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PAULA MARTINELLI KIRHAKOS HIPERADRENOCORTICISMO CANINO CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO 2008

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  • PAULA MARTINELLI KIRHAKOS

    HIPERADRENOCORTICISMO CANINO

    CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO

    2008

  • PAULA MARTINELLI KIRHAKOS

    HIPERADRENOCORTICISMO CANINO

    Aluna do curso de Medicina Veterinária,

    do centro universitário FMU. Monografia realizada sob a orientação da Profa. Débora Gidali Menaged.

    CENTRO UNIVERSITÁRIO FMU SÃO PAULO

    2008

  • SUMÁRIO

    Lista de tabelas e figuras .....................................................................................................IV

    Resumo ................................................................................................................................VII

    Abstract ...............................................................................................................................VIII

    Objetivo ...............................................................................................................................X

    Introdução............................................................................................................................11

    1. As glândulas endócrinas ..................................................................................................12

    1.1. Hipófise ............................................................................................................12

    1.1.1. Neurohipófise ....................................................................................13

    1.1.2. Adenohipófise....................................................................................14

    1.1.2.1. Hormônio adrenocorticotrófico ..........................................14

    1.2. As glândulas adrenais .......................................................................................15

    1.2.1. Córtex adrenal....................................................................................17

    1.2.1.1. Zona glomerulosa ...............................................................18

    1.2.1.2. Zona fasciculada .................................................................19

    1.2.1.3. Zona reticulada ...................................................................20

    1.2.2. Medula adrenal ..................................................................................20

    2. Hiperadrenocorticismo canino.........................................................................................21

    2.1. Etiologia ...........................................................................................................21

    2.1.1. Hiperadrenocorticismo hipófise-dependente.....................................21

    2.1.2. Tumores adrenocorticais funcionais..................................................23

    2.1.3. Hiperadrenocorticismo iatrogênico ...................................................25

    2.1.4. Síndrome do ACTH ectópico ............................................................26

    2.2. Predisposição....................................................................................................26

    2.3. Manifestações clínicas......................................................................................26

    2.3.1. Sistema urinário.................................................................................28

    2.3.2. Sistema respiratório ...........................................................................28

    2.3.3. Sistema endócrino .............................................................................28

    2.3.4. Dilatação abdominal ..........................................................................28

    2.3.5. Sistema neuromuscular......................................................................29

    2.3.6. Hepatomegalia ...................................................................................30

    2.3.7. Sinais cutâneos ..................................................................................30

    2.3.8. Síndrome adrenogenital.....................................................................33

    2.4. Complicações clínicas associadas.....................................................................33

  • 3. Diagnóstico......................................................................................................................34

    3.1. Hemograma ......................................................................................................34

    3.2. Bioquímica sérica .............................................................................................34

    3.2.1. Fosfatase alcalina...............................................................................34

    3.2.2. Alanina aminotransferase ..................................................................35

    3.2.3. Colesterol e triglicérides....................................................................35

    3.3. Urinálise ...........................................................................................................36

    3.4. Radiografia .......................................................................................................36

    3.5. Ultra-sonografia................................................................................................37

    3.6. Tomografia computadorizada...........................................................................40

    4. Exames específicos..........................................................................................................41

    4.1. Concentrações séricas basais de cortisol ..........................................................41

    4.2. Teste de estimulação com o ACTH..................................................................41

    4.3. Teste de supressão com dose baixa de dexametasona......................................43

    4.4. Teste de supressão com dose alta de dexametasona.........................................45

    4.5. Proporção de Cortisol: Creatinina urinários .....................................................46

    4.6. Concentração de ACTH plasmática endógena .................................................47

    5. Tratamento.......................................................................................................................48

    5.1. Mitotano ...........................................................................................................48

    5.1.1. Fase de indução .................................................................................48

    5.1.2. Fase de manutenção...........................................................................49

    5.2. Cetoconazol ......................................................................................................49

    5.3. L-deprenil (Anipril®) ........................................................................................50

    5.4. Adrenalectomia.................................................................................................50

    Conclusão ............................................................................................................................52

    Referências ..........................................................................................................................53

  • LISTA DE QUADROS E FIGURAS

    Quadro 1. Hormônios hipofisários ....................................................................................12

    Quadro 2. Circulação porta hipotálamo-hipófise...............................................................14

    Quadro 3. Incidência de sintomas e sinais clínicos do hiperadrenocorticismo canino de

    ocorrência natural ................................................................................................................27

    Quadro 4. Anormalidades hematológicas, da bioquímica sérica, urinárias e radiográficas

    típicas do hiperadrenocorticismo.........................................................................................39

    Figura 1. Esquema da hipófise de um cão ........................................................................13

    Figura 2. Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal .....................................................................15

    Figura 3. Anatomia das glândulas adrenais a partir da abordagem na linha média ventral

    ...........................................................................................................................16

    Figura 4. Região cortical e medular da glândula adrenal..................................................17

    Figura 5. Secreção dos hormônios adrenocorticais pelas diferentes zonas do córtex adrenal ...........................................................................................................................18

    Figura 6. (A) Macho canino castrado, com 10 anos de idade, mestiço, com

    hiperadrenocorticismo de origem hipofisária; (B) Corte transversal do cérebro do cão da foto

    (A) mostrando macroadenoma hipofisário que comprime gravemente as estruturas cerebrais

    circundantes .........................................................................................................................21

    Figura 7. Eixo hipofisário-adrenocortical em cão com hiperadrenocorticismo de origem hipofisária (HOH). Secreção excessiva de ACTH, em geral proveniente de um adenoma

    hipofisário ativo, que provoca adrenomegalia bilateral e concentrações plasmáticas excessivas

    de cortisol ........................................................................................................................... 22

    Figura 8. Glândula hipófise e glândulas adrenais; canino. Hiperfunção secundária de um

    órgão endócrino. Adenoma (A) cromófobo corticotrófico (secretor de ACTH) na glândula

    hipófise e aumento bilateral das glândulas adrenais. A secreção prolongada de ACTH resultou

    em hipertrofia e hiperplasia das células secretoras das zonas fasciculada e reticulada no córtex

    adrenal (setas brancas) e em secreção excessiva de cortisol. Barra = 1cm .........................22

    Figura 9. Eixo hipofisário-adrenocortical em cão com tumor adrenocortical ativo. Secreção

    excessiva de cortisol pelo tumor adrenocortical causa supressão hipofisária, redução da

    concentração plasmática de ACTH e atrofia da glândula adrenal contralateral..................23

  • Figura 10. Adenoma do córtex adrenal de um cão English Setter macho com 12 anos de idade

    ...........................................................................................................................24

    Figura 11. Adenoma do córtex adrenal de um cão Hound macho, 8 anos de idade. (a) córtex

    da adrenal; (b) medula da adrenal; (c) tumor ......................................................................24

    Figura 12. Glândula adrenal canina. Síndrome iatrogênica de excesso de hormônio.

    Hiperadrenocorticismo causado por administração prolongada de corticosteróides exógenos

    resultou em atrofia, por falta de estímulo, da zona fasciculada e zona reticulada, dependentes

    de ACTH, do córtex adrenal (C). A medula da adrenal (M) ocupa uma porcentagem

    relativamente maior na glândula atrófica do que numa glândula adrenal normal...............25

    Figura 13. Comedões, alopecia e abdômen abaulado .........................................................29

    Figura 14. Poodle. Doença tipo Cushing por hipercortisolismo devido à hiperplasia

    adrenocortical idiopática. A astenia muscular é evidente pelo abdômen pendular, e há alopecia

    no abdômen, na região cervical ventral e na cauda .............................................................29

    Figura 15. (A) Hipotricose e hiperpigmentação acentuada do tronco. (B) Poodle de colo,

    apresentando padrão de alopecia avançada típico e pele hiperpigmentada. (C) Alopecia do

    flanco secundária a tumor de adrenal. (D) Perda de pêlo na extremidade distal ................31

    Figura 16. (A) Calcinose cutânea no abdômen ventral. (B) Calcinose cutânea ao longo da

    parte caudal do dorso. (C) Estrias com ulceração focal. .....................................................31

    Figura 17. (A) Diversas áreas não inflamatórias focais de alopecia associadas à piodermite,

    num caso de doença iatrogênica num Labrador retriever; (B, C) Cadela Poodle miniatura que

    demonstra intensa alopecia sobre o tronco e característico enrugamento da pele; (D) Cadela

    Bull terrier com abdome distendido, veias subcutâneas salientes e duas lesões em face inicial

    da calcinose cutânea; (E) Lesões iniciais de calcinose cutânea na virilha de um mestiço de

    Labrador ...........................................................................................................................32

    Figura 18. Perda de pêlo perineal e aumento de volume vulvar .........................................33

    Figura 19. Médias e faixas de grupos de concentrações séricas totais da isoenzima da

    fosfatase alcalina induzida por esteróides (SIAP), demonstrando que este parâmetro não

    possui a especificidade necessária para que seja teste de triagem confiável para o

    hiperadrenocorticismo canino..............................................................................................35

    Figura 20. (A) Vista lateral da radiografia de um cão com hiperadrenocorticismo de origem

    hipofisária mostrando massa adrenal calcificada cranial ao rim (seta); (B) Vista ventrodorsal

    da radiografia de um cão com hiperadrenocorticismo mostrando massa adrenal calcificada

    craniomedial ao rim e lateral à espinha (seta) .....................................................................37

