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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Henrique Luiz de Lima Seiffert PREVISÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL DE UM PAVIMENTO DE CONCRETO SIMPLES Santa Maria, RS 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

Henrique Luiz de Lima Seiffert

PREVISÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL DE UM PAVIMENTO

DE CONCRETO SIMPLES

Santa Maria, RS

2016

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Henrique Luiz de Lima Seiffert

PREVISÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL DE UM PAVIMENTO DE

CONCRETO SIMPLES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Engenharia Civil, da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,

RS), como requisito parcial para obtenção do

título de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Deividi da Silva Pereira

Santa Maria, RS

2016

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Henrique Luiz de Lima Seiffert

PREVISÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL DE UM PAVIMENTO DE

CONCRETO SIMPLES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Graduação em Engenharia Civil, da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,

RS), como requisito parcial para obtenção do

título de Engenheiro Civil.

Aprovado em 19 de dezembro de 2016:

_______________________________________

Deividi da Silva Pereira, Dr. (UFSM)

(Presidente/Orientador)

_______________________________________

Fábio Pereira Rossato, Me. (URI)

_______________________________________

Mauricio Silveira dos Santos, Me. (UNIPAMPA)

Santa Maria, RS

2016

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Deividi da Silva Pereira, pela orientação neste trabalho e ao longo dos últimos

anos. Pelas críticas, conselhos e elogios que permitiram meu amadurecimento como

engenheiro. Pelas oportunidades que permitiram que eu desenvolvesse apreço pela pesquisa e

pelo ensino. Por estar sempre disponível e disposto a ajudar os seus alunos. Ao grande professor

que o senhor é.

À Profa. Dra. Tatiana Cureau Cervo, por ter se colocado disposta às minhas dúvidas durante o

desenvolvimento deste trabalho. Por estar sempre disponível e disposta quando inúmeras vezes

pedi “um minuto” à senhora durante a graduação. Por todas as oportunidades, conselhos e

histórias. Pelo exemplo de ótima professora e pessoa que a senhora é.

Ao Prof. Dr. Luciano Pivoto Specht, pelas oportunidades, ajudas e conselhos oferecidos desde

a época do PET até hoje. Por sempre motivar seus alunos a crescerem e serem as melhores

versões de si mesmo. Pelo exemplo de incrível professor e pesquisador que o senhor é.

Ao Prof. Me. Fábio Pereira Rossato e ao Prof. Me. Mauricio Silveira dos Santos, pela gentileza

em aceitar compor a banca de avaliação deste trabalho.

Aos meus amigos e colegas, principalmente àqueles que sempre estiveram presentes e

disponíveis nesses últimos seis anos. À Carine. À Ane. À Silvana. À Chaveli. Ao Vitor, pela

ajuda com as ilustrações.

À Enga. Dra. Andreia Arantes Severi, pela prontidão e gentileza em responder aos

questionamentos e pedidos.

A Santa Maria, no sentido mais amplo, pois apesar de desacreditada no começo, virou a direção

que aponto quando respondo para qual lado fica “casa”.

A todos, muito, muitíssimo obrigado.

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RESUMO

PREVISÃO DO DESEMPENHO ESTRUTURAL DE UM PAVIMENTO DE

CONCRETO SIMPLES

AUTOR: Henrique Luiz de Lima Seiffert

ORIENTADOR: Deividi da Silva Pereira

Estimou-se neste trabalho o desempenho estrutural de um Pavimento de Concreto Simples

(PCS), executado em um corredor de ônibus localizado no município de Santa Maria (RS),

através da caracterização das principais variáveis que determinam seu desempenho à fissuração

por fadiga como observadas em pista. Para tanto, primeiramente se realizara avaliações

deflectométricas com o Falling Weight Deflectometer (FWD) de forma que permitisse a

posterior estimativa por retroanálise de parâmetros estruturais que descrevessem suas respostas

às cargas em campo. Averiguou-se a partir disso que a Eficiência de Transferência de Carga

(LTE) nas juntas transversais avaliadas variaram entre 83 e 95%, demonstrando que existem

boas condições de transferência de carga no pavimento. Avaliou-se também o LTE em uma

fissura linear desenvolvida em uma das placas, para a qual se estimou um LTE de 56%. Aferiu-

se também que ao longo do pavimento o Módulo de Reação do Subleito (k) variou entre 95,0 e

205,0MPa/m, valores plausíveis para a estrutura do pavimento e a metodologia empregada, e

que indicaram que o comportamento do pavimento varia sensivelmente ao longo de sua

extensão. Ainda, verificou-se que o Módulo de Elasticidade (E) do Concreto de Cimento

Portland (CCP) empregado nas placas variou entre 37.500 e 62.500MPa. Para as solicitações

provenientes do tráfego, as estimativas demonstraram que a quantidade e a distribuição de

cargas dos eixos solicitantes seriam divergentes das pressuposições de projeto. Estimou-se

também diferenciais térmicos máximos de 10,63ºC nos períodos mais quentes do ano e de

5,68ºC durante os períodos mais frios do ano. A estimativa dos diferenciais térmicos também

demonstrou que os modelos empíricos de Severi (2002), os únicos disponíveis na literatura

brasileira para estimativa dessas variáveis em PCS sob efeito do clima nacional, seriam

adequados para o clima santa-mariense. Por fim, reuniu-se todas essas estimativas em uma

rotina computacional que permitisse avaliar os efeitos da variabilidade dos diferenciais térmicos

ao longo de um dia e ano, juntamente com as máximas tensões de tração na flexão estimadas

nessas condições com o EverFE 2.24. Verificou-se que um dos trechos avaliados apresentou

um comportamento, no modelo, incompatível com seu desempenho observado em pista,

permitindo, à vista também dos parâmetros que o caracterizavam, levantar a hipótese de que o

Trecho 1 (T1) seria composto por placas mais espessas que os 23cm definidos em projeto e

simulados na retroanálise. Para os demais trechos, estimou-se que, pelos modelos de fadiga de

Cervo (2004), o T2 suportaria 8-14 anos-solicitações antes da ruptura e que o T3, por sua vez,

suportaria 24-45 anos-solicitações. Verificou-se que essa divergência aferida entre o T2 e o T3

seria suportada pelo desempenho observado em pista, pois o T3 apresentou uma percentagem

bastante inferior de placas não fissuradas em relação ao T2. A partir desses resultados,

possibilitou-se também avaliar o efeito dos diferentes parâmetros estimados como

característicos para os trechos, assim como realizar uma análise comparativa dos efeitos dos

diferenciais térmicos no desempenho previsto para o pavimento.

Palavras-chave: Pavimentos de Concreto; Avaliação Estrutural; Desempenho de Pavimentos.

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ABSTRACT

PREDICTION OF A JOINTED PLAIN CONCRETE PAVEMENT PERFORMANCE

AUTHOR: Henrique Luiz de Lima Seiffert

ADVISOR: Deividi da Silva Pereira

It was assessed the structural performance of a Jointed Plain Concrete Pavement built in a local

bus corridor through the parametrization of critical variables used in fatigue behaviour analysis.

Firstly, it was performed an evaluation of the pavement structure responses with the Falling

Weight Deflectometer (FWD). It was then estimated that the Load Transfer Efficiency (LTE)

on the transverse joints varied between 83 and 95% showing the joints were still in good

condition. It was also estimated that the LTE in a crack was only 56%. Subsequently, it was

performed the backcalculation of the k-value and the concrete plate’s Elastic Modulus (E). It

was determined k-values ranging from 95 to 205MPa/m, showing that the behaviour of the

foundation varies largely on field even though in design it was considered as completely

homogeneous. It was also determined that E ranged from 37,500 and 62,500MPa. Next, it was

evaluated the number of axis applying loads in the pavement, and it was verified that this

number was underestimated in design. It was also assessed the temperature differentials

between the bottom and the top of the slabs using the only empirical model available in Brazil

to evaluate the effects of the tropical climate in concrete pavements. It was calculated that

during the warmer seasons the maximum temperature differential in a day would be 10,63ºC

and that during the colder seasons the maximum value for the variable would be 5,68ºC. It was

also assessed that the model developed by Severi (2002) was applicable for the local climate

conditions. It was then performed an evaluation of the structural performance of the pavement

considering these findings and applying, with the help of an algorithm, the maximum tensile

stresses developed under these conditions and in view of the variation that would occur in the

maximum tensile stresses on a day and a year due to temperature changes. It was then estimated

that the concrete of section 1 (S1) would not be able to bear the loads, which was inconsistent

with the good performance of S1. It was then appraised that the slabs in these sections would

probably be thicker than what it was considered during the calculations as the k-value and E

assessed for the segment designated a very rigid slab and foundation. It was also estimated that

using the fatigue models of Cervo (2004) the slabs on S2 would still endure 8-14 years before

rupture and that the slabs on S3 would endure more 24-45 years. It was checked that the

difference in the predicted performance was due to difference in the performance induced by

the parameters calculated as representative of the conditions on each segment. It was also

verified that this difference in performance between the segments was present in field as S2 had

way more cracked slabs than S3. Analysing these results, it was also possible to assess the

effects of temperature differentials in the predicted performance comparing it with the predicted

performance when no temperature differentials were simulated on the slabs.

Keywords: Concrete Pavements; Structural Analysis; Pavement Performance.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Equipamento FWD durante uma avaliação deflectométrica, com indicações das

localizações da placa metálica carregada (A), da célula de carga (B) e dos geofones (C) ....... 20

Figura 2.2 – Ilustração de um elemento estrutural com comportamento de placa em flexão .. 22

Figura 2.3 – Ilustração de um elemento sobre uma fundação de Winkler ............................... 24

Figura 2.4 – Diferenças de respostas da fundação entre o modelo de Winkler e o solo real ... 25

Figura 2.5 – Posições das cargas na placa para as análises de Westergaard: no centro (1), na

borda (2) e no canto (3) ............................................................................................................ 27

Figura 2.6 – Estimativas das tensões em diferentes posições de placas de concreto semi-infinitas

pelas equações de Westergaard ................................................................................................ 28

Figura 2.7 – Ilustração das respostas de PCS com e sem BT nas juntas .................................. 29

Figura 2.8 – Comparação entre LTE médio medido e retroanalisado em juntas sem BT na Pista

Experimental da EPUSP em diferentes períodos do dia e do ano ............................................ 30

Figura 2.9 – Comparação entre LTE médio medido e retroanalisado em juntas com BT na Pista

Experimental da EPUSP em diferentes períodos do dia e do ano ............................................ 31

Figura 2.10 – Ilustração do empenamento térmico de uma placa de CCP em decorrência de um

diferencial térmico positivo e linear ao longo de sua espessura ............................................... 32

Figura 2.11 – Ilustrações dos efeitos da restrição imposta pelo peso próprio no empenamento

de uma placa de concreto, em termos das suas deformações específicas de tração e compressão

.................................................................................................................................................. 33

Figura 2.12 – Comparação entre os modelos de desempenho à fadiga da PCA/84 e Cervo (2004)

.................................................................................................................................................. 39

Figura 3.1 – Ilustração esquemática da estrutura do pavimento em projeto, corte transversal 42

Figura 3.2 – Comparação entre o Volume de Tráfego observado e o pressuposto em projeto 47

Figura 3.3 – Percentagem das solicitações observadas e pressupostas em projeto ocorrendo

abaixo, acima e com a carga máxima legal (CML) .................................................................. 48

Figura 3.4 – Evolução do Índice de Condição do Pavimento do corredor por trecho (2008-2015)

