historia da ordem terceira de são francisco na bahia

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Page 1: Historia da Ordem Terceira de São Francisco na Bahia

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Page 2: Historia da Ordem Terceira de São Francisco na Bahia

MARIETA ALVES

ixtoria da Vener/zvel Orden 3.. da Penitencia do Serafico

Pe. Sao Franci,rco da Congregacao da Bahia

BAHIA -BRASIL

1948

Page 3: Historia da Ordem Terceira de São Francisco na Bahia

INDICE

Apresentacao 7 Preambulo 11 Fundacao da Veneravel Ordem 3* de Sao Francisco da Bahia 13 Obras posteriores a construc5o da Igreja 37 Reforma da Igreja 50 A Igreja e suas dependencias depois de 1835 73 A Casa dos Santos 104 O Claustro e a devo45o de Sao Roque 126 Patrimonio de Arte — Alfaias de ouro e de prata 135 Patrimonio de Arte 172 A Procissao de Cinza 193 A Musica na Historia da Ordem 3° 220 A Capela de Sao Miguel 249 Os Cemiterios da Ordem 3' de Sao Francisco 277 O Cemiterio da Ordem depois da inauguracao 305 O Hospital da Ordem 3° 328 A Casa de Asilo Santa Isabel 348 A Casa de Asilo depois de inaugurada 383 Conclusao 413 Indite Onomastico 417

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APRESENTAcAO

A. -.-- Mesa Administrativa da Veneravel Ordem Terceira de Sao Francisco, da Bahia, tern a imensa satisfacao de apresentar aos meios culturais do Brasil e do estrangeiro, e ao pablico, em geral, esta singela obra, como sendo a sua melhor contribuicao para as comemoracoes, no proximo ano de 1949, do quarto Centenario da fundacao, por Tome de Sousa, desta que recebeu, desde logo, a significativa denominacao de CIDADE DO SALVADOR.

Assim deliberamos, na certeza plena do inestimavel servico que viriamos prestar aos que, corn patriotic° amor, se entregam aos estudos da nossa histeria religiosa, social, politica e econOmica, ou neles se deleitam, visto que, nos arquivos manuseados e sele-cionados para esta forma mais duradoura de livro, se encontra preciosa documentacao que, decerto, concorrera para esclarecer davidas, dirimir controversies e lancar novas luzes, dando uma orientacao melhor a tais estudos.

No proposito deste trabalho que acabamos de levar a cabo, trabalho verdadeiramente gigantesco, apezar de silencioso, a que se dedicou, de corpo e alma, por mais de cinco anos, a Exma Se-nhora D. Marieta Alves, C certo que tivemos de enfrentar varios obstaculos, muitos dos quais bastantes para nos desanimarem, nao fosse o incentivo que iemos encontrando no desenvolver da propria obra, a proporcao que se adiantavam as pesquisas e novos valores eram recolhidos do esquecimento em que se achavam sepultados, para serem, afinal, devidamente coordenados em novos capitulos.

Assim, cada novo capitulo que D . Marieta Alves submetia a apreciacao desta Mesa, dando-nos as primicias do seu valioso ineditismo, contribuia para que nao parassemos, nem retroce-dessemos, pois o dever de dar a tudo isso a mais ampla publicidade, se nos a figurava um como dever sagrado — um dever mesmo de consciCmcia.

E ainda mais crescia o nosso entusiasmo, ao considerarmos o exemplo elogirente e magnifico da dedicacao corn que D. Ma-rieta Alves se ocupava do exaustivo encargo que the confiaramos,

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8 MARIETA ALVES

executando-o, ininterruptamente, numa disposicao de ilimitada paciencia para it desentranhando do po e da desordem de arquivos aos quaffs nem sempre se dispensara o cuidado que Canto merecena, velhos papeis, em grande parte rendilhados pelos vermes, documen-tos esses de interpretacao ja dificil, mas nao impossivel, porque o sobre-humano esforco dessa Senhora e a sua invulgar capacidade de intuicao se sobrepuseram sempre a toda sorte de dificuldades e ate mesmo presumiveis impossibilidades que se the depararam, no curso de tais pesquisas e selegOes.

Queremos, pois, deixar bem consignado aqui o nosso pro-fund° agradecimento a Ex."'" Sr." D. Marieta Alves, que, na modestia de sua grande inteligencia e corn os seus conhecimentos gerais de nossa histOria e de nossas tradic5es, decisivamente nos ajudou, como principal autora que e desta obra, a participar das festas centenarias da fundacao de nossa amada Cidade do Sal-vador, de modo assim tao expressive.

Em Outubro de 1947

A Mesa Administrativa da Ven. Ordem 3" de Sao Francisco

Fei Pio Johannlewling 0 F M -- Padre Comissario Jose Simoes e Silva — Ministro Armando Augusto Gomes d'Almendra — Vice-Ministro Cicero Dias — Secretario Manuel da Costa Macedo — Procurador Geral Teodulo Cesar Vieira — Sindico Francisco C. Ferreira Junior — Vigario do Culto

Divino Antonio Ruas Gaspar — Mestre de Novicos

DEFINIDORES

Dr . tibaldino Gonzaga Aurelio Fiuza Pereira Henrique Teofilo de Sousa Antero Rodrigues Viana Marcionilo Fernandes Pereira Joao Altino da Fonseca Jose Maria Fiuza Dr. Mario Peixoto Joao Amorim Dr. Mario Campos Antonio Osmar Gomes Joaquim Domingos Magalhaes

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OMO contribuicao para a historia dos nzonumentos de ar-quitetura religiosa da Bahia, o livro de autoria da Senhora Marieta Alves sobre a Ordem ..P de Sao Francisco da cidade do Salvador é das nzais valiosas e importantes. Quer pela profusao dos documentos ineditos coligidos no arquivo da Ordenz e aproveitado inteligentemente na obra, quer pelo criterio adotado na ordenacao da materia e na conzposicao do texto, o trabalho da distinta es-critora bahiana tern granola nzerito.

Os poucos estudiosos interessados especialmente pela historia das artes plasticas no Brasil lamentarao certamente que o livro da Senhora Marieta Alves nao contenha documentacao elucidativa correspondente a construcao da igreja admiravel erigida na Capital da Bahia pelos terceiros franciscanos, nern a respeito da preciosa obra de talha dos seus altares primitivos, substituidos no secula XIX pelos atuais. A Autora, entretanto, era impossivel suprit semelhantes lacunas, que foram motivadas pela destruicao da parte principal dos documentos mais antigos do arquivo da Ordem, por deliberacoes reiteradas das respectivas Mesas, inconscientes do valor excepcional dos referidos manuscritOs. 0 texto do livro da Senhora Marieta Alves far ressaltar, alias, a leviandade de tais resoluceies daqueles mesarios, por certo bem intencionados, nzas que causaram prejuizo irreparavel a historia da arte no Brasil.

1Vao obstante, a Autora logrou felizmente descobrir e divulgar o document° sem chivida mais relevante para a historia da igreja da Ordem 3(' de Sao Francisco, da cidade do Salvador : é o Traslado do Termo de Concordata que fizeram os nossos MO -- R.R.P.P. deste Convento de N.P.S. Francisco em Mesa de Definicao corn o Ministro e mais Irmaos da Mesa desta Ven. Ordem 3" de N.P.S. Francisco sobre a aprovacao da planta por onde hao de fazer as novas Obras que a mesma Ordem 3" pretende edificar, document° Esse datado de 18 de dezembro de 1701.

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6 MARIETA ALVES

Gracas a ele Pica definitivamente apurado que o temple precioso foi tracado no Brasil pelo nzestre Gabriel Ribeiro e nao projetado no estratzgeiro, como se havia pretendido. 0 infornze fora adian-tado cm 1921 por Silio Bocanera Junior, na sua Bahia Historica, bem como reproduzido pelo douto Frei Pedro Sinzig, 0.F ern 193 9, no vol. 165 da Revista do Institute Historic° e Geo-grafico Brasileiro. A Senhora Marieta Alves, porem, nao so retificou o nome do arquiteto a quem se deve a autoria do projeto, como tambenz tornou indiscutivel o asserto daqueles escritores, mediante a transcricao do documento autentico que o comprova.

A distinta Autora revels os nomes de nzuitos outros artistas e artifices de merit°, que trabalharanz em epocas diversas nas obras realizadas na igreja da Ordenz 3q. de Sao Francisco da Bahia. Reproduz, no seu livro, o inteiro teor das condicaes de empreitadas e da prOpria execucao dos servicos de (pie eles se incumbiratn, condicOes essas de grandissimo interesse pars o conhecimento da feicao peculiar de certos aspectos do artezanato em nosso pais durante os seculos XVIII e XIX . Para a propria biografia de um artists famoso como Franco Velasco, D. Marieta Alves traz ulna contribuicao valiosa, esclarecendo precisamente a obra de pintura que executou naquela igreja, assitn como a data desse trabalho e o respectivo custo.

Havers, talvez, algunz docunzento cuja interpretagão, feite pela Autora, suscite certas objec5es. Mas, isso, com relacao a materia de menor importancia. New pre judica, de nzodo algunt, o merit° excepcional do livro.

RODRIGO M. F. DE ANDRADE .

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HISTORIA DA V. 0. 3.. DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 9

CONSELHO SUPERIOR DA V. ORDEM DE S. FRANCISCO

Exercicio de 1946 a 1952

Augusto Jose da Cruz Domingos de Sousa Avila Antonio Lucas Alfredo Maltez Joao Carlos Ribeiro Lopes Jose da Costa Magalhaes Bernardo Castro Silva Lima

Exercicio de 1942 a 1948

Joaquim Lopes Brandao Artur Fraga Trajano Candido Rodrigues Dr. Fernando Sao Paulo Jose Abreu Rodrigo Sampaio Florentino Silva

Exercicio de 1944 a 1950

Rodolfo C. Pimentel Acacio Ribeiro Soares Eng. Rubens Pires Ferreira Joao Ribeiro de Sousa Magalhaes Pedro Bacelar de SA Dr. Moises Gentil Pereira

Page 9: Historia da Ordem Terceira de São Francisco na Bahia

PREAMBULO

TNSTITUIcA0 tres vezes secular, a Veneravel Ordem 3.a de Sao Francisco da Bahia cumpre um clever indeclinavel, apresentando aos estudiosos sua longa e movimentada histOria.

Vinha de longe a ideia de se investigar o passado da Ordem benemerita, que, na primeira metade do seculo XVII, uma pleiade de espiritos bem formados fundou na cidade do Salvador, entao capital da America Portuguesa.

Em 1845, o Ministro Francisco Gomes de Mascarenhas, no relatorio em que deu conta de sua administracao, propos que, por meio da mais aturada diligencia, se obtivessem os esclarecimentos indispensaveis ao conhecimento do dia, mes e ano em que se fundou a Ordem 3. a de S. Francisco da Bahia, lugar de sua ins-talacao, primeiro Ministro e mais funcionarios, no louvavel inttinto de tornar conhecidos seus nomes, que julgava dignos de memoria.

Esta mesma proposta aparece no relatorio do Ministro Agos-tinho Dias Lima, 1847, sem que se resolvesse o magno problema. Na administracao seguinte, conseguiu-se a relacao dos Ministros que serviram desde 1635, ano da fundacao, ate 1849, gracas no concurso do Padre Comissario Visitador, Frei Antonio do Paraiso Por esse tempo, porem, informa o relatorio do Ministro Joaquini Antonio de Mendonca Menezes, a Secretaria j a estava desfalcada de Iivros, o que dificultou muito esse trabalho.

Os anos correram celeres, depois disso.

A ideia de se investigar o Arquivo da Ordem permaneceu latente, ate que, num gesto que muito a recomenda, e numa dupla visao patriatica e cultural, a Mesa administrativa de 1941-1942 resolveu aplainar as di ficuldades, dando inicio ao vultoso trabalho do levantamento do Arquivo, a que se seguiria a elaboracao da presente obra.

Nao podia ser mais feliz essa resolucao. A cidade do Sal-vador prepara-se para comemorar, digna e proveitosamente, 0

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4 , centenario de sua fundacao, acontecimento que transcorrera ern 1949. Para essas comemoracoes grandiosas. a Ordem 3 4 de S. Francisco espera concorrer corn a publicacao do livro que the conta a historia. e a organizacao do Arquivo. futuramente a ser-vico dos historiadores c dos estudiosos das tradicaes da Bahia.

Esse Arquivo dares uma ideia ajustada da grande obra de assistencia social que, ha tres seculos, muito em silencio, realiza esta Instituicao benemerita.

Subsidio precioso trara, ainda, a historia das artes. uma vez que quase todos os grandes pintores. escultores, entalhadores ourives da Bahia de outrora, muitos dos quais desconhecidos, dei-xaram mostras de sua pericia na formosa Igreja que, para honra nossa, se construiu, entre os anos de 1702-1703, sob os auspicios da Mesa presidida pelo Coronel Domingos Pires de Carvalho, de memaria imperecivel entre os Terceiros.

Desfalcado. embora, dos documentos da fundacao, e do longo periodo dos cem anos seguintes, o que escapou, no arquivo, destruicao, esta no caso de prestar servicos a Bahia culta .

0 presente trabalho ressente-se da falta desses primeiros. preciosos e insubstituiveis documentos que tanto desejariamos divulgar. Seu capitulo initial. baseado em Jaboatao, corresponde. certamente, a verdade historica, uma vez que, em «Novo Orbe Seraphico», o cronista da Ordem Franciscana transcreveu, «sem mudanca ou accrescentamento algum». expressOo textual, as notas que the forneceu, em 1760. o entao Secretario da Ordem Luiz Gomes Coelho.

Verdade e que, a margem dessas notas. o Franciscano his-toriador teceu muitos cornentarios, alguns dos quais teremos opor-tunidade de esclarecer, a bem da verdade.

Ao lado dos cliches das Obras de arte, que ilustram 'este livro, aparecerao, tanto quanta possivel, capia dos contratos e re-cibos dos autores do vultoso patrimonio artistico, que a Ordem 3.` se ufana de possuir, justamente.

Tornando conhecida a historia d: Instituicao, cuja finalidade precipua e o aperfeicoamento moral c espiritual da huinanidade, a Mesa, que tornou sabre os ombros este grande empreendimento, sente-se bem, convertendo em realidade aquilo que seus antecessores ha um seculo, encaravam como tuna necessidade e urn dever.

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Fachada da Igreja da Venernecl Orden? 3" de S. Francisco da Bahia, inaugu-

rada cm 1703. — Planta do Mcstrc Gabriel Ribciro.

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FUNDAQA0 DA VENERAVEL ORDEM 3" DE SAO FRANCISCO DA BAHIA

Afundacao da Veneravel Ordem 3. a de S. Francisco da Bahia coincide corn o ressurgimento da Ordem 3.a secular no Velho Mundo — ern pleno desenrolar do seculo XVII.

Frei Cosine de Sao Damiao, religioso de muita virtude, foi seu inspirado fundador, quando exercia o elevado cargo de Custadio da Provincia.

A patente da fundacao. datada de 1635 e dirigida ao Guardian do Convento de S. Francisco da Bahia, trouxe, anexos, os estatutos que deviam reger a novel Instituicao. Para Comissario da Ordem foi designado o Padre Pregador Frei Pantaleao Batista. Ao anego Francisco Soares Correa coube desempenhar as funcOes de primeiro Ministro.

A instalacao se fez no primitivo Convento de Sao Francisco aquele que, a esforcos de Frei Antonio da Ilha, se construiu pe-quenoe modesto, quando o Brasil amanhecia.

Como padroeira da Ordem foi escolhida Santa Isabel, Rainha de Portugal, excelsa consorte do Rei Trovador, em cujo regaco o pao dos pobres se transformou em rosas, certa feita, quando a surpreendeu D. Dinis na pratica da virtude primacial do Cris-tianismo — a caridade.

Na falta de Igreja propria, a imagem de Santa Isabel foi colocada no altar de N. Senhora da Conceicao, da Igreja do Convento.

Solene se fez a primeira festa da padroeira, em 28 de De-zembro do ano da fundacao, «corn Vesperas, Sermao, Missa cantada, e muzica a tres choros, e assistencias de todo o lustre, e governos da cidade», no dizer do Secretario Luiz Gomes Coelho. in formante de Jaboatao. Dias antes, 23 de Dezembro de 1635. procedeu-se a primeira eleicao canonica da Mesa, recaindo a tecolha do Ministro, como ficou dito, no C6ne,go Francisco

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16 MARIETA ALVES

e lures della; e porque antes de se metter maos as obras que a dita planta demonstrava, parecia urbanidade precisa fazer pri-meiro presente aos nossos m. t° R.R.P.P. deste convento con-gregados em meza de Definicao, por haver sido a caridade dos mesmos P.P. a que corn a mesma urbanidade doou a esta Ven. Ordem 34 o terreno para as ditas obras dentro da clausura e muros do dito convento, se acordou, que encorporados os Irmaos em corpo da meza, assim e da mesma maneira em que nella es-tavam capitularmente congregados, fossem fazer presente ao Definitorio aquella eleicao e escolha de planta, em que tinhao concordado fazer as ditas obras, o que logo corn effeito fizerao subindo incontinenti ao convento dos Religiosos, onde estava convocada a meza de Definicao, a quem pelo nosso Irmao Mi-nistro forgo apresentadas todas as plantas, e insinuado a que dellas se havia escolhido, e que para effeito de se metter maos as obras da Ven. Ordem faltava somente approvacao de suas P.P.R.R., a cujos pes prostrada toda a Congregacao da mesma Ordem nas pessoas dos Irmaos da Meza corn toda a humildade assim o pediao. 0 que visto pelos nossos m. t° R.R.P.P. em meza de Difinicao approvarao e confirmarao a eleicao da planta escolhida; mas por considerarem que a artefactura das obras, que a dita planta demonstrava e a sua disposicao poderia pelo tempo adeante ser motivo de novidades e alteracoes que pertur-bassem a par, concordia e uniao que deve ter, manter e observar sempre esta nossa Congregacao da Ven. Ordem 3 4 corn este conv. t° de N.P.S. Francisco dos Religiosos Capuchos desta cid." da Bahia, corn quern esta Ven. Ordem 3 fl desde sua ereccao conglutinada por Breve e concessao dos Summos Pontifices, de quem nao sera nunca em nenhum tempo rasao q. se desanexe, pois do mesmo conv. t° e Religiosos delle bebeo sempre a Ven. Ordem 3 a o kite da Santa doutrina e the fordo os seus Religiosos Mestres e companheiros inseparaveis em todos os exercicios es-pirituais, nao faltando de sua parte em concorrer corn tudo q. t° e temporal e espiritual necessario p. a o born regimen da Ven. Ordem 3' e consolacao de todos os filhos della; nesta consideracao corn todos os votos da meza da Definicao se approvou a escolha da dita planta, e e se acordou que por ella edificasse a nossa Ven. Ordem 3 4 as suas obras novas todas as vezes que the parecesse sem duvida nem contradicao alguma, obrigando a q. por parte do con y.° se the nao impederia a fabrica das ditas obras, nem em tempo algum, corn tanto que esta meza da Ven. Ordem 3 4 por si e como cabeca da mesma Ordem 3 4 se obri-gassem a nao alterar ou mudar de substancia a obra q. na dita planta se demonstrava, nern abrir della p.^ fora da clausura mais porta l do q. aquella, q. na dita planta ]he esta destinada,

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Retrato do Coroncl Domingos Pircs de Carnal/1o, grandc bcnicitor da Ordem 3" de S. Francisco da Bahia c Ministro de 1701 a 1706, en, cnja administracno

sc construin a Igreja

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HISToRIA DA V. O. 3.' DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 17

[he servir de portaria virada p. a a parte da Igr. a do cony.", e que outrosim, agora nem ern tempo algum impetrariao elles Irmaos 3." Breves Pontificios pelos quaes pretendao desanexar as ditas obras da clausura e obed.n deste conv. th dos P. Capuchos, para admittir nellas aos Religiosos 3." ou observantes (em caso que Sua Magestade lhes conceda licenca de virem fundar a esta cidade) o que ouvido pelo Ministro e por todos os mais Irs. da meza. q. presentes estavao, por si e em nome de toda a Ordem de q. tinhao a authoridade em semelhantes casos pelo termo lancado no L.° 1 folhas 81 yr.' disserao elles Ir. Ministro e mais Irs. da meza q. se submettiao e obrigavao, como p. r este termo se submettem e obrigao, querem e sao contentes que valha e se observe como escriptura publica, sem the faltar circumstancia alguma p. a sua validade em comprimento as referidas condicoes e a the dar em tudo inteiro cumprimento, declarando elle d.° TVIi-nistro e mais Irs. da Meza em nome de toda a Ordem por sub-repticios e de nenhum effeito e valor quaes q. r gracas, indultos e Breves Apostolicos alcancados de presente, preterito ou futuro afim de encontrar e derogar as ditas condicoes, e sendo caso q. contra ellas, sem expresso acordo da Meza de Definicao, invo-quem cousa alguma, se obrigao elles Irmaos da Meza que ao pres.' sac) e ao diante forem, p. r este termo de concordata e obrigacao a pagar de esmola pelos bens da Ordem a este cony.° trinta mil cruzados applicados p. a a fabrica da Sacristia e Igr.a dos mesmos Religiosos, e que nunca possa ser ouvida em juizo e fora delle a Ven. Ordem 3. a sem primeiro por na mao do Syndico dos Frades deste convento a referida quantia de trinta mil cruzados, deixando porem salvo a Ven. Ordem 3. a o direito para os haver dos proprios bens daquelles Irmaos 3." que en-contrarem e nao derem inteiro comprimento as ditas condicoes. innovando as obras, q. a planta demonstra ou intentando desa-nexar da clausura e obed. a deste cony.° as ditas obras para corn ellas se incorporarem 'a outros Religiosos de diverso instituto ou habito, e da m. ma maneira disser5o os d." R.R.P.P. da Definicao que se obrigavao por si e o seu Syndico debaixo das mesmas condicoes referidas neste termo a nao alterarem cousa alguma do que aqui e assentado e acordado, e fazendo o contrario, por erne mesmo feito sera() livres os m. nmn Irs. poderem pretender a de-sanexacao sem q, elles d." Religiosos 'hes possao impedir desta obrigacao se derao por satisfeitos, os nossos m. t° R.R.P.P. da Meza da Definicao ordenarao que eu Manoel Alves Caminha fizesse este termo de concordata e obrigacao em que assignarao os m." R.R.P .P . do Definitorio e o Ministro e mais Irmaos da Meza actual que presentes se achavao e fica lancado no livro da Ordem e no da Religiao, e se assignarao tambem na planta aqui

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Is MARIETA ALVES

declarada e approvada pelo Mestre Gabriel Ribeiro; e eu Manoel Alves Caminha o escrevi e assignei. Fr. Miguel das Neves Commiss. Q / Fr. Jose de S. Catharina Ministro Prov." 1 / Fr. Vital do Espirito Santo Definidor / Fr. Ant.° da Mae de Deus Def..' / Fr. Manoel de J. Maria Custodio Actual / Fr. Mathias da Conceicao Def.''' / Fr. Estevao da Annunciacao Def..' / Assigno como Syndic() q. sou deste conv. th de N.P.S. Franc.c. da B. a em q. convem corn esta concordata corn os R.R.P.P. Pantaleao Rodrigues / Domingos Pires de Carvaiho IvIinistro / Antonio de Azevedo Ivloreira Vice Ministro / Manoel Alves Caminha Secretario / Antonio Magalhaes Leitao / IvIiguel de Varjao / Manoel Lopes Pinheiro / Manoel Pacheco Pereira / Domingos Nunes Velho / Joao de Figueredo Soares / Laurence) Cacao Soares /.»