  • Figura 21. (A) A ilustração diagramática da imagem ultra-sonográfica mostrada em (B),

    exibindo o aspecto de carcinoma adrenal num cão com hiperadrenocorticismo. (C) Ilustração

    diagramática da imagem ultra-sonográfica mostrada em (D), exibindo glândula adrenal

    hiperplásica num cão com hiperadrenocorticismo hipófise-dependente. (E) Ilustração

    diagramática da imagem ultra-sonográfica mostrada em (F), exibindo a adrenal hiperplásica

    oposta no mesmo cão, com hiperplasia adrenal bilateral. V, ventral; D, dorsal; Cr, cranial; Ca,

    caudal; o símbolo no canto esquerdo superior de A, C e E é a localização e orientação do

    transdutor no abdômen ventral ............................................................................................38

    Figura 22. Concentrações plasmáticas médias de cortisol por radioimunoteste (RIA),

    determinadas antes, e 1 hora depois da administração de ACTH sintético em cães de controle,

    cães com hiperadrenocorticismo espontâneo e cães com hiperadrenocorticismo iatrogênico

    ...........................................................................................................................42

    Figura 23. Efeitos da administração de dexametasona no eixo hipofisário-adrenocortical em

    cães saudáveis e em cães com hiperadrenocorticismo de origem hipofisária ou neoplasia

    adrenocortical ......................................................................................................................44

    Figura 24. Padrão de respostas do cortisol plasmático durante a supressão por altas doses de

    dexametasona em cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente ou decorrente de

    tumor adrenal.......................................................................................................................46

  • RESUMO

    O hiperadrenocorticismo, também conhecido como Síndrome de Cushing, apresenta

    manifestações clínicas e anormalidades bioquímicas resultantes da exposição crônica ao

    excesso de corticóides endógenos ou exógenos. Esta síndrome pode surgir espontaneamente,

    decorrente de hiperplasia ou neoplasia da glândula, ou apresentar uma etiologia iatrogênica,

    decorrente da administração excessiva de corticóides. Cães com hiperadrenocorticismo

    geralmente desenvolvem sinais clínicos que refletem a disfunção de muitos sistemas

    orgânicos, embora em alguns cães possa predominar somente um sinal clínico. O objetivo da

    terapia é de conseguir o hiperadrenocorticismo subclínico, através do qual, tanto as

    concentrações basais como as pós-ACTH de cortisol encontrem-se dentro da variação basal

    normal.

    Palavras-chave: Hiperadrenocorticismo; Cushing; corticóides.

  • ABSTRACT

    The hyperadrenocorticism, also known as Cushing Syndrome, presents clinical signs and

    biochemical abnormalities, due to chronic exposure to endogenous or exogenous corticoids

    increased level. This syndrome may arise spontaneously, due to gland hyperplasia or

    neoplasia, or submit an iatrogenic etiology. Generally, dogs with hyperadrenocorticism

    develop clinical signs that reflect in many organic systems dysfunction, although in some

    dogs only the clinical signs predominate. The purpose of therapy is to achieve the sub-clinic

    hyperadrenocorticism, so that, as the basal concentrations as the cortisol after-ACTH are

    within the normal basal variation.

    Keywords: Hyperadrenocorticism; Cushing; corticoids.

  • ABSTRACT

    El hiperadrenocorticismo, también conocido como Moléstia de Cushing, presenta signos

    clínicos y anomalías bioquímicas resultantes de la exposición al exceso de corticoides,

    endógenos o exógenos. Esta moléstia puede surgir espontáneamente, derivada de hiperplasia o

    neoplasia de la glándula, o presentar una etiología iatrogénica, derivada de una excesiva

    administración de corticoides. Generalmente, los perros con hiperadrenocorticismo

    desarrollan señales clínicos que reflejan la disfunción de muchos sistemas orgánicos, aunque

    en algunos perros solamente una señal clínica puede prevalecer. El objetivo de la terapia es de

    conseguir el subclínico de hiperadrenocorticismo, de manera que, tanto las concentraciones

    fundamentales cuánto las pos-ACTH de cortisol encóstrense dentro de la diferencia normal.

    Palabras-clave: Hiperadrenocorticismo; Cushing; corticoides.

  • OBJETIVO

    Demonstrar a importância da avaliação clínica e o uso de técnicas diagnósticas

    corretas para identificar e tratar, satisfatoriamente, um cão com hiperadrenocorticismo.

  • 11

    INTRODUÇÃO

    O hiperadrenocorticismo (doença de Cushing, síndrome de Cushing) é um distúrbio

    comum do cão resultante da exposição crônica ao excesso de glicocorticóides endógenos ou

    exógenos e classicamente caracteriza-se por poliúria, polidipsia, alopecia simétrica bilateral,

    atrofia cutânea, pele hipotônica, fraqueza muscular esquelética, adelgaçamento significativo

    da epiderme, hiperqueratose, abdome penduloso, tremores e obesidade (SCOTT et al,1996).

    Esta síndrome pode ocorrer naturalmente ou ser iatrogênica. O tipo natural pode estar

    associado à hiperplasia adrenocortical bilateral, neoplasia adrenocortical ou à síndrome do

    ACTH ectópico. O hiperadrenocorticismo canino iatrogênico resulta da administração

    excessiva de glicocorticóides com objetivo terapêutico (BUNCH et al, 1998). O prognóstico do hiperadrenocorticismo canino de ocorrência natural não tratado é

    reservado. Complicações clínicas podem estar associadas tais como: hipertensão, pielonefrite,

    cálculos urinários, glomerulopatias, tromboembolismo pulmonar, insuficiência cardíaca

    congestiva, pancreatite, diabete melito, entre outras (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Considerando que esta síndrome acomete principalmente animais idosos, muitos cães

    morrem ou são sacrificados dentro de dois anos do diagnóstico como resultado de qualquer

    das complicações mencionadas (SCOTT et al,1996).

  • Hiperadrenocorticismo canino 12

    1. AS GLÂNDULAS ENDÓCRINAS

    As glândulas endócrinas ou de secreção interna são aquelas que lançam seus produtos

    secretórios (hormônios) no sangue, na linfa ou no líquido tecidual, os quais os transportam

    aos órgãos alvo, suscetíveis às ações destes produtos (DYCE et al, 1997). Os hormônios

    secretados podem ser proteínas, glicoproteínas, polipeptídeos, esteróides ou catecolaminas.

    Além disso, uma glândula pode secretar um ou vários hormônios (BANKS, 1991).

    1.1. Hipófise

    De acordo com DYCE (1997), a hipófise ou glândula pituitária produz hormônios que

    influenciam diretamente as atividades de outras glândulas endócrinas. Sua localização como

    um apêndice do cérebro também sugere sua importância entre os mecanismos nervoso e

    humoral que, em conjunto, controlam determinadas funções. Esta glândula encontra-se

    suspensa abaixo do hipotálamo por um pedúnculo estreito e frágil e aloja-se numa depressão

    (fossa hipofisária) do assoalho craniano, que é limitada pela crista rostral e caudal do osso.

    Além disso, apresenta partes de origem e função muito diferentes.

    Segundo este mesmo autor, a glândula hipófise está dividida em duas partes, o lobo

    anterior (adenohipófise) e o lobo posterior (neurohipófise). Adenohipófise possui origem de

    células epiteliais, enquanto neurohipófise possui origem nervosa.

    Quadro 1. Hormônios hipofisários (BANKS, 1991).

    Adenohipófise

    Hormônio somatotrófico (somatotrofina, STH, GH, hormônio do crescimento)

    Prolactina (homônio luteotrófico, LTH, hormônio lactogênico)

    Hormônio adrenocorticotrópico (ACTH, corticotrofina)

    Hormônio folículo estimulante (FSH)

    Hormônio luteinizante (LH)

    Hormônio tireotrófico (TSH, hormônio estimulante da tireóide)

    Pars intermedia

    Hormônio melanotrófico (MSH)

  • Hiperadrenocorticismo canino 13

    Quadro 1. Hormônios hipofisários (BANKS, 1991).

    Neurohipófise

    Ocitocina

    Hormônio antidiurético (ADH, vasopressina)

    O sistema nervoso central (SNC) manifesta seu controle sobre a hipófise através do

    hipotálamo via ligações nervosas ou substâncias parecidas com hormônios conhecidas como

    fatores de liberação (DYCE et al, 1997).

    1.1.1. Neurohipófise

    Neurohipófise (lobo posterior) é formada por um crescimento inferior do hipotálamo;

    o pedúnculo que persiste como uma conexão com o cérebro inclui uma extensão do terceiro

    ventrículo, ou seja, a neurohipófise é uma evaginação ventral do tecido nervoso do

    hipotálamo. Numerosos neurônios não mielinizados formam o trato hipotalâmico-hipofisário

    (Figura 1) (DYCE et al, 1997); (BANKS, 1991).

    Pars nervosa

    Lúmen residual

    Pars distalis

    Pars intermedia

    Figura 1. Esquema da hipófise de um cão (BANKS, 1991).

  • Hiperadrenocorticismo canino 14

    1.1.2. Adenohipófise

    Relacionada com a produção de diversos hormônios, que são comumente designados

    por siglas. A produção de todos esses hormônios é controlada por hormônios hipotalâmicos

    reguladores (fatores de liberação ou inibição) (DYCE et al, 1997).

    Quadro 2. Circulação porta hipotálamo-hipófise (BANKS, 1991).

    Circulação porta hipotálamo-hipófise

    Fator liberador do hormônio de crescimento GHRF

    Fator inibidor do hormônio de crescimento GHIF

    Fator liberador da prolactina PRF

    Fator inibidor da prolactina PIF

    Fator liberador do ACTH CRF

    Fator liberador do FSH FRF

    Fator liberador do LH LRF

    Fator liberador do TSH TRF

    A adenohipófise é formada pela pars distalis, pars intermedia e pars tuberalis

    (BANKS, 1991).

