história da igreja i: aula 10: o apogeu do poder papal

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Curso desenvolvido para a ministração de aulas de História Eclesiástica I no Seminário Teológico Shalom. O curso envolve a exposição da história da igreja cristã, dos tempos de Jesus aos tempos atuais, passando pelo seu surgimento e desenvolvimento, domínio com a conversão de Constantino, ascensão papal, movimentos reformadores e avivalistas da era moderna, até os movimentos ecumenista e pentecostal do séc. XX. Esta aula apresenta o período de apogeu do poder papal, analisando os reinados de Gregório VII e Inocêncio III.

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  • 1. O apogeu do poder papal Gregrio VII e Inocncio III Histria Eclesistica I Pr. Andr dos Santos Falco Nascimento Blog: http://prfalcao.blogspot.com Email: [email protected] Seminrio Teolgico Shalom

2. Cardinalato A formao de ministros cardeais tem origem no comeo do sc. IV. Certas igrejas em Roma e vizinhanas haviam sido designadas como locais exclusivos de batismo. Os pastores destas igrejas ficaram conhecidos, ento, como sacerdotes cardeais. A regio de Roma tambm havia sido dividida em distritos, para a organizao das obras de caridade. Os sacerdotes destas regies ficaram conhecidos como diconos cardeais. Os bispos prximos de Roma tambm receberam honra especial, passando a ser conhecidos como bispos cardeais. 3. Gregrio VII Hildebrando (c. 1023-1085) foi um dos grandes papas a afirmar a supremacia do papa sobre o poder temporal. Durante mais de 20 anos, exerceu sua influncia por trs do trono papal, at se tornar papa em 1073. Da at sua morte, em 1085, exerceu os poderes que obteve para o papa quando ainda trabalhava por trs dos panos, influenciando a formulao da poltica papal durante cinco pontificados. Simpatizava com o programa cluniacense, opondo-se simonia, casamento de sacerdotes e investidura laica. Foi escolhido por Leo IX para preencher importantes cargos na cria papal, juntamente com outras pessoas capazes de fora de Roma. Neste perodo, foi encarregado das finanas do Vaticano, alm de tornar-se cardeal. Exerceu grande influncia no governo de Nicolau II (1058-61), ajudando na aprovao de uma legislao que tomava o poder de eleger o papa do povo. 4. Gregrio VII Desde os primrdios, o bispo de Roma era escolhido pelo voto da populao do arcebispado de Roma, embora os imperadores do Sacro Imprio Romano tenham interferido nas eleies e, nos dias de Hildebrando, a aristocracia de Roma tenha tomado corruptamente controle das eleies. No Conclio de Latro, em 1059, influenciado por Humberto e Hildebrando, Nicolau II alterou a forma de eleio. A partir de Latro, aps a morte de um papa, os bispos cardeais se reuniriam para escolher o seu sucessor. Deveriam ento consultar os sacerdotes e diconos cardeais. S ento o povo receberia permisso de votar nos nomes indicados pelos cardeais. Qualquer clrigo da Igreja Catlica Romana poderia ser eleito papa e, caso houvesse desavena, a eleio poderia ocorrer fora de Roma. Com isso, esperava-se eliminar a influncia imperial e aristocrtica nas eleies de novos papas. 5. Gregrio VII Aps a morte de Alexandre II, Hildebrando foi eleito unanimemente papa Gregrio VII em 1073, como resultado de gritos populares Hildebrando ser o bispo. Vale notar que ele no era consagrado, mas sim arquidicono cardeal e ex-monge, porm sua eleio permaneceu. Como entendia que a Igreja deveria controlar o poder civil, dedicou- se abolio da investidura laica, onde lderes clericais recebiam os smbolos de seus ofcios de seus senhores feudais, geralmente leigos. Tambm quis abolir a simonia e obrigar o celibato clerical, vendo como a melhor forma de reformar a Igreja Romana. 6. Gregrio VII Suas ideias esto representadas no Dictatus Papae, de possvel autoridade do cardeal Deusdedite, mas que emite seu ideal para o papado. Ali, entende que a Igreja Romana devia seus fundamentos a Deus somente, que s seu pontfice era universal, o papa tinha plena autoridade sobre os bispos, somente seus ps seriam beijados por todos os prncipes, podia depor imperadores e livrar pessoas de obedincia a governantes temporais ruins. No artigo 22 do texto, chega ao mximo da pretenso papal ao afirmar que jamais houve erro na Igreja Romana e que, segundo a Bblia, ela jamais erraria. Entendia tambm que Inglaterra, Hungria, Rssia e Espanha, dentre outros pases, estavam sob o controle de So Pedro e seus sucessores. 