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História de Mato Grosso 1. Primeiros anos de Mato Grosso A História de Mato Grosso possui como marco oficial inicial a descoberta de ouro pela bandeira de Pascoal Moreira Cabral, junto ao rio Coxipó-Mirim, no ano de 1719. Esse marco registra somente o momento do povoamento, sendo que, há muitos anos antes, no século XVII, os espanhóis e mesmo os bandeirantes paulistas haviam palmilhado terras hoje pertencentes aos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em suas caminhadas em direção ao Peru, local onde existiam muitas minas, ricas em prata. Por outro lado, a História de Mato Grosso, tal como a do Brasil, remonta à milênios, pois os indígenas que habitavam o território, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral, representam os primeiros habitantes. Na região de Mato Grosso viviam e ainda vivem inúmeras etnias: Coxiponé, Bericoponé, Bororo, Paresi, Paiaguá, Guiacuru, Caiapó entre outros. Como a História foi escrita pelo colonizador, Mato Grosso passou para a História somente após a descoberta de ouro no rio Coxipó, pela bandeira capitaneada por Pascoal Moreira Cabral, no ano de 1719. A cidade de Cuiabá foi fundada a 8 de abril de 1719, pelo português de nome Rodrigo César de Meneses, que nesta época governava a então Capitania de São Paulo. Recebendo orientação do rei de Portugal, fundou a Vila Real do Senhor do Bom Jesus do Cuiabá. Nesta ocasião, foi criado o Senado da Câmara e para ele foram eleitos os primeiros vereadores, retirados entre os "homens bons" da localidade, ou seja, latifundiários, pessoas que tinham propriedades de terra e escravos, e gozavam de alto prestígio político naquela sociedade. A criação desta vila obedeceu a dois interesses bem distintos: controlar os colonos estabelecidos nas minas mato-grossenses; criação de rigoroso sistema de cobrança de impostos que inicialmente era feito por cabeça, por cada escravo, por cada loja, etc. Com a alta taxação dos impostos houve algumas mudanças na região. Uma parte dos colonos saiu em busca de novas minas e a outra preferiu retornar para São Paulo. 2. A capitania de São Paulo 1

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História de Mato Grosso

1. Primeiros anos de Mato Grosso

A História de Mato Grosso possui como marco oficial inicial a descoberta de ouro pela bandeira de Pascoal Moreira Cabral, junto ao rio Coxipó-Mirim, no ano de 1719. Esse marco registra somente o momento do povoamento, sendo que, há muitos anos antes, no século XVII, os espanhóis e mesmo os bandeirantes paulistas haviam palmilhado terras hoje pertencentes aos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, em suas caminhadas em direção ao Peru, local onde existiam muitas minas, ricas em prata.

Por outro lado, a História de Mato Grosso, tal como a do Brasil, remonta à milênios, pois os indígenas que habitavam o território, antes mesmo da chegada de Pedro Álvares Cabral, representam os primeiros habitantes. Na região de Mato Grosso viviam e ainda vivem inúmeras etnias: Coxiponé, Bericoponé, Bororo, Paresi, Paiaguá, Guiacuru, Caiapó entre outros.

Como a História foi escrita pelo colonizador, Mato Grosso passou para a História somente após a descoberta de ouro no rio Coxipó, pela bandeira capitaneada por Pascoal Moreira Cabral, no ano de 1719.

A cidade de Cuiabá foi fundada a 8 de abril de 1719, pelo português de nome Rodrigo César de Meneses, que nesta época governava a então Capitania de São Paulo.

Recebendo orientação do rei de Portugal, fundou a Vila Real do Senhor do Bom Jesus do Cuiabá. Nesta ocasião, foi criado o Senado da Câmara e para ele foram eleitos os primeiros vereadores, retirados entre os "homens bons" da localidade, ou seja, latifundiários, pessoas que tinham propriedades de terra e escravos, e gozavam de alto prestígio político naquela sociedade.

A criação desta vila obedeceu a dois interesses bem distintos: controlar os colonos estabelecidos nas minas mato-grossenses; criação de rigoroso sistema de cobrança de impostos que inicialmente era feito por cabeça, por cada escravo, por cada loja, etc.

Com a alta taxação dos impostos houve algumas mudanças na região. Uma parte dos colonos saiu em busca de novas minas e a outra preferiu retornar para São Paulo.

2. A capitania de São Paulo

Quando o Brasil foi colonizado pelos portugueses, o Rei ordenou que o território fosse dividido em grandes faixas de terras, intituladas Capitanias Hereditárias, para a fixação de alguns colonos vindos da Europa. Teve então início a cultura da cana-de-açúcar, produto agrícola de grande sucesso nas terras de massapé, típicas do Nordeste. Para dar conta do plantio e da produção do açúcar, os portugueses resolveram importar da África, os escravos, que eram vendidos nos mercados a elevados preços, comércio altamente lucrativo para os traficantes. Estima-se que dos 21 milhões de negros escravizados trazidos para a América, 1/3 tenha vindo para o Brasil.

Nas outras capitanias, a cana-de-açúcar não obteve êxito, sendo que seus colonos resolveram se dedicar a outras atividades, como foi o caso da Capitania de São Paulo que, ao lado da agricultura de subsistência, optou por traficar índios, necessários às capitanias que não desenvolveram com sucesso o plantio da cana e o fabrico do açúcar. Dessa forma, os paulistas criaram o movimento das bandeiras, expedições organizadas por eles que deixando a capital de São Paulo, embrenhavam-se pelo sertão a fim de aprisionar indígenas. Nesse movimento, os bandeirantes acabaram descobrindo ouro, em primeiro lugar, em terras que hoje pertencem

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ao Estado de Minas Gerais e, mais tarde, nas de Mato Grosso e de Goiás. Com esse movimento, os bandeirantes paulistas estavam sem querer, aumentando o território colonial, pois novas terras descobertas, segundo o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de julho de 1494, não pertenceriam a Portugal, mas sim, à Espanha. O Rei lusitano, vendo que os bandeirantes estavam alargando as fronteiras de sua colônia, povoando esses territórios e descobrindo metais preciosos (ouro e diamante), resolveu apoiá-los e incentivá-los nesse movimento.

3. A bandeira de Pascoal Moreira e a descoberta de ouro em terras mato-grossenses.

Os bandeirantes paulistas, nas atividades de caça aos índios, iam adentrando cada vez mais no interior do território, no sentido leste-oeste, ou seja, do litoral para o sertão.

No ano de 1718, a bandeira de Antonio Pires de Campos atingiu a região do rio Coxipó-Mirim e ali guerreou e aprisionou os índios Coxiponé, que reagiram, travando um intenso combate com os paulistas. Logo atrás dessa bandeira, seguiu-se aquela capitaneada por Pascoal Moreira Cabral que, desde 1716, já palmilhava terras mato-grossenses. Sabendo ele da existência de índios, resolveu seguir para o mesmo local, onde havia um acampamento chamado São Gonçalo. Cansada das lutas travadas, a bandeira de Moreira Cabral resolveu arranchar-se às margens do rio Coxipó-Mirim e, segundo o cronista Joseph Barboza de Sá, descobriram, casualmente, ouro quando lavavam os pratos na beira desse rio. Para garantir tranqüilidade no local, Moreira Cabral pediu reforço às bandeiras que se encontravam na região.

A presença da bandeira de Moreira Cabral às margens do rio Coxipó incomodava os índios aricoponé, os quais imprimiam à bandeira pesada ofensiva. Contando com o apoio da bandeira capitaneada pelos irmãos Antunes, Moreira Cabral vence a resistência indígena, formando em seguida o Arraial da Forquilha, nome dado em razão da confluência de dois braços (afluentes) do rio Coxipó, o Peixe e o Mutuca.

A organização do arraial exigiu dos paulistas uma nova forma de organização, diferente da praticada nas “bandeiras de preação” de índios. Medidas urgentes foram tomadas, tais como: aquisição de ferramentas, armamentos para a defesa, convocação de profissionais de todas as categorias.

Era necessário informar ao governador da Capitania de São Paulo, D. Pedro de Almeida Portugal, da descoberta do ouro. Antonio Antunes Maciel foi incumbido de levar a notícia, junto com mostras do ouro encontrado.

Para administrar o novo arraial, Pascoal Moreira Cabral foi eleito pelo povo Guarda-Mor Regente, responsável pela defesa das minas de qualquer invasão branca ou indígena. Cabia ao Guarda-Mor Regente a organização jurídica e administrativa da Forquilha.

A função de Guarda-Mor era conferida pela Coroa portuguesa, sendo este um representante direto dos interesses do rei. Geralmente era a Coroa que escolhia, mas a urgência fez o povo escolher Pascoal Moreira; entretanto a escolha não foi confirmada por Portugal, que, em 1724, nomeou Fernando Dias Falcão para o cargo de Capitão-Mor Regente, sendo que, para o cargo de Superintendente Geral das Minas, foi nomeado João Antunes Maciel.

4. A exploração de diamantes em Mato Grosso

Desde o início da colonização, Mato Grosso foi conhecido como a terra das grandes riquezas minerais. Além do ouro, aqui encontrado com fartura, existiam também outros tipos de preciosidades tais como: diamante, cassiterita, magnetita, manganês, ferro.

Após 1730, o ouro passou por um processo de decadência. Com o ouro em extinção, grande parte da população que corria atrás do ouro tornou-se cada vez mais pobre e

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miserável. A descoberta das minas de diamante trouxe um novo alento a essa população, que apesar de toda a proibição, encontrou uma forma de garimpar, ocultamente, as preciosas pedras.

Data de 1747 a primeira informação a respeito da descoberta das minas do Alto Paraguai (Diamantino). Da mesma forma que aconteceu com o ouro, para esta região deslocou-se grande contingente populacional, formando o arraial de Nossa Senhora do Parto. Todavia, apesar da riqueza que representava os diamantes, a Coroa portuguesa não se interessou inicialmente pelo diamante. Tanto isso é verdade que o Ouvidor Manuel Antunes Nogueira enviado a este arraial, tratou logo de proibir a mineração deste metal, promovendo a evacuação do arraial.

A grande fonte de diamantes estava localizada nas proximidades do rio Paraguai nos ribeirões de Santana e São Francisco Xavier, a Oeste da capitania. Após a análise das pedras por Manuel Dias da Silva, verificando a qualidade e o alto valor.

5. Os primeiros desentendimentos em torno do domínio da região das minas – o caso dos Irmãos Lemes

A época da descoberta de ouro, Mato Grosso se restringia aos arraiais, cujas terras faziam parte da Capitania de São Paulo.

A descoberta de ouro, como ocorrido em Minas Gerais, atraiu a atenção de toda a Colônia, precipitando para Mato Grosso uma grande quantidade de pessoas em busca de melhor sorte e enriquecimento fácil, uma vez que com um pouco de sorte e sem muitos recursos podia-se “fazer a América”.

A Coroa portuguesa, após comprovada a qualidade do ouro mato-grossense, sentiu a necessidade de aumentar seu controle sobre a região, a fim de conferir a seus cofres uma quantidade maior de recursos, uma vez que a situação econômica portuguesa, em completa subordinação a Inglaterra, requeria um aumento de sua receita.

Para tanto, fazia-se necessário, como em Minas Gerais, impor à região mineira a substituição das lideranças locais por lideranças fiéis à Coroa, capazes de impor uma rigorosa política fiscal.

A substituição de Pascoal Moreira Cabral, escolhido pela população local, e dos irmãos Lemes (João e Lourenço) da liderança da região das minas insere-se nesse contexto de assegurar à Coroa maior controle sobre a região.

Ao conferir a Fernando Dias Falcão o cargo de Capitão-Mor Regente e a João Antunes Maciel o cargo de Superintendente Geral das minas, Rodrigo César de Menezes, então governador da Capitania de São Paulo, diminuía o poder local, no caso dos Lemes, e criava condições para a imposição de uma rígida política de arrecadação e controle sobre a região das minas.

Diante das manobras de Rodrigo César de Menezes, os Lemes passaram a pressionar os representantes do governo com uma poderosa bandeira.

Ciente da influência dos irmãos Lemes na região mineira, e até fora dela, o governador Rodrigo César de Menezes convida-os para fazerem parte de seu governo, conferindo a um dos irmãos o cargo de Provedor dos Quintos; era uma forma de legitimar seu poder, atraindo os Lemes ou um deles para seu lado.

A oferta do governador foi rejeitada, e como contra-proposta, os Lemes reivindicaram os cargos de Provedor de Minas e o de Mestre-de-Campo Regente. Tal proposta foi totalmente descartada pelo governador, que, diante da situação, passou o confronto armado.

O que se seguiu foram embates entre as tropas do governador e a bandeira dos Lemes, que, pega de surpresa, foi, aos poucos, sendo dizimada. Os Lemes foram mortos, um em combate e outro por execução, sendo decapitado e seu corpo esquartejado, salgado e exposto como exemplo a qualquer um que ousasse se levantar contra a Coroa ou seus

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representantes. Tal procedimento, comum à época, foi adotado em Minas em dois episódios envolvendo o descontentamento dos colonos com os abusos da política fiscal portuguesa: Felipe dos Santos, líder da Revolta de Vila Rica e Tiradentes, participante da Inconfidência Mineira.

