"história da gata borralheira", de sophia de mello breyner

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“História da Gata Borralheira”, de Sophia de Mello Breyner Tempo: A história inicia-se na primeira noite de Junho e acaba vinte anos mais tarde, também na primeira noite de Junho. Espaço: O espaço, tal como o tempo, é igual no início e no final da história: numa casa cor-de-rosa grande e antiga. Personagens: Relevo Processos de caracterização Principal/ secundária/ figurante Direta/ indireta ---------------------------- -------------- Autocaracterização/ heterocaracterização P. Principal Lúcia P. Secundária s Madrinha, homem do espelho, rapariga de rosa, rapaz moreno

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Page 1: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

“História da Gata Borralheira”, de Sophia de Mello Breyner

Tempo: A história inicia-se na primeira noite de Junho e acaba vinte anos mais tarde, também na primeira noite de Junho.

Espaço: O espaço, tal como o tempo, é igual no início e no final da história: numa casa cor-de-rosa grande e antiga.

Personagens:

Relevo Processos de caracterizaçãoPrincipal/ secundária/ figurante Direta/ indireta------------------------------------------ Autocaracterização/ heterocaracterização

P. Principal Lúcia P. Secundárias Madrinha, homem do espelho, rapariga de

rosa, rapaz moreno

Lúcia: personagem principal (caracterização social)

Primeira parte Viviam humildemente com o pai e os irmãos; era feliz; a sua roupa estava velha e fora de moda.

Page 2: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

Segunda parte Passou a viver com a tia, com grande riqueza; sem que nada lhe fosse recusado; sempre em grandes festas; ambiciosa; a sua roupa cara e sempre na moda

Lúcia (caracterização psicológica e física)

Objetos indispensáveis na história:

Primeira Parte Segunda ParteVestido comprido, lilás, feio e fora de moda

Vestido novo, curto, moderno

Sapatos fora de moda e rotos que simbolizam uma rapariga ambiciosa, mas simples, inocente e até fiel

Sapatos bordados com brilhantes que representam beleza, poder, o triunfo e falsidade como a sua vida (todos se questionavam se eram verdadeiros)

Espelhos que refletiam a insegurança, o pavor de confrontar os outros.

Espelhos que tanto refletiam poder e objetivo atingido assim como também (depois) refletiam a mesma rapariga que era há vinte anos atrás: insegura e assustada.

No final da história, Lúcia acaba com um sapato velho e feio e um sapato novo e belo com a simbologia de mostrar que Lúcia estava “bonita” por fora mas “feia” por dentro.

Page 3: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

Parte I

Quando Lúcia chega ao baile estava contente pois ia, finalmente, ter o seu primeiro baile. Como era de uma classe inferior do que os outros, sentia-se “noutro mundo”. Depois, foi apresentada às amigas da dona da casa, estava entusiasmada mas ao mesmo tempo insegura, com medo de não ser aceite por elas. Lúcia foi posta de parte pelas raparigas, que não sabiam quem ela era, nem de onde vinha. Por isso, Lúcia sentia-se envergonhada e humilhada porque achava que o seu vestido era inapropriado e tinha sido posta de parte.

A autora usa uma técnica de escrita denominada “analepse” para contar factos anteriores que não foram narrados: utiliza esta técnica para falar do vestido e dos sapatos que Lúcia leva ao baile e para falar da família dela.

Todas as raparigas do baile são convidadas a dançar, menos Lúcia, que fica sozinha. Vai-se ver ao espelho e sente-se muito pálida, por isso decidiu ir ao quarto de vestir pôr mais rouge.

Page 4: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

No quarto de vestir, estavam três raparigas que estavam a falar de Lúcia. Lúcia vai embora, depois de ouvir uma parte da conversa. Vê-se ao espelho e vê-se ainda mais pálida. Atrás dela aparece a rapariga com o vestido cor-de-rosa e diz-lhe para que não se visse naqueles espelhos que “são como pessoas más, não dizem a verdade”. E disse-lhe muitas outras coisas, Lúcia achou que a rapariga a tentara ajudar a defender-se de algum perigo que ela não queria ver.

