mãe, em 1816, o então Príncipe- regente Dom João de Bragança foi coroado o seu rei. Logo depois volta para o Reino de Portugal, deixando seu filho mais velho, Dom Pedro de Alcântara de Bragança, o príncipe real do reino unido, como regente do Brasil. Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro de Alcântara proclamou a independência do Brasil em relação ao reino unido de Portugal, Brasil e Algarves, e fundou o Império do Brasil, sendo coroado imperador como Dom Pedro I. O mesmo reinou até 1831, quando abdicou e passou a Coroa brasileira ao seu filho, Dom Pedro de Alcân- tara, que tinha apenas cinco anos. [4] Aos catorze anos, em 1840, Dom Pedro de Alcântara(filho) teve sua maio- ridade declarada, sendo coroado imperador no ano se- guinte, como Dom Pedro II. No final da primeira dé- cada do Segundo Reinado, o regime estabilizou-se. As províncias foram pacificadas e a última grande insurrei- ção, a Revolta Praieira, foi derrotada em 1849. Nesse mesmo ano, o imperador extingue o tráfico de escravos. Aos poucos, os imigrantes europeus assalariados substi- tuíram os escravos. [5] No contexto geopolítico, o Brasil se alia à Argentina e Uruguai e entra em guerra contra o Paraguai. No final do conflito, quase dois terços da popu- lação paraguaia estava morta. A participação de negros e mestiços nas tropas brasileiras na Guerra do Paraguai deu grande impulso ao movimento abolicionista e ao declínio da monarquia. Pouco tempo depois, em 1888,a princesa imperial do Brasil, D. Isabel de Bragança, filha de Dom Pedro II, assina a Lei Áurea, que extingue a escravidão no Brasil. Ao abandonar os proprietários de escravos, sem os indenizar, o império brasileiro perde a última base de sustentação. [2] Em 15 de novembro de 1889, ocorre a proclamação da república pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca e tem início a República Velha, terminada em 1930 com a chegada de Getúlio Vargas ao poder. A partir daí, a história do Brasil destaca a industrialização do Brasil e a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos; o movimento militar de 1964, onde o general Castelo Branco assumiu a presidência. O Regime Militar, a pretexto de combater a subversão ea corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perse- guiu e censurou os meios de comunicação, extinguiu os partidos políticos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime militar, os deputados federais e senadores se reuniram , em 1988, em assembléia nacional constituinte e promulgaram a nova Constituição, que amplia os di- reitos individuais. O país se redemocratiza, [2][6] avança economicamente [7] e cada vez mais se insere no cenário internacional. 1

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  • Histria do Brasil

    A Histria do Brasil compreende, tradicionalmente, operodo desde a chegada dos portugueses at os diasatuais, embora o seu territrio seja habitado continua-mente desde tempos pr-histricos por povos indgenas.Aps a chegada de Pedro lvares Cabral, capito-mor deexpedio portuguesa a caminho das ndias, ao litoral sulda Bahia em 1500, a Coroa portuguesa implementou umapoltica de colonizao para a terra recm-descoberta apartir de 1530. A colonizao europia se organizou pormeio da distribuio de capitanias hereditrias pela co-roa portuguesa a membros da nobreza e pela instalaode um governo-geral em 1548.A economia da colnia, iniciada com o extrativismo dopau-brasil e as trocas entre os colonos e os ndios, gradu-almente passou a ser dominada pelo cultivo da cana-de-acar para ns de exportao. No incio do sculo XVII,a Capitania de Pernambuco atinge o posto de maior emais rica rea de produo de acar do mundo.[1] Com aexpanso dos engenhos e a ocupao de novas reas paraseu cultivo, o territrio brasileiro se insere nas rotas decomrcio do velho mundo e passa a ser paulatinamenteocupado por senhores de terra, missionrios, homens li-vres e largos contingentes de escravos africanos. No -nal do sculo XVII foram descobertas ricas jazidas deouro nos atuais estados de Minas Gerais,[2] Gois e MatoGrosso que foi determinante para o povoamento do in-terior do Brasil. Em 1789, quando a Coroa portuguesaanunciava a Derrama, medida para cobrar supostos im-postos atrasados, eclodiu emVila Rica (atual Ouro Preto)a Incondncia Mineira. A revolta fracassou e, em 1792,um de seus lderes, Tiradentes, morreu enforcado.[3]

    Em 1808, com a transferncia da corte portuguesa parao Brasil, fugindo da sua possvel subjugao da Frana,consequncia da Guerra Peninsular travada entre as tro-pas portuguesas e as de Napoleo Bonaparte, o Prncipe-regente Dom Joo de Bragana, lho da Rainha DonaMaria I, abriu os portos da ento colnia, permitiu o fun-cionamento de fbricas e fundou o Banco do Brasil. Em1815, o ento Estado do Brasil, apenas um Vice-reino doimprio portugus, tornou-se temporariamente a sede deum enorme reino que unia todo esse imprio, com a novadesignao ocial de Reino Unido de Portugal, Brasil eAlgarves, em que a ento Rainha Dona Maria I foi coro-ada. Com a morte da me, em 1816, o ento Prncipe-regente Dom Joo de Bragana foi coroado o seu rei.Logo depois volta para o Reino de Portugal, deixando seulho mais velho, Dom Pedro de Alcntara de Bragana,o prncipe real do reino unido, como regente do Brasil.Em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro de Alcntara

    proclamou a independncia do Brasil em relao ao reinounido de Portugal, Brasil e Algarves, e fundou o Impriodo Brasil, sendo coroado imperador como Dom PedroI. O mesmo reinou at 1831, quando abdicou e passoua Coroa brasileira ao seu lho, Dom Pedro de Alcn-tara, que tinha apenas cinco anos.[4] Aos catorze anos,em 1840, Dom Pedro de Alcntara(lho) teve sua maio-ridade declarada, sendo coroado imperador no ano se-guinte, como Dom Pedro II. No nal da primeira d-cada do Segundo Reinado, o regime estabilizou-se. Asprovncias foram pacicadas e a ltima grande insurrei-o, a Revolta Praieira, foi derrotada em 1849. Nessemesmo ano, o imperador extingue o trco de escravos.Aos poucos, os imigrantes europeus assalariados substi-turam os escravos.[5] No contexto geopoltico, o Brasilse alia Argentina e Uruguai e entra em guerra contra oParaguai. No nal do conito, quase dois teros da popu-lao paraguaia estava morta. A participao de negros emestios nas tropas brasileiras na Guerra do Paraguai deugrande impulso ao movimento abolicionista e ao declnioda monarquia. Pouco tempo depois, em 1888, a princesaimperial do Brasil, D. Isabel de Bragana, lha de DomPedro II, assina a Lei urea, que extingue a escravido noBrasil. Ao abandonar os proprietrios de escravos, semos indenizar, o imprio brasileiro perde a ltima base desustentao.[2]

    Em 15 de novembro de 1889, ocorre a proclamao darepblica pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca etem incio a Repblica Velha, terminada em 1930 coma chegada de Getlio Vargas ao poder. A partir da, ahistria do Brasil destaca a industrializao do Brasil ea participao brasileira na Segunda Guerra Mundial aolado dos Estados Unidos; o movimento militar de 1964,onde o general Castelo Branco assumiu a presidncia.O Regime Militar, a pretexto de combater a subversoe a corrupo, suprimiu direitos constitucionais, perse-guiu e censurou os meios de comunicao, extinguiu ospartidos polticos e criou o bipartidarismo. Aps o mdo regime militar, os deputados federais e senadores sereuniram , em 1988, em assemblia nacional constituintee promulgaram a nova Constituio, que amplia os di-reitos individuais. O pas se redemocratiza,[2][6] avanaeconomicamente[7] e cada vez mais se insere no cenriointernacional.

    1

  • 2 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    Evoluo da diviso administrativa do Brasil

    1 PeriodizaoA periodizao tradicional divide a Histria do Brasilnormalmente em quatro perodos gerais:

    2 Perodo pr-descobrimento (at1500)

    Ataque de ndios a uma outra aldeia indgena.

    Quando descoberto pelos portugueses em 1500, estima-se que o atual territrio do Brasil (a costa orientalda Amrica do sul), era habitado[8] por 2 milhes deindgenas,[9][10] do norte ao sul.A populao amerndia era repartida em grandes na-es indgenas compostas por vrios grupos tnicos en-tre os quais se destacam os grandes grupos tupi-guarani,macro-j e aruaque. Os primeiros eram subdivididos emguaranis, tupiniquins e tupinambs, entre inmeros ou-tros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande do

    Sul ao Rio Grande do Norte de hoje.[11] Segundo Lusda Cmara Cascudo,[12] os tupis foram a primeira raaindgena que teve contacto com o colonizador e () de-correntemente a de maior presena, com inuncia nomameluco, no mestio, no luso-brasileiro que nascia eno europeu que se xava. A inuncia tupi se deu naalimentao, no idioma, nos processos agrcolas, de caae pesca, nas supersties, costumes, folclore, como ex-plica Cmara Cascudo:

    Dana tupinamb em ilustrao do livroDuas Viagens ao Brasilde Hans Staden.

    Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida porvrios tratados entre Portugal e Espanha, estabelecendolimites e dividindo o mundo j descoberto do mundoainda por descobrir.[13]

    Destes acordos assinados distncia da terra atribuda,o Tratado de Tordesilhas (1494) o mais importante,por denir as pores do globo que caberiam a Portu-gal no perodo em que o Brasil foi colnia portuguesa.[14]Estabeleciam suas clusulas que as terras a leste de ummeridiano imaginrio que passaria a 370 lguas marti-mas a oeste das ilhas de Cabo Verde pertenceriam ao reide Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dosreis de Castela (atualmente Espanha). No atual territ-rio do Brasil, a linha atravessava de norte a sul, da atualcidade de Belm do Par atual Laguna, em Santa Cata-rina. Quando soube do tratado, o rei de Frana FranciscoI teria indagado qual era a clusula do testamento deAdo" que dividia o planeta entre os reis de Portugal eEspanha e o exclua da partilha.

    3 Perodo colonial (1500-1815)

    3.1 A chegada dos portuguesesO perodo compreendido entre o Descobrimento do Bra-sil em 1500, (chamado pelos portugueses de Achamentodo Brasil), at a Independncia do Brasil, chamado, noBrasil, de Perodo Colonial. Os portugueses, porm, cha-

  • 3.1 A chegada dos portugueses 3

    O Tratado de Tordesilhas (1494), rmado entre Espanha ePortugal para repartir as terras descobertas e por descobrir,deniu os rumos da histria do futuro Brasil.

    mam este perodo de A Construo do Brasil, e o esten-dem at 1825- 1826 quando Portugal reconheceu a inde-pendncia do Brasil.[15]

    H algumas teorias sobre quem foi o primeiro europeu achegar nas terras que hoje formam o Brasil. Entre elas,destacam-se a que defende que foi Duarte Pacheco Pe-reira entre novembro e dezembro de 1498 [16][17] e a queargumenta que foi o espanhol Vicente Yez Pinzn nodia 16 de janeiro de 1500, possivelmente no Cabo deSanto Agostinho, litoral sul de Pernambuco.[18][19][20] Noentanto, ocialmente o Brasil foi descoberto em 22 deabril de 1500, pelo capito-mor duma expedio portu-guesa em busca das ndias, Pedro lvares Cabral, quechegou ao litoral sul da Bahia, na regio da atual cidade dePorto Seguro,[21] mais precisamente no distrito de CoroaVermelha,[22]

    No dia 9 de maro de 1500, o portugus Pedro lva-res Cabral, saindo de Lisboa, iniciou viagem para oci-almente descobrir e tomar posse das novas terras paraa Coroa, e depois seguir viagem para a ndia, contor-nando a frica para chegar a Calecute.[23] Levava duascaravelas e 13 naus, e por volta de 1 500 homens[24] - en-tre os mais experientes Nicolau Coelho, que acabava deregressar da ndia;[24] Bartolomeu Dias, que descobrirao cabo da Boa Esperana,[24] e seu irmo Diogo Dias,que mais tarde Pero Vaz de Caminha descreveria dan-ando na praia em Porto Seguro com os ndios, ao jeitodeles e ao som de uma gaita.[25] As principais naus se

    chamavam Anunciada, So Pedro, Esprito Santo, El-Rei,Santa Cruz, Fror de la Mar, Victoria e Trindade.[26] Ovice-comandante da frota era Sancho de Tovar e outroscapites eram Simo de Miranda, Aires Gomes da Silva,Nuno Leito,[27] Vasco de Atade, Pero Dias, Gaspar deLemos, Lus Pires, Simo de Pina, Pedro de Atade, dealcunha o inferno, alm dos j citados Nicolau Coelhoe Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada trazia AiresCorreia, que havia de car na ndia,[24] e por escrivesGonalo Gil Barbosa e Pero Vaz de Caminha. Entre ospilotos, que eram os verdadeiros navegadores, vinhamAfonso Lopes e Pero Escobar.[28] Diz a Crnica do Se-renssimo Rei D. Manuel I:

    A nau de Pedro lvares Cabral em ilustrao do Livro das Ar-madas que de Portugal passaram ndia.

