hibridismo e identidade cultural musical: uma anÁlise …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS RICARDO FERNANDES MAIA JUNIOR HIBRIDISMO E IDENTIDADE CULTURAL MUSICAL: UMA ANÁLISE DOS VIDEOCLIPES DA BANDA MAFIOTA JOÃO PESSOA 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES PÚBLICAS

RICARDO FERNANDES MAIA JUNIOR

HIBRIDISMO E IDENTIDADE CULTURAL MUSICAL: UMA ANÁLISE DOS

VIDEOCLIPES DA BANDA MAFIOTA

JOÃO PESSOA

2018

RICARDO FERNANDES MAIA JUNIOR

HIBRIDISMO E IDENTIDADE CULTURAL MUSICAL: UMA ANÁLISE DOS

VIDEOCLIPES DA BANDA MAFIOTA

Artigo científico apresentado ao Centro de

Comunicação, Turismo e Artes, da Universidade

Federal da Paraíba, como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel(a) em Relações

Públicas.

Orientadora: Prof. Me. Andréa Karinne Albuquerque

Maia

JOÃO PESSOA

2018

AGRADECIMENTOS

A realização desse trabalho se deve ao grande apoio recebido durante todo o curso de

Bacharelado em Relações Públicas. Um curso com objetivos promissores, uma área de

conhecimento importante para o contexto atual brasileiro, assim como, o contexto mundial,

quando se refere ao ramo da Comunicação, existem diversos tipos de profissionais envolvidos

nessa grande área de estudo e mercado, no caso da graduação em Relações Públicas, é

possível gerir a comunicação, produzir e executar eventos, atuar na área publicitária, na área

de produção audiovisual, assim como várias outras especialidades.

Agradecimentos especiais aos meus pais, Ricardo Fernandes Maia e Sigrid Falconi de

Carvalho Maia. Aos amigos de curso, Anna Raquel Lemos, Ilza Helena Freitas, Bruna

Helayne Pessoa, Andressa Maria Cunha, Nádia Castro, Mariana Rolim, Andressa Rego, por

terem me dado suporte e apoio durante todas as atividades da graduação, assim como, apoio

na realização de atividades externas.

Aos professores do curso, Andréa Karinne Maia, Fellipe Brasileiro, Gabriela Gadelha,

André Luiz França, Joelma Oliveira, Maria Lívia Pacheco, Severino Alves, Filipe Barros, Ana

Priscila Gesteira, Gustavo Freire, Júlio Afonso Pinho, Gislene Pereira, que dedicaram seu

tempo aos ensinamentos das disciplinas, pesquisas e suporte extra-classe, apresentando uma

dedicação e comprometimento expressivos. E uma lembrança marcante dos professores de

Cinema e Audiovisual, Artur Maia, Rodrigo Quirino e Matheus Andrade, que

disponibilizaram materiais essenciais para o desenvolvimento do artigo.

Um agradecimento ao Centro de Comunicação, Turismo e Artes, por toda a estrutura

que foi disponibilizada para as turmas de Relações Públicas, o estúdio de áudio, estúdio de

TV, salas de aula confortáveis, bem equipadas e com suporte para o desenvolvimento das

atividades do curso, apresentações e exibições de trabalhos.

Em relação à Banda Mafiota, os agradecimentos se fazem presentes desde o começo

da produção do artigo, por aceitarem a proposta, se disponibilizarem para ceder as

informações para o desenvolvimento da pesquisa, assim como, a amizade que se desenvolveu

nesse período e todo o apoio de Diógenes Ferraz, para a conclusão deste trabalho.

SUMÁRIO

RESUMO ............................................................................................................................. 6

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................................... 9

2.1 Cultura e Identidades.......................................................................................................10

2.2 Análise da Imagem............................................................................................................12

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................... 15

3.1 Estudo de Caso: Banda Mafiota......................................................................................15

3.2 Metodologia.......................................................................................................................15

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................................................... 16

4.1 Devassa...............................................................................................................................17

4.2 Rua da Areia......................................................................................................................19

4.3 Avenida..............................................................................................................................22

4.4 Cocada Preta.....................................................................................................................24

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 26

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 27

5

HIBRIDISMO E IDENTIDADE CULTURAL MUSICAL: UMA ANÁLISE DOS

VIDEOCLIPES DA BANDA MAFIOTA

RESUMO

O presente artigo relata um estudo de caso sobre a identidade cultural da banda Mafiota, com

base na teoria das Culturas Híbridas, de Canclini, da Identidade Cultural Pós-Moderna, de

Stuart Hall, bem como, Introdução à Análise da Imagem, de Martine Joly. Produzindo uma

análise de quatro videoclipes, visando compreender as referências culturais que formam a

identidade do grupo. Para essa análise, foi utilizada a pesquisa participante, que se baseia em

uma interação entre pesquisador e sujeitos pesquisados. Foram coletadas informações sobre o

histórico, experiências e rotina dos integrantes. Os quatro videoclipes analisados são:

Devassa, Rua da Areia, Avenida e Cocada Preta, músicas autorais do grupo, que compõem

seu repertório. Constatou-se que a banda valoriza e menciona símbolos e estilos musicais

regionais, do nordeste brasileiro, o grupo revela alguns traços de sua identidade através dos

videoclipes, como a utilização de ritmos musicais derivados do frevo, brega, pop rock, rock e

samba. É nessa mistura de estilos, que se percebe a identidade cultural híbrida da banda.

Palavras-chave: Mafiota; Identidade Cultural; Culturas Híbridas; Videoclipes; Música.

ABSTRACT

This article reports a case study on the cultural identity of the Mafiota band, based on the

theory of Hybrid Cultures, Canclini, the post-modern Cultural identity, Stuart Hall, as well as,

introduction to Image Analysis, Martine Joly. Producing an analysis of four video clips, in

order to find out the cultural references and mentions the identity of the group. For this

analysis, we used the research participant, that is based on an interaction between researcher

and subjects searched. We collected information on the history, experience and routine of the

members. The four music videos analyzed are: Devassa, Rua da Areia, Avenida and Cocada

Preta, the music group, that make up your repertoire. It was noted that the band appreciates

and mentions symbols and regional music styles, from northeastern Brazil, the group reveals

some traces of your identity through music videos, such as the use of musical rhythms derived

from frevo, cheesy, pop rock, rock and samba. It is this mixture of style, which if you know

the band's hybrid cultural identity.

