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Page 1: HIDRONEFROSE SECUNDÁRIA A OVÁRIO- SALPINGO … · granuloma e no rim, evidenciando-se fio de sutura de algodão (Fig. 4) e perda do parênquima com dilatação da região da pelve

HIDRONEFROSE SECUNDÁRIA A OVÁRIO-SALPINGO-HISTERECTOMIA EM CADELA

Hugo Barbosa do Nascimento1, Edvaldo Lopes de Almeida2, Jerônimo José de Souza Ribeiro3, Robério Silveira de Siqueira Filho3, Rafael Alexandre de Queiroz3 e Guido Gomes Wanderley3

________________1. Primeiro Autor é Discente do Curso de Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos. CEP: 52.171-900, Recife, PE e-mail: [email protected]. Segundo Autor é Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos. CEP: 52.171-900, Recife, PE3. Terceiro Autor é Discente do Curso de Medicina Veterinária, Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n – Dois Irmãos. CEP: 52.171-900, Recife, PE

Introdução

A ovário-salpingo-histerectomia (OSH) representa um dos procedimentos mais realizados pela clínica de pequenos animais, tendo por finalidade o controle da natalidade, prevenção de cio e pseudogestação, como também, tratar afecções do trato reprodutor feminino [1] e, em alguns países, adicionalmente, o método visa reduzir o número de animais submetidos à eutanásiapor possibilitar uma posterior adoção [2].

Embora a OSH seja considerado um procedimentocirúrgico tecnicamente simples, há risco de complicações [3]. As mais comuns são as hemorragias,a ligadura acidental ou trauma do ureter e a formação de fistulas e granulomas de coto uterino [4]. O processo inflamatório do coto uterino e a formação de granulomas podem ser causados por ligaduras com material de sutura inabsorvível ou técnica contaminada. Os granulomas de ligaduras vasculares ovarianas apresentam os mesmos fatores etiológicos, podendo envolver os pólos caudais dos rins e a região proximal dos ureteres, tendo como conseqüência a formação de hidronefrose, megaureter proximal ao rim, além de extensas aderências [5].

Todos os fios de sutura são corpos estranhos ao organismo, durante a escolha, devem ser levadas em consideração suas características físicas e a interação biológica do fio ao tecido [6]. Os fios sintéticos geralmente determinam uma fase inflamatória de curta duração e os de origem orgânica, como algodão e seda, constituídos de proteínas naturais, ocasionam reação tecidual mais intensa [7]. O fio de algodão, multifilamentar, constituído de celulose com alto grau de absorção, facilita o acúmulo de fluídos, os quais constituem um meio propício ao desenvolvimento microbiano e as reações inflamatórias locais [8]. A utilização de diversos materiais em ligaduras durante OSH pode levar a uma intensa reação tecidual, sendo a omentopexia à ligadura do coto uterino sugerida para que se possa evitar a formação de aderências em órgãos adjacentes [1].

A hidronefrose é uma distensão progressiva da pelverenal, seguida de atrofia do parênquima [9, 10], devido a obstrução da pelve, que podem ter como causas, osnefrólitos, ureterólitos, as neoplasias, doenças retroperitoneal, traumatismo, ligadura acidental do ureter, hérnia perineal, complicações de nefrectomia parcial ou de biopsia renal e ureter ectópico [10]. Os

sinais clínicos observados nos casos de hidronefrose são a disúria, tumoração renal, fístulas externas [1], peritonite supurativa difusa e desenvolvimento de choque séptico [7]. Como procedimento para hidronefrose, pode-se realizar nefrectomia [10], indicada nos casos avançados quando o rim apresenta-se repleto de líquido, dilatado e perdendo sua conformação [9]. Nesta perspectiva, esperando-se contribuir com o desenvolvimento dos estudos clínicos na área de nefrologia, objetivou-se neste trabalho relatar um caso de hidronefrose secundária a ovário-salpingo-histerectomia em consequência à reação tecidual provocada por fio de sutura de algodão.

Material e métodos

Atendeu-se no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco, um canino, fêmea, sem raça definida, com cinco anos de idade, pesando 14 quilogramas, castrada, apresentando como queixa principal sinal de dor e fístulas na região abdominal lateral direita e esquerda com secreção piosanguinolenta (Fig. 1 e Fig. 2).