    Desembarque de Cabral em Porto Seguro (estudo), leo sobretela, Oscar Pereira da Silva, 1904. Acervo do Museu HistricoNacional do Rio de Janeiro.

    ncoras levantadas em Lisboa, a frota passou por So Ni-colau, no arquiplago de Cabo Verde, em 16 de maro.Tinham-se afastado da costa africana perto das Canrias,tocados pelos ventos alsios em direo ao ocidente. Em21 de abril, da nau capitnea avistaram-se no mar, boi-ando, plantas. Mais tarde surgiram pssaros martimos,sinais de terra prxima. Ao amanhecer de 22 de abrilouviu-se um grito de terra vista, pois se avistou omonte que Cabral batizou de Monte Pascoal, no litoralsul da atual Bahia.Ali aportaram as naus, discutindo-se at hoje se teria sido

  • 4 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    exatamente em Porto Seguro ou em Santa Cruz Cabr-lia (mais precisamente no ilhu de Coroa Vermelha, nomunicpio de Santa Cruz Cabrlia), e zeram contatocom os tupiniquins, indgenas paccos. A terra, a queos nativos chamavam Pindorama (terra das palmeiras),foi a princpio chamada pelos portugueses de Ilha de VeraCruz e nela foi erguido um padro (marco de posse emnome da Coroa Portuguesa). Mais tarde, a terra seriarebatizada como Terra de Santa Cruz e posteriormenteBrasil. Estava situada 5.000 km ao sul das terras desco-bertas por Cristvo Colombo em 1492 e 1.400 quilme-tros aqum da Linha de Tordesilhas. Srgio Buarque deHolanda descreve, em Histria Geral da Civilizao Bra-sileira:

    Detalhe da A Primeira Missa no Brasil de Victor Meirelles(1861).

    No dia 26 de abril, um domingo (o de Pascoela), foi oci-ada a primeira missa no solo brasileiro por frei HenriqueSoares (ou frei Henrique de Coimbra),[24] que pregou so-bre o Evangelho do dia. Batizaram a terra como Ilha daVera Cruz no dia 1 de maio e numa segunda missa Ca-bral tomou posse das terras em nome do rei de Portugal.Nomesmo dia, os navios partiram, deixando na terra pelomenos dois degredados e dois grumetes que haviam fu-gido de bordo. Cabral partiu para a ndia pela via certaque sabia existir a partir da costa brasileira, isto , cruzououtra vez o Oceano Atlntico e costeou a frica.O rei D. Manuel I recebeu a notcia do descobrimentopor cartas escritas por Mestre Joo, fsico e cirurgio deD. Manuel[24] e Pero Vaz de Caminha, semanas depois.Transportadas na nau de Gaspar de Lemos, as cartas des-creviam de forma pormenorizada as condies geogr-cas e seus habitantes, desde ento chamados de ndios.Atento aos objetivos da Coroa na expanso martima, Ca-minha informava ao rei:[25]

    Damio de Gis narra o descobrimento em sua lnguarenascentista:Alm das cartas acima mencionadas, outro importantedocumento sobre o descobrimento do Brasil o Relatodo Piloto Annimo. De incio, a descoberta da novaterra foi mantida em sigilo pelo Rei de Portugal. O resto

    do mundo passou a conhecer o Brasil desde pelo menos1507, quando a terra apareceu com o nome de Amricana carta (mapa) de Martin Waldseemller, no qual estassinalado na costa o Porto Seguro.[29]

    3.2 Expedies exploratrias

    Em 1501, uma grande expedio exploratria, a primeirafrota de reconhecimento, com trs naus, encontrou comorecurso explorvel apenas o pau-brasil, de madeira aver-melhada e valiosa usada na tinturaria europia, mas fezum levantamento da costa. Comandada por Gaspar deLemos, a viagem teve incio em 10 de maio de 1501 e n-daria com o retorno a Lisboa em 7 de setembro de 1502,depois de percorrer a costa e dar nome aos principais aci-dentes geogrcos. Sobre o comandante, podem ter sidoD. Nuno Manuel, Andr Gonalves, Ferno de Noronha,Gonalo Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este ltimoo nome mais aceito. Em 1501, no dia 1 de novembro,foi descoberta a Baa de Todos os Santos, na atual Bahia,local que mais tarde seria escolhido por D. Joo III paraabrigar a sede da administrao colonial.Alguns historiadores negam a hiptese de Gonalo Co-elho, que s teria partido de Lisboa em 1502. O Barodo Rio Branco, em suas Efemrides, xa-se em AndrGonalves, que a verso mais comumente aceita. MasAndr Gonalves fazia parte da armada de Cabral, queretornou a Lisboa quando a expedio de 1501 j partirapara o Brasil e com ela cruzou na altura do arquiplagode Cabo Verde.Assim, diversos historiadores optam por Gaspar de Le-mos, que entre junho e julho de 1500 havia chegado aPortugal com a notcia do descobrimento. O orentinoAmrico Vespcio vinha como piloto na frota (e por seunome seria batizado todo o continente, mais tarde). De-pois de 67 dias de viagem, em 16 de agosto, a frota al-canou o que hoje o Cabo de So Roque (Paraba) e,segundo Cmara Cascudo, ali plantou o marco de possemais antigo do Brasil. Houve, na ocasio, contatos entreportugueses e os ndios potiguaras.Ao longo das expedies, os portugueses costumavambatizar os acidentes geogrcos segundo o calendriocom os nomes dos santos dos dias, ignorando os nomeslocais dados pelos nativos. Em 1 de novembro (Dia deTodos os Santos), chegaram Baa de Todos os Santos,em 21 de dezembro (dia de So Tom) ao Cabo de SoTom, em 1 de janeiro de 1502 Baa da Guanabara (porisso batizada de "Rio de Janeiro") e no dia 6 de janeiro(Dia de Reis) angra (baa) batizada como Angra dosReis. Outros lugares descobertos foram a foz do rio SoFrancisco e o Cabo Frio, entre vrios. As trs naus quechegaram Guanabara eram comandadas por GonaloCoelho, e nela vinha Vespcio. Tomando a estreita en-trada da barra pela foz de um rio, chamaram-na Rio deJaneiro, nome que se estendeu cidade de So Sebastioque ali se ergueria mais tarde.

  • 3.3 Extrao de pau-brasil 5

    Detalhe do mapa "Terra Brasilis" (Atlas Miller, 1519), actual-mente na Biblioteca Nacional de Frana.

    Em 1503 houve nova expedio, desta vez comandada(sem controvrsias) por Gonalo Coelho, sem ser estabe-lecido qualquer assentamento ou feitoria. Foi organizadaem funo um contrato do rei com um grupo de comer-ciantes de Lisboa para extrair o pau-brasil. Trazia nova-mente Vespcio e seis navios. Partiu em maio de Lisboa,esteve em agosto na ilha de Fernando de Noronha e aliafundou a nau capitnia, dispersando-se a armada. Ves-pcio pode ter ido para a Bahia, passado seis meses emCabo Frio, onde fez entrada de 40 lguas terra adentro.Ali teria deixado 24 homens com mantimentos para seismeses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na re-gio onde se fundaria depois a cidade do Rio de Janeiro,possivelmente durante dois ou trs anos.Nessa ocasio, Vespcio, a servio de Portugal, retornouao maior porto natural da costa brasileira, a Baa de To-dos os Santos. Durante as trs primeiras dcadas, o litoralbaiano, com suas inmeras enseadas, serviu fundamen-talmente como apoio rota da ndia, cujo comrcio deprodutos de luxo seda, tapetes, porcelana e especiarias era mais vantajoso que os produtos oferecidos pela novacolnia. Nos pequenos e grandes portos naturais baianos,em especial no de Todos os Santos, as frotas se abaste-ciam de gua e de lenha e aproveitavam para fazer pe-quenos reparos.No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local queos ndios chamavam de Uruu-Mirim, a atual praia doFlamengo. Junto foz do rio Carioca (outrora abundantefonte de gua doce) foram erguidas uma casa de pedra e

    um arraial, deixando-se no local degredados e galinhas.A construo inspirou o nome que os ndios deram ao lo-cal (cari-oca, casa dos brancos), que passaria a ser ogentlico da cidade do Rio. O arraial, no entanto, foi logodestrudo. Outras esquadras passariam pela Guanabara:a de Cristvo Jacques, em 1516; a de Ferno de Maga-lhes (que chamou o local de Baa de Santa Luzia), em1519, na primeira circunavegao do mundo; outra vez ade Jacques, em 1526, e a de Martim Afonso de Sousa,em 1531.Outras expedies ao litoral brasileiro podem ter ocor-rido, j que desde 1504 so assinaladas atividades decorsrios. Holanda, em Razes do Brasil, cita o capitofrancs Paulmier de Gonneville, de Honeur, que per-maneceu seis meses no litoral de Santa Catarina.[30] Aatividade de navegadores no-portugueses se inspiravadoutrina da liberdade dos mares, expressada por HugoGrotius em Mare liberum, base da reao europia con-tra Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelosmares do planeta.[31]

    3.3 Extrao de pau-brasil

    Derrubada do pau-brasil em ilustrao da Cosmograa Univer-sal de Andr Thevet, 1575.

    O pau-brasil (que os ndios tupis chamavam de ibira-pitanga) era a principal riqueza de crescente demandana Europa. Estima-se que havia, na poca do descobri-mento, mais de 70 milhes de rvores do tipo, abundandonuma faixa de 18 km do litoral do Rio Grande do Norteat a Guanabara. Quase todas foram derrubadas e leva-das para a Europa. A extrao foi tanta que atualmente aespcie protegida para no sofrer extino.Para explorar a madeira, a Coroa adotou a poltica de ofe-recer a particulares, em geral cristos-novos, concessesde explorao do pau-brasil mediante certas condies:os concessionrios deveriam mandar seus navios desco-brirem 300 lguas de terra, instalar fortalezas nas terrasque descobrissem, mantendo-as por trs anos; do que le-vassem para o Reino, nada pagariam no primeiro ano,

  • 6 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    no segundo pagariam um sexto e no terceiro um quinto.Os navios ancoravam na costa, algumas dezenas de ma-rinheiros desembarcavam e recrutavam ndios para tra-balhar no corte e carregamento das toras, em troca depequenas mercadorias como roupas, colares e espelhos(prtica chamada de "escambo"). Cada nau carregava emmdia cinco mil toras de 1,5 metro de comprimento e 30quilogramas de peso.Em 1503, toda a terra do Brasil foi arrendada pela co-roa a Ferno de Noronha (ou Loronha), e outros cristos-novos, produzindo 20 mil quintais de madeira vermelha.Segundo Capistrano de Abreu, em Captulos da Hist-ria Colonial, cada quintal era vendido em Lisboa por 21/3ducados, mas lev-lo at l custava apenas meio ducado.Os arrendatrios pagavam 4 mil ducados Coroa.Comerciantes de Lisboa e do Porto enviavam embarca-es costa para contrabandearem pau-brasil, aves deplumagem colorida (papagaios, araras), peles, razes me-dicinais e ndios para escravizar. Surgiram, assim, as pri-meiras feitorias. O nufrago Diogo lvares, o Caramuru,estabeleceu-se desde 1510 na barra da Baa de Todos osSantos, onde negociava com barcos portugueses e estran-geiros. Outra feitoria foi chamada de Aldeia Velha deSanta Cruz, prxima ao local da descoberta.Alm dos portugueses, seus rivais europeus, principal-mente franceses, passaram a freqentar a costa brasileirapara contrabandear a madeira e capturar ndios. Os fran-ceses contrabandearam muito pau-brasil no litoral norte,entre a foz do rio Real e a Baa de Todos os Santos, masno chegaram a estabelecer feitoria. Outro ponto de con-trabando, sobretudo no sculo XVII, foi o Morro de SoPaulo (Bahia). At que Portugal estabelecesse o sistemade capitanias hereditrias, a presena mais constante naterra era dos franceses. Estimulados por seu rei, cors-rios passam a freqentar a Guanabara procura de pau-brasil e outros produtos. Ganharam a simpatia dos ndiostamoios, que a eles se aliaram durante dcadas contra osportugueses.Portugal, vericando que o litoral era visitado por cors-rios e aventureiros estrangeiros, resolveu enviar expedi-es militares para defender a terra. Foram denomina-das expedies guarda-costas, sendo mais marcantes asduas comandadas por Cristvo Jacques, de 1516-1519e 1526-1528. Suas expedies tinham carter basica-mente militar, com misso de aprisionar os navios fran-ceses que, sem pagar tributos coroa, retiravam grandesquantidades do pau-brasil. A iniciativa teve poucos resul-tados prticos, considerando a imensa extenso do litorale, como soluo, Jacques sugeriu Coroa dar incio aopovoamento.A expedio enviada em 1530 sob a chea de MartimAfonso de Sousa tinha por objetivos explorar melhor acosta, expulsar os franceses que rondavam o sul e as cer-canias do Rio de Janeiro, e estabelecer ncleos de colo-nizao ou feitorias, como a estabelecida em Cabo Frio.Martim Afonso doou as primeiras sesmarias do Brasil.