    1.1.2.1. Hormônio adrenocorticotrófico

    O hormônio adrenocorticotrófico (ACTH, corticotrofina) apresenta efeitos primários

    sobre a glândula adrenal para provocar a secreção dos glicocorticóides. A regulação da

    liberação do ACTH é medida pelas concentrações circulantes dos glicocorticóides,

    manifestando uma influência retroalimentadora negativa. A liberação de corticotrofina e a

    elevação subseqüente dos glicocorticóides circulantes são afetadas pelo estresse emocional e

    físico. Ainda, os níveis circulantes de glicocorticóides estão sujeitos ao ritmo circadiano da

    secreção hipotalâmica e adenohipofisária (Figura 2) (BANKS, 1991).

  • Hiperadrenocorticismo canino 15

    Hipotálamo

    Adenohipófise

    Córtex adrenal

    Mineralocorticóides

    Glicocorticóides

    Noradrenalina

    Adrenalina

    Medula adrenal ACTH

    Neurohipófise

    Fatores liberadores

    Estímulos

    Físicos Emocionais Químico (hiperglicemia) Outros

    -Retroalimentação

    Esteróides sexuais

    Encéfalo

    Figura 2. Eixo hipotálamo-hipófise-adrenal.

    Fonte: http://www.elamal.com/images/enfermedades/depresion/figura22.jpg

    1.2. As glândulas adrenais

    Segundo DYCE (1997), o par de glândulas adrenais situa-se contra o teto do abdome,

    próximo à junção toracolombar. São retroperitoniais e, em geral, de localização craniomedial

    ao rim correspondente (direito ou esquerdo). Embora sua denominação esteja relacionada com

  • Hiperadrenocorticismo canino 16

    este fato, as glândulas adrenais encontram-se mais estritamente ligadas aos grandes vasos

    abdominais (aorta e veia cava caudal) (Figura 3).

    Veia frênico abdominal

    Diafragma

    Rim

    Artéria e veia renais

    Ureter

    Artérias testiculares

    ou ovarianas

    Veias testiculares

    ou ovarianas

    Glâad

    ndulas renaisGlândulaadrenai

    s s

    Glândulas adrenais

    Veia cava caudal

    Figura 3. Anatomia das glândulas adrenais a partir da abordagem na linha média ventral (BIRCHARD;

    SHERDING, 1998).

    Embriologicamente, as glândulas adrenais são derivadas de duas camadas

    germinativas: o mesoderma e o ectoderma da crista neural (BANKS, 1991). O córtex adrenal

    tem origem na crista urogenital, em comum com os diversos órgãos urinários e genitais,

    assim, sua origem é mesodérmica. A medula adrenal tem origem na crista neural e, portanto,

    sua origem é ectodérmica (Figura 4) (JONES et al, 2000).

  • Hiperadrenocorticismo canino 17

    Córtex

    Medula

    Figura 4. Região cortical e medular da glândula adrenal.

    Fonte:http://www.fccj.org/campuses/north/lac/endocrine_system/adrenal_gland.jpg

    1.2.1. Córtex adrenal

    O córtex da adrenal é formado por células poliédricas secretoras que estão organizadas

    em cordões. Os cordões estão orientados radialmente em relação à medula da adrenal. A

    orientação dos cordões e algumas diferenças citológicas permitem a diferenciação das

    subdivisões corticais: zona glomerulosa, zona fasciculada e zona reticulada (Figura 5)

    (BANKS, 1991).

  • Hiperadrenocorticismo canino 18

    Zona glomerulosa secreta aldosterona

    Zona fasciculada

    Zona reticular

    Cortisol e androgênios

    CórtexMedula

    Corte ampliado

    Figura 5. Secreção dos hormônios adrenocorticais pelas diferentes zonas do córtex adrenal (GUYTON; HALL,

    2002).

    Mecanismos independentes regulam a secreção de aldosterona e a secreção de cortisol.

    Certos fatores, como a angiotensina II, que aumentam, especialmente, a secreção de

    aldosterona, provocam hipertrofia da zona glomerulosa, embora não exerçam qualquer efeito

    sobre as duas outras zonas. De forma semelhante, fatores como o ACTH, que aumentam a

    secreção de cortisol e dos androgênios adrenais, causam hipertrofia da zona fasciculada e da

    zona reticular, porém exerce pouco, ou nenhum, efeito sobre a zona glomerulosa (GUYTON;

    HALL, 2002).

    1.2.1.1. Zona glomerulosa

    Também é conhecida como zona arciforme e zona multiforme (BANKS, 1991). É a

    camada mais externa, e apresenta grupos de células com pequena quantidade de citoplasma e

    núcleos escuros centrais. Essas células secretam mineralocorticóides, dos quais a aldosterona

    é o hormônio principal. Está relacionada com a retenção de sódio, perda de potássio, expansão

    do volume líquido extracelular e, conseqüentemente, aumento da pressão sanguínea

    (hipertensão). Esses eventos são principalmente controlados pelo sistema renina-angiotensina

    (JONES et al, 2000).

  • Hiperadrenocorticismo canino 19

    Quando ocorre diminuição da pressão sanguínea ao rim, diminuição de sódio, ou

    excesso de potássio, ocorre o aumento da liberação de renina pelo aparelho justaglomerular.

    Parte da renina é lançada na circulação, e parte vai para o fígado que formará o

    angiotensinogênio. A associação de renina e angiotensinogênio forma a angiotensina I, esta

    passará pelo pulmão, aonde sofrerá ação da ECA (enzima conversora de angiotensina),

    formando a angiotensina II. A angiotensina II, além de aumentar a pressão sanguínea

    mediante a sua ação na musculatura lisa (promove vasoconstrição, aumentando a resistência

    periferia), estimula diretamente a produção de aldosterona pela zona glomerulosa (CARLTON; McGAVIN, 1995).

    1.2.1.2. Zona fasciculada

    É a zona mais larga do córtex, apresentando cordões de células maiores com um

    citoplasma mais abundante e repleto de lipídeos, o que dá a célula um aspecto mais

    vacuolado. Essa zona é principalmente responsável pela secreção de cortisol, embora outros

    corticosteróides tenham atividade glicocorticóide (cortisona, corticosterona). (JONES et al,

    2000). O cortisol é transportado para o sangue ligado a uma globulina plasmática, a

    transcortina ou globulina receptora de corticosteróides (CBG), apresentando diversos efeitos

    sobre os tecidos corporais (BANKS, 1991).

    O cortisol inibe a ação da insulina, causando a elevação da glicose circulante

    (hiperglicemia) e a diminuição da utilização periférica de glicose. A glicogênese e a

    gliconeogênese completam a elevação da liberação de glicose. (BANKS, 1991). Além disso,

    ocorre uma elevação no catabolismo (degradação; quebra de substâncias) de proteínas e de

    lipídeos.

    Os glicocorticóides também têm ação antiinflamatória e levam a um aumento no

    número de neutrófilos circulantes, redução dos eosinófilos circulantes, inibição da ativação

    dos macrófagos e diminuição nos linfócitos T circulantes e nos tecidos. Essas substâncias

    também limitam o aumento da permeabilidade vascular na inflamação. O cortisol é liberado

    pela ação do ACTH (hormônio adrenocorticotrófico) hipofisário (JONES et al, 2000).

  • Hiperadrenocorticismo canino 20

    1.2.1.3. Zona reticulada

    Zona mais interna do córtex adrenal, constituída por agregados de células que não

    possuem vacúolos citoplasmáticos. Esta região é responsável pela secreção dos andrógenos,

    que são produzidos tanto no macho quanto na fêmea (JONES et al, 2000).

    1.2.2. Medula adrenal

    A medula adrenal é derivada embriologicamente da crista neural e faz parte do sistema

    cromafim (JONES et al, 2000). Os constituintes primários da medula incluem as células

    glandulares, as células ganglionares, as vênulas e os capilares. O citoplasma é basófilo e

    contém pequenos grânulos cromafins. Como resultado desta reação cromafim, as células

    também são chamadas de cromafins ou células feocrômicas. Esta reatividade é devida à

    presença de aminas biogênicas (catecolaminas), epinefrina (adrenalina) e norepinefrina

    (noradrenalina) (BANKS, 1991). Esses dois hormônios têm efeito na manutenção ou elevação

    da pressão sanguínea (JONES et al, 2000).

  • Hiperadrenocorticismo canino 21

    2. HIPERADRENOCORTICISMO CANINO

    O hiperadrenocorticismo canino (síndrome de Cushing) foi descrito pela primeira vez

    por Harvey Cushing, um neurocirurgião de Boston, Estados Unidos (JONES et al, 2000).

    Refere-se às manifestações clínicas e às anormalidades bioquímicas que resultam de

    exposição crônica a um excesso de glicocorticóides (BIRCHARD; SHERDING, 1998). A

    doença é insidiosa e vagarosamente progressiva, podendo resultar de vários mecanismos

    patogênicos diferentes (CARLTON; McGAVIN, 1995).

    2.1. Etiologia

    2.1.1. Hiperadrenocorticismo hipófise-dependente

    Esta é a causa mais comum do distúrbio de ocorrência natural, respondendo por 85%

    dos casos (BIRCHARD; SHERDING, 1998). Hiperadrenocorticismo hipófise-dependente

    resulta da secreção excessiva de ACTH pela hipófise, provocando hiperplasia adrenocortical

    bilateral e excesso de secreção de cortisol (WILKINSON; HARVEY, 1997). A inibição

    normal por feedback da secreção de ACTH por níveis fisiológicos de glicocorticóides

    desaparece. Assim, a secreção excessiva de ACTH persiste, apesar da elevação da secreção

    adrenocortical de cortisol (BUNCH et al, 1998).

    De acordo com este mesmo autor, pequena porcentagem desses cães (10 a 15%)

    apresenta tumores hipofisários grandes (macrotumores com mais de 10mm de diâmetro).

    Estes tumores apresentam potencial para comprimir ou invadir estruturas adjacentes e

    provocar sintomatologia nervosa à medida que eles se expandem dorsalmente para o

    hipotálamo e tálamo (Figuras 6, 7 e 8).

