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Reserva Ecológica de Jacarenema 1 ZONEAMENTO AMBIENTAL RESERVA ECOLÓGICA DE JACARENEMA VILA VELHA - ES Coordenação Geral Cesar Meyer Musso Coordenação Técnica Rogério Nora Lima Clima e Condições Meteorológicas Hidrografia e Hidrologia Associação Vila-velhense de Proteção Ambiental Vila Velha - ES, dezembro de 2002

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Reserva Ecológica de Jacarenema

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ZONEAMENTO AMBIENTAL

RESERVA ECOLÓGICA DE JACARENEMA VILA VELHA - ES

Coordenação Geral

Cesar Meyer Musso

Coordenação Técnica

Rogério Nora Lima

Clima e Condições Meteorológicas

Hidrografia e Hidrologia

Associação Vila-velhense de Proteção Ambiental

Vila Velha - ES, dezembro de 2002

Reserva Ecológica de Jacarenema

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ZONEAMENTO AMBIENTAL

RESERVA ECOLÓGICA DE JACARENEMA VILA VELHA - ES

Clima e Condições Meteorológicas

Hidrografia e Hidrologia

Objetivo: Subsidiar o Diagnóstico Ambiental da área de estudo para o Zoneamento Ambiental da Reserva Ecológica de Jacarenema.

Antônio Sérgio Mendonça Ferreira - CREA 1108 – D/ES Engenheiro Civil / Hidrólogo, Dr.

Associação Vila-velhense de Proteção Ambiental

Vila Velha - ES, dezembro de 2002

Reserva Ecológica de Jacarenema

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HIDROGRAFIA E HIDROLOGIA - Índice 1. CARACTERÍSTICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUCU................................................................. 01

2. ESTUDO HIDROLÓGICO.......................................................................................................................... 02

3. DINÂMICA DA ÁGUA............................................................................................................................... 03

4. ESTIMATIVAS DE VAZÕES MÍNIMAS, MÉDIAS E MÁXIMAS DO RIO JUCU NA RESERVA ECOLÓGICA DE

JACARENEMA......................................................................................................................................... 05

4.1 VAZÕES MÍNIMAS............................................................................................................................................ 05

4.2 VAZÕES MÁXIMAS........................................................................................................................................... 07

4.3 VAZÕES MÉDIAS DE LONGO TERMO.............................................................................................................. 08

4.4 CONCLUSÕES RELATIVAS À QUANTIDADE DE ÁGUA..................................................................................... 08

5. BATIMETRIA, CORRENTOMETRIA, ACOMPANHAMENTO DE NÍVEIS D’ÁGUA E DA INTRUSÃO SALINA.... 09

5.1 MEDIÇÃO DA VARIAÇÃO DO NÍVEL D’ÁGUA................................................................................................... 10

5.2 MEDIÇÃO DE CORRENTES.............................................................................................................................. 10

5.3 BATIMETRIA..................................................................................................................................................... 10

5.4 SALINIDADE..................................................................................................................................................... 11

5.5 ACOMPANHAMENTO DA CUNHA SALINA......................................................................................................... 12

5.6 LEVANTAMENTO DE PERFIL DE LENÇOL FREÁTICO...................................................................................... 12

6. QUALIDADE DE ÁGUA............................................................................................................................. 13

6.1 ÍNDICE DE QUALIDADE DE ÁGUA................................................................................................................... 17

6.2 CONCLUSÕES RELATIVAS À QUALIDADE DE ÁGUA........................................................................................ 17

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................ 21

ANEXOS

Anexo 1 - Leituras da régua linimétrica e marégrafo da EAMES (vide anexo 7)

Anexo 2 - Dados do correntógrafo (vide anexo 7)

Anexo 3 - Mapa batimétrico / Análise do nível de redução (vide anexo 7)

Anexo 4 - Planilhas com valor dos parâmetros monitorados / Mapa de localização dos pontos de monitoramento /

Perfis de salinidade e temperatura (vide anexo7)

Anexo 5 - Levantamento de perfil de lençol freático (vide anexo 7)

Anexo 6 - Foto aérea com localização dos pontos de monitoramento

Anexo 7 – Relatório de levantamentos de campo da Reserva Ecológica de Jacarenema, Barra do Jucu – Vila Velha

HIDROGRAFIA E HIDROLOGIA - Lista de figuras Figura 1: Rio Jucu, a montante da ponte da Rodovia do Sol.................................................................................... 08

Figura 2: Canal Garanhuns, nas proximidades da ponte da Rodovia do Sol............................................................. 09

Figura 3: Foz do rio Jucu........................................................................................................................................ 09

Figura 4: Rio Jucu, próximo à foz............................................................................................................................ 10

Figura 5: Vista do canal Garanhuns. Ponto 02 de monitoramento............................................................................ 13

Figura 6: Foz do rio Jucu. Ponto 03 de monitoramento............................................................................................ 13

Figura 7: Córrego do Congo, vista a montante da ponte. Ponto 06 de monitoramento............................................... 14

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Figura 8: Ponte da Madalena (trecho à esquerda). Ponto 07 de monitoramento........................................................ 14

Figura 9: Canal Garanhuns, visto a partir da ponte da Rodovia do Sol..................................................................... 16

Figura 10: Afluência das águas do canal Garanhuns ao rio Jucu, na ponte da Rodovia do Sol.................................. 16

Figura 11: Vista de trecho do rio Jucu a jusante da ponte da Rodovia do Sol............................................................ 18

Figura 12: Ponte da Madalena (trecho à direita da ilha)............................................................................................ 18

Figura 13: Rio Jucu, a jusante da ponte da Madalena.............................................................................................. 19

Figura 14: Rio Jucu, a montante da ponte da Madalena........................................................................................... 19

Figura 15: Rio Jucu, a jusante da ponte da Madalena.............................................................................................. 19

Figura 16: Lançamento de esgotos no córrego do Congo........................................................................................... 20

Figura 17: Vista de parte da localidade da Barra do Jucu......................................................................................... 20

HIDROGRAFIA E HIDROLOGIA – Lista de tabelas

Tabela 1 - Demandas previstas................................................................................................................................. 02

Tabela 2 - Frequências das direções de vento............................................................................................................ 04

Tabela 3 - Vazões mínimas anuais para o posto fluviométrico rio Jucu em Jucuruaba (Área de

drenagem: 1637km²................................................................................................................................. 05

Tabela 4 - Vazões mínimas diárias e para 7 dias consecutivos com diversos períodos de retorno, para o posto

Fazenda Jucuruaba (Distribuições Weibull e Lognormal).......................................................................... 06

Tabela 5 - Vazões mínimas (m³/s) – Rio Jucu na Reserva de Jacarenema................................................................. 07

Tabela 6 - Vazões médias de longo termo para postos fluviométricos considerados.................................................... 08

Tabela 7 - Resultado das análises............................................................................................................................. 11

Tabela 8 - Resultados das análises físico-químicas e bacteriológicas......................................................................... 15

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FATORES ABIÓTICOS

HIDROGRAFIA E HIDROLOGIA

1. CARACTERÍSTICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO JUCU

A reserva de Jacarenema se situa na foz do rio Jucu. Este rio forma juntamente com o rio Santa Maria da Vitória os dois principais mananciais de abastecimento da Grande Vitória.

