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Traduções 4Love

Sinopse:

Qual a maneira mais provável de encontrar o amor? De babá. Ou, ao menos que

seja Amy Turner. Amy está a ponto de se formar no colégio quando encontra um

anúncio para cuidar de crianças durante o verão. Não tinha ideia de onde estava

metendo-se. Seu novo trabalho era ―cuidar‖ de Tristan Edmund, um garoto sexy e rico

de sua idade... e que recentemente ficou cego. Tristan não está interessado em aceitar

sua ajuda. Isso é o que ele pensa.

Desde que perdeu seu pai e ficou cego em um concurso de salto a cavalos,

Tristan passa os dias na escuridão, negando-se a aceitar sua deficiência. Para seu

desgosto, Amy entra em sua vida e o arrasta para a luz. Mas quando os dois começam

a sentir algo um pelo outro, a linda ex-namorada de Tristan aparece. Será muita

tentação, ou Tristan será capaz de escolher a única garota que realmente o vê?

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Traduções 4Love

Prólogo

Seus olhos, refletindo o azul do céu do Arizona, concentraram-se na continuação.

Seus músculos retesaram-se ao sentir os poderosos movimentos do cavalo negro

debaixo dele. Sentou-se reto na sela, com seu suave paletó escuto, respirando

superficialmente com antecipação. Essa competição era mais difícil do que esperava e

precisava ganhar, o desejo bombardeava brutalmente pelas suas veias. Ele sabia que

seu tempo era bom e tinha transposto oito barreiras sem erros. Só tinha duas a

esquerda.

— Alto sobre o centro, alto sobre o centro. — sussurrou e começou a inclinar-se

para frente. Viu como a oxidada barreira quadrada rapidamente se aproximava.

Aconteceu em um instante.

Muito rápido, sentiu o som da contração. Logo depois, as orelhas do cavalo foram

inclinadas para frente; quebrou suas costas. Captou um movimento com o canto dos

olhos, a areia mudava. Não, era só um galho. Não, era só uma serpente bronzeada! No

momento que a realidade bateu, o cavalo já tinha plantado seus cascos e se

assustado. Ele falou rapidamente. — Tranquilo, tranquilo. — Mas o cavalo encheu-se de

pânico quando a serpente lançou-se mais perto de suas pernas. O cavalo irritou-se e se

voltou para trás antes que o jóquei pudesse raciocinar.

O tempo ficou mais lento. Viu o céu brilhante arqueando-se por cima dele e sentiu

a rajada de vento quente em sua pele. Ouviu os gritos distantes da multidão e o som de

um corpo lançando-se no chão... Então seu mundo desvaneceu-se ao preto.

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Traduções 4Love

Capítulo Um

— Dei-me por vencida e comecei a buscar um trabalho. Agora mesmo estou a

caminho de uma entrevista. Não me olhe desse jeito, sou uma garota, então posso

realizar várias coisas – Parei de escrever e olhei o caminho, assegurando-me que

estivesse tão deserto quanto antes. Suficientemente segura, não tinha nada mais que

uma comprida linha de pavimento pela frente. Olhei para baixo para o pedaço de

papel que eu tinha pressionado contra o meio de meu volante. — De qualquer forma, o

aviso disse que eles precisam de uma babá para um menino, que inicie o mais rápido

possível. Quando liguei, a mãe soava bastante desesperada. Ela disse que eu poderia

trabalhar nos finais de semana por enquanto e fazer tempo integral quando for verão.

Quando passei por cima de um buraco na estrada, o rádio de meu velho carro

deu um assobio de protesto e caiu na estática. Franzi a testa, sustentando a caneta

entre os meus dentes, balançando o comando. A estática ficou mais forte e terminou

por fim, dando passo para a impressionante potência de The Who. Clássico. Meu

pequeno Toyota Camry de 891 seguiu seu caminho. Lancei minha carta sobre o assento

do passageiro e cantei.

O céu sobre minha cabeça era de um azul brilhante e sem nuvens. Manualmente

abaixei meus vidros para deixar que a brisa entrasse. O vento era surpreendentemente

gentil para o mês de maio em Grayfield, Illinois; estava acostumada a dirigir em um

furacão, que me fazia lutar com o volante.

Verifiquei a nota escrita nas costas de minha mão, confirmando que teria que

encontrar a ―Estrada Edmund, nº 100‖. Mas, isso era tudo? Não tinha visto casas nessa

rua, só árvores. Na realidade, não tinha visto nem um só sinal de... Wow. Apaguei o

motor do carro, de boca aberta. A rua levava direto a uma impressionante porta de

ferro. Tratava-se de uma rua privada, o que explicava a falta de caixa de correio.

Parei na entrada da porta e baixei a música, no caso dos cães de guarda

odiarem o Roger Daltrey2, não que eu tenha visto algum cão de guarda, mas se havia

uma ocasião que eu esperava ver algum, era agora.

1 Toyota Camry de 89: http://t.co/L1X7R2x

2 Roger Daltrey: Conhecido como fundador e vocalista da banda britânica The Who.

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Traduções 4Love

Vacilante, olhei pela janela e apertei um botão de chamada no interfone. Depois

de um momento, o alto-falante no portão rangeu e emitiu uma voz feminina. – Olá,

quem é?

Equilibrando-me precariamente para fora de meu carro para colocar minha boca

perto da caixa, gritei: — Olá! Sou Amy Turner! Estou aqui para uma entrevista!

O portão deu um zumbido e logo se abriu. Apressei meu carro para frente no

longo caminho de entrada. O paralelepípedo fez com que meu pequeno automóvel

balançasse de um lado para o outro, mas apenas notei porque a vista ante mim era

assombrosa. A casa era enorme, extremamente enorme, era facilmente dez vezes

maior que a cabana que meus pais e eu chamamos de casa. Feita de tijolo de cor

café-claro e vidro era o resumo de elegância moderna com ângulos agudos e tetos

abobadados.

Parei na entrada, que consistia em uma curta escada que conduzia a uma porta

de vidro gigante, e fiz uma careta quando meu carro parou em seco. Velhos freios

estúpidos. Lambendo os meus lábios secos, deixei o carro para trás, subindo as escadas

de dois em dois degraus. Antes que tivesse a oportunidade de tocar a campainha, a

porta abriu-se. Decepcionei-me ao ver que a pessoa parada na porta principal não era

o mordomo de terno e gravata borboleta, mas sim uma mulher de meia idade em

jeans. Sorri, entretanto, e estendi minha mão. — Olá! Sou Amy Turner.

A mulher apertou minha mão. — Olá, Amy. Sou a Sra. Edmund. Acho que

conversamos pelo telefone?

— Sim, era eu.

A Sra. Edmund retrocedeu para que eu pudesse entrar. Eu a segui por um amplo

corredor de entrada e uma sala do tamanho de uma das salas de aula de meu

colégio. Senti-me culpada com cada passo que os meus sujos Chucks3 vermelhos

davam no tapete de cor branca pura. Ofereceu-me um lugar em uma poltrona rígida,

com padrões de flores. Enquanto me sentava, ela tomou assento frente a mim e

encolheu suas mãos em uma bola de nervos em seu colo. — Então, está no ensino

médio? — Começou.

— Sim, sou estudante do último ano.

— E você gosta?

— Bom, é a escola. — Ri, mas notando o aspecto de preocupação em seu rosto,

rapidamente acrescentei. –— Mas vou formar-me rapidamente. Vou para a

universidade.

3 Chucks: Chucks Taylor All-Stars, ou Converse All-Stars, conhecido como o famoso tênis All-Star.

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Traduções 4Love

A Sra. Edmund ofereceu um tentativo sorriso. — Oh, onde?

— Uh...

A menos de duas semanas da formatura, deveria saber a resposta a essa

pergunta. A verdade é que fui aceita em duas universidades: a Universidade de Illinois

(grande, pública e barata) e a Universidade Evanston (pequena, particular e

incredulamente cara). A primeira, meus pais sabiam e estavam encantados. A

segunda, bom... esse era meu segredo. Sabia que meus pais não podiam bancar isso,

mas eu tirei minha poupança para reservar meu lugar para o caso de, se de algum

modo, puder ir. Seu programa de jornalismo era de morrer.

Eu respondi de má vontade. – Universidade de Illinois.

— Então, você é uma pessoa séria? — Perguntou ela, vendo suspeitosamente

minha camisa. Talvez Led Zeppelin não fosse a melhor opção para uma entrevista, mas

eu não sabia que seria uma babá em um lugar como esse.

Sentei-me com as costas retas e sorri deslocada. — Sim.

— Bom. — A Sra. Edmund parecia ter chegado à conclusão que eu não era uma

drogada psicopata e assentiu aprovando. Olhou-me fixamente no rosto. — Como se

sente ajudando alguém que é cego?

Meus olhos abriram-se alarmados e me engasguei. — O quê?

— Oh querida. — Ela dirigiu seus olhos para o tapete. – Deve ter lido a versão de

sexta-feira do aviso. Houve um erro... O jornal esqueceu a palavra ―cego‖.

Bom. Não é grande coisa.

— Amy, tem algum problema? — Perguntou a Sra. Edmund.

Pisquei, dando-me conta que tinha me esquecido de dizer alguma coisa. Tentei

soar convincente enquanto respondia. — Oh, claro que não. Não tem problema. Há

quanto tempo seu filho está cego?

A mulher novamente olhou o tapete. Ela explicou. — Só dois meses. Foi um

acidente num salto a cavalo... Tristan não falará com nenhum especialista. Na

realidade, nega-se a fazer qualquer coisa. Pensei que se tivesse alguém de sua idade,

só para convencê-lo um pouco, seria melhor.

Gritei. — Ele tem dezoito?

Escutei o som de dois garotos rindo no final do corredor. Deu-me um nó na

garganta ao pensar. Exatamente o que eles excluíram desse anúncio?

Notando minha expressão, a Sra. Edmund disse rapidamente. — Não se preocupe,

eu cuido da Marly e do Chris. — Sua voz elevou-se ligeiramente. — Devem permanecer

na cozinha, queridos! — depois que o riso afastou-se, ela suspirou. — Amy, posso pagar-

te $10 por hora.

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Traduções 4Love

Ver um menino recém-cego e de minha idade? Comecei a mover minha

cabeça. — Não sei...

— $20 por hora! — gritou a Sra. Edmund. — Por favor, é a única garota que veio.

Provavelmente era a única que não tinha se interessado pelos detalhes antes do

tempo... Mas $20! Rapidamente fiz as contas: $20 por 40 horas = $800 em uma semana!

3.200 em um mês! Uma loucura. Esta erminha oportunidade perfeita! Com todo esse

dinheiro, poderia pagar meu dormitório em Evanston!

Com meus olhos brilhando, disse: — Sim, eu aceito.

De repente, escutei pequenos pés batendo pelo corredor. A Sra. Edmund pulou e

gritou. — Por favor, não incomodem seu irmão! — Mas já era muito tarde. No momento

em que chegamos ao corredor, os dois meninos tinham se precipitado voando pelas

escadas e desaparecendo pela esquina.

— Mamãe conseguiu uma babá para você! Ela teve que pagar a ela uma

tonelada para que ficasse!

Quando alcançamos o segundo piso, o menino já tinha apertado sua boca

contra a rachadura de uma porta fechada e estava fazendo justamente o que sua

mãe tinha dito para que não fizesse, claro. Tens que amar as crianças. Ele parecia que

tinha nove anos, com uma nuvem de cabelo loiro. A menina, que parecia ter

aproximadamente cinco anos, ajoelhou-se junto a ele. Ela me olhou por debaixo de sua

explosiva franja de cor castanho-clara e rapidamente começou a chupar o dedo. Às

vezes tenho esse efeito nas crianças.

— Chris, vamos, — disse sua mãe com tom severo. — Disse-te que deixasse seu

irmão em paz.

— Awww, mamãe! — O garoto levantou a vista da porta, enrugando o rosto em

uma careta.

— E Marly, querida, — disse a Sra. Edmund em tom suave. — por favor, tire esse

dedo da boca. Lembra que conversamos sobre como as meninas grandes não

chupam os dedos?

Marly assentiu e lentamente tirou o dedo infrator de sua boca.

— Christopher John, vá para seu quarto. — A Sra. Edmund dirigiu-se a seu filho,

que estava ocupado examinando-me com seus penetrantes olhos azuis.

Chris arrastou dramaticamente seus pés e, lançando um casual: — tudo bem, —

por cima do ombro, retirou-se ao final do corredor. Sua irmã correu atrás dele.

A Sra. Edmund sorriu e logo se voltou. — Deixá-los-ei sozinhos.

A quem? A mim e a porta? Sim, nos unimos muito bem. Franzi a testa e, antes que

pudesse fugir, perguntei: — É, onde está Tristan?

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Traduções 4Love

Ela riu suavemente, como se minha pergunta fosse boba. — Oh, ele está ali. É um

guarda roupa. Tem... — parou, como se as palavras tivessem ficado trancadas na

garganta. Depois de um momento, concertou-as. — Bom, tenho certeza que Tristan dir-

te-á. Volto para assegurar-me que estás bem em um minuto.

Por que isso não era tão reconfortante?

Eu observei enquanto ela fugia e logo me virei para a porta. Meti um punhado de

cabelo atrás da orelha, um dos meus hábitos nervosos, e coloquei minha mão na

maçaneta da porta. Apertei os dedos, tentei dar a volta. Não aconteceu nada. Minha

mente lentamente chegou à causa óbvia: tinha fechado a porta. Tinha fechado a

porta! Esperava-se que eu virasse babá de um garoto de dezoito anos de idade, cego

e rico e ele tinha se fechado em um armário! Honestamente.

Lembrei-me de uma vez que tive que convencer uma menina, que eu estava

sentada debaixo de sua cama, para dar-lhe um banho. Levara uma hora e uma

bolacha Oreo4. Isso não era uma lembrança tão reconfortante, mas fiz exatamente o

que tinha feito com ela, bom, menos a bolacha. Sentei-me no chão e comecei a falar.

— Acho que tem ouvido falar de mim. Sou Amy Turner. Escuta, por que não sai para que

possamos nos conhecer corretamente?

Fiz uma pausa, mas não houve som, nem sequer um sussurro, do interior.

Aparentemente meu poder de persuasão não tinha melhorado milagrosamente.

Virei-me, de modo que minhas costas estavam contra a porta e, com um baque

seco, descansei minha cabeça. Continuei. — Se quiser, posso só me sentar aqui.

De repente, algo golpeou a porta suficientemente forte para fazer o som bang! E

deu-me um enorme susto. Depois que meu coração voltara a meu peito, gritei: — Ei, a

decisão é sua! Sua mãe vai pagar-me de qualquer forma!

— Para trás!

O grito soou tão perto que pulei outra vez.

Afastei-me da porta justamente a tempo, enquanto se abria em um golpe. A

figura de um garoto adolescente colocou-se em minha frente. Cabelo loiro areia

escovado sobre os óculos de sol de designer. Com uma das mãos agarrou o marco da

porta e, com a outra, ele estendeu a mão incertamente ao ar. Antes que eu pudesse

fazer alguma coisa, ele deu um passo à frente e tropeçou em meus amados tênis.

Para meu ouvido, sua queda no tapete fora ensurdecedora. Mas,

surpreendentemente, ninguém veio correndo. Ele permaneceu imóvel. Passou por

4 Bolacha Oreo: é igual a bolacha Negresco da Nestlé.

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Traduções 4Love

minha mente que eu o tinha matado. Matar uma pessoa cega; é uma passagem

rápida para o inferno. Deslizei-me para frente e disse sem fôlego. — Tristan, desculpa!

Meu cérebro registrou devagar que devia ter prejudicado seu orgulho porque ele

respirava regularmente. Ele não falou, mas sua mão estava estendida e apalpou o piso.

Vendo que seus óculos tinham caído por perto, peguei-os e coloquei-os em suas mãos.

Arrancou-os de mim e, levantando-se, virou a cabeça enquanto os colocava de novo.

Ele grunhiu. — Afaste-se de mim!

Fiz uma tentativa frustrada de pegar sua mão e ofereci. — Deixe que te ajude a ir

para seu quarto.

Sentindo meu movimento, afastou-se de mim e zombou. — Ao menos sabe onde

é meu quarto?

Fiquei pasma, enquanto ele caminhava lentamente pelo corredor. Apoiou sua

mão com força contra a parede e parou no canto, segurando na quina. Então ele se

foi. Um momento depois, escutei uma porta fechar-se com um golpe. Continuei ali

parada quieta, sentindo-me completamente humilhada. De novo, por que tinha

pegado esse trabalho?

Detectando meus pensamentos, ou talvez pelo golpe da porta, a Sra. Edmund

apareceu. Ela tentou sorrir. — Oh, Tristan sairá. Falarei com ele esta noite. Por que não

volta amanhã?

Com minha expressão em branco, assenti em resposta. Claro, tudo seria melhor

pela manhã. Esse não seria um mau trabalho. O primeiro dia sempre é o pior. Claro, não

era um dia... Foram apenas dez minutos. Coloquei os dedos entre os cabelos e suspirei

ao pensar nele.

Enquanto saía da casa, um forte vento beijava meu rosto. Mas, quem acredita em

presságios, de qualquer modo?

Depois de desligar o carro, fiquei sentada por um minuto e observei a casa de

minha família. Levantava-se em toda sua glória de estilo rancho, com revestimento de

lascas de madeira. Comparada com a dos Edmund, nossa casa parecia uma caixinha.

É engraçado, não tinha notado isso antes. Dei de ombros, pegando minha bolsa e

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Traduções 4Love

minha carta amassada no assento do passageiro. Enquanto caminhava até a porta de

entrada, eu já podia cheirar a queima de incenso de patchouli5.

— Amy? É você?

Quem mais sabia que nossa casa estaria sem chave na metade da tarde? Ri

enquanto minha mãe saltava da cozinha, com um pincel em uma das mãos e com

gotas de amarelo pelos braços. Seu vestido dashiki6 estava forrado com uma grande

variedade de cores já secas que se desprendiam do algodão como neve em arco-íris.

Levava o cabelo recolhido em uma trança frouxa que tinha colocado sobre um ombro.

Rapidamente coloquei minha carta em minha bolsa, e perguntei. — Está redecorando?

— Claro. — Ela me beijou e pude sentir a tinta úmida manchando minha

bochecha. – Na próxima sexta-feira é o aniversário, então estou acrescentando um sol

na parede da sala. A casa tem que aparecer boa para seu irmão.

Charlie. Meu irmão mais velho que saiu de casa antes de sua formatura no

colégio e nunca tinha se estabelecido. Supostamente esse era seu grande ato de

rebelião. Sabia pelas cartas que me enviava secretamente que ele estava bem, mas

nunca ia voltar para Grayfield. De maneira nenhuma. Não importa quantas vezes

mamãe pusesse um lugar para ele na mesa de jantar. Ela não queria acreditar.

— Certamente, — disse e ofereci um sorriso.

— Como foi sua entrevista?

Fiz uma careta e tentei escapulir dela, para meu quarto. — Oh, bom... Uh, deram-

me o trabalho e... — Todas as formas que pensei para descrever o que tinha

concordado em fazer soavam estranhas, mas segui em frente mesmo assim. — É um

garoto cego e de minha idade.

Ela inclinou a cabeça para um lado. — O garoto que vai cuidar?

— Tristan. Sim. — Assenti. — Eu o levarei a alguns lugares, divertir-me-ei com ele,

esse tipo de coisa.

Sem um momento de hesitação, minha mãe sorriu. — Oh, um namorado novo.

Que maravilhoso, Amy!

Apertei os dentes. — Isso não é o que eu...

— Acha que esse amarelo é muito claro para o sol? — Mamãe já estava distraída,

com a testa franzida para a ponta de seu pincel.

5 Patchouli: O aroma do patchuli é forte e, mesmo considerado agressivo por algumas pessoas, tem sido

utilizado durante séculos em perfumaria. Seu aroma é considerado relaxante por diversas pessoas.

6 Dashiki: é uma peça de vestuário masculino, colorido e é amplamente usado na África Ocidental. Cobre a

metade superior do corpo.

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Com uma das mãos em minha bolsa, disse gentilmente. — Deixa-me colocar isso

em meu quarto e logo te ajudarei a pintar. — Antes de passar por ela. Amava minha

mãe até morrer, de verdade, mas ela sempre tinha essa habilidade de viver a um passo

de distância da realidade. Um passo onde ela podia acreditar no romântico sonho de

que Charlie viria para casa e iria falar maravilhas de seu novo mural.

Se eu pudesse engarrafar aquela aula de otimismo, teria a vida solucionada.

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Capítulo Dois

Zumbindo ao longo do caminho em minha Camry na manhã seguinte, pude ver o

sol meter a cabeça preguiçosamente atrás de uma nuvem cinza inchada. Olhei o céu

e quis que o dia fosse brilhante.

Meus mocassins, que tinha indefinidamente banido os meus Chucks para meu

quarto, pressionaram o acelerador. Era perto das onze horas, então ainda considerava

uma manhã, mas esperava que meus novos patrões concordassem. Justamente

quando parei na porta dos Edmund, esta se abriu. Achei isso muito alarmante e

rapidamente saí de meu carro para a porta principal.

Chris estava na porta e disse com indiferença. — Mamãe está esperando-te na

sala.

— Obrigada, menino. — Passei uma das mãos sobre sua cabeça fofa quando

passei. Ouvi-o dar um pontapé e queixar-se. — Ei. — mas eu já estava colando um

grande sorriso em meu rosto quando me encontrei com a ansiosa Sra. Edmund.

Comecei. — Desculpe. Deveria ter vindo antes...

— Oh, está bem. — Seu sorriso vacilou e ela fez um gesto para o sofá. — Por que

não se senta? — sentei e ela continuou. — Falei com Tristan, ele pode ser muito cabeça-

dura. Temo que ele esteja predisposto contra você. Foi o mesmo com todos os demais,

os especialistas, os livros e tudo...

Franzi a testa. De maneira nenhuma eu perderia minha oportunidade em

Evanston por causa de algum pirralho! — Espere. Quer dizer que está cego há dois

meses e não aprendeu a adaptar-se a tudo? Só está deprimido por ai?

A Sra. Edmund moveu-se incômoda. — Bom, ele é um adulto...

— Então não sei se você deveria permitir que ele escapulisse das coisas como um

menino! — disse um pouco entusiasmada demais. Contendo-me, falei com firmeza. —

Só dessa vez, não escute Tristan. Vocês contrataram-me para um trabalho, deixe-me

fazê-lo.

— Quer cuidar de meu irmão? O que aconteceu com você? — perguntou Chris,

apoiando- se na quina da parede para olhar para a sala.

Lancei olhares assassinos em sua direção.

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— Christopher John, isso não te envolve! — espetou a Sra. Edmund. Uma vez que o

diabinho tinha se perdido de vista, disse lentamente. — Acho que tens um ponto.

Inclusive se só sentar com ele, não estará sozinho...

— Bom! — pulei colocando-me de pé antes que ela tivesse a oportunidade de

mudar de idéia. — Onde ele está? No armário de novo?

— Não, — murmurou Chris, que estava no corredor com os braços cruzados. —

Está em seu quarto porque pensou que você não voltaria.

Segui-o, enquanto se dirigia para as escadas e meditei. — Então, o truque do

armário foi por minha causa?

Podia sentir o menino revirando os olhos. — Não. Ele faz isso cada vez que está

irritado ou deprimido, o que acontece muitas vezes.

Esse garoto sabia um pouco. Enquanto subíamos as escadas, perguntei-me de

que outra maneira ele podia ajudar-me. Passamos pela porta do infame armário, a qual

estava fechada mais uma vez, mas meu estômago ainda tinha a sensação de náuseas.

Demos uma volta no canto onde tinha visto Tristan desaparecer. Chris deteve-se a

frente de uma porta no corredor e agitou as mãos freneticamente, como se eu não

tivesse percebido de quem era o quarto.

Prontamente me senti como se estivesse perturbando, andei na ponta dos pés até

a porta. Olhando para Chris, apontei o interior e gesticulei. — Vai entrar?

O rosto do menino abriu-se em um sorriso malicioso e varreu a cabeça de um lado

ao outro completamente. — De maneira nenhuma!

Fulminei-o com o olhar e, ainda tentando fazer silêncio, entrei no quarto. O quarto

de Tristan era facilmente três vezes o tamanho de meu. Inclinado contra a parede

minha direita tinha um bastão branco, do tipo comprido e fino que eu nunca pensara

que pertencesse a alguém de minha idade. Tinha algo sombrio sobre esse quarto. As

paredes brilhantemente brancas não tinham uma só imagem, quem não tem algum

tipo de decoração nas suas paredes?

Sua cama era um grande monstro negro, cuja cabeceira apoiava-se contra a

parede esquerda e cujos pés sobressaíam no quarto. Eu estava tão constrangida por

seu tamanho que, inicialmente, não percebi que tinha um corpo estendido nela: o

corpo de Tristan. Em um momento, fiquei sem respiração, deve ter me visto olhando! E,

no seguinte, quase comecei a rir ante a impossibilidade. Então me senti culpada por

pensar em uma coisa tão grosseira.

Estava deitado na parte superior da colcha com as costas apoiadas nas

almofadas. Sua respiração era estável, então me enganei ao pensar que ele estava

dormindo. Com essa crença, deslizei-me tranquilamente no quarto e observei-o com

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Traduções 4Love

mais claridade que em minha visão privilegiada anterior quando ele estava no chão.

Estava vestido agradavelmente, com uma camiseta preta e uns jeans que pareciam ser

caros. Era como uma estátua de um modelo da Abercrombie & Fitch... Não que

alguma vez eu estivesse reparando em um garoto.

Por nenhuma razão, perguntei-me se ouvia bem. Então a estátua estava furiosa.

— É você, não é? — e o inocente pensamento foi finalmente esmagado e moído no

chão, até que não fosse mais que uma mancha. Pulei, literalmente pulei, quase um

metro. Sua cabeça virou com lentidão de filme de terror em minha direção e eu disse a

primeira coisa que me veio à cabeça: o cumprimentei. Cumprimentei com a mão, a

uma pessoa cega, cumprimentei uma pessoa cega! O que aconteceu? Nada. Claro,

nada.

Fui ao plano B, falar.

— Na realidade, meu nome é Amy.

A cabeça voltou para a posição frontal e não respondeu.

Engoli saliva e olhei ao redor do quarto procurando alguma coisa para provocar

uma conversa. Em minha frente tinha uma escrivaninha grande, que só tinha uma

pequena pilha de livros e CDs. Pareciam sem tocar e no livro de cima lia-se BRAILE em

letras grandes, em negrito. Perguntei. — Então, está aprendendo Braile?

Silêncio.

— Bom, sim... — coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Tem sede? Eu tenho sede. Vou buscar alguma coisa para beber, ok?

Como era esperado, não respondeu enquanto eu fazia minha rápida e

desajeitada saída do quarto. Chris estava no corredor, inclinado em um silencioso

ataque de riso ante meu apuro. Fixei meus dedos em seu ombro e empurrei-o para as

escadas, sussurrando. — Temos que conversar. Presumo que saiba onde está a cozinha?

Conduziu-me pelo vestíbulo que dava para a cozinha. A qual era linda e

gigante... Claro. Tinha uma parede de gabinetes de cedro, um grande balcão com

tampo de mármore à esquerda e eletrodomésticos de última geração em prata

acetinada à direita. Sem se dar conta de nada disso, soltou-se de meu domínio e,

enquanto fazia uma vã tentativa de manter o sorriso fora de seu rosto, perguntou. — O

que você quer?

— Quero... Tem algum refrigerante? — gesticulei para a geladeira e ele assentiu

com a cabeça. — Quero que me conte sobre o Tristan. Quero dizer, apesar de ser tão

atrativo sentar-se em silêncio durante todo o dia, deve ter algo que queira conversar...

Posso considerar que já não está mais na escola?

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Traduções 4Love

— Não. — Chris entregou-me uma Coca-Cola. — Mamãe permitiu que ele ficasse

fora. Acho que o doutor deu um atestado ou algo assim.

Tomei um gole da lata e coloquei a cabeça de lado. — Ouça, o que tem dentro

do armário?

— Oh, coisas velhas do Tristan: cartazes, livros, música, computador... Mamãe

colocou tudo ali depois do acidente.

Isso explica o vazio de seu quarto. Engoli saliva e estremeci. Que terrível! Estava

sentado nesse armário sozinho, com suas coisas ao redor, pegando poeira. Recuperei-

me sem jeito. — Bom, uh, pode pensar em algo para eu falar com ele?

— Cavalos. — A pequena voz atrás de mim chegou de repente. Virei-me para ver

a figura de Marly com os olhos abertos. Ela estava olhando fixamente para mim e

repetiu. — Cavalos. — Antes de meter o polegar na boca.

— Cavalos, ok. — Virei de novo para o Chris. — Sua mãe disse que Tristan ficou

cego por causa de um acidente de cavalo?

O menino assentiu com a cabeça. — Sim, ele costumava cavalgar o tempo todo.

Tem um lugar perto daqui. Chama-se, é... Legado de Estábulos. Aeris ainda está lá.

— Aeris? Ele é dono de um cavalo? — ofeguei.

— Sim, mas Trist não monta nele desde... Já sabe. — Chris negou com a cabeça e

disse. — E eu não tentaria fazer com que ele monte.

— Está bem, mas talvez eu pudesse levá-lo lá, não sei, passar um tempo? —

Levantei as sobrancelhas para ele, que deu de ombros com ceticismo ante a idéia. —

Suponho que não sabe como chegar lá?

— Chegar aonde? — A Sra. Edmund saía da sala de estar, com uma revista

debaixo do braço.

— Legado de Estábulos. Penso que Tristan e eu poderíamos ir ali, um lugar familiar.

Ela franziu a testa, mas assentiu com a cabeça lentamente. — Se pensa assim,

querida. O acidente ocorreu fora do estado, então não deveria ter nenhuma má

recordação... Mas só por tirá-lo dessa casa será um milagre.

— Um milagre? — ri — Bom, vou tentar o melhor possível.

— Muito bem. Agora, só quero encontrar uma caneta...

Chris, vendo sua mãe muito ocupada abrindo e fechando gavetas, lançou-me

um olhar furtivo e correu para as escadas.

— Ei! Aonde você vai? — Gritei, mas ele não olhou para trás.

A Sra. Edmund tirou uma caneta de uma gaveta e começou a escrever a toda

pressa as indicações em uma caderneta. Ela suspirou. — Depois de tudo o que

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Traduções 4Love

aconteceu, Chris tem lutado bastante para conseguir a atenção de Tristan. Estou

segura que fofocar sobre você está servindo.

Estranho, nunca fui a garota de que todos falavam. Não costumava atrair muita

atenção, positiva ou negativa, e não podia deixar de perguntar-me o que Chris estava

dizendo sobre mim. Pegando as indicações da Sra. Edmund, corri escadas acima e

segui pelo corredor do segundo piso. Quando virei no canto, escutei debilmente uma

voz masculina. Ao dar-me conta que Tristan estava falando em seu quarto, colei-me

contra a parede e deslizei-me até a porta.

A voz parou e foi substituída pelo tom mais alto de Chris. — Não sei. Ela parece

boa para uma garota, suponho. — Revirei os olhos ante o comentário e aproximei-me

mais. — Seu cabelo é um pouco comprido, abaixo dos ombros, e é ondulado na parte

inferior. É cor de, er, caramelo.

Caramelo? Isso era novidade. Nunca gostara muito de meu cabelo. Não era nem

vermelho nem castanho e tampouco podia dizer se era ondulado ou liso. Uma coisa era

certa: meu cabelo nunca quis cooperar. Durante anos tenho lutado contra ele usando

os aerossóis mais fortes e as chapinhas mais quentes.

O resultado? Rendi-me e, basicamente deixo que ele faça o que quiser.

— E os olhos dela? — perguntou com uma voz calma que não tinha usado

comigo.

— Não sei, Tristan! — Queixou-se Chris.

— Ela é ―bonita‖? Tem que me dar algo melhor do que isso para continuar! —

Grunhiu.

Sorri. Disso eu gostava mais.

— Muito bem. Vou ver, — resmungou o menino. —– É provável que ela esteja aqui

em cima, de qualquer jeito.

— Não! Espera! — Gritou Tristan.

Como eu duvidava muito da capacidade de Chris de escutar alguém, recuei

pelo corredor, dando a volta na esquina, e rapidamente me posicionando na escada

como se acabasse de chegar. No momento seguinte, minha suspeita confirmou-se

quando me encontrou ofegando, com um aperto forte sobre a grade. Lançou-me um

olhar como se pensasse que estava louca e perguntou-me. — O que aconteceu?

Engoli saliva e soltei. — Nada!

Chris arqueou as sobrancelhas. — Está bem. — e entrecerrou os olhos para

conseguir uma boa vista dos meus olhos. Depois desapareceu pelo corredor para

informar a seu irmão da cor azul escuro que tinha visto.

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Traduções 4Love

Pouco a pouco fui voltando ao quarto de Tristan, pelo qual Chris estava saindo

antes que o alcançasse. O garoto tinha uma postura de assobiar casualmente

enquanto caminhava passando por mim, mas resisti à tentação de atirar nele meu

sapato. Encontrei Tristan deitado tranquilamente em sua cama como se não tivesse

feito nada desde que sai. Dando dois pulos entrei em seu quarto, aterrissando, com um

salto, sentando na borda de sua cama.

As entradas são importantes.

Surpreso, abriu a boca e sua cabeça virou para encarar-me. — O quê?

Eu disse com falso entusiasmo. — Sua mãe está no andar de baixo, assim eu acho

que poderíamos passar o tempo... — foi à vez de Tristan olhar-me como se eu estivesse

louca, mas pelo menos sabia que estava escutando. -... Ou poderíamos ir a algum

lugar.

Soltou um sorriso curto, sem sentido de humor e disse com sarcasmo. – Soa muito

bom.

Por que não podia só fingir que concorda? Cruzei meus braços e disse. — Sabe,

Tristan, isso simplesmente é patético. Quando foi a última vez que deixou sua casa?

O rosto endureceu-se ante minhas palavras e cuspiu. — Sou patético. Sim,

obrigado pela injeção de moral. Agora entendo por que minha mãe está pagando-te

tanto quanto sua psiquiatra.

Senti uma familiar ducha fria de vergonha, mas sacudi-me e respondi. — Bom, se

ela vai conseguir o valor de seu dinheiro, melhor sairmos do caminho. — Coloquei-me

de pé e observei. Queria poder vê-lo sem seus óculos, assim poderia dizer o que estava

pensando.

Houve um longo, longo momento incômodo de silêncio. Quase desmaiei

prendendo a respiração. Então Tristan saiu da cama e levantou-se. Hesitei,

perguntando-me se ele deixar-me-ia levá-lo, mas ele começou a caminhar por sua

conta, com uma das mãos estendida. Sai do caminho e segui-o enquanto avançava

pelo corredor. Quando chegou perto do patamar, perguntei. — Então, você consegue

descer as escadas? — Montes e montes de degraus girando em um círculo?

— Já desci estas escadas um milhão de vezes, — disse Tristan de mau humor e

começou a descida. Agarrou com força a grade e testou a distância de cada degrau

com o pé, mas desceu de seu próprio jeito. Ele assustou-me quase até a morte, mas

desceu. Se fosse eu? Se eu fosse cega... Cara, eu não seria uma bela vista nessas

escadas.

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Traduções 4Love

Uma vez que ele e eu estávamos na frente de meu Camry, sorri com orgulho para

meu carrinho e proclamei tanto a este quanto a ele. — Estamos aqui! — Antes de abrir a

porta do passageiro.

Sentindo o comprimento do batente da porta, Tristan foi capaz de entrar. Fechei a

porta e apressei-me ao redor até meu lado. Coloquei a chave na ignição e

imediatamente a voz de Sting fluiu dos alto-falantes.

— O que você está escutando? — gritou sobre a música.

Sorri com malícia. Uma dose de educação musical está a caminho!

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Traduções 4Love

Capítulo Três

— Esse é o Sting, quando estava na banda The Police, nos anos 70. Você sabe,

Roxxane, Every Breath You Take? E logo lançou carreira solo nos anos 80... — olhei para

ver se Tristan estava escutando, mas suas mãos estavam ocupadas inspecionando meu

carro. Parou, provavelmente dando-se conta do estado realmente lamentável, do

rasgo profundo na espuma de seu assento. Era uma ferida de guerra de um espantalho

que minha mãe impulsivamente quis liberar. Sério.

Quando meu Camry voou sobre um buraco, Tristan apoiou-se contra a porta.

Eu ri. — Vamos, você andou em um carro antes.

— Isso não é um carro. — resmungou. — Isso é como o Hot wheels sente-se

quando Chris o rola escada abaixo.

— Ah, sim? Bom, que tipo de carro você tem?

Er, provavelmente não era uma boa pergunta, percebi depois que as palavras

tinham saído de minha boca.

— Que ótima terapeuta você é. — disse com sarcasmo. Vi como seu rosto oprimiu-

se e perguntei-me se o tinha empurrado muito. Sem esperar outra resposta, voltei a

olhar para a estrada e surpreendi-me quando disse em voz baixa. —Um Mercedes-Benz

Cabriolet7.

Não tinha nem idéia do que era, mas soava igualmente caro. Soltei. — Deve ser

legal.

Sacudiu a cabeça e replicou. — Nem sequer conhece.

— Ei, não tinha a intenção de... — comecei, mas Tristan virou-se para a janela.

Sentindo-me incomodada com a música, desliguei o Sting e viajamos em um

silêncio incômodo. Não muito em breve, vi um grande cartaz que estava sobre uma

colina. Em grandes e cursivas letras, proclamavam: Legados dos Estábulos. A estrada

estava cheia de árvores e abria caminho a acres de vegetações exuberantes. A grama

estava bloqueada por cercas de madeira branca e rodeada de caminhos de lascas de

madeira. Mais além de tudo isso, os estábulos de cor azul-pálida desenhavam-se contra

o céu.

7 Mercedes-Benz Cabriolet: http://t.co/7MLFtLo

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Traduções 4Love

Entrei no estacionamento e desliguei o motor. Enquanto tirava meu cinto de

segurança, senti a atenção de Tristan em mim. Empurrei uma mecha de cabelo atrás

de minha orelha enquanto ele perguntava. — Onde estamos?

Hesitei e logo soltei. — No Legado dos Estábulos.

