hierarquia da informação - thierauf

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RESUMO O trabalho busca analisar a importância da aquisição e avaliação da informação, enfatizando o método de análise hierárquica, que facilita a incorporação de considerações qualitativas e subjetivas dentro de fatores quantitativos para o processo de tomada de decisão. Procura-se hierarquizar os objetivos por meio de comparação paritárias, ou seja, a preocupação está na obtenção de pesos numéricos para alternativas com relação a subobjetivos e para com relação a objetivos de ordem mais elevada. Os procedimentos realizados evidenciam a complexidade do processo de tomada de decisão, em que, inicialmente, se hierarquizou em um primeiro nível o objetivo mais geral, que foi o de maximizar a satisfação do produtor; no segundo nível estão, em ordem de importância, os objetivos de maximização da margem bruta, minimização do risco, maximização da mão-de-obra de baixa qualificação e minimização dos danos ambientais. Palavras-chave: informação, método de análise hierárquica, região de Divino, satisfação do produ- tor, processo de tomada de decisão. ABSTRACT The objective of this paper is to analyze the importance of the acquisition and evaluation of the information, emphasizing the method of hierarchic analysis, such method facilitates the incorporation of qualitative and subjective considerations into quantitative factors for the process of decision taking. It is intended to hierarchy the objectives through a same level comparison, in other words, the concern is to obtain numerical weights for the alternatives with regard to subobjectives and an interaction with a higher order objectives. The procedures have shown that there is an evidence of a complexity in the process of decision taking, in which, initially, it was created hierarchies, in a first level, that was to maximize the satisfaction of the agricultural producer; in a second level, as an importance orderobtained, the profit margin maximization objective, risk minimization objective, low qualification labor maximization objective and environment impact minimization objective. Key-words: information, method of hierarchical analysis, the region of Divino, producer satisfaction, decision making process. APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO: UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO/MG JERSONE TASSO MOREIRA SILVA, Dr. Universidade FUMEC [email protected] PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA, Economista Universidade FUMEC [email protected] LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA, Dr. Universidade FUMEC [email protected]

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RESUMO

O trabalho busca analisar a importância da aquisição e avaliação da informação, enfatizando o método de análisehierárquica, que facilita a incorporação de considerações qualitativas e subjetivas dentro de fatores quantitativos parao processo de tomada de decisão. Procura-se hierarquizar os objetivos por meio de comparação paritárias, ou seja, apreocupação está na obtenção de pesos numéricos para alternativas com relação a subobjetivos e para com relação aobjetivos de ordem mais elevada. Os procedimentos realizados evidenciam a complexidade do processo de tomada dedecisão, em que, inicialmente, se hierarquizou em um primeiro nível o objetivo mais geral, que foi o de maximizar asatisfação do produtor; no segundo nível estão, em ordem de importância, os objetivos de maximização da margembruta, minimização do risco, maximização da mão-de-obra de baixa qualificação e minimização dos danos ambientais.

Palavras-chave: informação, método de análise hierárquica, região de Divino, satisfação do produ-tor, processo de tomada de decisão.

ABSTRACT

The objective of this paper is to analyze the importance of the acquisition and evaluation of the information,emphasizing the method of hierarchic analysis, such method facilitates the incorporation of qualitative and subjectiveconsiderations into quantitative factors for the process of decision taking. It is intended to hierarchy the objectivesthrough a same level comparison, in other words, the concern is to obtain numerical weights for the alternatives withregard to subobjectives and an interaction with a higher order objectives. The procedures have shown that there isan evidence of a complexity in the process of decision taking, in which, initially, it was created hierarchies, in a firstlevel, that was to maximize the satisfaction of the agricultural producer; in a second level, as an importanceorderobtained, the profit margin maximization objective, risk minimization objective, low qualification labormaximization objective and environment impact minimization objective.

Key-words: information, method of hierarchical analysis, the region of Divino, producer satisfaction,decision making process.

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISEHIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DEDECISÃO: UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR

AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO/MG

JERSONE TASSO MOREIRA SILVA, Dr.

Universidade FUMEC

[email protected]

PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA, Economista

Universidade FUMEC

[email protected]

LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA, Dr.

Universidade FUMEC

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20 Ano 7 | Nº 14 | Salvador | jul./dez. 2006 | P. 19-30Revista Gestão e Planejamento

JERSONE TASSO MOREIRA SILVA | PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA | LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA

1. INTRODUÇÃO

A conjuntura econômica internacional, carac-terizada pela globalização do comércio internacio-nal e pelo decréscimo gradativo dos subsídios edas barreiras não tarifárias, tem levado os países aintensificarem políticas que possibilitem o aumen-to da eficiência econômica, visando obter ganhode competitividade no mercado internacional.

No Brasil, a globalização tem seus reflexosmais marcantes na economia rural, acelerando, emanos recentes, uma transformação no arranjo espa-cial, que vinha se dando de forma mais moderadanas últimas duas décadas (BARROS, 1998).

De acordo com Barros (1998), os negóciosagropecuários vêm experimentando mudanças deextrema importância à medida que vão sendo ocu-padas áreas de fronteira, por meio de atividadesque incorporem moderna tecnologia de produção.Paralelamente, atividades de apoio, como forneci-mento de insumos, armazenamento e indústrias deprocessamento, estão se aglomerando ao redor daszonas de produção, atendendo ao princípio daracionalidade econômica, ou seja, o empresário ru-ral tem procurado otimizar, por meio de um planeja-mento rigoroso, os arranjos das atividades no to-cante a custos de produção, processamento,armazenamento, lucro, impactos ambientais, trans-portes, entre outros.