Key words: Mafiota; Cultural Identity; Hybrid Cultures; Video clips; Music.

1 INTRODUÇÃO

Cultura é uma dimensão essencial da sociedade, a partir dela pode-se construir a

identidade de um país, estado ou cidade, as características presentes nas tradições, símbolos,

histórias, vestimentas, comidas, modo de falar e manifestações artísticas têm relação direta

6

com a construção da identidade de um local, são essas peculiaridades que vão dar o

embasamento para mostrar como determinada localidade se comporta.

O Hibridismo Cultural se faz presente na Paraíba e nas bandas de João Pessoa, que se

utilizam dessa atmosfera de música da cidade para mesclar estilos e desenvolver músicas

inéditas, ritmos não usuais e uma mistura com os ritmos já usados nas décadas passadas,

como nos anos 1990 e 2000. É dessa forma que surge um mercado de música autoral na

cidade e se expande para a região Nordeste e posteriormente para todo o Brasil, com bandas

nordestinas e paraibanas.

A questão da identidade tem total relação com a cultura, mais especificamente com o

contexto cultural em que se vive, quais influências estão ligadas a esse cenário, quais fatores

culturais estão presentes, qual a bagagem histórica vivida, todas essas questões são pertinentes

na análise da identidade.

As identidades culturais estão ligadas às relações sociais, patrimônios simbólicos,

valores, representações. Elas não são imutáveis, pelo contrário, estão em constante

modificação, sofrendo influências diversas, do contexto em que estão inseridas, Mafiota é um

exemplo claro disso, por possuir uma identidade cultural fluída, trabalhando suas

composições com estilos variados e inspirações diversas.

A análise da imagem vai nortear como compreender os significados de uma mensagem

visual, de um videoclipe. A partir dela pode-se realizar uma pesquisa em busca do que

transmitem essas imagens presentes no videoclipe, quais interpretações podem surgir a partir

da letra da música e dos enquadramentos utilizados.

Analisar a imagem e seus significados está diretamente ligado com a compreensão do

que se trata esse formato de mídia. O videoclipe é um filme curto, de curta-metragem, que

serve para representar e promover uma música de um cantor ou de um grupo musical, ou

mesmo para mostrar as performances de um artista. Conceituar videoclipe é compreender

quais as peculiaridades desse formato de representação artística e como se comporta essa

plataforma e quais critérios serão utilizados na análise, quais elementos serão analisados e

qual a relação deles com a identidade da banda.

Outra questão importante para desenvolver um videoclipe são os enquadramentos, os

planos que serão aplicados para produzir a narrativa e o enredo, quais significados podem ser

produzidos através dessa técnica e como se comporta esse aspecto na análise da imagem.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Cultura e Identidades

7

A cultura compreende os aspectos que determinam a identidade de um indivíduo, de

grupos e de sociedades como valores, percepções, imagens, formas de expressão,

comunicação (BARROS, 2008).

O conceito de identidade vem das noções, das relações e dos entendimentos que uma

pessoa possui sobre si mesma, bem como, com o seu convívio social, nacionalidade e a

cultura em que está inserida. As manifestações culturais no Brasil são diversas,

principalmente no cenário musical, onde há uma pluralidade de estilos, instrumentos e uma

língua bastante complexa, como a portuguesa, que rende milhares de possibilidades para

criação de letra musicais, poesias, contos, histórias e livros.

A banda optou pela valorização da cultura regional nordestina, adotando muitas

referências culturais em suas músicas, tanto do estado da Paraíba quanto de outros estados do

Nordeste, como Pernambuco, quando cita o Frevo em uma de suas músicas, já que utiliza

bastante ritmos carnavalescos e participa da folia de rua1, fazendo apresentações pela cidade,

nos blocos Muriçocas do Miramar e As Raparigas de Chico.

Identidade pode se caracterizar utilizando apenas um verbo e um sentido próprio dado

a ele, que seria pertencer, a qual cultura pertence um determinado indivíduo, qual contexto

cultural ele está inserido, como é possível caracterizar a sua vivência cotidiana e quais traços

culturais pode-se perceber em sua rotina, quais são os símbolos de sua cultura. O

pertencimento vem da experiência humana, como se pode compreender o local e origem de

uma pessoa sem utilizar esse conceito, que diz exatamente quais foram as acontecimentos

vividos por essa pessoa (BAUMAN, 2004).

O mundo é formado por diversas identidades, cada sujeito assume diferentes facetas, a

globalização amplia as formas de interação entre as culturas, possibilitando assim uma

existência multicultural, a diversidade cultural. O sujeito pós-moderno é caracterizado pela

descentralização e fragmentação de identidades, tornando-as mutáveis, sujeitas às

transformações temporais (HALL, 2005).

É perceptível que o processo de construção de identidade é contínuo e ela está em

constantes mudanças, sofrendo influências diversas, Mafiota experimenta desse sentimento,

observando que tem uma identidade peculiar, construída ao longo de vários anos, possuindo

toda uma simbologia, e não é um conceito fixo, é uma construção contínua, vivenciando as

modificações com o tempo, vivendo contextos culturais diversos. Identidades culturais

compreendem um conjunto de manifestações, de representações, como as relações sociais,

1 Folia de Rua é como é chamado o carnaval em João Pessoa, representado pelos blocos da cidade, como o Cafuçu, As Muriçocas do Miramar e As Raparigas de Chico.

8

símbolos, marcas culturais, valores, tradições relativas ao contexto social em que se está

inserido.

Relações sociais e patrimônios simbólicos, que são historicamente compartilhados e

estabelecem uma comunhão de determinados valores entre membros de uma sociedade. Esse

conceito tem um trânsito intenso e uma grande complexidade, podemos compreender a

formação de uma identidade em manifestações que podem envolver um número amplo de

situações, como uma participação em um evento, por exemplo (SOUSA, 2018, Online).

As identidades culturais em meio a um mundo globalizado já não são mais conceitos

imutáveis, que não se modificam ao longo tempo, pelo contrário, elas podem sofrer constantes

modificações e reformulações de acordo com o contexto em questão. Mafiota é um exemplo

disso, a banda não possui uma identidade fixa, que não se altera ao longo do tempo, a banda

tem uma identidade bastante complexa que foi se moldando e se modificando de acordo com

o contexto vivido por seus integrantes.