Foi para a varanda ainda confusa com as palavras da rapariga. Olhou à sua volta e sonhou ter um daqueles vestidos belos. Veio ter com ela um rapaz moreno. Que lhe disse também umas palavras estranhas: “ mas, ao mesmo tempo, há nestas noites uma angústia especial – há no ar o pressentimento de que nos vamos despistar, nos vamos distrair, nos vamos enganar e não vamos ser capazes de reconhecer e agarrar essa vida que é a nossa verdadeira vida.”

Depois, convidou-a para dançar e Lúcia enquanto dançava deixou escorregar o sapato esquerdo, que ficou perdido no meio da sala. Toda a gente, ficou a olhar para o sapato roto de Lúcia.

Após a humilhação, sentou-se sozinha a pensar na antiga proposta da sua madrinha para que fosse viver com ela. Decidiu que o melhor para ela era viver com a madrinha.

Page 5: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

Parte II

A Lúcia foi viver com a sua tia. Passou a ter tudo o que antes não tinha. Casou com um homem rico que se ia tornando cada vez mais rico. De ano para ano, Lúcia estava cada vez mais bonita. E assim foram passando vinte anos. E nesse vigésimo ano, Lúcia recebeu um convite para um baile, na mesma casa e no mesmo dia (primeiro de Junho). E pareceu-lhe que tinha de ir àquele baile, para apagar completamente a humilhação por que passara no primeiro baile.

No baile, Lúcia foi com um vestido curto e com uns sapatos bordados de brilhantes. Houve um primeiro movimento de espanto e quase de escândalo. A meio da noite, decidiu voltar àquela sala, onde vinte anos antes se tinha ido esconder. Tinha de se ver, agora, ao espelho onde antes tivera vergonha do seu reflexo.

Lúcia virou-se para o espelho e todo o seu corpo gelou, tentou gritar, mas não conseguiu. Viu a sua imagem no espelho: viu-se com o vestido lilás, e o vestido parecia encher a sala, espalhar-se no ar. A sua cor erguia-se como uma palavra, parecia escorrer como um metal fundido.

O espelho começou a mover-se e a porta abriu-se e apareceu um homem. Um homem que Lúcia não conhecia, mas que conhecia Lúcia.

O homem pediu-lhe o sapato do pé esquerdo, o homem era o caminho que Lúcia escolheu, que agora, lhe estava a pedir o sapato como o preço do mundo, pois durante aqueles vinte anos nada lhe fora recusado.

Page 6: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

O homem tirou-lhe o sapato esquerdo e colocou-lhe o sapato roto que Lúcia usara no primeiro baile.

Lúcia foi encontrada morta, devido a um ataque cardíaco, com um sapato velho e feio e o outro de brilhantes bordados.

Indícios que nos levam ao desfecho trágico:

Tentativas de ajuda:

O Reflexo no espelho:

1º Baile Reflexo da timidez e insegurança: imagem de Lúcia negativa

2º Baile Constatação de uma vida falsa: impossibilidade de negar quem somos

Page 7: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

O sapato:

1º Baile Representa a sua humilhação, mostra a sua fealdade interior

2º Baile Mostra o seu triunfo e beleza exterior: falso como a sua vida.

“O preço do mundo”

Conto tradicional & Conto de Sophia de Mello Breyner:

Page 8: "História da gata borralheira", de Sophia de Mello Breyner

Sensações:

Auditiva “…espalhava no jardim…música e vozes.” Visual “…uma casa grande cor-de-rosa…”Movimento “...,vestidos que flutuavam entre os passos e os gestos.”

Figuras de estilo (recursos expressivos):

Metáfora “… a água lisa dos tanques.”Personificação “…a noite caminha…”Dupla adjetivação “…leve e lenta sobre a relva do jardim.”Antítese (ideias contrárias)Sinestesia (mistura de sensações)Enumeração “…, espalhava no jardim luzes, brilhos, risos, música e

vozes.”Comparação “Como uma rapariga descalça…”Hipérbole (exagero da realidade)

Modos de apresentação da narrativa:

Descrição (predomina o pretérito imperfeito do indicativo e adjetivos)

“…um riso mais agudo cortava, como um pequeno punhal, a água lisa dos tanques.”

Narração (predomina o pretérito perfeito (e presente) do indicativo)

“Lúcia ficou sozinha.”

Diálogo “ – Lilás fica-me mal.”