Como se ye, 'este Termo irnportantissimo condiz, pE.-rfeita-rnente, corn as informacoes do Secretario cia Ordem, sendo, pois, digno de fe.

A colocacao da primeira pedra do Templo majestoso, le-vantado pelo zelo do espirito franciscano, foi uma solenidade me-moravel na Bahia. 0 ato realizou-se em 1.° de Janeiro de 1702. A pedra, colocada aos pes de uma imagem do Menino Jesus, que se achava sObre urn andor, foi levada em procissao ao local da construcao, em presenca do Padre Visitador geral, Frei Miguel das Neves, do Provincial Frei Jose de Santa Catarina, do Ministro Coronel Domingos Pires de Carvalho, do Vice Ministro Antonio de Azevedo Moreira e pessoas gradas. Governava o Estado do Brasil D. Joao de Lancastro.

Da construcao e suas particularidades, nenhuma informacao deixou o Secretario da Ordem 3. 3 . Devemos-lhe, entretanto, a noticia do tempo que se gastou na edificacao — urn ano, cinco meses e vinte e urn dias — e mais que benzeu a Igreja o Padre Provincial, Frei Andre da Conceicao, disse a primeira missa so-lene o Padre Guardiao, Frei Luiz de Jesus Quaresma, corn oro-cissao e grande festividade, no dia 22 de Junho de 1703.

Calou, precisamente, o que a posteridade precisava saber — nomes dos operarios e artistas da epoca, procedencia e custo do material, sobretudo da pedra lavrada da frontaria magnifica, uma vez que o tempo consumiu os preciosos documentos coevos.

Por muito oportuna, vale reproduzir a descricao do nosso Templo fornecida pelo Secretario Luiz Games Coelho a Jaboatao. uHe esta Igreja de grandeza sufficiente, e bem ordenada archite-ctura. Occupa de frente sessenta e dous palmos, e de fundo cento e trinta e sinquo. Tern Bette altares, seis pelos lados, em

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HISTORIA DA V. O. 3." DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 19

que se venerao os Santos da Ordem; a saber. o nosso Santo Patriarcha, S. Izabel Rainha de Portugal, S. Roza de Viterbo, S. Izabel Rainha de LIngria, S. Luiz Rey de Franca e S. No Doutor. No altar mOr se adora a Christo Crucificado, N. P. S. Domingos, S. Antonio, e a Purissima Conceicao da Senhora. Todos estes altares se achao rnuito bem ornados, e corn todos os paramentos necessarios. Nelles se costumao celebrar an-nualmente para sima de vinte mil missas, nas quaes entrao as que se dizem pelas obrigacoes, e encargos da ordem, pelas almas dos Irmaos defuntos, que deterrninarao em seos testamentos se mandem dizer em a nossa Igreja. 0 tecto, e as paredes della estao cubertas todas de talha dourada, e ricos payneis. Tern hum formozo orgao no meyo do choro, e athe o proprio frontispicio he de pedra entalhada toda, com grande custo. Da mesma forma he ornada a Sachristia, consistorio, Caza de Noviciado, e san-tuario, nao the faltando todas as officinas necessarias, como sao cemiterio, ou carneyro de abobada por baixo da capella mar, claustros para Via-Sacra, moradias para os serventes, e Sachris-tao, caza da fabrica — Alegrete corn pogo, e nora de agoa, e todas as mais accomodacoes necessarias.»

Estes informes preciosos vem provar que a Igreja da Ordem 3." de S. Francisco se fez grandiosa de comeco, datando a pedra entalhada da frontaria do inicio da construed°. No interior, porern, alteracoes sensiveis foram feitas no correr do tempo, conforme documentos existentes no Arquivo e oportunamente divulgados neste livro. Nao houve acrescimo de altares, verificando-se apenas ligeira substituicao de imagens. Das mencionadas pelo Secreta-rio da Ordem, Santa Rosa de Viterbo nao figura mais no recinto da Igreja, nao obstante tratar-se de devocao corn Irmandade, a qual o Papa Clemente X concedeu indulgencias, pelo Breve pas-sado em Roma, em 1674.

Ate aqui nos temos cingido a informar o que se encontra na "Breve Noticia", fornecida, em 1760, pelo Secretario da Ordem 3.' a Jaboatao. No Capitulo VIII, de «Novo Orbe Serafico Bra, silico», o Cronista Franciscano, por sua vez, procurou completar, corn notas pessoais e existentes no Arquivo do Convento, aqueles dados historicos. Assim e que, entre os fatos nao referidos, me-rece divulgada a resolucao tomada pelos Religiosos de doarem o terreno para a edificacao da Igreja da Ordem 3.", quando isso assentasse fazer definitivamente a Mesa.

Passamos a transcrever o que se encontra a respeito no Capitulo citado : "Aos vinte e tres de Outubro de 1692, una, nimes, e conformes estando legitimamente congregado o Diffi.. nitorio corn o discriptorio, que sendo cazo, que os Irmaos da

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2t1 NIARIETA ALVES

Terceira Ordem de N.S.P.S. Francisco, congregados neste Con-vento da Cidade da Bahya quizessem fazer nova capella, consis-torio, claustro, e mais cazas necessarias para seus exercicios da bandy do Ginipapeiro, qua gracio-amente lh'o permittiamos, e davamos toda a terra, que the necessario fosse para a parte do Ginipapeiro, dos alicerces qua estao feitos para dentro, corn obri-gacao e condicao. que em nenhum tempo abrirao sepultura nenhtia cm o sco claustro, capella, c mais cazas sem consentimcnto deste Convento, correspondendo corn suas esmollas todos, os que se enterrarem nas taes sepulturas a este Convento. como fazem os mais fieis: porque, nao he razao, qua sendo ricos e poderosos, e nos pobres e mendigos, nos privem das nossas esmollas, corn que geralmente concorrem todos os fieis: pois nao tcmos outra couza, mais que o amor de Dcos. Em fe de que fizemos este termo, dia mez, e anno ut supra.>>

Resolvida a construcao da Igreja. nova anos depois, os Fran-ciscanos mantiveram o prometido, lavrando-se a escritura da cloa-ca() do terreno, cuja transcricao varnos fazer, rigorosamente, da Priblica-forma tirada em 1877.

ESCRIPTLIRA

«Esta e a propria escriptura e auto de posse da terra em que se acha situada esta nossa Veneravel Ordem, que os Se-nhores Irmaos Secretaries devem guardar corn todo o cuidado e cautella por ser o proprio titulo que custou a descobrir na occasiao das demandas que os Religiosos moverao neste anno de mil sete centos e quarenta e trez, «Escritura de concerto. tran-zaccao e amigavel compozicao, que fazem os Religiosos e Sindico do Patriarca Sam Francisco desta Cidade corn os Irmaos terceiros da Veneravel Ordem do mesmo Santo como abaixo se declara. Saibao quantos esta publico instrumento de escriptura de cloaca°, obrigacao, concerto, tranzaccao e amigavel compozicao, ou quaff em direito dizer se possa chamar virem em como no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil sete centos e urn aos trinta e urn dias do me: de Juiho do dito anno nesta Cidade do Salvador Bahia de todos os Santos no Convento do Serafico Padre Sam Francisco desta dita Cidade aonde eu Ta-belliam ao deante nomeado fui chamado, e sendo la, ahi appa-recerao presentes partes a esta obtorgantes havidas e contractadas a saber, de uma parte como doadores os muito Reverendos Padres Frei Miguel das Neves, Commissario Visitador Geral Frei Jose de Santa Catharina, Ministro Provincial, e os Definidores Frei Vital do Espirito Santo. Frei Antonio da Mai de Deos, Frei Estevao da Annunciacao, Frei Mathias da Conceicao, e o Custodio Frei

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Manoel de Santa Maria, e Pantaleao Rodrigues Sindico do dito Convento como procurador e Mordomo de Sua Santidade; e de outra parte como doados e obrigados os Irmaos da Meza da Veneravel Ordeal terceira da Penitencia, aggregados a este dito Convent°, a saber, o Coronel Domingos Pires de Carvalho, como Ministro della, e o Vice Ministro Antonio de Azevedo Moreira, e o Secretario Manoel Alvares Caminha, e o Sindico Antonio de Magalhaes Leitao, o Mestre dos Novices Miguel Vareiro, o The-soureiro dos juros Manoel Lopes Pinheiro, e os Consultores Joao da Costa Madureira, Manoel Alvares de Carvalho, Manoel Pacheco Pereira, Jcao de Figueredo Soares, Pascoal da Silva Moreira, Domingos Nunes Velho e o Vigario do Culto Divino Lourenco Cass5o Soares, todos pessoas, que eu Tabelliam muito bera reconheco pelos proprios de que aqui faro mene5o; e logo pelos ditos doados Irma- 0s da Meza da Veneravel Ordem terceira da penitencia por todos juntos e cada urn delles de per si so in solidum, foi dito em prezenca de mim Tabelliam e das teste-munhas co diante nomeadas e assignadas, que em razao das obras, que es ditos Religiosos de novo hal/16o feito neste dito' Convento, e iao continuando, ficava a Capella delles doados impossibilitada e incapaz de nella exercerem os seos exercicios por cuja causa, e de outras, que por isso tinhao, pedirao aos ditos Religiosos os quizessem acommodar, dando-lhes lugar c sitio para fazerem nova Capella para a parte do Genipapeiro; porem of fe-recendo-se entre os ditos Religiosos e elles doados algumas du-vidas sobre a quantidade de terra, que para o dito effeito lhes havia de largar a elles doados, assim para a dita Capela, como para as rnais casas necessarias ao born regimem da dita Veneravel Ordem, recorrer5o elles doados ao Reverendissimo Padre Geral Frei Luiz de Lztone, pedindo-lhe os mandasse acommodar, como mais conveniente podesse ser, em resposta do que fora servido o dito muito Reverendissimo Geral escrever ao muito Reverendo Padre Provincial Frei Jose de Santa Catharina acommodasse a elles doados na forma, que melhor fosse, dando-Ihes o sitio con-veniente para Igreja e mais obras que elles doados intentavAo fazer para seos exercicios; e prcpondo o dito Reverend° Padre Visitador Frei Jose das Neves digo Frei Miguel das Neves em Meza da definicao que convinha, e era necessario dar-se cumpri-mento as ordens do dito Re do dito Reverendo Padre Geral, assentardo em Meza de difinicao que se desse corn effeito cum-primento as ditas ordens, compensando a elles doados o damno e descommodos, que the haviao causado as ditas novas obras, alem do que, como comprehende a dita Veneravel orc-lem delles doados, grande parte do povo desta Cidade e termo della de quern o dito Convento era favorecido e principalmente por acudi-

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rem a geral desesmoIac5o dos ditos Irmaos terceiros corn que andavao nas suas devocoes e evitar discordias, que se podia() seguir a desuniao, que entre elles doados, e os ditos Religiosos havia, esperando que da paz e concordia ern que entre todos pretendem viver resultem grandes servicos a Deos Nosso Senhor; de que tendo elles doados noticia the propozerao aos ditos Re-ligiosos Ihes quizessem dar e largar no dito sitio do Genipapeiro tanta terra quanta bem ]he fosse necessaria para nella fabricarem a sua Igreja, Cimiterio Consistorio, Casa de fabrica, e todas as Ynais fabricas digo e todas as mais casas necessarias para o born governo e administracao e exercicios da sua Veneravel Ordem terceira, entrando na dita largura, e cumprimento da sua planta as quatro cellas do dormitorio novo, que corre para a parte do nascente, corn os seos baixos, por Ihes nao serem necessarios an dito Convento; e outro sim toda a terra, que corre do pe do dito dormitorio e lugar das quatro cellas ate a ribanceira, para elles fazerem seo jardim, em que possao plantar suas flores para os dias de suas festal, habitos e procissoes, pagando-Ihes porem o custo que Ihes tern feito a obra, que occupdo as ditas quatro cellas altos e baixos, assim do officio de Pedreiro, como de Carpinteiro, e seos materiaes que constara de sua medicao, e avaliacao, tuck por seo justo valor e estimavel preco; e como a elles doados Ihes pertenci5o as esmollas das covas dos defuntos que se enterrao nos ditos Cimiterios digo que se enterrao no dito Convento em que entrao as dos Irmaos terceiros da dita Veneravel Ordem, por nao ficarem defraudados da dita esmola, dariao elles doados pelas covas de seos Irmaos quer fossem muitos quer poucos eni cada urn anno de esmola trinta mil reis simples applicados para a enfermaria delles doadores; e vista por elles ditos doadores a proposta e peticao delles doados em Meza de definicao, e sendo consultada, ultimamente a resolver5o vir no que elles doados pedirao em cuja forma disser5o elles doados e o dito Sindico Pantaleao Rodrigues em nome de Sua Santidade, que elles de sua livre vontade e motuo proprio, e sem constrangimento algurn, dav5o e traspassavao, como corn effeito der5o e doarao nelles doados per si e em nome dos mais Irmaos da dita Veneravel Ordem terceira desta Cidade para todo o sempre o uzo de toda a terra que no dito lugar e sitio do Genipapeiro for necessaria aos ditos Irmaos terceiros para nella fabricarem a sua Igreja, Cemiterio, Consistorio, casa de fabrica e todas as mais casas necessarias para a boa administracao de seos exercicios, como tambem outro sim, e da mesma maneira Ihes clao e dodo elles doadores as obras das ditas quatro cellas com seos altos e baixos, pagando-I hes porem o seo valor assim de Pedreiro pela estirnacao e preco que o pedreiro Manoel Quaresma fez nas obras

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do dito Convento, assim na medicao de cada brava, como na forma dos pagamentos que elks doadores the faziao de cem mil reis por mez, cujos pagamentos comecar5o a correr e a fazer elles doados da factura desta escriptura a seis mezes, como tambem Ihes pagarao elles doados o custo de carapina, e os materiaes, que ser5o avaliados, cujos pagamentos sera() feitos ao dito dico para se applicar as obras do mesmo Convento, por quanto, como a dita obra fosse feita corn as esmollas dos fieis Christaos, segundo as declaracoes dos Pontifices, se nao podia() transmutar em outra couza ficara deste modo satisfeita a vontade dos da-tarios; como tambem satisfaziao elles doados em cada urn anno a esmola simples de trinta mil reis cada anno pelas covas dos ditos seos Irmaos, quer fossem muitos quer poucos, corn declara-cdo porem que elles doados na dita Igreja nao farao nunca porta principal para a rua; e sendo caso que facao elles doados a sua Igreja em correspondencia dos doadores, mediara entre uma e outra um claustulo, para por elle as duas Igrejas se communica-rem e receberem as luzes necessarias, e fazendo os ditos doados, como doadores as partes necessarias, as quaes terao toda a gran-deza necessaria para entrarem e sahirem as Procissoes corn os seos andores, das quaes portas terao elles doadores as chaves de todas aquellas que fecharem a clausura delles doadores; porem terao elles doados uma porta para a parte da cerca para a serventia das aquas da fonte, como tmbem poderam fazer uma porta para a rua em forma de portaria, e no interior della corn sua campainha para por ella entrarem e sahirem os ditos doados e seos Irmaos, quando lhes bem parecer, por evitarem desta maneira alguma molestia aos Religiosos de se servirem pela sua portaria, da qual porta terao os ditos doados a chave, por lhes ficar a dita porta no interior das suas obras fora da Clausura dos doadores, e nas ditas obras poderao fazer todas as mais portas de muro a dentro que necessarias 'hes forem, como tambem janellas, de tal sorte que 'hes nao devasse o Convento delles doadores. Senio caso que pelo tempo em diante os ditos doados e seos Irmaos queirao fazer hospital fora dos muros da Clausura delles doa-dores, em parte que lhes possa ser convenience, sao contentes que possa haver serventia das ditas suas obras para a dita en-fermaria por arcos ou corredores, como melhor lhes convict., abrindo para isso as portas necessarias, de tal sorte que nao prejudiquem a clausura delles doadores, sem que estes lhes possi5o impedir; e outro sim disse o sobredito Sindico e doadores que elks davao mais e largavao aos ditos doados aquella terra que occupao as quatro cellas ate a ribanceira para a parte do Desterro, para nella fazerem o seo jardim, como acima dizem, e nao poder5o fazer na dita terra obras algumas de nenhuma qualidade que

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sejao; e • ncsta forma disserao elles Religiosos e o dito Sindico Pantaleao Rodrigues que davao e haviao por bem doada aos ditos Irmaos terceiros, deste dia para sempre a dita terra que nccessaria Ihes for, no sitio de Genipapeiro, obras das ditos quatro cellas e terra ate a ribanceira, para de que ao presente e ao diante forem e que tirao e demittem de si e seos successores todo o uzo, direito, accao e pertencao, posse e senhorio, e util dominio que nas ditas couzas tern e ao diante ter podiao, por que tudo desde logo cedem e traspassao nas pessoas dos ditos doados, para que elles tudo logrem gosem hajao e possuao, como couza sua propria que e e fica sendo por virtude deste instrumento de doacao, por virtude do qual poderao sem mais authoridade de Justica tornar posse das ditas terras e obras, e quer a tomem quer nao elles doadores Sindico e Religiosos hao por dada e nelles por incorporada pela Clausula constitute posse real, actual, corporal, civel e natural que em si poderiao reter e possuir too livremente como o fariao elks doadores, e antes delles os seos antecessores, e prornettem c se obrigao elks dito Sindico e Religiosos a Ihes fazer sempre boa esta doacao de paz livre c desembargada de toda a pessoa ou pessoas que alguma duvida ]he ponhao por que a tudo sahirao e se darao por Authores e Deffensores a sua propria custa e despeza ate tudo ser findo e acabado e elles doados restituidos a sua posse pacifica, alias succe-dendo o contrario lhes tornara elk dito Sindico a restituir a im-portancia das obras das ditas quatro cellas, que elks doados houverem de pagar como tambem as esmolas, que das covas houver recebido, e lhes pagara as bemfeitorias que nas ditas terras ti-verem os ditos doados feito, que serao avaliadas na forma da Lei; e pelos ditos doados Irmaos da Meza foi dito que elles por si e em nome da dita Veneravel Ordem terceira, acceitavao esta escriptura de cloacao a elles feita na forma que nella se contem, corn as clausulas e condicoes nella declaradas, e promettem e se obrigao a dar e pagar ao dito Sindico toda a importancia e custo das quatro cellas, que elles doadores Ihes largarao, na forma que acima se declara, fazendo os seos pagamentos na forma acima dita, como tambem se obrigao a pagar todos os annos em quanta a dita sua Igreja existir, trinta mil reis de esmola simples das covas para o hospital dos ditos doadores quer se nao muitos ou poucos Irmaos; e outro sim se obrigao que nao abrirao porta principal para a rua, mais que aquella corn forma dc portaria que acima se declara; e sendo qua facao casa para a sua enfer-maria, farao para a serventia della os arcos, ou corredores que necessarios forem, corn suas portas necessarias; porern de tal sorte que nao devassem a clasura do Convento delles doadores,

e da mesma sorte as janellas que fizerem nas ditas suas obras,

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tudo na forma e maneira que acima se declara nesta e scriptura, a qual disserao elles parses cada urn n'a que the toca que promettem

se obrigdo a ter a manter, cumprir e guardar tao pontual e in-teiramente coma nella se contem e de a ndo encontrar, reclamar, revogar ou contradizer par si nem par outrem, em parte nem em todo. e agora ou em tempo algum, e o que o contrario fizer sera ouvido em Juizo ou fora delie digo fizer nao sera ouvido em Juizo ou fora delle sem primeiro satisfazer e repor obediente o que tiver rece_bido, ou estiver devendo, a saber elle dito Sindico o que tiver recebido por conta delta escriptura, e as doados o que PqiverPni deveneo, qua uns e outros receberao, sem fianca, e esta clausula depositaria. que tete- sea clevido effeito em sodas as instancias, ate na as execucao, e passard a seas successores para nellPs executar juiz ou Taipeiliam aqui a pediment° destas partes, por me eizerero que de-bait:a deltas estavao contractados, para o qua obrigao a tudo o referido doados os bens e rends da clita Ver_eravei Orden terceira dig° da dita Veneravel Ordem, e o Sindico as rendas dos ekes Rehg,iosos, a eeclararao elles doadores qua sand ca_so qua elks deados se queizao logo serdr das eitas anatro cellos Se= em___1-)argo da falta das mais °bras, o farao, ta-nto qua for fejt° a repartime.nto e necessaria no dito corredor, e dormitorio. send :lea-se para ellas pal° Claustro pe queno, Cu pe.la aorta do carro, cuia eeclaracao alias deados acceitarao e declaratao elks doadores e doados que ma partida de alvemaria de abra.s quarra cefles qua elks doadores haviao ajustado cam Nianoal a a paga_-re.-_,m-lhe a quatro rEdS por brace, havetido 7es-aeito ao tempo pre_sente a major custo qua ha nos 7-,-A-tP7'-o>5 a orig,arac cues dczea= a raJta° de qua_.-- t-o l dusentos a cthcoeara rets. per e no ma's se seguira o ajuste forma • oreco: do dito "MPI-oal Qua-7 ,--ma; a nesza forma a em Ed a

o de ve_rdade assim a Outhorgargo e faz-• contin ,- note qi:e a_ssiguarao pirao • aoceitarao. a e•= canto ,-tip-ifienta a o a tocar dC'a:4-=-T- es tr--=.,_2L--..dss per tear