    Foram fundados por esta expedio os ncleos de SoVicente e So Paulo, onde o portugus Joo Ramalho vi-via como nufrago desde 1508 e casara-se com a ndiaBartira, lha do cacique Tibiri. Em So Vicente foifeita em 1532 a primeira eleio no continente americanoe instalada a primeira CmaraMunicipal e a primeira vilado Brasil. A presena de Ramalho, que ajudava no con-tato com os nativos e instalara-se na aldeia de Piratininga,foi o que inspirou Martim Afonso a instalar a vila de SoVicente perto do ncleo que viria a ser So Paulo.A mais polmica expedio seria a de Francisco de Orel-lana que, em 1535, penetrando pela foz do rio Orinoco esubindo-o, descreve que numa nica viagem, em meio deum incrvel emaranhado de rios e auentes amaznicos,teria encontrado o rio Cachequerique, rarssima e inco-mum captura uvial que une o rio Orinoco aos rios Negroe Amazonas.

    3.4 Administrao colonial

    3.4.1 Capitanias do Mar (1516-1532)

    A administrao das terras ultramarinas, que a princ-pio foi arrendada a Ferno de Noronha, agente da CasaFugger (1503-1511), cou a cargo direto da Coroa, queno conseguia conter as freqentes incurses de france-ses na nova terra. Por isso, em 1516, D. Manuel I e seuConselho criam nos Aores e na Madeira as chamadascapitanias do mar, por analogia com as estabelecidasno Oceano ndico. O objetivo fundamental era garantiro monoplio da navegao e a poltica do mare clausum(mar fechado). De dois em dois anos, o capito do marpartia com navios para realizar um cruzeiro de inspeono litoral, defendendo-o das incurses francesas ou cas-telhanas. No Brasil, teriam visitado quatro armadas.As armadas de Jacques assinaram-se com insistncia norio da Prata. Tambm em 1516 ocorre a primeira tenta-tiva de colonizao metdica e aproveitamento da terracom base na plantao da cana (levada de Cabo Verde) ena fabricao do acar. J devia ter havido algumas ten-tativas de capitanias e estabelecimentos em terra, pois em15 de julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou PedroCapico,[32] capito de uma capitania do Brasil, a re-gressar a Portugal porque lhe era acabado o tempo desua capitania. Talvez Jacques tenha ido buscar Capicoem Porto Seguro, pois a ele era justamente atribuda afundao de uma feitoria no local, muito antes de ser do-ada como capitania a Pero do Campo Tourinho. Outrascapitanias incipientes podem ter existido pelo menos emPernambuco, Porto Seguro, Rio de Janeiro e So Vicente.Roberto Simonsen (em Histria Econmica do Brasil,pg.120) comenta:Joo Ribeiro (em Histria do Brasil) diz que

  • 3.4 Administrao colonial 7

    3.4.2 Capitanias hereditrias (1532-1549)

    As capitanias hereditrias

    A apatia s iria cessar quando D. Joo III ascendeu aotrono. Na dcada de 1530, Portugal comeava a perder ahegemonia do comrcio na frica Ocidental e no ndico.Circulavam insistentes notcias da descoberta de ouro ede prata na Amrica Espanhola. Ento, em 1532, o reidecidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, masnum sistema hereditrio, pelo qual a explorao passariaa ser direito de famlia. O capito e governador, ttu-los concedidos ao donatrio, teria amplos poderes, den-tre os quais o de fundar povoamentos (vilas e cidades),conceder sesmarias e administrar a justia. O sistemade capitanias hereditrias implicava na diviso de terrasvastssimas, doadas a capites-donatrios que seriam res-ponsveis por seu controle e desenvolvimento, e por arcarcom as despesas de colonizao. Foram doadas aos quepossussem condies nanceiras para custear a empresada colonizao, e estes eram principalmente membrosda burocracia estatal e militares e navegadores ligados conquista da ndia (segundo Eduardo Bueno em Hist-ria de Brasil). De acordo com omesmo autor, a sugestoteria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia,[33] ilustre hu-manista portugus, e respondia a uma absoluta falta deinteresse da alta nobreza lusitana nas terras americanas.Foram criadas, nesta diviso, quinze faixas longitudinaisde diferentes larguras que iam de acidentes geogrcosno litoral at o Meridiano das Tordesilhas,[nota 1] e foramoferecidas a doze donatrios. Destes, quatro nunca fo-ram ao Brasil; trs faleceram pouco depois; trs retor-

    naram a Portugal; um foi preso por heresia (Tourinho) eapenas dois se dedicam colonizao (Duarte Coelho naCapitania de Pernambuco e Martim Afonso de Sousa naCapitania de So Vicente).Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias dePernambuco e de So Vicente prosperaram. As terrasbrasileiras cavam a dois meses de viagem de Portugal.Alm disso, as notcias das novas terras no eram muitoanimadoras: na viagem, alm domedo de monstros quehabitariam o oceano (na superstio europia), tempesta-des eram freqentes; nas novas terras, orestas gigantes-cas e impenetrveis, povos antropfagos e no havia ne-nhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, che-gou o donatrio da capitania da Baa de Todos os San-tos, Francisco Pereira Coutinho, que fundou o Arraialdo Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se reve-lou mau administrador e foi morto pelos tupinambs.[34]Tampouco tiverammaior sucesso as capitanias dos Ilhuse do Esprito Santo, devastadas por aimors e tupiniquins.

    3.4.3 Governo-Geral (1549-1580)

    Tom de Sousa.

    Tom de Sousa Aps o fracasso do projeto decapitanias, o rei Joo III unicou as capitanias sobum Governo-Geral do Brasil e em 7 de janeiro de1549 nomeou Tom de Sousa para assumir o cargo degovernador-geral. A expedio do primeiro governadorchegou ao Brasil em 29 de maro do mesmo ano, com or-dens para fundar uma cidade para abrigar a sede da admi-nistrao colonial. O local escolhido foi a Baa de Todosos Santos e a cidade foi chamada de So Salvador da Baa

  • 8 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    de Todos os Santos. As condies favorveis da terra, oclima quente, o solo frtil, a excelente posio geogrca,zeram com que o rei decidisse reverter a capitania paraa Coroa (expropriando-a do donatrio Pereira Coutinho).As tarefas de Tom de Sousa eram tornar efetiva a guardada costa, auxiliar os donatrios, organizar a ordem pol-tica e jurdica na colnia. O governador organizou a vidamunicipal, e sobretudo a produo aucareira: distribuiuterras e mandou abrir estradas, alm de fazer construirum estaleiro.Desse modo, o Governo-Geral centralizou a adminis-trao colonial, subordinando as capitanias a um sgovernador-geral que tornasse mais rpido o processode colonizao. Em 1548, elaborou-se o Regimento doGovernador-Geral,[35] que regulamentava o trabalho dogovernador e de seus principais auxiliares - o ouvidor-mor (Justia), o provedor-mor (Fazenda) e o capito-mor(Defesa).[36] O governador tambm levou ao Brasil osprimeiros missionrios catlicos, da ordem dos jesutas,como o padre Manuel da Nbrega. Por ordens suas,ainda, foram introduzidas na colnia as primeiras cabeasde gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao che-gar Bahia, Tom de Sousa encontrou o velho Arraialdo Pereira com seus moradores, e mudaram o nome dolocal para Vila Velha. Tambm moravam nos arredo-res o nufrago Diogo lvares Caramuru e sua esposaParaguau (batizada como Catarina), perto da capela deNossa Senhora das Graas (hoje o bairro da Graa, emSalvador). Consta que Tom de Sousa teria pessoalmenteajudado a construir as casas e a carregar pedras e madei-ras para construo da capela de Nossa Senhora da Con-ceio da Praia, uma das primeiras igrejas erguidas noBrasil. Tom de Souza visitou as capitanias do sul doBrasil, e, em 1553, criou a Vila de Santo Andr da Bordado Campo, transferida em 1560 para o Ptio do Colgiodando origem cidade de So Paulo.

    Duarte da Costa Em 1553, a pedidos, Tom de Sousafoi exonerado do cargo e substitudo por Duarte da Costa,dalgo e senador nas Cortes de Lisboa. Em sua expedioforam tambm 260 pessoas, incluindo seu lho, lvaroda Costa, e o ento novio Jos de Anchieta, jesuta bascoque seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos.A administrao de Duarte foi conturbada. J de incio, ainteno de lvaro em escravizar os indgenas, incluindoos catequizados, esbarrou na impertinncia de Dom PeroFernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. O gover-nador interveio a favor do lho e autorizou a captura deindgenas para uso em trabalho escravo. Disposto a le-var as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinhapartiu para Lisboa em 1556 mas naufragou na costa deAlagoas e acabou devorado pelos caets antropfagos.Durante o governo de Duarte da Costa, uma expediode protestantes franceses se instalou permanentemente naGuanabara e fundou a colnia da Frana Antrtica. Ul-trajada, a Cmara Municipal da Bahia apelou Coroapela substituio do governador. Em 1556, Duarte foi

    Esquema do ataque deMem de S aos franceses na baa de Gua-nabara, em 1560. Autoria desconhecida, 1567.

    exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviadoMem de S, com a misso de retomar a posse portuguesado litoral sul.

    Mem de S O terceiro Governador-Geral, Mem de S(1558-1572), deu continuidade poltica de concessode sesmarias aos colonos e montou ele prprio um enge-nho, s margens do rio Sergipe, que mais tarde viria apertencer ao conde de Linhares (Engenho de Sergipe doConde). Para enfrentar os colonos franceses estabeleci-dos na Frana Antrtica, aliados aos tamoios na baa deGuanabara, Mem de S aliou-se aos Temimins do caci-que Arariboia. O seu sobrinho, Estcio de S, comandoua retomada da regio e fundou a cidade do Rio de Janeiroa 20 de Janeiro de 1565, dia de So Sebastio.

    3.4.4 Unio Ibrica (1580-1640)

    Ilustrao de uma bandeira por Almeida Jnior: Estudo p/ Par-tida da Mono, 1897. Acervo Artstico-Cultural dos Palciosdo Governo do Estado de S. Paulo.

    Com o desaparecimento de D.Sebastio e posteriormentea morte de D. Henrique I, Portugal cou sob unio pes-

  • 3.5 Invaso holandesa (1630-1654) 9

    soal com a Espanha, e foi governada pelos trs reis Filipes(Filipe II, Filipe III e Filipe IV, dos quais se subtrai umnmero quando referentes a Portugal e ao Brasil). Issovirtualmente acabou com a linha divisria do meridianodas Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse parao oeste.Vrias expedies exploratrias do interior (chamado de"os sertes") foram organizadas, fosse sob ordens diretasda Coroa ("entradas") ou por caadores de escravos pau-listas ("bandeiras", donde o nome "bandeirantes"). Es-tas expedies duravam anos e tinham o objetivo princi-palmente de capturar ndios como escravos e encontrarpedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata.Foram bandeirantes famosos, entre outros, Ferno DiasPaes Leme, Bartolomeu Bueno da Silva (Anhanguera),Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Borba Gato eAntnio Azevedo.A Unio Ibrica tambm colocou o Brasil em conitocom potncias europias que eram amigas de Portugalmas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda.Esta ltima atacou e invadiu extensas faixas do litoral nor-destino, xando-se principalmente em Pernambuco e naParaba por vinte e cinco anos.

