história da educação brasileira - maria luisa santos ribeiro

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5/10/2018 HistriaDaEducaoBrasileira-MariaLuisaSantosRibeiro-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/historia-da-educacao-brasileira-maria-luisa-santos-ribeiro-55a0beadf26cc 1/92 sta obro atinge, merecidamente, a declrnc edlcco. Com.efeito, His tor ic da ed uc oc co b ras il eir a: a or qon lzo co o escolot de Ma ria Lu isa Sa nt os Ri bei ro, v em pr est ond o va li os o aux fl io ao s p ro fe ss or es d a d is ci pl in a H is to rl o d a E du cc co o. Nes ta no va f ase , ago ra e dit ado po r Aut or es As so ci ado s/ Cor te z Editora, 0 livro aparece revisto e ampliado procurando responder ainda mais satisfatoriamente os expectat ivas e necessidades dos p rof es so res e es tu dio so s d a h is lo rio d a n os sa eo uc oc oo, Abordando 0 conlunto da hlst ono da orqonizocoo escolar brasileir a e m s eus p rinc ip ai s a sp ec tos , e st e liv ro co ns tit ui a pr imei ra t en tat iv a slsternonco de abordar globalmente a historic da educocco brasileira mantendo presenteo vinculo entre 0 especificamente educacional e 0 desenvolvimento da base material da sociedade brasileira. E, dado 0 seu pioneirismo, importa reconhecer que 0 empreendimento f oi bem sucedido. Por se tratar de urn texto escrito em linguagem clara, sem cair em sl rnp llt lco co es : dld ot lco . se m s er su pe rf ic ia l; ac es siv el ma s n co facilitador, e de leitura leve, porern nco aligeirada, esta obra e Otil aos professores de Historia da Educocco tanto dos cursos de pedagogia como dos cursos de forrnocco de pr of es so res par a a s q ua tr o p rimei ras series do ensino de primeiro grau. Interessa, ademais, a t odos os que se preocupam em compreender a educocoo brasileira do ponto de v is ta d e s ua h is to ri c. ISBN 85-249-0084-9 9 @CORTEZ ~EDITORR :B~1~~~1Q\ A SS OC IA DO S ~ I

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sta obro atinge, merecidamente, a declrnc edlcco. Com.efeito,

Historic da educocco brasileira: a orqonlzocoo escolot deMaria Luisa Santos Ribeiro, vem prestondo valioso auxfl io aos

professores da discipl ina Historlo da Educccoo.

Nesta nova fase, agora editado por Autores Associados/CortezEditora, 0 livro aparece revisto e ampliado procurando responder

ainda mais satisfatoriamente os expectat ivas e necessidades dos

professores e estudiosos da hislorio da nossa eoucocoo,Abordando 0conlunto da hlstono da orqonizocoo escolar brasileira

em seus principais aspectos, este livro constitui a primeira tentat ivaslsternonco de abordar globalmente a historic da educocco brasileira

mantendo presenteo vinculo entre 0especificamente educacional e 0

desenvolvimento da base material da sociedade brasileira. E , dado 0

seu pioneirismo, importa reconhecer que 0empreendimento foi bemsucedido.Por se tratar de urn texto escrito em linguagem clara, sem cair em

slrnpllt lcocoes: dldot lco. sem ser superf ic ial; acessivel mas nco

facilitador, e de leitura leve, porern nco aligeirada, esta obra e Otil aosprofessores de Historia da Educocco tanto dos cursos de pedagogia

como dos cursos de forrnocco de professores para as quatro primeiras

series do ensino de primeiro grau. Interessa, ademais, a todos os quese preocupam em compreender a educocoo brasileira do ponto de

vista de sua historic.

ISBN85-249-0084-9

9

@CORTEZ~EDITORR

:B~1~~~1Q\A SS OC IA DO S ~ I

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ColecaoEDUCA<;AO CONTEMPORANEA

Maria Luisa Santos Ribeiro e pedagoga, com mestrado e doutorado em Fi-losofia da Educacao pela Pontiffcia Universidade Cat6lica de Sao Paulo(PUC-SP). Atualmente e professora no Programa de Mestrado em Edu-ca9ao na mesma Univesidade. Obras publicadas: Introduciio a historia daeducaciio brasileira (Ed. Moraes); Educaciio em debate: uma proposta depos-graduaciio, em co-autoria (Ed. Cortez); Formacao polftica do profes-sor de ]r!e 2r!graus. (Ed. Cortez).

Oad os d e Cataloga~aona Publica~ao(C IP) In te rnacional

( Camar a B ra si le ir a d o L iv ro , S P , B ra si l)

Ribeiro, Maria Luisa Santos. .HistOria da educacao brasileira : a organizacao escolar I

Maria Lufsa Santos Ribeiro - 12. ed, - Siio Paulo: Cortez:Autores Associados, 1992. (Colecao educacao contemporanea)

Bibliografia.ISBN 85-249-0084-9

1. Educacao - Brasil - Histdria 2. Sociologia educacional- Brasil I~ Titulo.

87-0229CDD-370.981

-370.1930981

I nd ic e s pa ra cabi logo s is tema ti co :

1. Brasil Educacao : Histdria 370.9812. Brasil Educacao e sociedade 370.19309813. Brasil Sistema educacional: Histdria 370.981

Yv}; tuCO 4fJL'yet/u,ru' .It. t e v i . 'v ai.,eraldo de Olioeiravwarco uun t7

A ORGANIZACAO ESCOlAR

12~e d i~ao

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HISTORIA DA EDUCA<;:AO BRASILEIRA - A organizacao escolarMaria Luisa Santos Ribeiro

Conselho editorial: Antonio Joaquim Severino, Casemiro dos Reis Filho,DermevaI Saviani, Gilberta S. de Martino Jannuzzi, Milton de Miranda,Moacir Gadotti e Walter E. Garcia.

Capa: Carlos Clemen

Foto de capa: Abril PressComposiciio: Linotipadora RelampagoProductio editorial: Jose Aparecido CardosoProduciio grdfica: Cica CorreaRevisdo: Suely BastosSupervisiio editorial:Antonio de Paulo Silva

I!! edicao - 1987

Nenhuma parte desta obra poder ser reproduzida ou duplicada sem autori-za~ao expressa da autora e dos editores.

© 1987 by Autora

Direitos para esta edi~ao

CORTEZ EDITORAI AUTORES ASSOCIADOSRua Bartira, 387 - Tel.: (011) 864-011105009 - Sao Paulo - SP

Impresso no Brasil- marco de 1992

Surnorlo

Apresentacao ; , ' .. ', '. . . 7

Prefacio• . • . . • • • " , ' • . ~ . - ~ : • . • . . . ~ . • . • . . . • • . . • . . ~ 0 ' . 0 · : " , 0 • ~ ' • • _ • • ~ 0 ' : •• . • . • - °

0

- 9

Prefacio a edicao de 1979

Introducao

...... , ... ; . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

13• "~ • • • ' ' • • • • • • . • • ~ , • • • • • • 0 • • • • • • • • • • • • . • • • • •

1.0 Periodo: 1549 a 1808 ___,;CODSOlida~aodo modelo agrano-

e:xportador dependente ; ,. . . . . . .. 19

1. A fase jesuitica da escolarizacao colonial 19

2. A fase pombalina da escolarizacao colonial ........•.. 30

2.0 Periodo: 1808 a 1850 - Crise do modelo agnlrio-exportador

dependente e inicio da estnnura~ao do modelo agr8rio-comer-

eial esportador dependente'. . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . 37

1. A fase joanina "h' ",- .••••..•••••••••••••• '. 37

2. A fase politicamenteautonoma ; '" . ". 42

3.0Periodo: 1850 a 1870 ---:-CoDSOIi~ao do modelo agr3rlo-

comercialexpo~or llependente .... '.................... 50

4.0Periodo: 1870 a 1894 - Crise do modelo agr8rio-comercial

exportador dependente e tentativa de incentivo it industrializa~ao ,60

1. A fase imperial ',' .. '.................•. ' /60/

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2. A fase republicana

5.° Periodo: 1894 a 1920 - Ainda 0 modele agrario-comereial

exportador dependente .

A,o Periodo: 1920 a 1937 --Nova crise domodelo agrano-comer-

I cial exportador dependente e inicio da estruturaeao do modelo

nacional-desenvolvimentista, com base na industrinliza~ao ..... 86

1. A .fase anterior a "Revolucao de 30" 8 62. Afase posterior a "Revolucao de 30" 91

7.° Periodo: 1937 a 1955 - 0modelo nacional-desenvolvimentista

com base na industrializa~ao 113

8.° Periodo: 1955 a 1968 - Crise do modelo nacional-desenvolvi-

mentista de industrializa~ao e implantacao do modelo '~ssocia-

do" de desenvolvimento economico 133

1. 0 significadoda crise: 0 periodo anterior ao golpe de

1964 ..........................•................. 133

2. 0 significado do golpe militar de 1964 156

Conclusao . . . .. 172

..Bibliografia<,

• • _ • . • ~ • "_ • • • • .• • • • • • • • •• • •• ·0- • • .• f -. .•• • • •• • • • • • 177

Apresenta900

Est; obra e resultado deuma serie de outrostrabalhos pre-

.liminares feitos sob a orientacao do prof. Casemiro dos Reis

.Filho,bem como do curso de mestrado em Filosofia da Educa-9ao eda dissertacao defendida sob a orientacao do prof. Der-

meval Saviani.

:AIgumas alteracoes ainda-foram feitas nestes trabalhos pre-

limiriares em decorrencia desugestoes dadas pelo colega D. Sa-

viani, a o ler a Introducao e os primeiros capitulos, e pela colega

Mirian J...Warde. apos trabalharcom tal material durante urn

semestre em urn dos cursos de Historia da Educacao da Univer-

sidade Federal de Sao-Carlos. .)'

, A eles meu agradecimento.

A primeira edicao deste livro data do ano de 1978. A presente

edicao contern uma discussao ampliada do ultimo periodo con-

siderado, que tern como delimitacao inicial 0 ano de 1955.

S6 0 desenvolvimento, no tempo, dos acontecimentos tor-

nou possivel uma delimitacao final mais adequada. Desenvolvi-

mento este acompanhado, e certo, por estudos com vistas a sua

compreensao paulatina.

Assim sendo, foi possivel, hoje, defender a ideia de que 0

periodo com inicio em 195). se estende ate 1968 e tern que ser

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considerado atraves de uma subdivisao interna, estabelecida e

trabalhada enquanto recurso necessario ia compreensao sobre

qual dos "possfveis hist6ricos" postos no inicio. dos anos 60 so-

fre uma ruptura com 0 golpe de 1964equal "possivel" tern nele

a condicao de se generalizar e consolidar.

Foram tambem feitas algumas modi,fica<;oes ~ alguns acres-

cimos pequenos no capitulo que trata do 0.° Pertodo,

Maria Luisa Santos RibeiroSao Paulo, setembro de 1986

8

Prefacio'

Ha muito tempo efetuei urn levantamento sobre a historio-

grafia daeducacao brasileira (para urn seminario nacional sobre

Historia da Educacao Brasileira promovido pelo INEP) em to-

dos os catalogos de editoras e Iistagens de dissertacoes e teses

defendidas nos programas de pos-graduacao existentes no pais.

Desse levantamen.to foi possivel derivar dados importantes, por

exemplo: a hist6ria da educacao brasileira e uma das ',areasde

conhecimento que gera menos pesquisas academicas: do que tern

sido produzido na area, a quase totalidade dos trabalhos (publi-

cados ou nao) sao referentes ao periodo p6s-30 para oferecer,

apenas, aqueles antecedentes que importam para 0 estudo do

periodo mais recente (em particular, p6s-64); com raras exce-

coes, sao trabalhos que apresentam urn capitulo ou uma pequena

parte .referente a hist6ria de umaspecto bastante particular daeducacao (exemplificando: uma modalidade, urn ramo ou urn

grau de ensino; uma categoria profissional, como 0 supervisor

de ensino ou 0 diretor de escola; uma determinada lei e assim

por diante). Tambem, com raras excecoes, os trabalhos omitem

as conexoes entre 0 objeto particular e a configuracao educacio-

nal mais amp la, entre esse objeto e adinamica social inclusiva.

Outros dados poderiam ser mencionados, mas estes ja elu-

cidam 0 que se pretende chamar atencao: urn trabalho como 0

de Maria Luisa Santos Ribeiroe de grande valia no quadro da

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producao historiografica, Nao ha professor de Historia da Edu- (

cacao que nao careca de uma bibliografia de apoioque 0 auxilie

a conduzir os alunos a compreensao da educacao no processo

historico, dos primordios aos tempos atuais e nas suas .multiplas

manifestacoes. Mais do que isso, esse trabalho oferece uma clara

referencia metodologica atraves da qual e possivel compreender

como se dao as determinacoes socio-politicas que van configu-

rando a educacao em diferentes moment os .historicos.

E sabido que a maioria dos alunos chega aos bancos univer-

sitarios carecendo de informacoes sobre diferentes periodos da

nossa Historia: sem elas, nao ha referencia metodologica que

resolva a questao da compreensao da Historia. Quanto a isso, a

cada capitulo, 0 livro da Maria Luisa e "metodicamente informa-

tivo". E claro que 0 professor ou 0 pesquisador que dyer como

objetivo 0maior aprofundamento de determinado periodo e/ou

determinado aspecto da educacao devera, necessariamente, so-

mar outras leituras para as quais a bibliografia oferece exce-

lentes pistas.

Para finalizar, esse trabalho e urn born exemplo de como as

intencoes pedagogicas de urn autor podem e devemser concilia-

das com as intencoes de clareza e rigor.

10

Mirian Jorge WardeSetembro de 1986

Prefacio

a edlcoode 1979

j

Estas consideracoes nos pareceram necessanas apos as dis-

cussoes, coordenadas por mim na UFSCar e pela colegaMirian

1. Warde na PUC-SP, efetuadas com alunos de mestrado em Edu-

cacao,

A primeira consideracao a fazer e a de que este estudo tern

na organizacao escolar seu ponto de maior atencao, semcontu-

do esgota-lo. Isto porque a nossa atividade ITO magisterio exigia

uma abordagem que abrangesse umperiodo muito extenso: da

Colonia (1549) ao inicio dos anos 60 (1963).

Desta forma, 0que se tentou captar foram os fundamentos

da organizacao escolar brasileira., Fundamentos estes indispensa-

veis para estudos mais detalhados sobre este mesmo assunto,

que, acredito, estao ou estaraosendo feitos por urn significativo

grupo de pessoas said as dos curs os de pos-graduacao em Educa-

,cao, Por outro lado, como a Historia da Educacao Brasileira nao

se esgota ai, mesmo com tal detalhamento, tais estudos deverao

ser integrados a uma serie de outros que certamente ja foram

ou estao sendo realizados, centrando a atencao em outros as-

pectos.

Muitos acham ate que pelo fato de a escola atender basica-

mente aos interesses da minoria da populacao 0 seu estudo per de

em significado.

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Quanto is to, gostaria de' ressaltar que, a meu ver, inte-

grando-se ao. demais, 0 estudo tern razao'de ser, porque apesar

de este tipo de' escola, bern como a importancia social dada a

ela, serem frutos de uma visao burguesa da realidade, pelos pro-

prios mecanismosde dominacao (persuasao) acabarn por se tor-

nar uma aspiracao da maioria. E como tal mecanismo nao dis-

pensa, pelo contrario, ate exige'a dissimulacao desta mesma pra-

tica, a evidencia de taldissimulaeao pela demonstracao historica 'da impossibilidade de concretizacao do discurso liberal na edu-

cacaose faz necessaria.

Uma segunda consideracao e a de que quando fiz uso da

categoria da dependencia, a minha preocupacao era a de buscar

osmotivos pelos quais a dominacao capitalista provoca, em par,

ses perifericos como 0 Brasil, uma exploracao bern maior entre

dominantes (em numero bastante reduzido) e dominados. Ex-

ploracao esta que contribui, em·hltima instancia, para a suavi-

zacao desta mesma contradicao (dominante X dominados) nos

paises capitalistas centrais,

Em terceiro lugar, este trace de dependencia, Hmitando as

possibilidades, tanto infraquanto superestruturaisda sociedade

brasileira, acaba por reforc;arainda mais a funcao dissimuladora

da tdeologia liberal, dada a impossibilidade de. concretizacao des-

tes ideais mesmo no que diz respeito a parcela conseguida nospaisescentrais do sistema capitalista. Dai a necessidadede enten-

der e constatar concretamente como este processo esta se desen-volvendo no Brasil. . .,

Maria Luisa Santos RibeiroSao Paulo, janeiro de 1979

12

IntrodUc;aO

Ao elaborar este trabalho, alguns principios teoricos se re-

velaram fundamentals para .a.propria estruturacao que ele aca-

bou tendo. Aqui eles serao tratados .em suas linhas gerais, paratomar mais precisa a compreensao do significado de varies ca-

pitulos. 0 Capitulo III de Introduciio a historia da-educaciiabrasileira, (Ribeiro, 1978), bern como a bibliografia final aqui

inserida, contribuirao para resolver dificuldades que indiquem

a necessidade de outras consultas.

1. Considera~oes necessarias :

a) Visao de totalidade - Aceita-se que para se chegar a uma

cornpreensao do fenomeno social - organizaciio escolar brasi-.leira -'- ha que se ter uma visao do contexto social - sociedade

brasileira - do quale partee com 0 qual estabelece uma rela-

c;ao permanente.

Mas nao se trata de buscar uma compreensao profunda da

sociedade brasileira para depois dirigir a atencao para a orga-

nizac;ao escolar brasileira.

o necessario e que se tenha sempre presente esta relacaoese estabeleca urn.movimento permanente entre os dois poles -

organizacao escolar e sociedade brasileira-, fazendo" com que

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seja garantido que 0centro de preocupacoes se mantenha na

organizacao escolar e que esta indique 0 que e indispensavelsaber sobre a sociedade e quando e indispensavel,

Assim sendo, parte-se de uma visao, mesmo que superficial,

da sociedade brasileira, util ao inicio do estudo de sua organi-

zacao escolar. No decorrer desse estudo, ficara evidente 0 que'estd sendo possivel empreender 'com aquele conhecimento super-

ficial, bern como 0que niio estd.Este, 0 que nao esta sendo pos-sivel compreender, indicara ao investigador 0 que deve ser estu-

dado do contexto social, a fim de que a compreensao se torne

possivel e possibili te novas indagacoes. .

Tem-se, assim, urn aprofundamento constante nainvestiga-

c;:aoda sociedade brasileira, exigido pelo aprofundamento conco-

mitante da investigacao sobre a organizacao escolar brasileira.

b) N090es sobre estrutura social - Aceita-seque para se che-

gar a uma. compreensao do fenomeno social-- organiza9iio es-colar brasileira - ha que se ter em mente ser ele urn dos ele-

mentos de superestrutura que, em unidade com seu contrario -

infra-estrutura -, formam a estrutura social.

Esta infra-estrutura, entendida como 0modo do ser humano

produzir suaexistencia, esta em constante mudanca com vistas

a urna eficienciacada vez.rnaior. Estas mudancase que pressio-

narao, de forma determinantevas respectivas mudaricas nos ele-

mentos que compoemasuperestrutura, que esta sendo enten-

dida como a unidade entre dois elementos contraries que sao

as ideias e as instituicoes.

Diante disso, a organizaciio escolar, enquanto uma institui-

<;:aosocial criada pela e para a sociedade como urn dos. 'instru-

mentos de transmissao de cultura enquanto bern de consumo,como Iembra Alvaro Vieira Pinto (1969:124) * e um elementode superestrutura, como ja foi dito, e, portanto,determinadopela injra-estrutura:

Impoe-se, desta forma, a visao de totalidade, ja que 0 deter-

minado nao se compreende sem a referencia ao determinante.

* Dada a importancia dosconceitos at tratados e de grande valia a leituradeste capitulo, Intituladoiv'I'eorla da cultura",

14

0 • • •

Tal'aeterrn{nafiio,' no entanto.ozao e absoluta,uma vez que

a superestrutura tern refletida em si acontradicao social funda-

mental existente na infra-estrutura- conservacao X transfer-

ma<;:ao- de modo que, mesmo tendo como funcao contribuir

para 0 desenvolvimentode uma infra-estrutura dominante, com-

.porta duas outras possibilidades. De"urn lado, comport a uma

certa resistencia dasantigas ideias e instituicoes, de forma que a

substituicao e inevitavel, mas nao imediata, de outro, comporta

uma certa critica as proprias caracteristicas da infra-estrutura

dominante.

Desta forma,. a infra-estrutura age sobrea superestrutura,

determinando mudancas correspondentes, e esta age sobre aque-

la ao retardar ou acelerar 0 processo de mudanca original.

c} A mudanca e as suas causas - Aceita-se ser causa das mu-

dancas pelas quais passam os .fenomenos esta relacao com ele-

mentos contraries, ja .apontada anteriormente ..Mas a coruradi-:9'0.0,causa primeira da mudanca, naoe estaexterior mas a 'int~::'··-

rior, isto e, aquela que cada 'elemento comporta dentro de si. .

No caso daorganiza~iio escoiar,a contradicao existente-e

resultado de ela ter que. atender a uma detetminada clientela(quantidade}e atende-Ia bern (qualidade).

0, presente trabalho e decorrencia de uma sene de indaga-

<;:oes,motivadaspor esta contradiciio entre quantidade e quali-

dade, como por exemplo:

:_ A quem a organizacao escolar .brasileira deve atender?

- A todos em idade escolar,

- Tematendido a todos-em idade escolar?-.Nao.

Como tern que atender a este todo?

Tern que atender bern.

Tern atendido bern, mesmo nao atendendo a este todo?

- Nao.

Comoatender a todas estas pessoas e atende-las bern?

I I

15

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A investigaciio historica se impoe diante danecessidade de

solucionar-se o problema retratado .nesta ultima .indagacao, E .

ela que dara.as raizes do niio-atendimento satisjatorio da escolabrasileira tanto ern quantidade como em qualidade.

d) A relaciio entre contrdrios-Aceita-se que esta se de nao

de forma direta, mas pela mediaciio de outros elementos, ou

mesmo de urn dos aspectos contraries interiores a cada elemen-

to em relacao ao outro.

Neste trabalho sera feito urn estudo considerando-se dois

elementos mediadores na soluciio .da contradiciio - quantidadeX qualidade - presente na organizacao escolaribrasileira, que

sao os recursos financeiros e a teoria educacional. .

Como 0 fenomeno social que nos interessa (organizacao es-

colar brasileira), os elementos mediadores nao podem ser tra-

tados-de forma isolada. A insuficiencia ou nao destes so pode

serentendida quando se fizer referencia ao contexto do qual

resultam.··

E assim que, no. estudo davorganizacao escolar brasileira,atentando-se para sua contradicao interna e para seus elementos

mediadores, partiu-se da constatacao do fatode ter a sociedade

brasileira, desde sua origem, uma vinculacao com 0 sistema eco-

norrlicQ,politico e social capitalista mundial. Apresenta-se como

uma sociedade periferica (dependente) e nao -central (hegemo-

nica), nao tendo, ate nossos dias, superado a dominacao externa,

isto e, a submissao dos interesses da populacao brasileira (inter-

nos) em favor dos da populacao de determinados outros paises.(externos). .

Para que tais interesses extemos sejam atendidos, constitui-

se uma divisao intema da populacao brasileira, onde se contra-

poem os interesses da maioria da populacao aos de uma minoria

privilegiada, intermediaria no processode atendimento dos inte-

resses externos.

Quanto a este trace de dependencia que permeia toda a so-

ciedade brasileira, tem-se que assinalar duas coisas:

a) Este traco nao deve ser entendido de forma absoluta. As

medidas tomadas com 0 objetivo de.manter a maioria em estado

16

de submissao.i.mesmo que em sua forma camuflada, pelas pri-

vacoes, pela sobrecargadecorrente, vao sendo pouco a pouco per-

cebidas no seu verdadeiro sentido.Processa-se, vagarosamente,

uma tomada de consciencia do fenomeno da •.dominacao e a con-

quista paulatina de sua superacao. E .neste sentido que se diz

que a dependencia (como qualquer elemento) gera 0 seucon-

trario -a independencia - (ou,em outraspalavras, aemanci-

pacao, a autonomia) e com ele estabelece umaunidade- dialetica

que, superada por mediacao, como ja foi assinalado, gera outra

contradicao superior em quantidade e qualidade.

b) Este tracode dependencia. limita as possibilidades t~nto

infra quanta superestruturaisda sociedade brasileira. l,

Desta forma ira comprometer, is to .e, tornar insuficientes os

elementos mediadores da contradicao apontadana organizacao

escolar.

Os recursos financeiros necessaries a satisfacao das necessi-

dades escolares, a exemplo do que ocorre nas demais areas na

sociedade brasileira, nao estarao

adisposicao, Isto porque a

capitalizacao se faz em beneficio apenasde alguns, tanto interna

como externamente.

lI

rI

~i

Por outro lado, a teoria. educacional, 0 outro. elemento me-

diador, ficacomprometida pelo fenomeno de -transplante cul-

tural que nada mais e que 0 reflexo, a nfvel da superestrutura,

da dependencia earaeterizada na infra-estrutura (processo de ca-

pi talizacao). Este fenomeno e urn mecanismo de importacao de

ideias, negativas pelo fato de resultar num atraso constante de

quem eonsome em relacao a quem eria, levando, de acordo com

a intensidade deste transplante, a urn comprometimento da pro-

pria acao criadora.

2. Justifica~ao da periodiza~ao

A divisao dos periodos foi feita seguindo 0 criterio de desta-

car os instantes de relativa estabilidade dos diferentes .modelos

- politico.. economico, social - dos instantes de crise mais

intensa eque causaram as substituicoes dos modelos referidos.

Estes, sob 0 ponto de vista educacional, sao bastante significati-

vos dada a efervescencia das ideias que apontam as deficiencias

17

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existentes, bern como propagam novas formas de organizacao

escolar. Significativos .tambem, pelas experiencias concretas que

possibilitam.

L" Periodo: 1549 a 1808 (Consolidacao do modelo agrario-

exportador dependente).

2.° Periodo: 1808 a 1850 (Crise do modelo anterior e inicio

da estruturacao do modelo seguinte).

3/' Periodo: 1850 a 1870 (Consolidacao do modelo agrario-

comercial exportador dependente). .

4.° Periodo: 1870 a 1894 (Crise do modelo anterior e tenta-

tiva de incentivos a industrializacao). .

5.° Periodo: 1894 a 1920 (Ainda 0modelo agrario-comercial

exportador dependente).

6.° Periodo: 1920 a 1937 (Crise do modelo anterior e inicio

da estruturacao do seguinte).

7.° Periodo:1937 a 1955 (0 modelo nacional-desenvolvimen-

tista e a industrializacao).

8.° Periodo: 1955 a 1968 (Crise do modelo nacional-desen-

volvimentista de industrializacaoe .implantacao do modelo "asso-

ciado" de desenvolvimento economico).

1~Periodo

1549 a 1808

Consondocoo do modeloagrario-exportador dependente

1. A fase jesuitica da escolariza~io colonial

Diante das dificuldades encontradas com 0 regime ode capi-tanias hereditarias I, e criado 0Governo Geral. Este eo primeiro

representante do poder publico na colonia, que tinha como obri-

ga~ao nao substituir, e sim apoiar as capitanias, a fim de que 0

processo de colonizacao conseguisse urn desenvolvimento normal..

Entre as diretrizes basicas constantes no Regimento, isto e,

na nova politica ditada entao por D. Joao III (17-12-1548), e en-

contrada uma, referente a conversao dos indigenas a fe cat6licapela catequese e pela instrucao .

.Em cumprimento a isto, chegam, com Tome de Souza, qua-

tro padres e dois irmaos jesultas.xchefiados porManoel da N6-

brega (1549). .

Luiz A. de Mattos destaca a importancia deste item dos "Re-

gimentos", dizendo que

1. Como se sabe, 0 rei de Portugal, no ana de 1532, decidiu adotar 0 regi-

me de capitanias hereditarias no Brasil. De 1534 a 1536 sao criadas catorze

capitanias com 0 objetivo de tornar possivel 0 povoamento, a defesa, bem-eomo

a propagacao da fe cat6lica. 0 sistema de doacao a particulates parecia 0 mals

adequado .diante da incapacidade de ErarioRegio atender as vultosas despesas

da -colonizacao.

18 19

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"dele dependeria (,' ,) 0 exito da arrojada ernpresa colonizadora; pois

que, somente-i.pela aculturacao s istematica e intensiva do elemento indi-

gena aos valores espirituais e morais da civilizacao ocidental e crista e

que a colonizacao portuguesa poderia lancar raizes definitivas ( , , , )"

(Mattos, 1958: 31),

Percebe-se, porestes poucos fatos, que a organizacauesco-

lar no Brasil-Colonia esta, como nao poderia deixar de ser, es-

treitamente vinculada a politica colonizadora dos portugueses.

Antes disso, em decorrencia do estagio primitive em que se

encontravam as populacoes indigenas, a educacao nao chegara

a se' escolarizar. A participacao direta da crianca nas diferentes

atividades tribais era quase que suficiente pra a formacao neces-

saria quando atingisse a idade adulta.

Diante desta vinculacao constatada, uma questao precisa ser

resolvida: qual 0motivo que levou a Colonizacao? Ou emoutras

palavras: qual a funcao da colonia e, conseqiientemente, dapo-

pulacao colonial? Precisa ser resolvida, porque indicara nao so

a clientela como 0 objetivo da educacao organizada a partir dai.

Fernando A. Novaisdiz que a politica colonial

"se apresenta como urn tipo particular de relacoes politicas, com dois

elementos: urn centro de decisao (metr6pole) e outro (colonia) subordinado,

relacoes atraves das quais se estabelece 0 quadro institucional para que

'a vida economica da metropole seja dinamizada pelas ativ idades colonials"

(Novais, 1975: 7, grifo nosso).

Este tipo de dinamizacao era necessario para impulsionar a

passagem do capitalismo mercantil ao capitalismo industrial.

No casu brasileiro, a metropole a ter sua vida dinamizada

era Portugal ql;le, por problemas a urn tempo internos e exter-

nos, antecipou-seem relacao ao primeiro passo, mas naochegou

a dar 0 segundo.

Os comerciantes portugueses (burguesia mercantil), enquan-

to participantes dopoder politico representado pela centraliza-

~ao monarquica, conseguida ja no seculo XII, desempenham pa-

pel pioneiro na empresa de expansao naval. Eassim que, na

primeira metade do seculo XV; procuraram lugares.rcomo a cos-

taocidental daAftica; on-de nao ..tivessemcoI1cprrerites, e em

meados do mesmo seculo planejaram atingir'oOriente contor-

nando 0 continente africano. A tomada de posse do ternitorio

brasileiro e sua colonizacao sao atitudes inseridas em tal con-

texto.

Diante da questao formulada anteriormente, deve ser desta-

cado, como sintese das consideracoes feitas, que 0 objetivo dos

colonizadores era 0 lucro,e a funcao da populacao colonial era

propiciar tais lucros as carnadas dominantes metropolitanas.

No entanto, para 'que a empresa funcionasse, €stes lucrosnao poderiam se concentrar exclusivamente nos grupos externos

citados.Uma parte, pequena, e certo, deveria permanecer na Co-

lonia 'com a camada que dirigia internamente a atividade pro-

dutiva.

o mecanismo era 0seguinte:

"(, , ,) detendo a exclusividade da compra dos produtos coloniais,os mer-

cadores da mae-patr ia podiam deprimir na coloniaaeus precos ate ao nivel

abaixo do qual ser ia impossivel a cont inuacao do processo produtivo, isto

e, tendencialmente ao nivel dos custos da producao; a revenda na metro-

pole, ondedispunham daexclusividadeda oferta, garantia-lhes sobrelucros

por dois lados - na comprae na venda" (Novais, 1975: 21).

a rapido esgotamentodas matas costeiras de pau-brasil, a

impossibilidade da popula~ao indigena produzir algo que inte-

ressasse ao mercado europeu, a possibilidade da existencia de

ouro,bem como 0 perigo de usurpacao do territorio por outra

potencia, fizeram com que o governo portugues abandonasse a

orientacao de colonizar atraves da ocupacao

"com agentes comerciais funcionarios 'e militares para a defesa, organi-

zacao em simples feitorias dest inadas a mercadejar com os nat ivos e servir

de art iculacao entre rotas mari timas e os terri tories cobicados'tj Prado Jr.,

1969: 15-6). \?

Obrigatorio se tornou empreender a colonizacao em termos

de povoamento e cultivo da terra. Os interessesdas camadasdominantes portuguesas, e em especial do componentecapita-

lista-mercantil, e que iriam determinar, como determinaram, 0

produto, a quantidade e a forma de ser produzido, bern como os

elementos dispostos e em condicoes de produzir.

Quanto a este ultimoaspecto, constata-se a vinda de elemen-

tos de pequena nobreza para organizar a empresa colonial>

A natureza desta tarefa (producao de mercadorias), os ris-

cos a que estavam sujeitos e a necessidade de capital .inicial ex-

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cluiram, a urn tempo, as elementos da burguesia mercantil, os

da alta nobreza e os servos.

Ese os que se dispuseram vieram para organizar, necessa-

rio se fez a escravizacao de quem .trabalhasse a terra: os indios

e.os .negros. Estes vieram satisfazeraos interesses da burguesia

mercantil portuguesa, porque possibilitavam a producao a baixo

custo e porque 0 escravo, enquanto mercadoria, era fonte de

lucre, ja que era ela (burguesia) que transportava.

E assim que a grande producao acucareira foi a unica base

da economia colonial ate meados do seculo XVII.

Num contexto social com tais caracteristicas, a instrucao, a

educacao escolarizada so podia serconveniente e interessar a

estacamada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes)

que, segundo 0modelo de colonizacao adotado, deveria servir de

articulacao entre os interesses metropolitanos e as atividades co-

loniais.

Masse for retomado 0 item dos "Regimentos", ver-se-a que

a clientela citada explicitamente foi a indigena, atraves da cate-quese einstruciio. .

Como compreender isto? Caberia aos jesuitas apenas a edu-

cacao da populacao indigena? A quem caberia a educacao dos

outros setores da'populacao? Outras ordens religiosas ou leigos

deveriam disto se incumbir?

Os subsidios recebidos e a obrigacao dai decorrente tambem

sugerem as ideias colocadas em forma de questao, ja que os

jesuitas deveriam fundar colegios que recebiam subsidies do Es-

tado portugues relativos a missoes, Dessa forma, ficavam •juri-

dicamente obrigados a formar gratuitamente sacerdotes para a

catequese.Mas esta determinacao, que e mais especifica porque trata

ja da forma de financiamento da obra, parece restringir osobje-

tivos ao ambito da catequese: "formar gratuitamente sacerdotes

para a catequese".

Por outro lado, ao analisar-se 0 primeiroplano educacional,

elaborado pelo padre Manoel de .Nobrega.rpercebe-sea intencao

de catequisar e instruir os .indigenas, como determinavam os

"Regimentos": percebe-se, tambem, a necessidade de incluir os

2 2

filhosdos colonos, umavez que, naquele instante, eramos jesui-

tas. os unicos educadores de.profissao que contavam com signi-

ficativo apoio real na colonia.

E assim que planejara "Recolhimentos, nos quais se educas-

sem os lIlamelucos, osorfaos e os filhos dos principais (caci-

ques) da terra ( ... )" alem "dos filhos dos colonos brancos dos

povoados( .. )" em regime de externato (Mattos, 1958.:84-5).

o plano de estudos propriamente dito foi elaborado de for-ma diversificada, com 0 objetivo de atender a diversidade de

interesses e de capacidades. Cornecando pelo aprendizado do

portugues, incluia 0 ensino da doutrina crista, a escola de ler e

escrever. Dai em diante,continua, em carater opcional, 0 ensino

de canto orfeonico e de musica instrumental, e uma bifurcacao

tendo em umdos lados 0 aprendizado profissional e agricola e,

de outro, aula de gramatica e viagem de estudosa Europa.

Nao tinha, inicialmente, de modo .explicito, a intencao de

fazer com que 0 ensino profissional atendesse a populacao indi-

gena e 0 outro a populacao "branca"exclusivamente.

"Dentre os de maiores habilidades", afirma Luiz A.. deMattos (1958: 86), "contava tambem Nobrega recrutar as voca-

90es sacerdotais indigenas .(... )",

Mas.como cedo perceberam a nao-adequacao do indio para

aformacao sacerdotal catolica.iestapercepcao.nao deve ter dei-

xado de exercer influencia naproposicao de urn ensino profissio-

nal e agricola, ensino este que parecia a Nobrega imprescindivel

para formar pessoal capacitado em outras funcoes essenciais avida da.colonia.

o fato de este plano ter encontrado serias resistencias a par-

tir de 1556, ana em que comecam a vigorar as "Constituicoes da .

Companhia de Jesus", exigindo de Nobrega muito empenho atesua morte, em 1570,indica que ele devia entrar, de alguma forma,

em choque com a orientacao da propria ordem religiosa.

Isto e constatado pelo fato de o plano que vigora durante

o periodo de 1570a 1759excluir as. etapas iniciais de estudo, 0

aprendizado docanto,da musica instrumental, profissional e

agricola.

Graficamente isto seria representado damaneira como re-

presentamos no verso:

"

- f

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Plano de Estudo

de Nobrega

I-~------------'! canto-orfeonieo i~--';"--';;-·-- I

,------- ----.------.: muslca instrumental I, I

~ - - - - - - - - - - - - - - - - ~

sional e agricola

,-----------.--------

: viagem a Europa :I ,1 --------------

24

do Ratio

r-_------.;.. -----.----.

! viagem it Europa :. _ - . .. .J

Nota-seque a orientacao contida no Ratio, que eraaorg':l-nizacao e plano de estudos da Companhiade Jesus publicado em

1599, concentra sua programacao nos elementos da cultura euro-

peiavEvidencia desta forma urn desinteresse au a constatacao da

impossibilidade de "instruir" tambem 0 indio. '

Era necessario concentrar pessoal e recurs os em "pontos es-

trategicos", ja que aqueles eram reduzidos. E tais "pontes" eram

os filhos dos colonos em detrimento do indio, os futures sacer-dotes em detrimento do leigo, justificam os religiosos.

Verifica-se, desta maneira, que os colegios jesuiticos foram ,

o instrumento de formacacrla elite colonial.

o -plano legal (catequisar einstruir os indios) e 0 plano real

se distanciam, Os instruidos seraodescendentes dos colonizado-

res. Os indtgenasseraoapenas catequisados.

A catequese, do ponto de vista religioso, interessava a . Com-panhia como fonte de novos adeptos do catolicismo, bastante

abalado com 0movimento de Reforma. Do ponto de vista econo-

mico, interessava tanto a ela como ao colonizador, a medida quetornava 0 indio mais docile, portanto, mais facil de ser apro-

veitado como mao-de-obra.

A educacao profissional (trabalho manual), sempre muito

elementar diante das tecnicas rudimentares de trabalho, era con-

seguida atraves do convivio, no ambiente de trabalho, quer de

indios, negros ou mesticos que formavama maioria de popula-

cao colonial.

A educacao feminina restringia-se a boas maneiras e prendas

dornesticas.

A elite era, preparada para 0 trabalho intelectualsegurido

urn modele religioso (catolico), mesmo.que muitos de seus mem-

bros nao chegassem a ser sacerdotes. Isto porque,' diante do

apoio real oferecido, a Companhia de Jesus se tornou a ordem

dominante no campo educacional. Isto, por sua vez, fez com que

osseus colegios fossem procurados por muitos que nao tinham

realmente vocacao religiosa mas que reconheciam que esta era

a unica via de preparo intelectual. Haja ~ista que, em determi-

nadas epocas, a procura era tao maior quea capacidade, limita-

25

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da, e certo, dos colegios que chegou a causarproblemas, como

a "Ouestao dos Mocos Pardos", resolvida em 1689~. No seculo'

XVII, os graus academicos-obtidos nessasescolas eram, junta-

mente com a propriedade de terra e escravos.icriterios importan-

tes de classificacao social.

Este componente religioso da elite colonial brasileira deve

ser destacado juntamentecom seudesejo de lucro facil; ou me-

lhor, rapido e abundante. E esta vinculacao tern suas origensna

propria historia da constituicao da inacao portuguesa, onde 0

guerreiro estava, conquistando 0 seu proprio territorio, e depois

outros,contra infieis arabes, africanos e indigenas.

Darcy Ribeiro denomina Portugale suas possessoes de "Im-

perio Mercantil Salvacionista" e assim se refere aos processos

civilizatorios desse tipo: -,

"Os imperios Mercantis Salvacionistas surgem na passagem do seculo xve XVI em duas areas marginais - tanto geognifica como culturalmente

- da Europa: a Iberia e a Russia. Ambos tiraram,das energias rnobili-

zadas para a reconquista de seus territories ocupados por arabes e por

tartaro-mongois, a forca necessaria para as facanhas da sua propria expansaosalvacionista" (Ribeiro, 1975a: 133).

.E interessante notar que osmovimentos de Reforma e Con-

tra-Reforma ocorridos no inicio do seculo XVI criam 0 mesmo

"roblema no seio do cristianismo. E .assim que Portugal, entre

outras nacoes, se considera defensor do .•catolicismo e estimula

a atuacao educacional, tanto no terri torio metropolitano como

no colonial, de uma ordem religiosa que se constitui para servir

de instrumento de defesa do catolicismo e, conseqiientemente, de

ataque a toda heresia. Nesta tarefa seus membros se dedicam

por inteiro, comoguerreiros de Cristo. Inacio de Loyola; ofun-'

dador, como antigo militar espanhol, chega a imprimir direta-'mente urn regime de trabalho modelado na sua. anterior forma

de vida. .

o importante a ressaltar e que a formacao intelectual ofe-

recida pelos jesuitas, e, portanto, a formacao da elite colonial,

2. Esta "questao" surge da proibicao, por parte dos jesuitas, da matricula

e freqiiencia de rnesticos "por serem muitos e provocarem arruacas", Como

er~~escolas piiblicas. pelos subsidios que recebiam foram obrigados a read-miti-los,

26

seramarcada-por uma intensa "rigidez" na maneira de pensar

e; conseqiientemente, de interpretar a realidade.

Planejaram, eforam bastanteeficientes em suaexecucao, con-

verter, por assim dizer, seus alunos ao catolicismo,afastando-os

das influencias consideradas nocivas.E por issoque dedicavam

especial atencao ao preparo dos professores - que somente se

tornam aptos-apos os trinta anos -, selecionavam cuidadosa-mente os livros e exerciarn rigorosocontrole sobre as quest6es

a serem suscitadas pelos professores, especialmente em filosofia

e teologia. Urn trecho de uma das regrasdo Ratio diz 0 seguinte:

"Se alguns forem amigos de novidadesoude espirito demasiado

livre devem ser afastados sem hesitacaodo service docente" (in

Paim, 1967: 28).

o seu objetivo acima de tudo religioso, 0seu conteudo lite-

rario, a metodologia dos cursos inferiores (humanidades ), que

culminava com 0 movimento denorninado "imitacao, ou, seja, a

pratica destinada a adquirir 0 estilo literario de autores classi-

cos ('. . . )" (Larroyo, 1970: 390), e ados cursos superiores (filoso-

fia e teologia), subordinada ao "escolasticismo", faziam com que

nao so os religiosos de profissao como os intelectuais de forma

geral se afastassem .nao apenas de outras orientacoes religiosas

como tambern do espirito cientffico nascente e que atinge, du-

rante 0 seculo XVII,uma etapa bastante significativa. Isto por-

que a busca de urn novo metodo de conhecimento, metodo este

que caracteriza a ciencia moderna, tern origem no reconhecimen-

to das insuficiencias do metodo escolastico medieval, adotado

pelos jesuitas.

Este isolacionismo, fruto nao apenas desta orientacao edu-

cacional como tambem do simples fato de sercolonia, e, enquan-

to tal, subordinada a urn monopolio que e tambem intelectual,

no casu do Brasil teve conseqiiencias bastante graves para a vida

intelectual, porque a propria rnetropole portuguesa encontrava-

se afastada das influencias modernas.

A formacao daelite colonial em tais moldes adequa-sequa-.

se que completamente a politica colonial, uma vez que:

27

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a) a 'orientacao universalista jesuitica 3 .baseada na literatura

antiga e na lingua latina 4;

b) a necessidade de complementacao dos estudos na metro-

pole (Universidade de Coimbra) 5 e

c) orprivilegiamento do trabalho intelectual em detrimento

do manual afastavam os alunos dos assuntos e problemas rela-

tivos a realidade imediata, distinguia-os da maioria da popula-

gao que era escrava e. iletradae alimentava a ideia de que 0

mundo civilizado estava "Ia fora" e servia de modelo. 'Os "letra-

dos" acabavam por rejeitar nao apenas esta maioria, e exercer

sobre ela umaeficiente dominacao, como tarnbern a propria rea-

lidade colonial, contribuindo para a manutencao deste trace de

dominacao extern a e nao para sua superacao.

FOi.dito que a adequacao era quase completa porque este

mesmo principio universalista visava formar 0 cristae (catoli-

co) sem vinculacoes especificamente declaradas com nenhum go-

verno civil. Isto, acrescido do fato de que os melhores alunos

eram os escolhidos para cursarem Teologia e tornarem-se futu-

ros rnembros da' Companhia ide-Jesus, fazia com que a maior

beneficiada fosse, em realidade, a propria ordem religiosa.

3,.. Os : jesuitas seguiim a. orientacao contida no Ratio qualquer que fosse

a regiao onde atuassemsA regra 34 do Provincial deterrninava: "como, porem,

na variedade de lugares, tempos e pessoas pode ser necessaria alguma diversidade

natordem e no iempoconsagrado aos estudos, nas repeticoes, disputas e outros

exercicios 'e ainda nas .ferias, se julgar conveniente, na sua .Provincia, alguma

modificacao .para maior progresso nas letras, inforrne 0 Geral para que se

tomem as determinacoes acomodadas a todas as necessidades, de modo, POYl!n1,

que se proximem 0 mais possivel da organizac iio geral dos nossos estudos"

(Franca, 1960: 132, grifo nosso).

4. 0 que realmente foi organizado no Brasil foi 0 curso de hurnanidades,

isto e, osestudos menores, que se compunham de quatro series de gramatica

(assegurar expressao clara e exata),. uma de humanidades (assegurar expres-

sao rica e elegante ) e urna de retorica (assegurar expressao poderosa e con-

vincente).

