histc3b3ria do movimento anarquista no brasil rodrigues

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    HISTRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA NO BRASIL

    Edgar Rodrigues

    Ateneu Diego Gimnez2010

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    Edio original:Histria do Movimento Anarquista no BrasilIn: Universocrata

    Editora InsularFlorianpolis, 1999

    Diagramao:

    Ateneu Diego Gimnez

    FOSP/COB-AITPiracicaba, 2010

    http://fosppiracicaba.wordpress.com/ateneu-diego-gimenez

    http://cob-ait.net

    http://www.iwa-ait.org

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    HISTRIA DO MOVIMENTO ANARQUISTA NO BRASIL

    Com 8.511.965 km e uma populao de cerca de 160 milhes de habitantes,"encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado fora de chicotadase da decepao de pares de orelhas com as mos dos capites do mato", cresceu pela

    fora do trabalho escravo, como os demais pases "descobertos" por espanhis,italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.A questo social comeou quando uns poucos figures alugaram e compraram

    braos humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias,carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida confortvel aoscomandantes da misria e do progresso do Brasil.

    Nos quase 500 anos de histria aconteceu de tudo um pouco: compra e venda degente como ns nos leiles em praa pblica, uso de escravos novos para reproduzirfilhos (mo-de-obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalhopela comida, trapaas para tomar terras frteis aos nativos, prises, espancamentos a

    gosto dos patres e tudo o mais que o crebro humano capaz de imaginar paradominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...

    A opresso seguiu-se s fugas e formao dos quilombos, o mais importante foiinstalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um sculo, teve 20 mil habitantesvivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciparam-

    se a Tiradentes dois sculos tentando formar uma nao dentro do Brasil.Independente em 1822, no grito do portugus Pedro I (4 de Portugal), o Brasil

    foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831);

    Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem

    (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845); a Revoluo Liberal (1842); aRevoluo Praieira e a Proclamao da Repblica em 1889. Pouco antes (13 de maio de1888) havia sido promulgada a Lei urea acabando com a prtica de comprar e vendergente.

    A rebeldia iniciada na contramo pretendia mudar a prtica patronal, surrada,vergonhosa, anti-humana!

    Do velho mundo chegavam as idias revolucionrias de navio, em livrospublicados na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos,

    atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabea de cada imigranteque vinha em busca de liberdade e de terra frtil para semear o anarquismo.

    Nas duas ltimas dcadas do sculo 19 alguns jovens brasileiros foram estudarna Frana e em Portugal e lsouberam das idias libertrias. Outros estudaram noBrasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas

    para suas inquietaes.dessa poca Manuel de Mendona, autor da novela social "Regenerao". O

    mdico e higienista Fbio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado, deKropotkine, leu essa revolucionria obra e tornou-se anarquista. Escreveu e publicouIdelogos e Os Emancipados, duas obras libertrias do incio do sculo 20, sendo desdeento considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questo social noromance.

    Aos dois intelectuais anarquistas juntaram-se Elsio de Carvalho, o estudante

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    de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca,

    Joo Gonalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio deJaneiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904,

    duas iniciativas anarquistas.

    Avelino Foscolo, comeou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no RioGrande do Sul, Ricardo Gon

    alves (tem uma rua com seu nome em S

    o Paulo),

    Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e Joo Penteado, em So Paulo; Orlando CorraLopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e JosOiticica, no Riode Janeiro. De Portugal chegou Neno Vasco, um ilustre advogado, fez escola como

    anarquista em So Paulo (1901-1911), entre outros responsveis pela sementeiraanarquista no territrio brasileiro.

    Em 1890 chegaram da Itlia Giovani Rossi e seus companheiros para fundar aColnia Ceclia no Paran.

    A So Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos GigiDamiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt, valorosos

    militantes italianos e de outros pases que, depois de dar um salto no escuro para seajustar ao clima tropical, s formas de trabalho, aos costumes, alimentao, aindativeram que aprender o idioma portugus. A nica coisa que pouco diferenciava oBrasil da Europa era a questo social, a explorao do homem pelo homem.

    Lcito destacar que o motor de propulso do movimento anarquista no Brasilveio da Itlia, foram os imigrantes deste pas que sacudiram e agitaram com maiorintensidade a questo social, as reivindicaes e comearam uma propagandasistemtica do anarquismo e do anarco-sindicalismo. Em idioma italiano ou emportugus, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaramespetculos teatrais com peas revolucionrias e por isso muitos foram presos,expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos

    tambm tenham melhorado de vida e abandonado as idias.Dessa sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e

    apoiados por portugueses, brasileiros, espanhis e outros, circularam pelo Brasil maisde uma centena de jornais e revistas (entenda-se ttulos) anarquistas e anarco-sindicalistas, sendo quatro dirios; fundaram e dirigiram escolas de ensinoracionalista, formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de

    peas libertrias e anticlericais, fizeram comcios pblicos contra a guerra, o serviomilitar obrigatrio, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre

    16 e 10 horas dirias), bateram-se pela higiene e segurana no trabalho, por umainfinidade de melhorias tornando o trabalho menos penoso para o proletariado doBrasil. Mais de um milhar foram expulsos com a roupa do corpo acusados de

    agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polcia. O primeiroanarquista assassinado foi o italiano Polenice Mattei, em So Paulo, no dia 20 desetembro de 1898.