    A

    B

  • Hiperadrenocorticismo canino 22

    Figura 6. (A) Macho canino castrado, com 10 anos de idade, mestiço, com hiperadrenocorticismo de origem

    hipofisária; (B) Corte transversal do cérebro do cão da foto (A) mostrando macroadenoma hipofisário que

    comprime gravemente as estruturas cerebrais circundantes (BUNCH et al, 1998).

    Figura 7. Eixo hipofisário-adrenocortical em cão com hiperadrenocorticismo de origem hipofisária (HOH).

    Secreção excessiva de ACTH, em geral proveniente de um adenoma hipofisário ativo, que provoca

    adrenomegalia bilateral e concentrações plasmáticas excessivas de cortisol (BUNCH et al, 1998).

    Cão com HOH Hipófise

    ACTH Cortisol

    Glândulas adrenais

    A

  • Hiperadrenocorticismo canino 23

    Figura 8. Glândula hipófise e glândulas adrenais; canino. Hiperfunção secundária de um órgão endócrino.

    Adenoma (A) cromófobo corticotrófico (secretor de ACTH) na glândula hipófise e aumento bilateral das

    glândulas adrenais. A secreção prolongada de ACTH resultou em hipertrofia e hiperplasia das células secretoras

    das zonas fasciculada e reticulada no córtex adrenal (setas brancas) e em secreção excessiva de cortisol.

    Barra = 1cm (CARLTON; McGAVIN, 1995).

    2.1.2. Tumores adrenocorticais funcionais

    Esses tumores são observados em aproximadamente 15% dos cães com síndrome de

    Cushing espontânea. Cerca de 50% dos tumores adrenocorticais são benignos (BIRCHARD;

    SHERDING, 1998).

    Tumores adrenocorticais funcionais secretam quantidades excessivas de cortisol,

    independente do controle hipofisário (ETTINGER; FELDMAN, 1997). O cortisol produzido

    por estes tumores suprime o CRH hipotalâmico e as concentrações plasmáticas de ACTH

    circulantes, provocando atrofia da adrenal não comprometida. Essa atrofia provoca assimetria

    no tamanho da glândula adrenal, que pode ser identificada por ultra-sonografia abdominal

    (BUNCH et al, 1998).

    Entretanto, muitos destes tumores preservam receptores do ACTH, pois respondem à

    administração deste hormônio. Esses tumores geralmente são reativos a manipulação do eixo

    hipotalâmico-hipofisário com agentes farmacológicos como a dexametasona (Figuras 9, 10 e

    11) (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Cão com TA

    Hipófise

    ACTHCortisol

    Glândulas adrenais

  • Hiperadrenocorticismo canino 24

    Figura 9. Eixo hipofisário-adrenocortical em cão com tumor adrenocortical ativo. Secreção excessiva de cortisol

    pelo tumor adrenocortical causa supressão hipofisária, redução da concentração plasmática de ACTH e atrofia da

    glândula adrenal contralateral (BUNCH et al, 1998).

    Figura 10. Adenoma do córtex adrenal de um cão English Setter macho com 12 anos de idade (JONES et al,

    2000).

    a

    c

    b

    Figura 11. Adenoma do córtex adrenal de um cão Hound macho, oito anos de idade. (a) córtex da adrenal; (b)

    medula da adrenal; (c) tumor (JONES et al, 2000).

  • Hiperadrenocorticismo canino 25

    2.1.3. Hiperadrenocorticismo iatrogênico

    O hiperadrenocorticismo iatrogênico é resultado da administração excessiva de

    glicocorticóides com objetivos terapêuticos (SCOTT et al, 1996).Também pode ocorrer em

    conseqüência do uso prolongado de esteróides, seja por via oral, injetável ou tópica (olhos,

    orelhas, pele), principalmente em pequenos animais (com peso inferior a 10 kg) (BUNCH et

    al, 1998).

    Não apresenta predileções por idade, sexo ou raça. Ocorre mais comumente em cães

    com prurido crônico, pois apresentam maior possibilidade de serem medicados com

    corticosteróides sistêmicos em longo prazo (SCOTT et al, 1996).

    Como o eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenocortical está normal, a administração

    excessiva e prolongada de glicocorticóides inibe o CRH hipotalâmico e as concentrações de

    ACTH plasmáticas circulantes, provocando atrofia adrenocortical bilateral. Nestes animais, os

    resultados de testes de estimulação pelo ACTH são condizentes com hipoadrenocorticismo

    apesar das manifestações clínicas de hiperadrenocorticismo (Figura 12) (BUNCH et al, 1998).

    C

    M

    Figura 12. Glândula adrenal canina. Síndrome iatrogênica de excesso de hormônio. Hiperadrenocorticismo

    causado por administração prolongada de corticosteróides exógenos resultou em atrofia, por falta de estímulo, da

    zona fasciculada e zona reticulada, dependentes de ACTH, do córtex adrenal (C). A medula da adrenal (M)

    ocupa uma porcentagem relativamente maior na glândula atrófica do que numa glândula adrenal normal

    (CARLTON; McGAVIN, 1995).

  • Hiperadrenocorticismo canino 26

    2.1.4. Síndrome do ACTH ectópico

    É um termo usado para descrever condições nas quais o hiperadrenocorticismo esteja

    associado à neoplasia não-hipofisária e não-adrenocortical. Em humanos, esta síndrome

    compreende um grupo variável de tumores que são capazes de sintetizar e secretar ACTH,

    causando hiperplasia adrenocortical e hipercortisolismo. Os tumores com potencial para

    causar a síndrome do ACTH ectópico são: carcinomas das células em grãos de aveia (células

    pequenas) do pulmão, timoma, tumores das células das ilhotas pancreáticas, tumores

    carcinóides (pulmões, intestino, pâncreas, ovários), carcinoma medular da tireóide e

    feocromocitoma. No cão, esta síndrome parece ser rara e foi relatada em associação ao

    linfossarcoma e carcinoma bronquial (SCOTT et al, 1996).

    2.2. Predisposição

    Hiperadrenocorticismo é uma doença de cães de meia idade e idosos, no entanto a

    idade varia de seis meses a 20 anos. Animais com idade inferior a um ano com

    hiperadrenocorticismo são raros (SCOTT et al, 1996), (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    Todas as raças de cães podem ser afetadas, incluindo os mestiços, porém existe uma

    predisposição racial entre os Poodles, Dachshunds, Boston terriers e Boxers. Não se observa

    nenhuma predileção sexual nos cães com hiperadrenocorticismo hipofisário dependente.

    Contrariamente, 70% dos cães com tumores adrenais são fêmeas (SCOTT et al, 1996).

    Hiperadrenocorticismo hipófise-dependente é mais comum em cães menores, 75%

    deles pesam menos de 20 kg. Aproximadamente 45 a 50% dos cães com tumor adrenocortical

    funcionais pesam mais de 20 kg (BUNCH et al, 1998).

    2.3. Manifestações clínicas

    Devido aos efeitos multissistêmicos do excesso prolongado de glicocorticóides, os

    cães com hiperadrenocorticismo geralmente desenvolvem manifestações clínicas que refletem

    a disfunção de muitos sistemas orgânicos, embora em alguns casos possa predominar somente

    um sinal clínico (poliúria, letargia ou alopecia), tornando mais difícil o diagnóstico clínico de

    hiperadrenocorticismo. Além do excesso de cortisol, os efeitos compressivos da neoplasia

    hipofisária ou adrenal (e suas metástases) podem também contribuir para as manifestações

    clínicas observadas em alguns cães (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

  • Hiperadrenocorticismo canino 27

    Segundo este mesmo autor, as manifestações clínicas do hiperadrenocorticismo canino

    podem ser de leves a graves. Nos casos de doença leve, as manifestações clínicas podem ser

    intermitentes com períodos de remissão e recidiva. Outros cães, entretanto, especialmente os

    portadores de carcinoma adrenocortical, podem apresentar um início e progressão rápida da

    doença. Além disso, muitos desses cães não desenvolvem as manifestações clínicas

    dermatológicas proeminentes.

    Quadro 3. Incidência de sintomas e manifestações clínicas do hiperadrenocorticismo canino de ocorrência

    natural (ZERBE, 2000).

    Manifestações clínicas Porcentagem aproximada

    Polidipsia e poliúria 85%

    Abdômen pêndulo 70%

    Hepatomegalia 70%

    Perda de pêlos 65%

    Letargia 60%

    Polifagia 60%

    Fraqueza muscular 60%

    Anestro 55%

    Obesidade 50%

    Atrofia muscular 35%

    Comedões 35%

    Ansiedade 30%

    Atrofia testicular 30%

    Hiperpigmentação 20%

    Calcinose cutânea 10%

    Paralisia do nervo facial 05%

  • Hiperadrenocorticismo canino 28

    2.3.1. Sistema urinário

    Poliúria e polidipsia (acima de 100ml/kg/dia de ingestão de água) freqüentemente são

    manifestações iniciais de hiperadrenocorticismo e podem anteceder mudanças cutâneas

    (SCOTT et al, 1996). Além disso, o cortisol pode aumentar a velocidade de filtração

    glomerular e inibir os efeitos do hormônio antidiurético nos túbulos renais, podendo também

    afetar a liberação deste hormônio (SHAW; IHLE, 1997). A densidade urinária pode

    encontrar-se diminuída (1,005-1,010) (WILKINSON; HARVEY, 1997).