Cultura é um processo que sofre constantes transformações, as culturas híbridas são o

rompimento das barreiras entre tradicional e o moderno, entre o culto, o popular e o massivo.

Elas consistem na miscigenação entre culturas diferentes, onde existe uma heterogeneidade

cultural que está presente no cotidiano do mundo moderno (CANCLINI, 1990). A identidade

cultural é representada por diversos fatores, influenciados diretamente pela cultura local em

questão, como as relações sociais, símbolos, marcas culturais, valores, tradições. Tudo isso

gira em torno do contexto social e cultural em que se está inserido o ser humano.

As influências vividas nos ambientes sociais são fortes na construção e transformação

das identidades culturais no mundo moderno, tanto que se fazem presentes no dia a dia de

cada indivíduo, nos mais simples costumes, hábitos e diálogos. A cultura se faz presente no

cotidiano de uma sociedade, de forma que interferem de diversas formas na vida das pessoas,

como por exemplo, nas influências musicais, na literatura, nas artes, na fotografia e no modo

de pensar.

2.2 Análise da Imagem

Desde a infância aprendemos a ler e interpretar as imagens, ao mesmo tempo em que

aprendemos a falar e descobrir as palavras. Comumente, imagens fazem parte do processo de

aprendizagem, dando suporte ao aprendizado, as interpretações do mundo e ao conhecimento

da linguagem, é possível começar a analisar e interpretar imagens a partir de uma certa idade,

quando já se é iniciado na leitura, pois sem ela não seria possível a leitura das imagens

(JOLY, 1994).

9

Entende-se por áudio-visão, em Portugal, como sendo a disposição simultânea dos

espectadores em ouvir/ver algo, integrando os sentidos humanos e entendendo as dinâmicas

de empréstimos e combinações possíveis nos atos de observação que envolvem fenômenos

dotados de imagem e som (SOARES, 2013).

A compreensão dos significados das imagens demanda tempo e um repertório para

guiar quem está analisando, ou seja, é preciso saber de alguns tipos de significações, através

de pesquisa e aprofundamento, para só assim, compreender e analisar tais imagens e

referências audiovisuais. As leituras e interpretações de uma mesma imagem podem ser

várias, implicando em diversos significados, as mensagens visuais possuem um vasto campo

de significações (JOLY, 1994)

O trabalho do analista é decifrar as significações que a aparente naturalidade das

mensagens visuais provoca. Naturalidade esta, que paradoxalmente, é vista como suspeita

pelas mesmas pessoas que a acham evidente quando pensam estar sendo manipulados pela

imagem (JOLY, 1994)

É importante compreender a complexidade do audiovisual, para abordar a temática dos

videoclipes. A experiência audiovisual proporcionada aos expectadores provoca uma série de

sensações e impressões, extremamente ligadas aos sentidos humanos, o que mostra que é

possível trazer um produto audiovisual, estimulando dois sentidos principais, a audição e a

visão, unindo-os numa sensação de imersão dentro de uma atmosfera visual e auditiva. Por

isso, é preciso trazer o conceito de áudio-visão à tona.

A capacidade humana de processar e compreender experiências é essencial, assim

como modelar linguagens e toda a amplitude das codificações das formas culturais. O homem

entra como foco desses processos porque é capaz de entender como funciona essa lógica,

imergir nessas experimentações, captar esses fenômenos, que são os códigos culturais e os

processos de interpretações das linguagens (SOARES, 2013).

É importante a análise das características principais da canção, porque é a partir dela

que se chama a atenção do público, onde se desenrola a questão do consumo, sendo assim, o

videoclipe é uma estratégia essencial para promover a canção e o álbum fonográfico

(SHUKER, 1999).

Os enquadramentos de uma produção cinematográfica são essenciais para a construção

do enredo, dos significados, da continuidade e dos processos narrativos. A escolha fotográfica

para os personagens também é importante, por estar diretamente ligada com a produção de

significados relativos aos enquadramentos. Os planos escolhidos fazem total diferença na

compreensão e representação, por carregarem diferentes significações.

10

A noção dos enquadramentos é a mais importante preocupação da linguagem

cinematográfica. Enquadrar é decidir exatamente o que faz parte do filme em cada momento

de sua realização. Também é determinar a maneira como o espectador perceberá e como ele

irá compreender o mundo que está sendo criado pelo filme. (GERBASE, 2012, Online).

Os enquadramentos no cinema e no audiovisual são um fator fundamental, tanto na

construção de significados, quanto na qualidade visual da produção. Os principais planos

utilizados são o Plano Geral, Plano Médio, Primeiríssimo Plano, Plano Detalhe, Plano

Americano, Plano Plongée e Plano Contra-Plongée. As escolhas fotográficas compreendem

um conjunto de significados, que se interligam e se complementam, na construção do enredo,

da narrativa e da continuidade do videoclipe (GERBASE, 2012, Online)

O Plano Geral é um enquadramento com um ângulo de visão bem aberto, a câmera

mostra o cenário a sua frente, a figura humana ocupa um pequeno espaço na tela e é utilizado

tanto para exteriores quanto para interiores de grandes proporções. O Plano Médio se

caracteriza por posicionar a câmera a uma distância média do objeto/assunto, de forma que

este ocupa uma parte considerável do cenário, mas ainda possui bastante espaço ao seu redor.

O Primeiríssimo Plano é usado quando se enquadra a figura humana dos ombros para cima,

focando no rosto (GERBASE, 2012, Online).

Plano Detalhe é caracterizado por enquadrar uma parte do rosto ou corpo de uma

pessoa (mão, olho, boca), assim como, pequenos objetos (caneta, óculos, copo). O Plano

Americano se configura por enquadrar a figura humana do joelho para cima. Plongée é uma

palavra francesa, que significa “mergulho”, este plano posiciona a câmera acima do nível dos

olhos, voltando-se para baixo, também leva o nome de “câmera alta”. Contra-Plongée, que se

baseia no sentido de “contra-mergulho”, quando se posiciona a câmera abaixo do nível dos

olhos, voltando ela para cima, também se chama de “câmera-baixa” (GERBASE, 2012,

Online).