    3.4.5 Estado do Maranho e Estado do Brasil(1621-1755)

    Das mudanas administrativas durante o domnio espa-nhol, a mais importante sucedeu em 1621, com a divi-so da colnia em duas administraes independentes: oEstado do Brasil, que abrangia de Pernambuco atualSanta Catarina, e o Estado do Maranho, do atual Cear Amaznia. A razo se baseava no destacado papel as-sumido pelo Maranho como ponto de apoio e de partidapara a colonizao do norte e nordeste. O Maranho ti-nha por capital So Lus, e o Estado do Brasil sua capitalem Salvador. Nestes dois estados, os sditos eram cida-dos portugueses (chamados de portugueses do Brasil)e sujeitos aos mesmos direitos e deveres, e as mesmas leisas quais estavam submetidos os residentes em Portugal,entre elas, as Ordenaes manuelinas e as Ordenaes -lipinas.Quando o rei Filipe III (IV da Espanha) separou o Bra-sil e o Maranho, passaram a existir trs capitanias reais:Maranho, Cear e Gro-Par, e seis capitanias heredi-trias. Em 1737, com sua sede transferida para Belm, oMaranho passou a ser chamado deGro-Par e Mara-nho. Tal instalao era efeito do isolamento do extremonorte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos im-pedia durante meses as comunicaes entre So Lus e aBahia. No sculo XVII, o Estado do Brasil se estendia doatual Par at o Rio Grande do Norte e deste at SantaCatarina, e no sculo XVIII j estariam incorporados oRio Grande de So Pedro, atual Rio Grande do Sul e asregies mineiras e parte da Amaznia. O Estado do Ma-ranho foi extinto na poca de Marqus de Pombal.

    3.5 Invaso holandesa (1630-1654)

    Gravura neerlandesa mostrando o cerco a Olinda, Pernambuco,em 1630. Os holandeses saquearam e queimaram diversas cons-trues em Olinda, inclusive as igrejas.[37]

    A invaso holandesa no Nordeste brasileiro foi um im-portante captulo da Guerra Luso-Holandesa. Em 1630,a Capitania de Pernambuco foi invadida pela Companhiadas ndias Ocidentais. Por ocasio da Unio Ibrica(1580 a 1640) a ento chamada Repblica Holandesa, an-tes dominados pela Espanha tendo depois conseguido suaindependncia atravs da fora, veem em Pernambuco aoportunidade para impor um duro golpe na Espanha, aomesmo tempo em que tirariam o prejuzo do fracasso naBahia, uma vez que Pernambuco era a mais rica capitaniada colnia.Em 26 de dezembro de 1629 partia de So Vicente, CaboVerde, uma esquadra com 66 embarcaes e 7.280 ho-mens em direo a Pernambuco. Os holandeses, desem-barcando na praia de Pau Amarelo, conquistam a capita-nia de Pernambuco em fevereiro de 1630 e estabelecema colnia Nova Holanda. A frgil resistncia portuguesana passagem do Rio Doce, invadiu sem grandes contra-tempos Olinda e derrotou a pequena, porm aguerrida,guarnio do forte (que depois passaria a ser chamado deBrum), porta de entrada para o Recife atravs do istmoque ligava as duas cidades.O conde Maurcio de Nassau desembarcou na NieuwHolland, a Nova Holanda, em 1637, acompanhado poruma equipe de arquitetos e engenheiros. Nesse ponto co-mea a construo de Mauritsstad (atual Recife), que foidotada de pontes, diques e canais para vencer as condi-es geogrcas locais. O arquiteto Pieter Post foi o res-ponsvel pelo traado da nova cidade e de edifcios comoo palcio de Freeburg, sede do poder de Nassau na NovaHolanda, e do prdio do observatrio astronmico, tidocomo o primeiro do Novo Mundo. Em 28 de fevereirode 1644 o Recife (atualmente o Bairro do Recife) foi li-gado Cidade Maurcia com a construo da primeiraponte da Amrica Latina. Durante o governo de Nas-sau, Recife foi considerada a mais cosmopolita cidade das

  • 10 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    Johann Moritz von Nassau-Siegen.

    Amricas, e tinha a maior comunidade judaica de todo ocontinente, que construiu, poca, a primeira sinagoga doNovo Mundo, a Kahal Zur Israel, bem como a segunda,a Maguen Abraham.[38][39] No Palcio de Friburgo, sededo poder de Nassau na Nova Holanda, foi construdo oprimeiro observatrio astronmico do Continente Ame-ricano.[40][41]

    Recife foi a mais cosmopolita cidade das Amricas durante o go-verno do conde alemo (a servio da coroa holandesa) Maurciode Nassau.[42]

    Por diversos motivos, sendo um dos mais importantes aexonerao de Maurcio de Nassau do governo da ca-pitania pela Companhia Holandesa das ndias Ociden-tais, o povo de Pernambuco se rebelou contra o governo,juntando-se fraca resistncia ainda existente, num mo-vimento denominado Insurreio Pernambucana.

    A Kahal Zur Israel, no Recife, foi a primeira sinagoga dasAmricas.[43]

    Com a chegada gradativa de reforos portugueses, os ho-landeses por m foram expulsos em 1654, na segundaBatalha dos Guararapes. Foi nesta ocasio que se diz ternascido o Exrcito brasileiro.Com a colnia holandesa tomada pelos portugueses, osjudeus receberam um prazo de trs meses para partir ouse converter ao catolicismo. Com medo da fogueira daInquisio, quase todos venderam o que tinham e deixa-ram o Recife em 16 navios. Parte da comunidade ju-daica expulsa de Pernambuco fugiu para Amsterd, e ou-tra parte se estabeleceu em Nova York. Atravs desteltimo grupo a Ilha de Manhattan, atual centro nanceirodos Estados Unidos, conheceu grande desenvolvimentoeconmico; e descendentes de judeus egressos do Re-cife tiveram participao ativa na histria estadunidense:Gershom Mendes Seixas, aliado de George Washingtonna Guerra de Independncia dos Estados Unidos; seu -lho Benjamin Mendes Seixas, fundador da Bolsa de Va-lores de Nova York; Benjamin Cardozo, juiz da SupremaCorte dos Estados Unidos ligado a Franklin Roosevelt;entre outros.[44][45][46]

    Aps a expulso holandesa, o estado passou a declinarjunto com restante do Nordeste, devido transfernciado centro poltico-econmico para o Sudeste, o que re-sultou em conitos como a Revoluo Pernambucana e aConfederao do Equador, movimentos separatistas per-

  • 3.7 Economia colonial 11

    nambucanos.A qualidade do acar renado holands, agora produ-zido nas Antilhas, superior ao mascavo brasileiro, tam-bm ajudou a acelerar a decadncia do estado, que erabaseado nos latifndios de cultivo de cana-de-acar.Buscando novos meios de renda, aumenta o comrcio noestado gradativamente. Este efeito foi estopim de revoltascomo a Guerra dos Mascates.

    3.6 Insurreio Pernambucana (1645-1654)

    As Batalhas dos Guararapes, episdios decisivos na InsurreioPernambucana, so consideradas a origem do Exrcito Brasi-leiro.

    Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de SoJoo, 18 lderes insurretos pernambucanos assinaramcompromisso para lutar contra o domnio holands na ca-pitania. Com o acordo assinado, comea o contra-ataque invaso holandesa. A primeira vitria importante dosinsurretos se deu no Monte das Tabocas, (hoje localizadano municpio de Vitria de Santo Anto) onde 1200 in-surretos mazombos armados de armas de fogo, foices,paus e echas derrotaram numa emboscada 1900 holan-deses bem armados e bem treinados.O sucesso deu ao lder Antnio Dias Cardoso o apelidodeMestre das Emboscadas. Os holandeses que sobrevive-ram seguiram para Casa Forte, sendo novamente derro-tado pela aliana dosmazombos, ndios nativos e escravosnegros. Recuaram novamente para as casas-forte emCabo de Santo Agostinho, Pontal de Nazar, Sirinham,Rio Formoso, Porto Calvo e Forte Maurcio, sendo su-cessivamente derrotados pelos insurretos.Por m, Olinda foi recuperada pelos rebeldes.Cercados e isolados pelos rebeldes numa faixa que -cou conhecida como Nova Holanda, indo do Recife aItamarac, os invasores comearam a sofrer com a faltade alimentos, o que os levou a atacar plantaes demandioca nas vilas de So Loureno, Catuma e Tejucu-papo.Em 24 de abril de 1646, ocorreu a famosa Batalha de Te-jucupapo, onde mulheres camponesas armadas de uten-slios agrcolas e armas leves expulsaram os invasores ho-

    Joo Fernandes Vieira.

    landeses, humilhando-os denitivamente. Esse fato his-trico consolidou-se como a primeira importante partici-pao militar da mulher na defesa do territrio brasileiro.Devido a Primeira Guerra Anglo-Neerlandesa, a Rep-blica Holandesa no pde auxiliar os holandeses no Bra-sil. Com o m da guerra contra os ingleses, a Rep-blica Holandesa exige a devoluo da colnia em maiode 1654. Sob ameaa de uma nova invaso do Nordestebrasileiro, Portugal cede exigncia dos holandeses quePortugal pague 4 milhes cruzados para Repblica Ho-landesa entre um perodo de 16 anos. Porm, em 6 deagosto de 1661 a Repblica Holandesa cede formalmenteo Nordeste brasileiro Portugal atravs da Paz de Haia.

    3.7 Economia colonial

    A economia da colnia, iniciada com o puro extrativismode pau-brasil e o escambo entre os colonos e os ndios Pernambuco era o local demaior incidncia de pau-brasil,e de uma qualidade to superior que regulava o preo nocomrcio europeu[47] , gradualmente passou produ-o local, com os cultivos da cana-de-acar e do cacau.O engenho de acar (manufatura do ciclo de produoaucareiro) constituiu a pea principal do mercantilismoportugus, organizadas em grandes propriedades. Estas,como se chamou mais tarde, eram latifndios, caracte-rizados por terras extensas, abundante mo-de-obra es-crava, tcnicas complexas e baixa produtividade.Para sustentar a produo de cana-de-acar, os portu-

  • 12 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    Navio negreiro ilustrando o livroVoyage pittoresque dans le Br-sil, 1835, de Rugendas.

    gueses comearam, a partir de meados do sculo XVI,a importar africanos como escravos. Eles eram pessoascapturadas entre tribos das feitorias europias na frica(s vezes com a conivncia de chefes locais de tribos ri-vais) e atravessados no Atlntico nos navios negreiros, empssimas condies de asseio e sade. Ao chegarem Amrica, essas pessoas eram comercializadas como mer-cadoria e obrigados a trabalhar nas plantaes e casas doscolonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionadosem galpes rsticos chamados de senzalas, e seus lhostambm eram escravizados, perpetuando a situao pelasgeraes seguintes.Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam prin-cipalmente armas de fogo, tecidos, utenslios de ferro,aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, mar-m e outros produtos.At meados do sculo XVI, os portugueses possuam omonoplio do trco de escravos. Depois disso, merca-dores franceses, holandeses e ingleses tambm entraramno negcio, enfraquecendo a participao portuguesa.Em 1549, Pernambuco j possua trinta engenhos-bangu, a Bahia, dezoito, e So Vicente, dois. A lavourada cana-de-acar era prspera e, meio sculo depois, adistribuio dos engenhos de acar perfazia um total de256.[48]

    Houve engenhos ainda nas capitanias de So Vicente e doRio de Janeiro que cobriam cem lguas e couberam am-bas a Martim Afonso de Sousa. Este receberia o apoiode Joo Ramalho e de seu sogro Tibiri. No Rio, funci-onava o engenho de Rodrigo de Freitas, nas margens dalagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar o sculo XVII,o acar brasileiro era produto de importao nos por-tos de Lisboa, Anturpia, Amsterd, Roterd, Hamburgo.Sua produo, muito superior das ilhas portuguesas noAtlntico, supria quase toda a Europa. Gabriel Soares deSousa, em 1548, comentava o luxo reinante na Bahia eo padre Ferno Cardim exaltava suas capelas magncas,os objetos de prata, as lautas refeies em loua da ndia,que servia de lastro nos navios: Parecem uns condes egastam muito, reclamava o padre.Em meados do sculo XVII, o acar produzido nas

    Tpico engenho de cana-de-acar.