    Esporadicamente, observa-se infecção do trato urinário inferior, relacionada ao

    excesso de cortisol e seu efeito imunossupressor (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    2.3.2. Sistema respiratório

    Cães com hiperadrenocorticismo são freqüentemente observados com falta de ar ou

    com freqüência respiratória rápida, quando em repouso. Estes animais apresentam-se com

    aumento da deposição de gordura sobre o tórax, juntamente com a depleção e astenia dos

    músculos envolvidos na respiração (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    2.3.3. Sistema endócrino

    Esporadicamente, o efeito antiinsulínico induzido pelos glicocorticóides pode proceder

    a um quadro de diabete melito e as manifestações clínicas associadas de poliúria, polidipsia,

    perda de peso e polifagia. Apenas 5% dos cães portadores de hiperadrenocorticismo

    apresentam-se com diabete melito evidente (BIRCHARD; SHERDING, 1998), (ETTINGER;

    FELDMAN, 1997).

    2.3.4. Dilatação abdominal

    O abdômen penduloso é resultante de fatores cumulativos como o aumento do peso do

    conteúdo abdominal e o decréscimo do vigor muscular. O catabolismo protéico é o

    responsável pela depleção muscular. Dessa forma, os músculos abdominais, enfraquecidos

    pelos efeitos dos glicocorticóides, não conseguem evitar a protuberância do ventre (Figuras 13

    e 14) (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino 29

    Figura 13. Comedões, alopecia e abdômen abaulado (SCOTT et al, 1996).

    Figura 14. Poodle. Doença tipo Cushing por hipercortisolismo devido à hiperplasia adrenocortical idiopática. A

    astenia muscular é evidente pelo abdômen pendular, e há alopecia no abdômen, na região cervical ventral e na

    cauda (CARLTON; McGAVIN, 1995).

    2.3.5. Sistema neuromuscular

    As manifestações do sistema nervoso central podem ser causadas pelos efeitos

    compressivos de neoplasias hipofisárias em expansão. O sinal neurológico mais comum é

    uma atitude apática e indiferente (torpor). Manifestações adicionais incluem inapetência,

  • Hiperadrenocorticismo canino 30

    andar sem rumo, ataxia, pressionamento de cabeça, andar em círculos e alterações de

    comportamento. No caso de compressão grave do hipotálamo, desenvolvem-se anormalidades

    relacionadas à disfunção do sistema nervoso autônomo, como adipsia, perda da regulação da

    temperatura e freqüência cardíaca anormal (BUNCH et al, 1998).

    A fraqueza muscular é comum e resulta da emaciação muscular secundária aos efeitos

    catabólicos do excesso de glicocorticóide (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    2.3.6. Hepatomegalia

    A ocorrência de hepatomegalia por esteróides implica numa elevação crônica nos

    glicocorticóides circulantes. É típica do hiperadrenocorticismo, contribuindo para a dilatação

    abdominal. O fígado mais volumoso é facilmente palpável, devido aos músculos abdominais

    debilitados (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    2.3.7. Sinais cutâneos

    As mudanças cutâneas ocorrem na maioria dos casos de hiperadrenocorticismo. A

    mudança mais comum ocorre na pelagem, que precocemente perde seu brilho e aspecto

    saudável. Com o tempo, ocorre hipotricose e alopecia, sendo simétricos na maioria dos casos

    (SCOTT et al, 1996).

    Os efeitos antimitóticos, antienzimáticos e o de catabolismo protéico dos

    glicocorticóides resultam em uma série de alterações da pele. Os sinais cutâneos incluem:

    atrofia cutânea, pele hipotônica, hiperpigmentação, contusões fáceis (petéquias e equimoses),

    flebectasias, seborréia (seca ou oleosa), comedões, cicatrização deficiente de feridas,

    piodermite bacteriana e estrias (WILKINSON; HARVEY, 1997).

    Através das alterações estruturais protéicas, as fibras de elastina e de colágeno

    transformam-se em locais atraentes para a mineralização, resultando na calcinose cutânea

    (SCOTT et al, 1996). Os locais de predileção da calcinose cutânea são o dorso e as regiões

    inguinal e axilar (Figuras 15, 16 e 17) (WILKINSON; HARVEY, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino 31

    D

    BA

    C

    Figura 15. (A) Hipotricose e hiperpigmentação acentuada do tronco. (B) Poodle de colo, apresentando padrão de

    alopecia avançada típico e pele hiperpigmentada. (C) Alopecia do flanco secundária a tumor de adrenal. (D)

    Perda de pêlo na extremidade distal (SCOTT et al, 1996).

    BA C

    Figura 16. (A) Calcinose cutânea no abdômen ventral. (B) Calcinose cutânea ao longo da parte caudal do dorso.

    (C) Estrias com ulceração focal (SCOTT et al, 1996).

  • Hiperadrenocorticismo canino 32

    BA

    C D

    E

    Figura 17. (A) Diversas áreas não inflamatórias focais de alopecia associadas à piodermite, num caso de doença

    iatrogênica num Labrador retriever; (B, C) Cadela Poodle miniatura que demonstra intensa alopecia sobre o

    tronco e característico enrugamento da pele; (D) Cadela Bull terrier com abdome distendido, veias subcutâneas

    salientes e duas lesões em face inicial da calcinose cutânea; (E) Lesões iniciais de calcinose cutânea na virilha de

    um mestiço de Labrador (WILKINSON; HARVEY, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino 33

    2.3.8. Síndrome adrenogenital

    A secreção excessiva de hormônios sexuais, especialmente andrógenos, pode ocorrer

    no córtex adrenal em decorrência de hiperadrenocorticismo por qualquer causa. Esse excesso

    de andrógenos em cães resulta em um desenvolvimento sexual masculino precoce, atrofia

    testicular e na oclusão prematura das epífises dos ossos longos. Nas fêmeas, ocorre mais

    comumente, hipertrofia do clitóris e anestro (JONES et al, 2000). O aumento do volume do

    clitóris não é visto no hiperadrenocorticismo iatrogênico (Figura 18) (SCOTT et al, 1996).

    Figura 18. Perda de pêlo perineal e aumento de volume vulvar (SCOTT et al, 1996).

    2.4. Complicações clínicas associadas

    Vários problemas podem desenvolver-se secundariamente ao uso prolongado de

    esteróides, sendo o mais preocupante o tromboembolismo pulmonar. Outras complicações

    associadas ao hiperadrenocorticismo em cães incluem: hipertensão sistêmica; pielonefrite;

    cálculos vesicais; glomerulonefropatia, proteinúria; insuficiência cardíaca congestiva;

    pancreatite; diabete melito e a síndrome do macrotumor hipofisário (BUNCH et al, 1998).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    34

    3. DIAGNÓSTICO

    Em qualquer cão com suspeita de hiperadrenocorticismo deve ser realizada uma

    avaliação detalhada, devendo incluir: hemograma completo; perfil bioquímico; urinálise e

    ultra-sonografia abdominal. Os resultados desses exames vão aumentar ou diminuir o índice

    de suspeita de hiperadrenocorticismo. Também irão identificar problemas comuns associados,

    como por exemplo infecções do trato urinário e, no caso da ultra-sonografia abdominal,

    proporcionar informações importantes relacionadas à localização do distúrbio (BUNCH et al,

    1998).

    3.1. Hemograma

    Comumente, no hemograma se observa leucocitose, neutrofilia, linfopenia e

    eosinopenia. Também pode ser visto eritrocitose (policitemia), células vermelhas nucleadas,

    trombocitose e hipersegmentação dos núcleos neutrofílicos, este último pelo fato dos

    glicocorticóides retardarem a migração neutrofílica normal para os tecidos (MEYER et al,

    1995).

    3.2. Bioquímica sérica

    3.2.1. Fosfatase alcalina

    No hiperadrenocorticismo canino, geralmente, o nível de fosfatase alcalina sérica está

    elevado (80 a 95% dos casos) (SCOTT et al, 1996). Não existe correlação entre a atividade da

    fosfatase alcalina e a gravidade do hiperadrenocorticismo, a resposta à terapia ou ao

    prognóstico. A atividade da fosfatase alcalina pode estar normal em alguns cães com

    hiperadrenocorticismo, e o aumento não é patognomônico. Similarmente, o aumento da

    isoenzima da fosfatase alcalina induzido por esteróides também pode ocorrer em vários outros

    distúrbios, como diabete melito, hepatopatias primárias e outras doenças não adrenais (Figura

    19) (BUNCH et al, 1998).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    35

    10.000 11.000

    4.560

    6

    3.060 2.578

    63

    2.334

    736

    x 1.683 x 1.000

    x

    x

    634

    100

    10

    1

    0,1 0,1 0,1

    Diabete Melito

    Hiperadrenocorticismo espontâneo

    Terapia por glicocorticóide

    exógeno

    Hepatopatia

    Figura 19. Médias e faixas de grupos de concentrações séricas totais da isoenzima da fosfatase alcalina induzida

    por esteróides (SIAP), demonstrando que este parâmetro não possui a especificidade necessária para que seja

    teste de triagem confiável para o hiperadrenocorticismo canino (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    3.2.2. Alanina aminotransferase

    A atividade sérica da alanina aminotransferase (ALT) em geral está aumentada em

    cães com síndrome de Cushing. Geralmente, esta elevação é pouco importante, acreditando-se

    que ocorra secundariamente à lesão hepática causada pelo acúmulo de glicogênio, ou por

    interferências com o fluxo sanguíneo hepático (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    3.2.3. Colesterol e triglicérides

    De acordo com ETTINGER (1997), o estímulo de lipólise por glicocorticóides

    provoca elevações nas concentrações sanguíneas de triglicérides e colesterol.

  • Hiperadrenocorticismo canino

    36

    3.3. Urinálise

    A urinálise é talvez um dos estudos iniciais mais importantes na avaliação de cão com

    hiperadrenocorticismo. A anormalidade mais freqüente é o achado de urina diluída (densidade

    específica inferior a 1,010), que ocorre em 85% dos casos (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Além de avaliar a densidade específica da urina, pode-se avaliar também a presença de

    glicosúria, na presença de diabete melito; proteinúria e alterações compatíveis com infecção

    do trato urinário (BUNCH et al, 1998).

