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Aula 12 – Adeus à razão? História e Filosofia da História e Filosofia da Ciência Ciência Profa. Juliana Hidalgo Profa. Juliana Hidalgo DFTE-PPGECNM-UFRN DFTE-PPGECNM-UFRN

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Page 1: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Aula 12 – Adeus à razão?

História e Filosofia da CiênciaHistória e Filosofia da Ciência

Profa. Juliana HidalgoProfa. Juliana Hidalgo

DFTE-PPGECNM-UFRNDFTE-PPGECNM-UFRN

Page 2: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Objetivos Apresentar características do pensamento de:

Paul Feyerabend

Imre Lakatos Evidenciar semelhanças e diferenças entre essas

perspectivas teóricas no que diz respeito à “racionalidade” na ciência.

Page 3: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Retomando aulas anteriores

Método empírico-indutivista

Crítica à indução

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Retomando aulas anterioresKarl Popper – Refutacionismo

Desenvolvimento científico

Críticas: O cientista no seu cotidiano é mesmo um refutador?

Aspectos lógicos

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Retomando as aulas anteriores Thomas Kuhn – paradigma, ciência normal, Revolução Científica, comunidade científica, incomensurabilidadeDesenvolvimento científico: rupturas e ciência normal

Críticas: Paradigma? (ambíguo)Ciência normal? (Quem quer ser um cientista normal?)Mudança de paradigma (Irracionalidade?)Incomensurabilidade? (X continuísmo)

Aspectos sociológicos

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O anarquismo epistemológico

HC - Todas as regras metodológicas foram violadas em algum momento

Único princípio capaz de não inibir o progresso científico: tudo vale

Metodologia pluralista

Paul Feyerabend (1924-1994)

guerra, Popper, Londres, ...

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Anarquismo metodológico

Inviável interpretar o desenvolvimento científico à luz de um método fundamentado em princípios firmes e obrigatórios

Contra o método (1975)

Adeus à razão (1987)

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“É claro, portanto, que a idéia de um método estático ou de uma teoria estática de racionalidade funda-se em uma

concepção demasiado ingênua do homem e de sua circunstância social. Os que tomam do rico material da

história, sem a preocupação de empobrecê-lo para agradar a seus baixos instintos, a seu anseio de

segurança intelectual (que se manifesta como desejo de clareza, precisão, ‘objetividade’, ‘verdade’), esses vêem

claro que só há um princípio que pode ser defendido em todas as circunstâncias e em todos os estágios do

desenvolvimento humano. É o princípio: tudo vale.”(Feyerabend)

Anarquismo metodológico

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“Sem ‘caos’, não há conhecimento. Sem freqüente renúncia à razão, não há progresso. Idéias que

hoje constituem a base da ciência só existem porque houve coisas como o preconceito, a vaidade, a paixão; porque essas coisas se opõem à razão; e porque foi permitido que

tivessem trânsito. [...] Não há uma só regra que seja válida em todas as circunstâncias, nem

uma instância a que se possa apelar em todas as situações. [...] E, assim, o anarquismo não é

apenas possível, porém necessário [...]” (Feyerabend).

Anarquismo metodológico

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Dogmatismo/ Conservadorismo –prejudicial:

Teoria ideologia, mito

Abandonar, sem motivo, alternativas teóricas

Adotar teorias sem levar em dificuldades

“Unanimidade de opinião pode ser adequada para uma igreja, para as vítimas temerosas ou

ambiciosas de algum mito (antigo ou moderno) ou para os fracos e conformados seguidores de

algum tirano. A variedade de opiniões é necessária para o conhecimento [...]”

(Feyerabend).

Page 11: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Feyrabend X falsificacionismo

O confronto com a experiência não possibilita falsear uma teoria:

Evidências são contaminadas pela própria teoria

Não há fatos puros, observações neutras

“Fenômeno” = aparência + enunciado

Olhar direcionado por modelos Exemplo de Galileu

“Os fenômenos são o que os enunciados associados dizem que eles são”

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Segundo FeyerabendSegundo Feyerabend

Não podemos descartar, por qualquer pardrão, novas teorias que surgem

Novas teorias não devem ser consistentes com velhas teorias

Proliferação de teorias ébenéfica à ciência

Page 13: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Influente, mas radical ...Influente, mas radical ...