A interpretação das imagens e o seu aperfeiçoamento ao longo da vida é essencial,

para que se construa uma bagagem cultural, incluindo significados diversos, repertório

cultural e experiências vividas através do audiovisual, tudo isso vai auxiliar na compreensão

de novos produtos audiovisuais, e consequentemente, na análise dessas produções.

O entendimento das relações produzidas entre o audiovisual e o seu público se faz

necessário, para estabelecer quais conceitos devem ser priorizados na análise e na exibição. A

atmosfera visual e auditiva exibida e experimentada desde o século passado, vem trazendo

revoluções na construção dos sentidos e significados, que podem se apresentar através da fala

11

das personagens, das vestes utilizadas pelas mesmas e, da mesma forma, pelos planos

utilizados pelo diretor de fotografia, que irão revelar uma série de impressões e interpretações.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Estudo de Caso: Banda Mafiota

Com mais de 10 anos de atuação na capital paraibana, o grupo surgiu em 2007, no

bairro de Mangabeira, localizado na Zona Sul da cidade. Em 2013 se tornaram conhecidos por

seu primeiro trabalho autoral, o EP Devassa (2013), definido como sendo a personificação de

um sentimento, estado que traduz vontade, paixão e desejo de ser.

A banda Mafiota foi formada em João Pessoa, Paraíba, Brasil. Esteve presente nas

prévias de carnaval de 2017 e 2018, no bloco Muriçocas do Miramar2, tocando um som

animado que contagia a todos. Mafiota faz parte do cenário musical paraibano, que tem

crescido e ganho cada vez mais espaço. A banda é composta atualmente por Diógenes Ferraz

(voz), Felipe Gomes (trompete e vocal de apoio), Téogenes Filho (trombone e vocal de

apoio), Geraldo Lima (bateria), Ucla Botelho Abrantes (guitarra e vocal de apoio) e Morgana

Morais (contrabaixo elétrico e vocal de apoio). Já participaram de alguns festivais, como o

Campus Festival, Music From Paraíba II (Música da Paraíba II), Grito Rock, todos sediados

em João Pessoa.

Nesse sentido, a realização anual do Grito Rock 3 , é um dos resultados desse

crescimento, que reuniu em João Pessoa 38 bandas, na edição de 2018. Trata-se de um

festival de rock com bandas da cidade, como Seu Pereira e Coletivo 401, Banda Vieira,

Banda-Fôrra, Flotilha em Alta-Terra, Flor de Pedra4, incluindo Mafiota que se apresentou em

2017, esse evento contribui a cada ano para o desenvolvimento do cenário local.

Existe uma busca constante por parte das bandas paraibanas de ocupar cada vez mais

espaços, levar a cultura e a música do cenário alternativo para diversos lugares da cidade,

assim como o público apoiador também faz, incentivando de forma constante o

desenvolvimento da cena na capital, já que esse tipo de música não é apreciado pela maioria

da população.

Em meio a um contexto em que esse estilo de música está se desenvolvendo e

crescendo constantemente, é necessário analisar a contribuição da comunicação no

2 Muriçocas do Miramar é um bloco carnavalesco, que se apresenta em João Pessoa, Paraíba, fundado em 1986,

por moradores do bairro de Miramar, sendo na Praça das Muriçocas a sua concentração 3 Grito Rock é um festival que acontece anualmente, na Praça Antenor Navarro, Centro Histórico da Cidade,

estando em sua décima segunda edição. 4 São bandas paraibanas, nascidas em João Pessoa, que fazem parte do cenário alternativo, juntamente com

Mafiota.

12

fortalecimento da identidade da banda Mafiota, e como se comporta essa identidade

diversificada, repleta de símbolos, letras marcantes e videoclipes divertidos.

As bandas presentes no cenário musical pessoense enfrentam alguns desafios, como a

falta de apoio e incentivo aos músicos, mas mesmo diante dessa situação existem produtores,

além de instituições e casas de show que são importantes apoios para os grupos da cidade,

como a Usina Cultural Energisa5, Miragem6, General Store7, e Fundação Espaço Cultural

(Funesc).8

Existem eventos que também são apoiadores da cena musical paraibana, como o

Campus Festival, que já está na quinta edição, procura sempre trazer algum artista ou banda

local para fazer show. O Grito Rock também é outro festival importante que acontece na

cidade, apoiando sempre as bandas paraibanas e pessoenses, já está na décima primeira

edição, acontecendo sempre no Centro Histórico, que é um dos locais onde nasceu a cena

alternativa de João Pessoa.

Outros festivais que incentivam a música local são: da Funesc, o Projeto Cambada e o

Music From Paraíba, que trazem diversas bandas da cena musical paraibana, apoiando

diretamente a cultura e os artistas do estado. A Funesc realiza diversos festivais e shows

durante todo o ano, tendo um importante papel no estímulo à cultura. Mafiota se apresentou

no Projeto Cambada no ano de 2017, justamente quando completou 10 anos de carreira,

realizando um show especial, em comemoração ao seu aniversário e a sua presença no cenário

local.

O Natal na Usina é um projeto musical importante, produzido pela Usina Cultural

Energisa, que acontece todos os anos em dezembro, trazendo os artistas paraibanos com uma

programação durante todo o mês, grupos como Banda Vieira, Banda-Fôrra, Seu Pereira e

Coletivo 401, Berra Boi, Banda Som D’Luna, Banda Cabruêra e Val Donato, já tocaram nesse

festival. Mafiota esteve presente nos anos de 2016 e 2017, trazendo sua energia e empolgação.

3.2 Metodologia

5 Usina Cultural Energisa é um espaço destinado as artes e manifestações culturais, localizado no bairro de Tambiá, disponibilizado pela Energisa Paraíba, onde acontecem festivais de música, exposições e mostras. Um dos festivais mais famosos é o Natal na Usina, acontece anualmente no fim de ano, em dezembro. 6 Miragem é um espaço de apresentações musicais, teatrais e de dança, localizado em Miramar, incentivador da cultura paraibana e nordestina, promove shows e festivais, convidando artistas locais, da região. O festival mais conhecido é o Miragem Festival, sediado na própria casa de show. 7 General Store é um casa de shows e cultura, localizado no Centro de João Pessoa, onde mantém apresentações musicais e artísticas semanalmente, trazendo músicos locais e da região Nordeste, sendo palco de shows memoráveis para o cenário alternativo local. 8 A Funesc é uma organização apoiadora da cultura local, tanto da música, quanto do teatro e da dança, sediando importantes apresentações culturais, como o festival Music From Paraíba, festival no qual Mafiota participou, comemorando seus dez anos de carreira.