A necessidade de formular novas posturasgerenciais na busca da modernização dos sistemasprodutivos é a preocupação básica do empreende-dor rural para preservar a rentabilidade do negócio.

Taube Neto (1997), mostram que para se pre-servar essa rentabilidade, é necessário que haja nãoapenas o gerenciamento e o planejamento adequa-do do processo produtivo, mas também a harmoniaentre as tecnologias de informação e o conjunto demecanismos modernos de gestão.

Historicamente, o planejamento na agricul-tura vinha sendo obtido por meio de julgamentosbaseados na experiência e intuição profissional, mas,em razão da elevada especialização e dos avançostecnológicos dos sistemas de produção, foi estimu-lada uma crescente demanda para o desenvolvimen-to formal de técnicas de planejamento baseadas naconstrução e análise de modelos matemáticos.

Segundo Cochrane e Zeleny (1973), aformalização das técnicas de tomada de decisãodeve levar em consideração o uso de computado-res e a análise matemática associada a julgamentoshumanos, intuição e experiência. A prática da toma-da de decisão está ligada à avaliação das alternati-vas, todas satisfazendo um conjunto de objetivospretendidos. No entanto, o problema está na esco-lha da alternativa que melhor satisfaça o conjuntototal de objetivos.

1.1 PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA

Um dos principais ingredientes da atividadeeconômica tem se tornado a informação, e atual-mente está bastante difundido o seu valor comorecurso social e organizacional. Para Naisbitt (1982),a sociedade está vivendo o tempo dos parênteses,o tempo das eras. Esse tempo dos parênteses ocor-re quando a sociedade se move de uma era indus-trial, centralizada, para uma era em que o uso dainformação se torna chave para o sucesso.

Matchup, citado por Cronin e Gudim (1986),aponta que, à medida que uma economia se desen-volve e a sociedade torna-se mais complexa, umaproporção crescente da força de trabalho é neces-sária para operar a produção de conhecimento, paraque a organização e a administração possam serexecutadas eficientemente.

Muitos administradores acreditam que suasdecisões devem ser baseadas, principalmente, emfatos sólidos e em análises cuidadosas, mas outrosconfiam na intuição e na experiência, aparentemen-te indiferentes às suas necessidades de informa-ção. No passado, ambos os grupos tinham suces-so, mas os tempos mudaram. Atualmente, a tomadade decisão é mais complexa, em razão da interaçãode variáveis internas e externas, do envolvimentode muitos administradores no processo de tomadade decisão, dos problemas de recursos e de oferta,das implicações de mercado, dos fatores ambientais,do rápido ritmo da mudança tecnológica e do impac-to do crescimento e da diversificação da produção.

Nesse sentido, os administradores precisamobter e usar informação relevante, que aumente seuconhecimento e reduza sua incerteza, que seja útil,portanto, para desenvolver planos estratégicos epara alcançar objetivos desejados.Consequentemente, pode-se afirmar que a infor-

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APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO, MG

mação é vital para a tomada de decisão, pois semela nenhum administrador pode exercer sua fun-ção eficientemente.

Vale ressaltar que todos os administradoresprecisam exercer certas tarefas ou funções admi-nistrativas básicas para alcançar metas. Os objeti-vos diferem, é claro, mas as tarefas básicas consis-tem, geralmente, em adquirir, alocar e controlar es-cassos recursos humanos e de capital. Em outraspalavras, as funções de planejamento,implementação e controle são desempenhadas portodos os administradores, e o sucesso de qualquernegócio é determinado pelo sucesso da execuçãodessas atividades, o qual, por sua vez, depende dadisponibilidade e da utilização das informaçõesnecessárias. Isso se deve ao fato de que as fun-ções envolvem tomada de decisão, que precisa tersuporte em informação precisa, oportuna, comple-ta, concisa e relevante, (SANDERS, 1974).

O sistema moderno de agribusiness ampliouos limites da atividade agrícola, de modo que a agri-cultura atual não se limita às porteiras das fazen-das, mas abrange um conjunto muito mais amplode atividades e setores. Deve-se considerar, ainda,a tendência de globalização da economia e de aber-tura do comércio com o Mercosul, que acarreta cres-cente competição da agricultura. Com isso, o pro-cesso de tomada de decisão do administrador ruraltem-se tornado complexo, em razão das rápidasmudanças nas políticas governamentais, na legis-lação ambiental, nas novas tecnologias, nas re-gras de taxação, nas leis trabalhistas e no merca-do internacional.

Sendo assim, as decisões que o produtor atualprecisa tomar vão além de simplesmente decidir oque plantar e quando colher, pois mesmo essasdecisões básicas requerem muito mais informaçõesdo que antes, uma vez que são complexas e reque-rem extensa experiência e conhecimento de even-tos que envolvam um conjunto de variáveis interli-gadas, tal como a influência da produção de dadopaís no mercado mundial. Essa crescente complexi-dade da tomada de decisão deve persistir, e os pro-dutores rurais deverão confrontar-se, cada vezmais, com leis severas, relacionadas com ambi-ente e trabalho, com a necessidade de avaliar opapel de novas tecnologias, e com métodos deagricultura sustentável e efeitos na mudança do

mercado internacional. Para atender a essas me-tas, os produtores rurais precisam de um bomsistema de informação.