A escola ge lere escrever existiaexcepcionalmente nos. colegios como ocasiao

de que alguns alunos fossem introduzidos nessas tecnicas. indispensaveis ao

acornpanhamento do curso de humanidades, 0 caracteristico da epoca era que

elas fossem adquiridas dentro das proprias farnilias dos senhores de engenho,

geralmente com os tios letrados. .

. 5. No que diz respeito aos cursos posterioresao de humanidades, no Brasil

foram organizados alguns visando a formacao dos padres catequistas.

28

A adocao daorientacao de.administracaodos bens materiais

con tid a nas "Constituicoes" e mais uma indicacacde como esta

uniao entre 0governo portugues e os jesuitasfoi conduzidaem

beneficio maior destes ultimos. Isto "levou posteriormente a urn

choque, culminando com a expulsao da Companhia de Jesus -d e

Portugale do Brasil,em 1759.

No plano de Nobrega, havia a proposicao de criacao de con-

frarias para sustento da clientela dos Recolhimentos, que teriamnos missionaries os diretores espirituais e docentes enos leigos

os administradores. dos hens materiais. No das "Constituicoes",

nao so se proibia a criacao destes Recolhimentos e 0 atendimen-

to de sua clientela, como ja foi discutido, como .tambem ficava

determinado que os bens materiais deveriam permanecer vin-

culados a Companhia de Jesus. E estes bens eram basicamente

conseguidos com aaplicacao dos recurs os resultantesdo "Pa-

drao de Redizima", colocadoem execucao a partir de 1564. Isto

equivale a dizer que, a partir dai, 10% de toda arrecadacao dos

dizimos reais (impostos), em todas as capitanias da colonia e

seus povoados, ficavam para sempre vinculados a . manutencao e

sustento dos colegios jesuiticos.

Alem disso, seria interessante destacar que as missoes jesui-

ticas .foram a base da economia florestal arhazomca durante a

primeira metade do seculo XVII, advindo dai grande lucro.

A importancia social destes religiosos chegou a tal ponto,

que se transformaram na imica forca capaz de influir no domi-

niodo senhor do engenho. Isto foiconseguido nao so atraves

dos colegios, como do confessionario, do teatro e, particularmen-

te, pelo terceiro filho, que deveria seguir a vida religiosa (0primeiro seria oherdeiro, 0 segundo, 0 letrado).

O. numero de estabelecimentos que a ordempossuia quando

de sua expulsao (1759) varia segundo os autores. Para Tito Livio

Ferreira eram "vinte Colegios, doze Seminaries, urn Colegio e

urn RecolhimentoFeminino ( .... )" (Ferreira, 1966: 218). Para

Fernando de Azevedo eram "36 residencias, 36 missoes e 17 'co-

legios e seminaries, sem contaros seminaries menorese as esco-

las de ler e escrever ( ... )"(Azevedo, 1944: 312).

29

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2. A Iasepombalina daescolariza~ao •colonial

Como ja foi lembrado no item anterior, a politica colonial

objetivava a conquista de urn capital necessario a passagem da

etapa IIlercantil para a industrial do regime capitalista. Foi dito

tambem que, por razoes internas e externas, Portugal, mesmo

tendo se antecipado em relacao a primeira etapa, nao chegou asegunda.

A nacaoque -Iidera este processono transcorrerdos seculos

XVI ao XIX e a Inglaterra.Esta passa a ser beneficiada pelos

proprios .Iucros coloniais portugueses, especificamente a partir

do inicio do seculo XVII. Com 0 Tratado de Methuen (1703), 0

processo de industrializacao, em Portugal e sufocado. Seu mer-

cado interno foi inundado pelas manufaturas :inglesas, enquanto

a Inglaterra secomprometia a cornprar os vinhos fabricadosem

Portugal. Canaliza-se, assim, para a Inglaterra, 0 capital portu-

gues, diante da desvantagemdos precos dos produtos agricolas

em relacao .aos manufaturados.

Desta maneira, enquanto uma metropole entrava em deca-dencia (Portugal) outra estava em ascensao (Inglaterra).

Leoncio Basbaum, ao abordar a "situacao economica epo-

litica dos pafses colonizadores", conclui que:" (: .. ) a partir do

seculo XVI e, principalmente, do seculo XVII ( ... ), a Inglaterra

era ja uma nacao burguesa e industrial" (Basbaum, 1957: 41).

Quanto a Portugal, afirma:

"Como nacao, continuava Portugal urn pais pobre, sem capitais, quase

despovoado, com uma lavoura decadente pela falta de' braces que a tra-

balhassem, pelas relacoes de carater feudalainda existentes, dirigido por

urn Rei absolute, uma nobreza arruinada,quase sem terrase sem fontes

de renda, onde se salientava uma burguesia mercantil rica mas politicamentedebil, preocupada apenasem importar e vender para 0 estrangeiro espe-

ciarias e escravos e viver noluxo e na ostentacao,

Era 0 pais uma nacao em que ofeudalismo se desagregava por si:

mesmo, sem: que se consolidasse urn capitalismo sobre os seus escombros"(Basbaum, 1957: 48-9).

o conhecimento destas distintas situacoes tern' importancia

quando se esta interessado na compreensao do processo de sub-

missao/emancipac;ao, .a medida que os objetivos coloniais tam-

bern serao diferentes e acabarao por tornar tal processo mais

30

ou menos acelerado. :E . .importante, tambem, quando se esta ana-

lisando as tentatiyasde transformacao da situacao portuguesa

.em meados do seculo XVIII, consubstanciadas nas "Reformas

Pornbalinas", que incluem 0 ambito vescolar metropolitano e

colonial.

omarques de Pombal (Sebastiao Jose de Carvalho e Melo) ,

enquanto ministro de urn monarca ilustrado (D. Jose I), orien-

ta-se no sentido de recuperar a. economia atraves de uma con-centracaodo poder reale de modernizar a cultura portuguesa.

Ouanto ao aspecto econornico, a decadencia ja pode ser cla-

ramente constatada apos 0 periodo de dominacao espanhola de

Portugal (1580-1640) fl.

"Portugal sairla arruinado da dominacao espanhola, a sua marinha

destruida, 0 seu imperio colonial esf acelado. (.,.) Estava definitivamente

perdido pa ra Portugal 0 cornercio asiatica ( . . .). Efetivamente, so lhe

sobraria 0 antigo imperio uitramarino, 0 Brasil e algumas posses na Af rica.

Estas alias so valerao como fornecedoras de escravos para 0 Brasil"

(Prado J r., 1969: 49),

Diante desta realidade, era necessario tirar 0 maior provei-to p()ssivel da colonia ..Era necessaria uma mais intensa fiscali-

zacao das atividades aqui desenvolvidas. Para tanto, 0 .aparato

miterial e humano deveria ser aumentado e, ainda mais,deve-

riaser discriminadoo nascido na colonia do nascido na metro-

pole, quando da distribuicao dos cargos: as. posicoes superiores

deveriam ser ocupadas apenas pelos metropolitarios.

Esta ampliacao doaparelho administrativo e 0 conseqiiente

aumento de funcoes de categoria inferior passou a exigir urn

pessoal com urn preparo elementar. As tecnicas de leitura escrita

se fazem necessarias, surgindo, com isto;· a instrucao primaria

dada na escola, que antes cabia a ' familia.

6, Seria interessante relembrar que em 158Q morre 0 cardeal D. Henrique,

decimo setimo rei dadinastia de Avis, sem deixar herdeiros. Trava-se entao

uma luta entre pretendentes ao trono, luta esta vencida por Felipe II da Espanha,

I em Portugal. E em fun~ao disto que. 0 periodo de 1580 a .1640. e denominado

de periodo da dorninacao espanhola em Portugal. Uma das conseqilencias desta

uniao das coroas foi a de terem os inimigos da Espanha (ingleses e holandeses)

passado a se-lo de Portugal vtarnbern. Rompia-se com isso uma tendencia de

preservacao do pais em relacao as Guerras Religiosas e de negociacoes quando

da iinvasao .do territ6r io brasileiro por outra s potenc ias: ,

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A mineracao, com os primeiros achados no final doseculoXVII, neste contexto, parecia ser urn acontecimento providen-

cial: era a solucao esperada.

Na verdade, foi apenas esperanca, ja que 0 aura brasileiro

sera, na sua parte mais significativa, canalizado para a Ingla-

terra, em decorrencia do Tratado de Methuen e, desta forma, im-

pulsionara, sim, 0 processo de industrializacao, so que 0 Ingles.

Por outro lado, este cielo economico da mineracao provocou

mudancas no Brasil que comecam ra abalar a manutencao do

pacto colonial nos moldes tradicionais. Entre elas, devem ser

destacadas as que levam ao:

- estabelecimento de vinculos entre as areas baiana, flumi-

nense, pernambucana e paulista;

- aumento do preco da mao-de-obra escrava, provocando

novo surto no trafico;

- aumento das possibilidades de alforria e de impulso arebeldia; -

- aparecimento de umacamada media e de urn mercadointerno;

<, - deslocamento da populacao colonial e da capital para 0

sul (Rio de Janeiro, 1763);

-,- descontentamento das camadas dominante e media colo-

.niais pelas discriminacoes,

A decadencia intelectual e .insti tucional, tanto na metropole

como na colonia, decorre e simultaneamente reforca este estado

economico.

Portugal chega em meados do seculo XVIII COOlsua Uni-versidade - a de Coimbra - tao medieval como sempre fora.

Afilosofia moderna (Descartes), a ciencia ffslco-matematica, os

novos metodos de estudo da lingua latina eram desconhecidos

em Portugal. 0 ensino jesuitico, solidamente instalado, continua ..

va formando elementos da corte dentro dos moldes do RatioStudiorum.

Isto tudo faz com que pelo menos boa parte da intelectuali-

dade portuguesa tome consciencia da necessidade de recupera-

3, 2

cao, produza uma literatura expressando isto e apresentando um

progr.ama de modernizacao. Esta manifesta<;:ao tern inicio ainda

no re~na,d~de D. Joao V, com 0aparecimento da Academia Real

de. H!stona (1720),. e se prolonga ate 0 de D. Maria I, com a

criacao da Academia Real de Ciencias (1779) , como assinalaLaerte Ramos de Carvalho.

. A fonte das ideias ai defendidas esta no movimento ilumi-

nista que toma corpo no final do seculo XVII e caracterizao

XV!II: A Inglaterra e 0 ce.ntro principal de 1680 a 1720, vindo,

po~ enormente, a .comperttlhar sua posicao com a Franca e de-

p O l S ACO~a Alemanha. Dai os intelectuais portugueses com tal

mflutencia serem rotulados de "estrangeirados" pelos seus opo-

nen es. -

o que Pombal tent a, enquanto ministro de Estado, e tornareste programa concreto 7.

"As reformas, entre as quais as da instrucao publica traduzem dentro

do pl~~o de re~upera~ao nacional, a politica que as cO~di~6es ec~nomicase socials do pais pareciam rec1amar" (Carvalho, 1952: 15).

E .a:sim que nao chega a representar uma ruptura total coni~ tradicao. Isto pode ser constatado pelas obras dos filosofosmsplr~dores,~omo Luis Antonio Verney e Antonio Genovesi,

onde e percebida uma rnudanca mais de conteudo que de meto-

do. Este amda se man tern bastante preso a exposicao escolastica.

P~de ser constatado, tambem, pelo fato de a Real Mesa Censoria

cnada em 1768, ter proibido, durante seu periodo de exercicio.

obras de ~ocke, Hobbes, Rousseau, Spinosa, Voltaire, etc. por~

qU7 poderiam levar 0 pais na direcao do deismo, ateismo e ma-terialismo.

Entretanto, a Companhia de Jesus e atingida diretamente e

chega a ser expulsa, em 1759. 0 motivo apontado era 0 fato deela . ser urn. e.mpecIlho na conservacan da unidade crista e da

sociedade CIVIl- razao de Estado invocada na epoca porque:

a) era detentora de urn poder econornico aue deveria serdevolvido ao governo; - ~

, 7: C~mo_ se sabe, o.absolutismo ilustrado era uma forma de governo mo-

narquico Ideal. lzada e praticadacom., conseqiiencia do movimento iluminista. Os

monarcas senam absolutos enquanto propiciassem a difusa~o d it. 'T . . . as conqu s ascienti icas e garantJssem os direitos reconhecidos pelas investiga~6es desta na-tureza.

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b) educava 0 cristae a service da ordem religiosa e nao dos

interesses do pais.

Do ponto de vista educacional, a orientacao adotada foi a

de formar 0 perfeito nobre, agora negociante; sirnplificar e abre-

viar os estudos fazendo com que um maior numero se interes-

sasse pelos cursos superiores; propiciar 0aprimoramento da lin-

gua portuguesa; diversificar 0 conteudo, incluindo 0 de natureza

cientifica: torna-los os mais praticos possiveis 8.

Surge, com isso, um ensino publico. propriamente dito. Nao

mais aquele financiado pelo Estado, mas que formava 0 indivi-

duo para a Igreja, e sim 0 financiado pelo e para 0 Estado.

o Alvara de 28-6-1759 criava 0 cargo de diretor geral dos

estudos, deterrninava a prestacao de exames para todos os pro-

fessores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia 0

ensino publico ou particular sem Iicenca xlo diretor geral dos

estudos e designava comissarios para 0 levantamento sobre 0

estado das escolas e professores.

Em cumprimento a ele, ainda neste mesmo ana foi aberto,no Brasil, um inquerito com 0 fim de verificar quais os profes-sores que lecionavam sem licenca e quais usavam os livros proi-

bides. Foram realizados concursos para provimento das catedras

de latim e retorica na Bahia, 0 que parece ter havido tambem no

Rio. Foram enviados dois professores regios portugueses para

Pernambuco.

Dai por diante, 0 ensino secundario, que ao tempo dos jesui-

tas era organizado em forma de curso - Humanidades ,passa

a se-lo em aulas avulsas (aulas regias) de latim, grego, filosofia,

retorica. Pedagogicamente esta nova organizacao e urn retro-

cesso. Representou um avanco ao exigir novos metodos e novos

livros. <

Para 0 ensino do latim, a orientacao era a de ser entendido

apenas como um instrumento de dominio da cultura latina e

admitir 0auxilio da lingua portuguesa.

8. As obras basicas de onde estas diretrizes foram tiradas sao: Verdadeiro

metoda de estudar, de Luis A. Verney; Educaciio da mocidade, de Antonio N

Ribeiro, e Gramdtica latina, da ordem dos Oratorianos.

34

Quanto ao grego (indispensavel a teologos, advogados, artis-

tas e medicos), as dificuldades deveriam ser gradual mente veri-

cidas: primeiro a leitura (reconhecer as letras, silabas, palavras),

depois os preceitos gramaticais e, por ultimo, a construcao,

A retorica nao deveria ter seu uso restrito ao publico e acatedra, Deveria tornar-se util ao contato cotidiano.

As diretrizes para as aulas de filosofia fica ram para maistarde e, na verdade, pouca coisa aconteceu. Diante da ruptura

parcial com a tradicao, este campo causou muito receio ou mui-

ta incertezaem relacao ao novo.

As dificuldades que existiram, tambem na metropole, quan-

to a falta de gente preparada e de dinheiro, se fizeram sentir no

Brasil deforma mais aguda.·

Aprimeira dificuldade teve como conseqiiencia a continui-

dade do exercicioprofissional de boa parte de professores com

formacao jesuitica. A segunda so foi minorada no reinado seguin-

te, de D. Maria I, quando se aplicaram os recursos vindos da

cobranca do "substdio literario" decreta do no governo anterior.

As transformacoes ocorridas no nivel secundario nao afetam,

como nao poderia deixar de ser, 0 fundamerital. Ele permaneceu

desvinculado dos assuntos e problemas da realidade imediata.

o modelo continuou sendo 0 exterior "civilizado" a ser imitado.

Para maior garantia, aqueles que tinham interesse e condicoes

de cursar 0 ensino superior deveriam continuar enfrentando os

riscos das viagens e freqiientar a Universidade de Coimbra re-

formada e/ou outros centros europeus.

Assim, fica evidenciado que as "Reformas Pombalinas" visa-

yam transformar Portugal numa .metropole capitalista, a exem-plo do que a Inglaterra ja era ha mais de urn seculo, Visavam,

tambem, provocar algumas mudancas no Brasil, com 0 objetivo

de adapta-lo; enquanto colonia, a nova ordem pretendida em

Portugal.

A formacao "modernizada" da elite colonial (rnasculina) era

uma das exigencias para que ela se tornassemais eficiente em

sua funcao de articuladora das atividades internas e dos inte-

resses da camada dominante portuguesa.

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Sao exemplos de "ilustrados" que, ao retornarem, tiveram

grande atuacao: Francisco Jose Lacerda e Almeida (geologo),

Alexandre Rodrigues Ferreira (medico e naturalista), Jose Boni-

facio de Andrada e Silva (rnineralogista), Silva Alvarenga. (poe-

ta); Jose Joaquim de Azeredo Coutinho (fundador do Seminario

de Olinda) 9

E . certo que esta "nova" formacao obtida por uns poucos

Ievou alguns a participarem de movimentos que chegavam apropor a emancipacao politica. Mas a base do. descontentamentonao era fruto do contato com estas teorias iluministas e sim

das mudancas que estavam ocorrendo na estrutura social brasi-

leira, citadas anteriormente, quando da discussao do ciclo eco-

nomico da mineracao, Estas .teorias, com 0. passar do tempo,

vao se caracterizar como inadequadas na interpretacao e solu-

<;aodos problemas internos, por serem resultado de circunstan-

cias especiais de determinados paises europeus, e, enquanto tal,

bastante artificiais tambem para os problemas portugueses.

No governo seguinte de D. Maria I, ocorre 0 movimento

conhecido sob 0 nome de "Viradeira", isto e, 0 combate siste-matico ao pombalismo, a tentativa de retornar a tradicao, vista,mais uma vez, como a maneira adequada de se resolverem os

problemas, problemas estes que, ernrealidade, se vao agravando,

9. 0 Seminario de Olinda foi fundado em 1800. Pretendia seguir 0 modelo

do Colegio de Nobres, criado em Lisboa em 1761. Mesmo nfio chegando a con-

cre tizar esta intencao, transformou-se no melhor colegio de instrucao secundaria

.do Brasil durante urn certo perfodo. Empregava metodos mais suaves, dava

maior atencao as matematicas e as ciencias fisicas e naturais. Foi responsavel

pela formacao de uma geracao de parocos mais voltados para oambiente urbano

. e para os rnetodos exploratorios de investigacao da natureza, parocos estes

que tiveram acentuada influencia na revolucao pernambucana de 1817. Com 0

mesmo espirito e organizada a Instituicao do Recolhimento de Nossa Senhora,

para mocas,

36

2<;'Periodo

1808 a 1850

Crise do modelo ogrario-exportodor dependentee inicio do estruturocoo do modelo

ogrario-comerciol exportodor dependente

1. A·fase joanina

A estrutura social do Brasil-Colonia ja foi caracterizada co-mo sendo organizada a base de relacoes predominantemente de

submissao. Submissao externa em relacao a metropole, submis-sao interna da maioria negra ou mestica (escrava ou semi-escra-

va) pela minoria "branca" (colonizadores). Submissao interna

refletindo-se nao so nas relacoes de trabalho como tambem rias

relacoes familiares, como lembra Gilberto Freire: da esposa em

relacao ao marido, do filho em relacao ao pai, etc.

A opressao era tao intensa, bloqueando as manifestacoes de

descontentamento, que aparentemente parecia ser aceita como

necessaria ou, pelo menos, como inevitavel,

Mas uma analise mais profunda do periodo demonstra, co-

mo afirma Nelson W. Sodre, que tal "placidez' e .aparente".

"Ha contradicoes internas, ainda, e algumas chegam a motivar lutas

dificeis, que desmentem concretamente a placidez antes referida. A mais .

antiga, que nao cessou jamais e que eclodiu em episodios violentos, nas

zonas em que 0 indigena foi objeto de escravizacao, foi a que separou

colonos de indios, refletindo-se nos atritos que separaram colonos de mis-

sionarios, Outra contradicao antiga foi a que se levantouentre escravos

e senhores de escravos: a historia corrente tern omitido de- forma siste-

matica os traces dessa contradicao ( ... ). Nos tres primeiros (seculos)

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( ... ), sucederam-se os inotins da escravaria, as resistencias, as fugas,

os atentados, as violencias, particularmente caracterizados nos episodios

dos quilombos C .. . ) .

( . .. ) Outras contradicoes surgirarn e se prolongaram, contribuindo

para desmentir a placidez aparente que foi mencionada. A contradicao

entre os consumidores, de urn lado, e os monopolizadores,de outro lade,

ficou assinalada inclusive pelossucessivos motins do sal e caracterizada

na rebeliao maranhense de Beckman. ( . . :) Tal contradicao prolongou-se

em outra: a que separou senhores de terras e escravos de comerciantes

e que teve episodic tao significativo na luta entre Recife e Olinda ( ... ),conhecida 'como Guerra dos Mascates. 0 antilusismo, que permaneceu como

trace psicologico de nossa gente por tanto tempo, encontra, assim, as suas

razoes secretas. Como as en contra na contradicao que aparece na zona

mineradora, entre os descobridores paulistas e osadventicios que chegam

da Metropole, atraidos pelo ouro, e a-que se convencionou chamar Guerra

dos Emboabas. Naquela zona encontra, alias, motivos tarnbem concretos

e contr adicao entre contribuintes colonia is e 0 fisco metropolitano, de que

a Inconfidencia Mineira e uma clarissima expressao, quer nos anseios de

Iibertacao dos espoliados quer na repressao bruta l da justica metropolitana"

(Sodre, 1973: 162-3).

Na contradicao fundamental entre submissao e emancipa-

<;:ao,0 elementoInicialmente predominante (submissao) vai sen-

do vagarosamente atingido pelo outro. Acompanhando-se esteprocesso de rnanifestacao de descontentamento, verifica-se que 0

elemento novo (emancipacao) vaise desenvolvendo a partir de

reacoes aos reflexos internos de tal contradicao: escravos negros

ou indigenas versus senhores de escravos, por exemplo, e daf sedesenvolve em direcao ao trace externo de tal contradicao.

Durante 0 periodo que ora nos preocupa (primeira metade

do seculo XIX), este trace foi primeiramente identificado com

o monopolio comercial, disto decorrendo a defesa da "abertura

dos portos"; depois com a submissao politica a metropole, eentao a defesa .da autonomia politica.

Neste processo de desenvolvimento do elemento novo da

contradicao (emancipacao ), devemos lembrar que este e resul-

tado da conjugacao de interesses internos e externos a sociedadebrasileira, decorrendo dai as proprias limitacoes.

E assim que a "abertura dos portos" tanto interessava "aos

senhores de escravos e de terras" da colonia, a boa parte da

camada media que aqui surge com a mineracao, como tambem aburguesia dominante ou em processo de dominacao nas socie-

dades industriais, especialmente a Inglaterra.

38

E certoque as razoes de tais grupos variam em parte, ape-

sar de desencadear urn mesmo acontecimento. Para os primeiros

(serihores de terras e escravos), a metropole, em conseqiiencia

de seu debilitamento no quadro internacional, nao tern condicoes

de garantirnem preco, nem mercado para a producao colonial.

A camada media, sob influencia da ideologia burguesa, defendia

o Iiberalismo economico e politico. Os grupos internacionais

(burguesia) necessitavam do aumento dos antigos. inercados,

bern como da conquista de novos.

Quando Portugal e invadido (1807) pelas tropas francesas e

a familia real e a corte se veem obrigadas a virem para 0Brasil,

sob a guarda inglesa, a conjugacao de tais interesses (grupos co-

loniais e ingleses) obriga 0principe .regente a decretar a "aber-

tura dos portos" (1808) mesmo sendo em caniter temporario,

mas que em realidade nunca chega a ser revogada.

Caio Prado Junior assitn se expressa sobre tal aconteci-

mento:"Sera pelo favor de circunstancias internacionais que este sistema de

restricao caira por terra; a comecar pelo monopolio do. comercio .e~t~rnoque e abolido em virtude de circunstancia s quase for t~lltas. Ma~, l~llClada

por ai a desagregacao do regime colonial, o. resto nao tardara. E tod~

a estrutura que nos vinha de tres seculos de formacao colonial que sera

abalada: depois do monopolio do comercio externo e dos demais privilegios

economicos, virao os privilegios politicos e sociais, os quadros. adminis-

trativos e juridicos do pais. Mais profundamente, ainda,sera abalada a

propria estrutura tradicional de cla sses e mesmo 0 regime servil. Finalmente,

e 0 conjunto todo que efetivamente fundamenta e condiciona 0 resto que

entra em crise : a estrutura econornica basica de urn pais colonial que produz

para expor tar e que se organizara , nao para atender as necessidades proprias,

mas para servir a interesses estranhos ( ... ).( . .. ) Desencadeiam-se entao as forcas renovadoras latentes que, dai

por diante, afirmar-se-ao cada vez mais no senHdo de transformarem .a

antiga colonia numa comunidade nacional e autonoma. Sera urn processodemorado ~ em nossos dias ainda nao se completou -, evoluindo com

interrnitencias e atraves de uma sllcessaode drrancos bruscos, paradase

mesmo recuos" (Prado Jr., 1969: 124).

Esta necessidade de instalacao imediata do governo portu-

gues em territorio colonial obrigou a uma. reorganizacao admi-

nistrativa com a nomeacao dos titulares dos ministerios e 0 esta-

belecimento, no Rio de Janeiro, entao capital, de quase todos .os

orgaos de administracao publica e justica, 0 que tambem ocor-

reu em algumas das capitanias. Provocou, por outro lado, 0 de-

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senvolvimento da vida urbana de Vila Rica, Salvador, Recife e

principal mente do Rio que, contando na iepoca com cerca de

45.000 habitantes, recebe mais, de 15.000 pessoas.

A partir desta nova realidade (0 Brasil como sede da Coroa

portuguesa) se fez necessaria uma serie de medidas atinentes ao

campo intelectual geral, como: a criacao da Imprensa Regia

(13-5-1808), BibliotecaPublica (1810 - franqueada ao publico em

1814), Jardim Botanico do Rio (1810), Museu Nacional (1818).Em 1808 circula 0primeiro jornal (A Gazeta do Rio), em 1812,

a primeira revista (As Variacoes ou Ensaios-de Literatura), em1813, aprimeira revista carioca - 0 Patriota.

A possibilidade de urn maior contato com povos e ideias di-

ferentes, acontecida com a "abertura dos portos", intensifica-se

a partir de 1815, principalmente com a Franca, Em 1816 e con-. t ratada uma missao de artistas franceses composta de escultor,

pintor, arquiteto, gravador, maquinista, empreiteiro de obra de

ferraria, oficial de serralheiro, surradores de peles, curtidores e

carpinteiros de carros.

Quanto ao campo educacional propriamente dito, sao cria-

dos cursos, por ser preciso 0 preparo de pessoal mais divers i-

ficado.

E em razao da defesa militar que sao criadas, em 1808, a

Academia Real de Marinhae, em 1810, a Academia Real Militar

(que em 1858, passou a chamar-se Escola Central; em 1874; Esco-

la 'Politecnica, e hoje e a Escola Nacional de Engenharia), a

fimde que atendesse a formacao de oficiais e engenheiros civis

e militares. Em 1808 e criado 0 curso de. cirurgia (Bahia), que

se instalou no Hospital Militar, e os curs os de cirurgia e anato-

mia, no Rio. No ana seguinte, nesta mesma cidade organiza-seo de medicina. Todos esses visam atender a formacao de medi-

cos e cirurgioes para 0Exercito e a Marinha.

Em razao da revogacao do Alvara de 1785, que fechara todas

as fabricas, em 1812 e criada a escola de serralheiros, oficiais de

lima e espingardeiros (MG); sao criados na Bahia os cursos de

economia (1808); agricultura (1812), com estudos de botanica

e jardim botanico anexos; 0 de quimica (1817), abrangendo qui-

mica industrial, geologia e mineralogia; em 1818, 0 de desenho

40

tecnico, No Rio, 0laboratorio de quirmca (1812) e 0curso de

agricultura (1814). Tais cursos deveriam formar tecnicos em

economia, agricultura e industria.

Estes cursos representam a inauguracao do nivel superior

deensino no Brasil .

Seria born ressaltar, em primeiro lugar,que a iexpressao

.,curso" .nao da ideia precisa, uma vez que, em verdade, muitos

correspondiama aulas, como as de economia, anatomia, etc. Em

segundo lugar que, pelas condicoes imediatistas a que teve de se

subordinar, quase que excIusivamente se condicionou 0 prosse-

guimento de tais estudos conforme duas tendencias que, de de-

terminado ponto de vista, foram prejudiciais ao seu pleno de-

senvolvimento. Tais tendencias sao: organizacao isolada (nao-

universitaria) e preocupacao basicamente profissionalizante.

Entretanto, sob urn outro ponto de vista, tais criacoes se

revestiram de urn aspecto bastante positivo: 0 de terem surgido

de necessidades reais do Brasil,coisa que pela primeira vez ocor-

ria, embora essas necessidades ainda tenham side em funcao de

ser 0 Brasil sede do reino. Isto representa uma rupturacom 0

ensino jesuitico colonial e leva a entendera opiniao de Fernando

de Azevedo: a vinda de D. Joao ocasionou para Salvador e Rio

o mesmo que 0 Seminario de Olinda para a su~ regiao. Ouantoa tal ruptura, tern que se ter sempre em vista que nao foi total,

ja que nao houve reformulacoes nos niveis escolares anteriores

e que 0 tratamento dado ao estudo daeconomia, biologia, etc.

seguia padroes mais literarios (retoricos} que cientificos.

Com isso, tem-se a origem da estrutura do ensino imperial

composta dos tres niveis. Com relacao a sequencia do primario

ao superior, pode-se afirmar 0 seguinte:

Quanto ao primario continua sendo urn nivel 'de instrumen-

talizacao tecnica (escola de ler e escrever),pois apenas tem-se

notfcia da criacao de "mais de 60 cadeiras de primeiras Ietras".

Tern sua importancia aumentada a medida que cresce 0 numero

de pessoas que veem nele, nao so umpreparo para 0 secundario

como iambem para pequenos cargos burocraticos.

Quanto ao ensino secundario permanece a ·organiza<;ao de

aulas regias, tendo sido criadas "pelo menos umas 20 cadeiras de

41

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gramatica latina". Essas cadeiras e as de matematica superior

em Pernambuco (1809), a de desenho e hist6ria em Vila Rica

(1817) e a de ret6rica e filosofia emParacatu (MG-1821) inte-

gram-se a um conteudo de ensino em vigor desdeaepoca jesui-

tica. Foram criadas tambem duas cadeiras de ingles e uma de

frances no Rio.

Fernando de Azevedo comentando os acontecimentos diz:

"a obra de D. Joao, antes de tudo ditada pelas necessidades imediatasdo que sugerida por qualquer modelo, lembra sob certos aspectos a obra

da Revolucao Francesa" (Azevedo, 1944: 327).

Essa afirmacao chama a atencao para 0 fato de a pr6pria

reacao, empreendida pelo governo de D. Maria I (1777-1792), aorientacao pombalina nao chegar a anular todas as ideias pre-

sentes nas reformas anteriores. A pr6pria rainha protege a Aca-

demia Real de Ciencias, organizada pelo duque de Lafoes (1779)

quando de volta do exilio. Alem disso, Silvestre Pinheiro Ferrei-

ra, depois de ter sido aconselhado a deixar Portugal, por ser

adepto de Locke, Condillac e rebelar-se contra as doutrinas ofi-

ciais, chega ao Brasil. em 1808 com a familia real e ascende aposicao de uma das principais figuras do governo imperial,

ocupando as pastas do Exterior e da Guerra.

2. "A fase p ol it ic am en te Bu to noma

Enquanto isto se passava no Brasil, em Portugal 0 descon-

tentamento da populacao com .relacao ao governo aumentava,

diante do abandono do territ6rio em maos dos ingleses, que se

responsabilizaram pela expulsao dos franceses, pelos excessos

cometidos por aqueles em tal desempenho, pela demora no re-

gresso da familia real e da corte, uma vez que a desocupacao do

territ6rio portugues ocorrera em 1809.

Este descontentamento leva, em 1820, a Revolucao Constitu-cionalista iniciada na cidade do Porto que, como 0nome indica,

visava uma liberalizacao do regime, um fortalecimento das cor-

tes, em detrimento do absolutismo real.

Tais acontecimen.tos nao s6 obrigam a volta do grupo che-

fiado por D. Joao VI, em 1821, como tambem contribui para 0

aceleramento do processo de emancipacao politica. Isto porque

42

as cortes portuguesas, cujos membros tinham sido escolhidossob influencia dos ideais Iiberais da citada revolucao, insistiam

numa politic a colonialista em relacao ao Brasil, que nao mais

tinha condicao de ser colocada em execucao, Impunham a perda

da categoria de vice-reino e 0"Iechamento dos portos",

Em decorrencia da situacao resultante do descontentamen-

to interno, advindo da volta da familia real e da insistencia das

novas cortes portuguesas em restabelecer 0 "monopolio comer-cial", dois grupos .vao adquirindo significacao no processo poli-

tico que acaba por levar a autonomia. Nelson W. Sodre, ao tra-tar deste assunto, denomina-os de direita e esquerda.

"- a direita pretende que a classedominante metropolitana reconheca

a classe dominante colonial 0 direito ao comercio livre, por urn sistema

tributario que a ambas satisfaca, mantida a subordinacao da Colonia aMetr6pole;

- a esquerda pretende levar a autonomia a ruptura completa com a

Metr6pole, admitindo, no campo interno, reform as que atenuem a contra-

dicao com a Inglaterra no .que se refere ao trabalho.

A proporcao que os acontecimentos se desencadeiam, a direita, que

era a rnaioria da classe dominante, passa a segundo plano e muitas de

suas forcas mudam de posicao, aceitando a ruptura com a Metr6pole;

a esquerda passa 'a primeiro plano e na medida em que pass a, abandona

o seu teor reformista. Quando as Cortes lisboetas pretendem impor a sua

vontade a Colonia, encontram aqui uma irredutivel resistencia, 0 movi-

mento pela autonomia une a classe dominante colonial, que encontra, alem

disso, 0 apoio das outras classes ou camadas sociais. Ela empreende e

rea liza a Independenc ia, mas no sentido de configurar 0 pais a sua imagem

e sernelhanca:

- Transforma a sua alianca com a classe dominante portuguesa numa

alianca com a burguesia europe ia;

- recebe desta, em conseqtienc ia:

a I iberdade de cornercio , como conquista econornica;

o aparato liberal, como forma exterior;

- resiste a pressiio no sentido de Iiquidar 0 trafico negreiro e 0t rabalho escravo, mantendo-os enquanto possivel;

- resiste a qualquer alteracao interna, mantendo 0 seu dominio abso-

luto - batendo-se por urn minimo de alteracoes formais, inclusive pela

continuacao do regime monarquico e do titular desse regime -, daire-

presentar 0 Imperio a cIasse que empreende a Independencia" (Sodre,

1973: 187).

Grosso modo, faziam parte da "direita" os elementos da

camada dominante, bem como elementos da camada media que

se colocavam a service dos 'interesses daqueles. A "esquerda" era

43

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formada basicamente por "intelectuais" da camada media, sob

influencia de ideais revolucionarios franceses, e de alguns repre-

sentantes da camada inferior.

Conseguida. a autonomia politica em 1822, se fazia necessa-

ria uma Constituicao. Da fase de projeto ate sua outorga, em

1824, comprova-se a afirmacao de Nelson W. Sodre, anteriormen-

te citada; de que 0 grupo dominante colonial recebe da burgue-

siaeuropeia "0 aparato liberal, como forma exterior". 0 projetoera inspirado na Constituicao francesa de 1791 e, em vista disto,

era muito mais radical emsuas proposicoes,

Quanto a educacao, estava presente a. ideia de urn "sistema

nacional de educacao" em seu duplo aspecto: graduacao das es-

colas e distribuicao racional por todo 0territorio nacional. E

assim que em seu art. 250 declara: "Havera no Imperio escolas

primarias em cada termo.vginasios-em cada comarca, e univer-

sidades nos mais apropriados locais" (in Silva, 1969: 192).

Ja no texto constitucional outorgado, esta ideia de "sistema

nacional de educacao" e abandonada, peste que, com relacao a

educacao, 0 art. 179 se refere nos seguintes termos: "Ainviola-

bilidade dos direitos civis e politicos dos cidadaos brasileiros,

que tern por base a liberdade, a seguranca lndividual-e a pro-priedade, e garantida pela Constituicao do Imperio", entre ou-

tras maneiras, pela "instrucao primaria gratuita a todos os cida-

daos" (n." 32) e pela criacao de "Colegios e Universidades, onde

serao ensinados os elementos das ciencias, belas artes e artes"

(ri.? 33) (Almeida & Barreto, 1967: 192).

Analisando-se a lei de 15 de outubro de 1827, unica lei geral

relativa ao ensino elementar ate 1946, mais uma vez se tern a

comprovacao dos limites com que a organizacao educacional era

encarada.

Esta lei era 0 que resultara do projeto de Januario da Cunha

Barbosa (1826), onde estavam presentes as ideias da educacao

como dever do Estado, da distribuicao racional por todo 0 terri-

t6rionacional das escolas dos diferentes graus e da necessaria

graduacao do processo educativo. Do projeto vigorou simples-

mente a ideia de distribuicao racional por todo 0 territorio na-

cional, mas apenas das escolas de primeiras letras, 0 que equi-

44

vale a uma Iimitacao quanto ao grau (so urn) e quanta aos

objetivos de tal grau (primeiras letras).

"Se a denominacao de escola primaria representaria politica e peda-

gogicamente a perrnanencia da ideia de urn ensino jnlblico suficientemente

difundido e realmente formative, a classificacao de escolas de primeiras

Ietras simbolizava, antecipadamente, a tibieza congenita que ira marcar

a maior parte dos esforcos de educacao popular. durante 0 Imperio, e ate

mesmo na Republica" (Silva, 1969: 193).

Muitos outros fatos poderiam ser citados ipara reforcar aopiniao anteriormente emitida, como, por exemplo: 0 de proje-

tos (40) e 0 de leis aprovadas que tratam da educacao (2), a

adocao do metodo lancasteriano (influencia inglesa 1), pela lei

de 15 de outubro de 1827, etc.

o que se conclui ap6s tais constatacoes e que a conquista

da autonomia politica, ou seja, 0 surgimento da nacao brasileira,

impunha exigencies a organizacao educacional. Mas, como foi

visto, as condicoes em que tal autonomia foi conseguida, resis-

tindo as alteracoes intern as, constituem series obstaculos a urn

eficiente atendimento escolar.

Tal eficiencia deveria traduzir-se num planejamento que, no

mais curto prazo possivel, reorganizasse as objetivos, os meto-

dos e 0 conteudo, a fim de que passasse a atender aos .interesses

e necessidades dos futuros cidadaos da recente nacao - o Brasil

- e implantasse uma rede escolar capaz de receber todos em

idade escolar, distribuidos nos seus diferentes graus.

J " Francisco Larroyo (1970: 620), assim explica o "metodo Iancasteriano":

"Os alunos de toda uma escola se dividem em grupos que ficam sob adirecao

imediata dos alunos mais adiantados, os quais instruem a seus colegas na lei tura,

escrita, ca1culoe catecismo, do rnesmo modo como foram ensinados pelo mestre

horas antes. Estes alunos auxi liares se denominam .monitores (donde 0 nometambern de sistema monitorial). ( . .. ) Alern dos monitores ha na classe outro

funcionario importante: 0 inspetor, que se encarrega de vigiar os monitores,

de entregara estes e deles recolher os utensilios de ensino, e de apontar ao

professor os que devem ser premiados ou corrigidos. .

( . .. ) 'Urn severo sistema de castigo e prernios mantem a discipl ina entre os

alunos. 0 mestre se assemelha a urn chefe de fabrica que tudo vigiae que

intervern nos casos dificeis. Nao da licoes senao a rnonitores e aos jovens que

desejem converter-se em professores"'.

Era este urn metoda planejado para solucionar 0 problema de educacao

popular, com uma quantidade insuficiente de professores.

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Mas, como a sociedade brasileira manteve.sua base escra-

vocrata, a clientela ja se reduzia aos filhos dos "homens Iivres".

A opcao monarquica, por seu turno, com seus padroes aristocra-

tieos, quando muito exigia a ampliacao ou "popularizacao" do

nivel elementar.

No plano economico, as dificuldades, abrandadas logo apos

a "abertura dos portos", cedovoltam a agravar-se, diante do

desequilibrio da balanca comercial pela estimulacao das neces-sidades e consumo muito alem das capacidades produtivas do

pais; diante. da concorrencia agravada com 0 fim do bloqueio

continental; diante da necessidade de substituicao da reduzida

adrninistracao colonial por urn complexo aparelho administrati-

yo, inclusive com muita gente parasitaria,

Desta forma, a regra sera 0 deficit econornico e, sem recur-

sos, 0 poder central nao tinha condicoes de se impor.

Como resolver tal problema?

A opcao feita foi a de adotar medidas que afetassem toda

a populacao e nao apenas 0 setor que se beneficiava com os lu-eros da empresa economic a nacional. Medidas estas que, em rea-

lidade, possibilitaram uma melhora da situacao apenas de ime-

diato e aparentemente.-,

Foram taxadasras importacoes, foram feitas emissoes, fo-

ram conseguidos emprestimos estrangeiros, dificeis de serem

pagos com 0 agravamento dos juros, tornando a economia bra-

sileira dependente detais capitais.

Ja que a atividade manufatureira nao tinha condicoes de

desenvolver-se devido a concorrencia inglesa, ate que urn outro

produto agricolaviesse a ser encontrado, a crise economica insta-

la-se e leva a perturbacoes sociais que marcam a historia do

Brasil durante a primeira metade do seculo XIX. Faltavam re-

cursos para que fosse possivel dar vigencia nacional ao aparelho

de Estado.

Conseqiientemente, os recurs os exigidos para uma reorgani-

zacao da estrutura escolar nao estarao disponiveis, alem do que,

diante de tao grave situacao, a educacao escolarizada nao sera

vista como setor prioritario,

46

Uma indicacao disto esta no fato de que apos a abdicacao

de D. Pedro I (7-4-1831) e decreta do 0 Ato Adicional-a Consti-tuiciio (1834), resultado do dominio de uma orientacao descen-

tralizadora (maior autonomia as provincias), e que diz em seu

.art. 10:"Compete as mesmas Assembleias .(Legislativas Provinciais) legislar: ( . .. )

Sobre instrucao publ ica e estabelecimentos proprios aipromove-la, nao

compreendendo as faculdades de medicina, os cursos [uridicos, academias

atualmente existentes, e outros quaisquer estabelecimentos de instrucao quepara 0 futuro forem criados por lei geral" (Almeida & Barreto, 1967).

o curioso e que, pelo art. 83 da Constituicao de 1824, ficava

vedado as Assembleias Provinciais a proposicao e deliberacao

sobre assuntos de interesse geral da nacao, Isto parece indicar

que a instrucao, em seus niveis elernentar e secundario, nao era

considerada como "assunto de interesse geral da nacao". Essa

orientacao continua vigorando mesmo apos a Lei Interpretativado Ato Adicional (1840).

Tais niveis de instrucao sofrem, desta maneira; as conse-

qiiencias da instabilidade politica, da insuficiencia de recursos,

bern como do regionalismo que imperava nas provincias, hoje

estados.

Nao e, portanto, de se estranhar, levando-se em considera-

gao tal contexto, que a organizacao escolar brasileira apresente,

na primeira metade do seculo XIX, gravesdeficiencias quantita-

tivas e qualificativas.

Mesmo as "escolas de primeiras letras" sao em numero re-

duzido, como limitado e 0 seuobjetivo, seu conteudo e sua me-

todologia. Elas enfrentam problemas dos quais se tern noticia

atraves dos relatorios dos ministros da epoca: era dificil encon-

trar pessoal -preparado para 0 magisteri9; havia completa falta

de amparo profissional, fazendo da carreira algo desinteressante

e nao motivando urn aprimoramento constante, a populacao era

minima.

Em 1835 (Niteroi), 1836 (Bahia), 1845 (Ceara) e 1846 '(Sao

Paulo) sao criadas as primeiras escolas normais visando uma

melhora no preparo do pessoal docente. Sao escolas de no ma-

ximo dois anos e em nivel secundario.

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Quanto a .instrucao secundaria, assiste-se a proliferacao das

aulas avulsas e particulares para meninos, sem a devida fiscali-

zacaoe unidade de pensamento. Deviam chegar auma centena

e consistiam no ensino do latim, da ret6rica, da filosofia, da geo-

metria, do frances e do comercio, Estas aulas vao diminuindo

com 0 tempo, por nao incluirem todas as materias necessarias

aos exames preparat6rios, pela necessidade de deslocamento dos

alunos as divers as residencias dos professores, pelos numerosos

encargos que sobrecarregavam estes.ultimos, como limpeza, con-

servacao, etc. Nessas condicoes continuam a ser procuradas so-

mente por aqueles que, ou nao tinham condicoes de ingresso no

curso superior e queriam ter algum elemento de cultura literaria,

ou precisavam esperar uma oportunidade (financeira, por exem-

plo) para 0 ingresso ern colegio ou faculdade.

Mesmo em se tratando de uma sociedade aristocratica, 0

atendimento, em numero, era muito limitado em tais circuns-

tancias. Estas, como e evidente, comprometem tambem a qua-

lidade.

Na tentativa de imprimir algirma organicidade, sao criadosliceus provinciais, que, na pratica; nao passaram de reuniao de

aulas avulsas nuin mesmo predio. E assim que, em 1825,foi cria-

do 0 Ateneu do Rio Grande do Norte; em 1836, os Liceus da

Bahia e da Paraiba: e, em 1837, 0 Colegio Pedro II, na Corte ..

Este estava destinado a servir de padrao de ensino: adotariae

manteria bons metodos, resistiria a inovacoes que nao tivessem

demonstrado bons resultados e combateria os espertos e charla-

taes. Se este objetivo foi ou nao alcancado, verificar-se-a quando

do estudo da organizacao escolar brasileira durante a segunda

metade do seculo XIX.

Quanto a instrucao superior, a 9-1-1825e criado urn cursojuridico provis6rio na Corte. Varies projetos (1826, 1827, 1828 e

1830) sao apresentados para 0 ensino medico. Inaugura-se a Aca-

demia de Belas Artes, que em 1831 passa por sua primeira refor-

mao 0observat6rio astronomico, criado em 1827, e a instituicao

cientifica surgida no periodo.