13

A abordagem adotada neste artigo é o qualitativo, devido à natureza da pesquisa ter

um caráter subjetivo, a coleta de dados narrativos para compreender os fenômenos, as

experiências vividas pela banda. Abordando o histórico de Mafiota, por onde ela já tocou,

quais festivais, quais as vivências do grupo.

Com relação ao nível de aprofundamento, o método utilizado é a pesquisa descritiva,

relatando as principais características da Mafiota e as suas principais experiências no cenário

alternativo de João Pessoa. Gerando assim uma resposta de como a comunicação fortaleceu a

identidade da banda.

O tipo de pesquisa referindo-se aos meios técnicos de investigação será a pesquisa

participante, na qual é possível interação com os membros da situação investigada.

A pesquisa participante, do mesmo modo que a pesquisa de ação, se caracteriza pela

interação entre os pesquisadores e os membros das situações investigadas, a importância dessa

modalidade é que os objetos estudados são sujeitos, os sujeitos de pesquisa, fornecedores de

dados, agentes de ação (GIL, 1991)

A população a ser pesquisada são os integrantes da banda Mafiota, Diógenes Ferraz,

Felipe Gomes, Téogenes Filho, Ucla Botelho Abrantes, Geraldo Lima e Morgana Morais.

Eles já possuem uma experiência no cenário musical paraibano, com vários anos de atuação,

desde o lançamento de seu EP Devassa, que foi em 2013, a banda já se apresentou diversas

vezes, marcando presença nas diferentes casas de show da cidade.

A perspectiva a ser estudada a cerca da população é como as referências culturais

citadas nas músicas se relacionam com a identidade da banda, analisar os videoclipes a partir

das vestes utilizadas como figurino, a letra das canções e os enquadramentos, quais

significados estes aspectos podem revelar.

Os instrumentos de coleta de dados serão, a observação participante e análise dos

videoclipes. A pesquisa bibliográfica será utilizada para analisar os videoclipes e

compreender as referências culturais, entender como a identidade cultural é abordada, os

locais onde ela já se apresentou, festivais que participou.

A observação participante será utilizada a partir das experiências proporcionadas pelo

grupo, ou seja, os seus shows, onde é possível observar a rotina dos integrantes da banda,

como são realizadas as suas apresentações diante do público, como é a integração da banda,

perceber como o público reage, como ele se comporta no momento da apresentação.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

O lançamento do primeiro trabalho foi em 2013, o EP Devassa, com 6 músicas:

Esfinge, Noite e Dia, Frida, Já Sinto, Devassa e Avenida. Foi a partir desse lançamento que a

14

banda foi apresentada de fato ao cenário musical paraibano e então começou a se apresentar

com maior frequência. Através desse trabalho o grupo começou a participar de shows e

festivais importantes para sua trajetória, como o Web FestValda 2016, o maior festival de

música independente do Brasil, que foi realizado no Rio de Janeiro.

FERRAZ (2018) comenta em uma das reuniões, em João Pessoa, que o estilo da banda

se mistura com vários outros estilos, é difícil definir exatamente qual é a identidade de

Mafiota, pela questão das mudanças temporais, mudanças do cenário musical, mudanças

internas, dos integrantes do grupo, tudo isso influencia nas transformações (FERRAZ, 2018).

É possível perceber que a própria banda não tem uma definição clara de seu estilo, justamente

pela cultura híbrida em que está inserida.

Os videoclipes a serem analisados serão Devassa, Rua da Areia, Avenida e Cocada

Preta, por serem os clipes mais conhecidos e as músicas mais escutadas pelo público. Músicas

e vídeos de diversos períodos do grupo, com diversas simbologias e mensagens deixadas pela

banda para compor sua identidade.

Os elementos a serem analisados nos videoclipes serão as referências culturais

apresentadas em suas músicas e em seus videoclipes, começando a partir das vestimentas

utilizadas pelos integrantes da banda, pelos personagens, pelos figurantes e se essas vestes

fazem referência a alguma cultura, algum estilo musical, algum símbolo cultural e à

identidade do grupo, estabelecendo a ligação entre a identidade e a origem do figurino

utilizado, trazendo uma explicação sobre o estilo escolhido.

As letras das composições serão analisadas para identificar quais referências culturais

estão presentes, quais significados podemos estabelecer, entre os versos das músicas e o

cenário escolhido para o videoclipe, entre a música e as vestes utilizadas, entre os

enquadramentos e a letra.

Os enquadramentos de câmera serão analisados visando compreender os significados e

os destaques escolhidos para os videoclipes, os planos fotográficos utilizados na captação de

imagens, os elementos que mais chamam atenção a partir da captação de imagens. Quais os

principais elementos realçados e quais as suas relações com a música e o cenário.

4.1 Devassa (2013)

Tava numa fase meio quase inteiro Don juan

Daí aquela menina me apareceu

E eu fiquei

Ela me aconteceu Como um céu de fevereiro

Ela me apareceu

Como são joão do ano inteiro

15

Ela devassa o meu coração

Ela devassa a minha razão

Ela devassa

E tudo o que acontece ela se mete

E arrasa

Ela me deve essa cerveja Me deve aquele brega

Me deve essa conversa

Aquela dança

Ela me deve

É sacana

Ela não me engana

Devassa

Aquele abraço

Foi maior que a minha fuga Foi abrigo, eu não nego

Tanto aconchego

Eu quis ser mais que amigo

Me entreguei E não soube lidar com o amor

Embriaguei

Hoje eu não sei me por Sem teu abraço

Sem a tua cor

Teu olhar oblíquo e dissimulado

Hoje faz parte do meu passado Tô numa fase meio quase inteiro

Dom camurro

Tô numa fase meio quase inteiro Pierrot

A música Devassa faz parte do primeiro trabalho lançado pelo grupo, o EP Devassa,

que se caracteriza por falar de paixões e amores, sentimentos fortes, que demonstram na

musicalidade das composições, nos ritmos instrumentais e nas letras do EP, a banda faz uma

verdadeira fusão de diversos estilos, como o Rock, Pop Rock, Brega, Samba, MPB, essas

mistura de influências torna as músicas diversificadas em vários sentidos, musicalmente,

culturalmente e visualmente com as imagens do videoclipe, trazendo diversos significados.