Segundo Davis (1988), o valor da informa-ção, em geral, é o valor da mudança do comporta-mento da decisão causada pela informação menoso custo da informação. Em outras palavras, dadoum conjunto de decisões possíveis, um tomadorde decisão selecionará uma com base na informa-ção em mãos. Se nova informação causa uma deci-são diferente a ser tomada, o valor da informação éa diferença no valor entre o resultado da antigadecisão e aquela nova decisão menos o custo dese obter a informação.

O objetivo deste trabalho é realizar um estu-do sobre a importância da informação na tomadade decisão agrícola e aplicar Métodos de AnáliseHierárquica (MAH) com a finalidade de auxiliar osprodutores rurais, da região da Zona da Mata, maisprecisamente os produtores da região de Divino,nas atividades rurais. O método tem como objetivofacilitar a incorporação de considerações qualitati-vas e subjetivas dentro de fatores quantitativospara o processo de tomada de decisão. E ainda, deplanejamento da estratégia de produção mais econô-mica e para o desenvolvimento em um dado períodode tempo, considerando as informações disponíveisinterna e externamente à propriedade rural.

O estudo é dividido em cinco seções, inclu-indo esta introdução. Na primeira seção discutir-se-á a importância da informação para o tomadorde decisão e de sua avaliação, aborda itens rele-vantes do município de Divino que será o estudode caso. Na segunda seção, apresentam-se algunsconceitos básicos e uma discussão sobre informa-ção e tomada de decisão. O terceira será o referencialanalítico, ou seja irá demonstra o instrumentalaplicando o estudo de caso. A quarta seção vem apre-sentando os resultados obtidos durante a pesquisae por fim a quinta seção apresentará a conclusão.

1.1.1 O MUNICÍPIO DE DIVINO

O município de Divino esta localizada no in-terior do Estado de Minas Gerais, na Região daZona da Mata, mais precisamente na microrregiãode Manhuaçu. Abrangendo uma área de 339 Km².Possui uma população de 18.675 habitantes, sendo9.757 habitantes rurais e 8.668 habitantes urbanos.

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JERSONE TASSO MOREIRA SILVA | PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA | LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA

A população ocupada, por setores econômicos em1991 foi de 7.809 habitantes, sendo 5.916 no setoragropecuário (BDMG, 1989). A região não possuinenhuma indústria ou empresa de grande porte quepossa favorecer as atividades econômicas e a soci-edade. Muitos problemas são encontrados na re-gião, como é o caso da localização.

A cultura de se produzir café é um problema.Os produtores rurais já possuem uma tradição anti-ga no plantio de café, tendo uma rígida tradição(difícil de se quebrar ou mudar este pensamento).Há uma resistência à mudança de cultura. É o únicoproduto que possui valor e aceito pelos produto-res rurais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 INFORMAÇÃO

É necessário esclarecer alguns conceitosbásicos sobre a definição de informação, antesde iniciar a discussão sobre o processo de to-mada de decisão e sobre a importância da infor-mação nesse processo.

A informação é uma ação de informar ou in-formar-se; notícia recebida ou comunicada; espé-cie de investigação a que se procede para verificarum fato. Gerar e consumir informação deve estar naordem do dia da atual geração de jovens, trabalha-dores, empreendedores e, como tal, um item que,nos últimos tempos, passou a ser um dos mais im-portantes fatores determinantes para a manuten-ção do emprego, do sucesso ou fracasso de qual-quer iniciativa. Seja qual for o seu grau de escolari-dade/ instrução, experiência, esteja onde estiverlocalizado, seu futuro está atrelado à capacidadede buscar, processar e utilizar estas informações.

Lucey (1989), afirma que o conceito de infor-mação é mais complexo e difícil do que o uso fre-qüente dessa palavra possa sugerir. Informação édado que foi interpretado e compreendido pelo re-ceptor da mensagem. Deve-se notar que o usuário,e não somente aquele que envia (emissor) a mensa-gem, está envolvido na transformação de dado eminformação. Há um processo de pensamento e com-preensão envolvido, que faz com que dada mensa-gem possa ter diferente significado para diferentespessoas. Implica, também, que dados analisados,resumidos ou processados, de forma a produzirmensagem ou relatório, convencionalmente con-

siderados como “informação administrativa”, so-mente o são se a mensagem for compreendidapelo receptor.

Nota-se, nos vários conceitos, que há umapreocupação com a diferenciação dos termos da-dos e informação. Dados são fatos, mensagens não-avaliadas ou matéria bruta informacional, mas nãosão informações, exceto em sentido restrito e deta-lhado. Para que sejam usados no processo de deci-são, os dados passam por atos de intervenção e deinterpretação, mediante análises estatísticas, eco-nômicas e de avaliação, etc, que os transformamem informação, colocando-os em um contexto deum problema específico particular.

Para Chavas e Pope (1984), a informação podeser considerada como um bem intermediário: ela éproduto do processo de pesquisa que pode sertanto externo à unidade econômica, no caso daaprendizagem passiva, como interno, no caso daaprendizagem ativa. Ela é também um insumo noprocesso de tomada de decisão, visto que modificaa distribuição dos parâmetros aleatórios de impor-tância nas decisões econômicas.