Ficando a cargo do governo central pelo Ato Adicional, de-

monstra ser este 0 nivel que mais interessa as autoridades, isto

e, aos representantespoliticos da epoca. Eram os curs os que for-

48

mariam a elite dirigente de uma sociedade aristocratica como. a

brasileira.

Mesmo assim, asqueixas sao freqiientes e dizem respeito ao

mau preparo dos alunos, ao criterio "liberal" de aprovacao, a

falta de assiduidadedos professores pela necessidade de com-

pletarem 0 orcamento com outras' atividades, etc.

Continuam sendo cursos isolados e estritamente· profissio-

nalizantes, com base na literatura europeia consumida por pro-

fessores e alunos.

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3~ Periodo

1850 a 1870

Consolldocoo do modeloagrario-comercial exportador dependente

Com a decadencia da mineracao e urn certo desenvolvimen-to da agricultura tradicional, ainda no seculo XVIII deixa de

existir aquela proximidade entre centro economico e centro poli-tico, conseguida com a transferencia da capital para 0 Rio de

Janeiro, em 1763. A posterior decadencia de tais atividades em

funcao da concorrencia internacional, como ja foi apontado, apro-

funda ainda mais os problemas para 0 centro politico, agora

nacional.

As rebelioes regionais se sucedem apos a autonomia poli-

tica ate 0 final da primeira metade do seculo XIX, em funcao

desta situacao interna bern como de certo incentive da burgue-

sia europeia, interessada numa politica divisionista.

Tais rebelioes nao chegam, no entanto, a provocar 0 rompi-

mento ou ofracionamento territorial porque, em realidade, tanto

o poder central como 0provincial (regional) eram fracos.

Alem do mais, estas lutas representavam choques entre gru-

pos, com .fundamento mais veconornico ique politico. As provin-

cias apresentavam interiormente desavencas entre os que domi-

navam e os que eram dominados em cada regiao, e urn dos gru-

pos acaba por apoiar 0 poder central, quando este la se fazia

presente para reprimir a rebeliao.

50

'I

Os recursosarrecadados atraves dos emprestirnos, das emis-

soes e da taxacao das importacoes mostravam-se insuficientes

"para a criacao de um poder central apto a exercer-se em todo 0 territ6rio,

como instrumento de uma classe que, embora dividida no secundario, deve

apresentar-se unida no essencial, para assegurar a manutencao do regime

que a serve" (Sodre, 1973: 195).

A solucao, mesmoque temporaria, para esta crise vern com

o sucesso da lavoura cafeeira que, a partir de 1840, comeca a

propiciar lucros.

Apesar de ser uma materia-prima de origem agricola; como

a cana-de-acucar, as diferentes relacoes estabelecidas na socie-

dade brasileira nao representarao uma pura e simples repeticao

da situacao caracteristica das epocas aureas do cielo da cana.

Nelson W. Sodre, discutindo este periodo, afirma:

"Nem a lavoura do cafe, que se tornava agora a atividade economica

preponderante, era semelhante a.do aciicar, que conservara a preponderancia

. durante toda a fase colonial, nem a sciciedade que seria por ela gerada

era semelhante a sociedade acucareira, A nova lavoura representava, sem

duvida, uma criacao original brasileira gerada de condicoes internas e

particularmente de recursos internos. S6 por isso, ja anunciaria 0 novo.'o que a distingue, entretanto, com mais importancia, e a capacidadepara,

aproveitando 0 que existia de velho no Brasi l, gerar 0 novo. Trabalhando

um genero novo, em uma zona nova, da os seus primeiros passos na

obediencia as condicoes imperantes se valendo-se dos meios de producao

disponiveis, Sera, assim, fundada na grande propriedade e no' trabalho

escravo. Perrnanecera vinculada ao mercado externo, dando continuidade

a uma estrutura colonial de producao.

Mas, a medida em que' se lib era e se desenvolve, ganha a esfera da

circulacao e a integra na de producao. Em seguida, t ransforma progressi-

vamenteas condicoes do trabalho, desembaracando-se pouco a pouco do

elemento escravo. Por outre lado, a lavoura cafeeira oferecia mar gem de

compatibilidade com lavouras de subsistencia, Na medida em que alicerca

o surto demogrii fico e leva a urbanizacao ao interior, chefa a impulsionar

a diversificacao das culturas, embora para efeito interno. Outro de seusaspectos merece referencias: 0 cafe altera a destinacao da exportacao brasi-

leira. Na metade do seculo, os Estados Unidos alcancam ja uma posicao

dominante como mercado. consumidor, recebendo mais da metadeda expor-

ta~ao cafeeira" (Sodre, 1973: 226).

Estava ocorrendo, desta forma, a passagem de uma socieda-

de exportadora com base rural-agricola paraurbano-agrfcola-co-

mercial. Evolucao esta exigida nao so pelas necessidades inter-

naa..o que ja foi assinalado, como tambem por exigencias ou

interesses do' capitalismo internacional. Este requer 0 desenvol-

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vimento do mercado capitalista competitivo nos raises periferi-

cos como condicao .de sua propria expansao.

Tais circunstancias internas e externas, ao mesmo tempo

que propiciam, impoern limites a tal evolucao.: Por parte do capi-

talismo internacional, ja que este tern todo 0 cuidado em nao

contribuir diretamente para 0 aparecimento de urn concorrente.

Internamente, porque a. persistencia de setores arcaicos funcio-

narao como condicao de' maior iexploracao e conseqiiente con-

centracao de capital que impulsionara 0 setor novo. Meio, sem

duvida, insuficiente, daf a persistencia da necessidade de se lan-

car mao de medidas que solucionam aparente e temporariamen-

te 0 problema economico, como emprestimos e agora tambem

em forma de investimentos, transferindo para os investidores es-

trangeiros a responsabilidade de criacao e funcionamento de ser-

vices publicos, como 0 transporte.

As cidades passam a ser os palos dinamicos do crescimento

capitalista interno. Elas promovem:

- uma reorganizacao do sistema de trabalho urbano, fazen-

do surgir novas' categorias economicas de relativa importancia:

___;_ma atracao sobre significativo contingente populacio-

nal: de rendas altas e medias, de origem nativa (rebentos de

familias tradicionais empobrecidas) ou estrangeira (que em sua

maioria iria operar as varias posicoes do complexo comercial-

financeiro); de renda baixa, de origem estrangeira (comercio,

ocupacoes artesanais, services, inclusive publicos) e nacional, es-

cravos forros e os varios tipos de libertos (services domesticos,

trabalho artesanal, service por aluguel, inclusive prostituicao, co-

mercio ambulante) (Fernandes, ·1975: 229-30).

Nesse processo, por volta de 1850,0 Imperio tern condicoes

de consolidar-se. A monarquia, sob 0 dominic dos senhores cujasatividades produtivas ligam-se a exportacao, admite a participa-~ao dos senhores desligados dela a medida que suas contradi-

~oes sao de ordem secundaria. Mesmo assim tais contradicoes

sao expressas, quando ha oportunidade, uma delas levando a pro-pria Proclamacao da Republica.

A camada media em crescimento (comerciantes, funciona-

rios do Estado, profissoes liberais, militares, religiosos, intelec-

tuais,pequenos proprietaries agricolas) e a trabalhadora (escra-

52

'I

vos, semi-escravos, trabalhadores Iivres lcompoem a maior ia do-

minada na sociedade brasileira.

Com relacao a educacao, a decada de 1850e apontada como

uma epoca de ferteis realizacoes, no entanto, restritas em sua

maioria ao municipio da Corte, por forca dalei em vigor.

As realizacoes a que se refere sao: criacao da Inspetoria Ge-

ral da .Instrucao Primaria e Secundaria do Municipio da Corte,

destinada a fiscalizar e orientar 0 ensino publico e particular(1854); estabelecimento das normas para 0 exercicio da liberda-

de de ensino e de urn sistema de preparacao do professor pri-

mario (1854); reformulacao dos estatutos do Colegio de Prepara-

torios, tomando-se por base programas e livros adotados nas

escolas oficiais (1854); reformulacao dos estatutos da Academia

de Belas Artes (1855); reorganizacao do Conserva torio de Musica

e reformulacao dos estatutos da Aula de Comercio da Corte.

a crescimento economico e a conciliacao dos partidos (1853)

sao razoes apontadas para esta "decada de ferteis realizaeoes".

Alem disso, e apontada como sendo 0 resultado da atuacao de

homens considerados notaveis a exemplo de Couto Ferraz, Ita-

boray, Euzebio de Queiroz etc.

Esta ultima razao nos alerta para dois aspectos. a primeirodeles e 0 de que a responsabilidade e, portanto,o interesse eco-

nomlco-pclttico-social dos grupos dominantes durante operiodo

agora analisado restringiam-se ao ensino superior (em ambito

nacional) e, quanto aos outrosniveis, restringiam-se a sede dogoverno (Rio de Janeiro). a segundo aspecto. e 0 de que numa

organizacao economico-politico-social como a do Brasil-Imperio,

as medidas especialmente relacionadas a escola acabavam por

depender marcadamente da boa vontade das pessoas. Pessoas

cstas que atuam dentro enos limites da estrutura educacional

existente. As modificacoes propostas sao superficiais por serem

pessoas pertencentes a camada privilegiada, sem razoes .funda-mentais para interessar-se pela transformacao da estrutura social

geral e educacional, especificamente. Sao superficiais, tambem,

pelo tipo de formacao superior recebida, que oferece uma inter-

pretacao da realidade, fruto desta perspectiva de privilegios a se-

rem conservados ou quando muito uma interpretacao da reali-

dade segundo modelos importados, os mais avancados, mas re-

sultado de situacoes-distintas e, por isso, inoperantes.

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E assirn.que os form ados no Brasil tinham conhecimento e

discutiam as ultimas novidades que podiamser consumidas atra-

ves da literatura predominantementeeuropeia, Este tipo de ati-

vidade escolar envolve umgosto acentuado pela palavra e limit a

as possibilidades de, concretizacao das .ideias. Luiz Agassiz, ap6s

uma visita ao Brasil, declara: "Nenhum pais tern mais oradores

nem rnelhores programas; a pratica, entretanto, e 0 que falta

completamente" (in Azevedo, 1944: 342).

Continuam sendo cursossuperiores isolados e com preocupa-

coes profissionalizantes estreitas, como ja foi demonstrado, ante-

riormente, pela constatada desvinculacao entre teoria e pratica,

Os cursos juridicos de Olinda e Sao Paulo eram os que

maior clientela atendiam. Existiam, ainda,cursos, medicos "na

Bahia e no Rio, a Escola Politecnica (Rio), os cursos militares

no Rio Grande do SuI, no Rio e em Fortaleza, 0 curso de Minas

em Ouro Prete, 0 curso de Marinha (Rio), 0 ensino artistico

(Rio) e 0 ensino religioso em seis seminaries.

Faltavam instituicoes que se dedicassem a pesquisa cienti-

fica e aos estudos filos6ficos metodicos. Estes foram desenvolvi-

dos, na epoca, em grande parte pelos formados nos Cu!SOSjuri-

.dicos sob influencia quase sempre francesa, numa linha ecletica.'.

A instrucao primaria continuou constituida de aulas de lei,

tura, escrita e .calculo. Pressupoe-se que cerca deum decimo, da

populacao a ser atendida a era realmente. Nao se tern certeza, ja

que nao existiam estatisticas educacionais.

A organizacao das escolas normais, iniciadas na terceira de-

cada do seculo XIX, trouxe pequena melhora. Pequena,devido a

situacao de instabilidade de tais cursos, por estarem em nivel

secundario e so em 1880, em Sao Paulo, passarem a tres anos;

porapresentarem .problemas quantoa programacao (detalhavam

desnecessariamente alguns aspectos e tratavam superficialmente

de outros); por serem noturnos e, portanto, terem poucas aulas

praticas: pela nao-garantia de profissicnalizacao: e pelo mau pre-

paro dos professores. A escola aberta em Sao Paulo, em 1846,

fecha em 1867, reabre em 1876, vindo a fechar novamente em

1877. Em 1880 reabre. Neste mesmo ano e criada .a primeira

escola oficial no Rio de Janeiro.

A instrucao secundaria se caracterizou por ser predominan-

temente 'para alunos do sexo masculino, pela falta de organici-

dade (reuniao espacial de antigas aulas regias), pelo predominioIiterario, pela aplicacao de metodos tradicionais e pelaatuacao

da iniciativa privada .

Se, como foi dito, 0 governo centras omitlu-se na tarefa de

reorganizacao dos niveis anteriores ao superior, ja que a. deixou

sob a responsabilidade das provincias, acabou por sero respon-

savel, mesmo que de forma indireta, pelas caracteristicas negati-

vas assinaladas acima. Isto porque manteve os curs os prepara-

torios e os exames parcelados para 0 ingresso no curso superior;

em consequencia,

..( ... ) os pais ( ... ) nao pedem aos diretores de colegio que ensinem a

seus filhos, mas simplesmente que os habilitern no menor prazoposslvel,e com 0 menor incomodo deles, pais" e de seus filhos, para os exames

de preparatorios das aulas superiores. Sob essa, condicao os estudos aca-

nham-se e perdern-se'",

Continuam sendofreqiientes as queixas quanto ao mau pre-

paro dos alunos, ao criterio "liberal" de aprovacao e a falta de

.assiduidade dos professores, principalmente dos cursos juridico e

medico, pela necessidade de completarem 0 orcamento com au-

tras atividades. .

omau preparo dos alunos remete as deficiencias dos niveis

anteriores, 0 que demonstra que a medida referente ao controle

do governo central sobre 0 ensino superior, apenas como forma

de garantir uma conveniente formacao da elite dominante e par-

ticipante do poder, nao foi uma medida das mais eficazes. Fal-

tou uma politica educacional integrada entre centro e provincias.

Nao se instituiu urn planonacional de fiscalizacao dasesco-

las primarias e secundarias, com vistas a urn aprimoramento de

objetivos, conteudos e metodos e, conseqiientemente, uma me-

lhora de aproveitamento por parte dos alunos.

o objetivo era 0 lucro e dai serem organizadas aulas e .cole-

gios preparatorios mais baratos que os que pudessem dar uma

instrucao mais s6lida.

1. Relatorio do dr. Justiniano Jose da Rocha (1850), citado por Primitivo

Moacyr(1936: I, 309).

54 55

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Numa "memoria historica" de 1880da Faculdade de Direito

de Sao Paulo, depois de, em outras palavras, caracterizar a situa-

c;ao assinalada acima, afirma: ."Da sua parte, os professores, ••que Iecionam nos 'colegios ou em suas casas,

parecem .ver-se obr igados ante a. r n a vontade dos di~cipulos, ~ 'nao ~hes

darem outras explicacoes mais que as concernentes as matenas contidas

precisamente. nos pontos .assim expostos, e que lhes servem de assunto

para as licoes. Assim e que, com efeito, muitas vezes acontece que, nos

exames, turmas quase inteiras escrevem as suas provas de uma maneira

tao semelhante que elas parecem antes copias umas das outras que con-cepcoes e manifestacoes distintas de diferentes in!eligencias"2.

Ai esta a comprovacao de 0 governo central ter exercido, de

forma indireta e negativa, uma ac;ao centralizadora nos outros

graus de ensino.

Com isto a~ulou uma outra medida, que foi a criacao (1837)

e a inauguracao (1838) do Colegio Pedro II, destinado a servir

de padrao de ensino.

Na realidade, os papeis se invertem e ele e que acaba por

reduzir-se a urn curso preparatorio na Reforma Jose Bento da

Cunha Figueiredo (1876-78), onde houve a concentracao dos es-tudos exigidos pelos exames ao superior nas cinco primeiras se-

ries epassou a aceitar a matricula por disciplina.

"Pelo quadro analisado e pelas deficiencias constatadas, ve-se

que, mesmo neste periodo onde a regra foi 0 superavit economi-

co, a educacao nao contou com verbas suficientes que possibi-

litassem, ao final do seculo XIX, urn atendimento pelo menos

elementar da populacao em idade escolar.

Isto demonstra que para a monarquia brasileira, ao contra-

rio das monarquias europeias a que ela procurava moldar-se, nem

a instrucao primaria tornou-se necessaria a toda a populacao.

Tendo-se em mente 0 contexto anteriormente analisado, e

relativamente facil compreender a razao do ocorrido; no Brasilacontecia a passagem de uma sociedade exportadora-rural-agri-

cola parauma· exportadora-urbano-comercial: na Franca, por

outro lado, a passagem era parauma sociedade industrial avari-

cada. E e determinada pela estrutura social resultante do capita-

lismo industrial que surge e se desenvolve a escolarizacao, mes-

mo que elementar, de urn contingente maior da populacao,

No Brasil nao se efetivou a distribuicao racional de escolas

pelo territorio nacional porque a grande selecao continuava sen-

do feita em termos de nao-escolarizados e escolarizados.

A exclusao nao se fazia paulatinamente, de urn nivel de ensi-

no paraoutro, e sim, marcadamente, no inicio da escolarizacao,

pois a grande maioria nao tinha condicoes e, em boa 'parte, nem

interesse, diante do regime de vida a que estava submetida, em

ingressar e permanecer na escola.

A reduzida camada media, que vai ampliando-se nas ultirnas

decadas do Imperio, e que pressiona pela abertura de escola.

Como 0 preparo intelectual representava oportunidade de

ascensao social, os poucos alunos que conseguiam matricular-se

nos colegios, nos liceus, nao tinham outroobjetivo senao 0 de

ingressar no curso superior, qualquer que fosse sua origem social

- media ou alta.

o que ocorreu no Colegio Pedro II (1859) vern demonstrar

essa orientacao da clientela: neste ana deveria funcionar, pela

primeira vez, a 5.a serie especial, que conferiria urn certificado a

quem nao quisesse continuar os estudos e sim completar sua

formacao de grau medio. Ninguem matriculou-se .ai, todos se di-rigiram ao primeiro dos tres anos seguintes, que davam condi-

c;oesde ingresso na faculdade.

o ensino secundario brasileiro nao conseguia conciliar 0pre-

paro para 0 curso superior com uma formacao humana a nivel

medic, mesmo atendendo a tao reduzido numero, As condicoes

concretas do meio determinavam uma unica funcao - preparopara 0 superior.

Enecessario assinalar-se que, alem dessa pressao no meio,

as limitacoes decorriarrr. tambem, da atitude dos interessados na

solucao dos problemasescolares em buscarsolucoes teoricas em

modelos estrangeiros. 0 Colegio Pedro II continua sendo urn

exemplo significativo, ja que foi proposto como padrao, como

algo a ser imitado. Urn acompanhamento das reformas pelas

quais esta instituicao passou evidencia 0 reflexo das modifica-

2. Memoria historica apresentada pelo dr. Jose Rubino de Oliveira, citado

por Maria de Lourdes M.. Haydar (1972: 61-2).

56 57

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c;:6esocorridas .nos liceus francesesvque buscavam uma concilia-

c;:aoentre. formacao literaria e cientifica.

Ha inicialmente uma predominancia 'dos estudos literarios

acentuada na Reforma Antonio Carlos (1841). No regulamento

de 1854percebe-se urn "( ... ) timido reflexo ( . .. ) das realschu-

len alemas e que vinham agitando a opiniao frances a a partir da

decada de 30 ( ... )", nas palavras de M. de Lourdes M. Haydar,dando urn born desenvolvimento aos estudos cientificos.E a mes-

rna autora que diz:U( . .. ) Evidenciando contudo a fiel e cega obediencia aos compendios

adotados, ignorava 0 ~rograma de geologia as particularidades do solo

brasileiro enquanto incluia 0 estudo cuidadoso do terreno parisiense ( .. .)"

(Haydar, 1972: 114 e 117). .

Em 1862 e feita uma reformaacentuando os estudos litera-

rios. Com a de 1870, voltam os conhecimentos cientificos a ter

importancia, Nas reform as de 1878e 1881 e no decreto de 1888

estas diferentes tendencias se repetem.

Neste acompanhamento fica revelado, como diz Geraldo B.

Silva, "0 carater transplantado e antecipat6rio" do dilema e da

tentativa de conciliacao entre formacao humana com base na

literatura classica e formacao humana com basena ciencia. Este

era 0 problema .enfrentado pela estrutura escolar francesa. A

brasileira, em rea:lidade, enfrentava urn dilema anterior - conci-

liar a formacao humana e 0 preparo para 0 ensino superior.

"Nao estamos nem estaremos, por muito tempo, preparados para a

opcao ou para uma transacao viiivel entre 0 ensino cliissico e 0 ensino

moderno, ou' para uma tentativa razoiivele ponderada de superar esse

di lema pelo estabelecimento de uma educacao de novo tipo. Sein duvida

que se encontram ecos, entre nos, do. problema daquela op~lio, ou -do

debate que ela ocasiona,especialmente na Franca, entre anciens e modernes.

-Mas, ecos de seus aspectos meramente doutriniirios, daqueles que 0 faziam

urn problema para discussoes eruditas, cheias de citacoes de autores euro-

peus e de inovacao dos exemplos das nacoes 'mais civilizadas' e nao urn

problema a ser resolvido em funcao de' nossas condicoes objetivas e pelo

estabelecimento de uma organizacao pedagogica realmente operante" (Silva,

1969: 199).

Este trace de transplante cultural ja foi assinalado quando

da consideracao do preparo da elite imperial e le i tambem foram

apontados os prejuizos dele decorrentes.

58

Os colegios particulares que conseguem a conciliacao, quer

seja atraves de uma formacao human a de tipo classico, como

o Caraca, reaberto em 1856 pelos lazaristas franceses, ou de uma

formacao moderna, como 0Ginasio Baiano (1858-1871), sob a

orientacao de Abilio Cesar Borges, sao excecoes e de existencia

bastante interrompida.

Como seria de esperar, 0 ensino tecnico, agricola e industrial

fica a nivel de ensaios. Assim aconteceu com 0Liceu de-Artes eOficios no Rio, com dois curs os de comercio (Rio e Pernambu-

co), com tres de agricultura (Rio, Para eMaranhao) e os insti-

tutos de agricultura do Rio, Bahia e Pernambuco, Sergipe e Rio

Grande.

Criou-se na Corte 0ensino para cegos (1854) e surdos-mudos

(1856). Estes incluiam a instrucao elementar e a iniciacao tecni-

ca e so continuaram pela boa vontade de diretorese professores.

J .

59

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4 '? Periodo

1870 a 1894

Crise do modeloagrario-comercial exportador dependentee tentativa de incentivo a lndustrlollzoceo

/ A fase imperial

o fim do trafico de escravos (1850) e a solucao cafeeirafazem com que haja internamente uma disponibilidade de ca-

pitais.

'0 primeiro acontecimento apontado e significativo no sen-

tido da solucao das divergencias entre a burguesia, inglesa em

especial, e a camada dos senhores de terra e escravos no que diz

respeito ao regime de trabalho mais adequado a nova estrutu-racao social capitalista em sua fase concorrencial. Isto contribui

para a citada disponibilidade de capitais tanto de origem exter-

na (ingleses) em forma de emprestimos e de investimentos, como

de origeminterna: aqueles que eram aplicados na compra de

escravos.

Em conseqiiencia, a sociedade brasileira passa por uma epo-

ca acelerada de mudancas.

"Mesmo depois de inaugurado 0 regime republicano, nunca talvez fomos

envolvidos, em tao breve periodo, por uma febre tao intensa de reformas

como a que se registrou precisamente nos meados do seculo passado e

especialmente nos anos de 51 a 55. Assim e que em 1851 tinha inicio

o movimento regular de constituicao das sociedades anonimas; na mesma

data funda-se 0 segundo Banco do Brasil ( ... ); em 1852, inaugura-se

a primeira linha telegrafica na cidade do Rio de Janeiro. Em 1853 funda-se

60

o Banco Rural e Hipotecario ( . .. ). Em 1854 abre-se ao trafego a primeira

linha de estradas de ferro do pais C .. ). A segunda, que ira ligar aCorte a capital da provincia de Sao Paulo, comeca a construir-se em

1855" (Holanda, 1973: 42).

Comparando-se as percentagens referentes a 1839-44 .e

1870-75,nota-se 0 crescimento de·l,O% para 3,5%da importacao

do carvao, que de 17.° l ugar passa a 8.0,e de 0,2% para 2,9% da

importacao de maquinas, que passa de 25.° para 11.°·lugar. Istoindica certo desenvolvimento de atividades industriais.

"A consol idacao desse desenvolvimento economico manifesta-se de ime-

diato com 0 contato mais intenso com a Europa, fonte .fornecedora nao

so dos novos maquinarios e instrumentos, que importavamos, mas tambem

das novas ideias que passaram a circular no acanhado meio intelectual

dos meados do iseculo XIX brasileiro" (Reis Filho, 1974b: 1).

I

Este acanhado meio intelectual, esta elite intelectual brasi-

leira era composta de elementos oriundos das camadas dominan-

te e media. Esta se desenvolve aceleradamente em conseqiiencia

de tal processo de modernizacao da sociedade e, entusiasmada

por ele, procura contribuir para que se torne cada vez mais rapi-

do. E 0 consumodas "novas ideias" parece urn meio eficaz. 0

manifesto liberal de 1868 e considerado 0 inicio de urn amplo

movimento que vai agitar 0 final do Imperio e 0 inicio da Re-

publica.

"( ... ) Inspirando-se em autores (populares) do seculo XIX europeu,

as crencas basicas do liberalismo e do cientificismo tornam-se os pilares

do esforco para elevar 0 BP1Sil ao nivel do seculo, Isto e, pelas novas

ideias a in teligencia brasilei ra pretende realizar a atualizacao histor ica cons i-

derada ingenuametne como a forma de nossa realizacao nacional. A propria

maneira de perceber e analisar nossa realidade socio-cultural e reflexo

das ii lt imas teorias importadas.

( ... ) E uma fase rica depropostas de reformas de quase todas as

instituicoes existentes. Mas de. reformas .que nao partem da realidade, masdo modelo importado" (Reis Filho, 1974b: 1-2).

Tais propostas sao feitas porque " ( ... ) a conquista do le-

gislativo atraves do qual se poderia fixar em leis impositivas 0

modelo estrangeiro" era vista como a forma de acao.

"Fugiam a realidade concreta, e passavama cria-la atraves da a,<ao

educativa da lei. Data de entao, este distanciamento gritante entre 0 Brasil

legal e 0 Brasil real, que ria Republica, senao ate os nossos dias, sempre

irnplicou em dois mundos diferentes e as vezes incomunicaveis, 0 Brasil

oficial e a realidade observavel'' (Reis Filho, 1974b: 2).

61

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Usando-se a Iinguagem liberal, tratava-se de "Iiberar 0 tra-

balho, a consciencia, 0 voto". Na linguagem positivista, segundo

Luiz Pereira Barreto,tratava-se de .

"elevar 0 pais ao nivel do seculo, descobrindo 0 sentido ecumernco de

nossa historia, compreender que somos a expressao particular de uma so

lei generica que rege a humanidadeinteira, explicar que 0 que nos diferencia

da civilizacao ocidental e uma questao de lase, nfio de natureza" (Roque

S. M. de Barros, in Reis Filho, 1974b: 5).

Liberais e cientificistas(positivistas) estabelecem pontoscomuns em seus programas de acao: abolicao dos privilegios

aristocraticos, separacao da Igreja do Estado, instituicao do ca-

samento e registro civil, secularizacao dos cemiterios, abolicao

da escravidao, Iibertacao rla mulher para, atraves da instrucao,

desempenhar ..seu papel de esposa e mae e a crenca na educacao

enquanto chave dos problemas fundamentais do pais.

Deve ser lembrado, mais uma vez, que tal modernizacao da

sociedade brasileira era uma exigencia de fato, fruto do estagio

atingido no processo de mudanca da base da sociedade exporta-

dora brasileira, que de rural-agricola passa para urbano-comer-

cial. E interessante ressaltar, mais uma vez, que tanto os gruposinternos (parte da camada dominante e media) como externos

(burguesia que evolui de mercantil para concorrencial) estao inte-

ressados nela. E uma necessaria adaptacao entre regi6es hegemo-

nicase perifericas que integram 0 sistema capitalista na fase

industrial ou coricorrencial.

A organizacao escolar, em tal contexto, e atingida nao so

pelas criticas as deficiencias constatadas como tambem pela pro-

posicao e ate decretacao dereforma.

Urn exemplo de proposicao de modele atual a ser imitado

esta na difusao das ideias a respeito do ensino alemao, vis to porinteiectuais como Tobias Barreto, Vieira da Silva e Teixeira de

Macedo como causa da vitoria nas lutas de unificacao do pais

conseguida em 1870. Despertava especialatencao a organizacao

do ensino superior e e assim que:

"Forma-se ( ... ) urn grupo de defensores do modelo universitario alemao

que 0 propoe como forma de superar as r ese rvas tradiciona is que os libe rais

ofereciam it criacao da Universidade Brasileira. Embora jamais tenha sido

concretizado no Brasil, 0 modelo gerrnanico representou durante muito

tempo aspiracao db intelectual que se considerava atualizado. Para muitos

62

liberais,a universidade alerna sintetiza a formula vda realizacao de. suas

teses pedagogicas. .

Voltada para a formacao de uma elite intelectualde alto nivel, na

Universidade Alema ha plena liberdade c i t ; ensinar, 'eaprender ( ... ).

o Estado cria e man tern as universidades mas nlio lhes dita, doutrina, nlio·

intervem na administracao, inteiramente autonoma" (Roque S. M. de Barros,

in Reis Filho, 1974b: 8-9).

A19 de abril de 1879e decretada a .reforma Leoncio de Car-

valho. Alguns de seus principios ficam dependentes da aprova- .

<;aodo Legislative, aprovacao esta que nao chega a ocorrer. Mes-

moassim e difundida e algumas (poucas) conseqiiencias praticas

acontecem.

Leoncio de Carvalho entendia que muito havia a ser feito

para imprimir urn impulso a educacao. Entre as medidasneces-sarias estavam:

a) Liberdade de ensino, isto e, a possibilidade de todos os

que sesentissem capacitados exporem suasideias segundo 0me-

todo que lhes parecesse mais adequado.

Entendia que 0 segredo da prosperidade dos Estados Uni-

dos e dos paises europeus estava na adocao do principio de liber-

dade de ensino.

Em casos de abuso deveria haver uma repressao criminal.

A inspecao verificaria as condicoes de moralidade e higiene.

b) 0exercicio do magisterio era incompativel com 0de car-

gos publicos e administrativos.

Para que isso fosse possivel, necessario se fazia 0 Estado ter

condicoes de pagar bern e oferecer outras garantias profissionais,

Como reconhecidamente tais condicoes nao existiam, a proibicao

nao seria baixada de imediato.

c) Liberdade de [reqiiencia, ou seja, dar liberdade para os

alunos dos curs os secundarioesuperior estudarem como e com

quem entendessem. A escola caberia, especificamente, ser severa

nos exames. Isto implicava, tambem, aorganizacao do curso por

materia e nao mais por anos, possibilitando ao aluno escolher

as materias e 0 tempo para cumprir todaa' serie estipulada.

As poucas conseqiiencias 'praticas dizem respeito a decreta-

<;aoda liberda de de credo religioso dos alunos e a abertura ou

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organizacao de colegios, onde outras tendencias pedagogicas, co-

mo a positivista, tentavam ser aplicadas.

Data deste final de seculo 0 aparecimento do ensino femi-

nino em nivel secundario, como resultado da iniciativaparticular.

Dado 0 grau de subordinacao da mulher no periodo, a maio-

ria dessa faixa da populacao era analfabeta. Uma pequena parte

era tradicionalmente preparada na familia pelos pais e precep-

tores, limitando-se, entretanto, as primeiras letras e ao aprendi-

zado das prendas domesticas e de boas maneiras. Uma quanti-

dade menor ainda e que, no periodo tratado, recebe uma instru-

~ao secundaria nao muito profunda. Mas pelo fato de estes cur-

sos estarem desobrigados da preparacao para 0 superior, eles

acabam tendo maior organicidade, grande importancia e dada

as Iinguas modernas, as ciencias (especialmente consideradas em

suas aplicacoes praticas) e incluem cadeiras pedagogicas,

Em termos de iniciativas particulares, protestantes norte-

americanos (Escola Americana, 1870, Colegio Piracicabano) e po-

sitivistas (Escola Neutralidade, 1884) criam escolas primarias

modelo.

A iniciativa norte-americana a este nfvel e bastante signifi-

.cativa e vai ampliar-se durante a Primeira Republica. Contribuiu

diretamente na organizacao escolar enos processos didaticos e

menos em termos doutrinarios propriamente ditos.

"( ... ) Na realidade transplantavam para 0 Brasil a experiencia que

os Estados Unidos haviam desenvolvido, a partir das inovacoes que recebe-

ram da Europa. 0 pragmatismo americano ainda nao havia encontrado

sua expressao filosofica e ja a escola americana atendia as exigencias

das condicoes socio-cul turais de sua c1ientela: Deste modo, a par ti r das

sugestivas experiencias de Pestalozzi, uma notavel renovacao dos metodos

de ensino atinge no seculo XIX a educacao americana, E 0 resultado dos

progressos neste campo que as congregacoes religiosas protestantes .intrcduzi-

ram juntamente com seus ministros quando expandiram sua a~ao missionaria

no Brasil . No mornento .em que interesses comerciais americanos locali-

zaram-se nos principais centros comerciais e urbanos brasileiros, comuni-

dades estadunidenses: no Rio, Sao Paulo, Porto Alegre, 0 aparecimento de

escolas para os filhos de norte-americanos era desejado num meio tao carente

de instituicoes de ensino. Por outro lado, na maioria eram escolas sectarias

religiosas que visavam proselitismo religioso.

Entretanto, a inf luencia deste modelo atinge a escola publ ica, espe -

cialmente em Sao Paulo, no inicio da Republica" (Reis Filho, 1974b: 9-10).

64

Assim, a atencao e chamada para 0 fato de a crianca ser urn

ser ativo, da necessidade de se respeitar a ordem natural do seu

crescimento, de desenvolver os sentidos, capacitando-a a desco-

brir as coisas por si mesma e, em conseqiiencia, 0 preparo do

professor parece indispensavel.

/ A fase republicana

A influencia positivista torna-se mais marcante, no que serefere a educacao nacional, alguns anos depois, em decorrencia

das transformacoes politicas. Estas sao conseqiiencias de todo

este processo de inquietacao.

Como ja foi dito, 0 governo imperial' atendia aos interesses

da camada senhorial constituida de duas faccoes significativas:

a ligada a lavoura tradiciona1 (cana,tabaco, algodao) e a ligada

a nova lavoura (cafe). Esta ultima dominava 0 aparelho de Esta-

do, admitindo, no entanto, a participacao da outra faccao,

Apesar de seu crescimento e descontentamento, a camada

media nao chegava a ser socialmente tao forte que, sozinha,pu-

desse levar avante urn movimento que resultasse na modificacao

do regime politico. Por outro lado, a alianca com 0 outro grupo

descontente (camada baixa de trabalhadores) nao tinha condi-~6es objetivas. Isto pelo fato de os elementos do setor medic, pela

sua formacao preponderantemente resultante do transplante cul-

tural, estarem distanciados das bases, das caracteristicas, dos

problemas concretos da realidade brasileira (entre eles a margi-

nalizacao ou exclusao da maioria da populacao brasileira do pro-

cesso de crescimento). Alem disso, 0fato de a propria exclusao

sistematica do citado setor social fazer com que este nao tivesse

tido, ate entao, condicoes de se tornar uma forca politica.

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.Desta forma, a mudanca na ordem politica ficava depen-

dendo de uma cisao na camada dominante que fizesse com que

umadas faccoes passasse a se interessar..por tal modificacao,

ja que a burguesia internacional nao Faria pressao em contrario,

Nas circunstancias do periodo, 0apoio tanto da faccao domi-

nante interna como externa era indispensavel a concretizacao dos

planos e, como ocorrera durante 0 processo de autonomia poll-

tica, acabava por limitar a amplitude das modificacoes. Seria

urn componente a mais no processo de modernizacao.

Neste instante, 0 elemento novo na contradicao fundamental

da sociedade brasileira - submissiio X emancipaciio - se desen-

volve em termos de reconhecer que a forma de governo republi-

canoseria uma garantia, aexemplo do que aconteceu no inicio

do seculo, quando a "abertura dosportos" (1808) e a "autono-

mia politica" (1822) desempenharam este pape!.

Nelson W. Sodre, 'analisando a situacao, assim se expressa:-. "De qualquer forma tornara-se evidente, ao aproximar-se 0 fim do seculo

XIX, que 0 aparelho de Estado se tornara obsoleto, nfio correspondia mais

a realidade economica e politica, transformara-se num trambolho. A Repu-

bl ica, quando altera aquele aparelho de Estado, traduz 0 problema: cai 0

Poder moderador, cai a vitaliciedade do senado, cai a releicao a base de

renda, cai a nobreza titulada, cai a escolha de governadores provinciais,

cai a centralizacao. 0 novo regime permite a participacao no poder, embora

transitoriamente, da classe media, e ha, com a mudanca de regime, clara-

mente, uma luta em torno da politica tarifaria e cambial. As reforrnas citadas

na realidade traduzem 0 que se processa em profundidade. Nao surgiram

da imaginacao dos republicanos da primeira hora: visavam, muitas vezesapenas na intencao, atender a determinados fatores, que eram relativamente

novos, que vinham em ascendencia. Nao surgiram do acaso, em suma"

(Sodre, 1973:292).

Politicamente, adota-se 0 modelo norte-americano que, se-

gundo Rui Barbosa, era 0 que mais seadaptava ao "vastissimo

arquipelago de ilhas humanas que era 0Brasil".

Em realidade, a descentralizacao atendia aos interesses tanto

dos setores liberais da camada media, como da faccao dominan-

66

te que participa do processo (senhoresdo cafe ou burguesia

agro-exportadora). Esta via na descentralizacao urn instrumento

de concentracao de rendas, ja que nao teria que dividi-las com a

outra faccao decadente (senhores da lavoura tradicional).

E por essa razao que se instala na organizacao escolar da

Primeira Republica uma dualidade, fruto da descentralizacao.

Pela Constituicao de 1891:

"a) a Uniao competia privativamente legislar sobre 0 ensino superior na

Capital da Republica, cabendo-lhe, mas nao privativamente, criar insti-

tuicoes de ensino secundario nos Estados e promover a instrucao no Dis-

"trito Federal:

b) aos :Estados se permitia organizar os sistemas escolares, completos;

(... I": (Azevedo, 1944: 359).

Quanto a politica tarifaria e cambial, no entanto, havia diver-

gencia, como a citacao de Nelson W. Sodre [a assinalou. Ao gru-

po de "senhores" era mais interessante continuar a taxar as im-

"portac;:oes,pois 0 onus era distribuido por toda a populacao. Aos

elementos de camada media e baixa, que viviam de salaries e,

portanto, nao participavam dos lucros das atividades produtivas,

esta politica econornica pesava muito e a solucao do problemaparecia estar na taxacao das exportacoes e no incentivo das ati-

vidades industriais.

Percebe-se com isto que, se havia pontos em comum que

possibilitaram a composicao, existiam tambem serias divergen-

cias, 0 que fazia com que tal composicao fosse bastante circuns-

tancial e instavel, sendo caracterizado 0 periodo ate 1894 como

o de "crise da Republica".

Sedo ponto de vista economico a divergencia era frontal, a

"pequena burguesia urbana", de que os militares no poder (Deo-

doro e depois Floriano) faziam parte, nao era suficientemente

forte enquanto apoio a uma nova orientacao, uma vez que tal

orientacao comprometia os interesses dos donos da terra que

detinham os meios de producao.

Desta maneira, a continuidade da camada media na lideran-

ca do processo politico brasileiro so podia ocorrer pela forca

das .armas, pois' faltava-lhe esta base de classe por nao dominar

os meios de producao.

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o governo de FlorianoPeixoto (1891-1894), que passa para

a Historia como 0 "Marechal de Ferro", retrata esta situacao.

Neste rapido e agitado periodo ern que 0 componente medic

Iidera 0 processo politico, acontece uma tentativa de mudanca

tanto .na 'orientacao economica como na escolar.

No primeiro caso, tenta-se intensificar a aplicacao de urn

plano ja no final d.oImperio corn 0objetivo de cobrir os deficits

existentes e ativar os neg6cios, orient ando 0 capital movimen-tado inclusive para a criacao de empresas financeiras, comerciais

e industriais.

A falta de controle dos responsaveis pela aplicacao e 0 desin-

teresse de significativos setores internos (senhores agricolas) e

externos (burguesia) ern relacao ao incentivo das atividades vol-

tad as para 0 mercado nacional leva a iniciativa ao fracasso, ja

ern 1891.

"Sob a a"ao deste jorro emissor, nao tardara que da citada ativacao

dos negocios' se passe rapidamente para a especulacao pura. Comecam a

surgir em grande mimero novas empresas de toda ordem e finalidade.

Eram bancos, firmas comerciais, companhias industriais, de estrada de ferro,toda sorte de negocios possiveis e impossiveis" (Prado Jr., 1969: 218).

.E a primeira tentativa, mesmo que ern grande parte frus-

trada, de fazer do governo urn instrumento de diversificacao

das atividades economicas. Atitude retomada apos 1930.

ti l Quanto a organizacao escolar, percebe-se a influencia posi-

tivista. Era a forma de tentar implantar e difundir tais ideias

atraves da educacao escolarizada, ja que, politicamente, tal cor-

rente de pensamento sofre urn declinio deInfluencia a partir de

1890.,

Decretada neste ana e colocada ern pratica no ana seguinte,

a Reforma Benjamin Constant tinhacomo principios orientado-

res a liberdade e laicidade do ensino,como tambem a gratuidade

da escola primaria, Estava, quanto a isto, seguin do a orientacao

do texto constitucional.

Atingia, por forcada descentralizacao reinante, a mstrucao

publica primaria e secundaria no Distrito Federal e a instrucao

superior, artistica e tecnica ern todo 0territ6rio nacional.

68

A escola primaria ficava organizada .ern duas categorias, isto

e, de 1. 0 grau para criancas de 7 a 13 anos e ide 2.° grau para

criancas de 13 a 15 anos. A secundaria tinha a duracao de sete

anos. No nivel superior afetou 0 ensino politecnico, 0 de direito,

o de medicina e 0 militar. Quanto a escola de Minas, nem che-

gou a ser colocada em execucao,

Uma das intencoes era tornar os diversos niveis de ensino

"formadores" e nao apenas preparadores dos alunos, corn vistas

ao ensino superior. Para que este aspecto fosse conseguido no

ensino secundario, por exemplo, foi criado 0 exame de madureza,destinado a verificar se 0 aluno tinha a cultura intelectual neces-

saria ao termino do curso. A partir do 3.° ano, seria introduzido

tempo para a revisao da materia e, no 7.°, i sto ocuparia a maior

parte do horario.

A outra intencao era fundamentar esta formacao na ciencia,

romp endo corn a tradicao humanista classica, responsavel pelo

academismo dominante no ensino brasileiro. A predominancia

literaria deveria ser substituida pela cientifica e, para tanto, fo-

ram introduzidas as ciencias, respeitando-se a ordenacao positi-

vista (rnatematica, astronomia, fisica, quimica, biologia, socio-logia e moral).

Pode-se notar que estava sendo atacado odilema mais real

(formacao human a X preparacao para 0 superior) e 0 menos

I~~~~~~~'%ll~lil~~~~!iJ,·fy..if'f1;lT*~1.T~'*&1iZ~'2:~·X (£:lf4fC..w~#J,~·;"';;;;:;li"';-tBp::_q0i

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~Fi~.~~§:[':tQ'~ftf!.~!@i~i~)nfrentado pelo ensino secundario

imperial.

Por varies motivos, 0 resultado desta decisao foi alvo de crf-

tica. Pelo fato de nao ter respeitado 0 modelo pedag6gico de

Comte (representante maximo da corrente filos6fica positivista)

no que diz respeito a idade deintroducao dos estudos cientfficos,

os pr6prios positivistas fizeram restricoes a Reforma 1.

~~t1ir~~~~_q~ijll~~~~JIl~~!~~i~§:§;tm:C!fllf;l~fm[~emas~_1~ti;i~~l!~,i!t~€Mi:§:!(~~!MiK~~~i~!~J~{~~~;~~~I~~~~~i~tste

1. Comte nao recomendava 0 ensino das ciencias senao apos os catorze

anos. Ate entiio' a crianca deveria receber uma educacao de carater estetico

baseada na poesia, na rmisica, no 'desenho e nas Iinguas, Benjamin Constant

incluia ja na escola de 1.0 grau a aritmetica, a geometria pratica e, na de 2.°,

que iniciava aos treze anos, alem destas, a trigonometria e as ciencias fisicas

e naturais.

69

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fato constitui outro motivo de criticae acaba por comprometer

a defesa do principiodeque a baseda formacao humana deve-

ria ser cientifica,dando forca aqueles que defendiam a predo-

minancia Iiteraria, Pelos relatorios do. periodo, percebe-seque

estes problemas deprecocidade e acumulo foram sentidos e en-

carados como de dificil solucao. Ja em 1893 ha uma modificacao

visando uma distribuicao mais proporcional das materias do Gi-

nasio Nacional com ampliacao da parte literaria, anteriormente

sacrificada.

E esta vai ser uma caracteristica do primeiro periodo repu-

blicano:ora uma reforma pendepara uma predominancia, ora

para outra, sem, contudo, progredir no senti do de conseguir-se

um ensino secundario mais adequado as novas tendencias sociais

no Brasil.

Caracteriza-se, desta forma, a continuidade do movimento de

atualizacao historica, de modernizacao da vida brasileira, anali-

sado e criticado quando da discussao das ultimas decadas do

Imperio.

Os resultados conseguidos, completamente distintos dos"idealizados", comprovam, mais uma vez, a ineficacia e os pre-

jufzos de tal atitude intelectual.

70

5~ Periodo

1894 a 1920

Ainda 0modelo agrario-comercialexportador dependente

Para que se apreenda acaracteristica basica da organizacao

escolar neste periodo republicario, necessaria se faz a compreen-

sao da caracteristica, tambem basica, da sociedade brasileira. E

isto requer 0 esclarecimento dos significados do combate ao flo-

rianismo, que sao:

a) afastar do poder 0 componente militar que nele repre-

sentava a camada. media;

b) utilizar 0 novo regime (republicano) para conseguir an-

tigos fins (atendimento dos interesses da "camada senhorial").

Percebe-se, neste instante, que a alianca entre camada media

e uma faccao da camada dominante, util por ocasiao da neces-

saria alteracao do regime politico, agora ja nao 0 era mais. 0

possivel e mais conveniente era a reunificacao das faccoes domi-nantes como condicao de conseguir-se 0 que foi afirmado no

item h. E a queda de Floriano Peixoto representa a vitoria desse

grupo e a solucao da crise politica.