.................................................................................................................................................. 49

Figura 4.1 – Ilustração de um grupo de três placas, A, B e C, de um Pavimento de Concreto

Simples ..................................................................................................................................... 50

Figura 4.2 – Ilustração esquemática do posicionamento do FWD e de seus geofones nas

avaliações deflectométricas realizadas em juntas ..................................................................... 53

Figura 4.3 – Aferição em pista das dimensões de uma das placas avaliadas, com indicação da

posição do centro da placa circular do FWD em uma avaliação em junta ............................... 53

Figura 4.4 – Bacias de deflexões B1 e B2 obtidas para a junta avaliada em A3 ...................... 54

Figura 4.5 – Ilustração esquemática do posicionamento do FWD e de seus geofones nas

avaliações deflectométricas realizadas no centro de placas ..................................................... 55

Figura 4.6 – Bacias de deflexões B1 e B2 obtidas no centro da placa avaliada em A18 ......... 55

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Figura 4.7 – Relação entre a temperatura atmosférica e a temperatura na superfície do

pavimento registradas durante os levantamentos deflectométricos .......................................... 57

Figura 4.8 – Relação entre as cargas aplicadas no primeiro e no segundo carregamento durante

os levantamentos deflectométricos ........................................................................................... 57

Figura 4.9 – Ilustração da aproximação linear realizada para estimar a segunda deflexão de

interesse em B1 de A5 .............................................................................................................. 58

Figura 4.10 – Reprodução de como o problema em estudo é apresentado ao usuário na interface

gráfica do EverFE 2.24 ............................................................................................................. 62

Figura 4.11 – Ilustração das máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas na fibra inferior

de uma placa com o carregamento adotado para a retroanálise ............................................... 64

Figura 4.12 – Tempo necessário para conclusão das análises e Erro em relação a B1 para cada

malha verificada durante a configuração do modelo para a retroanálise do grupo de placas A18

.................................................................................................................................................. 66

Figura 4.13 – Exemplos de malha que resultam em nós dentro da área carregada

(Posicionamento B) e de outra, que não possui nó dentro da área carregada (Posicionamento A)

.................................................................................................................................................. 67

Figura 4.14 – Comparação entre a malha padrão e a malha adequadamente configurada para a

retroanálise de A18 ................................................................................................................... 68

Figura 4.15 – Ilustração das bacias de deflexões B1, B2 e a retroanalisada de A18................ 70

Figura 4.16 – Ilustração da simulação das condições das avaliações deflectométricas realizadas

em juntas para a inclusão do LTE observado no modelo ......................................................... 77

Figura 4.17 – Dimensões adotadas para o ESRD do EverFE 2.24 para a estimativa de tensões

.................................................................................................................................................. 78

Figura 4.18 – Ilustração do posicionamento crítico do ESRD para a estimativa de tensões.... 79

Figura 4.19 – Fluxograma ilustrando como fora desenvolvida a previsão do desempenho à

fadiga dos trechos ..................................................................................................................... 81

Figura 5.1 – Primeiras bacias de deflexões (B1) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas na fissura e em juntas .............................................................................................. 85

Figura 5.2 – Segundas bacias de deflexões (B2) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas na fissura e em juntas .............................................................................................. 86

Figura 5.3 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na junta avaliada em A7 ..................... 88

Figura 5.4 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na junta avaliada em A1 ..................... 88

Figura 5.5 – Primeiras bacias de deflexões (B1) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas no centro das placas ................................................................................................. 89

Figura 5.6 – Segundas bacias de deflexões (B2) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas no centro das placas ................................................................................................. 90

Figura 5.7 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na placa avaliada em A12 ................... 92

Figura 5.8 – Valores de LTE estimados para as bacias B1 e B2 da fissura e das juntas

transversais ............................................................................................................................... 93

Figura 5.9 – Valores médios de LTE estimados para a fissura e as juntas transversais ........... 94

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Figura 5.10 – Comparação entre os valores de k* estimados para diferentes placas e os

intervalos de variação esperados para o parâmetro segundo Balbo (2009) e Hall et al. (1997)

.................................................................................................................................................. 97

Figura 5.11 – Comparação entre os valores de E estimados neste trabalho e a faixa de variação

do E retroanalisado por Colim (2009) ...................................................................................... 99

Figura 5.12 – Ilustração da distribuição dos valores de k e E estimados para diferentes placas

................................................................................................................................................ 100

Figura 5.13 – Comparação dos números de solicitações diárias em cada nível de carregamento

estimadas e consideradas em projeto ...................................................................................... 103

Figura 5.14 – Distribuição ao longo de um dia típico do número total de solicitações

característico do corredor ....................................................................................................... 104

Figura 5.15 – Distribuição ao longo de um dia típico do número de solicitações característico

do corredor, por nível de carregamento .................................................................................. 105

Figura 5.16 – Diferenciais térmicos máximos estimados para Santa Maria, por estação do ano

(2010-2015) ............................................................................................................................ 106

Figura 5.17 – Temperaturas de topo máximas estimadas para primavera e verão em Santa Maria,

e o intervalo das observações de Severi (2002) para o parâmetro em São Paulo................... 107

Figura 5.18 – Número de dias de primavera e verão eliminados das amostras por não se

enquadrarem nos intervalos que resultaram nos modelos de Severi (2002), por ano ............ 108

Figura 5.19 – Temperaturas de Topo Máximas estimadas para Outono e Inverno em Santa

Maria, e o intervalo das observações de Severi (2002) para o parâmetro em São Paulo ....... 109

Figura 5.20 – Número de dias de outono e inverno eliminados das amostras por não se

enquadrarem nos intervalos que resultaram nos modelos de Severi (2002), por ano ............ 110

Figura 5.21 – Máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas no T1 para carregamentos

leves associados a diferentes diferenciais térmicos, e a parcela dessas tensões oriundas do efeito

do empenamento térmico........................................................................................................ 115

Figura 5.22 – Máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas nos trechos para

carregamentos leves associados a diferentes diferenciais térmicos........................................ 116

Figura 5.23 – Evolução do CRF do T2 pelos modelos de Cervo (2004), considerando os

diferenciais térmicos ............................................................................................................... 122

Figura 5.24 – Evoluções dos CRF dos Trechos 2 e 3 pelos modelos de Cervo (2004),

considerando os diferenciais térmicos .................................................................................... 124

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LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 – Faixas de variação e condições de observação dos parâmetros climáticos

utilizados por Severi (2002) para o desenvolvimento de seus modelos ................................... 35

Quadro 2.2 – Dados referenciais para cálculo da distribuição de diferenciais térmicos diurnos

.................................................................................................................................................. 35

Quadro 3.1 – Critérios de classificação dos veículos por meio do contraste visual de sua

condição de ocupação ............................................................................................................... 45

Quadro 4.1 – Valores adotados para as propriedades dos materiais do pavimento no modelo 63

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Traço do concreto empregado nas placas ............................................................ 43

Tabela 3.2 – Volume de Tráfego observado no corredor (2008-2015) .................................... 44

Tabela 3.3 – Distribuição das solicitações observadas por nível do carregamento (2013 e 2015)

.................................................................................................................................................. 46

Tabela 3.4 – Estimativas das cargas aplicadas pelos eixos traseiros de ônibus 2C e 2S1 em

diferentes níveis de ocupação ................................................................................................... 47

Tabela 4.1 – Apresentação dos grupos de placas amostrados, seus respectivos trechos e

identificações das avaliações deflectométricas neles realizados .............................................. 51

Tabela 4.2 – Estimativas teóricas de k e E para o grupo de placas A18 .................................. 61

Tabela 4.3 – Número de elementos definidos para cada malha verificada durante a configuração

do modelo para a retroanálise do grupo de placas A18 ............................................................ 65

Tabela 4.4 – Resultados parciais da retroanálise de k e E de A18: parâmetros, bacias de

deflexões e Erro em relação a B1 em cada estágio................................................................... 69

Tabela 4.5 – Dados climáticos santa-marienses referentes aos cinco primeiros dias de 2013 . 73

Tabela 4.6 – Resultados parciais do procedimento de configuração do DSM para o T2 ......... 77

Tabela 4.7 – Valores de DSM estimado para os diferentes trechos ......................................... 78

Tabela 4.8 – Magnitudes dos carregamentos dos eixos veiculares adotadas para estimativa das

tensões, por classe de carregamento ......................................................................................... 79

Tabela 5.1 – Valores de Erro entre as bacias de deflexões B1 e B2 resultantes das avaliações

deflectométricas realizadas na fissura e em juntas ................................................................... 86

Tabela 5.2 – Valores Erro entre as bacias B1 e B2 resultantes de avaliações deflectométricas

realizas no centro de placas ...................................................................................................... 90

Tabela 5.3 – Valores de LTE estimados para as bacias de deflexões B1 e B2 da fissura e das

juntas avaliadas, e o valor médio entre essas duas estimativas ................................................ 92

Tabela 5.4 – Valores de k e E estimados a partir da retroanálise ............................................. 95

Tabela 5.5 – Valores de k e E característicos dos trechos ...................................................... 101

Tabela 5.6 – Solicitações horárias características do corredor, por nível de carregamento ... 102

Tabela 5.7 – Diferenciais térmicos máximos adotados como característicos das condições

climáticas predominantes em Santa Maria ............................................................................. 106

Tabela 5.8 – Diferenciais térmicos estimados para cada faixa horária de um dia típico, por

estação do ano ......................................................................................................................... 111

Tabela 5.9 – Máximas tensões de tração na flexão estimadas para os trechos, sob efeito de

diferentes níveis de carregamento e diferentes diferenciais térmicos .................................... 113

Tabela 5.10 – Máximas tensões de tração na flexão estimadas para os trechos, sob efeito de

diferentes níveis de carregamento e diferentes diferenciais térmicos .................................... 114

Tabela 5.11 – RT estimadas atuando ao desprezar os diferenciais térmicos, por nível de

carregamento veicular............................................................................................................. 118

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Tabela 5.12 – CRF estimado após 75 anos-solicitações ao desprezar os diferenciais térmicos

para diferentes modelos de fadiga .......................................................................................... 119

Tabela 5.13 – Número de anos-solicitações até ruptura por fadiga dos trechos, considerados os

diferenciais térmicos ............................................................................................................... 120

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BT Barras de Transferência de Carga

CBR Índice de Suporte Califórnia

CCP Concreto de Cimento Portland

CRF Consumo de Resistência à Fadiga

DT Diferencial Térmico

EPUSP Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

ESRD Eixo Simples de Rodas Duplas

GEPPASV Grupo de Estudos e Pesquisa em Pavimentação e Segurança Viária

FWD Falling Weight Deflectometer

LTE Eficiência de Transferência de Carga

PCA Portland Cement Association

PCS Pavimento de Concreto Simples

PMSP Prefeitura Municipal de São Paulo

UFSM Universidade Federal de Santa Maria

VT Volume de Tráfego

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16

1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................. 17

1.1.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 17

1.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................................... 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 19

2.1 AVALIAÇÃO ESTRUTURAL DE PAVIMENTOS .................................................. 19

2.1.1 Avaliações Deflectométricas em Pavimentos de Concreto .......................................... 20

2.1.2 Retroanálise de Parâmetros Estruturais ........................................................................ 21

2.2 PRINCÍPIOS PARA A ANÁLISE DE TENSÕES EM PLACAS ............................... 21

2.2.1 Teoria Clássica das Placas Isótropas ............................................................................ 22