    Para se entender a trajetria do anarquismo no Brasil, confundido com omovimento sindicalista revolucionrio ou anarco-sindicalista, preciso definir aindaresumidamente o que os distingue e por que se confundem.

    Movimento Anarquista: ao de grupos anarquistas, em conjunto ouseparadamente, composto por clulas orgnicas, comunas, grupos, centros de estudos,

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    unies e federaes.O movimento anarquista no exclusivamente uma organizao de operrios

    para operrios, ao de indivduos que se opem e do combate ao capitalismo,almejando a derrocada do Estado e a reconstruo de uma Nova Ordem Social,descentralizada horizontalmente, autogestionria. No a revolta dos estmagos, arevolu

    o das consci

    ncias! O Movimento Anarquista n

    o se firma na luta de classes

    ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins so de acabarcom as classes, tornar o homem irmo do homem, independente de cor, idade ou sexo.No visualiza a igualdade metafsica ou de tamanho, fora, necessidades, quer aigualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos.

    Anarco-Sindicalismo: corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisoprovocada no 5 Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em

    Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operrios do Brasil ata implantaodos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930.

    O anarco-sindicalismo ao mesmo tempo uma doutrina e um mtodo de luta.

    Como doutrina, parte do trabalhador, clula componente da sociedade quepretende aperfeioar e desenvolver. Como mtodo de luta, pretende a anulao dosistema capitalista pela ao direta, pela greve geral revolucionria e a substituiopor uma sociedade gerida por trabalhadores em autogesto. Sua fora reside noconjunto de organizaes operrias (sindicatos, unies e federaes) voluntrias,livremente associadas.

    A diferena entre sindicalismo e anarquismo consiste nos mtodos e alcance. Omovimento anarquista de indivduos, pretende torn-los unidades ativas,independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogesto, sem as muletaspolticas, religiosas, sem chefes: vai atonde a liberdade e a inteligncia o possa levar.O sindicalismo um movimento de operrios (inclusive de ofcios vrios), voltado maispara a gerncia da produo e do consumo. Seu espao limitado, materialista, sem adimenso e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.

    Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina poltica dos democratas russosque desejavam a aplicao integral do programa mximo de Lenin e Plekhanov. empregado tambm como sinnimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agostode 1903, durante o 2 Congresso do Partido Social Democrata Russo, iniciado em

    Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revoluo Russa de1917, ganhando corpo com a formao do PCB em 1922. Disputou com os anarco-

    sindicalistas a supremacia dos sindicatos, transformando-se desde ento num srioopositor aos movimentos anarquista e sindicalista.Revendo a caminhada histrica do movimento libertrio brasileiro, descobre-se

    que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paran, Santa Catarina, Pernambuco, Rio deJaneiro e So Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna daescola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionrios daComuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo poltico.

    Para o autor a histria do anarquismo em terras brasileiras comeou a serescrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi este bravo

    militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944 em So Paulo, quem teve omrito de fincar o mais visvel e incontestvel marco anarquista no Brasil. Chegou a

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    So Paulo em 1888, comprou uma rea de terra considerada improdutiva e fundou aColnia Anarquista de Guararema, com ajuda de libertrios russos, franceses,espanhis, italianos (a maioria) e nas dcadas de 20 e 30 teve a colaborao debrasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrnomo Giovani Rossi e cerca de200 imigrantes da Itlia, em duas levas, para fundar a Colnia Ceclia no Paran. Estaexperi

    ncia

    crata resistiu de 1890 a 1894

    s investidas do governo da Rep

    blica, que

    acabava de implantar-se no Brasil. Asfixiada por cobranas de impostos indevidos,pelas invases militares, os mais resistentes esperaram a expulso, radicando-se nasimediaes para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeirapreta e vermelha do Anarquismo.

    So desta mesma poca os peridicos cratas: Ghi Schiavi Bianchi, So Paulo,1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, So Paulo,1893, em italiano e portugus; Il Risveglio, So Paulo, 1893, em italiano.

    O Libertrio, em portugus, saiu em 1898, em So Paulo, sob a direo deBenjamim Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direo de Jos

    Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o PrimeiroCongresso Operrio no Rio Grande do Sul com a participao de dois centrosanarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mrtir doanarquismo, em So Paulo, Brasil.

    Em mais de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inmerosrevezes. Chegou a contar com o apoio de quatro dirios, dezenas de semanrios,mensrios, bimensrios e peridicos. Atravessou fases dificlimas sem nenhum porta-voz nem poder reunir seus militantes.

    Nesse mesmo perodo foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria poriniciativa de grupos libertrios que se cotizavam para angariar recursos com os quaiscusteavam edies. As obras clssicas foram lanadas por editoras comerciais. Somadoo esforo dos libertrios s iniciativas dos livreiros, o nmero de ttulos de livrospublicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas at1960.

    Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutfero perodo de grandeefervescncia editorial de obras libertrias. Paralelamente represso, escritores eeditoras afrontaram a ditadura na dcada de maior represso (1970-1980), prosseguiudurante a varrida do entulho autoritrio, entrando na "nova-velha repblica"pesquisando e publicando livros cratas.

    O anarco-sindicalismo e o anarquismo caminharam no Brasil muito

    entrelaados enquanto movimento. Sua distino era notada na imprensa.Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalhoeducativo. Viam no elemento humano a "pea" mais importante a preparar, tanto noterreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se

    autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os crebrosacima dos estmagos.

    Com estes objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades

    populares, grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa,

    sociolgica, de cultura geral, libertria.Nas duas primeiras dcadas do sculo 20 promoveram manifestaes

    estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e

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    de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram e ajudaram os

    trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em

    1917, reverenciavam os Mrtires de Chicago, no dia 1 de maio, e no esqueciam asvtimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo.

    Durante a guerra de 1914-1918, os libertrios brasileiros atuavam em diversasfrentes, em n

    vel de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo de vida, a

    escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam a burguesia

    aambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantiainclusive a carnificina humana nos campos de batalha.

    Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertrio quefazia comcios nas portas das fbricas, autorizou a venda de gneros diretamente doprodutor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado)

    sem taxao de impostos.Em nvel internacional realizaram o Congresso Pr Paz, no Rio de Janeiro, e

    enviaram trs delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em

    1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.O que aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro

    aparece no seguinte texto:

    "Realizou-se na quarta-feira tarde, no largo de S. Francisco, um comcioconvocado pela Comisso Popular de Agitao Contra a Guerra formado derepresentantes de vrias agremiaes operrias daquela cidade.

    Abriu o meeting s 5 horas e pouco Joo Gonalves da Silva, que explicou os finsdo mesmo, que era protestar principalmente contra a proibio feita pelo governoespanhol reunio do Congresso Internacional PrPaz de Ferrol.

    Seguiram-se com a palavra Jos Elias da Silva e Dr. Orlando Corra Lopes,atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado o nico a sofrer coma conflagrao, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforar-se por lhe pr umparadeiro.

    Falou depois a operria Juana Buela, companheira de Joo Castanheira, ooperrio vtima da sanha da polcia de Espanha. Profundamente emocionada JuanaBuela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme os seus ideais

    revolucionrios, que no esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheirode vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam."

    Por fim, Leal Jnior, usou da palavra encerrando o comcio com a seguinte

    moo de protesto:

    Considerando que o direito de reunio e livre manifestaodo pensamento um direito primordial conquistado, adquirido ereconhecido em todo o mundo civilizado e;

    Considerando que o Congresso Internacional Pr Pazconvocado pelos elementos proletrios e revolucionrios de Ferrol,Espanha, e tendo por fim combinar uma ao conjunta dosproletrios da Europa e da Amrica no sentido de uma afirmaopositiva e concreta contrria guerra e favorvel ao

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    estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva

    desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitrio ede verdadeira defesa da civilizao;

    A massa popular reunida em comcio organizado pelaComisso Popular de Agitao Contra a Guerra e realizado no

    Largo de S. Francisco de Paula, s 5 horas da tarde de hoje, deixafirmadas nesta moo as expresses de seu indignado protestocontra o ato do governo espanhol, proibindo aquele Congresso,

    perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros

    pases e assassinando, pelo instrumento da sua poltica, um dosdelegados enviados por associaes proletrias e libertrias doBrasil, o operrio Joo Castanheira, como consta dos telegramaspublicados pela imprensa desta cidade.

    Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915

    O comcio do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente daFederao Operria, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestaes doslibertrios do Paran, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de So Paulo.Os jornais operrios e anarquistas tambm atacaram de rijo os beligerantes, inclusivedistribuindo postais com alegorias de repulsa guerra, produzindo grande impacto aolongo dos quatro anos em todo o Brasil.

    So Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista dajornada de oito horas dirias; em Santos as greves para conseguir as oito horas sterminaram em 1921.

    O proletariado de tendncia libertria procurava abrir caminho na selvacapitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nosestados de So Paulo, Rio Grande do Sul e Paran, por solidariedade.

    Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de

    trs operrios assassinados pela polcia carioca e cerca de meia centena de presos edeportados. Em 1919, Epitcio Pessoa aproveitou para expulsar do pas trs dezenasde anarquistas. Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as

    expulses e deportaes reduzia a pujana do movimento libertrio, ainda em 1919,formou-se o Partido Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus

    organizadores ao saber que o governo sovitico prendia, torturava, matava e expulsava

    anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."

    Uma onda nacionalista comeava a formar-se no Brasil em oposio s"esquerdas". Em 1920 so expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses,pescadores de Matosinhos e da Pvoa de Varzim, vtimas desse patriotismo brasileiro.Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e jtinham filhos nascidos noRio de Janeiro. O nico pecado desses trabalhadores do mar era no quereremnaturalizar-se brasileiros.

    Uma lei vesga proibia-os de exercer suas profisses, acabando por servir aointegralista capito Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval

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    do presidente Epitcio Pessoa.Neste mesmo ano foram expulsos tambm anarquistas e anarco-sindicalistas

    italianos, portugueses, espanhis, precipitando protestos de operrios e intelectuaisem todo o pas e na Europa.