As possibilidades de saida da crise economica pareciam ser

a alianca com a burguesia internacional e a reorganizacao interna.

Ao se analisarem as medidas tomadas em decorrencia da

aceitacao destas possibilidades, evidenciar-se-a 0 fato de que pa-

71

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ra tanto. era indispensavel deslocar do poder 0 componente m e -dio que, como os outrossetores da populacao, com excecao do

dominante, seriam bastante prejudicados.

E assim que, no ana de 1898, sao empreendidas certas refer-

mas que eram, inclusive, uma das condicoes impostas pelos

credores.

"0 grandebeneficiario das reformas de 1898 foi, sem diivida, a financa

internacional. Representada neste caso pe lo London & River Plate Bank,interrnediario do acordo com os credores, ganhara novas posicoes no Brasil

e junto a seu governo. Os seus representantes assumirao 0 direito de velarem

diretarnente pelo cumprimento do acordo feito, e fiscalizar ao ofic ialmente

a execucao das medidas destinadas a restaurar as financas do pais. Entre-

lacam-se assim, intimamente, seus interesses e suas atividades com a vida

economica brasileira. E esta nao Ihes podera mais, tao cedo, fugir. Conso-

lidara-se uma situacao de dependencia que se vinha formando havia muito,

mas que somente agoraencontrara seu equilibrio" (Prado Jr., 1969: 221).

A reorganizacao interna foi conseguida com a adocao da "po-

Utica dos governadores":

"Tratava-se de entregar cada Estadofederado,como fazenda particular,

a oligarquia regional que 0 dominasse, de forma a que esta, satisfeitaem suas solicitacoes, ficasse com a tarefa de solucionar os problemas desses

Estados, inclusive pela dominacao, com a forca, de quaisquer manifestacoes

de resistencia, ( . .. ). Para isso, aquelas oligarquias ou organizavam forcas

"irregulares proprias, a base de urn banditismo semifeudal, ou valiam-se

de organizacoes policiais assemelhadas em tudo e por tudo a verdadeiros

exercitos regionais" (Sodre, 1973': 304).

A politica economica de "valorizacao" dos prcdutos-agrico-

las, mais diretamente 0 cafe, feita com a utilizacao db capital

estrangeiro, concentrava os lucrosnas maos da burguesia estran-

geira e da "camada senhorial"; tarnbem chamada "burguesia

agrario-exportadora" brasileira.

Desta maneira, nao so foi restabelecido

"0 equilibr io das contas externas do pail'; tao grandemente atingidas na

crise dos anos anteriores, mas restabelece-lo em nivel muito mais alto,

tornando possivel urn largo apare lhamento mater ial e uma sensive l a scensao

. do padrao de vida nac iona!. lnstalar-se-ao vgrandes e modernos portos,.. a

rede ferroviaria cr escera rapidamente, inauguram-se as prime ira s usinas de

producfio de energia eletrica (de tao grande importancia num pais pobre

de carvao mineral), remodelam-se com grandes obras as principais cidades

(em particular 0 Rio de Janeiro, que muda inteiramente de aspecto)"

(Prado Jr., 1969: 221).

72

Assim, a sociedade brasileira continua a modernizar-se, !D as

a urn custo muito alto, pesadamente pago pelamaioria da popu-

lacao, excluida de tais beneficios por viverno campo. E, curiosa-

mente, sendo aquelaque produz a riqueza, uma vez que e a mao-

de-obra da lavoura cafeeira.

As condicoes de trabalho e 0 isolamento em que vivia esta

populacao rural impossibilitavam manifestacoes de descontenta-

mento. Este fato e a representacao eleitoral manobrada pelo

coronelismo, pelos "currais eleitorais", garantiram 0 sucesso doregime sem maiores problemas ate 0final da Primeira Guerra

Mundial, quando as manifestacoes urbanas de descontentamento

vao se intensificando.

A caracterizacao do reforcamento do trace de dependencia

na base da estrutura social durante os anos de 1894a 1918, que

acabou de ser feita, e necessaria porque se refletira na organi-

zacao escolar, reafirmando 0 trace de dependencia cultural.

A serie de reformas pelas quais passa a organizacao escolar

revela uma oscilacao entre a influencia humanista classica e a

realista ou cientifica, 0 codigo Epitacio Pessoa (1901) acentua

a parteIiteraria ao incluir a logica e retirar a biologia, a socio-

logia e a moral; a reforma Rivadavia (1911) retoma a orienta-

c;ao positivista tentando infundir urn criterio pratico ao estudo

das disciplinas, ampliando a aplicacao do principio de liberdade

espiritual ao pregar a liberdade de ensino '(desoficializacao) e

de freqiiencia, abolindo 0 diploma em favor de urn certificado

de assistencfa eaproveitatnento, e transferindo os exames de

admissao ao ensino superior para as faculdades, com 0 objetivo

de que 0 secundario se tornasse formador do cidadao e nao do

candidato ao nivel seguinte. Os resultados, no entanto, foram

desastrosos. Dai as reformas de 1915 (Carlos Maximiliano) e de

1925 (Luis Alves/Rocha Vaz).

A citacao abaixo e urn born exemplo de mais algumas das

limitacoes impostas pelo mecanismo de transplante cultural:"Pela altura da segunda decada do seculo, a iinica doutrina filosofica que

havia conseguido reunir urn grupo de adeptosno Brasil, 0 positivismo,

jii. era apenas uma lembranca do passado. E verdade que na Europa essa

doutrina ja havia sido enterrada quarenta anos atras. Mas em seu lugar

surgiram novas correntes disputando em torno do valor da ciencia e da

possibilidade de' apreender 0 mundo num todo" (Basbaum, 1962: 290,

grifo nosso).

73

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A dependencia cultural traduz-se nisto: falta de capacidade

criativa e atraso constante e cada vez mais profundo em .relacao

ao centrocriador que serve de modelo. Representa, ainda, como

ja foi assinalado, urn idealismo estreito e inoperante ao formar

urn pessoal sem a instrumentacao teorica adequada a transfor-macae da reaIidade em beneficio de interesses da populacao co-

mo urn todo e nao deinteresses de uma pequena parte dela e

de grupos estrangeiros, em detrimento da maioria.

Enquanto uma reforma, com base em determinado modelo

era vista como solucao para os problemas apresentados peloou~

tro modelo, os problemas. reais agravavam-se e, no dia-a-dia esco-

lar, profissionais e alunos "solucionavam como podiam", isto e,

improvisadamente e, portanto, tambem de forma ineficiente. Dai

sail; desacreditada tanto a teoria importada, e por isso desligada

da pratica, como a pratica sem a teoria, ou melhor, uma pratica

com base numa "teoria" fruto do senso comum, onde nao se

tern consciencia clara das raz6es desta nossa forma de agir.

E assim que 0problema do analfabetismo nao pode ser so-

lucionado, ficando muito .longe disto, ja que aumentou em mime-

ros absolutos e, em 1920, 65% da populacao de quinze anos e

mais era analfabeta. (Ver Tabelas I e II.)

TABELA I

indices de analfabetismo da populacao brasileira para pessoas

de todas as idades

Especijicaciio 1890 1900 1920

Total 1 4 . 3 3 3 . 9 1 5 1 7 . 3 8 8 . 4 3 4 3 0 . 6 3 5 . 6 0 5

Sabem ler e escrever 2 . 1 2 0 . 5 5 9 4 . 4 4 8 . 6 8 1 7 . 4 9 3 . 3 5 7

Nao sabern ler e escrever 1 2 . 2 1 3 . 3 5 6 1 2 . 9 . 3 9 . 7 5 3 2 3 . 1 4 2 . 2 4 8

% de analfabetos 8 5 7 5 7 5

Fonte: Instituto Nacional de 'Estatfstica, Anudrio Estatistico do Brasil, ano II,1 9 3 6 , p. 4 3 .

Mais da metade da populacao de quinze anos e mais em

1920 havia sido totalmente excluida da escola.

74

TABELA II

Proporcao de alfabetizados e de analfabetos na populacao brasileira

de quinze anos e mais

Especijicaciio 1900 1920

Total 9 . 7 5 2 . 1 1 1 1 7 . 5 5 7 . 2 82

Sem declaracao 2 2 . 7 9 1 -

Sabem let e escrever 3 . 3 8 0 . 4 5 1 6 . 1 5 5 . 5 6 7

Nao sabem ler e escrever 6 . 3 4 8 . 8 6 9 11. 4 0 1 . 7 1 5

% de analfabetos 6 5 6 5

Fonte: Florestan Fernandes, Educaciio e sociedade no Brasil, Quadro I, p. 4 7 . /

Com a sociedade brasileira se desenvolvendo em base urba-

no-comercial desde a segunda metade do seculo XIX, 0 analfabe-

tismo passa. a se constituir urn problema, porque as tecnicas de

leitura e escrita vao se tornando instrumentos necessaries a inte-gracao em tal contexto social.

Desta forma, 0 deficit acumulado eas- novas tendencias da

sociedade brasileira passavam a exigir mudancas radicais visan- -

do a solucao do problema apontado.

Campanhas proclamando a necessidade da difusao da escola

primaria foram organizadas. Eram lideradas por politicos que,

enquanto tais, reconheciam ia necessidade da difusao especial-

mente da escola primaria.como base da nacionaIidade, 0 que fez

com que alguns defendessem nao so ocombate ao analfabetismo,

como tambem a introducao da formacao patriotica, atraves do

ensino civico.

Pelos resultados, pode-se perceber que tais campanhas nao

representaram medidas radicais: 0 aumento de analfabetos em

numeros absolutos e a rnanutencao do percentual indicam insu-

ficiencia de verbas e/ou insuficiencia teorica no enfrentamento

do problema.

Esta ultima afirmacao, ao tocar na possivel insuficiencia de

verbas, chama a atencao para umoutro fato:a falta de registros

75

sistematicos das despesas do governo com relacao ao ensino.

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Pode-se, como se fez, apenas inferir que tenham sido bastante

insuficientes diante do precario atendimento escolar dado a po-pulacao brasileira.

Mas ate a elaboracao de' urn quadro que retrate numerica-

mente a situacao, e impossivel, devido a precariedade dos levan-

tamentos estatisticos em relacao ao periodo anterior a 1930,impossibilitando qualquer comprovacao.

"0 Brasil ( ... ) s o em 1916 iniciou a publicacao do seu AnudrioEstatlstico, cujo primeiro foi dedicado ao periodo 'de 1907 a 1912. A feliz

iniciativa, porem, niio teve continuidade e a estatfsticabrasileira, consi-

derada na sua expressao sintetica, estava, assim, com urn atraso de quase

urn .q\ larto de seculo" (Ins ti tuto Nacional de Estati sti ca, Anudrio do Brasil,prefacio, anoII, 1936). .

AMm de limitacao quanta a epoca (1907-1912), pois so em

relacao ao "estado da populacao" foram encontrados dados ante-

riores e posteriores, ao consultar 0Anudrio Estatistico - ana I

- foi constatado que as informacoes mais completas diziam res-

peito ao ensino superior e profissional, restringindo-se no secun-

dario ao ensino publico e, no primario, ao Distrito Federal.

Partindo-se do principio de que levantamentos deste tipo,retratando numericamente a situacao escolar, sao indispensaveis

a satisfacao das necessidades com vistas a evolucao desta mes-

rnaxituacao em ambito nacional, a ausencia deles indica urn

certo desinteresse, uma nao-prioridade em relacao a organizacaoescolar com objetivo de atender a populacao em sua totalidade.

. Quando Sao buscadas outras fontes (autores que tratam do

referido perfodo), constata-se, como nao poderia deixar de ser,

uma referencia numerica muito pequena e muitas vezes diferen-te, ja que nao sao fruto de trabalho especializado.

Diante disso, 0quadro possivel de ser esbocado e 0 seguinte:

Ensino pQmano

o unico levantamento estatistico organizado, relativo aeste

periodo, diz respeito ao entao Distrito Federal, durante os anos

de 1907 a 1912. Portanto, as indicacoes relativas a situacao em

ambito nacional correspondem a calculos muito gerais, fazendo

com que haja discrepancia entre os resultados publicados pelosdiferentes autores.

76

culados correspondiam a cerca de 12% da populacao em idade

escolar, em 1930 [a havia subido a cerca de 30%" (Basbaum,

1962: 283).

No dizer de Geraldo B. Silva:

"Durante a Republ ica, 0 desenvolvimento do ens ino pnmano se exprimepelos seguintes nurneros de alunos por mil habitantes: 18 erq 1889, 41 em

1920, 54 em 1932" (Silva, 1969: 319).

Florestan Fernandes, anos depois, quando da participacao

da "campanha em defesa da escola publica", assinala 0 fato de

o crescimento das oportunidades escolares ter sido urn merito

do governo republicano. As organizacoes particulares, principal-

mente de carater religioso, nao se dedicaram no Brasil a educa-9ao eminentemente popular (Fernandes, 1966).

Diante destes indices, pode ser caracterizada a ampliacao

deste nivel de ensino, cujo atendimento mais que duplicou.

No inicio da Republica, a melhora nao foi apenas quantita-

tiva, uma vez que data dai a introducao do ensino graduado,

com 0 aparecimento dos primeiros "grupos escolares" ou "esco-

las-modelo". Mas, ainda em 1907, 0 tipo comum de escola pri-

maria; e a de urn s6 professor e uma so dasse, agrupando alunos

de varies niveis de adiantamento.

E interessante notar que forcas sociais exercem pressao com

vistas a esta abertura da escola mas,ao mesmo tempo, imp6em

seus limites. E 0 que mostra a passagem que a seguir se trans-

creve.

"Ja entao as transformacoes economicas e sociais do paise a tomada

de consciencia de nosso -atraso em materia de educacao atuam no sentidoda continua expansao do ensino primario .. Porem, aquela tomada de cons-

ciencia, em muitos administradores, processa-se na direcao de abaixar 0

nivel de aspiracao com referenc ia a duracao e qualidade da escolaridade

- seria melhor dar 4 ou 3 anos de escola a muitos, alfabetizando-os, do

que urn ensino mais longo e de melhor nivel a poucos; e a expansao dificuIta

os problemas de aperfeicoamento da organizacao, e acentua a repetencia

e evasao escolar, que se mede por mimeros como os seguintes: de 1.100.129

alunos que ingressaram na 1.a serie em 1945, somente . 90.657 conseguem

ser aprovados na 3.a serie em 1947, e aprovados na 4.a serie, em 1948,

54.297" (Kessel, in Silva, 1969: 319).

77

Nota-se que as verb as eram irisuficientes para urn atendi- N00 N V V. . . . \t:I t"- . . . .

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mento a urn tempo quantitativa e qualitativamente melhor. Como

foivisto, 0modelopolitico-econornlco (agricola-comercial expor-

tador), sendo contrario a redistribuicao do lucro, comprometia

tais verbas destinadas ao atendimento popular. E para 0 educa-

dor se colocava 0 dilema: atender. menos e melhor, ou mais epior,

Mesmo assim, isto e , optando pela primeira alternativa, foi

possivel atender a menos de urn terco da populacao em idadeescolar. Istoequivale a dizer que mais de dois tercos continua-

ram a ser excluidos da escola por completo, explicando-se, assim,

em nurneros absolutos, 0 aumento dos analfabetos.

A .marginalizacao de boa parte da populacao brasileira dos

beneficios advindos da escolarizacao tendia, desta forma, a .per-

petuar-se.

Isto entra emchoque com 0 proprio ideario republicano de

urn regime departicipacao politica, onde urn minimo de esco-

larizacao comum era necessario, 0 que, na epoca, ja havia sido

conseguido por algumas monarquias burguesaseuropeias.

0, choque, no entanto,ocorre, uma vez que, como ja foi assi-

nalado, 0 novo aparelho de Estado foi colocado a service de an-

tigos interesses.v.Faltava a sociedade brasileira urn modelo de

desenvolvimento eminentemente nacional e popular. A propria

base industrial, que agiu como urn elemento pressionador da

abertura .da escola elementar, nao existia na Primeira Republica.

Ensino medio

A restricao dos dados numericos relativos ao ensino secun-

dario publico limita bastante as condicoes de analise porque,como enfatizam autores que escreveram tanto durante 0 periodo

como posteriormente, a ampliacao mais significativa se deu no

ensino particular.

Pela Tabela III, pode-se ver que, se realmente houve certa

arnpliacao no ensino secundario, ela ocorreu no ensino parti-

cular. No publico houve urn pequeno aumento com relacao ao

pessoal docente e diminuicao quanta as escolas e a matricula.

78

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79

E esta marcada insuficiencia da iniciativ.a oficial faz com para outras cidades onde tem certeza de obter a aprovaciio

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que a este nivel (secundario) continue ocorrendo urn outre ponto

de estrangulamento na organizacao escolar brasileira,de tal ma-

neira que a elitizacao se mantem como uma caracteristica mar-

cante.

Afranio Peixoto declara, em 1923:

"Sobre a formacao das elites ( ... ) no Brasl se esta processando a seIe~ao

dos incapazes feita pelo ensino secundario; na escolaprimaria, 0 filho

do rico, irmanado com0

do pobre, sao bons e maus alunos, mas, comoos pobres sao infinitamente mais numerosos, se tern. numerosos alunos maus,

tern tambern muitos bem-dotados: digarnos, se em 10 ricos ha urn aluno

inteligente, em 90 pobres havera 9 alunos iguais a esse rico ( ... ). Vai

cornecar 0 ensino secundario , Mas 0 pobre nao pode freqi ienta-lo ; 0 liceu,

o ginasio, 0 colego custam caro. Os 90 pobres vao para as fabricas, para

a Iavoura, para a mao-de-obra. Os 10 ricos, esses farao exames, depois

ser ao bachareis, medicos, engenheiros, jornalistas, buroc ratas, politicos,

constituirao a elite nacional ( ... ). Mas como nesses 10, apenasl e

inteligente, essa 'elite' tern apenas 0,1 de' capacidade" (in Moacyr , 1944,

V: 12-3).

Apesar do "simplismo" do raciocinio, e urn valioso depoi-

mento sobre a .intensa selecao e conseqiiente marginalizacao es-

colar que e, a urn tempo, resultado e reforco de uma margina-lizacao social (economica) da maioria da populacao brasileira.

Quanto a baixacapacidade da elite brasileira, e necessario

destacar nao s6 0que foi indicado anteriormente no que se re-

fere ao criterio de selecao em base nao-pedagogica, como tam-

bern a falta de rigor no ensino oferecido aos que conseguiam

ingressar. Tanto que, por volta de 1904, e declarada a decaden-

cia do ensino secundario, ja de rna qualidade no Imperio.

"De fato , 0 ensino desceu ate onde podia descer: nao se fazia mais

questao de aprender ou de ensinar, porque so duas preocupacoes existiam,

a dos pais, querendo que os filhos completassem 0 curso secundario n?

menor .espaco de .tempo possivel e ados ginasios na ambicao mercantil,

'estabelecendo-se as duas formulas: bacharel quanto antes; dinheiro quantomais" (in Moacyr, 1942, IV: 71).

Esta e uma declaracao feita em 1910por ocasiao da prepa-

racao da reforma Rivadiaria Correa (1911).

Outras expressoes .indicam afalta de rigor nos exames pre-

parat6rios ao superior.

"Se, par ventura, na cidade onde estuda em um dado ana,as examinadores se mostram algum tanto exigentes, ele emigra

80

[dcil." 1 .

Denuncias dessa natureza ja aparecem no periodo imperial.

Outra conseqiiencia da intensa selecao feita desde oinicio

devido a falta de escolas primarias, ao problema da evasao, bem

como ao fato de as escolas secundarias serem predominantemen-

te pagas e que 0numero de alunos com condicoes de. cursar se

restringia aos elementos originarios de setores sociais altos e,

paulatinamente, tambern dos medics, cujo objetivo era 0 cursosuperior. Dai 0 carater propedeutico do ensino secundario se

manter.

~.

I iI

"0 fato mais digno de significacao do ponte de vista cultural nesse

periodo e 0 que s~~.chamou de bacharelismo, no pior sentido , signi ficando

a mania generalizada' entre os respectivos pais, de formar 0 filho, dar-lhe

de qualquer modo urn titulo de doutor. ( ... ).

C . . . ) pois ser doutor era, senao urn meio de enriquecer, certamente

..uma forma de ascender socialmente. Ao doutor abriam-se todas as portas, e,

principal mente, os melhores cargos no funcionali smo" (Basbaum, 1962: 288) .

E, na pagina seguinte, 0mesmo autor declara: "Eramos urn.

pais de doutores e analfabetos". Este direcionamento estreito

de interesses que marcava a clientela do ensino secundario eresponsavel pela orientacao centralizadora, apesar de a Consti-

tuicao de 1891 consagrar a descentralizacao, fruto do principio

federativo, que significava a pouca intervencao do governo fe-

deral nos estados.

S6 que agora (Republica) tal orientacao nao se faz apenas

de forma indireta, pelo controle dos exames de ingresso nas fa-

culdades, a exemplo do que aconteceu no Imperio, como tambem

de forma direta, pelos mecanismos de fiscalizacao e equiparacao

em poder do governo federal.

Continuava, tambem, urn e~sino de tipo Iiterario, desde que

as tentativas em contrario, fruto das reformassob influencia

positivista, por exemplo, acabaram por torna-lo enciclopedico,

Aprendiam-se os conhecimentos cientificos como eram assimila-

dos os de natureza literaria. Nao se fazia ciencia, nao se aplicava

o metodo cientifico. Tomava-se conhecimento dos resultados da

atividade cientifica.

I. Citado em Moacyr (1941, III: 93). Esta expressao. grifada pelo autor

C 0 registro de uma declaracao feita em 1903 ou 1904.

81

Este nao era 0 unico tipo de ensino medic: era 0 predomi- Como os dados a respeito do ensino secundario sao bas-

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nante. Havia 0 ensino profissional, que atendia a uma crescente,

mas, mesmo assim, diminuta clientela.

Seguindo a Tabela IV, percebe-se que tanto 0setor publico

como 0 particular apresentaram urn crescimento, sendo mais

acentuado na area federal. Somente 0 ensino nautico nao apre-

sentou indices de crescimento,exceto com relacao a conclusao

de curso.

tante incompletos,· nao se pode estabelecer uma cornparacao.

Seria interessante assinalar que, na opiniao do prof. Jorge

Nagle, a manutencao dos padr6es tradicionalistas no ensino se-

cundario e a permanencia da ideia de que 0 ensino profissional

(elementar e medic) destinava-se as camadas menos favorecidas,

acaba por agravar 0 problema referente as distintas formacoes:

urn conjunto de escolas propiciava a formacao das "elites" e,

outro, a do "povo":

o crescimento do ensino profissional, se, de urn lado, pode

representar 0 encaminhamento da contradicao entre nao-esco-

larizados e escolarizados, de outro, pode representar 0 surgimen-

to e/ou aprofundamento de outra contradicao entre formacao de

"elite" e de "povo", como foi assinalado anteriormente.

TABELA IV

E n s i no p r o f i ss i o n a ln o B r a s il ( 1 90 7 - 19 1 2)

Escolas Pessoal Docente

N.o Absoluto N.o Indice N.o Absoluto N.o Indice

1907 1912 1907 1912 1907 1912 1907 1912

Federal 8 31 100 387 188 430 100 229

Estadual 38 52 100 137 390 592 100. 15 2

Municipal 10 14 10 0 14 0 168 254 100 15 1

Particular 100 202 10 0 20 2 906 1583 100 17 6

Sacerdotal 32 50 100 275 200 290 100 145

Pedagogico 44 58 100 132 51 0 815 100 160

A r t. L i be r al 17 29 100 170 161 246 100 153

A r t . I n d u st . 42 89 100 21 2 553 976 100 17 6

Agronornico 4 33 100 82 5 27 194 100 718

Nautico 3 2 100 66 46 12 100 26

Comercial 14 38 100 27 1 155 326 10 0 21 0

Total 15 6 29 9 10 0 19 1 1652 2859 10 0 17 3

Matricula Conclusiio de Curso

N.O Absoluto N.O Indice N.O Absoluto N.O Indice

1907 1912 1907 1912 1907 1912 1907 1912

Federal 1153 4866 10 0 42 2 21 81 100 38 6

Estadual 5091 8663 10 0 17 0 50 1 1119 10 0 22 3

Municipal .1718 2397 100 139 174 169 100 97

Particular 11499 13546 100 11 8 472 1497 100 31 7

Sacerdotal 1277 1455 100 11 4 13 0 15 1 10 0 11 6Pedagogico 5020 9249 10 0 184 654 1237 100 189

A r t. L i be r al 2228 2558 10 0 11 5 92 177 100 192

A r t. I n du s t. 9779 11423 10 0 11 7 22 5 72 4 10 0 32 2

Agronomico 153 1117 100 73 0 5 110 100 2200

Nautico 34 25 100 73 2 11 100 550,

Comercial 970 3643 10 0 375 60 466 100 776

Total 19461 29472 100 151 1168 2866 100 24 6

Ensino superior

Pela Tabela V, verifica-se que durante os anos de 1907 a

1912 as escolas particulares

eque apresentaram ummaior

aumento.

A esfera estadual parece ter buscado urn maior, e nao ne-

cessariamentemelhor, aproveitamento de suas escolas, umavez

que, mesmo diminuindo 0numero de suas escolas e professores,

apresentou urn aumento de matricula e conclusao de curso.

Quanto ao tipo de curso, 0 rnedico-cirurgico-farmaceutico e

o politecnico suplantaram em crescimento 0 juridico.

Outro dado a destacar e 0de que a matricula no ensino

superior representava 0,05% da populacao total do pais, que, em

1900, era de mais de 17 rnilhoes de habit antes (ver Tabela I).Isto e , em 2.000 habitantes, urn estava cursando 0 superior.

o fenomeno do bacharelismo, assinalado quando da dis-

cussao-do ensino secundario, ja indica 0 tipo de formacao con-

seguido atraves do ensino superior.

A este nivel (superior) constata-se, tambem, uma dicotomia

entre atividades literarias, proporcionadas pelas escolas, e ativi-

dades cientificas. Como lembra Fernando de Azevedo (1944: 369):

Fonte: D ir et or ia G er al d e E st at is ti ca ,Annuario Estatistico do Brazil, ano I,

v ol . I I I, p. 1 .0 14 a 1 .0 37.

82 83

"( ... ) As atividades cientificas no Brasil ( ... ) continuaram dispersas A unica excecao foi a Faculdade de Medicina da Bahia, de

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em instituicoes especiais de varias· naturezas -.museus, estacoes expe-

rimentais e laboratories -, que nao serviam ao ensino e nem se enqua-

dravam no sistema propriamente escolar da Nacao",

TABELA V

o ens ino superior no Bras il (1907-1912)

Escolas Pessoal Docente

N.O Absoluto N.O fndice N.O Absoluto N.O Indice

1907 1912 1907 1912 1907 1912 1907 1912

Federal 6 6 10 0 10 0 256 366 10 0 14 3

Estadnal 6 5 10 0 8 3 112 94 10 0 84

Particular 13 39 10 0 3 0 0 3 20 58 0 10 0 18 1

Filos. Liter. - 1 - - - 4 - -Juridico 10 15 10 0 15 0 21 9 263 10 0 120

Med. Cir. Farm. 9 21 10 0 23 3 25 9 4 90 10 0 18 9

Politecnico 6 13 10 0 216 210 28 3 10 0 13 5

Total 25 50 10 0 20 0 68 8 1 0 4 0 10 0 151

-,

Matricula Conclusiio de Curso

N.O Absoluto N.O Indice N.O Absoluto N.O Indice

1907 1912 1907 1912 1907 1912 1907 1912

Federal . 3 557 38 18 10 0 10 7 62 8 713 10 0 113

Estadual 4 90 658 10 0 13 4 12 6 20 4 100, 16 2

Particular 1748 4 4 0 3 10 0 252 3 4 3 640 10 0 18 6

Filos. Liter. - 55 - - - - - -Juridico 2481 2728 100 119 462 511 10 0 11 0

Med. Cir. Farm. 2889 4 8 20 10 0 167 516 868 100 168

Politecnico 4 25 1276 10 0 3 00 119 178 10 0 14 9

Total 5795 8 8 79 100 15 3 1097 1557 10 0 14 2

Fonte: Diretor ia Geral de Estatistica, Annudrio Estatistico do Braz il, ana 1,

vol. 1II, p. 918-29.

84

1891· a 1905, por influencia de Nina Rodrigues: esta servia apesquisa e ao ensino.

A reforma Carlos Maxirniliano (1915) traz a seguinte reso-

lucao: "0 GovernoFederal, quando achar oportuno, reunira em

Universidade a Escola Politecnica e de Medicina do Rio de Ja-

neiro, incorporando a elas uma das Faculdades Livres de Direito".

Tal oportunidade acontece a 7 de setembro de 1920. Criou-se nesta oportunidade a Universidade do Rio de Janeiro fruto

da reuniao "nominal" das faculdades citadas. '

Seria necessario assinalar, ainda, que continuou a ser dada

# pouca atencao a formacao do magisterio, Foram criadas algumas

escolas normais, das quais tres em Sao Paulo, como result ado

das reformas Caetano de Campos, Bernardino de Campos e Ce-

sario Mota (1890-1893); nao foram organizados cursos para a

formacao do magisterio secundario e os criterios de selecao dos

professorcs de nivel superior nao eram eficientes.

E Carlos Maximiliano que declara na "Exposicao de Moti-vos" da rcforrna de 1915:

"Para que cinco Academias de Direito na capital de urn pais de analfabetos,

na qual se nao con tam quatro ginasios excelentes? Em cidade nenhuma

do mundo se nos depara semelhante abundancla de cursos superiores. Nos

centres pouco populosos, se acaso uma faculdade existe, nao e possivel a

selecao do pessoal docente : todos os medicos ou todos os advogados do

lugar se tornam professores"(in M oa cy r, 1 94 2, I V: 9 3) .

85

Esta industrializacao "florescia espontaneamente no 'vazio'

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Nova crise do modelo agrario-comercial

exportador dependente e infcio de estruturocoodo modelo nacional-desenvolvimentista,

com base nc industrializa<;oo

deixado pela producao primario-exportadora intern a e pelapro-

ducao industrial das sociedades capitalistas 'centrais'" (Perei-

ra, J970: 127).

Socialmente ela represent a a consolidacao de dois cornpo-

nentes: a burguesia industrial e.o operariado. 0 componente re-

presentado pela burguesia industrial apresenta pontos de con-

tato com os outros setores da classe dominante, nao -so pelo fato

de muitos dos industriais serem ou terem sido fazendeiros, como

tambem PQr se colocarem numa relacao de dominacao no que

diz respeito a mao-de-obra. Ao mesmo tempo apresenta traces

de distincao que levam a choques de interesses economicos que

acabam por atingir, as vezes, a area politica. A propria "Revo-

lucao de 30" represent a urn dos instantes agudos de urn desses

choques: os varies setores se polarizam contra urn dos setores

dominantes representado pelos cafeicultores, com 0objetivo de

conseguir uma mudanca na orientacao.

o significado do outro componente social - 0 operariado

- esta no fato de .representar a existencia, a partir dai,do POVQ

enquanto expressao politica. As manifestacoes urbanas organi-zadas retratavam de forma mais objetiva a insatisfacao dos seto-

res de classe dominada. .

Nos anos de 1917 e .1918 os movimentos grevistas recrudes-

cern e acontece a primeira greve geral em Sao Paulo, que dura

trinta dias e chega a levar 0governo a abandonar a cidade.

Mas apesar de tais acontecimentos, os politicosda decada

de 20 insistiram na tentativa de ignorar esta emersao popular.

o trecho a seguir transcrito ilustra a afirmacao anteriormente

feita:

6~ Periodo

1920 a 1937

f I""Facamos a revolucao antes que 0 povo a aca:

Esta e a famosa frase de Antonio Carlos, governador de

Minas e presidente do PRM (PartidoRepub~icano l~'1i~eiro),pro-nunciada as vesperas da "Revolucao de 30 . Ela e mte~es~a~te

porque chama a atencao naoso para a ocorrencia ~e s~gn~hca-

tivos acontecimentos na decada anterior, como tambem indica a

orientacao e conseqiiente Iimitacao do proprio movimento de

outubro de 1930.

I' A fase anterior a "Revolu!;ao de 30"/

INelson W. Sodre denomina "declmio das oligarquias" ao pe-

dodo republicano de 1918 a 1930. Tal decli~i~ evidenteme~te

ocorre devido a existencia de novas forcas SOCIalS,em decorren-

cia das modificacoes na estrutura econornica.

A modificacao basica e representada pelo impulso sofrido

pelo parque manufatureiro que, apesar ~e debi!, ~assa a ter pa-

pel indispensavel no conjunto da econorma br~sIlelra: ~e em 190'Z

existiam no Brasil 3.258 estabelecimentos industrials, 150.000

operarios e urn capital de 666.000 contos de reis, em 1920 estes

numeros haviam aumentado para 13.336, 276.000 e 1.816.000, res-

pectivamente (Sodre, 1973: 310).

"Washington Luis, como todos os seus antecessores no governo daRepu-blica, jarnais . compreendera que 0 proleta riado passara a existir, era agora

uma classe definida, com interesses e reivindicacoes proprias e que nos

calculos eleitorais era' preciso leva-lo em conta. ( . .. ).

Para ele, como para seus companheiros de Partido, como repetira por

varias vezes, a questao socia l era urn caso de policia" (Basbaum, 1962: 330).

Por outro lado, em 1922 e criado 0 Partido Comunista Bra-

sileiro (PCB), que tern duracao legal de apenas quatro meses em

decorrencia do estado de sitio decreta do logo em seguida.

86 87

Nesta caracterizacao social dos anos 20, e interessante tam- os conseqiientes altos indices de analfabetismo. 0problema ~as-

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bern assinalar 0crescimento do setor medic da. populacao, com-

posto, como lembra L. Basbaum,"da pequena burguesia das cidades, .por uma grande massa de -funcionarios

publicos, empregados do. comercio, as chamadas classes liberais e intelectuais

e, por fim,' o.smilitares cuja origem social era agora a propria .classe media"

(Basbaum, 1962: 428).

Boa parte deste setor em crescimento sente-seprejudicada

pela polttica vigente e tambem tem suas reivindicacoes e condi-~6es de expressa-las e exigi-las. Elas estao sintetizadas num mo-

vimento chamado "tenentismo" que,ao interpretar a situacao,

conclui que 0 regime politico era bom, ruim eram os homens que

estavam no poder. Estes e que eram corruptos. .

Diante disso, reivindicavam representacao e justica, pois 0

mal estava todo ele na forma como eram escolhidos os manda-

tarios, forma esta que tornava impossivel a oposicao chegar aopoder.

Mais uma vez, como ja aconteceu por ocasiao da Proclama-

~ao da Republica, os militares e que lideram tal movimento con-

testat6rio e provocam uma serie de revoltas, como a do Forte de

Copacabana, em 1922, a liderada por Isidoro Dias Lopes, em

1924, e a Coluna Prestes - 1924a 1927.

Nelson W. Sodre lembra muito bem que 0 fato de estes re-

present antes militares terem se transformado em idolos nac~o-

nais era bastante sintomatico. Deveria haver, e certamente havia,

tanto nos setores dominantes como nos dominados, uma insatis-

facao geral eum desejo de mudanca, mesmo que na maior parte

das vezes nao tivessem claro como deveria ser este "novo Bra-

sil" ou que tentassem resolver de forma por demais simplista a

questao, acreditando que bastaria a substituicao dosgovernan-tes atraves de uma votacao secreta.

Era de se esperarque neste ambiente de agitacao, de con-

testacao de ideias e praticas estabelecidas, tambem aquelas que

caracterizavam a organizacao escolar do pertodo fossem oom-

batidas.

Ja nao eram apenas ou predominantemente os politioosque

denunciavam a insuficiencia do atendimento escolar elementar e

8 8

sava a ser tratado, agora, por educadores "de profissao", Carac-

teriza-se 0que 0prof. J. Nagle denomina de entusiasmo pela edu-

cacao, isto e ,"a crenca de que, pela mult ipl icacao das inst ituicoes escolares, pela disse-

minacao da educacfio escolar, .sera possivel incorporar grandes camdas

da populacao na senda do. progresso nacional e colocar 0. Brasil no. caminho

das grandes nacoes do. mundo ( ... )"; .

e de otimismo pedagogico, isto e,

"A crenca de que determinadas formulacoes doutrinarias sobre a escola-

rizacflo indicam 0. caminho para a verdadeira formacao do. homem brasileiro"

(Nagle, 1974: 99·100).

o modelo de escolarizacao que estava sendo assimilado era

o da Escola Nova.

"0 entusiasrno pela educacao e 0. otimismo pedagogico, que tao. bern

caracterizam a decada dos anos 20, cornecaram por ser, no. decenio anterior,

uma atitude que se desenvolveu nas correntes de ideias e movimentos poli-

tico-sociais e que consistia em atribuir importancia cada vez maior ao tema .

da instrucao, nos diversos niveis e tipos. E essa inclusao sistematica dos

assuntos educacionais nos programas de diferentes organizacoes que dara

origem aquilo que na decada dos 20 esta sendo denominado de entusiasmo

pela educacao e otirnismo pedagogico" (Nagle, 1974: 101).

Analisando esta atitude que se desenvolve nos anos 10, Na-

gle afirma:

"( ... ) enquanto 0. tema da escolarizacao era proposto e analisado de

acordo corn urn amplo programa desta ou daquela corrente ou movimento,

ela servia a propositos extra-escolares ou extrapedagogicos; era uma peca

entre outras, peca importante, sem duvida, mas importante justamente pelas

suas Iigacoes com problemas de outra ordem, geralmente problemas de

natureza politica. ( . .. ) Apenas na decada final da Primeira .r Republica a

situacao vai ser alterada, com 0. aparecimento do. 'tecnico' em escolarizacao,

a nova categoria profissional ( ... ). Justamente nesse momento, o.stemas

da escolarizacao vao. se restringindo a formulacoes meramente educacionais

ou pedagogicas, corn 0. que vao perdendo Iigacoes com os problemas de

outra natureza" (Nagle, 1~74: 101-2).

Fazendo uma comparacao entre as fases do movimentoes-

colanovista universal e nacional, J. Nagle considera 0 seguinte:

"(. .. ) quatro etapas ja se haviam sucedido, no. desenvolvimento historico

geral do. escolanovismo, enquanto no. Brasil nao. haviasido. atingida nem

a primeira" (Nagle, 1974: 240).

8 9

A sene de reforrnas pedagogicas empreendida nos anos 20, Uma Iimitacao teorica a ser assinalada esta no fato de repre-

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era mais .ou menos a repeticao da primeira etapa ocorrida .em

ambito universal na ultima decada do seculo passado 1.

Tais reformas representavam a tentativa de implantacao da

"escola primaria integral", definida da seguinte maneira no art.

65 da Lei n." 1.846, que reformulou 0ensino primario baiano

em 1925:

"Sera sobretudo educativa bus cando exercitar nos meninos os habitos de

observacao e raciocinio, despertando-lhes 0 interesse pelos ideais e con-

quistas da humanidade, ministr ando-lhes nocoes rudimentare s de litera tura

eHistoria patria, fazendo-os maneja r a lingua portuguesa como instrumento

do pensamento e .da expressao: guiando-Ihes as atividades natura is dos

olhos e das mfios mediante formas adequadas de trabalhos praticos e

manuais, cuidando, f inalmente, do seu desenvolvimento fisico com exercicios

e jogos organizados e 0 conhecimento das regras elementares de higiene ,

procurando sempre nao esquecer a terra e 0 meio a que a escola deseja

servir, utilizando-se 0 professor de todos os recursos para adaptar 0 ensino

as particula ridades da regiao e do ambiente ( ... )" (Nagle, 1974: 212).

Quanto aos niveis medic e superior sao defendidas ideias

que nao chegam a alterar,nem em parte, as instituicoes do pri-

meiro periodo republicano.

Para 0 ensino de grau medic, 0 objetivo propagado era 0

desenvolvimento do espirito cientifico. a organizacao envolvendo

multiples tipos de cursos e integra do com 0primario e superior.

Para este, defendiam a organizacao 'universltaria, visando 0

atendimento das necessidades profissionais e de pesquisa, e a

criacao da faculdade .de filosofia e letras.

Tendo-se em mente 0 conjunto da organizacao escolar bra-

sileira, asrealizacoes citadas apresentam grandes Iimitacoes, nao

so por serem regionais como tambem por se restringirem ao

ensino primario e dependerem da permanencia dos educadores

no cargo publico, que oferecia condicoes legais. Substituidos es-

tes reformadores, na maioria das vezes seguiram-se reformas do

tipo tradicional.

1. Na serie citada constam as reformas de Lourenco Filho (Ceara, 1923),

Anisio Teixei ra (Bahia, 1925), Francisco Campos e Mario Casassanta (Minas,

1927), Fernando de Azevedo (Distrito Federal, 1928), Carneiro Leao (Pernam-

buco, 1928).

90

sentar mais uma forma de transplante cultural e de pedagogis-

mo, isto e , de interpretacao do fenomeno educacional sem ter

claro as verdadeiras relacoes que ele estabelece como contexto

do qual e parte. Assimsendo, acabam por acreditar ser a edu-

cacao um fator deterrninante na mudanca social. E tal crenca

evidencia que, emrealidade, 0 fenomeno educacional esta sendo

concebido como isolado do contexto, uma vez que a acao vque

este exerce sobre aquele nao

ebem definida.

Os textos abaixo citados indicam tal orientacao:

"( ... ) continuamente se discutem, se identificam e se analisam os 'grandes

problemas nacionais', para os quais se propoern conjuntos muitas vezes

contraditorios de solucoes, Entre eles se privilegia 0 da escolarizacao, em

muitos espiritos transform ados no unico e grave problema da nacionalidade"

(Nagle, 1974: 101).

U( •.. ) 0 sistema oligarquico se fundamenta na ignorancia popular , de'

maneira que so a instrucao pode superar este estado e, por conseqiiencia,

destruir aquele tipo de formacao social,

As dificuldades economico-financeiras, afirma-se, sao frutos da falta

de patriotismo, de urn lado, e da falta de cultura 'pratica' ou de formacao

tecnica, de outro.

( ... ) os ernpecilhos it formacao de uma sociedade aberta se encon-tram basicamente na grande massa analfabeta da populacao brasileira _

em primeiro Iugar - e no pequeno grau de disseminacao da instrucao

secundaria e superior, que impede 0 alargamento na composicao das 'elites'

e 0 necessario processo de sua circulacao" (Nagle, 1974: 109-10).

Mesmo partin do desta visao superficial da realidade social,

superficialidade constatada tambern no tenentismo, e importan-te destacar a atuacao de tais educadores defendendo a ideia de

que nao so era preciso difundir a educacao e a cultura, como

tambem era necessario reestrutura-Ias: e isto como um dever do

regime republicano, que se dizia democratico e nao aristocrati-

co; tentando implantar reformas, mesmo que parciais; mas sem-pre denunciando os graves problemas existentes na organizacao

escolar brasileira de seu tempo.

2. A fase posterior it "Revolu~ao de 30"

Luiz Pereira se refere ao periodo da "Revolucao de 30" como

sendo 0 do "grande despertar" da sociedade brasileira (Pereira,

1970: 126).

91

Fazendo-se uma investigacao com 0 fim de saber para que a Desta forma tern origem, mesmo que de uma maneira urn/

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foi, de forma significativa, para as causas. do seu subdesenvolvi-

mento, do seu atraso em relacao as sociedades tidas como de-

senvolvidas:

Duas causas basicas deste atraso passaram a ser atacadas de

forma intensa, as vezes mais, as vezes menos.

Em primeiro lugar, ter-se-ia a destacar0

reconhecimento deque uma economia onde 0 setorcentral era' a agricultura de ex-

portacao nao oferecia condicoes de desenvolvimentovDesenvol-.

vimento esta aqui por nos sendo empregado com 0 sentido de

"( ... ) urn processo de transformacao economico, politico, social

atraves do qual 0crescimento do padrao de vida da populacao

tende a tornar-se autornatico e autonomo" (Pereira, 1968: 15),

e nao com 0 senti do de altas taxas 'de crescimento economico

.que reflitam no crescimento do padrao de vida de apenas uma

parcela, as vezes muito pequena, da populacao,

Em segundo lugar, 0paulatino reconhecimento de que a

dependencia da economia brasileira em relacao a economia ex-terna tinha que ser rompida.

~s duas causas, em realidade .se interpenetram e quase se

confundem no periodo, a medida que tal dependencia e caracte-

rizada como sendo resultado de a economia estar baseada na

agricultura de exportacao, exigindo a importacao de manufatu-

. rados.

Neste contexto a estimulacao do setor industrial brasileiro

aparece como solucao dos dois problemas.

..~~Wcil'.I~J[OJJii_"~1I~"jEmp~lq~1S'&e:>Y~.m ma;-1li1't ;~{~ersliillifg··~~€t0S'J!\~il'g€K;m '~fla~;~@'jet¥f@ 's~~Cil(ital~t€.·sti'gw:a'([@s~)1

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I§:I.:~tllmK~a't~€'J.~m~m~1iitt~!_gJ~~m~~lIi!~I~i;lCifi§i

92

poueo confusa de inicio, a ideologia politica - 0 nacional-desen-

volvimentismo - e omodelo economicocompativel - a substi-

tuiciio de importaciies.

Inicialmente isto se da de forma confusa, porque os descon-

tentes que se unem para tomar 0poder tern claramente em co-

mum a intencao de derrubar 0 Partido Republicano, liderado

pela faccao paulista ligada a plantacao e exportacao de cafe e,em especial, ao Instituto do Cafe.

Estes detalhes sao importantes para que se entenda a com-

posicao de forcas, porquy no proprio PRP ocorre uma divisao

pouco antes de 1930, e os cafeicultores, descontentes com a poli-

tica de valorizacao do cafe, levada a efeito pelo Instituto do Cafe,

dele se desligam e passam a formar 0 Partido Democratico

(PD). 0 mesmo motivo aproxima 0 Partido Republicano Mineiro

(PRM) do PD, afastando-o do PRP.

Tais cafeicultores descontentes reconhecem que a politica de

valorizacao esta, em realidade, enriquecendo os financistas in-

gleses e empobrecendo os cafeicultores,

Os financistas norte-americanos, desejosos de ocuparem 0

lugar ate entao ocupado pelos ingleses, tarnbem tern interesses

na mudanca: So nao interferem mais diretamente devido a crise

em que se encontram em 1929.