As principais atividades nos trechos médio e superior da bacia do rio Jucu estão relacionadas com a agropecuária. Apresenta área de drenagem com aproximadamente 2.200 km2, tendo como principais formadores os rios Jucu Braço Norte e Jucu Braço Sul.

As principais concentrações urbanas destes braços estão localizadas nas cidades de Domingos Martins e Marechal Floriano.

Na bacia do rio Jucu Braço Norte situam-se os povoados de Barcelos, Ponto Alto, Perobas e a cidade de Domingos Martins. Na bacia do rio Jucu Braço Sul se localizam os povoados de Pedra Azul, Vitor Hugo, Aracê, Santa Isabel e Araguaia e a cidade de Marechal Floriano.

O rio Jucu sofreu em sua parte inferior obras de retificação e drenagem, além de transposição de vazões, tendo o rio Formate , um de seus afluentes, passado a desaguar no rio Marinho, que aflui à baía de Vitória. No trecho inferior da bacia situam-se as localidades de Araçatiba e Barra do Jucu.

Esgotos sanitários da bacia do rio Jucu são lançados nos cursos d’água sem passar por sistemas de tratamento adequados. Está em construção o sistema de tratamento de esgotos sanitários da cidade de Domingos Martins.

A atividade predominante na bacia é a agropecuária, existindo apenas uma indústria de médio porte, localizada na sua parte inferior, a Antártica, fabricante de cervejas, atualmente desativada.

A mais expressiva indústria em atividade na parte alta da bacia do rio Jucu é a COROA (na bacia do rio Jucu Braço Norte), que além de produzir refrigerantes é responsável pelo engarrafamento da água mineral Campinho.

Na parte baixa da bacia do Jucu, se localizam indústria de derivados do leite, de ração animal e alimentícia. Desagua no oceano Atlântico na localidade de Barra do Jucu após passar pela Reserva de Jacarenema

Localiza-se nas cabeceiras dos braços Sul e Norte o Parque Estadual de Pedra Azul, próximo ao qual se instalou um parque hoteleiro.

No Braço Sul, a ESCELSA opera uma pequena hidrelétrica construida na década de 1920. Foram desenvolvidos estudos visando novos aproveitamentos hidrelétricos nos braços Sul e Norte.

A maioria da população da bacia dispõe de seus esgotos “in natura” em corpos receptores adjacentes. Algumas residências localizadas nas áreas urbanas possuem sistemas individuais de fossa-sumidouro ou fossa-filtro.

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A bacia hidrográfica do rio Jucu em seu trecho de montante da captação da CESAN para abastecimento da Grande Vitória, apresenta baixa densidade populacional (menos de 5 habitantes por km2).

A bacia do rio Jucu, que anteriormente à colonização era praticamente toda coberta por Mata Atlântica, sofreu grande devastação florestal. O Parque Estadual de Pedra Azul é a única Unidade de Conservação na bacia do rio Jucu. As regiões da bacia onde se localizam os trechos médio e superior do rio Santa Maria da Vitória apresentam atualmente em torno de 20 (vinte) por cento de seus territórios cobertos por Mata Atlântica. Estes remanescentes geralmente se localizam em áreas de difícil acesso. Grande parte da bacia hoje é coberta por pastagens e por cultivos. O municípios de Domingos Martins e Marachal Floriano apresentam em diversas propriedades atividades relacionadas com produtos hortifrutigranjeiros.

A atividade industrial é pouco significativa, principalmente nas partes média e superior da bacia.

Mau uso do solo em áreas de cultivo e estradas vicinais sem proteção contra erosão são os principais responsáveis por transporte sólido e assoreamento de cursos d’água da bacia.

A principal captação na bacia hidrográfica do rio Jucu localizada a montante da atual captação da CESAN para abastecimento da Grande Vitória, é a que serve ao abastecimento de Marechal Floriano e Domingos Martins (27 l/s). Esta captação se situa no rio Jucu Braço Sul, logo a montante da cidade de Marechal Floriano. Além destas, as captações mais significativas servem ao abastecimento das localidades de Ponto Alto (3 l/s a partir do córrego Areinha), e Aracê (0,7 l/s a partir de nascente). A jusante da captação para abastecimento da Grande Vitória a única captação superficial significativa abastecia a indústria de bebidas Antárctica, em Araçatiba, estando atualmente desativada. Barra do Jucu, próxima à sua fóz, é abastecida por poço tubular (10 l/s).

A CESAN desenvolveu, em 1995, projeções de demandas para o horizonte de 15 anos (2.010) para diversos núcleos urbanos localizados na bacia hidrográfica do rio Jucú, utilizando-se, a partir de Censos Populacionais do IBGE, os métodos aritméticos e geométricos para projeção de população. Na Tabela 1 são mostradas as vazões Q7,10 estimadas para os atuais pontos de captação. Para definição destas vazões foi utilizada transferência de informações através de vazões específicas.

Tabela 1 – Demandas Previstas.

Cidade Bacia Rio Aritmético (l/s)

Geométrico (l/s)

Q7,10 (l/s)

Marechal Floriano Jucu Jucu Braço Sul 40 214 2.450 Grande Vitória Jucu Jucu 4.300 5.100 13.800 Fonte: CESAN ,1995.

2. ESTUDO HIDROLÓGICO

As seguintes atividades foram desenvolvidas :

• Coleta e depuração de dados hidrológicos relativos a bacias situadas entre as bacias dos rios Doce e Benevente.

• Planimetria das bacias hidrográficas e das bacias de drenagem para as seções de possível captação ou barramento, com utilização de planímetro.

• Formação de séries hidrológicas de vazões médias diárias, de sete dias consecutivos e mensais para os postos fluviométricos considerados no estudo.

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Depuração de dados fluviométricos existentes e complementação das séries através de correlação com outros postos existentes na região.

• Estudo probabilístico, com utilização de programa computacional, das vazões mínimas de um dia e sete dias consecutivos e vazões máximas diárias. Ajuste de distribuições de probabilidade, análise dos resultados e escolha das distribuições de melhor ajuste.