A FC A FC nãonão consegue consegue prover uma descrição geral da ciênciaprover uma descrição geral da ciência

... ... nãonão possibilita descobrir um método de possibilita descobrir um método de diferenciação entre produtos da ciência e diferenciação entre produtos da ciência e

entidades não científicas entidades não científicas

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Atividade 1Atividade 1““Os eventos, os procedimentos e os resultados que Os eventos, os procedimentos e os resultados que

constituem as ciências não têm uma estrutura comum. constituem as ciências não têm uma estrutura comum. Não há elementos que ocorram em toda investigação Não há elementos que ocorram em toda investigação

científica e estejam ausentes em outros lugares” científica e estejam ausentes em outros lugares” (Feyerabend)(Feyerabend)

1) a- A partir da citação anterior explique a expressão 1) a- A partir da citação anterior explique a expressão “anarquismo metodológico”.“anarquismo metodológico”.

b- De que modo as visões empirista, kuhniana e popperiana b- De que modo as visões empirista, kuhniana e popperiana podem ser confrontadas com essa proposta?podem ser confrontadas com essa proposta?

2) a- As visões empirista, kuhniana e popperiana se 2) a- As visões empirista, kuhniana e popperiana se relacionam a critérios de demarcação entre ciência e não relacionam a critérios de demarcação entre ciência e não ciência. Explique de que modo isso ocorre nessas ciência. Explique de que modo isso ocorre nessas propostas.propostas.

b- A partir da citação anterior, comente sobre a demarcação b- A partir da citação anterior, comente sobre a demarcação entre ciência e não ciência segundo Feyerabend.entre ciência e não ciência segundo Feyerabend.

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Enfatiza o papel da “propaganda” na ciênciaEnfatiza o papel da “propaganda” na ciência

Exemplo de Galileu, teoria copernicanaExemplo de Galileu, teoria copernicanaAspectos “não racionais” no desenvolvimento da ciênciaAspectos “não racionais” no desenvolvimento da ciência

“[...] a adesão às novas idéias terá de ser conseguida por meios outros que não argumentos. Terá de ser

conseguida por meios irracionais, como a propaganda, a emoção, as hipóteses ad hoc e os preconceitos de toda

espécie. Tornam-se necessários esses ‘meios irracionais’ para dar apoio àquilo que não passa de fé

cega, até que disponhamos das ciências auxiliares, de fatos, de argumentos que transformem a fé em

‘conhecimento’ bem fundado” (Feyerabend).

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Kuhn, Feyerabend,...visões críticas do

desenvolvimento da ciência

Ainda é possível pensar a ciência como empreendimento racional?

Existem métodos ou critérios

que a definem?

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Um resgate da racionalidade...

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Ciência como atividade racionalCiência como atividade racionalPerspectiva continuista de Perspectiva continuista de desenvolvimento da ciênciadesenvolvimento da ciência

Imre Lakatos (1922-1974)

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Imre Lakatos

Influenciado por Popper

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Tentativa de melhorar o falsificacionismo popperiano e superar objeções a ele

Popper

Teorias

Lakatos

Programas de Pesquisa

(várias teorias)

Lakatos: não pensar em teorias isoladas,

mas sim em unidades mais abrangentes

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Imre Lakatos

Desenvolvimento da ciênciaDesenvolvimento da ciência

““Metodologia dos Metodologia dos

programas de pesquisa”programas de pesquisa”

HC – História dos programas HC – História dos programas

de pesquisade pesquisa

Page 22: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Lakatos: programa de pesquisaLakatos: programa de pesquisa

Núcleo firme ou núcleo duro (hard core) – aceito, “irrefutável”Se refutado, cai o programa

Exemplos de núcleos firmes (análise de Chalmers):

1 - No programa ptolomaico: Terra como sistema de referência para os movimentos celestes.2 - No programa copernicano: esfera das estrelas como sistema de referência para os movimentos celestes

3 - No programa cartesiano: Lei da Persistência do Movimento, Lei da Interação por Contato, plenismo, Lei das Colisões.4 - No programa newtoniano: 3 leis de Newton e lei da Gravitação Universal.5 - Cosmologia aristotélica: hipóteses da finitude e esfericidade do Universo, impossibilidade do vazio, movimentos naturais.6 -  Teoria especial da relatividade: princípio da relatividade e constância da velocidade da luz.