Cronin e Gudim (1986) consideram a informa-ção como recurso econômico que tem característi-cas econômicas que a distinguem dos bens físicos.Esses autores descrevem algumas características,como externalidades de prosperidade, incertezado valor, consumo e durabilidade (não se esgotacom o uso).

Outro conceito que merece ser esclarecido eque complementa os termos básicos que são utili-zados neste estudo é o de sistema de informação.Sistema de informação é um conjunto de elementosinter-relacionados ou componentes que coletam,manipulam, processam e disseminam dados e in-formações. Tais sistemas podem ser de diferentestipos e de complexidade variada, de acordo com asnecessidades das organizações, o que não cabeaqui discutir com detalhes. No entanto, vale ressal-tar que, principalmente nos países desenvolvidos,os sistemas de informações computacionais estãosendo atualmente bastante utilizados. A interaçãohomem-máquina está crescendo rapidamente, como desenvolvimento de novas tecnologias e com aexpansão das existentes, abrangendo muito maisaspectos das atividades organizacionais. Além douso tradicional, como controle de folha de paga-

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APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO, MG

mento e contabilidade, os sistemascomputadorizados estão agora entrando em áreasadministrativas complexas, como já o fazem muitasindústrias. Mediante comunicação, monitoramento,análises, sistemas especialistas e controle automá-tico, os computadores irão tornar as operaçõesagrícolas mais eficientes e mais produtivas, do quesão atualmente (HOLT, 1985).

O processo de tomada de decisão é o centroda administração, e vários autores, sob a direçãode autoridades como Simon (1977), consideram atomada de decisão e a administração como termossinônimos. Com poucas exceções, o trabalho de-sempenhado pelos administradores nas organiza-ções envolve a tomada de decisão ou está relacio-nado com ela (RICHARDS e GREENLAW, 1973). Oprocesso administrativo é visto, fundamentalmen-te, como tomada de decisão, isto é, o processo deavaliação, seleção e iniciação de ações. O admi-nistrador toma decisões na determinação dosobjetivos. Similarmente, o administrador tomadecisões de planejamento, de organização, dedireção e de controle. A tomada de decisão estáno centro de todas as funções que correspondemo processo administrativo.

Simon (1977), sugere que o administrador di-vida seu tempo em três atividades: (1) descobertade razão para a tomada de decisão; (2) descobertado conjunto de ações possíveis; (3) escolha entreas ações alternativas. Ele descreve essas atividadescomo as fases principais da tomada de decisão.

Fica claro, portanto, que o processo de to-mada de decisão é centralizado na mudança da po-sição atual do tomador de decisão para uma posi-ção em que ele deseja estar. Os integrantes essen-ciais nessa definição generalizada são a existênciade várias alternativas que o tomador de decisãopossui e a escolha que envolve a comparação en-tre essas alternativas e a avaliação de seus resulta-dos. Do ponto de vista do administrador, o proces-so de tomada de decisão pode ser definido como“uma série de passos que é iniciada com a análiseda informação e culmina em uma resolução – a sele-ção dentre várias alternativas disponíveis e a veri-ficação da alternativa selecionada (agora em algumponto no futuro), para solucionar o problema”(THIERAUF, 1992).

Essas considerações acerca do envolvimentodo usuário ressaltam a importância de se obteremconhecimentos amplos sobre os sistemas de infor-mações, para que a implementação destes tenhamais chance de sucesso. Para que se possa real-mente compreender o valor da informação, é preci-so avaliar se o sistema atende a alguns requisitos,tais como auxílio ao processo de tomada de deci-são, envolvimento do usuário, e outros, de forma ase ter uma idéia geral de como devem ser desenvol-vidos os sistemas de informação agrícolas e quaissão as características dos seus atuais usuários.

2.2 MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA

O Método de Análise Hierárquica (MAH),desenvolvido na década de 70 por Thomas L. Saaty,da Universidade da Pensilvânia é o adotado nesteestudo para a geração dos pesos das funções-ob-jetivo. O método tem como objetivo facilitar a in-corporação de considerações qualitativas e subje-tivas dentro de fatores quantitativos para o pro-cesso de tomada de decisão.

O MAH procura hierarquizar os objetivos pormeio de comparações paritárias, ou seja, a preocu-pação está na obtenção de pesos numéricos paraalternativas com relação a subobjetivos e parasubobjetivos com relação a objetivos de ordem maiselevada. Por hierarquia entende-se um tipo particu-lar de sistema, que é baseado no conceito de queas entidades, que tenham sido identificadas, po-dem ser agrupadas em conjuntos distintos, com asentidades de um grupo influenciando apenas umgrupo e sendo influenciadas pelas entidades deapenas um outro grupo.

Para Alphonce (1997), a hierarquia não ne-cessita ser completa; por exemplo, um elemento emum dado nível não precisa funcionar como um cri-tério para todos os elementos no nível inferior. Nes-se sentido, uma hierarquia poderá ser dividida emsub-hierarquias, compartilhando-se apenas o ele-mento comum mais importante.