Virou-se para mim e jurei que estava me vendo. Disse friamente. — Não.

Olhei ao redor do estacionamento. Só tinha outros dois carros. Cruzei meus dedos

e menti. — Olha, não tem ninguém aqui. Só vamos fingir que é um parque e que

estamos sentados na grama ou algo assim.

Tristan franziu a testa, incrédulo. — Ninguém, em um domingo?

Fiz uma careta, mas como ia saber a diferença?

— Não.

Enquanto ele saía de meu carro, me apressei a seu redor e parei na frente dele. —

Espere. — Ao escutar minha voz, Tristan ajustou seus passos para não pisar em mim. Mais

uma vez, coloquei-me na frente dele e dessa vez pressionei minha mão contra seu

peito. Pulou ao contato e parou, como esperava que fizesse. Disse. - Olha, temos que

resolver isso. Quero dizer, é pratico para você que me utilize, posso ver e você não.

Entendendo-me, Tristan cruzou os braços. — Não vou segurar sua mão.

Revirei os olhos. Queria gritar: Sim, bem, não estou atraída por você tampouco!

Mudando, espetei. — Pode suportar segurar meu braço?

Pensei ter visto um breve sorriso em seus lábios. — Muito bem.

Pus meu braço em forma de ―L‖ e agarrei a mão estendida. Sua mão estava

quente quando seus dedos envolveram-se ao redor de meu bíceps esquerdo,

ligeiramente por cima de meu cotovelo. Agradecida de que não pudesse ver meu rosto

ruborizado, dei um passo para frente. Houve um momento incômodo quando seu braço

sacudiu-se em um movimento; logo nos combinamos a um mesmo ritmo. Mas, oh,

sentia-me estranha. Que tipo de garota teria um garoto segurando seu braço?

Honestamente.

Caminhamos pelo estacionamento e pela grama. Desviei-me da cerca que

conduzia aos estábulos e fui paralelamente a uma cerca branca, subindo por uma

suave inclinação. Parei na parte superior de uma pequena colina, que dominava uma

ampla campina. Tristan tirou sua mão de meu braço e deixei-me cair sobre a grama.

Hesitou antes de deixar-se cair junto a mim.

Deitei de costas e suspirei enquanto olhava para o céu azul. O sol tinha decidido

sair, depois de tudo. — Isso é legal.

Tristan apoiou-se sobre seus cotovelos. — É melhor que meu quarto, reconheço.

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Traduções 4Love

Virei de lado, para ficar de frente a ele. Incentivada por seu tom relaxado, disse: -

Sabe, eu ouvi seu irmão descrevendo-me. Não fez um bom trabalho.

Deu um breve sorriso. — Então, descreva a si mesma.

Não tinha nada que odiasse mais do que falar de mim mesma. — Af, não.

—- Bem, algumas pessoas não conseguem. — Tristan assentiu com a cabeça com

presunção.

Fulminei-o com o olhar. — Bem, vou descrever-me: Sou uma garota. Ai está. Agora

é sua vez.

— Vamos ver... Era o campeão de salto de obstáculos. Tinha uma vida que todos

queriam. Mas perdi tudo, peça por peça, e agora inclusive os velhos ―amigos‖ não me

chamam, porque sou um perdedor.

Talvez essa fosse uma pergunta ruim.

— Oh. Hum, sua família parece ser legal. — disse. — Bem, não conheci seu pai.

Tristan empurrou seus óculos de sol para cima do nariz e simplesmente disse. —

Talvez por que ele morrera no ano passado.

Eu = 0. Tristan = 2.

Minha mente estava em branco porque ondulei meus dedos na grama.

— Eu... Eu sinto muito.

O silêncio, meu inimigo mortal, voltou. Dançava ao redor, fazendo caretas para

mim, até que me senti completamente incômoda. De repente, ouvi os sons de cascos

aproximando-se e meu coração começou a bater com eles. Vi o rosto de Tristan ficar

pálido com o entendimento. Virou-se para mim, sua voz estava tensa. — Você tem que

me esconder!

Dei um grito abafado. — O quê?

— Me cobre!

Quando me congelei em confusão, sua mão agarrou meu braço e empurrou-me

toscamente para cima dele. Cortou-me a respiração e estendi minhas mãos contra o

chão justamente a tempo de evitar que minha cabeça chocasse com a dele. Por que

estava a escassos centímetros acima dele, meu cabelo caía em cascata para baixo ao

redor de seu rosto. Pude ver o pânico de meus olhos nos reflexos de suas lentes escuras.

Ouvi o cavalo parar perto da cerca de baixo. O jóquei, obviamente nos olhando,

murmurou algo como. — Busquem um quarto. — e logo gritou. — Olha, isso é

propriedade privada! Podem fazer isso em outro lugar!

Senti que Tristan despachou a pessoa e, depois de um momento de tensão, o

golpe do casco voltou. O fôlego quente de Tristan roçava em minha pele. Cheirava

como uma mescla embriagadora de canela e sândalo. Um estranho tremor percorreu

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Traduções 4Love

minha espinha dorsal e percebi a proximidade que meu rosto estava de seu. Logo fiquei

sem fôlego quando me empurrou para longe dele e minhas costas golpearam o chão.

Ele grunhiu. — Isso seguramente parecia com ninguém! Essa era a Kristy Whitton.

Ela não adoraria nada mais que, antes do ensaio, dizer a todos seus pequenos amigos

em Clarence como me encontrou: ―Realmente é cego! Inclusive estava sendo

conduzido pelos arredores por uma garota!‖

Espera... Ensaio? A curiosidade tirou minha vergonha. —Está para formar-se?

— Sim, na próxima sexta-feira. — Tristan deu um sorriso sem sentido de humor. —

Em outras palavras, estava com créditos insuficientes, mas de qualquer maneira mamãe

comprou para todos os membros do conselho escolar novo Beemers8 e, voilá, consegui

um diploma. Esse é meu mundo, – ficou de pé – e eu vou para casa.

Enquanto Tristan elevava-se por cima de mim, esperei que fosse à frente, mas ele

não o fez. Levei um segundo para entender o porquê: não poderia encontrar o carro.

Ele estava ali de pé, totalmente indignado, mas não podia ir. A meus olhos, de repente

pareceu menos imponente. Levantei-me e percebi que não era tão mais alto que eu,

talvez uns quinze centímetros a mais que meu um metro e sessenta e cinco.

Sentindo-me com poder, dei um passo para trás quando ele estendeu sua mão e

disse: — Em meu mundo, agradeceria se pedisse.

— Oh, isso não é o suficiente? — Tristan fez gestos para o espaço vazio e logo ao

espaço entre nós. — Tudo isso não é suficiente? Acha que vou implorar a você para

que me leve para casa?

Disse com severidade. – Acho que poderia tentar falar comigo como uma pessoa.

— Você é uma empregada! — espetou. — Minha mãe paga-te, lembra?

Suspirei e revirei os olhos, parecia que não íamos poder escapar dessa coisa de

dinheiro. — Sim, eu lembro. — peguei sua mão agitando-se e virei-me para o

estacionamento. — Vamos.

Parei na casa dos Edmund e sem dizer uma palavra me dirigi à porta de

passageiro. A viagem de volta transcorreu sem incidentes, frio e silencioso, mas sem

incidentes. O vento tinha se levantado, então pude concentrar minha atenção em

manter meu pequeno carro na estrada. Enquanto caminhávamos para casa, pensei

que era estranho que parecesse que estávamos caminhando juntos, quando sentia que

8 Beemers: Piada utilizada para o nome da marca de carros BMW.

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Traduções 4Love

estávamos a quilômetros de distância. Perguntei-me quanto tempo iam durar os

próximos meses, nesse ritmo, levariam um milênio.

Chris estava inclinado sobre a varanda no corredor da entrada. Ele sorriu com

malícia para meu rosto azedo e perguntou. — Que tipo de cão guia você é?

— Cale a boca. — Espetou Tristan e soltou meu braço para subir as escadas.

Sentindo o perigoso estado de ânimo de seu irmão, Chris fugiu para seu quarto.

Sorri ante isso e virei para ir embora, quando me encontrei com a Sra. Edmund de pé

diante de mim. Pressionei meus lábios em um grande sorriso e disse alegremente. – Oh,

oi! Ele está de volta, tudo no mesmo lugar!

—- Sim, sim está. — seu rosto deslizou a um olhar de preocupação enquanto

olhava para cima. — Bom, acho que necessitaremos de você na quinta-feira. Acho que

Tristan não mencionou...

— O ensaio? — completei.

O rosto da Sra. Edmund iluminou-se. — Ele te disse?

Em poucas palavras. — Sim, falou.

— Isso é maravilhoso! Portanto, se pudesse estar aqui em torno das seis e meia?

Traje semi-formal. — olhou brevemente os meus jeans rasgados. — É a Clarence.

Meu sorriso fraquejou — Ah, certo.

Grayfield, Illinois, continha só duas escolas de ensino médio. A principal, Clarence,

era uma escola privada para ricos que se gabavam de ter os adolescentes mais ricos

da área. Careciam de números, tendo só uns poucos, das centenas de estudantes no

total, mas orgulhosamente proclamavam como isso resultava em uma ―classe de

tamanho íntimo‖. O colégio levava muito a sério a propaganda e sentiam-se orgulhosos

de seus polidos limites, altas pontuações nas provas e com tecnologia de ponta... Mas

isso não vem ao caso.

A segunda escola, a escola pública, minha escola, era o Colégio Grayfield.

Contávamos com uma decoração dos anos 70, alguns tantos livros de texto

atualizados, e, nada mais e nada menos que, centenas de estudantes! Não estava

iludida de que minha escola fosse perfeita, mas às vezes gostava de coisas meio de

época. Quero dizer, o que posso dizer? Minha mãe é uma hippie. Se não fosse por meu

pai, teria sido chamada de Rainbow Sunchild9.

Amava as coisas de época, no entanto, não pude evitar odiar a cafeteria de

minha escola, de uma desagradável cor laranja e mostarda, quando passava por ela

no dia seguinte. Coloquei minha salada e meu refrigerante em uma mesa de imitação

9 Rainbow Sunchild: seria algo parecido como, Filha Arco-Iris do Sol.

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Traduções 4Love

de madeira, e deixei-me cair em uma cadeira de plástico na frente de Ahna Johnson.

Conhecia Ahna desde que tínhamos doze anos e usávamos suspensórios. Sabia que eu

nunca tivera um namorado por mais de duas semanas e eu sabia que ela nunca

colocara um pé fora do estado de Illinois.

Isso é um vínculo.

Piquei minha alface marrom. — Então, como foi seu final de semana?

Ahna sacudiu sua cabeça e empurrou seus vermelhos cachos. — Oh, está bem.

Lyle e eu fomos ver o novo filme de terror, sabe esse do boneco? — Lyle era o

namorado de Ahna. Era um tipo decente, embora um pouco do lado lento. Tinha se

formado no ano passado e estava estudando para uma escola técnica. — Olha,

chamei-te sábado, sua mãe provavelmente esqueceu-se de te dizer. Ela disse que

estava em uma entrevista. Como você foi?

Dei de ombros. — Bom. Bem, deram-me o trabalho, mas teve um engano.

— Sim? — Seu hambúrguer terminou na metade do caminho entre sua boca e o

ar. — O quê?

Tentei conter meu sorriso porque sabia que ia enlouquecê-la. — É de nossa idade.

— Sério? De jeito nenhum! Por que seus pais contrataram-te? – Ahna parou,

pensando. – Espera, está esquentando? — Olhei-a e ela olhou-me de volta. – Aim...

— O quê? — Perguntei.

— Amy Rose Turner, – inclinou-se para frente, vendo-se realmente preocupada. —

Está ruborizada.

Golpeei meu refrigerante para baixo um pouco forte demais e respingou sobre a

mesa. Soltei: — É cego!

— É... Realmente? Então você é, como, sua enfermeira? — moveu suas

sobrancelhas sugestivamente. Às vezes pergunto-me por que é minha amiga.

— Cala a boca, Ahna! Não é assim!

Ela riu de mim. — Como é?

Suspirei e limpei o desastre com um guardanapo. — É rico e sua mãe está me

pagando para que o ajude... Leve-o aos lugares. Quinta-feira vou levá-lo para seu

ensaio.

A boca de Ahna caiu aberta. — Tá brincando! Está pagando-te para que saia

com um ator?

— Não! — revirei meus olhos. — É o ensaio para sua formatura na Clarence.

— Acho que os pequenos Clarencienses saíram cedo, — reclamou. — Não vão

querer chegar tarde à casa de praia na Flórida.

— Não são tão ruins, — disse na defensiva.

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Traduções 4Love

— Diga-me isso depois de reunir-se com eles. — Seus olhos castanhos travaram-se

em mim. – Espera. Quanto disse que estão pagando-te?

Rapidamente forcei um garfo cheio de comida para dentro de minha boca e

murmurei a ofensiva cifra: - Vinte dólares por hora.

— Ah tá! Não é de se estranhar que ―não sejam tão ruins‖. — Riu vitoriosa antes de

realmente compreender o que tinha dito.

Dando-se conta, seu rosto quase caiu. — Vinte dólares a hora? Cara, é melhor

que encontre alguma maneira de matar o tempo com... Como se chama?

— Tristan.

— Tristan! Fique com ele, se quiser. — Ahna dramaticamente pôs uma das mãos

sobre seu coração. — Falo-lhe isso como sua melhor amiga, que quer

desesperadamente que tenha um quarto junto ao dela no próximo ano, para que não

termine dormindo junto a um psicopata. E, Aim, está ruborizando de novo.

Fulminei-a com o olhar.

— Nem todo mundo pode ser a próxima famosa tocadora mundial de oboé. —

disse, referindo-se sua própria erudição e a razão pela qual ia a Evanston. — Pode ser

que tenha que fazer sacrifícios... Como beijar um garoto sexy.

Ignorei seu último comentário. — Ahna, não tem nenhum famoso tocador de

oboé.

— Morde sua língua. Sintonize-nos na Orquestra. — Ahna retomou seu hambúrguer

e mastigou cuidadosamente. — Mas, sobre quinta-feira, não é a ―Semana do Charlie‖?

Cobri o rosto com minhas mãos. Ela tinha razão! Era a Semana do Charlie! Como

pude esquecer? Charlie saiu de casa quando eu tinha a idade de Chris, então eu

basicamente tinha sido criada como filha única, para grande desgosto de Ahna, que

era a terceira de quatro meninas. Cada ano, na semana de aniversário de sua partida,

a qual Ahna e eu chamávamos de ―Semana do Charlie‖, minha mãe estabelece um

lugar na mesa do jantar para ele a cada noite.

Levei o cabelo para trás das minhas orelhas e comecei. — Não tenho perdido um

jantar do Charlie em dez anos. O que seria só uma...

Ahna interrompeu-me. — Sério, Amy, sua mãe vai enlouquecer! Tem a mesma

idade que Charlie quando se foi. Pense nisso.

— Eu sei. — Gemi e completei os quadros de asbestos10 do teto.

— Há alguma maneira de você comer e ainda ir fazer o ensaio? — ofereceu.

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Asbestos: também conhecido como amianto, trata-se de um material com grande flexibilidade e

resistência química, térmica e elétrica muito elevadas.

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Traduções 4Love

Suspirei. — Acho que devo estar na casa dos Edmund às seis e meia e

normalmente comemos às seis.

Ahna começou a rir e olhou meu prato quase cheio de salada. Gritou sobre a

campainha de saída. — Melhor você trabalhar suas habilidades de empanturrar-se!

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Capítulo Quatro

Querido Charlie, tenho certeza de que nem sequer recebera minha última carta

ainda, mas só quero que você saiba que você está arruinando minha vida. Outra vez.

Não, de verdade. Você sabe como eu consegui esse trabalho que paga muito bem?

Bem, eu preciso ir trabalhar, mas não posso por causa de seu jantar. Você sabe, os que

eu tenho te falado... Os que a mamãe faz para você. A melhor solução que encontrei

foi tentar apressar a refeição. Quero dizer, qual família é tão disfuncional que não pode

comer, por exemplo, meia hora antes do tempo? Não responda isso. Então, se decidir

que é hora de ser agradável com sua pequena irmã, apareça. Esta noite. Com amor,

Amy.

Meu carro gritou enquanto o colocava na pequena entrada de nossa casa.

Quase enganei a mim mesma ao acreditar que mamãe seria firme nesse trabalho da

cozinha. Abri a porta da frente, joguei minha bolsa na direção de meu quarto e

comecei a buscá-la. Bom, definitivamente não estava na cozinha. Gritei seu nome, e

como esperado não houve resposta. Ela tende a perder a noção do tempo,

especialmente quando eu preciso dela para fazer alguma coisa.

Fui a nosso pátio traseiro, que não era um pátio traseiro típico. Minha mãe, em seu

estado de ―Não ao trabalho‖, teve tempo para construir seu próprio Éden. Literalmente.

O pátio não era grande, mas tinha todos os tipos de plantas. Fiz meu caminho através

do labirinto verde, tomando o cuidado de caminhar sobre tão poucas pétalas quanto

fosse possível. Finalmente, encontrei minha mãe agachada atrás de uma roseira.

Estava sussurrando, alisando a terra com suas mãos e sem ter nenhuma idéia que eu

estava atrás dela.

Não tinha maneira de não a assustar uma vez que ela estava em seu próprio

pequeno mundo, então simplesmente gritei. — Mamãe!

Ela pulou. Usando sua mão coberta de terra como um escudo contra o sol, olhou

para cima com seus olhos cor de jade e um sorriso. — Olá, querida. Bem-vinda a casa.

Estava plantando alguns bulbos novos de tulipas perto dos arbustos. Não acho que

teremos suficientes desses florescendo esse ano, verdade?

Dei de ombros. — Não sei. Ei, estava pensando em fazer espaguete e molho de

tomate para o jantar. O que acha?

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Traduções 4Love

— Claro. Isso é tão doce, querer fazer a janta para seu irmão. — Meu estômago

apertou-se, odiava quando falava assim. Fez um gesto com sua mão. — Por que não

olha por ai? Talvez haja alguns tomates que possa usar para o molho.

Molho de tomate a partir do zero? De maneira nenhuma. — Sabe mamãe, acho

que papai comprou um pote de...

Mamãe olhou-me como se eu tivesse pisado em uma borboleta. — Amy Rose!

Todos esses conservantes...

— Vai estar bom, mamãe... — declarei. — Só para uma refeição! Usarei o

espaguete orgânico...

Ela franziu a testa e afastou seu cabelo grisalho de seu rosto. — Claro, mas se

Charlie vier e não gostar...

— Então farei outra coisa. Juro! – rapidamente beijei sua testa quente pelo sol e

dei a volta pela casa. — Obrigada!

Apressadamente coloquei uma panela de água sobre o forno para que

começasse a ferver e coloquei o molho na panela. A comida era tão fácil de preparar,

que imaginei que poderia estar pronta às cinco e meia, quando papai normalmente

chegava a casa. Inclusive piquei alguns pedaços de alho e coloquei-os no molho,

esperando acalmar a mamãe. Justamente quando pensei que estaria tudo bem,

mamãe entrou na cozinha. – Olha! Encontrei alguns morangos maduros! Podemos fazer

uma torta!

Honestamente.

No momento que papai caminhou através da porta, a cozinha estava um

desastre de farinha e suco vermelho de morango. Admito, a casa estava começando a

cheirar deliciosamente, mas precisava sair rápido! Escutei papai deixar cair sua maleta

sobre o linóleo. Entrou na cozinha, seus olhos azuis sorrindo ante meu aspecto, e

inclinou-se sobre uma das cadeiras da cozinha. Tirou sua gravata e respirou

profundamente. — O que vocês estão fazendo, minhas garotas?

Envolveu suas mãos ao redor da cintura de minha mãe e tirou com um beijo o

açúcar mascavo de sua bochecha. Ela sorriu. — Estamos fazendo espaguete e torta de

morango. Você sabe, é a favorita do Charlie.

Um olhar de dor varreu a face de meu pai, mas seu sorriso retornou. — Ótimo!

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Traduções 4Love

Ver meus pais parados ali, eles devem ter parecido um casal estranho: ele em um

terno de negócios preto e ela em um kurta11 branco com jeans palazzo12. O mistério, no

entanto, terminava ali. Ele tinha se formado em licenciatura de Inglês, com a intenção

de ser o próximo Robert Frost13, mas as coisas não tinham saído como o planejado. As

contas e Charlie chegaram, então papai foi para a faculdade de Direito. Uma vez

disse-me que fez o que tinha que fazer, mas ainda trabalhava gratuitamente sempre

que podia. Meu pai é o melhor, não é que eu seja parcial ou algo assim.

— Mamãe, quando a torta estará pronta?

— Oh, não sei, — inclinou contra o papai. — Talvez às seis e quinze.

Justamente quando deveria estar saindo. Perfeito.

Fui para meu quarto para buscar alguma roupa ―semi-formal‖ de acordo com os

Clarencienses. Meu quarto era, sem dúvida, meu refúgio. As paredes estavam pintadas

de um lavanda tranqüilizador, com os mais recentes garranchos de nuvens de minha

mãe. No teto havia esferas de vidro penduradas. O resto do espaço da pequena

habitação era ocupado por minha confortável e grande cama.

Depois de dez minutos remexendo em meu guarda roupa, voltei para a cozinha.

Coloquei uma saia camponesa14 e uma blusa, semi-casual, certo? Estava emocionada

ao ver que minha mãe estava servindo o espaguete. Arranquei um prato de sua mão,

sentei-me, e imediatamente comecei a colocar a comida na boca.

Papai riu. — Você tem um grande encontro ou algo assim?

Senti que meu rosto ficava quente enquanto falava ao redor do espaguete. —

Não, ten-nho que, — Engoli. — ficar de babá.

— Como o Tristan é? — Mamãe tirou uma, até agora não vista, salada gigante da

geladeira.

Literalmente, engasguei-me ante a ideia de tentar pegar três pratos. Depois de

uma curta tosse, respondi. — Ele é legal, tudo é legal.

Papai franziu a testa cético enquanto pegavam seus assentos na mesa. — Por que

colocou uma saia?

— Oh, uh, — engoli saliva. — Quero parecer bonita?

11

Kurta: http://t.co/6tB0RnJ

12 Jeans Palazzo: http://t.co/Z3Xarti

13 Robert Frost: Foi um dos mais importantes poetas dos Estados Unidos do século XX. Frost recebeu

quatro prêmios Pulitzer.

14 Saia Camponesa: http://t.co/AwbBq7E

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Traduções 4Love

Ele levantou a sobrancelha. — Espera... O garoto que está cuidando realmente é

de sua idade?

— Uhum. — rapidamente alcancei o pegador de salada e coloquei uma pilha de

verduras em meu prato. — Sim, mamãe não te disse?

Papai deu a mamãe um olhar exasperado e resmungou. — Pensei que estivesse

brincando.

— Acho que é mais como um namorado. — Ela disse com uma piscada.

Revirei meus olhos e rapidamente coloquei a salada para um lado, assim poderia

colocar um pedaço da fumegante torta de morango em meu prato. — Nós nem sequer

somos amigos. Eu... Eu simplesmente... — Fiz gestos com meu garfo no ar, esforçando-

me por uma definição de meu estanho trabalho. – Procuro que ele faça as coisas... Que

deixe sua casa. E sua mãe me paga.

Papai franziu a testa, tentando entender o que eu queria dizer. — Então, ele é um

solitário?

— Não. Bom... — parei e empurrei um pedaço de torta em minha boca,

imediatamente lamentei a decisão quando a geléia aderiu-se em minha gengiva.

Fazendo uma careta, tomei água e tentei de novo. — É um tipo de solitário agora, mas

não costumava ser.

— E não estão te pagando para sair com ele? — Papai perguntou firmemente.

— Não! — Ri e pulei quando meu celular começou a vibrar em meu bolso. Não

tinha que olhar na tela LCD para saber que a Sra. Edmund estava me ligando para ver

por que eu estava atrasada. Abaixando meu garfo, disse. — Escutem, realmente tenho

que ir, já estou atrasada.

— Amy Rose! — ofegou mamãe. — Ainda não comemos a sobremesa! E se

Charlie vier?

— Pode dizer a ele que pode pegar o resto de minha sobremesa? — Ofereci

timidamente. Meu celular vibrou outra vez enquanto saia da mesa. Olhei meu pai

procurando por apoio. — Ok?

Papai suspirou e esfregou a testa, dividido entre um olhar de dor no rosto de sua

esposa e a lógica de que a probabilidade que Charlie aparecesse para os últimos dez

minutos do jantar era virtualmente zero. Deu-me um assentimento sutil, que mamãe não

notou entre suas lágrimas. Assenti de volta, transmitindo meu agradecimento não

verbalmente e sai de casa.

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1

Traduções 4Love

Momentos depois estava em meu carro, zumbindo para a casa dos Edmund.

Estava feliz que papai ficara do meu lado em todo esse assunto de Charlie e o jantar,

mas a visão de minha mãe chorando ainda me fazia sentir doente. Coloquei meus

débeis alto-falantes no máximo. Tinha encontrado uma fita cassete do Queen no chão

de meu quarto, honestamente, algumas coisas simplesmente apareciam ali.

Sem surpresa, o portão estava aberto e esperando por mim quando cheguei.

Engoli saliva, pulando para fora de meu carro sem olhar o relógio. Subi as escadas e

olhei, quando a porta abriu-se, Marly estava parada na entrada. Já tinha seu pijama

Care Bear15 com uma surrada manta amarela pendurada sobre seu ombro. Olhou-me

com olhos brilhantes, obviamente podia sentir que tinha algum entusiasmo digno ao ir

para a cama mais tarde.

Entrei no vestíbulo, inclinei-me e perguntei. — Onde está seu irmão?

Piscou e assinalou para a escada de caracol.

Girei para ver Tristan descendo as escadas com sua mão sobre o ombro de Chris.

Ele parecia, bom, realmente bem. Isso era o melhor em ―semi-formal‖. Ele usava umas

calças cáqui suave e uma camisa azul, com o botão superior do pescoço sem abotoar.

Também tinha sua marca, óculos de sol preto e seu cabelo estava ligeiramente

despenteados. Sua cabeça estava em minha direção e ruborizei-me conscientemente,

sentindo como se estivesse me olhando diretamente, embora não fosse possível.

Chris inclinou-se para o ouvido de seu irmão e sussurrou ruidosamente. – Parece

que ela pensa que você é lindo!

— Cala a boca! — Estalei.

Escutando-me, Tristan colocou um sorriso brilhante e meu estômago retorceu-se

estranhamente em resposta. Baixou a escada inferior e estendeu sua mão, que peguei

e pressionei contra meu braço. Enquanto ele ajustava o domínio, a Sra. Edmund

apareceu. Sorriu para nós e disse. — Bom, espero que vocês dois divirtam-se.

— Mãe, é só um ensaio. — disse Tristan.

— Sim, mãe, não é como se fosse um encontro, — estalou Chris.

Por um momento, sua mãe e eu movemo-nos incomodamente, depois de uma

recordação não tão sutil do porquê eu estava ali. Dei um passo para a porta, atraindo

Tristan, e disse. — Bom, dessa maneira não terás que esperar por ele.

— E você recebe um cheque de pagamento. — Acrescentou a Sra. Edmund.

15

Care Bear: Aqui no Brasil é conhecido como “Ursinhos Carinhosos”.

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Traduções 4Love

Ela e eu compartilhamos um sorriso terrivelmente incômodo, e eu saí pela porta

com Tristan. Respirei uma vez que estávamos sentados em meu carro. — É bom estar

fora desse lugar, uh?

— Sim. — Tristan esfregou o queixo com a mão enquanto eu trazia vida para meu

Camry. — Então, sabe como chegar a Clarence?

— Uhum. — coloquei meu carro na entrada. Nunca estivera lá dentro, mas por ser

uma nativa de Grayfield, sabia como chegar lá.

— Chegaremos atrasados, — disse de maneira casual. Logo ficou em silêncio e eu

soube, simplesmente soube, que estava esperando que dissesse o porquê.

Tentei ficar tranquila enquanto o silêncio fechava-se. Concentrei-me nas luzes

ricocheteando sobre o escuro caminho... Escutei o suave tamborilar da chuva

enquanto começava a cair sobre o capô de meu carro... E, em uma torrente de

palavras, cedi. — Foi minha família! Há dez anos, meu irmão saiu de casa. Tinha minha

idade. Nunca voltou e, sei que soa estranho, mas mamãe tem esses jantares memoriais

para ele que não posso evitar. E simplesmente saí, embora não tivéssemos chegado à

sobremesa.

— Do que você está falando? — Interrompeu Tristan.

Estúpida. Estúpida. Estúpida. Por que abrira a boca? Tinha dito muito. Tentei cobrir

meu vômito de palavras. — Nada.

Tristan virou para mim. – Não, isso foi alguma coisa. Algo sobre seu irmão e a

sobremesa?

Ele realmente sentia curiosidade ou era um mentiroso muito convincente. Sacudi

minha cabeça, perguntando-me como poderia explicá-lo. — Minha família está louca.

— Minha família... Não sabe da metade disso. — Deu um pequeno sorriso.

O quê? Alguém não foi aceito em Harvard? Respondi pouco convincente. — Oh,

de verdade?

Mudando descaradamente de tema, Tristan disse. — Provavelmente deveria

saber, nunca houve uma declaração oficial.

Franzi a testa. — Hã?

— Uma declaração oficial ao corpo estudantil de Clarence. — suspirou. — Do que

aconteceu comigo.

— Nunca disse nada a eles?

Ele disse com desdém. — Bem, Clarence não é uma escola muito grande e minha

mãe conhece as pessoas do conselho estudantil.

— Deixá-lo nas mãos do moinho de rumores... Essa é sempre a maneira de

proceder. — burlei.

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Traduções 4Love

— Oh, eles são profissionais.

Encontrei a entrada da Clarence, que estava marcada por uma letra dourada

enorme. Meu carro rangeu quando virei para o estacionamento. Imediatamente

enfrentei a compreensão de que eu parecia ser a única que tinha, entre os quase

quarenta veículos, o único carro que valia menos de $50 mil. Cuidadosamente deslizei

minha Camry entre um Hummer e um Ferrari.

Tristan e eu caminhamos ao redor da Clarence por uma calçada bordada com

arbustos bem cuidados e sem uma só erva daninha. Pelas luzes no estacionamento,

podia ver que o cimento estava inesperadamente vazio de cigarros ou inclusive de

velhos chicletes, diferente de minha escola. Viramos na esquina, para frente da escola,

e ofeguei ante a vista. O colégio Clarence era lindo em um estilo gótico, um edifício

impressionante de obra de pedra cinza talhada. No meio do circular avanço. Tinha um

pequeno parque com dois carvalhos velhos e uma estátua de mármore de uma

pantera, a mascote da escola.

Enquanto nos aproximávamos das pesadas portas da entrada, uma limusine preta

estalou ao parar na entrada. A porta do carro abriu-se e pude escutar uma garota

gritando. — Poderia voltar em uma hora? Não posso imaginá-los alongando isso por

mais tempo. — A loira subiu e olhou-nos brevemente, antes de concentrar-se em ajustar

sua saia justa. — Não estão felizes de que está quase terminando? — Olhou para cima

de novo, por mais tempo, e sua boca abriu-se. — Tristan?

Ele assentiu em sua direção e eu movi meus pés incomodamente.

— Oh meu deus! Você está aqui! — ofegou e logo olhou-me, levantando uma

sobrancelha ante minha saia camponesa. — Quem é você?

— Sou Amy Turner. — Estendi minha mão e tentei sorrir.

— Kristy Whitton. — Apertou minha mão fortemente e sorriu com um sorriso

perfeitamente falso. — É um prazer.

Podia dizer pelo brilho em seus olhos que tinha um milhão de perguntas que

queria fazer-me, mas Tristan disse. — Já estamos atrasados. Devemos entrar.

— Tem razão. — Arrastei-o para frente.

Kristy abriu a porta e disse. — Bom, tenho certeza que conversaremos mais tarde,

Amy, — antes de precipitar-se no interior.

Entramos em um corredor comprido com um tapete azul marinho. Tapete, qual

colégio tem tapete? Claro, não era felpudo, mas ainda assim era antinatural. As

paredes sustentavam centenas de placas de excelência em vários esportes e em

excelência acadêmica. Mais abaixo o corredor escurecia-se, e pude ver armários

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Traduções 4Love

pintados de vermelho escuro com portas de madeira fechadas. De verdade, o lugar

lembrava mais um escritório que uma escola.

A mão de Tristan inesperadamente deslizou de meu braço para envolver minha

cintura. Tremi quando respirou em minha orelha. — Apenas finja.

Oh, eu podia fazer isso. Espera... O que estamos fingindo?

Não tive a oportunidade de responder. Eu estivera seguindo Kristy à distância,

então quando virou em uma esquina e entrou em uma sala à direita, eu também o fiz.

Assim que entramos, todo mundo no interior virou-se para nos olhar. Senti-me passar por

todos os tons de vermelho enquanto Tristan aproximava-me ainda mais. E logo soube o

que estávamos fingindo tão claramente como se tivesse me dito: estamos deixando

que seus colegas de classe reconhecessem que ele não estava cego, que estivera em

alguma aventura misteriosa com uma garota misteriosa. Eu, o apoio.

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Traduções 4Love

Capítulo Cinco

Se tivesse em sã consciência, teria saído exatamente nesse momento. Mas estava

congelada. Estávamos em uma grande sala, provavelmente do tamanho de duas salas

de aulas juntas, e aqui estavam aproximadamente cinquenta estudantes do último ano

da Clarence olhando-me fixamente. Todos eles estavam no nível de Rodeo Drive16, com

trajes elegantes e mesas redondas cobertas – honestamente – com toalhas brancas. Na

parte dianteira da sala, uma tela gigante estava suspensa no teto e projetava o que

parecia ser o esboço de sua formatura. Um homem mais velho estava de pé atrás de

um pódio, seu indicador a laser assinalava algo na tela enquanto ele, também, olhava-

me fixamente.

Fiz uma careta, abaixei minha cabeça, e atraí Tristan para a mesa mais próxima.

Enquanto me movia para uma cadeira para sentar-me, ele golpeou sua perna contra o

assento justamente a meu lado. Tirou sua mão de meu quadril e, discretamente

tocando o comprimento da cadeira, conseguiu sentar-se. Na frente da sala, o homem

limpou sua garganta, reclamando a atenção de todos, e explicou: — Agora, como

estava dizendo antes que o Sr. Edmund decidisse honrar a todos nós com sua presença,

sentem-se por ordem alfabética. Vamos começar...

Estava distraída pelo sussurro dos outros estudantes. No início, podia unicamente

escutar fragmentos e pedaços. Então, claramente ouvi a voz de uma garota. Virei para

ver Kristy, sentada em uma mesa próxima com outras quatro garotas. Uma estava

sussurrando. —Então, estive falando com essa garota que saiu com Tristan quando ele

era estudante do segundo ano...

— Na verdade, quem não saiu com ele? — perguntou outra.

— Você saiu, Kristy. — disse a terceira.

Kristy disparou. — Sim, mas isso foi no primeiro ano, quando ele era gostoso. Agora

olhe para ele. — Todas as garotas viraram e apressadamente virei a cabeça para a

tela. — Ele está usando óculos escuros aqui dentro. Não costumava ter que se esforçar

tanto para ser legal.

16

Romeo Drive: é o nome de um famoso e longo quarteirão de Beverly Hills, no Condado de Los Angeles

nos Estados Unidos. Esse quarteirão é considerado um dos mais caros do mundo.

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Traduções 4Love

Ei, não acho que esteja tão ruim! Não que eu esteja me perguntando como ele

fica sem óculos.

— Acha que ele está cego? — Perguntou a quarta garota.

A primeira garota disse impacientemente. — Como te disse, estava falando com

essa garota que saiu com Tristan e ela disse que ele queria dedicar todo seu tempo a

montar em seu cavalo. Pode acreditar?

— Qual é. — Quase pude ver Kristy revirar seus olhos. — Tristan e eu estávamos

sempre vadiando.

— Mas eu não acho que ele sequer tivera um encontro esse ano, — sussurrou a

outra. — Você sabe, antes de desaparecer.

Mordi minha bochecha e mantive minha cabeça olhando para frente. Elas

estavam só fazendo fofoca. Só boatos. Quem se importa sobre seu histórico de

encontros, de qualquer forma? Tentei concentrar-me no Senhor que estava dizendo

monotonamente. – Agora, dêem as boas-vindas a nosso Valedictorian17, Joseph Eccles.

Ele fará seu discurso e sem dúvidas serão bem-vindas todas as críticas construtivas que

possam oferecer. Afinal, os discursos da Clarence têm uma história de... — Blá. Blá.

Incapaz de resistir por mais tempo, aproximei-me de Tristan e sussurrei. — Então,

exatamente quantas das... – lancei um olhar ao redor da sala. — trinta garotas de sua

sala já ficaram contigo?

— Só uma era do último ano, mas eu já fiquei com treze garotas da Clarence. —

respondeu com facilidade. — Mas tive mais encontros, se quer saber.

Murmurei. — Que humilde, Romeo.

Respirando superficialmente, tentei não pensar no porquê me incomodava que

ele tivesse saído com tantas garotas. Por que isso não era de minha conta, não era! Eu

tive encontros antes, embora nem de perto fossem tantos garotos... Que seja.

Vagamente escutei aplausos enquanto o Valedictorian, ou qualquer que seja seu

nome, terminava de falar. O homem mais velho, que suponho seja o diretor, reclamou

seu pódio. — Obrigado, Joseph. Espero com interesse seu discurso amanhã. Agora,

teremos um breve descanso. Se tiverem sede, a APM18 fornecerá refrigerantes. Em dez

17

Valedictorian: nos EUA, o valedictorian é o orador e o melhor aluno da turma, que teve a maior média

de notas da escola.

18 No original, PTA (Parents-Teachers Association), que significa Associação de Pais e Mestres.

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Traduções 4Love

minutos escutaremos as notas de Salutatorian19 de Sarah Tyson e logo o Corpo Estudantil

nos dirão seus planos para o baile depois da graduação.

As conversas que eu escutara em sussurros cresceram a decibéis mais fortes.

Empurrei minha cadeira da mesa e perguntei a ele com forçada amabilidade. — Quer

alguma coisa?

Parecendo incômodo, Tristan cruzou seus braços e disse. — Não sei, uma coca-

cola?