->----,01-Pc Al f- s. Ribairo, o Alfere-s ton Rom -r' ezoois de Dor

an da Costa Tabaliao. o escra JC.= r7." Miaistro Pro-Tindal— NET,. Ccrn-rrrIso Visitador — Frei Da:1cr — Marenr ne Conceiciiaa. La — Frei Vitr-1 SP-70-o, — f rei Manuel ez Santa Man,' — 0 Sr" 7);--0,-_,P_LO

Memel AIIN-wes — f o r Fires

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Carvalho — Antonio de Azevedo Moreira, Ministro — Antonio de Magalhaes Leitao — Manoel Alvares de Carvalho — Manoe! Pacheco Pereira — Joao da Costa Madureira — IvIanoel Lopes Pinheiro — Domingos Nunes Velho — Pascoal da Silva Mo-reira — Lourenco Cassao Soares — Miguel Vareiro — Joao de Figueredo Soares — Manoel de Sampaio Ribeiro — Antonio Romao de Andrade — Thomaz Pires «Auto de posse da es-criptura acima» Saibam Quantos este publico instrurnento de auto de posse ou qual em direito se possa chamar, virem, que sendo no anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo de mil sete centos e um aos trinta e urn dias do mez de Julho do dito anno nesta Cidade do Salvador Bahia de todos os Santos no Convento de Sam Francisco desta Cidade, onde eu Tabelliam fui chamado e logo ahi apparecerao os Irmaos da Meza da Ve-neravel ordem terceira de Sam Francisco' a saber. o Ministro o Coronel Domingos Pires de Carvalho e o Vice Ministro Antonio de Azevedo Moreira e o Secretario Manoel Alvares Caminha, o Sindico Antonio de Magalhaes Leitdo, o Mestre dos Novicos Miguel Vareiro, o thesoureiro dos juros Manoel Lopes Pinheiro, e os Consultores Joao da Costa Madureira, Manoel, Manoel Alvares de Carvalho, Manoel Pacheco Pereira, Joao de Figueiredo Soares, Pascoal da Silva Moreira, Domingos Nunes Velho, e o Vigario do Culto Divino Lourenco Cassao Soares, todos pessoas que reconheco pelos proprios de que aqui faro mencao, e logo por todos juntos e cada um deles in solidum me foi dito que na forma da escriptura acima constava pertencer-lhe, no sitio do Ge-nipapeiro, toda aquella terra, que necessaria Ihes for para as obras, que intentavao fazer, e bem assim as obras das quatro cellas do dormitorio novo, que fica da parte do dito Genipapeiro, e das ditas obras para a parte do muro, toda a mais terra da parte do Desterro ate a ribanceira, e been assim o lugar das senzallas, e ainda o que esta de fora da porta do carro como tudo melhor constava da dita escriptura acima, requerendo-me lhes desse por virtude da dita escriptura, posse real das ditas terras e obras das quatro cellas; e logo eu Tabelliam fui em cumprimento dos ditos Irmaos da Meza acima nomeados, ao dormitorio novo, que fica da parte do nascente e ahi entrarao os ditos Irmaos da Meza e o Ministro em nome de todos os mais irmaos pelas quatro cellas dentro, janellas conventuaes, pondo as maos pelas paredes, f'i-xando e abrindo as portas e janellas, das ditas quatro cellas, e depois vindo ao sitio do Genipapeiro, ahi andarao os ditos lira-dos passeando de urna para outra parte ate a Ribanceira que fica da banda do Desterro e Senzallas, assim de dentro do muro como de fora da porta do carro, arrancando arvores, quebrando ramos, botando terra para o ar, fechando e abrindo portas das senzallas.

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e finalmente fazendo todos os actos, cerimonias e requisitos quc em semelhantes actos se costuma fazer, cm signal de que tomavao posse das ditas terras e obras de quatro cellas, tudo em presence. de varios Religiosos do dito Convento e seo Sindico Pantoleao Rodrigues; c logo eu Tabelliao perguntei se havia alguma pessoa on pcssoas quc alguma duvida ou embargo a dita posse tivessem, viessem coin elles lh'as receberia; e por nao haver pessoa alguma que a dita posse tivesse duvida ou embargos en Tabelliam pela clausula constituc Ihes dei c houve por dada a dita posse real, actual, corporal civil e natural das ditas terras e obras, tanto quanto devo e posso e sou obrigado por razao do meo officio, que os ditos Irmaos acceitarao e se derao por empossados, de que de tudo continuei este instrumento nesta nota que todos assigna-rao, pedirao e acceitarao, e eu Tabelliam em nome de quem tocar auzente, para delle dar os traslados necessarios sendo prezentcs a tudo por testemunhas Thomaz Pires o Alferes Antonio Romao c o Alferes Manoel de Sampaio Ribeiro, o que todos aqui assigna-rao e eu Manoel Affonso da Costa Tabelliam o escrevi. Domingos Pires de Carvalho, Ministro — Antonio de Azevedo Moreira, Vice Ministro — Manoel Alvares Caminha Secretario — Miguel Va-reiro — Manoel Lopes Pinheiro — Domingos Nunes Velho —Manoel Alvares de Carvalho — Lourenco Cassao Soares —Antonio de Magalhaes Leitao — Joao da Costa Madureira —Manoel Pacheco Pereira — Joao de Figueredo Soares — Pascoal da Silva Monteiro — Antonio Roma° de Andrade — Manoel de Sampaio Ribeiro — Thomaz Pires. 0 qual instrumento eu Manoel Affonso da Costa publico do Judicial e Notas nesta Ci-dade do Salvador Bahia de todos os Santos e seos termos, no officio, de que c proprietario Antonio Ferreira Lisboa fiz passar bem e fiehnente do Livro de Notas, d'onde a passei e aqui me reporto, con feri e assignei em publico e razo seguintes. Estava o signal publico. E em testemunho de verdade Manoel Alfonso da Costa. - Este instrumento eu Tabelliam abaixo assignado fiz passar em publica forma do meo officio coin o theor do proprio original que me foi apresentado e que entreguei a quem de como recebeo abaixo assignou; c este vai por mim subscripto e assi-gnado e con} outro Official companhciro conferido e concertadc' nesta Leal e Valorosa Cidade de Sam Salvador Bahia de todos os Santos aos vinte oito dias do mez de Dezembro do corrente anno de mil oito centos e setenta e sete. Pagou-se de feitio deste corn o papel e verba a quantia de treze mil seis centos e oitenta reis. E eu Alvaro Lopes da Silva Tabelliam subscrevy».

Sabre estampilhas no valor de 2$800, o Tabeliao acima de-clarado datou e assinou o importante documento.

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Depois do longo parentese, aberto corn a transcricao da Publica-forma da escritura de doacao do terreno, gracas a qua] a Ordem pode abrigar-se em teto proprio, retomamos o fio da nossa historia. guiados ainda pelo cronista Franciscano e o Se-cretario Luiz Gomes Coelho.

Entre outras informacoes oportunas, esclareceu Jaboatao, no Capitulo VIII de «Novo Orbe Sera fico», que a Ordem 3.a de S. Francisco da Bahia, foi a segunda erecta no Brasil, acrescen-tando textualmente : «Mas esta razao de secundaria, a nao priva de outras muitas accessorias, que the podem dar entre as main da Provincia algitas primazias. Podem ser estas o numero tajado de seos Irmaos, e sem duvida numerozo a respeito das mais de todos os outros Conventos; ainda que este excesso, nao he tanto effeito da mesma Ordem, como fructo da immensidade do povo; pois sendo tao crescido o desta capital, assim como da tantos para os empenhos do mundo, taobem da muitos para Os empregos do que he de Deos. Daqui se segue ter taobem a ordem hum born, e abastado Patrimonio : nao so por este cres-cimento de seos Irmaos, como por serem muitos delles de avulta-dos cabedaes, e haverem feito grandes doacoes a mesma ordem; tanto para suprimento della, como para obras pias, suffragios, esmollas para pobres, dotes para as orphas e outras semelhantes de piedade, e zelo christao.»

A esse respeito informou, por sua vez, o Secretario Luiz Gomes Coelho : «Possue esta Veneravel Ordem o melhor de canto e dez contos de reis, cujos rendimentos applica na administracao de sessenta e nove capellas, que administra de missas, esmollas, dotes, e outros encargos, que instituirao varios defuntos nossos Irmaos, as quaes capellas, no anno de 1758 proximo passado pelo juizo delles se tombarao, fazendo-se a cada hfla patrimonio par-ticular em propriedades, e dinheiros de juros. Distribue a ordem annualmente por esta conta para sima de tres contos de refs, fazendo celebrar pelos seos encargos sette mil trezentas e sin-quoenta e oito missas, consigna doze, ou treze dotes, e distribue mais pelos Irmaos pobres enfermos, trezentos e dez mil reis. Par cada Irma() defunto applica cento e settenta e oito missas, que no decurso do anno fazem o numero de sinquo mil pouco mais ou menos. Pelos Irmaos vivos taobem applica perto de duzentas missas annualmente; e pelos Irmaos defuntos em geral pouco mais ou menos quinhentas. Os mais sobejos se applicao ao gasto da Igrcja da ordem, habitos e tumbas para os Irmaos pobres, e tudo se chi conta geral e publica na mesma igreja no dia quatro de Julho na publicacao da nova meza».

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HISTORIA DA V. O. 3.11 DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 29

Confirmando as informacoes do Secretario e de Jaboatao, o Livro 3.° do Tombo traz as verbas dos testamentos de alguns Irmaos. falecidos nos seculos XVII e XVIII, onde se encontrarn legados feitos a Ordem, nao raro nomeada testamenteira dos legatarios, o que prova a confianca nela depositada pela sociedade de entao. Acontece, porem, que essa confianca nem sempre deu grande proveito a Ordem, uma vez que a encargos serios ficava obrigada pclos seculos afora.

E chegado o moment() de esclarecermos urn trecho do Ca-pitulo VIII de «Novo Orbe Serafico», em que Jaboatao censura os Terceiros da Bahia pela supressao de algumas festas religiosas, sem the conhecer as causas. Assim verberou o cronista Francis-cano seus Irmaos da 3. a Ordem : «He, verdade, (e por nao faltarmos a esta o expressamos, pois he junto, nao deixando nos de repetir em os filhos desta veneravel ordem nesta sua caza, o que he digno de louvor, callemos aquillo, em que se tern feito acre-dores de algila reprehensao. ) He verdade, que ha muitos annos a esta parte, tem faltado os Irmaos Terceyros a todas as func,oes sagradas, que costumavao nao celebrando festa algua, nem ainda a da propria Padroeyra da sua Igreja. Nao me intrometo a julgar, se corn razao ou sem ella; porquc sey, que para o do mundo ha opinioes para Ludo; mas, como para o de Deos nao pode haver opiniao, que por dcspique de payxoes parLiculares se possa privar a este Senhor e aos seos Santos dos cultos, e ve-neragoes, que se lhes devem, tambem podemos fazer opiniao que disto terao dado a conta os principaes motores, e que a nao deixarao de dar, os que sustentao, e apoyao aquellas maximas.>>

Os creditos da Ordem 3. a de S. Francisco da Bahia exigem a transcricao, ipsis litteris, do que se contem na Introducao do Livro 3.° do Tombo, magnifico atestado de zelo religioso c ho-nestidade no cumprimento de encargos dificeis, de que deram provas as a.dministracOes passadas. Esta pagina desfaz, cabal-rnente, as davidas suscitadas pelo cronista Franciscano, quanto a causa da supressao das festas religiosas. Ei-la na integra:

decurso de todo o tempo que tern corrido desde o es-tabalecimento desta Ordem athe o prezente receberao as 1VIezas que servirao nella muitos e varios encargos, que se forgo cumprin-do inteiramente pelo total rendimento da Ordem, sem haver acer-teza do que tinha produzido o capital de cada hum dos encargos, por ter havido o descuido, de nao vincular patrimonios 4 cada hum delles, p.a conforme o seo rendimento se cumprir.

Laborava nesta confuzao a Orde e cumprirao os Irmaos della os encargos a que estava sujeita aplicando a elles todo o dinheiro fosse Cu nao fosse daquellas consignacoens, corn fundamento de

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Supposto que no principio ou tempos em q. se recebeo aquelles dr."a se fizessem assentos no livros da Ordem corn separacao e declaracao a que Capella pertenciao para se saber em cujas maos corri5o risco, e se rendiao ou nao, comtudo pelo decurso de annos se confundio, que nestes ultimos, se nao podia vir no conhecimento a quern pertencfao os que existiao na mesma especie, e a quem tocavao os que se empregar5o em moradas de cazas em que a Ordem tern prezentemente o seo mayor capital.

Por cauza daquella confuzao foi a Orde cumprindo sempre os encargos sem exceicao valendo-se para o prompto cumprimento de todos os dr." que hiao a diva Ordem por deichas, e esmolas, e promessas das Mezas, sem exceptuar algum, que tal vez fosse deichado p. a paramento e ornato da Ordem como nestes ultimos annos foi a deicha de Mauricio Carvalho da Cunha.

Sem embargo da Ordem aplicar todos aquelles dr." a cum-prim." dos legados, tirando t5o somente p. a a uzo da Ordem o que se gastava em sera, alga ornament°, e ordenado dos serventes della se foi alcancando de sorte que se suspenderao desde o anno de 1744 por diante todas as festas que se faziao na Orde e todas as couzas que podia() ser provocativas de gastos.

Nao bastando esta iconomia para o arraste da mesma Ordem, se rezolverao os Menzarios do prezente anno a balanciar todos os bens que prezentemente fazem o Capital da d. a Ordem, e achando, que todos elles nao emportav5o tanto, quarto meterao nella os Instituidores, porque para cumprimento deste ]he fal-tavao doze contos e tantos milreis, concordarao entre si de re-querer ao Juiz competente dos reziduos, tombasse ditas Capellas para lhes fazer patrimonio dos bens q.' existiao, e corn effeito mandando-os avaliar judicialmente como se costuma pelos juizes dos officioz de Pedr.", e Carpinteiros fez o tornbamento dando a cada hua das Cap." hila ou mais moradas de cazas, que bastarao a fazer o Capital, corn que cada hum dos Instituidores entrou na Ordem, e por esta forma se enteirar5o todas, menos tres, por nao haverem bens, ficando a Ordem sugeita ao cumprimento destas, sem aliaz ter rendirnento.

Feito assim o tornbamento approvado e julgado por snn.a do Juiz competente consigna este a Ordem por sua administracao todo o excess() que renderem os patrirnonios das Cap. a' ao encargo dellas; verb. grat. Pedro deixou a Ordem 8$cru. 2" para se dar todos os annos hum-dote de 100.$r, rendem aquelles 8$cruz' 200$r. o que vai de cem a duzentos milreis consigna o Min.° por admi-nistracao a Ordem, e assim todos os mais de mayores, ou menores encargos, fazendo por conta dos .Instituidores, ou Capellas todos os gastos de concertos, ou reedthcacoens das propried.' em que estao tombadas.

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Alem daquella concessao das mayorias por administracao a Ordem, q . o Juiz ]he concede determina mais, que succedendo nao render a propriedade q.' faz o patrimonio de algu'a Capella por exemplo mais de 40$r. poder a Ordem tirar de sua admi-nistracao a 4. a pt.° q. sao dez milreis, e cumprir 30, e succedendo que inteiramente nao renda hum anno, ou mais se nao cumpra em todo o tempo que nao render.

Para legitimamente se practicar o cumprimento destes legados conforme as sentencas dadas nos autos das Cap. aa delles tern parecido aos Irmaos da prezente Meza, que deve parar o seo cum-primento o anno prox.° futuro, que principiara a 4 de Julho de 1759, e findara em outro tal dia de 1760 para no fim delle se ver o que =deo cada hua das Cap."°, o que se deve cumprir, e se deve uzar do indulto de tirar a 4.° parte no cazo de nao render mais do encargo instituido, por exemplo : as cazas que sao da Capp. 2 de Pedro, se renderem 50$ e o seo encargo for de 40$ ficara a Ordem corn a mayoria de 40 a 50$ porem se nao render mais de 40 para haver a Ordem de tirar a sua 4. 2 parte, e saber que ha de cumprir 30 —

Por aquelles mot.", tern concordado entre si de comum Acordo os Irmaos da prezente Meza de parar aquelle anno ex vi de se nao poder practicar a conta de ditas Cap."' em legitima, e verdadeira forma e se nao confundir a mesma Ordem para o futuro, quando as operacoens della sao feitas por tantos discursos, quantos sao os Secretarios que a vao servir.

As razoens em que se fundamentao os Irmaos da prezente Meza para de comum Acordo assentir a parar aquelle anno sao verem feitos os capitaes das Cap. aa em tanta quantidade, quanta meterao na Ordem os Instituidores, approvar o Juiz o Tomba-mento dellas e consignar-lhas as administracoens que a Ordem deve ter; e tambem por esta estar tao decadente, que entregou quanto possuhia em bens as ditas Capp.as , e por cauza daquella mesma decadencia se tern feito nestes ult.°' annos as despezas da Procissao de cinza e Semana Santa a custa dos Irmaoz de Meza.

Pergunta-se aos Snrs. R.R.P.P.M.M.

Se na forma que Pica exposto ficarao de boa consc. a os Irmaos da prezente Meza, que for go cauza moto de toda y aquellas operacoenz novamente feitas, e semelhantemente os que the suc-cederem aquelles e em determinar entre si o parar este anno corn o cumprimento dos legados, e estes em ficarem corn as mayorias, que Ines concede o Ministro por administracoens, porque sendo em benef.° da Ordem, nao dezejao os Irmaos da prezente Meza, e

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os que ]he succederem encargos, quando a sua intentao he tao so mente em beneficio dos Instituidores por se ]he estabelecerem patrimenios mais permanentes, do que dinhr.° e da Ordem, que necessariamente se perderia no decurso de mais 30, ou 40 annos.»

A proposta, submetida ao parecer dos tres membros da Companhia de Jesus Padres Manuel Correa, Manuel Xavier e Manuel dos Santos, teve a seguinte resposta :

«Sou de parecer que os Irmaos da prez.' Meza parando este anno corn o cumprimento dos legados, e os Irmaos que ]he suc-cederem recebendo em benef.° da Ordem as mayorias, que pela administracao consignou o ficao em boa consciencia prac-ticando o que propoem para o louvavel fim que intentao corn as seguintes limitacoens. 1." Que no anno subsequente ao em q. cessa o cumprim.'" dos legados, cressendo os redditos das pro-priedades corn tal excesso, que cumpridos os ditos legados, e ti-rada a 4.' parte de cada hum dos redditos para a Ordem, pela diligencia e cuidado da administracao reste aincla algua quantia, deve esta aplicar-se respectivamente para satisfacao dos mesmos legados, os quaes se nao cumprirao no anno antecedente em que pararao. Isto mesmo se deve practicer nos annos seg." cressendo os redditos corn o excess() referido. A razao vem a ser, por que a en." Ord suposta a livre acceitacao que fez da administracao, deve pelo modo possivel dar cabal cumprimento as dispozicoens dos Instituidores, e Testadores, os quaes determinando tempo prefixo para os legados, nao remitirao a obrigacao de os cumprir so pertenderao acautelar a dilacao Per. tr. 15 q. 6. n." 1.073. Observada esta limitacao, sempre fica a Ordem utilizada corn a parte dos reditos proporcionada ao cuid.°, e industria da admi-nistracao, e satisfeita pelo modo possivel a vontade dos Institui-dores, e Testadores, a que se deve dar inteiro cumprimento, quanto pode ser x.' cap. tua nobis d testam. L.C. de Sacro5ant. Eccles. L. 5. a. Testam. quemadm. aper.-Molin d just et jur. tr . 2 d 249 n.° 5.° et 7.°.

A 2.' Limitacao he, que se em alga dos annos seguintes ao em que cessarao os legados, nao rezultarern redditos das proprie-dades para cumprimento dos mesmos legados, respectivamente, nao podera a Orde utilizar-se de todo algum modico rendimento, que preduzir algua, ou algtias das d."' propriedades : deve neste cazo pela deminuicao que houver em coda hum dos legados, se ester forem deviziveis, como V. g. missas V° diminuir propor-cionadaMente o que the toca pela administracao, sendo porem o modico rendimento insufficiente para cumprimento de legado algum, deve conservar-se havendo esperanca de q.' se chegue a completar a quantia corn que se de satisfacao e cumprimento,

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scg. ,h, o que possivel for. Advirto que o legado de dotes nao adniitte deminuicao em si, ponto que a possa admittir no numero, into he haver menos dotes, quando os reditos nao chegarem para todos os que andarem annexos a algua propriedade. Corn as so-breditas Limitacoens podem os Irmaos tuta consciencia seguir o deterrninado pea sentenca, e practicar o que intentao. Ita censeo salvo meli ou Collegio da Bahia 26 de Junho de 1759. Manoel Corr.".