    No sul, alemes e russos anarquistas marcavam suas presenas em oposio aosseus patr

    cios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xen

    fobos exploradores.

    Greve na indstria txtil de Santa Catarina o pretexto para expulsar doisanarquistas nascidos na Alemanha.

    Em Porto Alegre o anarquista alemo Frederico Kniestedt abre espao com osjornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os trs primeiros publicadosem seu idioma e o ltimo em portugus.

    Ainda no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getlio Vargas), fixaramresidncia e formaram uma comunidade vrias famlias de russos da Ucrnia. Suaatuao anarquista -nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco quevisitamos jmuito doente.

    No ano de 1920 os emigrantes de Getlio Vargas - ex-Erechim - j tinham condies emocionais e de locomoo ecomearam a formar grupos coesos, a reunir-se uma vez por ms.Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa rea de40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e

    outros lugares.

    So dessapoca:Unio dos Trabalhadores Rurais Russos, de Getlio Vargas

    (antigo Erechim). Seu presidente chamava-se Srgio Iltchenco, osecretrio Paulo Uchacoff e o tesoureiro Simo Poluboiarinoff;Unio dos Trabalhadores Russos, de Porto Alegre. Esta

    tinha como presidente Niquista Jacobchenco;

    Unio dos Trabalhadores Rurais Russos de Guaran,Campinas e Santo ngelo. Componentes: Joo Tatarchenco,Gregrio Tatarchenco e outros.

    Unio dos Trabalhadores Russos de Porto Lucena.Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul,

    distribuidor do jornal Golos Truda, publicado na Amrica doNorte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava

    da Argentina, chamava-se Demtrio Cirotenco. Durante mais deduas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligao, oaglutinador das Unies de Trabalhadores em Erechim e Erebangoprincipalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um

    vazio entre os camponeses russos, que s em 1925 perderam aesperana de ver implantada em seu pas uma sociedade de fundoe forma libertria.

    O mais eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista,

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    teatrlogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkinee chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrnia e marcou a sua presenano Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, So Paulo e Curitiba-Paran, onde faleceu.

    Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canade dosEstados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada,

    Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.

    Na segunda e na terceira dcadas do sculo 20 o movimento anarco-sindicalistae anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Alm, dos jornais libertrios, algunsmilitantes dispunham de espaos dirios na imprensa comercial. Um deles nascido emPortugal, JosMarques da Costa, tinha uma coluna diria no jornal A Ptria, do Riode Janeiro, e publicou a seguinte nota:

    Camilo Berneri na reunio do grupo Os Emancipados.Sexta-feira prxima, na sua sede rua Buenos Aires, 265, s 20horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em

    geral tero oportunidade de ouvir uma brilhante Conferncia deCamilo Berneri, sobre Giordano Bruno na Philosofia e na

    Renascena-Vida e Pensamento do grande filsofo da liberdade.Entrada franca, tribuna livre

    Os Emancipados

    Da Rssia e da Itlia chegavam tambm ao Brasil e fizeram grandes estragos nomovimento libertrio duas correntes polticas na poca batizadas de Bolchevista e deIntegralista.

    A primeira orientada pela Terceira Internacional e a Internacional SindicalVermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do

    Partido Comunista Brasileiro, criado em maro de 1922 por 11 egressos do movimentocrata e um socialista. Comearam disputando a direo dos sindicatos e acabarampor ajudar os governos de Artur Bernardes, Washington Luiz e Getlio Vargas areduzir sensivelmente o movimento libertrio e os sindicatos livres. Em 1927assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damio da Silva e feriram maisde 10 militantes no Sindicato dos Grficos, rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio deJaneiro. Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em

    Calados, rua JosMaurcio, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentrao

    do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus sindicatosverticais, controlados pelo Ministrio do Trabalho.

    A segunda corrente poltica veio dos pores do Vaticano com o nome de fascismo.No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo. O projeto foi elaborado por D.

    Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como "filosofia": "Poder tudo,

    absolutamente tudo! O nico amor o poder; o nico fim o poder; extremo sonho opoder!"

    No Brasil, o chefe, Plnio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dosdesordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o

    candidato a ditador Plnio lutando contra o ditador Getlio.

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    Para Plnio, os decretos n 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 demaro de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirems fileiras "sindicais do Ministrio do Trabalho, tornando-os eleitores comrepresentantes profissionais na Assemblia Nacional Constituinte, num total de 40membros, sendo 18 representantes dos empregados, 17 dos empregadores, dois

    funcionrios p

    blicos e tr

    s profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini

    totalmente.

    Vargas contava, para convencer os recalcitrantes, com a polcia poltica deBatista Luzardo, Felinto Mller, Emlio Romano, Serafim Braga e outros profissionaisdo argumento do cassetete.