• Determinação de vazões mínimas de um e sete dias e máximas com períodos de retorno de 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos.

• Análise de dados pluviométricos de postos situados na região analisada e proximidades, depuração de informações, formação das séries anuais e cálculo de médias de precipitações de longo termo.

• Traçado de isoietas de precipitações anuais.

• Planimetria das áreas situadas entre as isoietas, no interior das bacias de contribuição para as seções transversais dos postos fluviométricos e da Reserva de Jacarenema.

• Transferência de informações relativas aos postos fluviométricos (vazões mínimas e médias) para a seção transversal de entrada do rio Jucu na Reserva de Jacarenema.

• Formação de séries hidrológicas de vazões médias diárias, de sete dias consecutivos e mensais para os postos fluviométricos considerados no estudo. Depuração de dados fluviométricos existentes e complementação das séries através de correlação com outros postos existentes na região.

• Estudo probabilístico , com utilização de programa computacional , das vazões mínimas de um dia e sete dias consecutivos. Ajuste de distribuições de probabilidade, análise dos resultados e escolha da distribuição de melhor ajuste.

• Determinação de vazões mínimas de um e sete dias com períodos de retorno de 10, 20 e 50 anos.

• Análise de dados pluviométricos de postos situados na região analisada e proximidades, depuração de informações, formação das séries anuais e cálculo de médias de precipitações de longo termo.

• Traçado de isoietas de precipitações anuais.

• Formação de séries de vazões mensais para postos fluviométricos da região e definição de séries básicas.

• Planimetria das áreas situadas entre as isoietas, utilizando técnica de Sistema de Informações Geográficas (SIG), no interior das bacias de contribuição para as seções transversais dos postos fluviométricos e das possíveis captações.

• Transferência de informações relativas aos postos fluviométricos (vazões mínimas e médias) para os possíveis pontos de captação pelos métodos das Vazões Específicas e Regionalização Hidrológica.

3. DINÂMICA DA ÁGUA

A dinâmica da circulação marinha costeira próximo à linha de costa resulta do cisalhamento causado pelo vento na superfície da água. Na foz do rio Jucu as correntes predominantes se dirigem para o quadrante sul, aproximadamente paralelas à linha de

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costa. Na plataforma interna em frente à foz do rio Jucu foram observadas correntes direcionadas paralelas à linha de costa. Dependendo da direção dos ventos as correntes variam de sentido, fluindo para norte ou para sul, em situações de ventos de SE-SSE ou N-NE.

A Tabela 2 mostra a freqüência das direções de vento para a região onde se situa a foz do rio Jucu, calculadas a partir de registros da estação meteorológica da Ilha de Santa Maria.

Tabela 2 - Freqüência das direções de vento.

D I R E Ç Ã O

Mês N NE E SE S SW W NW Variável ou não obs. Calmas Total

Janeiro 24 14 16 2 4 6 5 6 5 18 100

Fevereiro 21 11 16 2 2 4 4 6 16 18 100

Março 16 9 14 3 4 10 6 6 8 24 100 Abril 10 5 12 4 6 12 11 5 12 25 100 Maio 10 5 11 4 7 15 11 5 6 26 100 Junho 12 5 11 3 6 12 9 6 11 25 100

Julho 11 5 12 3 7 14 10 6 7 25 100 Agosto 17 8 14 3 6 11 6 7 7 21 100 Setembro 19 10 14 3 6 11 8 4 9 16 100 Outubro 17 13 14 4 7 12 9 4 7 13 100

Novembro 17 13 12 5 7 10 8 5 11 12 100

Dezembro 21 16 13 3 6 7 8 4 7 15 100 Média Anual 16,3 9,5 13,3 3,3 5,7 10,3 7,9 5,3 8,7 19,7 100,0

Fonte:

A Tabela 2 confirma a predominância de ventos no quadrante nordeste, com freqüência de ocorrência, 39,1%. Nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, esta predominância é ainda maior, em torno de 50%.

Estes valores indicam que o sentido predominante das correntes litorâneas nas proximidades da foz do rio Jucu se situa no quadrante SW.

A existência de desembocaduras como a do rio Jucu pode influenciar a dispersão de sedimentos transportados pelas correntes, podendo criar déficits nas porções da linha de costa situadas imediatamente a sotamar e, consequentemente, tendências à erosão ou à não-acumulação.

Frentes de onda paralelas à linha de costa em presença de uma fonte pontual de sedimentos tal como uma desembocadura fluvial podem redistribuir esta carga sedimentar para os dois lados da desembocadura. As águas do rio podem funcionar como um molhe hidráulico, acumulando sedimentos transportados pela deriva litorânea a barlamar da desembocadura.

Nas planícies costeiras associadas a desembocaduras de diversos rios brasileiros é observado que a linha de costa avança através da incorporação de sedimentos aportados pela deriva litorânea de sedimentos gerada pela aproximação oblíqua das ondas (alimentação longitudinal), os quais se acumulam a barlamar da desembocadura e aqueles aportados pelo rio (alimentação transversal) os quais se acumulam a sotamar.

Nas proximidades da foz do rio Jucu não foram observadas significativas erosões e acumulações de sedimentos recentes, indicando a existência de estabilidade na linha de costa. Em parte isto se deve à existência de maciço rochoso na margem direita.

Monitoramento realizado em ponto situado na praia, 50 metros ao Norte da foz, se apresentou impróprio para banho, para condições de maré vazante. Este resultado, tendo em vista não existirem outras fontes poluidoras próximas, indica a grande influência do rio Jucu sobre a dinâmica e a qualidade da água costeira próxima, principalmente em ocasiões de vazante.

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4. ESTIMATIVA DE VAZÕES MÍNIMAS, MÉDIAS E MÁXIMAS DO RIO JUCU NA RESERVA ECOLÓGICA DE JACARENEMA

Nesta análise procurou-se obter as vazões máximas, médias e mínimas para o rio Jucu na Reserva Ecológica de Jacarenema. Devido à inexistência de dados fluviométricos nas seções situadas na Reserva, foram feitas transferências de informações a partir das bacias apresentando registros.

Para as vazões mínimas e médias duas técnicas foram utilizadas , quais sejam, os métodos das Vazões Específicas (posto base- Fazenda Jucuruaba, área de drenagem 1.637 km2) e da Regionalização Hidrológica (correlação vazões x área e correlação vazões x área x precipitações)

Nos estudos de regionalização observou-se que os dados relativos ao posto Santa Leopoldina se apresentaram muito distantes dos intervalos de confiança das curvas ajustadas aos demais postos. Desta forma, ajuste foi feito aos postos Valsugana Velha, Córrego do Galo, Marechal Floriano, Jucuruaba, Matilde, Iconha-Montante e Pau D’alho.