7. Gregrio VII Sua grande vitria contra a investidura laica e a favor do poder papal ocorreu quando o imperador Henrique IV tentou indicar o nome do novo bispo de Milo, algo que foi contestado por Alexandre II. O corpo eleitoral do arcebispado escolheu um homem chamado Ato, reconhecido pelo papa, enquanto que Godofredo, o indicado do imperador, foi excomungado. Hildebrando assumiu a luta e, em 1075, um snodo romano proibiu a todo membro do alto clero ser investido por um leigo. Henrique, que tentava criar uma nao germnica unificada e teve cinco de seus conselheiros excomungados por Gregrio em 1075 por simonia, convocou um conclio em Worms em janeiro de 1076 que rejeitou a autoridade papal. A resposta de Gregrio foi a excomunho de Henrique e iseno de seus sditos de obedec-lo. 8. Gregrio VII Ameaado pelos saxes e outros inimigos de deposio e de convocao de um snodo em Augsburgo com convite extendido a Gregrio, Henrique capitulou e, com esposa e filho ainda beb, atravessou os Alpes no inverno de 1077 para se encontrar com o papa em Canossa. Aps a difcil jornada, ainda foi obrigado por Gregrio a ficar descalo na neve fora dos portes do palcio por trs dias sucessivos, antes de ser admitido e ter sua sentena revertida. Apesar da submisso, Henrique evitou a presena de Gregrio em Augsburgo e derrotou seus adversrios. Porm, a luta com Henrique continuaria at o final de seu pontificado, com Henrique sendo novamente excomungado e deposto. Henrique ento invadiu Roma e escolheu Wiberto como papa, sendo coroado por ele. Gregrio apelou aos normandos do sul da Itlia, que o ajudaram mas saquearam os arredores de Roma, o que obrigou Gregrio a fugir para Salermo, onde morreu no exlio. 9. Gregrio VII A luta contra as investiduras durou at o acordo estabelecido na Concordata de Worms assinada entre o imperador Henrique V e o papa Calixto II, em 1122. O anel e o basto seriam concedidos pelo papa ou seu agente. O dignitrio eclesistico deveria jurar lealdade ao soberano temporal, no caso seu senhor feudal. Com a Concordata, a Igreja Romana saiu vitoriosa, pois era ela quem afirmava sua igualdade com o Estado e se livrava do controle imperial na Itlia. Com o celibato clerical imposto aps a proibio do casamento clerical em 1074, Gregrio evitou que o clero se tornasse uma casta hereditria, criando uma classe de homens leais ao seu superior espiritual, o papa. Apesar de sua morte no exlio, Gregrio concluiu sua obra e os papas posteriores puderam construir sobre o fundamento que ele colocou. 10. Inocncio III Inocncio III (1160-1216) foi eleito papa aos 38 anos e elevou o papado medieval ao apogeu de seu poder. Filho de nobre romano, educou-se teologicamente em Paris e juridicamente em Bolonha. Sua humildade e piedade pessoais foram temperadas com coragem, coerncia e forte percepo da fora moral do papado. Cria ser o vigrio de Cristo, com autoridade suprema na terra. Achava que reis e prncipes derivavam sua autoridade dele, podendo excomung-los, dep-los e colocar o Estado sob interdito, proibindo o clero de celebrar as cerimnias essenciais da Igreja. Entendia que o papa estava acima do homem e abaixo de Deus. O Estado deveria se relacionar com a Igreja como a lua que reflete a luz do sol. A publicao de uma edio autorizada da lei cannica por volta de 1140 (Decretum) reuniu de forma concreta a lei cannica, sendo usada em todas as cortes da Igreja Romana. Era apoiada na lei romana, que defendia a centralizao do poder nas mos de um indivduo (no caso o imperador). 11. Inocncio III Inocncio usou seu poder para dobrar trs soberanos europeus: Inglaterra: De 1205 a 1213, uma rixa surgiu entre o papa e o violento rei Joo sobre a eleio do arcebispo de Canturia. Tanto o arcebispo eleito pelo clero como o nomeado fora por Joo foram negados pelo papa, que indicou Stephen Langton para o posto. Joo recusou-se a aceitar Langton, o que fez Inocncio interditar a Inglaterra em 1208 e excomungar Joo um ano depois. Com a oposio dos ingleses, Joo foi obrigado a se humilhar e reconheceu, em 1212, que mantinha seu reino como vassalo feudal do papa, concordando em pagar mil marcos anuais ao papa. Esse pagamento s foi suspenso durante a Reforma inglesa. 12. Inocncio III Inocncio usou seu poder para dobrar trs soberanos europeus: Sacro Imprio Romano: Em 1202, Inocncio afirmou o direito do papa de aprovar ou desaprovar o Imperador eleito pelos eleitores germanos do Imprio. O Acordo de Worms havia criado uma trgua entre o Imperador e o papa, mas o povo italiano queria por fim interferncia imperial na Itlia. Henrique VI, imperador de 1190 a 1197, causou-se com a princesa normanda Constncia, reivindicando a Siclia como parte de seu domnio e dando a ele o controle de terras ao norte e sul dos Estados Papais. Seu filho, Frederico, foi feito rei da Siclia e Inocncio tornou-se seu guardio depois da morte de Constncia. Com a morte de Henrique, Otto IV assumiu o trono e esqueceu as promessas que fizera a Inocncio, o que fez este apoiar Frederico ao trono, garantindo que ele fosse eleito a essa posio como Frederico II, em 1212. Otto revoltou-se, mas foi derrotado por Inocncio, com apoio dos exrcitos de Filipe II da Frana, em Bouvines, em 1214. 