Outro grupo descontente e representado pelos setores do-

minantes do Rio Grande do SuI (pecuaristas), cujos partidos

rivais, 0 Partido Republicano Rio-Grandense e 0 Partido Liberta-

dor, se unem numafrente (mica.

As camadas medias, lideradas .pelos tenentes, os "intelec-

tuais desiludidos", como diz Le6ncio Basbaum, e as mass as po-

pulares completam 0 quadro que comp6e a "Alianca Liberal",

nome dado ao movimento politico nacional que marca 0 periodo.

E facil perceber que, alem de derrubar 0 PRP, pouca coisa

em comum grupos tao diversificados podiam ter em relacao as

novas bases de estruturacao do pais. Os proprios itens do pro-

93

gramada Alianca Liberal forarn esquecidos ", Tanto e que, apos combate ao dominio das oligarquias durante a Primeira Republi-

ca e a tomada do poder politico porparte de uma lideranca mais

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lio Vargas, a confusao e que caracteriza os meses seguintes, onde

o problema fundamental passa a ser 0 manter-se no poder. A so-brevivencia nacional, a organizacao politica dos estados, a .insa-

tisfacao das massas, 0 pavor dos comunistas e prestistas e a ~

necessidade de satisfazer os amigos sao citados por Leoncio Bas-

baum como problemas decorrentes do fundamental.

Talvez seja interessante lembrarque prestistas e prestismosao designacoes originadas do nome de Luis Carlos Prestes, chefe

do estado-maior da Coluna Prestes, movimento politico-militar

ja citado. Tal grupo tinha como ideal, entre outras coisas, 0

2. Quando de sua posse, Getulio Vargas faz urn resumo do program a de

reconstrucao nacional em dezessete itens:

"(1) - Concessao da -anistia; (2) - saneamento moral e fisico, ext irpando

ou .inutilizando os agentes da corrupcao; (3) - difusao intensiva do ensino

publico, principalmente tecnico-profissional; (4) - instituicao de urn Conselho

Consultivo, composto de personalidades eminentes e sinceramente integradas na

corrente das ideias novas; (5) - nomeacao de Comiss5es de Sindicancia para

apurarem a responsabi lidade dos governos depostos e de seus agentes, relati-vamente ao emprego dos dinheiros publicos; (6) - rernodelacao .do Exercito e

da Armada, de acordo com as necessidades de defesa nacional; (7) - reforma

do sistema eleitoral, tendo em vista principal mente a garantia do voto; (8) -

reorganizacao do aparelho judiciario no sentido de tornar realidade andependencia

moral e material da magistratura, que tera competencia para conhecer 0 processo

eleitoral em todas as suas fases; (9) - feita a reforma eleitoral, consul tar a

Nacao sobre a escolha de seus representantes; (10) - consol idacao das normas

administrativas com 0 intuito de simplificar a confusa e complicada Iegislacao

vigorante; (11) - manter uma adrninistracao de rigorosa economia, cortando

todas as despesas improdutivas e suntuarias; (12) - reorganizacao do Ministerio

da Agricuitura; (13) - intensificar a producao pela policultura e ado tar uma

politica internacional de aproximacao economica, facilitando 0 escoamento das

nossas sobras exportaveis; (14) - rever 0 sistema tributario de modo a amparar

a producao nacional, abandonando 0 protecionismo dispensado as industrias arti-

ficiais, que nao utilizam materia-prima do Pais, e mais contribuem para encarecer

a vida e fomentar 0 contrabando; (15) - inst ituir 0 Ministerio do Trabalho,

destinado a superintender a questao social, 0 amparo e a defesa do operariado

urbano e rural; (16) - promover, sem violencia, a extincao progressiva do lati-

ftindio, protegendo a organizacao da pequena propriedade; mediante a transferencia

direta de lotes de terras de cul tura ao trabalhador agricola, preferentemente ao

nacional, est imulando-o a construir, com as proprias maos, em terra propria, 0

edificio da sua prosperidade; (17) ~ organizar 0 plano geral ferroviario e rodo-

viario para todo 0 Pais" (Silva, 1972: 54-5).

94

justa. Com a aproximacao de Prestes e do PCB a partir de 1928,

levando a publicacao de urn Manifesto em 1930, 0 prestismo

passa a ser alvo de combate.

A pequena burguesia e as camadas medias, nesses primeiros

anos, acreditavam exercer a lideranca, ja que seus chefes (te-

nentes) eram ministros interventores.

Leoncio Basbaum descreve a situacao da seguinte forma:·"Por volta de 31 0 governo ja esta cambaleando e perdeu a confianca

do povo. Os principais e angustiantes problemas, entre os quais 0 do desem-

prego, permanecem onde estavam: continuam problemas, a espera de

solucao, Como obter 0 apoio das massas? Fazendo concessoes aos tenentes .

.E que querem os tenentes? Querem 0 fascismo, 0 governo for te, a .luta

de morte contra 0 comunismo e as veleidades revolucionarias das massas"

(Bausbaum, 1962: 20).

~<:ff Mas esta possivel lideranca nao e tranqiiila. Veja-se 0 ana

de 1932, com a chamada "Revolucao Constitucionalista", onde 0

motivo mais serio estava na intencao da elite paulista de voltar

ao poder. A razao que deu nome

a"Revolucao" de 32 - demora

na promulgacao da Constituicao - foi mais uma maneira de

dar uma significacao nacional ao movirriento.

-E correto que havia uma certa pressao, por parte do Clube

3 de Outubro, organizacao tenentista, para que nao fosse con-

vocada a Constituinte."Mas, ja em maio, havia sido constituida uma comissao incumbida

de redigir 0 projeto da Consti tuicao, e as eleicoes marcadas para 3 de maio

do ano seguinte. Ora, naquele momento, so urn profeta poderia afirmar

que a Constituicao naoviria e as eleicoes nao se realizariam" (Basbaum,

1962: 54).

Resumindo, dir-se-ia que nao havia nestes primeiros tempos

urn plano de governo, por dois motivos basicos: a multiplicidade

de grupos e interesses e 0 esquecimento do programa da Alianca

Liberal. Desta forma Q plano vai-se delineando, mais propria-

mente, ditado pelas circunstancias,

Essa falta de medidas imediatas, essa hesitacao inicial, essa

decretacao ao sabor das circunstancias, como se acabou de assi-

nalar, teve como conseqiiencia a queda do entusiasmo dos setores

populares, principalmente urbanos, 0 descontentamento do pro-

95

prio setor 'paulista (PD), que acabou por aliar-se aos antigos

adversaries (PRP), a ponto de se rebelarem (1932) contra 0 goo.fundamental), era 0 "curse de formacao do homem, que atraves

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verno federal, como tambem foi responsavel pelo descontenta-

mento daqueleseducadores participantes domovimento de re-

formas -da decada de 20.

~ Estes, diante da demora na tomadade medidas educacio-

/ nais, lancam 0Manifesto dos Pioneiros da Educacao Nova.

Isto que acaba de ser afirmado nao quer dizer quenenhu-

rna medida educacional havia sido tomada. Quer demonstrar a

necessidade e conveniencia de que as medidas fossem tomadas

em decorrencia de urn' programa educacional maisamplo e, por-

tanto, que tivessem uma unidade de propositos e uma seqiiencia

bem-determinada de legalizacao.

Foi dito que nao equivalia a denuncia de ausencia de reso-

Iucoes educacionais porque ja em 1930 e criado 0 Ministerio da

Educacao e Saude, que ficou sob a responsabilidade de Francisco

Campos - elemento ligado ao movimento de reformas educacio-

nais de antes de 1930, como foi vista.

Pelos decretos n.OS19.851 e 19.852, de 11 de abril de 1931,e empreendida a reforma do ensino superior, que leva 0 nome

~Q titular do ministerio. Esta reforma se reveste de importancia

par ter adotado como regra de organizacao 0 sistema universita-

rio.' Isto atraves da criacao da reitoria, com a funcao de coorde-

nar administrativamente as faculdades. Exigia, ainda, a incorpo-

racao de pelo menos tres institutos de ensino superior - Direito,

Medicina e Engenharia - ou, em lugar de algum desses, a Fa-

culdade de Ciencias e Letras, a qual competia

"dar, ao conjunto das Faculdades integradas na Universidade, 0 carater

especificamente unversitario, pela cultura desinteressada, alem de todo

profissionalismo, e por sua funcao sintetizadora. Criou a Faculdade deEducacao, Ciencias e Letras, que, entretanto, nao se organizou, mas ja

estava proposta oficialmente ia n(:lVa instituicao para a formacao do magis-

terio, problema este que 0 pa is enfrentava M. tempos" (Miranda, 1966: 71).

Uma semana depois (18-4-1931), pelo Decreto n." 19.890,

organiza 0 ensino secundario com 0 objetivo de transforma-lo

em urn curso eminentemente educativo. Para tanto, divide-se em

duas etapas: a primeira, com a duracao de cinco anos (curso

96

de habitos, atitudes e comportamento se habilite a viver integral-

mente e a ser capaz de decisoes convenientes e seguras em qual-

quer situacao" (Miranda, 1966: 70); a segunda, de dois anos, visa-

va a adaptacao as futuras especializacoes profissionais, Esta

reforma tambem tornou obrigatoriacertas cadeiras nest a segun-

da etapa (sociologia, historia da filosofia, higiene, economia po-

litica, estatistica):

o decreto n.? 20.158, de 30 de junho de 1931, altera 0 ensino

comercial, que passa a ter 0 curso propedeutico (tres anos), se-

guido de cursos tecnicos (de urn a tres anos) em cinco modali-

dades e 0 curso superior (tres anos) ,de administracao e financas.

Por outro lado, a preocupacao dos educadores com uma

politica nacional de educacao pode ser constatada atraves de

todo 0 texto do Manifesto, escrito por Fernando de Azevedo e

assinado por numerosos educadores, como tambem pelo esboco

de. urn prog~ama educacional extraido dele, 0 qual sera trans- * -~a~~ /

Esboco de urn programa educacional extraido do Manifesto g;

de 32:·~I.Estabelecimento de 11m sistema completo, com lima estrutura orgdnica,

conjorme as necessidades brasi le iras, as novas diretr izes economicas e sociai s

da civil izaci io a tual e os seguin tes principios gerai s:

a) A educacao e consider ada em todos os seus graus como uma funcao

social e um service essencialmente politico que 0, Estado e chamado a

realizar com a cooperacao de todas as instituicoes sociais;

b) Cabe aos estados federa:dos organizar, custear e ministrar 0 ensino

em todos os graus, de acordo com os principios e as normas gerais esta-

belecidos na Constituicao e em _leis ordlnarias pela Uniao, a quem compete

a educacao na capital do pais, uma a~ao supletiva onde quer que haja

def iciencia _de meios e a a~iio fiscalizadora , coordenadora e estimuladorapelo Minister io da Educacao;

c) 0 sistema escolar deve ser estabelecido nas bases de uma educacao

integral; em comum plifa os alunos de um e outro sexo e de acordo

com suas aptidoes naturais; unica para todos, eleiga, sendo a educacao

primaria (7 a 12 anos) gratuita e obrigatoria; 0 ensino deve tender pro-

gressivamente it obrigatoriedade ate 18 anos e it gratuidade em todos os

graus,

II . Organizaciio da escola secunddria (12 a 18 anos) em tipo jlexivel

de nit ida finalidade social, como escola para 0povo, niio' preposta a preservar

e a transmitiras culturas classicas, mas destinada, pela sua estrutura

97

democratica, a ser acessivel e proporcionar as mesmas oportunidades para

todos, tendo, sobre a base de •••ma cultura geral comum ,(3anos), as

b) para a criacao de urn meio escolar natural e social e 0 desenvol-

vimento do espirito de solidariedade .e cooperacao social (como as caixas

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secoesde especia lizacao para as atividades de preferencia intelectual (huma-

nidades e ciencias) ou de preferencia manual e mecanica (cursos de carater

tecnico) .

III. Desenvolvimento da es~.ola tecnica -projissional, de nivel secunddrio

e superior, como base da economia nacional, com a necessaria variedade

de tipos e escolas:

a) de agricultura, de minas e de pesca (extracao de materias-primas );

b) .industria is e profissionais (e laboracao de mate ria s-primas) ;

c) de transportes e comercio (distribuicao de produtos elaborados);

e segundo metodos e diretrizes que possam formar tecnicos e operarios

capazes em todos os graus da hierarquia industrial.

IV. Organizaciio de medidas e inst itu ic iies de psico tecnica e orientaciio

projissional para 0 estudo pratico do problema de orientacao e selecao

prof issional e adaptacao cientifica do traba lho as aptidoes naturais.

V. Criaci io de Universidades , de tal maneira organizadas e aparelhadas ,

que possam exercer a triplice [unciio que lhes e essencial ,elaborarar e criar

a clencia, transmiti-la e vulgarizd-la, e sirvam, portanto, na variedade de

seus institutos:

a) It pesquisa cienti fica e It cultura livre e desinteressada;

b) It formacao do professorado para as escolas primarias, secundarias,

profissiona is e superiores (unidade na prepa racao do pessoal do ensino);

c) It formacao de profissionais em todas as profissoes de base cien-

tifica;

d) It vulgarizacao ou popularizacao cientifica literaria e artistica, por

' ' " '< todos osmeios de extensao universitaria.

VI. Criac iio de fundos escolares ou especiais (autonomia econcmica)

destinados It manutencao e desenvolvimento da educacao em todos os

graus e constituidos, alern de outras rendas e recursos especiais, de uma

porcentagem das rendas arrecadadas pela Uniao, pelos Estados e pelos

municipios.

VII. Fiscalizacdo de todas as instituicoes particulares de ensino que

cooperariio com 0 Estado, na obra de educaciio e cultura, ja com funcao

supletiva, em qualquer dos graus de ensino, de acordo com as norm as

basic as estabelecidas em leis ordinarias, ja como campos de ensaios e

experimentacao pedag6gica.VIII. Desenvolvimento das instituiciies de educaciio e de assistencia

[ isca e pslquica a crianca na idade pre-escolar (creches, .escolas maternais

e jardins de infancia ) e de todas as ins tituicoes complementares peri -escola-

res e pds-escolares:

a) para a defesa da saiide dos escolares, como os services medice e

dentario escolares (com funcfio prevent iva, educativa ou formadora de 'h: ibi -

tos •sanitarios, e clinicas escolares, colonies de ferias e escola para debe i s) ,

e para a pratica de educacao fisica (pracas de jogos para criancas, pracas

de esportes, piscinas e estadios};

9 8

escolares, cooperativas escolares etc.);

c) para a articulacao da escola com 0 meio social (circulos de pais

e professores ,' conselhos escolares) e in tercambio interestadual e internacional

de alunos e professores;

d) e para a intensificacao e extensao da obra de educacao e cultura

(bibliotecas escola res fixas e c irculantes, museus escolar es, radio e c inema

educative) .

IX. Reorganizaci io da adminis traci io escolar e dos servi r;os tecnicos de

ensino, em todos osdepartamentos, de tal- mane ira que todos esses se rvicos

possam ser:

a) executados com rapidez e eficiencia, tendo em vista 0 maximo de

resultado com 0 minirno de despesa;

b) estudados, analisados e medidos cientificamente, e, portanto, rigo-

rosamente controlados no seu resultado;

c) e constantemente estimulados e revistos, renovados e ape rfeicoados

por urn corpo tecnico de analistas e investigadores pedagogicos e sociais,

por meio de pesquisas, inque ritos, esta tisticas e expe rencias,

X, Reconstruciio do si stema educacional em bases que possam contribuir

para a interpenetraciio das classes sociais e [ormacdo de uma sociedade

humana mais justa e que tenha por obje to a organizac iio da escola unijicada,

desde 0 Iardim da Ini iincia a Universidade, 'em vista da seleciio dos me-

lhores', e, portanto, 0maximo desenvolvimento dos normais (escola comum),

como 0 tratamento especial de anormais, subnormais ( cla sses dife renciaise escolas especiais)" (Azevedo, s.d.: 88-90).

Esta indefinicao do governo gera tambem uma situacao, ate

certo ponto positiva, que ficou conhecida -corno 0perfodo do

"conflito de ideias" e que vai especialmente de 1931 a 1937.

Tais educadores, de ambos os grupos, entretanto, eram una-

nimes em combater 0 principio de monop6lio do ensino pelo

99

Estado, colocando-se, assim, diziarn eIes, contra as ideologias

tanto de esquerda (comunismo) como de direita (fascismo).

Diante desta pres sao de significativos setores sociais do con-

texto da epoca, pode-se concluir que os motivos da identificacao

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Ao mesmo tempo que representa "urn periodo renovador e

fecundo", pelos debates abertos, representa paulatinamente urn

periodo de sectarizacao, ja que 0 grupo (tradicional), ao consta-

tar a progressiva perda de influencia em prol do renovador, Ian-

ca mao de formas taxativas e comprometedoras, no contexto, em

r~ao aos oponentes.

f.., E assim q~e a ideia ~~fendid~ p~Ios_educador:s escolano-vistas, quanto a responsabilidade publica em educacao, e que os

levava aver "com bons olhos" 0 fato de os poderes publicos

assumirem mais efetivamente a responsabilidade educacional ",

foi identificada com 0 principio de monopolio do ensino pelo

Estado, fazendo com que os educadores escolanovistas fossem

aproximados dos comunistas."Nao so se alargava, por essa forma, como se tornava cad a vez mais

sensivel a zona de 'pensamento per igoso', que existe em qualque r sociedade

e que, variando conforme as epocas e os lugares, tende sempre a ampliar- se,

nos perfodos criticos, de rnudancas e de transformacoes sociais. A zona

de pensamento perigoso, estendendo-se, arneacava abrange r agora, dentro

de suas fronteiras, as aspiracoes da'escola nova' e, de modo geral, as novas

ideias de educacao'' (Azevedo, 1944: 400).

A expressao utilizada por Fernando de Azevedo, "zona de

pensamento perigoso", indica bern a situacao daqueles cujos

ideais eram identificados com a orientacao comunista. Ja foi de-

clarado anteriormente que urn dos problemas, decorrentes do

fundamental, que se colocava ao governo de Vargas na fase ago-

ra analisada era 0de combater 0 comunismo eo prestismo. Essa

medida era esperada nao so pelos setores dominantes como pelo

proprio setor dominado "medic" sob a lideranca do tenentismc>;

3. 0 ensino publico, de 1932 a 1936, cresceu na proporcao de 100 para 134,

enquanto 0 particular, de 100 para 119. Em 1932, 71% das escolas do pafs eram

mantidas pelos poderes publicos; em 1936 esta porcentagem sobe para 73,3.

Em 1932, 26% das escolas particulares nao obedeciam os padroes oficiais de

ensino; em 1936, baixou para 24% (Brasil, INEP, 1939: 20-2).

4. "Abguar Bastos reproduz urn edito de urn desses 'tenentes', 0 Coronel

Landry Salles , coman dante das forcas revolucionarias do norte e governador mil it ar

do Para, sob 0 titulo: Contra a Propaganda Comunista:

'0 Governo Militar mandata passar pelas armas na praca publica a todo

aquele que, estrangeiro ou nao, propalar ou der curso a boatos sobre assuntos

de propaganda comunista, t en tando ass im enxovalhar os grandes e nobres pr incip ios

da Revolucao Brasileir a" (Basbaum, 1962: 33-4).

100

eram outros que nao a defesa pura e simples de principios edu-

cacionais, uma vez que, tendo-se a compreensao dos principios

"educacao como responsabilidade publica" e "monopolio da edu-

cacao", se vera que eles n~o _podem ser identificados.

A escola publica, gratuita e Ieiga era vista pelos educadores

como a situacao ideal, justamente com vistas ao atendimento

das aspiracoes. individuais e sociais, 0 que equivale ao contrariode qualquer imposicao orientadora; quer seja de ordem religiosa,

quer seja de ordem politica. Ao individuo caberia fazer a opcao.

Se os educadores defendiam algum "monopolio", este era

o do individuo, bern a gosto da concepcao liberal de mundo, e

nunca de qualquer outro organismo, seja ele 0 Estado, a Igreja,

ou a familia. -

Entao, se 0 motivo real do combate nao era a posicao poli-

tica dos adversarios (0 comunismo ), os verdadeiros motivos fo-

ram camuflados.

"Uma visao mais cuidadosa sugere que a luta nao e estabelecida entre

anticomunistas e comunistas e nem mesmo entre representante s de interesses

privados e representantes de interesses piiblicos. Na realidade, a luta esta-

belecia-se entre diferentes formas, 'conservadora' versus 'moderna' , de defesa

de interesses sempre particulares.

Isto porque no capitalismo, existindo a propriedade privada dos meios

de producao, 0 publ ico, em ult ima anali se , e privado, uma vez que os inte-

resses primordiais na sociedade sao os do grupo de proprietarios (minoria)

e nao os da coletividade. em geral.

A diferenca apontada, nas formas de defesa de interesses da mesma

natureza, exis te em decorrencia da existencia de modelos capi tali stas parcial-

mente distintos. No caso em discussao, a forma 'conservadora' vincula-se a

uma estrutura social baseada num modelo agrario-exportador, enquanto a

'rnoderna' vincula-se a uma estrutura social com base nummodelo urbane-

industrial" (Ribeiro, 1978: 55), ambos dependentes.

A acusacao infundada de comunismo, por parte dos educa-

dores catolicos, em relacao aosprincipios defendidos pelos edu-

cadores escclanovistas revela que, a partir dos anos 20; as for-

cas mais resistentes a mudanca na sociedade brasileira (mesmo

mudancas de natureza capitalista) fazem uso, e a urn tempo ali-

mentam 0 temor ao comunismo que as classes dominantes, em

geraI, promovem em significativos setores "medics" da popula-

< ; : 8 0 0 , que se ampliam no periodo, como ja foi afirmado.

101

Os educadores catolicos, com '/atitudes deste tipo, represen-

tam, nesse momento, os interesses dominantes que produzem as

nomica, quando exigia a suspensao definitiva do pagamento das

dividas do Brasil, a nacionalizacao das empresas imperialistas,

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injusticas sociais e as consagram, quando chegam a identificar

qualquer proposito de alteracao social com algo muito mal de-

finido - 0 comunismo - que, aterrorizando certa base social, a

imobiliza ou: a leva a agir contrariamente as mudancas,

Reforcam, voluntariamente ou nao, em certa medida, a ten-

dencia politica de natureza fascista que se propaga em alguns

centros brasileiros (sobretudo nos estados do SuI) desde os anos20. Em 1928surge 0 Partido Fascista Brasileiro e em 1932e cria-d~r Plinio Salgado a Ac;:aoIntegralista Brasileira.

/ __..~eu lema, "Deus, Patria e Familia", sintetiza a natureza con-

servadora dos principios defendidos por esta tendencia polttica.

IPrincipios estes relativos a urn Estado autoritario, ,nacionalista

e anticomunista, dirigido por "elites esclarecidas" que tinham

por funcao principal "conciliar" os conflitos de classes atraves

\ de urn controle autoritario das praticas das classes sociais.

Atraia particularmente as parcelas mais reacionarias, os se-

tores medios da populacao, setores estes insatisfeitos, em certa

\ medida, com 0 dominic oligarquico, mas temerosos com a ex-

~

"1- pans,ao ,do movimento comunista no plano internacional, e com

" ' seus reflexos na sociedade brasileira 5.<,

i E necessario destacar que contra esta tendencia-conserva-

(",,"pora e criada a Alianca Nacional Libertadora, a exemplo das

/

• ;'Frentes Populares antifascistas e anti-imperialistas que surgiam

na Europa.

Esta Alianca era composta de ex-tenentes reformistas e po-

liticamente mais a esquerda, comunistas, socialistas, lideres sin-

dicais e mesmo de liberais fora do esquema governamental,

.Em sua forma de, organizacao rompia com os esquemas vi-ciados de organizacao dos partidos estaduais dominados pelas

oligarquias e se constitui no primeiro movimento nacional de

massas. .

Com urn program a que expressava os objetivos nacionalis-

tas, reformistas e democraticos de enfrentamento da crise eco-

5. Para maiores detalhes, d. Francisco Alencar et alii (1980), Historia da

sociedade brasileira, capitulo "0 povonas ruas".

102

a protecao dos pequenos e medics proprietaries de terra e a en-trega de terras dos gran des proprietaries aos trabalhadores do

campo, a ampliacao das liberdades civicas e a instauracao de urn

governo popular, conseguiu uma intensa adesao popular.

Em dois meses 50.000 pessoas se filiaram a ANL so no Rio

de Janeiro. Foram criados aproximadamente 1.600 nucleos por

todo 0 pais; realizaram-se comicios e outras formas de manifes-tacao de massa em todas as maiores capitais dos estados.

Diante disso 0 governo, com 0 apoio das oligarquias e dos

fascistas-integralistas, aprova emabril de 1935 a Lei de Segu-

ranca Nacional, que representava urn estado de sitio permanente

no pais. Sao, entao, fechados pelas forcas policiais os nucleos

da ANL, perseguidos e presos seus membros e simpatizantes.

Em reacao a isto, membros da ANL mais a esquerda e que

haviam escapado a repressao, neste primeiro momento, decla-

ram em novembro deste mesmo ano (1935) uma insurreicao,

sob a direcao de Luis Carlos Prestes, conhecida na historiaofi-

cial como "Intentona Comunista". 'A insurreicao fracas sa e intensifica-se a perseguicao as for-

cas populares de oposicao ao governo Vargas, que vacilava dian-

te da necessidadede tomar medidas radicais no enfrentamento

da crise economica,

Diante do enfraquecimento conseqiiente das forcas politicas

mais avancadas de oposicao, agucam-se as disputas no interior

das fracoes das classes dominantes. '

Com isso aumentam osriscos de nao-concretizacao das pre-

tens6es "modernizadoras' de determinados setores dasclasses

dominantes ligadas aodesenvolvimento urbane-industrial.

Getulio, representando mais uma vez estes interesses, da 0

golpe de Estado a 10de outubro de 1937 (Alencar et alii, 1980).

E dentro desse quadro de correlacao de forcas do, periodo

que se inserem as demmcias infundadas dos educadores catoli-

cos de que as ideias liberais-burguesas dos educadores escolano-

vistas representavam uma defesa de principios comunizantes na

reorganizacao da educacao brasileira, em especial da educacao

escolarizada.

103

A comprovacao do fato de as chamadas "ideias novas" esta-

rem se propagando vern da constatacao de estarem elas pres en-

e de ~selecao por meio de medidas objetivas (art. 150, letra e) .

Procura intensificar 0 processo de democratizacao ao reconhe-

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tes: 1.0) na exposicao de motivos da reforma Francisco Campos;

2.°) nas reformas estaduais que continuam sendo empreendidas

dentro das mesmas Iimitacoesdas realizadas anteriormente (Ani-

sio Teixeira-DF, Moreira de Souza-CE, Anibal Bruno-PE, Fernan-

do de Azevedo-PR, Lourenco Filho-SP, Fernando de Azeved6 e

.Almeida Jr.-SP); 3.°) na criacao das universidades, como a. ' de

Sao Paulo (1934), corn a participacao de Fernando de Azevedo,

incluindo uma Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras, e a do

Distrito Federal (1935), corn uma composicao de escolas distin-

tas das tradicionais, uma vez que se constituia de faculdades de

Ciencias Naturais, Ciencias Sociais, Letras e Educacao 6; 4.°) nos

textos constitucionais.

// A Constituicao de 1934, apesar de trazer pontos contradito-

//rios ao atender reivindicacoes, principalmente de reformadores

/ e catolicos, da bastante enfase a educacao, dedicando urn capi-

tulo ao assunto (cap. II). A reivindicacao catolica quanta ao

ensino religioso e atendida, assim como outras ligadas aos repre-

sentantes das "ideias novas", como as que fazem 0Brasil ingres-

sar numa politica nacional de educacao desde que atribui a

Uniao a competencia privativa de tracar as diretrizes da educa-

I,;a'onacional (cap. I, art. 5.°, XIV) e de fixar 0plano nacional de

educacao (art. 151). Aos estados, segundo este artigo, competia

organizar e manter os seus sistemas educacionais, respeitadas as

diretrizes definidas pela Uniao. Estabelece que ao governo federal

caberia "fixar urn plano nacionalde educacao, cornpreensivo do

ensino de todos os graus e ramos, comuns e especializados, e

coordenar e fiscalizar a sua execucao ern todo 0 territorio do

pais" (art. 150); cria 0 Conselho Nacional e Estadual de Educa-

I,;ao(art. 152) e determina a aplicacao denunca menos de 10%,da parte dos municipios, e nunca menos de 20%, da parte dos

estados, da renda resultante dos impostos "na manutencao :e de-

senvolvimento dos sistemas educacionais" (art. 156) ; tende a

organizacao racional, sobre base de inquerito e dados estatisticos

6. Seria interessante lembrar que esta tentativa pioneira teve a curta duracao

de .urn ano, interrompida em decorrencia de atitudes repressivas do governo apos

a Intentona Comunista de 1935.

104

cer na educacao "urn direito de todos" (art. 149), ao instituir a

liberdade de ensino ern todos os graus eramos (art. 150, § uni-

co, alinea e), ao instituir a liberdade de catedra, a gratuidade e

obrigatoriedade que deviam estender-se progressivamente de en-

sino primario integral ao ensino ulterior a fim de 0 tornar mais

acessivel (art. 150, § unico, a e b), e criando fundos. especiais de

educacao, parte dos quais (art. 157) se aplicaria a alunos neces-

sitados mediante assistencia sob diversa s formas e bolsa de

estudo.

De agora ern diante, passar-se-a a analise dos elementos me-diadores na solucao da contradicao apontada na organizacao es-

colar - quantidade X qualidade ...,..-o que se refere ao periodo

ern estudo 7.

Recursos financeiros

Constata-se nos planes federal e municipal urn aumento per~

centual ern relacao as despesas corn a educacao 8.

A educacao ocupava 6 sexto lugar na classificacao das areas

segundo as despesas efetuadas pela Uniao.: Mas seria interessantedestacar que as tres primeiras areas (Fazenda, Militar e Vial,;ao

e Obras Publicas) consumiam 89,8% do orcamento ern 1932 e

86,4% ern 1936.

Quanto aos estados, ocupava a segunda posicao, A primeira

- Obras Publicas e Viacao - despendeu 20,8°/~, para 15,0 da

Instrucao Publica, e 20,0%, para 13,4, ern 1936.

Isto foi suficiente para proporcionar certa ampliacao naor-

ganizacao escolar, mas insuficiente para sua transformacao.

Foi suficiente para:

1. Uma ampliaciio das unidades escolares, isto e , dos "pon-tos de ensino, de qualquer natureza, organizacao, modalidade ou

destino de educacao que ministrem" (Brasil, INEP, 1939: 12).

7. Tal analise foi feita com maiores detalhes no cap. IV da Introduciio II

hist6ria da educ~r;iio brasileira (Ribeiro, 1978), de onde, evidentemente, foram

retirados os dados.

8. Federal: 1932- 2,1% (61.078:000$),1936 - 2,5% (82.658:000$). Estaduill:

.1932 - 15,0% (179.903:205$), 1936 - 13,4% (243.999:607$). Municipal: 1932-

8,1% (44.853:039$), 1936 - 8,3% (74.388:259$).

105

o crescimento real foi mais que duplicado em relacao ao

crescimento do decenio anterior (ver Tabela I).

3. Uma ampliaciio no n:" de professores (ver Tabela III).

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TABELA I

Crescimento real da rede escolar

N.DS indices

1923 1932

1923 1932

Populacao total 32.734.642 39.152.523 100 120

Unidades escolares 22.922 29.948 100 130

N.DS indices

1932 1936

1932 1936

,Populacao total 39.152.523 42.395.151 100 108

Unidades escolares 29.948 39.104 100 131

Fonte: Brasil, INEP, 0 ensino no Brasil no qiiinqiienio 1932-36, 1939, p. 13.

2. Uma ampliaciio da matricula (ver Tabela II).

TABELA II

Crescimento da populacao total do pais e da matricula geral

1932 1936

Populacao total 39.152.523 42.395.151

N.OS indices 100 108

Matricula geral 2.274.213 3.064.446

N. os indices 100 135

Fonte: Brasil, INEP, 0 ensino no Brasil no qiiinqiienio 1932-36, 1939, p. 24.

106

TABELA III

Crescimento do professor ado

Anos N. O de projessores N.OS . indices

1932 76.025 100

1936 96.161 127

Fonte: Brasil, INEP, 0 ensino no Brasil no qiiinqiienio 1932-36, 1939, p. 37.

4. Tal crescimento propiciou certo grau de aperieicoamento

no ambito administrative, uma vez que:

"A variacao de matrfcula superior a do mimero de unidades escolares

evidencia que 0 aparelhamento de ensino nao se desenvolveu apenas em

extensao, ou formalmente, mas em capacidade real (. .. ). Maior proporcaode matricula para cada unidade significa, de urn lado, maior procura de

lugares por parte da populacao: de outro, melhora de organizacao, pois

maior mimero de alunos em cada posto de ensino traz a possibilidade de

adocao demedidas de coordenacao e controle, como as de graduacao dos

alunos e de mais efetiva direcao tecnica '' (Brasi l, INEP, 1939: 24).

5. Representa, tambem, melhores resultados no trabalho es-

colar, dada a constatacao do aumento de producao do ensino

primario e secundario (ver Tabela IV).

No que se refere a transformacao da organizacao escolar:

1. Niio foi suficiente para uma melhora dos trabalhos esco-lares num nivel realmente significativo, pois, em.riumeros abso-

lutos, mais alunos continuaram sendo reprovados (ver Tabela V).

2. Niio foi suficiente para que 0 aperieicoamento adminis-

trativo atingisse indices mais significativos:

Ainda em. 1937, 81% das unidades escolares funcionavam

como escolas isoladas (Lourenco Filho, 1971: 447-8).

107

TABELA IV

Variacao de aprovacao

3". Niio foi suficiente para que 0 alto grau de seletividadedeixasse de ser uma das caracteristicas da organizaciio escolar

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,

Anos Matricula Aprovat;6es Taxa Graus

1932 2.071.437 831. 223 40%

1936 2.750.014 1.153.212Elementar

42%

1932 56.208 40.000 72%

1936 107.649 85.103Medio

79%

1932 21. 526 19.876 92%

1936 26.732 22.439 84%Superior

Fonte: Brasil, INEP, 0 ensino no Brasil no qidnqilenia 1932-36, 1939 33,p. -4.

TABELA V

Reprovacoes em numeros absolu tos

Graus Anos Reprovacoes

1932 1.240. 214Elementar

1936 1.596.802

+ 356.588

1932 16.208Secundario

1936 22.546....

+ 6.338

Fonte: Calculo feito a partir da Tabela IV.

108

brasileira,pois uma maior quantidade de alunos deixou de con-

cluir 0 curso medic e superior em relacao a . conclusao do ele-

mentar (ver Tabela VI eVIl).

TABELA VI

Conclusiio decurso segundo os graus de en sino

1932 1936

Ensino elementar 127.784 195.475N.OSindices i o o 153Ensino medio 16.459 26.561

N.OSindices 100 161

Ensino superior 4.202 6.617N.oS indices 100 157

Total 148.445 228.653N.oS indices 100 154

Fonte: Brasil, INEP, 0 ensino no Brasi l no qii inq iien lo 1932-36, 1939, p. 35.

TABELA VII

Quantidade de pessoas que deixam de completar os outros graus

. em relacao ao elementar

Diierenca na conclusiio de curso

grau

1932 1936 Acrescimo

Elementar para medic 111. 325 168.914 57.589

Elementar para superior 123.582 188.858 65.276

Fonte: Calculo feito com base nos dados da Tabela VI.

4. Niio foi suficiente para destruir a biiurcaciio dos cami-nhos escolares apos 0 primdrio: a via para 0 "povo" (escolasprofissionais) e a via para a I(elite" (escolas secunddrias},

109

As duas "vias" permanecem e ambas ampliam sua capaci-

dade de atendimento quantitativo. 1

pedagogicos e SOCIalSe planejada para uma civilizacao urbano-

industrial" (Azevedo, 1944: 397). Como se existisse apenas urn

tipo de sociedade" urbane-industrial".

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a matricula geral de alguns dos ramos do ensino medic.

" (... ) 0 ensino tecnrco-profissional ( ... ) cresceu de 100

para 158, enquanto 0 secundario, de 100 para 192" (Brasil, IBGE,

1937 e 1939-40).USe.estavam matriculados no ensino secundario, em 1932, 56.208 alu-

nos, no ensino tecnico-profissional tinha-se 56.752. la. em 1936, para 107.649

no ensino secundario tinha-se 87.712 no tecnico-profissional, fato que nao

parece comprovar 'uma nova tendencia da mocidade para os estudos de

iniciacao e preparacao ao trabalho'.' (Ribeiro, 1978: 78e 81).~.0 compro~~t1mento do elemento mediador agora analisado

/" vern em decorrencia de ele - teoria -educacional - continuar

sendo produto de urn processo de transplante cultural e de uma

concepcao ingenua da realidade.

As "ideias novas" em educacao, que aparecem como a teoria

educacional adequada as novas circunstancias de rompimento

com uma sociedade basicamente agraria, sao 0 resultado da ade-sao de tais educadores ao movimento europeu e norte-americano,

chamado de "escola nova".

Este visava "0 restabelecimento daquele sentido do humano,

ameacado pelas exigencias economicas como pelas exigencias

politicas" (Hubert, 1967: 123), advindas da industrializacao e da

nacionalizacao que pressionava a educacao para 0 trabalho e

para a nacao durante 0 seculo XIX. Por isso parecia ser a orien-

tacao educacional adequada aos paises industrializados ou em

vias de industrializacao. Adequada, portanto, as sociedades capi-

talistas avancadas.

Os educadores brasileiros que estao sendo focalizados naotinham claro - 0 que nao quer dizer que os outrostivessem -

que os principios educacionais refletiam uma situacao muitas

't vezes propria de ondetinham origem, 0 que exigia cuidado

quanta as generalizacoes.

E assim que no ja citado Manifesto dos Pioneiros da Edu-

cacao Nova esta declarado, de forma generica, que ele continha

as "diretrizes de uma: politica escolar, inspirada em novos ideais

I'

110

Na realidade, 0processo de transforrnacao das sociedades

europeias em bases capitalistas foi urn (apos choques violentos

da burguesia nascente com os senhores feudais), 0 processo nor-

te-americano foi outro (onde a intencao de romper a situacao

periferica do pais no sistema capitalista - dependencia - esta-

va patente) e 0processo do Brasil foi uma terceira possibilidade

(onde nao se enfrenta abertamente esta situacao periferica).

Estas distintas situacoes infra-estruturais das sociedades ci-

tadas resultam em diferentes situacoes superestruturais e, por-

tanto, educacionais, tanto ao nivel das ideias como ao nivel das

instituicoes existentes, situacoes estas que tern que ser levadas

em consideracao quando da ocasiao de transforma-las.

o desconhecimento dessas causas fundamentais e peculiares

da situacao 9, bern como 0 puro consumo de ideias, comprome-

tern basicamente a concretizacao dos objetivos dos educadores

"novos".

Fernando de Azevedo declara:"No Rioj Anisio Teixeira (1932-35), chegando ainda recentemente da Ame-

r ica do Norte, e, em Sao Paulo, 0 autor desta obra (Fernando de Azevedo,

1933-45) procuravam, em grandes pianos de reformas, organicas e robustas,

lnjetar na realidade tudo 0 que naquele momenta ; a pudesse suportar de

sua doutrina e de seus princ ipias. Foi pela acao vigorosa de Anisic Teixeira

que se acentuaram, na polit ica escolar do Distri to Federal , as influencias

das ideias e tecnicas pedagogicas norte-americanas, ja anunciadas na reforma

de 1928" (Azevedo, 1944: 401, grifo nosse).

o Dutro fator assinalado como causa do comprometimento .

do elemento mediador - teoria educacional - foi 0 deela ser

fruto de uma concepcao ingenua (superficial) da realidade. E

isto diz respeito ao movimento da "Escola Nova" como umtodo

e nao apenas aos "discipulos" brasileiros.

Ao proporem urn novo tipo de homem para a sociedadeca-

pitalistae defenderem principios ditos democratic os e, portanto,

o direito de todos se desenvolverem segundo 0 modelo proposto

9. As paginas 90 e 91 ja foi abordada a questao da superficialidade na

interpretacao da .real idade que marca 0 pensamento pedagogico brasileiro da

epoca,

1 J [

de ser humano, esquecem 0 fato fundamental desta sociedade

que e 0 de estar ainda dividida em term os de condicao humana

entre os que detem e os que nao detem os meios de producao,

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isto e , entre dominantes e dominados.

A proposicao de urn unico ideal de homem, desta forma, tern

sua condicao de concretizacao limit ada ao grupo dominante.

o argumento teorico de que a solucao estaria numa selecao

com base nas capacidades biologicas tambem na pratica esta

comprometido.

Fernando de Azevedo afirma:

"C ... ) a educacao nova nao pode deixar de ser uma reacao categorica

intencional e sistematica contra a velha estrutura do service educacional,

artificial e verbalista, montada para uma concepcao (filosofica) vencida.

Desprendendo-se dos interesses de classes a que ela tern servido, a educacaoperde 0 ' sentido aristocratico' , para usar a expressao de Ernesto Nelson,

deixa de consti tuir urn privilegio determinado pela condicao economica e

social do individuo para assumir urn 'carater biologico', com que ela se

organiza para a coletividade em geral , reconhecendo a todo individuo 0

direito a ser educado ate onde 0 permitam suas aptid5es naturais, inde-

pendente deraz6es economicas e sociais" (Azevedo, s.d.: 64).

Tal argumentacao esta comprometida na pratica porque par-

te de urn pressuposto falso de que na sociedade capitalista 0

elemento determinante - modo de producao capitalist a - de-

terrnina que a educacao exerca 0 papel principal 10. E isto nao

ocorreu, ateentao, mesmo nos paises mais avancados da etapa

capitalista.

o aspecto positivo result ante demais este transplante cul-

tural esta no fato de ter levado os educadores "a diagnosticar as

deficiencies da estrutura escolar brasileira e a denuncia-las ca-

tegorica e permanentemente, como forma de demonstracao de

que a reforma, cujo plano adequado acreditavam ter, era uma

necessidade imperiosa.

Este aspecto parece ser mais importante do que 0 represen-tado pela certa absorcao de principios pedagogicos 'novos' (Ri-

beiro, 1978: 88) ou mesmo a adocao de uma linguagem "nova"

para "antigas" praticas,

10. A concepcao dialetica da real idade faz uma distincao entre papel deter-

minante e principal . De acordo com aestrutura social 0 elemento determinante

pode ou nao exercer 0 papel principal. Para maiores detalhes confira Adolfo S.

Vazquez (1968: cap. V).

112

7~ Periodo

1937 a 1955

o modelo nacional-desenvolvimentistacom base na lnduslrlollzocoo

Este periodo pode ser subdividido em tres instantes dis tine

tos, a saber: 0 de Getulio Vargas, chamado de "Estado Novo"

(1937-45); 0de Eurico Gaspar Dutra, em reacao ao Estado Novo

(1946-50); e 0de Getulio, retornando por via eleitoral a Presi-dencia (1951-54).

Tais distincoes, no entanto, so podem ser compreendidas se,

ultrapassando-se as aparencias, for reconhecido 0 fundamento de

todos eles, fundamento este que, por suavez, explica tais dife-

rencas mornentaneas como decorrencia de urn processo unitario

mais amplo.

o que se esta denominando de processo unitario e 0 cresci-

mento cada vez mais acelerado de forcas econornico-sociais no-

vas no contexto brasileiro, forcas estas surgidas antes de 1.930,

como ja foi assinalado em capitulo anterior.

As forcas citadas exercem pressao sobre a superestrutura

politica, enquanto instrumento de organizacao dos outros ele-

mentos desta mesma superestrutura, a fim de que sejam conquis-

tadas condicoes efetivas de aceleracao do crescimento. Por outro

lado, estabelece-se uma pressao inversa da antiga organizacao

superestrutural que tenta permanecer existindo. Seria interes-

sante lembrar que, mesmo sendo uma pressao determinante,

113

aquela exercida pela infra-estrutura (economia) , a demora nas

transformacoes superestruturais se evidencia nao apenas pelo

fato de elas nunca serem automaticas mas, especialmente, por-

e, sobretudo, da providencias ao programa depolitica escolar

em termos do ensino pre-vocacional e profissional que se des-

tina "as classes menos favorecidas e e, em materia' de educacao,

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que, no quadro brasileirode subdesenvolvimento, as -proprias

novas forcas economicas tern de compactuar com a permanen-

cia das antigas em determinados setores como fonte de exce-

dente de capital para elas (novas forcas).

Devido a este movimento de acao redproca, este crescimen-

to nao se da num mesmo ritmo, nao se da-de forma linear. Eleapresenta avances e recuos, recuos estes que nao conseguem

interromper 0 processo e sim retarda-lo.

As forcas economico-sociais apontadas sao as vinculadas as

atividades urbano-industriais propriamente ditas. E, sob este

prisma, a opcao ditatorial (1937-45) se explica como a condicao

possivel, dadas as circunstancias do-momento externo e, espe-

cialmente, interno, de desenvolvimento de urn modelo capitalista-

industrial, mesmo que ainda dependente.

H(. , .) Urn governo que nao tern bast' ;em uma c1assesocial economica,

que domine os meios de producao, so pode governar pela forca. ( . . ,) .

1937 foi urn periodo de transicao no processo historico em que, derru-

bada a aristocracia rural do cafe, nao havia ainda uma c1asse ou grupo dec1asse suficientemente forte para substitui-la' ' (Basbaum, s.d.: 151).

Em consequencia do golpe, a 10 de novembro e outorgada

uma nova iConstituicao, que difere em essencia das anteriores ,

constituicoes republicanas, pois dispensava 0 sistema represen-

tativo, enquadrava os demais poderes no Executivo e liquidava

com 0 federalismo, com os govern os estaduais, com a pluralida-

de sindical, etc. Em urn de seus artigos, 0 de n.? 177 das Dispo-

sicoes Transitorias, que foi prorrogado por duas vezes, permitia

ao governo aposentar ou demitir funcionarios considerados con-

trarios ao governo.

~ Quanto a educacao, man tern alguns prindpios anteriores e

/ procura dar enfase ao trabalho manual. Veja-se: em seu art. 128

declara ser a arte, a ciencia e 0 ensino livres a iniciativa indivi-

dual e a de associacao ou pessoas coletivas publicas e particula-

res; mantem a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino prima-

rio, instituindo, em carater obrigatorio, 0 ensino de trabalhos

manuais em todas 'as escolas primarias, normais e secundarias,

o primeiro dever do Estado" (art. 129); estabelece, no mesmo

artigo, 0 regime de cooperacao entre a industria eo Estado.

