hipersensibilidade À picada de insetos em equino: relato de caso

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HIPERSENSIBILIDADE À PICADA DE INSETOS EM EQUINO: RELATO DE CASO HYPERSENSIBILITY DUE TO INSECT BITE IN A HORSE: CASE REPORT INTRODUÇÃO A hipersensibilidade a picada de insetos é uma doença pouco diagnosticada no Brasil, sendo confundida com outras dermatopatias e tratada erroneamente levando a gastos excessivos sem resultados satisfatórios. É uma afecção alérgica a picada de culicoides de carater sazonal. A maioria dos animais apresentam os sintomas ainda jovens, se tornam inquietos, se mutilam, acarretando uma aparência desagradável; dependendo da gravidade das lesões, impedindo a participação dos animais em provas e exposições levando a grandes perdas econômicas. O diagnóstico é baseado na sazonalidade, no histórico de exposição, na distribuição das lesões e na resposta ao tratamento (White & Evans, 2006) .A biópsia das lesões logo que aparecem para análise histopatológica podem auxiliar no diagnóstico. O tratamento e também um método profilático é reduzir a exposição dos animais aos culicoides com aplicações freqüentes de repelentes de insetos, estabular em baias teladas. O tratamento mais agressivo é a utilização de antiinflamatórios esterodais (predinisona- 1mg/kg/dia) até que o prurido cesse ou diminua substancialmente (geralmente entre 7 a 10 dias) (Smith et al, 2006). RELATO DE CASO Equino da raça quarto de milha, 14 anos de idade, de 400kg de pelagem baio ama- rilho, foi encaminhado para atendimento medico veterinário Foi realizado acompanhamento hematológico periódico, principalmente nos períodos de maior gravidade das lesões, observando-se eosinofilia. O proprietário relatou tratamento periódico com anti-helminticos, alternando o princípio ativo bimestralmente e, acompanhamento com exame coprológico. Diferentemente do descrito na literatura para o tratamento das lesões (SMITH, 2006), foi realizado com repelentes, pomadas cicatrizantes e cloridrato de prometazina (Fenergan® 5% ampola 50mg/ml) na dose de 0,5 mg/kg SID por 5 dias em casos mais agudos. CONCLUSÃO O presente relato comprova que há resultado satisfatório com o tratamento tópico associado à terapia com anti-histamínico para hipersensibilidade à picada de moscas, evitando-se assim o uso de anti-inflamatórios esteroidais sistêmicos, visando preservar a saúde equina. REFERÊNCIAS •REES C.A. Diagnosing and Managing Equine Pruritus: Insect Hypersensitivity. Compendium Equine, v.27(8), 2005. •SMITH B.P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais . 3.ed. São Paulo:Manole, 1728p., 2006. •WHITE S.D.; YU A.A. Equine Dermatology, In-Depth: Selected topics in Dermatology, v.52, p.463-466, 2006. FIGURA 1. Equino se esfregando em árvore, apresentando cauda com falhas e curta caracteristica. - Hemograma realizado no eqüino em diferentes períodos, *Valores de referência (valores absolutos) - de 0 a 1 (x 10 3 / μL ). SMITH et al, (2006), ** Neutrofilo Bastonete, ***Neutrofilo Segmentado, opg igual a 300, ¶¶ exame de fezes negativo. FIGURA 3. Histpatológico com infiltrado eosinófilicos principalmente perivascular FIGURA 2. Lesão na mandíbula com pontos de pus. Parâmetros Período Dezembr o 2009 Janeiro 2010 Fevereiro 2010 Agosto 2011 Setembro 2011 Hemácias (x 10 6 / μL ) 6,99 6,81 6,91 7,53 6.98 Leucócitos (x 10 3 / μL ) 12,6 15,0 10,6 10,1 11,7 Hemoglobina ( g/dL) 11,7 11,3 11,2 10,0 11,8 Hematócrito (%) 35,2 34,3 33,1 39,7 35,8 Basófilos (x 10 3 / μL ) 0,00 0,00 0,00 0,30 0,00 Eosinófilos* (x 10 3 / μL ) 1,64 0,75 0,64 0,81 ¶¶ 0,47 NB ** (x 10 3 / μL ) 0,00 0,00 0,00 0,20 0,00 NS*** (x 10 3 / μL ) 7,69 9,3 7,21 5,86 6,32 Linfócitos (x 10 3 / μL ) 3,15 4,8 2,76 2,21 4,80 Monócitos (x 10 3 / μL ) 0,13 0,13 0,00 0,61 1,17 Plaquetas (x 10 3 / μL ) 216 206 345 222 163 Karina Calciolari 1 ; Nara Saraiva Bernardi 2 ; Deborah Penteado Martins Dias 3 ; José Corrêa de Lacerda Neto 4 1 Acadêmica / Graduação em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp.*Autor para Correspondência: Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal – SP, 14884-900. [email protected] 2 Mestranda em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp. 3 Pós-Doutoranda junto ao Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV/Unesp 4 Professor Livre Docente do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV/Unesp

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A hipersensibilidade a picada de moscas, também conhecida como hipersensibilidade aos Culicoides ou Coceira doce eqüina, é uma das causas mais comuns do prurido em eqüinos. É uma doença pouco diagnosticada sendo comumente confundida pelos proprietários e veterinários com lesões causadas por fungos e/ou bactérias (micoses, dermatofilose, esporotricose ou dermatites), sendo tratada erroneamente como tal com antifúngicos, antibióticos e xampoos terapêuticos, não havendo resultado satisfatório. O animal se torna irritado com a presença de insetos, se mutila devido ao intenso prurido podendo até atrapalhar seu desempenho e concentração durante o treinamento diário.