    No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava: "Em um sxadrez da polcia acham-se presos 50 proletrios, sem nota de culpa. Muitos delessofreram castigos corporais por terem protestado com a greve de fome contra a

    alimentao que nem para os ces prestava."Em Porto Alegre, sob a orientao do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion,

    de 1 de maio, fala das pretenses nazistas sobre o Brasil em idioma alemo. E no dia19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federao Operria de So Paulo,arromba as portas das secretarias do Sindicato dos M. de Po, Liga Operria daConstruo Civil, Trabalhadores em Moinhos e Armazns, Unio dos Canteiros eUnio dos Empregados em Cafs, destri seus acervos e leva os detidos para a Centralde Polcia, onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polcia e odelegado da "ordem poltica e social" determinaram que fossem em liberdade, que aordem de priso no partiu daquele departamento policial.

    Em 1933, os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a FederaoOperria, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontido parano serem surpreendidos pelas marchas integralistas.

    Em alguns bairros de So Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavamdesesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa

    verde oliva e iniciar a matana, o incndio e a destruio, fazendo reviver, em plenosculo 20, a invaso dos brbaros inimigos da cincia e da civilizao. O alerta vinhado ComitAntifascista Libertrio e tinha a data de agosto de 1933.

    Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos

    anos de 1933-1934: "Plnio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso (vice-comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro Couto; 130

    jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto fascista dirigido aosintelectuais do Brasil". Ei-los: D. Joo Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantesda revoluo getulista de 1930); Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas,Osvaldo Chateaubriand (diretor do Dirio da Noite); Tristo de Atayde (escritor ejornalista); Cludio Ganns; Lourival Fontes; Hlio Viana; Amrico Lacombe; CmaraCascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ao Integralista Don Nicolau de FlueGut, os cnegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Cmara, etc.; os professores daFaculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damio Neto, DomingosCantola, ngelo Simes de Arruda, Loureiro Jnior, Rolando Corbusier, ManuelFerraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo

    Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa

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    Shreiner, Antonio Arruda, Sebastio Martins de Macedo, Ziegler de Paula Bueno,Alcebades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno,Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonalves de Oliveira, AntonioDourado, Alberto Zirondi Neto, Nicolino Amato, Jos de Barros Bernardes, CarlosSchmidt de Barros Jnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lcio Correa, ArualAntonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho,

    talo Z

    ccaro,

    Vitrio Nascimento, Cndido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales,Francisco Gottardi, Joo Jos Pimenta de Castro, Joo Edson de Melo, Jos deCamargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Jnio de Carvalho, Jos Cndido SilveiraLienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, JosVila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima.

    Com objetivos bem definidos e sem tutores polticos, formava-se no Rio deJaneiro a Aliana Estudantil Pr-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto defundao, A Lanterna, semanrio anticlerical e libertrio, So Paulo, 9 de novembrode 1933, resume:

    Companheiros. O clero romano que sempre tem vivido

    aliado aos governantes, embora o artigo 72 da Constituio de1891 e seus pargrafos estabeleam em nosso territrio a liberdadede pensamento, neste instante prepara novos golpes contra o

    direito de pensar, agir e de orar.

    O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas:

    O Integralismo pretende, como o fascismo, escravizar e

    acorrentar o povo. Para no termos que chorar depois comoenergmenos, defendamos agora a nossa liberdade como homens.

    Jsoou o clarim da redeno humana! Unamo-nos contratodas as guerras, contra todas as tiranias, contra todos os

    paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade,

    a liberdade, residem em ns mesmos, na fora coesa que h-detriunfar.

    Em homenagem aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia,

    candidato a "Duce", lana as bases do Fscio Paulista com os Camisas Brancas.Em Niteri (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia

    Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou s bengaladas equebrou um brao jovem operria Nair Coelho, 16 anos, quando esta discursavacontra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte;

    quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de lnguas Casale. O povo, queassistia ao discurso do arruaceiro integralista, resolveu interromp-lo, expulsar ovendilho do palco.

    Em So Paulo, depois da derrota que tiveram no Salo Celso Garcia, o "bando dePlnio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstrao de fora

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    destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa

    Voz, de 1 de dezembro de 1933): "Marchariam no centro de So Paulo 18 Centrias(companhias) dispostas a exterminar canibalescamente os anarquistas e outros

    esquerdistas que se opusessem sua passagem."O trabalhador anarco-sindicalista resistia s exigncias do Ministrio do

    Trabalho. Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora, os

    patres, a polcia, os integralistas invasores de sindicatos operrios, que segundosubstancioso manifesto do Sindicato dos O. em Fbricas de Vidros de So Paulo,fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assemblia Constituinte a pena demorte para o Brasil!"

    Em maro de 1934 a Federao Operria de So Paulo, com sede na ruaQuintino Bocaiva, 80, lanava trs manifestos de grande significado. Um contra a LeiMonstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte, enfocando as

    "organizaes operrias, a legislao trabalhista, a lei de sindicalizao, a cadernetaprofissional, a nova lei de frias, a nova Constituio e comunica as conferncias de

    Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermnio Marcos".Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadmico Gustavo Barroso, chegavam

    Praa da S "500 guardas verdes de segurana", tropas de choque, treinados paraimobilizar opositores. A polcia tambm montou metralhadoras em pontos estratgicospara coibir possveis ataques aos integralistas, ainda "bem-vistos" pelo governo. Almdo grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1, 2

    e 6 Batalhes de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria nolocal.