    3.4. Radiografia

    Tumores adrenais são difíceis de detectar radiograficamente, a menos que se associem

    a aumento de tamanho adrenal significativo (maior ou igual a 20mm) ou classificação. Em

    alguns animais com neoplasia adrenocortical, pode ser observada radiograficamente

    hepatomegalia, calcinose cutânea ou osteoporose, mas isso também pode ser observado em

    casos de doenças hipófise-dependente (FOSSUM et al, 2005).

    Os achados radiográficos mais compatíveis com hiperadrenocorticismo são o aumento

    do contraste abdominal em virtude de maior distribuição de gordura no abdome;

    hepatomegalia provocada por hepatopatia esteróide; vesícula urinária aumentada pelo estado

    poliúrico e calcificação distrófica da traquéia, dos brônquios e ocasionalmente da pele

    (BUNCH et al, 1998).

    Além disso, os glicocorticóides tem efeito catabólico sobre a matriz óssea, aumentam

    a excreção urinária de cálcio e inibem a absorção gastrointestinal de cálcio, pela interferência

    com a ação da vitamina D. Assim, a depleção da matriz, acompanhada pela perda de mineral,

    pode ser a causa da osteoporose (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Segundo este mesmo autor, as radiografias torácicas devem ser avaliadas em busca de

    evidência de metástases pulmonares de carcinoma adrenocortical, que ocorre em pequena

    porcentagem destes cães. Outra preocupação é o tromboembolismo pulmonar (Figura 20).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    37

    BA

    Figura 20. (A) Vista lateral da radiografia de um cão com hiperadrenocorticismo de origem hipofisária

    mostrando massa adrenal calcificada cranial ao rim (seta); (B) Vista ventrodorsal da radiografia de um cão com

    hiperadrenocorticismo mostrando massa adrenal calcificada craniomedial ao rim e lateral à espinha (seta)

    (BUNCH et al, 1998).

    3.5. Ultra-sonografia

    A ultra-sonografia é útil para avaliar o tamanho, a ecogenicidade e a forma das

    glândulas adrenais. É um valioso processo de diagnóstico em cães com suspeita de

    hiperadrenocorticismo hipófise dependente (FOSSUM et al, 2005).

    De acordo com este mesmo autor, em cães adultos, a glândula adrenal normal tem

    dois a três centímetros de comprimento, um centímetro de largura e cinco milímetros de

    espessura. Ambas as adrenais devem ser examinadas por imagem rotineiramente em cães com

    hiperadrenocorticismo, pois uma glândula adrenal normal não exclui a possibilidade de um

    tumor adrenocortical funcional lateral (Figura 21).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    38

    F

    D

    B

    C

    E

    A

    Diafragma

    Fígado

    Ad.

    Aorta

    Adrenal

    Adrenal

    Rim

    Rim

    Rim

    Transversal Ventral Esquerdo

    Longitudinal Ventral Direito

    Oblíquo Ventral Esquerdo

    Figura 21. (A) A ilustração diagramática da imagem ultra-sonográfica mostrada em (B), exibindo o aspecto de

    carcinoma adrenal num cão com hiperadrenocorticismo. (C) Ilustração diagramática da imagem ultra-

    sonográfica mostrada em (D), exibindo glândula adrenal hiperplásica num cão com hiperadrenocorticismo

    hipófise-dependente. (E) Ilustração diagramática da imagem ultra-sonográfica mostrada em (F), exibindo a

    adrenal hiperplásica oposta no mesmo cão, com hiperplasia adrenal bilateral. V, ventral; D, dorsal; Cr, cranial;

    Ca, caudal; o símbolo no canto esquerdo superior de A, C e E é a localização e orientação do transdutor no

    abdômen ventral (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    39

    Quadro 4. Anormalidades hematológicas, da bioquímica sérica, urinárias e radiográficas típicas do

    hiperadrenocorticismo (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Teste Anormalidades

    Hemograma completo Leucocitose

    Neutrofilia

    Linfopenia

    Eosinopenia

    Bioquímica sérica Aumento da fosfatase alcalina (algumas vezes extremamente alto)

    Aumento da ALT

    Aumento do colesterol

    Aumento da glicemia

    Ácidos biliares anormais

    Lipemia

    Urinálise Densidade específica urinária < 1,010, freqüentemente < 1,008

    Infecção do trato urinário

    Glicosúria (< 10% dos casos)

    Hepatomegalia

    Contraste abdominal excelente

    Ventre penduloso

    Bexiga distendida

    Osteoporose

    Calcinose cutânea / calcificação distrófica

    Calcificação adrenal (em geral tumor adrenal)

    Insuficiência cardíaca congestiva (rara)

    Radiografia /

    Ultra-sonografia

    Tromboembolismo pulmonar (raro)

    Traquéia e brônquios principais calcificados

    Metástase pulmonar de carcinoma adrenal

  • Hiperadrenocorticismo canino

    40

    Quadro 4. Anormalidades hematológicas, da bioquímica sérica, urinárias e radiográficas típicas do

    hiperadrenocorticismo (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Diversos Baixas concentrações de T3 / T4

    Hipertensão

    3.6. Tomografia computadorizada

    A tomografia computadorizada é o método mais preciso e confiável para obter-se

    imagens de glândulas adrenais, acompanhado por ultra-sonografia diagnóstica e radiografia

    simples. No caso da tomografia computadorizada, pode-se identificar a localização do tumor

    adrenal e as evidências de metástase na maioria dos casos. Os tumores hipofisários superiores

    a 1cm de diâmetro (macroadrenomas ou macroadenocarcinomas) são relativamente fáceis de

    definir na tomografia computadorizada (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    41

    4. EXAMES ESPECÍFICOS

    4.1. Concentrações séricas basais de cortisol

    A determinação do cortisol plasmático basal (matutino) tem, por si, pouco valor

    diagnóstico, devido à flutuação constante por todo o dia. A concentração média do cortisol

    plasmático de animais (em repouso) portadores de hiperadrenocorticismo canino situa-se,

    significativamente, acima da concentração de cães normais. Cães com síndrome de Cushing

    têm maior freqüência de picos de cortisol, bem como quantidades maiores de cortisol em cada

    pico. Na maioria das vezes, estes picos resultam em concentrações plasmáticas de cortisol que

    são superiores aos valores normais (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    Porém, existem algumas considerações importantes quando os níveis de cortisol

    sanguíneo são interpretados: laboratórios diferentes podem variar em seus valores normais e

    anormais; o estresse e doenças não-adrenais podem elevar acentuadamente os níveis de

    cortisol sanguíneo; os níveis do cortisol podem variar com a idade do paciente; ocorre

    secreção episódica de cortisol em cães normais e em cães com hiperadrenocorticismo e

    medidas simples do cortisol sanguíneo são de valor limitado no diagnóstico do

    hiperadrenocorticismo (SCOTT et al, 1996).

    4.2. Teste de estimulação com o ACTH

    O teste de estimulação pelo ACTH (teste de resposta ao ACTH) tem sido utilizado

    para o diagnóstico de hiperadrenocorticismo e é o melhor teste para diferenciar a síndrome de

    Cushing espontânea da iatrogênica (SCOTT et al, 1996). Este teste identifica

    hiperadrenocorticismo em aproximadamente 60% dos cães com tumor adrenal e 80 a 85% dos

    cães com tumor hipofisário. Alguns cães com hiperadrenocorticismo apresentam resultados

    normais. Os resultados desse teste não distinguem hiperadrenocorticismo de origem

    hipofisária e tumor adrenocortical funcionante (BUNCH et al, 1998).

    Cães com síndrome de Cushing hipófise-dependente apresentam hiperplasia da adrenal

    secundária à estimulação crônica e excessiva pelo ACTH. Estas adrenais hiperplásicas têm a

    capacidade de sintetizar quantidades excessivas de cortisol. Cães com neoplasias

    adrenocorticais funcionais (adenomas e carcinomas) possuem capacidade similarmente

    anormais de sintetizar cortisol (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    42

    Para a realização deste teste, primeiramente é feita a coleta de uma amostra (cortisol

    basal), seguindo pode-se utilizar uma gelatina aquosa de ACTH (Cortigel-40®) na dose de

    2,2UI/kg por via intramuscular, coletando-se uma outra amostra duas horas após a

    administração. Alternativamente, o ACTH sintético (Cortrosyn®) na dose de 0,25mg/cão por

    via intramuscular, coletando-se uma outra amostra uma hora após a administração, também

    proporciona resultados confiáveis (SCOTT et al, 1996).

    As faixas de referência para as concentrações basais de cortisol situam-se entre 0,5 e

    6,0μg/dl, e a concentração normal do cortisol pós-estimulação situa-se entre 6 e 17μg/dl. Os

    valores pós-estimulação entre 17 e 22μg/dl são considerados limites, e os iguais ou superiores

    a 22μg/dl são consistentes com o diagnóstico de hiperadrenocorticismo (ETTINGER;

    FELDMAN, 1997).

    Um cão com os sinais apropriados, com resultados rotineiros para a síndrome de

    Cushing nos testes laboratoriais, e com concentração baixa-normal para o cortisol basal e

    pouca ou nenhuma resposta ao ACTH exógeno provavelmente estará com

    hiperadrenocorticismo iatrogênico (Figura 22) (MEYER et al, 1995).