— Ok. — caminhei para o lado da sala onde tinha uma mesa com latas de

refrigerantes e pratos com bolachas. Estava olhando os numerosos tipos de sanduiches,

perguntando-me qual escolheria para mim, quando senti alguém aproximando-se de

mim. Virei-me e pulei, vendo Kristy olhando-me fixamente apenas a uns centímetros.

Estampei um sorriso em meu rosto. – Oh, oi!

— Oi. Amy, não é? — Ela tranquilamente estendeu uma das mãos e pegou um

biscoito doce. — Então, está ficando com Tristan?

— O quê? — Estava surpresa pelo atrevimento de sua pergunta. — Uh, não. Sou

sua... Assistente.

— Oh, assistente? — Kristy inclinou-se mais perto de meu espaço pessoal. – Então,

Tristan realmente está cego? Ou está fingindo por que não quer voltar para a escola?

— Não acredito. — Olhei para Tristan, que parecia estar olhando para o espaço

enquanto a sala zumbia a seu redor. Esse era um elaborado plano para não ir para a

escola? Não tinha pensado nisso antes. Disse tentativamente. — Uma vez, vi-o

tropeçar...

Kristy assentiu. Mas continuou falando sobre mim. — Se eu fosse você, gostaria de

estar certa disso. Ele poderia estar fugindo da escola só por que quer evitar... alguém. —

ela afastou o olhar por um segundo e sabia que se referia a si mesma. - E ele odeia

cerveja. Ele não beberia de jeito nenhum, se pudesse ver a lata.

Duvidei, minha mão afastou-se da lata de coca-cola para a sedutora lata de

cerveja na mesa. Ele não podia estar me enganando, então por que queria descobrir

sua mentira? Inclusive seu irmão tinha dito que pensava que ele não voltaria a... Meus

dedos fecharam-se ao redor da cerveja e caminhei de volta para a mesa. Abrindo a

lata, empurrei para sua mão. Meu estômago contraiu-se de expectativa enquanto eu

dizia. — Aqui está.

19

Salutatorian: Nos EUA, o orientador é o estudante que tem maior média de notas, o mais inteligente, o

primeiro da classe. Já o Salutatorian é geralmente o próximo estudante no ranking da turma da escola.

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Traduções 4Love

A sala ficou em silêncio. Talvez por que a Salutatorian estava parada no pódio

quando Tristan levou a lata a seus lábios. O mundo parecia ir em câmera lenta.

Observei enquanto ele tomava um grande gole e fazia uma careta imediatamente.

Bateu a lata na mesa e sussurrou. — Merda! Acha que foi divertido? — Empurrou a

cadeira para trás e levantou-se. — Eu mesmo pegarei!

A sala estava agora com toda certeza, completamente e totalmente em silêncio.

Podia sentir cem olhos olhando fixamente em nossa direção e logo os risos começaram.

Foi horrível, fortes gargalhadas. O pior de tudo foi que pude ver como o barulho refletia-

se no rosto horrorizado de Tristan, quando notou a cena que nós causamos. Ele deu um

passo para frente, com a intenção de fugir, mas minha cadeira estava em seu caminho

e, em um desastroso movimento, ele caiu sobre seus joelhos.

As suaves risadas replicaram-se e viajaram como ondas através dos malvados

sussurros enquanto me colocava a seu lado. Falei em voz baixa. — Oh, não, oh não.

Sobre os sussurros, escutei Kristy ofegar. — Ele realmente é cego.

Sentindo meu toque, Tristan afastou minha mão e grunhiu. — Afaste-se de mim!

Bem, obriguei-me a dar uns passos para trás para recomeçar. Espere um minuto...

Eu não vou começar outra vez do zero! Sei que cometi um grande e grave erro, mas

não podia me afastar e deixá-lo abatido. Com um ânimo renovado, envolvi meu braço

ao redor de sua cintura e o ajudei a levantar-se. — Vamos. Temos que sair daqui.

Desta vez, ele não resistiu.

Saímos, onde uma ligeira chuva seguia caindo do céu. Sem saber o que dizer,

guiei-o sem palavras para a porta do passageiro. Enquanto me dirigia para o lado do

condutor, escutei-o declarar em voz baixa. — Vou para casa.

Dessa vez, não tinha outra escolha a não ser seguir suas palavras.

A viagem de volta para a casa dos Edmund foi um borrão de escuridão

tenebrosa e chuva. Sentia como se tivesse fugindo de mim mesma, dentro de um

solitário lugar escuro e perguntei-me se era assim que Tristan sentia-se sem sua visão.

Aturdida, estacionei meu carro perto das escadas e ele queria sair por conta própria,

mas parou com sua mão na maçaneta da porta. Disse em voz baixa. - Amanhã, tenho

que estar lá às sete. Não chegue tarde dessa vez.

Com isso, saiu e fechou a porta em um golpe. Estremeci com a rajada fria que

entrou em meu carro. Observei até entrar em casa. Sabia que, esta noite, ele não

queria mais minha ajuda. Rapidamente quando vi a porta fechar-se, afastei-me da

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Traduções 4Love

calçada. Em um movimento contra a segurança do condutor, estendi minha mão e

busquei em minha bolsa meu celular. Discando rapidamente, pressionei contra meu

ouvido.

O celular soou por um segundo e logo uma voz familiar perguntou. — Oi?

— Oi, Ahna.

— Amy? — Ela falou como se pensasse que eu estivesse morrendo. — Oh meu

Deus, o que houve de errado?

Ri tremulamente por seu tom. — Nada. Só arruinei minha vida, isso é tudo.

— Está chorando?

— O quê? — toquei em minha bochecha e me surpreendi ao perceber que

estava molhada. — Uh, sim.

Podia sentir Ahna ficando séria por que eu não era chorona. Ok, talvez enquanto

assistia filmes da Disney, mas era só isso. — Diga-me o que aconteceu.

Liguei o limpador de meu carro, mas não fiz nada para evitar minha visão borrosa.

Com um suspiro, estacionei no lado da estrada. — Bom, tentei apressar o jantar como

planejamos, mas não funcionou e tive que ir...

— Deixar um jantar do Charlie? — Só Ahna podia entender a importância de uma

coisa tão aparentemente pequena. — Sua mãe deve ter ficado louca!

— Mas isso não é o pior! — Gemi. — Levei Tristan a essa coisa de ensaio e a

maioria dos Clarencienses nem mesmo sabiam que ele era cego. Ele colocou seu braço

a meu redor...

— Oooh, – ela cantarolou.

— Acho que ele queria que eles pensassem, não sei, que eu era a razão pela qual

ele se foi ou algo assim, quero dizer, por que apareceria do nada com uma garota, não

é?

Ahna apressou-se a sair em minha defesa. — Então, estava te usando como um

acessório? Que palhaço!

— Bom, os Clarencienses de verdade acreditaram e... — minha voz desvaneceu-

se.

— E o quê? — demandou.

Ruborizada, admiti. — Dei uma bebida diferente para ver se ele estava fingindo

ser cego.

— Amy, sério, quem fingiria algo como isso?

Cobri meus olhos com minha mão e tentei explicar. — Não sei, mas ali estava uma

garota e estavam falando que ele saiu com todas essas pessoas e... Logo ele caiu.

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Traduções 4Love

Houve um momento de silêncio e então gritou tão forte que tive que afastar o

celular de minha cabeça. — Preparaste uma armadilha outra vez?

— Uh, minha cadeira estava... — Sequei as lágrimas que estavam nas minhas

bochechas. — Eu sei: sou uma estúpida.

— Meu Deus, Aim! Não quer manter o trabalho com o melhor salário em

Grayfield? Sem mencionar que você gosta dele...

— Eu não gosto!

Podia sentir Ahna revirando seus olhos. — Sim, que seja. Mas, você não deveria

deixar que os Clarencienses te afetassem, você é melhor que isso, Aim. Conheço-te.

Lembra quando estávamos no sétimo ano e você vestia camisas feitas de sacola

porque sua mãe disse que os meninos nas fábricas ilegais faziam-nas? Você pega o

caminho mais comprido, mesmo que seja difícil.

— Há, ha. Muito divertido.

— Sério! — Queixou-se.

— Tens razão. Não sei o que tinha de errado comigo! — Meti uma mecha de

cabelo atrás de minha orelha e sussurrei. — Acha que ele ainda está zangado?

Bufou. — Como diabos vou saber? Mas colocaremos dessa maneira: Se eu não

estivesse cega, não estaria pedindo que me trouxesse uma bebida.

— Obrigada, Ahna. — Meu coração doeu. — Você é de grande ajuda.

— Está bem, você precisa parecer sexy.

— Ahna, ele é cego!

— Veja, isso vai fazer que se sinta mais confiante. Confie em mim. — Suas irmãs

começaram a gritar de longe. — Escuta, tenho que desligar. Por que não vou ai te ver

amanhã e te dar uma mão?

— Sim! Por favor! — Roguei. Ahna não era muito melhor do que eu com a moda,

mas vivendo com tantas irmãs tinha aprendido algumas coisas. Sem sua ajuda, acho

que não poderia me arrumar nem mesmo para uma única dança.

Os gritos para Ahna, que monopolizava o celular, fizeram-se mais fortes. — Só um

minuto, — sussurrou e logo me disse. — Ele estará babando nos seus pés muito

rapidamente.

— Não é exatamente o que tenho em mente.

— Certo. — riu.

— Boa noite, Aim.

— Boa noite.

Desliguei meu celular e arremessei de volta para dentro de minha bolsa. Ahna

está equivocada. Não queria que Tristan gostasse, gostasse de mim, apenas gostar de

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Traduções 4Love

mim. Níveis de relacionamento. Platônico. Qualquer coisa a mais seria poderia ser...

Bem, isso não aconteceria. Fiz uma pausa, fechando meus olhos e escutando o silêncio.

Então liguei novamente o carro e voltei para o caminho escuro e coloquei as

músicas do Queen.

Estava cantando para mim mesma no momento que cheguei a minha

vizinhança. Sai de meu carro, cruzando meus braços contra o frio e notei que as luzes

da varanda estavam acesas. Através das janelas, a casa parecia escura, apesar de

não ser tarde. Abri a porta principal e deslizei para dentro, tocando minha mão contra

a parede para guiar-me. Enquanto entrava na cozinha, as luzes acenderam-se e pisquei

surpresa.

Papai sentou em uma das cadeiras da cozinha. Ele parecia mais cansado do que

seus cinquenta anos exigiam. Preocupei-me pelo que ia me dizer, mas sorriu para mim.

Peguei a cadeira e ele fez um adiantamento enquanto me perguntou. — Como foi essa

noite?

Suspirei. — Oh, tudo bem.

Assentiu e esfregou a linha de sua testa. — Sua mãe e eu tivemos uma longa

conversa esta noite. Notamos que estamos colocando muita pressão sobre você, todos

esses anos, sobre os jantares. Não vão trazer Charlie de volta e não é justo esperar que

viva sua vida em função deles. Afinal, ano que vem irá para a Universidade de Illinois...

Fiz uma careta quando lembrei que não tinha falado sobre Evanston. Inclinei-me

para frente e disse. — Não se preocupe, papai.

Seus olhos azuis brilharam com certeza. — Não, Amy, falo sério! Não vai haver

mais... Como você e a Ahna chamam? ―Jantares de Charlie‖ especiais. — ruborizei-me.

Nós sempre pensamos que meus pais não sabiam sobre nosso apelido. — Então, se

você tiver qualquer plano para amanhã à noite, pode ir fazê-lo.

— Falando nisso... Na realidade, acho que devo fazer algo amanhã à noite às

sete horas.

— Está bem.

Levantei-me e beijei-o na testa. —– Amo-te pai.

Ele deu umas palmadinhas em minha bochecha. – Eu também te amo.

Caminhei para meu quarto e, com um suspiro, lancei-me sobre minha cama. Tirei

a carta para Charlie que tinha começado e suavizei os amassados com minha mão.

Parei, mordendo a caneta em minha boca enquanto pensava, antes de acrescentar

na borda da página:

OBS.: Não se preocupe em vir esta noite. Não é como se pudesse chegar a

tempo, de qualquer forma. Acabo de falar com papai e acho que eles vão relaxar nos

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Traduções 4Love

jantares. Finalmente. É difícil de acreditar. Não é que eu não ame você, claro que sim,

mas acho que todos nós sabemos que prefere cair morto a voltar pra cá. Espero que

desfrute Cali! Em sua próxima carta, assegure-se de realmente me dizer o que está

fazendo!

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Capítulo Seis

— E quanto a este? —Levantei um vestido preto com um cinto de cor rosa forte,

mas Ahna franziu a testa.

— Preto em uma formatura?

— Não sei. — Botei minhas mãos no ar. — Você procura.

Peguei o posto de Ahna em minha cama e ela pulou para o armário. Explicou. —

Precisa de algo que a faça se destacar. — sacudiu seu cabelo e tirou um vestido. —–

Alguma coisa de cor vermelha.

Coloquei-me de pé e peguei o cabide. Examinei o vestido: tinha um padrão de

flores de renda sobre o tecido acetinado, com a parte de cima canelada e com alças.

Lembrei-me, — Baile de boas vindas de meu primeiro ano.

— Meu segundo encontro com o Lyle. — disse Ahna com nostalgia.

— Meu único encontro com... — enruguei o rosto ante a lembrança. — Scott

Lancaster.

— Ele não apertou sua bunda?

— Sim! Em cada dança, rápida ou devagar! — Queixei-me.

Ahna sorriu. — Bem, terá melhor sorte nesta noite. Coloque e eu vou buscar sua

maquiagem.

Ri enquanto ela dirigia-se ao banheiro, ela conhecia-me muito bem. Exceto em

ocasiões especiais, nunca usava maquiagem, graças à influência de minha mãe,

então, geralmente terminava enterrada no fundo de uma gaveta no banheiro. A

preparação para um baile não estava completa sem que Ahna passasse quinze

minutos resmungando enquanto cavava nas gavetas em busca de meu único lápis

labial. Mas para isso é que servem as amigas.

Tirei a camisa, os jeans e deslizei no vestido. O tecido estava suave contra minha

pele enquanto me olhava no espelho. O vestido chegava aos joelhos com um pequeno

babado. Não pude deixar passar a oportunidade de girar em um círculo e cantarolar

―A dama de vermelho”20. Sabia que não estava destinada a um contrato de modelo,

20

A dama de vermelho: é um filme de 1984, do gênero comédia, dirigido por Gene Wilder. O filme ficou

mais conhecido pela música de Stevie Wonder, "I Just Called To Say I Love You".

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4

Traduções 4Love

mas tinha algo em estar vestida de vermelho que me fazia sentir linda. Ahna estava

certa, era esse.

Quando coloquei um par de sandálias de salto alto vermelhas, alguém me

chamou na porta de meu quarto. Ahna entrou empurrando-a com o pé. Ela estava

armada com um aparelho para curvar cílios em uma das mãos e um delineador de

olhos em outra. Mantendo-os no ar falou. — Quando terminar contigo, Tristan não será

capaz de afastar seus olh... Er, sua mente de você.

Enquanto dirigia para o portão dos Edmund, vi que estava aberto. O Déjà vu deu

a meu estômago com náuseas um toque nervoso. Empurrando um fio de cabelo solto

atrás de minha orelha, parei na entrada. Imediatamente tive que me desviar quando

uma mulher passou levando uma travessa na frente de meu carro. Apertando os freios,

percebi que o estacionamento estava repleto de camionetes brancas que diziam

Serviço de Bufê Platina nos lados. Avancei minha Camry o mais perto da entrada

quanto era possível, estacionando-a junto a uma das camionetes.

Saí de meu carro, brincando um pouco de amarelinha quando um de meus saltos

prendeu-se no pavimento. Ótimo. Agachei-me, trabalhando devagar em minha

sandália e escutei um assobio. Sacudi a cabeça para ver Chris de pé na parte superior

da escada junto a Tristan. Pequeno menino pervertido. Inclinou-se para seu irmão,

murmurando em voz alta. — Trist, ela está muito linda!

Minhas bochechas queimaram e Tristan deu a seu irmão um tapa na parte

posterior da cabeça. — Cala a boca! Ela pode ouvir-te!

— Oh. — Chris olhou seus pés, enquanto esfregava a cabeça.

Dei a meu pé um forte puxão e minha sandália ficou livre. Fiz clic com meus saltos

no caminho pelas escadas e parei junto a Tristan.

— Oi. O que é tudo isso?

Tristan estava vestido com uma camisa branca, gravata preta e calças. Tudo

coberto com um casaco preto tradicional. Completando com seus óculos escuros,

parecia que tinha saído de uma sessão de fotos. Com uma das mãos agarrou seu

barrete21 de formatura e com a outra roçou seu cabelo.

— Minha mãe está dando uma festa de pós-graduação, — virou sua cabeça

para mim, — para os membros do conselho escolar.

21

Barrete de formatura: aquele chapéu que os formandos usam, parece-se com um chapéu quadrado.

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5

Traduções 4Love

Oh. As pessoas a quem tinha pagado. Desajeitadamente cocei a nuca. —– Ok,

bem, é melhor nós irmos... Não quero chegar atrasada.

Ele deu uma breve gargalhada. — Não, isso não pode levar a nada bom.

Enquanto guiava Tristan a meu carro, Chris disse cantarolando. — Divirtam-se!

Revirei meus olhos e sentei no banco do motorista.

— Sim, nos vemos lá, menino!

— Isso vai ser bom. — disse Tristan sarcasticamente enquanto abri a porta do

carro.

— Acho que não está emocionado. — Olhei para vê-lo tirar sua gravata. — A

formatura é uma dessas ―grandes coisas‖ na vida que acho que lembrará para sempre.

— Pensei que os nascimentos, casamentos e funerais cobriam quase tudo.

Depois de manobrar cuidadosamente ao redor das camionetes do serviço de

bufê, saí sã e salva para a estrada e pisei no acelerador. Perguntei. — Está falando por

experiência própria?

— Bom, vi Chris e a Marly imediatamente depois de seu nascimento, feito. Fui

padrinho no segundo casamento de meu tio, feito. E o funeral... — fez uma pausa e sua

voz perdeu parte de seu sarcasmo. — Vivi muito de perto. Quero dizer, enterrar seu pai...

não é algo que pode esquecer.

Lambi os lábios secos e disse em voz baixa. — Isso deve ter sido terrível.

Tristan mexeu-se em seu assento. — Tive dias melhores.

Levantei as sobrancelhas com surpresa. Tristan tinha um dom para o uso de seu

sarcasmo para evitar falar de coisas difíceis. Mas, de novo, eu também tinha, então não

estava em condições de reclamar. Em silêncio chegamos ao estacionamento da

Clarence dez minutos antes do tempo. O estacionamento estava cheio de carros caros,

polidos. Por sorte, encontrei um pequeno espaço perto da calçada onde uma Hummer

e um Suburban não podiam nem sonhar em encaixar-se, enquanto que minha Carmy o

fazia muito bem.

Caminhei ao redor de meu carro, enquanto Tristan saía de seu lado. Quando ele

pegou meu braço, perguntei timidamente. — Então, não vai mais ter um braço ao redor

da cintura?

Ele franziu a testa e disse. — Eu acho que ninguém vai questionar o porquê de

estarmos juntos, nunca mais.

Ouch. Tinha um ponto.

Segui a linha de familiares que estavam formalmente vestidos para a

apresentação desde o estacionamento até o edifício. Entramos por um corredor e em

um grande ginásio com piso de madeira. Tinha filas e filas de assentos de couro

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4

6

Traduções 4Love

acolchoados que deixavam com vergonha as cadeiras dobráveis oxidadas que eu

sabia que ia encontrar em minha formatura. Elegantes bandeiras que continham

ferozes panteras penduradas no teto. Em outro extremo da sala tinha um pequeno

cenário no qual várias mulheres e homens mais velhos, incluindo o diretor, estavam

sentados.

Muitos dos companheiros de Tristan já estavam em seus assentos e viraram-se ao

nos ver caminhar pelo corredor. Mantive a cabeça para frente e corri para a primeira

fila onde dois assentos estavam esperando, supus que sua mãe tinha preparado isso,

também. Depois de sentar-nos, a mão de Tristan permaneceu firmemente ao redor de

meu braço. Dei uns tapinhas em sua mão para reconfortá-lo. Sua pele estava como o

gelo!

Sussurrei. — Nervoso?

Seu rosto ficou rígido, Tristan rapidamente mentiu. — Não. — Deu de ombros. Ele

não tinha que me dizer. Um momento depois, inclinou-se para mim. – Pode sentir?

De fato, podia. Ter uma centena de pessoas olhando-te é difícil de ignorar.

Apertei a mão e em voz baixa disse. — Vai ficar bem.

As luzes da sala apagaram-se e o Valedictorian e o Salutatorian alternaram-se no

pódio dando seus discursos do futuro e das grandes possibilidades para nossa geração

e o que seja. Ambos eram lentos e monótonos, o suficiente para me perder depois de

trinta segundos. Os aplausos da multidão e o brilho das luzes do ginásio trouxeram-me

de novo a realidade.

Detrás do cenário, a orquestra começou a tocar Pomp and Circumstance22 e o

nome de Michelle Anderson retumbou na sala. Michelle, apenas estava a cinco

cadeiras de distância, levantou-se e começou sua subida ao pódio. Foi seguido por,

Kelly Brighton, Peter Darmon, e Nicole Dunne. Depois que cada nome fosse lido, o

público aplaudia selvagemente. Joseph Eccles, da última cadeira à esquerda de

Tristan, deu um assobio. Diverti-me com a visão do assobiador ofendido ao ser arrastado

pela polícia secreta Clarenciense antes de dar-me conta que era... Nossa vez!

— Tristan Edmund.

Com um trago, levantei-me e Tristan saltou sobre os pés. Chegamos à parte

superior da plataforma antes que percebesse que o aplauso era pateticamente

tranquilo, exceto da parte posterior da sala, onde Chris encontrava-se parado sobre seu

assento, batendo palmas um pouco mais barulhentas, junto com a Senhora Edmund.

Talvez fosse o vermelho de meu vestido, mas eu estava irritada. Girei sobre meus saltos,

22

Pomp and Circumstance: uma música clássica de Edward Elgar.

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Traduções 4Love

olhando a multidão, e comecei a aplaudir tão forte quanto pude. Bombeando meus

punhos no ar, gritei. — Woohoo!

Tristan apertou meu braço e aproximou-se de meu ouvido. — Amy, está tudo bem.

Ele dissera meu nome. Minha mente ficou em branco.

Os risos retornaram através do ginásio e os aplausos na seção das famílias fizeram-

se mais fortes, estendendo a seção de estudantes. Alguns dos Clarencienses deram-me

olhares irritados, cruzando os braços, e negaram-se a aplaudir, aposto que sabiam dos

subornos de sua mãe e não estavam muito felizes por ele perder um semestre e ainda

estar se formando. Sentia que estavam tentando usar sua mente para fazer-me

estourar, mas não aconteceu nada. Ao que parece, os Clarencienses não eram bons

em tudo, afinal.

No momento que a cerimônia acabou, o ginásio ecoou em uma conversa. Os

estudantes foram levados daqui para lá para posar para fotos com a tia ―Fulana de

tal‖, o avô e etc. Vi a Sra. Edmund, com Chris e Marly invadindo entre a multidão. Sra.

Edmund estava choramingando e ela lançou os braços ao redor de Tristan, enquanto

por cima do ombro disse. — O que fizeste fora maravilhoso, Amy!

Ruborizei quando a Sra. Edmund deixou Tristan e rapidamente me abraçou.

Chris queixou-se. — Devíamos bater em quem não aplaudiu.

— Christopher John, não falamos em bater nas pessoas. — Ela repreendeu com

suavidade.

Devolvi o abraço com lerdeza a Sra. Edmund. Senti-me estranha ao receber

cumprimentos na formatura de Tristan. Uma vez que me soltou, fiz um gesto para Tristan

com a cabeça. Ela franziu a testa ante a mim, como se perguntasse se estava

desenvolvendo algum tipo de convulsão. Então, finalmente, vi a luz e ela disse. —

Tristan, seu pai estaria tão orgulhoso de você!

Tristan mudou seu peso e respondeu com sarcasmo. — Sim, eu sou esse homem

muito corajoso que não pode caminhar por sua conta ou dizer o que está a ponto de

beber.

Acho que ele não tinha esquecido a coisa do ensaio. Meti uma mecha de cabelo

atrás da orelha e suspirei. Sra. Edmund e Chris encontravam-se em um incômodo

silêncio. De repente, Marly, que obviamente não estava muito certa do que estava

acontecendo, exclamou. — Amo-te, Tristan. — e lançou os braços ao redor de suas

pernas. Olhei para cima a tempo de pegar o sorriso surpreso de Tristan.

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Traduções 4Love

Ele acariciou sua cabeça e disse. — Obrigado, Marly.

— Bom, provavelmente deveriam ir andando. — Sra. Edmund disse. — A festa não

vai acontecer sozinha e esses dois têm que ir para a cama.

— Aaaahh, mamãe. — Gemeu Chris.

— Vocês vão ao baile? — Perguntou.

Tristan não soava exatamente como se estivesse com ânimo para festa.

Comecei. — Bom...

— Sim, vamos. — Intercedeu ele.

O quê? — O quê? — Seu braço deformou sutilmente minha mão contra seu lado.

Engasguei. — Oh, sim.

A Sra. Edmund sorriu, dizendo. — Muito bem. Amy, pode dar uma carona para

Tristan?

Assenti com a cabeça e a família dirigiu-se para a saída. Chris ficou para trás e,

uma vez que sua mãe estava fora do alcance do ouvido, disse. — Vocês vão beijar-se,

não é?

— Não! Fora daqui! — Tristan deu um tapa no ar e errou por pouco o nariz de

Chris. O menino sorriu maliciosamente e correu para fora da multidão.

Eu olhei incrédula. — Quer ir ao baile?

— Por que a festa de minha mãe soa muito divertida. — Ele zombou.

Certo, isso provavelmente não fora uma coisa boa. Virei-me e, com a mão

firmemente entrelaçada ao redor de seu braço, fiz nosso caminho através dos grupos

restantes das famílias. Alguns dos pais levantaram o olhar e assentiram com a cabeça

para mim enquanto passava. Tentei devolver a eles o sorriso, enquanto minhas

bochechas ficavam mais quentes. Detectei um grupo de estudantes saindo do ginásio,

comecei a segui-los na distância.

Os segui pelos corredores alinhados para a cafeteria. Na verdade, quase não

podia dizer que era uma cafeteria. Grandes ramos de balões com as cores da escola,

azul marinho e marrom, coroavam a entrada. Os pisos de madeira de cerejeira

brilhavam com os fluxos de pequenas luzes brancas que estavam penduradas no teto.

A sala estava na penumbra, com um toque de névoa para o cenário. A minha

esquerda tinha mesas cobertas com toalhas e, a minha direita estava a pista do baile,

onde a maioria das garotas mais velhas e alguns dos garotos estavam lotados,

enquanto que Fall Out Boy23 tocava.

23

Fall Out Boy: é uma banda de pop punk formada em 2001 na cidade de Chicago, Illinois.

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Traduções 4Love

Pareceu-me ouvir um barulho, pelo que recorri a Tristan e gritei por cima do som.

— O quê?

— Podemos ir nos sentar?

— Claro!

Levei-o a uma das mesas. Tristan sentou-se rigidamente a meu lado. Falou em voz

baixa, como se fosse para si mesmo, e tive que fazer um esforço para ouvir. — Essa deve

ser a cafeteria...

Fiz uma careta, mal conseguindo imaginar como seria não saber onde eu estava.

Minha voz traiu meus pensamentos, e disse com voz tremula. — Sim, está certo.

A cabeça de Tristan sacudiu-se bruscamente. — Eu já sabia, estava dizendo... —

suspirou e levantou-se. — Vou ao banheiro.

Um garoto alto, ruivo, com uma morena sorridente em seu braço apareceu atrás

de Tristan. Ele deu um tapa nas costas. — Oi, amigo, parabéns! Desculpe por não

sairmos há um tempo.

Um sorriso falso propagou-se pelo rosto de Tristan. — Obrigado, Nick.

A garota sacudiu a cabeça. — Trist, é realmente uma lástima.

Nick deu uma cotovelada, enquanto sussurrava. — Melissa.

— Quis dizer sobre o fato de não ter saído com ele! — sussurrou ela de volta.

Com um rápido movimento de sua cabeça, Tristan deu um passo para frente. —

Na verdade, estava a ponto de ir ao banheiro.

— Claro, cara, é ali. — assinalou Nick inutilmente e deu a Tristan um empurrão na

direção do banheiro, que estava na esquina da cafeteria. Gritou a suas costas. — Talvez

eu te ligue quando tiver outra festa! Talvez no lago! – olhou para mim. — Vai ao lago?

Franzi a testa. — Que lago?

— Wind Song. É em Wisconsin. — explicou. — Se está com Tristan, tenho certeza de

que ficará na cabana dos Edmund.

— Nick, ela é assistente dele.

— Oh. — Ele deu de ombros. — Bom, que seja. Vemos-nos.

— Tchau. — Disse rodando meus olhos enquanto o casal voltava para a pista de

dança.

Olhando ao redor da sala, percebi — para dizer sem rodeios — que Clarence

tinha poucos garotos atrativos. Não é de se estranhar que muitas garotas quiseram sair

com Tristan. Em primeiro lugar, só tinha uns vinte e cinco homens em toda a classe, em

segundo lugar, bom, na realidade não tinha segundo lugar, mas provavelmente eram

ricos, isso ajudava. De fato, um dos poucos garotos lindos estava caminhando para

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Traduções 4Love

mim. Eu ri de mim mesma. Provavelmente não estava caminhando para mim,

provavelmente caminhava para a soda italiana importada na mesa atrás de mim.

— Oi. Amy Turner, certo?

Ou não.

Engasguei-me. — Oi. — e aturdida apertei sua mão.

Era alto, de cabelo preto e espesso e uns olhos castanhos sem fim. Toda sua face

era escura e muito mediterrânea, muito agradável. Não é que me desse conta. Ele

sorriu com um sorriso imaculadamente branco, dizendo. — Joseph Eccles. É um prazer

conhecer-te.

Joseph Eccles, Joseph Eccles, por que esse nome me soava familiar? Oh, sim.

— Parabéns por ser o Valedictorian. Ótimo discurso, por sinal.

Joseph abaixou a cabeça e disse formalmente. — Obrigado. E eu gostei de sua...

Demonstração. Tristan merecia formar-se, sem importar as circunstâncias.

Portanto, eu tinha razão; os Clarencienses tinham se negado a aplaudir a causa

da corrupção. Assenti com a cabeça.

De repente, ofereceu suas mãos e perguntou. — Você gostaria de dançar?

Olhei com incerteza para a porta do banheiro. Bom, uma dança. Eu sorri e peguei

sua mão. — Sim, claro.

Ele levou-me para a pista quando a música mudava para uma mais lenta, não só

uma música lenta, uma brega música lenta. Honestamente. As músicas clichês e com

tenores tentando ser impressionantes com suas vibrações que me deixavam louca.

Sustentando minha mão, Joseph sorriu e deu um passo para mim. Coloquei minha outra

mão em seu ombro à medida que começamos girar lentamente em um círculo.

Surpreendi-me quando ele falou em meu ouvido. — Pode apoiar a cabeça, se você

quiser.

Sim, eu estava ciente dessa opção, mas estava vendo nesse momento a porta do

banheiro dos homens, em busca de Tristan. Tinha que mudar continuamente minha

cabeça enquanto nos transladávamos para manter em minha vista.

No momento em que Tristan saiu do banheiro, Kristy aproximou-se. Ele negou com

a cabeça quando ela falou e permitiu que o levasse de novo a mesa. Imaginei que ele

perguntara onde eu estava, por que ela apontou para a pista de dança enquanto

falava. Joseph voltou a girar-me e tive que praticamente girar completamente ao redor

de minha cabeça para ver. Pela linguagem corporal de Tristan, percebi que ele sabia

onde eu estava. E, de improviso, a realização era como uma ferida de faca em meu

estômago.

Isso não estava bem, eu não podia abandoná-lo.

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Traduções 4Love

Afastei-me do Valedictorian, desculpando-me por cima do ombro, — Desculpa.

Tenho que ir, — enquanto me precipitava para a mesa. Quando cheguei a Tristan, Kristy

falava em seu assento junto a ele. Eu disse sem fôlego. — Oi. — Ele virou a cabeça para

um lado interrogante. — A música não acabou.

— Eu sei.

Um sorriso cruzou o rosto de Tristan e Kristy olhou furiosa. Ela disse. — Você não é

de muita ajuda para ele na pista de dança, não é?

Introduzi uma mecha de cabelo atrás de minha orelha e disse. — Tem razão,

deveria estar...

— Dançando comigo. — concluiu Tristan, surpreendendo tanto a mim como a

Kristy, pela expressão de seu rosto. Ele ficou de pé e meu estômago retorceu. — Amy?

Kristy levantou-se em um salto, tirando da bainha de seu curto vestido, e tentando

buscar as palavras, — Você... Tem certeza de que pode dançar?

Tristan manteve a cabeça focada em mim e disse com desdém. — Tive três anos

de formação formal, enquanto estava na escola primária. Não tive que olhar meus pés

desde que tinha seis anos. Acho que posso fazer isso.

Pegou meu braço e movemo-nos para a pista de dança, longe de uma Kristy

com a boca aberta. Oh, sim, muitas cabeças viraram-se em nossa direção. Juntei as

mãos ao redor de seu pescoço e suas mãos encontraram-se na parte baixa das minhas

costas. A música tinha mudado para outra música lenta, uma de Josh Grobran que

sempre fazia Ahna chorar, embora nunca admitisse. Fiel a sua palavra, Tristan não pisou

em meus pés. De fato, percebi que estávamos dançando quase a um pé de distância.

Isso não era o ensino médio!

Eu sabia que Tristan continuava pensando em como eu o tinha traído no ensaio.

Com muito cuidado inclinei-me para seu ouvido e sussurrei. — Desculpe, por ontem.

Sempre tão sutil, senti-o relaxar. Ele respondeu. — Você não tinha que fazer aquilo

no pódio.

— Sim, tinha.

A mão de Tristan pressionou contra minhas costas e senti me aproximar até que

minha cabeça estava apoiada em seu peito quente. Fechei os olhos e senti sua

constante subida e descida. Respirei profundamente e meus braços apoiaram-se com

mais segurança ao redor de seu pescoço. O mundo de repente era simplesmente de

canela e sândalo. Eu não me lembrava de ter me sentido tão contente. Muito

rapidamente, a música acabou. Gemi quando Tristan deu um passo para trás e agarrou

meu braço. — Talvez devêssemos ir. — talvez as pessoas não devessem se mover

quando a outra pessoa se sente... Oh, que seja.

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Capítulo Sete

O trajeto através da noite foi pacífico, mas quando desliguei o motor do carro,

estendeu-se de novo em um silêncio incômodo. Fiquei sentada, sentindo-me

estranhamente nervosa, perguntando-me por que ele não se abaixava, perguntando-

me se achava que eu diria alguma coisa e perguntando-me todas essas coisas que se

pergunta no final de um encontro – não que fosse um encontro! De repente, Tristan

rompeu o silêncio. — Quero que entre, mas tenho que te advertir sobre minha mãe.

Nesse tipo de coisa, pode ficar... Embriagada.

Honestamente, quão bêbada poderia estar? Ela tinha ido, talvez, uma hora antes.

Dei de ombros. — Ei, minha mãe tem estado num piquenique na maior parte de minha

vida.

Ele franziu a testa como se não entendesse e logo abriu a porta. — Está bem.

Deslizei-me para fora do carro e logo fiz uma pausa. Espere, por que estava

convidando-me para entrar? Isso era parte do trabalho, certo? Eu não podia, nós não

podíamos... Sair. Ignorando meu cérebro, caminhei com ele até a porta. Ele perguntou.

— Está pronta? — E pressionou a campainha. Desde dentro, pude ouvir o som de bate-

papo e de música clássica. Houve um estrondo, seguido de risos, e então a porta de

abriu de repente.

A Sra. Edmund estava parada na entrada, seu cabelo ligeiramente despenteado

e seus olhos brilhando. No vestíbulo atrás dela pude ver um garçom de joelhos,

limpando fragmentos de um copo quebrado. Um jovem garçom pressionou uma taça

de champagne na mão da anfitriã, enquanto ela em grande medida nos sorria.

Ela ressumou, — Oh, que encantadores vocês dois parecem, — e eu tentei

devolver o sorriso. Ela moveu a cabeça, presumivelmente para o garçom que se

afastava, e continuou articulando errado. — Essa é a babá de meu filho.

Bom, definitivamente estava bebendo.

Vários dos administradores, que reconheci na formatura, estavam parados em

grupos ao redor do estúdio e viraram-se em nossa direção. Sentindo-me envergonhada

por Tristan, tentei mover-me para as escadas. — Tudo parece maravilhoso, Sra. Edmund.

— Obrigada, querida. É tudo obra do provedor, oops! — a taça caiu de seus

dedos e fez-se em pedaços contra o piso. Ela franziu a testa. — Oh, essas coisas são tão

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Traduções 4Love

escorregadias. — elevou uma das mãos e tentou sussurrar para mim. — Fico nervosa

quando sou anfitriã.

— Não se preocupe. — disse enquanto começávamos a subir as escadas. —

Talvez se tomasse um pouco de café?

Quando chegamos ao segundo piso, Tristan suspirou. — Não foi divertido?

Apertei seu braço. — Ei, está bem. Quando eu tinha quatro anos, minha mãe

decidiu que devíamos tentar liberar todos os animais do zoológico. Eu fui a garota mais

jovem em passar um tempo na cadeia de Grayfield. Papai estava furioso.

Tristan sorriu. — Parece que realmente tens uma família.

Entramos em seu quarto e fechei a porta para manter o barulho fora. Deixei-me

cair sobre a borda da cama junto a ele e alisei meu vestido. Tristan tirou a gravata e

sacudiu a cabeça. — Que noite.

Minhas bochechas ruborizaram-se quando me lembrei do baile. — Sim.

Estava tão ocupada recordando que quase perco suas palavras seguintes. —

Quero te ver.

— O quê? — Ofeguei, as batidas de meu coração dispararam como um foguete.

— Quero te conhecer, saber como se parece. — Disse fracamente e estendeu sua

mão.