    Antilhas Holandesas comeou a concorrer fortemente naEuropa com o acar do Brasil. Os holandeses tinhamaperfeioado a tcnica, com a experincia adquirida noBrasil, e contavam com um desenvolvido esquema detransporte e distribuio do acar em toda a Europa.Portugal foi obrigado a recorrer Inglaterra e assinar di-versos tratados que afetariam a economia da colnia. Em1642, Portugal concedeu Inglaterra a posio de naomais favorecida e os comerciantes ingleses passaram ater maior acesso ao comrcio colonial. Em 1654 Portu-gal aumentou os direitos ingleses; mas poderiam nego-ciar diretamente vrios produtos do Brasil com Portugale vice-versa, excetuando-se alguns produtos como baca-lhau, vinho, pau-brasil). Em 1661 a Inglaterra se com-prometeu a defender Portugal e suas colnias em troca dedois milhes de cruzados, obtendo ainda as possesses deTnger e Bombaim. Em 1703 Portugal se comprometeua admitir no reino os panos dos lanifcios ingleses, e a In-glaterra, em troca, a comprar vinhos portugueses. Datada poca o famosssimo Tratado de Methuen, do nomede seu negociador ingls, ou tratado dos Panos e Vinhos.Na poca, satisfazia os interesses dos grupos dominantesmas teria como conseqncia a paralisao da industria-lizao em Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouroque acabava de ser descoberto no Brasil.No nordeste brasileiro se encontrava a pecuria, to im-portante para o domnio do interior, j que eram proibi-dos rebanhos de gado nas fazendas litorneas, cuja terrademassap era ideal para o acar. Estuda-se bem o a-car no item dedicado invaso holandesa.A conquista do serto, povoado por diversos gruposindgenas foi lenta e se deveu muito pecuria (o gadoavanou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde,s expedies dos Bandeirantes que vinham prear ndiospara levar para So Paulo.

    3.8 O Ciclo do Ouro

    No nal do sculo XVII foi descoberto, pelosbandeirantes paulistas, ouro nos ribeiros das terrasque pertenciam capitania de So Paulo e mais tarde

  • 3.9 A Sociedade Mineradora e as Camadas Mdias 13

    Formao do estado brasileiro (em verde escuro) e dos pasessul-americanos desde 1700.

    Carlos Julio: Minerao de diamantes, Minas Gerais, c. 1770.

    caram conhecidas como Minas Gerais. Descobriram-sedepois, no nal da dcada de 1720, diamante e outras

    gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nosribeires, que passou a ser mais penosamente buscadoem veios dentro da terra. Apareceram metais preci-osos em Gois e no Mato Grosso, no sculo XVIII.A Coroa cobrava, como tributo, um quinto de todo ominrio extrado, o que passou a ser conhecido comoo quinto". Os desvios e o trco de ouro, no entanto,eram freqentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu todauma burocracia e mecanimos de controle.[49] Quando asoma de impostos pagos no atingia uma cota mnimaestabelecida, os colonos deveriam entregar jias e benspessoais at completar o valor estipulado episdioschamados de derramas.O perodo que cou conhecido como Ciclo do Ouro iriapermitir a criao de um mercado interno, j que haviademanda por todo tipo de produtos para o povoamentodas Minas Gerais. Era preciso levar, Serra da Manti-queira acima, escravos e ferramentas, ou, rio So Fran-cisco abaixo, os rebanhos de gado para alimentar a ver-dadeira multido que para l acorreu. A populao deMinas Gerais rapidamente se tornou a maior do Brasil,sendo a nica capitania do interior do Brasil com grandepopulao. A essa poca maioria da populao de Mi-nas Gerais , aproximadamente 78%, era formada por ne-gros e mestios. A populao branca era formada emgrande parte por cristos-novos vindos do norte de Por-tugal e das Ilhas dos Aores e Madeira. Os cristos novosforam muito importantes no comrcio colonial e se con-centraram especialmente nos povoados em volta de OuroPreto e Mariana. Ao contrrio do que se pensava na Ca-pitania do Ouro a riqueza no era mais bem distribudado que em outras partes do Brasil. Hoje se sabe que fo-ram poucos os beneciados no solo mais rico da Amricano sculo XVIII.As condies de vida dos escravizados na regio mineiraeram particularmente difceis. Eles trabalhavam o dia in-teiro em p, com as costas curvadas e com as pernas mer-gulhadas na gua. Ou ento em tneis cavados nos mor-ros, onde era comum ocorrerem desabamentos e mortes.Os negros escravizados no realizavam apenas tarefas li-gadas minerao. Tambm transportavam mercadoriase pessoas, construam estradas, casas e chafarizes, comer-ciavam pelas ruas e lavras. Alguns proprietrios aluga-vam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadoreseram chamados de escravos de aluguel. Outro tipo deescravo era o escravo de ganho, por exemplo, as mu-lheres que vendiam doces e salgados em tabuleiros pelasruas. Foi relativamente comum este tipo de escravo con-seguir formar um peclio, que empregava na compra desua liberdade, pagando ao senhor por sua alforria.

    3.9 A Sociedade Mineradora e as Cama-das Mdias

    O Brasil passou por sensveis transformaes em fun-o da minerao. Um novo plo econmico cresceu

  • 14 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    no Sudeste, relaes comerciais inter-regionais se desen-volveram, criando um mercado interno e fazendo surgiruma vida social essencialmente urbana. A camada m-dia, composta por padres, burocratas, artesos, militares,mascates e faisqueiros, ocupou espao na sociedade.A populao mineira, salvo nos principais centros VilaRica, Mariana, Sabar, Serro e Caet, era essencialmentepobre. O custo de vida altssimo e a falta de gneros ali-mentcios uma constante.

    Cidade de Mariana, Minas Gerais.

    As minas propiciaram uma diversicao relativa dosservios e ofcios, tais como comerciantes, artesos,advogados, mdicos, mestre-escolas entre outros. No en-tanto foi intensamente escravagista, desenvolvendo a so-ciedade urbana s custas da explorao da mo de obraescrava. A minerao tambm provocou o aumento docontrole do comrcio de escravos para evitar o esvazia-mento da fora de trabalho das lavouras, j que os es-cravos eram os nicos que trabalhavam. Os escravosmais hbeis para a minerao eram os Minas trazidosda Costa ocidental africana, onde eram mineradores deouro, e sados do porto de Elmina, em Gana, onde ca-vam no Castelo de So Jorge da Mina. Foi muito comuma fuga de escravos e a formao de muitos quilombos emMinas Gerais, sendo o mais importante foi o "Quilombodo Ambrsio".Tambm foi responsvel pela tentativa de escravizaodos ndios, atravs das bandeiras, que com intuito deabastecer a regio centro-sul promoveu a interiorizaodo Brasil.Apesar demodicar a estrutura econmica, manteve a es-trutura de trabalho vigente, beneciando apenas os ricose os homens livres que compunham a camadamdia. Ou-tro fator negativo foi a falta de desenvolvimento de tecno-logias que permitissem a explorao de minas em maiorprofundidade, o que estenderia o perodo de explorao(e consequentemente mais ouro para Portugal).Assim, o eixo econmico e poltico se deslocou para ocentro-sul da colnia e o Rio de Janeiro tornou-se sedeadministrativa, alm de ser o porto por onde as frotas dorei de Portugal iam recolher os impostos. A cidade foidescrita pelo padre Jos de Anchieta como a rainha dasprovncias e o emprio das riquezas do mundo, e por

    sculos foi a capital do Brasil.

    3.10 Invases estrangeiras e conitos colo-niais

    Amador Bueno aclamado Rei do Brasil em 1641

    O incio da colonizao portuguesa no territrio brasi-leiro foi a primeira invaso estrangeira da histria do pas,ento denominado pelos nativos tupis como Pindorama,que signica Terra das Palmeiras. A resposta ime-diata foi de longos embates, entre eles a Guerra dosBrbaros. Houve ainda disputas com os franceses, quetentavam se implantar na Amrica pela pirataria e pelocomrcio do Pau-Brasil, chegando a criar uma guerraluso-francesa. Tudo isso culminou com a expulso dosfranceses trazidos por Nicolas Durand de Villegagnon,que haviam construdo Forte Coligny no Rio de Janeiro,estabelecendo-se em denitivo a hegemonia portuguesa.A poca colonial foi marcada por vrios conitos, tantoentre portugueses e outros europeus, e europeus contranativos, como entre os prprios colonos. O maior de-les, sem dvida, foi a Guerra contra os Holandeses (ouGuerras Holandesas, de 1630 a 1647, na Bahia, Sergipe,Alagoas, Pernambuco, Paraba, Rio Grande do Norte eCear.A insatisfao com a administrao colonial provocou aRevolta de Amador Bueno em So Paulo e, noMaranho,a Revolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios queaportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelida-dos emboabas porque andavam calados contra a mai-oria da populao, que andava descala. Contra eles selevantaram os paulistas, nas refregas do incio do sculoXVIII que cariam conhecidas como Guerra dos Embo-abas e paulistas e ensanguentaram o rio que at hoje sechama Rio das Mortes.Em Pernambuco, a disputa poltica e econmica entremercadores e canavieiros, aps a expulso dos holande-ses, levou Guerra dosMascates. Os escravos negros quefugiam das fazendas se refugiavam nas serras do agrestenordestino e l fundavam quilombos, dos quais omais im-

  • 3.12 Conjurao Baiana 15

    portante foi o de Palmares, liderado por Ganga Zumba eseu sobrinho Zumbi. A campanha para destru-lo foi aGuerra de Palmares (1693-1695).[50]

    No sul, a tentativa de escravizar indgenas levou a con-frontos com osmissionrios jesutas, organizados nas re-dues (misses) de catequese com os guaranis. AsGuerras Guaranticas duraram, intermitentemente, de1750 a 1757.J com o Ciclo do Ouro, a capitania de Minas Gerais so-freu a Revolta de Filipe dos Santos e a Incondncia Mi-neira (1789), seguida pela Conjurao Baiana em Salva-dor dez anos mais tarde. Esses dois grandes movimentoscaram marcados por terem a inteno de proclamar aindependncia.

    3.11 Incondncia Mineira

    Martrio de Tiradentes, quadro de Francisco Aurlio de Figuei-redo e Melo (1893).

    A Incondncia Mineira foi um movimento que partiuda elite de Minas Gerais. Com a decadncia da mine-rao na segunda metade do sculo XVIII, tornou-se di-fcil pagar os impostos exigidos pela Coroa Portuguesa.Alm do mais, o governo portugus pretendia promulgara derrama, um imposto que exigia que toda a populao,inclusive quem no fosse minerador, contribusse com aarrecadao de 20% do valor do ouro retirado. Os colo-nos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal.

    Em Vila Rica (atual Ouro Preto), participavam do grupo,entre outros, os poetas Cludio Manuel da Costa e TomsAntnio Gonzaga, os coronis Domingos de Abreu Vieirae Francisco Antnio de Oliveira Lopes, o padre Rolim,o cnego Lus Vieira da Silva, o minerador Incio Josde Alvarenga Peixoto e alferes Joaquim Jos da Silva Xa-vier, apelidado Tiradentes. A conspirao pretendia eli-minar a dominao portuguesa e criar um pas livre.[3]Pela lei portuguesa a conspirao foi classicada comocrime de lesa-majestade, denida como uma traiocontra a pessoa do rei nas ordenaes afonsinas.A forma de governo escolhida foi o estabelecimentode uma Repblica, inspirados pelas idias iluministasda Frana e da recente independncia norte-americana.Trados por Joaquim Silvrio dos Reis, que delatou osincondentes para o governo, os lderes do movimentoforam detidos e enviados para o Rio de Janeiro, onderesponderam pelo crime de incondncia (falta de de-lidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em 21 deabril de 1792, Tiradentes, de mais baixa condio social,foi o nico condenado morte por enforcamento. Sua ca-bea foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi es-quartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais.Era o cruel exemplo que cava para qualquer outra tenta-tiva de questionar o poder de Portugal. Apesar de consi-derada cruel hoje o enforcamento e esquartejamento docorpo, no contexto da poca a pena foi menos cruel quea pena aplicada, naquela mesma poca, famlia Tvora,no Caso Tvora, por igual crime de lesa-majestade, foicondenao fogueira.O crime de lesa-majestade era o mais grave dos regimesmonarquistas absolutistas e era denido pelas ordenaeslipinas, como traio contra o rei. Crime este compa-rado hansenase pelas Ordenaes lipinas, no livro V,item 6:Lesa-majestade quer dizer traio cometida contra a pes-soa do Rei, ou seu Real Estado, que to grave e abomin-vel crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam,que o comparavam lepra; porque assim como esta en-fermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se podercurar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, eaos que ele conversam, pelo que apartado da comuni-cao da gente: assim o erro de traio condena o que acomete, e empece e infama os que de sua linha descendem,posto que no tenham culpa.[51]

    O caso especco de crime de lesa-majestade praticadopelos incondentes foi o caso nmero 5, previsto nas or-denaes lipinas, que diz: Se algum zesse conselho econfederao contra o rei e seu estado ou tratasse de selevantar contra ele, ou para isso desse ajuda, conselho efavor.