A morte dos Lemes, 1725, coincidiu com a morte natural de Pascoal Moreira Cabral, o qual faleceu pobre no arraial que fundara.

6. Os índios Paiaguá: A resistência indígena.

Os indígenas, ao longo da história, foram sempre relegados a segundo plano. A História, escrita pelos brancos, não dá aos indígenas o papel merecido como verdadeiros donos da terra, fazendo, sim, alusões a “heróis”, que desbravando a floresta, proporcionaram o domínio português sobre terras espanholas. Na verdade, tais conquistas escondem a violência e a brutalidade imposta aos nativos.

O índio foi fundamental para o desenvolvimento de Mato Grosso, cuja história remonta ao início do Brasil colônia. Vinculada a capitania de São Paulo de Piratininga, Mato Grosso viveu uma estrutura produtiva diferenciada da existente no nordeste da cana-de-açúcar, onde o modelo baseado no latifúndio, trabalho escravo e na monocultura, chamado plantation, deslocava os escravos provenientes da África para as regiões dos canaviais.

A falta de escravos africanos impulsionou as bandeiras de preação e caça de índios, atividade que proporcionou o sustento de grande parte dos colonos da capitania de São Paulo, antiga São Vicente.

A estrutura sociopolítica desenvolvida por São Paulo caracterizava-se, por uma policultura de subsistência, onde as bandeiras constituíam-se na principal atividade; estabelecidas de forma modesta, as casas dos paulistas não dispunham da aparelhagem e ostentação de outras regiões e, politicamente, o desinteresse português pela capitania de São Paulo, fez com que essa gozasse de maior autonomia em relação à região dos canaviais ao norte.

Para atingir o Mato Grosso, os bandeirantes utilizaram o sistema de monções, bandeiras fluviais, que com embarcações, utilizavam os diversos rios para se deslocarem. Nesse tipo de atividade, o conhecimento indígena era importante, tanto no que diz respeito à confecção das canoas, quanto ao conhecimento das rotas e trilhas. Os índios, guias de monções, foram de grande importância às bandeiras que adentraram às florestas mato-grossenses.

Baseado na exploração da mão-de-obra indígena foi que se deu a ocupação e desenvolvimento dos primeiros arraiais e vilas em Mato Grosso.

Entretanto, os índios que não participavam do processo de expansão paulista, viam a presença branca como uma ameaça, tanto às suas terras, quanto aos seus costumes. A resistência se deu através de muita luta, que se estendem até os dias atuais.

Os primeiros a se levantarem contra os bandeirantes foram os índios Paiaguá, Guaicuru e Caiapó, cujas terras foram as primeiras a serem invadidas.

Habitantes de toda região do pantanal mato-grossense, os paiaguá e guaicuru pertenciam à nação Mbaiá. O primeiro ataque foi em 1725 e precipitou-se sobre as monções de ida e volta a Cuiabá.

Segundo Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra O Extremo Oeste, os índios Paiaguá e Guaicuru são provenientes da região do Chaco, acima da cidade de Assunção, que após a destruição, pelos paulistas, da missão de Itatim deslocaram-se para a região do atual estado do Mato Grosso do Sul.

Tal deslocamento coincidiu com a mudança da rota de ligação entre São Paulo e Cuiabá, onde para evitar conflitos como os espanhóis, os paulistas optaram por atravessar território indígena.

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Os índios Guaicuru foram conhecidos por serem hábeis cavaleiros, enquanto que os Paiaguá famosos como canoeiros, uma vez que só atacavam as monções quando as mesmas se encontravam nos cursos dos rios.

Diferentes dos índios Coxiponé, que em parte aceitaram a convivência com os brancos, os Paiaguá, Guaicuru e Caiapó não se dobraram e o resultado foi o massacre dessas tribos que, a partir de 1724, migraram por quase todo território mato-grossense.

7. Visita de Rodrigo César de Menezes

Governava a capitania de São Paulo Rodrigo César de Menezes, fidalgo português que, sabendo das notícias das minas mato-grossenses resolveu, para melhor controlar os colonos ali estabelecidos, transferir sua residência para o Arraial, o que fez no final de 1726. Esta autoridade, chegando a Cuiabá, tratou de fazer executar uma ordem do Rei de Portugal: criar uma Vila, que tomou o nome de Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, a 1º de janeiro de 1727. Nessa ocasião, foi criado o Senado da Câmara e para ele foram eleitos os primeiros vereadores, retirados entre os “homens bons” da localidade, ou seja, pessoas que tinham propriedades de terra e escravos e gozavam de prestígio político.

Além de criar a Vila, o governador paulista resolveu colocar em prática uma determinação já tomada em 1725 pela Junta Governativa do Arraial: estabelecer rigoroso sistema de cobrança de impostos, por cada escravo, por cada loja, etc.

Com a taxação desses impostos, uma parte da população continuou na região, outra parte migrou das minas cuiabanas para outras regiões, em troca de novos veios auríferos, e uma outra parte regressou para São Paulo.

Com esse movimento, novas minas foram descobertas, como as Lavras dos Cocais, em 1724, às margens do ribeirão do mesmo nome (atual Nossa Senhora do Livramento), distante 50 km de Cuiabá. Os responsáveis pelo achado foram os sorocabanos Antonio Aires e Damião Rodrigues. Em pouco tempo, o pequeno Arraial foi integrado por outros mineiros que, igualmente, fugiam das imposições fiscalistas.

Em 1734, os irmãos Paes de Barros, migrando para a região guaporeana, acabaram se fixando nessa região, onde descobriram as minas de ouro na Chapada São Francisco Xavier.

Em 1751, novo povoamento surgiu, graças ao empreendimento de Inácio Maciel Tourinho e de sua esposa, Maria Francisca Tourinho, que, às margens do ribeirão monjolo, fundaram o Arraial de Nossa Senhora do Rosário (atual cidade de Rosário Oeste).

Outro núcleo de povoamento foi estabelecido em 1777, com a descoberta das minas de Bericoponé (nome do grupo indígena), ocasião em que uma corrida de mineiros da região, dando nascimento às Lavras Ana Vaz, Tanque do Padre, Tanque de Arinos, Tereza Botas e Lavras do Meio. Essa região (atual Poconé) fora habitada pelos índios do grupo Caiapó, que legaram aos chegantes seu rico universo cultural, especialmente no que toca ao aproveitamento racional dos recursos naturais. Somente depois de se certificar de que não havia diamante agregado ao ouro é que a Coroa portuguesa repartiu os terrenos auríferos, o que acontecera a 18 de maio de 1787, ocasião em que foram arrematadas as datas, ao preço de 232,5 oitavas de ouro cada uma.

A mineração foi também um fator propulsor do povoamento da Bacia do rio Paraguai. Em 1728, mineradores paulistas, fugindo das opressões físicas reinantes nas minas de Cuiabá, se instalaram na região do rio Paraguai. Gabriel Antunes Maciel, comandante de uma bandeira, subiu o rio Cuiabá e encontrou o ribeirão do Ouro, nas margens do qual instalou uma povoação, de duração efêmera. A fixação efetiva de contingente humano na região somente se deu a partir de 1746, quando Antonio de Pinho e Azevedo descobriu novas minas, próximas do primeiro arraial, às quais deu o nome de Lavras de Nossa Senhora do Parto, onde foi construída uma capela em homenagem a essa santa. Um ano depois, o Ouvidor Manoel Antunes Nogueira foi às citadas lavras para repartir os terrenos auríferos, colocar “justiça”, ou

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seja, estabeleceu a respectiva cobrança dos impostos devidos à Coroa Portuguesa. Durante essa inspeção, verificou-se a existência de diamantes misturados ao ouro, o que fez com que a citada autoridade judiciária recomendasse a interdição dessa zona mineradora. Nessa ocasião, o Ouvidor providenciou para que fosse construído no local um Destacamento dos Diamantes, capaz de assegurar o fechamento e despovoamento das referidas minas. Em 1749, o Ouvidor João Antonio Vaz Morilhas terminou franqueando a mineração e repartiu as terras minerais das Lavras de Nossa Senhora do Parto.

8. O nome Mato Grosso

O nome Mato Grosso veio em 1734 e segundo contam, os irmãos Paes de Barros (Fernando e Arthur), paulistas de Sorocaba, saíram de Cuiabá à procura de índios para a escravidão e, depois de longa viagem, encontraram florestas virgens, com árvores cujos troncos corpulentos e muito altos, ofereciam um verdadeiro paredão, dificultando a entrada mata adentro. Extasiados, possivelmente, deram o nome Mato Grosso à região. Depois, tal denominação se estendeu a toda a região e povoado, que, fundado em 1752, por Antonio Rolim de Moura, recebeu o nome de Vila Bela da Santíssima Trindade. Posteriormente, o nome Mato Grosso foi aplicado à nova Capitania que se separou de São Paulo.

9. Desmembramento da Capitania, Antonio Rolim de Moura Tavares e a fundação da Vila Bela da Santíssima Trindade

Com o deslocamento da população na direção do rio Guaporé, as fronteiras entre os impérios colonial espanhol e português ficaram muito próximas, o que gerou uma grande preocupação dos monarcas de ambos os impérios, especialmente o lusitano, pois as novas jazidas auríferas poderiam despertar o interesse dos colonos espanhóis. Nesse período, ainda estava em vigor o Tratado de Tordesilhas e toda conquista empreendida pelos bandeirantes poderia passar a pertencer, legalmente, à Espanha. Assim, tornava-se urgente a fixação de um novo Tratado que substituísse o de Tordesilhas: o Tratado de Madri, firmado entre os reis dos dois impérios e assinado no ano de 1750, na cidade espanhola que cedeu seu nome ao Tratado.

Além desse expediente, tratou Portugal de garantir o povoamento do extremo oeste da colônia, especialmente na parte relativa à zona do rio Guaporé, porém a mesma ficava muito distante da sede da capitania-mãe, São Paulo. Assim, em 1748, foi criada uma nova capitania, a de Mato Grosso, desmembrada da capitania paulista. Para administra-la, foi escolhido um nobre português, militar de carreira e homem de esmerada formação, Antonio Rolim de Moura, o qual recebeu uma série de instruções capazes de orientá-lo na administração da região oeste. Nessas instruções, o Rei de Portugal, D. João V, através de sua esposa e rainha Mariana da Áustria, fornecia ao novo Governador da recém-criada Capitania de Mato Grosso dados sobre a problemática da região: situação dos índios, dos mineiros, dos vizinhos espanhóis e indicações sobre o local onde deveria ser construída a cidade que seria a capital da Capitania.

Depois de uma longa viagem, iniciada em 1748 e finalizada em 1751, Rolim de Moura chegou a Cuiabá, vila povoada e estruturada, porem não escolhida para ser a capital, pois, estrategicamente, a nova sede deveria se situar na zona de maior litígio com o império colonial espanhol, o Alto Guaporé. Depois de descansar por algum tempo em Cuiabá, o nobre português seguiu para o norte, escolhendo, às margens do rio Guaporé, o sítio onde se ergueria a capital de Mato Grosso: Vila Bela da Santíssima Trindade.

Nascia a primeira capital de Mato Grosso, para onde migraram muitos colonos, estimulados pela isenção de impostos oferecidos pelo Governador, assim como ali foi instalada toda administração da nova Capitania: Provedoria da Fazenda, responsável pela parte

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financeira e fiscal; a Ouvidoria, a quem cabia tratar da justiça, além de outras repartições burocráticas.

Um grande problema se colocava: como abastecer a nova capital? Através das monções vindas de São Paulo seria impossível, pois o percurso era muito longo e cheio de cachoeiras, assim como os gastos elevados, o que encareceria muito as mercadorias. Uma solução foi encontrada: a criação da Companhia de Comércio do Grão-Pará Maranhão que, com sede em Belém, atingia a região guaporeana navegando pelos rios componentes da Bacia Amazônica: rios Amazonas, Madeira e Guaporé. Essa empresa abastecedora nasceu de um plano fixado no Governo de D. João I, sob a orientação política do Ministro Marquês de Pombal (Sebastião José de Carvalho e Melo). Por ela entraram em Vila Bela alimentos, roupas, instrumentos de trabalho e escravos africanos.

A questão da fronteira dos impérios espanhol e português será daí em diante, preocupação maior dos governantes de Mato Grosso, aos quais caberá não somente povoar a região, defendê-la com forças militares, mas, sobretudo, protegê-la contra as investidas do lado espanhol. Assim, serão erguidos fortes, fortalezas e prisões que servirão de pontos estratégicos de defesa do território. Estes estabelecimentos serão construídos com muitas dificuldades e estabelecidos no extremo oeste, seja à beira do rio Guaporé, seja ao longo do rio Paraguai, guaporeano toda a orla ocidental do império lusitano.