Eu respirei. — Oh. — e guiei sua mão a meu rosto. As pontas de seus dedos

descalçaram delicadamente contra a pele de minha testa e lentamente roçaram a

linha de meu cabelo. Não pude reprimir o calafrio que percorreu minha coluna. Fechei

os olhos e senti seus dedos sentindo seu caminho para baixo, traçando os arcos das

minhas sobrancelhas. Suavemente se moveram sobre meu nariz para os ossos das

minhas bochechas. Mal podia respirar, mas uma pergunta incomodava no canto de

minha mente. Murmurei. — Por que saíste com todas essas garotas?

— Algumas vezes, você está só procurando alguém certo.

Oh, era uma frase. É só uma frase. Mas que frase.

Por um momento, sua mão afofou contra minha bochecha. Estava me

afundando em seu contato, antecipando seu movimento seguinte enquanto ele...

descobria-me. Na escuridão atrás de minhas pálpebras, estava intensamente

consciente de cada barulho, o som de suas exalações. Na maior parte, enquanto seu

polegar acariciava meus lábios, eu estava invadida pelo desejo de saber tudo sobre

ele. Se eu só pudesse vê-lo sem seus óculos. Se só... Sua respiração era uma tíbia em

minha pele e sua mão tinha estava contra meu cabelo. Queria olhar, mas...

— Ahh!

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Traduções 4Love

Com meus sentidos aumentados, o som da maçaneta girando causou-me

pânico. Afastei-me de Tristan com um pulo justamente quando a porta abriu-se. Chris

parou ali com seus braços cruzados. Vestia seu pijama, embora estivesse bem

acordado. Franziu a testa enquanto olhava de mim, e eu provavelmente estava branca

como um fantasma, para Tristan. Sua voz era de suspeita. — O que vocês dois estão

fazendo aqui?

Tristan franziu a testa. — Nada. Deveria estar na cama.

— Papai sempre te disse para manter a porta aberta.

— Bem, papai não está aqui agora, não é? — respondeu bruscamente.

Os olhos do garoto abriram-se e sua boca formou uma linha dura.

— Escuta, eu... — Tristan suspirou e explicou. — Desculpa. Não sabia que estava

fechada.

Chris olhou o tapete. — Está bem... Mamãe só... É barulhento.

— Ela pode ficar bastante... entusiasmada nas festas, sabe? — Tristan deu de

ombros. – Às vezes os grandes jogam ruidosamente.

O rosto de seu irmão iluminou-se. — Você quer jogar?

O sorriso de Tristan foi amargo. — Não sei se sou muito competente ultimamente.

— Podemos jogar juntos. – eu disse rapidamente. — Como soa isso?

Chris assentiu avidamente e correu para fora do quarto para buscar o jogo.

Respirei profundamente para acalmar-me, estava tremendo por todos os lados. Se ele

não tivesse entrado antes, nós teríamos nos beijado? Tentei não pensar nisso. Estava

aqui trabalhando para conseguir dinheiro para a universidade. Não estava me

apaixonando — não. Traguei forte e olhei Tristan, que parecia estar perdido em seus

próprios pensamentos. Não tinha razão para meus tremores. Nenhum.

Chris entrou correndo no quarto com uma caixa nas mãos. Deslizou-se pelos

joelhos ao pé da cama e orgulhosamente armou o jogo no chão. Sorriu para mim

brincalhão e desafiante proclamou. — Batalha naval.

— Estou pronta se você estiver, menino. — belisquei o joelho de Tristan enquanto

me sentava no chão. — E estou contando contigo para destruir todos seus barcos.

Tristan sorriu e virou-se para Chris. — Ouviste-a. Seus dias navais estão contados.

A4.

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5

Traduções 4Love

O céu da manhã de sábado estava nublado. Estiquei meus braços enquanto me

dirigia ao portão dos Edmund, que estava fechado. Na noite anterior, tinha ido direto

para a cama depois de três horas de Batalha Naval e depois deitara ali por uma

eternidade enquanto tentava processar tudo o que tinha acontecido. A cerimônia, o

baile, a... visão.

Queria que me ocorresse algo divertido para que fizéssemos, Tristan e eu – algo

que ambos pudéssemos desfrutar, algo especial. No entanto, minha lista de coisas que

sabia que ele desfrutaria e coisas que seriam perigosas eram uma só: montar cavalos. O

problema era que eu só tinha montado um cavalo duas vezes em minha vida, com

pouco êxito, e, bom, ele era cego. Mas não podia pensar em outra coisa.

Inclinando-me para fora da janela de meu carro, pressionei o botão de chamada.

Um minuto passou-se e então a voz conhecida de um garoto surgiu através do auto-

falante. — O quê?

— Chris, sou eu! Abra!

Houve uma pausa e logo ele respondeu. — Então, o que você fez ontem à noite?

— Venci um pequeno trapaceiro na Batalha Naval. — provoquei.

— Não venceste!

— Sim, venci!

— Vocês ganharam só uma vez! Eu ganhei o resto! — o garoto ofendeu-se.

— Só por que você nos dizia que não tínhamos tocado em suas naves, quando

tínhamos golpeado todas!

Meu comentário foi encontrado com um silêncio indignado.

— Vamos, Chris!

Houve um zumbido e o portão abriu-se. No momento em que eu estacionei na

entrada, que agora estava vazia de todos os veículos de catering, ele estava me

esperando na porta com um pequeno sorriso malvado untado em seu rosto. Belisquei

rapidamente o braço antes de deixar meu carro, só no caso de que eu tivesse deslizado

para um pesadelo com tema de Stephen King. Pulei os degraus e tentei passar a seu

lado, mas ele bloqueou-me o caminho.

— Então, antes de eu entrar, o que você e o Tristan estavam fazendo? —

Perguntou timidamente.

— Nada. O que estava fazendo você bisbilhotando fora de seu quarto?

Chris elevou suas sobrancelhas. — Escutando você gritar bastante forte. — olhei

com a testa franzida e ele despreocupadamente chutou o chão. — Então, você e

Tristan são amigos agora?

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Traduções 4Love

Dei de ombros e briguei com a urgência de beliscar suas pequenas bochechas

sorridentes. — Acho que sim.

Bloqueou-me quando fiz outro movimento para entrar.

— O que vão fazer hoje?

Dei um olhar feroz. — Alguma coisa, está bem? — Peguei-o pelo ombro e

empurrei-o para um lado.

— Vai tentar que ele monte Aeris, uh?

Parei dentro do vestíbulo e dei a volta. A porta moveu-se com a brisa, mas Chris já

tinha ido. Garotos horríveis. Voltei de novo e pulei. Tristan estava parado em minha

frente, na base das escadas. Soltei um pequeno grito e seu rosto iluminou-se em um

sorriso que entorpecia a mente. — Que bom ver você também.

— Desculpe. Era só seu irmão... — Suspirei. — Não importa. — Caminhei para

frente e peguei seu braço. — Vamos.

Tristan caminhou comigo, mas perguntou. — Onde estamos indo?

— Uh, dirigir. — Disse evasivamente.

Virou sua cabeça para mim, cético. — Sério, Amy?

— É uma surpresa, – disse com um sorriso e fechei a porta atrás de nós. Virei para

ver Chris sentado nas escadas da frente. Saltou quando nos viu e, sorrindo brincalhão

para mim, disse. — Eu sei aonde vão!

Dei um golpe suave na cabeça, mas esquivou-se. Olhei-o. — Aproxima-te,

menino. Desafio-te.

Ele riu e deslizou-se de novo para dentro de casa.

— O que foi isso? — Perguntou Tristan enquanto entrava na Camry.

— Oh, nada.

Quando comecei a conduzir, descobri que tinha me esquecido de pegar a fita.

Empurrei o cabelo atrás de minhas orelhas, meditando em ligar o rádio, e então percebi

que o silêncio entre nós era na realidade cômodo. Um sorriso roçou meus lábios quando

me virei para olhar a silueta perfeita de Tristan contra o céu azul cinza. Encontrei-me

perguntando. — No que está pensando?

Ele inclinou sua cabeça para mim e eu esperei por sua resposta. Finalmente, disse.

— Só surpreso de que esse carro ainda funcione.

— O quê? — disse com falsa ira e brincando o golpeei no ombro. Ele riu. — Tristan,

falo sério!

— Lembra a música que tinha na primeira vez que estive em seu carro?

Assenti. — Sim, Sting — The Police.

— Era horrível, — disse com o rosto inexpressivo.

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Traduções 4Love

— Certo. — coloquei os olhos em branco. — Sequer escutas música?

— Claro que escuto.

Elevei as sobrancelhas. — Sim? Qual sua banda favorita?

— Coldplay.

— O quê? — exclamei. — É sério? Amo-os!

Tristan riu. — Não pensei que você gostasse de bandas dessa década.

— Honestamente. — Parei o Camry no lugar de estacionamento. — Sting é um

clássico. Desliguei o motor. — Aqui estamos.

— E a surpresa é...?

Disse com entusiasmo. — Estamos nos estábulos para visitar Aeris!

— Oh. – Seu rosto escureceu-se. — O que te faz pensar que quero montar?

— Por que costumava amar fazê-lo. — Caminhei ao redor de meu carro para o

lado do passageiro e abri a porta. — Olha, isso não é por mim. O último cavalo que

montei era de um metro e só podia caminhar em círculos. Tinha três anos, cai em seu

cocô, houve lágrimas. Desde então, os cavalos e eu, nada de bom.

Ele respondeu bruscamente. — Amy, tem uma razão pela qual não tenho

montado Aeris, – e bateu significativamente na borda de seus óculos.

Suspirei e peguei seu braço. — Oh, vamos. Serei seus olhos.

— Isso é bem reconfortante, depois de sua história, — disse sarcasticamente e saiu

de meu carro.

Sorri e deslizei minha mão na sua. Os dedos de Tristan apertaram-se ao redor dos

meus e senti minhas bochechas ruborizar. Tinha que sustentar... A mim mesma! Não a

ele! Honestamente.

Entramos nos estábulos. Eram lindos e brilhantes, com um teto de vigas altas. Tinha

duas filas de baias de ambos os lados do edifício. Cascos, selas, rédeas e freios e outros

equipamentos que não podia nomear penduradas nas estacas fora das baias. Através

das portas, pude ver os rostos brilhantes dos cavalos puro sangue. Olhei Tristan e

perguntei. — Onde está Aeris?

Ele franziu a testa enquanto pensava. — Uh, à esquerda... Na metade da fila. É

preto.

Caminhamos um pouco mais e então vi um intenso olho ônix olhando-me. Parei e

admirei o charmoso animal. Seu pelo era de um preto intenso que dava pequenos

lampejos de luz, suas orelhas estavam voltadas para frente enquanto me observava.

Então soltou o ar depreciativamente por seu nariz e, virando-se para Tristan, apertou as

orelhas para trás.

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Traduções 4Love

Tristan soltou minha mão e tomou um passo para o estábulo. — Aeris? — O cavalo

olhou quando estendeu sua mão. — Faz tempo, não é? Deveria ter vindo. — Aeris olhou

por outro momento e então esfregou sua cabeça contra a mão de seu dono. Ele deu

umas palmadinhas no pescoço do cavalo e virou-se para mim. — Bom, ainda quer fazê-

lo?

— Claro.

Tristan assentiu. — Terá que selá-lo. Eu não posso.

Olhei a sela que estava pendurada junto à porta do estábulo. — Não acho que

posso colocar bem a sela.

— Bom, provavelmente seja melhor assim. — respondeu. — Ambos não

caberíamos.

Espera, o que ele estava dizendo? Ir sem sela? Minha história sobre o pônei tinha

sido para nada? Ofeguei. — O que quer dizer?

— Vamos montá-lo assim. — disse com um sorriso malvado. — Só precisamos da

rédea.

— Claro.

Cautelosamente levantei a rédea de couro de seu gancho. As longas rédeas

penduradas no bocado de freio. Movi-me para Aeris, cujas orelhas estavam voltadas

para trás. Tristan manteve uma mão firme contra o pescoço do cavalo enquanto eu

deslizava a rédea sobre a cabeça do animal. Ele sentiu-me deslizar a rédea e logo

indicou-me. — Está bom, agora aperta as tiras. O bocado está em sua boca?

Lancei as tiras. — Sim.

— Está bom. — Ele sustentou as rédeas. — Abre a porta.

Abri o trinco e Tristan retrocedeu, tirando Aeris de seu estábulo. Ele tateou com sua

mão livre pelo pescoço do cavalo até as costas. Sustentou as rédeas para fora e eu

peguei-as. Olhei, minha boca abrindo-se ligeiramente enquanto ele subia ao lombo de

Aeris com muito pouca dificuldade. Ele estendeu sua mão e eu passei as rédeas. Riu,

deixando as rédeas cairem contra o pescoço do cavalo e disse. — Não, você.

— Oh.

Peguei sua mão e surpreendi-me quando ele me levantou do chão... Até que

entrei em pânico. Como eu ia fazer o resto do trajeto para cima? Comecei a agitar-me,

mas ele pegou ao redor da minha cintura com seu outro braço e subiu-me.

Incomodamente agitei minha perna sobre o lado do cavalo e, suspirando, inclinei-me

contra o peito de Tristan. Fiquei ali, recuperando a respiração, até que ouvi Tristan

aclarar sua garganta. Rapidamente sentei-me direito, minhas bochechas de um

vermelho brilhante.

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Traduções 4Love

Tristan estendeu suas mãos a meu redor para pegar as rédeas. — Está bem, diga-

me aonde ir.

Guiei Tristan para fora dos estábulos e para os campos. Movemos-nos através do

gramado a um médio galope gentil. Mesmo quando empurrava bruscamente a cada

passo, achei o passeio agradável. O ar voava através de meu cabelo e eu respirei o ar

fresco. Relaxando-me, fechei os olhos. Uns poucos momentos mais tarde, ouvi Tristan

sussurrar em meu ouvido. — Nós estamos nos aproximando da cerca?

Dei de ombros e preguicosamente abri os olhos. Meu coração pulou em um

latido. A cerca estava apenas a cinco jardas. Gritei. — Dobra!

— Quão perto estamos? — Ele perguntou calmamente.

— Está bem aqui. — gritei e virei minha cabeça, como se estivesse a ponto de

estar em um acidente de carro. Quando começamos a nos levantar do chão, senti

Tristan pressionar seu peito contra minhas costas até que eu estivesse inclinada sobre o

pescoço do cavalo. Com um sorriso quase histérico, senti que voava como em uma

montanha russa enquanto nos elevávamos através do ar. O momento foi breve e as

patas dianteiras do cavalo rapidamente tocaram o chão.

Tristan levantou-me e pude ouvir seu sorriso enquanto me provocava. — Amy, seus

olhos estão abertos agora?

Primeiro, tudo o que pude fazer foi rir. Quando Tristan parou Aeris, arrumei-me para

crepitar. — Des-desculpe. Isso foi incrível! Acho que fizera isso antes?

Ele roçou a mão contra o ombro de Aeris e disse em uma voz escura que me fez

esquecer meu sorriso. — Costumava saltar a cavalo. Estava em uma competição

quando, bom... — sua voz apagou-se lentamente.

— Desculpe. — respondi suavemente.

— Ei, você não tem culpa da debilidade genética da retina.

— Eu sei... — estava constrangida da emoção e não pude dizer o porquê. Só

lamentei por ele e pelas coisas que ele sentiria falta de ver. Voltei e pendurei meus

braços ao redor de seu pescoço. Tristan soltou as rédeas e de repente estávamos nos

abraçando com um tipo de ferocidade, como se nunca quiséssemos deixar o outro ir.

Perguntei-me se ele sabia o porquê, por que minha mente desfiava-se a pensar nisso. O

sangue golpeando em meus ouvidos serviu de uma distração muito agradável.

Quando nos separamos, ele perguntou. — Tiveras o suficiente de montar a cavalo

por hoje?

Olhei seu rosto, perguntando-me o que estava pensando. De repente desejei

poder vê-lo sem seus óculos, mas, ainda mais, quis vê-lo feliz. Ofereci. — No caminho, vi

um atalho que poderíamos pegar.

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Traduções 4Love

Tristan fez uma pausa por um momento e depois um brilhante e incômodo sorriso

encheu seu rosto. — Sim, claro.

Sentindo-me aquecida, voltei a me acomodar. Lancei as rédeas de Aeris, assim

que ele começou a caminhar a um meio galope na direção do atalho. — Então, Fã da

Música em Segredo...

— Nunca disse que não gostava de música, — disse ele rapidamente.

— Verdade, — concedi. — Tens um livro favorito também?

—- O Apanhador no Campo de Centeio24.

— Indo pelo clássico. — Sorri. — Você é mais profundo do que parece. —

Imediatamente mordi a língua. O que estava dizendo? Só por que ele parecia-se com

um modelo...

— Muita gente em Clarence provavelmente estaria em desacordo contigo, – disse

amargamente.

Aliviada de que não estava ofendido, acrescentei muito rapidamente. — Mas é

diferente do que era. Não é?

— Sim, eu acho. Antes, pensava que era feliz vivendo de festa em festa, mas não

era.

— Como se sente agora?

Ficou em silêncio por um momento, antes de responder lentamente. — Ficar cego

não foi algo que eu planejei... Ainda estou tentando entender certas coisas.

—Como o futuro? — Ofereci.

— Sim, — suspirou. — Sabe, você pode apoiar-se se quiser.

Ruborizei enquanto me relaxava contra ele. — Obrigada.

Aeris baixou a velocidade até um passeio cômodo enquanto seguimos o suave

atalho. Tristan e eu estávamos em silêncio, pacificamente em silêncio. Sentia o lento

subir e baixar de seu peito, justamente como em nossa dança. Observei a paisagem

fluindo a nosso redor e finalmente senti-me tão relaxada, que fiz a pergunta que tinha

em mente. – Acha que alguma vez competirá de novo?

Senti o coração de Tristan começar a golpear com a idéia. — Não sei. Não... Não

acho que alguém cego tenha feito um salto alguma vez... — Esperei enquanto ele

considerava a idéia. — Seria quase impossível.

— Mas pense! Seria você e Aeris! Vocês já têm um vínculo! — Entusiasmei-me.

24

O Apanhador no Campo de Centeio: é um romance do escritor americano J. D. Salinger. Lida com temas

tipicamente adolescentes como confusão, angústia, alienação, linguagem e rebelião. O protagonista e

anti-herói do romance, Holden Caulfield, se tornou um ícone da rebelião adolescente.

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Traduções 4Love

Empurrei contra o peito de Tristan quando ele riu. — Amy, você está louca.

— Está bem. — Grunhi. — Mas tenho mais uma sugestão.

— Qual é? — Perguntou brincando.

— Deveríamos tomar um sorvete.

— Isso eu posso fazer.

Com minha colher de plástico, tracei o desenho da parte alta de meu pote de

Nozes. Para mim, o Mundo do Sorvete era uma das melhores características de

Grayfield. Era retro, mas não ao ponto de ser incômodo. Claro, lá fora tinha toldos

vermelho e branco e dentro dos muros estavam alinhados com estantes sustentando

molhos e agregados em vasos de vidro. O ponto era que eles deixavam seus

empregados vestir jeans e camisas só com logos do Mundo do Sorvete. Isso é um

progresso.

Olhei Tristan enquanto ele escavava em seu sorvete de hortelã com gotas de

chocolate. —Quanto tempo faz que vieste aqui pela última vez?

Ele deu de ombros. — Dez anos?

— Ugh! — Fiz um gesto com minha colher. — Você está louco! Um verão não está

completo sem sorvete do Mundo do Sorvete!

Tentei não ficar olhando quando Tristan lambeu uma gota de sorvete de seus

lábios. — Estava ocupado fazendo outras coisas.

— Nada é tão gostoso.

— É verdade. — Riu.

Esculpi uma colher de Nozes antes de perguntar. — Então, há quanto tempo tem

montado a cavalo?

— Desde que tinha seis anos. — Tristan engoliu e seu rosto ficou quieto enquanto

lembrava. – Meu pai começou fazendo-me montar pôneis e estava saltando quando

tinha aproximadamente nove anos. Quando completei onze anos, estava aborrecido

de saltar com pôneis, então meu pai comprou Aeris para mim. Uma vez que estava

treinando para saltos equinos, realmente comecei a competir.

Levei meu cabelo para trás da orelha e perguntei cuidadosamente. — Seu pai

também montava?

Tristan abaixou sua cabeça e aferroou seu sorvete. Disse lentamente. — Quando

eu era mais novo, mas depois estava muito ocupado. — Fez uma pausa por um

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Traduções 4Love

momento, perdido em seus pensamentos. — Meu pai era um neurocirurgião, um dos

melhores do país. Sempre estava indo para Chicago para consultas ou voando para

falar em conferências.

— Dava algum tempo?

— Suficiente. — Tristan disse brevemente e em sua boca formou-se uma linha dura.

Por vários minutos, ele esteve em silêncio e lentamente comeu seu sorvete. Pulei

quando inesperadamente disse. — E você, qual é sua paixão?

— Minha paixão? — Ri. — A música. Amo! Meu trabalho ideal é ser jornalista da

Rolling Stones25. Não sei quais são as possibilidades disso aconte...

— Fará. — Disse-me, sorrindo, e mais uma vez peguei-me surpresa.

— Por que diz isso?

Sua resposta foi suave. — Por que sabe o que tem que fazer, sabe o que é

importante.

Ruborizei, surpresa de que me dissesse semelhante coisa. Gritei um: — Obrigada.

Tristan pegou um pouco de sorvete. — O que segue? A universidade?

Lambi minha taça e tentei acalmar-me o melhor que pude. — Sim, mas não é tão

simples como soa... Rolling Stones só pega doze estagiários por ano, então realmente

preciso surpreendê-los. Tenho certeza que aprenderia coisas se fosse à Universidade de

Illinois. Mas se fosse à Evanston, estaria pronta.

Ele franziu a testa, parecendo confuso. — Então, aonde irá? Evanston?

— Não sei! — exclamei. — Esse é o problema! Fui aceita em ambas as

universidades, mas Evanston é tão cara...

— E é por isso que está trabalhando para minha mãe? — Tristan deixou sua taça.

Mordi o lábio e assenti. — Sim.

Virou sua cabeça para mim. — O trabalho. Quase esqueci.

— Eu também, — murmurei e olhei para baixo minha taça de sorvete vazia. —

Quer voltar?

— Não. Ainda não.

Olhei para cima, piscando estupidamente. Ele queria passar mais tempo comigo?

Virei-me desajeitadamente. — Oh! Bom... Há uma loja de discos na esquina. Se você

gosta de Coldplay, deveria escutar Jon Buckley. Foi popular nos anos 90, mas acho que

você gostará.

O sorriso de Tristan faiscou. — Parece bom. — E eu me derreti.

25

Rolling Stones: é uma revista baseada nos Estados Unidos dedicada à música, política, e cultura popular.

É publicada mensalmente.

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Traduções 4Love

Capítulo Oito

Dirigindo para casa essa tarde, eu estava aturdida. Divertimo-nos bastante, saindo

como... Amigos. E ele gostou tanto de Jon Buckley que escutamos quase o CD inteiro na

loja antes que o encarregado dissesse-nos que era melhor comprarmos algo ou que nós

fossemos embora. Então, comprei. Era só um presente, um presente de amigo. Queria

que ele pudesse escutá-lo cada vez que quisesse... E que talvez pensasse em mim

quando fizesse. Isso era errado? Não queria saber.

Ainda estava sorrindo quando estacionei em minha garagem. Notei um carro

diferente na frente de minha casa, mas não pensei muito nisso enquanto caminhava

para dentro. Um homem estava parado na cozinha com meus pais. Ele estava usando

uma camisa pólo, caquis e um anel de casamento, vinculei-o como um dos clientes de

meu pai que estava deixando um material de trabalho. Deixei a porta oscilada

fechando-se atrás de mim, justamente quando ele deu a volta para olhar-me.

Tinha os olhos cor de jade – os olhos de minha mãe – e seu rosto! Era Charlie! Já

não era o adolescente magro de minhas lembranças, mas um adulto de 30 anos.

Imediatamente corri e atirei meus braços ao redor de seu pescoço. — Oh meu Deus! —

sorri sobre seu ombro e vi os olhos de meu pai: olhos irritados, preocupados.

—Onde estava? — Meu pai fez a óbvia pergunta com truque.

Soltei meu irmão e disse a verdade. – Cuidando de Tristan.

— Achei que tinha dito que não estava saindo com ele. Charlie disse que vira

vocês dois caminhando, de braços dados, para o Mundo dos Sorvetes.

Isso não significa nada. Dei de ombros, mas minhas bochechas ruborizadas

delataram-me. — Não estamos saindo.

— Bom, tenho que conhecer esse garoto, – meu irmão disse firmemente.

— O quê? — Olhei-o com a boca aberta.

— Charlie tem razão. Não sei se gosto da idéia de que te paguem por passar um

tempo com um garoto com o qual tem um romance. — Acrescentou papai com um

tom de objetividade. — Se quiser conservar esse trabalho, teremos que conhecê-lo.

Ofeguei. —Você não entende. Estou ganhando um bom dinheiro, bastante para

pagar a Evanston.

Não percebi o que tinha dito até que vi o brilho nos olhos de papai.

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Traduções 4Love

— O quê? A Universidade Evanston?

— Ei, não deveríamos estar falando sobre Charlie? — Estanquei, coçando a parte

traseira de meu pescoço, incômoda.

— Ei, eu estou bem, irmã, — disse Charlie com um sorriso rápido.

Com pouca opção, revelei. – Fui aceita na Universidade Evanston. Realmente

quero ir para lá — é uma Universidade incrível — mas sei que é muito cara. Então, enviei

o dinheiro para assegurar meu lugar e logo, quando obtive esse trabalho, percebi que

tinha uma possibilidade.

Papai franziu a testa.

— Que dinheiro?

— Minha poupança. — Respondi timidamente.

— Sua poupança? — Papai sacudiu a cabeça, caminhou lentamente até uma

cadeira da cozinha e sentou-se nela. – Não posso acreditar que não nos disse.

Vendo o olhar de dor em seu rosto, um sentimento de culpa e náusea golpeou-

me. Disse silenciosamente. — Desculpe.

Papai passou suas mãos por seu rosto e logo me olhou. — Sabe, Amy, sua mãe e

eu queremos que seja feliz. Mas, você pensou realmente nisso? Tenho certeza que

Evanston é uma grande Universidade, mas quando se formar, terá ao menos cento e

vinte mil dólares em dívidas, não importa onde trabalhe no verão.

Engoli forte. — Eu sei.

Charlie colocou uma das mãos em meu ombro. — Vamos papai, ela merece ir a

qualquer Universidade que quiser. Não esmague seus sonhos.

— Não estou. — Levantou-se e, buscando o rosto de minha mãe para uma

aprovação, disse. — Amy, se quiser ir a Evanston, pode ir. É sua escolha.

— De verdade? — Sorri tremendo, superada com alívio.

— Claro, – disse mamãe. — Só gostaria que nos dissesse isso antes.

Corri, abraçando cada um deles. Logo, separando-me, me fixei em Charlie, que

não tinha desculpas para o fato de que eu não recebera cartas dele em semanas. —

Então, o que tem feito?

Os olhos de Charlie, que estavam na janela, viraram-se para os meus. – Algumas

coisas.

Levantei minhas sobrancelhas. — Sim, tenho certeza.

Papai colocou-se entre nós. — Vamos. Vamos a um lugar mais cômodo.

Guiou-nos até a sala e deixei-me cair em uma grande almofada roxa. Minha mãe

preferiu sentar-se no chão – pela ausência de um sofá – e provavelmente deveríamos

jantar no chão, também, se não fosse por papai. Dezenas de almofadas de todos os

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Traduções 4Love

tamanhos, formas e cores enchiam o quarto. Charlie murmurou. — Nada mudou, —

antes de sentar.

Mamãe, que parecia traumatizada, sentou-se no canto e colocou seus braços ao

redor de sua almofada preferida. Seus olhos fixos em Charlie enquanto perguntava. —

Por que você foi embora?

Meu irmão começou a retorcer seus braços. — Não queria mais ser parte do ciclo

de Grayfield. Esses Clarencienses crescendo em suas casas de um milhão de dólares,

aprendendo a dirigir, indo a Princeton. E nós nunca teremos mais que trinta mil dólares

ao ano, vivendo em uma casa de cinqüenta anos, conduzindo Buicks usados! É irritante.

– virou-se para mim — Amy, por que iria quer sair com alguém daqui?

— Não estou saindo com ele! — Grunhi.

— Está bem, está bem! — Gritou papai — Charlie, não pode odiar alguém por ser

rico e sabe disso, não foi assim que te criamos.

— Claro, criar-me. — espetou Charlie — Com Meus Filhos das Flores vivendo

sempre fora dessa selva.

Os olhos de papai queimaram. — Não fale de sua mãe dessa maneira!

— É por isso que não voltei antes. — Charlie levantou-se, mas papai bloqueou.

— Não terminamos!

Meu pai e meu irmão enfrentaram-se por um tenso minuto e logo Charlie voltou

reticente a seu assento. Papai respirou fundo e assentiu. — Está bem. Não podemos

mudar o que aconteceu no passado, mas podemos fazer algo a respeito do futuro. Não

quero descobrir um dia que tenho um neto de dez anos do qual não tenho idéia.

Charlie olhou o chão. —Na verdade... — O quarto ficou inquietamente silencioso.

– Terá um em Agosto. — Levantou o olhar e levantou sua mão esquerda. — Casei-me

há alguns meses. Seu nome é Sandy. Vivemos na granja de seus pais na Califórnia.

Trabalho ali. Foi idéia de Sandy que voltasse. Encontrou uma das cartas de Amy.

Ele fez uma careta quando minha mãe disse. —O quê?

- Há quanto tempo isso aconteceu? — Papai perguntou severamente.

Parecendo surpreso, Charlie disse. — Desde que me fui.

Mamãe virou-se para mim, lágrimas rolando por suas bochechas. Claro, eles não

estavam surpresos de que ele casasse com uma garota sem dizer nada, mas eu era

má? Ela gaguejou. — Como pôde não nos dizer? O que mais tem escondido?

— Isso é tudo! Juro! — Olhei meu irmão. — Ele não queria que contasse.

Charlie deu de ombros.

— Mas era só uma menina. Pensei que contaria.

— Bom, não contei, está bem?

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Traduções 4Love

— Está bem. — Meu pai suspirou. — De novo, o que está feito, está feito. Verdade

Lucy? — Olhou para minha mãe, que assentiu lentamente. — Agora, acho que é melhor

sua mãe e eu falarmos com Charlie, sozinhos. Não tem provas para as quais tem que

estudar?

Franzi a testa, odiando que me deixassem de fora do ciclo. — São para segunda-

feira, mas não são grande coisa.

Papai levantou suas sobrancelhas. — Formar-se não é grande coisa?

Virei os olhos. —– Não queria dizer isso...

— Assegure-te de dizer a seu namorado que tem que estudar amanhã, — disse

minha mãe com voz gritante. — Mas que pode vir jantar.

Levantei minhas mãos no ar. — Ele não é meu namorado! E de verdade quer que

o convide para jantar? — Três rostos ficaram me olhando como se eu estivesse louca.

Sacudi minha cabeça. — Está bem.

Pisoteei todo o caminho para meu quarto. Odiava sentir que me tratavam como

uma criança. Levantei o telefone e esmurrei rudemente os números no aparelho. O

telefone soou e logo escutei a voz da Sra. Edmund. — Alô?

— Oi, é a Amy.

—- Amy! – Chorou. — Oh, estou tão envergonhada pela outra noite.

— Não se preocupe. — fiz uma careta ante a lembrança dela chamando-me de

babá de Tristan. – Escute, só queria dizer a você que não vou estar disponível por alguns

dias, por que tenho prova final na segunda-feira.

— Oh, você está se formando, também! Claro. É maravilhoso!

— Obrigada. Sim, terça-feira é o grande dia! —– Disse com um prazer falso.

— Bom, nesse caso, por que não tira folga na quarta-feira também antes que

comece a tempo integral? — Ofereceu.

Traguei saliva. Quase tinha esquecido que estaria trabalhando em tempo integral.

Quarenta horas por semana, só com Tristan... Minha mente começou a ir à deriva,

quando a ouvi perguntar. — Isso soa bem, querida?

— Sim, ótimo, — disse sonhando.

— Está bem. — Quase pude ouvi-la sorrindo — Direi a Tristan que te espere na

quinta-feira.

Rapidamente disse. — Oh, uh, posso falar com ele?

Ela fez uma pausa e logo disse. — Claro. — O telefone ficou em silêncio, imaginei,

ela levava o telefone a seu quarto. Agora tinha alguma interferência enquanto ela

cobria o fone, logo ouvi sua voz. — Amy?

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Traduções 4Love

— Sim, oi. — Senti que ruborizava. Não podia perguntar a ele, não podia! — Como

está?

— Bem, — disse, soando confuso. — Lembra, estava comigo faz uma hora?

Oh, não. Ele acreditava que eu era uma assediadora! Coloquei uma mecha de

meu cabelo atrás de minha orelha e tentei rir. — Sim, eu já sei. Vejamos, meus pais

sabem que estou, uh, te ajudando...

— Está bem? — Disse.

Suspirei e disse apurada. — Então, eles querem que venha jantar aqui amanhã.

Tinha um total e completo silêncio do outro lado do telefone, nem sequer podia

ouvi-lo respirar.

Finalmente, ele disse. — E se não lembro mal, sua mãe está louca?

Resmunguei. — Bom, algo assim...

Riu. — Ei, não se preocupe por isso. Irei. Não é como se tivesse algo mais que fazer.

Mamãe estará orgulhosa de meus avanços.

— Obrigada, Tristan. Meu endereço está em meu currículo que enviei. Pode vir por

volta das seis?

— Sim, vemo-nos então.

— Perfeito! Adeus! — Desliguei o telefone e tentei não pensar em como Tristan era

o material de namorado perfeito por que não importava. Verdade?

Para mim, o dia seguinte passou terrivelmente lento. Meu pai continuava dizendo-

me que tinha que estar estudando, mas eu mal entendia a razão porque tudo o que

tinha que fazer era aparecer e eu estaria apta a formar-me. E, claro, havia todo o

assunto de Charlie. As coisas ainda estavam tensas entre ele e meus pais e, quando ele

entrava em um quarto comigo, terminávamos tendo uma pequena conversa. O que

podia dizer se não o via desde a idade em que achava que os Power Rangers eram

geniais?

Sentei-me na mesa da cozinha, inclinada sobre meu livro de biologia. Olhei em

branco a fotografia de uma flor dissecada enquanto minha mente derivava em

pensamentos de dedos exploradores. Pulei de surpresa quando Charlie tirou uma

cadeira e sentou-se. Sorriu ante minha reação. — Trabalho duro?

— Oh sim. — Endireitei-me e tirei o cabelo de meu rosto.

— Esperando para ver seu namorado?

— Não, — menti. — E ele não é meu namorado.

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Traduções 4Love

— Pensei que podíamos tentar uma conversa cara a cara de vez em quando, ao

invés das cartas.

Pisquei. — As cartas não funcionam quando se deixa detalhes importantes de

fora.

— Sobre isso. — Charlie coçou a parte de trás de seu pescoço. — Disse que sinto

muito?

— Não.

— Bom, desculpe, — disse. — Não perdeste muito, só fomos a um juiz de paz.

Eu disse franzindo a testa. – Se vou perdoar-te, não vai ser pelas desculpas.

Charlie sacudiu sua cabeça. — Wow, irmã, quando envelheceste tanto?

— Eu? — Sem querer, ri. – Sr. Camisa Pólo você deveria estar falando!

Pegou sua camisa. — Ei, vou ser pai!

— Esse pobre menino. — Dobrei meus braços. — Então, como ela é?

— Quem?

— Sua esposa!

Charlie deu de ombros. — Ela... Não sei. É ótima. Faz a melhor panqueca de

arando que já comi.

— E ela fez você vir aqui, é incrível, — acrescentei.

— Quando Sandy tiver o bebê, quer vir te conhecer.

— Claro. — sacudi minha cabeça para ele. — Você, um pai, ainda não posso

acreditar.

— Bom, — Charlie levantou-se, — provavelmente deveria deixar você voltar ao

trabalho.

— Claro, ei... Vai ser agradável está noite, certo?

O rosto de meu irmão brilhou com fingida inocência. — Claro, Aim. Não se

preocupe.

Tentei sorrir, mas quando chegou o momento do jantar, estava nervosa. Minha

mãe estivera correndo entre a cozinha e seu jardim durante a última hora. Disse que

estava criando algo ―especial‖, o qual não estava segura que fosse algo bom. Uma das

suas últimas comidas ―especiais‖ requerera a visita do departamento de bombeiros de

Grayfield. Mantive meus dedos cruzados enquanto fingia olhar minhas notas.

Dez para as seis, a campainha tocou. Meu estômago deu uma sacudida quando

abri a porta. Tristan estava parado na entrada enquanto a Sra. Edmund saudava,

quando caminhava para sua BMW. Peguei seu braço para conduzi-lo para dentro e

consegui dizer um — Obrigada por vir, — antes que Charlie nos encontrasse. Meu irmão

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6

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Traduções 4Love

bloqueou nosso caminho e ergueu-se em toda sua estatura, não que Tristan pudesse

notar a diferença.

— Então, você é Tristan?

— Sim. — Tristan mudou seu peso incertamente. — Sr. Turner?

— Na verdade, este é meu irmão mais velho, Charlie. — Expliquei.

— O que fugiu? — Perguntou Tristan, inclinando sua cabeça para minha.

— Deus, ele faz soar como se eu fosse um menino pequeno, — disse Charlie,

enquanto movia uma das mãos no rosto de Tristan. Alcancei-o e chutei-o. — Ouch!

Tristan franziu a testa. — O que aconteceu?

— Nada, — repliquei, enquanto olhava meu irmão. — Acho que o jantar está

pronto.

Caminhamos para dentro da casa e sentamo-nos à mesa da cozinha. Mamãe

apareceu com os primeiros pratos de comida. Meus olhos ampliaram-se quando olhei

meu prato. Era uma comida orgânica, certo; ela prepara flores. Mais especificamente,

ela tinha preparado uma salada de pastas com vinagrete de dentes de leão e pétalas

de cravos, centáurea e rosas.

Papai apareceu com os outros pratos.

— Olá Tristan.