4.1 VAZÕES MÍNIMAS

As vazões mínimas anuais com período 1 e 7 dias para os posto fluviométrico situado mais próximo da Reserva de Jacarenema são apresentados na Tabela 3. Tabela 3 – Vazões mínimas anuais para o posto fluviométrico rio Jucu em Jucuruaba (Área de Drenagem: 1637 km2).

ANO Q1 Q7

1968 7,6 8,1

1969 7,6 8,2

1970 7,6 7,8

1971 8,5 8,5

1972 14,2 16,3

1973 17,2 17,7

1974 13,6 14,0

1975 12,9 13,5

1976 10,4 11,0

1977 8,7 8,9

1978 13,3 14,2

1979 15,5 15,6

1980 9,9 10,7

1981 10,6 11,5

1982 10,9 11,6

1983 12,6 13,0

1984 11,2 11,8

1985 18,3 18,7

1986 10,3 10,8

1987 10,0 10,6

1988 10,0 10,5

1989 9,8 10,0

1990 10,2 10,3

1991 12,0 12,9

1992 15,1 16,6

1993 10,0 11,0

1994 11,0 11,4

Continua

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ANO Q1 Q7

1995 7,0 7,0

1996 9,0 9,0

1997 12,0 12,0

1998 9,0 9,0

1999 12,0 13,0

Fonte: Estudo Hidrológico, 2002.

A Tabela 4 mostra as vazões mínimas diárias e para 7 dias consecutivos para o posto Fazenda Jucuruaba, além de intervalos de confiança. Tabela 4 – Vazões mínimas diária e para 7 dias consecutivos, com diversos períodos de retorno, para o posto Fazenda

Jucuruaba (Distribuições Weibull e Lognormal)

Weibull - 1 dia

Tr Vazão Lim inf Lim sup

100 4,1 3,0 5,6

50 4,8 3,6 6,3

20 6,0 4,8 7,5

10 7,1 5,9 8,6

5 8,5 7,4 9,9

2 11,2 10,2 12,3

Weibull - 7 dias

Tr Vazão Lim inf Lim sup

100 4,3 3,1 5,9

50 5,1 3,8 6,7

20 6,3 5,0 7,9

10 7,5 6,2 9,0

5 9,0 7,7 10,4

2 11,7 10,7 13,0

Lognormal - 1 dia

Tr Vazão Lim inf Lim sup

100 6,2 5,3 7,3

50 6,6 5,7 7,7

20 7,3 6,4 8,3

10 8,0 7,1 8,9

5 8,8 8,0 9,7

2 10,8 10,0 11,8

Lognormal - 7 dias

Tr Vazão Lim inf Lim sup

100 6,4 5,4 7,5

50 6,8 5,8 7,9

20 7,3 6,4 8,3

10 8,0 7,1 8,9

5 8,8 8,0 9,7

2 10,8 10,0 11,8

Fonte: Estudo Hidrológico, 2002.

A distribuição que apresentou melhor ajuste para as vazões mínimas foi a lognormal. Desta forma as vazões mínimas de duração 1 dia com períodos de retorno 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos foram 10,8; 8,8; 8,0; 7,3; 6,6 e 6,2 m3/s.

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A distribuição que apresentou melhor ajuste para as vazões mínimas foi a lognormal. Desta forma as vazões mínimas de duração 7 dias com períodos de retorno 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos foram 10,8; 8,8; 8,0; 7,3; 6,8 e 6,4 m3/s.

Desta forma, o Q7,10 estimado para o posto fluviométrico Fazenda Jucuruaba foi 8 m3/s.

A seguir são mostradas vazões mínimas estimadas pelos diferentes métodos utilizados para a seção de entrada na Reserva de Jacarenema (Tabela 5).

Utilizando o método das vazões específicas, para as seções transversais do rio Jucu na Reserva de Jacarenema, as vazões mínimas de duração 1 dia com períodos de retorno 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos foram 13,8; 11,8; 10,7; 9,8; 8,9 e 8,3 m3/s.

Utilizando o mesmo método, para as seções transversais do rio Jucu na Reserva de Jacarenema, as vazões mínimas de duração 7 dias com períodos de retorno 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos foram 13,8; 11,8; 10,7; 9,8; 9,1 e 8,6 m3/s.

Consequentemente, o Q7,10 estimado para as seções situadas na Reserva de Jacarenema foi 10,7 m3/s.

Tabela 5 - Vazões mínimas (m3/s) - Rio Jucu na Reserva de Jacarenema.

Q específica* Correlação Q x A Correlação Q x (A,P) Q1 (10 anos) 10,7 9,9 10,1 Q1 (20 anos) 9,8 9,2 9,3

Q1 (50 anos) 8,9 8,7 8,7 Q7 (10 anos) 10,7 10,4 10,4

Q7 (20 anos) 9,8 9,5 9,6 Q7 (50 anos) 9,1 8,8 8,9

Fonte: Estudo Hidrológico, 2002. Obs: * Obtidas a partir das vazões específicas para o posto Fazenda Jucuruaba, no mesmo curso d’água.

4.2 VAZÕES MÁXIMAS

O estudo de vazões máximas para o posto Fazenda Jucuruaba foi desenvolvido a partir das vazões máximas diárias anuais. Foram ajustadas distribuições probabilísticas mais comumente utilizadas para descargas máximas, ou seja : Normal truncada, Lognormal 2 parâmetros, Lognormal 3 parâmetros, Eventos Extremos Tipo I (Gumbel) Pearson Tipo III e LogPearson Tipo III. Foram analisados os resultados dos ajustes das diversas distribuições. Foram estimadas vazões máximas anuais com períodos de retorno 2, 5, 10, 20, 50 e 100 anos.

O estudo de vazões máximas foi desenvolvido a partir das vazões máximas diárias anuais definidas para o período 1968 a 1999. Foram ajustadas distribuições probabilísticas mais comumente utilizadas para descargas máximas, ou seja : Lognormal 2 parâmetros, Lognormal 3 parâmetros, Eventos Extremos Tipo I (Gumbel) Pearson Tipo III e LogPearson Tipo III. A distribuição que apresentou melhor ajuste foi a Lognormal 3 parâmetros (5,9), seguida pela Pearson Tipo III (6,1), Lognormal 2 parâmetros (6,2), LogPearson Tipo III(6,7) e Eventos Extremos Tipo I (6,8).