O clipe da música Devassa mostra referências ao estilo brega, como as vestimentas e

acessórios característicos, a própria música já é uma grande referência, a melodia, a letra, os

instrumentos utilizados trazem bastante essa cultura local do brega. Mafiota é versátil,

compõe músicas com influências de estilos diversos e traz referências da cultura regional

nordestina.

Uma citação importante ao livro Dom Casmurro, de Machado de Assis (1997), no

trecho: “Teu olhar oblíquo e dissimulado”. Uma referência à literatura brasileira, revelando a

riqueza de obras produzidas no país, bem como, a importância da relação entre música e

literatura.

O videoclipe se destaca por vestes que representam o Brega, todos os músicos da

banda estão caracterizados nesse estilo, fato que possui total relação com a música, que é em

ritmo de Brega, existe um trecho da música que menciona o nome do estilo, reforçando ainda

mais essa ligação.

Com relação à letra da música, logo no início são mencionadas épocas do ano em que

ocorrem festividades culturalmente tradicionais no estado da Paraíba e no Brasil, é citado o

16

mês de fevereiro no trecho “Ela me aconteceu como um céu de fevereiro”, no qual ocorre o

carnaval em todo o Brasil, festa típica do país. Podemos também fazer uma relação com o

estilo musical de Mafiota, que lembra os ritmos carnavalescos, como a música Rua da Areia.

Em outro trecho, é citado o São João, que acontece nos meses de Junho e Julho,

trazendo as danças e músicas típicas, como o Forró, as quadrilhas de São João. O verso

destacado é “Ela me apareceu como um São João do ano inteiro”, que fala sobre uma moça,

suas características, como se comporta e como é essa relação com ela.

Em um momento da música, ocorre o seguinte verso: “Me deve aquele brega”, fato

que reforça a inclusão do Brega nas influências musicais da banda, mostrando que a música

Devassa, é um Brega realmente, do ponto de vista musical e da atmosfera visual do

videoclipe, que aborda cenário e vestes coerentes com o estilo.

Abordando o tema dos enquadramentos, podemos observar no início do videoclipe,

um plano americano, focando em Diógenes Ferraz, o vocalista, que está caracterizado de

acordo com a temática do Brega, cria-se logo de cara uma atmosfera visual interessante, por

causa das vestes escolhidas, mostrando que possui toda uma representação de um estilo.

Diógenes usa um chapéu, que também é um símbolo marcante no videoclipe e na cultura do

Brega.

Nos planos seguintes podemos perceber as roupas dos outros integrantes da banda, os

instrumentos, como o contra-baixo elétrico tocado por Ucla Abrantes, membro fixo da banda,

que aparece em plano contra-plongée, e mais a frente o grupo em um plano mais aberto. Em

um plano fechado o vocalista aparece cantando a composição, revelando a importância da

letra e do vocal para o grupo.

Em momentos seguintes do videoclipe são utilizados planos gerais mostrando a banda,

planos detalhes mostrando os instrumentos, bateria, guitarra, contra-baixo. Também é

utilizado um plano fechado, focado em Diógenes. Todos são utilizados com o objetivo de

criar uma dinamicidade para o videoclipe, reforçando a importância de todos os instrumentos

da banda, que também incluem trompete e trombone, resultando nesse som peculiar de

Mafiota.

4.2 Rua da Areia (2015)

Meu coração vagabundo

Passeia na Rua da Areia

Subindo e descendo a ladeira Eu faço bandeira

(Eu faço bandeira)

Pedro me falou

Que não há poesia

Na Rua da Areia

Eu disse: Heresia! Acho até que pulsa na veia

(Pulsa na veia)

Pedro não resistiu à tentação

17

Subiu e desceu a ladeira

No carnaval

Embriagou-se de folia

Empanturrou-se de paixão

E na Rua da Areia Não quer sair não

Coração vagabundo Passeia na Rua da Areia

Rua da Areia

Subindo e descendo a ladeira

Eu faço bandeira (Eu faço bandeira)

Pedro me falou Que não há poesia

Na Rua da Areia

Eu disse: Heresia! Acho até que pulsa na veia

(Pulsa na veia)

Pedro não resistiu à tentação Subiu e desceu a ladeira

No carnaval

Embriagou-se de folia

Empanturrou-se de paixão

E na Rua da Areia Não quer sair não

Rua da Areia

Vagabundo embriagado Dança frevo com pastor

Rua da Areia

Cafuçu cantando brega

A procura de amor

Rua da Areia

Casa da folia Rua da Areia

Pedro não resistiu à tentação

Subiu e desceu a ladeira No carnaval

Empanturrou-se de paixão Embriagou-se de folia

Hoje, a Rua da Areia

É sua moradia

Rua da Areia

Eletrista dançando arrocha

Seduzindo o carnaval Rua da Areia

Vai passando o estandarte Do sanatório geral

Rua da Areia

Casa da folia Rua da Areia

A música é um single9, lançado após o EP Devassa e bem representativo em relação ao

estilo da banda, por tocarem nas prévias carnavalescas da cidade e possuírem essa áurea do

carnaval, de animação, alegria, diversão, ritmos contagiantes, música dançante. O videoclipe

foi produzido em alguns pontos de João Pessoa e na própria Rua da Areia, no bairro do

Varadouro.

Mafiota é uma banda que utiliza referências culturais do estado da Paraíba, onde foi

criada, são utilizadas citações de símbolos regionais e até é citada uma rua da cidade de João

Pessoa, que dá nome a uma das músicas do grupo, Rua da Areia, que também ganhou um

videoclipe, a música mostra uma parte da cidade, o carnaval, as fantasias, a animação e a

tradição.

A roupa utilizada pelo ator Pedro Ivo representa a rotina de trabalho das pessoas na

cidade, trabalhos estressantes em escritórios, com muitas demandas, ligações, pilhas de papel

9 Lançamento individual de uma música.

18

para organizar, tarefas para concluir, isso demonstra o dia a dia dos trabalhadores. Porém, sem

generalizar, é uma representação que não se aplica a todos os casos, mas o fato de sair do

trabalho e querer relaxar é interessante, porque representa o lazer das pessoas, direito

garantido aos cidadãos brasileiros, algo que faz parte do cotidiano no país.