2.2.2 O Modelo de Fundação de Winkler .............................................................................. 24

2.2.3 Considerações sobre os Modelos Analíticos de Westergaard ...................................... 25

2.3 EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA ................................................... 28

2.3.1 Efeitos das Temperaturas na Eficiência de Transferência de Carga ............................. 30

2.4 EFEITOS RESULTANTES DO CLIMA EM PAVIMENTOS DE CONCRETO ...... 31

2.4.1 Modelos Empíricos de Severi (2002) para a Estimativa dos Diferenciais Térmicos em

Clima Tropical .............................................................................................................. 33

2.4.2 Tratamento dos Diferenciais Térmicos pela Prefeitura Municipal de São Paulo ......... 35

2.5 MODELOS DE FADIGA PARA PAVIMENTOS DE CONCRETO ......................... 36

2.5.1 Modelos de Fadiga da PCA (1984) .............................................................................. 37

2.5.2 Modelos de Fadiga de Cervo (2004) ............................................................................ 38

2.5.3 Modelos da PCA (1984) vs. Modelos de Cervo (2004) ............................................... 38

2.6 ANÁLISE NUMÉRICA DE PAVIMENTOS DE CONCRETO ................................. 40

2.6.1 EverFE 2.24 .................................................................................................................. 40

3 O PAVIMENTO DE CONCRETO SIMPLES DO CORREDOR ......................... 42

3.1 A ESTRUTURA DO PAVIMENTO EM PROJETO .................................................. 42

3.1.1 Propriedades do Concreto de Cimento Portland Utilizado ........................................... 43

3.2 CARACTERÍSTICAS DO TRÁFEGO NO CORREDOR .......................................... 43

3.2.1 Tráfego Pressuposto em Projeto ................................................................................... 44

3.2.2 Volume de Tráfego Observado em Pista ...................................................................... 44

3.2.3 Níveis de Carregamento Observados em Pista ............................................................. 45

3.2.4 Contraposição do Tráfego Observado em Pista ao Pressuposto em Projeto ................ 46

3.3 O DESEMPENHO ATUAL DO PAVIMENTO .......................................................... 48

4 METODOLOGIA ....................................................................................................... 50

4.1 AVALIAÇÃO DEFLECTOMÉTRICA EM PISTA .................................................... 50

4.1.1 Placas e Juntas Amostradas nas Avaliações Deflectométricas ..................................... 50

4.1.2 Avaliação Deflectométrica em Juntas .......................................................................... 52

4.1.3 Avaliação Deflectométrica no Centro de Placas .......................................................... 54

4.1.4 Estimativa das Diferenças entre B1 e B2 de um Ponto ................................................ 56

4.1.5 Considerações sobre as Condições durante as Avaliações Deflectométricas ............... 56

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4.2 ESTIMATIVA DA EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA ................... 58

4.3 RETROANÁLISE DOS DEMAIS PARÂMETROS ESTRUTURAIS ....................... 59

4.3.1 Estimativa Teórica de 𝐤 𝐞 𝐄 .......................................................................................... 59

4.3.2 Configuração do Pavimento em Análise no Modelo para a Retroanálise .................... 61

4.3.3 Retroanálise dos Parâmetros Estruturais 𝐤 e 𝐄 ............................................................. 68

4.4 ESTIMATIVA DAS SOLICITAÇÕES NO PAVIMENTO ........................................ 71

4.4.1 Estimativa das Solicitações Provenientes do Tráfego .................................................. 71

4.4.2 Efeitos Provenientes do Clima ...................................................................................... 72

4.5 PREVISÃO DO DESEMPENHO DO PAVIMENTO ................................................. 75

4.5.1 Considerações sobre os Resultados Desenvolvidos neste Trabalho ............................. 75

4.5.2 Configuração do Pavimento em Análise no Modelo para a Estimativa de Tensões .... 75

4.5.3 Previsão do Desempenho à Fadiga dos Trechos ........................................................... 80

5 RESULTADOS ........................................................................................................... 85

5.1 AVALIAÇÃO DEFLECTOMÉTRICA EM PISTA .................................................... 85

5.1.1 Bacias de Deflexões Observadas em Juntas ................................................................. 85

5.1.1.1 Análise das Diferenças entre B1 e B2 das Avaliações em Juntas ................................ 86

5.1.2 Bacias de Deflexões Observadas no Centro de Placas ................................................. 89

5.1.2.1 Análise das Diferenças entre B1 e B2 das Avaliações no Centro de Placas ............... 90

5.2 ESTIMATIVA DA EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGa .................... 92

5.3 RETROANÁLISE DOS DEMAIS PARÂMETROS ESTRUTURAIS ....................... 95

5.3.1 Análise dos Módulos de Reação do Subleito Retroanalisados ..................................... 95

5.3.2 Análise dos Módulos de Elasticidade do Concreto Retroanalisados ............................ 98

5.3.3 Estimativa dos Valores de 𝐤 e 𝐄 Característicos dos Trechos .................................... 100

5.4 ESTIMATIVA DAS SOLICITAÇÕES NO PAVIMENTO ...................................... 101

5.4.1 Solicitações Provenientes do Tráfego ......................................................................... 102

5.4.2 Solicitações Provenientes do Clima ............................................................................ 105

5.4.2.1 Análise da Adequabilidade dos Modelos de Severi (2002) às Condições Climáticas

Santa-Marienses ......................................................................................................... 107

5.4.2.2 Estimativa dos Diferenciais Térmicos Horários ........................................................ 111

5.5 PREVISÃO DO DESEMPENHO DO PAVIMENTO ............................................... 112

5.5.1 Estimativa das Máximas Tensões de Tração na Flexão ............................................. 112

5.5.1.1 Análise das Máximas Tensões Estimadas ................................................................... 114

5.5.2 Previsão do Desempenho à Fadiga dos Trechos ......................................................... 117

5.5.2.1 Desempenho à Fadiga dos Trechos Desconsiderando os Diferenciais Térmicos...... 118

5.5.2.2 Desempenho à Fadiga dos Trechos Considerando os Diferenciais Térmicos ........... 120

6 CONCLUSÕES ......................................................................................................... 125

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 127

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1 INTRODUÇÃO

O município de Santa Maria (RS) implantou entre 2005 e 2008 um Pavimento de

Concreto Simples (PCS) no seu único corredor urbano de ônibus, localizado na Rua do

Acampamento, na região central do município. A estrutura fora executada no lugar de um

pavimento asfáltico com comportamento flexível que frequentemente necessitava de

importunas e onerosas intervenções para manutenção, pois sua serventia era reduzida

significantemente com o tráfego intenso e pesado configurado no corredor.

Após estudos, optara-se pela solução em placas de concreto de cimento Portland (CCP).

Almejava-se com a nova estrutura os benefícios estruturais – maior rigidez – e relativos à

manutenção – necessidade de leves e esporádicas intervenções – que consolidam PCS como

soluções habituais e satisfatórias para faixas exclusivas de ônibus nos centros urbanos

brasileiros (BALBO, 2009).

À vista dessas premissas, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Pavimentação e Segurança

Viária (GEPPASV) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) monitora desde 2008 o

desempenho estrutural e funcional oferecido pelas placas de concreto do corredor. As atividades

envolveram principalmente a análise e o registro anual de defeitos presentes na superfície das

placas, bem como a evolução do desenvolvimento destes, para a estimativa do Índice de

Condição do Pavimento (ICP).

Esses trabalhos aferiram que, dez anos após a execução do pavimento, e consumida

metade da sua vida útil de projeto, o pavimento ainda ofertava, segundo o ICP, boas condições

funcionais e estruturais (LOBO; SEIFFERT; PEREIRA, 2016), e isso apesar do descaso com a

manutenção das juntas do mesmo, e da observância de divergências significativas entre o

tráfego pressuposto em projeto e o efetivado em pista.

Este trabalho, por sua vez, procurou complementar as análises de desempenho outrora

realizadas no pavimento do corredor, de forma a ampliar o entendimento do desempenho de

um PCS nas condições configuradas no corredor de ônibus santa-mariense. Para tanto,

primeiramente parametrizou-se as placas que o compunham, segundo o comportamento

verificado em levantamentos deflectométricos realizados nelas e nas suas juntas. Estimou-se

também as solicitações oriundas da ação do tráfego e do clima que atuariam sobre a estrutura.

A partir disso, desenvolveu-se uma previsão do desempenho estrutural do pavimento, avaliado

em termos do desempenho à fadiga das placas de concreto.

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Esta pesquisa teve como objetivo principal prever o desempenho à fadiga de um

Pavimento de Concreto Simples em serviço, a partir da caracterização do seu comportamento

em pista e das solicitações sobre ele efetivadas.

1.1.2 Objetivos Específicos

Para desenvolver a previsão de desempenho, foi necessário caracterizar as principais

variáveis dos modelos de fadiga empregados de forma que fossem representativas das

condições existentes ou predominantes no corredor. Assim, definiu-se os seguintes objetivos

específicos para esta pesquisa:

Avaliar o comportamento em pista das placas e das juntas transversais do PCS por

intermédio de avaliações deflectométricas desenvolvidas com o Falling Weight

Deflectometer (FWD);

Estimar a Eficiência de Transferência de Carga (LTE) nas juntas transversais

avaliadas, e em uma fissura linear;

Estimar, por meio de retroanálise, o Módulo de Reação do Subleito (k) e o Módulo

de Elasticidade do Concreto (E);

Estimar as solicitações provenientes da ação do tráfego sobre o corredor, a partir de

levantamentos de tráfego realizados em campo;

Estimar os diferenciais térmicos atuantes sobre as placas de concreto com base nos

modelos empíricos de Severi (2002) e as condições climáticas locais;

Avaliar a adequabilidade dos modelos de Severi (2002) às condições climáticas

locais;

Estimar em modelos numéricos as máximas tensões de tração na flexão

desenvolvidas nas placas de concreto, adotando para isso as solicitações e os

parâmetros estimados neste trabalho para elas;

Prever o desempenho à fadiga das placas de concreto, em longo termo e nessas

condições, por meio dos modelos de fadiga da PCA (1984) e de Cervo (2004);

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Avaliar os efeitos dos diferenciais térmicos estimados no desempenho das placas de

concreto;

Comparar os resultados parciais e finais desenvolvidos neste trabalho com as

condições observadas em campo e as pressuposições de projeto.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Apresenta-se neste capítulo a revisão bibliográfica realizada para fundamentar as

estimativas, análises e retroanálises desenvolvidas neste trabalho. Primeiramente, apresenta-se

as principais razões para a realização de avaliações estruturais de pavimentos, e as principais

atividades envolvidos nessa tarefa. Após, introduz-se os principais conceitos necessários para

o entendimento dos clássicos modelos analíticos de Westergaard, que fundamentam a análise

das respostas às cargas de placas de concreto.

Em seguida, apresenta-se os mecanismos de transferência de carga configurados em

juntas de pavimentos de concreto. Relata-se também os efeitos do clima em placas de concreto,

bem como modelos para estima-los em termos de diferenciais térmicos. Por fim, introduz-se os

principais modelos de fadiga empregados no país, e comenta-se sobre a análise numérica de

pavimentos de concreto.

2.1 AVALIAÇÃO ESTRUTURAL DE PAVIMENTOS

Os materiais empregados para compor a estrutura de pavimentos se encontram sujeitos

a contínuos processos de deterioração funcional e estrutural que se acumulam a partir da sua

abertura ao tráfego (BERNUCCI et al., 2006). As solicitações sobre um pavimento promovem,

portanto, deformações, desgastes e danificações nos materiais que o compõem. À vista disso,

as respostas do pavimento às cargas se alteram ao longo de sua vida de serviço (BALBO, 2007).