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Lakatos: programa de pesquisaLakatos: programa de pesquisa

Cinturão protetor:Cinturão protetor:

- hipóteses/metodologias auxiliares que - hipóteses/metodologias auxiliares que podem ser reformuladas em função de podem ser reformuladas em função de anomalias anomalias

- protege o núcleo duro - protege o núcleo duro

Page 24: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Exemplos de cinturões protetores (análise de Silveira)Exemplos de cinturões protetores (análise de Silveira)1 - Programa ptolomaico: corpos celestes tem movimentos 1 - Programa ptolomaico: corpos celestes tem movimentos

obtidos da composição de movimentos circunferenciais. obtidos da composição de movimentos circunferenciais. Anomalias resolvidas pela modificação dos parâmetros Anomalias resolvidas pela modificação dos parâmetros dos movimentos circunferenciais componentes ou pela dos movimentos circunferenciais componentes ou pela introdução de uma nova componente.introdução de uma nova componente.2 - Programa newtoniano: modelos sobre o sistema 2 - Programa newtoniano: modelos sobre o sistema solar, hipóteses sobre a forma e distribuição de massa solar, hipóteses sobre a forma e distribuição de massa dos planetas e satélites, teorias sobre os métodos de dos planetas e satélites, teorias sobre os métodos de observação astronômica. observação astronômica. 3 - Astronomia copernicana: necessidade de um 3 - Astronomia copernicana: necessidade de um desenvolvimento de uma mecânica adequada à desenvolvimento de uma mecânica adequada à hipótese da Terra móvel e novos instrumentos de hipótese da Terra móvel e novos instrumentos de observação astronômica, capazes de detectar as observação astronômica, capazes de detectar as previstas variações no tamanho aparente dos planetas e previstas variações no tamanho aparente dos planetas e as fases de Vênusas fases de Vênus

Page 25: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Lakatos: programa de pesquisa

Teorias científicas fazem parte de

programas de pesquisa

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Lakatos: heurística

““Conjunto de regras e métodos que conduzem à Conjunto de regras e métodos que conduzem à descoberta, à invenção e à resolução de descoberta, à invenção e à resolução de problemas”problemas”

Heurística positiva – transformar possíveis anomalias em algo

corroborado pela teoria vigente.

Heurística negativa – exigência de que, Heurística negativa – exigência de que, durante o desenvolvimento do programa, durante o desenvolvimento do programa, o núcleo deve permanecer intacto.o núcleo deve permanecer intacto.

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Mudanças dentro dos programas de pesquisa ProgressivaProgressiva RegressivaRegressiva

““teoricamente progressivo” – novas previsõesteoricamente progressivo” – novas previsões““empiricamente progressivo” – corroboração de previsõesempiricamente progressivo” – corroboração de previsõesExemplo: mecânica newtoniana nos séculos XVIII e XIXExemplo: mecânica newtoniana nos séculos XVIII e XIX

Regressivo – desenvolvimento teórico atrasado em relação Regressivo – desenvolvimento teórico atrasado em relação ao crescimento empíricoao crescimento empírico

Uso de hipóteses Uso de hipóteses ad hocad hoc para explicar resultados para explicar resultados Exemplo: mecânica newtoniana na virada do século XIX Exemplo: mecânica newtoniana na virada do século XIX

para o XXpara o XX

Page 28: Hfc a12 Slides Adeus a Razao

Programa em degeneração

“[...] num programa de investigação progressivo, a teoria conduz à descoberta de fatos novos (até então desconhecidos). Nos programas degenerativos, contudo, as teorias são fabricadas meramente para enquadrar fatos conhecidos” (Lakatos)

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Progresso do conhecimentoProgresso do conhecimento

Embate entre programas

progressivos e regressivos

Processo de superação marcado pela racionalidade:

Não é adesão às cegas

Processo lento, gradativo, contínuo

(nega ruptura, incomensurabilidade)

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Atividade 2

“Ora, como é que acontecem as revoluções científicas? Se tivermos dois programas de investigação rivais, um

deles progressivo e outro degenerativo, os cientistas tendem a aderir ao programa progressivo. Esta é a base

racional das revoluções científicas” (Lakatos).

A partir da citação acima, confronte as propostas de Lakatos e Kuhn no que diz respeito à ocorrência de Revoluções Científicas.