    A parade de integralistas contava com a presena de 10 mil soldados do Sigmadentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes

    com o smbolo do integralismo.Nas imediaes da Shaviam comeado a formar-se grandes agrupamentos de

    curiosos de todas as ideologias. E mal a coluna alcanou a escadaria da Catedralouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida

    tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil Montada, em frente ruaSenador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os

    tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multido aguardandoo desfile. O certo que comeou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertrios paraatacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal. Gente fugindo e

    gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade aocomandante integralista, Dr. Plnio Salgado, Fuhrer brasileiro, no aconteceu.

    Correndo nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaborao dos"comunistas" do PCB e dos dirigentes do Partido Catlico Brasileiro do CardealSebastio Leme, assessorados por "50 juristas", Getlio Vargas no teve maioresdificuldades em implantar o Estado Novo, que durou at1945.

    Em sntese, os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:Primeiro Congresso Operrio Brasileiro - Centro Galego, rua da Constituio,

    30-32, Rio de Janeiro, de 15 a 20 de abril de 1906. Ao todo 12 sesses. Discutiram 23temas previamente acertados e um acessrio. Compareceram delegados de 23entidades de cinco estados do Brasil. Esteve presente o engenheiro italiano fundador

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    da Colnia Ceclia, Giovani Rossi.Segundo Congresso Operrio Brasileiro - Centro Cosmopolita, rua do Senado,

    215, Rio de Janeiro, de 8 a 13 de setembro de 1913. Ao todo os trabalhadores

    anarquistas e anarco-sindicalistas realizaram 12 sesses, debateram 24 temas com apresena de 117 delegados de 8 estados, sendo dois federaes estaduais, cincofedera

    es locais, 52 sindicatos e quatro jornais libert

    rios.

    Terceiro Congresso Operrio Brasileiro - Sede da Unio dos Trabalhadores emFbricas de Tecidos, rua do Acre, 19, Rio de Janeiro, de 23 a 30 de abril de 1920.Efetuaram 23 sesses com a presena de 39 organismos de 11 estados do Brasil.

    Primeiro Congresso Estadual de So Paulo - Teve lugar no Salo Excelsior, ruaFlorncio de Abreu, 29. Ao todo foram discutidos trs temas principais, de 6 a 8 dedezembro de 1906. Objetivo: Pr em prtica as resolues do 1 Congresso Nacional doRio de Janeiro.

    Primeira Conferncia Estadual de So Paulo - Realizada em 1907 com opropsito de elaborar e aprovar os temas para o 2 Congresso Estadual. Ao todo

    discutiram 22 temas.Segundo Congresso Estadual de So Paulo - Realizado nos dias 7 e 8 de abril de

    1908. Dele participaram 22 organizaes operrias comprometidas com o anarco-sindicalismo.

    Primeiro Congresso Estadual do Rio Grande do Sul - Teve lugar nos dias 1 e 2

    de janeiro de 1898 com a presena de delegados de 10 associaes, um jornal e umgrupo anarquista. Foi o primeiro encontro de trabalhadores com idias sociais noBrasil.

    Segundo Congresso Operrio Estadual do Rio Grande do Sul - Na ruaComendador Azevedo, 30, dias 21 a 25 de maro de 1920. Estiveram presentesdelegados de 30 associaes todas comprometidas com o sindicalismo revolucionrio.

    Terceiro Congresso Operrio do Rio Grande do Sul - De 27 de setembro a 2 deoutubro de 1925. No total foram 12 sesses com a presena de delegados de 23entidades operrias e do Comit Pr-Presos Sociais e de dois jornais. Foi aprovadauma Declarao de Princpios da AIT e criado um Pacto de SolidariedadeInternacional Anarquista.

    Quarto Congresso Operrio do Rio Grande do Sul - clandestino em data que noficou registrada. Realizaram trs sesses durante dois dias com a presena de 16entidades operrias, dois jornais, sies grupos anarquistas, vrios militantes de So

    Paulo refugiados naquele estado do sul do Brasil (Florentino de Carvalho, DomingosPassos e outros) e delegados do Uruguai, Paraguai e Argentina.

    Primeiro Congresso da Federao de Trabalho do Estado de Minas Gerais -Realizou-se em Belo Horizonte em junho de 1912. Ao todo foram debatidos e aprovados

    sete temas.

    Congresso Operrio do Paran - Realizou-se no ano de 1907. Contou com apresena da Federao Operria, fundada por italianos remanescentes da ColniaCeclia, com o Grupo Filo-Dramtico, 12 associaes operrias e o delegado do jornal ODespertar, fundado e dirigido pelo anarquista italiano, expulso do Brasil em 1919, Gigi

    Damiani.

    Outros Congressos - Os trabalhadores anarco-sindicalistas brasileiros

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    participaram ou marcaram presena no Congresso dos Operrios Chapeleiros Sul-Americano, realizado na Argentina e Uruguai, em julho de 1920. As pesquisas deixam

    perceber que os anarquistas estiveram na linha de frente de todos os congressos

    anarco-sindicalistas e ainda realizaram os seus.