A avaliação estrutural de pavimentos almeja caracterizar os elementos e variáveis

estruturais de um pavimento de forma que o seu comportamento em um instante de interesse

seja satisfatoriamente descrito, e seja também correspondente às condições de integridade dos

materiais que o compõem (BALBO, 2007). Isso seria igualmente válido para pavimentos

executados com Concretos Asfálticos (CA) e Concreto de Cimento Portland (CCP).

As análises mecanicistas empregadas hoje em larga escala para a avaliação estrutural de

Pavimentos de Concreto Simples (PCS) utilizam teorias que simplificam as suas camadas e

seus materiais como se fossem homogêneos e como se apresentassem respostas puramente

elásticas (BALBO, 2009; DAVIDS, 2004). Assim, o comportamento de um pavimento de

concreto em uma avaliação estrutural pode ser satisfatoriamente descrito a partir de parâmetros

estruturais estimados pela retroanálise de suas bacias de deflexões.

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2.1.1 Avaliações Deflectométricas em Pavimentos de Concreto

As bacias de deflexões são curvas formadas por uma série de medidas de deslocamentos

verticais elásticos (deflexões) mensurados em predeterminados pontos na superfície de um

pavimento, em resposta a um carregamento de magnitude conhecida (BERNUCCI et al., 2006).

As deflexões são avaliadas em pavimentos de concreto com o Falling Weight Deflectometer

(FWD) (BALBO, 2009), o equipamento ilustrado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Equipamento FWD durante uma avaliação deflectométrica, com indicações das

localizações da placa metálica carregada (A), da célula de carga (B) e dos geofones (C)

Fonte: Adaptado de Cornell Local Roads Program [201-].

O equipamento simula a ação de um par de rodas, mediante a aplicação de um pulso de

carga sobre uma placa metálica de 300mm de diâmetro. A localização dessa placa foi

identificada com a letra “A” na Figura 2.1. A magnitude desse carregamento é definida na

operação do FWD por meio do ajuste da massa de um martelo e de sua altura de queda

(BALBO, 2007), localizado na célula de carga identificada com “B”.

Aplicado o carregamento sobre a placa metálica, que se encontra em contato com o

pavimento, medem-se as deflexões pela leitura das ondas-respostas em sete geofones – os

sensores identificados com “C” – que se encontram normalmente afastados 0mm, 200mm,

300mm, 450mm, 650mm, 900mm e 1200mm do centro da placa metálica (BALBO, 2009).

A C

B

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2.1.2 Retroanálise de Parâmetros Estruturais

A retroanálise é um procedimento essencial na avaliação estrutural de pavimentos de

concreto (BALBO, 2009). Seu objetivo é a calibração de parâmetros-chaves em modelos

teóricos, desde que adequados à estrutura em estudo, de forma que a resposta do pavimento

simulada neles seja suficientemente próxima à resposta observada em pista nas avaliações

deflectométricas. Esses parâmetros, portanto, caracterizariam o comportamento em pista do

pavimento naquele instante (BALBO, 2007).

A conformidade entre a bacia de deflexões retroanalisada e aquela observada em pista

é avaliada pelo somatório dos desvios quadráticos (“Erro”) entre as deflexões (δ) mensuradas

nas duas bacias naqueles pontos (i) em que se dispunha de leituras diretas dos sensores do FWD

(Equação 2.1).

Erro = ∑(δipista

− 𝛿iteórico)

2

Equação 2.1

A retroanálise é dita completa quando o grupo de parâmetros retroanalisados

conjuntamente resultam no menor valor de “Erro” possível, e em uma bacia de deflexões no

modelo que seja representativa daquela observada em campo, segundo os critérios do avaliador

e seus objetivos com o procedimento (BALBO, 2009).

Para pavimentos de concreto, os principais parâmetros retroanalisados seriam o Módulo

de Elasticidade do CCP (E), o Módulo de Reação do Subleito (k) e a Eficiência de Transferência

de Carga (LTE) em juntas (BALBO, 2009).

2.2 PRINCÍPIOS PARA A ANÁLISE DE TENSÕES EM PLACAS

Placas são elementos estruturais que “têm uma dimensão, a espessura [...], geralmente

medida na direção do eixo z, muito menor do que as outras duas dimensões medidas no seu

plano médio localizado no plano x-y” (VAZ, 2011, p. 170), como ilustrado na Figura 2.2.

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Figura 2.2 – Ilustração de um elemento estrutural com comportamento de placa em flexão

Fonte: Adaptado de Felippa (2013).

Assume-se que as placas de concreto que constituem os PCS se comportam como placas

delgadas em flexão quando solicitadas (BALBO, 2009). Portanto, admite-se que, como

ilustrado na Figura 2.2, as “cargas atuam na direção da normal ao seu plano médio, ou seja, na

direção do eixo z” (VAZ, 2011, p. 170), caracterizando a flexão. Ademais, assume-se também

que a Teoria Clássica das Placas Isótropas descreve satisfatoriamente seu comportamento,

desde que satisfeitas essas e outras hipóteses (BALBO, 2009).

2.2.1 Teoria Clássica das Placas Isótropas

Aplicada pioneiramente em 1829 para o problema de placas em flexão pelo francês

Claude-Louis Navier (1785-1836) e um século após, em 1920, para pavimentos de concreto

pelo norte-americano Harald Malcolm Westergaard (1888-1950) (BALBO, 2009), a Teoria das

Placas Isótropas admite como verdadeiras as seguintes hipóteses:

O material que constitui a placa é homogêneo, isotrópico e apresenta

comportamento elástico-linear, satisfazendo a lei de Hooke generalizada

(BALBO, 2009);

A placa é delgada. Isto é, a relação entre sua espessura e o seu menor vão é maior

que 1/20, permitindo dessa forma o uso da teoria de Kirchoff para placas em

flexão (VAZ, 2011);

Qualquer ponto na superfície média da placa apresenta após o carregamento

somente deslocamentos verticais, na direção do eixo z (VAZ, 2011, p. 171), e

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esses deslocamentos são suficientemente pequenos em comparação com a sua

espessura (PARENTE e MELO, 2015);

Um segmento de reta normal à superfície média da placa permanece normal e

com o mesmo comprimento após a aplicação do carregamento, com a placa

fletida (PARENTE e MELO, 2015). E a placa, portanto, flete sem sofrer

deformações (BALBO, 2009) e suas deformações cisalhantes verticais são nulas

(VAZ, 2011).

A partir dessas hipóteses chega-se à Equação 2.2, também conhecida como equação de

Poisson-Kirchoff, que descreve a posição da linha elástica (ω) de uma placa delgada em flexão

(BALBO, 2009b).

∂4ω

∂x4+ 2 ∙

∂4ω

∂x2 ∂y2 +

∂4ω

∂y4=

q

D

Equação 2.2

O denominador do lado direito da Equação 2.2 é designado Módulo de Rigidez em

Flexão (D) e é estimado pela Equação 2.3, onde se relaciona a espessura da placa (h), o Módulo

de Elasticidade do material que a compõe (E) e o coeficiente de Poisson do mesmo (μ)

(BALBO, 2009b).

D = E ∙ h3

12 ∙ (1 − μ2)

Equação 2.3

É por meio da Equação 2.3 que o Módulo de Elasticidade do CCP seria introduzido no

problema de uma placa em flexão. Percebe-se que caso h e µ sejam considerados constantes,

aumentos progressivos de E tornariam, como esperado, a placa gradualmente mais rígida.

A variável q na Equação 2.2, por sua vez, é “uma escalar que congrega a atuação das

forças ativas e reativas aplicadas perpendicularmente à superfície média da placa, à exceção

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daquelas geradas por empenamento térmico” (BALBO, 2009b, p. 44). Para apresenta-la

adequadamente no problema de uma placa de concreto em flexão, introduz-se primeiramente a

formulação teórica do “Módulo de Reação do Subleito”.

2.2.2 O Modelo de Fundação de Winkler

Balbo (2009) relata que o alemão Emil Winkler (1835-1888) desenvolveu no final do

séc. XIX um modelo para o cálculo de esforços de reação de subleitos sob fundações rasas que

ao ser retomado por Westergaard “revolucionaria” a forma de analisar placas de concreto em

flexão e, associadamente, pavimentos de concreto.

O modelo de Winkler simplificava o sistema de apoio de um elemento por um conjunto

de molas (Figura 2.3) que atendem à Lei de Hooke, possuem a mesma constante de

proporcionalidade tensão-deformação (k) e que não transmitem esforços de cisalhamento entre

si. À vista disso, tem-se também que as reações obtidas em todas as molas seriam idênticas

(BALBO, 2009).

Figura 2.3 – Ilustração de um elemento sobre uma fundação de Winkler

Fonte: Adaptado de Mutman (2013).

Portanto, a reação nas molas (p), ilustrada na Figura 2.4, seriam iguais ao produto entre

a deflexão observada (ω) e a sua constante de proporcionalidade tensão-deformação, como

representado na Equação 2.4.

p = k ∙ ω

Equação 2.4

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A principal limitação do modelo de Winkler decorria do fato que um solo de fundação

real não deixaria de apresentar transmissão de esforços de cisalhamento entre suas partes

(BALBO, 2009). À vista disso, as reações do subleito juntos às bordas seriam maiores, como

ilustrado na Figura 2.4.

Sprangler (1942 apud BALBO, 2009) demonstraria quase um século após Winkler, por

provas de cargas sobre placas de concreto, que o valor de k cresce à medida que se aproximava

das bordas das placas.

2.2.3 Considerações sobre os Modelos Analíticos de Westergaard

Em 1926, Westergaard publicou um artigo intitulado “Computation of Stresses in

Concrete Roads” na Annual Meeting of the Highway Research Board em Washington, D.C.

(EUA), onde apresentava seus modelos analíticos para o cálculo das deflexões e momentos

fletores em placas de concreto (BALBO, 2009).

Figura 2.4 – Diferenças de respostas da fundação entre o modelo de Winkler e o solo real

Fonte: (BALBO, 2009, p. 205).

Para tanto, Westergaard adotou a Teoria Clássica das Placas Isótropas para a análise

numérica da resposta de placas semi-infinitas às cargas externas, e o modelo de Winkler para

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estimar as reações de um subleito, considerado homogêneo, às mesmas ações verticais externas

(BALBO, 2009).

Introduziu-se anteriormente o “q” presente na Equação 2.2 como o somatório das forças

ativas e reativas agindo perpendicularmente sobre a placa. Segundo Balbo (2009), Westergaard

iniciou suas análises adotando que q poderia ser decomposto em dois vetores, ilustrados na

Figura 2.4: um representando as forças ativas (q′), atuantes sobre a superfície da placa; e outro

representando a reação do sistema de apoio à placa (p), conforme Winkler (Equação 2.4). A

Equação 2.5 elucida isso:

q = q′ − p

Equação 2.5

Westergaard admitiu também que a placa seria rígida o suficiente para que a deflexão

(ω) verificada sobre o subleito fosse exatamente a mesma observada na superfície da placa.

Dessa forma, Westergaard chegou à Equação 2.6 e nomeou o “k” como o “Módulo de Reação

do Subleito” (BALBO, 2009).