Ja por este texto fica explicitada a orientacao politico-edu-

cacional capitalista de preparacao de urn maior contingente de

mao-de-obrn para as novas funcoes abertas pelo mercado. No

entanto, fica tambem explicitado que tal orientacao nao visacontribuir diretamente para a superacao da dicotomia entre tra-

balho intelectual e manual, uma vez que se destina "as classesmenos favorecidas".

Isto equivale ao simples reconhecimento de que 0 estagio

que pretendem alcancar exige uma mao-de-obra qualificada de

origem social predeterminada (desfavorecida), qualificacao esta

que, no entanto, nao representara a conquista de uma posicao

social basicamente distinta e sim uma melhora dentro do propriogrupo.

o processo de capitalizacao interna se da atraves das me-

didas ja apontadas no capitulo anterior, entre as quais a manu-

tencao da estrutura agraria e a contencao salarial.

M:smo sabendo-se que, em termos de condicao de vida, 0

operanado urbano conquista uma melhora, quando comparado

ao trabalhador rural, e que, pela significacao social decorrente,

tern que ser cada vez mais levado em consideracao nos planos

politicos enquanto apoio necessario, a contencao salarial faz com

que tal processo de melhoria ocorra num ritmo lento.

Desta forma, a capitalizacao interna necessaria foi conse-

guida atraves da impos icao de gran des sacrificios a maioria da

populacao. 0 terror policial, a repressao violenta, as deportacoesimpostas pela ditadura getulina a populacao foram os instru-

mentos de imposicao de uma "paz interna" sentida como neces-

saria pelos grupos dominantes, como tambem por parte da ca-

mada media, que vai se colocando sob a influencia do integra-lismo.

Este ultimo grupo acaba por entrar em choque com 0 go-

verno, desencadeando urn golpe a 11 de maio de 1938.

114115

"0 as saIto malogrado dos integralistas ( ... ) foi tambem a ultima

mantrestacao de resistencla ao 10 de novembro (1937). Depots disso rei-

nou novamente a paz, a paz dos cemtterios'' (Basbaum, s.d.: 115).

'No final do periodo, como result ado do encaminhamento

do conflito mundial, que vai deixando de ser uma luta entre

trustes internacionais e se transformando em guerra dos povos

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Os sacrificios foram grandes, tambem pela dependencia da

economia brasileira em relacao a internacional, que, apesar de

atenuada pela contingencia da recuperacao destes centros, em

decorrenciada crise pela qual passara e pela iminencia de uma

nova guerra mundial, nao se .rompe. Solicitacoes de capital es-

trangeiro sao freqiientemente feitas e condicoes onerosas sao

impostas,· fazendo com que haja descapitalizacao, maior ou me-

nor, mas permanente, da economia nacional.

o conflito entre os varies centros imperialistas que leva aSegunda Guerra Mundial "favorece", em parte, tal situacao, uma

vez que, em funcao desta rivalidade; Getulio Vargas, oscilando

entre urn e outro (Ingles, norte-americano e alemao), pede con- .

seguir condicoes "melhores" de aplicacao e pagamento dos em-

prestimos, em troca do solicitado apoio brasileiro a uma das

faccoes que se foram constituindo.

/

"Nos anos de 1934 e 37 0Brasil chega, a desenvolve r seus negocios

com a' Alemanha, porque nao encontra 0 que busca nem na Inglaterra,

nem nos Estados Unidos. Em 1940, Genilio se sente, por isso mesmo, comforcas para demonstrar abertamente suas simpatias pelos paises do Eixot.

Para obter sua adesao ao bloco das Nacoes Unidas, teve 0 governo americana

de fazer forte pressao diplomatica :e economica, e que consistiam em urn

emprestimo de vinte milh5es de dolares e venda de armamentos a longo

prazo, oferecimento de bases em Fernando de Noronha e financiamento

para a construcao de uma usina sidenirgica em Volta Redonda, que depois

se chamou Companhia Sidenirgica Naciona l.

E somente em 1945, com a derrota dos paises do Eixo, queo Brasil

se amarra definitivamente com os Estados Unidos, tinico pais capitalista

que sobrou da segunda grande guerra em condicoes de sobrevivencia, E equando comeca realmente a grande penetracao capital is ta inor te-americana,* ' que iria atingir 0 apogeu em 1955" (Basbaum, s.d.: 153-4).

- 1 1 Em 9-4-1942 e decretada a reforma de ensino Capanema, re-/

lativa ao ensino secundario, refletindo 0 transplante da Ideolo-, gia nazi-fascista ja agora na organizacao escolar brasileira 2.

1. Em 11 de junho de 1940, diante dos sucessos conseguidos :por Hitler na

Europa, Ge tiilio pronuncia urn discurso onde aderia ao nazi-fascisco: "Sentimos

que os velhos sistemas e formulas antiquadas", dizia ele, "entram em declinio"

(Basbaum, s.d.: 118) .

2. Tal acontecimento sera analisado com mais detalhes quando da discussao

dos elementos mediadores.

116

r

pela liberdade contra os regimes que a colocavam em perigo,

campanhas populares em favor da anistia e dos preceitos demo-

craticos vao ganhando forca internacional.

Diante deste fato, 0 proprio Getulio Vargas, percebendo a

forca destes grupos de pressao, que tambern vao se constituindo

no Brasil, acaba por decretar a anistia e concede a legalidade ao

PCB, que cresce rapidamente, chegando, no fim do ano, a ter

mais ou menos 50.000 filiados.

Essas atitudes de Getulio Vargas, no sentido de aproximacao < : ; $ 1

das massas; nao para colocar-se como instrumento delas, mas .~

como meio de usa-las em favor de seus proprios objetivos, faz ~:

com que a sua renuncia se imponha. Acrescenta-se a isso 0 fato 0:

de ele nao ser simpatico e nem simpatizar com os Estados ~:

Unidos. C):

~Como lembra Leoncio Basbaum, nao foi a derrubada da di- ~

tadura por amor a liberdade. Nem umnem outro dos grupos~

liderados por Getulio ou por Dutra estava objetivamente a ser- C)

vico dela em beneficio de toda a populacao. ~

Dutra,que teve sua candidatura lancada pelo PSD, repre-~

sentava a oportunidade dos "novos-ricos da politica", que ocupa- :.)

vam postos-chaves nas administracoes federal, estadual e muni- ~

cipal e eram aliados aos tradicionais grupos agrarios, continua- ~

rem no podersem Getulio, que tomara certas medidas populares. ~

E sob este prisma que 0 governo Dutra representa uma

reacao, urn recuo.

Em 18 de setembro de 1946, foi promulgada a 4.a Constitui-

c;aoRepublicana, que nao diferia, em essencia, da de 1934. Naocontinha a disposicao referente aos "deputados classistas", mas

afirmava os tres poderes independentes, 0presidencialismo, etc.

A diferenca imediatamente posterior ocorreu pelo fato de

terem sido eleitos, ja que 0 PCB passara a legalidade .no arroanterior, quinze deputados federais comunistas que, entretanto,

no ana seguinte foram cassados, apos a decretacao da ilegalidade

do partido.

117

~Quantoaeduca<;:ao, tal Constituicao, em muitos dos pontos,

:/ reafirmava osprincipios de "democratizacao ", sendo, entretanto,

mais restritaquanto aos propositos relativos a gratuidade em

petroleo brasileiro de "poderosas forcas estrangeiras" e·culpava

o governo Dutra deter sido favoravel ao capital estrangeiro.

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comparacao aO texto de 1934. No art. 168-II, le-se 0 seguinte: "0

ensino primario oficial e gratuito para todos; 0 ensinooficial

ulterior ao primario se-lo-apara quantos provarem falta ou insu-

ficiencia de recurs os ", No mesmo art. (III e IV) e colocada a

responsabilidade das empresas quanta a educacao de seusem-

pregados menores e dos filhosdos empregados, se 0 numero des-

tes for superior a cern. 0 ensino religioso consta do horarioescolar com matricula facultativa e de acordo com a confissao

do aluno (art. 168, V). 0 amparo a cultura e dever do Estado,

a lei provera a criacao de institutos de pesquisa, de preferencia

junto aos estabelecimentos de ensino superior (art. 174, § uni-

.co). 0 art. 5.0, inciso XV, alinea d; do cap. I, do Titulo I, da a

Uniao competencia-para legislar sobre )<: diretrizes e bases da

educacao nacional.

o plano Salte (Saude, Alimentacao, Transporte, Energia) so

saiu do papel em duas obras: a pavimentacao da via Sao Pau-

lo-Rio, que levou 0 nome do presidente, terminada em 1951,

e a Companhia Hidreletrica de Sao Francisco.

A inflacao, iniciada em 1942, marcou 0 governo Dutra, enri-

quecendo urn pequeno grupo apenas, ja que os salaries reais

diminuem e os precos sobem assustadoramente.

. "Os saldos das exportacoes com os quais 0 Bras il acumulou 600 mi lh6es

de dolares no exterior ( ... ) niio foram utilizados para fins produtivos ..

Pelo contrario foram empregados atraves de uma importacao desbragada

e incontrolada de mercadorias as mais imiteis ( . .. ). De tal modo que, em

fins de' 1947, ja estavarnos devendo outra vez, voltando a tornar dinheiro

emprestado .( . .. )" (Basbaum, s.d.: 161).

Mais adiante, este mesmo autor declara:

"Alheio aos partidos politicos e as tramas dos negocistas que proliferam

a sua sombra, preocupado apenas com o pavor que the causava '0 PCB,

deixou escoar 0 seu mandato num ritmo tropical, sonolento, do qual niio

se afastou nem mesmo em 1950 quando cornecaram as agitacoes para a

eleicao de novo presidente, a qual se deveria verificar a 3 de outubro"

(Basbaum, s .d .: 194) .

.;::tf Getulio, em sua campanha, ja deixa claro que tentara em-

/preender uma luta contra 0 imperialismo, a quem responsabi-

lizava por sua deposicao em 1945. Afirmava que defenderia 0

118

Em verdade eram lideres oriundos e em defesa de grupos

dominantes que apenas reconheciam que a defesa de tais ideais

era condicao de perman~cer no poder e de gozar de seus privi-

legios, depois da ascensao das massas populares. Era, em ultima

instancia, uma atitude de mante-las dentro do .limite das estru-

turas vigentes sem ignora-Ias, a moda dos politicos de antes de

1930.Caio Prado Junior afirma:

"Esta segunda presidencia do Sr. Getulio Vargas, resultante de eleicoes,

se caracteriza por forte influencia de interesses financeiros e industriais.

~ 0 reflexo, na politica, da ascensiio de grupos econornicos tornados pode-

ros~s ~m cons~~Uencia do intenso processo de capitalizacao e concent racaocapitalista, verificado no Brasil desde a guerra (., ,)" (Prado Jr. 1969: 300,

~ta 114).

~E.sta inf.luencia. parece corresponder ao apoio de grupos fi -nanceiros e industr iais, em sua mawr parte da pequena e media

~mpresa, baseados em capital nacional. Isto porque os ligados

a grande empresa, na sua maioria subordinada ao capital estran-

geiro, sao identificados como integrantes ou simpatizantes daUniao Democratica Nacional (UDN).

A UDN, afirma Leoncio Basbaum (s.d.: 198), "era no Brasil

o partido da grande industria e do capital financeiro e dos seus

assalariados brasileiros - diretores, advogados, public-relations- C . . . )" . .

Ja no governo, Getulio Vargas decide reiniciar a politica de

"aproximacao com as massas", interrompida em 1945, e, para

t~nto, entrega 0Ministeric do Trabalho a Joao Goulart, que se

liga aos Iideres sindicais, inaugurando a politica conhecida como

peleguismo (pelego era0

Iider trabalhista ligado ao governo abase de suborno). Fixou-se, tambern, 0 salario minimo. Pouco

depois, sanciona a Lei n." 2.004, que criou a Petrobras.

Mas tudo isto nao foi conseguido com facilidade. Os tres

anos e meio do governo foram urn dos mais agitados periodosda vida constitucional brasileira. .

Feita a caracterizacao geral do contexto, para ter-se uma vi-

sao de conjunto e para identificar-se a orientacaoque fundamenta

119

o mesmo, passar-se-a a discussao dos elementos mediadores da

contradicao que se esta estudando - quantidade X qualidade-

na organizacao escolar do periodo 1937 a 1955.

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Reeursos financeiros

Como a Tabela I demonstra, a porcentagem destinada aeducacao ecuItura sempre aumentou, sendo 0aumento bastante

significative no ana de 1955, visto que a porcentagem relativa aeducacao e cultura especificamente passa a ser superior a desti-nada a educacao e saude nos dois anos anteriormente destacados.

TABELA I

Despesas rea lizadas pela Un ii io (ca lculo percen tual)

Ministerios 1935 1945 1955

Aeronautica 6,3 7,1

Guerra 18,1 16,4 (29,0) 2 .a 13,1 (28,1) La

Marinha 6,8 (24,9) P 6,3 7,9

Agricultura 2,4 6.a 3,0 t» 5,0 5.a

Educa<;iio 5,7

Saude 5,0 4.a 5,6 5.a 4,1 (9,8) 4.a

Fazenda 40,4 1." 35,3 La 22,7 2.a

Jus ti ca e Neg6cios Int ernos 4,6 5.a 4,8 6.a 4,3 6.a

Relacoes Exteriores 2,1 7.a 1,1 8.a 0,6 8.a

Trabalho, Industria e 0,6 8.a 5,8 4.a 2,7 t»

Cornercio

Via<;iio e Obras Publicas 20,0 3.a 14,2 3.a 22,3 3a

Fonte: Insti tuto Nacional de Estat is tica, Anuar io Es ta ti st ico do Bras il, ano VII,

1946, p. 461; ano XVII, 1956, p. 411.

E . a 4.a (1935/45) ou 5.a (1955) area de despesa da Uniao

em relacao aos ministerios, 0 que, a primeira vista, indica umaprioridade de atencao. Mas, ao constatar-se que as tres primeiras

areas (Militares, Fazenda e Viacao e Obras Publicas) consornem

85,3 (1935), 78,5 (1945) e 73,1% (1955) das despesas, percebe-se

que 0 que resta para os outros ministerios e ainda uma impor=

tancia bastante relativa.

Pela Tabela II, constata-se que, percentualmente, a taxa das

despesas realizadas pelos estados nao chegou a ser alcancada nos

dois anos posteriores destacados e, conseqiientemente, na classi-

ficacao geral 0 lugar da educacao publica caiu de 2.°para 4.° e 3.°.

120

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121

A.area municipal, que em 1935 nao tinha ainda uma apre-

sentacao discriminada, apresenta uma tendencia de crescimento

relativo.

anos que van de 1920-1940e 5,5% nos dez anos de 1940-1950:1.

Desta forma nao se tern garantia de que 0 significativo indice de

diminuicao (11,1%) conseguido na decada de J950-60 venha a

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Conclui-se, desta maneira, que 0 aumento de verbas, mesmo

em termos percentuais, tendo-se por base 1945-55, e 0 aconteci-

mento constante e mais significativo quanta a Uniao e aos muni-cipios. Mas nao chega a ser em tal grau que indique condicoes

financeiras absolutamente diferentes na tarefa de organizacao

nacional da educacao, .

o que tal aumento propiciou foi 0 seguinte:

1.0) Ouanto a aliabetizaciio, propiciou urn ataque a tal pro-

blema, mas nao de forma tao agressiva e constante para que ele

fosse resolvido, mesmo que a medio prazo.

TABELA III

Analfabetos na populacao de quinze anos e mais

ANALFABETISMO

Especijicaciio 1940 1950 1960

Nao sabem ler 13.269.381 15.272.632 15..815.903

e escrever

% analfabetos 56,0 50,5 39,4

Fonte: Instituto Nacional deBstatistica, Arzuario Estatistico do Brasil, ana XXIV,

1963, p. 27 e 28; Casemiro dos Reis Filho, A Revoluciio Brasileira e 0

Ensino, 1974a: 2.

Pela Tabela III, percebe-se que 0 esforco no combate ao

analfabetismo esteve presente nas duas decadas agora analisa-

das, provocando uma queda percentual,

Por outro lado, nao chegou a ser de tal monta, a ponto de

representar urn decrescimo em mimeros absolutos, ja que na

primeira decada aumentou em 2.003.251 pessoas e, na segunda,

em 543.271.

A falta de constancia ipode ser constatada pela sequencia

de porcentagens e no grau de sua diminuicao: 10% em dez anos

(1890-1900), 0% nos vinte anos seguintes (1900-1920), 10% nos

122

ser mantido au ampliado de forma significativa.

TABELA IV

Distribuicao da populacao brasileir a pe las diferente s zonas

(urbana, suburbana e rural)

DISTRIBUI\:AO DA POPULA\:AO BRASILEIRA

Espcci] icucdo 1940 1950 1960

Total 41.326.315 % 51.944.397 % 70.992.343 %

Suburbana/Urbana 12.880.182 31 18.782.891 36 32.004.817 45

Rural 28.356.133 69 33.161.506 64 38.987.526 55

Fonte: Inst itu to Nacional de Estati sti ca, Anudrio Esta ti sti co do Bras il, ana XIII,

1952, p. 28: ana XVII, 1956, p. 47: v. 32, 1971, p. 44.

A Tabela IV demonstra, por outro lado, que a tendencia aconcentracao da populacao nas zonas urbanas e suburbanas e

uma realidade, agravando 0 problema do analfabetismo devido

ao fato de a participacao neste novo ambiente exigir, pelo me-

nos, as tecnicas de leitura e escrita, como ja foi discutido ante-riorrncntc.

2.") Este aumento de recurs os financeiros propiciou 0 se-guinte, quanto ao ensino elementar:

A Tabela V demonstra que a ampliacao da rede escolar e

uma constante, tanto quanto ao pessoal docente como quanto amatricula. Mesmo assim, nao chega a atender a toda a popula-

cao em idade escolar que, em 1935, era de aproximadamente

5.287.587 (Ribeiro, 1978: 71, Tabela XVII) .e, em 1955, era de6.127.996 (Anuario Estatistico do Brasil, ana XVII, p. 29). Desta

forma, mesmo nao se descontando os repetentes ou retardata-

rios, que certamente estavam nas quatro primeiras series, com

mais de dez anos, 54,4% (1935) e 25,8% (1955) da populacao

em idade escolar continuava sem escola.

'3. Para conferir os dados referentes as datas anteriores a 1940 consulte as

Tabelas I e II. 1ls paginas 74-5 (5.0 periodo).

12 3

Mas se for juntada a esta a tabela seguinte (VI), se e leva-do a afirmar que e uma ampliacao que conserva e, conseqiien-

temente, agrava os mesmos problemas, isto e , 0alto grau de

a) Pelo menos 15% da populacao que se matricula nao che-

ga a freqiientar a escola regularmente.

b) A matricula na 4/ serie. do cursu primario exle apenas

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seletividade e a reprovacao, que vao recair sobre 0 anterior, uma

vez que varias repetencias acabam por levar ao abandono da

escola.

Alem da seletividade inicial ja apontada, reiat iva a quanti-dade de criancas em idade escolar sem escola, a seletividade

que se vai processando no decorrer da vida escolar nao foi supe-rada, visto que:

TABELA V

Ensino fundamental comum

ENSINO -FUNDAMENT AL COMUM

Especijicaciio 1935 1945 1955 Nttmeros indices

Pessoal docente 60.003 83.825 141.956 100 145 236

Normalistas 35.236 51.933 76.802

Nao-normalistas 24.767 31.892 65.154

Catedraticos 58.647* 77.144 130.790-,

Auxiliar 7.061* 6.681 11.166

Matricula 1935 1945 1955 Ntimeros indices

Geral 2.413.594 3.238.940 4.545.630 100 134 188

Efetiva 2.045.551 2.741.725 - 100 134 -Diferenca 368.043 497.215 - - - -1.0 ana 1.389.771 1.758.465 2.424.690 100 126 174

4.° ano 143.085 260.811 399.632 100 182 279

Conclusao 180.506** 287.852** 505.864** 100 159 280Aprovacao 991.693 1.503. [18 - 100 152 -

* Resultado incluindo '0 ensino fundamental e complernentar, comum e su-

pletivo.

** Resultados de 1938, 1948 e 1958, respectivamente.

Fonte: Ins ti tu to Nacional de Estatis tica, A nudrio Estatistico do Brasil, ana V,

1939/1940, p. 921 a 1080; ana VI, 1941145, p. 443; ana X, 1949, p. 489;

ana XII, 1951, p. 409; ana XVI, 1955, p. 444 a 446; ana XXI, 1960,

p, 290.

124

10,3 (1935), 14,8 (1945) e 16,5% (1955) em relacao aos matri-

culados no mesmo ana da 1." serie.

c) Apenas 13,0 (1935), 16,4 (1945) e 20,9% (1955) dos que

iniciam 0curso, concluem-no quatro anos depois.

TABELAVIGrau de aproveitamento escolar

GRAU DE APROVEITAMENTO ESCOLAR

Especijicaciio 1935 1945 1955

Nao-normalista 41,3% 38,0% 45,9%

Diferenca MG-ME" 15,1% 15,4% -Matricula 4 .° ana 10,3% 14,8% 16,5%

Conclusao 13,0'1 16,4% 20,9%

Aprovacao 48,3% 54,8% -

Media professor/aluno 36,0%** 36,8% 35,0%***

* Diferenca entre matricula geral e efetiva.

*';' Pouco rna is alta, em realidade, uma vez que 0 calculo foi feito com urn

total mais amplo de professores, inciuindo fundamental e complementar.

,, * * Pouco rnais baixa, ja que 0 calculo foi feito com a rnatricula ge ra!.Fonte: Tabela V.

Quanto a reprovacao, infelizmente nao se tern 0 dado de

1955. Com os de 1935e 1945, percebe-se uma melhora porcentual

de 6,5%, 0 que representa, em mimeros absolutos, urn aumento

de 184.749alunos reprovados.

Pouco mais da meta de dos alunos matriculados, em 1935, e

pouco menos, em 1945, repetiram de ano.

A melhor formacao do professor e a organizacao de classes

menos numerosas, duas das condicoes indispensaveis para urn

atendimento mais adequado da populacao escolar, como era de

se prever, nao apresentam mudanca significativa. Quanto a pri-meira (formacao do professor), a ampliacao da rede escolar aca-

ba por exigir uma solicitacao maior aos nao-norrnalistas. Quanto

125

aegunda (classe menos numerosa), a melhora foi de pouco

mais de urn aluno por turma.

3.°) Quanta ao ensino media, 0 aumento constatado nos re-

A necessidade de apresentacao dos resultados em duas eta-

pas surgiu porqueo aparecimento de varios cursos e a extincao

de outros fizeram com que a apsesentacao estatistica se modifi-

casse em 1955, impossibilitando a cornparacao. Por outro lado,

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curs os financeiros propiciou 0 seguinte:

TABELA VII

Situacao do ensino medic

SITUA(:AO DO ENSINO MEDIO

(1) unidades escolares pessoal docente matricula geral

N .D absoluto 1935 1945 1935 1945 1935 1945

secundario 520 1.282 7.496 19.105 93.829 256.467

dornestico 462 65 1.320 440 28.397 7.314

industrial 143 1.368 974 6.498 15.035 65.485

comercial 512 1.014 3.811 9.122 26.569 90.768

artistico 459815 1.081 2.203 10.740 18.430

pedagogico 373 539 3.785 4.890 28.316 27.148

<

N .D indice

secundario 100 246 100 255 100 272

dornestico 100 14 100 33 100 26

industrial 100 957 100 667 100 435

comercial 100 198 100 239 100 342

artistico 100 177 100 204 110 172

pedagogico 100 144 100 129 100 96

(2) unida- pessoal matri- matri- unida- matri- matri-

des es- docente CIlia cula des es- pessoal cilia cula

colares geral eietiva colares docente geral efetiva

1935 1.806 17.243 173.981 164.399 100 100 100 100

1955 5.698 73.885 828.097 752.106 315 428 476 457

Fonte: Ins tituto Nacional de Estatis tica, Anuario Estatistico do Brasil, ana V,

1939/1940, p. 792 a 884; ana X, 1949, p. 481 a 486; ana XX, 1959,

p. 335 a 357.

126

o ana de 1946 nao traz a rubricageralde ensino medic.

Apesar deste nivel continuar atendendo a uma populacao

bastante reduzida em cornparacao com a do ensino elementar -

7,2 (1935) e 18,2% (1945) -, constata-se, pela Tabela VII, que,

com excecao rio ensino domestico e do pedagogico, no que diz

respeito a matricula geral, todos os ramos do ensino medic apre-

sentaram significativo aumento nos primeiros dez anos, agora

analisados. 0 ensino industrial, alern de ser 0 que mais apre-

sentou crescimento de matricula, foi 0 que parece ter recebido

maior aten<;ao quanto ao reaparelhamento, uma vez que, quanta

ao pessoal docente e especialmente quanta as unidades escola-

° res, 0 aumento foi bast ante superior. 0 ensino comercial, segun-

do em crescimento no periodo, [a demonstra uma tendencia de

maior aproveitamento da organizacao existente, isto porque 0

aumento de matricula, pessoal docente e unidades escolares apre-

sentam-se em ordem decrescente.

Como os dados estatisticos para 0 ensino medio e superior

nao sao tao minuciosos quanta os do ensino elementar, nao pode

haver a cornprovacao detalhada da manutencao e agravamento

dos problemas apontados anteriormente (seletividade, reprova-

cao). Mas 0 unico dado disponivel, matricula geral e efetiva

(1935 e 1955), indica a existencia do problema, uma vez que

5,75% dos que se matricularam em 1935 nao chegaram a fre-

qiientar. Em 1955, esta porcentagem aumenta para 9,18.

Urn outro problema relativo a desvalorizacao da "via" do

ensino profissionalizante em relacao a "via" do ensino secunda-

rio, parece nao ter caminhado tanto em termos de uma solucao.

o proprio texto constitucional de 1937, em seu art. 129, ja

transcrito, da providencia, no programa de politica escolar, ao

ensino pre-vocacional e profissional e afirma que ele "se destina

as classes menos favorecidas".

Para se afirmar que 0 crescimento equivale a uma nova ten-

dencia, precisar-se-ia ter em maos dados a respeito da origem

127

da .clientela, a fim de que fosse comprovado 0 fato de que, tanto

no ramo tradicional como no tecnico, alunos dos setores privi-

legiados e desprivilegiados socialmente se distribuiram regular-

£!\.~~:~~.f:~,' '.~~

Urn significativo avanco e constatado atraves da tomada de

medidas que visaram concretizar 0 principio de ser tracada uma

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mente e chegavam a exercer, enquanto tecnicos de nivel medic,

a sua profissao,

4.°) Quanto ao ensino superior, 0aumento constat ado nos

recurs os financeiros propiciou 0 seguinte:

Pela Tabela VIII, pode-se perceber que, durante0

primeiroperiodo da politica getulina (1930-1945), a atencao esteve mais

voltada para os niveis elementar e medio que para 0 superior.

H. na decada seguinte, apresenta a tendencia de ampliacao mar-

cante deste ultimo nivel em todos os aspectos e, especialmente,

quanta as unidades escolares e pessoal docente, demonstrando

certa 'preocupacao com D "reaparelhamento escolar".

TABELA VIII

Situacao do ensino superior.

SITUAQAO DO ENSINO SUPERIOR

<, N.oS absolutos N.os indices"

Especi jicaciio

1935 1945 1955 1935 1945 . 1955

Unidades escolares 248 325 845 100 131 ,341

Pessoal docente 3.898 5.172 14.601 100 133 374

Matricula geral 27.501 26.757 73.575 100 97 267

Matricula efetiva 25.996 - 69.942 100 - 269

Fonte: Instituto Nacional de Estatistica, Anucir io Estati sti co do Brasil , ana V,

1939/1940, p. 921 a 1.080; ana X, 1949, p. 481 a 486; ano XX, 1959,

p. 355 a 357.

o problema, da: evasao (seletividade) parece continuar pre-

sente, ja que 5,5% (1935) e 5,0% (1955) dos alunos matricula-

dos nao chegam a frequenter regularmente. A matricula efetiva

do ensino superior, por outro lado, equivale a 1,3% (1935) e 1,5%

(1955) da relativa ao ensino elementar.

128

politicaeducacional de ambito nacional, principio este grande-

mente defendido desde a decada de 20 pelo grupo que pregava

a modernizacao educacional.

Istoocorreu, em primeiro lugar, atraves da criacao de uma

serie de orgaos, como 0Instituto .Nacional de Estudos Pedagogi-

cos (INEP, 1938), Service Nacionalde Radiodifusao Educativa

(l939), Instituto Nacional do Cinema Educativo (1937), Servi-

<;0 do Patrim6nio Historico e Artistico Nacional (1937) ,Servic;o

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI, 1942), Service Na-

cional de Aprendizagem Comercial (SENAC, 1946), Conselho

Nacional de Pesquisa (CNP, 1951), Campanha Nacional de Aper-

Feicoamento de Pessoal de Nivel Superior (CAPES, 1951), Cam-

panha de Aperfeicoamento e Difusao do Ensino Secunda rio (CA-

DES, 1954), Centro Brasileiro dePesquisas Educacionais e Cen-

.tros Regionais de Pesquisas Educacionais (1955), alem de mui-

tos outros de carater suplementar e provisorio, de iniciativa ofi-

cial ou particular.

,Em segundo lugar, atraves do inicio do trabalho de elabo-

racao de urn anteprojeto de lei de diretrizes e bases ..da educacao

nacional, em cumprimento ao art. S.", inciso XV, alinea d, cap. J,

Titulo I, que dava a Uniao competencia para legislar sobre esta

materia.

A 29 de outubro de 1948, foi encaminhado a Camara Federal

o projeto de lei, acompanhado da exposicao de motivos, subs-

crito por Clemente Mariani, entao ministro da Educacao e Saude.

Transformar-se-ia em lei somente treze anos depois, a 20 de de-

zembro de 1961. . ' ~

Ate 1952,0 projeto nao passou do exame das comissoes.par- //

lamentares; de 1952a 1958, transcorre uma fase de debates sobre

a interpretacao do texto constitucional e, de 1958 a 1961, trans-

corre uma segunda fase de debates no plenario .da Camara, ini-

ciada a partir da apresentacao deum substitutivo do entao

deputado Carlos Lacerda.

129

fNesta unidade de estudo, serao tratados 'as aspectos refe-l

kntes a primeira fase de discussao, motivada pelos choques entre

/ as divers as correntes, em defesa dos principios de centralizacao

ou descentralizacao educacional. Por intermedio do acoinpanha-

C()mO transcorreu num periodo posterior, sera tratada na uni-

dade .seguinte.

Percebe-se, portais acontecimentos, que a tendencia "nacio-

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mento de tal discussao, poder-se-a ter uma visao dos principios

teoricos orientadoresda acao educacional.

:I A orientacao das atencoes para 0 problema centralizacao-

}tescentralizac;:ao parece ter tido, conscientemente ou nao, a fun-

/ c;:aode fazer com que ficasse em segundo plano a preocupacao

basica, que era a de aprovar uma lei que servisse de instrumento

adequado a democratizacao da educacao em seus diferentes

graus. Nos fins dos anos 50, Clemente Mariani ja faz esta de-

nuncia.

A preocupacao nao deveria ser, lembrava Clemente Mariani,

a de adequar a urn modelo centralizador ou descentralizador,

enquanto modelo, e sim a de interpretar estes diferentes tipos

de organizacao, 0objetivo seria 0de se chegar a uma conclusao

a respeito da forma que seria a mais eficiente na tarefa de am-

pliar as oportunidades educaciortais, diante das caracteristicas

atuais e historicas do Brasil: centralizar 0 que fosse necessario

e descentralizar 0 que tambem 0 fosse.

"A tendencia centralizadora parecia urn perigo a ser atacado

diante da experiencia anterior. do Estado Novo, caracterizado

como uma ditadura baseada numa ideologia de direita (fascismo).

Dessa forma a centralizacao era identificada.ipelas correntes con-

trarias, com uniforrnizacao ou estatizacao,

as educadores de "ideias novas II eram contraries a esta ten-

dencia em funcao de princtpios pedagogicos, uma vez que acre-

ditavam no processo educativo como urn processo onde as adap-

tacoes as diferencas regionais e individuais exigiam a descen-

tralizacao,

Os educadores catolicos, por seu lado, eram contra a cen-

tralizacao legal, porque esta iria contra a liberdade individual

ou da familia, ao mesmo tempo que era vista como instrumento

de introducao .e propagacao da ideologia do Estado, que iria

contra a da Igreja.

o outro problema que da origem a outras discussoes diz

respeito a defesa da escola publica ou daescola particular, mas,

130

nalista" verificada no campo economico-politico atinge paulati-

namente 0 educacional. Como naquele campo, ela teve que en-

frentar series obstaculos tambern neste ultimo, haja vista a de-

mora na aprovacao da lei, bern como dos problemas apontados

no texto aprovado em 1961.

"Em 1942 foi decretada a reforma Capanema; que abrangeu 0 e~sino

secundario e tecnico-industrial, Assinalando 0 carater educativo do ensino

secunda rio de formacao da personalidade acompanhada de uma cultura

geral, estabeleceu uma uniformidade do curriculo e de organizacao. Pela

primeira vez foi tratada a articulacao dos varies ramos de ensino medic,

que. se diferenciam pela iespecializacao de cada urn. 0 decreto-lei 4.244,

de 9 de abril, moditicou os cielosde estudos, no sentido.isecunddrio, que

eram de 5 e de 2 anos, e que passaram a ser de 4 e 3 anos, respectiva-

mente. Ao primeiro corresponde 0 chamadocurso ginasial, e, ao segundo,

o rcurso colegial, com duas modalidades: 0 curso classico e 0 curso cien-

tifico, em que seacentuam, respectivamente, 0 estudo das letras antigas

e 0 ~as ciencias, Tais cursos conduzem ipdistintamente a · qualquer Escola

Superior. Estabeleceu, tambem, urn service de .Orientacao Educacional em

cad a estabelecimento ( ... ). .Quanto ao ?nsi~o industrial, de grau medic, estruturado.ipela primei-

ra vez, em conjunto, estabeleceu que os cursos industriais estavam clas-

sificados em dois cielos. 0 primeiro, com 4 anos ..,-- sao os cursos indus-

triais basicos, nas escolas industriais, e que formam ar tifices especializados

"-, e, 0 segundo, com 3 anos, nas escolas tecnicas - sao os cursos tee-

nicos -, para ~ formacao de tecnicos especializados. Previa, tarnbem, os

cursos de mestna,' de 2 anos, e estagio correspondente aos :cursos indus-

triais basicos e cursos pedagogicos na industria, de urn ano, para prepare

de professores e administradores. Esfabeleceu,ainda, a denorninacao de

escolas artesanais as escolas mantidas pelos Estados .

Em 1943 e 1945, 0 governo reestrutura 0 ensino comercial tambem

ram~ de ensino, n:tedio. Estabeleceu 0 ensino comercial de grau ~edio em

2 ciclos: um basico, de 4 anos, e outro tecnico, de 3 anos, diferenciado

este em ,ci~co ramos: . comercic e propaganda, adminis trac;:ao, contabil ida-de: esta!lstlca, secretariado, 0 ensino de grau superior, chamado econo-

rmco, viu ~umentada a sua seriac;:iio de. 3 para 4 anos. Desapareceu 0

Curs~.Su~enor de.A~minis trac;: iio e F inancas, que foi substi tu ido pelo Curse

de Ciencias Economicas e Curso de Ciencias Contabeis e Atuariais'' (Mi-randa, 1966: 77-9).

Trechos do proprio Capanema sobre 0 ensino secundario

indicam a .influencia da tendencia fascista presente no periodo

chamado de "Estado Novo" (1937-1945).

131

"0- ens ino secundario se dest ina a preparacao das indiv idualidades con-

dutoras, isto e , dos homens que deverao assumir as r esponsabilidades maio-

res dentro da sociedade e da nacao, dos homens portadores das concepcoes

e atitudes espir ituais que e preciso infundir nas massas, que e preciso tornar

habituais entre 0. povo (~ .. ).8~ Periodo

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o estabelecimento de ens ino secundario tomara 0. cuidado espec ial na

educacao moral e civica de seus alunos, buscando neles formar, como base

do. patriotismo, a compreensao da continuidade historica do. povo brasi-

leiro, de seus problemas e designios, de sua missao em meio aos povos

(art. 22) ( ... ).

Deverao ser desenvolvidos nos adolescentes os e lementos essenc iais da

moralidade: 0. espirito de disciplina, a dedica~ao. aos ideais e a conscien-cia da responsabilidade. Os responsaveis pela educacao moral e civica da

adolescencia terao ainda em mira que e f inalidade do. ens ino secundario

formar as individualidades condutoras, pelo que forca desenvolver nos alu-

nos a capacidade de iniciativa e de decisao e todos os atributos fortes

da vontade (art. 32)" (in Silva, 1969: 295-7) .

Fica reafirmada, aqui, a discriminacao, ja constat ada no

texto constitucional de 1937, entre desfavorecidos e favorecidos.

A IIpaz social" seria conseguida pela formacao eficiente da

elite, que teria a funcao social de conduzir as massas, 0 povo

passivo.

Nao.s6 neste aspecto, do ponto de vista educacional, se cons-

tata urn retrocesso. Tambem acontece pelo fato de, na formacao

dessa elite, ter sido privilegiado 0 modelo humanista classico,

em detrimento do humanista debase cientifica, por exemplo, ao

tornar obrigat6rio 0 latim nas quatro series do primeiro ciclo

(secundario) e no curso IIclassico" do segundo ciclo, onde tam-

bern 0 grego figurava como (mica disciplina facultativa de todo

o curriculo.

Estes aspectos apontados como retrocesso sintonizam-se com

o modelo nazi-fascista dedesenvolvimento, "um modelo para a

promocao do desenvolvimento economico sem modificacao daordem social existente" (in Jaguaribe, 1968).

A reforma Capanema, iniciada em 1942, como ja foi assina-

lado, vigorou ate a aprovacaoda Lei de Diretrizes e Bases da

Diretrizes e Bases da Educacao Nacional, em 1961..

132

1955 a 1968

Crise do modelo noclonol-desenvolvlrnentlstode lndustrlcllzocoo e lrnotontocoo do modelo'osscclooo' de desenvolvimento economlco

1. 0 significadoda crise: 0 penodoanterlor ao golpe de 1964

Para se entender esta crise, que se intensifica no periodo

agora analisado, e preciso recordar alguns acontecimentos do

ano anterior (1954), como 0 suicidio a que Getulio Vargas foilevado pelo isolacionismo politico em que caiu, bern como a pu-

blicacao da carta-testamento. Tais fatos abalaram a nacao, che-

gando a provocar uma revolt a popular.

Na area politica isto se traduz em serios obstaculos as for-

.~asudenistas que conseguem chegar ao poder nessas circunstan-

cias, ja que 0 presidente Cafe Filho entrega quase todos os

rninisterios aos elementos deste partido. A pr6pria vit6ria do

candidato da VDN (Juarez Tavera) nas eleicoes que se aproxi-

mavam nao era garantida, dando margem a tentativa de adia-las,o que nao se conseguiu concretizar.

As eleicoes sao realizadas e vence a dupla Juscelino Kubits-

chek de Oliveira/Joao Goulart, com 0 programa de fazer 0Brasil

progredir "50 anos em 5": atacando 0 problema das estradas,

da energia, dos transportes e a construcao de Brasilia. Contaram

com 0apoio de varies setores socials, entre os quais a burguesia

industrial, a burguesia agraria, com sua maquina eleitoral do

campo (PSD), 0 operariado sindicalizado e as forcas nacionalis-

tas, 'reavivadas pela carta-testamento.

133

Apos varias .tentativas de impedimento daposse, esta foi ga-

rantida atraves de urn golpe liderado pelogeneral Lott, e~ n?-

vembro de 1955: destitui do poder Carlos Luz, que substituiu

Cafe Filho, decreta 0 "estado de sitio" e fazo p~esid.ente do Se-

como pelo fato de a industria estar passando para a segunda

fase do processo de substituicao de importacoes, que nao se ca-

racterizava pela instalacao da industria leve de consumo e sim

pela enfase na producao de equipamentos, bens de consumo du-

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nado (Nereu Ramos) assumir opoder ate 31 de janeiro de 1956,

data da posse.

Este curto intervalo entre a morte de Getulio e a posse de

Juscelino foi 0 bastante para se conseguir a aprovacao da Instru-

cao 113 da Sumoc,um dos elementos responsaveis pela aliena-

c;aoda .economia nacional ja que, . .. H( ... ) atraves dela reconhecia-se as empresas ~s~rangelras, mter~ssadas em

operar no Brasil, a concessao de favores cambia IS para transfenr, de ~eus

paises de origem, maquinarias industr iais depreciadas, como s~ fo~se~ e~Ulp~~rnentos 110VOS, embora ja funcionando aqui indi ist rias nacronais s irni lares

(Plinio A. Ramos, in Basbaum, s.d. : 219) .

Apos urn ana de governo agitado pelo inconformismo das

forcas derrotadas, diante da intencao de exe~utar se~ p'r?gr~ma

de governo, Juscelino, contan do com 0 apoio de s.lgmflcatlVOS

setores da sociedade brasileira, estabelece uma real hberdade po-

Iitica (nao houve presos politicos no periodo) que, .juntamente

com as promessas de melhoria de condicoes de vida, res~ltanteda execucao do programa, obtem urn clima de pa~ socla~ que

oferece condicoes de acao. Procurou, por outro lado, infundir urn

otimismo ilimitado, uma confianca nas possibilidades do pais e

do povo que "( ... ) era uma negacao frontal do complexo de

inferioridade colonial em relacao particularmente aos povos de

origem anglo-saxa, que entao grassava no Brasil" e rodeou-~e

I ( ••• ) de uma equipe de tecnicos, particularmente de economis-

. tas que viera surgindo no Brasil a partirda Segunda Guerr~

Mundial ( ... )" (Pereira, 1968: 46),0 que fez com que.pela pri-

meira vez 0 governo federal se transformasse em urn instrumen-

to deliberado e efetivo do desenvolvimento brasileiro.

/Alem deste, urn outro fator f?i responsavel pelo desenvoIy~-

Anento industrial ocorrido no penodo: 0 grande afluxo "de capi-

/ tais estrangeiros. Esta intenslficacao na entrada de capitais foi

vista e aceita como necessaria a execucao do projeto de desen-

volvimento diante das resistencias as mudancas na estrutura in-

terna. As necessidades imediatas de capital eram grandes nao so

pela crise economica atravessadaduranteo governo anterior,

134

raveis e produtos quimicos, 0 que, conseqiientemente, requeria

capitais mais elevados.

_;:#Com isso; no transcorrer dogoverno de Juscelino, ha a ten-~ativa de, conciliar 0 modelo politico - nacional-desenvolvimen-

.tista - com 0modelo ecoriomico - substituicao de importacoes

em sua segunda fase, agora contando basicamente com a parti-

cipacao do capital estrangeiro. Com isso 0modelo politico trans-

forma-se apenas num aparato, is to e , em aparencia sem conteudo

correspondente, para ser ostentada em atos publicos.

o conteudo nao correspondente se expressa nas caracteris-

ticas embrionarias de urn novo modelo economico que vai sendo

adotado.

o predominio tendencial do capital estrangeiro (caracteris-

tica 1), capital este que passa a ser introduzido tambem por via

direta para controlar agora 0 setor industrial, determina quatro

outras tendencias de predominio, quais sejam: da industria debens de consumo de luxo (caracterfstica 2), principalmente da

industria automobilistica; da "monopolizacao precoce" da econo-

mia do pais (caracteristica 3), uma vez que este capital entra sob

a forma de grandes empresas, pois ja existe assim internacional-

mente, 0 que leva a insolvencia de pequenas e medias empresas:

deintensificacao do processo de concentracao de terras (carac-

teristica 4) e do aprofundamento da atuacao bancaria no Finan-

ciamento a curto prazo, ondeas possibilidades de lucro eram

maiores, resultando na formacao de urn capital bancario basica-

mente especulativo (caracterfstica 5) (Campos & Souza, 1981).

Desta forma, os anos de 1956 a 1961 constituiram 0 periodo"aureo" do desenvolvimento economico, aumentando as possibi-

lidades deemprego, mas concentrando os lucros marcadamente

emsetores minoritarios internos e, mais que tudo, externos. Mui-

ta coisa, conseqiienternente, nao foi possivel deser realizada e e

util .considerar os erros apontados por Leoncio Basbaum:

1. inverter a.proposioiia "um povo rico [az uma nacao rica".

Uma nacao rica nao faz necessariamente urn povo rico. 0 que

135

foi conseguido diz respeito ao enriquecimento da nacao (aqui

expressa pela minoria dominante) com 0 empobrecimento das

camadaspopulares:

2. confundir expansdo industrial com industrializaciio e de-

"Perante rnultidao de 200.000 pessoas, arregimentadas pelos sindicatos e

outras organizacoes para 0 comicio de 13 de marco (de 1964), Goulart pro-

clamou a necessidade de rnudancas na Constituicao, que legalizava uma

'estrutura economica superada, injusta e desumana', E anunciou a adocao

de importantes medidas, atraves de decretos, como a encampacao das re-

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senvolvimento nacional (conseguiu 0primeiro destes elementos);

3. abordar a regiiio nordestina(a maioria da populacao des-

ta regiao ficou mais pobre ainda);

4. aceitar a estrutura agrdria incompativel com a expansao

industrial e 0 desenvolvimento nacional (nao abriu 0 mercadointerno exigido); .

5. manter a Instrucdo 113 da Sumoc, permit indo a entradado capital estrangeiro em condicoes privilegiadas, com sacrificio

do capital nacional, 0 que leva a uma conseqiiente desnacionali-

zacao da burguesia industrial (Basbaum, s.d.: 224-5).

Esta orientacao economica, com reflexos na composicao so-

cial e politica brasileira, pois acaba por aproximar as duas forcas

eleitorais representadas pela UDN e pelo PSD, leva a urn aguca-

mento dos dilemas enfrentados pelo Brasil, tanto no ambito in-

terno como externo, provocando novo periodo de intensa crise

e exigindo reformulacao do modelo em seu aspecto politico ou

em seu aspecto econornico. E sob este prisma que se deve enten-

der'a eleicao, 0 governo e a renuncia de Janie, bern como 0 go-

verno e a queda de Joao Goulart.