Sou do mesmo parecer : Coll." da B." era ut supra Manoel Xavier.

Julgo o mesmo com os R.R.P.P.M.M. Coll." da B." era ut supra. Manoel dos Santos. Eu Domingos da Rocha Barros Secretr.° actual da ordem a fiz escrever da propria, a que me reporto, e coin ella esta conferi sobre escrevy e asigney.»

A importancia da divulgacao deste parecer e manifesta, e tanto maior se considerarmos que, meses depois, a Sancao regia dada a lei de 3 de Setembro de 1759, abolia de Portugal e suas colonias a Co .mpanhia de Jesus, cujo imenso prestigio a onipotencia de Scbastiao Jose de Carvalho e Melo conseguiu aniquilar por muito tempo.

Ao Dr. Provedor dos Residuos e Capelas, Joao Ferreira Bitencourt e SA, foi encaminhada uma peticao, que recebeu o seguinte despacho : «Concedo aos supp. es o tempo pedido debaxo das clauzulas, e limitacoens ponderadas nas rezolucoens juntas, que se conservarao para legitima intelligencia deste despacho. Bahia 3 de Julho de 1759» Bettencourt e Saa.»

A questao das Capelas voltou a ocupar a atencao de muitas Mesas, no correr dos anos, tao grandes dificuldades oferecia o cumprimento das disposigoes dos Instituidores, algumas verda-deiramente absurdas.

Julgamos desfeitas as duvidas suscitadas pelo cronista da Ordem Franciscana, quanto aquele aparente descuido dos Ter-ceiros da Bahia suprimindo as festas religiosas, lamentando, en-tretanto, que a censura infundada se agravasse corn este parecer emitido por Jaboatao, no Capitulo VIII de «Novo Orbe Sera-fico» : «vay por mais de vinte annos que nao fazem festa, ou funcao algua da sua Ordem so por privar a nossa communidade daquellas esmollas que the costumavao dar por ellas.»

Lima das finalidades da Historia e restabelecer a verdade. Assim sendo, nao podiamos deixar sem os esclarecimentos de-vidos um ponto de honra para a Ordem 3. a de S. Francisco da Bahia.

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Apraz-nos fazer justica a memOria daqueles antigos Terceiros que, para a satisfacao de encargos sagrados, nao recuaram diante de dificuldades e ate se expuseram a interpretacoes injustas dos coevos. Foram eles que alicercaram o edificio grandioso a cuja sombra a familia Franciscana da Bahia se agasalha.

Nunca encareceremos bastante o heroismo e a dedicacao dos que abriram caminho as obras de piedade e de assistencia social, e Ihes ampararam os passos, para que chegassem ate nos pujantes e impregnadas do espirito cristao que as animou no berco. Outro nao foi, certamente, o ideal que norteou a fundacao da nossa Ordem 3. a, ha tres seculos instalada sob as bencaos da Igreja e os aplausos da sociedade contemporanea.

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OBRAS POSTERIORES A CONSTRLIcA0 DA IGREJA

AS informacocs do Secretario Luiz Gomes Coelho a la-boatao foram prestadas em 1760, conforme esclarecemos desde o Preambulo &este livro. Por esse tempo. declarou o Secretario, o teto e as paredes da Igreja estavam cobertas de talha dourada e ricos paineis.

No mais antigo documento do Arquivo da Ordem 3. n de S. Francisco. ano de 1738, sob o titulo : cConta que da de seu Recebim.' e Despeza o Sindico desta Veneravel Ordcm 3.'' da Penitencia do Nosso Serafico P.' Sam Francisco desta Congre-gacao da Bahya o Irmao Mauricio Carvalho da Cunha» — en-contra-se esta nota digna de serio reparo : cPor dinhevro ao M.' Pintor Antonio Roiz Braga do ajuste de toda a obra q. fez de seu officio nesta Veneravel Ordem como consta da sua qui-tacao 200$000.

Seria Antonio Roi: Braga o autor da primitiva pintura da Igreja da Ordem 3.3 ? Nao nos parece provavel que. inaugurada em 1703, 35 anos depois a Igreja precisasse de novas pinturas. E mais logic° pensar que, semente em 1738, as pinturas a que se refere o Secretario Luiz Gomes Coelho ficassem concluidas. 0 Sindico Mauricio Carvalho da Cunha informou claramente : (ajuste de toda a obra que fez de seu officio nesta Veneravel Ordem». 0 preco. para a epoca. esta indicando claramente que se tratava de obra de vulto. E; possivel mesmo que a Igreja fosse inaugurada sem as pinturas, trabalho sempre mais caro e de mais dificil desempenho.

Quando se inaugurou a Igreja, estavam ja construidas al-gumas celas no terreno doado pelos Religiosos Franciscanos. Pouco a pouco, porem, os Terceiros foram aumentando as de-pendencias e molhorando as instalacaes. Embora faltem muitos documentos sabre tao importance assunto. alguma coisa pode ser esclarecida corn relacao as obras que se reali:aram ainda no seculo XVIII.

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Da pagina 80, do Livro 2.° de Termos, vamos transcrever a noticia mais antiga, existente no Arquivo, sobre dependencias construidas pelos Terceiros, anexas ao Templo «Termo do Acordao q.' se tomou em Meza para se fazer secretaria nova acrescentando-se hum Lang) no claustro q.' entra p." a Sacristia tudo como abaixo se declara.

Aos 17 de 7tr." de mil settecentos e Seccnta e nove annos estando congregados em Meza Capitular que prezidia o M.R. P . Fr. Leonardo da Conceicao Pregador ex Diffinidor nosso Comm.° Ve".° r o s. r Ir. Men.° actual o C. Francisco Borges dos Santos, e os mais Ir.' da Meza comrnigo Secretario abaixo assinados foi proposto p. 1" d.° s. r Irmao Men.° ser conviente haver nesta Ordem hua caza q corn mais comodid.° e aparato correspond." a toda a mais caza sirva de Secretaria pcquenhas da que existe; o que ouvido. d... Sr.' Irmaos da Meza, parecendo bem con-cordarao uniformern. te se houvesse de fazer a d. n Obra; se cha-mase Pedr." e Carapinas Mestres, q.' bem entendessem e executas-sem; e com effeito fordo vindos perante os d." Ir." Joaquim Dias Barradas m.' e Joze dos Santos Miz'. m.° Carapina e con-sultando, e examinandose corn os sobred. se se podia fazer a d.". obra tomando para ella o claustro q. temos na nossa mesma terra q. entra p."' parte do Leste para nossa Sacrestia responderao q. nenhuma duvida poderia haver nem prejuizo nesta nossa caza e Igreja em se fazer a d. a Obra a vista de suas respostas, e exame asentamos e se determinou uneformem." se fizesse a referida obra na forma Seguinte a saber de pedr.° desmanchado o correm5o da escada, e sobre elle correr hum frontal dobrado da mesma grosura do d." corrimao emthe a altura do telhado, e na mesma forma crescer a parede sobre a que esta na caza da fabrica do nosso Irmao Vigr.° the a mesma altura da do corrimao; e na frente da rua levar tres janelas de Sacada rasgadas correndo corn as outras do concistorio, ficando hua sobre o patamal da escada p." luz della; e na aria do d.° claustro por baixo duas janelas de altura de onze palmos de volta e Bette de largo corn assentos;- estes e todas as janelas sobredittas de boa cantaria corn suas grades de Ferro por fora, correndo o vigame da secretaria q. existe p." a parte da rua, sendo o cobrimento de tres agoas fa-zendose hum cano de telhoes vidrados p." sima da parede do Consistorio p. a receber as agoas dente e da d." nova obra; e de como assim se determinou p. r se determinou e concordou p.r vottos se mandou fazer este termo p." a todo tempo constar. E eu Antonio Ramos da Sylva Secretario actual da ordem que o sobscrevy e asigney».

Resolvida a execucao da obra, foi lavrado, no mesmo dia, o contrato corn o Mestre Joaquim Dias Barradas, contrato que

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vamos reproduzir da pagina 81." do Livro 2.° de Termos, onde se encontra .

«Termo de ajuste q faz o Men.° e mais da Meza desta Ven. 1 ordem 3." da Penitencia corn Joaquim Dias Barradas m.° Pedreiro para fazer a obra expresada no termo antecedente como abayxo se declara.

«Aos dezasete dias do Mez de 7br.° de mil sette centos e Secenta e nove annos estando congregados em Meza que Pre-zidia o M.R.P . Fr. Leonardo da Conceicao Preg.°' ex Diffinidor nosso Comm.° Vez.° r o s. r Irma() Menistro o C. Francisco Borges Santos, e os mais da Meza commigo Secretr.° abaixo asignados veyo prez." d." Ir. s Joaquim Dias Barradas m.° Pedr.° para effeito de se ajustar o preco p. r q. nos havia de fazer a obra da caza p.a nossa Secretaria expressada no termo anteced. e ; e corn effeito ajustou, e se obrigou a fazer a obra seguinte : tres janelas de Sacada a maneira e na iguald.° das que estao feitas no mesmo correr da rua no consistorio e no mesmo feitio asentadas corn toda a cantaria em fina pedra de lioz, e de boacasta, e as sacadas in-teyrinas; e assim mais duas janelas de assentos debaixo das da Sacadas q ficao por sima de onze palmos de alto cada huma coin volta e sette de largo corn toda a cantaria necessaria da mesma qualidade da sobred. a para se fixar ou cravar grades de ferro, q as cravara corn xumbo bem cobertas q• p.'" tempo fucturo nao cauze prejuizo as d." 5 pedras; as quaes janelas flea() dando luz ao claustro : fazer a parede da parte da rua, onde hao de ser assentadas d. us janelas, descupe desde o alicerce (se este nao for sufficiente) corn grossura corresponde.° a mesma do nosso Concistorio, de sorte q. tenha capacid.° de receber em sy todo o invigamento, sem q experimcnte ruina algua fuctura, q succe-dendo pouca seguranca do fundament° ratificala ele d.° m.° Pedr.° a sua custa em todo o tempo q a houver: crescer a parede do corrimao p." sima em frontal dobrado da grosura da mesma parede the o telhado, e da mesma forma uzara corn a da caza da fabrica do nosso Ir. Vigr.° tapando a janela q. nella se acha; e a da Secretaria velha : despregar, tornar a pregar todo o azu-lejo nas partes q. necessr.° for, e na Subida da escada o corres-pond. te ao outro enfronte q' se acha pregado : Ladrillar todo o pavimento do pateo de tijolo quadrado, levantando o na iguald.° do da nossa Igreja e Sacristia desmanchando juntam.° todo o assento q em roda delle se acha, e tornando a fazelo de novo to a altura proporcionada; sendo todo o material desta obra de cal e area groca : a dar toda a telhas necessaria bem feita, bem cozi-da, e de born barro o d.° telhado, q sera de tres agoas, e juntam." os telhoes vidrados q. forem necessarios p." se fazer o cano para as agoas do concistorio e mesma casa nova; assentado

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este em ha Ladrillo bem feito de tijolo fazendo junta m." todo o reboque nccessr.° na mesma obra, tudo bem feito, bem acabado, e na sua ultima perfeicao por preco de duzentos e settenta e sinco mil rs pagos no fim de toda a obra, q' sera obrig. d" acabala na sua ultima perfeicao nos principios do mez de Abril do annn fucturo de mil settecentos e setenta; coin a condicao q' a nao acaban.° em d.° tempo perder sincoenta mil rs do preco do d.°, ajuste; e de como asim se ajustou, e se obrigou a pagar digo a fazer a d.° obra corn as referidas condicoes assinou este termo com o M.R.P. Comm.", o Sr. Ir. Men.' sobred.°, e mais Sr.° da Meza em o dia, e era ut supra commigo Antonio Ramos da Sylva Secretario actual da ordem que o sobscrevy e asigney.

A urgencia do trabalho determinou o imcdiato contrato corn o carpinteiro Jose dos Santos Martins, para a execucao simul-ta'nea da obra que Ihe competia. Da pagina 82, verso, do Livro 2.° de Acordaos, passamos a transcrever o importante documento que nos permite acompanhar a evolucao operada em tomb da Igreja : «Termo de ajuste q' faz o Men.° e mais Ir.° 5 da Meza fiesta Ven.' Ordem 3. a da Penitencia de N.S.P.S. Francisco corn Joze dos Santos Miz m. e carapina para fazer a obra ex-pressada no tr.° anteced. e como abaixo se declara .

«Aos 17 dias do mez de 7hr.° de 1769 annos estando con-gregados em Meza q' prezidia o M R. Preg.° r ex Diffinidor Fr. Leonardo da Conceicao nosso Com.° Vez.' r o s. r Irma() Men.° actual o C. Fran." Borges dos Santos, e os mais Sr. s da Meza commigo abaixo asinados veyo prez. e d." Sr.' Joze dos Santos Miz' m. e carapina para effeito de se ajustar o preco porq' havia fazer a obra de carapina da caza expressada no termo retro; e corn effeito se ajustou corn o ditto a fazer a obra seguinte a que se obrigou : tres janelas de sacada de almofada na frente da d.a Gaza a imitacao das outras q' se achao feitas no mesmo correr corn seus postigos; e assim mais duas nas duas janelas, q' ficao por baixo das sobredittas, de altura de quatorze palmos, e sette de largo, tdobem de almofadas; hua porta para a entrada da d.8 caza da Secretr.'" do mesmo feito e tamanho da defronte q' entra p. a a caza do despacho; assim esta como as referidas janelas de gitaipeba; sendo as duas de baixo de volta; e por caixilho, e assentar hua porta, q' se Ihe ha de dar feita, na entrada desta nossa caza nova para a Secretaria velha sendo estes e os mais caixilhos de sepipira, e gitaipeba; a correr todo o invigamento desta caza para a parede da rua sendo este c toda a mais ma-deira dos altos de massarandubas, quiris, e sepipiras, e de gros-sura ordinr." em quina viva, caibros bem grows, e ripas de Ca-masari para os telhados, q'hdo de ser de tres agoas, na forma ja determinada no d.° tr.° anteced. e ; todo o forro de bayxo, e de

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sima feito de hum painel com sua moldura em roda, a maneira do da portaria do Convento dos nossos Irmaos Religiosos todo de vinhatico, e do mesmo todo o soalho da d. a caza; a dar toda a pregaria q' necessario for para a mesma obra tudo por preco de trezentos vinte sinco mil rs, que logo recebeo em dr.° o q consta das quitacoes separadas, e o mais pago no fim da d. a obra, q sera obrigado a findalla na sua ultima perfeicao nos principios do mez de Mayo do anno fucturo de mil sette Centos settenta; com a condicao de q nao dando acabada como d.° he perder do d." preco do ajuste sincoenta mil rs; e de como se obrigou e ajustou todo o referido e expressado neste termo corn d.' s senhores se mandou fazer este termo em q assinou corn o M.R.P . Com.° Vez.°r Sr. Ir.° Men.° actual e mais Sr. s da Meza dia e era ut supra Commigo Antonio Ramos da Sylva Secretario actual da Ordem que o sobscrevy e asigney».

A importante construcao seria rematada dignamente. Para isso o pintor Domingos da Costa Filgueira assinou minucioso contrato corn a Mesa da Ordem 3.", conforme se ve do Termo que passamos a transcrever, incompleto embora, em virtude do lamentavel estado da pagina 89, do Livro 2.° de Acordaos «Termo de ajuste q faz o Men.° e mais Ir.°s da Meza da Von.' Ordem 3. a da Penitencia de N.S.P.S. Francisco desta Con-gregacao da B." corn Domingos da Costa Filgueira m. e Pintor p. a fazer a pintura no forro da nova Secretr. a o de bayxo desta portas e corredor como abayxo se declara.

cAos dezoito dias do mez de 9br.° de 1770 annos estando congregados em meta que prezidia o M.R.P. Preg."' ex Dif fn."' Fr. Leonardo da Conceicao nosso Comm.° Vez."; Ir.° Mi-nistro Cap.i° Joze de Abreu Lix. a Meza commigo abaixo assinados veyo prezente os ditos Sr.' Domingos da Costa Filgueira m.' Pintor para effeito de se ajustar o preco porque havia fazer a obra da pintura do forro da Caza nova da Secretaria, suas portas de dentro, e almarios e tudo o mais respectivo ao aseyo da d." Caza; e do forro de bayxo da dita Caza; e Corredor e coin effeito se ajustou com o dito a obra seguinte a que se obrigou; a saber o forro de sima da d." Caza nova da Secretaria; e desta ambos de prespetiva de cores alegres e finas; porem com diffe-renca hum do outro no feitio ou riscos; porem ambos bons e vistosos; as cornijas dos d." forros assim do de como do de bayxo corn seus filhetes de ouro bornido; e de cores onde couber, e as partes onde nao poder levar debuxos levara fingimentos de pedra, ou faria da cor que melhor pudesse sair aos forros tudo corn tintas finas e a olio com a melhor perfeicao q se dar. Tambem pintaria os almarios com o fingimento

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alegres corn. o melhor stillo que agrade a vista; e Meza no qua se hao de comprehender as ditas estantes Meza, e estrado da mesma Secretaria junta manta as portas de dcntro da Secretaria corn sews fingimentos de madeyra ou do melhor modo que a csta ordenarem. Tambem ajustou e se obrigou a pintar de branco, tanto o corredor grande como o pequeno que bota p." as portas corn suas cor jaspiadas de azul corn toda a parfeic5o a tempera ou calla; cuja pintura se obrigou a fazell e acabala corn toda a perfcicao, e brevidade mais pocivel por preco e quantia de duzentos mil reis que recebcria acabada que seja a dita obra, na forma qua neste termo se tern expressado; e de como se ajustou a dita pintura corn o d.° Mestre Pintor Domingos da Costa Filg." que se obrigou a concluila da mesma forma neste expressada assinou este termo corn o M.R.P. Corn.° Vez.'r , Sr. Irma() Men.°, e mais Ir.' da Meza Commigo Luiz Glz. Lima Sccretr.° actual da ordain q o sobscrevy e asigney.;>

Na mesma ocasiao, novas obras foram contratadas corn o mestre pedreiro Jose da Silva Cunha. permitindo-nos o Teimo lancado a pagina 90, do Livro 2.° de Acord -aos, a divulgacao de mais este importante acrescimo feito ern tomb da Igreja. «Terrno de ajuste q faz o Men.° e mais Irmaos da Meza desta Ven.' Ordem 3. a da Penitencia de N.S.P.S. Francisco corn Joze da Sylva Cunha mestre pedreiro para fazer a obra expressada no termo abayxo.

Aos 18 dias do mez de 9br." de 1770 annos estando congre-gados em Meza q prezidia o Preg.°', ex Diffinidor Fr. Leonardo da Conceicao nosso Comm.° o Senhor Irmao Men.° actual o C. Joze de Abreu Lisboa; e os mais Ir.' da Meza commigo abaixo assinados, veyo prezentes os Ir.' Joze da Sylva Cunha mestre Pedreiro para effeito de se ajustar a obra e preco porq havia fazer a seguinte feixar toda a parede da parte do beco, no Corredor grande entra na rua e nella abrir seis oculos a maneyra dos da obra do Pillar, ou como melhor parecer a esta Meza, obra bem feita e agradavel; desmanchar a cazinha que se acha no mesmo corredor junto, ou pegada a escada que sobe para o couro, e junto a esta fazer parede azu-lejada o mesmo que se acha no d.° Corredor; neste fazer todo o ladrilho de tijolo largo de ineya esquadrilha; a juntamente no corredor que da Sacristia segue para a Igreja; e no que segue para a orta ou quintal todo a maneyra do ladrilho da obra nova do Pateo da Sacretaria; e todo de tijolo largo; fazer dous portaes e verga de pedra de cantaria boa lavradas a maneyra dos mais portaes da porta que do corredor grande entra p." o d.° paten. para servir em correspondencia na porta que do d." Pateo entra p." o corredor pequeno que sahe p.° a horta; e corn effeito se

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ajustou coin esta Mena e se obrigou a fazer e igualar a d. a parede, fazer nella os seis oculos, desmanchar a cazinha, e fazer junto a cscada parede azulejada; ladrilhar os tres corredores de tijolo largo de meya esquadrilha, sendo o d.° tijolo born, bem feito, e bem co,ido; e fazer os ditos dous portaes de pedra lavrada e verga de cantaria a maneyra do mais do mesmo pateo; tudo na forma assima expressada e determinada, obra bem feita forte e agra-davel e o dalla acabada na sua ultima perfeicao the quarta feira de Cinza fuctura do anno de 1771 tudo por preco, e quantia de cento e noventa mil rs que se obrigou esta Ordem a satis fa--elos ao d.° M. e Pedreiro no fim da d. a obra; declaramos que sera obrigado a fazer somente hum portal de pedra de cantaria lavrada para a referida porta a maneyra da correspond.° e de como se obrigou a fazer a d. a obra na forma determinada neste termo assinou neste termo p. a a todo constar corn o M.R.P . Comm.' Vez.' r e o Sr. Irmao Men.° sobred° e os mais Ir. s da Meza Commigo Luiz Gin . Lima Secretr.° actual da Ordem q' sobscrevy, e asigney.»

Pelos Termos reproduzidos. chegamos ao conhecimento de quando foram construidas importantes dependOncias da Igreja, preco das obras realizadas, material empregado e artistas res-ponsaveis pela sua execucao.