    3.12 Conjurao BaianaA Conjurao Baiana foi um movimento que partiu dacamada humilde da sociedade da Bahia, com grande par-

  • 16 3 PERODO COLONIAL (1500-1815)

    ticipao de negros, mulatos e alfaiates, por isso tambm conhecida como Revolta dos Alfaiates. Os revoltosospregavam a libertao dos escravos, a instaurao de umgoverno igualitrio (onde as pessoas fossem promovidasde acordo com a capacidade e merecimento individuais),alm da instalao de uma Repblica na Bahia. Em 12 deAgosto de 1798, o movimento precipitou-se quando al-guns de seus membros, distribuindo os panetos na portadas igrejas e colando-os nas esquinas da cidade, alertaramas autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Talcomo na Incondncia Mineira, interrogados, acabaramdelatando os demais envolvidos. Centenas de pessoas fo-ram denunciadas - militares, clrigos, funcionrios p-blicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, 49foram detidas, a maioria tendo procurado abjurar a suaparticipao, buscando demonstrar inocncia. Mais de30 foram presos e processados. Quatro participantes fo-ram condenados forca e os restos de seus corpos foramespalhados pela Bahia para assustar a populao.

    3.13 Principado do BrasilO Principado do Brasil durou entre 1645 a 1816.Tendo sido o Brasil uma colnia do Imprio Portugus,careceu de bandeira prpria por mais de trezentos anos.No era costume, na tradio vexilolgica lusitana, a cria-o de bandeiras para suas colnias, quando muito de umbraso. Hasteava-se no territrio a bandeira do reino, oudo representante direto do monarca, como o governador-geral ou o vice-rei. Ainda que no seja considerada umabandeira brasileira, visto que seu uso era exclusivo aosherdeiros aparentes do trono portugus, o pavilho dosprncipes do Brasil pode ser tido como a primeira repre-sentao amular do Brasil. Sobre campo branco correlacionada monarquia inscreve-se uma esfera armi-lar objeto que viria a ser, por muito tempo, o smbolodo Brasil. J no pavilho pessoal de D. Manuel I, apareceeste que foi um objeto crucial para viabilizar as explora-es martimas de Portugal.

    3.14 Mudana da Corte e Abertura dosPortos

    Em novembro de 1807, as tropas de Napoleo Bonaparteobrigaram a coroa portuguesa a procurar abrigo no Bra-sil. Dom Joo VI (ento Prncipe-Regente em nome desua me, a Rainha Maria I) chegou ao Rio de Janeiro em1808, abandonando Portugal aps uma aliana defensivafeita com a Inglaterra, que escoltou os navios portuguesesno caminho.[52]

    Os portos brasileiros foram abertos s naes amigas -designadamente, a Inglaterra).[52] A abertura dos portosse deu em 28 de janeiro de 1808 por outra carta rgia deD. Joo, inuenciado por Jos da Silva Lisboa. Foi per-mitida a importao de todos e quaisquer gneros, fa-zendas e mercadorias transportadas em navios estrangei-

    Decreto da abertura dos portos s naes amigas. Biblioteca Na-cional do Brasil.

    ros das potncias que se conservavam em paz e harmoniacom a Real Coroa ou em navios portugueses. Os gne-ros molhados (vinho, aguardente, azeite) pagariam 48%;outros mercadorias, os secos, 24% ad valorem. Podia serlevado pelos estrangeiros qualquer produto colonial, ex-ceto o pau-brasil e outros notoriamente estancados, queeram produzidos e armazenados na prpria colnia.Era efeito tambm da expanso do capital; e deve-se re-cordar a falncia dos recursos coatores portugueses e atentativa de diminuir, abrindo os portos, a total depen-dncia de Portugal da Inglaterra. No Reino, desanima-ram os que se haviam habituado aos generosos subsdios,s 100 arrobas de ouro anuais, s derramas, s tentativasde controle completo. Um autor portugus do sculo XIXcomenta que foi

    "uma revoluo no sistema comercial e aruna da indstria portuguesa; era necessria,mas cumpria modic-la apenas as circunstn-cias que a haviam ditado desaparecessem; aju-dando assim o herico Portugal em seu esforogeneroso, em vez de deixar que estancassem asfontes da prosperidade!"

    Embarque para o Brasil do Prncipe Regente de Portugal, D. JooVI, e de toda a famlia real, no Porto de Belm, s 11 horas damanh de 27 de novembro de 1807. Gravura feita por FranciscoBartolozzi (1725-1815) a partir de leo de Nicolas Delariva.

    D. Joo, sua famlia e comitiva (a Corte), distribudospor diversos navios, chegaram ao Rio de Janeiro em7 de maro de 1808. Foram acompanhados pela Bri-gada Real da Marinha, criada em Portugal em 1797, que

  • 17

    deu origem ao Corpo de Fuzileiros Navais brasileiros.Instalaram-se no Pao da Cidade, construdo em 1743pelo Conde de Bobadela como residncia dos governa-dores. Alm disso, a Coroa requisitou o Convento doCarmo e a Cadeia Velha para alojar os serviais e as me-lhores casas particulares. A expropriao era feita pelocarimbo das iniciais PR, de Prncipe-Regente, nas por-tas das casas requisitadas, o que fazia o povo, com ironia,interpretar a sigla como Ponha-se na Rua!".A abertura foi acompanhada por uma srie de melho-ramentos introduzidos no Brasil. No dia 1 de abril domesmo ano, D. Joo expediu um decreto que revogava oalvar de 5 de janeiro de 1785 pelo qual se extinguiamno Brasil as fbricas e manufaturas de ouro, prata, seda,algodo, linho e l. Depois do comrcio, chegava a liber-dade para a indstria. Em 13 de maio, novas cartas r-gias (decretos) determinaram a criao da Imprensa Na-cional e de uma Fbrica de Plvora,[53][54] que at en-to era fabricada na Fbrica da Plvora de Barcarena,[55]desde 1540. Em 12 de outubro foi fundado o Banco doBrasil para nanciar as novas iniciativas e empreitadas.Tais medidas do Prncipe fariam com que se pudesse con-tar nesta poca os primrdios da independncia do Brasil.Em represlia Frana, D. Joo ordenou ainda a invasoe anexao da Guiana Francesa, no extremo norte, e dabanda oriental do rio Uruguai, no extremo sul, j que aEspanha estava ento sob o reinado de Jos Bonaparte, ir-mo de Napoleo, e portanto era considerada inimiga. Oprimeiro territrio foi devolvido soberania francesa em1817, mas o Uruguai foi mantido incorporado ao Brasilsob o nome de Provncia Cisplatina. Em 9 de fevereirode 1810, no Rio de Janeiro, foi assinado um Tratado deAmizade e comrcio pelo Prncipe Regente com JorgeIII, rei da Inglaterra.Enquanto isso, na Espanha, os liberais, ainda acostu-mados com certa liberdade econmica imposta por Na-poleo enquanto ocupara o pas, de 1807 a 1810, serevoltaram contra os restauradores Bourbon, dinastia qual pertencia a Carlota Joaquina, esposa de D. Joo, eimpuseram-lhes a Constituio de Cdiz em 19 de marode 1812. Em reao, o rei Fernando VII, irmo de Car-lota, dissolveu as cortes em 4 de maio de 1814. A res-posta viria em 1820 com a vitria da Revoluo Liberal(ou constitucional). Por isso, D. Joo e seus ministros seocuparam das questes do Vice-Reinado do Rio da Prata,to logo puseram os ps no Rio de Janeiro, surgindo assima questo da incorporao da Cisplatina. importante lembrar que apesar de ser elevado aPrincipado em 1645, tendo sido o Brasil uma colniado Imprio Portugus, careceu de bandeira prpria pormais de trezentos anos. No era costume, na tradiovexilolgica lusitana, a criao de bandeiras para suascolnias, quando muito de um braso. Visto que seu ottulo uso era exclusivo aos herdeiros aparentes do tronoportugus, o pavilho dos prncipes do Brasil pode sertido como a primeira representao amular do Brasil.

    Sobre campo branco cor relacionada monarquia inscreve-se uma esfera armilar objeto que viria a ser,por muito tempo, o smbolo do Brasil. J no pavilhopessoal de D. Manuel I, aparece este que foi um objetocrucial para viabilizar as exploraes martimas de Por-tugal. Contudo, como Principado, no possui nenhumprivilgio administrativo, militar, econmico ou social,pois ainda era visto como uma colnia portuguesa.

    4 Reino (1815-1822)

    4.1 Elevao a Reino Unido

    Braso do Vice Reino do Brasil, de 1815.

    No contexto das negociaes do Congresso de Viena, oBrasil foi elevado condio de Reino dentro do Estadoportugus, que assumiu a designao ocial de ReinoUnido de Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezem-bro de 1815. A carta de lei foi publicada naGazeta do Riode Janeiro de 10 de janeiro de 1816, ocializando o ato.O Rio de Janeiro, por conseguinte, subia categoria deCorte e capital, as antigas capitanias passaram a ser de-nominadas provncias (hoje, os estados). No mesmo ano,a rainha Maria I morreu e D. Joo foi coroado rei comoJoo VI. Deu ao Brasil como braso-de-armas a esferamanuelina com as quinas, encontradas j no sculo ante-rior em moedas da frica portuguesa (1770).

  • 18 5 IMPRIO (1822-1889)

    4.2 Revoluo no Porto e Retorno de D.Joo VI

    D. Joo VI deixaria o Brasil em 1821. Em agosto de1820 houvera no Porto uma revoluo constituciona-lista (revoluo liberal portuguesa de 1820), movimentocom idias liberais que ganhou adeptos no reino. Emsetembro de 1820, uma Junta Provisria de Governoobrigou os portugueses a jurarem uma Constituio pro-visria, nos moldes da Constituio espanhola de C-diz, at redao de uma constituio denitiva. Em ja-neiro de 1821, em Portugal, aconteceu a solene insta-lao das Cortes Gerais, Extraordinrias e Consti-tuintes da Nao Portuguesa, encarregadas de elaborara constituio, mas sem representantes brasileiros. Emfevereiro, D. Joo VI ordenou que deputados do Brasil(bem como dos Aores, Madeira e Cabo Verde) partici-passem da assemblia.Emmaro, as Cortes emPortugal expediram decreto comas bases da constituio poltica da monarquia . No Rio,outro decreto comunicava o retorno do rei para Portugale ordenava que, sem perda de tempo, fossem realiza-das eleies dos deputados para representarem o Brasilnas Cortes Gerais convocadas em Lisboa. Chegaria emabril a Lisboa um delegado da Junta do Par, Maciel Pa-rente, que por exceo conseguiu discursar e foi o pri-meiro brasileiro a falar perante aquela Assemblia.[56] Emabril, no Rio, realizou-se a primeira assemblia de eleito-res do Brasil, que resultou em confronto commortos, poisas tropas portuguesas dissolveram a manifestao. Nodia seguinte, cariocas axaram porta do Pao um car-taz com a inscrio Aougue do Bragana, referindo-seao Rei como carniceiro. D. Joo VI partiu para Portugalcinco dias depois, em 16 de abril de 1821, deixando seuprimognito Pedro de Alcntara como Prncipe-Regentedo Brasil.Em 1821, o Brasil elegeu seus representantes em nmerode 97 entre deputados e suplentes[57] para as Constituintesem Lisboa. Em agosto de 1821, as Cortes apresentariamtrs projetos para o Brasil que irritaram os representan-tes brasileiros com medidas recolonizadoras que estes serecusavam a aceitar. Depois de Maciel Parente, o monse-nhor Francisco Moniz Tavares, deputado pernambucano,seria o primeiro brasileiro a discursar ocialmente, emvivo debate com os deputados portugueses Borges Car-neiro, Ferreira Borges e Moura, contra a remessa de maistropas para Pernambuco e a incmoda presena da nu-merosa guarnio militar portuguesa na provncia.[56]

    A separao do Brasil foi informalmente realizada em ja-neiro de 1822, quando D. Pedro declarou que iria perma-necer no Brasil ("Dia do Fico"), com as seguintes pala-vras: Como para o bem de todos e felicidade geral danao, estou pronto: diga ao povo que co. Agora s te-nho a recomendar-vos unio e tranquilidade. Porm, a se-parao do Brasil se dada no dia 7 de setembro de 1822,com o grito do Ipiranga que foi romantizado, apesar daseparao anteriormente.