De acordo com Saaty (1991), existem quatrovantagens em se utilizar um modelo de hierarquias:a) a representação hierárquica de um sistema podeser usada para descrever como as mudanças emprioridades nos níveis mais altos afetam a priorida-de dos níveis mais baixos; b) os sistemas naturaismontados hierarquicamente desenvolvem-se mais

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JERSONE TASSO MOREIRA SILVA | PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA | LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA

eficientemente do que aqueles montados de ummodo geral; c) as hierarquias oferecem detalhes deinformação sobre a estrutura e as funções de umsistema nos níveis mais baixos, permitindo umavisão geral dos atores e de seus propósitos nosníveis mais altos; e d) o modelo de hierarquias éestável e flexível, ou seja, é estável porque peque-nas modificações têm efeitos pequenos e flexívelporque adições a uma hierarquia bem estruturadanão perturbam o desempenho.

Uma vez que o modelo hierárquico tenha sidoestruturado para o problema, os tomadores de de-cisão participantes providenciarão comparações emforma de pares para cada nível de hierarquia, a fimde, com isso, obter o fator peso de cada elementono nível observado, com respeito a um elementono próximo nível mais alto. O fator peso ofereceuma medida de importância relativa desse elemen-to para o tomador de decisão.

O MAH apresenta a possibilidade de identi-ficar, além de levar em consideração, as inconsis-tências pessoais dos tomadores de decisão. Porinconsistência entende-se que os tomadores dedecisão são raramente consistentes em seus julga-mentos, com respeito aos aspectos qualitativos. OMAH incorpora tais inconsistências no modelo eoferece aos tomadores de decisão uma medida des-sas inconsistências.

Para Schoemaker e Waid (1982), a grandevantagem do MAH está em sua habilidade em ma-nusear problemas complexos da vida real e em suafacilidade de uso.

Outra vantagem a ser observada está no fatode que o MAH é uma ferramenta freqüentementeapreciada para decisão com múltiplos critérios,quando utilizada em problemas econômicos de pa-íses em desenvolvimento. Isto porque ele possibi-lita considerações sociais, culturais e outras não-econômicas que serão incorporadas no processode tomada de decisão.

O método consiste em uma abordagem detomada de decisão sob critérios múltiplos, no qualos fatores são arranjados em uma estrutura hierár-quica, ou seja, decompõe-se um problema comple-xo em hierarquias, no qual cada nível será compos-to de elementos específicos. Os fatores, uma vezselecionados, são distribuídos em uma estrutura

hierárquica descendente e em níveis sucessivos,partindo de um critério no topo da hierarquia emdireção aos demais critérios, subcritérios e subse-qüentes alternativas de decisão. A intuição por trásdo modelo MAH é apresentada a seguir.

Supondo que n atividades estejam sendoconsideradas por um grupo de pessoas interessa-das e que os objetivos do grupo sejam: a) desen-volver julgamentos sobre a importância relativadessas atividades; e b) assegurar que os julgamen-tos sejam quantificados de modo que permitam umainterpretação quantitativa dos julgamentos entretodas as atividades.

O objetivo é descrever um método de deriva-ção, a partir dos julgamentos quantificados do gru-po, de modo que um conjunto de pesos seja asso-ciado às atividades individuais. Estes pesos de-vem refletir os julgamentos quantificados do gru-po. Essa abordagem pretende tomar a informaçãoresultante de (a) e de (b) utilizável sem omitir infor-mações contidas nos julgamentos qualitativos.

O conjunto de atividades é definido como x1,

x2, ... , x

n. Os julgamentos quantificados dos pares

de atividades (xi, x

j) são representados por uma

matriz A(n x n)

.

A = (aij), (para i,j = 1, 2, ..., n). (1)

Os elementos aij são definidos pelas seguin-tes regras:

1. Se aij = a, então a

ji= 1/a, a ¹ 0.

2. Se xié julgado como de igual importância

relativa a xj, então aij = 1, a

ji = 1 e, em particular, a

ii =

1 para todo i.

Assim, a matriz A tem a seguinte forma:

(2)

Sendo os julgamentos registrados equantificados em partes (xi, xj), como elementosnuméricos aij na matriz A, o problema agora é de-signar para n contingências x

1, x

2, ..., xn um conjun-

to de pesos numéricos w1, w

2, ..., wn que reflitam

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Revista Gestão e PlanejamentoAno 7 | Nº 14 | Salvador | jul./dez. 2006 | P. 19-30 25

APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO, MG

nos julgamentos registrados. Estes pesos devemrefletir os julgamentos quantificados do grupo. Issocria a necessidade de se descrever, em termos arit-méticos precisos, como os pesos w

1 devem relacio-

nar-se com os julgamentos aij.

Segundo Saaty (1990), a descrição desejadadeve ser desenvolvida em três etapas, partindo-sedo caso especial mais simples para o mais geral.