Decorridos dois anos, determinou a Mesa, de que era Mi-nistro Francisco Carneiro "Le go, a construcao de uma tribuna do lado do Convento dos Religiosos, cuja obra foi con fiada ao mestre carpinteiro Jose Coelho. Corn as mesmas exigencias e minuclas que caracterizavam os ajustes da epoca, foi lavrado o long° con-trato, que passamos a transcrever da pagina 102, do Livro 2.° de Acordaos : «Termo de ajuste q faz o Men.° e mais Ir.' s da Mena desta Ven. 1 Ordem 3. a da Penit. a de N.S.P.S. Francisco corn Jozeph Coelho m.° carapina p. a fazer a obra expressada no termo abaixo declarado.

«Aos onze dias do mez de oitubro de 1772 antics nesta nossa Igreja da Ven. 1 Ordem 3. a da Penitencia de N.S.P.S. Francisco da Congregacao da Bahia e concistorio dela estando congregados em Meza que prezidia o M.R.P . Pregador ex Def finidor Fr. Leonardo da Conceicao nosso Comm.° Vez.° r ; o Sr. Irmao Men." Fran.c" Carneiro de Lea°, e os mais Sr. s da Meza commigo abaixo assinados foi proposto pelo d.° Sr. Irma() Men." ser muito conveniente fazer-se na nossa Igreja Huma tri-buna da parte do claustro que comesse do passadisso que vein da Igreja dos nossos Irmaos Religiosos to a segunda colunna do mesmo claustro, corn arcos de madeira bem feitos, e asiados que faca boa vista; tanto para o melhor ornato da mesma Igreja;

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como para bencficio de evitar as agoas, quc corn o decurso do tempo de todo aruinarao o nosso noviciado quc por isso tambem seria justo cubrir o outro corredor que devide o d.° Noviciado da Igreja dos d." Relegiosos, corn seu ingradamento e soalho que se faca util ao despejo de alguns moveis da nosso Procissao, e os mais da ordi, em cujas agoas se daria a saida tambem mais ultil a mesma Igreja; o que sendo ouvido p.'" d." Sr.' assim o concordarao; para cujo fint e execucao da dita obra apareceo Jo -eph Coelho coin o seu risco que foi mais bem aceito para effeito de ajustar a d." obra de carapina; na forma sobredita, c

expressada adiante; e corn effeito se com o d.° M.° Ca-rapina Joze Coelho e elle se obrigou a fazer a obra apontada no seu risco que nos ficara p. a nosso governo; a saber huma tribuna ou varanda a maneira de corredor que principiara do pacadico que vem da Igreja dos nossos Irmaos Religiosos, que faz entrada para a nossa Igreja, e vira correndo sobre arcos quantos se facao necessarios, e fiquem em boa ordem corn boa vista e perfeicao a maneira do risco to a segunda columna do nosso claustro, cor-rendo p. a a cap.'" mor; cujos arcos hao de ser de madeyras de boa qualid. e a saber quiris, masarandubas, sipipiras, paus de arco: de cujas madeyras sera tambem todas as madres, e vi-gamento da d." obra, e a mais madeiras dos altos da mesma obra: e o asoalhado da d." obra, forro de cima e debaixo de taboado de vinhatico; sendo junta mente as portas das tribunas de vi-nhatico b ; todo o d.° taboado limpo e sem brozio; e os cai-xilhos das ditas portas (que It .ao de ser quantas ocupar a d.a varanda, e se achao dessa parte abertas na nossa Igreja) das ma-deiras asima declaradas; cujo forro de sima ha de ser na forma do risco ou planta; de paixel corn suas mulduras e talha; e o de baixo digo, ocupando cada painel o vac) de cada arco, ou da sorte que faca milhor e mais agradavel figura; e o de baixo lizo em todo o correr corn seu cornijamento moderno; e tambem disse e se obrigou e se obrigou a dar e por toda a ferrage que necessaria for para a fabrica da d. a obra, e seguranca das d." portas; a saber pregos, misagras feixadores e tudo quanto para ela se fizer mister, sem q seja nenhuma della de carregacao; sim bem feita e de born ferro : tambem se obrigou a fazer nas ja-nelas das tribunas; e nas correspondentes da outra parte, grades sacadas no correr do cornijam." da Igreja ou como parecer mais acertado; uzando dos mesmos balaustres que se achao ja nas d."' janelas (excepto alguns que tenhao danificacao) e fazendo os que mais forem necesr.°"; e nos cantos tudo corn boa figura: e junta mente engradar, asoalhar, e cubrir o corredor que divide a Igreja dos Religiosos do nosso Noviciado das mesmas madeiras ja sobred.°', porem asoalhado de louro verdadr.° obra liza, porem

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aceada e limpa; e ]he fara huma porta de pares que fara a saida p. aa o d.° claustro, a qual fara de vinhatico, no que tambem pora toda a ferrage necessaria na forma declarada asim como tambem toda for necessaria a sua custas, e tambem nos arcos da d.' varanda fara as grades corn a mesma figura que mostra a d." planta que se acha assinada p.' ele d.° M.° carapina; toda esta obra asim expresada se ajustou e se obrigou a fazer por preco de trezentos e noventa mil rs, que recebera em tres pagamentos pres-tando a eles fiador idoneo a nosso contento, que assinara corn o sobred.° o termo de quitacao no L." deles, cujos pagamentos serao hum no principio da obra, outro em meyo, outro depois de posta na sua ultima perfeicao; sendo os dous primeiros de cem mil rs. cada hum; e nesta form se obrigou a fazer a d. a ()bra, e dalla na sua ultima perfeicao to o ultimo de Fevr.° do futuro anno de mil sette centos setenta e trez; corn condicao porem de que a nao dando acabada to o d.° tempo, ou faltando a qual quer da clausuias expresadas neste seu ajuste perder sincoenta mil rs do preco do d.° ajuste; e outro sim dice e se obrigou, e corn eff.° se obrigou a cumprir todo o referido, e de nao reclamar agora o em tempo algum por sy ou por outre este seu ajuste e cazo o intentasse, de nao ser ouvido em juizo ou fora delle, e perder cem mil rs de sua fazenda; e de como asim o disse, pois para isso nao fora constrangido de pessoa algfia e se obrigou a todo o ajuste expressado neste termo asinou aqui corn o M.R. P . Comm.° Vez."; e o d.° irmao Men.° e mais senhores da Meza dia e era ut supra commigo Manoel Fran." Serra Secretario actual que a sob escrevy e asigney.»

Foi esta a ultima grande obra, de que nos falam os livros do Arquivo, realizada no seculo XVIII, em cujos albores se edificou a Igreja da Ordem 3.' de S. Francisco da Bahia, uma vez que o projeto de construir-se, em 1774, a varanda do lado norte, nao se realizou. Incompleto embora, foi lancado a pagina 116, do Livro 2.° de Acordaos o Termo que, dada sua importancia, vamos reproduzir em seguida. 'sTermo, e acordo que se tomou em Meza, a respeito da obra gr.° que hera precizo fazerse das Tribunas da nossa Igr." da p.° do Norte, visto como o anno antecedente se haviao feito as da p.° do Sul junto ao Noviciado, a custa da Meza preterita, e como a nossa Ordem se acha impocibelitada p.4 fazer estas, ou outras sem." despezas p. r pequenas que sejao sefintarao os Irmaos da Prez.° Meza, a fazerem a d. a obra a sua custa p. a o que fizerao as promessas q. consta do M.° a f

'sAos vinte, e cinco Was do mez de Mr.° de 1774, estando congregados em Meza o nosso M. t° R. P.° Comm.° Fr. Leo-nardo da Con. am o nosso Ir.° Min.' Fran." Roiz.' Vianna, o Vice M.° M.°' Fran." Serra, Secretr.° Manoel Glz.' Chaves, Proc.°r

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G.1 Jo5o Roiz Antunes, Sindico Domingos da Costa Braga, e os mais vogaes abaixo assignados, foy proposto p. 1 ° d.° nosso Ir.° Min.' que visto se ter feito o anno anteced." pela Meza e a custa della a Tribuna da nossa Igr." da parte do sul, que hera m.1° precizo fazerse a da p.'" do Norte, mas que consideracem hera obra de m. 1" mayor custo, p.' ser precizo procurar a sua esta-bilid." dos seus allicerces, e que a ordem o nao podia fazer p." falta de capital hera const.°, e que nestes tr."" vicem se queriao louvavelm." contribuirem cada hum de per sy corn as suas pro-messas para se tratar do ajustam.'" da d." obra corn o M." Pedr.° Bernardino Jose Pr.", e Iv Y Carpintr.° Joze Coelho.>>

Nada mais sc encontra no Termo acima, a que faltam as assinaturas dos Mesarios. Por ele, entretanto, preciosa noticia nos foi dada — a da contribuicao da Mesa para a construcao da varanda do lado sul, gesto que ficaria ignorado, n5o fora o re-ferido Termo.

Passaram-se muitos anos sem que a projetada obra tivesse execucao. 0 Livro 2.° de Acordaos encerrou-se em Agosto de 1809, nada mais informando sobre o palpitante assunto. Cerca de quarenta anos depois do malogrado projeto, sem que disso se ocupasse o Livro 3." de AcOrdaos, aparecem no Arquivo al-gumas Portarias, de Outubro de 1812 a Junho de 1813, ordenando o pagamento de folhas de operarios e materiais comprados para a obra da varanda da Igreja, cuja iniciativa datava de 1774. Pelas contas anexas a esses documentos, apenas sabemos que a grande construcao se realizou sob a direc5o dos mestres pedrciro e carpinteiro Francisco Joaquim de Sant'Ana e Francisco Jose Moreira, respetivamente.

Na falta do Termo do contrato lavrado entre a Ordem e os empreiteiros da obra, vamos transcrever algumas Portarias e re-cibos que provam a execticao da varanda e fixam a epoca da im-portante construcao. Diz o primeiro desses documentos : «Pela prezente nossa Portaria ordenamos ao nosso Irma ° Sindico actual Manoel Joze Pereira e Silva, que pelo dinheiro do seu recebi-mento satisfaca ao nosso Irmao Procurador Geral actual Antonio Anselmo Coutinho a quantia de duzentos e trinta e sete mil duzentos e vinte reis; emportancia das madeiras, e mais materiaes, corn comprou para a obra das varandas da nossa Igreja, ate o 1.° do corrente Outubro, constante da sua conta junta e corn quitactio do dito ao pe desta, em seu Livro se the levara em conta, nas que der do seu recebimento. Bahia e Meza 4 de Outubro de 1812. E eu Domingos dos Santos Miz, Secretario actual q. a sobscrevy e asiney."

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Anexo 3 Portaria acima. encontra-se um recibo de Fran-cisco loso Moreira corn esto prccioso esclarecimento — como M." Carapina da obray.

As folhas de operarios quo trabalharam na construcao da varanda estao assinadas polo mestre Francisco Joaquini de Sant'Ana. No cabocalho da primcira. datada de 10 de Outubro do 1512. lc-so : s:Folha dos off."' de pedreiro c serventes trabalha° na obra das varandas da Ordem 3. 1 de S.4' Fran.-' somana 10 do Outubro de 1512

Em Janeiro do 1513. o Procurador Geral aprosentou a re-lacao das desposas foitas desde o inicio das obras. em Outubro. ate 2 de Janeiro. num total do 2:055$995. A ordem de paga-mento dessa importancia consta do seguinte document° : aPela prosento nossa Portaria ordonamos ao nosso Irtnao Sindico actual Ma noel Jose Pereira da Silva. quo polo dinheiro do scu roce-bimento satisfaca ao nosso Irmao Procurador Geral Antonio Ancelmo Coutinho a quantia do dois contos sincoenta e oito mil nove cantos novonta sinco rcis omportancia da despesa quo fe: corn a obra das varandas da nossa Igreja dcsde quatro do Outu-bro de 1512 ate 2 de Janeiro dcste anno. como consta de sua conta. e folhas juntas dos Mestres Pedreiro e Carapina; e corn quitacao do dito ao pc delta se the levara em conta nas quo der do scu recebimento. Bahia 10 de Janeiro de 1513. E eu Do-mingos dos Santos Sccrotario actual q' a sobscrovv e

Em Abril. concluia-se a obra das varandas do lado nortc. Da longa e minuciosa rolacao do quo se despendeu de Janeiro a Abril. constam estas notas finals Inuit° importances : ‘Idem a NIanool Jo:o de Carv.° e Vase.' de por a massa nas vidracas como consta do rocibo do 36$100. Idem a Joao Ferr. 1 Froes de 270 vidros a 200 r.' cada hum 5-1$000. Idem a Nlanoel dos S. t 's Pinto de 253 vidros a 200 r." cada hum 565600. Idem p. 1 a lavagem dos corredores. bacias. pates e vasoras $560. Idem p. r dois officiacs do Carpina hum dia. e meio 2.1 e 3.a feira ate o meio dia, p. 1 pregar os ultimos caxilhos de vidraca 1$200.

0 pagamento da conta. aprosontada polo Procurador Geral, foi autori:ado peia Portaria quo se segue :

- Pela presonte nossa Portaria ordenamos ao nosso Irmao Sindico actual Manoel Jose Pereira da Silva quo polo dinheiro do sou recebimento satisfaca ao nosso Irmao Procurador Geral Antonio Anselmo Coutinho hum conto dusentos vinte e nove mil e vinte r.' crnportancia da desposa quo fes corn a obra das va-randas da nossa Igreja desde quatro de Janeiro. ate quatro de Abril do corronto anno corn os pedreiros, carapinas, e o mais

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que for necessario pagar e comprar para a mesma obra, tudo constante da sua conta, e documentos que acompanhao esta Por-taria, e corn quitacao do ditto ao pe desta em seu livro se the levara em conta nas que der do seu recebimento. Bahia 25 de Abril de 1813. E eu Domingos dos Santos Miz.' Secretario actual

o sobscrevy e asiney." Terminada a construcao da varanda norte, alguns consertos

se fizeram na varanda sul e claustro, o que se prova facilmente corn a transcricao da conta apresentada pelo mesmo Procurador Geral Antonio Anselmo Coutinho e da Portaria que ordenou o pagamento das despesas finais. «Despeza corn o concerto das Varandas da Ordem 3. 5 de Sao Francisco, on corn o forro dos claustros, como consta das folhas dos of ficiaes, assinado pelo Mestre Francisco Joze 1VIoreira

c:Pelo que paguei a Folha de 8 de Maio dente anno de 1813 3$850 Idem da Folha de 29 de Maio corn o forro do Claustro 65$640 Idem da Folha de 5 de Junho corn o mesmo forro 12$800 Idem da Folha de 12 de Junho, corn o mesmo 18$500 Idem da Folha de 19 do d°, corn o mesmo 15$500 Idem da Folha de 26 do de corn o memo 10$200 Idem a Joaquim dos Santos S* importancia dos vidros,

que se the comprarao, p* as Vidracas conforme o seu recibo 171$400

Idem por 20 vidros mais, para a porta do quarto do P e Sacr.m 4$400 Idem corn o concerto dos canos de xumbo do telhado

do Noviciado comforme o recibo de Antonio Joaquim 3$680

Soma 305$970»

A elevada cifra paga pelos vidros comprados, entao, demons-tra que se trata da varanda antiga, por esse tempo, certo, pre-cisando de reparos.

A Portaria, citada ha pouco, da por encerradas as obras, o que nos leva a reproduzi-la na Integra. «Pela presente nossa Por-taria ordenamos ao nosso Irmao Sindico actual Manoel Jose Pe-reira da Silva, que pelo dinheiro do seu recebim. t° satisfaca ao nosso Irma() Procurador G.' actual Antonio Ancelmo Coutinho tresentos sinco mil nove centos setenta reis emportancia da despesa que finalm.° fes corn as obras das varandas da nossa Igreja cons-tante das suas conta, e folhas que acompanhao esta; e corn quitacao do dito ao pe desta e no seu livro que se the levara em conta nas que der do seu recebimento. Bahia e Meza 30 de Junho de 1813 E eu Domingos dos Santos Miz.' Secretario actual q' o sobscrevy e asiney .>>

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Em cento e der: anos de atividade proficua, os Terceiros da Bahia iniciaram c concluiram a construciio de seu grandioso Templo e espacosas dependencias, que, ainda hoje, atestam o zelo votado por muitas geracoes a Instituicao inspirada na caridade crista

No segundo quartel do seculo XIX, iniciaram-se as grandes reformas que alteraram por completo o interior da majestosa Igrcja Datam dessa epoca a atual obra de talha e a pintura do teto, como veremos, documentadamente, no capitulo sob a epigra-fe «Reforma da Igreja>>

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REFORNIA DA IGREJA

1\T Ao chegou at nos a primitiva obra de talha corn que, em 1703, os Terceiros da Bahia inaugurararn sua suntuosa Igreja, de frontaria de pedra rendada, reviviscencia do estilo plateresco da Espanha de Fernando c Isabel, Unico exemplar no genera, nesta cidade do Salvador lao prOdiga em Templos ricos e monumentais.

Da Igreja levantada nos albores do seculo XVIII, grafas a piedade da Mesa Adrninistrativa a que em boa hora presidia o espirito empreendedor do C. e' Dorningos Fires do Carvalho, ufanamo-nos de conservar apenas essa fachada que nao tense con fronto em todo o Brasil. Internamente Ludo mudou, con forme nos provam preciosos documentos, aqui reproduzidos na integia, o primeiro dos quais a este «Terrno de Acordao, e resolucao que tomou a prezente Meza sobre a factura do novo retabulo da Ca-pella mor da nossa Igreja.

«Aos vinte e quatro di gs do Mes de Maio de 1827 nesta nossa Igreja da Veneravel Orden' 3. s da Penitencia de S P S. Francisco desta Cidade da Bahia e Consistorio della, estando cm acto de Meza quo prezidia o N M.'" R." P." M." Fr. Joze de S . Luis, nosso Commissario Vizitador, e o nosso Irma° Ministro actual o Cap.""' Francisco Xavier Leao e mais Irmaos da Meza, commigo Secretario abaixo assignados, foi proposto pelo dito nosso Irma) Ministro, que reconhecendo o estado de deteriora-cao em que se acha o antigo retabulo da Capella mor da nossa Igreja, e a necessidade de se fazer hum novo retabulo, e igual-mente os mais ornatos da mesma Capella mor, comprehendendo do arco cruzeiro para dentro, e sendo assim concordado par todos os Irmaos da Meza se mandou fazer hum risco do men-cionado retabulo pelo M.° Intalhador Joze de Cerqueira Torres e este aprezentando-o, e sendo approvado por todos os Irmaos da Meza, se procedeo ao ajustc con' as clauzulas de dezempenhar

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Interior da Ifireja da Vcneravel Ordcm 34 dc S. Francisco da Bahia. A obra

de talha da Capela rnor c dos alt arcs lar,rais foi cxectitada pclo artista lose

Ccrqueira Torres.

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tal e qual o mesmo risco, fazendo igualinente o forro corn todos as seos ornatos que pedir, duas grandes Tribunas ao lado, e o arco cruzeiro corn sua talha correspondente, cuja obra ficou junta, e contratada pelo preco, e quantia de quatro contos de reis. a pagamentos mensaes de trezentos rnilreis, ao que se obrigou fazer toda a obra sem haver interrucdo clesde o dia que houver de dar principio. sendo-lhe concedido puder trabalhar, e guardar madeiras no Claustro, ou em outro qualquer lugar dentro da mesma Ordem, em firmeza do que ambos os contratantes se obri-gardo a cumprir aquelle no desempenho do que Pica exposto, e esta Ordem na satisfacao de seos pagamentos : nesta confor-midade se mandou lavrar este termo em que assignou o m.'""

P: M.6 Commissario Vizitador Fr. Joze de S. Luis, o nosso Irma) Ministro actual o Capita() Francisco Xavier Ledo, e mais Irmaos da Meza, e o dito Intalhador Jose de Cerqueira Torres. Commigo Manoel Joze de Souza Coitinho Secretario actual que subscrevi e assignei.»

Poucos meses depois tomavam os administradores da Ordem 3." de S. Francisco novas e importantes resolucoes sabre a pedra, qua seria encomendada para o piso da Capela mor. do que nos da informac, do minuciosa o seguinte e longo «Termo de Acorddo e rezolucdo que tomou a prezente Meza sobre a encommenda do novo Lagedo e Presbiterio de marmore que manda vir da Cidade de Lisboa para a Capella mor da nossa Igreja, coma abaixo se declara.

«Aos 2 dias do Mes de Setembro de 1827 nesta Cidade, e Caza da Meza da Veneravel Ordem 3." da Penitencia do N. S .P

S.P.S. Francisco em que prezidia o R." P.° M.' Diffi-niclor Fr. Joze de S. Luis, nosso Commissario Vizitador, o nosso Irma() Ministro actual Manoel Joze de Souza Coutinho, e mais Irmaos da Meza Commigo Secretario abaixo assignados foi pro-posto pelo dito nosso Irmao Ministro que era de necessidade se deliberar sobre a Encomenda do Lagedo e Presbiterio de marmore que esta Ordem necessita para a sua Capella mor, por assim exigir o assentamento do novo Retabulo, que se mandou fazer para a mesma, afim de que se conclua perfeitamente e de hua yes esta obra tao necessaria para magnificencia do nosso Santuario, primeiro movel das nossas pias attencoes, e sendo assim consi-derado se rezolveo em unanime votacao de toda a Meza, que se fizesse a encomenda da referida obra de pedra para a cidade de Lisboa a merce do nosso Irmno ex Sindico Manoel Ferreira Valongo para que por sua correspondencia remetta a planta, e prospecto da obra que se pretende para ser executada por peritos daquella Cidade, recomendando-se ao mesmo &fir. que haja de manclar fazer o a ∎ uste desta obra por empreitada, ou como melhor parecer

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pela pratica, e experiencia, sendo por quern mais commodo e melhor firer, c no mais curto expaco do tempo possivel, exigindo-se igualmentc da sua correspondencia a norma de todo este trato, para que Pique esta Meza siente do que se tem a responsabilizar obri-gando-se este Ordem satisfazer a quantia que for justa, e as mais despczas que foram aprezentadas na conta da sua remessa te a em quc o dito Stir. Manoel Ferreira Valongo mostrar despendido no acto da sua entrega neste porto sem nada faltar do que se pede, cujos pagamentos csta Ordem os fara da maneira em que for exigido pelo mesmo Sfir. ficando este igualm.'" obrigado pelas quantias que houver de receber, te a sitsfacao da encomenda que se the fas, correndo o risco por conta desta Ordem, e para q. se tenha por firme, c valiozo este trato tanto na presente Meza, como para a futura se mandou fazer este termo em prezenca de toda a Meza em que assignou o mesmo R."'" P.° Commissario Vizitador Fr. Joze de Sao Luis, o nosso Irmao Ministro actual Manoel Joze de Souza Coutinho, e mais Irmaos da Meza, e o encarregado da mencionada encomenda o Sirr. Manoel Ferreira Valongo, o qual pelo mesmo Termo se obriga ao cumprimento do exposto, recebendo para sua clareza, e inteligencia hiTia copia do mesmo thcor. Commigo o P.' Joze Joaquim Borges Secretario actual que este fis subscrevi, e assignei

Enquanto o entalhador Jose de Cerqueira Torres executava a obra de talha, encomendada pela Ordem 3.", e se aguardava a chegada da pedra marmore, destinada ao revestimento do piso do presbiterio, grandes trabalhos se executavam na capela mor, conforme farta documentacao existente no Arquivo, documenta-cao que nos revela nomes de operarios, custo de materiais e outras particularidades de real interesse.