    Conferncia Libertria de So Paulo - Rua JosBonifcio, 39-2 andar. Ao todorealizaram sess

    es nos domingos 14, 21 e 28 de junho, 5, 12 e 26 de julho de 1914. O

    objetivo principal era preparar e indicar dois delegados para representar o Brasil no

    congresso anarquista de Londres que no chegou a acontecer por causa da guerra.Congresso Anarquista Sul-Americano - Realizou-se no Rio de Janeiro de 18 a 20

    de outubro de 1915 na sede da Federao Operria, praa Tiradentes, 71, sobrado.Estiveram presentes delegados do Brasil, da Argentina e do Uruguai.

    Congresso Internacional da Paz - Realizado de 14 a 16 de outubro de 1915. Seu

    ponto de debates foi a sede da Federao Operria, na praa Tiradentes, 71, Rio deJaneiro, com a presena de delegados da Federacin Obrera Regional Argentina,delegados do Chile e do Uruguai.

    Congresso Anarquista do Brasil - Realizado na Nossa Chcara, no bairro deItaim, So Paulo, de 17 a 19 de dezembro de 1948. Este marca o ressurgimento domovimento anarquista no Brasil aps a derrubada da ditadura de Getlio Vargas.Contou com a presena de anarquistas de vrios pontos do Brasil e diversos militantesitalianos, espanhis e portugueses residentes no Brasil ou de passagem.

    Encontro Anarquista na Urca - De mbito nacional. Teve lugar nos dias 9 a 11de fevereiro de 1953 na rua Osrio de Almeida, 67, no Rio de Janeiro, com a presenade mais de trs dezenas de anarquistas. Foi um encontro muito proveitoso.

    Congresso Anarquista do Brasil - Realizado de 26 a 29 de maro de 1959 emNossa Chcara, no Itaim, So Paulo, com grande presena de militantes de todo o pas,exilados espanhis e alguns italianos. Foi aprovada a reativao dos Centros deCultura Social e fundada a Editora Mundo Livre, do Rio de Janeiro. Ao todo foram

    debatidos e aprovados 10 temas.

    Encontro dos Libertrios Espanhis Exilados - Foi na sede do Centro de CulturaSocial, na rua Rubino de Oliveira, 85, So Paulo, nos dias 7 e 8 de outubro de 1961.Estiveram presentes anarquistas brasileiros e exilados da CNT e da FFLL.

    Encontro Anarquista - So Paulo de 20 a 22 de abril de 1962. Reuniram-se emNossa Chcara 100 militantes anarquistas de todo o Brasil, incluindo algunscompanheiros estrangeiros. Foram realizadas cinco sesses muito proveitosas.

    Dcimo Encontro Anarquista - Realizou-se nos dias 15 a 17 de novembro de1963. Reuniram-se para tratar do rumo do movimento anarquista no Brasil mais de100 militantes, Os assuntos foram divididos em seis temas principais.

    Maio de 1964 - Em Nosso Stio. Encontro clandestino de avaliao dosanarquistas do Rio de Janeiro e de So Paulo para acertar os rumos diante daditadura militar implantada em 1 de abril do mesmo ano. Saram desse encontroalgumas resolues para resguardar o acervo dos anarquistas.

    Encontro em Nosso Stio - Realizado em 1968, em Mogi das Cruzes, So Paulo.Clandestino.

    Encontro dos Grupos PrCOB - Realizado em maio de 1986 na rua Rubino deOliveira, 85.

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    O movimento libertrio do Brasil participou tambm do Congresso de Ferrol,Espanha em 1915, com trs delegados. Em 1928 com um delegado indireto e depois de1945 enviou como delegado Frana Joseph Tibogue, e mensagens de apoio aosdemais congressos.

    A trajetria do anarquismo no Brasil teve a participao de uma confederao,v

    rias federa

    es, mais de 100 grupos especificamente libert

    rios, seis editoras, trs

    livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares,

    uma intensa propaganda atravs do teatro crata, possui uma propriedade compradapelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prdio prprio.Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e

    sensibiliza vrias editoras comerciais para public-las.No Rio de Janeiro, com o falecimento de JosOiticica em 1957, trs militantes

    libertrios tiveram a idia de formar o Centro de Estudos Professor JosOiticica, nasala onde o mestre dava aulas, Av. Almirante Barroso, 6-sala 1.101. Nos diasseguintes os trs realizaram uma reunio na Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e

    resolveram procurar companheiros afastados do movimento por razes diversas econvid-los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalizao em 22 dejulho de 1960. (O centro comeou suas atividades em 1958)

    Em 1969, um "punhado" de militares da aeronutica rebentaram a porta aoscoices, carregaram parte do acervo cultural, mquina de escrever, mimigrafo e outrosobjetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram

    livros, etc.", prenderam-nos e formaram um processo contra 16, impernunciando um.

    Torturaram alguns detidos e finalmente levaram-nos a um julgamento que durou at1972.

    O Centro de Estudos do Professor Jos Oiticica, durante sua existncia (12anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso

    sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da Amrica e da Europa,conduziu vrias campanhas de protesto e apoio, realizou mais de uma centena decursos e conferncias, e parte de suas atividades foram anunciadas pela imprensa.Acabou por fora da ditadura militar.