— Olá. — Tristan assentiu em sua direção.

Charlie olhou para baixo para seu prato. Com um tom sarcástico, disse. — Tem

superado a ti mesma, mamãe.

— De verdade? — Minha mãe via-se esperançosa enquanto tomava seu assento.

Papai bateu em sua mão. — Sim, está lindo.

Estava sentada perto de Tristan e ele aproximou-se, sussurrando. — Uh, o que é

isso?

— Bom... — Meu irmão, que tinha ouvido, olhava divertido. — É uma salada de

pastas.

Charlie levantou suas sobrancelhas e cuspiu. — Com flores!

— Cale a boca! — Cuspi de volta. — Não ofenda a mamãe.

Houve um ruído de talheres quando todos começaram a comer. Vi como Tristan

alargava sua mão na mesa, até que encontrou seu garfo. O primeiro bocado de salada

que colocou no garfo levava uma grande, brilhante pétala de rosa. Sustentou o fôlego

enquanto o garfo viajava até sua boca. Justamente quando estava a ponto de tomar

o bocado, Charlie disse. — Tristan, há quanto tempo conhece minha irmã?

O garfo voltou a seu prato, ainda com a pétala nele. Olhei meu irmão, enquanto

Tristan respondia. — Uh, um pouco mais de uma semana.

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Traduções 4Love

Charlie levantou suas sobrancelhas. – Isso é tudo? Pareciam bastante próximos,

quando os vi.

Tristan franziu a testa. — Quando nos viu?

— Charlie viu vocês dois no centro, — explicou papai.

— Oh. — Tristan levantou novamente seu garfo para sua boca. — Sim, passamos

bastante tempo juntos.

— Amy disse que formara-se na Clarence. Deve ter sido um bom lugar para

estudar, — disse mamãe.

O garfo parou.

— Na verdade, não tenho ido nos últimos meses.

As sobrancelhas de Charlie dispararam-se. — E ainda assim formara-se? É

interessante o que o dinheiro pode fazer...

Comecei. — Charlie...

Tristan ficou rígido. — Desculpe. Você formou-se?

Charlie pegou seu garfo de seu prato. — Você tem algum problema com GED26?

— Já chega! — Disse papai em voz alta.

Tristan pegou o bocado de seu garfo. Começou a mastigar e, prontamente,

parou. Sua mão deslizou discretamente para sua boca, inclinei-me para seu ouvido e

sussurrei. — É só uma pétala de flor.

Ele assentiu enquanto removia a pétala com seu guardanapo.

— Tem planos Tristan? Universidade? — Perguntou meu pai.

O rosto de Tristan ficou negro. — Acho que não, agora.

— Se aprender Braille, estou certa de que pode ir, — sugeri com entusiasmo.

Ele deu de ombros. — Estou apenas vivendo um dia de cada vez.

Mamãe disse. — Sabe que Amy forma-se terça-feira à noite?

— Só está contente de que alguém passe por essa cerimônia, — cuspiu Charlie.

Ela deu um olhar magoado. — Não quis dizer isso.

A mesa caiu abruptamente em um frio silêncio que permaneceu durante o resto

do jantar. Desejei desesperadamente que o chão tragasse-me e levasse Tristan comigo.

Assim que terminamos de comer, levei Tristan para a saída, para afastá-lo de minha

família. Nós sentamos nas escadas e, depois de um momento em silêncio, disse. —

Desculpe por isso.

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GED (General Educational Development): O Conselho Americano de Educação é o único desenvolvedor

desse teste, que é para os adultos que não têm um diploma do ensino médio e abrange cinco matérias:

leitura, escrita, matemática, ciências e estudos sociais.

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Traduções 4Love

— Então, nós dois temos que nos desculpar pelas nossas famílias. — Deu um curto

sorriso. — Que tipo de flor eu quase comi ali dentro?

Sorri e empurrei brincalhona seu ombro. —Uma rosa.

— Sério? — Levantou suas sobrancelhas. — Chris não vai acreditar nisso.

— Ao menos algo bom saiu disso. — Vi as luzes aproximando-se pela rua. Hesitei e

então dei um rápido beijo na bochecha de Tristan. — Obrigada, de novo.

Seu sorriso fez minhas bochechas ficarem quentes. — Foi um prazer.

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Traduções 4Love

Capítulo Nove

Na terça-feira, encontrava-me no meio da cozinha, batendo com impaciência

meu gorro de formatura contra minha perna.

Devido ao ginásio de meu colégio esquentar-se a cada ano durante a cerimônia,

usava uma túnica de algodão e uns jeans corsário debaixo de minha túnica azul. Meu

pai, vestido como se fosse trabalhar, olhou-me e deu de ombros. Nós dois estávamos

esperando mamãe e meu irmão. Charlie continuava empacotando as coisas para seu

vôo, que estava programado para sair essa noite, e mamãe pensou que tinha tempo

suficiente para bordar uma rosa nova em seu par de jeans favorito, em minha honra.

— Já sei que ―T‖ não é a primeira letra do alfabeto, mas gostaria de chegar

rápido! — Gritei.

— Já vou, — riu Charlie e subiu as escadas do sótão com sua avultada bolsa de

lona. Levantou-a e disse. — Não posso acreditar que estão guardando minhas coisas.

Inclusive todas as velhas fitas cassetes estavam ali. – Ele olhou-me. — Bom, quase todas.

Coloquei os olhos em branco. — Ok, talvez eu pegara algumas emprestadas na

última década.

Charlie fez uma careta. — Você gosta de fazer-me sentir velho, não?

— Bom...

Papai negou com a cabeça para nós. — Charlie, se não se importa você levará a

Amy agora, mamãe e eu nos encontraremos com vocês lá com o carro de aluguel.

— Não tem problema. — Charlie caminhou para a porta da frente e a manteve

aberta para mim. — Acha que tem idade para dirigir? Lembro que tinha um pequeno

problema controlando os para-choques.

Eu sorri. — Agora sou suficientemente alta para ver por cima da roda, então isso

ajuda.

Charlie seguiu-me para fora e meteu-se no lado do passageiro de minha Camry.

Colocou sua bolsa de lona em seus pés, e colocou rapidamente o cinto de segurança

enquanto saía na calçada. Ele respirou fundo e tentou fingir que na realidade não

estava pensando que tinha medo de sua irmã mais nova dirigindo. Podia ver seus olhos

girando como dardos olhando pelos espelhos de meu carro. Aclarou a garganta

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Traduções 4Love

quando acelerei. — Papai me disse... Quero dizer, acho que posso ter passado um

pouco dos limites no jantar de ontem à noite. Estou orgulhoso que se forme, Amy.

— Sim? — ofereci um sorriso. — Obrigada.

— Acho que esperava que estivessem mais loucos por eu ter ido por tanto tempo,

eu meio que queria que estivessem loucos. Ao ver quão bem eles levaram... Acho que

fiquei ciumento. — Ele deu de ombros. — Você lembra-se de todas as brigas que eu

costumava ter com eles?

— Claro que lembro! Sacudia a casa gritando tão forte. — Diminui a velocidade

no sinal vermelho, virei-me e olhei-o. — Você sabe, que o fato de que mamãe e papai

não estão loucos, não quer dizer que se esqueceram de você. Escrevi-te sobre os

jantares, mamãe mostrou-te o mural?

Charlie assentiu com a cabeça. — Mostrou-me nessa manhã e tivemos um bom

bate-papo. No entanto, ainda quero que saiba que acho que é ótimo o que está

fazendo: Ir a Evanston, terminando com o sistema de castas.

Suspirei e continuei dirigindo. — Bom, não tenho certeza se vou a Evanston. Papai

tem razão quando disse que custa muito. O que ganhei nesse verão mal pagará por

meu quarto, quanto mais o resto da matrícula. E não há muitas bolsas de estudos para

garotas de classe média.

— Você não é comum, — zombou Charlie.

— Uh, obrigada.

— Quero dizer, não disse que quer escrever para os Rolling Stones? E está

ajudando a um garoto cego! Quem faz isso? — Perguntou com tom audaz para

demonstrar-me que estava equivocada.

— Está bem. Não sou normal. — levantei uma de minhas mãos, rindo. — Portanto,

quando encontrar as bolsas de estudos anormais, para aspirantes a jornalista, assegure-

te de que me nomeiem.

Charlie sorriu. — Conseguirá, mana.

Como eu esperava, minha cerimônia de formatura foi quase tão emocionante

como escutar NPR em uma sauna. Enquanto o suor agrupava-se em minha nuca,

busquei minha família através da selva de pessoas que empurravam por escapar do

sufocante ginásio. Eu estava tão feliz de encontrá-los que pensei que meu rosto partiria-

se por meu sorriso. Papai sorriu enquanto mamãe bateu fotos com uma câmera

Instamatic antiga.

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Traduções 4Love

— Agora, Amy, você e Charlie precisam ficar juntos, — ela indicou.

Suspirei, ansiosa para terminar, e plantei-me rigidamente junto a Charlie. Ele

percebeu minha expressão azeda e, justamente antes que o flash saísse, envolveu-me

em um abraço de urso. Gritei surpresa, não era atacada por ele há muito tempo. Rindo,

disse. — Parabéns, Amy.

— Obrigada. — Olhei seu rosto. — Alegro-me de que tenha vindo. Deveria voltar

novamente.

— Voltarei. — olhou para nossos pais. — Assim que Sandy tiver o bebê, prometo.

Dez anos é muito tempo... Não devia ter feito isso.

— Nunca perdemos a esperança de que voltasse, — disse papai e mamãe

assentiu com a cabeça, com os olhos brilhantes.

Charlie olhou papai por um bom tempo. Então tossiu e olhou seu relógio.

— Provavelmente deveríamos ir. Meu vôo sai em duas horas. — Ele bateu em meu

ombro com suavidade. — Escreverei em breve. Você continue escrevendo-me.

— Você continue adulto.

Ele franziu a testa. — Não tem necessidade da palavra com A! Ainda sou jovem!

— Até mais, querido! — disse mamãe enquanto se dirigiam ao exterior.

—- Adeus!

Suspirei, enquanto os via ir e logo tirei o gorro. Recorri à sala buscando Ahna, o

que era difícil tendo em vista que a sala estava cheia com familiares e amigos de meus

trezentos colegas de classe, muitos dos quais estavam suando ou com a testa franzida

nas rondas de fotografias.

Por sorte, o cabelo vermelho de Ahna permitia identificá-la e o vi através da

multidão. Fui para perto das portas de saída e esperei-a.

Ahna surgiu puxando esmagadoramente a mão de Lyle.

Seu rosto esboçou um sorriso quando me viu e deu-me um forte abraço. Deu um

passo para trás, gritando por cima do estrondo.

— Está pronta para ir?

Assenti com a cabeça. — Sim!

Lá fora, o ar da noite era fresco e confortavelmente feliz em comparação com o

ginásio. Mais além da luz amarela dos faróis, vi uma brilhante lua cheia que se

pendurava sobre o campo de futebol vazio. Quando sai para a calçada, fechei os

olhos e aspirei o cheiro de verão fresco.

Continuara caminhando, sabendo que Ahna e Lyle vinham ao lado, mas ouvi-a

perguntar. — Aim? Esse é...

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Traduções 4Love

Voltei-me para ver Ahna de pé, uns passos atrás de mim e apontando para o

ginásio. Olhei e, ao princípio, só vi a corrente de gente que saía. Então, percebi uma

figura de pé de um lado das portas. Parecia tenso, fora de lugar com seus óculos

escuros e as mãos metidas profundamente nos bolsos. Em um instante, estava a seu

lado. Toquei-o no braço e ele deu um salto surpreso por meu toque.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei.

— Amy. — Ele lampejou um sorriso e senti que meu estômago obstruía-se. — Estou

aqui para ver-te.

Meu rosto ruborizou, isso não estava acontecendo! Começou a rir como se

pudesse sentir minha vergonha e continuou.

— Pensei que era justo, uma vez que fora a minha formatura. Chris chamou um

taxi.

Não pude evitar sorrir. Pequeno safado. Afastei o braço de Tristan. — Bom,

obrigada por vir.

— Amy, quem é?

Virei para ver Ahna sorrindo timidamente. Fulminei-a com o olhar.

— Ahna, este é Tristan. Tristan, esta é minha melhor amiga, Ahna, e seu namorado,

Lyle.

— Muito prazer, — disse Lyle. Ele ofereceu uma mão tremula para Tristan e Ahna o

golpeou nas costelas.

Alheio, Tristan assentiu com a cabeça em sua direção. — Sim, um prazer

conhecer-te.

— Esqueci que me disse que era cego, — Lyle queixou-se a Ahna enquanto

esfregava as costelas.

Tristan levantou as sobrancelhas. — Estão falando de mim?

— Não! — Dissemos, Ahna e eu com ar de culpa.

Lyle murmurou. — Acho que pode ouvir bem, — e Ahna suspirou e sacudiu a

cabeça com exasperação. — Portanto, ele vem ao boliche conosco?

Tristan virou-se para mim. — Você vai ao boliche?

— Não, — disse rapidamente. — Podemos fazer outras coisas. Ok, Ahna?

— Claro! — Ela piscou um olho para mim e começou a arrastar Lyle para o lado

da rua do boliche. — Divirtam-se, garotos!

Deslizei minha mão na sua. — Por que não vamos nos sentar? É uma noite linda

para estar fora.

Levei Tristan pelo campo de futebol. A grama estava alta e muito densa, por ter

sido abandonada depois de terminar a temporada. As grandes arquibancadas de

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Traduções 4Love

metal estavam vazias. Estávamos completamente sozinhos, até os últimos atrasados

tinham deixado o ginásio.

A noite parecia tranquila e iluminada pela luz branca da lua. Deixei-me cair sobre

a grama fresca e olhei para as estrelas.

Tristan estava a meu lado e, depois de um momento, disse em voz alta. — Você

não é como qualquer uma das garotas com as quais tenho saído.

Empurrei uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. — O que quer dizer?

— Você pensa e você usa um par de Chucks vermelhos velhos. — Ele sorriu. —

Chris disse-me.

Eu ri. — Sim, eu soube.

— E preocupa-se com as outras pessoas, não só consigo mesma.

Virei-me de lado e olhei as estrelas refletidas nos óculos escuros. Esses óculos

escondiam muito dele de mim, tanto que não podia suportar que ocultasse mais.

Sentei-me com a perna dobrada abaixo do corpo. Abracei meus joelhos e deixei que

as palavras deslizassem-se por meus lábios.

— Quero ver seus olhos.

Tristan apoiou-se nos cotovelos. — O quê?

— Seus olhos.

Passou uma das mãos pelo cabelo. — Não está escuro?

— Tem uma lua cheia. Por favor.

Exalou devagar e assentiu com a cabeça.

Mordi o lábio e inclinei-me para frente. Aproximei meus dedos trêmulos, deslizando

suavemente os óculos de seu rosto. Olhei para baixo enquanto as apoiava em seu

peito, então hesitei. Respirando fundo estabilizei-me e levantei meus olhos para ver...

Suas pálpebras fechadas. Sorri surpresa e, de repente, seus olhos abriram-se de uma vez.

Meu coração deu um pulo e senti que escapava o ar de meus pulmões. Seus

olhos eram surpreendentes. A mais brilhante chama de um intenso azul claro. Mas

inclusive, enquanto me deleitava vendo-o, pude ver suas pupilas ausentes, já que me

olhou mais além do ombro.

Encontrei minha mão acariciando sua têmpora.

Não tinha nenhum pensamento, nenhuma palavra, já que simplesmente fechei

meus olhos, meus lábios encontraram-se com os seus e os seus com os meus.

Meu coração batia com força em meu peito enquanto sua mão abriu-se entre

meu cabelo. Eu estava beijando com cada gota de emoção que tinha agrupado

dentro de mim, já que, nem sequer podia lembrar desde quando!

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Traduções 4Love

Envolvi meus braços ao redor de seu pescoço e ele me levou para mais perto

dele. Eu, não, nós não estávamos ap...

— Amy! Onde você está? — A inoportuna chamada atravessou a noite. —

Decidimos que seria divertido se fossemos todos comer pizza!

— Sim, ele pode comer pizza! — Gritou Lyle.

Fui para trás e encontrei-me respirando pesadamente. Depois de aspirar o ar,

disse de volta.

— Já vamos, Ahna!

Tristan ajudou-me a colocar-me de pé e pude ver que estava sorrindo. Ele disse

pouco a pouco.

— Isso foi muito... — Colocou os óculos de novo. — Sim.

— Foi ―sim‖? — Ri e golpeei brincando em sua costela. — Sim, para mim também.

Limpei as sobras de meu último parmesão de meu prato com um dedo.

Acabáramos de terminar um lanche, que consistia em uma conversa incômoda. Com

um silêncio, um pouco violento vindo de Ahna, Lyle tinha se oferecido para ir com

Tristan ao banheiro. Agora Ahna bebia o resto de sua bebida, olhando-me

intensamente. Ela sabia que algo estava acontecendo, talvez por que eu não pudesse

deixar de sorrir.

— O que aconteceu? — Ela perguntou, com os olhos brilhando de curiosidade.

Meus olhos levantaram-se até ela e sorri ainda mais. —Nós nos beijamos.

— Espere, o quê? — Ficou sem fôlego. —Quem beijou quem?

Ri de sua expressão. — Não sei, beijamo-nos um ao outro!

— Sério? Aim, é impressionante! — seus olhos viraram-se sonhadores. — Não sei se

já tive alguma vez um beijo simultâneo... É tão romântico.

— Ei! — Disse Lyle de mau humor. Estava de pé junto à mesa com Tristan. Ruborizei,

esperando que não tivessem ouvido muito.

— Quero dizer, claro que já tive.

Ahna pegou o braço de seu namorado, enquanto me piscava um olho.

— Bom, acho que nós já vamos. — disse, colocando-me de pé. — Meu carro está

atrás da escola.

— Sim, o meu também. — disse Ahna.

Peguei a mão de Tristan enquanto saíamos. Ahna e Lyle foram caminhando um

pouco na frente de nós, então perguntei em voz baixa.

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Traduções 4Love

— Você divertira-se?

Ele sorriu. — Bom, já sabe, Lyle disparou a embalagem do canudo em meu rosto...

Ah, e perguntou-me se eu gostava de ser cego. Essa é uma grande pergunta.

Apertei sua mão. — Tenho a imagem.

Desatou a rir, virando sua cabeça para a minha. — Foi bom.

— Ok.

Depois de dizer boa noite a Ahna e Lyle, subimos em minha Camry. O pátio do

estacionamento estava vazio, o silêncio em meu carro convidava minha cabeça a

fazer perguntas. Quando nos beijamos, Tristan sentiu algo também? Isso significava que

éramos namorados? Todos meus namorados tinham sido óbvios: nós fomos jantar, ao

cinema, e tchã rã, nós estávamos namorando. Beijar um cego (Garoto, amigo, chefe?)

não era tão simples de entender.

Mas o que importa? Nós nos beijamos!

Sorri.

Um pouco mais tarde, cheguei à casa dos Edmund. Desliguei meu carro e virei-me

vacilante para Tristan. Ele roçou-me na bochecha com a mão antes de chegar e

desengatar meu sinto de segurança. — Você é realmente alguma coisa, Amy Turner.

— Amy Rose Turner, — disse. — Mamãe iria querer que o lembrasse disso.

— Sua mãe louca e hippie? A que tentou me fazer comer flores? — Perguntou

brincalhão, ao abrir a porta do carro.

— Cale a boca! — Ri empurrando-o para fora de meu carro. – Verei-te na quinta-

feira. Sua mãe deu-me o dia de folga amanhã.

O rosto de Tristan escureceu-se. — Certo. O trabalho.

Sentindo-me incômoda, brinquei. — Acho que existem trabalhos piores do que sair

contigo.

— Sim. — Ele pegou a borda da porta e seu rosto ficou mais sério. — Amy, talvez

não devêssemos contar a ninguém sobre nós.

— O que quer dizer?

— Eu só... — Tristan fez uma careta. — Você precisa do dinheiro e não acho que

minha mãe estaria disposta a pagar-te se está saindo comigo.

— Oh. — Minha felicidade desinflou-se, engoli e assenti com a cabeça. — Ok.

— Acho que me entendeu. — Tristan deslizou-se de novo em meu carro e levantou

uma das mãos para frente, para minha cabeça. Hesitei, sem saber o que queria dizer, e

logo me inclinei para frente.

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Traduções 4Love

Sua mão curvou-se na parte posterior de meu pescoço. Guiou meu rosto ao seu e

me deu um perfeito e suave beijo que ondulou os dedos de meus pés. — Vamos fazer

isso funcionar, Amy Rose.

Sorrindo, peguei sua mão e apertei-a entre as minhas. — Está bem.

— Boa noite. — Tristan saiu de meu carro e bateu a porta. Observei até que

estivesse dentro de sua casa e então suspirei. Isso não era algo que eu esperava, nunca

tinha beijado assim antes. E manter isso oculto, especialmente de todos os curiosos

irmãos mais novos, não ia ser fácil.

No entanto, o excitado tremor de meu coração dizia-me que Tristan merecia a

pena.

— Que noite, — sussurrei para minha Camry e voltei para casa.

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Capítulo Dez

Na quarta-feira de manhã prometi dormir tanto quanto pudesse: uma formada no

ensino médio merece um descanso de beleza. Enquanto minha mente ainda estava

nublada escutei o som de beep. Grunhi enquanto saia do calor de meu casulo e

golpeei a parte superior de meu despertador. O som continuou. Gemi jogando a

almofada sobre minha cabeça, e escutei. Levei um nebuloso segundo para perceber

que o som não era normal, a não ser o ritmo do U2 ―Where The Streets Have No Name‖.

— Ugh, celular. — arrastei as palavras e cai da cama. Escutando o som, escavei

em minha pilha de roupa suja. Depois de um momento, com êxito tirei minha carteira,

de onde caiu meu celular. Fulminei com o olhar, antes de responder, enquanto seguia

soando.

— Alô? — O celular emitiu a voz da Sra. Edmund.

— Amy, é você?

— Uhm, sim? — Respondi confusa.

— Desculpe incomodar-te. Sei que disse que hoje é seu dia de folga... Não estava

dormindo, não é?

Sacudi a cabeça com a esperança de acalmar meu selvagem cabelo. Não tinha

sentido queixar-me ante a mulher que me pagava vinte dólares por hora. — Estou

acordada.

— Oh, bom, — ela disse muito alegre. — Perguntava-me se poderia fazer-me um

favor? Preciso que pegue Lexus no aeroporto.

Ainda aturdida, franzi a testa. Iam entregar a ela um novo carro pelo correio

aéreo? Bom, acho que era possível.

Balbuciei. — Bom, acho que tenho que chamar minha amiga para vir, para poder

dirigir até sua casa, ela ficará com meu carro.

Houve uma longa pausa, logo a Sra. Edmund disse lentamente. — Querida... Ela

não é uma ―coisa‖, Lexus é a namorada de Tristan.

Por um momento, o tempo parou. Vi tudo preto, senti-me doente e congelada.

Então, pisquei e era como se nada tivesse mudado. Meu coração ainda estava

batendo. Ainda estava respirando. O que acabou de acontecer? Senti-me

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Traduções 4Love

entorpecida. Era muito cedo e qual era esse pesadelo? Quase podia lembrar... Algo

horrível, muito horrível para pensar...

— Está aí?

Pulei ante o som da Sra. Edmund. Dando-me conta que não estava dormindo.

Afoguei-me. — Sim.

— Então... Pode pegá-la? — Ela pediu como se fosse uma criança.

Meti uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. — Claro.

— Maravilhoso! —Ela gritou. — Isso é de tanta ajuda, Amy. Ela estará chegando há

uma meia hora. É um avião privado, então tenho certeza que saberá onde está! Oh, e

ainda não sabe sobre a cegueira de Tristan, então não diga nada. Ele falará com ela.

De qualquer forma, tenho que correr ao trabalho. Então conversaremos depois!

Assenti ausente e desliguei o celular. Por alguma razão sempre pensei que

quando o mundo acabasse seria muito mais ruidoso.

Tempos depois me encontrei dirigindo minha Camry. Tentei, mas não pude

lembrar-me como tinha tomado banho ou me vestido. Estava na estrada, que

provavelmente não era um lugar seguro para estar distraída. Olhei o relógio de meu

carro e vi que era um pouco depois das dez horas. O que explicava a falta de tráfego.

Com um suspiro, peguei a saída da área de Grayfield para o aeroporto.

Estacionando na área de carga, deixei a cabeça cair contra o assento. Isso não podia

ter acontecido. Não podia ter me apaixonado por ele. Não podia ter me apaixonado

por um garoto que teve... teve muitas namoradas antes, mas como pode ter me

beijado como se... se...

Abri os olhos e olhei-me no espelho retrovisor. Meus olhos abriram-se quando vi

uma garota de pé na calçada, sozinha. Ela era a mulher perfeita. Parecia como eu

nunca poderia parecer, era maior e menor em todos os lugares certos. Ela tinha seus

bons 1.78 cm com longas pernas. Tinha a mesma medida de bronzeado – não muito

escuro, não muito claro – seu cabelo era de ouro brilhante acentuado com luzes claras

e escuras.

Suspirei. Talvez não fosse ela... Talvez.

Desci do carro. Imediatamente notando meu movimento, seu rosto anguloso

virou-se em minha direção. Era como um gato montês, enquanto caminhava para ela,

pulou sobre mim. Seus olhos eram de um intenso verde-água e escaneou minha roupa.

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Traduções 4Love

A criatura esboçou um breve sorriso branco e ajustou sobre seu ombro sua grande

bolsa. Sua voz era ligeira, sutilmente condescendente.

— Você deve ser a garota que a mãe de Tristan enviou.

A garota? Pensamentos de virar e deixá-la flutuaram em minha cabeça. Franzi a

testa. — Sou Amy.

Dramaticamente baixou a bolsa ao chão como se pesasse uma tonelada. —

Ótimo, pode me dar uma mão com isso?

Tal como uma empregada, levei a bagagem ao carro. A mala era tão grande

que levei cinco minutos para metê-la dentro de meu pequeno assento traseiro. Escutei

a criatura dar um pequeno suspiro de desprezo, quando subiu no assento do passageiro

de meu carro. Mordi o lábio, sentindo-me incômoda com toda essa situação. O que

devia dizer a ela? Liguei o motor e perguntei, — De onde você é?

Lançou o cabelo para trás e baixou o espelho retrovisor para olhar-se nele. — Oh,

sou de Chicago. Estava em um concurso de modelo. — Voltou o espelho a seu lugar. —

Talvez você tenha me visto, antes? Deus, tenho estado em tantos anúncios!

Rodei os olhos e dirigi-me à estrada. — Uhm, não, não posso dizer que tenha visto.

— Oh. — Preguicosamente jogou sua mão pela janela para sentir o vento. – Bom,

muitos anúncios estão na Europa. Mas chegarão aos Estados Unidos, eventualmente. —

Ela riu. — Imagine, no verão passado estava queixando-me com Tristan de como não

era conhecida em nenhum lado!

Minha garganta secou. — Estava saindo com ele, no verão passado?

— Sim, acho que estivemos conversando em um de seus espetáculos equestres.

Trist é muito bom nas competições de salto, — ela deixou sair. — E como poderia resistir

a ele em um traje?

Virei e um carro em uma pista ao lado tocou a buzina. Sem bate-papo. Tinha

terminado com isso. Apertei o acelerador.

A criatura continuou falando, já não precisava de nenhum estímulo. — E esse foi

um grande Verão! Sua mãe sempre estava dizendo o quão belos seriam os nossos filhos

algum dia. Ela é tão doce! E era verdade que disse que ele poderia vir e desfilar

comigo. Mas, tinha que terminar a escola.

Sentindo-me como se não pudesse suportar outra palavra, gritei mecanicamente.

— Aqui está a saída! — e girei o volante tão bruscamente que meu Camry deu um

gemido de protesto. O fato de que eu sairia da estrada não fez nada para reduzir a

velocidade com que íamos para a casa dos Edmund. Na verdade, quanto mais

ficávamos no carro, mais rápido impulsionava meu pequeno carro a voar. E de fato fez.

Em um tempo recorde e com um duro golpe nos freios, estacionei na garagem.

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3

Traduções 4Love

Deixei meu carro em marcha e sem um olhar para a criatura, dirigi-me

diretamente a casa e subi as escadas. Caminhei roboticamente para a porta de Tristan,

enquanto ela me seguia. Então parei, dando-me conta que não sabia o que dizer. Era

uma bagunça de emoções – muitas emoções. Fiquei quieta e surpreendi-me

vagamente, ainda estava lutando para respirar. Mas Tristan sabia que estava ali.

Estava tombado tranquilamente na cama com suas mãos cruzadas sobre o peito

como se estivesse esperando-me. Tinha uns fones conectados em um discman, não tive

que perguntar qual CD estava escutando. Apertou o botão de parar no aparelho e seu

brilhante sorriso virou-se em minha direção. Senti meu coração derreter-se.

— Oi! Mamãe disse que viria. Não pensei que você...

— Claro que tinha que te ver! Sua mãe não deveria dizer nada. —Gritou a modelo

enquanto suas pernas bronzeadas passavam junto a mim e entravam no quarto.

Vi o sorriso de Tristan congelar de um modo nada natural. Ela tinha roubado esse

sorriso – meu sorriso!

Ele engasgou. — Lexus?

— Quem mais poderia ser? — Riu e pressionou seus lábios contra os dele. O quarto

girou. Senti-me doente. Sustentei-me no marco da porta e gaguejei.

— Vou pegar um pouco de água.

— Poderia pegar algo para mim também? — A criatura ronronou.

Neguei com a cabeça e sai do quarto. Não tinha razão para estar incomodada.

Não tinha nenhuma razão. Ele era só um garoto e este era só meu trabalho, não tinha

sentimentos envolvidos. Nenhum. Antes, quando pensei que tinha. Estava equivocada.

Fui uma estúpida. Estava tão equivocada.

Minha cabeça estava fixa em frente quando entrei na cozinha, sem ver quase

nada. Teria continuado me movendo em meu estado zumbi, se não tivesse tropeçado

com algo. Instintivamente, parei e olhei para baixo.

Piscando, meus olhos focaram-se em uma pequena figura que estava deitada no

chão, franzindo a testa. Levei outro segundo para perceber que a tinha derrubado.

Ofeguei.

— Desculpe Marly! Você está bem?

Ela assentiu enquanto a ajudava a levantar-se.

— Amy? Por que está aqui?

Dei a volta para ver Chris que caminhava para mim, desde o balcão, no qual

estava construindo uma nave espacial de Lego. Gaguejei uma resposta.

— Eu... Eu estou deixando alguém.

Ele levantou as sobrancelhas. – Mamãe disse que tinha o dia de folga.

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Traduções 4Love

— Sim, eu sei. — Suspirei — Onde está sua mãe?

— Oh, ela voltará rapidamente. Está arrumando o cabelo. — Chris olhou para

Marly e sussurrou para mim atrás de sua mão. — Isso quer dizer que está com seu

terapeuta.

— Entendo.

Sorrindo, perguntou. — Então, quem trouxera?

— Bom... — olhei para o chão, repentinamente encontrando dificuldades em

formar as palavras. — Uh, a namorada de seu irmão.

A boca do menino caiu até o chão. Fechou os olhos e gemeu. — Nãão!

Joguei minhas mãos para o ar. Esse era o pequeno detalhe que todos sabiam

menos eu? Murmurei, — Genial, simplesmente genial.

Peguei um copo do armário e comecei a enchê-lo com a água da torneira.

Sentindo um puxão em meus jeans, olhei para baixo para ver Marly. Seus olhos estavam

muito abertos com honestidade enquanto sua pequena voz proclamava. — Nós

gostamos mais de você, Amy.

Sorri debilmente, acariciando sua cabeça. Engasguei-me. —

Obrigada.

Respirando profundamente, subi de novo as escadas e tentei ficar calma. Esse era

só um inconveniente, uma perfeita garota inconveniente. Cruzei a porta e olhei para

cima, literalmente senti meu coração cair fora de meu corpo. A criatura estava deitada

junto a ele na cama.

Estava traçando vagos círculos em seu braço com seu dedo e sussurrava a seu

ouvido. Tristan parecia congelado, mas isso não descartava o fato de que ele não

estava fazendo nada a respeito!

Não podia me mover. Estava metida na cena como se tivesse sido testemunha de

um horrível acidente de trânsito. Não podia olhar para o outro lado. Escutei sua voz

perguntando. — Por que está usando isso aqui dentro? — Enquanto sua mão deslizava

para seus óculos. Ele empurrou-a para longe e dirigiu-se a mim como se soubesse que

eu estava ali. - Ela sabe?

A criatura pareceu surpresa e um pouco indignada ao ver-me. Ela olhou para nós,

como se calculasse os parâmetros de nossa relação. Parei.

— Tristan...

— Ela... sabe? — Ele demandou.

— Não. — Meus pés estavam frios e olhei para baixo para encontrar o copo de

água que tinha deslizado de minhas mãos adormecidas.

— Saber o quê? — Ela perguntou, em um estado de choque.

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Traduções 4Love

As palavras vieram facilmente. — Que ele está cego.

— O quê? — A criatura deu um grito pouco natural e afastou-se dele, enquanto

agitava uma das mãos na frente de seu rosto. Ofegou quando se deu conta. — Que

demônios Tristan?! Por que não me disse? Quando aconteceu isso?

Ele falou monotonamente. — Dois, três meses atrás em uma competição. Não

soubeste por que me chutaste quando você se foi.

Eu pisquei surpresa.

—- Isso foi só temporário! — A criatura levantou-se. — Não sei como sentir-me

sobre isso Tristan.

— Não sabia que viria, — ele disse sem emoção. — Afinal, você não veio ao

funeral dele.

— Era um contrato de nove meses! — Começou a chorar injustificadas lágrimas. —

Estava ocupada!

— Exato!

A criatura rogou. — Não seja assim Tristan. Lembra da diversão que tivemos...

— Isso não compensa.

O rosto dela ficou tenso, até que explodiu em um grito. — Oh meus deus, estás

cego, — e passou em minha frente.

Tentei não olhá-lo. Tentei não sentir que estava com dor. Mas, não pude parar.

Sentei-me na cama junto a ele, olhando seu rosto e tentando averiguar o que estava

passando dentro de sua cabeça. Disse lentamente, — Desculpe, — e estiquei uma das

mãos para colocá-la sobre a dele. Não pude suprimir um suspiro quando empurrou sua

mão para longe de mim.

Seu rosto era de pedra e sua voz fria quando disse. — Preciso ficar sozinho.

A chama de ira dentro de meu peito explodiu em uma fogueira. Estava muito

irritada para inclusive falar, ele precisava ficar sozinho? O que aconteceu com o que eu

precisava? O que aconteceu com o fato de que tinha sido traída? Nem sequer

pensava nisso? Era só um erro? Nem sequer me considerava? Se apenas tivesse posto

essas perguntas em palavras. Mas não pude.

Em um frenesi, sai da casa, tirei meu carro do estacionamento, e fiz meus pneus

gritarem enquanto me afastava da casa dos Edmund. Não tinha chegado muito longe,

quando percebi que não estava em estado de dirigir. Parei de um lado da estrada e fiz

a primeira coisa que me veio à mente: Chamar Ahna.

— Ahna. — Minha voz soava vazia, inclusive para meus próprios ouvidos. — Não

estou morrendo então não me pergunte.

Sem nenhuma hesitar, ela disse. — O que esse idiota fez?

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Traduções 4Love

— Ele tem uma namorada ou uma ex-namorada. Não sei, mas ela está aqui.

— Ele o quê? — Gritou tão forte que afastei o celular de minha orelha. — Depois

de ter ido jantar com seus pais? E vir em sua formatura? E beijar-te?

— E eles sabiam! — Acrescentei na conversa. — Toda a família sabia! Por que não

me disseram? Ele é tão... Ugh! E o irmãozinho pequeno sempre fez piadas sobre nós!

Poderia só... Poderia só! - Dei um grande suspiro. – Não sei Ahna. Sinto como se quisesse

chorar o dia todo, mas não posso. Tudo ainda é como um sonho ruim. Não posso

acreditar. Fui tão estúpida.

— Não, não fora! — Ela disse rapidamente. — Quero dizer, ele também te beijou,

não é?

Sacudi a cabeça. — Sim, acho... Sim. Mas o que isso significa? Que é realmente

bom jogando com as garotas? — Fechei minha mão no volante. — Quero dizer, sei que

teve muitas namoradas. Ele não ocultou.

— Não sei Aim, — disse pensativamente. — Quando os vi juntos... Realmente não

pensei que estivesse fingindo.

— Sim?

— Sim. — Ahna disse firmemente. Pude senti-la chegando a seu modo de

conselheira. — Agora temos que calcular o que vai fazer. Na acho que deva desistir.

— Não?

— Não, — ela disse. — Acho que está fazendo mais dinheiro do que veremos em

dez anos! Sim, ele é um idiota. Não estou dizendo que seja fácil, mas acho que é uma

boa ideia se quiser ir a Evanston. Sua conta poupança está de acordo comigo.

Ri pela primeira vez no dia. — Oh, sério?

— Aham – podia dizer que estava sorrindo. — Aim, você vai ficar bem.

— Obrigada, Ahna.

— Então, como é a namorada? Pode suportá-la?

Rodei os olhos. — Oh, ela é perfeita, alta, loira, bronzeada... Tem desfilado no

exterior... Aparentemente a mãe dele ama-a...

— Mas ele ama-a?

Parei, lembrando sua expressão quando a criatura entrou em seu quarto.

— Não sei.

— Bom, não importa o que aconteça, ainda deveria dizer a ele que é um idiota.

— Ahna disse.

— Claro, isso é ótimo para conservar meu emprego, — respondi sarcasticamente.

Ela suspirou. – Bom, não me escute, mas da próxima vez que eu o vir...

Ri. — Você matá-lo-á. Eu entendo. Conversaremos mais tarde Ahna.

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Traduções 4Love

Desliguei e dirigi-me de novo pela estrada. Alcancei o final da Rua Edmund antes

de dar-me conta de que a bagagem da criatura ainda estava em meu assento

traseiro. Imediatamente parei o carro, e sorri maliciosamente, tirei a monstruosa mala.

Com um cerimonioso golpe, deixei a bolsa de designer cair no cascalho. Caiu com um

ruído surdo, levantando uma nuvem de poeira.