Os figurinos utilizados pelos figurantes são roupas divertidas, com temas

carnavalescos, dos mais variados estilos e combinações. A banda está em total clima de

descontração e animação, tocando a música nos embalos de uma festa na Rua da Areia, em

um local repleto de pessoas, bastante colorido.

A banda também se caracteriza, de certa forma, alinhada ao carnaval, utilizando

colares florais, chapéu, camisas floridas. Existem algumas cenas em que a banda toca num

bloco que percorre a rua, junto a várias pessoas, com bandeiras, bonecos gigantes, lembrando

os bonecos usados em Olinda, tambor, trompete e trombone, instrumentos característicos do

carnaval, dos blocos de rua e do som de Mafiota.

No quesito letra, a música traz diversas referências, como o próprio carnaval é citado,

no seguinte verso: “Pedro não resistiu à tentação, subiu e desceu a ladeira no carnaval”. A

canção e o videoclipe se passam no carnaval, então já estabelecem diretamente uma ligação

forte, as imagens ilustram bem a cultura do carnaval na cidade de João Pessoa, a presença dos

blocos de rua no Centro e Varadouro, que são locais que possuem uma grande tradição,

bairros onde a cidade começou a se formar.

Em outro verso da composição é citado o Frevo, ritmo originário do estado de

Pernambuco e que é um estilo sempre presente nos carnavais de todo o Brasil. O verso em

que ocorre a referência: “Vagabundo embriagado dança frevo”, revela que a cultura do ritmo

pernambucano também se faz presente nos carnavais paraibanos.

Os enquadramentos utilizados no começo do vídeo são os planos americanos e os

planos médios, nas cenas do escritório, onde aparece o ator. Dentro do local onde acontece o

show, são utilizados planos médios mostrando as pessoas dançando, a banda e o cenário e

dois planos fechados focados em uma pessoa fantasiada e em um casal.

É usado um plano aberto para mostrar a fachada do local onde a banda se apresenta no

clipe, revelando também um Fusca, carro bastante utilizado por pessoas na cidade de João

Pessoa, nos tempos antigos e até os dias atuais. Um plano fechado mostra a animação do ator

ao entrar no show. Os planos aberto também se fazem presentes nas cenas em que a banda

está puxando um bloco de rua, com as bandeiras e bonecos gigantes.

4.3 Avenida (2013)

19

Se tenho um amor

Tenho que esquecer Quando tô com desejo

Meu desejo é não ter

Por que você me olha assim?

Julgando meu cetim

(Não atira essa pedra em mim)

Quando és desespero

Eu sou tua terapia Quando queres tempero

Eu sou mais que poesia

Meu brilho por fora

É que nem máscara de carnaval Carnaval quando vai embora o tempo vem

E traz de volta o mal-me-quer

E o bem aceita de cabeça erguida

Desfilando na avenida

Eu vou com o passo acima Vou levando uma rima de luta

Minha luta

E lança tua ferida

Que eu já sou cicatriz Me come tua vida

Sou rua e prazer

E lança tua ferida Que eu já sou cicatriz

Me come tua vida

Sou nua e lazer

Sou tua e prazer Prazer

A canção faz parte do EP Devassa, sendo uma das mais tocadas em seus shows e

bastante comum no gosto do público. É uma das composições mais antigas da banda e

continua sendo cantada e aguardada pelos fãs do grupo, também é uma composição bem

representativa, o vocal característico de Diogénes, que é uma das marcas da banda, assim

como a dupla de metais, Téogenes (Trombone) e Felipe (Trompete), que é uma característica

forte no som deles.

O clipe foi gravado em estúdio, tendo sido editado e finalizado em preto e branco,

mostrando a complexidade do som de Mafiota, seus integrantes, seus ritmos variados e

mesclados através de diversos instrumentos e o vocal. A dupla de guitarra e contra-baixo,

Ucla e Morgana, trabalha em plena sintonia, criando melodias e levadas que se destacam na

música.

No caso de Avenida não são utilizadas vestimentas relativas a algum tema ou

caracterização dos músicos e personagens. Portanto, a análise será focada nos demais

quesitos, como letra e enquadramentos, que são fatores fundamentais para se identificar

características e referências relativas à identidade da banda.

Mafiota fala em suas letras sobre amor, paixão, términos, coisas rotineiras da vida,

compondo suas canções baseada no cotidiano, nos eventos que celebram a cultura local, como

o Carnaval e o São João. No primeiro verso da música: “Se tenho um amor, tenho que

esquecer”, revela as coisas que acontecem na vida das pessoas, reforçando o cotidiano dos

relacionamentos e seus desafios.

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Em outro momento da música é citado o Carnaval, no seguinte verso: “Meu brilho por

fora, é que nem máscara, de carnaval”. Esse evento sediado no mês de fevereiro é bem

representativo para a banda, porque leva o seu estilo musical, as suas influências nos ritmos

carnavalescos e a sua aparição em alguns blocos da cidade, mostrando a sua estreita relação

com a festividade. A questão da máscara citada no trecho pode revelar um sentimento de

tristeza, que é disfarçado pelo seu uso.

No verso: “Desfilando na avenida”, novamente retrata o Carnaval, que se apresenta na

forma de blocos de rua, com trios elétricos, desfilando pela avenida, em João Pessoa, a

principal avenida utilizada para a passagem dos blocos é a Epitácio Pessoa, na altura do bairro

de Miramar, que é onde fica localizada a concentração de um dos principais blocos de rua da

cidade, as Muriçocas do Miramar.

Os enquadramentos utilizados no início do vídeo são os planos médios, mostrando

toda a banda no estúdio. Em outros planos médios são mostrados os integrantes da banda,

isoladamente. A escolha visual que mais chama atenção é que foi utilizado um filtro preto e

branco, o que deixa o clipe mais impactante, passando uma impressão diferente, uma

sensação de atemporalidade.

Alguns planos fechados mais detalhados mostram Diógenes e os outros membros do

grupo, focando mais no vocalista combinando os versos da música com a performance dos

músicos. Outros planos fechados mostram os instrumentos, o que retoma o sentimento de

atemporalidade, devido ao filtro preto e branco aplicado no clipe.