Para a distribuição de melhor ajuste, Lognormal 3 parâmetros, foram estimadas as vazões com períodos de retorno 2, 5,10, 20, 50 e 100 anos, correspondendo a 127,4; 167,1; 193,8; 219,7; 253,6 e 279,5 m3/s. Utilizando-se o método das vazões específicas, para as seções transversais do rio Jucu na Reserva de Jacarenema, obteve-se, respectivamente, 171,2; 224,6; 260,4; 295,3; 340,8 e 375,6 m3/s.

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4.3 VAZÕES MÉDIAS DE LONGO TERMO

A Tabela 6, a seguir, mostra áreas de drenagem, vazões médias e chuvas anuais de longo período para os postos fluviométricos utilizados no estudo.

Tabela 6 - Vazões médias de longo termo para postos fluviométricos considerados.

POSTO RIO ÁREA VAZÃO CHUVA ANUAL mm

Valsugana Velha Timbui 87 1,79 1586

Santa Lepoldina Santa Maria da Vitoria

885 14,81 1463

Córrego do Galo Jucu Braço Norte 925 14,04 1285 Marechal Floriano Jucu Braço Sul 302 6,39 1543

Matilde Benevente 226 5,50 1669

Iconha Iconha 175 4,61 1581 Pau D’Alho Novo 264 7,21 1695 Fonte: Estudo Hidrológico, 2002.

Através de estudo de correlação foi possível obter a seguinte vazão média para o rio Jucu na Reserva Ecológica de Jacarenema : 31 m3/s.

4.4 CONCLUSÕES RELATIVAS À QUANTIDADE DE ÁGUA

O rio Jucu, principal corpo de água doce que passa pela Reserva Ecológica de Jacarenema, está sujeito a uma grande variação, com as vazões mínimas e máximas com período de retorno de 10 anos, de aproximadamente 10 e 260 m3/s, sendo que a vazão média de longo termo foi estimada em torno de 30 m3/s. Esta grande variação tem como consequências variações no nível de água do lençol freático, que também é influenciado pela variação de maré. Estas variações influenciam as condições da vegetação existente nas áreas próximas, dentro da Reserva. A Figura 1 mostra o rio Jucu, à montante da ponte da Rodovia do Sol.

Figura 1: Rio Jucu, a montante da ponte da Rodovia do Sol.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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O canal do Congo, que drena a localidade de Barra do Jucu apresenta bacia de muito menor porte que a do Jucu, sendo altamente influenciado por este rio e pela variação de maré. O canal Garanhuns, que aflui ao rio Jucu nas proximidades da Rodovia do Sol, também apresenta bacia hidrográfica de pequeno porte, causando pouca influência sobre o Jucu, em termos quantitativos. A Figura 2 mostra o canal Garanhuns, a partir da ponte da Rodovia do Sol.

Figura 2: Canal Garanhuns, nas proximidades da ponte da Rodovia do Sol. Fonte: Levantamento fotográfico, 2002. 5. BATIMETRIA, CORRENTOMETRIA, ACOMPANHAMENTO DE NÍVEIS DÁGUA E DA INTRUSÃO SALINA

Com finalidade de obtenção de maior conhecimento a respeito das características hidrodinâmicas e quali-quantitativas do trecho do rio Jucu que passa pela Reserva Ecológica de Jacarenema foram realizados pelo GEARH, Grupo de Estudos e Ações em Recursos Hídricos da UFES, trabalhos de campo que incluíram levantamentos batimétricos, monitoramento da variação do nível d’água e levantamento de perfil de seção do lençol freático, correntometria e observação do comportamento da cunha salina na região estuarina do rio Jucu, com perfilagens de salinidade e temperatura. As Figuras 3 e 4, mostram, respectivamente, a foz do rio Jucu e um trecho do rio Jucu situado próximo à foz.

Figura 3: Foz do rio Jucu.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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Figura 4: Rio Jucu, próximo à foz.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

5.1 MEDIÇÃO DA VARIAÇÃO DO NÍVEL D’ÁGUA

Para a medição da variação do nível d’água foi instalada uma régua linimétrica na ponte da Madalena, localizada na região estuarina do rio Jucu. Foram utilizados também os registros obtidos de um marégrafo instalado na EAMES (Escola de Aprendizes Marinheiros – ES). Nos dias de campanha, foi observada uma amplitude de maré de cerca de 0,52m, havendo inversão do ciclo em períodos de aproximadamente 6 horas (enchente/vazante), o que caracteriza o regime de marés como sendo semi-diurno. As leituras obtidas estão apresentadas no Anexo 1.

5.2 MEDIÇÃO DE CORRENTES

Para a medição da intensidade das correntes foi realizado o fundeio de um correntógrafo, no dia 20 de Março, num ponto próximo à ponte da Madalena, região estuarina do rio Jucu (Anexo 4). O aparelho ficou localizado a cerca de 60% da coluna d’água, a partir da superfície.O correntógrafo utilizado é da marca SENSORDATA – SD6000, e foi programado para realizar medições em intervalos de 5 minutos, com uma precisão de ± 1cm para as medições de velocidade. Além de medições de intensidade de correntes, o correntógrafo também registrou a direção das correntes incidentes no ponto de fundeio. Os dados obtidos pelo correntógrafo estão apresentados no Anexo 2.

5.3 BATIMETRIA

Para o levantamento batimétrico foram feitas varreduras com linhas transversais ao canal do rio Jucu, espaçadas de 100m entre si, em uma extensão aproximada de 2 Km canal adentro a partir da desembocadura do rio, e uma linha longitudinal cobrindo a área pesquisada para conferência. Para localização e posicionamento da área de estudo foi utilizada a carta do IBGE – Vitória – Esc.: 1:50.000

O aparelho utilizado na batimetria foi um ecobatímetro, da marca RAYTHEON, modelo DE719D – MK2, no de série 0259 com cabo e sonda. O ecobatímetro foi sincronizado com um receptor GPS da marca TRIMBLE, modelo PRO-XR, e os dados de posição foram pós-processados pelo método DGPS. Para a navegação, foi utilizado um receptor GPS da marca GARMIN, modelo ETREX.

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Os valores de profundidade medidos pelo ecobatímetro foram ajustados a um referencial, a partir da comparação das leituras obtidas pela régua linimétrica e pelos dados obtidos do marégrafo instalado na EAMES.

O levantamento realizado resultou em um mapa batimétrico na escala 1:2500 (Anexo 3), onde podem ser visualizadas as isolinhas e as profundidades da área estudada. Os dados de posicionamento das linhas batimétricas foram processados através do programa Pathfinder Office 2.11, Copyright 1996-1998, Trimble Navigation Ltda.