Continuei sorrindo todo o caminho de volta a minha casa.

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Traduções 4Love

Capitulo Onze

— Apesar da sensação que a conversa com a Ahna tinha me feito sentir, a opção

de não voltar para a casa dos Edmund foi muito atrativa no dia seguinte. A opção

continuava sendo atrativa o caminho inteiro até lá. A razão pela qual voltei era simples:

Tinha que ver Tristan. Tinha que vê-lo. Nunca poderia viver comigo mesma se não

soubesse o que acontecera. Já tinha tirado a pontapés A Criatura? Ela tinha ido por sua

conta? Em silêncio orei para que qualquer uma das duas tivesse virado realidade.

Sai de meu carro e timidamente empurrei uma mecha de cabelo atrás de minha

orelha. Meu estômago estava fazendo piruetas e meu coração estava acelerado; as

batidas rápidas chegavam a meu ouvido. Respirei fundo e comecei a subir as escadas,

mas congelei no segundo degrau. Por um instante, pensei que ia perder meu café da

manhã, e logo a sensação tinha passado. Endireitei meus ombros e continuei meu

caminho para cima.

Podia ouvir sua voz.

— Oh, Mick. — A criatura queixou-se. —Não sei...

Entrei e vi-a no estúdio. Estava de costas para mim e tinha seu celular pressionado

contra sua orelha. Quando se virou para caminhar para o sofá, pressionei-me contra a

parede. Rapidamente olhei ao redor e senti-me aliviada ao ver que nenhum dos

Edmund estava a meu redor sendo testemunha de uma espiã patética.

Agucei meus ouvidos quando ela continuou. — Acha mesmo? — Fez uma pausa

enquanto a pessoa no telefone, "Mick", respondia. — Mas ele disse, "Vamos ser amigos".

Amigos!

Meu coração deu um sobressalto; ele não estava saindo com ela! O momento foi

de curta duração, quando a ouvir dizer: - Faríamos uma grande manchete. Quero dizer,

Deus sabe que ele poderia ter desfilado! E com ele sendo cego... — Fez uma pausa. —

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Traduções 4Love

Você tem razão, uma página na People27. — Fez uma pausa. —Bom, a mãe dele ainda

me adora... Sim! Mas, essa garota que eu te disse, você... Aaaaaaaaahh!

Pulei em um pé no ar e repeti seu grito. Estava tão concentrada em escutá-la, que

não percebi que sua voz estava cada vez mais perto. Nós ficamos boquiabertas, uma

para a outra por um momento e logo fechou seu celular bruscamente. Seus olhos de

gato brilharam para mim na luz e seus lábios formaram uma linha fina. — Minha

bagagem estava na terra.

Levantei as sobrancelhas inocentemente. — Oh, deve ter caído. — Assim como

seu cérebro.

— Claro. - Seus olhos brilharam nos meus. — Escuta, não sei o que pensa ter

escutado...

— Eu sei o que escutei. — Interrompi-a. — Você quer usá-lo.

— Escuta, — deu um significativo passo a diante e percebi, com consternação,

que eu estava sendo pressionada contra a parede, — eu estava aqui antes de você.

Não sei que tipo de relação você pensa que tem com Tristan, mas ele é meu.

— Desculpe? – Ofeguei.

A Criatura inclinou-se sobre mim, dizendo com firmeza. — Esta coisa de "amigos" é

só para fingir. Conheço Tristan, temos uma história. Pode ser famoso, se estiver comigo.

"O Marido Cego de Lexus Elizabeth Carlton". É assim que as coisas deveriam ser. Até sua

mãe pensa assim.

— Ótimo, outra Kristy, — murmurei, sem romper o contato visual.

— O quê? — Ela gritou. — Não sou da Clarence! Fui instruída! Nem sequer estou na

liga com essas garotas da Clarence! — Ela viu minha expressão de surpresa. — Isso é

certo. Sei sobre cada uma das namoradas anteriores de Tristan e deixe-me dizer-te,

essas cachorras Clarencienses são patéticas. São tão patéticas que inclusive nunca

sonharam em passar um tempo sozinhas na cabana dos Edmund com Tristan. Entende

agora, não é? — Ela parecia estar desfrutando da forma que meus olhos estavam

27

People: revista de fofoca americana.

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0

Traduções 4Love

saindo de minha cabeça. — Eu sou o tipo de garota que Tristan gosta. Não, — avaliou-

me — o que seja que você acredita que é.

Não.

— Aaahh!

Realmente não tinha escolha. Minha mão agiu por vontade própria e voou pelo

ar, parando só a um milímetro de esbofetear sua bochecha. De repente, eu estava

rindo, realmente rindo. Loucamente. Parecia que tinha perdido a cabeça e talvez o

tivesse feito; toda a situação era demais. Eu só queria esbofeteá-la. Não faria, claro,

não era tão violenta, mas a expressão em seu rosto não tinha preço.

Parei de rir quando disse: - Não vai ganhar nada, vadia! Trabalha aqui, não é?

Quer ser demitida? Posso fazer com que isso aconteça, sabe. Portanto, se estiver

pensando em dizer algo a Trist, recomendo que considere a situação.

— Sabe, — sorri para seu rosto azedo. — se Tristan não puder entender o que está

acontecendo por si mesmo, então ele merece-te.

A Criatura fez uma pausa, ficando perplexa. — O quê?

— Está em sua "própria liga", descubra por si mesma. – Empurrei-a e passei por ela.

Tinha conseguido chegar até a base da escada de caracol antes que sua voz me

pegasse. — Ele não está ali em cima! Está na parte de trás, junto à piscina. Estávamos

nos bronzeado. Acabei de entrar para pegar uma bebida.

Uma bebida. Claro. Assenti com a cabeça e menti. — Você é tão útil.

Caminhei através da cozinha e as portas francesas que levavam ao pátio traseiro.

Quando entrei no pátio de cimento, fiquei sem ar. A piscina era um longo retângulo

cheio de água brilhante que refletia o azul do céu. O resto do pátio traseiro era algo

como um acampamento de férias, com grama digna de uma espessura de campo de

golfe e bordas com sebes perfeitamente quadradas. Mas o que realmente me fez ficar

sem ar foi Tristan. Estava deitado e relaxado, em uma cadeira com nada mais que um

calção curto e seus óculos postos. Não pude evitar me perguntar como mantinha sua

barriga tão tonificada.

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1

Traduções 4Love

Quando disse fracamente afogada: — Tristan. — Ele sentou-se com as costas retas

e virou-se em minha direção. Seus óculos de sol negros resplandeceram debaixo do sol

brilhante.

— Amy? — Abriu a boca para dizer algo mais, mas A Criatura passou junto a mim.

Jogando-se em seus braços, e rogou: — Tristan, quero tomar um sorvete.

Perdi toda a admiração quando ele deu sua atenção para A Criatura. — Não

posso dirigir.

— Oh, — suspirou dramaticamente, como se fosse um tremendo inconveniente.

Ela deixou-se cair em sua cadeira, praticamente em seu colo. Soltava faíscas e fixou

seus olhos em mim. — Amy pode dirigir. – virou-se para Tristan e colocou uma mão sobre

seu peito nu. — Por que não pergunta a ela?

Ficou rígido e, por um momento, desejei com todas minhas forças que a

empurrasse para longe. Em vez disso, ele lhe deu um sorriso forçado e tirou sua mão de

seu peito, colocando-a no colo dela. Quando ele falou comigo, seu tom era

anormalmente baixo. — Amy... Poderia dirigir?

Meu coração ficou dez graus mais frio. Que tipo de amizade era essa?! Minha voz

era apenas audível quando respondi. — Sim.

— Bom! — A Criatura saltou e, puxou Tristan a seus pés, enlaçou seus braços em

volta dele. Ela o levou adiante enquanto ele colocava a camisa. Fiz uma careta,

percebendo que tinha reduzido no instante meu trabalho ao de chofer.

Caminhei rapidamente por toda a casa e olhei para cima para ver Chris e Marly

olhando pela grade. Chris estava mostrando a língua para a modelo alheia a careta e

caminhando atrás de mim. A senhora Edmund flutuava no patamar do segundo piso,

olhando as crianças. Gritou para nós: — Divirtam-se. — E deu-me um sorriso, antes de

entrar pela porta principal. Parei junto a minha Camry e lhe dei uma palmadinha

carinhosa.

Virei-me para A Criatura, que parou tão de repente que Tristan chocou-se contra

ela. Abri a porta do passageiro, enquanto tentava não olhar para Tristan, que

envergonhado, passava a mão por seu cabelo. Antes de ter a porta aberta, A Criatura

disse: — Não, ambos vamos nos sentar no banco de trás. — E puxou Tristan para mais

perto de meu carro.

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2

Traduções 4Love

Franzi a testa, olhando para meu assento traseiro. Na maior parte estava limpo,

com exceção de algumas toalhas velhas e canudos. A Criatura, soltando o braço de

Tristan, abriu a porta e entrou. Por um momento, Tristan parou desajeitadamente de pé.

Mordi o lábio e peguei sua mão. Por alguma razão, nós dois saltamos quando nossa

pele tocou-se. Coloquei uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, perguntando-

me se era minha imaginação. Peguei sua mão com firmeza e coloquei-a na borda da

porta.

Sussurrei em seu ouvido: — Só precisa abaixar a cabeça um pouco mais.

Poderia jurar que tremia quando me aproximei, mas rapidamente ele entrou em

meu carro. Neguei com a cabeça e fechei a porta atrás dele.

A viagem até o centro foi um borrão. A Criatura estava arrulhando-o28.

Arrulhando-o. Tinha pensado seriamente em estacionar em uma vala. Minha raiva foi

crescendo a cada minuto que passava, enquanto eu corria pela rua principal,

ignorando a "pitoresca" arquitetura do princípio do século dos pequenos comércios.

Olhei no espelho retrovisor, confirmando o fato de que ela estava tentando envolver

seu braço como uma serpente em volta de seu pescoço. Tristan afastou-se dela, seus

dedos tocando com impaciência a base da janela. Arremessei meu carro em uma

vaga de estacionamento e sorri quando ela se chocou contra a porta.

Sem uma palavra, sai de meu carro, empurrei vinte e cinco centavos no medidor,

e entrei no Mundo dos Sorvetes; Tristan e sua nova assistente poderiam encontrar seu

próprio caminho. Uma pequena campainha na porta soou ruidosamente quando a

porta fechou-se atrás de mim. Reconheci o rosto atrás do balcão: era Rodge, que não

estava trabalhando no dia em que Tristan e eu viemos. Rodge era um bom rapaz, com

28

Arrulhar: Murmurar meiguices, proferir frases ternas e amorosas: os namorados

arrulham.

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3

Traduções 4Love

cabelo preto de pontas e um aro de prata em sua sobrancelha. Nós tínhamos saído

uma vez, durante meu segundo ano, mas não nos encaixamos como um casal.

— Olá, Rodge.

— Aim. — Sorriu de volta para mim. — Você ainda gosta de Moose Tracks29

polvilhado com faíscas de cores?

Eu ri. — Não posso acreditar que você se lembre disso.

Rodge pegou uma taça de tamanho médio e começou a servir o sorvete. — É

uma combinação única.

Debrucei-me contra o exterior frio do refrigerador e olhei para Tristan, que estava

de pé perto da porta com A Criatura. Parecia estar escutando atentamente nossa

conversa, enquanto ela ocasionalmente olhava para suas unhas. Sorri e virei-me para

Rodge. — Você lembra-se daquele filme que vimos?

Tristan ficou rígido.

— Sim, esse foi bom... — Parou no meio de sua aspersão. — Como chamava-se?

Estavam todas as pessoas trancadas em uma velha escola...

Assenti com a cabeça e vi Tristan mudar incomodamente. — E os fantasmas

perseguiam-nos, não é?

Rodge deixou a taça sobre o balcão. —Sim, não posso me lembrar do nome —

Marcou meu pedido na caixa registradora.

— São três dólares.

Sorri e meti a mão em minha carteira para buscar meu dinheiro, quando escutei

Tristan dizer, — Eu pago. — Tinha se afastado da Criatura e estava sustentando uma

rangente nota de dez dólares. Franzi a testa, sem saber se devia pegá-la, e perguntei. –

Tem certeza?

29

Moose Tracks: é um sorvete, com pedaços de chocolate.

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Traduções 4Love

— Sim, er, acho que dá para pagar tudo. — Tristan coçou sua nuca. Disse em voz

baixa. — É uma de dez, não?

— É sim. — Detectando sua vergonha, mordi meu lábio e peguei a nota,

passando para Rogde. — Obrigada.

Deslizou a nota de dez na caixa e fixou a mudança no contador. – Bom, foi bom

ver-te, Amy.

— Adeus, Rodge. — Peguei meu sorvete e fui até uma mesa junto à janela da

frente. A Criatura meteu-se em meu lugar frente ao caixa e ordenou algo com poucas

calorias e muito menos sabor. Desabei em um dos assentos acolchoados de cor

vermelha, coloquei minha taça sobre a mesa batida, e olhei para fora. Retorcendo a

colher de plástico entre meus dedos, não pude evitar perguntar-me por que Tristan

tinha decidido pagar por mim.

Uma vez que ele e A Criatura tinham suas taças, aproximaram-se de minha mesa.

Tristan levava os dois sorvetes e sua perna chocou-se com uma das cadeiras. Não podia

julgar a distância com suas mãos ocupadas, por isso chutei a cadeira longe da mesa

para salvá-lo de terminar no chão. A narcisista Criatura nem se deu conta do potencial

desastre, enquanto fuçava as unhas esperando que Tristan sentasse, para que assim

pudesse tomar seu sorvete de baunilha.

Tristan caiu pesadamente na cadeira, sua mão fechando-se em um punho depois

que A Criatura arrebatara seu sorvete. Sorri quando mordeu sedutoramente sua cereja

ao marrasquino, com a intenção de atrair sua atenção, mas não recebeu resposta.

Tristan perguntou de repente. — Amy, como conhece esse cara?

Pisquei, não esperava que dissesse algo. Tentando atuar indiferente, expliquei. —

Oh, sim, nós namoramos.

— Namoraram? — A Criatura zombou. — Ele tem um aro na sobrancelha!

— Tem? — Frustrado, Tristan virou sua cabeça para o balcão, como se devesse ter

sido capaz de ver o estilo punk de Rodge.

— Sim. — Estudei o rosto de Tristan, tentando averiguar se estava incomodado

porque Rodge não era o típico, dócil morador de Grayfield ou porque eu tinha um

passado com ele. — Isso é... estranho?

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5

Traduções 4Love

— Não, só não pensava que você... — incômodo, Tristan passou seus dedos

através de seu cabelo. — Quero dizer, ele não é...

Como você, pensei. Mas percebi que ele mesmo estava reconsiderando, sem

saber se devia terminar a frase.

Antes que tivesse a oportunidade de mudar de opinião, A Criatura entrecerrou os

olhos e interrompeu-o. — Tristan, quando foi a última vez que montaste a Aeris?

Frente ao som de sua voz, Tristan inclinou-se sobre a mesa e afundou a colher em

seu sorvete de Menta com Faíscas de Chocolate. Murmurou. — Não monto mais.

Surpresa, inalei a colher de sorvete que acabava de colocar em minha boca e

comecei a afogar-me. A Criatura olhou-me com receio. Deslizou sua cadeira para mais

perto dele e sussurrou algo a seu ouvido. Ela jogou-se para trás e soltou uma risada,

piscando seus olhos verdes para mim significativamente. Tristan fingiu um sorriso.

Apunhalei a colher em meu sorvete e endireitei-me em meu assento. — O que é

tão engraçado?

A cabeça de Tristan levantou-se rápido, como se sacudisse com a dureza de meu

tom. Explicou. — Ela estava lembrando-me da época em que minha mãe fez uma festa

e acabou caindo...

— Não é realmente importante, — cortou A Criatura.

— Oh. — Levantei minhas sobrancelhas inocente e dei outra mordida em meu

sorvete. — Então... quem é Mick?

A Criatura empurrou sua colher tão profundamente na taça que ouvi um crack

contra o fundo. Seus olhos abriram-se em surpresa e olhou para Tristan, que tinha a testa

franzida em confusão.

Ela gaguejou. — Só, er, meu agente.

Ao ver que estava nervosa, perguntei. — Que idade ele tem?

— Vinte e cinco, — respondeu com muita rapidez. Ao perceber seu erro quando a

testa franzida de Tristan ficou mais profunda, lançou um olhar selvagem. — Então, gosta

de seu trabalho?

Antes que fosse capaz de responder, Tristan perguntou-me. — Como sabe dele?

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6

Traduções 4Love

Por um momento, senti-me culpada por não dizer o que tinha escutado. Depois

lembrei como Tristan tinha-a permitido fazer-me de chofer. Dei de ombros, desalentada.

—– Ela mencionou-o, foi isso.

De repente parecia quase preocupado. Disse suavemente. — Amy?

— Tristan, — respondi.

A Criatura rapidamente colocou uma das mãos sobre seu braço. — Lembra, Trist,

lembra quando... — baixou a voz e inclinou-se mais perto de seu ouvido.

Parecia distraído por um momento, enquanto deslizava seu braço longe dela, e

então se sentiu atraído por suas palavras.

Eu disse-me que não me importava, mas isso foi só uma mentira. Cada vez que ela

sorria esse horrível sorriso falso e cada vez que ele forçava um sorriso como resposta, era

como outra ferida de faca em meu estômago. Nunca tinha esperado que meu

trabalho como babá transformasse-se em uma terceira roda profissional. Dizia a mim

mesma que só faltava a metade do dia e que o dinheiro valia à pena. Certo?

No momento em que estava dirigindo de volta para a casa dos Edmund, estava

tão tensa que pensei que teria traços permanentes de unhas nas palmas das mãos. A

Criatura continuara jorrando risos de flerte que agora corrompiam o santuário de meu

carro. Perguntava-me que tipo de cerimônia de purificação faria para tirar os maus

espíritos que tinha certeza que deixaria para trás. O sorvete que eu comera assentara

como uma rocha no fundo de meu estômago.

Quando desliguei meu carro, outro estalo de risos fez-me franzir a testa. A Criatura

saiu, deixando Tristan sozinho no assento traseiro. Suspirei e caminhei ao redor de meu

carro, enquanto ela caminhava imponentemente para a casa. Quando abri a porta

para deixar Tristan sair, apenas aparentava divertir-se muito. Peguei sua mão, minha voz

baixa enquanto perguntava. — Você divertiu-se?

Tristan ficou de pé e rapidamente estava perto de mim, podia sentir seu fôlego

quente em minhas bochechas. Respondeu misteriosamente. — O que você acha?

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7

Traduções 4Love

Não tinha me dado a resposta alegre que temera, mas como eu ia saber o que

sentia, quando ele era o que a deixou flertar desagradavelmente durante a última

hora? Queixei-me. — Não sei, Tristan. Nem sequer entendo por que está aqui.

— Olha, tive que deixá-la ficar. — Suspirou fortemente. — Minha mãe adora Lexus

e pensei que devia fazer sua vontade, para variar, algo como faz com seus pais. Não

será tão ruim. Lexus não pode saber sobre nós. Não quero que te demitam, Amy.

Demitir-me? O que acontece com a vontade que me dá de renunciar? Abri a

boca para dizer a ele, quando A Criatura precipitou-se pela escada principal e meteu-

se no pequeno espaço entre nós.

Agarrando seu braço, disse. — Ai está você! Vamos, Tristan. Vamos nos sentar

junto à piscina, — e me olhou, antes de arrastá-lo para a casa.

Optei por segui-los a certa distância enquanto minha mente trabalhava em

decifrar o que Tristan tinha dito: que estava fazendo isso como um favor a sua mãe, mas

ele não queria que A Criatura despedisse-me. Então... ele estava sendo estúpido. Não

podia perceber que ela era ruim? Que não devia nenhuma falsa obrigação! Que

garoto.

Quando entrei na cozinha, a Sra. Edmund estava encurvada em cima de uma

pilha de papéis sobre o balcão. Olhei através das portas francesas e vi que Tristan e A

Criatura já tinham se acomodado em duas cadeiras. Ela estava sustentando uma

garrafa de óleo bronzeador e deu uma olhada que me deixou arrepiada. Desgostosa,

dei a volta e encontrei a Sra. Edmund olhando-me com um rosto com marcas de

lágrimas. Caminhei até ela, franzindo a testa. — O que há de errado?

— Oh, er, desculpe. — Secou os olhos com um lenço de papel enrugado. — Eu...

Eu só estava tentando equilibrar o talão de cheque enquanto os meninos jogam lá em

cima. Meu esposo costumava cuidar das faturas pela Internet, mas nunca consegui

descobrir como é isso. Pensei que fazê-lo à mão não seria tão ruim, mas... — Deu de

ombros e curvou sua boca enquanto lutava contra um soluço.

— Bom, por que não te ajudo? — Disse e levantei um dos documentos do balcão.

— Podemos fazer isso mais uma vez: vou ler o estado de sua conta e você pode

assegurar-se de que tudo esteja marcado em sua caderneta.

— Obrigada, Amy. — A Sra. Edmund levantou seu lápis com um olhar de

determinação. — Isso não tem sido fácil, mas acho que tudo vai melhorar. Sobre tudo

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Traduções 4Love

se Tristan estiver feliz. Ele tentou me ajudar depois que meu esposo faleceu, passava

mais tempo em casa, inclusive deixou de sair. Mas depois do acidente... — Suspirou e

logo disse com firmeza. — Bom, Lexus fá-lo-á feliz, outra vez.

Não estava disposta a fazer um furo na bolha da Sra. Edmund, mas essa garota

de nenhuma maneira era o anjo da felicidade. Olhando para fora, vi que A Criatura

tirara sua mini-saia e seu top e estava só de biquíni. Quando tentou aplicar bronzeador

no peito dele, ele arrebatou a garrafa de suas mãos e começou a colocar nele mesmo.

Bom.

Olhando de novo para o papel em minhas mãos, comecei a ler o primeiro

número quando a Sra. Edmund disse. — Amy, estava perguntando-me, Tristan por acaso

tem falado sobre nossa cabana?

— Hum... — Vagamente me lembrava do cara no baile depois da formatura de

Tristan, dizendo algo sobre como era no lago e como eu iria se estivesse ―com‖ Tristan. E

depois A Criatura tinha feito algum comentário, também... Algo sobre estar sozinha com

ele ali. Não ouvira nada de Tristan diretamente. — Claro.

— Bom, é no Lago Wind Song em Wisconsin. — explicou a Sra. Edmund. — É uma

zona muito linda, muitas das famílias de Grayfield passam as férias ali no verão. Pensei

que, poderia levar Tristan e Lexus amanhã para que assim possam ter um dia sozinhos

antes de irmos no sábado? Eles foram mais cedo ano passado e realmente se

divertiram. Poderia fazer isso, Amy?

Sozinha. Sozinha com a Criatura flertante por um dia inteiro. A ideia fez-me sentir

desejo de vomitar.

— Claro, — disse com falsa alegria.

— Oh, maravilhoso! — Disse ela, a cor de suas bochechas retornando. — Leva em

torno de duas horas para chegar lá, então pensei que poderia utilizar o carro de Tristan?

É um carro muito agradável, então tenho certeza que a viagem será cômoda.

Fiz uma careta, perguntando-me qual de seus filhos tinha dito sobre o lamentável

estado de meu carro. — Sim, tudo bem. Virei às dez.

A Sra. Edmund sorria alegremente. — Perfeito.

Bom, ao menos uma de nós estava feliz.

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Capítulo Doze

— Ainda não posso acreditar que vai a uma cabana com seu namorado, —–

minha mãe suspirou da porta. Ela estava sustentando uma xícara de chá em suas mãos

e enquanto eu empacotava, ela observava sobre minha cabeça, recordando os

tempos quando ela tinha encontros com meu pai. Lancei um suéter sem muito cuidado

em minha mochila, apertei os dentes e expliquei outra vez. — Tristan não é meu

namorado. Estão pagando-me para fazer isso.

— Disse que sua cabana é em um lago? — Continuou ela como se eu não tivesse

falado. — A água pode ser tão divertida no verão...

Sim, poderia ser se eu pudesse submergir uma certa Criatura debaixo dela. Sorri

malvadamente ao pensar e fechei a mochila.

— Bem, estou pronta.

Mamãe deu um apertão em meu ombro enquanto caminhávamos para a porta

da entrada. — Tem que me contar tudo quando voltar!

Fiz uma careta enquanto a abraçava. — Só as coisas mais importantes.

Ela despediu-se movimentando a mão enquanto eu dirigia-me a meu carro,

lançava minha mochila no assento do passageiro e ligava o motor. Também me

despedi com a mão e retrocedi pela estrada. – Estará tudo bem. Será divertido. Tudo

vai ficar bem. Será divertido. – Esse era o mantra que repetia uma e outra vez em minha

mente. Ontem à noite pensei em confrontar Tristan dizendo a ele como sentia-me,

dizendo a ele sobre o plano da Criatura. O problema era que eu ainda não queria. Na

realidade, não. Eu queria que ele percebesse por ele mesmo.

Dirigi em silêncio todo o caminho até a casa dos Edmund e quando passei pela

entrada aberta, reduzi a velocidade de minha Camry e dirigi pelo caminho. O

Mercedes-Benz de Tristan estava estacionado à frente das escadas e era lindo. O

lustroso prateado do exterior não ocultava o fato de que custou uma considerável

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quantia de dinheiro. Os freios de minha Camry chiaram em protesto pela atenção que

estava dando ao outro carro. Ignorando-o, estacionei e sai do carro enquanto

pendurava em meu ombro a mochila.

Caminhei até o Cabriolet e com muito cuidado corri meus dedos sobre o frio

metal. Observei pelas janelas e, vendo os assentos de couro negro, sorri. Sim, acho que

poderia sofrer dirigindo esse carro. Talvez a viajem não seja tão ruim afinal. Coloquei

minha mochila no chão e coloquei as mãos em meus quadris, ainda saboreando a

ideia de dirigir semelhante carro fino. Minhas sobrancelhas arquearam-se quando

percebi que era um conversível. Perfeito para a auto-estrada!

Dancei um pouco de lado a lado e compreendi que na verdade era um lindo dia

para estar fora. Estava quente, mas não úmido, e o sol resplandecia no amplo céu azul.

Sentindo minhas energias renovadas, dei a volta e comecei a subir pelas escadas para

entrar na casa. Encontrei-me com a Sra. Edmund, Chris e Marly parados junto à porta.

Sorri para eles alegremente e Chris olhou-me confuso. — Por que está feliz? Você tem

que ir com ela.

A Sra. Edmund lançou um gritinho afogado enquanto observava seu filho. —

Christopher John!

Eu sorri. —– É um Cabriolet, menino.

Chris moveu sua cabeça tristemente, como se estivesse certo de que eu tinha

ficado completamente louca. Ele pulou quando A Criatura gritou. — Menino, minhas

malas estão lá acima!

A Sra. Edmund disse. — Querida, ele não é suficientemente grande para carregá-

las. Eu ajudar-te-ei.

Marly estava ocupada chupando o polegar. Dei um empurrãozinho para a base

das escadas em espiral onde Tristan estava parado e disse. — Dê a seu irmão um

abraço. Não vai vê-lo até amanhã.

A pequena menina imediatamente correu até Tristan e o abraçou pelas pernas.

Tristan sorriu e pela primeira vez há muito tempo parecia genuinamente feliz. Eu sentia

falta de seu sorriso. Ele disse a sua irmã. — Ver-te-ei logo, Marly. Nem te dará conta de

que fui.

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Traduções 4Love

A Sra. Edmund estava nas escadas, vociferando enquanto lutava com a

bagagem. Eu apressei-me a ajudá-la nos últimos degraus e logo peguei a gigantesca

mala em minhas mãos. Lutei para chegar até a porta e perguntei ao Chris. — Pode me

ajudar a colocar isso no carro?

Pensando que perguntava a ele, Tristan pendurou sua mochila no ombro e deu

um passo para frente. A Criatura rapidamente colocou uma das mãos sobre seu braço

e disse suavemente. — Ela referia-se ao menino.

Tristan franziu a testa e continuou caminhando. — Seu nome é Chris.

Da entrada observei como A Criatura piscou surpresa, mas não pude desfrutar do

momento por causa do peso que estava carregando. Chris foi correndo até o carro e

abriu o porta-malas. Por causa dos quatro assentos e do teto conversível, não era o

maior que tinham inventado; não que muitos bagageiros pudessem ter dado conta do

ridículo tamanho da bagagem dela. Grunhi enquanto colocava-a no porta-malas e

então, ofegando, observei que ainda sobressaía ao redor de quinze centímetros para

fora do porta-malas. Olhei para Chris e perguntei. — Alguma ideia?

— Se ela tem uma mala grande, eu tentaria acomodá-la de lado.

Sobressaltei um pouco surpresa que Tristan tivesse me escutado. — Se isso não

funcionar, tenta colocar o Chris para pular sobre a mala.

Espera. Tristan estava fazendo uma piada?

— Er, obrigada, — disse e olhei para Chris. — Bem?

Chris zombou. — Eu não vou pular sobre essa coisa!

— Está bem. — Tristan desceu os últimos degraus. — Só me mostre onde está.

Eu observei sem compreender sua mão estendida. Engoli, lembrando-me a mim

mesma que Chris estava observando, e rapidamente peguei a mão de Tristan. Sua pele

era quente contra a minha, justamente como na noite quando ele tocou meu rosto.

Tentei ignorar a lembrança enquanto o levava ao porta-malas do carro e colocava sua

mão sobre a bagagem. Parei ao lado dele e observei como seus dedos agarravam a

estrutura e levantavam a mala com facilidade, e dava a volta e acomodava-a lá

dentro.

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Traduções 4Love

— Amy? — Tristan girou sua cabeça em torno da minha e perguntei-me se ele

sabia o quão perto estávamos. — Queria te dizer que...

— Amy, seja uma boneca e me traga alguns CDs do quarto de Tristan! — gritou A

Criatura. Ela estava parada de pé nas escadas e parecia muito irritada. Quem tinha

dito que a música era tão importante para ela? Sim, claro.

— Eu posso trazer! — Disse rapidamente Chris, enquanto nos olhava, a Tristan e a

mim.

— Tudo bem.

Eu acariciei suave e macia a cabeça e caminhei de volta para casa. Sabia que

seja o que for que Tristan tentara dizer-me, jamais ocorreria na frente dela. Também

sabia que ela não tinha ideia de que a maioria dos CDs de Tristan já não estava em seu

quarto. De fato, só ficava um. Mas que tipo de escrava — digo, empregada — seria eu

se pensasse por mim mesma e fosse ao closet para buscar outros CDs? Não, ela teria

exatamente o que pediu: Jon Buckley.

Escalei as escadas em espiral e dirigi-me pelo corredor até o quarto de Tristan.

Quando entrei, vi que nada tinha mudado no quarto, o edredom preto estava

colocado rigidamente sobre a cama. Sorri com satisfação enquanto lembrava como

ele tinha me olhado quando eu pulei sobre sua cama e sugeri divertir-nos. O sorriso

sumiu quando essa lembrança foi substituída por outra da Criatura deitada junto a ele,

traçando círculos em seu braço. Malévolo dia.

Encontrei o CD abandonado no chão junto a sua cama. Agarrei-o e apertei-o

contra meu peito enquanto rapidamente saía do quarto e com pressa descia as

escadas e saía da casa. Tristan já estava sentado no assento de trás da Cabriolet e

nossas mochilas estavam ao lado dele. A Criatura tinha baixado a janela dela e estava

sorrindo para mim de orelha a orelha como o gato Cheshire30. — Pedi para ser a co-

piloto.

Revirei os olhos. Claro que sim.

30 Cheshire: é o nome do gato do filme “Alice no país das Maravilhas”.

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Traduções 4Love

A Sra. Edmund e os meninos estavam parados lá fora, de pé nas escadas. Chris

sussurrou. — Boa sorte.

Eu olhei o carro e ri. — Obrigada.

Como um soldado dirigindo-se à guerra, com muita valentia ergui os ombros e

marchei para o carro. Sentei-me deslizando meus jeans sobre o couro e coloquei o CD

de lado. Com um último cumprimento com as mãos aos três rostos preocupados, dirigi

afastando-me da Rua dos Edmund. Apenas apertei o acelerador e o carro já tinha

acelerado pelo caminho muito mais rápido do que meu Camry jamais poderia ter

sonhado. Desfrutei da sensação de poder abaixo de meu pé e não podia suportar a

vontade de estar já na auto-estrada e provar a velocidade.

Olhei como A Criatura pegava o CD do centro do aparelho e avaliava a imagem

do atrativo jovem que estava na capa. Observei com o canto do olho enquanto ela

abria o estojo e deslizava o CD no som. Rapidamente estiquei o braço e pressionei o

botão de adiantar para colocar na música número seis. A introdução da guitarra

começou e logo veio a voz de Jon: “O dia que ela entrou no quarto, sua cabeça deu

voltas. Embora fosse muito rápido...”

— O que é isso? — Gritou A Criatura, bem a tempo.

— É o único CD que Tristan tinha em seu quarto, — respondi ligeiramente. — Jon

Buckley.

— Ele soa tão deprimente, — queixou-se ela.

Eu sorri. — Mas as letras são ótimas.

“... ela derrubou-te. Pegou seu espírito e quebrou seu desejo de viver. Mudaste

ante aos rostos de todos os que te conheciam.”

— Não acha, Tristan? — Perguntei, lançando uma clara indireta. Esta insinuação

sobre a letra era o mais perto que tinha estado de dizer o que pensava sobre ele ao

permitir que A Criatura ficasse. Olhei pelo espelho retrovisor e vi que Tristan levantava a

cabeça. Quase podia imaginar seus resplandecentes olhos azuis observando

diretamente os meus através dos óculos e senti um raio de esperança.

Ele abriu sua boca e começou: — Eu...

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— Eu acho horrível, — ela interrompeu e alcançou o botão de parar no

reprodutor.

Eu virei para observar a estrada e minha esperança dissolveu-se. Logo Tristan

voltou a falar com tom firme. – Eu gosto. Deixa.

A Criatura ficou paralisada com as sobrancelhas arqueadas.

Eu olhei para trás no retrovisor e vi que os óculos de sol dele ainda estavam me

encarando. Com voz tremula perguntei. — Você gosta?

— Sim. Antes, eu não estava... — ele vacilou um momento, buscando as palavras.

— mentindo para você, Amy.

Meu coração começou a golpear e subitamente, eu estava pronta para dizer

tudo o que tinha escutado e tudo o que sentia. Não me importava se teríamos um

acidente; eu ia continuar olhando pelo retrovisor e ia soltar tudo. Mas antes que minha

boca pudesse pronunciar uma sílaba, A Criatura gritou histericamente. — Chinese fire

drill!31

Minha intenção foi estalada como um galho quando a cabeça dele virou para

encarar a parte traseira do assento dela e zombou. — O quê?

Como ela pode roubar sua atenção tão rapidamente? Ela sabia exatamente

como pressionar seus botões. Quase gritei de frustração. Ao invés disso, agarrei o

volante tão fortemente que meus nós dos dedos ficaram brancos.

— Nós NÃO vamos brincar de Chinese fire drill.

— Mas por quê? — Ela queixou-se. Eu podia ver que os olhos dela brilharam

triunfalmente.

— Porque... — suspirei, dando-me conta que teria que lembrar o trabalho que ela

tinha me dado. — Por que eu sou a motorista.

Um cruel sorriso desenhou-se em seu rosto. — Ah.

31

Usado para descrever uma brincadeira de faculdade americana (também conhecido como vermelho-

verde) é realizada por ocupantes de um veículo quando parado em um semáforo, especialmente quando

há a necessidade de mudar motoristas. Antes da luz mudar para verde, cada ocupante sai, corre em

volta do veículo, e volta no interior (mas não necessariamente no seu local original). Se um dos

participantes fica, os outros podem dirigir sem ele ou ela.

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Traduções 4Love

Introduzi-me na auto-estrada e o Cabriolet acelerou facilmente, mas agora a

expansão de cimento não me parecia tão atrativa. Somente parecia longa. Muito

longa. Longa demais.

Gostava de Jon Buckley, de verdade, mas ter que escutá-lo por uma hora inteira

enquanto estava sentada ao lado de alguém que se queixava cada vez que o CD

mudava para próxima música, é outra coisa. No entanto por nada no mundo eu ia

satisfazer A Criatura desligando-o. Ah não. Eu queria que ela estivesse mais incômoda

que eu pudesse causar sem chegar a ter que lançá-la ao lado da estrada junto com

sua bagagem.

Embora isso não parecesse uma má idéia...

Enquanto dirigia passávamos por milharais, granjas e um sem-fim de aldeias que

me faziam sentir sonolenta só de olhá-los. Nunca estivera em uma viajem tão longa

antes, mas cada vez que Ahna e eu dirigíamos a Chicago para ir a um show, sempre

cantávamos a todo pulmão canções da rádio, ou brincávamos de buscar palavras nos

sinais do trânsito. Definitivamente não nos sentávamos caladamente e observar uma

vaca lambendo sua própria orelha não era nosso único entretenimento. Dirigir assim era

enlouquecedor.

Quando o CD começou outra vez, A Criatura golpeou sua cabeça contra a

janela e grunhiu. — Preciso sair daqui.

Eu movi a cabeça dizendo que não e acrescentei uma das placas de trânsito. —

Não podemos parar até dentro de cinqüenta e cinco milhas.

A Criatura olhou-me e disse entre os dentes. — E se eu tiver que ir ao banheiro?

— Er, acho que não.

— Mas preciso ir ao banheiro, — queixou-se ela.

Eu disse que não com a cabeça, outra vez, e continuei observando a estrada. —

Não... perderemos o nosso ritmo.

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Traduções 4Love

— Nosso o quê?

— Ritmo, — repeti e fiz sinais com a mão. — Seguir em frente à boa velocidade.

— Eu sei o que é ritmo! — Ela soltou.

Eu decidi fazer-me de tonta. — Então por que perguntou?

A Criatura virou e olhou-me com cara de assassina. — Por que...

— Amy, talvez devesse parar. — A voz de Tristan interrompeu o argumento dela. –

Precisamos de um descanso.