    5 Imprio (1822-1889)

    5.1 Primeiro reinado

    Simplcio de S: Retrato de Dom Pedro I, c. 1826. Museu Im-perial.

    Aps a declarao da independncia, o Brasil foi gover-nado por Dom Pedro I at o ano de 1831, perodo cha-mado de Primeiro Reinado, quando abdicou em favor deseu lho, Dom Pedro II, ento com cinco anos de idade.Logo aps a independncia, e terminadas as lutas nas pro-vncias contra a resistncia portuguesa, foi necessrio ini-ciar os trabalhos da Assemblia Constituinte. Esta ha-via sido convocada antes mesmo da separao, em julhode 1822; foi instalada, entretanto, somente em maio de1823. Logo se tornou claro que a Assemblia iria votaruma constituio restringindo os poderes imperiais (ape-sar da idia centralizadora encampada por Jos Bonifcioe seu irmo Antnio Carlos de Andrada e Silva). Porm,antes que ela fosse aprovada, as tropas do exrcito cerca-ram o prdio da Assemblia, e por ordens do imperadora mesma foi dissolvida, devendo a constituio ser elabo-rada por juristas da conana de Dom Pedro I. Foi entooutorgada a constituio de 1824, que trazia uma inova-o: o Poder Moderador. Atravs dele, o imperadorpoderia scalizar os outros trs poderes.Surgiram diversas crticas ao autoritarismo imperial,e uma revolta importante aconteceu no Nordeste: aConfederao do Equador. Foi debelada, mas Dom Pe-dro I saiu muito desgastado do episdio. Outro grandedesgaste do Imperador foi por o Brasil na Guerra da Cis-platina, onde o pas no manteve o controle sobre a ento

  • 5.2 Perodo regencial 19

    regio de Cisplatina (hoje, Uruguai). Tambm apareciamos primeiros focos de descontentamento no Rio Grandedo Sul, com os farroupilhas.

    Pedro Amrico: O Grito do Ipiranga, 1888. Museu Paulista.

    Em 1831 o imperador decidiu visitar as provncias, numaltima tentativa de estabelecer a paz interna. A viagemdeveria comear por Minas Gerais; mas ali o imperadorencontrou uma recepo fria, pois acabara de ser assassi-nado Lbero Badar, um importante jornalista de oposi-o. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Dom Pedro deveriaser homenageado pelos portugueses, que preparavam-lheuma festa de apoio; mas os brasileiros, discordando dafesta, entraram em conito com os portugueses, no epi-sdio conhecido como Noite das Garrafadas.Dom Pedro tentou mais uma medida: nomeou umgabinete de ministros com suporte popular. Masdesentendeu-se com os ministros e logo depois demitiuo gabinete, substituindo-o por outro bastante impopular.Frente a uma manifestao popular que recebeu o apoiodo exrcito,no teve muita escolha, assim criou o quintopoder. Mas no deu certo a idia, e no restou nada aoimperador a no ser a renncia, no dia 7 de abril de 1831.

    5.1.1 Confederao do Equador (1824)

    Exrcito Imperial do Brasil ataca as foras confederadas noRecife, provncia de Pernambuco, 1824. A Confederao doEquador considerada o principal movimento separatista do Pe-rodo Imperial.

    A Confederao do Equador foi um movimento revolu-cionrio, de carter emancipacionista (ou autonomista)e republicano ocorrido em Pernambuco. Representou aprincipal reao contra a tendncia absolutista e a po-ltica centralizadora do governo de D. Pedro I (1822-1831), esboada na Carta Outorgada de 1824, a primeira

    Constituio do pas.O conito possui razes em movimentos anteriores na re-gio: a Guerra dos Mascates e a Revoluo Pernambu-cana, esta ltima de carter republicano.O centro irradiador e a liderana da revolta couberam provncia de Pernambuco, que j se rebelara em 1817e enfrentava diculdades econmicas. Alm da crise, aprovncia se ressentia ao pagar elevadas taxas para o Im-prio, que as justicava como necessrias para levar adi-ante as guerras provinciais ps-independncia (algumasprovncias resistiam separao de Portugal).Pernambuco esperava que a primeira Constituio do Im-prio seria do tipo federalista, e daria autonomia para asprovncias resolverem suas questes.Como punio a Pernambuco, D. Pedro I determinou,atravs de decreto de 07/07/1825, o desligamento do ex-tenso territrio da Comarca do Rio So Francisco (atualOeste Baiano), passando-o, inicialmente, para Minas Ge-rais e, depois, para a Bahia.

    5.2 Perodo regencial

    Arajo Lima, oMarqus de Olinda.

    Durante o perodo de 1831 a 1840, o Brasil foi gover-nado por diversos regentes, encarregados de administraro pas enquanto o herdeiro do trono, D. Pedro II, aindaera menor.[4] A princpio a regncia era trina, ou seja, trsgovernantes eram responsveis pela poltica brasileira, noentanto com o ato adicional de 1834, que, alm de darmais autonomia para as provncias, substituiu o cartertrplice da regncia por um governo mais centralizador.

  • 20 5 IMPRIO (1822-1889)

    O primeiro regente foi o Padre Diogo Antnio Feij , quenotabilizou-se por ser um governo de inspiraes liberais,porm, devido s presses polticas e sociais, teve querenunciar.[58] O governo de carter liberal caiu para darlugar ao do conservador Arajo Lima, que centralizou opoder em suas mos, sendo atacado veementemente pe-los liberais, que s tomaram o poder devido ao golpe damaioridade. Destacam-se neste perodo a instabilidadepoltica e a atuao do tutor Jos Bonifcio, que garantiuo trono para D. Pedro II.Teve incio neste perodo a Revoluo Farroupilha, emque os gachos revoltaram-se contra a poltica internado Imprio, e declararam a Repblica Piratini. Tam-bm neste perodo ocorreram a Cabanada, de Alagoas ePernambuco; a Cabanagem, do Par; a revolta dos Malse a Sabinada, na Bahia; e a Balaiada, no Maranho.

    5.3 Segundo reinado

    O Segundo Reinado teve incio com o Golpe da Maiori-dade (1840), que elevou D. Pedro II ao trono, antes dos18 anos, com 15 anos. A economia, que teve como baseprincipal a agricultura tornando-se o caf o principalproduto exportador do Brasil durante o reinado de Pe-dro II, em substituio cana-de-acar , apresentouuma expanso de 900%.[59] A falta de mo-de-obra, napoca chamada de "falta de braos para a lavoura", emconseqncia da libertao dos escravos foi solucionadacom a atrao de centenas de milhares de imigrantes, emsua maioria italianos, portugueses[60] e alemes.[5] O quefez o pas desenvolver uma base industrial e comear aexpandir-se para o interior.

    Dom Pedro II.

    Nesse perodo, foi construda uma ampla rede ferrovi-ria, sendo o Brasil o segundo pas latino-americano aimplantar este tipo de transporte, e, durante a Guerrado Paraguai, foi possuidor da quarta maior marinha deguerra do mundo.[61] A mo-de-obra escrava, por pres-so interna de oligarquias paulistas, mineiras e uminen-ses, manteve-se vigente at o ano de 1888, quando caiuna ilegalidade pela Lei urea. Entretanto, havia-se ence-tado um gradual processo de decadncia em 1850, ano dom do trco negreiro, por presso da Inglaterra, alm deque o Imperador era contra a escravido, pela opo dosprodutores de caf paulistas que preferiam a mo de obraassalariada dos imigrantes europeus, pela malria que di-zimou a populao escrava naquela poca e pela guerrado Paraguai quando os negros que dela participaram fo-ram alforriados.A partir de 1870, assistiu-se ao crescimento dos mo-vimentos republicanos no Brasil. Em 1889, um golpemilitar tirou o cargo de primeiro-ministro do viscondede Ouro Preto, e, por incentivo de republicanos comoBenjamin Constant Botelho Magalhes, o Marechal De-odoro da Fonseca proclamou a Repblica e enviou aoexlio a Famlia Imperial. Diversos fatores contriburampara a queda da Monarquia, dentre os quais: a insatisfa-o da elite agrria com a abolio da escravatura semque os proprietrios rurais fossem indenizados pelos pre-juzos sofridos, o descontentamento dos cafeicultores doOeste Paulista que se tornaram adeptos do Partido Repu-blicano Paulista e da abolio pois usavam apenas mo deobra europia dos imigrantes, e perdendo apoio dos mili-tares, especialmente do exrcito que se sentiam despres-tigiados entendendo que o imperador preferia a marinhado Brasil e que almejavam mais poder, e as interfernciasdo Imperador em assuntos da Igreja.No houve nenhuma participao popular naproclamao da Repblica do Brasil. O que ocor-reu, tecnicamente foi um golpe militar. O povobrasileiro apoiava o Imperador. O correspondente dojornal Dirio Popular, de So Paulo, Aristides Lobo,escreveu na edio de 18 de novembro daquele jornal,sobre a derrubada do imprio, a frase histrica:Para poupar conitos, no houve violncia e a FamliaImperial pde exilar-se na Europa em segurana.[62][63]

    D. Pedro II assinou sua renncia com a mesma assinaturade seu pai ao abdicar em 1831: Pedro de Alcntara.O perodo pode ser divido em trs etapas principais:

    a chamada fase de consolidao, que se estende de1840 a 1850. As lutas internas so pacicadas, ocaf inicia a sua expanso, a tarifa Alves Branco per-mite a Era Mau.

    o chamado apogeu do Imprio, um perodomarcadopor grande estabilidade poltica, quando de 1849 at1889 no aconteceu no Brasil nenhuma revoluo,algo indito no mundo: 50 anos de paz interna emum pas, permitida pelo sistema parlamentarista,(o

  • 5.4 Libertao dos escravos 21

    parlamentarismo s avessas) e pela poltica de trocade favores. Em termos de Relaes Internacionais,o perodo marcado pela Questo Christie e pelaGuerra do Paraguai.

    o chamado declnio do Imprio, marcado pelaQuesto Militar, pela Questo Religiosa, pelas lutasabolicionistas e pelo movimento republicano, queconduzem ao m do regime monrquico.