∂4ω

∂x4+ 2 ∙

∂4ω

∂x2 ∂y2 +

∂4ω

∂y4=

q′ − k ∙ ω

D

Equação 2.6

Ao procurar soluções para a Equação 2.6, Westergaard introduziu o conceito de Raio de

Rigidez Relativo (𝑙) do sistema formado pela placa e o sistema de apoio (BALBO, 2009), cuja

formulação é apresentada abaixo.

𝑙 = √D

k

4

Equação 2.7

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Balbo (2009, p. 232) diz que “quanto maior o raio de rigidez relativa da placa [...] mais

distante da carga encontrar-se-á o ponto de inflexão da deformada”. Assim, intui-se facilmente

que considerada uma placa que apresente determinado Módulo de Rigidez em Flexão, quanto

mais deformável for o subleito sob ela, maior será o valor de 𝑙 e mais distante da carga estará o

ponto de inversão de momento fletor.

Westergaard estudou as respostas de placas de concreto quando carregadas em três

posições diferentes (Figura 2.5), mas considerando sempre a carga aplicada sobre uma área

circular e pressões uniformes sobre essa área (BALBO, 2009).

Figura 2.5 – Posições das cargas na placa para as análises de Westergaard: no centro (1), na

borda (2) e no canto (3)

Fonte: (BALBO, 2009, p. 233).

Estimou-se a partir dos modelos de Westergaard, apresentados em Balbo (2009), as

tensões de tração na flexão desenvolvidas naquelas diferentes posições, mas variando o Módulo

de Reação do Subleito (Figura 2.6).

Verifica-se na Figura 2.6 duas das principais conclusões alcançáveis dos modelos de

Westergaard e que ainda norteiam toda análise e dimensionamento de pavimentos de concreto.

Primeiramente, as tensões críticas se desenvolveriam quando o carregamento se posicionasse

na borda de uma placa, e as tensões menos significativas quando o carregamento estivesse no

centro da placa. (BALBO, 2009).

Balbo (2009, p. 243) também comenta que há “pouca interferência do valor de [...] k

nas tensões na faixa entre 55 e 138MPa/m [...]”. A AASHO Road Test provaria muitos anos

mais tarde, em suas pistas experimentais, que k de fato pouco influencia no estado tensional de

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placas de concreto. Segundo o experimento, a espessura da placa, o número repetições de carga

e a resistência do concreto seriam mais significativos (BALBO, 2009).

Figura 2.6 – Estimativas das tensões em diferentes posições de placas de concreto semi-infinitas

pelas equações de Westergaard

Fonte: Adaptado de Balbo (2009).

Os modelos desenvolvidos por Westergaard foram pioneiros na análise de deflexões e

tensões em placas de concreto e permitem fácil entendimento dos fundamentos básicos para a

análises de tensões desenvolvidas nelas, principalmente a relação entre os diferentes parâmetros

e as respostas da placa.

Entretanto, os modelos apresentavam, segundo Balbo (2009, p. 243), expressivas

limitações, como “a não consideração da placa com dimensões finitas e barras de transferência

de carga (BT) em juntas [...] e a não consideração dos esforços oriundos do empenamento

térmico das placas”. Além disso, soma-se as limitações próprias da Teoria Clássica das Placas

Isótropas e do modelo de Winkler.

2.3 EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA

Instala-se habitualmente nas juntas transversais de PCS um suficiente número de barras

de aço, denominadas Barras de Transferência de Carga (BT), para induzir um comportamento

500

750

1000

1250

1500

0 20 40 60 80 100 120 140 160Ten

são d

e T

raçã

o n

a F

lex

ão

(kP

a)

k (MPa/m)

Bordo

Canto

Centro

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29

solidário entre placas vizinhas quando solicitadas (BALBO, 2009). As barras, imersas em

ambas as placas, como no caso ilustrado à direita da Figura 2.7, respondem às deflexões

desenvolvidas no pavimento de tal forma que ocorre um deslocamento de parte dos esforços

desenvolvidos em uma placa para a outra.

À vista disso, observa-se também uma redução nas movimentações relativas entre

placas vizinhas quando existem BT nas juntas transversais, e em comparação ao que se

observaria se estivessem ausentes (Figura 2.7) (BALBO, 2009).

Figura 2.7 – Ilustração das respostas de PCS com e sem BT nas juntas

Fonte: Adaptado de Calo (2008).

Entretanto, as BT abstêm-se da tarefa de contribuir com a resistência à tração na flexão

das placas. O concreto resiste sozinho aos esforços de tração desenvolvidos (BALBO, 2009), e

as BT apenas as minimizam, principalmente na região próxima às juntas (AMERICAN

ASSOCIATION OF STATE HIGHWAY AND TRANSPORTATION OFFICIALS, 1993

apud BALBO, 2009).

A “quantidade de carga” transferida entre as juntas é mensurada em termos percentuais

e pelo parâmetro Eficiência de Transferência de Carga (LTE, do inglês Load Transfer

Efficiency), estimado pela relação entre as deflexões mensuradas em dois pontos igualmente

afastados da junta (Equação 2.8) (BALBO, 2009).

LTE (%) = δdescarregada

δcarregada×100

Equação 2.8

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30

Existe também uma contribuição favorável ao LTE proveniente do intertravamento de

agregados nas faces das juntas. Isto é, uma parte da transferência de carga ocorre devido ao

atrito e cisalhamento entre os agregados presentes nessas superfícies (BALBO, 2009).

Entretanto, as placas de concreto se expandem e se contraem com os efeitos do clima,

observando-se uma maior ou menor abertura das juntas em função das condições climáticas.

Portanto, esperar-se-ia uma influência significativa das temperaturas no LTE caso esse fosse o

único mecanismo presente (BUCH, 1999 apud BALBO, 2009).

2.3.1 Efeitos das Temperaturas na Eficiência de Transferência de Carga

Colim (2009) investigou os efeitos das temperaturas nos valores de LTE em um

extensivo estudo em uma pista experimental em PCS localizada na Escola Politécnica da

Universidade de São Paulo (EPUSP).

A autora relatou valores de LTE entre 50 e 75% nas juntas sem BT. Os valores mais

insatisfatórios foram observados nos períodos mais frios do ano (inverno) ou do dia (manhã e

noite), muito possivelmente por consequência da redução do atrito entre as faces das juntas pela

contração das placas nesses períodos mais frios (COLIM, 2009). Na Figura 2.8 foram dispostos

os valores médios dos resultados da autora para as juntas sem BT, separados pelos diferentes

períodos do dia e estações em que foram realizadas as estimativas.

Figura 2.8 – Comparação entre LTE médio medido e retroanalisado em juntas sem BT na Pista

Experimental da EPUSP em diferentes períodos do dia e do ano

Fonte: Adaptado de Colim (2009, p. 134).

40

50

60

70

80

Inverno:

Manhã

Inverno:

Tarde

Verão:

Manhã

Verão: Noite

LT

E M

édio

(%

)

Estação do Ano: Período do Dia

Retroanalisado

Medido em Campo

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31

Para aquelas juntas em que haviam BT presentes, por sua vez, Colim (2009) demonstrou

que os LTE aumentavam para valores entre 86 e 99% (Figura 2.9), sob as mesmas condições

climáticas dos resultados anteriores. A autora relatou que além de maiores, os valores de LTE

se mantinham relativamente constantes, para tanto os períodos mais frios como aqueles mais

quentes, demonstrando que o desempenho das juntas com BT independia das condições

climáticas.

Portanto, PCS sem BT deveriam ser evitados, pois não apresentariam, principalmente

nos períodos mais críticos, níveis de transferência de carga adequados (COLIM, 2009). Por

valores de LTE satisfatórios, entende-se aqueles recomendados em normativas internacionais

– uma vez que nada dizem as brasileiras – que recomendam um LTE de no mínimo 70%

(FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION, 1990 apud BALBO, 2009).

Figura 2.9 – Comparação entre LTE médio medido e retroanalisado em juntas com BT na Pista

Experimental da EPUSP em diferentes períodos do dia e do ano

Fonte: Adaptado de Colim (2009, p. 133).

2.4 EFEITOS RESULTANTES DO CLIMA EM PAVIMENTOS DE CONCRETO

O clima produz significativos efeitos na resposta estrutural e desempenho de

pavimentos. Os materiais asfálticos comumente empregados em revestimentos, por exemplo,

sujeitam-se, por virtude das suas propriedades viscoelásticas, a alterações na sua microestrutura

com a variação das temperaturas, resultando, sob o clima tropical brasileiro, principalmente em

40

60

80

100

Inverno:

Manhã

Inverno:

Tarde

Verão:

Manhã

Verão: Noite

LT

E M

édio

(%

)

Estação do Ano: Período do Dia

Retroanalisado

Medido em Campo

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deformações excessivas com a ação do tráfego (BERNUCCI et al., 2006). As propriedades dos

concretos e outros materiais cimentícios, por sua vez, impedem que sua microestrutura se

modifique consideravelmente, mas permitem o aparecimento de diferenciais térmicos

(BALBO, 2009).

Em PCS, o baixo coeficiente de transmissão térmica do concreto resulta na observância

de maiores temperaturas na face superior da placa (Temperatura de Topo, ou Tt), que se

encontra exposta diretamente à atmosfera e à radiação solar, em comparação àquelas

observadas na face inferior da placa (Temperatura de Fundo, ou Tf) (BALBO, 2009). A

diferença entre Tt e Tf é denominada Diferencial Térmico (DT), que é positivo quando aquela

for superior a essa, como é usual nas condições climáticas brasileiras (SEVERI, 2002).

Ilustrou-se na Figura 2.10 uma placa de concreto sujeita a um diferencial térmico

positivo. Assumindo uma variação linear da temperatura ao longo da espessura da placa,

observar-se-ia o valor médio entre Tt e Tf na Linha Neutra (LN), caso essa seja considerada

estática na meia altura da placa. Dessa forma, a região superior à LN apresentaria temperaturas

superiores à média, e deformações e alterações de volume que resultariam na expansão das

fibras superiores em relação à fibra na LN, como representado em termos da largura dessas (ℓ)

na Figura 2.10. Analogamente, verificar-se-ia a contração abaixo da LN pela ocorrência de

temperaturas inferiores à média (BALBO, 2009).

Figura 2.10 – Ilustração do empenamento térmico de uma placa de CCP em decorrência de um

diferencial térmico positivo e linear ao longo de sua espessura

Fonte: Adaptado de Rodolfo (2001).

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A superfície superior da placa, consequentemente, propende a deslocar-se para cima,

configurando um arqueamento convexo, que é denominado empenamento (Figura 2.10). Esse

estado gera um momento fletor adicional na placa que se somará àqueles momentos resultantes

das solicitações dos veículos sobre o pavimento (BALBO, 2009).

Ademais, o peso próprio da placa obstaculiza o arqueamento e resulta, portanto, no

desenvolvimento de esforços de tração extras na região inferior da placa e de esforços extras de

compressão no topo (BALBO, 2009). Ilustrou-se isso na Figura 2.11, em termos das

deformações específicas (ℇ) extras de tração e compressão em uma placa de concreto.

Figura 2.11 – Ilustrações dos efeitos da restrição imposta pelo peso próprio no empenamento

de uma placa de concreto, em termos das suas deformações específicas de tração e compressão

Fonte: Adaptado de Rodolfo (2001).