13. Inocncio III O papado de Inocncio tambm ficou conhecido por sua influncia cruzada e pelo seu papel na convocao do Conclio de Latro de 1215. A Quarta Cruzada para libertar a Palestina dos muulmanos atravs da captura do Egito para aes futuras, foi instigada por Inocncio e vrios sacerdotes franceses. Isso fez dela uma cruzada abertamente francesa. Em troca de transporte e mantimentos para a travessia de Veneza para o Egito, o doge local exigiu uma grande soma em dinheiro. Quando os cruzados chegaram sem os recursos, o doge sugeriu que os ajudassem a reconquistar Zara, antiga possesso veneziana que estava nas mos do rei cristo da Hungria. Aps saquearem Zara, os cruzados foram para Constantinopla, em vez de Alexandria, e a capturaram em 1204, mantendo ali em reino latino at 1261. Inocncio acabou aceitando os resultados da cruzada por colocar o Imprio Oriental sob seu domnio, deixando Constantinopla como base para a Quinta Cruzada que ele planejava executar. 14. Inocncio III Outra cruzada de Inocncio foi liderada por Simo de Montfort contra os albigenses do sul da Frana em 1209. Conhecidos como os ctaros, o grupo religioso diziam que suas crenas eram oriundas da Bblia, o que gerou a proibio da Igreja Romana de que o povo possusse a Bblia. A cruzada foi perpetrada em 1209 e praticamente dizimou os ctaros, depois de batalhas sangrentas. A cruzada foi apoiada abertamente por dominicanos e franciscanos. O Quarto Conclio de Latro foi convocado em 1215 com a inteno de deixar uma declarao positiva da verdade. O conclio estabeleceu diversas regras litrgicas que vigoram at hoje: Obrigatoriedade de confisso anual de todos os leigos diante de um sacerdote. Declarao do dogma da transubstanciao, que todos os membros da Igreja Romana tinham que aceitar como doutrina autntica. a crena de que a substncia do po e do vinho transformam-se metafisicamente em corpo e sangue de Cristo. O sacerdote celebrava um sacrifcio sempre que dirigia uma missa. 15. Declnio do poder papal Aps a morte de Inocncio, a igreja entrou em um perodo de rpido declnio. Histrias de simonia, nepotismo, embriaguez e abandono do povo por parte dos sacerdotes contrariavam muita gente. Os soberanos das novas naes-Estado, como Inglaterra e Frana, preferiram lutar contra o papado, j que tinham um exrcito nacional e uma classe mdia rica para apoi-los. O ponto mais baixo do poder papal na Idade Mdia foi sob Bonifcio VIII (1294-1303). Na busca por recursos para financiar despesas de guerra, Filipe da Frana e Eduardo I da Inglaterra cobraram impostos do clero. Bonifcio tentou impedir isso com a promulgao da bula Clericus Laicus, sob pena de excomunho, porm ambos os soberanos enfrentaram a bula. Eduardo aprovou, atravs do Parlamento, um ato proibindo o clero de atender as reivindicaes papais de poder temporal no pas. J Filipe proibiu a sada de dinheiro da Frana para a Itlia, privando o papado de sua renda francesa. 16. Declnio do poder papal A luta entre Bonifcio e Filipe recomeou em 1301, quando o rei prendeu um legado papal por traio. O papa ordenou sua libertao e ida de Filipe a Roma para explicaes. Filipe convocou o corpo legislativo francs, que apoiou a sua resistncia s exigncias de Bonifcio. Como consequncia, Bonifcio promulgou uma bula conhecida como Unam Sanctum, onde afirmava que fora da Igreja Roma no se poderia encontrar salvao nem remisso de pecados, que o papa tinha autoridade espiritual e temporal sobre todos e que a submisso ao papa era necessria salvao. As ideias foram posteriormente repetidas na Quanto Conficiamur de Pio IX em 1863. Sem apoio de exrcitos, Bonifcio acabou preso temporariamente, para evitar que excomungasse o rei. Com a morte de Bonifcio, Clemente V assumiu o papado, transferindo a sede para Avignon, em 1309. Ali viveram sob presso direta do rei, gerando o perodo conhecido como Cativeiro Babilnico do papado, que duraria at 1377. Durante o perodo, o papado esteve sob influncia dos monarcas franceses, perdendo a fora moral e temporal que tivera. 17. Fontes Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo atravs dos sculos: uma histria da igreja crist. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar Kroker. So Paulo: Vida Nova, 2008. Textos auxiliares: DREHER, Martin N. Coleo Histria da Igreja, 4 vols. 4 ed. So Leopoldo: Sinodal, 1996. GONZALEZ, Justo L. Histria ilustrada do cristianismo. 10 vols. So Paulo: Vida Nova, 1983