Etapa 1: Supõe-se primeiro que os julgamen-tos sejam meramente o resultado de medidas físi-cas precisas. Por exemplo, os juizes recebem umconjunto de objetos x

1, x

2, ..., x

ne uma balança de

precisão. Para comparar x1 com x

2, eles colocam x

1

em uma balança e lêem seu peso - w1igual a 305

gramas. Então, pesam x2 e encontram w

2 = 244 gra-

mas. Dividindo w1 por w

2, encontram 1,25. Julgam

então que “x1 é 1,25 vez mais pesado que x

2”, regis-

trando-se a12

= 1,25, ou seja, wié o peso relativo do

elemento i. Assim, neste caso ideal de medida exa-ta, as relações ente os pesos w

1 e os julgamentos

aijsão simplesmente dadas por:

wi/w

j = a

ij (para i,j = 1, 2, ..., n) (3)

(4)

wi, w

i, ..., w

i (8)

em que, de modo geral, obtém-se uma linhade elementos que representaria o espalhamentoestatístico dos valores em torno de w

i. Nesse sen-

tido, é mais conveniente dizer que wi seja a média

desses valores. Conseqüentemente, em vez dasrelações da equação (3), devem-se assumir relaçõesmais realistas, ou seja, w

i é igual à média de a

i1w

1,

ai2w

2, ..., a

inw

n.

Mais explicitamente, tem-se:

(9)

Etapa 3: À medida que aij é modificado, per-

cebe-se que haverá uma solução correspondenteda equação (9), isto é, w

i e w

j podem ser modifica-

dos para acomodar esta variação em aij, se n tam-

bém sofrer modificações. Representa-se o valor den por l

max. Assim, o problema:

(9)

(10)

tem uma solução que também é única. Emgeral, desvios em a

ij podem levar a grandes desvi-

os tanto em lmax

como em wi, i = 1, 2, ... , n. Entretan-

to, este não é o caso para uma matriz recíproca quesatisfaça às regras 1 e 2. Neste caso, tem-se umasolução estável. Existe outro modo de armar essesconceitos em notação matemática, isto é:

(11)

A equação matricial (11) mostra que, multipli-cando-se a matrix A pelo vetor de pesos, o resulta-do obtido será nw. Mais especificamente, tem-se aseguinte notação:

Etapa 2: Para permitir margem de desvios,deve-se considerar a linha ordem “i” da matriz A.Nesse sentido, os elementos naquela linha são:

ai1, a

12, ..., a

ij, ..., a

in (5)

No caso exato, estes valores são os mesmosdas razões:

wi/w

1, w

1/w

2, ..., w

i/w

j, ..., w

1/w

n (6)

Então, no caso exato, se o primeiro elementodaquela linha for multiplicado por w

1, o segundo

elemento por w2 e assim por diante, obtém-se:

(wi/w

1)w

1 = w

i,(w

i/w

2)w

2 = w

i, ..., (w

j/w

j)w

1 =

wi, ..., (w

i/w

n)w

n = w

i (7)

O resultado é uma linha de elementos idênti-cos, ou seja:

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26 Ano 7 | Nº 14 | Salvador | jul./dez. 2006 | P. 19-30Revista Gestão e Planejamento

JERSONE TASSO MOREIRA SILVA | PABLO ASSUMPÇÃO LUNA CABRERA | LUIZ ANTÔNIO ANTUNES TEIXEIRA

Aw = nw (12)

em que A é uma matriz consistente. SegundoSAATY (1990), A é consistente devido à satisfaçãoda seguinte condição: a

jk = a

ik/a

ij, i,j,k = 1, 2, ..., n.

Contudo, pela teoria do autovalor, uma pe-quena perturbação próximo a um autovalor simplesn, quando A é consistente, poderá incorrer em umproblema de autovalor na forma Aw=l

max, em que

lmax

é o principal autovalor da matriz A, em que Atalvez não seja mais consistente, mas continuandorecíproco. A questão passa a ser até que ponto opeso w reflete a real opinião do expert.

Nesse caso, tem-se o que se chama de incon-sistência da matriz, podendo ser capturada por umsimples número l

max- n, o qual mede os desvios dos

julgamentos de uma consistente aproximação. Amatriz A é inconsistente se e somente se l

max = n.

No entanto, é possível estimar o desvio de consis-tência por um índice chamado de índice de consis-tência, o qual é determinado por l

max- n/n - 1.

Se o índice de consistência for menor do que 0,10,então os resultados são suficientemente precisose uma nova avaliação não é necessária. Caso o ín-dice de consistência registre valores acima de 0,10,os resultados podem ser arbitrários e as preferênci-as devem ser reavaliadas ou descartadas.

Uma vez que o modelo hierárquico tenha sidoconstruído, o tomador de decisão providenciarácomparações paritárias dos julgamentos por eledeterminados para cada nível de hierarquia. A in-terpretação da equação (12) pode ser obtida peloQuadro 1.

Os valores recíprocos dessa comparação es-tão posicionados no lugar a

ijde A, de forma a pre-

servar a consistência de julgamentos. Dados n ele-mentos, o tomador de decisão, de fato, compara aimportância relativa de um elemento com relação aum outro elemento, usando os nove pontos de es-cala no Quadro 1. Por exemplo: se o elemento 1 erafortemente preferível ao elemento 2, então ao a

12

seria dado o score 5. Se o contrário for verdadeiro,então a

12assumiria um score de 1/5. Nesse sentido,

a matriz de comparações paritárias seria chamadade matriz recíproca.

A metodologia de análise hierárquica é útilpara formular problemas incorporando conhecimen-tos e julgamentos, de forma que as questões en-

volvidas sejam claramente articuladas, avaliadas,debatidas e priorizadas. Os julgamentos podem serapurados por meio de contínua aplicação de umprocesso de realimentação, sendo conduzidopara cada aplicação refinamento das compara-ções paritárias.