Na anamnese o proprietário relatou que o animal foi submetido a OSH, em serviço público veterinário, aproximadamente há dois anos e, após quatro meses de realizado o procedimento, apresentou fístulas com secreções na região abdominal lateral direita e esquerda. A ultrassonografia do abdome, realizada após o aparecimento das fístulas, evidenciou reação inflamatória e presença de aderências aos ureteres. Posteriormente, submeteu-se o animal a duas laparotomias exploratórias, em clínica veterinária particular, em períodos diferentes, na qual se retirougranulomas de ligaduras vasculares ovarianas com presença de fio de algodão. Observou-se uma melhora clínica do animal, contudo, permanecendo os processos fistulosos.

Finalizada a anamnese, realizou-se exame físico do animal e solicitou-se hemograma, dosagem sérica de uréia e creatinina, bem como, ultrassonografia do abdome total. A interpretação dos resultados obtidos, tanto na avaliação clínica quanto nos exames complementares, possibilitou à laparotomia exploratória do animal.

No pré-operatório procedeu-se punção da veia cefálica com cateter intravenoso, mantendo a venóclise com solução de Ringer com lactato. Administrou-se

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cloridrato de tramadol (2mg/kg/IV) e diazepam (1mg/kg/IV) e, indução com propofol (4mg/kg/IV), seguida de antibióticoterapia profilática com cefalotina sódica (20mg/kg/IV). Procedeu-se intubação endotraqueal e vaporização com oxigênio 100% e isoflurano.

Procedeu-se a antissepsia da área operatória com iodopovidona tópico a 10% e após colocarem-se os campos cirúrgicos, realizou-se laparotomia exploratóriapor meio de incisão cutânea, com bisturi cirúrgico, na linha média ventral, pré-umbilical. Divulsionou-se o tecido subcutâneo e incisou-se a linha alba para abertura da cavidade abdominal. Visualizaram-se aderências do omento, envolvendo o coto uterino, bexiga, baço e seguimentos intestinais. Verificando-se a presença de granuloma caudal ao rim direito (Fig. 3), procedeu-se a ressecção de ambos. Nas ligações venosas e arteriais e nefrectomia direita, utilizou-se fiocategute cromado número 1. Realizou-se dupla ligação de ureter próximo a bexiga com fio mononylon número 2-0.

No pós-operatório prescreveu-se antibiótico (cefalexina 25mg/kg/VO/TID por dez dias) eantiinflamatório (meloxicam 0,1mg/kg/VO/SID por sete dias). Após quinze dias dos procedimentos cirúrgicos realizou-se avaliação clínica. Com vinte dias,realizou-se a ressecção externa do granuloma, que encontrava-se aderido a musculatura e a pele da região abdominal lateral esquerda, obedecendo-se aos mesmos protocolos de pré-anestesia, anestesia e terapêutica pós-operatória anteriormente empregada. Transcorridos quinze dias procedeu-se nova avaliação clínica. No exame clínico, realizado após quatro meses, solicitou-se dosagem sérica de uréia e creatinina e hemograma.

Resultados e discussão

Ao exame clínico inicial, o animal apresentou mucosas róseas, hidratação normal, estado geral bom, temperatura retal de 38,5ºC e freqüência cardíaca e respiratória dentro dos parâmetros. Os valores hematológicos, no pré e pós-operatório, assim como osníveis séricos de uréia e creatinina encontravam-se conforme parâmetros fisiológicos descrito por Viana [11].

No exame ultrassonográfico, o rim direito apresentava-se em topografia habitual, aumentado de volume (7,8cm de comprimento), com contornos regulares, perda parcial da arquitetura devido à severa dilatação da pélvica (3,3cm) e ecogenicidade da cortical mantida. Perda da definição cortico-medular estando a medular dilatada. Observou-se estenose parcial no seguimento inicial do ureter direito por aderência a região da ligadura vascular ovariana direita e nesta, observaram-se além das aderências, tecido inflamatório na região abdominal lateral direita e esquerda com descontinuidade da parede abdominal(fístulas) de 2,6cm de diâmetro no esquerdo e 1,7cm no direito.

Finalizada a cirurgia, realizaram-se incisões nogranuloma e no rim, evidenciando-se fio de sutura de algodão (Fig. 4) e perda do parênquima com dilatação

da região da pelve (Fig. 5), respectivamente. Como descrito por Rodrigues et al. [12], os casos de hidronefrose avançada, quando o rim apresenta-se dilatado, repleto de líquidos ou com afecções ureterais e renais que desafiem o reparo cirúrgico, a nefrectomia é indicada [12].