Após a demarcação do Tratado de Madri, foi colocado, como divisa entre as posses dos dois impérios, o Marco de Jauru, peça arquitetônica que veio desmontada da Europa e que representou os limites e fronteira dos dois impérios coloniais. Foi colocado na foz do rio que cedeu o nome ao Marco.

O aglomerado humano que deu início ao povoamento dessa região foi instalado em 1778, sob o nome de Vila Maria (atual Cáceres), o qual não estará diretamente ligado à mineração, mas sim à questão de fronteira, considerando que foi fundado a mando do 4º Capitão-General Luís de Albuquerque Melo Pereira e Cáceres, a 6 de outubro de 1778. Vila Maria foi inicialmente povoada com casais de índios retirados da missão jesuíta de Chiquitos.

10.Os capitães-Generais de 1748 a 1821

Durante o governo de Antonio Rolim de Moura, fundador da Vila Bela da Santíssima Trindade e primeiro administrador da Capitania de Mato Grosso, a grande preocupação de Portugal era a salvaguarda das “fronteiras do Brasil”, em poder dos colonos portugueses, porém pertencentes à Espanha.

Com a assinatura do Tratado de Madri, em 1750, a determinação portuguesa era de se evitar o domínio espanhol sobre o rio Guaporé e promover o povoamento da fronteira, nem que fosse por meio de comunidades indígenas, prova é que Cuiabá, com as melhores condições, foi preterida como capital da nova capitania e Vila Bela foi construída próxima a fronteira. Outro fato foi a concessão de incentivos e terras a todos os que se estabelecessem na nova capital.

O tenente coronel João Pedro da Câmara, sobrinho de Rolim, em seu governo a frente da Capitania mato-grossense, voltou-se para a defesa e consolidação das fronteiras, edificando fortes e criando destacamentos às margens dos rios Jauru e Paraguai, que davam acesso a Vila Bela e Cuiabá, respectivamente.

Em 1769, sobe à condição de administrador de Mato Grosso, Luís Pinto de Souza Coutinho, que em seu governo repercutiram os embates entre o Marquês de Pombal, déspota português, e a Companhia de Jesus, que acabou sendo expulsa de Portugal e do Brasil.

Já em 1772, assume Luís Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que notabilizou-se no trato das questões da capitania. O período em que assumiu Mato Grosso é caracterizado pelo acirramento entre as relações entre Portugal e Espanha no que diz respeito a questão das fronteiras entre suas colônias na América do Sul.

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Diante do impasse entre Portugal e Espanha, Luís de Albuquerque Cáceres precisava assegurar ao reino lusitano o controle sobre a capitania mato-grossense. Para tanto fundou:

O forte Coimbra, fundado em 1775, no local chamado “fecho dos Morros”, no baixo Paraguai.

O Forte Príncipe da Beira, à de Guaporé. Em 1778, o povoado de Albuquerque, hoje Corumbá e Vila Maria, hoje Cáceres. Restabeleceu o registro de Insua, entre Goiás e Mato Grosso, atual cidade de Alto

Araguaia. A cidade de São Pedro D’el Rey, posteriormente chamada Poconé.

Luís de Albuquerque foi substituído por João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, que sem o mesmo brilhantismo do irmão, estava a frente da capitania quando os índios Guaicuru foram pacificados.

Após o falecimento de João Albuquerque, a capitania foi assumida por uma junta formada por um ouvidor, um militar e um vereador, dos quais o destaque foi o Ten-Cel. Ricardo Franco de Almeida Serra.

11.As repercussões da independência do Brasil em Mato Grosso

O processo de independência do Brasil foi feito pela elite aristocrática brasileira, utilizando a figura de D. Pedro, o Príncipe Regente, ficando o povo relegado a condição de mero espectador ou peão nos momentos de recrudescimento.

Em Mato Grosso, tal processo se confunde com disputas entre as cidades de Bela Vista e Cuiabá pela primazia dentro da província. Após a Independência do Brasil (1822), as antigas capitanias se transformaram em Províncias e passaram a ser administradas pelos Presidentes de Províncias, que eram elementos nomeados pelo Imperador e pessoas que tinham interesses na carreira política.

Em 1821, ocorreu em Mato Grosso um fato interessante: uma disputa entre as cidades de Cuiabá e Vila Bela para ver qual delas seria a capital da nova Província. Vila Bela da Santíssima Trindade foi uma cidade construída em 1751, logo após a criação da Capitania de Mato Grosso. A planta da cidade foi trazida de Portugal pelo primeiro Capitão-Geral D. Antonio Rolim de Moura, responsável pela construção da nova capital, às margens do rio Guaporé. Cuiabá, que nascera nos primórdios da colonização de Mato Grosso (1721), no momento da criação da Capitania (1751), já se constituía um importante centro urbano. Quando o Rei de Portugal decidiu criar a Capitania de Mato Grosso, independente da de São Paulo, o fez porque as fronteiras entre os impérios espanhol e lusitano haviam se encontrado nos limites do rio Guaporé. Para garantir as terras conquistadas pelos bandeirantes paulistas em sua expansão, a Coroa portuguesa decidiu que a capital de Mato Grosso deveria se situar no extremo oeste, ou seja, às margens do rio Guaporé, distante de Cuiabá.

Assim, a residência dos Capitães-Generais que governaram Mato Grosso durante o período colonial, foi Vila Bela da Santíssima Trindade. No entanto, devido às dificuldades de comunicação, especialmente após a desativação da Companhia de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, responsável pelo abastecimento da capital. Os últimos capitães-generais acabaram preferindo passar a maior parte de seu governo residindo em Cuiabá. Dessa forma, foi transferido de Vila Bela grande parte do aparato administrativo-fiscal, passando Cuiabá a ser sede dos governantes.

No crepúsculo do período colonial ocorreu uma disputa ferrenha entre essas duas cidades, porque Vila Bela era capital de direito e Cuiabá de fato, pois o penúltimo capitão-general, João Carlos Oeynhausen de Gravenburgo, fixou residência em Cuiabá, ocasião em que ofereceu grandes festividades, acompanhadas de apresentação de peças teatrais e muita música. Foi ainda em seu governo que foram fundados o hospital dos Lázaros, a Santa Casa de Misericórdia e o Hospital Militar, e ainda franqueada a navegação pelos rios Arinos e

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Tapajós, alem de outros melhoramentos da região cuaiabana. O seu sucessor, Francisco de Paula Magessi, permaneceu 18, dos 19 meses de governo, em Cuiabá, para onde mandou transferir a Junta de Justiça e o Desembargo do Passo, organismos responsáveis pela justiça, além da Casa de Fundição e a Casa do Tesouro, organismos fiscais. Alem disso, Cuiabá contava com uma forte e atuante burguesia, camada social de grande prestígio político e detentora de poder econômico. A cidade, por outro lado oferecia melhores condições para os governantes, seja na questão do comércio, seja no tocante às condições sociais e culturais.

Quando Francisco de Paula Magessi tomou posse, constatou a precária situação financeira da Capitania frente ao que resolveu adotar medidas drásticas para conter os gastos públicos; porém não foram bem aceitos pela população, tornando o governo de Magessi extremamente impopular. Para agravar ainda mais a situação, o salário do funcionalismo encontrava atrasado. Isso causou no seio da população desejo de vingar do governante.

Após 18 meses governando Cuiabá, Francisco de Paula Magessi transferiu sua residência para Vila Bela, ocasião que a elite cuiabana planejou sua deposição. Aproveitando-se da ausência do Capitão-General um grupo político decretou deposto o governador, tendo sido, nesta ocasião, eleita para governar a capitania uma junta governativa.

Dessa contenda política levou vantagem a elite cuiabana que, com seu prestígio, conseguiu, em 1822, o reconhecimento por D. Pedro I, da Junta Governativa cuiabana. Mesmo tendo sido alterado os nomes da primeira Junta e se constituído uma segunda, esta governou até o fim do Período Colonial quando, a 5 de janeiro de 1823, souberam os mato-grossenses da Proclamação da Independência do Brasil, ocorrida a 7 de setembro de 1822.

12.Mato Grosso no Primeiro Império

Foi o Tenente Coronel José Saturnino da Costa Pereira o primeiro Presidente da Província de Mato Grosso após a independência do Brasil.

Fazem parte dos feitos do Presidente José Saturnino a criação do Jardim Botânico, em Cuiabá, o qual foi entregue aos cuidados do naturalista Antonio Luís Patrício da Silva Manso, que posteriormente se notabilizou por sua participação num movimento de cunho revolucionário denominado Rusga.

Em 1825, Cuiabá ganha foros de capital, fato que se tornou de disputa até 1835, quando se firmou o episódio histórico político-administrativo.

13.A “Rusga” e Antonio Pedro de Alcântara

A Rusga: um movimento tipicamente regencial.

Após ter governado por 9 anos como Imperador do Brasil, D. Pedro I, a 7 de abril de 1831, resolveu abdicar do trono, o que significou deixar de ser o Imperador do Brasil, preferindo ser rei em Portugal, com o título de Pedro IV. Em seu lugar, deveria assumir, pela hereditariedade, seu filho Pedro de Alcântara, mais tarde D. Pedro II; porém, ele tinha apenas cinco anos de idade. Para o governo do Império do Brasil foi formada a regência Trina (composta de 3 membros) e mais tarde a Una (composta de um só membro). Essas regências governaram o Brasil de 1831 a até 1840, momento em que assumiu oficialmente D. Pedro II. Foram nesses 9 anos que explodiram, em várias províncias do Brasil, movimentos armados.

Logo após a independência, dois partidos políticos destacaram-se no cenário político brasileiro: os Caramurus e os Liberais, estes últimos divididos em 2 facções: os Liberais Moderados e os Liberais Exaltados. Os Caramurus desejavam a volta de D. Pedro I, assim como a volta do Brasil a sua condição de colônia. Os Liberais Moderados desejavam que o Brasil fosse regido pela Constituição de 1824 e ainda ambicionavam dominar politicamente as províncias. Os Liberais Exaltados desejavam a proclamação da República e a expulsão de

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todos os estrangeiros e portugueses, chamados de adotivos, para fora do País. Assim, cada facção se organizou em Associações ou Sociedades, articulando lutas armadas para conseguirem seus objetivos.

Em Mato Grosso, os dois partidos ambicionavam a tomada do poder provincial. De um lado, os Liberais, articulados junto à Sociedade dos Zelosos da Independência (abarcando tanto Moderados quanto Exaltados) e, do outro lado, os Caramurus, organizados junto à Sociedade Filantrópica composta, majoritariamente, por muitos portugueses e estrangeiros ligados ao grande comércio exportador/importador.

Os presidentes da Província de Mato Grosso eram nomeados pela regência, o que não permitia que elementos da própria Província assumissem o governo. A facção dos Liberais Moderados desejava somente assumir a administração do Governo de Mato Grosso, o que lhes possibilitava colocar em prática os ideais liberais. Poucos dias antes de eclodir a Rusga, um desses Liberais, João Poupino Caldas, foi nomeado, dentre os Conselheiros do Governo, Presidente da Província, por afastamento do titular, Antônio Corrêa da Costa. Esse fato satisfez a ala dos Liberais Moderados; entretanto, a facção dos radicais desejava ir além: expulsar da Província os portugueses e estrangeiros que já haviam sido beneficiados durante o longo Período Colonial e lutar pela alteração do sistema político do Brasil, de Império para República.

Os Liberais mato-grossenses organizaram, antes da posse de Poupino Caldas, um movimento para conseguir a realização de seus objetivos. Infelizmente, a posse de Poupino não foi suficiente para contentar todos os Liberais. A ala radical chefiou o movimento eclodido na noite do dia 30 de maio de 1834, tendo à frente a Guarda Nacional. Reunidos no Campo de Ourique (hoje Praça Moreira Cabral – Assembléia Legislativa), os revoltosos tomaram o Quartel dos Guardas Municipais partiram em diligências para atacar as casas e propriedades dos Caramurus Foram dias de muito sangue e violência, pois nessas diligências muitos foram assassinados, suas propriedades invadidas e depredadas. O comando do movimento, organizado junto ao Quartel dos Guardas Municipais, dava ordens para trazer, como comprovação dos atos, a orelha dos perseguidos.

No momento em que eclodiu a Rusga, governava a Província de Mato Grosso João Poupino Caldas, comerciante, Liberal Moderado e membro da Sociedade dos Zelosos da Independência. Surpreso com a violência da movimentação, Poupino saiu às ruas acompanhado do bispo D. José Antônio dos Reis, solicitando aos revoltosos que parassem com o movimento. Indignados com a atitude do governante, os revoltosos prosseguiram com as perseguições, mantendo, paralelamente ao governo oficial, outro, comando no Quartel, de onde eram emanadas ordens.