    30

    35

    Cor

    tisol

    pla

    smát

    ico

    (μg/

    dl)

    20

    25

    15

    10

    0

    5 Cães com Cushing iatrogênico

    Cortisol plasmático pós estimulação

    Cortisol plasmático basal

    Tempo

    Figura 22. Concentrações plasmáticas médias de cortisol por radioimunoteste (RIA), determinadas antes, e uma

    hora depois da administração de ACTH sintético em cães de controle, cães com hiperadrenocorticismo

    espontâneo e cães com hiperadrenocorticismo iatrogênico (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    43

    4.3. Teste de supressão com dose baixa de dexametasona

    O teste de supressão da dexametasona com dose baixa atualmente é o método de

    escolha para confirmar um diagnóstico de hiperadrenocorticismo canino espontâneo (SCOTT

    et al, 1996). Ele não identifica o hiperadrenocorticismo iatrogênico nem é utilizado para

    verificar a resposta do cão ao tratamento medicamentoso (BUNCH et al, 1998). A

    dexametasona é um glicocorticóide sintético potente e se administrado em pequenas doses,

    inibe a secreção do ACTH pela hipófise que, por sua vez, diminui a secreção de cortisol

    endógeno dentro de duas a três horas e estes hormônios permanecem suprimidos por um ou

    dois dias (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    A administração de uma dose reduzida de dexametasona em um cão com tumor

    hipofisário suprime rápida e variavelmente a concentração plasmática de cortisol; porém ela

    não é mais suprimida oito horas após a administração de dexametasona. Assim, o tumor

    hipofisário é relativamente resistente aos efeitos da dexametasona quando comparado com a

    resposta observada em cães normais (BUNCH et al, 1998).

    Neoplasias adrenocorticais funcionais secretam cortisol de forma autônoma. O

    cortisol, secretado em excesso e causador de manifestações clínicas da síndrome de Cushing,

    suprime a secreção do ACTH endógeno. Estes tumores funcionam independentemente do

    controle do ACTH, e a administração da dexametasona não teria efeito demonstrável na

    concentração plasmática de cortisol (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    O resultado anormal do teste de supressão com dose baixa de dexametasona,

    isoladamente, não confirma hiperadrenocorticismo. Os resultados podem ser alterados por

    administração simultânea de drogas anticonvulsivantes, estresse, glicocorticóides exógenos e

    doenças não ligadas à adrenal. Para a realização do teste é importante que o animal seja

    mantido com estresse mínimo e outros procedimentos não deverão ser realizados antes da

    conclusão do teste (BUNCH et al, 1998).

    Um protocolo comumente utilizado para o teste de supressão da dexametasona em

    dose baixa é colher amostras de cortisol plasmático ou sérico antes, quatro e oito horas após a

    administração intravenosa de 0,01mg/kg de dexametasona (ETTINGER; FELDMAN, 1997),

    (SCOTT et al, 1996).

    A concentração plasmática de cortisol oito horas após a administração de

    dexametasona é utilizada para a confirmação de hiperadrenocorticismo. Cães normais

    apresentam valores de cortisol plasmático inferiores a 1μg/dl, enquanto cães com tumor

    hipofisário e tumor adrenocortical funcionante têm concentrações plasmáticas de cortisol

  • Hiperadrenocorticismo canino

    44

    iguais a 1,4μg/dl ou maiores, oito horas após a administração de dexametasona.

    Concentrações de cortisol entre 1 e 1,4μg/dl não são diagnósticas e, neste caso, o clínico deve

    apoiar-se em outras informações para determinar se o hiperadrenocorticismo é o diagnóstico

    correto (BUNCH et al, 1998).

    Segundo este mesmo autor, doses baixas de dexametasona suprimem a secreção

    hipofisária de ACTH e as concentrações plasmáticas de cortisol em aproximadamente 60%

    dos cães com tumor hipofisário durante as primeiras duas a seis horas após o teste. A

    supressão não ocorre em cães com tumor adrenocortical funcionante nem em 40% dos cães

    com tumor hipofisário (Figura 23).

    Cortisol (-)

    CÃO NORMAL Hipófise

    ACTH (+)

    Glândulas adrenais

    Dexametasona

    [Cortisol]

    (-)

    [ACTH]

    HIPERADRENOCORTICISMO DE ORIGEM HIPOFISÁRIA

    [Cortisol]

    Microadenoma Dexametasona

    [ACTH]

    Variável (-)

    Depois [Cortisol]

    ±± Depois

    [ACTH]

    Hiperplasia bilateral

    NEOPLASIA ADRENOCORTICAL

    [Cortisol] (-)

    [ACTH]

    [Cortisol]

    Tumor adrenal

    [ACTH]

    Dexametasona (-)

  • Hiperadrenocorticismo canino

    45

    Figura 23. Efeitos da administração de dexametasona no eixo hipofisário-adrenocortical em cães saudáveis e em

    cães com hiperadrenocorticismo de origem hipofisária ou neoplasia adrenocortical (BUNCH et al, 1998).

    4.4. Teste de supressão com dose alta de dexametasona

    O teste de supressão da dexametasona com dose alta é o método de escolha para

    diferenciar entre o hiperadrenocorticismo dependente da hipófise e aquele causado por

    neoplasia adrenocortical em cães (SCOTT et al, 1996).

    Tumores adrenocorticais independem do ACTH hipofisário, portanto,

    independentemente da dose, a dexametasona nunca deverá suprimir a concentração

    plasmática de cortisol. Por outro lado, a supressão da secreção de ACTH por um tumor

    hipofisário induzida pela dexametasona é variável e pode depender da dose de dexametasona

    utilizada. A administração de doses cada vez maiores deve por fim suprir a secreção de

    ACTH na maioria dos cães com hiperadrenocorticismo hipófise-dependente.

    Aproximadamente 25% dos cães com tumor hipofisário e quase 100% dos cães com tumor

    adrenocortical não apresentam supressão (BUNCH et al, 1998).

    O protocolo para a supressão por dose elevada de dexametasona, geralmente utilizado,

    consiste na coleta de amostras de sangue antes, e oito horas depois da administração de

    0,1mg/kg por via intravenosa de dexametasona. A supressão é definida como a concentração

    plasmática de cortisol de oito horas inferior a 50% da concentração basal (ETTINGER;

    FELDMAN, 1997), (SCOTT et al, 1996).

    Doses maiores de dexametasona, como por exemplo 1mg/kg, podem ser administradas

    na tentativa de suprir a secreção hipofisária de ACTH em cães com hiperadrenocorticismo

    hipófise-dependente resistente a dexametasona. No entanto, a porcentagem de cães com tumor

    hipofisário que têm supressão com doses maiores de dexametasona é a mesma de cães

    submetidos ao protocolo que utiliza a dose de 0,1mg/kg (Figura 24) (BUNCH et al, 1998).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    46

    13

    15

    Cor

    tisol

    pla

    smát

    ico

    (μg/

    dl)

    9

    11

    7

    5

    3

    1

    Amostra de oito horas

    Cortisol basal

    Figura 24. Padrão de respostas do cortisol plasmático durante a supressão por altas doses de dexametasona em

    cães com hiperadrenocorticismo hipófise dependente ou decorrente de tumor adrenal (ETTINGER; FELDMAN,

    1997).

    4.5. Proporção de Cortisol: Creatinina urinários

    Estudos revelaram que a determinação da relação cortisol/creatinina (C/C) urinária

    tem potencial como teste de triagem para o hiperadrenocorticismo. A relação C/C urinária

    consegue pronta diferenciação entre cães aparentemente sadios e com hiperadrenocorticismo,

    mas também falta especificidade ao teste, ou seja, o teste foi anormal em cães com síndrome

    de Cushing, mas também foi anormal em cães com poliúria e polidipsia causadas por outros distúrbios, que não o hiperadrenocorticismo, como diabete melito, diabete insípido,

    piometrite, hipercalemia e insuficiência hepática (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    O protocolo consiste em enviar uma amostra urinária matinal para o laboratório para

    as determinações do cortisol (através da técnica de radioimunoensaio rotineira) e da creatinina

    urinários. Com o cortisol expresso em nmol/l e a creatinina expressa em mmol/l, considera-se

    uma proporção superior a trinta e cinco sugestiva de hiperadrenocorticismo (BIRCHARD;

    SHERDING, 1998).

    Para melhorar a precisão da relação cortisol/creatinina urinária, a determinação deve

    ser realizada apenas em amostras de urina obtidas por micção espontânea no ambiente

  • Hiperadrenocorticismo canino

    47

    doméstico e na ausência de estresse. O estresse relacionado à locomoção do animal até o

    hospital veterinário e ao exame físico antes da colheita da urina pode positivar resultados

    (BUNCH et al, 1998).

    4.6. Concentração de ACTH plasmática endógena

    Este teste distingue o hiperadrenocorticismo hipófise-dependente das neoplasias

    adrenocorticais (BIRCHARD; SHERDING, 1998). Os tumores adrenocorticais suprimem a

    secreção de ACTH, e o hiperadrenocorticismo hipófise-dependente é o resultado de secreção

    excessiva de ACTH. Os testes para concentração de ACTH não são utilizados no diagnóstico

    de hiperadrenocorticismo, pois grande número destes testes cai dentro da faixa de referência

    (20 a 100pg/ml) (MEYER et al, 1995). No entanto, uma vez estabelecido o diagnóstico de hiperadrenocorticismo, a determinação de uma única concentração plasmática basal de ACTH

    pode auxiliar na distinção entre cães com tumor adrenocortical e cães com tumor hipófise-

    dependente (BUNCH et al, 1998).

    Em razão da secreção de ACTH aparentemente apresentar um padrão diurno no cão, é

    aconselhável hospitalizar o paciente na noite anterior e coletar a amostra plasmática entre oito

    e nove horas da manhã seguinte. A amostra deve ser coletada em seringa previamente

    resfriada e tratada com heparina, e esta deverá ser imediatamente acondicionada em gelo. O

    plasma é coletado, preferencialmente em uma centrífuga também resfriada, e congelado até

    sua análise (MEYER et al, 1995).