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Page 1: HIPERSENSIBILIDADE À PICADA DE INSETOS EM EQUINO: RELATO DE CASO

HIPERSENSIBILIDADE À PICADA DE INSETOS EM EQUINO: RELATO DE CASO

HYPERSENSIBILITY DUE TO INSECT BITE IN A HORSE: CASE REPORT

INTRODUÇÃO A hipersensibilidade a picada de insetos é uma doença pouco diagnosticada no Brasil, sendo confundida com outras dermatopatias e tratada erroneamente levando a gastos excessivos sem resultados satisfatórios.

É uma afecção alérgica a picada de culicoides de carater sazonal. A maioria dos animais apresentam os sintomas ainda jovens, se tornam inquietos, se mutilam, acarretando uma aparência desagradável; dependendo da gravidade das lesões, impedindo a participação dos animais em provas e exposições levando a grandes perdas econômicas.

O diagnóstico é baseado na sazonalidade, no histórico de exposição, na distribuição das lesões e na resposta ao tratamento (White & Evans, 2006) .A biópsia das lesões logo que aparecem para análise histopatológica podem auxiliar no diagnóstico.

O tratamento e também um método profilático é reduzir a exposição dos animais aos culicoides com aplicações freqüentes de repelentes de insetos, estabular em baias teladas. O tratamento mais agressivo é a utilização de antiinflamatórios esterodais (predinisona- 1mg/kg/dia) até que o prurido cesse ou diminua substancialmente (geralmente entre 7 a 10 dias) (Smith et al, 2006).

RELATO DE CASOEquino da raça quarto

de milha, 14 anos de idade, de 400kg de pelagem baio ama- rilho, foi encaminhado para atendimento medico veterinário apresentando uma lesão granulomatosa e sanguinolenta do lado direito da base da cauda, além de várias outras feridas e crostas

na mandibula, pescoço e inserção da crina. Durante o exame físico, observou-se a presença de pústulas e sangramento na ferida da cauda e nas lesões na região da crina. Observou-se ainda lesões lignificadas. O equino apresentava-se inquieto, com movimentos de cauda e cabeça frequente e, intenso prurido nas áreas afetadas, procurando constantemente paredes e mourões de cerca para se coçar.

Foi realizado acompanhamento hematológico periódico, principalmente nos períodos de maior gravidade das lesões, observando-se eosinofilia. O proprietário relatou tratamento periódico com anti-helminticos, alternando o princípio ativo bimestralmente e, acompanhamento com exame coprológico.

Diferentemente do descrito na literatura para o tratamento das lesões (SMITH, 2006), foi realizado com repelentes, pomadas cicatrizantes e cloridrato de prometazina (Fenergan® 5% ampola 50mg/ml) na dose de 0,5 mg/kg SID por 5 dias em casos mais agudos.

CONCLUSÃO

O presente relato comprova que há resultado satisfatório com o tratamento tópico associado à terapia com anti-histamínico para hipersensibilidade à picada de moscas, evitando-se assim o uso de anti-inflamatórios esteroidais sistêmicos, visando preservar a saúde equina.

REFERÊNCIAS • REES C.A. Diagnosing and Managing Equine Pruritus: Insect Hypersensitivity. Compendium

Equine, v.27(8), 2005.• SMITH B.P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais. 3.ed. São Paulo:Manole, 1728p.,

2006. • WHITE S.D.; YU A.A. Equine Dermatology, In-Depth: Selected topics in Dermatology, v.52,

p.463-466, 2006.

FIGURA 1. Equino se esfregando em árvore, apresentando cauda com falhas e curta caracteristica.

Tabela 1- Hemograma realizado no eqüino em diferentes períodos, *Valores de referência (valores absolutos) - de 0 a 1 (x 103/ μL ). SMITH et al, (2006), ** Neutrofilo Bastonete, ***Neutrofilo Segmentado, ¶ opg igual a 300, ¶¶ exame de fezes negativo.

FIGURA 3. Histpatológico com infiltrado eosinófilicos principalmente perivascular

FIGURA 2. Lesão na mandíbula com pontos de pus.

ParâmetrosPeríodo

Dezembro2009

Janeiro2010

Fevereiro2010

Agosto2011

Setembro2011

Hemácias (x 106/ μL ) 6,99 6,81 6,91 7,53 6.98Leucócitos (x 103/ μL ) 12,6 15,0 10,6 10,1 11,7Hemoglobina ( g/dL) 11,7 11,3 11,2 10,0 11,8Hematócrito (%) 35,2 34,3 33,1 39,7 35,8Basófilos (x 103/ μL ) 0,00 0,00 0,00 0,30 0,00Eosinófilos* (x 103/ μL ) 1,64 0,75¶ 0,64 0,81¶¶ 0,47NB** (x 103/ μL ) 0,00 0,00 0,00 0,20 0,00NS*** (x 103/ μL ) 7,69 9,3 7,21 5,86 6,32Linfócitos (x 103/ μL ) 3,15 4,8 2,76 2,21 4,80Monócitos (x 103/ μL ) 0,13 0,13 0,00 0,61 1,17Plaquetas (x 103/ μL ) 216 206 345 222 163

Karina Calciolari1; Nara Saraiva Bernardi2; Deborah Penteado Martins Dias3; José Corrêa de Lacerda Neto4

1Acadêmica / Graduação em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp.*Autor para Correspondência: Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane s/n, Jaboticabal – SP, 14884-900. [email protected]

2Mestranda em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp.3Pós-Doutoranda junto ao Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV/Unesp 4Professor Livre Docente do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV/Unesp