Sentido-se sem forças para governar e tampouco para conter o movimento, pois as duas forças policiais – Guardas Nacionais e Guardas Municipais – se encontravam envolvidas na movimentação. João Poupino Caldas solicitou à Regência que enviasse, com urgência, um sucessor. Essa dupla governança perdurou de 30 de maio a novembro de 1834, quando chega a Cuiabá, nomeado pela Regência, o novo Presidente da Província Antônio Pedro de Alencastro.

Ao assumir, o governo tratou ele de desencadear o processo repressivo contra os revoltosos, mandando prender 5 elementos, considerados os “cabeças” do movimento. Foram presos e enviados para o Rio de Janeiro, para serem julgados pelo Supremo Tribunal de Justiça. Eram eles: Pascoal Domingues de Miranda, Brás Pereira Mendes, José Jacinto de Carvalho, Bento Franco de Camargo e Caetano Xavier da Silva Pereira, todos pertencentes à elite. Por outro lado foram presos em Cuiabá vários outros elementos, julgados localmente. Para tanto, foi montado um processo criminal, onde mais de 20 testemunhas depuseram, ao final do qual foram os réus indiciados e condenados à prisão.

João Poupino Caldas ficou ao lado do novo Presidente, dando-lhe apoio político, porém resolveu ir embora de Cuiabá no momento em que Antônio Pedro de Alencastro foi afastado do governo por pressões políticas, muitas delas emanadas dos antigos revoltosos, naquele momento já soltos. João Poupino Caldas, quando se despedia dos amigos e parentes, foi covardemente assassinado, dias antes da data marcada para sua partida da cidade de

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Cuiabá. Esse assassinato revela a força Política do Grupo Liberal e a divisão existente no seio dele: Moderados e Exaltados.

Assim, a Rusga representou um movimento regencial precursor, pois fora, na cronologia deles, o segundo. Estudar a Rusga significa dominar alguns aspectos presentes na maioria dos movimentos regenciais. Infelizmente, movimento mato-grossense, na maioria da literatura nacional, como revela o desconhecimento dos historiadores sobre os acontecimentos da Região Centro-Oeste.

14.O Segundo Império, os presidentes e o Mato Grosso na Guerra do Paraguai

Desde o início do século XIX, Mato Grosso e Paraguai disputavam fronteiras, não ainda com armas, mas através de negociações diplomáticas:

Missão Leverger: assim chamada porque, pelo lado de Mato Grosso, Augusto Leverger, mais tarde Barão de Melgaço, negociou com o governo paraguaio (Francia) a possibilidade de um Tratado de Amizade e de Comércio entre os dois países. Infelizmente, essa missão não obteve sucesso.

Missão Pimenta Bueno: realizada por José Antonio Pimenta Bueno, que governara Mato Grosso logo após a rusga, na tentativa de conseguir franquear a navegação pelo lado do Paraguai.

Missão Piranhos: teve à frente José Maria da Silva Paranhos, que visitou com o mesmo objetivo dos anteriores.

Essas negociações eram muito importantes para Mato Grosso, pois os caminhos fluviais que antes ligavam a província mato-grossense ao litoral brasileiro já estavam desativados e demandava muito tempo e gastos na viagem. Mato Grosso objetivava, com essas negociações com a República do Paraguai, obter a abertura da navegação pelo rio Paraguai, divisor geográfico natural entre o Brasil e o Paraguai. A partir dessa conquista, Mato Grosso conseguiria, em menor tempo, alcançar o oceano Atlântico através do rio Paraguai, estuário do rio da Prata.

Finalmente, a 6 de abril de 1856, foi assinado o “Tratado de Aliança, Comércio, Navegação e Extradição” entre Brasil e Paraguai: estava liberada a navegação pelo rio Paraguai. Os portos mais importantes de Mato Grosso nesse trajeto seriam: Corumbá, o maior deles, seguido de Cáceres e o de Cuiabá. As mercadorias e os viajantes chegariam, vindos do rio da Prata, inicialmente ao porto de Corumbá, seguindo daí para os dois outros. Dessa forma, a Bacia do rio da Prata constituiu o eixo de escoamento das principais mercadorias que abasteceriam a Argentina, o Uruguai, o litoral brasileiro, especialmente os portos do Rio de Janeiro, Santos, Paranaguá, Rio Grande e os de Mato Grosso.

O interesse na abertura desse novo mercado não era somente dos países já citados mas, sobretudo, da Inglaterra que, desde o Período Colonial brasileiro, mantinha superioridade no comércio. Isso se explica porque, já no final do século XVIII, havia ali ocorrido a chamada Revolução Industrial, através da qual passou-se a produzir mercadorias em grande escala que, inicialmente, abasteciam os mercados europeus; porém, com o passar dos anos a produção industrial tornou-se maior, e necessária se fazia a abertura de novos mercados, ou seja, de novas regiões consumidoras das mercadorias produzidas pelos países industrializados. Assim, a Inglaterra desejava não somente ver concretizado este novo roteiro fluvial, por onde iriam entrar as suas mercadorias, mas servia ainda essa aquavia de saída para as matérias-primas, tão desejadas pelas indústrias européias.

Foi nessa confluência de interesses que nasceu uma indisposição com relação ao Paraguai, república altamente industrializada, porem com uma economia interna fechada e socializada de forma que o capital estava maciçamente concentrado em mãos do Estado, que era proprietário da maioria das terras da nação (estâncias da pátria) e das indústrias

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(siderúrgicas, de papel, louça, tintas, sal e outras). Dependendo muito pouco do exterior, uma vez que a maioria dos produtos de que necessitava era ali mesmo produzido, essa república não via com bons olhos a abertura do comércio a nível internacional especialmente porque dele muito pouco usufruía.

O mesmo não ocorria com a República do Uruguai, da Argentina e com o Império brasileiro que, contando com uma precária e insipiente indústria, desejavam comercializar com os países industrializados da Europa, dando vazão não somente às atividades voltadas para a exportação, mas, sobretudo, poderiam com esse contato importar tecnologia nova. Por outro lado, o Paraguai desejava obter uma saída para o Oceano Atlântico, o que demandaria a aquisição de terras dos três outros países.

15.O desenrolar da guerra

A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai durou 5 anos de 1865 a 1870, período em que a Província de Mato Grosso tinha sérias dificuldades de comunicação com o litoral brasileiro, especialmente com o Rio de Janeiro, capital do Império. Conhecedor da situação precária de Mato Grosso, o governo paraguaio, dirigido por Francisco Solano Lopes, resolveu atingir a parte mais frágil o Império brasileiro, pelo seu lado mais ocidental, na raia oeste.

A Província de Mato Grosso, precariamente militarizada, visto não somente a grande extensão de seu território, mas sobretudo a rarefeita população que nele habitava, foi presa fácil. Apesar de todo o empenho e heroísmo de seus comandantes e tropas militares, assim como os índios da região e de toda a população que se envolveu na defesa do território mato-grossense, os primeiros combates foram perdidos e os paraguaios se apossaram de toda a parte sul da Província, hoje constituída do território de Mato Grosso do Sul. O primeiro ataque paraguaio se deu no Forte de Coimbra, comandado por Hermenegildo Portocarrero. Nesse combate, as forças de Lopes foram derrotadas, deslocando o ataque para Corumbá, cidade que foi totalmente devassada, sua população massacrada e a cidade tomada pelas tropas paraguaias. Se a linha de ataque tinha à frente Vicente Barrios, uma outra atacava a Colônia Militar de Dourados, bravamente defendida pelo mato-grossense Antonio João Ribeiro que, com apenas 15 soldados, resistiu bravamente, até a morte.

Depois desses ataques, desviaram-se para outras localidades mato-grossenses: Miranda, Nioac, Dourados, Aquidauna, ameaçando tomar a capital, Cuiabá. Enfraquecida militarmente, uma vez que quase todo o contingente militar havia se deslocado na defesa de sua parte sul, a capital contou com a colaboração de um batalhão dos Voluntários da Pátria, sob o comando inicial de Hermenegildo Portocarrero e, posteriormente, de Augusto Leverger. O local escolhido para a defesa de Cuiabá foi a atual região de Barão de Melgaço, mais especificamente junto às suas colinas. Ali permaneceram as tropas a espera do inimigo que, felizmente, não chegou.

Para incitar a filiação de elementos às tropas de voluntários, Augusto Leverger assim os conclamava: “Marchemos, senhores, a guarnecer o ponto abandonado, e que, ao menos, faça-os conhecer e protestarmos por meio da artilharia. Que me acompanhe quem quiser”.

Apesar de não ter confrontado com as tropas paraguaias, o Batalhão dos Voluntários da Pátria regressou à Cuiabá, tendo recebido calorosas homenagens de sua população que viu-se por ele protegida.

No período final da guerra, Augusto Leverger assumiu, também, a Presidência da Província, ocasião em que diligenciou para que as tropas paraguaias batessem em retirada do território mato-grossense, enviando forças terrestres e fluviais para Miranda e especialmente para Corumbá, ainda sob armas do inimigo.

A retomada de Dourados foi uma das mais trágicas, pois Antonio João, comandante das tropas mato-grossenses, resistiu até a morte e, para incitar os bravos soldados que,

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temerosos ao grande contingente inimigo, dizia: “Sei que morro, mas meu sangue e de meus companheiros servirão de protesto solene contra a invasão do solo de minha Pátria”.

A retomada de Corumbá foi comandada pelo Tenente-Coronel Antonio Maria Coelho, que, mais tarde, seria o primeiro Presidente do Estado de Mato Grosso. Antonio Maria e sua tropa, auxiliada pela população, expulsaram os paraguaios, auxiliados pelo reforço de uma flotilha composta dos favores Antonio João, Jauru, Corumbá, Paraná e Cuiabá. Após essa vitória, outros embates foram travados até que, finalmente, as tropas paraguaias se renderam definitivamente. Estava finalmente encerrada a guerra que não se sabe ao certo que foi vitorioso. Sabe-se que a população Uruguai foi covardemente assassinada e seu chefe supremo, Francisco Solano Lopes, falecido em combate.

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Presidentes da Província de Mato Grosso (1825-1889)

Período Presidente1825-1828 José Saturnino da Costa Pereira1828-1830 Jerônimo Joaquim Nunes1830-1831 André Gaudie Ley1831-1833 Antonio Corrêa da Costa

abril a dezembro de 1833 André Gaudie Ley1833-1834 Antonio Corrêa da Costa

maio de 1834 José de Melo Vasconcelosmaio a setembro de 1834 João Poupino Caldas

1834-1836 Antonio Pedro de Alçencastrofevereiro de 1836 Antonio Corrêa da Costa

Fevereiro a agosto de 1836 Antonio José da Silva1836-1837 José Antonio Pimenta Bueno

maio a setembro de 1838 José da Silva Guimarães1838-1840 Estevão Ribeiro de Rezende

outubro de 1840 Antonio Corrêa da Costa1840-1842 José da Silva Guimarães1842-1843 Antonio Corrêa da Costa

maio a agosto de 1843 José da Silva Guimarãesagosto a outubro de 1843 Manuel Alves Ribeiro

outubro de 1843 José Mariano de Campos1843-1844 Severino Pimentel Moreira Freire1844-1847 Ricardo José Gomes Jardim1847-1848 João Crispiniano Soares

abril a maio de 1848 Manuel Alves Ribeiromaio a setembro de 1848 Antonio Nunes da Cunha

1848-1849 Joaquim José de Oliveira1849-1851 João José da Costa Pimentel1851-1857 Augusto Leverger1857-1858 Albano de Sousa Osório1858-1859 Joaquim Raimundo Delamare1859-1862 Antonio Pedro de Alencastro1862-1863 Herculano Ferreira Pena

Maio a julho de 1863 Augusto Leverger1863-1865 Alexandre Manuel Albino de Carvalho1865-1866 Augusto Leverger1866-1867 Albano de Sousa Osório1867-1868 José Vieira Couto de Magalhães

abril a setembro de 1868 João Batista Oliveirasetembro de 1868 Albano de Sousa Osório

1868-1869 José Antonio Murtinho1869-1870 Augusto Leverger

fevereiro a maio de 1870 Luís da Silva Pradomaio a outubro de 1870 Antonio de Cerqueira Caldas

1870-1871 Francisco Antonio Raposomaio a julho de 1871 Antonio de Cerqueira Caldas

1871-1872 Francisco José Cardoso Junior1872-1874 José de Miranda Reis1874-1875 Antonio de Cerqueira Caldas1875-1878 Hermes Ernesto da Fonseca

março a julho de 1878 João Batista de Oliveira1878-1879 João José Pedrosa1879-1881 Rufino Enéas Gustavo Galvão

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Período Presidentemaio de 1881 José Leite Galvão

1881-1883 José Maria de Alencastromarço a maio de 1883 José Leite Galvão

1883-1884 Manuel de Almeida Gama Lobo D’Eça1884-1885 Floriano Peixoto

outubro a novembro de 1885 José Joaquim Ramos Ferreira1885-1886 Joaquim Galdino Pimentel