O mapa de isolinhas foi gerado a partir do programa Surfer 7.02, Copyrigth 1993-2000, Golden Software Inc. Neste, utilizou-se o método Kriging para interpolação dos dados de profundidade, com grade de espaçamento de 1,6m e interpolação de toda a massa de dados para criação das isolinhas batimétricas.

Os resultados da batimetria são apresentados no Anexo 3.

5.4 SALINIDADE

O parâmetro salinidade está diretamente correlacionado com a condutividade elétrica e é altamente influenciado pelo teor de Cloretos. A análise destes dois parâmetros permite conclusões inequívocas a respeito da salinidade de corpos d’água.

Parâmetros relacionados com a salinidade dos corpos d’água foram monitorados em 9 pontos, nos principais cursos d’água que afluem ou passam pela Reserva Ecológica de Jacarenema (Anexo 4) :

Ponto 01 – Rio Jucu. Á montante do Canal Garanhuns. Ponto 02 - Meio do Canal Garanhuns. Ponto 03 - Na foz do Rio Jucu. Ponto 04 – Na praia. Á 50m ao norte da foz do rio. Ponto 05 – Na Praia. Aprox. 3300m ao norte da Foz do rio. Ponto 06 – Córrego do Congo. Sob ponte da Barra do Jucu. Ponto 07 – No pontilhão. Ponto 08 – Rio Jucu. Na margem esquerda. Ponto 09 – Rio Jucu. Á jusante do Canal de Garanhuns

Os resultados das análises se encontram na Tabela 7.

Tabela 7 – Resultado das análises.

Fonte: Monitoramento, 2002. OBS: * Coleta acompanhada por técnico do GEARH-UFES. NOTA: Métodos de Análises Baseados no "STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTEWATER".

Os resultados mostram que os pontos 04 e 05 apresentaram águas salinas, enquanto que os pontos 2, 3 e 6 apresentaram águas salobras na ocasião da campanha de campo.

Além disso, foi realizada campanha de acompanhamento da cunha salina para maré de quadratura (Anexo 4). A análise conjunta dos resultados obtidos nas medições de campo, realizadas em dia de maré de quadratura, permite concluir que não ocorreu intrusão salina na área estudada para este evento. Nesta ocasião as respostas do salinômetro apresentaram valores sempre muito próximos de zero.

RESULTADOS PARÂMETRO UNID. P-01 P-02 P-03 P-04 P-05 P-06 P-07 P-08 P-09

Hora da Coleta h 10:30 11:10 12:00 12:45 13:30 14:00 15:25 15:45 16:10 Cloreto mg Cl- / L 6,8 314 264 18124 23022 411 34 22 26 Condutividade Esp. a 25ºC µS / cm 44,6 1322 1204 45400 47200 2340 137,8 109,7 179,7

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O resultado conjunto dos monitoramentos de cloretos e condutividade e da penetração da cunha salina indica grande variação para a salinidade, conforme esperado, para os pontos situados no estuário do rio Jucu.

5.5 ACOMPANHAMENTO DA CUNHA SALINA

Com utilização de barco a motor e de uma sonda multi-parâmetros (Hydrolab/Quanta), foi realizada uma campanha no dia 20/03/2002, que teve por objetivo o acompanhamento da penetração da cunha salina. Para tanto foram realizadas medições de Salinidade e Temperatura em três profundidades – superfície, meio e fundo - para diversos pontos situados desde a desembocadura do rio Jucu até aproximadamente 2 Km canal adentro.

Para localização e posicionamento da área de estudo foi utilizada a carta do IBGE – Vitória – Esc.: 1:50.000

O Anexo 4 mostra o mapa de localização dos pontos onde foram realizadas as medições de salinidade e temperatura, bem como as planilhas com os valores dos parâmetros medidos em cada ponto.

Cabe ressaltar que os valores apresentados no mapa de localização representam a média dos valores obtidos na vertical, devido ao fato desses terem se apresentado muito próximos, como pode ser notado na planilha de resultado das análises.

A análise conjunta dos resultados obtidos nas medições de campo, realizadas num dia de maré de quadratura, permite concluir que não há intrusão salina na área estudada para este evento (maré de quadratura). As respostas do salinômetro apresentaram valores sempre muito próximos de zero. Cabe ressaltar que a unidade de leitura e calibração do Hydrolab para a Salinidade é a definida pelo Standard Methods, o qual estabelece uma escala padrão de salinidade – PSS – que define um valor de salinidade para água do mar da ordem de 35 PSS.

Aliado a isso, os resultados das medições com o correntógrafo indicam que não houve alternância no sentido das correntes, apenas uma diminuição na magnitude das velocidades das mesmas. Ou seja, o fato de não ter havido inversão no sentido das correntes no local estudado indica que houve um fluxo contínuo das águas do rio em direção ao mar, o que comprova a não influência da água do mar no ponto estudado, para as condições de medição.

Cabe salientar que esta conclusão se resume ao evento em questão, maré de quadratura com amplitude de cerca de 0,5m.

5.6 LEVANTAMENTO DE PERFIL DE LENÇOL FREÁTICO

Após análise de fotografia aérea para reconhecimento da área, foi realizada visita a campo com o objetivo de escolher o local adequado para implantação da seção de medição do lençol freático. Os poços foram abertos com trado mecânico e o nivelamento entre eles foi feito com nível óptico.

No Anexo 5 é apresentado o desenho esquemático de nivelamento dos poços perfurados. Os resultados encontrados indicam o fluxo do lençol freático em direção ao Rio Jucu, na sua margem direita. Já na margem esquerda, o fluxo do lençol freático assume dois sentidos, em função da presença de um divisor de águas. Desta forma, parte do lençol se dirige para o leito do Rio Jucu, enquanto a outra se dirige para o mar.

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6. ANÁLISE DA VARIAÇÃO ESPACIAL DA QUALIDADE DE ÁGUA

Com finalidade de maior conhecimento a respeito da qualidade da água dos principais cursos d’água que afluem ou passam pela Reserva Ecológica de Jacarenema, foram escolhidos pontos para monitoramento no rio Jucu, canal de Garanhuns e córrego do Congo :

Ponto 01 – Rio Jucu. A montante do Canal Garanhuns. Ponto 02 - Meio do Canal Garanhuns (Figura 5). Ponto 03 - Na foz do Rio Jucu (Figura 6). Ponto 04 – Na praia. A 50m ao norte da foz do rio. Ponto 05 – Na Praia. Aproximadamente 300m ao norte da Foz do rio. Ponto 06 – Córrego do Congo. Sob ponte da Barra do Jucu (Figura 7). Ponto 07 – Na ponte da Madalena (Figura 8). Ponto 08 – Rio Jucu. Na margem esquerda. Ponto 09 – Rio Jucu. A jusante do Canal de Garanhuns.