— Está bem, — disse em seco e bruscamente girei o Cabriolet para pegar a saída

mais próxima. Vi um posto de gasolina Gas Fast exatamente no final da rampa e meti-

me no posto. Passando ao longo das bombas de gasolina, estacionei na frente da loja

de conveniência e olhei com expectativa A Criatura. Para alguém que achava que

precisava urgentemente de um banheiro, ela estava tomando seu doce tempo para

sair do carro. — Bem?

Ofegou de mau humor, rapidamente tirou o cinto de segurança, colocou sua

mão na trava e disse entre os dentes, — Voltarei em um minuto, — e foi-se a toda pressa

para a loja.

Eu sacudi minha cabeça. Sabia que ela se preocupava em deixar-me sozinha

com Tristan, mas não tinha por que já que eu não estava com humor para ele. Todo

esse tempo dirigindo junto a ela já estava começando a fazer efeito em mim e estava

muito cansada. Desliguei o carro, dando um breve recesso no CD, e inclinei-me para

frente, encostando minha testa contra o volante. Finalmente um momento de paz.

— Podemos sair e caminhar?

Suspirei. Depois de como Tristan colocou-se à parte dela, eu só queria dizer que

fosse e caminhasse sozinho. Mas sabia que essa não era uma ideia muito boa com

todos esses carros por ai, então me endireitei no assento, tirei meu cinto e sai. Caminhei

ao redor do carro e abri a porta do passageiro para ajudá-lo a sair. Quando senti seus

dedos ao redor de meu braço, fiquei com um nó no estômago.

Enquanto começávamos a caminhar, engoli em seco e afastei uma mecha de

meu cabelo prendendo-o atrás de minha orelha.

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— Que bom que paraste, não estivemos sozinhos há bastante tempo, — ele disse.

Como não respondi, ele franziu a testa. — Sinto muito que tenha que estar aqui, Amy.

Assombrada, parei em seco e ofeguei. — Não quer que eu esteja aqui?

Tristan agarrou-me com mais força e gaguejou tentando encontrar as palavras

adequadas. — Não foi minha intenção... com Lexus... pensei que te sentia...

— Você não sabe como me sinto, Tristan, — disse e em um puxão afastei meu

braço de sua mão.

— Volteeeeeei! — Gritou A Criatura enquanto dava solavancos pela porta do

posto de gasolina. Não sabia que era possível urinar tão rápido. Ainda tinha um pedaço

de papel higiênico grudado em sua sandália e tentou desfazer-se dele esfregando

contra o cimento. No entanto, seu pé ficou preso na borda da cerca e caiu nos braços

de um enorme caminhoneiro. Ela riu quando pulou afastando-se dele, parecendo

enojada por ter sido tocada por um homem que provavelmente não tinha tomado

banho em vários dias.

— Ótimo, — eu disse sarcasticamente e dei um passo para o carro. Lembrando

que estava deixando para trás Tristan, fui para trás, peguei seu braço e puxei-o.

— Vamos. A diversão com sua amiga ainda não terminou.

Antes de entrar no carro, ajudei-o a sentar-se no assento de trás. Quanto entrava

novamente na auto-estrada, observei os botões no painel. Sorri um pouco, pensando

que a única coisa que podia salvar semelhante viajem era abrir a capota do

conversível. Pressionei o botão e com um zumbido de ar, o teto dobrou-se para trás.

Sacudi a cabeça, deixando que meu cabelo voasse livremente com o vento. A

Criatura, ao contrário, queixou-se quando seus cabelos voaram por seu rosto. — O que

está fazendo?! Passei muito tempo arrumando meu cabelo!

— Que lástima me dá, — disse sem mostrar importância.

A brisa era refrescante e justamente o que precisava. Olhei para trás por meu

retrovisor e vi Tristan sorrindo e lançando sua mão para sentir o vento que assoviava em

meus ouvidos. Podia sentir o resplendor do cálido sol e esse sabor de verão me

lembrava que, afinal, íamos ao lago. Relaxei-me e perguntei-me como seria o lago.

Passei a hora seguinte dirigindo tranquilamente e prontamente me encontrava

fazendo uma virada enquanto o carro abraçava suave a curva da saída para Wind

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Traduções 4Love

Song Lake. Os pinheiros estavam espalhados por toda a margem e a água cristalina

podia ser vista facilmente através deles. O lago era enorme e a dúzia de cabanas ao

redor dele não se parecia em nada com o que tinha visto nas páginas dos livros de

Laura Ingalls Wilder32. Todas elas eram de dois pisos, cheias de janelas e com enormes

sacadas. A cabana dos Edmund ao menos tinha tentado manter o estilo rústico,

fazendo com que as paredes exteriores fossem troncos... Embora esses troncos

estivessem tão polidos que brilhavam. Mas ao menos tentaram.

Quando desliguei o motor do carro, A Criatura sorriu de orelha a orelha e

desengatou o cinto anunciando: — Tristan, a água parece perfeita! — Ela retorceu-se

em seu assento e sussurrou sedutoramente. — Vamos nadar.

Tristan passou os dedos pelo alvoroçado cabelo pelo vento e suspirou.

— Quer vir, Amy?

— Não. — Revirei os olhos pressionando o botão para fechar a capota do

conversível, sai do Cabriolet. Fui ao assento traseiro e tirei minha mochila junto com a de

Tristan e pendurei-as sobre meus ombros. Olhei na direção dele e vi que A Criatura tinha

pegado a mão de Tristan e estava começando a arrastá-lo pela cerca que levava até

a enorme cabana. Sentindo-me como uma mula de carga, caminhei atrás deles com

dificuldade.

Desde a casa, o terreno inclinava-se para o lado. Uma empinada escadaria

estava incrustada na colina e ela puxava Tristan a uma velocidade perigosamente

rápida para semelhante ladeira. Rapidamente ela alcançou o cais ao final, A Criatura

deslizou-se de uma capa de roupa, revelando o biquíni com laços nas laterais que

estava usando embaixo. Ela deu a volta para ver que Tristan estava parado,

completamente vestido, na base das escadas onde ela o deixou. Ela queixou-se. —

Tristan.

Seu rosto estava tranquilo enquanto dizia. — Cheira igual.

A criatura bufou. – Óbvio, estamos no bosque. Vamos. Nadar.

32

Laura Ingalls Wilder: foi uma escritora de livros infanto-juvenis. Laura nasceu em uma

pequena cabana de troncos, à beira da Grande Floresta de Winsconsin.

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Traduções 4Love

Observando-os da metade das escadas, ao invés de me unir a eles, optei por

sentar-me na colina cheia de grama. Soltando as mochilas, pude ver que Tristan estava

cedendo a suas ordens. Tentei não encará-los enquanto ele tirava sua camiseta, outra

vez revelando a barriga que eu tanto admirava. Para distrair-me, busquei em minha

mochila e tirei um caderno e uma caneta. Já era hora de escrever outra carta para

Charlie.

Olhei para eles e vi que A Criatura submergia na água até que só seus verdes

olhos fossem visíveis sobre o azul da água. Estiquei-me enquanto Tristan com muito

cuidado aproximava-se da borda do cais e sentava-se com suas pernas penduradas

sobre a água. Nervosamente comecei a mastigar a tampa de minha caneta enquanto

ele impulsionava-se e logo pulava na água. Na cabeça da Criatura não passava

nenhum dos incômodos que Tristan estava sentindo; os braços dela eram como

serpentes lançando sobre a água e deslizando para cima e para baixo, acima e

abaixo. Finalmente ela saiu para a superfície alguns metros longe de Tristan e lançou

água.

Tristan congelou e sua expressão era tensa. Ele lançou água na direção dela, mas

A Criatura esquivou-se. Rindo cruelmente, ela lançou água outra vez. Ele riu também,

mas seu sorriso não chegava a seus olhos. Eu sentia-me como se estivesse vendo um

retorcido jogo de Marco Polo33 e, vendo a expressão de Tristan, lembrei por que eu

nunca gostei de ser o pegador. A Criatura, como uma espécie de sereia malévola,

salpicou água com seu pé enquanto nadava para o meio do lago.

Livre da zombaria, Tristan começou a flutuar sobre suas costas.

Olhando para baixo, destampei minha caneta e comecei a escrever: Olá. Já

passaram vários dias desde a última vez que escrevi. Advinha onde estou. Em Wisconsin.

Estou em uma cabana dos Edmund por que a ex-namorada de Tristan está de visita. Ela

praticamente tem me feito obsoleta e nem sequer é como os Clarencienses, é pior. Ela

faz com que renunciar seja tentador, mas então como pagaria para ir a Evanston? E o

33 Marco Polo: uma pessoa, que vai ser o pegador, fica no meio da piscina de olhos vendados. Os

outros afastam-se enquanto o pegador conta em voz alta até dez. Para ter uma ideia de onde os outros

estão, o pegador pode gritar "marco!". Os outros devem responder "polo!". Quem for pego vira o novo

pegador.

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que aconteceria com...? Esqueça. Se encontrar um forro prateado, por favor envie-me.

Com amor, Amy.

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Capítulo Treze

— Vamos! Pegue-me!

Revirei os olhos e, empurrando o caderno de novo em minha bolsa, olhei para

cima para ver A Criatura flutuando na frente de Tristan. Ela tinha chegado,

evidentemente, tediosa de nadar sozinha e queria jogar Marco Polo. Soando como um

gemido, Tristan deixou sua agradável flutuação e meteu-se na água. Pude ver por sua

expressão que ele não estava ansioso por começar o segundo ciclo, mas ela não se

importava. Ela golpeou a água, fazendo sinais. — Por aqui!

No momento em que Tristan começou a nadar para ela, afundou-se na água e

apareceu a poucos metros. Ela golpeou a água, e logo submergiu de novo. Ela seguiu

esse padrão várias vezes, até que pude ver que o levava em um círculo, e o

desorientava. Tristan começou a nadar mais lento cada vez que A Criatura golpeava a

água, sempre longe dele e sempre em um lugar diferente.

Parecia a ponto de abandonar o jogo, quando A Criatura subiu ao cais. Uma

canoa estava atada a um dos blocos e ela bateu a mão contra ela. O alumínio fez um

som claro, reconhecível e Tristan imediatamente se disparou contra ela. Coloquei-me

de pé na colina, minhas mãos em meus quadris, enquanto o vi nadar para o cais.

Empurrei meu cabelo atrás da orelha, esperando que A Criatura movesse-se para dar

alguma indicação a Tristan de que estava quase ali.

De pé no estaleiro, finalmente gritei. — Tristan!

Tristan parou, com a cabeça que saía da água sem fôlego desde a borda do

cais.

Furiosa, dei um pulo até a colina quando A Criatura virou-se para mim, seus traços

estavam calmos. Pé a pé com ela, nossa diferença de altura era óbvia, mas fiquei reta

e perguntei. — No que estava pensando? Ele poderia ter se machucado!

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Traduções 4Love

Tristan, agora consciente de sua localização, estava subindo no cais. A Criatura

olhou-me e disse com condescendência. — Estava aqui. Ele não ia bater no mastro. Ele

só ia nadar por baixo.

— Ele estava ―quase‖... — projetei minhas mãos no ar. — Muito bem! Estou louca!

Dei a volta e comecei a subir a colina. Peguei minha bolsa na grama, tirei o

chaveiro que tinha a chave do carro de Tristan e da cabana. Atrás de mim, ouvi o

―Huff‖ da Criatura quando ela se viu obrigada a seguir meu exemplo. Não me

incomodei em olhar para trás, mas segui as escadas e não parei até chegar à porta de

trás. Abri com a chave, entrei e encontrei-me em uma cozinha.

Olhei a meu redor. Tudo estava feito de madeira de pino, desde o piso, às

paredes e aos gabinetes. Apesar de o edifício estar vazio desde o verão anterior,

cheirava a fresco e a limpo. A cabana era de um desenho aberto, como a casa dos

Edmund na Ramala Grayfield, e pude ver a sala de estar através da cozinha. Um vão

da escada na sala levava até o segundo piso e tudo o que eu podia imaginar eram os

quartos de generosas dimensões.

Ouvi a porta de trás abrir-se e fechar-se e logo uma bolsa golpeou-me a perna. A

Criatura estalou a língua e disse sem convicção. — Oh, desculpe.

Suspirei e entrei ainda mais na cozinha, perguntando sobre meu ombro. – Algum

de vocês está com fome?

— Estou morto de fome, — disse Tristan rapidamente.

Abri a geladeira prateada, mas estava vazia, o que deveria ter esperado. Fiz uma

pausa, pensando, e vi que um telefone sem-fio estava pendurado na parede ao lado

dos gabinetes. Virei-me para encará-los e ofereci, — Poderia pedir uma pizza.

—Sim. — Tristan assentiu com a cabeça. — Qualquer sabor que você quiser.

A Criatura franziu a testa enquanto sentava sobre uma das duas banquetas

abaixo do balcão. — Só como as de massa fina. É baixa em carboidratos.

Dei de ombros. — Bom, geralmente peço a havaiana, com presunto e abacaxi.

— Isso soa asqueroso. — cuspiu ela.

— Não, — interveio Tristan. — Soa bem. Peça essa.

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Traduções 4Love

Embora um pouco surpresa que Tristan pusesse-se a meu lado, peguei o telefone.

— Está bem.

— Peça uma de queijo, — ordenou A Criatura.

— Simples e chato. Entendi. — Exatamente quando meus dedos se fecharam ao

redor do telefone, ele começou a tocar. Pulei, olhando com receio para Tristan e A

Criatura, como se um deles tivessem me assustado de propósito. Claro que parecia tão

surpresos como eu. Voltei para o telefone e peguei-o. — Alô?

— Oi. É a assistente de Tristan?

Hesitei, perguntando-me por que a voz masculina soava-me familiar. — Hã, sim?

— Achei que fosse! Sou Nick, da Clarence. Conhecemos-nos no baile de

formatura.

Assenti com a cabeça, lembrando do garoto ruivo e de sua alegre namorada. —

Ah, oi.

— Então, Melissa e eu estamos na cabana de meus pais do outro lado da Wind

Song, — continuou. — Pensamos que tínhamos visto vocês dois e... Era Lexus?

Franzi a testa - Sim.

Nick riu, — Ela tem bolas! Como voltaram, depois que ela chutou Tristan no verão

passado?

— Hipnose, — disse sem expressão.

— Ei. Provavelmente tem razão. — Nick fez uma pausa, como se tivesse esquecido

por que tinha ligado. Ouvi um sussurro, algo que dizia a garota para ele. —Muito bem!

Tenho uma festa esta noite. Vocês deveriam vir.

— Uma festa? — Repeti com cepticismo.

A Criatura gritou. — Uma festa! Tristan, temos que ir!

Tristan disse com voz débil e pouco convincente. — Parece divertido.

Desgostosa, dei as costas para eles enquanto ela jogava os braços no pescoço e

apertava-se contra ele. — Acho que temos que aceitar.

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Traduções 4Love

— Impressionante! Venham a partir das oito.

— Ótimo. Tchau. — Pendurei o telefone e dei a volta ao ver que Tristan de alguma

maneira libertava-se das garras da Criatura. Sua expressão parecia tão distante que

queria perguntar a ele em que estava pensando, mas mudei de opinião quando vi o

sorriso vitorioso e desagradável dela, por cima do ombro dele. Ela disse docemente. —

Não vai pedir uma pizza?

Exatamente depois de limpar esse sorriso de sua cara.

— Oh, sim. — Fiz uma careta. — Simples e chato. Lembro.

— Massa fina, — sussurrou ela. — Vou arrumar-me. Trist, vou estar lá em cima.

Ela deu um chute em sua bolsa e seu lábio fez um bico ante a ideia de levá-la

pelas escadas. A Criatura levantou o olhar, os olhos apoiaram-se em mim, mas antes

que pudesse abrir a boca para queixar-se e pedir minha ajuda, peguei o fone e disse, —

No telefone!

A Criatura olhou e arrastou a mala até as escadas. Ela soprou cada passo do

caminho, claramente tentando atrair a atenção de Tristan. Ele ignorou e ficou

gotejando no chão de madeira. Eu disse. — Cuidado, vai deixar uma marca de água.

— O quê? — Tristan moveu seus pés. Ele deu um pequeno sorriso a minha piada.

— Sim.

Coloquei o fone e abri uma das gavetas em busca de uma agenda. — Não

parece tão entusiasmado com a festa como ela.

— Uma festa no lago, como nos velhos tempos, — disse Tristan com amargura.

Tirou os óculos de sol úmidos e esfregou-os com a borda da camisa.

Surpreendeu-me ver seus olhos azuis-zafira de repente me olhando fixamente. A

pele de meus braços arrepiou-se, e admiti. — Não entendo, por que você vai?

— Devido ao que... — Tristan deu de ombros.

— Tristan. – A Criatura gritou desde a escada. — Isso é muito pesado!

— Você consegue! — Ele suspirou, empurrando seus óculos de novo, e disse. —

Seu quarto também é lá em cima.

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Traduções 4Love

— Obrigada. — Observei-o enquanto caminhava até a sala, sentando-se

pesadamente em um dos sofás. Inclinou a cabeça para trás contra a almofada, com

aspecto cansado. Se a Sra. Edmund estivesse aqui, poderia ver que A Criatura estava

fazendo o contrário do que esperava, retirando o sorriso de seu filho.

Sacudindo tristemente a cabeça, tirei uma agenda da gaveta do balcão e

peguei o telefone.

Olhei-me no espelho quando soltei meu cabelo do rabo de cavalo. Esperara até

que a pizza chegasse antes de subir; não estava com humor para comer. Não tinha me

incomodado em visitar o segundo piso, mas escolhi o primeiro quarto que vi.

Tratava-se de um quarto de tamanho médio com uma janela que dava para o

lago. Pensava em permanecer ali até o momento em que saíssemos, mas escutei Tristan

dizer. — O que está fazendo aqui? — O que me fez meter a cabeça para ver o que

estava acontecendo.

Estava de pé em uma porta de entrada pelo corredor, sua postura ampla e sua

expressão assassina. Tenho ouvido, desde o interior do quarto, a resposta débil da

Criatura. — Esse quarto conta com a maior comodidade.

Ri ante a ironia. Claro que sim.

— Fora! — Tristan gritou.

— Mas nós ficamos neste no ano passado, — ela grunhiu, sua mão serpenteava

para fora do quarto e a envolvia ao redor de seu pescoço.

Ele jogou-se para trás, como se tivesse sido mordido, e grunhiu. — Esse é o quarto

de meus pais.

A Criatura começou a rir. — Desde quando se importa com seus pais?

Lembrando-o que seu pai está morto — honestamente, sua falta de sensibilidade

era assombrosa. Antes que ela tivesse a oportunidade de dizer algo pior, saí para o

corredor. — Ei! Lembro a vocês que tem pizza lá embaixo! Talvez devam ir comer.

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Traduções 4Love

Tristan deu meia volta e caminhou para mim. Ele disse em voz baixa. — Obrigado,

Amy.

A Criatura ofegou, olhando pelo corredor para mim, e moveu o cabelo. — Está

bem. Vou conseguir algo na festa.

Estreitei meus olhos nela e peguei a mão estendida de Tristan, colocando-a no

oco de meu braço. Enquanto começávamos a caminhar para as escadas, ele disse por

cima do ombro. — Então vamos. Agora.

— Mas só ondulei metade de meu cabelo! — Queixou-se.

Tristan apertou os dentes. — Então, prenda-o para trás.

— Isso só vai parecer algo preguiçoso!

Coloquei os olhos nele, que se agarrou a grade. Sabia que seu último comentário

era dirigido a mim, mas eu não tinha vontade de pegar a isca. Ignorando-a, disse a

Tristan. — Passe por aqui.

Em perfeita sincronia, subimos pelas escadas. A mão esquerda de Tristan meteu-se

profundamente em seu bolso e franziu a testa. Em voz baixa, disse. — Não deveria ter

ido ali.

Peguei as chaves de meus jeans, e suspirei. — Ela não se importa, Tristan.

— Costumava importar-se.

— Sério? — Perguntei com ceticismo.

Nós paramos na porta enquanto a abria. A boca de Tristan formou uma linha dura

e não respondeu a minha pergunta. De alguma maneira, eu duvidava que A Criatura

tivesse sido uma boa pessoa, não que suas lembranças nubladas com hormônio

demonstrassem-no. Quando nos aproximamos da Cabriolet, ouvi-a correr pelas

escadas. Ela apareceu na porta um segundo depois, seus saltos-agulha em suas mãos e

os olhos muito abertos ante a ideia de ficar para trás. Sem fôlego, perguntou. —

Consegui uma espingarda?

Sorri, abrindo a porta do passageiro. — Sabe, seria bom se deixasse Tristan na

frente do carro.

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Traduções 4Love

A Criatura apoiou-se no capô do carro enquanto colocava seus sapatos. Ela

sussurrou. — É só ao redor do lago. Entre, Tristan.

— Vou sentar na frente, — espetou Tristan. — E você não vai dormir no quarto

deles.

— Muito bem. Que seja. — Ela agitou sua mão depreciativamente e deslizou-se no

assento traseiro. — Entre.

Enquanto caminhava ao redor do carro para o lado do motorista, em silêncio

desejava que ela não afivelasse seu cinto de segurança, assim poderia frear em seco.

Não, não, não faria isso, embora ela fizesse a ideia ser tentadora. Dei a marcha à ré na

Cabriolet. Pulei quando peguei o volante, mas encontrei a mão de Tristan na parte

superior. Deslizou sua mão debaixo das minhas e o roçar de sua pele era como a

eletricidade estática.

Tristan sussurrou. — Deveria ter dito isso antes, mas... obrigado por dirigir.

Tremendo, sussurrei. — Não há de que.

Enquanto dirigia ao redor do lago, não podia deixar de perguntar-me o que

Tristan estava pensando. Estava lembrando a última vez que se sentou atrás do volante

de sua Cabriolet, ou como éramos antes que A Criatura chegasse? Vi a cabana dos

pais de Nick, já que a calçada estava cheia de carros. Estacionei no final, percebi que

a cabana era quase tão grande como a dos Edmund.

A Criatura, claro, não ia sem escolta a uma festa, por isso ela ajudou Tristan a sarir

da Cabriolet. Joguei meus ombros para trás, marchei até a porta da entrada, e dei um

toque rápido na campainha. Nick imediatamente a abriu. Tinha um sorriso um pouco

cambaleante no rosto e o braço pendurando nos ombros de Melissa.

— Olha, vocês vieram!

Antes que tivesse a oportunidade de responder, A Criatura abriu o passo em

minha frente, arrastando Tristan junto com ela. Ela disse, — Oh, graças a Deus que estão

dando uma festa! — e passou um dedo pela mandíbula de Nick. Imediatamente se

dirigiu para dentro. — Não sei o que teria feito sem você! Tem combinado os jogos de

tabuleiro ou algo assim.

Os olhos de Nick vagaram por seu corpo enquanto ele gaguejava. — Você

parece bem, Lexus.

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Traduções 4Love

Menos divertida, Melissa cravou seu cotovelo nas costelas dele e pisoteou dentro

da cabana.

— O que está errado? — Perguntou, sua forma de retirar-se quando pouco a

pouco surgiram a partir da nuvem venenosa que era a aura da Criatura.

Indiferente aos estragos que fazia nas outras relações, A Criatura perguntou. —

Onde está o bar?

Nick franziu a testa e assinalou. — Lá.

A Criatura pavoneava-se, nos deixando, a Tristan e a mim na porta. Logo, com

uma surpreendente quantidade de consciência, Tristan disse. — Bom, ela chegou. Lexus

é boa nisso.

— O quê?

Eu estava toda astuta para esclarecer as coisas para Nick. — Sabe paquerar.

Tristan sorriu e o sorriso de Nick encontrou seu caminho de volta a seu rosto. Ele riu.

— Quase tinha esquecido. Aqui. — Nick pegou o braço de Tristan e guiou-o para a sala

de estar, onde podia ouvir a música e o sorriso. - Tem que dizer olá a todos.

Enquanto os seguia à distância, sentia-me dolorosamente fora de lugar. Não só

era uma estranha em uma sala cheia de amigos, mas também usava roupa de uma

loja de segunda mão. Percebi que muitos deles estavam na formatura de Tristan,

embora não pudesse adivinhar seus nomes. A maioria dos Clarencienses estava de pé

em grupos, conversando e fazendo o melhor esforço para embebedarem-se. Eu

recebera olhares curiosos, poucas testas franzidas, mas fui ignorada no geral.

— Amy!

Surpreendi-me ao escutar meu nome, dei a volta, chocando com Kristy. Ela

cambaleou para trás um passo, tampando a boca com a mão enquanto começava a

rir. Inclusive antes que me olhasse, podia sentir o líquido frio que corria por minha

camisa, fazendo que o algodão aderisse-se a minha pele. Uma olhada para baixo

confirmou que tinha a roupa suja de Rum e Coca-Cola. Exatamente quando não

acreditava que a noite podia ser melhor.

Às vezes odeio minha vida.

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Traduções 4Love

Kristy negou com a cabeça, um olhar alegre ainda em seus olhos. — Oh, Amy,

passou tão rápido!

Fiz uma careta, não disposta a responder a uma desculpa tão patética.

Ela disse-me. — Você está aqui, então Tristan deve...?

Suspirei. Pode ser que esteja com ela.

— Ela?

Minha boca estremeceu, mas não consegui que minha língua formasse o nome

da Criatura.

— Quer dizer... — Os olhos de Kristy avivaram-se quando minha contração tinha

jogado tudo pela borda. Ela esmagou seu copo de plástico. Sua voz era um grunhido.

— Lexus.

Se ela não tivesse vertido sua bebida em mim, acho que teríamos nos tornado

amigas nesse momento. Não há nada como compartilhar o inimigo. No entanto, minha

camisa era, literalmente, o freio da situação. Dei um passo para trás com cuidado, no

caso de que ela tivesse a ideia de matar o mensageiro, e disse. — Sim. Então pode ir

buscá-la e colocar-te em dia. Vou buscar um banheiro.

Ela assentiu com ar ausente enquanto seus olhos correram a sala, à caça da

Criatura.

Olhei a meu redor, mas Tristan tinha desaparecido entre a multidão. Ao que

parecia, não ia ―sentar-se nessa noite, se isso era o que achava que devia estar

fazendo‖. Dei de ombros e virei-me para a esquerda, onde se abria um corredor fora da

sala de estar. Meus passos soavam contra o chão de lajotas, passei pelas portas

fechadas. Conhecia a regra: nunca abra a porta fechada em uma festa. Nunca se

sabe o que encontrará. Afortunadamente, a terceira porta à qual cheguei estava

aberta.

Entrei no banheiro e abri a torneira. Tão inútil como era, salpiquei-me um pouco

de água sobre minha camisa em uma tentativa de neutralizar a viscosidade. Com um

débil sorriso em meu reflexo, fui do banheiro para a parte posterior da cabana. No final

do corredor encontrei-me, à esquerda, com a cozinha e, à direita, com um bar bem

sortido. O garçom estava servindo bebidas como um profissional, ou pelo menos como

um menino vestido da Universidade.

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Traduções 4Love

Fiel a sua palavra, A Criatura estava jogada em uma cadeira de vime a três pés

de distância da barra. Seus olhos estavam brilhantes e ela aferrou-se ao que só podia

presumir ser seu segundo Long Island. Sempre tenho ouvido que é mais fácil que as

pessoas falem quando estão bêbados e não me ocorreu nenhuma pessoa melhor para

colocar a prova a teoria. Jogando uma cadeira a seu lado, mais além de qualquer

conversa trivial, exigi saber. — Por que você veio?

Sem alterar-se por meu atrevimento, A Criatura deu de ombros. — Por que não

tinha nenhuma lugar aonde ir. Quando voltei da Europa, Mick queria um pouco de

tempo livre.

— De você? Nunca, — disse com ironia e em seu estado etílico, ela nem

percebeu.

— E meus amigos tinham se mudado para Los Angeles, a maioria. Meus pais

estavam de férias nos Marrocos.

— Então pensou que Tristan... — Interrompi.

— Não, — ela era tão bruscamente honesta que quase comecei a rir. — Ia bater

em alguns clubes, conhecer gente nova. Mas, continuando, a mãe de Tristan ligou-me

e disse-me que viesse e passasse um tempo. Pensei, por que não?

Poderia ter dado algumas razões.

— Você gosta dele, não é? — Ela moveu o guarda-sol de seu copo em minha

cara. — Nunca deve sair com alguém com quem trabalha.

Levantei as sobrancelhas com incredulidade. — Você e Mick nunca...?

— Bom... — ela riu, dando imediatamente a volta.

Neguei com a cabeça, pensando nos últimos dias e o quão horrível tinham sido.

Tudo por uma garota que paquerava até com uma pedra... bem, uma pedra

masculina. Honestamente. Sabendo que era minha única oportunidade, olhei em seus

olhos água-marina horrorosos e perguntei. — Por que deixaram de sair?

— Por que Mick disse que estar com Tristan parece ser bom. Além disso, — inclinou-

se para mim em minha bolha. — gosto mais dele.

Nunca me odiei mais do que nesse momento.

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Traduções 4Love

Fechando a porta de vidro, fiquei no alpendre traseiro. Engoli saliva no ar da noite,

tentando desfazer-me de minha náusea. Ela fez-me ficar doente pela dúvida que

semeou.

Talvez ambas as coisas. Tirei meu celular, pensando em ligar para a Ahna para um

bate-papo, ou pelo menos um pouco de perspectiva. Olhei para baixo na tela, onde

―Sem serviço‖ estava piscando. Ótimo. Peguei meu celular e guardei-o de novo no

bolso.

— Amy.

Pulei, por que pensei que estava sozinha. O que passava com as pessoas que

estavam me assustando com meu próprio nome? Entrefechando os olhos na escuridão,

vi Tristan que estava sentado no banco na frente do lago. Estava sentado com os

ombros caídos enquanto ele inclinava-se para frente, apoiando os braços sobre os

joelhos e sem apertar uma lata de cerveja. Dei um pequeno passo para ele. — Como

sabe sempre que sou eu?

— Tem esse cheiro: doce e mel, igual ao que...

— Oh, esse é meu xampu, — dei dois passos rápidos e sentei-me a seu lado. — Era

essa a diversão que costumava ter, Tristan?

— Costumava ser melhor que isso, — encheu o silêncio com seu suspiro e tomou

um gole da lata.

Afastei o cabelo que tinha caído de meu rabo de cavalo atrás da orelha. — Se

não quiser estar aqui, só tem que se levantar e ir.

— Para onde? — Grunhiu ele, agitando sua mão inquisitivamente através do ar.

Incomodada, dei de ombros. — Muito bem. Talvez tenha que pedir ajuda,

também. Melhor vai ser difícil.

De repente, irritado, virou a cabeça para olhar-me. — Não deveria ser! Não para

mim!

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Traduções 4Love

E ali estava a razão. Estava tão aturdida que não pude pensar em outra coisa

para dizer. Por isso tinha se negado a aprender a adaptar-se: não achava que era justo.

E não era. Mas, com dinheiro ou não, popular ou não, ele não era sobre-humano e

tinha que aceitar. Respirei e apertei os lábios. Com calma, em silêncio, expliquei: —

Tristan, você tem que cuidar disso.

Ele grunhiu. — Não te pagam para analisar-me. — Ele ficou rígido.

— Ir a festas não estava na descrição de meu trabalho.

— Tem razão. Vamos. — Tristan parou bruscamente. — Tenho certeza que Lexus já

teve sua diversão.

Agarrei-o pelo braço e, puxando-o para a cabana, murmurei. — Bom. Eu estava

preocupada.

No momento em que Tristan e eu caminhamos para o interior, percebi que algo

estava acontecendo. O ar estava literalmente vivo de emoção. Então as vi, Kristy e A

Criatura encontravam-se no centro da cozinha com uma multidão de Clarencienses

reunidos ao redor delas. Ambas com os rostos corados, irritadas e bêbadas, uma

combinação perfeita. Igual aos boxeadores em um ring, as duas garotas moviam-se em

círculos ao redor da outra, em busca de uma abertura. Kristy espetou primeiro. — Então,

você voltou com Tristan? Não acho que valha a pena.

A Criatura começou a rir como se não tivesse dito nada. — Ah, sim? Foi por isso

que você ligou para ele por um mês, chorando depois que o deixei?

— Você não o deixou! — Sussurrou Kristy.

— Querida, você estava saltando obstáculos enquanto nós estávamos debaixo

das arquibancadas.

— Puta!

— Piranha!

As duas loiras gritaram e arranharam-se com fúria nas peles expostas. Cada

homem na sala aplaudia, exceto Tristan. Ele apertou meu braço e perguntou-me sobre

o barulho. — O que está acontecendo?

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Traduções 4Love

— Elas estão brigando por você... — Ele olhou-me fixamente, com a boca aberta,

enquanto as garotas gritavam e arremessavam-se uma contra a outra no chão. Não

suavemente, claro. Se tivessem sido na realidade dois gatos, a pele teria saído voando.

— Não tem nada que...

Tristan disse com desgosto. — Oh, são iguais!

Tentei explicar. — Não foi isso que eu quis dizer, — mas ele já não me escutava.

Tristan deu um passo para frente, com as mãos estendidas no ar, e gritou. — Basta!

Não estou namorando ninguém!

As duas garotas congelaram, igual a um pedaço de meu coração. Claro que não

podia dizer a ninguém o que tinha acontecido entre nós, mas parte de mim ainda

estava esperando que algum dia... Por que tinha que dizer em voz alta? Engoli saliva

quando disse meu nome e estendeu a mão para mim, enquanto a festa ficava nos

olhando. As garotas estavam me olhando, como se eu fosse a que ganhara.

E eu nem sequer lutara.

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Capítulo Catorze

Acordei na manhã seguinte e decidi que não deveria estar incomodada por

Tristan dizer a elas que estava solteiro. Inclusive mesmo não gostando, estava de acordo

em manter o nosso beijo em segredo. Passar o tempo com ele (e A Criatura) estava

fazendo com que eu ganhasse a oportunidade na Evanston, afinal. Sentindo-me

decidida, saí da cama e estiquei-me. Recolhi o celular da mesinha e olhei a hora. 10:03.

Não é uma hora ruim para levantar-se.

— Amy, onde está?

— Chris! — Gritei. Quase tinha esquecido que os Edmund vinham hoje. Sorri,

pulando para fora de meu quarto e correndo pelas escadas. As crianças estavam

paradas na sala, suas malas em seus pés. Chris foi o primeiro a ver-me quando alcancei

o final das escadas e abordou-me com um abraço ao redor de minha cintura. Marly

estava bem atrás dele, envolvendo seus braços ao redor de meus joelhos. Agachei-me,

apertando ambos fortemente. — Estou tão feliz em vê-los!

— Sentimos sua falta! — Chris deu um passo para trás, muito envergonhado. —

Quero dizer, mais ou menos.

— Claro, — ri e dei um soco brincalhão no ombro.

A Sra. Edmund saiu da cozinha, uma bolsa de mercado vazia em suas mãos. —

Quase não conseguiu dormir ontem à noite, estava muito emocionada.

Chris revirou seus olhos. — Mas não pela Amy. Queria ver o lago! — Pegou sua

irmã pela mão, empurrando-a para a porta traseira, e explicou. — Marly,

provavelmente não se lembra, mas é realmente grande. Venha ver!

— Vocês três divertiram-se ontem à noite? — Perguntou a Sra. Edmund.

— Oh, bastante! – Menti, um sorriso falso em meu rosto.

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— Isso é maravilhoso! — A Sra. Edmund olhou-me com um toque de

preocupação. — Querida, sente-se bem? Ainda está de pijama.

— Bom, uh... — Gaguejei, minhas bochechas de um vermelho intenso. Para

completar meu momento de humilhação, Tristan saiu da cozinha com uma taça de

cereal em sua mão. Duas pessoas (ok, uma, mas mesmo assim) estavam me vendo de

pijama. E esta não era o tipo de pessoa que usava roupa para ficar em casa. Cruzei

meus braços sobre meu peito e caminhei de volta para a escada, tropeçando. — Eu,

uh, acabo de levantar e, uh... — Assinalei sem poder fazer nada nas escadas. — Vou

me trocar.

Acho que eu jamais correra um lance de escadas tão rápido em minha vida.

Meti-me em meu quarto e comecei a fuçar em minha bagagem para encontrar uma

camiseta limpa e jeans. Só podia imaginar o que a Sra. Edmund estava pensando de

mim. Provavelmente pensa que sou uma preguiçosa, especialmente se realmente

―ama‖ A Criatura, que sempre parece perfeita. Não que eu me importasse.

Usei o banheiro abaixo do corredor para tomar banho apressadamente e me

trocar. Empurrando meu cabelo molhado em um leve rabo de cavalo, caminhei de

volta a meu quarto. Soltei minha roupa suja no chão e virei-me para ver a janela com

vista para o lago. Vi que A Criatura tinha posto uma toalha de praia na colina e estava

se bronzeando com seus fones postos.

Tristan estava no final das escadas e caminhando lentamente para o cais. Franzi a

testa, perguntando-me onde estavam os meninos. Olhei a costa, esperando vê-los

escavando a lamacenta areia, mas estava vazia.

Logo escutei um grito.

Era Chris. Estava parado na parte superior das escadas, justamente fora da

cabine, sustentando dois copos de limonadas e olhando o lago. Parecia horrorizado.

Segui seu olhar, meu estômago ficou frio com a vista: Marly estava na canoa que fora

atada no cais. Estava inclinada precariamente para um lado, tentando remar seu

caminho de volta à costa com suas mãos. Quando se inclinou para frente, a canoa

sacudiu-se, derrubando sua pequena carga. Com um pequeno bramido, a menina

caiu na água.

Meu coração, o qual momentaneamente tinha se esquecido de bater, começou

a martelar. Abri a janela, e gritei: — Tristan! Marly!

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Traduções 4Love

Ele escutara o ruído e já estava indo apressadamente para o cais, tirando seus

chinelos enquanto pulava no lago. Meus olhos estavam pregados no lugar onde Marly

caíra. Sua cabeça reapareceu por um momento, sua mão alcançando

desesperadamente o ar, antes de afundar de novo. Vi que Tristan, incapaz de ver Marly

na superfície, estava nadando longe dela. Gritei: - Tristan, mais a sua direita!

Tristan imediatamente ajustou seu nado, mas virou muito longe na outra direção.

Vi a cabeça de Marly aparecer de novo na água com um pequeno rogo de: - Ajuda!

— À esquerda, Tristan! — Gritei.