Novembro a dezembro 1886 Antonio Augusto Ramiro de Carvalho1886-1887 Álvaro Rodovalho Marcondes dos Reis

março a maio de 1887 Antonio Augusto Ramiro de Carvalhomaio a novembro de 1887 José Joaquim Ramos Ferreira

1887-1889 Francisco Rafael de Melo Regofevereiro a julho de 1889 Antonio Herculano de Sousa Bandeirajulho a agosto de 1889 Manuel José Murtinho

agosto a dezembro de 1889 Ernesto Augusto da Cunha Matos

16.O Brasil Republicano

Período República Divisões

1889 a 1930a Primeira República

República Velha

República da Espada Governo Provisório de Deodoro da Fonseca (1889 a 1891) Governo Constitucional de Deodoro da Fonseca (1891) Governo Floriano Peixoto (1891 a 1894) República das Oligarquias (1894 a 1930)

1930 a 1945 a Segunda

RepúblicaEra Vargas

Governo Provisório (1930 a 1934) Governo Constitucional (1934 a 1937) Estado Novo (1937 a 1945)

1946 a 1964a Terceira República

República Democrática

Governo Eurico aspar Dutra (1946 a 1951) Governo Getúlio Vargas (1951 a 1954) Governo Café Filho (1954 a 1955) Governo Juscelino Kubitschek (1956 a 1960) Governo Jânio Quadros (1961) Governo João Goulart (1961 a 1964)

1964 a 1985a Quarta

República

República Militar

Governo Marechal Castelo Branco (1964 a 1967) Governo Marechal Costa e Silva (1967 a 1969) Governo General G. Médici (1969 a 1974) Governo General Ernesto Geisel (1974 a 1979) Governo General João Batista Figueiredo (1979 a 1985)

1985 a ...a Quinta

República

Nova República

Governo José Sarney (1985 a 1990) Governo Fernando Collor (1990 a 1992) Governo Itamar Franco (1992 a 1995) Governo Fernando Henrique (1995 a 1998) Governo Fernando Henrique (1999 a 2002) Governo Luís Inácio Lula da Silva (2003 a ...)

17.Mato Grosso na Primeira República

As correntes existentes entre facções políticas, durante a Primeira República ficaram conhecidas na História do Brasil como as disputas entre os Coronéis, e o período conhecido como “coronelismo”. Em Mato Grosso, não foi diferente. Desde a proclamação da República, inúmeros movimentos armados se sucederam, tendo como protagonistas os coronéis que disputavam entre si o comando político do Estado.

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a) O Movimento de 1892

O primeiro movimento armado ocorreu imediatamente após a Proclamação da República, em 1892. Tendo sido escolhido como primeiro Presidente da República Brasileira, o Marechal Deodoro da Fonseca nomeou para governar os Estados pessoas de sua confiança. Para o Mato Grosso, foi Antônio Maria Coelho, o qual, logo que assumiu o governo, criou um novo partido político, intitulado Partido Nacional Republicano, como os elementos antes vinculados ao antigo Partido Conservador.

No momento em que, em nível nacional, Manuel Deodoro da Fonseca renunciou ao governo, no plano estadual igualmente, pretendia-se alijar do poder os elementos a ele vinculados. Manuel José Murtinho ao lado de Generoso Paes Leme de Sousa Ponce iniciam uma movimentação para a derrubada de Antônio Maria Coelho que, frente às pressões, renunciou ao governo mato-grossense, tendo sido sucedido por Frederico Sólon de Sampaio Ribeiro. Sentindo o clima tenso, Sólon, vinculado ao partido republicano, resolveu tornar nulas as deliberações tomadas por seu antecessor, invalidando até as eleições à Assembléia Constituinte Estadual e iniciando um novo processo eleitoral.

O grupo oligarca do sul do Estado (hoje MS), considerando ilegais tais procedimentos, iniciou um contra-movimento, tomando o poder da oligarquia nortista. Inicialmente, os revoltosos do sul expediram panfletos, incitando a população a se engajar no movimento; depois, os revoltosos reuniram-se em frente à intendência Municipal de Corumbá e dali depuseram, mesmo à distância o governante estadual. De Corumbá, uma caravana atingiu a capital, obrigando Murtinho a renunciar e instalaram um governo provisório agora contando também com elementos da parte norte.

b) O Contragolpe

Naturalmente, Floriano Peixoto, sentindo reações por todo o País, apoiado que estava tanto pelo Congresso Nacional quanto pela a oligarquia cafeeira, providenciou a montagem de exércitos estaduais capazes de reverter, pelas armas, as situações de oposição a seu governo.

Em Mato Grosso, o Partido Republicano, majoritariamente composto pela oligarquia do norte, desencadeou um contragolpe através da “Legião Floriano Peixoto”, tendo à frente Generoso Paes Leme de Sousa Ponce, que conseguiu cercar o Arsenal de Guerra e depor o Presidente da Junta Governativa, recolocando no poder Manuel José Murtinho, a 20 de julho de 1893.

De Cuiabá, essa Legião seguiu para Corumbá, dissipando a oposição naquela importante cidade e fazendo respeitar o governador Murtinho.

A partir desse momento, inicia-se uma série de movimentos armados no Estado, desencadeado pelos grupos políticos e suas lutas pelo poder. Cada um desses grupos mantinha verdadeiros exércitos particulares formados por homens que obedeciam à vontade do chefe. Ficaram estes grupos conhecidos como “capangas” dos coronéis.

Com os resumos que se seguem, exemplificamos, pela descrição de dois movimentos principais, a natureza das lutas coronelistas em Mato Grosso:

c) Massacre da Baía do Garcez (1898-1901)

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Breve descrição do movimento

1. Manuel José Murtinho deixou o governo de Mato Grosso partindo para o Rio de Janeiro, onde fora apoiar politicamente seu irmão, Joaquim Murtinho, Ministro.

2. Nas eleições em Mato Grosso, Murtinho lançou o nome de José Maria Merelo, sendo que Generoso Ponce lançara o nome de João Félix Peixoto de Azevedo, numa clara demonstração de rompimento político entre Murtinho e Ponce.

3. Vence o candidato de Ponce, e Murtinho inicia um movimento para depor do governo Peixoto de Azevedo. As forças armadas foram comandadas por Antonio Pires de Barros, usineiro de grande prestígio na época.

4. Totó Paes sitiou o centro urbano de Cuiabá e, pela força das armas, conseguiu fazer com que a Assembléia Legislativa anulasse e eleição, na qual Peixoto de Azevedo fora vitorioso, e convocasse novas eleições. Nessa última, saiu vitorioso, como se esperava, o candidato apoiado por Manuel José Murtinho, Antonio Pedro Alves de Barros.

5. Para garantir-se no poder, Antonio Pedro Alves de Barros montou uma força armada intitulada “Divisão Patriótica”, comandada por Totó Paes. Objetivava ele acabar com a oposição a seu governo. Em outubro de 1901, essa Divisão soube de um reduto oposicionista concentrados na Usina Conceição, de propriedade do Cel. João Paes de Barros. Deixando de lado o parentesco, pois esse proprietário era irmão de Totó Paes, o cerco foi feito, os oposicionistas foram presos e levados até o local intitulado “Baía do Garcez”, onde foram barbaramente assassinados. Segundo nos conta Ponce Filho (1952), a chacina foi praticada de forma bárbara, uma vez que os corpos foram abertos em cruz para que, jogados à baía, não boiassem, conservando-se no fundo da mesma. Este episódio veio ser descoberto em 1902, quando as águas da baía secaram e as ossadas ficaram expostas, revelando o crime cometido impunemente.

d) Movimento de 1906

Breve descrição do movimento

1. Nas eleições de 1902, Antônio Paes de Barros (Totó Paes) candidatou-se e venceu as eleições para a Presidência do Estado de Mato Grosso, pelo Partido Republicano Constitucional. Seguindo a “política dos governadores”, esse governante modernizou Mato Grosso, através da participação na Exposição Internacional de Saint Louis.

2. A “política dos governadores“ tinha como objetivo primordial o apoio incondicional ao presidente da República, trabalhando os Estados para garantir o êxito dos programas gerais.

3. Totó Paes, que contava com fortíssima oposição política, distanciou-se do grupo que o elegera, o qual ara apoiado pelos Murtinho (Manuel e Joaquim), acreditando que apenas o apoio da Presidência da República lhe garantiria no poder. Esse rompimento fez com que os Murtinho se aproximassem dos rivais de Totó Paes, organizados sob a liderança de Generoso Ponce, Pedro Celestino Corrêa da Costa, Joaquim Caracíolo Peixoto de Azevedo e Joaquim Augusto da Costa Marques.

4. A intensificação das lutas oposicionistas levaram Totó Paes a pressionar o líder as oposição local, Generoso Ponce, a migrar para o Paraguai, onde montou um jornal “A Reação”, através do qual, mesmo distante, fazia oposição ao governo totopesiano. Os líderes oposicionistas de outras localidades reagiram, tomando o poder local, como foi o caso dos líderes de Corumbá, que formaram a “Divisão Naval Libertadora”, equipada com 10 unidades, entre paquetes, lanchas e embarcações de menor porte. De Corumbá, a movimentação atingiu a capital, ocasião em que foram tomados vários redutos governistas, como foi o caso da Fazenda Itaici., de propriedade de Totó Paes.

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5. As notícias das contendas partidárias chegaram ao conhecimento do Governo Geral, que prometera enviar ao Governador de Mato Grosso a expedição “Dantas Barreto” para ajuda-lo a garantir-se no poder. No entanto, antes que essas forças militares chegassem a Cuiabá, os oposicionistas cercaram a cidade e solicitaram que o governante renunciasse.

6. Totó Paes, no aguardo das forças federais, acabou se refugiando no Coxipó, mais precisamente nas imediações da fábrica de pólvora, onde foi morto pelas forças de oposição.

7. esse fato repercutiu negativamente junto ao Governo Federal, que recebeu a notícia do ofício a ele enviado pelas forças oposicionistas, onde se descreveu o momento do assassinato do Presidente Antonio Paes de Barros.

e) A Caetanada

Movimento armado que teve início em 1916 e girou em torno da eleição de Caetano Manoel de Farias Albuquerque, conhecido como Gen. Caetano, em 1915. Caetano de Albuquerque negou-se a exonerar funcionários públicos, que seu partido (Republicano Conservador) considerava adversários.

Caetano passa então a sofrer oposição de poderosos políticos da época, entre eles Aníbal de Toledo, Oscar da Costa Marques e outros representantes de Mato Grosso na Câmara dos Deputados e do senador Antonio Francisco Azeredo, vice-presidente do Senado Federal.

Pressionado, Caetano acena então com a renúncia, pede licença à Assembléia Legislativa para ir ao Rio de Janeiro para formalizar a renúncia. Entretanto, recebe o apoio de Pedro Celestino, chefe do Partido Republicano de Mato Grosso e volta atrás, não cancelando a licença e não efetivando a renúncia.

Contra a oposição, Caetano reage cercando o local onde se reuniam seus principais líderes na Câmara dos Deputados.

O presidente da Assembléia Legislativa, Francisco Pinto de Oliveira, alegando falta de segurança e garantias constitucionais, transferiu as atividades da Assembléia para Corumbá. O governo então ficou dividido, com duas administrações. De um lado Caetano, que estabelecido em Cuiabá, despachava do palácio do governo. Em Corumbá, governava Manoel Escolástico. É decretada, pela Assembléia Legislativa, o impeachment de Caetano Albuquerque, o qual para não perder o mandato, entra no Supremo Tribunal Federal com um pedido de hábeas corpus.

Diante da situação, o então presidente da República, Wenceslau Braz, intervém no Estado colocando como interventor federal, Camilo Soares de Moura, que em 1917, acaba com a Caetanada.

f) Mato Grosso r as Revoluções de 1922 e 1924

Em 1922, assume a presidência de Mato Grosso, Pedro Celestino Corrêa da Costa. No mesmo ano rompe no Rio de Janeiro com uma série de rebeliões nos quartéis, que marcou o início da crise da República Oligárquica, conhecido como movimento tenentista.

O movimento tenentista foi marcado pela reação da jovem oficialidade do Exército que insurgiu contra a dominação oligárquica e a farsa que era o processo eleitoral, dominado pelos coronéis.

Apesar de indefinida politicamente e ideologicamente, o movimento tenentista apresentava duas facções: uma radical, da qual contava Luís Carlos Prestes, que pregava a realização de reformas profundas na economia e sociedade; a outra, moderada, pregava a adoção de medidas moralizantes, com a adoção do voto secreto e pequenas mudanças na

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estrutura política, sem contudo, alterar a ordem fundiária. Com o passar do tempo, a ala moderada do movimento tenentista se uniu às oligarquias dissidentes, servindo-lhe de braço armado.

g) A Revolta do Forte de Copacabana

A primeira revolta tenentista ocorreu em 1922, no Rio de Janeiro, onde capitães e tenentes do Exército e Marinha insurgiram contra o governo Epitácio Pessoa, em virtude do fechamento do clube militar e a prisão de Hermes da Fonseca, acusado de intervir indevidamente nos assuntos do governo de Pernambuco. Sob a liderança do capitão Euclides da Fonseca, filho de Hermes da Fonseca, que tomaram o Forte de Copacabana e em seguida atacaram o quartel-general do Exército. O movimento se alastrou por outras unidades no Rio de Janeiro, Niterói e Mato Grosso.