    5.4 Libertao dos escravos

    Original da Lei urea, assinada pela Regente Dona Isabel(1888)

    Os primeiros movimentos contra a escravido foram fei-tos pelos missionrios jesutas, que combateram a escra-vizao dos indgenas mas toleraram a dos africanos. Om gradual do trco negreiro foi decidido, no Congressode Viena, em 1815. Desde 1810, a Inglaterra fez uma s-rie de exigncias a Portugal, e passou, a partir de 1845,a reprimir violentamente o trco internacional de escra-vos, amparada na lei inglessa chamada Lei Aberdeen. Em1850, a Lei Eusbio de Queirs aboliu o trco interna-cional de escravos no Brasil.Em 1871, o Parlamento Brasileiro aprovou e a PrincesaIsabel sancionou a Lei 2.040, conhecida como Lei RioBranco ou Lei do Ventre Livre, determinando que todosos lhos de escravos nascidos desde ento seriam livres apartir dos 21 anos.Em 28 de setembro de 1885, promulgou-se uma outra lei,a Lei dos Sexagenrios (Lei SaraivaCotegipe) que deter-

    minava a extino gradual do elemento servil e criavafundos para a indenizao dos proprietrios de escravose determinava que escravos a partir de 60 anos poderiamser livres.[64] Assim, com estas duas leis (Ventre Livree Sexagenrios), a abolio dos escravos seria gradativa,com os escravos sendo libertos ao atingirem a idade de60 anos.Em 1880, fora criada a Sociedade Brasileira Contra aEscravido que, juntamente com a Associao CentralAbolicionista[65] e outras organizaes, passou a ser co-nhecida pela Confederao Abolicionista[66] liderada porJos do Patrocnio, lho de uma escrava negra com umpadre. Em 1884, os governos do Cear e do Amazonasaboliram, em seus territrios, a escravido, no que forampioneiros.As fugas de escravos aumentram muito, aps 1885,quando foi abolida a pena de aoite para os negros fu-gidos, o que estimulou as fugas. O exrcito se negavaa perseguir os negros fugidos. H que lembrar ainda osCaifases, liderados por Antnio Bento,[66] que promo-viam a fuga dos negros, perseguiam os capites-de-matoe ameaavam os senhores escravistas.[67] Em So Paulo,a polcia, em 1888, tambm no ia mais atrs de negrosfugidos.A abolio denitiva era necessria. H divergnciassobre o nmero de escravos existentes em 1888. Ha-via, segundo alguns estudiosos, 1.400.000 escravos parapopulao de 14 milhes habitantes: cerca de 11%.[66]Porm, segundo a matrcula de escravos, concluda em30 de maro de 1887, o nmero de escravos era apenas720.000.[68]

    Finalmente, o presidente do Conselho de Ministros doGabinete de 10 de maro, Joo Alfredo Correia de Oli-veira, do Partido Conservador, promoveu a votao deuma lei que determinava a extino denitiva da escravi-do no Brasil. Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabelsancionou a Lei urea, que j havia sido aprovada peloParlamento, abolindo toda e qualquer forma de escravi-do no Brasil. Logo aps a Princesa assinar a Lei urea,ao cumpriment-la, Joo Maurcio Wanderley, o barode Cotejipe, o nico senador que votou contra o projetoda abolio da escravatura, profetizou:A aristocracia escravista, oligarquia rural arruinada coma abolio sem indenizao, culpou o governo e ade-riu aos vrios partidos republicanos existentes, especial-mente ao Partido Republicano Paulista e o PRM, que fa-ziam na oposio ao regime monrquico, assim, uma dasconseqncias da abolio seria a queda da monarquia.Pequenos proprietrios que no podiam recorrer a mode obra assalariada fornecida pelos imigrantes europeustambm caram arruinados. Apenas a economia cafe-eira do oeste paulista, porm, quando comparada deoutras regies, no sofreu abalos, pois j se baseava namo-de-obra livre, assalariada. Muitos escravos negrospermaneceram no campo, praticando uma economia desubsistncia, em pequenos lotes, outros buscaram as ci-

  • 22 6 REPBLICA (1889-PRESENTE)

    dades, onde entraram num processo de marginalizao.Desempregados, passaram a viver em choas e barracosnos morros e nos subrbios.E de acordo com a anlise de Everardo Vallim Pereirade Souza, reportando-se s considerao do ConselheiroAntnio da Silva Prado, as conseqncias da abolio dosescravos, em 13 de maio de 1888, deixando sem amparoos ex-escravos, foram das mais funestas:[69]

    O Brasil foi o ltimo pas independente do continenteamericano a abolir a escravatura. O ltimo pas domundo a abolir a escravido foi aMauritnia, somente em9 de novembro de 1981, pelo decreto de nmero 81.234.[70]

    6 Repblica (1889-presente)

    6.1 Primeira Repblica (1889-1930)

    Henrique Bernardelli: Marechal Deodoro da Fonseca, c. 1900.

    Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro daFonseca decretou o m do perodo imperial em um golpemilitar de Estado sob a forma de uma quartelada quasesem fora poltica e nenhum apoio popular,[71] e o inciode um perodo republicano ditatorial, destituindo o l-timo imperador brasileiro, D. Pedro II, que teve de partirem exlio para a Europa. O nome do pasmudou de Imp-rio do Brasil paraEstados Unidos do Brasil. A primeiraconstituio da Repblica do Brasil foi feita dia 15 de no-vembro de 1890. Aps 4 anos de ditadura com um caos

    e vrias mortes de federalistas, negros lutando por seusdireitos, entre outros, iniciou-se a era civil da RepblicaVelha, com a chamada Repblica Oligrquica.O Visconde de Ouro Preto, presidente do conselho de mi-nistro deposto em 15 de novembro, entendia que a pro-clamao da repblica fora um erro e que o Segundo Rei-nado tinha sido bom, e, assim se expressou em seu livroAdvento da ditadura militar no Brasil":

    6.1.1 Conitos

    O perodo foi marcado por inmeros conitos, de natu-rezas distintas. Externamente destacam-se apenas 2: aRevoluoAcreana, que foi o processo poltico-social quelevou incorporao do territrio do atual estado do Acreao Brasil; e o envolvimento do pas na I Guerra Mundial,na qual apesar da participao militar do pas ter sido in-signicante para o resultado geral do conito, tendo serestringido basicamente ao envio de uma esquadra navalpara participar da guerra anti-submarina no noroeste dafrica e mediterrneo, em 1918;[72] a mesma deu ao Bra-sil o direito a participar da conferncia de Versalhes em1919.[73]

    J no plano interno, este 1 perodo republicano foimarcado por graves crises econmicas, como a doencilhamento, que contriburam para acirrar ainda maisa instabilidade geral.[74] No mbito poltico-social, porexemplo, entre 1891 e 1927 ocorreram vrias revoltas econitos no pas, tanto militares como (por exemplo): a1 Revolta da Armada em 1891, a 2 Revolta da Armadaem 1893, a Revoluo Federalista entre 1893-95, Revoltada Chibata em 1910, a Revolta dos tenentes em 1922,a Revolta de 1924 que se desdobrou na Coluna Prestes;quanto civis, como (por exemplo): a Guerra de Canudos1893-97, a Revolta da Vacina em 1904[75], a Guerra doContestado entre 1912-16 e os movimentos operrios de1917-19.Tambm neste perodo, ocorreu o auge do cangao[9] ,tendo sido seu expoente mais famigerado Virgulino Fer-reira da Silva, popularmente conhecido como "Lampio".Embora todos esses eventos tenham sido controlados pelogoverno central e a maioria fosse de carter localizado, oacmulo dessas tenses sociais e econmicas foi pouco apouco minando o regime, o que somado aos efeitos cau-sados pelas crises da depresso de 1929 e das eleies fe-derais de 1930, acabaram levando ao movimento de 1930que ps um m a este primeiro perodo da repblica noBrasil.

    6.1.2 Repblica do Caf com Leite

    Entre 1889 e 1930, o governo foi ocialmente uma de-mocracia constitucional e, a partir de 1894, a presidnciaalternou entre os estados dominantes da poca So Pauloe Minas Gerais. Como os paulistas eram grandes produ-

  • 6.2 Era Vargas (1930-1945) 23

    tores de caf, e os mineiros estavam voltados produoleiteira, e segundo produtores de caf do Brasil, a situa-o poltica do perodo cou conhecida como Poltica doCaf-com-Leite.[76][77]

    Esse equilbrio de poder entre os estados, foi uma po-ltica criada pelo presidente Campos Sales, chamada dePoltica dos Estados ou Poltica dos governadores. A Re-pblica Velha terminou em 1930, com a Revoluo de1930, liderada por Getlio Vargas, um civil, instituindo-o Governo Provisrio, at que novas eleies fossemconvocadas.Sobre sua poltica, Campos Sales disse:[78]

    E esse seu pensamento foi denido assim por ele:[79]

    6.2 Era Vargas (1930-1945)

    O perodo que vai de 1930 a 1945, a partir da derrubadado presidente Washington Lus em 1930, at a volta dopas democracia em 1945, chamado de Era Vargas,em razo do forte controle na pessoa do caudilho Get-lio Dorneles Vargas, que assumiu o controle do pas, noperodo. Neste perodo est compreendido o chamadoEstado Novo (1937-1945).

    6.2.1 A Revoluo de 1930 e o Governo Provisrio

    Em 1 de maro de 1930 ocorre a ltima eleio presiden-cial da Repblica Velha. Disputaram essa eleio o pre-sidente de So Paulo (hoje se diz governador) Jlio Pres-tes de Albuquerque apoiado pelo presidente WashingtonLus e por 17 estados contra o candidato Getlio Var-gas apoiado apenas por 3 estados: Minas Gerais, Parabae Rio Grande do Sul. Jlio Prestes eleito e aclamadopresidente, porm os perdedores no reconheceram suavitria.Assim, em 1930, acontece a Revoluo de 1930 inici-ada a 3 de outubro. Quando as tropas revolucionriasmarcharam para o Rio de Janeiro, ento capital federal,ocorre a 24 de outubro um golpe militar que depe e pre-sidenteWashington Lus, que fora antes presidente de SoPaulo. Washington Lus foi deposto e exilado, Jlio Pres-tes impedido de tomar posse como presidente da rep-blica e tambm exilado. formada uma Junta MilitarProvisria, que ento passa o poder a Getlio DornelesVargas, em 3 de novembro de 1930, encerrando a Re-pblica Velha e iniciando o Governo Provisrio que temGetlio Vargas como seu chefe.Logo aps a tomada do poder em novembro de 1930, Ge-tlio Vargas nomeou interventores federais para governaros estados. Para So Paulo, por exemplo, foi nomeado otenente Joo Alberto Lins de Barros, um pernambucano,sendo que a maioria dos lderes paulistas foram exilados.Na Bahia, foi nomeado um cearense, Juracy Magalhes -

    e assim por diante. Do exlio em Portugal, Jlio Prestesescreve, j em 1931, acreditando ele que a situao daditadura estava se tornando insustentvel:.[80]

    Ao se iniciar o ano de 1932, crescem os reclamos dospolticos paulistas que se uniram na Frentenica Paulista,em prol do m da interferncia dos tenentes em So Pauloe pela instalao de uma assemblia nacional constituinteque poria m ao Governo Provisrio, o qual era chamadopelos paulistas de ditadura..[81]

    Uma previsvel reao dos paulistas a um conluio contraSo Paulo e seus interesses j fora percebida, em 1929,pelo senador uminense Irineu Machado, que armou:.[82]

    Os paulistas, que mantinham um esquema de domniopoltico junto com Minas Gerais durante a primeira re-pblica, tentam articular uma revoluo em 1932 paradepor Getlio Vargas. A justicativa encontrada pelasoligarquias locais para buscar apoio do povo que o pasprecisava de uma Constituio, pois, desde 1930, GetlioVargas dizia que assumia provisoriamente a presidn-cia e que o mais cedo possvel entregaria uma nova Cons-tituio ao pas, com a subsequente realizao de eleiespara presidente.[83] Da o nome de Revoluo Constitu-cionalista de 1932, deagrada a 9 de julho. Os paulistasforam apoiados pelo sul estado do Mato Grosso onde foicriado o Estado de Maracaju, mas as tropas federais, aju-dadas pelas tropas gachas e mineiras, garantiram umavitria de Getlio Vargas depois de 3 meses de luta, aqual foi a maior guerra civil brasileira de todos os tem-pos. Finalmente em 3 de maio de 1933, so feitas elei-es para uma Assemblia Nacional Constituinte que em1934 elege Getlio Vargas presidente da repblica.

    6.2.2 O perodo constitucional de Getlio Vargas

    Em 1934, no entanto, o pas ganha uma Constituio.Getlio Vargas eleito presidente. Este governo cons-tituicional durou trs anos at 1937. Foram anos con-turbados, em que ocorre certa polarizao na polticanacional.[77][84] De um lado ganha fora a esquerda,representada principalmente pela Aliana Nacional Li-bertadora (ANL) e pelo Partido Comunista Brasileiro(PCB); de outro a direita, que ganha forma num movi-mento de inspirao fascista chamado Integralismo.Uma articulao revolucionria de esquerda tentada em1935, chamada de Intentona Comunista, por parte de umsetor das foras armadas e de alguns indivduos ligados aURSS. Um dos principais lderes desse movimento foi oex-tenente do exrcito Lus Carlos Prestes, que ca presoe cou incomunicvel por 8 anos. Sua mulher, a co-munista e judia Olga Benrio, tem um destino pior: OSupremo Tribunal Federal a expatriou para a AlemanhaNazista, seguindo os acordos de extradio vigentes entreBrasil e Alemanha que mantinham relaes diplomticas