A Figura 1 mostra uma hierarquia com Z ní-veis em formato-padrão para o MAH. A hierarquiano MAH é construída de modo que fatores no mes-mo nível pertençam a uma mesma classe e possamser relacionados a fatores no próximo nível superior.

O nível mais alto em uma hierarquia reflete oobjetivo geral ou o foco do problema de decisão, eo nível mais baixo na hierarquia contém as alterna-tivas competitivas através das quais o objetivo fi-nal deve ser atendido.

3. REFERENCIAL ANALÍTICO

3.1 O USO DO MÉTODO DE ANÁLISEHIERÁRQUICA (MAH)

O método de análise hierárquica (MAH) con-siste em se estruturar o problema de decisão naforma de uma hierarquia. Tem-se no primeiro nívelo objetivo geral do problema de decisão; no se-gundo, os subobjetivos; no terceiro, outros fato-res ou atributos; e, no Z-ésimo nível, as alternati-vas de decisão.

Para os modelos em análise neste trabalho, aestrutura hierárquica obedece, para o projeto anali-sado, o padrão descrito na Figura 2.

Como objetivo geral, selecionou-se aMaximização da Satisfação do Produtor. Ossubobjetivos imediatamente inferiorescorrespondem à Maximização da Margem Bruta,Minimização do Risco, Minimização de DanosAmbientais e Maximização na Utilização da Mão-de-Obra de Baixa Qualificação. O último nível, re-presentando as alternativas de solução,corresponde aos produtos selecionados para aná-lise na região de Divino.

Associado ao processo de hierarquização,tem-se que a cada elemento encontra-se um valorreferente a seu peso ou sua prioridade (W), querepresenta o nível de importância ou influência queeste elemento exerce em relação aos elementos pre-sentes no nível imediatamente posterior. Aquantificação desses níveis de influência se deu

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APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO, MG

por meio de questionários respondidos por especi-alistas relacionados com a região de Divino. A par-tir daí, o MAH calcula os pesos que serão utiliza-dos na elaboração de uma nova função-objetivo,incorporando então a idéia de múltiplos objetivos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISEHIERÁRQUICA NA REGIÃO DE DIVINO

Para este tópico, estabeleceu-se uma estru-tura hierárquica para cada um dos produtos consi-derados, seguindo o padrão descrito, anteriormen-te, na Figura 2. As hierarquias consideradas relaci-onam em um primeiro nível o objetivo mais geral demaximizar a satisfação do produtor; no segundonível estão os objetivos de maximização da margembruta, a minimização do risco, a maximização da mão-de-obra de baixa qualificação e a minimização dosdanos ambientais; finalmente, o nível mais baixoapresenta as alternativas de cultivo e possíveis cri-ações para a região de Divino, de acordo com asculturas selecionadas.

Para que se pudesse associar a cada elemen-to desta hierarquia um valor referente ao seu peso,foi necessário, inicialmente, enviar questionáriospara que experts envolvidos com a região de Divi-no pudessem fazer suas avaliações quanto a mar-gem bruta por produtos na região estudada, nívelde risco envolvido no cultivo das atividades, utili-zação de mão-de-obra de baixa qualificação e da-nos ambientais envolvendo a produção das cultu-

ras e no cultivo dos produtos aqui apresentados.

A utilização do programa computacional ver-são 9.0 para ambiente Windows Expert Choice

Decision Support Software (1986), desenvolvidopor Thomas L. Saaty, e Ernest H. Forman, da Uni-versidade de Washington, contribuiu para a mode-lagem do problema na sua forma hierárquica apre-sentada pela Figura 3.

A estrutura hierárquica apresentada para arealidade da região de Divino indica que, entre osquatro objetivos sugeridos, o de maior importânciaé a maximização da margem bruta, seguido daminimização do risco, maximização do uso de mão-de-obra de baixa qualificação e, por último,minimização dos danos ambientais.

Observa-se pelos resultados que, para o ob-jetivo margem bruta, a criação de gado de corte foio que apresentou o nível de margem bruta maiselevado entre as nove opções analisadas, seguidoda cana-de-açúcar, hortaliças e suínos. A margembruta para o gado de corte é superior à do cafédevido à queda no preço do café nos últimos anos.As três culturas apresentadas com menores níveisde margem bruta foram a fruticultura, peixes e soja.

O segundo objetivo, de acordo com a estru-tura hierárquica, indica que as três opções maisarriscadas são a cultura de hortaliças, criaçãode galináceos e peixe. As seis culturas que sedestacam como sendo as menos arriscadas sãoa produção de frutas, a criação de suínos, a cana-de-açúcar, soja, o café e a criação de gado paracorte, respectivamente.

Maximizar a Satisfação do Produtor(WT = 1,000)

Maximizarmargem bruta

(W1)

Produto 1(W11)

Produto 2(W12)

Produto n(W1n)

Minimizarrisco(W2)

Produto1 (W21)

Produto2 (W22)

Produton (W2n)

Minimizar danosambientais

(W3)

Produto1 (W31)

Produto2 (W32)

Produton (W3n)

Maximizarmão-de-obra de

baixa qualificação(W4)

Produto1 (W41)

Produto2 (W42)

Produton (W4n)

Figura 2 - Descrição geral das hierarquias utilizadas.