A repressão do governo foi imediata; após decretar estado de sítio, reprimiu violentamente os revoltosos. No Rio de Janeiro, a resistência dos revoltosos foi feita através de um confronto suicida por parte de 17 militares e 1 civil, conhecido como os “18 do Forte de Copacabana”, do qual escaparam os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos.

h) A Coluna Prestes

A fusão das duas colunas, sob a liderança do general Miguel Costa e do capitão Luís Carlos Prestes, provocou grande alvoroço dentro do governo Arthur Bernardes. Percorrendo 24.000 km pelo interior do Brasil, de abril de 1925 a fevereiro de 1927, vencendo tropas locais dos coronéis federais e disseminando idéias contrarias a dominação oligárquica, representada pelo poder dos coronéis. Com a saída de Arthur Bernardes, após o fim de seu mandato, a coluna se desfez, refugiando-se parcialmente na Bolívia, de onde sairia posteriormente para fazer parte da “Revolução de 1930”.

Em Mato Grosso, os desdobramentos da crise que envolvia a República Oligárquica, girou em torno do conflito capitaneado por Morbeck e Manuel Balbino de Carvalho que se digladiavam na região do Rio das Garças.

José Morbeck representava, em Santa Rita do Araguaia, atual Alto Araguaia, a oposição armada contra o governo Pedro Celestino. Para fazer frente a Morbeck foi nomeado delegado de polícia para a região. Manoel Ribeiro de carvalho, o qual, para impor a ordem, chocava-se constantemente com os interesses de Morbeck.

Pedro Celestino renunciou em outubro de 1924, quando então assume o Dr. Estevão Alves de Corrêa, que se viu à frente duas circunstâncias adversas, uma delas, o conflito Morbeck Carvalhinho, na zona garimpeira no Leste e a Coluna Prestes, que teve grande repercussão em Mato Grosso, com seu discurso contra o domínio dos Coronéis.

Na administração de Alves Corrêa assinou-se o contrato para a instalação e montagem da Hidrelétrica de Rio das Cascas (CASCA 1), constituída no governo Mário Corrêa, que dentre outros feitos, construiu escolas, abriu estradas, reformou prédios, urbanizou a Praça da República.

O sucessor de Mário Corrêa foi Aníbal de Toledo que assumiu em janeiro de 1930; entretanto foi deposto e substituído pó interventor federal, pelo governo provisório de Getúlio Vargas, que liderou a “Revolução d 1930” e derrubou o Presidente Washington Luís, pondo fim à República Velha inaugurando a Era Vargas.

José Morbeck, representava, em Santa Rita do Araguaia, atual Alto Araguaia armada contra o governo Pedro Celestino. Para fazer frente a Morbeck, foi nomeado delegado de polícia para a região, Manoel Ribeiro de Carvalho, o qual, para impor a ordem, chocava-se constantemente com os interesses de Morbeck.

Pedro Celestino renuncia em outubro de 1924, quando então assume o Dr. Estevão Alves de Corrêa, que se viu à frente de duas circunstâncias adversas, uma delas, o conflito

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Morbeck-Carvalinho, na zona garimpeira no Leste e a Coluna Prestes, que teve grande repercussão em Mato Grosso, com seu discurso contra o domínio dos coronéis.

Na administração de Alves Correa assinou-se o contrato para a instalação e montagem da Usina Hidrelétrica de Rio das Casca (Casca 1), construída no governo Mário Corrêa, que dentre outros feitos, construiu escolas, abriu estradas, reformou prédios, urbanizou a Praça da República.

O sucessor de Mário Corrêa foi Aníbal de Toledo que assumiu em janeiro de 1930; entretanto foi deposto e substituído por um interventor de Getúlio Vargas, que liderou a “Revolução de 1930” e derrubou o presidente Washington Luís, pondo fim à República Velha inaugurando a Era Vargas.

18.Governantes de Mato Grosso: 1889-1930

Governante Período de GestãoAntonio Maria Coelho Dezembro de 1889 a fevereiro de 1891Sólon de Sampaio Ribeiro Fevereiro a abril de 1891José da Silva Rondon Abril a junho de 1891João Mepomuceno de Medeiros Mallet Junho a agosto de 1891Manoel José Murtinho Agosto de 1891 a maio de 1892Dupla Junta Governativa 1892Luís Benedito Pereira Leite Fevereiro a abril de 1892Junta Governativa 10 a 18 de abril de 1892

Governante Período de GestãoLuís Benedito Pereira Leite 19 a 24 de abril de 1892André Virgílio Pereira de Albuquerque 24 a 26 de abril de 1892José Marque Fonte abril a maio de 1892Generoso Paes Leme de Sousa Barros maio a julho de 1892Manoel José Murtinho julho de 1892 a agosto de 1895Antonio Corrêa da Costa agosto de 1895 a setembro de 1897Antonio Cesário de Figueiredo setembro a novembro de 1897Antonio Corrêa da Costa novembro de 1897 a janeiro de 1898Antonio Cesário de Figueiredo janeiro de 1898 a julho de 1899Antonio Leite de Figueiredo julho a agosto de 1899Antonio Pedro Alves de Barros agosto de 1899 a abril de 1900João Paes de Barros abril a agosto de 1900Antonio Pedro Alves de Barros agosto de 1900 a agosto de 1903Antonio Paes de Barros agosto de 1903 a julho de 1906Pedro Leite Osório julho de 1906 a agosto de 1907Generoso Paes Leme de Sousa Ponce agosto de 1907 a outubro de 1908Pedro Celestino Corrêa da Costa outubro de 1908 a agosto de 1911Joaquim Augusto da Costa Marques agosto de 1911 a agosto de 1915Caetano Manoel de Faria e Albuquerque agosto de 1915 a fevereiro de 1917Camilo Soares de Moura fevereiro a agosto de 1917Cipriano da Costa Ferreira agosto a outubro de 1917Camilo Soares de Moura outubro de 1917 a janeiro de 1918Dom Francisco de Aquino Corrêa janeiro de 1918 a janeiro de 1922Pedro Celestino Corrêa da Costa janeiro de 1922 a outubro de 1924Estevão Alves Corrêa outubro de 1924 a janeiro de 1926Mário Corrêa da Costa janeiro de 1926 a janeiro de 1930

19.Mato Grosso na Terceira República

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A nova disposição política do período posterior à ditadura varguista, despontou acirrado pela disputa entre três grandes partidos: a UDN, União Democrática Nacional, oposição ao regime estadonovista, e os PSD e PTB, Partido Social Democrático e Partido Trabalhista Brasileiro, respectivamente, partidos criados por Getúlio Vargas, que refletiam, de certa forma, seus anseios em voltar ao poder.

Em Mato Grosso, esta disposição também foi sentida. PSD e PTB se uniram saindo vencedores na disputa para a presidência da República, com o general Dutra. No Senado, a coligação saiu derrotada, já na Câmara dos Deputados ocorreu um empate.

Em janeiro de 1946, sob a intervenção de João Marcelo Moreira, ocorreram as eleições para governador, deputados estaduais e mais um senador.

Para o governo do Estado, foi eleito Arnaldo de Figueiredo, PSD-PTB, o qual governou de março de 1946 a julho de 1950.

A nova Assembléia responsabilizou-se por elaborar a nova constituição do Estado.O governo de Arnaldo de Figueiredo foi marcado pela restauração das antigas

estruturas do Estado, às novas necessidades da reconstitucionalização do país nos moldes democráticos. Para tanto enviou à Assembléia Legislativa, diversos projetos de leis voltados à restauração administrativa e judiciária.

Outra preocupação do governo foi com o desenvolvimento dos transportes em Mato Grosso, sendo criada a Comissão Estadual de Estradas de Rodagem – CER, que, posteriormente, transformou-se no Departamento de Estradas de Rodagem, hoje DERMAT.

Processou-se, ainda, uma política de colonização do Estado, com a criação de vários núcleos coloniais.

Em 02 de julho de 1950, 7 meses antes do prazo, Arnaldo de Figueiredo renuncia ao governo de Mato Grosso para concorrer a vaga no Senado, assumindo em seu lugar Jary Gomes, então presidente da Câmara Legislativa, pois na Constituição mato-grossense não existia a figura do vice-governador.

O próximo governador eleito foi Fernando Corrêa da Costa, que, ao derrotar o candidato da coligação PSD-PTB, Filinto Muller, governou de 1951 a 1956.

Das realizações de seu governo, destacam-se a reforma do ensino público, a criação da Secretaria de Educação e Saúde do Estado, a continuação da política de desenvolvimento rodoviário, o início da construção das usinas do Rio Casca II e Mimoso.

Fernando Corrêa da Costa voltou a governar Mato Grosso de 1961 a 1966.De 1956 a 1961, Mato Grosso foi governado por João Ponce de Arruda, o qual deu

continuidade a política de construção de rodovias, tendo sido abertas, em sua administração as estradas São Vicente-Jaciara-Rondonópolis, que introduziu a colonização no Vale do Rio São Lourenço e, no sul, as estradas que interligam os municípios da fronteira com O Paraguai, proporcionando o aproveitamento das férteis terras agrícolas de Dourados, Ponta Porá, Amambaí, Antonio João, etc. e, ainda, as da região da Bodoquena.

Concluiu em seu governo, as usinas do Rio Casca e do Mimoso, alem de várias obras públicas, tais como escolas, edifícios, dos quais o novo Palácio Alencastro, em Cuiabá.

20.Governadores de 1945 a 1966

Governante Período de GestãoOlegário Moreira de Barros Novembro de 1945 a agosto de 1946Wladislau Garcia Gomes 6 a 19 de agosto de 1946José Marcelo Moreira Agosto de 1946 bril de 1947Arnaldo Estevão de Figueiredo Abril de 1947 a julho de 1950Jarí Gomes Julho de 1950 a janeiro de 1951Fernando Corrêa da Costa Janeiro de 1951 a janeiro de 1956José Ponce de Arruda Janeiro de 1956 a janeiro de 1961Fernando Corrêa da Costa Janeiro de 1961 a março de 196621.Mato Grosso na Quarta República

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Governava Mato Grosso pela segunda vez, Fernando Corrêa da Costa, o qual junto com os governadores de São Paulo, Guanabara (hoje extinto), Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás aliaram-se incontinentes ao golpe dado pelos militares.

De Cuiabá partiu a tropa que ocupou Brasília, constituída pelo antigo 16º BC, hoje 44º BIMtz, e que foi, juntamente com a de Minas, a primeira tropa a chegar em Brasília, precipitando a fuga de João Goulart, o qual se refugiou, posteriormente no Uruguai.

A 21 de abril de 1964, após a “eleição” e posse do Presidente Castelo Branco, a tropa mato-grossense regressou ao quartel.

Iniciou-se o período de eleição indireta dos presidentes da República e governadores de Estado. Mato Grosso, Minas Gerais e o antigo Estado da Guanabara, por terem eleitos governadores a quem os militares consideravam indesejáveis, aplicou-se os dispositivos do AI-5, sendo Pedro Pedrossian o ultimo governador eleito por voto direto.

22.Governadores de 1966 aos dias atuais

Governante Período de GestãoPedro Pedrossian Março de 1966 a março de 1971José Manoel Fontanillas Fragelli Março de 1971 a março de 1975José Garcia Neto Março de 1975 a agosto de 1978Cássio Leite de Barros Agosto de 1978 a março de 1979Frederico Carlos Soares de Campos Março de 1979 a março de 1993Julio José de Campos Março de 1983 a maio de 1986

Governante Período de GestãoWilmar Peres de Faria Maio de 1986 a março de 1987Carlos Gomes Bezerra Março de 1987 a maio de 1990Édison de Freitas Maio de 1990 a fevereiro de 1991Moisés Feltrin Fevereiro a março de 1991Jayme Veríssimo de Campos Março de 1991 a março de 1995Dante Martins de Oliveira Março de 1995 a março de 1999Dante Martins de Oliveira Março de 1999 a março de 2003José Rogério Salles Abril de 2002 a janeiro de 2003Blairo Borges Maggi Janeiro de 2003 a setembro de 2008

23.Mato Grosso hoje: aspectos econômicos, políticos e sociais.

O contingente migratório que se estabeleceu na região foi igualmente responsável pela alteração das condições agrícolas. O estabelecimento desses agricultores deu-se de várias maneiras, seja pela iniciativa privada – nesse caso, considerando os já agricultores em outras regiões e que detinham algum capital para investimento em terra – ou através de colonizadores estaduais, o que foi mais usual.