2.4.1 Modelos Empíricos de Severi (2002) para a Estimativa dos Diferenciais Térmicos

em Clima Tropical

Severi (2002) realizou leituras de temperaturas de topo e de fundo na Pista Experimental

da EPUSP e correlacionou essas leituras com as condições climáticas naqueles instantes para

desenvolver modelos empírico-estatísticos que permitissem estimar as máximas Temperaturas

de Topo (Ttm) e os máximos Diferenciais Térmicos (DTm) em PCS sob clima tropical.

As equações da autora foram desenvolvidas para dois períodos do ano: o primeiro

envolvendo a primavera e o verão, e o outro englobando o outono e o inverno. As Ttm em um

instante ou intervalo de tempo podem ser estimadas nesses períodos do ano, respectivamente,

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pelas Equação 2.9 e Equação 2.10. Para tal fim, deve-se conhecer também o Número Total de

Horas de insolação (NHI), a Temperatura Atmosférica (Tar), em graus Celsius, e a Umidade

Relativa do Ar (H) (SEVERI, 2002).

Ttm,pri/ver = 11,94 + 1,01×NHI + 0,92×Tar − 0,03×H

Equação 2.9

Ttm,out/inv = 14,03 + 0,2×NHI + 0,75×Tar − 0,07×H

Equação 2.10

Os máximos diferencias térmicos em um período são então estimados aplicando as Ttm

estimadas pela formulação acima nas Equação 2.11 (primavera e verão) e Equação 2.12 (outono

e inverno), juntamente com a espessura da placa (h) em centímetros (SEVERI, 2002).

DTm,pri/ver = −18,83 + 0,542×Ttm + 0,037×h

Equação 2.11

DTm,out/inv = −6,534 + 0,509×Ttm + 0,0013×h

Equação 2.12

Esses modelos, pela sua natureza empírica, valem-se sem extrapolações grosseiras para

somente certas faixas de variações dos parâmetros climáticos (PREFEITURA MUNICIPAL

DE SÃO PAULO, 2004). A validade dos modelos de Severi (2002) para outros municípios se

sujeita, portanto, às similaridades entre o clima paulistano e o do local de interesse, ou às

similaridades das faixas de variação dos parâmetros climáticos utilizados na calibração das

equações (Quadro 2.1) com a variação dos mesmos no local de interesse.

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Quadro 2.1 – Faixas de variação e condições de observação dos parâmetros climáticos

utilizados por Severi (2002) para o desenvolvimento de seus modelos

Parâmetro Faixa de variação Observação

Número de Horas de

Insolação (NHI) 6-12h Número entre 9-15h.

Temperatura média

atmosférica (Tar) 6-36ºC

Média da máxima e a

mínima entre 9-15h.

Umidade relativa do ar (H) 20-100% Medida às 15h.

Ocorrência de chuva Sim ou não Após as 9h.

Fonte: (SEVERI, 2002).

2.4.2 Tratamento dos Diferenciais Térmicos pela Prefeitura Municipal de São Paulo

O método de dimensionamento de PCS da Prefeitura Municipal de São Paulo (2004)

apresenta os seguintes dados referenciais para o cálculo da distribuição horária de diferenciais

térmicos diurnos, desde que estimado o DT máximo atuante nas diferentes estações:

Quadro 2.2 – Dados referenciais para cálculo da distribuição de diferenciais térmicos diurnos

Estação do ano Horário de início

do DT positivo

Horário final do

DT positivo

Horário do DT

máximo

Primavera 8h 18h 13-15h

Verão 8h 19h 13-15h

Outono 9h 18h 13-15h

Inverno 9h 17h 13-15h

Fonte: (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2004).

Nos demais horários, a normativa recomenda adotar DT nulos. Ainda, os diferenciais

atuantes em cada faixa horária entre o horário de início e fim dos DT positivos devem ser

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calculados por interpolação linear, com exceção daquele intervalo entre as 13 e 15h, em que o

DT será igual ao valor máximo estimado para cada estação (PREFEITURA MUNICIPAL DE

SÃO PAULO, 2004).

2.5 MODELOS DE FADIGA PARA PAVIMENTOS DE CONCRETO

Para descrever o processo de danificação por fadiga de materiais de pavimentação,

incluindo o CCP, adota-se a limitada, porém prática, abordagem de acúmulo de dano linear

descrita pela hipótese de Palmgren-Miner. Segundo esta, “a cada aplicação de uma mesma

carga ou tensão, [o dano] seria contínuo ou constante ao longo de toda a vida do material, até

que se consumisse sua resistência à fadiga” (BALBO, 2009, p. 121).

A hipótese de Pamgren-Miner diz, portanto, que o Consumo de Resistência à Fadiga

(CRF) de um material pode ser descrito pelo somatório dos consumos em cada nível de tensão.

Estes, por sua vez, são descritos, individualmente, pela relação entre o número de ciclos de

carregamento naquele nível de tensão (Nt,i) e o número de ciclos disponíveis para aquele nível

de tensão (Nf,i) (Equação 2.13). A ruptura ocorreria quando o CRF fosse igual a 1, significando

que 100% da resistência à fadiga do material foi consumida.

CRF = ∑Nt,i

Nf,i

n

i=1

Equação 2.13

Os números de ciclos de fadiga disponíveis de um concreto são normalmente descritos

em modelos de desempenho à fadiga na forma da Equação 2.14, em função da Relação entre

Tensões (RT) e das constantes experimentais ou semi-empíricas a e b (BALBO, 2009).

Nf = a ∙ RTb

Equação 2.14

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A RT é, por sua vez, dada pela relação entre a Máxima Tensão de Tração na Flexão

atuante (σt,m) e a Resistência à Tração na Flexão (fctf) do concreto (BALBO, 2009).

RT = σt,m

fctf

Equação 2.15

Inúmeros autores desenvolveram modelos de fadiga para concretos. Todavia, os

métodos de dimensionamento empregados no Brasil, o da PCA (1984) e o da PMSP (2004),

recomendam ou adotam os dos dois modelos apresentados a seguir.

2.5.1 Modelos de Fadiga da PCA (1984)

A estadunidense PCA apresentara, em 1984, ao atualizar seu método de

dimensionamento de PCS anterior, de 1966, dois modelos de fadiga baseado em experimentos

laboratoriais, realizados, portanto, para os materiais daquele país (BALBO, 2009).

Para RT entre 0,45 e 0,55, a PCA (1984) recomendara o uso da Equação 2.16. E para as

RT acima de 0,55, fora recomendada o uso da Equação 2.17. Para qualquer valor de RT inferior,

assumira-se que o CRF seria nulo, ou que o pavimento suportaria “infinitas” solicitações.

Nf = (4,2577

RT − 0,4325)

3,268

Equação 2.16

log10 Nf = 11,78 − 12,11 ∙ RT

Equação 2.17

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2.5.2 Modelos de Fadiga de Cervo (2004)

Para a estimativa do desempenho de concretos convencionais, a Prefeitura Municipal de

São Paulo (2004) recomenda o uso do modelo de fadiga desenvolvido em laboratório, e para

materiais nacionais, por Cervo (2004) (Equação 2.18).

log10 Nf = 25,858 − 25,142 ∙ RT

Equação 2.18

Cervo (2004) estudou também o comportamento à fadiga de Concretos de Alto

Desempenho (CAD), em laboratório e em campo, permitindo que a autora desenvolvesse um

fator de calibração campo-laboratório (SF, do inglês shift-factor) para o CAD (Equação 2.19).

SF = RT4,2

Equação 2.19

Acredita-se que por ser o único shift-factor disponível na literatura nacional para

pavimentos de concreto (BALBO, 2009), a PMSP (2004) o tenha recomendado também para

concretos convencionais.

2.5.3 Modelos da PCA (1984) vs. Modelos de Cervo (2004)

A Figura 2.12 apresenta uma comparação entre as Nf estimadas para diferentes RT pelos

modelos da PCA (1984) e pelos modelos de Cervo (2004), em condições de laboratório e de

campo.

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39

Figura 2.12 – Comparação entre os modelos de desempenho à fadiga da PCA/84 e Cervo (2004)

Fonte: Autor.

Percebe-se, portanto, como comentam Cervo (2004) e Balbo (2009), que o modelo da

PCA seria o mais pessimista dentre os apresentados neste trabalho. O modelo de Cervo (2004)

para laboratório, por sua vez, se mostrou o menos conservador. Na verdade, a autora relata que

para RT inferiores a 0,80, o seu modelo para concretos convencionais se mostrou o menos

conservador entre os diversos modelos desenvolvidos internacionalmente que ela comparou ao

seu próprio.

Verifica-se também umas das grandes problemáticas ao adotar modelos de fadiga para

análise estrutural de pavimentos de concreto, pois seria impossível, como coloca muito bem

Balbo (2009, p. 118), “tomar qualquer um deles e admiti-los como adequado para a descrição

do comportamento à fadiga de outro concreto” que não seja aquele que tenha originado o

modelo.

A Figura 2.12 também ilustra que o desempenho à fadiga do concreto seria inferior ao

considerar o shift-factor, que aproximaria as respostas do que se verificaria em pista. Isso ocorre

principalmente devido ao fato que em laboratório os carregamentos atuam por menores

períodos de tempo (em maiores frequências) do que em pista, acarretando em um processo de

propagação de fissuras mais lento (BALBO, 2007). Ainda, as amostras de laboratório

apresentam certamente estrutura interna mais homogênea do que as dos materiais em pista,

minimizando a microfissuração interna que iniciaria o processo de ruptura por fadiga do

material (BALBO, 2009).

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,0E+00 1,0E+04 1,0E+08 1,0E+12 1,0E+16

RT

Ciclos de Fadiga Disponíveis

PCA 1984

Cervo Laboratório

Cervo Laboratório + SF

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40

2.6 ANÁLISE NUMÉRICA DE PAVIMENTOS DE CONCRETO

A estimativa das tensões e das deflexões desenvolvidas em pavimentos de concreto é

comumente realizada com softwares que empregam o Método dos Elementos Finitos (MEF) ou

com modelos fechados, desenvolvidos estatisticamente a partir de análises que considerem o

MEF (BALBO, 2009).

Entretanto, Balbo (2009) recomenda o uso de programas de modelagem de elementos

finitos, pois estes permitem avaliar situações não previstas nos modelos fechados,

principalmente quando haver alteração nos módulos de elasticidade dos materiais que compõem

o pavimento, no posicionamento do carregamento e a ocorrência de padrões de carregamento

diferentes dos considerados na calibração dos modelos fechados.

2.6.1 EverFE 2.24

O EverFE 2.24 é uma “ferramenta tridimensional em elementos finitos para a análise da

resposta de pavimentos de concreto simples ao eixos veiculares e efeitos do ambiente”

(DAVIDS, 2003, p. 2, tradução nossa) desenvolvido em parceria pelas Universidades do Maine

e Washington.

Apresenta-se abaixo, em itens, informações pertinentes sobre a teoria empregada pelo

software para desenvolver suas análises numéricas, de acordo com Davids (2003).

O programa modela todo o sistema do pavimento como suportado verticalmente

por um subleito que obedece ao modelo de Winkler. Portanto, o módulo de

reação do subleito é constante em todos os pontos sob a placa;

As placas são tratadas como elementos tridimensionais, linearmente elásticas, e

isotrópicas, como conceitua a Teoria Clássica das Placas Isótropas;

A modelagem das BT é realizada de duas formas distintas. Na primeira, as barras

são consideradas como elementos imersos nas placas. Na segunda, as barras são

modeladas como vigas ensanduichadas entre dois sistemas de Winkler que, por

sua vez, estão dentro da placa. Neste último caso, o “k” do sistema é denominado

“Dowel-Slab Support Modulus”;

O EverFE 2.24 admite que o intertravamento de agregados ocorre ao longo de

toda a junta transversal, e o cisalhamento entre as faces é tido como proporcional

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ao movimento vertical relativo entre as placas, independentemente da abertura

das juntas;

Os eixos veiculares são representados como um conjunto de carregamentos

retangulares com pressão constante ao longo de toda a área de contato.