    A concentração plasmática basal média do ACTH em cães sadios é de 45pg/ml (faixa

    de referência: 20 a 100pg/ml). Concentrações de ACTH endógeno inferiores a 10pg/ml num

    cão com hiperadrenocorticismo de ocorrência natural são fortemente sugestivos de neoplasia

    adrenocortical funcional. Se um cão com síndrome de Cushing iatrogênica for submetido a tal

    avaliação, provavelmente sua concentração plasmática do ACTH endógeno será indetectável.

    Concentrações de ACTH iguais ou superiores a 45pg/ml são consistentes com o diagnóstico

    de hiperplasia adrenal bilateral dependente da hipófise (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    48

    5. TRATAMENTO

    5.1. Mitotano

    O mitotano (o,p’DDD, Lysodren®) é freqüentemente utilizado no tratamento de

    hiperadrenocorticismo canino. Este fármaco promove necrose seletiva da zona fasciculada e

    da zona reticular do córtex adrenal. O protocolo de administração envolve uma fase de

    indução inicial que utiliza uma dosagem diária com a finalidade de controlar a doença,

    seguida por uma fase de manutenção que utiliza dosagem de uma ou duas vezes por semana,

    com a finalidade de evitar recidiva dos sinais da doença (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    É o tratamento mais utilizado para o hiperadrenocorticismo hipófise-dependente.

    Também pode ser usado no tratamento de tumores adrenocorticais funcionais, porém estes

    tumores são considerados mais resistentes aos efeitos adrenocorticolíticos do mitotano do que

    os córtices adrenais normais ou hiperplásicos. O controle, verificado pelo teste de estimulação

    com ACTH, é menos favorável em cães com tumores adrenocorticais funcionais (BUNCH et

    al, 1998)

    5.1.1. Fase de indução

    Antes de dar inicio a terapia é fundamental determinar o consumo hídrico do cão

    durante vários dias no ambiente doméstico. Cães normais bebem menos de 100ml/kg durante

    um dia, enquanto cães com polidipsia resultante do hiperadrenocorticismo normalmente

    ingerem uma quantidade superior de água durante o dia (BUNCH et al, 1998).

    A dosagem de carga inicial é de 30 a 50mg/kg/dia durante sete a dez dias. A dose

    diária deve ser dividida pela metade e administrada a cada doze horas com alimento. Para

    prevenir efeitos adversos secundários a um hipoadrenocorticismo, tais como letargia, vômito,

    anorexia, fraqueza e diarréia, deve-se administrar durante a fase de indução, um

    glicocorticóide, como por exemplo, a prednisona ou a prednisolona, na dose de 0,2mg/kg/dia.

    A efetividade da terapia é mais bem monitorada utilizando-se o teste de estimulação com o

    ACTH (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    De acordo com este mesmo autor, se as concentrações basais e pós-ACTH de cortisol

    ficarem abaixo da variação normal (inferior a 1μg/dl ou 30nmol/l), é recomendável suspender

    temporariamente o mitotano e suplementar com glicocorticóide, conforme o necessário, até

  • Hiperadrenocorticismo canino

    49

    que as concentrações circulantes de cortisol normalizem-se. Porém, se as concentrações basais

    ou pós-ACTH de cortisol se encontrarem acima da variação de repouso normal, é

    recomendado prosseguir diariamente com o tratamento com mitotano e repetir os testes de

    estimulação com ACTH em intervalos de cinco a dez dias, até que as concentrações séricas de

    cortisol diminuam dentro da variação de repouso normal.

    A fase de indução do tratamento normalmente termina quando se observa redução no

    apetite ou quando o consumo hídrico diário diminui para 60ml/kg ou menos. O controle é

    confirmado pelos resultados dos testes de estimulação com ACTH (BUNCH et al, 1998).

    5.1.2. Fase de manutenção

    Quando o teste de estimulação com o ACTH registrar concentrações de cortisol

    normais, o tratamento com o mitotano continua na dosagem semanal de manutenção. A

    dosagem semanal de manutenção é 25mg/kg e deve ser administrada duas vezes por semana.

    Durante o tratamento de manutenção com o mitotano, a suplementação com glicocorticóide

    raramente é necessária. Torna-se fundamental uma terapia de manutenção por toda a vida do

    animal (BIRCHARD; SHERDING, 1998).

    Segundo BIRCHARD (1998), cerca de 5% dos cães tratados com a terapia de

    manutenção pelo mitotano desenvolvem hipoadrenocorticismo iatrogênico, caracterizado por

    níveis baixos basais e pós-ACTH de cortisol. Esses animais apresentam alterações

    eletrolíticas associadas de hipernatremia e hipercalemia e geralmente exigem suplementação

    por toda a vida com mineralocorticóides.

    De acordo com este mesmo autor, aproximadamente 60% dos cães tratados com dose

    de ataque inicial e doses de manutenção dentro de 12 meses do tratamento com mitotano,

    evidenciam a recidiva do quadro pela ocorrência das manifestações clínicas elevadas de

    cortisol basais e pós-ACTH. Esses casos exigem a re-indução com doses diárias de mitotano

    por sete a dez dias, acompanhadas por uma dosagem mais alta ou mais freqüente que a

    anterior para a manutenção.

    5.2. Cetoconazol

    Cetoconazol (Nizoral®), um derivado imidazol, é um medicamento antimicótico de

    amplo espectro, ativo por via oral. Possui baixa toxicidade, capacidade de inibir de maneira

    reversível a esteroidogênese adrenal e pouca ação sobre a produção de mineralocorticóides, é

  • Hiperadrenocorticismo canino

    50

    uma alternativa razoável ao mitotano que pode ser utilizada no tratamento clínico do

    hiperadrenocorticismo canino. O cetoconazol é usado principalmente para a estabilização de

    cães com hiperadrenocorticismo antes da realização da adrenalectomia e como tratamento de

    escolha em cães muito pequenos (com menos de 5kg), nos quais é difícil ajustar a dose do

    mitotano (BUNCH et al, 1998).

    O medicamento é administrado inicialmente na dose de 5mg/kg duas vezes ao dia,

    durante sete dias. Caso não sejam observados efeitos adversos, a dose será aumentada para

    10mg/kg duas vezes ao dia. Depois de duas semanas, deve ser realizado o teste de resposta ao

    ACTH. Se o hiperadrenocorticismo não estiver controlado, a dose será aumentada para

    15mg/kg, duas vezes ao dia (SCOTT et al, 1996).

    Segundo BIRCHARD (1998), o objetivo da terapia é se conseguir o

    hipoadrenocorticismo subclínico, através do qual se mantêm ambas as concentrações basal e

    pós-ACTH de cortisol dentro da variação de cortisol basal normal (0,5 a 6μg/dl).

    O tratamento com cetoconazol apresenta desvantagens em comparação com o

    mitotano, tais como: o seu alto custo; a necessidade de administração de duas vezes ao dia por

    toda a vida e a falta de eficácia descrita em alguns casos (provavelmente a partir de má-

    absorção gastrintestinal) (BIRCHARD; SHERDING, 1998). Devem ser realizados exames

    periódicos, como o teste de estimulação com ACTH a cada três ou seis meses (BUNCH et al,

    1998).

    5.3. L-deprenil (Anipril®)

    Este fármaco é indicado somente para os casos de hiperadrenocorticismo hipofisário,

    pois atua inibindo o excesso de ACTH. O L-deprenil inibe o metabolismo da dopamina e

    aumenta a concentração de dopamina hipotalâmica e hipofisária, que por sua vez inibe a

    secreção de CRH e ACTH e controla o hiperadrenocorticismo e suas manifestações clínicas

    associadas (BUNCH et al, 1998); (ETTINGER; FELDMAN, 1997).

    5.4. Adrenalectomia

    É o tratamento de escolha para um cão com um tumor adrenal, pois é curativo quando

    o tumor é benigno (ou maligno sem metástase). A adrenalectomia bilateral para tratamento do

    hiperadrenocorticismo é controversa e não é realizada comumente (SHAW; IHLE, 1997).

  • Hiperadrenocorticismo canino

    51

    Após a adrenalectomia, deve-se monitorar cuidadosamente o estado de hidratação e o

    equilíbrio eletrolítico do paciente e corrigi-los conforme necessário. Uma adrenalectomia

    bilateral resulta em insuficiência adrenal permanente e esses animais requerem reposição

    vitalícia de glicocorticóides (prednisona ou prednisolona) e mineralocorticóides. Na

    adrenalectomia unilateral, ocorre insuficiência adrenal contralateral temporária. Deve-se

    suplementar glicocorticóides no pós-operatório, interrompendo essa administração quando a

    adrenal remanescente começar a funcionar normalmente, conforme for determinado pelos

    resultados de um teste de estimulação com ACTH (FOSSUM et al, 2005); (BUNCH et al,

    1998).

  • 52

    CONCLUSÃO

    O hiperadrenocorticismo canino é uma doença que tem apresentado uma maior

    freqüência de aparição resultante aos avanços obtidos nas técnicas diagnósticas. A etiologia

    desta síndrome é que irá indicar o melhor tratamento com o qual espera-se que estes cães

    retornem ao seu estado endócrino normal.

  • 53

    REFERÊNCIAS

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    (1) CAPA.pdf2.pdf(3) LISTA DE QUADROS E FIGURAS.pdf(4) RESUMO.pdf(5) ABSTRACT.pdf(6) OBJETIVO.pdf(7) INTRODUÇAO.pdf(8) 1. AS GLANDULAS ENDOCRINAS.pdf(9) 2. HIPERADRENOCORTICISMO.pdf(10) 3. DIAGNOSTICO.pdf(11) 4. EXAMES ESPECIFICOS.pdf(12) 5. TRATAMENTO.pdf(13) CONCLUSAO.pdf(14) REFERENCIAS.pdf