Fonte: Elaboração própria

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Maximizar a satisfação do produtor(WT = 1)

Maximizarmargem bruta

(0,560)

Gado(0,283)

Minimizarrisco

(0,203)

Maximizarmão-de-obra de baixa

qualificação(0,167)

Minimizardanos

ambientais (0,07)

Cana-de-açúcar(0,073)

Hortaliças(0,063)

Suínos(0,053)

Galináceos(0,029)

Café(0,026)

Frutas(0,013)

Peixes(0,011)

Soja(0,009)

Hortaliças(0,054)

Galináceos(0,053)

Peixes(0,031)

Frutas(0,026)

Suínos(0,015)

Cana-de-açúcar(0,011)

Soja(0,006)

Café(0,004)

Gado(0,003)

Café(0,123)

Gado(0,020)

Hortaliças(0,010)

Frutas(0,005)

Suínos(0,003)

Galináceos(0,002)

Cana-de-açúcar(0,002)

Peixes(0,001)

Soja(0,001)

Suínos(0,037)

Cana-de-acúcar(0,008)

Soja(0,006)

Gado(0,006)

Café(0,004)

Galináceos(0,004)

Hortaliças(0,003)

Frutas(0,001)

Peixes(0,001)

Figura 3 - Estrutura hierárquica e pesos resultantes para as culturas e criações da região de Divino.

Fonte: Resultados da Pesquisa

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APLICAÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA NO PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO:UM ESTUDO COM O EMPREENDEDOR AGRÍCOLA DA REGIÃO DE DIVINO, MG

O terceiro objetivo indica que a cultura quemais contribui para absorção de mão-de-obra debaixa qualificação é o café, seguida da criação degado de corte e hortaliças, respectivamente. Asopções que menos contribuem são a cana-de-açú-car, peixes e a soja.

O último objetivo analisado apresenta valo-res para danos ambientais muito baixos o qual re-presenta o baixo interesse pelos produtores da re-gião de Divino quanto aos danos ambientais queporventura poderão ser provocados com o maumanejo das criações ou com o uso excesso deagrotóxicos. Observa-se pelos resultados que acriação de suínos é a atividade que mais prejudicao meio ambiente, sendo seguido pela produção decana-de-açúcar e soja. As atividades que menosprovocam danos ambientais são a produção dehortaliças, frutas e peixes.

A estrutura hierárquica apresentada para aregião de Divino mostra um perfil avesso ao risco,além de incorporar fatores qualitativos que contri-buem para a tomada de decisão.

5. CONCLUSÕES

O sucesso da administração da propriedaderural está diretamente relacionado com a eficienteutilização de todas as informações e técnicas dis-poníveis para o levantamento e a seleção das alter-nativas viáveis de produção. Isso garante que oprocesso de tomada de decisão associado à ativida-de seja desenvolvido de forma eficaz e consistente,de modo a limitar a possibilidade de falhas na suaexecução e o surgimento de resultados imprevistos.

As vantagens operacionais dos sistemas deapoio à tomada de decisão são reconhecidas, umavez que, de posse das informações relevantes esabendo utilizá-las, o produtor rural aumentará seuconhecimento e reduzirá as incertezas, desenvol-vendo, assim, planos estratégicos para alcançar osobjetivos desejados.

Os procedimentos realizados evidenciam acomplexidade do processo de tomada de decisão,em que, inicialmente, se hierarquizou em um primei-ro nível o objetivo mais geral, que foi o de maximizara satisfação do produtor; no segundo nível estão,em ordem de importância, os objetivos demaximização da margem bruta, minimização do ris-

co, maximização da mão-de-obra de baixa qualifica-ção e minimização dos danos ambientais; finalmen-te, o nível mais baixo apresenta as alternativas deprodução possíveis, para a região de Divino, deacordo com as culturas e criações selecionadas.

Existem outros produtos que podem ser ex-plorados na região obtendo uma melhor satisfa-ção. Os produtores podem direcionar sua produ-ção para outros produtos e não se voltar somentepara um produto como o café. O produto viável ficaa critério do produtor diante sua análise hierárqui-ca. A criação de gado de corte apresenta um resul-tado mais satisfatório para os produtores ruraisdado a boa margem bruta, baixo risco e absorçãode mão-de-obra de baixa qualificação.

De maneira sugestiva, é preciso gerar cresci-mento e desenvolvimento econômico nesta região,através da conscientização da sociedade de queoutros produtos são mais satisfatórios e proporci-ona uma melhoria para economia. Além disso, é fun-damental o apoio de entidades públicas e privadasmediante programas e incentivos aos produtores,ou seja, políticas estruturais.

Finalmente, o processo de tomada de deci-são realizado de forma analítica, proporciona o au-mento das chances de encontrar soluções acerta-das para o problema levantado. Contudo, não hágarantia do sucesso da decisão, uma vez que, difi-cilmente, o tomador de decisão terá condições delevantar a totalidade de alternativas para a soluçãodos problemas administrativos da propriedade eter certeza quanto aos resultados advindos daimplementação de qualquer uma delas, uma vez queexiste um grau de incerteza no processo. Dentro doprocesso de tomada de decisão, a informação é in-grediente básico que precisa ser estudado e com-preendido, a fim de que possa realmente contribuirpara os procedimentos administrativos.

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