Essas informações se mostrariam importantíssimas para adequadamente aplicar o

software para análise de qualquer problema, considerando-se as limitações, e os benefícios, do

emprego de um programa sobre outro.

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3 O PAVIMENTO DE CONCRETO SIMPLES DO CORREDOR

Para possibilitar o desenvolvimento deste trabalho, primeiramente reuniu-se as

informações apresentadas a seguir sobre a estrutura, o tráfego e a condição geral do pavimento

que se objetivava estudar, o Pavimento de Concreto Simples (PCS) executado no corredor de

ônibus da Rua do Acampamento, em Santa Maria (RS).

3.1 A ESTRUTURA DO PAVIMENTO EM PROJETO

A estrutura do pavimento fora assentada, segundo seu projeto estrutural, sobre um

subleito de material argiloso com Índice de Suporte Califórnia (CBR) igual a 8%. O sistema de

apoio fora completado com uma sub-base de 60cm de Rachão e uma base de 15cm de Brita

Graduada Simples (BGS). A resistência à tração na flexão especificada para o CCP fora de

4,5MPa. Essas especificações, e o tráfego pressuposto pelos projetistas, apresentado mais

adiante, foram empregadas no método de dimensionamento da PCA (1984) para determinar

que placas de Concreto de Cimento Portland (CCP) com 23cm de espessura seriam suficientes

para um período de projeto de 20 anos (TEIXEIRA, 2005). Algumas dessas especificações

foram ilustradas na Figura 3.1, que apresenta em um corte transversal esquemático a estrutura

do PCS como fora condicionada em projeto.

Figura 3.1 – Ilustração esquemática da estrutura do pavimento em projeto, corte transversal

Fonte: Autor.

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O corredor fora executado em faixa única e, portanto, dispensara-se o uso de Barras de

Ligação (BL). Para as juntas transversais, entretanto, foram especificadas 12 Barras de

Transferência de Carga (BT) de aço liso CA-25, com 25mm de diâmetro, 50cm de comprimento

e afastadas umas das outras em 30cm (TEIXEIRA, 2005).

3.1.1 Propriedades do Concreto de Cimento Portland Utilizado

Apresenta-se na Tabela 3.1 as principais características do CCP utilizado na execução

do pavimento. Reforça-se que a resistência à tração na flexão característica (ftk) aos 7 dias fora

definida como 4,5MPa no dimensionamento estrutural. Ademais, segundo Teixeira (2005), o

cimento Portland utilizado fora do tipo CP V ARI RS, e os aditivos empregados foram

plastificantes e fibras de polipropileno.

Tabela 3.1 – Traço do concreto empregado nas placas

Material ou Propriedade Valores

Cimento Portland (kg/m³) 347

Cinzas (kg/m³) 38

Areia (kg/m³) 671,26

Brita 1 (kg/m³) 440

Brita 2 (kg/m³) 659

Relação A/C 0,44

Aditivos (L/m³) 4,08

Abatimento (mm) 50 ± 10

Fonte: Autor.

3.2 CARACTERÍSTICAS DO TRÁFEGO NO CORREDOR

Reuniu-se informações tanto do tráfego pressuposto pelos projetistas para o

dimensionamento da estrutura avaliada neste trabalho, como do tráfego efetivo sobre a

estrutura, observado em pista.

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3.2.1 Tráfego Pressuposto em Projeto

Pressupusera-se em projeto que no primeiro ano após abertura ao tráfego (2005)

haveriam 1.000 veículos 2C (“ônibus convencionais”) solicitando o pavimento diariamente, e

que esse número cresceria linearmente a uma taxa de 3,0% a.a.

Adotara-se também que 80% dos eixos traseiros desses veículos, do tipo Eixo Simples

de Rodas Duplas (ESRD), solicitá-lo-iam com a carga máxima legal (SEIFFERT et al., 2014),

que é de 100+7,5kN (DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE

TRANSPORTES, 2012).

3.2.2 Volume de Tráfego Observado em Pista

Realizara-se uma série de levantamentos nos últimos anos para averiguar o número de

ônibus que efetivamente trafegavam no corredor (BRONZATTI, 2010; HENNICKA, 2012;

GONÇALVES, 2013; LOBO; SEIFFERT; PEREIRA, 2016).

Apresenta-se na Tabela 3.2 o Volume de Tráfego (VT) verificado pelos autores,

referente somente aos ônibus 2C ou 2S1 (“articulados”) observados transitando sobre o

pavimento entre as 06 e as 22h de um dia considerado representativo pelos referidos autores.

Tabela 3.2 – Volume de Tráfego observado no corredor (2008-2015)

Ano do levantamento Volume de Tráfego

2008 1466

2010 1524

2012 1544

2013 1554

2015 1501

Fonte: Adaptado de Bronzatti (2010), Hennicka (2012), Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

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45

A taxa média de crescimento do VT observada entre 2008 e 2013 fora de 0,98% a.a.

Esse padrão mostrou-se muito bem estabelecido nesse período, tanto que um ajuste de um

modelo linear nesses resultados retornaria um R² de 0,926.

Apesar disso, no levantamento mais recente (2015) fora registrada uma queda

expressiva comparando-o àquele resultado imediatamente anterior, de 3,41%. Esse valor

também se mostrou consideravelmente discordante do padrão realista e bem estabelecido

observado nos trabalhos anteriores. Acredita-se que possivelmente houvera influência de algum

fator externo no tráfego desenvolvido naquele dia e que isso tenha passado despercebido por

Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

3.2.3 Níveis de Carregamento Observados em Pista

Os dois últimos trabalhos (GONÇALVES, 2013; LOBO; SEIFFERT; PEREIRA, 2016)

ainda classificaram os ônibus em “leve”, “médio” ou “pesado” segundo sua observada condição

de ocupação – isto é, o número de passageiros – e em alusão ao nível do carregamento imposto

no pavimento por esses veículos nessas diferentes condições. Os critérios adotados para

classifica-los por contraste visual nesses termos são apresentados no Quadro 3.1.

Quadro 3.1 – Critérios de classificação dos veículos por meio do contraste visual de sua

condição de ocupação

Classificação Critério

Leve Alguns assentos encontram-se vazios.

Médio Todos os assentos estão ocupados.

Pesado Todos os assentos estão ocupados e há passageiros em pé.

Fonte: (GONÇALVES, 2013).

A Tabela 3.3 exibe os resultados desses levantamentos, mas transfigurados em termos

de solicitações de eixos ESRD. Para tal fim, considerou-se que os ônibus convencionais

solicitariam o pavimento uma vez ao transitar sobre um ponto, pois possuem um eixo traseiro

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46

desse tipo; e os ônibus articulados, duas vezes, pois possuem dois desses mesmos eixos

(DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, 2012).

Tabela 3.3 – Distribuição das solicitações observadas por nível do carregamento (2013 e 2015)

Ano do levantamento Percentagem das Solicitações (%)

Leve Médio Pesado

2013 69,90 21,44 8,66

2015 74,04 22,58 3,38

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016) verificaram, portanto, que a maioria

dos ônibus trafegavam em 2013 e 2015 em condições de ocupação que permitiriam classificar

os carregamentos impostos por seus eixos traseiros como “leves”. Observou-se também que

houve uma sensível redistribuição entre os dois levantamentos, e que a sua principal

consequência foi a redução na participação daqueles carregamentos mais severos ao pavimento

(pesados), que diminuíra 5,28pp. Isso favoreceu a participação das solicitações leves, que

aumentou 4,14pp, enquanto que a parcela das solicitações médias se alterou escassamente.

3.2.4 Contraposição do Tráfego Observado em Pista ao Pressuposto em Projeto

A Figura 3.2 ilustra as disparidades existentes entre o Volume de Tráfego pressuposto

em projeto e aquele efetivado em pista nos últimos anos, observado nos trabalhos citados.

Em 2013, portanto, o VT observado em pista fora 20,21% superior ao que os projetistas

supuram para o mesmo ano, apesar da taxa real de crescimento do tráfego (0,98%) ser

consideravelmente inferior àquela de projeto (3%).

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47

Figura 3.2 – Comparação entre o Volume de Tráfego observado e o pressuposto em projeto

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013), Seiffert et al. (2014) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Para poder comparar as magnitudes dos carregamentos em relação à carga máxima

legal, adotara-se as cargas estimadas por Chaves (2009) para ônibus trafegando em condições

idênticas àquelas apresentadas no Quadro 3.1, apresentadas na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 – Estimativas das cargas aplicadas pelos eixos traseiros de ônibus 2C e 2S1 em

diferentes níveis de ocupação

Classificação Carga no ESRD (kN)

Ônibus 2C Ônibus 2S1

Leve 90,60 85,60

Médio 100,00 94,20

Pesado 114,10 111,50

Fonte: (CHAVES, 2009).

Isto posto, apresenta-se na Figura 3.3 a comparação possibilitada pela Tabela 3.4 entre

as percentagens das solicitações observadas e em projeto que ocorreriam abaixo, acima e com

a carga máxima legal (para ESRD).

900

1100

1300

1500

17002005

2006

2007

2008

2009

2010

20

11

2012

2013

2014

2015

Volu

me

de

Trá

fego

Ano

Observado em Pista

Pressuposto em Projeto

Padrão de Crescimento

Observado em Pista

(2008-2013)

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Figura 3.3 – Percentagem das solicitações observadas e pressupostas em projeto ocorrendo

abaixo, acima e com a carga máxima legal (CML)

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013), Seiffert et al. (2014) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Verificou-se, portanto, que a parcela de solicitações que ocorrem com a carga máxima

legal foi superestimada em projeto, sendo somente 22% em 2015 e 21% em 2013 das

solicitações diárias ocorreram com essa magnitude. Observou-se também, em pista, que uma

parcela de 3% em 2015 e 9% em 2013 das solicitações ocorreram com magnitudes superiores

à carga máxima legal, e que essas não foram contempladas em projeto.

3.3 O DESEMPENHO ATUAL DO PAVIMENTO

Acompanha-se o desempenho das placas do corredor desde sua execução, mas com o

auxílio do Índice de Condição do Pavimento (ICP), um indicador da integridade funcional e

estrutural de um pavimento de concreto, estimado com base nos defeitos registrados na sua

superfície (BALBO, 2009).

Apresenta-se na Figura 3.4 os resultados finais dos trabalhos realizados com esse

objetivo, reunidos em Seiffert et al. (2014) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016), e em função dos

três trechos em que o pavimento fora dividido nessas avaliações e em sua execução.

Esses trabalhos mostraram que, segundo o índice, todos os trechos ainda ofertavam

“boas” condições funcionais e estruturais no instante do último levantamento

(DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES, 2004b).

Esses levantamentos também demonstraram que os desempenhos dos diferentes trechos seriam,

em termos gerais, e envolvendo aspectos funcionais e estruturais, muito similares entre si.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Projeto

Observado 2013

Observado 2015

Percentagem das Solicitações

Abaixo da CML

Com a CML

Acima da CML

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49

Figura 3.4 – Evolução do Índice de Condição do Pavimento do corredor por trecho (2008-2015)

Fonte: (SEIFFERT et al., 2014; LOBO, SEIFFERT; PEREIRA, 2016).