As suturas foram removidas oito dias após as cirurgias. O animal retornou quinze dias após a ressecção do granuloma direito e nefrectomia unilateral direita, apresentando melhora dos sinais dolorosos e uma regressão da fístula abdominal lateral direita, não apresentando secreções (Fig. 6). Após quinze dias de realizada a ressecção externa do granuloma e pele, o animal não manifestava sinais dolorosos. Após quatro meses dos atos cirúrgicos, evidenciou-se cicatrização completa das fístulas abdominal direita e esquerda (Fig. 7 e Fig. 8).

Este relato demonstra a necessidade da correta utilização dos tipos de fios de sutura e do emprego de técnicas assépticas adequadas, para que complicações pós-operatórias como estas sejam evitadas.

Referências[1] TROMPOWSKY, A. C. M. V.; PLIEGO, C. M.; FERREIRA,

M. L. G.; NUNES, V. A.; SANTOS, M. C. S. Relato de quatro casos de hidronefrose secundária a ovário-salpingo-histerectomia (OSH) em cadelas. Acta Scientiae Veterinariae. v.35 (supl 2), p.344-345, 2007.

[2] NELSON, R.W.; COUTO. C.G. Distúrbios do ciclo estral. In____. Medicina interna de pequenos animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. P.659-675.

[3] POLLARI, F. L.; BONNETT, B. N.; BAMSEY, S. C. Postoperative complications of surgeries in dogs and cats determined by examining electronic and paper medical records. J Am Vet Med Assoc, v.208, p.1882-1889, 1996.

[4] SANTOS, F. C.; CORRÊIA, T. P.; RAHAL, S. C.; CRESPILHO, A. M.; MAMPRIM, M. J. Complicações da esterilização cirúrgica de fêmeas caninas e felinas. Revisão de literatura. Vet. e Zootec. v.16,n.1, 2009

[5] MARTINS, A. W.; POPAK, P.; RODRIGUES, C. G. Vet. Not. Uberlândia, v.12, n.2, p.95, set. 2006.

[6] RAHAL, S. C.; ROCHA, N. S.; FIGUEIREDO, L. A.; IAMAGUTI, P. Estudo comparativo das reações teciduais produzidas pela “linha de pesca” (poliamida) e o fio de náilon cirúrgico. Ciência Rural. Santa Maria, v.28, n.1, p.89-93, 1997.

[7] OKAMOTO, T., YABUSHITA, L. K., NAKAMA, H. H., OKAMOTO, R. Processo de reparação cutânea após incisão e sutura com fios de poliglactina 910 e poliglecaprone 25: estudo microscópico comparativo em ratos. Revista Odontológica de Araçatuba. V.24, n.2, p. 62-67, 2003.

[8] SOARES, U. N.; ITO, I. Y.; ROCHA BARROS, V. M. Efeito da anti-sepsia da ferida cirúrgica alveolar sobre o crescimento bacteriano em fios de sutura de algodão. Pesqui Odontol Bras. v.15, n.1, p.41-46, 2001.

[9] GIORDANI, C.; HIRSCHMANN, L. C.; SOUZA, L. S. S. De.; FACCO, M. P.; CAMPELO, A.; LOBO, C.; Hidronefrose proveniente de obstrução ureteral: relato de caso.

[10] SILVEIRA, T.; LEITE, C. A. L.; FELICIANO, M. A. R.; SAMPAIO, G. R.; ALVES, E. G. L. Hidronefrose unilateral associada à dermatopatia em uma cadela: relato de caso. v.38, n.4, p.193-198, 1983.

[11] VIANA, F. A. B. Guia Terepêutico Veterinário. Lagoa Santa: Editora CEM, 2ed., 2007, 339p.

[12] RODRIGUES, M. F.; WILHELM, G.; PEREIRA, I. C.; MULLER, E. N.; FERNANDES, M. A. G.; GUIM, T. N.; MENDES, T. C.; RODRIGUES, R. E. S.; NOBRE, M. O. Hidronefrose unilateral em um canino – relato de caso. XVI CIC

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Figura 1 – Fístula abdominal lateral esquerda Figura 2 – Fístula abdominal lateral direita

Figura 3 – Presença de granuloma na região de ligação vascular ovariana, caudal ao rim direito

Figura 4 – Granuloma da região de liagação vascular ovariana direita, evidenciando fio de sutura de algodão

Figura 5 – Rim direito com perda de parênquima renal, com dilatação de pelve renal (Hidronefrose)

Figura 6 – Regressão da fístula abdominal lateral direita quinze dias após a ressecção do granuloma direito e nefrectomia unilateral direita

Figura 7 – Animal após quatro meses dos atos cirúrgicos, com cicatrização completa da fístula abdominal direita

Figura 8 – Animal após quatro meses dos atos cirúrgicos, com cicatrização completa da fístula abdominal esquerda