/0 impasse a ser enfrentado, para boa parte das forcas poli-

/'fl~as em questao, era 0 de compatibilizar os aspectos politico e

economico do modelo: optando pela manutencao da orientacao .

economica e mudanca na orientacao politica ou optando pela

manutencao da orientacao politica e mudanca na orientacao eco-

nomica.

A opcao feita - de forma menos intencional (Janie) ou mais

intencional (Joao Goulart), menos radical (Janie e Goulart, ate

meados de 1963) ou mais radical (Goulart, de meados de 1963

ate 0 inicio de 1964) - foi a de compatibilizar, mantendo 0 mo-

delo politicor-e-. nacional-desenvolvimentista - e mudando a

orientacao economica.

Para tanto, algumas reformas eram necessarias, como escre-

ve Moniz' Bandeira:

136

Ii

finarias particulares, 0 tabelamento dos a lugueis dos imove is desocupados

e a desapropriacao de terras as margens dos eixos rodoviarios e dos acudes,

ou que pudessem tornar produtivas areas inexploradas. Arraes e Brizola,

este pregando a convocacao jie uma Constituinte, compareceram ao ato, a

fim de consolidar a formacao e a unidade da Frente Popular de apoio as

reformas de base, condensadas, as principais, nos seguintes itens da men-

sagem que 0 presidente da Republica remeteria ao Congresso Nacional:

I. Reformaagraria, com emenda ao artigo da Constituicfio que previa

a indenizacao previa e em dinheiro.

2. Reforma politica, com extensao 'do direito de voto aos analfabetos e

pracas de pre, segundo a doutrina de que 'os alistaveis devem ser elegiveis'.

3. Reforma universitaria, assegurando plena liberdade de ensino e abo-

lindo a vitalic iedade de catedra,

4. Reforma da Constituicao para delegacao de poderes legislativos ao

Presidente da Republ ica.

5. Consultas it vontade popula r, atraves de plebiscitos para 0 re feren-

dum das reformas de base.

Estas reformas, evidentemente, nao visavam ao socialismo. Eram refor -

mas democratico-burguesas e tendiam a viabilizar 0 capitalismo brasileiro,

embora sobre outros alicerces, arrancando-o do atraso e dando-lhe maior

autonomia. A reforma agraria, que a burguesia nacional, retardataria, ra-

quitica e umbilicalmente vinculada ao latiftindio, niio tinha condicoes de

executar, constituia, sobretudo;. urn instrumento para a ampliacao do mer-

cado interno, necessaria ao desenvolvimento do pr6prio parque industrial

do pais" (Bandeira, 1977: 163-4).

Este programa de reformas democratico-burguesas, como

bern assinala Moniz Bandeira, contava tambem com 0 apoio de

setores mais a esquerda. Setores estes que negavam 0 modelo

economico que ia. sendo gestado, niio em nome de uma compati-

bilizacao com 0modelo politico do nacional-desenvolvimentismo

de base capitalista e sim em nome de uma cornpatibilizacao eco-

nomico-politica de base socialista.

o movimento de principio de 1964 foi desencadeado pelos

grupos que acreditavam na conveniencia da compatibilizacao,

man tendo a orientacao economica (com base no capital externo)

e mudando a orientacao politica (abandono do nacional-desen-

volvimentismo em beneficio de urn modelo "associado").

137

o .que se tern a destacar, em sintese, desta caracterizacao

contextual.rbaslca para a compreensao dos acontecimentos edu-

cacionais, e que durante este periodo (1955-1964) ha 0 aprofun-

damento das conseqiiencias apontadas em capitulo anterior, ou

Pela Tabela I, fica dernonstrado que houve urn aumento per-

centual de quase 4,0% nas despesas realizadas pela Uniao com a

educa~ao e cultura.

Fica demonstrado, tambem, que0Ministerio da Educacao e

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seja, diversificacao das atividades economicas criando novos em-

pregos em quanti dade e qualidade, manutencao da exploracao da

mao-de-obra como forma de acumulacao; modificacao, em parte,

da situacao de. urn certo contingente desta mao-de-obra (opera-

riado urbane), que, pelaspoucas vantagens conseguidas e pela

natureza e Iocalizacao de seu trabalho (fabrica/ cidade), conquis-ta alguma condicao de manifestacao de seus interesses; .amplia-9ao do setor medio agora integrado no processo de desenvolvi-

mento. 0 que se destaca neste periodo de forma especffica na

sociedade brasileira e 0novo grupo, em formacao 'desde 1951,

compos to de dirigentes brasileiros de empresas estrangeiras, en-

genheiros, advogados, relacoes publicas, cujos interesses estao

intimamente relacionados aos dos grupos (estrangeiros) que de-

tern tais empresas.

Ap6s tal contextuacao, e tendo-a como fundamento, passar-

se-a a analise doselementos mediadores na solucao da contradi-

9ao - quantidade X qualidade - constatada na organizacaoescolar brasileira.

Recursos financeiros

TABELA I

Despesas realizadas pela Uniao (calculo percentual)

Ministerios 1955 1965

Guerra 13,1 2S,1 (La) 11,1 22,2 (2.a)

Aeronautica 7,1 5,7

Marinha 7,9 5,4

Agricultura 5,0 (s.a) 3,0 (5.a)

Educacao e Cultura 5,7 (4.a) 9,6 (4.a)

Saude 4,1 (7.a) 2,S (6.a)

Fazenda 22,7 (z.a) 32,1 (V)

Justica e Neg6cios Internos 4,3 (6.a) 2,5 (P)

Relacoes Exteriores 0,6 (9.a) 0,3 (9.a)

Trabalho, Indust ria e Cornercio 2,7 (s.a) 2,1 (s.a)

Via~iio e Obras .Publicas , 22,3 (P) 21,S (P)

Fonte: Insti tute Nacional de Estatistica, Anudr io Estat is ti co do Bras il , anoXVlI,

1956, p. 411; vol. 2S, 1967, p. 741.

138

Cultura permanece em 4.° lugar nas prioridades governam~~tais:

prioridade esta que se mantern relativa, porque, como ja foi

mostrado anteriormente, 73,1% (1955) e 76,1%(1965) das des-

pesas sao consumidas por ires areas (Militares, Fazenda e Viacao

e Obras Publicas ).

TABELA II

Despesas realizadas pelos Estados e f ixadas pelos municip ios

(calculo percentual )

EstaJos Municipios

Areus1 9 5 5 1 9 6 4 * 1955 1964*

Adrninistracao geral 14,0 (2.a) 14,3 f3.a) 13,1 (P 10,9 (3.a)

Exa~iio e fiscalizacao 4,4 (9.a) S,I (6.a) 5,4 (P) 6,1 (5.a)

financeira

Segurunca publica e 8,1 (7.a) 10,1 (5.a) 3,1 (9.a) 2,9 (s.a)

assistencia social

Educaciio publica 13.7 (3.a) 14,S (z.a) 11,4 (P S,S (4.a)

Saude publica 7,7 (8.a) 6,7 (7.a) 4,S (s.a) 5,9 (6.a)

l-omento 4,2 uo.» 5,4 (9.a) 0,7 (Io.a) 1,7 (9.a)

Services industria is 10,3 (5.a) 5.7 (s.a) 6,2 (6.a) 1,6 (lo.a)

Divida publica 11,8 (4.a) 1.6 (lo.a) 6,9 (s.a) 4,6 (7.a)

Services de uti lidade 10.9 (6.a) 12,8 (4.a) 3S,1 (La) 33,5 (V)

publica

Encargos diversos 14.5 ( 1.a) 20.5 ( 1.a) 10.0 (4.a) 24,9 (P)

* Utilizararn-se dados de 1964 pela dificuldade em localizar, nos anuarios esta tis-

ticos, os mirneros referentes ao ano seguinte. .

Fonte: Insti tuto Nacional de Estatistica, Anl/ario Estatistieo do Brasil, ano XVII.1956.p. 418 e 451; vol. 26. 1965. p. 474 e 475.

o Estado dedicou uma quantidade percentual maior em

1 , 1 < ) ' 0 , fazendo com que em 1965 a educacao publica ficasse em

2." lugar nas prioridades.

Os municipios, no entanto, baixaram em 2,60f0as dotacoes

para a educacao publica.

139

A·analise numenca que sera feita a seguir dara uma ideia

do que os aumentos percentuais nos recursos financeiros, dedi-

cados a educacao pela Uniao e pelos estados,possibilitaram.

parando-se este dado com 0 da Tabela III, entende-se a seguinte

opiniao, que alerta para a gravidade do problema:

..( ... ) A sociedade brasileira, nos ultimos 20 anos, trocou sua base eco-

nomica agricola pela industrial. As iexigencias de melhor preparo de mao-

de-obra acentuarn-se. Quando a simples alfabetizaciio jd niio basta. nao

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a) Analfabetismo

TABElA IT

Analfabetismo na populaeao de quinze anos e mais

Especiiicacdo 1960 1970

Analfabetos 15.815.903 18.146.9;77

Porcentagem 39,4 33,6

Fonte: Casemiro dos Reis Fi lho, A Revolu~ao Brasile ira e 0Enslno, 1974a. p. 1.

Pela Tabela III, constata-se que, percentualmente, continua

havendo uma melhora coin relacao ao problema do analfabe-

tismo.

Verifica-se, tambem, que tal melhora permanece tendo urn

significado relativo, em primeiro lugar porque, em numeros abso-

lutos, os analfabetos aumentaram em 2.331.074 pessoas e, em

segundo, porque a intensidade e regularidade no combate a esteproblema nao acontecem: a melhora de 11,1% (1950-1960) naose mantem, De 1960 a 1970 e de apenas 5,8%.

TABELA IV

Distr ibuicao da populacao brasi leira pelas di ferentes zonas

(urbana/suburbana e rural )

Especifica~ao 1960 % 1970 %

Total 70.992.343 94.508.554

Suburbana/urbana 32.004.817 (45,0) 52.904.744 (56,0)

Rural 38.987.526 . (55,0) 41.603.810(44,0)

Fonte: Ins tituto Nacional de Estati sti ca, Anudrio Estatistico do Brasil, vol. 32,

1971, p. 44.

Pela Tabela IV, comprova-se que a concentracao da popula-

<;aonas zonas urbanas e suburbanas continua, atingindo, no ana

de 1970, mais da metade da populacao (56,0%). Tendo-se em

vista que a sociedade urbana e tambem de base industrial, com-

i40

conseguimos sequer oferece-la a mais de 25 milh6es de brasileiros! Ora,

na sociedade industrial a cultura letrada nao e apenas condicao de ajusta-

mento social. mas tambern de sobrevivencia individual. As grandes massas

rurais que a partir de 1960 migraram para as cidades ( ... ), at perrnane-

ceram analfabetas , formando 0 colossal .contingente de marginalizados na

periferia das rnetropoles" (Reis Pilho, 1974a: 2-3. grifo nosso).

TABELA V

Ensino prim!rio comuml;

Espcciiiraciio 1955'4,'0\"

1965 N." lndice

,Pessoal Docente 141.956 351.466 100 247

- normalista 76.802 181. 863

- njio-normal ista 65.154 131.180

- catedraticos 130.790 313 .043

- auxiliares 11.166 38.423

Matricula geral 4.545.630 9.923.183 100 218

Matricula ef'etiva - 9.061.530 - -Diferenca - 861. 653 - -Matricula 1.0 ana 2.424.690 4.949.815 100 204

Matricula 4.° ana 399.632 1.007.882 100 252

Conclusao 505.864* 1.063.804** 100 210

Aprovacao - 5.973.811 - -

* Resultado de 1958.

** Resultado de 1968 (aprovacao na 4.a serie ).

Fonte: Insti tuto Nacional de Estatistica, Anudrio. Estatistico do Brasil. ana XVI,

1955, p. 444 e 446; ana XXI, 1960, p. 2?O: vol. 28,1967,.1'. 546' a 574:

vol. 32, ana 1971, p, 658. .

b) Ensino elementar

A Tabela V confirma a continuidade da arnpliacao da rede

escolar tanto quanta ao pessoal docente como a matricula. Nadecada de 55-65ela mais do que dobrou.

Avaliando-se tais resultados com 0 auxilio dos dados da Ta-

bela VI ve-se que, apesar de uma melhora de 4,1%, tal ampliacao

ainda exige urn contingente de professores nao-normalistas de

mais de 40,0% do total. Quanto a porcentagem de evasao de alu-

141

TABELA VI

Grau de aprovei tamento eseolar

Especiiicaciio 1955 1965

Nao-normalista 45.9% 41,80/<-

~

I c) Ensino medic

Comparando-se a matricula geral deste nivel com a do ele-

mentar, verifica-se que 0 atendimento ainda e reduzido e a me-

lhora e muito vagarosa (7,2% - 1935, 18,2% - 1955,21,7% - 1965).

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Diferenca MG/ME.* - 8.7%

Matdcula na 4.a serie 16.5% 20.4%

Conclusao 20.9% 21.3%

Aprovacao - 65.9'7c

Media aluno/professor 35,0** 32,0**

* Diferenca entre rnatricula geral e efetiva.

* * Poueo mais baixa, j l l . que 0 calculo foi feito com matricula geral porque

se tinha 0 dado de matricula efetiva - 1955.

Fonte: Tabela V.

nao

nos durante 0 ana letivo, medida pela diferenca entre a rnatri-

cuia geral e a efetiva, que desde 1935 vinha se mantendo em tor-

no de 15%, em 1965 baixa significativamente para 8,7%, 0que

indica uma melhora na capacidade de retencao do aluno na

escola.

Tal capacidade de retencao nao chega a rep resen tar uma

permanencia de 9,0% dos matriculados a mais a ponto de con-cluirem 0 curso. Ela parece significar melhores condicoes de ga-

rantir urn aumento de escolaridade em umou dois anos, uma

vez que ao nivel de 4.a serie ela e de 4,0% e, de conclusao, de

2,0%. Parece que a barreira se coloca agora do 2.° para 0 3.° ano.:

uma vez que, dos que chegam ao 4.° ano, 77% sao aprovados 1.

TABELA VII

Ensino medic

N.OS absolutos N."· ' indices'

AnoPessoal Matricula Matricula Pessoal

M.G. M.E.

docente geral ejetiva docente

1955 73.885 828.097 752.106 1)0 100 100

1965 144.943 2.154.430 2.114.305 196 260 281

Fonte: Ins tituto Nacional de Estati sti ca, Anuur io Estatl sti co do Brasi l, vol. 28,

1967, p. 604-21, ana XX, 1959, p. 355 a 357.

1. Em mimeros absolutos os matriculados no 4.° ana sao 1.007.882 e, os

aprovados, 778.123. Ci tado no Ins tituto Nacional de Estatfst ica, Anlldrio Estatistico

do Brasil . vol. 28, 1967, p. 556.

142

Pela Tabela VII, ve-se que a matricula efetiva quase que tri-

plicou, 0 que deve representar urn aumento no numero de alu-

nos por professor, ja que quanta ao pessoal docente quase que

duplicou. A media aluno/professor no ensino medic era muito

baixa, sendo de dez alunos em 1936. A evasao durante 0ana leti-

vo, que era de 9,18%, em 1955, baixa para 1,86%, em 1965.

TABELA VIII

Ensino secundario - 1965

EspeciiicaciioPessoal Matrlcula Matricula

docente geral ejetiva

Ginasial 74.293 1.364.123 1.369.016

Colegial 16.172 189.576 181.118

Total 90.465 I.553.699 1.550.134

Fonte: Inst itu te NacionaI de Estatis tica, Anudrio Estatistico do Brasil, vol. 28.

1967, p. 627 a 633.

A Tabela VIII indica que0

ensino secundario, mesmo con-tinuando academico, tradicional, ainda desperta interesse, ape-

sar das transformacoes tecnico-industriais pelas quais passa a

sociedade brasileira (73,0% da matricula efetiva do ensino medic

corresponde ao ensino secunda rio). Isto parece comprovar que,

numa fase primeira, os novos grupos sociais procuram partici-

par da antiga ordem social, para depois pressionar, em termos

de uma destruicao e de sua substituicao por uma nova ordem.

d) Ensino superior

TABELA IX

Ensino superior

Especijicaciio N . ( J . ' ~ absolutos N.oS indices

Ano 1955 1965 1955 1965

Unidade eseolar 845 - - -Pessoal docente 14.601 33.126 100 220

Matrieula geraI 73.575 - - -Matricula efetiva 69.942 154.981 100 221

Fonte: Inst itu to Nacional de Estati sti ca, Anuurio Estatistico do Brasil, vol. 28,

1967, p. 693: ana XX, 1959, p. 355 a 357.

143

Pelos dados da Tabela IX, pode-se apenas. verificar que,

quanto a. este nivel escolar, houve mais do que duplicac;ao

de capacidade, tanto no que diz respeito ao pessoaI docente co-

mo a matricula efetiva. '

No entanto, a matricula do ensino superior em relacao a do

Analisar-sc-a, agora, a segunda fase, que vai de 1958 a 1961.

Urn substitutivo ao projeto, que ate entao estavasendo dis-

cutido, c apresentado pelo deputado Carlos Lacerda que, por ser

largamente favoravel aos interesses da escola particular, faz com

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elementar continua sendo reduzida (1,7%), representando uma

melhora de apenas 0,2% em relacao a 1955 (1,5%).

o que se conclui apos a analise numerica e que 0 aumento

percentual nos recurs os .financeiros dedicados a educacao pela

Uniao :e pelos estados possibilitou apenas uma significativa am-

pliacao da rede escolar. Como vern ocorrendo, nao chegou a ser

suficiente para a superacao da seletividade ainda intensa que

caracteriza a escola brasileira.

Ao destacar esta insuficiencia, seria interessante assinalar, '

tambem, que os percentuais de despesas com 0ensino nunca

chegaram a atingir aqueles determinados pelas Constituicoes

(1934,art. 156, e 1946, art. 169). Mesmo na area federal, onde

os indices foram sempre crescentes de 1935a 1965 (ver Tabelas

Ido 7.° e do 8.° pertodos), nao atingiu 0"nunc a menos de 10%"

estipulado nos artigos citados, ficando em menos de 5%, em

1935, e 9,6%, em 1965. Os estados, que nao deveriam aplicar"rnenos de 20%", em 1935aplicaram 15%, caindo nos qilinqtie-

nios seguintes para, em 1964, chegar a 14,8%. Com relacao aos

municipios, que deveriam aplicar "nunca menos de 10%" pela

Constituicao de 1934 e, pela de 1946, "nunca menos de 20%",

gastaram 9,5 (1945), 11,4 (1955) e 8,8% (1964).

Teoria educacional

Foi dito, no capitulo anterior, que, em cumprimento a urn

artigo da Constituicao de 1946, que determinava ser da compe-

tencia da Uniao legislar sobre as diretrizes e bases da educacaonacional, a 29 de abril de 1947 uma comissao inicia os trabalhos

para a elaboracao de urn anteprojeto. Foi dito, tambem, que apartir dai e apresentado a Camara Federal 0 projeto (29-10-48),

que somente treze anos depois desta data (20-12-1961)se trans-

formaria em lei. Apresentou-se, naquela oportunidade, a prirnei-

ra fase dos debates a que 0 projeto deu origem (centralizacao X

descentralizacao ). '

144

que os animos se acendam e que se inicie uma campanha em

apoio ou contra tal substitutivo. Esta campanha extrapola 0 pro-

prio ambito parlamentar, dela participando nao so educadores e

estudantes como diferentes profissionais, inclusive operarios,

at raves de palestras nas escolas, nas associacoes de classe, no

radio e publicacoes na imprensa.

Apesar de alguns autores, como M. Jose G. Werebe, afirma-

rem, ja ha algum tempo, que 0 problema nao esta bern colocado,costuma-se dizer que a discussao nesta fase foi motivada pelos

choques entre as diversas correntes em defesa dos principios da

escola publica eda escola particular.

Colocar-se-ao os principais argumentos utilizados pelos gru-

pos na defesa de seus principios. Desta forma, ter-se-a caracteri-

zado as orientacoes te6ricas predominantes no pensamento pe-

dagogico do periodo, cujo texto legal, apos sua aprovacao, ira

retratar.

Antes, porern, e interessante ressaltar que os responsaveis

pelas escolasparticulares leigas nao elaboraram uma defesa es-

pecifica, Iimitando-se a apoiar os responsaveis pela escola par-

ticular catolica, uma vez que, desde que os principios destes ulti-

mos fossem aceitos, os beneficios recairiam sobre todas as orga-

nizacoes particulares.

Do ponto de vista pedagogico, a Igreja Catolica acusaa

escola publica de ter condicoes dedesenvolver somente a inteli-

genera e, enquanto tal, instrui mas nao educa. Ela nao tern "uma

filosofia integral da vida". A resolucao do "problema dohomem,

das suas origens e dos seus destinos" so podera ;vir atraves da

"solucao religiosa da existencia humana". Assim, a escola con-fessional seria a unica que teria condicoes de desenvolver a inte-

ligencia e formar 0 carater, ou seja, de educar. Em conseqiien-

cia deste raciocinio, acusa a escola publica de desadapt adora dos

individuos as exigencias da vida coletiva. liE preciso antes for-

mar as almas. Onde faltar esta cultura interior que disp6e as

consciencias a qualquer sacrificio no cumprimento fiel dos seus

deveres, todaa tentativa de harmonizacao entre 0bern dos indio

145

viduos e 0 bern das sociedades acha-se de anternao condenada a

urn malogro irreparavel." Relacionam 0 aumento do indice de

criminalidade com propagacao da escola publica ~.

Os defensores da escola publica rebatiam tal argumentacao,

Outro argumento do grupo catolico, 0mais usado, tinha urn

aspectojuridico. Aceitava ser a familia anterior ao Estado, ca-

bendo a este 0 dever de nao violentar a oonsciencia do cidadao.

."A crianca naopertence ao Estado, aos pais, incumbe 0dever e

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fins da educacao, entendendo que os proprios meios subordinam-

se a tais fins. Alguns trechos do Manifesto dos Pioneiros da Edu-

cacao Nova comprovam esta defesa:

"Onde se tern de procurar a causa principal desse estado, antes, .de inorga-

nizacao do que de desorganizacao doaparelho escolar, e na falta de quasetodos os pianos e iniciativas da determinacao dos fins da educacao (aspectos

filos6ficos e sociais) e da aplicacao (aspecto tecnico) .dos metodos cientificos

aos problemas de educacao, ( . .. ).

Certo, urn educador pode bern ser urn fil6sofo e deve ter a sua fi losofia

de educacao; mas, trabalhando cientificamente nesse terreno, ele deve estar

tao interessado na determinacao dos fins da educacao, quanto tambern

dos meios de realiza-los. 0 ffsico e 0 quimico nao terao necessidade de

saber 0 que esta a se passar alem da janela do seu laborat6rio. Mas 0

educador, como 0 sociologo, tern necessidade de uma cultura rmiltipla e

bern diversa; as alturas e as profundidades da vida humana e da vida social

nao devem estender-se alem do seu raio visual ; ele deve ter 0 conhecimento

dos homens e da sociedade em cada uma de suas fases, para perceber,

alern do aparente e do eferriero, 0 'jogo poderoso das grandes leis quedominam a evolucao social' e a posicao que tern a escola e a fun\rao que

representa, na diversidade e pluralidade das forcas sociais que cooperam

na obra da civilizacao, Se tern essa cultura geral, que Ihe permite organizar

uma doutrina de vida e ampliar 0 seu horizonte mental, podera ver 0 pro-

blema educacional em conjunto, de urn ponto de vista mais largo, para

subordinar 0 problema pedagogico ou dos metodos ao problema filos6fico

ou dos fins da educacao; se tern urn espirito cientifico, empregara os metodos

comuns a todo genero de investigacao cientifica, podendo recorrer a tecnicas

mais ou menos elaboradas e dominar a situacao, realizando experiencias

e medindo os resultados de toda e qualquer modificacao nos processes e "

nas tecnicas,que se desenvolveram sob 0 impulso dos trabalhos cientfficos

na adrninistracao dos services escolares" (Azevedo, s.d.: 60).

2. Leonel Franca (1931: 9-10,28). Ap. 147,0 autor citado esclarece: "As

igrejas evangelicas reunidas em congresso no Rio· apelaram para outro principio.

Reconhecendo a importancia e necessidade do ensino religioso e moral, opinaram

contudo que nao deveria ele ministrar-se nas escolas piiblicas mas nas igrejas

e nas escolas paroquiais", E, mais adiante, a : p. 150, acrescenta: "Quase. identicaa : tatica dos protestantes .e a de outros, que, posto nao ligados a s seitas dissi-

dentes, sao contudo de parecer que s6 no seio da familia e que deve dar a

formacao religiosa". .

146

assiste 0 direito de the ministrar a educacao, fisica, intelectual,

moral e religiosa a que tern direito inviolavel." Acusava os de-

fensores da cscola publica de serem socialistas, comunistas e,

enquanto tal, pcrtencentes aos "partidos radicais, extremistas da

esquerda, os inimigos de Deus, da Patria e da Familia" (Franca,

1931: 60-1, 72).

Os educadores influenciadospelas "ideias novas" rebatiam

tal argumento, afirmando que nao cabia nem ao Estado enem

a familia determinar desta forma 0 tipo de formacao do indivi-

duo. 0 que os grupos sociais deviam proporcionar eram as con-

dicoes para que cada urn fosse responsavel pela propria forma-

cao. Dai ser a escola publica a mais adequada.

Alcm deste argumento, Florestan Fernandes, abordando a

democratizacao educacional, conclui que no Brasil as escolas re-

iigiosas sempre se dirigiram ou se interessaram predominante-

mente pela educacao de elementos pertencentes a grupos SOCialSprivilegiados, contribuindo, desta forma, para a conse~v~c;~o.de

tais privilegios: A democratizacao educacional no BrasIl imciou-

se com a Republica e atraves da escola publica, sendo esta mais

uma razao para a defesa deste tipo de escola. 0 mesmo autor ede opiniao que a intervencao do Estado no ambito da educacao

apresenta urn saldo positivo em todas as sociedades modernas.

Outro ponto de controversies diz respeito ao financiamento.Os defensores das escolas particulares defendem a ideia de que 0

Estado, ao inves de criar escolas, deveria financiar as particula-

res para que estas se tornassemgratuitas e os pais tivessem di-

reito a escolha da escola. E por isso que Leonel Franca afirma:"Que faz 0 Estado? Abre escolas e a todas impoe 0 laicismo educativo,

incompativel com a consciencta de inumerdveis [amilias. A estas, a todos

os pais religiosos que em conseqiiencia se julgam obrigados anao enviar

os seus filhos a escola leiga, 0 legislador injusto impoe 0 onus de pagar

a escola particular que Ihe serve e mais a escola publica que Ihe nao pode

servir' (Franca, 1931:·· 97).

A isso os defensores da escola publica respondem, afirman-

do que 0 real problema dos pais brasileiros e arranjar escola

147

para seus filhos e nao escolher entre as que existem. As familias

que tern a preocupacao de que seus filhosestudem em tal ou

qual escola sao uma minoria e socialmente bern colocados, po-

dendo pagar por tal privilegio,

nas palavras de Joao Eduardo R. Villalobos, que poderia ser con-

siderado como representante do "humanismo" tradicional - ver-

tente leiga.

Afirma ele que a lei . . ..' .'

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o sistema de concessao de bolsas de estudo para a escolaparticular em termos de 'pagamento de anuidade, pretendida no

textodo projeto substitutivo, e ineficaz, segundo os defensores

da escola publica, representando, na realidade, uma descapitali-

zacao do Estado em favor de grupos. A permanencia de boa parte

dos alunos na escola nao e garantida somente com talpagamen-

to, ja que as familias pobres, que sao a maioria, necessitam da

ajuda financeira .dos filhos. Assim, se 0 Estado estivesse inte-

ressado em resolver 0 problema, alem da anuidade deveria for-

necer uma ajuda de custo a familia. Num pais com deficiencia .

econ6mica como 0Brasil seria mais logico que 0montante pago

em anuidades fosse aplicado em escolas publicas, cujo patrim6-

nio continuaria sendo do Estado.

4024 /1Uma analise 0 da Lei de Diretrizes e Bases. da Edu-

/ca<;:ao Nacional (Lei n. 6 24/61), em especial no capitulo sobre

/ as finalidades daeducacao, leva-nos a admitirum predominio do

que e chama do de concepcao "humanista" moderna. Concepcao

esta hegemonica entre as correntes que defendiam a escola pu-

blica, sobre a concepcao "humanista" tradicional vertente reli-

giosa dominante no grupo cat6lico que defendia a escola par-

ticular 3.

Agora, se passarmos da analise do texto para sua analise

contextualizada, encontramos alguns fortes indicadores da inten- .

sidadeda influencia do "humanismo" tradicional - vertente

religiosa. Uma intensidade, em certa medida, mais forte no re-

sultado (texto legal) que na campanha, ou seja, no processo de

discussao da questao da educacao no seio da sociedade.

Tais indicadores sugerem que a correlacao de forcas expres-

sa no poder legislativo era mais conservadora (para reacionaria)

.que aquela que se expressava atraves dos diferentes movimen-

tos sociais. Podemos encontrar os indicadores referidos 'tambem

3. Tal classit icacao e defendida por Dermeval Saviani em capitulo do livro

organizado por Mendes (1983 ) .

148

"( ... ) manteve, em seus diferentes titulos, a estrutura do projeto primitive

e dos substitutivos anteriores organizados pela Comissao de Educa~ao, mas

inseriu-lhe urn conteudo que negava, em aspectos fundamentais, a filosofia

que servia de apoio ao trabalho original, indo ainda rna is longe do que

fora 0 segundo substitute do mesmo orgao no sentido dos interesses da

iniciativa privada e dos desejos da Igreja Catolica" (Villalobos, 1969: 135).

uanto a estrutura do ensino, manteve as etapas: ensino

ario de pelo menos quatro anos; ensino ginasial de quatro

com as subdivisoes de secundario, comercial, .i~d~strial,

, agricola e normal; ensino colegial de tres anos, subdividido F msecundario, comercial, industrial, agricola enormal, e 0 ensmo

superior.

Fazendo uma analise critica dos acontecimentos que acaba-

ram de ser relatados, Maria Jose C. Werebe (1968:.30) afirma:

"Considerando-se 0 rumo e a orientacao das lutas travadas em tornodoprojeto de Dire trizes e Bases da Educacao Nac ional, be rn ~omo ~s tradicoes

liberais de nosso pais, no campo da liberdade e de ensmo, nao se pode

dizer que, de fato, se enfrentam os partidarios da escola publica e os da

escola particular ( . .. )."

E mais adiante acrescenta:"Nao houve, por parte do poder publico, nenhuma restncao ao ensino

privado, nem tarnpouco qualquer tendencia monopoli~ta em educa~ao que

pudesse justificar a atitude dosmentores da escola pnvada .. ~ possivel q~e

eles vejarn no proprio desenvolvimento do pais e na consequente expansao

da escola publica urn perigo para a manutencao de seus privilegios no

campo da educacao. Efetivamente, nos ultirnos anos, mais do que em

qualquer outro periodo de nossa historia, as instituicoes ~fi~iais se exp~n-

diram nao porque os nossos politicos pretenderam prejudicar oensmo

particular mas sirn porque virarn-se obrigados a. propor e criar escolas

a fim de obter e manter 0 seu pres tig io po!it ico-eleitoreiro ( ... )" (Werebe,

1968: 31) .

E coloca, ainda:"Toda essa discussao nfio teria raziio de ser ha alguns anos. E. se hOle

a questiio se coloca e porque os par tidar ios do monopolio privado em educa~ao

investirarn contra 0 ensino publico ( . .. )" (Werebe, 1968: 32).

149

Foi dito, no inicio deste item (teoria educacional), que a

colocacaoidos principais argumentos utilizados pelosgrupos na

defesa de seus principios, quando da longa discussao do projeto

da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional, serviria para

a caracterizacao das oricntacoesteoricas predominantes no pen-

"Entretanto, as atividades do CPC nao se restringiam ao teatro. 0

proprio CPC da tJNEprom.oveu cursos variados Td e teatro, cinema, artes

plasticas, filosofia),realizou 0 fi lme 'Cinco Vezes Favel~' e 0 documentario

'Isto e Brasil' , promoveu exposicoes graficas e. fotograficas sobre reforma

agraria, remessa de lucros, politica externa independente, voto de analfabeto

e Petrobras ( ... ), real izou .0 1.° Festival de Cultura Popular (quando foram

lancados os Cadernos do Povo) e a 1.a Noite de Miisica Popular Brasileira,

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samento pedag6gico deste periodo. Tal caracterizacao, entretan-

to.inao ficaria completa se riao fossem analisados, mesmo que

rapidamente, os chamados "movimentos de educacao popular" e

a "reforrna da Universidade de Brasilia".

o que marca estes ultimos acontecimentos e a tentativa de

superacao, ao nivel da organizacao educacional, do mecanismo

ja bastanteanalisado de trans plante cultural.

Os movimentos de educacao popular surgem na primeira

metade da decada dos anos 60, em decorrencia do interesse de

elementos -

"( ... )safd.os da atuacao concreta nos rnovimentos educativos, que cornecam

a se multiplicar, ou provenientes de setores influidos pelo pensamento

s.o~ial cristfio, mais recentes e preocupados com questoes educativas'' (Paiva.

1973: 250).

o objetivo mais amplo era 0 de que a populacao adulta to-

masse parte ativa na vida politica do pais. Para tanto, novosmetodos de alfabetizacao precisavam ser criados.

".Podem ser citados como principais movimentos deste ge-

nero os Centros Populares de Cultura, os Movimentos de Cultura

Popular e 0 Movimento de Educacao de Base 4.

~s Centros Populares de Cultura CCPC) tiveram como pon-

to de partida o 'CPC, intimamente ligado a Uniao Nacional dosEstudantes CUNE), surgido em 1961. Floresceram entre 1962 e

inicio de 1964, despertando grande entusiasmo na juventude uni-

versitaria,

Sua base de atuacao era 0 teatro de rua, com pecas cujostemas tratavam de acontecimentos imediatos em linguagem po-

pular e montadas em pra<;as, universidades ou sindicatos.

4. A autora anteriorrnente citada, VaniIda P. Paiva, Iaz, as paginas 230-238

e 258 do referido livro, uma descricao mais pormenorizada dos referidos movi-

mentose por isso ~e. tornade grande interesse a sua leitura. Diante da precisao

reconhecida, quando da defiI1i~ao de cada urn dos movimentos, no presente capitulo

optou-se pela escolha e transcricao de trechos que sintetizam 0 que de basico

neles existia.

150

patrocinou a gravacao dos discos '0 P.oVOcanta' . e 'Cantigas de eleicao' .

Alern disso, desenvolveu urn programa de edi~oes proprias, publicando lite-

ratura de cordel com tiragens bastante elevadas e fundou, finalmente, uma

rede nacional de distribuicao de arte e cultura. Com auxilio do Servico

Nacional de Teatro chegou a construir urn teatro na sede da UNE" (Paiva,

1973: 233). .

Muitos CPCs foram fundados, mas nao havia uma repeticao

do modelo da UNE. Ravia, sim, ate freqiientes divergencias entre

eles. 0 que os unia, como declara Vanilda P. Paiva, era 0objetivo

principal

"( ... ) de contribuir para .o processo de transformacao da .realidade bra-

sileira, principal mente atraves de uma arte didat ica de conteudo poli tico"

. (Paiva, 1973: 233).

~'Os Movimentos de Cultura Popular (MCP) §e multiplicaram

mas em menor escala que os CPCs. A origem foi 0MCP de Re-

cife (1960).

"A valorizacao das formas de expressao cultural do homem do P.oVOe 0 estimulo ao desenvolvimento de sua capacidade de criacao funcionava

no MCP, como a propria condicao de dialogo entre as intelectualidades e

o POV.o: p artia-se da arte para chegar a analise e a critica da realidade

social. A intelectual idade part icipante devia l ibertar-se de todo. espiri to

assistencial ista e filantropico e, sem querer impor seus padrOes cul turais,

procurar aprender com 0 povo atraves do dialogo" (Paiva, 1973: 237).

Por desenvolverem atividades mais amplas e sistematicas,

tendo a alfabetizacao e a educacao de base como fundamentos,

requeriam muitos recursos e s6 podiam funcionar se contassem

com apoio oficial. Por isso, restringiu-se, praticamente, a Per-

nambuco (Prefeitura de Recife) eRio Grande do Norte (Cam-

panha "De pe no chao tambem se aprende a ler"),

U 0 Movimentode Educaciio de Base (MEB) aparece .tambem

em 1961, ligado a CNBB e ao governo da Uniao, caracterizan-

do-se, no ano seguinte, como movimento de cultura popular,

"( ... ) tomando como base a ideia de que a educacao vdever ia ser consi-

derada como comunicacao a service da transformacao do mundo', Esta

transformacfio, no Brasil, era necessaria e urgente, e, por isso mesmo, a

151

educasi iodeveri~;i se r t ambern urn processo de consc ient iza! ;ao que to rnasse

;. I'?s~iYt;! ;.\l.tral1~ forma!riio das mentalidades e das estruturas. A partir de

. . eptiip.c.Jefel1dia~se 0 MEB .como urn movimento 'engajado com 0 povo

n~s~etrabalho de mudanca social', comprometido com esse povo e 'nunca .

will qualquer tipo de estrutura social ou qualquer institui< ;ao que pretendesubstituir 0 povo'" (Paiva, 1973: 241).

Aoantidialogo ", Paulo Freire opoe 0 dialogo 6,"enquanto me-

todo para conseguir 0 que era pretendido .

Para que se procedesse a mudanca do conteudo, necessario

se fez, como primeira fase de elaboracao e execucao pratica do

metodo, 0 levantamen to do universo vocabular dos grupos com

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Para se ter uma ideia sobre 0 ambito de atuacao do MEB,

relatam-se os seguintes numeros (Paiva, 1973: 243).

Especificariio 1961 1962 1963_\ _

Niimero de "sistemas" 1131 59

Emissoras it disposicao10o prograrna 19 nao citado

Estadosi 7 11 14

Alunos concluintes 38.734 108.511 111.066

Em 1963, foi realizado 0 I Encontro Nacional de Alfabe-

tizacao e Cultura Popular. Em 1964, 0 Semimirio da CulturaPopular.

Pelas coloca<;:6esa respeito destes tres movimentos, perce-

be-se que os "novos quadros tecnicos" surgidos neste contexto

distinguem-se daquele ja analisado e que, sob a influencia da

Es~ola N?va, car~cteriza-se pelo chamado "otirnismo pedagog]-

co,, Corrtinuam, e certo, a receber influencia teorica de centros

europeus, tendendo, a meu ver, a uma assimilacao menos meca-

nica em consequencia da-insercao mais explicit a e as vezes ate

mais imediata, da educa<;:ao(alfabetiza<;:ao) no prdcesso politico

deste periodo em que as contradicoes estavam bastante .agu<;:adas.

;fl Neste trabalho de definicao de novos e adequados metodos

/e/conteudos, ~estaca-se o. "sistema" P~ulo Freire, ,c~jos resulta-

I dos foram editados no hvro Educactio como pratica da liber-dade (1975).

"Mas como realizar esta educa!;ao",. indaga Paulo Freire, "Como

p~oporcionar ao homem meiosde superar suas atitudes, magicas ou ingenuas,diante de sua reaIidade? .

Como aiuda-Io a criar, se analfabeto, sua montagemde sinais grRficos?Como ajuda-lo anserir-se?

A . .resposta nos parecia estar:

a) num metodo ativo, dialogal, crftico e criticizador;

b) namodifica!;ao do conteudo programatico da educacao;

c) no uso de tecnicas como 0 da Redu!;ao .e da Cod if ica' !;ao (Freire,1975: 107),

152

quem se ia trabalhar; como segunda fase, a escolha .das palavras

selecionadas no universo vocabular pesquisado; como terceira

fase, a criacao de situacoes existenciais tipicas do referido grupo;

como quart a fase, a elaboracao de fichas-roteiro que auxiliassem

os coordenadores e, como quinta fase, a feitura de fichas com a

decomposicao das familias fonemicas correspondentes aos voca-

bulos geradores.

Diante do sucesso do metodo que "alfabetizava em 40 ho-

ras", a 21-1-1964foi criado 0 Plano Nacional de Alfabetizacao

(PNA), visando a alfabetizacao de 5 milhoes de brasileiros ate

1965.

No entanto, 0 PNA foi extinto no dia 14 de abril de 1964,

portanto, tres meses apos sua criacao, como resultado da mudan-

ca de orientacao politica, decorrente dos acontecimentos de 31

de marco do mesmo ano. Pelo mesmo motivo,foram paulatina-

mente paralisando os nucleos de "educacao popular" descritos

an teriormente.

o outro acontecimento anteriormente apontado como com-

ponente das tentativas de superacao do mecanismo de trans-

plante cultural foi a reforma da Universidade de Brasilia.

Pela sfntese feita por Darcy Ribeiro (primeiro reitor da uni-

versidade), tem-se uma ideia do que representou a visao eminen-

temente brasileira dos problemas educacionais, em especial, uni-

versitariosvConstata-se, tambem, urna certa unidade de propo-

sito com os "rnovimentos de educacao popular".

A Universidade de Brasilia deveria ser leal"( ... ) aos valores e pad roes internacionais da ciencia e da cultura -

mediante 0 qual se procuraria corrigir a farsa dos graus e titulos universi-

tarios nacional e internacionalmente desprestigiados - e ( . .. ) ao povo

5. Antidialogo e uma rela~ao vertical de A sobre B, que naocomunica, faz

comunicados. 0 sentimento que liga A e B e desamoroso, auto-suficiente.

6. Dialogo e a unica forma de icomunicacao por ser relacfio horizontal de

A com Bligados por urn sentimento de amor, f€ e esperanca rmi tuos .

153

bras il eiro e a sua Nacao, expressando assim 0 compromisso de vincular a

Universidade a busca de solucoes para os problemas nacionais a luta do

~ovo brasil~iro para levarseu processo hist6rico aos efetivos taminhos da

independenc ia e emancipacao" (Alencar , in Ribeiro, 1969: 219).

. A esta ~ltura ~~ .discuss~o do problema enfrentado pelo

o segundo fato interessante de ser ressaltado ja esta, de

certa maneira, conti do no anterior, porque diz respeito tambern

ao enfrentamento da contradicao alienacao X desalienacao. re-

fletida no ensino superior.

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i I

I

ensmo superior no InIClOda decada de 60, seria interessante que

duas coisas fossem ressaltadas:

Em primeiro .lugar, relembrar-se-ia que este projeto de re-

forma, :;gora anah~ado. e~, seu. principio fundamental, inspirou-

se ~os .esforcos plOnelros. de Anisio Teixeira empreendidos na~mversld.ade do Distrito Federal (1935-37) e na tentativa, ini-

~lada mal~ ou menos. na mesma epoca e tambem fracassada, de

implantacao da Faculdade de Filosofia, Ciencias e Letras da USP

e do .Rio de Janeiro, enquanto orgao de integracao universitaria,

Desta maneira, era urn projeto (0 de Brasilia) que resuItava

no ~nfrentame~t~ de p.roblemas [a surgidos com a propria uni-

versidade brasde!ra, criada cerca de trinta anos antes, e que so

se agravaram dai por diante.

"Ate hoje foi irnpossivel - diz Heron de Alencar - criar entreestu-

dante~. e professores ~m espfrito a_utenticamente universitario, capaz de

pe~~l1ltl~ a racionalizacao e a atualizacao do ensino e de evitar a r n autilizacao de. pessoal e material, que e urn dos mais graves problemas do

enSl?O sup~nor. ,n? Brasil. Do mesrno modo foi irnpossivel desenvolver,

a myel umv~rsltano, ,os centros de investigacao e de criacao cultural, que

tanto necessi ta 0 pais em sua etapa de desenvolvimento" (AI .Ribeiro, 1969: 215). . encar, in

. No .entanto, ~o ~rocurar enfrentar esta situacao problema-

tl~a, os intelectuais tinham claro que 0 que devia ser enfrentado

na~ era. 0 anacronismo da universidade brasileira em relacaoas

umvers,l~ades n.orte-americanas e europeias e mesmo de algumas

d~~menca Latina, e sim 0 anacronismo dela em relacaoaos bra-·

sileiros, a sociedade brasileira atual e aos desafios dai decor-

rentes.

. Isto equivale a dizer que os empreendedores de tal tarefa

aceltava~ ser.urna forma de alienacao ainda maior quererrefor-

mar a um.versldade com 0 objetivode equipara-la as dos paises

de~envo.lvldos. Desta forma, estaria se isolando ainda mais a

umve~slda?e brasileira da sociedade brasileirar porque .o atrasoda universidade nao podia ser visto desta forma. Ele era urn dos

aspectos de urn atraso global ern relacao aos demais paises.

154

o governo Juscelino de manter a ideologia politica (nacional-de-

senvolvimentismo), apos ter optado pela contribuicao intensa

do capital estrangeiro. Com isto, intensificou-se a instalacao de

empresas estrangeiras, e com elas comecou a destacar-se social-

mente urn grupo compos to de dirigentes brasileiros (diretores,

engenheiros, advogados, relacoes publicas ) de tais empresas. Esse

pessoal tern que, paulatinamente, ser forma do em nivel superior.

Ao se reformar a universidade concretamente, e preciso respon-

der a questao: que tipo de profissional se quer formar? Formar

urn profissional para atender a que interesses?

Diante desta situacao. pode-se avaliar 0 grau de pressao con-

trario ocorrido, mesmo internamente, as tentativas empreendi-

das na Universidade de Brasilia bern como aosoutros movimen-

tos apresentados, apesar de eles terem acontecido durante 0 pe-

dodo em que se tentava a compatibi1iza~ao entre a politica e aeconomia, 'atraves da mudanca de orientacao nesta ultima esfera.

Ja foi apontado como esta propria compatibi1iza~ao enfrentou

obstaculos de tal monta ate que, em 1964, seconcretizou a com-

patibilizaC;ao contraria, ou seja, aquelaque manteve a orientacao

econ6mica e mudou a politica, adotando urn modelo de desen-

volvimento chama do de associado.. ' . . . .

A criacao da Universidade de Brasilia (LeI n." 3.998, de

15-12-1961) parecia a oportunidade esperada:"Como nova capital, Brasilia demandava urna universidade, como cidade

planejada e artificialmente criada, ela exibia a condicao de urn total des-

v inculamento com a f igura trad ic ional da Univers idade Brasil eira" (Machado

Neto, ill Ribeiro, 1969 : 247) .