Figura 5: Vista do canal Garanhuns. Ponto 02 de monitoramento.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

Figura 6: Foz do rio Jucu. Ponto 03 de monitoramento.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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Figura 7: Córrego do Congo, vista a montante da ponte. Ponto 06 de monitoramento.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

Figura 8: Ponte da Madalena (trecho à esquerda). Ponto 07 de monitoramento.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

A foto aérea (Anexo 6), mostra a localização dos pontos de monitoramento.

Foram feitas observações “in situ” dos parâmetros Temperatura, pH, Condutividade e Oxigênio Dissolvido e coletas de amostras para análises laboratoriais dos demais parâmetros.

O monitoramento foi realizado no dia 22 de abril de 2002, para condições de maré vazante.

A Tabela 8 mostra os resultados do monitoramento realizado pelo Laboratório de Análises Ambientais “Moacir Cavalheira de Mendonça”, da SEAMA.

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Tabela 8 – Resultados das Análises Físico-Químicas e Bacteriológicas.

PARÂMETRO UNID. P-01 P-02 P-03 P-04 P-05 P-06 P-07 P-08 P-09

Hora da Coleta h 10:30 11:10 12:00 12:45 13:30 14:00 15:25 15:45 16:10 Cloreto mg Cl- / L 6,8 314 264 18124 23022 411 34 22 26

Condutividade Esp. a 25ºC

µS / cm 44,6 1322 1204 45400 47200 2340 137,8 109,7 179,7

Cor Aparente mg Pt / L 95 102 52 22 7 192 59 73 69 Cor Real mg Pt / L 47 63 30 11 5 117 49 50 46

DBO ( 5d, 20ºC ) mg O2 / L <2 20 <2 <2 <2 8 <2 <2 2 Fósforo Total mg P / L <0,05 1,36 <0,05 <0,05 <0,05 2,0 <0,05 <0,05 0,13

Nitrogênio Amoniacal

mg N-NH3

/ L 0,15 13 0,32 0,06 <0,02 6,1 0,11 0,08 0,77

Nitrogênio Nitrato

mg N-NO3-

/ L 0,56 0,22 0,42 0,03 0,02 0,20 0,98 0,43 0,39

Nitrogênio Nitrito

mg N-NO2-

/ L <0,01 <0,01 0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 <0,01 0,01

Nitrogênio Kjeldahl

mg N-NKJ / L

0,5 16 <0,5 0,6 <0,5 10 0,8 0,6 1,3

Oxigênio Dissolvido

mg O2 / L 6,0 0,1 5,4 6,0 7,1 0,9 7,6 7,6 7,2

pH - 7,7 6,9 7,6 8,0 7,9 7,4 7,7 7,6 7,5

Resíduo Total mg /L 48 870 740 37150 37060 1170 88 90 90 Temperatura da

Amostra ºC 26,5 30,4 27,2 24,9 24,9 30,4 26,6 26,5 26,8

Temperatura do Ar

ºC 27,8 29,0 28,6 29 30,6 28,6 32 32 30

Turbidez NTU 17,3 47,7 18,3 8,38 4,20 28,7 21,3 19,7 19,7 Coliformes

Fecais NMP/100

mL 1,6x104 1,6x108 1,5x105 1,3x104 20 3,0x105 5x103 1,3x105 5x105

Coliformes Totais

NMP/100mL

1,6x104 1,6x108 2,2x105 1,3x104 700 1,3x106 2,2x104 1,6x105 1,7x106

Fonte: Monitoramento, 2002. OBS: * Coleta acompanhada por técnico do GEARH-UFES. NOTA: Métodos de Análises Baseados no "STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTEWATER".

Os valores sombreados se apresentam fora dos limites preconizados pela Resolução CONAMA 20/86, para águas Classe 2. Cabe observar que os pontos 04 e 05 apresentam águas salinas. O Ponto 04 se situa na praia, 50 metros ao Norte da foz do rio Jucu, e apresenta os parâmetros Coliformes Fecais e Totais acima dos limites para águas Classe 5 da mesma Resolução. Segundo o Artigo 26 da Resolução, as águas para o ponto P04 se encontravam impróprias para banho. O ponto 05, situado 300 metros ao Norte da mesma foz, apresentou todos os parâmetros dentro dos limites para águas salinas Classe 5.

Os pontos 02 e 06, no canal Garanhuns e no Córrego do Congo, respectivamente, apresentaram as piores condições monitoradas, com parâmetros Oxigênio Dissolvido, D.B.O., Cloretos, Fósforo Total, Coliformes Fecais e Totais, fora dos limites para águas Classe 2 da Resolução CONAMA 20/86.

A Figura 9 mostra o canal Garanhuns, a partir da ponte da Rodovia do Sol e a Figura 10 mostra a afluência das águas do canal Garanhuns ao rio Jucu, na ponte da Rodovia do Sol.

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Figura 9: Canal Garanhuns, visto a partir da ponte da Rodovia do Sol.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

Figura 10: Afluência das águas do canal Garanhuns ao rio Jucu, na ponte da Rodovia do Sol.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

O rio Jucu a montante da afluência do córrego Garanhuns, Ponto 01, apresentou os parâmetros Cor Aparente e Coliformes Fecais e Totais acima dos respectivos limites para a mesma Classe.

Os resultados do monitoramento permitiram claramente a observação da grande variação espacial dos parâmetros. Se tratando de um estuário, esta variação era esperada, concluindo-se que :

• O rio Jucu chegou à Reserva de Jacarenema com índices de coliformes superiores aos limites preconizados pela Resolução CONAMA 20/86, para águas Classe 2, demonstrando impactos do lançamento de esgotos sanitários em sua bacia hidrográfica, apesar da sua significativa vazão média de longo termo (estimada neste estudo em aproximadamente 30 m3/s) e alta capacidade de autodepuração. Excetuando-se estes parâmetros e Cor Aparente, os demais parâmetros monitorados no rio Jucu, a montante da afluência do córrego Garanhuns, se apresentaram dentro dos respectivos limites.

• O canal Garanhuns e o córrego do Congo apresentaram péssimas condições de qualidade de água devido, principalmente, à carga de esgotos sanitários que recebem nas respectivas bacias hidrográficas, que apresentam áreas de drenagem, vazões e capacidades de autodepuração muito pequenas, se comparadas com as do rio Jucu.

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• As águas monitoradas no canal Garanhuns e córrego do Congo se apresentaram impróprias para banho e para a quase totalidade dos usos.