Ajustou seu nado de novo, corrigindo a si mesmo para o som de choro de Marly, e

nadou como um canhão através do lago. Estava se dirigindo diretamente para o ponto

onde a tinha visto pela última vez. – Ai, Tristan! Está debaixo da água!

Enquanto Tristan afundava, congelei. Minha respiração parou. Onde estava?

Onde estava? Encontrá-la-ia? Ela viu-o chegar? Onde estavam?

Envelheci vinte anos nesses segundos.

Com um salpico, Tristan rompeu a superfície da água. Marly estava se segurando

a ele por sua querida vida, seus pequenos braços apertados ao redor de seu pescoço.

Gritei de alegria e apressei-me para fora do quarto descendo as escadas. A Sra.

Edmund estava lendo na sala, completamente inconsciente lá de fora. Levantou a vista

quando pulei o último degrau e ofeguei. — Marly! Lago! Foi salva!

Imediatamente estava de pé, apressando-se atrás de mim enquanto voava

através da cozinha, pela porta traseira, e descendo a colina. Chris venceu-me na borda

do cais onde Tristan estava levantando uma gotejante Marly do lago. Ajudei o garoto a

pegar sua irmã. Podia senti-la tremendo com medo e envolvi-a em meus braços,

abraçando-a apertado. A Sra. Edmund rapidamente estava sobre nós, perguntando se

estava bem e o que tinha acontecido?

A Criatura continuava se bronzeando.

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Traduções 4Love

Não sei como se supõe que se supere a uma quase tragédia, mas minha ideia

consistia em abrir um molde de massa de biscoito e cravar nele. Passei a colher de café

aos meninos, à Sra. Edmund e a mim mesma. Todos nós encolhemo-nos na cozinha.

Chris e Marly estavam fantasmagoricamente brancos, e pintei um sorriso seguro em meu

rosto. A Criatura ainda estava alheia a tudo, enquanto Tristan estava plantado no final

do cais. Se queria espaço, então daríamos. A Sra. Edmund sacudiu sua cabeça e

colocou a colher de café na mesa.

— Só não entendo por que Lexus não veio nos cumprimentar, — murmurou. — Está

ausente em seu pequeno mundo próprio.

Chris olhou para fora, para A Criatura. — Devia ter ajudado Marly.

— Não acho que sequer tenha se dado conta, — disse, e afundei minha colher

através da embalagem, tentando obter o resto da massa.

A Sra. Edmund suspirou. — Mas ela é uma garota tão boa.

— Uhm.

Chris revirou os olhos para mim, e tossi, tentando cobrir meu sorriso.

— Pelo menos Tristan estava lá, — a pequena voz de Marly gritou. — Salvou-me.

— Certo, – disse e esfreguei suas costas confortavelmente. Olhou-me por baixo de

sua franja, uma expressão com lástima em seu rosto enquanto olhava o cais. — Sabe,

ele está bem. Provavelmente só está... cansado de toda essa natação.

Ofereci um sorriso, mas ainda parecia preocupada. — Dir-te-ei: Por que não

fazemos para Tristan um presente de agradecimento? — Juntei nossas colheres,

colocando-as na pia. — Que tal?

Eu encontrara um rolo de papel de alumínio ontem, em minha busca por um

telefone. Agora tirei de uma das gavetas da cozinha e sacudi vitoriosa. — Que tal

medalhas?

A Sra. Edmund riu. — Perfeito!

Coloquei-me a trabalhar dobrando o alumínio em grandes medalhas, enquanto a

Sra. Edmund pegava marcadores Sharpie para que os meninos escrevessem com eles.

A atividade (e o açúcar ingerido) despertou Chris e Marly. A cor lentamente voltou em

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seus rostos enquanto projetavam-se para suas medalhas, concentrando-se em seus

desenhos. Esses meninos passaram por tanta coisa no último ano; dificilmente podia

imaginar o que era para eles. Estava feliz em ajudá-los a distrair-se, mesmo que só por

um momento.

Só tinha uma pessoa que poderia arruinar meu humor. Então, claro, ela passou

através da porta traseira. A Criatura usava seu biquíni, com sua toalha pendurada sobre

seu ombro. Tediosa, inspecionou-nos e bocejou. — Vou tomar banho e logo comer um

pouco de pizza, a menos que tenha algo mais para comer.

Se a combustão humana espontânea pudesse ser causada por três pares de

olhos, ela seria uma pilha de poeira.

Perguntei lentamente. — Não escutaste nada mais cedo... Não é?

— Não. — A Criatura piscou estupidamente. — Alguém me chamou? Foi Mick?

Chris grunhiu. — Não, você...

— ... Deveria ir tomar banho, — inventei antes que pudesse dizer algo que o

metesse em problemas.

— Lexus! — A Sra. Edmund sorriu brilhantemente. — Está desfrutando do lago?

A Criatura expulsou seu cabelo de seus ombros. — Acho que sim. Só queria que

Tristan não fizesse tantas cenas! – Escutando isso, não pude evitar rir. — Está dizendo às

pessoas que não estamos namorando!

A Sra. Edmund franziu a testa ligeiramente. – Mas, querida, pensei que tinham se

acertado.

— Acertado? — Zombou.

— Quando meu esposo, uh... — A Sra. Edmund engasgou-se, incapaz de dizer a

palavra em voz alta. — V-você nunca ligou ou escreveu. Quero dizer, sei que estava

ocupada...

A Criatura sorriu arrogantemente. – Sim! Estava ocupada! E agora estou suada,

tenho que tomar banho.

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Todos silenciosamente fervemos até que ela estivesse fora de vista. Logo Chris,

com um olhar travesso em seu rosto, virou para mim. — Ei, Amy. Trouxe o Batalha Naval.

Podemos jogar e fingir que ela está a bordo.

Sacudi a cabeça. — Ardiloso, menino. Gostei. Jogaremos.

Nunca jogara tanto Batalha Naval em minha vida. Por quase uma hora, Chris e eu

disputamos, com ele fazendo um grito falsete cada vez que um navio caía em qualquer

lado. Era engraçadíssimo. Logo tivemos a ideia de fazer um torneio, com Chris e eu em

uma equipe, e Marly e a Sra. Edmund em outra. Em algum momento no meio do nosso

jogo, A Criatura descera e tirara um pedaço de pizza de massa fina da geladeira. Ela

não pediu para jogar e nós não oferecemos.

Por volta do entardecer, nossos estômagos começaram a reclamar e decidimos

que tínhamos empatado, embora Chris e eu soubéssemos que na realidade

ganháramos. Abrimos os armários, revisando as coisas de comer que trouxeram e

decidimos fazer queijos na grelha e sopa de tomate. A Sra. Edmund esquentou uma

frigideira, enquanto eu abria a lata. Chris assinalou enquanto eu vertia na frigideira. —

Isso é vermelho como o sangue!

— Christopher John! — Ofegou a Sra. Edmund, colocando suas mãos sobre as

orelhas de Marly.

Ele franziu a testa. — O quê? Batalha Naval, mamãe... As coisas explodem.

Sua mãe sacudiu a cabeça. — Desejaria que não pensasse em coisas como

essas.

— Mas, as pessoas morrem e... Está bem, — disse baixinho.

— Chris, venha aqui. — Ela ajoelhou-se e levantou seus braços para ele. Uma vez

que tinha se aproximado, explicou. — Querido, nós nunca queremos que as pessoas

morram, mas algumas vezes acontece. E temos que ser valentes, e superar. — Abraçou

seu filho fortemente. — Ambos têm sido tão, tão valentes!

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Traduções 4Love

Fui para o aquecedor, concentrando-me em meu sanduiche movendo-se e na

sopa agitando-se, tentando dar aos Edmund um momento de privacidade. Estava tão

interessada em ficar calada que pulei quando o telefone começou a tocar. Virei-me,

perguntando-me se deveria atender, quando escutei A Criatura descendo

turbulentamente as escadas. Precipitou-se cruzando a cozinha e arrebatou o telefone

da parede.

— Alô? Mick? — Ela pausou claramente decepcionada. — Quem é? Quem? —

Pausou. — Oh, o verão passado, claro... Uma festa? Claro! — Pausou. — Muito bem.

Tchau.

— Vai sair? — Perguntei.

— Sim. Assim que encontrar Tristan.

Chris disparou um olhar e disse. — Sabe, acho que o vi lá na frente. Por que não

vai ver?

— Sério? — A Criatura franziu a testa, virando para a porta.

— Sim. Aqui, mostrar-te-ei.

Inclinando para perto de sua orelha, sussurrei. — O que está fazendo?

— Distraindo-a para que possa ir falar com ele. — Sussurrou e apressou-se atrás da

Criatura, que já estava abrindo a porta da frente.

— Estava aqui fora!

Revirei meus olhos e olhei as duas Edmund que agora estavam me observando. —

Vocês não acham que deveria ir falar com ele, acham?

Assentiram unidas.

— Bom. Mas provavelmente queira ficar sozinho. — Lancei minhas mãos no ar,

espalhando sabão com minha colher de café. Fiz uma careta, colocando na mesa, e

dirigi-me para a porta traseira.

O ar estava frio e carregava a fina essência de pinho e água fresca. O sol já tinha

se escondido atrás das árvores, mas o céu era uma impressionante mescla de laranja e

azuis profundos. Tinha algo místico na calma do lago ao anoitecer, como ele

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pacificamente refletia o mundo ao redor dele sem nem sequer um toque de distração.

Os únicos sons eram os gritos dos grilos e o tilintar gentil dos galhos com a brisa.

Tristan era uma escura silhueta no final do cais. Seus ombros estavam desabados e

suas pernas penduradas sobre a borda. Enquanto aproximava-me dele, minha mente

girou com emoções. Parei um passo atrás dele e meti meu cabelo atrás de minhas

orelhas, antes de sentar-me junto a ele. Minha voz era silenciosa, para não incomodar o

crepúsculo.

— Ei.

Ele correu seus dedos através da áspera borda da prancha, mas não respondeu.

— Ela estava te procurando. Acho que tem outra festa. — Dando de ombros, permiti

que o silêncio se estreitasse entre nós.

— Ela podia ter morrido.

Franzi a testa, confusa. — Marly? Mas, salvaste-a.

— Se não estivesse ali... — Tristan sacudiu sua cabeça e seus dedos apertaram-se

ao redor da borda do cais. — Tê-la-ia perdido.

— Tristan... — Instintivamente coloquei minha mão sobre a sua. Aclarei minha

garganta, comecei de novo. — Tristan, o que importa é que a salvaste. Sabe, ela fez-te

uma medalha. Está lá dentro.

Riu curtamente e comecei a parar, pensando que estava pronto para voltar, mas

repentinamente falou. — Neste verão, ele teria ensinado-a a nadar. — Balancei minha

cabeça, meu cabelo soltando-se atrás de minhas orelhas, e observei seu rosto.

— Seu pai?

— Sim, — disse Tristan nostálgico. — Ele nos ensinou aqui, a Chris e a mim.

— Talvez possa ensinar a Marly?

Ele disse sarcasticamente. — Claro, porque realmente posso fazer isso.

Frustrada, suspirei. — Tristan.

— Ele não deveria morrer! — Gritou veementemente.

— O quê? — Ofeguei, surpresa por sua fúria.

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— Foi um aneurisma. Ele só tinha... ido. Não nos demos muito bem nos últimos

anos. Dizia que estava arruinando minha vida, com as festas e as garotas. Tinha razão.

Tudo era um desperdício. – Tristan tremeu, aterrorizado com a lembrança. — Pelo menos

nunca me verá desse modo.

Vi as lágrimas começando a correr por seu rosto atrás de seus óculos e senti meu

coração falhar. Hesitei e logo envolvi meus braços ao redor dele, empurrando-o para

mais perto. Meu corpo inteiro estava eletrificado, meus sentidos estupefatos com canela

e sândalo. Quando sua cabeça pressionou-se contra meu ombro, seus óculos caíram

ruidosamente no cais.

Sussurrei. — Lembra de Charlie? Meu irmão? Ele disse coisas horríveis a meu pai e

logo partiu por dez anos. Charlie nunca nem sequer disse que tinha se casado. E sabe o

quê? Meu pai nunca deixou de amá-lo. Nem por um minuto. Tenho certeza que com

seu pai foi igual. E ser cego... Isso não muda quem você é.

A voz de Tristan era rude, enquanto perguntava. — Realmente acredita nisso?

Lágrimas estavam pousando na parte de trás de meus olhos enquanto abraçava-

o fortemente, estava desesperada para que acreditasse em mim. — Sim!

— Amy, como pode saber...?

— Tristan!

Senti seus músculos ficarem tensos ao som da voz da Criatura deslizando-se

através do ar. Meus braços deslizaram-se ao redor de Tristan enquanto ele sentava-se

direito. Passou a parte de trás de sua mão rapidamente em seus olhos e colocou seus

óculos de sol de onde tinham caído. Disse. — O quê?

— Joseph convidou algumas pessoas para sua casa! Quer que a gente vá!

Não. Simplesmente não! Meu ser inteiro estava gritando para que ficasse, mas

minha língua estava paralisada. Sabia que iria com ela, mesmo não estando

―namorando‖ com ela. Meu estômago teve náuseas quando parou. Esticou sua mão

para mim, como se esperasse que estivesse pronta para ir com eles. Não dessa vez.

Virou sua cabeça para mim e perguntou. — Amy?

De alguma maneira, encontrei minha língua. — Não vou.

— Por quê?

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— Estou cansada. — Menti e cruzei meus braços sobre meu peito.

Tristan escovou seus dedos através de seus cabelos e perguntei-me se na

realidade poderia estar confuso por minha negativa. — Mas nós...

Oh não. Ficar de vela não era a parte de meu trabalho. Levantei-me e disse

rudemente. — Vou lá para dentro.

Dei um passo para as escadas, quando escutei Tristan dizer. — Amy, você

poderia... — De novo estava esticando sua mão, dessa vez um olhar implorando em seu

rosto. Levantei a vista para a cabana, confirmando o que ele provavelmente já tinha

suposto: A Criatura tinha ido para dentro, deixando-me como a única esperança de

entrar de forma segura. Dei um passo para trás, peguei sua mão e coloquei-a em meu

braço.

Enquanto subíamos o primeiro degrau, disse. — É por causa de Lexus?

Estava emocionada por sua pergunta. Subi dois degraus antes de grunhir. — Não

acho que esse seja o momento, Tristan.

Virou sua cabeça para mim intensamente. — Amy, só me diga. Por favor.

Com isso, não podia esconder a verdade por mais tempo e não queria fazê-lo. —

Dizer-te? Bom, dir-te-ei: ela só está aqui por que não pode pensar em algo melhor para

fazer! Oh, e por que seu agente disse a ela que ficasse. Quer a página da People, não

você! E pensei que se daria conta, mas não fizesse.

— Dar-me conta de que ela... — Tristan sacudiu sua cabeça e disse

sombriamente. — Eu deveria saber.

Assenti, mas não disse nenhuma palavra enquanto abria a porta traseira. Tristan

caminhou em minha frente, e, na luz da cabana, podia ver o tão vermelho que estava

seu rosto. Sem nenhuma dúvida, gritou. — Lexus!

— O quê? — A Criatura estava parada na sala, revisando seu gloss labial em um

espelho compacto. Não reconheceu a fúria em sua voz até que fechou o espelho e

olhou-o. Seus olhos ampliaram-se e franziu a testa para mim, como se eu fosse a causa.

Perguntou tentativamente. — Trist...?

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Deu vários passos até ela e grunhiu. — Lexus, tentei fingir que tudo estava bem,

que nada mudara entre nós, mas mudou. Não sou a mesma pessoa que era e agora sei

quem você é. Quero que você vá embora.

Os Edmund estavam na cozinha, seu jantar meio comido. Todos estavam surpresos

com a explosão repentina, mas Marly rapidamente cobriu a boca de Chris para

amortecer suas aclamações. A Sra. Edmund parecia nervosa e sua boca estava aberta

enquanto debatia se devia ou não interferir.

A Criatura, enquanto isso, sacudiu suas pestanas e levantou suas mãos. Gemeu. —

— Tristan.

— Nem sequer finja que se importa! — Gritou. — A única pessoa com a qual tem

se importado é você mesma. Estou farto!

Ela mordeu seu lábio, fazendo bico. — Mas...

— Onde estava, quando meu pai morreu? — Reclamou Tristan.

Com isso, A Criatura teve a ousadia de agitar seu cabelo. — Estava em Paris. Sabe

disso.

— Nunca nem sequer retornou as ligações!

— Estava ocupada! — Olhou para a cozinha, encontrando seu álibi. — Sua mãe

entende.

A Sra. Edmund ofegou, sem esperar a tão brutal facada pelas costas. Escutando o

som, Tristan virou-se para ela para liberar mais de sua frustração. – Não posso acreditar

que a convidaste! Sabia que tínhamos terminado! Disse-te centenas de vezes!

Ela disse suavemente. – E-eu só queria que ficasse feliz.

— Mãe, ela nunca me fez feliz!

— Seja como for, Tristan. — A Criatura revirou seus olhos e tirou seu celular de sua

bolsa. — Deixar-te-ei para que possas divertir-te com sua babá.

Ri sem humor. — Oh, ele não está ―comigo‖.

Repentinamente, Tristan saiu de seu estado de raiva e virou-se para mim com um

frustrante nível de surpresa em seu rosto. — Amy?

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— Tristan? — Atirei de volta. Fora ele quem tinha dito que não estava namorando

com ninguém. Como no mundo poderia estar confuso?

A Criatura pressionou seu celular em sua orelha. — Alô, Mick? Tens que me tirar

daqui.

Tristan continuou a encarar-me, sua expressão agora calma e séria. — Amy, levar-

me-ia de volta para Grayfield? – Sacudiu sua cabeça. — Esse lugar... As lembranças...

— Essa noite? — Perguntei e olhei para a cozinha procurando por ajuda. A Sra.

Edmund deu-me um rogo silencioso para que aceitasse, se isso o fazia feliz. Suspirei. —

Ok.

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Capítulo Quinze

Se havia uma coisa que eu sabia fazer, era ser teimosa. Como sentar-me em um

carro cheio de silêncio incômodo durante quase duas horas?

Oh, sim, eu podia fazer isso. O único problema era decidir quando romper esse

silêncio. Na auto-estrada? Muito perigoso. Ao dirigir pelo centro de Grayfield? Muitos

pedestres. Não, não ia fazer isso até que estivesse dentro do caminho de fazer

exercícios perto da casa dos Edmund – e eu não sou corredora, então a distância é de

aproximadamente um quilômetro e meio. Esperei com ansiedade, por que sabia que

uma vez que se rompesse o silêncio, não tinha mais volta.

Virei para a Rua dos Edmund, cuidadosamente peguei uma grande aspiração e

disparei. — Sabe? Sua mãe não fez nada de errado.

Tristan não parecia alarmado, como se ele soubesse que eu seria a primeira a

falar. — Não deveria tê-la deixado vir. Então nada disso teria acontecido.

— Talvez só quisesse ajudar. Talvez só quisesse que deixasse de sentir lástima por

você mesmo e começar a viver sua vida. Talvez não tenha feito nada para que isso

ocorresse.

Pelo resplendor da tênue luz no painel do carro, pude vê-lo virar a cabeça para

mim, com os braços cruzados. — Talvez ela devesse ver que estou fazendo o melhor

que eu posso.

— Mas não tem tentado se adaptar a tudo! — Gritei, apertando mais o

acelerador e fazendo com que o Cabriolet sacudisse-se para frente.

— Amy, minha namorada deixou-me, meu pai morreu, e eu perdi a visão! —

Tristan apertou em forma de punho uma das mãos e pressionou a outra contra a janela,

como se estivesse tentando escapar de um pesadelo.

— Bom, poderia tê-la de volta, por isso pode riscar isso de sua lista.

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— Nunca a quis de volta! — Tristan moveu lentamente a cabeça. — Lexus só...

lembrou-me de como as coisas costumavam ser. Minha vida anterior.

— Pensei que odiava sua vida anterior. — Murmurei, e olhei o velocímetro, tendo

em conta que ia a uns vinte quilômetros por hora acima do limite de velocidade.

— Acho que sim, — ele deu de ombros. — Mas ao menos sabia como viver essa

vida.

Pisei no freio e virei-me para olhá-lo.

— Sabe Tristan? A maioria das pessoas não sabe o que vão fazer com suas vidas.

A maioria das pessoas não tem tudo disposto para elas. Eu nem sequer sei para qual

Universidade vou! Ainda! Então, sim, a vida é difícil, mas tem que vivê-la.

Ao escutar algo em minha voz, algo que tinha me negado a verbalizar, seu rosto

suavizou-se. Ele disse em voz baixa. — Você odiou que ela estivesse ali, não?

Dei um sorriso curto ante à ironia. Por que ele percebeu isso agora? — Claro!

— Por que não disse alguma coisa?

Minha garganta de repente fechou-se e meus olhos ardiam enquanto continha as

lágrimas. Engasguei-me. — Por que você deveria ter percebido que o que você teve

com ela estava me machucando!

Sua postura decaiu, Tristan começou. — Amy, não estava tentando estar com ela.

Não pensei...

— Não, você não pensou! — Espetei. — E isso faz parte do trabalho, suponho.

— Não diga isso, – sussurrou, parecendo ofendido.

— Por quê? – Espetei. – É verdade.

— Amy, sinto ter te machucado. Naquela noite, quando nos beijamos, queria dizer

tudo o que disse. - Tristan suspirou profundamente. — Mas, então Lexus veio e eu estava

confuso. Eu fui... estúpido. — Ele negou com a cabeça. — Estou muito agradecido por

você ter ficado.

— Tinha que ficar.

Tristan franziu a testa. —Pelo dinheiro?

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Mordi meu lábio, buscando como responder. Quantas vezes quisera ir embora?

Sabia que o dinheiro era a razão que Ahna dissera-me para que ficasse, a razão que

tinha dito a mim mesma. Mas era a verdade? — Quero ir para a Univerdade Evanston e

o dinheiro...

— Essa é a única razão? — Pressionou.

— Não sei, Tristan, — fiz uma pausa, não podendo ignorar a sincera súplica escrita

em seu rosto. – Quero dizer, não, não foi! Mas, agora...

— Não pode me perdoar?

Os faróis do carro iluminaram a entrada dos Edmund e tirei o pé do acelerador,

fazendo o Cabriolet parar. Avançando com o carro pelo caminho de entrada, disse. —

Aqui estamos.

Tristan ficou quieto, sua respiração ficou superficial e o rosto tenso pela

preocupação. Ele permaneceu em silêncio durante vários dolorosos segundos

enquanto buscava algo a dizer. Por último, quase com timidez, perguntou. — Você virá

amanhã?

Respirei fundo e fechei os olhos. — Virei.

— Está bem. — Assentiu rapidamente, como se quisesse convencer a si mesmo

que tudo estava bem. — A senha é 021.

Abri a janela do carro e lancei para fora meu braço, pressionando os números na

abertura do portão. O portão soou e abriu, permitindo que o Cabriolet se deslizasse

para a calçada. Estacionei atrás de minha Camry, que estava estacionada

pacientemente na frente da casa dos Edmund. Lancei um pequeno sorriso, antes de

alcançar o assento traseiro para pegar minha bolsa. Saindo, joguei a bolsa no ombro e

reuni-me com Tristan na frente de seu carro. Estendeu-me a mão, a palma para cima.

Estendi a mão, pressionando suas chaves na mão, e seus dedos fecharam-se ao

redor dos meus. Ele disse com firmeza. — Ver-te-ei amanhã, Amy.

— Boa noite, Tristan. — Disse, retirando minha mão, e caminhando para meu

carro. Sabia o que ele queria: uma garantia de que tudo ia ficar bem entre nós. Mas eu

estava cansada e não tinha uma resposta para sua pergunta.

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Levei minha Camry para a garagem e desliguei o motor.

Joguei minha bolsa no ombro, caminhei para minha casa, cuidando de não fazer

muito barulho enquanto abria a porta e entrava na cozinha. A luz piscou até acender-

se, vi que as cartas do dia estavam espalhadas sobre a mesa da cozinha. Precisava

desesperadamente de uma boa notícia e perguntava-me se talvez meu irmão tivesse

conseguido colocar um selo em um envelope e metê-lo em um correio. Era possível.

Retirei o cabelo de meu rosto e recolhi o montão de cartas. Endireitando-me,

comecei a folhear. Fatura, fatura, propaganda, fatura, propaganda, fatura dirigida a

mim – espere. Voltei a pegá-las e examinei o envelope branco mais de perto. Certa de

que se parecia com uma fatura, mas o que no mundo eu devia a... Sunny Cow Diary?

Rasguei o envelope e tirei um papel de dentro.

Dizia: “Querida Amy Turner, Parabéns! Nós de Sunny Cow Dairy temos prazer em

informar-lhe que é a ganhadora da Bolsa de Membros de Familiares desse ano. Seu

irmão, Charlie Turner, nos informou de sua busca ansiosa por seu sonho de fazer

faculdade de jornalismo, assim como sua dedicação em ajudar a um garoto local com

deficiência...” Nessa linha, franzi a testa, mas continuei lendo. “Como resultado de sua

dedicação excepcional ao desenvolvimento tanto de si mesma como de outros, a

Sunny Cow Diary tem o prazer em presenteá-la com uma bolsa de $50.000 para os

estudos.”

— O quê? — Ofeguei e senti-me enjoada, sentei-me em uma das cadeiras da

cozinha. Li, mais uma vez, ―$50.000‖.

— Oh, meu Deus! — Sussurrei. — Posso ir.

Pus-me a dar um salto e, agitando o papel no ar, gritei. — Posso ir!

— O que está acontecendo? — A voz de meu pai retumbou desde o dormitório

de meus pais.

Qualquer culpa que deveria ter sentido por acordar meus pais estava escurecida

por minha excitação. Corri por toda a casa, aterrissando com um salto em sua porta.

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Sustentando para cima o papel, gritei de novo. — Posso ir! À Evanston! Tenho uma bolsa

de estudos!

Meus pais estavam sentados na cama, seus cabelos situados em ângulos

estranhos e seus olhos desorbitados. Meu pai foi o primeiro a libertar-se das cobertas.

Tropeçando para mim, pegou o papel, entrecerrando os olhos, para vê-lo, com

confusão.

— Mas, como?

— Charlie! Candidatou-me.

— Ele, ele fez isso! — Papai sorriu, dirigindo-se a mamãe e agitando o papel com

um gesto de confirmação. Logo me envolveu em um abraço gigante, antes de sair

correndo do quarto. Surpresa de vê-lo mover-se tão rápido, tão tarde da noite,

comecei a rir. — Aonde vai?

— Ligar para seu irmão! — Gritou da cozinha.

Sacudi a cabeça. Era tão estranho que estivesse dizendo isso – ele estava ligando

para Charlie — mas era tão certo, ao mesmo tempo. Tão rápido quanto a surpresa

desapareceu, meu rosto baixou para jogar um olhar de contemplação e olhei com a

testa franzida a borda da cama de meus pais. Tudo tinha mudado, tão de repente.

Agora que essa necessidade de dinheiro tinha feito pooh, e tinha ido embora.

Minha mãe olhava-me e ela colocou uma das mãos sobre a minha, perguntando.

— Por que não está feliz, querida?

— Estou, — disse, e consegui sorrir. — É só que, agora... Agora não preciso do

trabalho.

Ela inclinou a cabeça para um lado. — Não é isso o que queria? Agora não lhe

pagarão para sair com seu namorado.

— Ele não é... — Comecei e logo suspirei — Tivemos uma briga. Ele estava

deixando que essa garota paquerasse com ele e... Bem, não é só isso. Ele não quer se

adaptar a ser cego e... estar com ele não ajuda. Não de verdade. Sou uma muleta pra

ele, sabe? Ao menos, assim é como me sinto às vezes.

Seu sorriso era de incômodo conhecimento. — Às vezes, se você ama alguém,

tem que deixá-lo ir.

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Eu sabia que ela estava falando dela e de Charlie. Claro, ela tinha conservado os

jantares, então não nos esquecemos dele, mas ela não enviara ninguém para ir buscá-

lo. Ela sabia que ele precisava de tempo para perambular por sua conta e ela tinha

dado. Eu não tinha pensado nele antes, o difícil que deve ter sido para ela fazê-lo.

Talvez eu fosse um pouco como Charlie, tomando seu sentido extravagante como

familiar e nunca pensando em buscar seu conselho.

Estendi a mão e abracei-a, dizendo em voz baixa. — Obrigada, mãe.

— De nada, Amy Rose.

Tudo parecia muito mais... claro. Eu sabia o que tinha que fazer: tinha que

renunciar.

Afastei minha Camry na frente da casa dos Edmund e olhei através dos pára-

brisas para o céu da manhã. Era isso. Respirei fundo e retirei meu cabelo para trás de

minhas orelhas, saí de meu carro e subi as escadas. A porta principal já estava aberta e

Chris estava de pé na porta, sua postura ampla e seu braço cruzado obstinadamente.

Tentei dar a ele um sorriso despreocupado, mas depois da discussão que ouvira ontem,

pude ver em seu rosto que não acreditaria.

— Brigou contigo, também? — Perguntou.

Inclinei a cabeça para um lado. — O que quer dizer?

O garoto colocou os olhos em branco. — Ele tem estado no armário a manhã

toda.

— Oh, — suspirei. — Sim, nós brigamos.

Sacudiu a cabeça e saiu do caminho para deixar-me entrar. —Nem sequer falou

conosco quando chegamos a casa! Tem que fazê-lo sair, Amy.

Olhei a escada de caracol e disse, — Deseje-me sorte, menino, — antes de ir para

frente. Comecei minha subida rapidamente e logo parei a dois passos do patamar.

Pressionei minhas mãos geladas em meus lábios e soprei o ar quente sobre elas. Não

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tinha nenhuma razão para ficar nervosa, mas sentia-me estranha, como se tivesse

passado muitos dias desde a última vez que o vi.

Dei de ombros para afastar qualquer inquietude e subi os últimos degraus.

Meus olhos foram recebidos pela vista da porta do armário fechada. Por alguma

razão, esperava que estivesse fechada e bloqueada, levando-me a um círculo

completo, de volta a meu primeiro encontro com Tristan.

Na realidade, a porta estava entreaberta. Pude ver uma faixa de escuridão

olhando-me de soslaio desde o interior. Sem dúvida era um bom sinal. Dei um passo

para frente e puxei a porta, a qual se abriu.

Fui recebida imediatamente pelo cheiro de papel e couro. Entrei e pisquei para

que meus olhos adaptassem-se na tênue luz. A primeira coisa que notei foi as pilhas de

livros colocados contra as paredes, tinha muitos clássicos, o Apanhador no Campo de

Centeio, entre eles. Ao perceber uma luz tênue, agachei-me para encontrar uma caixa

cheia de troféus. Passei meu dedo sobre o metal liso, perguntando-me como teria sido

ver Tristan voar pelo ar sobre Aeris.

Ouvi um ligeiro barulho, como algo se estalando em um lugar, e assomei-me na

parte traseira do armário. Reconheci um uniforme de montar cavalos, pendurado em

um gancho, e botas de montar de couro, erguidas estoicamente, em uma estante. Mais

além, a esquina era uma massa escura. Avancei com cuidado, evitando as pilhas de

CDs que cobriam o chão e finalmente parei na frente da sombra. Estreitei o olhar,

tentando averiguar quem ou o que estava olhando.

Sussurrei. — Olá?

De repente, a pequena Marly pulou de onde estava agachada na esquina e

passou perto de mim, saindo do armário. Pressionei-me contra a parede. Desde quando

eu estava brincando de esconde-esconde? Desconcertada, sacudi a cabeça e

mantive uma mão sobre meu coração, que batia com força. Foi então que ouvi:

música vinda da esquina. Podia ouvir Jon Buckley cantando: “Perdido em um labirinto,

sinto-me como se estivesse pego em giros. Todas as decisões equivocadas, tenho me

equivocado contigo. Nunca quis te machucar. Nunca quis ir por este caminho...” Essas

letras eram para mim?

Crack!

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Traduções 4Love

Sobressaltei-me e dei a volta, meus olhos fixos na parte inferior do marco da porta

de onde o som tinha vindo. A primeira coisa que vi foi a ponta de um taco branco e

fino.

Não, não era um taco — um bastão! Meus olhos seguiram a linha branca

enquanto estendia-se para cima em uma mão masculina. Fiquei sem respiração e

brevemente hesitei antes de levantar a vista. Tristan. Estava de pé na porta, sustentando

seu bastão em uma das mãos e uma rosa vermelha na outra. Não podia acreditar no

que via e fiquei com a boca aberta.

— Amy? — Fez uma pausa, movendo seus pés enquanto esperava que eu

respondesse, mas eu continuava perdida. Ele tossiu nervosamente e tentou de novo. —

Sinto se... Se Marly assustou-lhe, simplesmente queria escutar a canção. — Ele me

ofereceu a flor, sua cabeça subindo e baixando sobre seu largo caule. — Posso falar

contigo, Amy Rose?

Dei um pequeno passo para frente para pegar a rosa, deslizando-a entre seus

dedos. Estudei as delicadas pétalas durante um momento e logo levantei o olhar para

seu resto. — Estou escutando.

— Ela pegou-a! — Ouvi Chris sussurrar em voz alta. Estiquei meu pescoço, pude ver

os Edmund apinhados nas escadas, claramente se esforçando para escutar o que

estava acontecendo. Pus os olhos em branco, podia ser que Chris tivesse me enganado

ao deixar-me pensar que Tristan estava no armário, mas ele não foi feito para ser um

espião.

— Amy, tinha razão... Sobre tudo. Estava sendo um covarde. Pensei que só me

sentaria e deixaria que a vida acontecesse para mim, deixaria que a Lexus me usasse. E,

não era justo para você. Eu... Eu sei que uma rosa não reconcilia, mas... desculpe.

Tristan passou uma mão por seu cabelo e respirou fundo, como se ele mesmo

estivesse disposto a continuar apesar do fato de que eu não dizia nada. — E, vou

mudar! Vou fazer algo: aprenderei Braille e como usar corretamente esse bastão. Acho

que até mesmo ainda posso ir a Universidade no outono... Uma que me aceitou para...

Essa tem uma equipe de equitação.

— Evanston? — Respirei, um sorriso cada vez maior no rosto.

Tristan assentiu lentamente. — Evanston.

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Traduções 4Love

Não tinha pensado em nada, nenhuma palavra, enquanto eu de repente cortava

o espaço entre nós. Meus lábios estavam sobre os seus e os seus sobre os meus. Meu

coração acelerava-se, enquanto seus braços rodeavam fortemente minha cintura.

Beijamos-nos por tudo o que pudemos, como se nunca tivéssemos provado nada mais

doce. Poderia ter vivido nesse momento para sempre. Quando nossas bocas se

inflamaram e nossas respirações chegaram a ofegos, finalmente nos afastamos.

Joguei-me para trás e meus olhos foram pegos por seus óculos brilhantes. Minha

íris de cor safira refletiu-se nas profundidades escuras de suas lentes. Estendi a mão e

acariciei sua têmpora, lembrando do cerúleo brilhante. Tristan sorriu suavemente e

pegou minha mão. Seu tom era baixo quando disse. — Você é a única que queria olhar

em meus olhos. — Ele pegou minha mão entre suas. — É a única que eu...

— Amo-te, também, — disse em voz baixa e apertei seus dedos. — Mas... Tristan?

Eu desisto.

— O quê? — Veio o grito de um menino pequeno. — Depois de tudo isso?

Assomei-me por cima do ombro de Tristan para ver que os Edmund tinham subido

as escadas, ficando no patamar. Chris parecia, particularmente, indignado, com a cara

vermelha e os braços em seus quadris enquanto ficava nos olhando boquiaberto. Eu

não podia deixar de rir, enquanto explicava: — Quero dizer, tenho uma bolsa de

estudos! Já não tenho que trabalhar para você, nunca mais!

— Meu deus, preocupaste-me por um segundo! — Queixou-se a Sra. Edmund, mas

ela ainda continuava limpando os olhos chorosos.

Sorri, mas estava ruborizada ante a ideia de que estiveram nos olhando. Tristan

inclinou-se para meu ouvido, perguntando. — Todos estão ali, não é?

Com uma sacudida de sua cabeça, Tristan deu um passo para trás, pegando a

manivela e girando a porta do armário para fechá-la. Empurrou-me mais perto e rodeei

com meus braços seu pescoço. Ambos estávamos envoltos na escuridão. Podia sentir

seu calor, o cheiro de canela e sândalo, e nada mais importava. Porque embora Tristan

nunca tivesse me visto fisicamente, tinha visto meu verdadeiro eu, como eu tinha visto o

seu.

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Traduções 4Love

Epílogo Uma grande multidão reuniu-se abaixo do brilhante céu do Arizona. Os postos

estavam cheios e as pessoas zumbiam com emoção, como se estivessem a ponto de

ver um grande momento na historia, isso não era um evento de meros principiantes. Na

arquibancada mais baixa, uma jovem apertou a si mesma tão perto do campo quanto

pôde. Nervosamente ela afastou uma mecha de cabelo castanho para trás de sua

orelha e mordeu o lábio. Isso foi tudo.

Seus olhos azuis safira acesos com a vista dele. Era a imagem da escura perfeição,

sentado orgulhosamente em sua sela. O cavalo de ônix debaixo dele brilhava como o

cobalto na luz do sol. Sua respiração ficou superficial com antecipação, enquanto

olhava os dois começarem. Moviam-se com ritmo perfeito, estirando e flexionando os

músculos enquanto aceleravam para frente. Seu coração batia, ela também apontou

a si mesma para o vôo.

— Por favor, por favor, por favor, — ela sussurrou, seus olhos nunca deixando o

cavalo e o jóquei.

Aconteceu em um instante.

O cavalo castrado arrastou-se e, em um movimento com a graça do ballet,

levantou suas patas dianteiras. Suas poderosas patas traseiras pressionaram outra vez

contra o chão e então eles estavam voando. O tempo mais lento. Os lábios da jovem

propagaram-se em um sorriso enquanto ela olhava-os levantarem-se, como um, em

cima da cerca. No momento em que os cascos do cavalo reuniram-se com a terra, a

multidão estalou em aplausos de espera.

O jóquei, ao ouvir o ruído não pode reprimir um sorriso. Sua mente dava voltas e

sentia como se seu coração pudesse voar livre de seu peito. Conseguira... Seu mundo

não era mais negro, e sim cheio de luz.

Fim.

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