No município de Chapada dos Guimarães, as primeiras famílias de agricultores chegaram à região pós-1960, tendo Campo Verde se sobressaído, considerando a migração da família Borges Fernandes, ainda no século XIX. O estabelecimento de migrantes sulistas especialmente voltados para as fainas agrícolas se deu em 1960. Foi nesta data citada que a família Côcco se fixou às margens da BR-070, tendo chegado posteriormente à região outras famílias sulistas.

Outro projeto de importância para a região é o “Sadia Agrovila”, indústria de ração animal, com capacidade para produção de 40 toneladas-hora. A Sadia Avícola desenvolveu um projeto de produção de frangos, em pequenas propriedades arrendadas, as quais criam e fornecem para o Frigorífico Sadia Oeste, com sede em Várzea Grande, grande volume de frangos para o abate.

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A erma-mate, produto consumido pelos sulistas da região de Campo Grande, especialmente no hábito de tomar o chimarrão, estimulou o sr. Dalcir Laurentino de Souza a estabelecer uma indústria intitulada Erva Mate Campo Verde, a qual é responsável pela produção mensal de 35.000 quilos da erva beneficiada.

A agricultura representa, portanto, a base sólida da região, onde estão assentados inúmeras famílias que se dedicam ao cultivo agrícola da soja, arroz, feijão e milho, sendo que a pecuária vem se tornando o segundo ramo de peso na economia agrícola regional.

Produção agrícola da bacia do Rio Cuiabá

Município Arroz Milho Feijão Soja Cana MandiocaCuiabá 600 1.100 120 0 280 550Rosário Oeste 1.800 2.000 150 0 47 1.000Nobres 2.000 1.500 0 5.000 47 150Livramento 1.200 1.300 100 0 330 1.450Santo Antonio do Leverger 1.600 1.480 220 2.090 150 1.450Poconé 800 1.000 150 0 500 350Barra do Melgaço 516 668 363 0 60 90Acorizal 357 500 50 0 400 600Jangada 620 750 0 0 400 800Campo Verde 1.800 2.300 800 1.050 800 1.600

24.Mineração e nascimento das cidades

A colonização da região do rio São Lourenço teve início com a instalação do destacamento de Ponte de Pedra (1875) às margens do rio do mesmo nome. Este posto militar foi apoio para as futuras incursões da Comissão Rondon na implantação das linhas telegráficas, especialmente a Estação Telegráfica Gomes Carneiro. A chamada “Comissão Rondon”, nome que passou para a história a “Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso ao Amazonas”, tinha à frente o mato-grossense Candido Mariano da Silva Rondon, nascido em Mimoso e militar formado. Os dois grandes objetivos da Comissão eram:

a) estender fios telegráficos desde o interior de São Paulo, atravessando Mato Grosso e atingindo terras amazonas;

b) civilizar e aculturar as tribos indígenas existentes nas regiões por onde os fios telegráficos foram esticados. Muitos índios trabalharam junto à Comissão, chegando alguns deles a se tornarem telegrafistas.

Já na segunda metade do nosso século, as terras povoadas da parte leste de Mato Grosso, que abrange à região de Rondonópolis, Itiquira, Poxoréu, Pedra Preta, Jaciara, Juscimeira, São Pedro da CIPA foram colonizadas através de empresas imobiliárias que, através de um esquema amplo de propaganda, incentivava migrantes de outros estados brasileiros a virem para Mato Grosso. Esta região foi povoada, basicamente, por goianos, mineiros, paulistas, nordestinos e nortistas, os quais se dedicaram, inicialmente, à extração de diamantes, porem, mais tarde, agricultura e pecuária. Os nortistas e os nordestinos haviam trabalhado junto à extração do látex amazônico e mato-grossense, porem, com a queda daquela produção, migraram para a região leste de Mato Grosso, ali desenvolvendo uma organização social baseada nas corrutelas, que eram pequenos acampamentos diamantíferos onde trabalhavam, sob o comando de um chefe, inúmeros garimpeiros.

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25.Destino dos diamantes de Mato Grosso

As pedras preciosas sempre tiveram altas cotações de preços junto aos mercados nacional e internacional. Se junto às zonas mineradoras elas pouco valiam, uma vez que se constituíam em única mercadoria com a qual se adquiriam muitas outras, naturalmente, grande parte delas era levada para fora da região Leste de Mato Grosso, com o fim de serem comercializadas.

O primeiro destino foi Cuiabá, capital do Estado e local de respeitável concentração urbana. Ali eram negociadas as pedras não só por residentes locais como também por pessoas chegadas dos grandes centros do país, especialmente do Rio de Janeiro, capital do Brasil nesse período. Com o passar do tempo, os grandes compradores de diamantes, conhecidos como capangueiros, passaram a monopolizar o comércio das pedras e, para que isso ocorresse, exigiam um controle efetivo sobre os garimpeiros, única forma de garantia da exclusividade de concessão.

Obviamente que a disputa pela hegemonia sobre os garimpos não foi muito tranqüila. Muitas lutas foram travadas, no Leste mato-grossense na disputa pelo poder e prestígio nas concessões. Desnecessário se dizer que os grandes monopolizaram o comércio das pedras, deixando grande parte da população pobre e miserável.

26.Agricultura e Pecuária – o nascimento das cidades.

A agricultura nessa região do rio São Lourenço foi inicialmente, caracterizada por uma produção de subsistência, capaz de abastecer os centros mineradores. Com a decadência das jazidas diamantíferas e pastoris, não mais sob a forma rudimentar de produção, mas com fins comerciais. As primeiras penetrações na região, que constitui atualmente o município de Itiquira, foram caracterizadas pela migração de garimpeiros vindos da região do Garças. Esses, encantados com a fertilidade das terras da região com os extensos campos, terminaram por se estabelecer definitivamente na região, cujas características econômicas se assentaram na trilogia: Mineração, pecuária e agricultura.

Os assentamentos se deram, inicialmente, sob a égide do governo estadual. Em 1942, o Interventor Júlio Muller promoveu a criação da colônia agrícola de Mutum (atual Dom Aquino). Pela já citada lei 336/49, ocorreu o assentamento de pequenos produtores na região do atual município de Rondonópolis.

Neste mesmo ano (1949), teve inicio o processo de colonização, sob o comando da CIPA – Colonizadora Industrial Pastoril e Agrícola, empresa privada, com sede na cidade paulista de Presidente Prudente. Depois de demarcar as glebas, a CIPA iniciou a propaganda, ocasião em que contratou corretores e arregimentou pessoal para disseminação de folhetos informativos junto à estação da Estrada de Ferro Sorocabana. O resultado foi a compra das glebas e o assentamento dos proprietários, que se dedicaram à agricultura e à pecuária.

O primeiro comprador da CIPA foi Nicola Rádica que, viajando da cidade paulista de Jardinópolis para Presidente Prudente, tomou conhecimento da colonização e, tomando um monomotor, viajou para a atual região de Jaciara.

Através dessa citada colonizadora, foram doados, em 1949, 20 hectares de terra para a formação do vilarejo que intitulou-se São Lourenço, passando mais tarde a denominar-se Centro Nápoli e, finalmente, São Pedro da CIPA, em homenagem à colonizadora e ao seu santo padroeiro.

Nestas regiões – Jaciara, Juscimeira e São Pedro da CIPA – a agricultura teve grande desenvolvimento por causa da alta fertilidade do solo, tendo como destaque a cultura de cana-de-açúcar, responsável pela instalação, em novembro de 1962, através da Lei Estadual nº 1765, de uma usina de açúcar em Jaciara. Parte do equipamento inicial dessa usina adveio da desativação da Usina Conceição, situada na região do rio Cuiabá Abaixo.

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Juscimeira teve origem com a gleba Areia, instalada em 1952. A região se desenvolveu a partir de 1961, com a construção da BR-364. Até 1967, na região do atual município, existiam apenas pequenos povoados, como Limeira, Juscilàndia e outros, os quais foram unidos, formando a cidade de Juscimeira.

Foi a partir de 1960, com a intensa leva de migrantes, especialmente advindos das regiões Sudeste e Sul do País, que teve início o processo de concentração de terra, uma vez que os antigos pequenos proprietários, impossibilitados de concorrer com o grande capital, acabaram vendendo deus lotes.

27.O açúcar em Mato Grosso.

A história de Mato Grosso não foi somente marcada pela mineração do ouro e diamante, mas também um marco dessa história é a produção açucareira. Esta produção pode ser dividida em dois momentos bem distintos: o dos engenhos e o das usinas.

a) O engenho (século XVIII e XIX)

Com a descoberta e exploração das minas do Coxipó e de Cuiabá, um grande afluxo de pessoas se dirigiu para as regiões de mineração.

Como nem só de ouro vivia toda essa gente, tornou-se necessário cuidar da alimentação, que nessa época era produzida com grande dificuldade nas roças locais. A cana-de-açúcar era um produto conhecido de grande parte dos colonos que aqui chegaram, trazendo o domínio do cultivo desta, lá de São Paulo.

Assim, ao lado das atividades mineradoras, foram erguidas as primeiras engenhocas responsáveis pela produção, não só do açúcar, mas também da fabricação da aguardente.

Como a alimentação era escassa, a cana-de-açúcar e a aguardente substituíam esta alimentação. Na realidade, os derivados da cana-de-açúcar se transformaram em alimento farto em glicose e sacarose.

Esta situação não foi vista com bons olhos pelos mandatários da Coroa portuguesa, especialmente a aguardente. Na visão destes, a produção de aguardente tinha os mesmos efeitos perniciosos sobre os escravos, os quais, ao invés de minerar só se ocupavam da fabricação da cachaça. Isso gerava prejuízo à Coroa que tinha na mineração do ouro um negócio lucrativo.

Em 1735, o governador da Capitania de São Paulo expediu uma ordem para que fossem destruídos todos os engenhos de cana-de-açúcar existentes nas minas de Cuiabá. Apesar do empenho do Conde de Sarzedas, governador da Capitania, os engenhos não só foram conservados mas proliferaram pelas margens do rio Cuiabá, pela Chapada dos Guimarães, por Poconé, Livramento, chegando até Cáceres. Foi, porém, nas margens do Cuiabá que eles mais proliferaram, uma vez que o solo sofria um adubamento natural, fruto dos períodos de enchentes, as matas eram abundantes e o transporte era facilitado graças à via fluvial.

Tanto o açúcar quanto a aguardente eram produtos que abastecia apenas o mercado local A produção era pequena e não tinha um excedente que pudesse ser exportado. A aguardente era de excelente qualidade, mas o açúcar produzido era potó, escuro, ou mascavo.

O engenho era tocado por escravo, o qual, tal como no restante da Colônia, era tratado com maus tratos, violência e desrespeito.

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b) As Usinas

O século XIX é profundamente influenciado pelo capitalismo. Desta maneira, Mato Grosso, sentiu a necessidade de produzir em larga escala, visando atender à crescente população local e também ao comércio.

Em 1856 aconteceu a abertura da navegação pelo rio Paraguai, fazendo com que a Província entrasse no circuito nacional e internacional do capital. Mercadorias industrializadas eram trazidas de toda a Europa para a América. Inclusive para Mato Grosso. Dentre esses produtos industrializados estavam as maquinarias modernas, para produção e refinação do açúcar, assim como a aparelhagem responsável pela destilação da aguardente e do álcool.

Muitos dos antigos proprietários de engenhos adquiriram estes equipamentos industrializados e montaram usinas. Apesar de o açúcar e a aguardente ser produzidos em grande escala, pouco se exportava, sendo toda a produção consumida pela população de Mato Grosso.

Apesar da modernização ocorrida a nível das maquinarias, as relações de trabalho mantiveram-se arcaicas. Mesmo após a abolição (1888), os trabalhadores das usinas de Mato Grosso, em sua grande maioria, continuaram a receber um tratamento escravista.

O proprietário da usina fazia as vezes de coronel, ou seja, aquele que determinava e fazia cumprir, sob violência, as leis e o regime jurídico que ele próprio estipulava. Assim, os trabalhadores, agora chamados de camaradas apesar de assalariados, deixavam quase tudo que recebiam, na própria usina, pois eram obrigados a fazer compras nos armazéns que ali existiam. Neles, eram comercializados roupas, calçados, tecidos, fumo, fósforos e utensílios de uso pessoal.

28.Os quilombos em Mato Grosso

A entrada dos negros africanos em Mato Grosso remonta ao século XVIII, ocasião em que eram adquiridos para trabalhar nas atividades mineradoras. Posteriormente (fins do século XVIII e XIX), o escravo africano passou a realizar outros tipos de tarefas: junto às plantações e beneficiamento da cana-de-açúcar; nas atividades agrícolas em geral e até em atividades urbanas.

Tanto nos trabalhos de mineração, quanto nas atividades agrícolas, o tratamento distendido ao escravo foi extremamente violento e desrespeitoso. Se de um lado, isso ocorria para que ele não fugisse, este mesmo motivo o levava a fugas constantes.