• O perfil do lençol freático observado na Reserva Ecológica indica que as águas subterrâneas situadas na margem direita do rio Jucu se movem geralmente para a calha deste rio, enquanto que as situadas na margem esquerda se dividem, se dirigindo para a calha ou para o mar.

• O ponto monitorado na praia, 50 metros ao Norte da foz, se apresentou impróprio para banho, para condições de maré vazante, mostrando a influência do lançamento de esgotos na bacia do rio Jucu sobre a qualidade da água costeira próxima.

• As condições qualitativas na região da foz do rio Jucu apresentam grande variabilidade, dependendo principalmente das vazões do curso d’água, das condições de correntes oceânicas e das marés.

• Nas condições de maré de sizígia, ocorridas no monitoramento, não foi observada penetração da cunha salina na calha do rio Jucu. Esta penetração poderá ocorrer para diferentes condições de vento, vazões do rio Jucu e maré. Contudo, as condições monitoradas, maré vazante em período de sizígia, em termos de condições qualitativas se apresentam entre as mais críticas possíveis n que concerne à influência de ações antrópicas sobre a qualidade de água.

6.1 ÍNDICE DE QUALIDADE DE ÁGUA

O índice de qualidade de água(IQA) comumente utilizado no Brasil e no Estado do Espírito Santo, inclusive em monitoramentos realizados pela SEAMA, foi criado pela National Sanitation Foundation (NSF-EUA), tendo sido adaptado no Brasil pela CETESB.

Este índice serve para verificar a propriedade da água para o abastecimento público após submetida a tratamento convencional. Pelo fato da área monitorada ser localizada muito próxima ao mar, suas águas são altamente influenciadas pela penetração da cunha salina. Este fato e os resultados do monitoramento constataram a presença de água salobra dentro do estuário. Desta forma, pode ser concluído que as águas dos pontos monitorados não se adequam ao abastecimento, mesmo após tratamento. Cabe observar que a estação de captação de água para abastecimento de parcela da população da Grande Vitória, operada pela CESAN, situada no rio Jucu, bem a montante da Reserva de Jacarenema, é dotada de uma barragem que apresenta como uma das suas principais finalidades evitar penetração de água salobra/salina na rede. Isto indica, sem necessidade de cálculo do IQA, que as águas situadas na Reserva não se adequam à implantação de sistemas de captação.

6.2 CONCLUSÕES RELATIVAS À QUALIDADE DE ÁGUA

O rio Jucu chegou à Reserva de Jacarenema com índices de coliformes superiores aos limites preconizados pela Resolução CONAMA 20/86, para águas Classe 2, demonstrando impactos do lançamento de esgotos sanitários em sua bacia hidrográfica, apesar da sua significativa vazão média de longo termo (estimada neste estudo em aproximadamente 30 m3/s) e alta capacidade de autodepuração. Excetuando-se estes parâmetros e Cor Aparente, os demais parâmetros monitorados no rio Jucu, a montante da afluência do córrego Garanhuns, se apresentaram dentro dos respectivos limites.

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A Figura 11 mostra o trecho do rio Jucu situado a jusante da ponte da Rodovia do Sol, apresentando sinais de eutrofização, causados por lançamentos de esgotos sanitários em sua bacia hidrográfica.

Figura 11: Vista de trecho do rio Jucu a jusante da ponte da Rodovia do Sol.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

As Figuras 12 e 13 mostram, respectivamente, a ponte da Madalena, em seu trecho da margem direita e o rio Jucu, em trecho a jusante da ponte da Madalena.

Figura 12: Ponte da Madalena (trecho a direita da ilha).

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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Figura 13: Rio Jucu, a jusante da ponte da Madalena. Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

As Figuras 14 e 15 mostram, respectivamente, o rio Jucu, em trecho a montante da

ponte da Madalena e em trecho a jusante da ponte da Madalena.

Figura 14: Rio Jucu, a montante da ponte da Madalena.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

Figura 15: Rio Jucu, a jusante da ponte da Madalena.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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O canal Garanhuns e o córrego do Congo, que recebe os esgotos sanitários da Barra do Jucu, apresentaram péssimas condições de qualidade de água devido, principalmente, à carga de esgotos sanitários que recebem nas respectivas bacias hidrográficas, que apresentam áreas de drenagem, vazões e capacidades de autodepuração muito pequenas, se comparadas com as do rio Jucu. As águas monitoradas no canal Garanhuns e córrego do Congo se apresentaram impróprias para banho e para a quase totalidade dos usos.

A Figura 16 mostra um dos diversos pontos de lançamento de esgotos no córrego do Congo, enquanto a Figura 17 mostra parte da localidade da Barra do Jucu, cujos esgotos sanitários em grande parte se dirigem para o córrego do Congo.

Figura 16: Lançamento de esgotos no córrego do Congo.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

Figura 17: Vista de parte da localidade da Barra do Jucu.

Fonte: Levantamento fotográfico, 2002.

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O perfil do lençol freático observado na Reserva Ecológica indica que as águas subterrâneas situadas na margem direita do rio Jucu se movem geralmente para a calha deste rio, enquanto que as situadas na margem esquerda se dividem, se dirigindo para a calha ou para o mar.

O ponto monitorado na praia, 50 metros ao Norte da foz, se apresentou impróprio para banho, para condições de maré vazante, mostrando a influência do lançamento de esgotos na bacia do rio Jucu sobre a qualidade da água costeira próxima.

As condições qualitativas na região da foz do rio Jucu apresentam grande variabilidade, dependendo principalmente das vazões do curso d’água, das condições de correntes oceânicas e das marés.

Nas condições de maré de sizígia, ocorridas no monitoramento, não foi observada penetração da cunha salina na calha do rio Jucu. Esta penetração poderá ocorrer para diferentes condições de vento, vazões do rio Jucu e maré. Contudo, as condições monitoradas, maré vazante em período de sizígia, em termos de condições qualitativas se apresentam entre as mais críticas possíveis no que concerne à influência de ações antrópicas sobre a qualidade de água.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Corbitt, R.A. 1990. Standard Handbook of Environmental Engineering. Mc.Graw-Hill Publishing Company, New York, , 628 p.

Gastaldini, M.doC.C. & Mendonça, A.S.F. 2001. Conceitos para Avaliaçào da Qualidade de Água: Hidrologia Aplicada à Gestão de Pequenas Bacias Hidrográficas. FINEP-ABRH, cap.15, p. 429-453.

Legislação CONAMA 20/1986, Conselho Nacional do Meio Ambiente, 1986.

Mendonça, A.S.F. 2001. Balanço Hídrico: Hidrologia Aplicada à Gestão de Pequenas Bacias Hidrográficas. FINEP-ABRH, cap.6, p. 165-169.