4.4 Cocada Preta (2016)

Teu Black Power

Poder de envolver

Venena A tua raiz

Tua madeixa

Me deixa feliz Pra cantar

Cocada Preta

Doce bom de apreciar Cocada Preta

Doce bom de apreciar

Ralando côco

Saia rodada

Teu toque Ela fica suada

Danada

Bebendo cana

“Americanalhado”

Coração não tem a fama

Da baiana Mas a paraibana

Sabe amar

É revolução

Deixa a madeixa

Deixa a madeixa balançar

Deixa a madeixa Deixa a madeixa balançar (2x)

Teu Black Power Poder de envolver

Venena

A tua raiz Tua madeixa

Me deixa feliz

Pra cantar

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Cocada Preta

Doce bom de apreciar Cocada Preta

Doce bom de apreciar

Ó minha preta Se avexe

Venha simbora

Deixe de tanta demora Remancho pra me amar

Faz tanto tempo

Carente dos teus carinhos

Coração tá miudinho

Doido pra te encontrar

Deixa a madeixa

Deixa a madeixa balançar

Deixa a madeixa

Deixa a madeixa balançar (2x)

Chega, nega

Deixa a nega dançar Deixa a madeixa

Madeixa balançar (4x)

Gira, gira, gira, gira, gira

Composição que foi lançada como um single, através de um videoclipe em seu canal

no Youtube. A música possui um vocabulário bem regional, citando também algumas

referências de outras culturas. Tem um ritmo bem nordestino, musicalmente e no quesito

letra, mesclando Samba com o Pop Rock já característico de Mafiota.

Neste clipe não foram utilizados trajes temáticos ou vestes que representem um estilo

específico, como acontece em Devassa e Rua da Areia. É um videoclipe mais parecido com

Avenida e Esfinge, que se caracterizam por imagens gravadas, com a banda tocando suas

composições.

A primeira referência que aparece logo de cara na letra da música, é o Black Power

(Poder Negro), aparece logo no início, “Teu Black Power, poder de envolver”, foi um

movimento em prol da cultura e resistência negra, que ganhou maior ênfase nos anos 1960 e

1970, nos Estados Unidos. O nome da música faz referência a um doce artesanal bem

nordestino, que é a cocada, no seguinte verso aparece a referência, “Cocada preta, doce bom

de apreciar”.

O enquadramento principal do início do vídeo é o plano geral mostrando toda a banda,

logo após os primeiros segundos, onde se passa de um desfoque completo para um foco

normal, criando um efeito interessante de começo e logo em seguida aparecem os músicos

num plano geral.

Também são feitos alguns planos americanos e alguns primeiríssimos planos durante o

clipe, mostrando os músicos da banda, um enfoque maior em cada um deles, criando uma

atmosfera de sincronia da música com as imagens.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É perceptível a dedicação de Mafiota em referenciar a cultura local nordestina e

paraibana em suas músicas, fato este que foi comprovado a partir da análise de quatro de seus

videoclipes, Devassa, Avenida, Rua da Areia e Cocada Preta. Revelando assim a riqueza

22

cultural da região. A banda possui uma musicalidade que mescla estilos, e dessa forma sua

identidade se torna híbrida, se adaptando aos contextos vividos pelos integrantes do grupo e

recebendo influências do cenário em que está inserida.

A questão das culturas híbridas também pode ser aplicada ao contexto de Mafiota,

visto que, a banda possui uma identidade mutável e experimenta as mudanças temporais que

ocorrem ao longo de sua carreira, se adaptando ao contexto social e cultural vivido pelos

integrantes e aos desdobramentos do cenário musical paraibano, de modo que, se caracterizam

por esse estilo diversificado, se influenciando por ritmos nordestinos e paraibanos, como o

frevo e o brega.

A Banda faz parte de um cenário local bem diversificado, estando ao lado de várias

outras bandas, que algumas vezes fazem parcerias e participações em shows, festivais,

eventos culturais, enriquecendo e divulgando a cultura pessoense. Bandas como Seu Pereira e

Coletivo 401 foram importantes na carreira de Mafiota, porque começaram seus trabalhos em

épocas próximas, unindo os músicos para mostrar a força do cenário cultural paraibano.

O grupo revela alguns traços de sua identidade através dos videoclipes, como a

utilização de ritmos musicais derivados do frevo, brega, pop rock, rock e samba. É nessa

mistura de estilo, que se percebe a identidade cultural híbrida da banda, compondo e

dialogando com diversas influências musicais.

Com relação as vestimentas, o grupo se utilizou de dois estilos culturais para sua

caracterização, que foram o brega e frevo, com Devassa e Rua da Areia, respectivamente. Em

Devassa existe um alinhamento entre o videoclipe, as vestimentas e a música, trazendo as

referências do brega nordestino. Já em Rua da Areia, o grupo se vestiu de acordo com a

atmosfera do carnaval, revelando o frevo pernambucano, estilo bastante ligado aos eventos

carnavalescos.

A pesquisa na área de cultura necessita de um maior apoio e suporte, devido ao tema

ser de grande importância para o país, possuindo apoiadores de várias áreas, como música,

dança, teatro, cinema, fotografia, literatura e artes visuais. É um tema relevante na atualidade

e deve ser discutido com maior aprofundamento em pesquisas científicas, como os artigos

científicos, bem como, na prática do dia a dia, apoiando os artistas locais de sua cidade,

estado e região.

REFERÊNCIAS

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23

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MAFIOTA – Cocada Preta. Direção: Arlinda Aquino e Fabi Vêloso. Produção: Estúdio M,

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MAFIOTA - Devassa. Produção: Diógenes Ferraz, 2014. Youtube (2:53 min).

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SHUKER, Roy. Vocabulário de Música Pop. Edição 1. São Paulo: Brasil. Editora Hedra,

1999.

25

Catalogação na publicação Seção de Catalogação e

Classificação

J95h Junior, Ricardo Fernandes Maia.

Hibridismo e Identidade Cultural Musical: Uma Análise

dos Videoclipes da Banda Mafiota / Ricardo Fernandes

Maia Junior. - João Pessoa, 2018.

25 f.

Orientação: Andréa Karinne Albuquerque Maia.

Monografia (Graduação) - UFPB/CCTA.

1. Mafiota. 2. Identidade Cultural. 3. Culturas

Híbridas. 4. Videoclipes. 5. Música. I. Maia, Andréa

Karinne Albuquerque. II. Título.

UFPB/CCTA