Neste período surgem os primeiros quilombos em Mato Grosso. Os quilombos foram locais para onde se refugiava os escravos que, fugindo à opressão sofrida, optavam por viver livremente. Os que chegavam aos quilombos eram chamados de quilombolas. Os quilombolas não eram somente escravos negros, mas também índios e homens livres pobres.

O quilombo mais famoso do Brasil foi o de Palmares, em Alagoas, sob o comando de Zumbi. Em Mato Grosso o mais famoso deles foi o chamado Piolho ou Quariterê, situado na região do rio Guaporé, próximo ao rio Piolho e surgido entre os anos de 1770/1771. Constituía-se de uma aldeia composta de negros escravizados, de índios, de crioulos e de caburés que ali se fixaram, fugindo da dominação dos senhores.

Como a região guaporeana era vizinha das terras pertencentes ao Império Colonial Espanhol, os senhores de escravos resolveram recapturar os fujões pois, a cada dia, esse território tornava-se mais despovoado, devido às constantes fugas.

Assim, foi organizada uma bandeira para recapturar os quilombolas, trazendo de volta o maior número possível dos seus habitantes. O comando da expedição coube ao Sargento-Mor João Leme do Prado que, partindo com homens da antiga capital, Vila Bela da Santíssima Trindade, conduzindo grande quantidade de munições e armas, promoveu o maior massacre, destruindo por completo o quilombo, entregando os escravos que restaram a seus antigos donos.

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Governava o quilombo Piolho a Rainha Teresa de Benguela, viúva de José Piolho, antigo rei, falecido antes do ataque da bandeira. Quando o quilombo foi atacado, Teresa, vendo a derrota e a morte traiçoeira de seus amigos, caiu em profunda depressão vindo a falecer logo após o retorno da bandeira, para Vila Bela.

Preocupado com a formação de novos quilombos no rio Piolho, o Capitão General da Capitania de Mato Grosso, João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres, resolveu criar uma aldeia no exato lugar onde havia, antes, sido instalado o Quilombo do Quariterê. Para isso resolveu libertar vários casais de velhos escravos e enviá-los para residir na aldeia que criara e que recebeu o nome de Aldeia Carlota, em homenagem à Rainha de Portugal D. Carlota Joaquina.

Além deste Quilombo outros figuram entre os principais em Mato Grosso:

a) Quilombo do Roncador;b) Quilombo Jangada;c) Quilombo Serra Dourada;d) Quilombo Sepotuba;e) Quilombo Rio Manso.

Os quilombos proliferaram, na exata medida do aumento da violência sobre os escravos. Principalmente, a partir de 1775, ocasião em que a Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão deixou de abastecer a capitania de Mato Grosso com escravos. Os maus tratos e as fugas passaram a ser uma constante. Assim, os quilombos se proliferaram nas regiões mais ricas de Mato Grosso, onde existia a produção do açúcar: Poconé, Cáceres, Diamantino, Cuiabá e Chapada dos Guimarães.

Foram registrados 11 quilombos em Mato Grosso durante os séculos XVIII e XIX, sendo que o último a ser destruído foi o do rio Manso, em 1873, a mando do Presidente da Província, José de Miranda Reis.

29.A divisão do território em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

A Lei Complementar nº 31, de 11 de outubro de 1977, foi responsável pela divisão, em duas faixas territoriais, do antigo Mato Grosso: criava-se o Estado de Mato Grosso do Sul e conserva-se a parte norte do antigo território, com a denominação histórica de Mato Grosso.

Esta cisão territorial representou a concretização de lutas históricas pela divisão, impetradas por lideranças políticas residentes no Sul de Mato Grosso, hoje Estado do Mato Grosso do Sul.

Com a divisão do antigo Estado de Mato Grosso, dois Estados independentes passaram a existir, ficando assim configurados em 1977.

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Mato Grosso38 municípios

Mato Grosso do Sul55 municípios

Aripuanã Barra do Garças Anastácio AquidauanaChapada dos Guimarães

Diamantino Corumbá Ladário

Juscimeira Nobres Miranda Porto Murtinho

Porto dos GaúchosVila Bela da SS

TrindadeCamapuã Coxim

Cáceres Alto Paraguai Pedro GomesRio Verde de Mato

Grosso do SulArenápolis Barra do Bugres Aparecida do Taboado CacilândiaNortelândia Acorizal Inocência Paranaíba

Barrão de Melgaço Cuiabá Antonio João Bela VistaN. S. do Livramento Poconé Bonito Caracol

Rosário Oeste S. Antonio do Leverger Guia Lopes de Laguna JardimVárzea Grande D. Aquino Nioaque Bandeirantes

Itiquira Jaciara Campo Grande CorguinhoPoxoréu Rondonópolis Jaraguari Maracaju

Alto Araguaia Alto Garças Ribas do Rio Pardo Rio BrilhanteAraguaiana Gal. Carneiro Terenos Água ClaraGuiratinga Ponte Branca Brasilândia Três LagoasTesouro Torixoréu Amambaí Anauzilândia

Tangará da Serra Mirassol D’Oeste Bataguaçu BataiporãSão Félix do Araguaia Pedra Preta Carapó Dourados

Fátima do Sul Glória de DouradosIguatemi ItaporãIvinhema JateíNaviraí Nova Andradina

Ponta Porá EldoradoAral Moreira Mundo Novo

Angélica Deodápolis

30.Reativação da Hidrovia Paraná/Paraguai

Desativada a partir de meados do século XX, a hidrovia – que fora aberta em 1858/70, favorecendo e possibilitando um comércio internacional para Mato Grosso via portos de Cáceres, Cuiabá, Corumbá – foi reativada no final dos anos 80 do nosso século. As dimensões da Hidrovia Paraná-Paraguai são:

“A superfície total da área de influencia direta é de, aproximadamente 1.750,000 km, com uma população superior a 17 milhões de habitantes. Esta superfície está dividida entre Argentina, Bolívia, Brasil e todo o território paraguaio”.

Os mentores e adeptos desse ressurgimento argumentam as vantagens dessa aquavia, cujos pontos centrais estão baseados nos pressupostos de que a mesma:

a) possibilitará o intercambio de Mato Grosso com inúmeros paises da América do Sul;

b) valorizará os produtos mato-grossenses, que hoje são vendidos baratos e, por outro lado, barateará os produtos de fora que hoje são adquiridos a elevados preços;

c) reduzirá os custos de frete;d) gerará novos empregos;e) integrará culturalmente os povos sul-americanos;f) beneficiará todas as sociedades envolvidas – Brasil/Argentina/Paraguai.

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Por outro lado, existem aqueles que colocam dúvidas sobre estas citadas vantagens, especialmente levando-se em conta que a hidrovia cortará o Pantanal. Alegam que a hidrovia:

a) não reduzirá o preços dos fretes;b) prejudicará ecologicamente toda a extensão percorrida;c) apresenta-se como um perigo potencial à poluição das águas;d) afugentará a fauna nativa, especialmente aquela que habita o Pantanal;e) provocará um desmatamento ciliar sem precedentes;f) provocará um imigração volumosa para a região, que não conta com infra-estrutura

capaz de dar suporte aos novos chegadores.

31.Os sem-terra: um problema da sociedade.

A terra no Brasil, durante o Período Colonial e em parte do Imperial, somente tinha valor a partir daquilo que nela fosse produzido. Uma terra extensa e improdutiva não teria qualquer valor. Foi pensando na produção agrícola e pastoril que o Rei de Portugal e seus representantes na Colônia, os capitães-generais – que administravam as Capitanias – doavam grandes extensões de terras aos colonos que o desejassem através das Cartas de Sesmarias. Por essa doação, o Rei era o real proprietário de todas elas, pois se aquele que a recebera como doação não deixasse herdeiros legítimos, as terras voltariam as mãos da Coroa portuguesa.

Um homem valia não pela extensão de terra que possuía, mas pela sua riqueza capitalizada, principalmente, no número de escravos de que era possuidor.

Em 1850, foi aprovada a Lei de Terras, através da qual a terra, que antes era doada em grandes extensões, passou a ser adquirida através de uma única forma: a compra. Dessa forma, aqueles homens livres e pobres, assim como os escravos, não tiveram condições de comprar terra própria, sendo que somente aqueles mais abastados o tiveram. Oficializou-se, a partir dessa data, a existência de proprietários de escravos e de terras, e uma grande parcela da população despossuída. De bem comum, usufruído por todos, a terra passou a ser de propriedade particular, passando a valer como mercadoria, algo de que se pudesse dispor para fazer negócio.

Por outro lado, a maioria da população brasileira, que atuava nas zonas rurais como trabalhadores assalariados ou sobre o regime de escravidão, que não puderam adquirir sequer um pedaço de terra, pois não tinham capital exigido por este investimento. Depois da Lei de Terras, estes trabalhadores quando a terra era vendida para outro proprietário, ou eram mandados embora ou ficavam na terra, obrigados às condições impostas pelo novo proprietário. Muitas vezes o novo dono não desejava mais investir na agricultura, mas sim em outra atividade que demandava um número menor de mão-de-obra. Nessas ocasiões, os trabalhadores eram expulsos da terra: nascem os Sem Terra.

Este fenômeno ocorreu na maioria das terras brasileiras. Quando as terras mato-grossenses começaram a ser vendidas pela empresas públicas particulares, muitos dos compradores nem tinham noção de sua localização, pois desconheciam Mato Grosso, ficando muitas delas improdutivas.

Esse movimento, iniciado em 1950, 20 anos depois mantinha o mesmo quadro gerando imensos problemas sociais, como registra um diagnóstico feito em 1979:

“Grande parte das terras de Mato Grosso ainda não foram ocupadas ou conhecidas pelos seus proprietários. Em geral, os posseiros se situam nessas áreas, mais tarde, surgem os pretensos proprietários e daí iniciam as questões.”

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Os antigos habitantes da região, posseiros e índios, com a chegada dos capitalistas, foram obrigados a abandonar as terras, migrando para outras regiões. Esses trabalhadores rurais, em sua grande maioria empobrecidos, não puderam sequer adquirir um pedaço de terra. Foi nesse período que se estruturou a questão de terras em Mato Grosso, sendo sua característica básica e majoritária o grande latifúndio.

Caracterização Nº de imóveis Área PorcentagemMinilatifúndios 49.992 2.030,176 1,8%Empresa rural 4.476 6.953,431 -

Latifúndio 42.396 92.509,397 -Latifúndio 6.451 6.741,982 91,63%

Fonte: INCRA.

A partir de 1970, o Governo Federal estimulou, ainda mais, a fixação de grandes empresas rurais nas regiões mato-grossense e amazônica, oferecendo financiamentos e vantagens para aqueles que desejassem ali se estabelecer, através dos Programas SUDAM/BASA/SUDECO. Foi nesse momento que se intensificou a concentração latifundiária, especialmente nessas duas zonas que, através do POLOCENTRO, as regiões de cerrado tiveram igual compra.

Aos grandes proprietários eram oferecidas terras de boa qualidade, sendo que para os pequenos e médios restavam as terras de qualidade inferior e, portanto, mais baratas. Logo depois de adquirir as terras através da compra, estes pequenos agricultores, sem condições de obter financiamentos e nem instrumentos de trabalho mais modernos terminavam por abandonar suas terras, vendendo-as a baixos preços. Ao fazer isso, o camponês ficava sem terra, vendo-se obrigado a engrossar o número de trabalhadores rurais, ou migrarem para as cidades.

Muitos conflitos se estabeleceram entre estes sem terra e os grandes proprietários de latifúndios, pois estes trabalhadores, vendo que algumas dessas terras estavam abandonadas, passavam a nelas plantar, em busca de sobrevivência. Por outro lado, os proprietários, logo que tomavam conhecimento da “invasão”, buscavam retirar esses trabalhadores de suas propriedades. Desse confronto inúmeras contendas se estabeleceram, sendo que, na maioria delas, os sem-terra acabam sendo expulsos, sem qualquer condição para negociação.

Frente a esta situação, o Governo Federal instituiu o Ministério da Reforma Agrária, em busca de soluções. Infelizmente, até o momento o número de sem-terra tem aumentado, os conflitos têm se tornado mais constantes e violentos. Exemplo mais expressivo, recentemente foi o massacre de Eldorado de Carajás, quando grande número de sem-terra acabou morto pela violência dos conflitos.

Se, de um lado, o Governo com um Ministério para resolver a questão, os proprietários se aliam a partidos políticos capazes de garantir seus direitos. Por outro lado, os trabalhadores sem-terra igualmente se articulam através de ligas, sindicatos e federações, instituições com as quais contam não somente na busca de soluções jurídicas, como também para organização de movimentos e discussão de questões fundamentais.

No mês de abril de 1997, ocorreu uma passeata em Brasília/DF, a qual reuniu grande número de sem-terra, que foram até os Poderes Públicos reivindicar uma solução para a questão da Reforma Agrária. Esse episódio teve grande repercussão sobre toda a sociedade brasileira que, frente ao grande impasse social deseja ver soluciona esta importante questão.

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