Nos primeiros dias de Outubro de 1827, o entao Procurador Geral da Ordem dirigiu a Mesa a seguinte peticao acompanhada de recibos e folhas de operarios: «IV.'" R." Siir. P." Com.°, Snrs." e Ir." Min." e mais Mezarios.

«Diz o Irmao Ambrozio Lopes de Mesquita, Procurador Geral actual desta Ordem que elle dispendeo corn a obra da Ca-pella mor a quantia de duzentos secenta e sete mil sete centos e oitenta reis neste primeiro quartel vencido em 4 de Outubro constante da sua conta junta, e como quer ser embolcado da dita quantia.

P. a V.V.C.C. se dignem mandar satisfazer ao Sup." nao havendo duvida na sua conta.»

0 primeiro documento anexo a peticao informa que foram pagos ao Mestre Constantino Martins 142$260, importancia das

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folhas de operarios que trabalharam de 4 de Agosto a 28 de Setcmbro de 1827.

Consideravelmente maiores foram as despesas feitas no se-qundo quartel. vencido cm 4 de Janeiro de 1828, corn as obras da capela mor. Petic5o do mesmo Procurador Geral traz inclusa uma conta de 735$490, cm que figura como principal operario o Mestre Antonio Vieira, carpinteiro.

Lima ye: concluida a obra de talha da capela mor, a Mesa da Ordem 3." firmou novo c importante contrato corn o entalhador lose de Cerqueira Torres, segundo consta deste «Terrno de Acordao, c rezolucao que tomou a prezente Mesa o ajuste de toda a obra de talha, e arquitetura do corpo da Igreja.

«Aos 4 digs de Maio de 1828 nesta nossa Igreja da Vene-ravel Ordem 3." da Penitencia de N.S.P .S. Francisco desta Cidade da Bahia, e Consistorio della, estando em acto do Meza que prezidia o N. M." R." P.° M. e Diffinidor Fr. Joze de S. Luis, nosso Commissario Vizitador, e o nosso Irmao Ministro actual Manoel Jose de S." Coutinho e mais Irmaos da Meza, commigo Secretario abaixo assignados, foi proposto pelo dito Irinao Mi-nistro, que para effeito de se ajustar toda a obra de talha per-tencente ao ornato do Corpo da Igreja, e sendo assim proposto e approvado por todos os Irmaos da Meza, se procedeo na forma do ajuste corn o Mestre Entalhador Joze de Cerqueira Torres, o qual depois de haver feito o soo calculo, e bem informado do que se pretendia, obrigou-se a fazer a referida obra, e concluir o assentamento della corn toda ferragem necessaria no prazo de vinte e seis mezes contados da data desta, polo prcco, e quantia de nove contos de reis para receber em pagamentos mensaes de trezentos mil reis ou quatro centos nos mezes em que se lhes of ferecer major quantidade de madeiras a comprar, cuja obra contem os seis Retabulos dos Altares lateraes do Corpo da Igreja feitos corn elegante arquitetura corn quatro columnas cada hum, segundo o mesmo gosto da Capella mor polo preco, e quantia de seis contos de reis. Dous Pulpitos em gosto Romano corn suas cupulas, e bem entalhados por quatro centos mil reis. A grade do coro, e ornato do orgao corn as seis Tribunas, e sobre portas por hum conto quinhentos, e secenta milreis. Concertar e repregar o forro da Igreja por quatro centos milreis. Fazer de novo o forro de baixo do coro, sem apainelado, acompanhado corn novo arco bem guarnecido, e entalhado por quatro centos e quarenta milreis. Fazer as sobre portas das entradas da Igreja e as duas do coro por duzentos milreis, quo prefas tudo a quantia referida de nove contos de reis, quo havcmos por just°, e con-tratado; obrigando-se mais o dito Mestre Entalhador a fazer por

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sua conta todo o andaime para as mencionadas °bras, e no firn de as concluir deixar dado para esta Ordern. IN esta conformidade se feixou o ajuste coin o dito Mestre Entalhador obrigando-se perante esta Meza a tudo cumprir sem alteracao, e da maneira q. for mais a contento desta Ordem, exigindo da mesma, a prompta satisfacao de seous pagamontos na forma do mesmo tracto, do que se aanuio, e obrigou-se esta Ordem pelo prezente Termo quo se mandou lavrar para constar as Mezas vindouras, em firmeza do que assignou o mesmo P. m° P. e M.' Commissario Vizitador Fr. Joze de S. Luis o nosso Irmao Ministro actual Manoel Joze de Souza Coutinho, e mais Irmaos da Meza, e o dito Mestre Entalhador Joze de Cerqueira Torres commigo o P. e Joze joaquim Borges Secretario actual que cste fis, subscrevi e assignei.»

Durante os anos de 1828 e 1S29 as obras da Igreja conti-nuaram. A pedra marmore encomendada em Lisboa para o piso do presbiterio, desde 1829, encontrava-se em grande parte na Bahia. Varios documentos dao-nos a conhecer os nomes dos navies quo a transportaram, seus comandantes, custo do frete, avarias sofridas em tonseqUencia de tomporais, como se prova pela seguinte portaria : «Pela prezente Portaria por nos rubri-cada ordenamos ao nosso Irma° Sindico actual Jo:C. Duarte Silva que pelo dinheiro do seo recebimento, satisfaca a quantia de cento vinte e sinco mil seis centos e quarenta reis a saber oitenta e dois mil, seiscentos e quarenta reis ao Cap.°' do Navio Lord, de frete, direitos d'Alfandega, e Trapixe das pedras de marmore que vierao parte deltas p." o Presbiterio da Capella rnor da nossa Igreja, ccnstante do conhecimento junto a esta, e recibo do Trapicheiro, e quarenta e tres mil reis da conducao das mesmas pedras para esta nossa Igreja, o que tudo fas a dita quantia de canto vinte e sinco mil, seis centos quarenta reis, que se the levara em conta nas que der do seo recebimento, indipendente de mais quitacao algua. Bahia em Meza 13 do Dezembro de 1829. E eu Bernardo Jose da Costa Basto Secretario actual q. subscrevi e assignei.)>

0 conhecimento, de que fala a portaria acima transcrita, e digno de r:.-.producao polo originalidade das expressoes note con-tidas. «Digo eu abaixo asignado Cap.'" que sou do Navio que Decs Salve por nome Lord Welington que ao prezente esta an-corado no Porto desta Cidade para corn o favor de Deos seguir viagem ao Porto da Bahia onde he minha direita descarga, que he verdade que recebi, e tenho carregado dentro no dito Navio debaixo de cuberta enxuta, e Bern acondicionado de Joao Pedro Correa, quarenta e quatro volumes de pedra em caixotada da

rn."a a margem que doclaro fazer por conta e risco da Ordem Terceira de S. Francisco da dita Cid.° da Bahia corn a marca de

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fora, o qual me obrigo, c pormeto, levando-me Deos a born salva-inento e dito Navio ao dito porto de entregar em nome do sobre-lito no Srir. Manoel Ferreira Valongo o d. P/O.

Pagando-me de frete quarenta e seis mil, seis centos, e oitenta para assim cumprir, e guardar, obrigo minha pessoa, bens,

e dito Navio em certeza do qual dei conhecimentos de hum theor assignados por mini, ou per meu Escrivao : hum cumprido os mais nao vathuo. Feito em Lisboa aos 17 de Setembro d'1829.

joaquinz Joze Faria.»

Algumas dessas pedras chegaram quebradas, conforme se infere da portaria abaixo :

Oda prezente Portaria por nos rubricada ordenamos ao nosso Irmao Sindico actual Jose Duarte Silva, que pelo dinhciro do seo recebimento satisfaca ao Mestre Canteiro Joze Duarte ConcPicrio a quantia de vinte mil, seis centos c noventa reis im-portancia das duas folhas juntas a esta do mesino Mestre Can-teiro do concerto que fes nas pedras de cantaria vindas da Cidade de Lisboa p. a a Capella mor da nossa Igreja por chegarem alguns fiestas quebradas; cuja quantia se Ilse levara em conta nas que der do seo recebimento, indipendente de mais quitacao algua. Bahia ern Meza 15 de Dezembro de 1829. E eu Bernardo Jose da Costa Basto. Secretario actual que subscrevi e assignei.»

Em Abril de 1830, chegava de Lisboa o resto da pedra en-comendada para o piso da capeia mar, despendendo-se a quantia de 50$970 de direitos de Alfandega, permanencia em trapiche e conduedo para a Igreja.

0 ano de 1830 foi de grandes iniciativas e de ousadas re-soirigoes. A Mesa, que entao administrava a Ordem 3. n, a exemplo das Mesas antecessoras, nao tcmia compromissos. Assim e que, nao contente de ver a Igreja dotada corn grandiosa obra de talha, encomendou 50 casticais de madeira entalhados, para o trono da capeia mor, ao mesmo artista Jose de Cerqueira Torres, que de tantos primores enriqueceu o Templo dos Terceiros da Bahia. Encontrarn-se no Arquivo o Termo do contrato feio pelo mestre entalhador, pela importancia de 120$000, e o competente recibo, provando a execucao da encomenda.

As obras prosseguiam sem interrupcao, mas o vulto delas era tal que nao permitia a realizacao dos atos religiosos do corn-promisso da Ordem 3. a . Documentos diversos nos provarn que esses atos nao se realizaram alguns anos, e que outros se efetuararn na Igreja do Convento. Vern, pois, muito a proposito transcrever esta Portaria de 18 de Abril do 1830: «Pela prezente Portaria por nos rubricada ordenamos ao nosso Irma° Sindico actual Joze

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Duarte Silva que pelo dinheiro do seo recebimento satisfaca ao R."'" P." Guardian Fr. Joaguim de S. Felix a quantia de cento vinte e oito mil reis procedidos dos Scrinoens das Sextas feiras da Quaresma deste prezente anno, n5o obstante deixar de haver os mcsmos Sermoens por se achar a nossa Igreja ern obras; e corn quitacao do dito nas costas desta, e no Livro competente se the levara em conta nas que der do seo recebimento. Bahia em Meza 18 de Abril de 1830. E eu Bernardo Joze da Costa Basto: Secretario actual que subscrevi e asignci.»

Estando quasi concluida a obra de talha da capela mor, arco cruzeiro, altares laterals, tribunas, ptilpitos, grades do cOro, era Unprescindivel revestir essa talha prcciosa de ouro. custasse embora soma vultosa aos cofres da Ordcm 3.". Nao foi pequena, para a epoca, a primeira compra do precioso metal, efetuada na cidade do Porto, em 1830. Dessa transacao inicial da-nos minu-ciosa noticia o documento seguinte : «Pella prezente Portaria por nos rubricada ordenamos ao nosso Irma° Sindico actual Jose Duarte da Silva que pelo dinheiro do seo recebimento satisfaca Olivr." F." Ei e Rotz a quantia de tres contos nove centos e centa mil reis, valor de tres contos de reis que esta ordem the comprou cm huma letra sobre a cidade do Porto, a favor de Joao Fern' dos S." S." e f." auzente a Joao Luis Terras, cuja letra negociamos com 32 p r 100 que unidos aos tres contos prefazem a de 3:960$000 cuja quantia he para a compra do ouro para o dorarnento da nossa Igreja : e corn as nessecarias clarezas ao pe desta se the levara em conta nas que der do seo recebimento Bahia em Meza 7 de Fevereiro de 1830: Eu Bernardo Jose da Costa Basto Secretario actual q' escrevi e assignei.»

Pouco tempo depois, outra Portaria ordenava o pagamento de 100$000, importancia de cinco milheiros de ouro comprados ao Cap.'° do Brigue Farna do Tejo, Jose Bernardo de Matos. Esse ouro nao fazia parte da primeira encomenda confiada meses antes a firma Joao Ferreira dos Santos Silva e Filhos, o que se prova facilmente corn esta pequena transcricao : «Pe/a prezente Portaria por nos rubricada ordenamos ao nosso Irmao Sindico actual Joze Duarte Silva que pelo dinheiro do seo recebimento satisfaca ao Cap."' do Brigue Fama do Tejo Joze Bernardo de Mattos a quantia de cern mil reis importancia de sinco milheiros de ouro em pam, que the compratnos para o douramento da nossa Igreja e corn quitacao do dito nas costas desta, e no Livro competente se ]he levara em conta nasq ue der do seo recebimento. Bahia em Meza 12 de Maio de 1830E eu Bernardo Joze da Costa Basto : Secretario actual que subscrevi, e assignei.»

A fisionomia externa do Temp lo dos Terceiros da Bahia sofreu notavel modificacao, inteiramente desconhecida de quantos

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interessarn e estudam a soberba frontaria de pedra lavrada desse Templo, modificacao executada durante a radical reforma interna da Igreja. Foi o que coin surpresa nos revelou 'este «Termo de Accordao e Rczolucao que tomou a prezente IVIeza em abrir as duas portas da frente da nossa Igreja :

«Ao prinieiro dia do Mes de Novembro de 1830 nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3." da Penitencia de N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia, e Consistorio della, estando em acto de Meza que prezidia o N. B,I. th R." P. e M.° ex Diffinidor Fr. Joze de S. Luis, nosso Commissario Vizitador, o nosso Irmao Ministro actual Bernardo Joze da Costa Basto, c mais Irmaos da Meza, comrnigo Secretario abaixo assignados, foi proposto pelo dito nosso Irmao Ministro, que em razao de se achar a nossa Igreja reformada corn o novo retabulo, que se esta findando, por se achar o que existia bastantemente arruinado, pa •ecia junto, e de razi.',.o gozar a Igreja da mesma Ordem de mais claridade, para melhor sair a cbra do novo Retabulo rasgar-se mais duas portas da frente da mesma Igreja, como tambem para formoziar, e brilhar a frente da sobredita Igreja o que sendo visto e ouvido por todos os Irmaos da Meza, convierao que se abrissem as duas mencio-nadas portas para major brilhantismo da nossa Igreja : e para a todo o tempo constar se mandou lavrar o prezente termo em que assignarao o mesmo P.° Commissario Vizitador Fr. joze. de S. Luis, o nosso Irma) Ministro actual Bernardo Joze da Costa Basto e mais Irmaos da Meza commjgo Henrique Joze Brochado Secr.° actual q. esta subscrevy e assignei.»

Resolvida a abertura das duas portas, a Mesa da Ordem 3." houve por bem contratar corn o mestre carpinteiro Marcelino de Jesus a execucao do trabalho, lavrando-se o sequinte contrato: «Dizemos nos abaixo assignados Aniceto Joze da Cunha, como Procurador Geral da Ordem 3." de S. Francisco, c Marcelino de Jesus, M." Carpina tratamos de fazer as duas portas da frente da Igreja da mesma Ordem, corn as condicoens abaixo declaradas.

Quatro meias portas, que feichadas figurem duas inteiras corn desaseis palmos de altura, e sete de largo, entrando nrste espaco os caixilhos.

Cada hua metade corn quatro ahnofadas cavadas, e levan-tadas, em estufo almofadado de moldura pelo risco aprezentado, emitando o estufo da principal.

As ditas portas serao bem engradadas, e rezistentes, moldura bem corridas, lizas, e bem lixadas, que nao apareca exfarpamento.

Sex.ao feitas de Potumujii e caxilhos de madeira possante, ou da mesma, recebendo o fabricante toda a madeira, e ferragem

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competente, para as dar promptas em seo Lugar, ficando justa a obra pela quantia de cento, e sincoenta mil reis em metal, re-cebendo todos os sabados pelas folhas que aprezentar.

Todo, e qualquer prejuizo que houver de dar na madeira, que deitar a perder, a ha de repor, a sua custa a mesma Ordem

E por ficar assim feichado o ajustc. passarao se duas destas declaracoens para ambos os contratantes, ficando hum em poder do fabricante e outra em poder do encomendante. Bahia 15 de• Janeiro de 1831.

Marcelino de Jesus •

Aniceto Joze da Cunha.»

Ern Dezembro de 1831. o artista encarregado da execucao das duas portas da Igreja dirigiu-se a Mesa da Ordem 3. 3 , pe-dindo uma gratificacao, sob pretexto de prejuizo sofrido na fei-tura das mesmas. Diante das razoes apresentadas, a Mesa con-cedeu 60$000 ao mestre carpinteiro Marceiino de Jesus. cujo nome esta ligado a reforma do belo Templo dos Terceiros da Bahia.

Nos primeiros meses do ano de 1831. novas e importantes resolucOes foram tomadas pela Mesa da Ordem 3.", visando o prosseguimento das obras da Igreja. resolucoes que culminaram no vultoso contrato celebrado corn o mais notavel artista da Bahia, para a execucao da pintura e douramento do Templo, como abaixo se vera.

«Termo de Acordao e rezolucao que tomou a prezente Meza a respeito de se dar a pintura da nossa Igreja ao Proffessor An-tonio Joaquim Franco Velasco.

«Aos 29 dias do Mes de Maio de 1831 nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3." da Penitencia de N.S.P.S. Francisco desta cidade da Bahia, e consistorio della, estando em acto de Meza que prezidia o nosso M." R." P. M." Commissario Vizitador Fr. Joze de S. Luis, o nosso Irmao Ministro actual Bernardo Joze da Costa Basto, e mais Irmaos da [Vie:a, commigo Sccretario abaixo assignados, foi proposto pelo dito nosso Irmao Ministro, que em razao de se achar concluida a obra do Retabulo da nossa Igreja, parecia justo, que se tratasse da pintura da mesma, e comparecendo o Proffessor Antonio Joaquim Franco Velasco, e aprezentando este suas condicoens as quaes se obriaa a cumprir por meio de him Escriptura, e toda a obra da pintura, e dourado prompta, polo preco e quantia de dezoito contos de reis pagos metade em metal e metade em papel, dando-lhe esta Ordem semanariamente cem mil reis conta da mesma obra, ate se finalizar, o que sendo visto, e ouvido por todos os Irmaos da

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7:eto da Igreja da Veneravel Ordem 3' de Sao Francisco da Bahia. Pintura contratada corn o ar-

tista Antonio Joaguim Franco Velasco em 1831. (Natural da Bahia. Faleceu cm 1833)

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Portnenor da pintura cl fcto da Igreja da Vcneravel Orclem 3' de SLo Fran-

cisco da Bahia

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TNSTORIA DA V, O. 3.a DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 59

Meza concordarao, e demo por firme, c valiozo o dito tracto, e assignarao commigo Henrique Joze Brochado Secr.° actual q. este subscrevi, e assignei.»

Alem dessa importante decisao, resolveu mais a Mesa da Ordem 3:1 mandar buscar em Lisboa o resto da pedra que faltava para a conc/usao das obras, cujo pagamento se fez mediante a remessa de 15 pipas de aguardente de Cabeca, no valor de 576$450, a consignac5o de Bernardo Jose de Matos.

Em 1832, estando concluida toda a grandiosa obra de talha 'da Igreja, a Mesa mandou dar ao entalhador Jose de Cerqueira

Torres a gratificacao de 1:737$000, pelo primor e desvelo corn que executou o trabalho, em boa hora confiado a sua pericia de artista.

A modida que as obras avancavam, compreendiam os admi-nistradores da Ordem 3.° que, embelezando e enriquecendo a Igreja, era preciso dota-la de seguranca tambem. Essa a razaci das duas decisoes tomadas, na sessao de 16 de Dezembro de 1832, tendendo ambas a defesa do grande patrimonio de arte da Ordem, em que se contavam pecas de ouro e de prata do melhor quilate e dos mais finos lavores. Merecem divulgadas as decisees em apreco.

«Term° d'Acordao e rezoluc,ao que tomou a prezente Meza, em mudar a escada do corredor, Secretaria e outros objectos, como abaixo se declara.