A fim de que os principios reformistas pudessem ser con-

cretizados, foram estabelecidas eta pas de implantacao do esta-

tuto aprovado a 17-11-1962.Estas proprias etapas deveriam indi-

car a necessidade ou nao de reformulacao deartigos ja apIicados

ou por aplicar.

155

o prazo de implantacao iestava em torno de dez anos e os

dois primeiros (1962-64) seriam dedicados a preparacao do pes-

soal, das instalacoes, de normas para a primeira etapa de fun-cionamento.

As condicoes efetivas, no entanto, ja indicaram uma neces-

As pnsoes e perseguicoes com~c;:amlogo no dia seguinte a?

golpe. Ao finaldo ana de 1964havia cerca de 50.000_presos poh-

ticos em todo 0 pais, segundo afirrnacao de Leoncio Basbaum

(s.d.: 142).

o Ato Institucional n," 1 (AI-I), de 10-4-64,dava direito ao

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sidade de antecipacao nacriacao de tres cursos centrais.

Transformacoes politico-militares, .entretanto, interrompe-ram 0 processo em seu inicio.

"A fase da implantacao da Universidade alcancava 0 seu momento

decisivo com 0 inicio da chegada dos cientistas para a demarcagem dosInstitutos Centrais mais complexos e custosos - Fisica, Quimica, Biologia

e Geociencia - quando a UNB, assim como todo 0 pais, foi sacudida pelo

movimento mi li tar de 1.{) de abril de 1964. A 9 de abril tropas do Exercito

sediadas em Mato Grosso, ocupando quatorze onibus e trazendo tres ambu-

lancias de service medico - nao se sabe ate ho]e por que, mas era esperada

uma reacao armada de parte da Universidade -, em uniforme de campanha

e portando equipamentos de combate, invadiam 0 campus universitario"(Machado Neto,in Ribeiro, 1969: 251).

Ainda por urn ano, apesar da intranqi.iilidade causada por

essas invasoes, prisoes, demissoes, etc., 0 grupo rest ante tenta

levar adiante 0projeto, ate que 210professores entregam os seus

pedidos de demissao ao reitor, que representavam 90% dos pro-fessores 7.

- .2. 0 significado do golpe militarde 1964

o significado do golpe militar de 1964tern que ser buscado

nao no que era afirmado em palavras, isto e, nos discursos jus-

tificadores de tal movimento, e sim nos resultados das medidas

implantadas concretamente pelos governos que se seguiram a ele.

Para efeito do presente estudo, que tern em 1968sua delimi-

tacao superior, serao considerados 0 periodo imediatamente pos-. d ~

. tenor a quan oocupa a Presidencia, sob a tutela do Comando

Supremo da Revolucao, 0 entao presidente da Camara Ranieri

Mazzili, mais especificamente 0 periodo de governo do marechal

Castelo Branco (1964-67) e 0 periodo de governo do marechalCosta e Silva (1967-69).

,/7. Para que se tenha uma no~ao da estrutura ~'funcionamento desta uni-

versidade, indica-se a leitura da obra citada de Darcy Ribeiro, editada pelaPaz e Terra.

156

governo de cassar mandatos e suspenderdir:it~s politicos sem

necessidade de justificacao, juigamento ou direito de defesa.

Como efeito do medo que se instala comecam tambem as

delacoes em grande escala. Os agentesdo Service Nacional deInforrnacao (SNI), sob a chefia do general Golbery do Couto e

Silva, passam a infiltrar-se em toda parte. Inqueritos P?litico-

militares (IPM) sao instalados. 0 uso da tortura como mstru-

mento de 0btencao de "confissoes" generalizou-se e "aprimo-

"ou-se .

..( . .. ) Em Recife, onde 0 t error foi generalizado e elevado a categori~

de arte (a arte de espancar sem deixar marcas), as pessoas tinham ate

rnedo de conversar com conhecidos. ( . .. ) Mesmo as viti mas tinham medo

de conlar 0 que haviarn sofrido com medo de represalia'' (Basbaum,

s.d.: 143).

A publicacao Brasil: nunca mais traz os r.esulta~?s de uma

pesquisa sobre "a repressao exercida p~lo. regime rr.llhtar a par-tir de documentos produzidos pelas propnas autondades encar-

regadas dessa tao controvertida tarefa" (Varies, 1985: 22) e e

hoje leitura obrigatoria para todo brasileiro, em especial, p~ra

aqueles que se dedicam profissionalmente ao campo da educacao.

o AI-2, de 27-10-64, acabacom as eleicoes diretas para pre-

sidente e governador, acaba com os partidos politicos de ate

entao e impoe 0"bipartidarismo ", com a instituicao de urn par-

tido de apoio ao governo, a Alianca Renovadora Na~i~nal (Ar~-

na), e urn outro, de oposicao, 0Movimento Democratico B,r~sl-

leiro (MDB). As aspas no "bipartidarismo" se fazem necessanas

dado os evidentes limites (muitissimo estreitos no infcio, comoa propria historia demonstrou) de urn partido de oposicao de:

cretadopor urn poder executivo ditatorial.

o AI-3, de 5-2-66,estabelece normas para as eleicoes federais,estaduais e municipais.

o AI-4, de 6-12-66, estabelece as condicoes em que seria vo-

tado pelo Congresso Nacionalo projeto de Constituicao elabo-

157

rado pelo Executivo. Tal projeto foi aprovado em. 22-12-66, de-

pois de sofreralgumas emendas. Em 24-1-67 a nova Constituicao

foi promulgada.

Nela "as atribuicoes do poder executivo foram consideravel-

mente ampliadas, pois a ele cabia, com exclusividade, a inicia-

d) garantia da instalacao da Companhia de Mineracao

Hanna, considerada inidonea ate pelo governo .dos EstadosUni-

dos e concorrente de uma empresa do proprio governo brasilei-

ro, a Companhia Vale do Rio Doce;

e) opcao monetarista de combate a inflacao:

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tiva em projetos de lei sobre seguranca e or<;amento". No entan-

to, ainda "foram mantidos principios tradicionais, como a imu-

nidade parlamentar,a autonomia do judiciario e 0 habeas cor-pus" (Alencar etalii, 1980: 321).

Esta mudanca constitucional, na interpretacao de Leoncio

Basbaum (s.d.: 181), juntamente com a mudanca na Lei de Im-

prensa e na Lei de Seguranca Nacional, seguiam a orientacao

doutrinaria de urn dos grupos em que as Forcas Armadas se divi-

diam, grupo este conhecido como "sorbonistas", do qual Castelo

Branco era representante. Constituia tam bern a maneira deste

grupo entregar 0 governo, mas nao entregar 0 poder ao novo

marechal que ocuparia a Presidencia da Republica ate agosto de

1969. Costa e Silva representava urn outro grupo, conhecido co-

mo "linha dura".

"A solu~ao estava em enquadrar 0 novo presidente dentro de urn

esquema que garantisse a continuacao de sua politica anti-cornunista,

anti-democratica, anti-reformista, anti-desenvolvimentista, e pro-americana"

,(Basbaum, s.d.: 181).

Tais medidas, que com seusefeitos sao denominados de ter-

ror politico pelo autor anteriormente citado (Basbaum, s.d.:

153-67), tern por objetivo 0 terror economico consubstanciado

na:

a) reformulacao de Lei de Remessas de Lucros aprovada em

1962: eliminan do 0 limite de remessa de 10% e deixandode es-

pecificar 0 que era considerado "capital estrangeiro", possibili-

tan do que assim fosse considerado ate 0 lucro reinvestido, em-bora obtido no Brasil, com 0 trabalho dos brasi1eiros;

b) assinatura em Washington da Lei de Investimentos, para

evitar novas encampacoes de propriedades norte-americanas;

c) conclusao da compra da American Foreign Power, pdr

131 milhoesde dolares, que se resumiam em bens que estavam

caindo em desuso por serem obsoletos;

L aumento dos impostos;

2. restricao de credito bancario:

3. arrocho salarial (reposicao abaixo dos indices inflacio-

narios).

Este arrocho veio, evidentemente, acompanhado da proibi-

caodo direito de greve, do fim da estabilidade no emprego (Lei

do Fundo de Garantia de Tempo de Service}, bern como ajudado

pelo "terror politico".

Assim c que:

1. as empresas multinacionais (os monopolies) tinham ga-

rantia de taxas de lucros superiores as possiveis em seus paises

de origem;

2. as pequenas e medias empresas, em sua maioria funda-das com capital de origem nacional e maiores empregadoras. de

mao-de-obra: entram em falencia ou antes disso sao absorvidas

pelas grandes empresas monopolistas multinacionais e muitos de

seus proprietaries veem-se transformados em gerentes dessas

grandes empresas;

3. amplia-se 0 grupo em formacao desde os anos 50 com-

posto de dirigentes brasileiros de empresas estrangeiras, enge-

nheiros, advogados, relacoes publicas cujos interesses estao inti-

mamente relacionados com os dos gruposestrangeiros que de-

tern tais empresas;

4. a taxa de desemprego atinge, em 1965, indices apenas

alcancados em 1930;

5. 0 golpe militar levado a efeito com 0 objetivo declarado

em palavras de acabar com a corrupcao, com a inflacao e com

a subversao (esta nunca bern definida; mas, com certa freqtien-

cia, identificada com a ameaca comunista, com 0 perigo sovie-

159

tico), emiverdade, isto e, analisando as atos dos governos mili-tares que se seguern, representouapossibilidade de instalaciio,pela [orca, de urn Estado que tinha como tareia concreta a eli-minaciio dos obstaculos a expansiio do capitalismo internacional,agora em sua fase monopolista. Urn Estado, portanto, transfer-

mado em instrumento politico de generalizacao e consolidacao

Pela Tabela X fica demonstrado que em 1970a parcela per-

centual de participacao do MEC has despesas dos ministerios ~

pouco inferior (9,35) aquela que ele tinha em 1965 (9,60, d.

Tabela 1), enquanto 0 aumento percentual das d:sp~sas com os

ministerios militares (que passa a ser uma tendencia marcante

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de urn modelo econornico encontrado numa fase embrionaria de

1955 a 1964.

Explicitado 0 significado do golpe militar de 1964, passare-

mos a considerar seus efeitos sobre os recursos financeiros ne-cessarios a organizacao escolar e sobre a orientacao teorica se-

guida e expressa nas leis que vao sendo aprovadas ate 1971.

Recursos financeiros

TABELA X

Despesas realizadas pela Uniao (calculo percentual)

Ministerios 1970

Exercito

Aeronautica 36,17 (V)

Marinha-,

Agricultura 2,38•

Educacao e Cultura 9,35 (3.")

Saude 2,19

Fazenda 3,94

Justica 0,89

Relacoes Exteriores 1,36

Industria e Cornercio 0,21

Trabalho 1,27

Transportes 27,12 (2.a)

Comunicacoes 2,31

Interior 5,66

Minas e Energia 6,32

Planejamento e.Coordenacao Geral 0,83

Fonte: Allutirio Estatistico do Brasil, vol, 34, 1973, p. 857.

I f lO

1965 (ver .Tabela 1) para 36,17 em 1970 (ver Tabela X).

Com os desdobramentos e a criacao de novos rninisterios,

mesmo tendo dirninuido 0 percentual da participacao-do MEC,

como ja foi afirmado, as despesas com educacao e cU~,tur.a~as-

sam de 4.U(em 1965, ver Tabela 1) para 3.° lugar nas pn~nda-

des/governamentais. Lugar bastante relativo diante das mter-

pretacoes feitas.

Novos tributos sao criados pelo governo federal (Decreto

n." 4A40), como tambem por alguns dos governos estaduais (:a-

lariof s j-educacao). sobreas empresas como meio de obtencao

dos recursos necessarios a universalizacao do ensino de l ," grau.

TABELA Xl

Despesas realizadas pelos Estados e f ixadas pelos municip ios

(calculo percentual)

1 97{ )

AreasEstados Municipios

Administracao Geral 23,05 o.a) 12,47 (PGoverno e

Administracao Financeiru 9,22 9,90

Dcfcsa Scguruncu 9,07 0,70c

Rccursos Naturais Agropecuarios 4,35 0,78

Viacao, Transporte Cornunicacao 11,61 (P 12,07 (4.3)e

lndustria Comcrcio1.90 0.99

c

Fducacao c Cullum 17,64 (2.a) 12,65 (2.a)

Saudc 5,11 4,08

Hern-estur Sm:i,11 9,20 7,55

Services Urbanus IU!3 38,79 ( I.a)

Fonte: A nudrio listntist ico do Bra.l;I. vol. 34. 1973. p. 883 e vol. 36. 1975. p. 952.

In J

·Os estados continuararn dedicando uma parcela cada vez

maier, que de 1964 (14,80, conforme Tabela II) para 1970(17,64.

conforme Tabela XI) foi de 2,80%.

Os municipios, cujo percentual baixou de 1955 a 1964 (ver

Tabela II), agora de 1964 (5,90, conforme Tabeia II) para 1970

b) Ensino elementar

Comparando-seas diferencas entre os numeros-indices de

1955 a 1965 (ver Tabela V) com os de 1965a 1970 (ver Tabela

XII) relativos a matriculade inicio de ano, constata-se 0 seguin-

te: a ampliacao de 100para 129 nos cinco ultimos anos analisa-

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(12,65, conforme Tabela XI) apresentam urn significativo au-

mento de 7,35%. Sendo 0 de 70 (12,65) superior ao de 1955

(11,40, conforme Tabela II).

A seguir sera feita uma analise (quantitativa) dos dados dis-poniveis sobre a situacao do ensino, em parte determinada pelos

recursos disponiveis.

a) Analfabetismo

, .As. consideracoes feitas sobre este aspecto da questao em

pagmas antenores, quandoda discussao sobre 0 subperiodo de

1955 a 1964, abrangem 0 subperiodo que agora nos ocupa (1964

a 1968), uma vez que foram feitas a base de comparacao dos

dados de 1960/70.

TABELA xuEnsino prima rio comum

1965 1970 11."-' indices

Especijicaciio 1l.'J.~ J1 .0S

absolutos '/< absolutos '! r1965 1970

Matricula

do inicio do ano 9.923.183 12.812.029 100 129

Matricula

do final do ana . 9.06L530 12.084.708 100 133

Diferenca H61.653 8.70 727.321 5.fo7

MatricuJa no I." ano 4.949.815 100,00 5.790.816 100,00 100 117

Matriculu no 4." ano 1.007.8H2 20.40 1.590.311 27.45 100 158

Aprovacao 5.973.8 11 9.147,858 100 lfo3

Fonte: TabeJas V e VI.

Anudrio Esta tis ti co do Bras il , vol. 35, 1974, p. 761. 763, 767.

162

dos representa urn ritmo menor a ocorrida durante os dez anos

anteriores (1955/65), que foi de 100 para 2J8.

A tendencia de melhora na capacidade de retencao do aluno

na escola se mantern, tendo acontecido, durante esse processo de

ampliacao mais lenta, uma diminuicao na porcentagem de eva-

sao durante 0 ano, que de 8,70 em 1965 passa a 5,67 em 1970,

representando uma diminuicao (pequena, e certo) ate em nume-

ros absolutos (de 861.653 para 727.321) (ver .Tabela XII).

Nos cinco anos analisados a matricula no 4.° ano passa a

representar 27,45%, quando era de 20,40% em 1965. Tern-se aqui

tarnbem mais uma evidencia de uma pequena, mas significativa

melhora na capacidade de retencao do aluno na escoia (uma di-

ferenca para mais de 7,05 em cinco anos, contra 3,90 nos dez

anos anteriores - ver Tabeia XII e VI).

TABELA XIII

Ensino rnedio

Matrlculas Matriculas

Allo Pessoal docentc inlcio do ano final doano

1970 308.552 4.086.073 3.984.458

Fonte: Antu ir io Estatt sti co do Bras il , vol. 35, 1974, p. 771, 774, 776.

TABELA XIV

Relacao matricu1as no inicio do ano do ensino prirnario e medic

1955 1965 1970

Especijicardo 11." '<: Jl."'-'; 11,08

absolutos % nhsolutos % absollltos %

Matriculas

no inicio do ana4.545.630 100.00 9.923.183 ' 100,00 12.812.029 100,00

(ensino priruario

comurn )

Matriculas

no inicio do ano 828.097 18,21 2.154.430 21,70 4.086.073 31,89

(ensino medio )

FOllte: Tubelas V. VII e XVIII.

163

IIi~

II'

c) Ensino media

Comparando-se a matricula do inicio do ana no ensino ele-

mentar com a no ensino rnedio (ver Tabela XIV) tem-se que esta

ultima representa em 1970 31,89% da primeira.

Pela Tabela XVII constata-se que a ampliacao .do pessoal

docente foi quase seis vezes menos intensa que a ampliacao de

matricula. Esta foi de 177 pontos para 90 de ampliacao do ensi-

no medic (ver Tabela XV) e de apenas 17 para 0ensino elemen-

tar (ver Tabela XII).

Contudo, mesmo assim, a relacao da matricula no ensino

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I!III!

nivel de ensino agora considerado.Em cinco anos tal relacao

passa de 21,70% para 31,89%, quando nos dez anos anteriores

(1965/75) tinha pass ado de 18,21% para 21,70%.

TABELA XV

Ensino medic (rnimeros - indices)

Matriculas MatriculasAno Pessoal docente

110 inicio do ano no final do ana

1965 100 100 100

1970 213 190 188

FOllte: Tabelas VII e XIII.

Constata-se pela Tabela XV que a ampliacao do pessoal do-

cente foi muito significativa nestes ultimos cinco anos: de 113

pontos, quando havia sido de 96 nos dez anos anteriores (verTabela VII).

d) Ensina superior

TABELA XVI

Ensinqsuperior (mimeros absolutos)

Allo Pessoal docente Matricula Geral

1970 42.968 430.473

Fonte: Anudr io Estat is ti co do Brasil , vo l. 32 , p. 713.

TABELA XVII' '"

Ensino super io r (mimeros - indices)

Ano Pessoal docente Matricula Gerai

1965 100 100*

1970 130 277

* Poi tomada a matricula efetiva POf nao ter sido encontrado nos Anuarios 0

mimero referente It matricula geral ou de inicio de ano.

Fonte: Tabelas IX e XVI.

164

superior para com a do ensino elementar chega a ser de apenas

3,35% contra 1,56% em 1965 (ver Tabela XVIII), evidenciando

mais uma vez a intensidade do grau de seletividade que carac-

teriza a organizacao escolar brasileira.

TABELA XVIII

Relacao matricula no inlcio do ano no ensino elementar e superior.

\1

1965 1970

Especijicaciio n.OXn.DS

absolutos % absolutos %

Matricula no inicio do ano

(en-sino elementar) 9.923.183 100,00 12.812.029 100,00

Matricula no inicio do ano(ensino superior) 154.981 1,56 430.473 3,35

* Dado de matricula efetiva por nao ter sido encontrado 0 relativo It matricula

geral (ou de inicio de ano).

Fonte: Tabelas XIV e XVI.

Teoria educacional

No final das consideracoes feitas no item "teoria educacio-

nal", referente a primeira fase do presente periodo analisado

(1955/64), ja foi indicado que 0 "terror politico" atingiu ime-

diatamente 0 campo educacional.

Foi assim que, a 9 de abril de 1964, a Universidade de Bra-

silia foi invadida, professores e alunos foram presos, e demis-

soes a pedido dos proprios professores passam a acontecer em

solidariedade aos colegas atingidos pela repressao.

Tais acontecimentos evidenciam que, diante do golpe mili-

tar de 1964, tornava-se inviavel 0 projeto de reforma universi-

165

tario quevinha sendo esbocado e defendido teorica e pratica-

mente por expressivos segmentos da populacao brasileira: aque-

le articuladoao projeto politico de desenvolvimento da socie-

dade brasileira com a relativa autonomia indispensavel a. urn

processo de autodeterminacao.

.$ Foi afirmado, tambem, quando da analise da primeira fase

Alfabetizacao) em 15-12-67 (Lei n.? 5.370) que, no entanto, teve

suas atividades regularmente iniciadas apenas em setembro de

1970; em segundo lugar, a aprovacao da Lei n.? 5.540/68, de

28-11-68, que' fixa normas de~organizacao e funcionamento do

ensino superior e sua articulacao com a escola media e da outras

providencias: em terceiro lugar, a aprovacao da Lei n.? 5.692/71,

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/referida, que 0Plano Nacional de Alfabetizacao foi ext into no

/ dia 14de abril de 1964, bern como paulatinamente paralisados os

nucleos do que pas sou a ser conhecido como "educacao popu-

lar", sendo que muitos membros dos grupos vinculados a estasatividades foram tambern atingidos pela repressao.

Mas, evidentemente, as atitudes do novo governo nao pode-

riam se resumir a inviabilizacao do que vinha sendo tentado ate

entao. Rapidamente 0 governo deveria passar tambern a tomar

iniciativas de criacao/aprovacao de urn outro ordenamento legal

das atividades educacionais em seus diferentes niveis, ordena-

mento legal este ja expressando as novas deterrninacoes politico-

economicas a serem generalizadas e consolidadas.

E assim que sao incentivadas as atividades dos varios gru-

pos de especialistas brasileiros e norte-arnericanos, das quais re-

sultam os acordos MEC/USAID (Ministerio da Educacao e CuI·

tura/United States Agency International for Development).

Eram, entretanto, atividades que sofriam uma intensa cam-

panha contraria, dirigida especialmente pela UNE (Uniao Na-

cional dos Estudantes), que as denunciava enquanto mecanismo

de subordinacao da educacao aos interesses norte-americanos.

Em conseqiiencia desta campanha contraria e ainda que as

perseguicoes, pris6es, desaparecimentos e tortura tenham, em

certa medida, desde 0 inicio generalizado 0 medo, 0 incentivo

governamental as' atividades de tais grupos teve que se fazer a

base do sigilo. Com muito esforco 0 entao deputado Marcia Mo-reira Alves conseguiu publicar em 19680 livro Beabti dos MEC/

USAID tornando publico 0 conteudo dos projetos em andamento.

:7 Para efeito dapresente analise, que tern no ana de 1968 a

//sua delimitacao final, serao destacadas dentre as medidas torna-

das com vistas a urn outro ordenamento legal da educacao, em

primeiro lugar a criacao do Mobral (Movimento Brasileiro de

166

de 11-8-71, que fixa diretrizes e bases para 0 ensino de 1.0 e 2.°

graus e da outras providencias.

A interpretacao sera feita a base de destaques de alguns ele-

mentos dos textos legais devidamente referidos ao contexto noqual tern origem, uma vez que uma interpretacao com base na

implantacaopropriamente dita de tais leis e de seus efeitos, de-

sejados ou nao, so podera ser feita quando for tornado como

tema de reflexao 0 periodo posterior a 1968.

Mesmo assim, entendo que e necessario que desde ja tenha-

mos claro que para entendermos os fundamentos que articulam

essa intervencao nos tres graus de ensino, tanto a nivel regular

como nao-regular, por parte do governo, temos que buscar dar

conta da concepcao tecnicista em educacao, especialmente em

sua expressao na chamada "teoria do capital humano" ou, em

outras palavras, no "economicismo educativo". No meu entender,

temos que dar conta tambem da concepcao crrtico-reprodutivis-

ta ou "reprodutivismo educativo", enquanto critica a concepcao

tecnicista. E temos, mais que isto, que dar conta da critica ao

proprio IIreprodutivismo", buscando entender as determinacoes

historicas que explicam seu aparecimento, entendendo, ao mes-

mo tempo, a natureza dasignificativa contribuicao trazida por

tal concepcao, bern como seus limites explicativos, em especial

no que diz respeito as peculiaridades da situacao nos paises lati-

no-americanos, como 0Brasil (ver Tedesco, inMadeira & Mello,

1985: 33-60).

Luiz A. R. da Cunha (1975), que escreve sob a influencia da

concepcao critico-reprodutivista 0 livro Educaciio e desenvolvi-

mento social no Brasil, contribui no sentido de desfazeras ilu-

soes do liberalismo que fundamenta as concepcoes "humanista"

tradicional - vertente leiga - e "humanista" moderna, assim co-

mo as ilusoes do "econornicisrno" da teoria do capital humano.

167

Lendo-se, em especial, 0 capitulo 5 do referido livro, e pos-sivel acompanhar a demonstracao que 0 autor. faz das novas fun-

<;oeseconomicas e politico-ideologicas das medidas tomadas pelo

.governo.

Se antes de 1964, por exemplo, 0 que motivava vanos gru-

pos a descobrirem meiosde alfabetizar a populacao adulta era

As modificacoes da estrutura interna das universidades re-

feridas na lei, para produzir a expansao necessaria com urn mi-

nimo de custos, que importam relacionar no momenta sao as

seguintes:

a) a departarnentalizacao:

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a conviccao de que a alfabetizacao era urn instrumento indis-

pensavel, mesmo que nao suficiente, a participacao ativa na poli-

tica do pais, apos 1964, com 0Mobral, e feita a vinculacao ime-

diata da alfabetizacao com a "participacao" na vida econornica s.

Cunha reproduz a p. 271 do livro citado urn organograma

contidono Roteiro-Alfabetizador, documento do MEC/Mobral,

onde os auto res pretendem mostrar nos alfabetizadores a relacao

entre alfabetizacao funcional e desenvolvimento do pais. E, ape-

sar de num momento do organograma haver referencia a melho-

res niveis de vida economica e cultural (grifo meu), a enfase

em todos os demais momentos esta no economico,

Mais adiante demonstra quanta 0 discurso da grandeza -

do Brasil-potencia - esbarra, em primeiro lugar, em termos

educacionais, nos altos indices de analfabetismo. Todas as gran-

desnacoes resolveram esse problema e se o Brasil quisesse en-

trar para 0 "clube dos grandes" teria que, pelo menos, demons-

trar.que da parte do governo havia uma preocupacao nesse

sentido.

Por outro lado, 0 governo tinha que demonstrar tal inte-

resse, dado que internamente outras forcas politicashaviam em-

punhado a bandeira da alfabetizacao a ponto de despertar muitos

analfabetos para 0 seu direito a educacao escolar.

A Lei n." 5.540/68, que reforma 0 ensino superior, traz algu-

mas modificacoes com vistas a responder a uma necessidade

(reconhecida pelo Grupo de Trabalho para a Reforma Universi-

taria - GTRU) de encontrar maneiras para expandir esse nivel

de ensino com 0 minima de custo para nao prejudicar 0 atendi-

mento dos niveis anteriores, considerados como prioritarios

(Cunha, 1975: 241-2).

8. "Participacao", entre aspas, uma vez que nao signif ica participacao efetiva

nos lucros e sim a possibilidade de emprego como assalariado em urn novo mode-

10 de acumulacao acelerada do capi tal in ternaciona1.

168

\., b) a matricula por disciplina;

c) 0 cursu basico:

d) a institucionalizacao da pos-graduacao.

Com base em algumas evidencias, ja foi considerado que 0

texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educacao Nacional (LDB)

- n," 4.024/61 - acabou por expressar de forma marcante a

forca de uma tendencia pedag6gica articulada a uma posicao

politica de natureza conservadora-reacionaria, vale dizer, de mi-

noria.

Isto, mesmo tendo havido urn periodo de intensa movimen-

tacao de varies grupos de interesse em presenca na sociedade

brasileira, durante os treze anos que transcorreram desde a pro-

posicao do primeiro projeto apresentado a Camara Federal

(1958) ate sua discussao e aprovacao (1961). E mesmo ap6s ademonstracao de certo grau de penetracao popular de posicoes,

ainda que conservadoras,de natureza modernizante, as quais se

aliaram posicoes progressistas propriamente ditas, em defesa da

escola publica.

Assim sendo, e possivel supor quao estreitamente ligados

eram os interesses das: minorias responsaveis pelo golpe militar

de 1964 e osda burguesia internacional, que iriam determinar 0

texto legal e, mais ainda, os efeitos praticos sobre a ordenacao

da educacao brasileira das Leis n.OS5.540/68 e 5.692/71.

Foi afirmado que a determinacao dos interesses de minorias

/marcaram os textos das leis, uma vez que os grupos de trabalho

compostos pelo novo governo para elaborar os projetos, bern co-

mo 0Congresso Nacional que os aprovou rapidamente, trabalha-

ram num contexto em que prisoes politicas, delacoes e tortura

passaram a ser regra em que, em conseqiiencia, tornava-se im-

possivel para alguns e desestimulante para muitos a participacao

169

numa verdadeira discus sao dos fundament os da opcao que es-

tava sendo feita.

Em relacao a natureza de tal opcao, os elementos destaca-

dos a respeito do Mobral e da Reforma Universitaria ja indicam

que se trata de urn predominio do "economicismo", decorrente

do estabelecimento de uma relacao direta entre a producao e a

"( ... ) Assim, 0 principio da nao duplicacao de meios para fins iden-

tic~s cO?I s~us corolarios.vtais como a integracao (vertical e horizontal), a

r~~10nahza~ao-co~ce~tra~iio, a intercomplementaridade; 0 principio da flexi-

bilidade; da con~tnuldade-terminalidade; do aproveitamento de estudos, etc.,

bern como medidas como a departamentalizacao, a matricula por disci-

plina, 0 's istema de creditos ' (no ensino superior), a profiss ionalizacao do

2.° grau, 0 detalhamento curricular, e tantas outras (que) indicam uma

preo:up~~ao com. 0 aprimoramento tecnico, com a eficiencia e produtividade"

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educacao, proprio a concepcao tecnicista de conceber e agir no

campo da educacao.

A "analise critica da organizacao escolar brasileira atraves

das Leis 5.540/68 e 5.692/71" feita por Dermeval Saviani (1980)

demonstra 'que 0 referido predominio tarnbern marca a' orden a-

<;aoaprovada para os niveis escolares anteriores ao superior, ni-

veis estes que passam a ser denorninados de ensino de I." e 2.°graus.

Ele demonstra, no etanto, que tal conclusao so pode ser for-

mulada .quando nao nos deixamos iludir (ou confundir) pelo

aparente, isto e , pelo que esta declarado no capitulo dos objeti-

vos gerais e especificos de cadagrau de ensino (objetivos pro-

clamados). Indo em busca dos

"objetivos reais", valedizer, dos objetivos que "indicam os alvos concretos

da iacao, aqueles aspectos dos objetivos proclamados em que efetivamente

-,esta empenhada a. sociedade, enfim, a definicao daquilo que se esta buscan-

do .preservar e/ou mudar. ( • .. ) Nesse quadro, os objetivos reais podem

configurar-se como concretizacoes parciais dos objetivos proclarnados mas

podern tambem se opor a eles, 0 que ocorre com bastante freqilencia. Neste

caso, os objetivos proclarnados tendem a mascarar os reais" (Saviani.1980:

147-8).

Da impressao de que a inspiracao da Lei n." 5.692/71 e de

base liberal (humanista modema), causada pelo exame dos obje-

tivos proclamados, passa-se a conclusao de que a inspiracao eem ultima instancia de base tecnicista, quando do exame dos

objetivos reais, orientados por uma compreensao sobre 0 con-

texto no bojo do qual a lei foi projetada e aprovada.

Ele demonstra, no entanto, que tal conclusao so pode ser for-

Revela-se assim a enfase na quanti dade e nao na qualidade,

nos rnetodos (tecnicas) e nao nos fins (ideais), na adaptacao

e nao na autonomia, nas necessidades sociais e nao nas aspira-

coes individuais, na formacao profissional em detrimento da cul-

tura geral.

170

(Saviani, 1980: 148).

E ainda Cunha, na obra citada anteriormente, que aponta

para urn outro fato, 0 de como a ampliacao de quatro para oito

anos de tempo de escolaridade obrigatoria esta tambem rela-

ci..?na~oao discurs? do Brasil-potencia. Isto porque, para tanto,

nao so 0 analfabehsmo era urn obstaculo, mas tambem a baixa

media de escolaridade, ou seja, de perrnanencia na escola.

_ Era necessario, conseqiientemente, aos governos que se im-

poe~ com. 0 golpe de 1964, no minimo proclamar a intencao,

Aqui tambem 0 proclamado parece mais urn mascaramento das

int~n<;6es reais, ja que a intencao de tornar realidade a obriga-

toriedade d~ quat.ro anos, ha muito proclamada enunca cumpri-

da, se .configuraria melhor, a nosso ver, como intencao de con-

cretizacao parcial de objetivos proclamados.

171

responsabilidades dos aspectos internos das .atividades de co-

rnercializacao das mercadorias produzidas para 0mercado exter-

no.Sociedade que, a partir das primeiras decadas do seculo XX;

passa adesenvolver tarnbem uma base industrial, para substi-

tuir as importacoes de produtos simples a serem comercializa-

dos internamente.

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Conclusoo

A analise feita sobre as caracteristicas da organizacao esco-

lar brasileira torna possivel algumas conclusoes a respeito das

raizes mais profundas das causas pelas quais tern se revelado,

senao impossivel, pelo menos muito dificil 0 encaminhamento

minimamente satisfatorio dos problemas centrais apresentados

pela organizacao escolar.

Constata-se com certa facilidade que, apos 0 advento da Re-

publica, a cada decada vai aumentando a pressao de significati-

vos setores da populacao brasileira no sentido do ingresso e

permanencia na escola. Esta pressao tern origem, num primeiro

momento, mais nos setores medics, mas vai se intensificando

com a presenca de setores populares propriamente ditos.

Ao procurar explicar os fatores que levama esta busca ge-

neralizada pela escola e a sua conseqiiente ampliacao - e certo

que irregular, mas sempre presente em alguma medida - das

que irregular, mas sempre presente em alguma medida - das uni-

dades escolares, da matricula e do numero de professores, encon-

tramos 0 fenomeno da urbanizacao, que se acelera cada vez maisa partir do final do seculo XIX, constituindo uma base social

necessaria a uma sociedade que, tornada nacao, ainda que de-

pendente! no inicio < . 1 0 seculo XIX (1822), tern que assumir as

1. "Ainda que dependente" pois, como sabemos, 0Brasil sai da condicao de

colonia de Portugal para a de nacao neocolonial dependente da Inglaterra, que

disputa, entiio, com a Franca a hegemonia no sistema capitalista mundial.

172

o fenomeno da urbanizacao, como foi visto, e basicamenteproduto da necessidade de adaptacao da sociedade brasileira

aos interesses do regime capitalista internacional, nesse momen-

to entrando em sua fase imperialista (monopolista).

Estas transforrnacoes economicas provocam 0 aparecimento

de "novas" forcas sociais, como a fracao "rnoderna" da classedominante proprietaria de terra - os "baroes do cafe" -, tam-

bern chamada de burguesia agraria e urbana, bern como a amplia-

9ao e a diversificacao dos setores medics. "Novas" forcas que

se organizam e se articulam provocando mudancas a nivel poli-

tico, isto e, levando a alteracao do regime monarquico de gover-

no, para 0 republicano.

Neste processo de passagem, que se da no final do seculoXIX, de urn lado, 0 trabalhadordeixa juridicamente de ser es-

cravo e passa a ser assalariado; de outro, todos os membros da

sociedade brasileira deixam de ser suditos para serem efetiva

ou potencialmente cidadaos.

Defende-se, e portanto difunde-se, urn ideario de exercicio

de cidadania onde a instrucao (a alfabetizacao e a escolarizacao

regular) passa a ser entendida como de dever do Estado, agora

republicano.

Constitui-se, assim, urn outro fator de pressao no sentido da

ampliacao da rede escolar, fator este de natureza politica - 0

ideario republicano -,mas, como a urbanizacao, tambem pro-

duto das alteracoes na base economica da sociedade.

o ideario republicano, como se viu, tern poucas chances dese realizar historicamente diante dos limites representados pelonao-rompimento das relacoes de dependencia com 0 capitalismo

internacional, bern como pela manutencao do Iatifundio e da

monocultura, e pela implantacao de uma industrializacao que,

ate os anos 40, se desenvolve mais em razao de espacos deixados

173

pela crise por que passam os paises capitalistas hegernonicos e

nao propriamente em razao de forcas sociais internas nela inte-

ressadas terem se saido vitoriosas num confronto direto com as

forcas externas.

Como havia-se chegado ao seculo XIX como uma nacao de

segunda classe, chega-se ao seculo XX tambem como uma Repu-

o modelo escolar que vira atender as necessidades relativas a

educacao escolar!zada de toda a populacao e nao apenas de pe-

quenos grupos. E lutando para que todos ingressem e permane-

earn na escola, e lutando, portanto, para que os obstaculos esco-

lares e sociais mais gerais que dificultam ou impossibilitamtal

ingresso e permanencia deixem de existir, que sera possivel cons-

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blica de segunda classe,

E, pois, neste contexto depress6es sociais e politicas de di-

terentes origens, surgidas dentro delimites bastante marcados,

que acontece uma significativa alteracao, mais de ordem quanti-

tativa que qualitativa, IJ._aorganizacao escolar brasileira.

Mais de ordem quantitativa porque e uma ampliacao, como

se viu, que mantem, e de forma agucada, ou seja, agravada, os

problemas ja tradicionais, visto que ate hoje e irnpossivel aten-

der a toda populacao em idade escolar; sao altos os indices de

repetencia e de evasao. Uma ampliacao que, se de um lado, com

o aumento da populacao, representa em numeros absolutos e

atendimento de um maior numero de pessoas, de outro, repre-

senta, tarnbern em numeros absolutos, mais gente sendo repro-

vada, expulsa da escola logo apos a entrada.

"Sao resultados que evidenciam quao pouco se conseguiu -

nos limites economico-sociais apontados em que vem acontecen-

do um processo mais de adaptacao da sociedade brasileiraao

desenvolvimento capitalista internacionaldo que de desenvolvi-

mento propriamente dito - no sentido de alterar expressivamen-

te as condicoes de vida da maioria da populacao, para que ela

possa sustentar seus filhos na escola, assim como no de mudar

significativamente os requisitos imprescindiveis a uma reorgani-

zacao estrutural do aparato escolar, a fim de que em seu interior

desenvolvam-se atividades necessarias a essa mesma populacao.

Afirmei que, mesmo assim, tal ampliacao foi significativa,uma vez que nao se resolvem as questoes de qualidade sem se

resolverem as de quantidade. E mais, e forcando-se pela quan-

tidade que se provoca, peIo agravamento dos problemas, 0 es-

force coletivo necessario a solucao dos problemas.

Em outras palavras, nao e deixando grandes parcelas da

populacaoern idadeescolar fora da escola que se vai descobrir

truir uma organizacao escolar de qualidade.

A analise de dois dos elementos mediadores necessaries a

construcao de tal organizacao escolar - os recursos financeiros

e a orientacao te6rico-pedag6gica (teoria educacional) -,. apon-

ta na direcao de que a raiz de. todos os obstaculos encontra-se

na submissao .da sociedade brasileira aos interesses do capita-

Jismo internacional. Esta submissao beneficia uma parcela mui-

to reduzida da populacao brasileira, mas mesmo assim e uma

parcel a sempre fragil diante da parcela internacional, hoje sob

a hegemonia da burguesia monopolista.

Nao atentar para isto e, a nosso ver, tomar efeitos desta

causa como se fossem as proprias causas; e dar aos efeitos, quecertamente estao a exigir uma atencao especifica, uma dimensao

maior er portanto, falseada; e, ao nao atacar a causa e sim seus

efeitos,atuar no sentido de mante-la, de consagra-la, voluntaria

ou involuntariamente (e isto nao muda 0 resultado).

A chamada insuficiencia de recurs os financeiros para satis-

tazer as necessidades relativas ao atendimento adequado da po-

pulacao em idade escolar e daquela que em idade escolar nao

f01 atendida nao decorre fundamentalmente da amplitude de tais

necessidades e sim de uma estrutura economica construidapara

produzir a concentraciio de tais recursos em mdos de minorias

internas e, acima de tudo, externas a sociedade brasileira (bur-guesia monopolista).

Portanto, osrecursos existem; sao produzidos pelo trabalhoda maioria, so que nao sao distribuidos em beneficio de todos.

Diante de tal realidade e preciso que se entenda que esta

estrutura que produz tal concentracao capitalista e ela mesma

produto que historicamente foi construido em substituicao a

estruturas anteriores que produziam a concentracao sob outras

condicoes. Um produto historico que, a partir de determinado

momento, e possivel e necessario que venha a ser substituido

174175

por outro, isto e, por uma estrutura economico-politica que

produza .<ldistribui9ao (socializacao ) segundo os interesses da

maioria.

Palavras finais

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Apos estes estudos sobre a hist6riada construcao social da

organizacao escolar brasileira atual, a conclusao fundamental a

que chego, em sintese., e a de que aqueles (educadores escolares

ou nao) que estiverem realmente preocupados com os resulta-dos apresentados por tal organizacao ampliada, valedizer, preo-

cupados a ponto de nao conseguirem mais conviver com eles

sem efetivamente se engajarem no processo arduo, longo e ate

arriscado, e certo, que leve as SOlU90esadequadas a nossa epocae, portanto, adequadas tanto quantitativamente quanta qualita-

tivamente aos interesses populares, acabarao por:-:

a) senti rem a necessidade de uma compreensao nao apenas

dos efeitos, mas das causas e da causa mais fundamental de tais

problemas;

b) interessarem-se e esforcarem-se por compreender a di-

mensae hist6ricada origem e desenvolvimento de tais problemas;

'c) conc1uirem comigo que as SOlU90esadequadas dos pro-

blemas enfrentados mi educacao escolar exigem uma compreen-

sao rigorosa de sua .raiz economica, bern como uma reacao cole-

tiva organizada com vistas a destruicao de urn tipo de estrutura

economica, politica e social, vale dizer, de sociedade, e a cons-

trucao de urn novo tipo: reacao essa que e expressao de urn com-promisso politico conseqiiente com as preocupacoes educacio-

nais-escolares. .Sao Paulo, setembro de 1986.

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180

E TRABALHO

LUCILIA R.DE SOUZA MACHADO

E st a e . uma o bra o po rt un a e n ec es sa ria . O po rt un a

po rq ue ch ega n um m om en to e m q ue fa z to do 0s en tid o a

discusssado t ema re la t iv o a escola u n u e n e . E

n ec es sa ria p or qu e e d e t od o re comen de ve t q ue a re fe rid a

d is cu ss so s e a p6 ie n um c on he cim e nt o h is t6 ric o e

ie oric ame nt e f un damen ta do n o t ema .

M as a pre sen te ob ra e tem oem ne ce ssa ria u ma vez

qu e os i nt er es se s das e sc o te s p riv adas c on fe ss io nai s ou

n s o , t ern p ro cu ra do d is sem in ar a id eie ln co tre te ep re co nc eitu os a q ue v in cu la a d efe sa d a e sc ola u nita ria e

uma p os i9 a o p olf fic a t ot eu te ne e , p or c on se qO e nc ia ,

an ti democr at ic a . O ra , p a ra a fa s ta r 0t xe -c on c ei to nada

me lh o r q ue est abe le ce r 0conce it o . E es tabe lece r 0

c onc e it o s ig n if ic a r ec upe ra r, a tr av es da t eo ri a, a

o bje tlv id ad e d o f en 6me no t al c omo s e c on st it uiu

h is to ric ame nt e. E e is to 0q ue L uc flia R eg in a d e S ou za

M ac ha do s e p ro p6 e e re aliz a c om e xito n est e liv ro

o po rt un ame nt e d en om in ad o P olit ec nia , E sc ola U n it ariae Trabalho.

E m sum s, e lem de oporluno e necesseno, este e

um b elo e in st ig an te liv ro . S ua le it ura e t nd is pe ns ev e! at odo s quan to s queir am . comp reende r a e sc ola u nit en e o u

busquem ar ti cu la r a educ a9 ao c om os in te re ss e s dat rene ton receo soci al .

De rmeva l Sav ian i

M a r i o A l i g h i e r o M a n a c o r d a

GUIOM AR N AMO D E M ELLO

Educacao Escolar

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m S r O R I A D AN

E D U C A ~ A Od a A n t i g u id a d e a o s n o s s o s d i a s

l l a d u f a o d e G a e ta n o L o M o n a c oR e v i s a o t e c n i c a d e R o s a d o s A n j o s O l i v e i r a e P a o lo N o s e U a

- , M a ri o A l ig h ie ro M a n a co r d a ( R o m a , 1 9 1 0 ) , u r n d o s m a i o r es r ep r e se n ta n te s

i ra li an o s n o c a m p o d a P e d ag o g ia , l a n ~a , n o B r a si l, p e l a C o r t ez E d it o r a , s ua

o b r a m a i o r , H i s t a r i a d a E d u c a f a o - d a A n t ig u i d a d e a o s n o s so s d i a s , p a s se io

h i st 6r ic o p e la E d u c a ~ ao " a tr a v es d o s t ex t o s' ' . S e r ia i n ic ia lm e n t e u r n p a s se io

a n a lo g o " at ra v es d a s i m a g en s" , p r o p o st o a T V i t a l i a n a D e v i d o a sd i f ic u ld a d es d e p r o d u ~a o , r e c o rr eu - s e a o c a m in h o d a R a d i o , o u s ej a , a v o z e

a o s t ex t os , p a r a u r n p r o g ra m a i n t it u l a d o " A e sc o la n o s s ec u lo s ' ' . H i s t a r ia d aE d u c a f a o r el i n e e m l iv r o 0 c o n r eu d o d e s s e m e m e r a e l p r o g ra m a . I n i c ia c o m

" S o c ie d a d e e E d u c a ~ a o n o A n t ig o E g it o " , p a s s a p e l a E d u ca ~a o e m t o d o s o ss ec u lo s v i n d o u ro s , a te a ti ng i r " 0 n o s so s ec u lo e m d i r e~ a o a o a n o 2 0 0 0 ' '.

Paixao, Pensamento e Pratica

Considerando-se 0que esta ocorrendo na realidade

escolar brasileira, uma evidencia se imp6e. Enquanto

o inicio da dernocratizacao do ensino, expresso pelo

simples aumento quantitativo de escolas,pode

acontecer sob urn regime autoritario, 0

prosseguimento desse processo, daqui por diante,

insere-se necessariamente no movimento de

dernocratizacao da sociedade.

Seraprecisoque se criem mecanismose formas de

organizacao que permitam aos diferentes segmentos,; da sociedade exercerem influencia na polftica

educacional escolar em todasas suasetapas: do 1?

grau a universidade, do nivel macro ao nivel dofuncionamento interno das instituicoes escolareslocais.

Essamaior participacao dar-se-a indiretamente pelo

aumento da representatividade nas diversasesferas da

sociedade politica, especialmente rio Parlamento,

mantidas a s condicoes atuais. Mas ha outras formas

de participacao direta, para as quais se tern pouca ou

nenhuma tradicao, que se faz mister aprender.

~------------~I ~crmT~ Ir--- ~1 ~ EOITORA _I