    No se pode ignorar tambm os dirios: A Plebe, So Paulo, 1919; A Hora Social,Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, So Paulo, 1921-1923; ALanterna, So Paulo, 1901-1934. Os semanrios: O Amigo do Povo, So Paulo, 1903; ATerra Livre, So Paulo-Rio de Janeiro, 1907-1910; La Bataglia, So Paulo, 1904-1913;

    Remodelaes, Rio de Janeiro, 1945-1947; Ao Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. Asrevistas: Remodelaes, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascena, So Paulo, 1923; AVida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre, 1921-1924; e umas

    centenas de peridicos.Um grupo de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI

    (Associao Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista JosOiticica, formado pornovos militantes libertrios, realizaram, no Instituto de Filosofia e Cincias Sociais daUniversidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um

    curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e

    Movimentos Alternativos; Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado

    Hoje. Teve o apoio do Centro de Cultura Social de So Paulo, a Sub-Reitoria 5, a

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    Comisso de Organizao Estudantil, Comisso Cultural do IFCS, e mesmo sendopago, a freqncia foi boa, o salo ficou literalmente cheio.

    No Rio Grande do Sul, grupos de libertrios e simpatizantes comemoram oCentenrio dos Mrtires de Chicago e meio sculo da Revoluo Espanhola, os 67 anosdo fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.

    Na capital do Brasil os anarquistas realizaram um Simpsio Libert

    rio e

    fundaram a Editora Novos Tempos, que jproduziu vrias obras de real valor literrioe cultura anarquista. Em So Paulo as Universidades de Campinas, So Carlos e daCapital formaram valiosas bibliotecas de Histria Social, predominando publicaesanarquistas e anarco-sindicalistas, e periodicamente promovem cursos sobre

    anarquismo, sempre com a participao de membros do Centro de Cultura Social quetm uma longa experincia militante e mantm permanentemente em sua sede, narua Rubino de Oliveira, 85-2, no Brs, crculos de conferncias libertrias. E apoiadopelos ncleos Pr COB (Confederao Operria Brasileira) e pela AIT (AssociaoInternacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de

    So Paulo continua promovendo sesses comemorativas em defesa da natureza, contraa Bomba Atmica (no aniversrio da exploso de Hiroshima), pela passagem dos 70anos da Greve Insurrecional Libertria de 1917, na cidade de So Paulo, e debatendo aautogesto na luta social e as estratgias da luta sindical.

    Em seus ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriao doCorpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questesque se Levantam"; "Recuperando a Memria" e "Cavernas do Estado de So Paulo". Enos cursos de Extenso Universitria tratam "O que o Anarquismo"; "As Origens: DaRevoluo Francesa a Proudhon"; "A Primeira Internacional: Marx, Bakunin e aComuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no

    Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogesto". Estas iniciativas contaram como apoio da Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo. Em sua produtiva trajetria, oCentro de Cultura Social de So Paulo realizou recentemente um Ciclo de EducaoLibertria enfeixando os seguintes temas: "O Movimento Anarquista e o EnsinoRacionalista em So Paulo, 1912-1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "EducaoPopular: da Educao Libertria Educao Libertadora"; "Organizao e Poder:Estado, Escola, Empresa"; "A Educao pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "LutasAutnomas e Autogesto Pedaggica"; e "Uma Terapia Anarquista".

    Este movimento ideolgico vem sendo divulgado pela revista Autogesto, pelo

    prprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos, cartazes e pelaimprensa comercial que noticia alguns cursos.Hoje, o anarquismo no assusta mais ningum no Brasil. Palavra temida,

    ridicularizada, esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de

    doutoramento, peas de teatro, novelas exibidas na televiso e filmes de curta e longametragem.

    Os anarquistas do Brasil salvo os que se dizem e no se encontraramideologicamente continuam com Kropotkine: "Quem acha que uma instituio deformao histrica pode servir para devolver privilgios que ela mesmo desenvolveumostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida de uma

    sociedade, uma formao histrica. Deixa de aprender a lei bsica de todo o

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    desenvolvimento orgnico, isto , que novas funes requerem novos rgos e que estesse devem criar por si mesmos."

    Colaboraram para tornar possvel a trajetria anarquista no Brasil: Fbio Luz,Joo Gonalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonalves, Benjamim Mota, JosMartins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro

    Augusto Mota, Moacir Caminha, Jos

    Ramn, Domingos Passos, Jo

    o Perdig

    o

    Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando

    Corra Lopes, Manuel Marques Bastos, Jos Puicegur, Diamantino Augusto, JosOiticica, JosRomero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, JooPenteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli,

    Jos Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti, Joo Perez, AntoninoDominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda

    de Moura, Rafael Fernandes, Angelina Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco,

    Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Ceclio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, ManuelMoscoso, Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atlio Peagna,

    Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira daSilva, Cmara Pires, Ramiro de Nbrega, Maria Valverde, JosSimes, Manuel Lopes,Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior,

    Lrio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operrios a quem sehomenageia, mesmo ausentes...

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