«Aos 16 dias do mez de Dezembro de 1832 nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3. a da Penitencia do N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia e Consistorio della, estando em acto de IVIeza que prezidia o nosso M.t° R.do P. e M.e Ex Difinidor Fr. Joze de S. Luiz, nosso Commissario Vizitador; o nosso Mi-nistro actual Henrique Joze Brochado, e mais Irmaos da Meza, commigo Secretario abaixo assignado, e pelo ditto Irmao Ministro foi proposto, que em raz5o do muito valor em que depois de acabado ficava o nosso Templo; e mesmo olhando, a grande ri-queza, que esta Ordem possue em prata e joias nos seus cofres, e que por esta razao hera precizo por ern boa seguranca esta nossa Ordem, fazendo que so tivesse hum unico transito, e que para este fir-11 hera precizo tirar-se a escada do corredor por donde se robe para a Salla do P." Sacristao, dando-se-Ihe a servidao pela escada de pedra, que sobe para a caza da Meza; mudando-se tmbem a Secretaria para o Sallao da dita caza, e naquella rom-per-se a parede, formando hum arco, e corredor, e neste tres quartos e hum sal5o, para corn modida do precizo; ficando pot esta forma, so o transito pela dita escada de pedra, e que por esta maneira nao seria tao facilmente commetida de qualquer

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roubo esta nossa Ordem : e sendo ouvida por toda a Meza o acima exposto pelo dito nosso Irma() Ministro: acordar5o, que a dita proposta, hera em tudo justa, e de razao, c que quanto antes se pozesse em pratica tal rezolucao, lavrando-se disto mesmo termo, .para a todo o tempo constar. Eu — Antonio Joze da Silva Graca Secretario actual quc este subscrevi e assignei.»

A segunda clecisao, que se vai ler ern seguida, nao e mcnos importantc. -Termo d'Acord5o e rezolucao quc tomou a prezente Meza, para mandar fazer duas Grades de ferro, para os dois Arcos ao entrar na Sacristia.

«Aos 16 dial do mez de Dezembro 1832 nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3." da P. de N .5 .P N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia, e Consistorio della; estando cm acto de Meza que prezidia o nosso M. R." P.' M." Ex Difinidor Fr. Joze de S. Luiz nosso Ccmmissario Vizitador; o nosso Irmao Ministro actual Henriquc Joze Brochado, e mais Irmoes da Meza commigo Secretario abaixo assignado, e pelo dito nosso Irmao Ministro foi proposto, que em razao da pouca seguranca, que tinhao as portas da Igreja junto a da Sacristia as quaes de pois do servico da Caza ficavao muito sOs; e q. per isso podia acontecer, ser por esta parte envadida a nossa Igreja de qualquer roubo, e que por isso achava conviniente, que se mandasse fazer duas Grades de ferro, para os dois Arcos — ao entrar para a Sacristia — corn cujas duas Grades se faria seguras, tanto as portas cla Igreja, como a da mesma Sacristia, assim toda a mais Gaza, a que da servidao a escada de pedra; porquc toda a Gaza por este lado fica guardada pelas duas Grades; c sendo tudo ouvido por toda a Meza se acordou, que a proposta do dito nosso Irmao Ministro hera adectiada, e que por isso se passa ce quanto antes a fazer as ditas Grades, e que de tal rezolucao se lavrasse este Termo para a todo o tempo constar. E eu Antonio Joze da Silva Graca Secretario actual que este subscrevi e assignei.»

As duas grades de ferro, destinadas a fortalecer os arcos quc ciao acesso a Sacristia, foram executadas por Gaetano Lopes de Macedo, custando aos cofres da Ordem 3." a importancia de 1S9$700.

Os anos corriam celeres, as obras nao se interrompiam, en-tretanto a reforma da Igreja da Ordem, comecada cm 1827, nao cstava concluida em 1833. Por essa razao, ainda esse ano, os atos religiosos do compromisso da Ordem 3." nao se reali,aram no prOprio Templo. A Mesa, reunida em sessao, deliberou que a festa de Santa Isabel se efctuasse na Igreja do Convento de S. Francisco, em 11 de Julho, conforme consta do Termo 0 pa-gina 99, verso, do Livro 3.° dos Termos e Acordaos.

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HISTORIA DA V. 0. 3.' DE SAO FRANCISCO DA 13ANIA 61

Importantissima, para a historia das artes na Bahia, foi a decisao tomada pela Mesa de contratar coin o notavel escultor Manuel Inacio da Costa, entre outros trabalhos ate aqui nao divulgados, a feitura do grande imagem de Sao Domingos, que ainda hole se ve no terceiro altar a esquerda de quern entry na Igreja. Reve/ou-nos tdo importante decisao este «Termo de Re-zolucao que tomou a prezente Meza, em mandar fazer a Imagem de N. P." S. Domingos para o nosso Santuario.

«Aos 24 de Junho de 1833 nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3." do N.S.P.S. Francisco fiesta Cidade da Bahia e consistorio della, estando em acto de Ivieza que prezidia o Nosso 1\4. t" R."" P.' 1\4." Ex Deff."'. Fr. Joze de S. Luis nosso Commis-sario Vizitador o nosso Ir.° Min." actual Henrique Joze Brochado, e mais Irmaos da Meza commigo Secretario abaixo assign."" e pelo d.° nosso Ir.° foi proposto que segundo o andain.'" da obra da nossa Igreja era de precizao q. se lancasse mao de mandar fazer a imagem do N.P.S. Dom.' s para o Santuario da nossa Igreja, e sendo ouvido por toda a meza a proposta do d." nosso Ir.° Min." acharao justo e de razao e para o d." fim foi charriado perante esta Meza o Excultor Manoel Ignacio a quern esta Meza encarregou fazer a d.' Imagem sendo esta de sette palmos e meio de altura e feita corn toda a delicadeza, e accio proprio a nossa incomenda, e gosto do d.° escultor, e pella qual prompta que seja the pagara esta Meza on antra qualquer que suns vezes fassa a quantia de secenta mil.' em mocda de cobre cuja quantia the sera paga ao entregar a d." Imagem ficando o d.° Snr. °brig."' a desbastar o corpo dos mais Santos da nossa Igreja, ao gosto moderno e para constar o prezente firmamos assim como o d.° Excultor para cumprim. to de seo tracto. Eu Antonio Joze da Silva Grata Secr." actual da Meza este subscrevi e assignei.-

Nesse mesmo ano de 1833, em que se encomendou ao major escultor do Bahia de ent5o a imagem de Sao Domingos, faieceu, prematuramente, o grande artista Antonio Joaquim Franco Ve-lasco, deixando principiada a pintura do teto da Igreja da Orders 3.", como se prova pelo requcrimento da viuva Velasco, dirigido a Mesa em 1835, e aqui reproduzido a letra.

«R."'" SnrI. P. e Vice Comissario, Senr:. Ministro e mais Mezarios da Veneravel Ordern 3. 3 de S. Fr.'" Tendo D. Feliciana Delfina de Velasco, mandado acabar a pintura e douramento da Veneravel Ordem 3." de S. Francisco, principiada

contractada por seo falecido Marido Antonio Joaquim Franco Velasco, apesar da falta de meios que sofreo, pelos diminutos pagarnentos que das tranzactas Meza recebeo, a ponto de ver-se por muitas vezes, nas circunstancias de nao ter officiaes para o

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trabalho. por falta de dinheiro para faser-Ihes as competentes ferias, assim como de ]he nao quererem os droguistas confiar tintas e mais misteres para andam." da referida pintura, a Sup.e com todos os sacrificios e prejuizos inherentes a tais demoras, pode conseguir como de facto conseguio, apresentar desde De-zcmbro do anno passado a Igreja prompta, faltando unicam. te a pintura das portal quc em bem pouco tempo ficou acabada. E quando Senr."` a Sup" depois de tantos sofrim."s , tendo-se-lhe faltado a todas as condicoes marcadas na Escriptura, esperava o seu pagam. th , para poder assim remir dividas de que se acha oncrada por cauza da mencionada obra, pelo contrario aconteceo, pois ate hoje se acha no desembolco da nao pequena quantia que esta respeitavel Ordcm the e devedora. I isto Senhores ainda nao e tudo, dezejando a Sup: saber o estado de sua conta, e tendo requerido a tranzacta meta mandado por muitas vezes pedir, para que a vista dos recibos do seo finado marido, e dos de a.'" the substituio depois dc sua morte, ja m. s isso ]he foi concidido, e tat conta nunca Ihe foi dada ! Parece Srn. es que tendo a Sup:, preenchido o tracto da Escriptura, tendo a obra sido acabada a ponto de merecer geral aplauso, nao merecia a Sup" ser tratada por huma igual me,ncira. He por todas cstas razoes, que a Sup." vem por meio desta representacao chamar a atencao de V.V. C.C., para que, primeiro, ]he mandem pagar o saldo de sua conta, a qual deve ser tirada e conferida a vista dos recibos, e a cuja conferencia deve ser ouvida pessoa de sua confianca, para responder a q. 1 duvida que por ventura se possa offerecer. A Sup.' tendo esgotado toda a sua paciencia e ainda da este passo contando corn a benevolencia de V.V.C.C., para que sc nao veja na necessidade de lancar mao de maior que nao sejao os da concordia e boa fe. Por tanto. P. a V.V.C.C. que attendendo as ponderozas, e justas razoes expendidas pela Sup', e mais ao seo estado, hajao de defferir-Ihes corn aquella justica que deve caracterizar hua tao respeitavel corporacao. E.R.M.ce»

Em Outubro de 1835, a viuva Velasco dirigiu mais urn re-querimento a Mesa. Tao importante se nos afigura que passamos a divulga-lo. «Rd.in° Senr P." Commissario, Senr.s Ministro e mais Membros da Veneravel Ordem 3. a de S. Fran.c°.

Tendo D. Feliciana Delfina de Velasco, examinado a conta corrente da Pintura e douramento que o seu falecido Marido corn esta veneravel ordem tratou, e que se acha finalisada segundo o ajuste por huma escriptura publica; a do seu dever significar a V.V.C.C. que esta pela mencionada conta, menos nos dous seguintes artigos; e vem a ser — Primeiro no recibo de des mil r.' incluido individamente, em hum recibo do Adm.'. que concluio a pintura, J. Roiz Nunes, e segundo, no de vinte milheiros d'ouro

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Altar de S. Domingos. tercciro lateral a csgizerda de quern cntra na Igrcja. Imagem executada cm 1833 pclo artista Manuel lnacio da Costa. (Natural da

Bahia. Faleceu cm 23 dc Maio dc 1857)

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Documento assinado pela viuva Franco Velasco por saldo do ajuste da pin-

tura contratada corn scu marido.

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que aparece em hum recibo que se dis passado por seu Filho; no primeiro, por si m."'° se acha devolvido e q. t° a o segundo pende da presenca de seu ou resposta pela q.' se conheca definitivam." a verdade.

Ora como o ajuste da sobred.' pintura, foi feito metade em cobre e metade em papel, e so se tinha recebido 3:481$794, em cobre. ou no equivalente a este, corn o sett comp.° premio como e de Justica e razao, a vista da condicao da Escriptura. e do dever de tao conspicuos Mesarios; alem de que espera da honra de suas caridadas huma imdeminisacao a seu alcance pelo prejuiso que sofreo em vinte milheiros d'ouro de Lisboa devendo ser do Porto, e que deve, ser-lhe abonado pelo seu respectivo preco.

Assim como, a Sup° em razao a o seu estado para corn os seus credores, e mais pela demora que tem sofrido no seu pagrn.to, requer que o saldo de sua conta the seja satisfeito no praso de tres mezes, e em tres pagamentos iguaes, na falta dos quaes a Sup.' percebera o premio da Praca, cujo deve correr desde a falta do primeiro pagamento. e sera de 1,. e 1/2 p C O 3 pelo quo protesta.

Port.° P. a V.V. C.C. atentar as justas rasoens espendidas, hajao por bem deferir-lhes como e de . justica

E.R .M .»

Nao se liquidou a divida da pintura da Igreja nos tees meses marcados pela viuva do artista bahiano. Somente em Maio de 1837 a aflita senhora logrou receber a Ultima parcela do importante trabalho, conforme nos esclarece este precioso documento : Pe-rante mim Secretario actual recebeo a Snr.' D. Feliciana Delfina Velasco, do Irmao Sindico Jose Antonio de Carvalho e Araujo. a quantia de Rs. quinhentos oitenta e dous mil seis centos e dez, por saldo de ajuste de contas da pintura e douramento da Igreja desta Ordem, tratada corn seu falescido marido o Capita() Antonio Joaquim Franco Velasco. E de como recebeo a men-cionada quantia e ficar justa de contas, assignou comigo, a pre-zente quitacao. B.' e Secretaria da Ordem 21 de Maio de 1837.»

Desde o inicio da reforma da Igreja, as encomendas de pedra para as obras se sucederam. Nem sempre, porern, os documentos esclarecem a aplicacao que seria dada a essa pedra nevi a qua-lidade dela. Nao aconteceu o mesmo quando, em sessao reali-zada em 2 de Marco de 1834, se decidiu ladrilhar a nave do Igreja. Revelou-nos essa decisao o seguinte «Terrno de rezolucao que tomou a prezente Meza para que a nossa Igreja fosse ladri-lhada de pedra e n5o assoalhada de madeira.

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«Aos clous Was do Inez de Marco de 1834, nesta nossa Igreja da Veneravel Orcicm 3." da Penitencia de N . S . P." S . Francisco fiesta Cidade da Bahia, e Consistorio della cstando cm acto de Meza, que preziclia o nosso R.'10 P. 0 M. ex Difinidor Fr. Joze de S. Luiz nosso Comissario Vizitador, o nosso Ir.' Ministro actual Ivianoel Cardoso d'Aguiar. e mais Irmaos de Mesa comigo Secretario abaixo assignado, e foi proposto polo dito nosso Ir." Ministro, que em razao da formuzura que aprezcnta a nossa Iqreja, achava mais conveniente, que ella fosse ladrilhada de pedra marmore dc co , branca, e azul, do que assoalhada de ma-deira; porque de anno em anno era indispensavci o concerto, ou reparo; o que nao aconteceria, sendo de pedra. 0 que sendo ouvido pelos cla Mesa assentarao toclos que fosse ladrilhada da dita pcdra azul, e branca tante para mais belloza. e gravidade, como para duracao : e para a todo o tempo constar se mandou ]avrar o presente tcrmo, que assignarao o R.'"" P.' M.' Comissario Vizitador o nosso Ir." Ministro actual, e mais Mezarios comigo Antonio Jose da Silva Graca Seer.' actual da Mesa que este subscrcvi e assignei.»

Nessa mesma sessao de 2 de .Marco foram tornadas outras resolucoes contidas nos dois Termos que transcrevernos em se-guida. ‘7,Terino de rezoluc5o que tomou a prescnte Mcza, para a compra da pedra para o ladrilho da nossa Igrcja. eAos dous dias do mc: de Marco de 1834, ncsta nossa Igreja da Vencravel Ordem 3." da Penitencia de N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia e Consistorio della estando cm acto de Mesa, cue pre-sidia o nosso M. t° R. d" P.' M.' ex Difinidor Fr Joze de S. Luiz nosso Comissario Vizitador, o nosso Ministro actual Maned Cardoso d'Aguiar, e mais Ir. da Meza comigo Secretario abaixo assigna-do : foi proposto polo dito nosso Ir." Ministro que an-numdo todos os Jr."" da Meza que fosse a nossa Igreja de pcdra marmore azul, e branca, era tempo de se deliberar a compra da dita pedra, ern quanto havia na terra abundancia della. Assim tambem propOz a necc:ssiclade de se cornprarem al-gurnas ]ages de marmore branco para suprimento do laqedo cue veio de Lisboa corn falta algumas pedras; o que se 'clescub.rio no assentamento do mesmo lageclo. 0 que sendo ouvido por todos, convierao em que sc comprasse nao so a pedra porn o ladrilho, como a que fosse precisa para o suprimento das faltas do risco : para o que incumbiu-se aos nossos Jr."" Secretario actual Antonio Jose da Silva Graca, e Procurador Gcral Fran-cisco Jose Lopes o cuidado, trabalho, c zelo da compra das ditas pedras : e para a todo tempo constar, fez-se este termo, que assignaram o P.' M." Comissario Vizitador, o Ir.° Ministro

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HISTORIA DA V. 0. 3." DE SAO FRANCISCO DA BAHIA 65

actual, e mais Mezarios comigo Antonio Jose da Silva Graca Secr.° actual que este subscrevi e assignei.»

A outra resolugao tomada diz respeito a compra de ouro Para a conclusao do douramento dos altares da Igreja, como ve-remos em seguida. «Termo dc obrigacao, digo de resolucao da presente Meza, para a compra de trinta milheiros d'ouro.

«Aos dous dias do mez de Marco de 1834, nesta nossa Igreja da Veneravel Ordcm 3." da Penitencia do N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia, e Consistorio della, estando em acto de Meza quc presidia o nosso M. t" R." P.° M.° ex Di-finidor Fr. Joze de S. Luiz, nosso Comissario Vizitador, o nosso Ir.° Ministro actual Manoel Cardoso d'Aguiar, e mais Ir."' da Meza foi proposto polo dito nosso Ir.° Ministro que em rasao de ser precizo comprar-se mais trinta e cinco milheiros d'ouro para se acabar corn a douracao da nossa Igreja, e por que achando-se na mao de Joaquim Alves da Cruz Rios, e este o desse pela quantia de vinte c oito milreis o milheiro, em moeda fraca; o que sendo ouvido por todos convierao em que se comprasse, e que disso se cncombisse o nosso Ir.° Secrctario actual Antonio Joze da Silva Graca. E para a todo o tempo constar fez-se este termo que assignarao o nosso R." P. M.° Comissario Vizitador, o nosso Ir.° Ministro e mais Mezarios consign Antonio Joze da Silva Graca Secret.° actual que este subscrevi e assignei.»

0 assentamento do piso de marmore da capela mor nao se fez corn facilidade. As pedras encomendadas nao vieram conforme ao piano tracado, o que levou a Mesa da Ordcm 3." a rccorrer ao Engenheiro Pedro Weyli, uardando o Arquivo, no original; o precioso documento que passamos a transcrevcr.

«I11. 11" Sen.'' Ministro e mais Irmoes administradores do Ordem 3." de S' Fr."'

«0 Engenheiro Pedro Weyll declara ter sido convidado p." examinar urn Ladrilho de marmore na Igreja do Ordem Terceiro; e como o Supli." q. logo conheceu q. as Pcdras vindas nao cram conforme a uma emcomenda regular, ou bem q. tal emcomenda devia ter sido dada erradamente, e sendo the pedido de remediar no caso; mediou todas as pedras, formou corn calculo bastante tedioso nova planta e o rnodo mais economico de ajuntarlas, dando a mais as necessarias instruccoens; e como o Supli. t° nao ajustou o premio dos seus trabalhos e da sua industria; por isso

P. a V.V.S.S. sejao servidos decedir quanto. deve ser a sua gratificacao e mandando pagarla

R. M.""»

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30 MARIETA ALVES

que todos os Instituidores tinhao direito ao rendimento que havia, supondo o produzido do seo capital, quando tal ves nao tivesse este rendido couza algua por empate em dinheiro no cofre, ou por falta de alugador nas propriedades, que corn elles se tivessem cornprado, e tambem por estar totalmente perdido : certeza que nao podia haver por se nao ter feito distincto a prin. e°, e cabedal de cada hum dos Instituidores. Esta ommissao que houve ncs respectivos tempos, em que se receberao aqueles capitaes, foi o motivo porque as Mezas for go cumprindo todos os encargos pelo rendimento total da Ordem, e ainda de principaes, sendo muito delle aplicadc a outras consignagoens, segundo as verbas dos testarnentos porque foi deixado a esta Ordem.

Assim se governarao todas as Mz.' s athe que suspenderao as festas que se celebravao na Igr." desta Ordem por evitar as occazioens de despezas, afim de aplicarem todo o dinheiro ao cumprimento dos encargos com desconsolagao dos Irmaos, que fazem o Corpo desta Ven." Ordem a quem he natural ver ce-lebrar na sua Caza espiritual os louvores a Deoz de que ficarao privados por cauza dos rnesmos encargos.

Nao obstante a quinomia e attenta prudencia corn que se governarao as Mezas, hia de huns a outros annos deminuindo o rendimento e os encargos sempre corn direito de se cumprirem no todo ex vi de se ]he nao ter feito patrimonio p." servir no conhe-cimento dos seos rendimentos, e se saber se se deviao cumprir.

Esta confuzao, e o conhecimento certo de que no breve tempo de 20 annos mais ficaria reduzida esta Ordem a possessao de poucos bens, e os Instituidores nos termos de se lhes nao cumprirem os seos encargos em todo, nem em parte, foi cauza motiva da Meza fazer patrimonio a todas as Cap."' por rezolugao e Acordao de 21 de Margo de 1759 corn autorid. e judicial dando-se bens a cada hua dellas em que se fez vinculo que se descreveo nos autos de cada htia, e se julgarao por sentenca como se le neste livro.

Tombadas as ditas Capellas e feitos os patrimonios em tanta quantia quanta deixarao a esta Ordem os Instituidores, pareceo a Meza fazer trasladar neste livro tudo o que se processou nos seos respectivos autos para conhecimento da sua formalidade, e se saber qual he o patrimonio de cada hua das Cap."'; e aonde existe, corn o pequeno desvello de o passarem peloz olhos das Mezas que succederem ao dito tombamento para seo governo. e procederem indefectivel ao que se manda pelo juizo.

Para total conhecimento do que devem obrar em todas bas-tara ler a Capp." de Gaspar Joao, que se acha rezistada de Fls. 1

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MARIETA ALVES

Con firmando a execucao da Ordcm do Sccrctario, encontram--se no Arquivo varios recibos, entre os quais o de Francisco Lea° de Sant'Ana, no valor de 428400, cm que se le : "Folha das pessoas quc trabalharao na Igreja da Ordem 3." de S. Franc.° tanto no ornato da mesma como acompanharao os ganhadores nas buscas dos trastes c entrega dos mesmos ordem do actual Vigario o Scnr. Nlanocl Fern."''' Vianna.»

De como foi feita a iluminacao externa da Igreja este document°, copiado ipsis littcris, nos esclarece : «R.' . ' do 11.m°

M. Frz. como Vigario da veneravel ordeal 3." de S. Fran." a q.`" de sento, quartoze mil sento e senquenta emportanca da inominacao de copos, e da moralha de roda da Igreja. B." 7 de Julho de 1835.

Manocl Franc. ° dc Andrade.»

A relacao completa, do quc se despendeu entao, seria fas-tidiosa. Ha contas c recibos de flores, inclusive de um arco de penas, do conserto e limpeza das alfaias de prata, de alugueis de quadros, globos, placas e casticais, compra de fita, renda de ouro, damasco, seda, provando que de tudo se cuidou coin esmero.

Nao é tarde para louvar a inciativa e o zelo daqueles Ter-ceiros que legaram a posteridade tantas c tao primorosas obras de escultura, talha, pintura, cantaria e outras, e a conservacao dos valiosos documentos pelos quais chegamos a conhecer os nomes dos modestos obreiros do opulento patrimonio de arte sacra, existente no belo Templo da Ordem 3." de Sao Francisco da Bahia.

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the Fls. 5 v. na qual se manda que rendendo o seo patrimonio assim as mais se cumpra, e nao rendendo quanto baste a sa-

t isfacao do seo encargo se cumpra na parte que chegar o seo rendimento, salva sempre a administracao da Ordem a quem he conccdido todo o excesso, e na falta do rendimento para todo o encargo a quarta parte do que render.

Para quo se saiba em todo o tempo o rendimento total de cada hi-la se mandarao criar dous Livros de contas correntes corn Jitas Capelias nos quaes se deve carregar em debito todas as despezas e concertos que corn ellas se fizerem, e em cred o total que renderem, c do que ficar liquido em cada hum anno se ha de cumprir o encargo em todo, ou em parte, tirando-se sempre .1 administracao da Ordem, como se m. da na d.a Capp. a de Gaspar Ioao neste livro a Fls. 4 the Fls 5 que serve de regra geral para todas as mais.

Mandado assim observar pelo juizo competente das Cap.as no qual se h.ao de dar as contas futuras por aquella forma em que se hao de aprovar todas as despezas athe a quantia de 30000 em cada hua das propriedades sem vestoria, e com esta toda a que se firer em cada hua dellas, fazendo por conta dos Insti-tuidores toda a falha de alugueres, e falta de alugadores, nao sendo por ommissao culpavel da Ordem, se quiz a Meza inteirar espiritualm. te do seo procedimento, fazendo a proposta que vai rezistada no principio deste Livro, e o original no masso das es-cripturas, a que responderao os P .P.M.M. Manoel Correa. Manoel Xavier, e Manoel dos Santos da Comp. a de Jesuz appro-vando todo este procedimento corn as limitacoens, que sera° atten-didas na dita rezolucao, por que se mandao observar por despacho do Juiz das Capellas de 3 de Julho de 1759 posto em peticao desta Ordem, que tambem vai copiada emediato a proposta.»

Para melhor esclarecimento do assunto, segue-se, na Integra, a Proposta da Mesa, cujas figuras centrais eram, entao, Tomaz da Silva Ferraz, Ministro, Domingos da Rocha Barros, Secretario, e Joao Vilela de Carvalho, Procurador Geral.

<<PROPOSTA

A veneravel ordem 3. a de S. Francisco desta Cidade, desde o tempo do seo estabelecimento fez acceitac,ao de muitos legados, que instituirao em sua vida, e outros por morte varios Instituhi-dores, huns para anualmente se cazarem orfas, e outros para se lhes dizerem missas semmanarias, ou quotidiannas, deixando para isso parcellas de dinheiro equivalente para o redito das pencoens que deixarao corn elle.

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No mesmo document° foi dado este despacho: "Consede-mos-lhes a gratificacao de cincoenta mil." em virtude de seo tra-balho. B." em Meza 3 d'Agosto de 1834.»

0 projetado aperfeicoamento das imagens dos altares da Igre j a da Ordem 3. u, ligeiramente proposto quando da resolucao de se mandar fazer a imagem de S. Domingos, voltou a ocupar a atencao dos Mesarios, em 1834, confiando-se esse dificil tra-balho de escultura ao notavel artista Manuel Inacio da Costa e a pintura das mesmas a Jose da Costa Andrade. Tudo isso consta dos dois termos que se seguem; "Term° de Resoluao, q. tomou a prez.° Mesa, p. 0 se mandar aperfeicoar as Imagens dos Altares.

«Aos 5 dias do mez d'Outubro de 1834 nesta nossa Igreja da Ven.°' Ordem 3." da P. de N.S.P.S. Fran." desta Cid.' da B.", e consistorio della, estando em acto de Mesa, q. presidia o nosso M.R.P.M." Vice Comissr." Fr. Antonio do Paraiso, o nosso Ir.° Ministro actual Antonio Le da Silva Graca, e mais Irmaos da Mesa, comigo Secretr.° abx.° assignados = foi pro-posto pelo dito nosso Ir. Ministro = q. as Imagens, q. v5o servir nos Altares fossem desbastadas, em rasao de serem gros-seiras, p. a ficarem aperfeicoadas; e nessa ocasiao s otfereceo o Ir. Consultor Ivlanoel Ignacio da Costa, p." as perfeicoar, q. pelo seo trabalho pessoal era = gratis = e so exigiria o que pa-passe aos off. — de q. apresentaria conta, depois de prontas, o q. sendo ouvido p. r todos, convierao para assim s'effeituar; de q. se mandou lavrar o prez.° termo, q. assignarao os P." M. Vice Comissr. u , n Ir. Ministro, e mais Mesarios comigo Domingos Jose Cardoso Secretario actual da Mesa q. o sobescrivi, e as-signei.»

«Termo de Resolucao, que tomou a prez.' Meza, p." se mandar reformar de novo a pintura e encarnacao das Imagens abaixo de-claradas.

«Aos 5 dias do mez d'Outubro de 1834 — nesta nossa Igr.2 da Ven." 1 Ordem 3." da P. de N.S.P.S. Francisco desta da B." e consistorio della, estando em acto de Mesa, q. presidia o nosso M .R .P M.R.P.M. Vice Commissar.' Fr. Antonio do Paraiso, o nosso Ir. Ministro actual Antonio J.' da S." Graca, e mais Irmaos de Meza, commigo Secretr.° abaixo assignado: Foi proposto pl.' d.° nosso Ir." Ministro, p." q. annuindo todos os Irmaos Mesarios, fossem as Imagens, q. vao servir nos Altares, reformadas de nova pintura e encarnacao; e logo apareceo o Artista — Jose da Costa Andrade, corn quem s'ajustou p." as aprontar de tudo, assim como dour Anjos, e as sete Imagens p. 1"" seg. te' quantias, — a saber : S. Domingos por 50$000. Santo Christo, e N. Senhora da Con-ceicao — a 40$000 — 80$000. S. Francisco, e S.'" Isabel Rainha

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de Ungria, S. No e S. Luiz Rei de Franca a 20$000 — 80$000. 2 Anjos a 30$." — 60$000. Soma ao todo duzentos e setenta mil reis — 270$000 por cuja quantia d.° Andrade s'obrigou a fazer, e entregar tudo pronto; o q. sendo ouvido e consultado por todos, assim convierao, do q. p. a a todo tempo constar se fez este termo, q. assignarao — os d." P." M.e Vice Comissr.° o Ir.° Ministro, e mais Mesarios, comigo Domingos Jose Cardoso Se-cretario actual da Mesa, q. o sobescrevi e assignei.»

Restava para a reabertura da Igreja, cujo interior sofreu ra-dical reforma, como provarnos documentadamente, cuidar dos timos retoques de embelezamento. Para isso a Mesa contratou algumas obras de arte, dignas de divulgagao, corn Jose Rodrigues Nunes, pintor, Jose Cerqueira Torres, entalhador, Jose Joaquim de Figueiredo, serralheiro e o ourives Joao Bernardo. Dada a importancia das obras executadas por esses artistas, passamos a transcrever, na Integra, as resolucoes tomadas em diferentes sessoes, cronologicamente.

«Termo d'Acordao e Resolucao que tomou a prez." Mesa p. a se mandar fazer quatro quadros grandes a Oleo p. a as paredes da Igr. a , seis ditos pequenos p." as bocas dos Ninxos dos Altares, e fazer tella d'oiro no fundo da Capella mor. «N.B. A Pintura dos quadros, nao incluem os dourados das molduras.

«Aos 7 de Dezembro de 1834 nesta nossa Igr. a da Ven."1 Ordem 3.' de S. Fran. c" desta Cid." da Bahia e Consistorio d'ella, estando em acto de Mesa q. presidia o nosso M. R. P .M." Vice Comissr.° Fr. Antonio do Paraiso, o nosso Ir'. Ministro actual Antonio Jose da Silva Graca, e mais da Mesa comigo Se-cretr.° abx.° assign." Foi proposto pelo d.° nosso Ir. Ministro: Que se fazia necessario mandar fazer quatro quadros grandes pintados a Oleo p. a as paredes da Igr. a , seis d." peq." p." as bocas dos Ninxos dos Altares, e fingir tella d'ouro no fundo da Capella mor, para cujo fim s'ajustou corn o Artista — Jose Rodrigues Nunes — p." fazer tudo pelas seguintes quantias em moeda papel forte : a saber : 4 quadros gr.'" cada urn a 90$000 — 360$000. Os 6 ditos peg." a 40$000 — 240$000. A Tella no fundo da Cap.'" mor p.` 150$000. Scma tudo sette centos, e cincoenta 750$000, por cuja quan-tia o dito Nunes s'obrigou a dar tudo pronto. 0 que sendo ouvido, e consultado por todos, assim convierao, do q. p." a todo tempo constar se fez este tr.", q. assignarao os d."8 P.' M." Comissr.°, Ir.. Ministro, e mais Mesarios comigo Domingos Jose Cardoso Secretario actual da Mesa q. o sobescrevi e assignei.>>

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Encomcndados os paineis, era imprescindivel mandar fazer as molduras para os mesmos, o que se deliberou imediatamente, como nos prova o «Termo cl'Acord5o e Rcsolucao que tomou a prez." Mcsa, p." se mandar fazer quatro Paineis grandes, e sete frontacs corn seos furos de seguranca, a frente faixada e enta-lhada dc madeira p.a os altares.

«Aos 7 dias do mez de De-embro de 1834 nesta nossa !gr." da Ordem 3.' de S. Fran." desta da B." c Consis-torio estando em acto de Mesa q. presidia o nosso M.R.P.M.° V.' Comissr." Fr. Antonio do Paraiso, o nosso Ir." Ministro Actual Ant." J.° da S." Graca, e mais Ir." da Mesa comigo Sccretr.° abx.° assignados : Foi proposto p.'" d.° nosso Irmao Ministro, q. era preciso fazer-se quatro Paineis grandes, e sete frontaes faxados e entalhados de madeira p." os altares, p." o q. s ajustou corn o Artista — Jose de Serqueira Torres, p." fazer tudo pelas se-guintes quantias a saber : 4 Paineis grandes de moldura — cada um a 120 ra — 480000 — 7 frontaes faxaclos e entalhados cada um a 30$ r" — 210$000. Soma tudo seis centos e noventa mil reis — 690$000 por cuja quantia o dito torres s'obrigou a dar tudo pronto. 0 q. sendo ouvido e consultado p. r todos, assim con-vier5o, do q. p." a todo tempo constar, se fez este tr.°, q. assig-nar.5o os d." P.° M.° Vice Comiss.", Ir.° Ministro, e mais da Mesa comigo Domingos Jose Cardoso Secretario actual da Mesa q. o sobscrevi, e assignei.>>

As dugs clecisoes contidas nos documentos transcritos, se-guiu-se este «Termo d'Accordao e Resolucao, q. a prez.'" Mesa tomou, em mandar fazer as Grades de ferro, para dividir o corpo da Nossa Igreja — pelo Scrralheiro Jose Joaquim de Figr.d°, corno abaixo se declara.

«Aos onze dias do Me:: de Janeiro de mil oito centos e trinta e cinco, nesta nossa Igreja da Ven." 1 Ordem da P. de N.S. P.S. Fran." desta Cid. e da B.", e Consistorio della, estando em acto de Meza, que Presidia o nosso M.R.P . M." V.° Comissr." Viz." Frei Antonio do Paraizo, o nosso Ir.° Ministro actual An-tonio J.' da S." Graca, e mais Jr."" de Mesa, comigo Secretario inter.' abx.° assig.": Foi proposto pelo d . ° nosso Ir." Ministro que era preciso fazer-se as grades de ferro, para dividir o corpo da Igreja o que foi unanimen. te approvado pela Mesa; e nessa m. ma occasiao apareceo o d.° M.° Serralhciro J.' Joaq."' de Figr.°o. e apprzentando seo risco, foi approvado p. r todos; e coin elle foi tractado, e justas as d." grades pela quantia d'oito centos mil reis, pagos em 4 pagamentos, q. teve effeito o 1.° a vista, e teed() os outros, conforme o adiantam. tu da obra, feita corn c seo ferro, xumbo e mais annexos, ate que fiquem as in."'" grades postas em seo lugar; e para cumprim. t" deste ajuste, s'obrigou, o seo

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fiador — Domingos Henriques dos Revs — q. ambos assigna-rao este termo de resolucao e obrigagao, o q. sendo, por todos ouvido e consultado, assim convicrao, do q. p." a todo tempo constar, se fez lavrar, c assignarao comigo Sccrctario interino no impedimento do actual Domingos Joze Cardoso o subscrevi Manoel Frz Viana.»

Nao condizia corn a riqueza da talha dourada dos altares da Igreja, a singeleza da cruz de onde pendia o Crucificado, que dominava o alto do trono da capela mor. Para a harmonic do todo era preciso guarnecer de prata a grande cruz, ate entao despida de ornatos. Esta acertada resolucao prejudicou, entre-tanto, o patrimonio de arte da Ordem 3.", uma vez que, para executa-la, foram sacrificados dois grandes casticais de prata da banqueta do altar mor. Passamos a transcrever os dois impor-tantes documentos que nos revelaram essas decisoes «Termo d'Accordao e Resolucao q. a prez.° Mesa tomou p." mandar desmanxar dous casticaes de prata grandes, q. serviao na ban-queta do Altar mor.

«Aos oito dias do mez de Fevereiro de 1835 nesta nossa Igreja da Ven." 1 Ordem 3." da P. de N.S.P.S. Fran."° desta Cid.° da B." e Consistorio della, estando em acto de Mesa, q. prezidia o nosso M.R.P.M." Vice Comissr. Viz.° Fr. Anto.° do Paraiso, o nosso Ir." Ministro actual Ant.° J.° da S." Graga, e mais Ir.°' da Mesa comigo Secretr.° abx.° assignado; e p.1" d.° nosso Ir.° Min.° foi proposto ser preciso mandar-se fazer o aparelho de prata p." a Cruz do Throno da 'gr.', e nessa m.'"" occasiao se lancou mao de dous casticaes grandes de prata os mais quebrados, q. serviao antigamente na banqueta do altar mor, e nao poderem servir p. r se acharem disformes; o q. sendo ouvido e consultado, todos concordarao, do que p." a todo o tempo constar se fez este tr.° q. assignarao comigo = Domingos Jose Cardoso, Secretario actual da Mesa q. o sobscrevi, e assig .»

«Termo d'Accordao, e Resolugao, q. a prez." Mesa tomou em mandar aparelhar de prata a Cruz do Throno da nossa Igreja.

«Aos oito dias do mez de Fevereiro do corr.° anno de 1835 nesta nossa Igr.° da Ven." 1 Ordem 3." de S. Fran."' desta Cidade da B.", e consistorio della, estando em acto de Mesa, q. presidia o nosso M.R.P.M.° V.° Comissr.° Vis or Fr. Ant.° do Paraiso, o nosso Ir.° Ministro actual Ant.° J." da S." Grata — e mais Jr." da Mesa, comigo Secrt.° abx.° assignados; — e pelo d.° nosso Irmao Ministro foi proposto ser preciso mandar-se aparelhar de prata a Cruz do Throno; p." o q. se chamou o M.° Ourives Joao Bernardo, corn o qual se tratou, e ajustou de feitio da d.'

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obra seg." — d'aparelhar uma Cruz e Imagem do S.'" Christo —cont trez pontas. tuna tarja, um tank, cut letras douradas, um Diadema coin nor dourada e pedra. e quatro esferas de roda da Cruz: e ficou justo pela quantia de tresentos c secenta mil rcis cm moeda de papel corr." de feitio de tudo: p." cuja obra se the entregon. c o m.'"" recebeo dons casticaes com o peso de trinta c trez libras e uma quarta de prata. cut os in."'"" q. a Mesa resolveo se desmanchasem p." este Inn. p.'" Acordao anteced° neste dia: c s'obrigou a entregar a d." obra pronta no praso de trez meses a content° da Mesa, c nao estando, nao ter direito ao recebim.'" do ajuste. 0 que sendo ouvido c consultado todos concordar5o e convier5o, p. r isso q. se mandou lavrar este termo cm quo todos assignarao comigo — Dorningos loze Cardoso Secrctario actual da Mesa q. o sobscrcvi. c assignei.»

As trinta e tres libras e uma quarta de prata nao bastaram a execucao da obra de arte encomendada, pelo quc Sc sacrificou mais urn castical. conformc o Terrno lancado a pagin: , 137 do Livro 3." dos Termos e Acordaos.

Em Marco de 1S35 a Igreja da Ordem estava pronta e em condicoes de ser reaberta ao culto, interrompido oito longos anos. Tudo foi feito corn largueza. e as Mesas quc se sucederam nesse periodic, mantiveram contratos c resolucoes, tomadas pelas anteriores, sem espirito de discordia, sem preocupacao de eco-nomia. Urn pensamento dominava a todos — legar a posteridade uma obra de arte duradoura e a altura dos creditos da Instituicao. Realizado 6sse pensamento, a Mesa, que entao presidia aos des-tinos da Ordem 3. 3 , tomou as provide"ncias necessarias para o esplendor das festas da reabertura do Templo reluzente, conforme se vE pelo documento abaixo transcrito.

«Termo d'Accordao e Resolucao que tomou a presente Mesa, para o que abaixo se declara.

eAos quinze dias do mez de Marco de mil oito centos e trinta e sinco nesta nossa Igreja da Veneravel Ordem 3. 8 da Pe-nitencia de N.S.P.S. Francisco desta Cidade da Bahia e Con-sistorio della, estando ern acto de Meza que presidia o M.R.P." Fr. Francisco dos Praseres como Vice Comissario, por impedi-mento do actual Fr. Antonio do Paraiso nosso Vice Comissario Visitador, o nosso Ir." Ministro actual Antonio Jose. da Silva Grata, e mais Ir.° 3 de Meza commigo Sccretario abaixo assignados: foi dito pelo nosso mesmo Ir." Ministro que achando-se prompta a nossa Igreja, se devia benzer, e fazer a festa da nossa Padroeira a Rainha Santa Isabel no dia sinco de Julho do corrente anno por ser dia de Domingo: o que sendo ouvido por todos os Mezarios, se resolveo, que, no dia quatro do dito mez se abrisse, e benzesse

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a nossa dita Igreja, collocando-se a tarde o Santissimo Sacra-mento, corn Procissao para acompanharnento da qual, se convi-daria a todas as Ordens Religiosas, havendo no fim The-Deum: Quc no referido dia sinco se celebraria a festa corn grande pompa e brilhantismo, e The-Deum, e para major solennidade e explendor no decoro da Mesma Senhora, se convidasse as principaes Autho-ridades da Capital; e se mandasse quanto antes par no major asseio o nosso Hospital, e se desse a cada um dos nossos Ir." doentes hua andania de vestimenta nova; encarregando-se para o preparo da Igreja o nosso Ir.° Vigario Manoel Fernandes Vianna, e para o do Hospital aos nossos Consultores Manoel Hono-rato Pereira, e Jose Antonio Mendes. E para constar se mandou lavrar este Termo que eu Domingos Jose Cardoso Secretario actual da Meza q. o sobscrevi e assignei.»

No mesmo dia 15 de Marco, em que se lavrou o documento acima, o Secretario baixou a seguinte Portaria : «Pela presente, por nos rubricada, ordenamos ao nosso Ir.° Vigario Manoel Frz Vianna, que passe quanto antes, a faser todos os preparos ne-cessarios, comprando o que for precizo para se celebrar a festa da nossa Padroeira a Rainha S. Isabel, corn toda a pompa, e brilhantismo, nao so na abertura da nossa Igreja, como nas ves-peras, festa, The-Deum, e Procissao, ajusttando para tudo isto a competente Musica, e apresentando ao nosso Ir.' Sindico a Conta da despeza para the ser paga. Bahia em Mesa 15 de Marco de 1835, E eu Domingos Jose Cardoso Secretario actual da Mesa q o sobsescrevi, e robriquei.»

Vultosa soma despendeu-se corn as festas da reabertura da Igreja da Ordem 3. a Numerosos recibos atestam, eloquentemente, o brilhantismo das solenidades. Basta considerar que a regencia da orquestra da festa coube ao notavel musico bahiano Darniao Barbosa de Aratijo. No ato da bencao do Templo, tarde de 4 de Julho, e no Te-Deum, realizado a noite do mesmo dia, con-duziu a orquestra Joao da Cruz de Sousa. A porta da Igreja tocaram bandas sob a regencia de Manuel Jose d'Etre e Andre Avelino de Souza. Quatrocentos e tres mil reis foram pagos aos referidos artistas. Pela ornamentacao interna da Igreja. Joao de Sant'Ana recebeu 526$000. Ao Guardiao do Convento de Sao Francisco, Frei Luiz do Menino Jesus Maia, foram pagos 120$000. As contas dos fogueteiros importaram em 246$800.

Portaria do Secretario Domingos Jose Cardoso, de 28 de Junho, autorizou ao Vigario do Culto Divino, Manuel Fernandes Viana, a tomar emprestados os mOveis e utensilios que fossem necessarios para o brilho das festividades.