Todavia, ao analisar os defeitos que dariam pistas sobre o desempenho à fadiga das

placas de concreto, por exemplo, o desempenho variou entre os trechos, pois o T2 apresentou

uma maior percentagem de placas fissuradas, 11,90%, em comparação ao T1, que apresentou

6,67% das placas fissuradas, e ao T3, que apresentou o defeito em 4,35% delas (LOBO;

SEIFFERT; PEREIRA, 2016; MULLER, 2016).

55

60

65

70

75

80

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Índic

e de

Condiç

ão d

o

Pav

imen

to

Ano

Trecho 1

Trecho 2

Trecho 3

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4 METODOLOGIA

4.1 AVALIAÇÃO DEFLECTOMÉTRICA EM PISTA

As estimativas de desempenho desenvolvidas neste trabalho se fundamentaram no

comportamento do pavimento em pista, avaliado em termos das suas bacias de deflexões.

Almejava-se com as avaliações deflectométricas obter informações suficientes para a

estimativa e retroanálise, nas etapas subsequentes, daqueles parâmetros definidos em avaliações

estruturais de Pavimentos de Concreto Simples – E, k e LTE.

4.1.1 Placas e Juntas Amostradas nas Avaliações Deflectométricas

À vista dos objetivos deste trabalho, definiu-se uma amostra de oito placas para serem

avaliadas deflectometricamente que, individualmente, representassem as “boas” condições

gerais do trecho em que se encontravam. Procurou-se também que estivessem bem distribuídas

ao longo do corredor, amostrando-se todos os três trechos. Essa abordagem permitiria que os

parâmetros estimados a partir das bacias-resultado destas avaliações – e a posterior análise de

desempenho também – representassem as condições médias do pavimento.

Antes de dar continuidade à apresentação da metodologia, torna-se preciso apresentar o

grupo de três placas, A, B e C, da Figura 4.1. Esse grupo aparece em todas as etapas deste

trabalho, e as placas ou juntas presentes nele são referidas seguidamente pela sua posição ou

identificação abaixo. Por exemplo, ao se referir neste trabalho às “placas lindeiras”, fala-se nas

placas A e C, pois são aquelas que ocupam as posições lindeiras no grupo abaixo.

Figura 4.1 – Ilustração de um grupo de três placas, A, B e C, de um PCS

Fonte: Autor.

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Na verdade, sabia-se, antes da realização das avaliações deflectométricas, que as

retroanálises deste trabalho seriam realizadas considerando um grupo tal como o ilustrado

acima. Portanto, após definir as oito placas que seriam avaliadas, elas foram consideradas como

as placas centrais dos seus respectivos grupos, e registrou-se todos os dados pertinentes sobre

elas e as adjacentes. Por isso, todas as informações apresentadas neste trabalho se encontram

em função de um sistema tal como ilustrado na Figura 4.1.

Avaliou-se em pista, em dois momentos distintos, tanto as respostas às cargas das placas

centrais, quanto as respostas de suas juntas, pois ambas as avaliações eram necessárias para a

posterior estimativa daqueles três parâmetros, como explicava Balbo (2009) e Colim (2009).

Para a estimativa do LTE, todavia, investigou-se somente o comportamento daquela junta à

esquerda.

Estudou-se também o LTE entre as faces de uma fissura linear desenvolvida em uma

placa. Assim, avaliou-se na verdade um total de nove placas. Isso posto, apresenta-se na Tabela

4.1 os grupos de placas amostrados para este trabalho pelas razões expostas acima, e como as

avaliações realizadas em diferentes pontos desses grupos foram identificadas.

Tabela 4.1 – Apresentação dos grupos de placas amostrados, das identificações das avaliações

deflectométricas neles realizados, e dos trechos a quais os grupos pertenciam

Avaliação

Deflectométrica Placas Avaliadas

Trecho

Junta Placa Placa A Placa B Placa C

A1 A2 P4 P5 P6 T1

A3 A4 P10 P11 P12 T1

A5 A6 P18 P19 P20 T1

A7 A8 P26 P27 P28 T1

A9 A10 P35 P36 P37 T2

A11 A12 P48 P49 P50 T2

A13 (F) A14 (F) P51 P52 P53 T2

A15 A16 P79 P80 P81 T2

A17 A18 P101 P102 P103 T3

Fonte: Autor.

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As duas primeiras colunas da Tabela 4.1 mostram as nomenclaturas dadas às avaliações

deflectométricas. Estas foram identificadas com a letra “A” e um número, sendo este diferente

para as avaliações realizadas em juntas e aquelas realizadas na placa central e correspondente

ao ordenamento em que os levantamentos ocorreram em pista. Ainda, sempre que se mencionar

as avaliações realizadas na fissura, usa-se “ (F) ” para diferencia-la.

As placas, por sua vez, foram identificadas com a letra “P” e um número-identidade de

cada uma delas, comum a todas as avaliações outrora realizadas no pavimento, e correspondente

a sua posição ao longo do corredor (GONÇALVES, 2013).

Apesar disso, ao longo deste trabalho refere-se às juntas e placas somente pela

identificação das avaliações realizadas nelas. Por exemplo, ao invés de escrever “a junta

transversal entre P4 e P5”, escreve-se “a junta avaliada em A1” ou “a junta A1”.

4.1.2 Avaliação Deflectométrica em Juntas

A primeira avaliação deflectométrica foi realizada posicionando-se o carregamento do

Falling Weight Deflectometer (FWD) nas proximidades da junta transversal entre a placa

central e aquela a sua esquerda. Esquematizou-se na Figura 4.2 a locação do equipamento

nessas avaliações, em função das posições em que se encontravam seus geofones. Estes foram

ilustrados como uma flecha (não confundir com cargas) e por um número igual ao seu

afastamento do centro do carregamento (em centímetros).

Assim, o posicionamento do equipamento nestes primeiros levantamentos foi tal que o

primeiro sensor (e a placa metálica carregada) estivesse em uma placa A, e os demais sensores

em uma placa B (Figura 4.2). Essa seria a configuração ideal para o estudo do LTE de uma

junta transversal (BALBO, 2009; COLIM, 2009). Para o caso da fissura avaliada, o

posicionamento foi tal como seria se fosse uma junta.

Logo, o centro do carregamento, que coincide com o geofone “zero”, foi posicionado

distante “a” da junta sendo avaliada e “b” de uma das extremidades longitudinais da placa à

esquerda da junta (Figura 4.2). Essas variáveis e as dimensões em planta das três placas foram

medidas manualmente em campo (Figura 4.3) e encontram-se dispostas no Apêndice A.

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Figura 4.2 – Ilustração esquemática do posicionamento do FWD e de seus geofones nas

avaliações deflectométricas realizadas em juntas

Fonte: Autor.

Procurou-se, visualmente, posicionar o carregamento o mais próximo possível da

metade da largura (medida transversal) das placas de concreto; e uma das extremidades da placa

circular do equipamento afastada 2,00-4,00cm da junta transversal (Figura 4.3). A locação

minuciosa do equipamento não foi possível pelas condições de empréstimo do mesmo, que

exigiram que as avaliações ocorressem mais aceleradamente do que apropriado.

Figura 4.3 – Aferição em pista das dimensões de uma das placas avaliadas, com indicação da

posição do centro da placa circular do FWD em uma avaliação em junta

Fonte: Autor.

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Posicionado o equipamento, aplicou-se dois carregamentos sucessivos em cada ponto,

resultando em duas bacias de deflexões para cada junta ou fissura avaliada, nomeadas B1 e B2.

Apresenta-se, como exemplo, na Figura 4.4 as bacias B1 e B2 da junta avaliada em A3.

Figura 4.4 – Bacias de deflexões B1 e B2 obtidas para a junta avaliada em A3

Fonte: Autor.

4.1.3 Avaliação Deflectométrica no Centro de Placas

Ainda em um mesmo grupo de placas, concluído uma avaliação deflectométrica em uma

de suas juntas, deslocou-se o FWD para as proximidades do centro geométrico da placa central

desse sistema. Este novo posicionamento, esquematizado na Figura 4.5, seria aquele ideal para

permitir, posteriormente, a estimativa dos parâmetros k e E, que caracterizam o comportamento

da estrutura daquela seção do pavimento (BALBO, 2009).

As mesmas observações realizadas anteriormente podem ser feitas sobre essas segundas

avaliações. Primeiramente, registrou-se manualmente a posição do carregamento em função

das variáveis “a” e “b” (Figura 4.5), que também foram dispostas no Apêndice A. A disposição

do carregamento, por sua vez, foi nas “proximidades” do centro geométrico e não exatamente

nele, devido novamente às condições de empréstimo do equipamento. E aplicou-se também

dois carregamentos sucessivos em cada ponto.

10

15

20

25

30

35

40

45

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância do centro do carregamento (cm)

B1

B2

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55

Figura 4.5 – Ilustração esquemática do posicionamento do FWD e de seus geofones nas

avaliações deflectométricas realizadas no centro de placas

Fonte: Autor.

Apresenta-se na Figura 4.6 as bacias de deflexões B1 e B2 aferidas nas proximidades

do centro geométrico de A18. Utilizou-se esta placa para posteriormente também exemplificar

o procedimento de retroanálise.

Figura 4.6 – Bacias de deflexões B1 e B2 obtidas no centro da placa avaliada em A18

Fonte: Autor.

9

10

11

12

13

14

15

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância do centro do carregamento (cm)

B1

B2

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Realizados os dois carregamentos em uma placa central, e registrado o posicionamento

e as dimensões das placas envolvidas, deslocou-se o equipamento para o próximo grupo

amostrado; repetindo a metodologia até a última placa avaliada, próximo ao fim do corredor.

4.1.4 Estimativa das Diferenças entre B1 e B2 de um Ponto

A única análise realizada sobre as bacias de deflexões explicitamente consistiu na

aferição das diferenças entre as bacias B1 e B2 de um mesmo ponto através do parâmetro Erro

(Equação 2.1, p. 21). Acreditava-se que essa abordagem permitiria fácil identificação daquelas

bacias “mal delineadas” – expressão usada por Balbo (2009) – por consequência de qualquer

erro pontual nas leituras do equipamento. As bacias provadas mal delineadas foram, à vista

disso, excluídas das etapas subsequentes.

Adicionalmente, as desigualdades foram também relacionadas através do Coeficiente

de Correlação de Pearson (𝜌) com as condições durante as avaliações deflectométricas, para

verificar se haveria outras razões para os valores de Erro estimados.

Uma posterior “validação” dos resultados das avaliações deflectométricas seria

realizada, espontaneamente, com a estimativa dos parâmetros estruturais, pois caso esses se

mostrassem irreais, indicariam que possivelmente ocorrera algum problema nas leituras.

4.1.5 Considerações sobre as Condições durante as Avaliações Deflectométricas

Além das deflexões, o equipamento registrou nas planilhas que emite algumas

informações sobre as condições em que ocorreram os levantamentos deflectométricos que se

mostraram fundamentais para definir aspectos da metodologia deste trabalho.

As planilhas registraram, por exemplo, que os ensaios foram realizados entre as

22h13min e as 23h31min do dia 21 de janeiro de 2013. Elas mencionavam também que a

temperatura atmosférica fora inferior à temperatura aferida na superfície do pavimento durante

todos os instantes (Figura 4.7).

Essas duas informações, mas principalmente o horário em que ocorreram as avaliações,

permitiram inferir, através das observações de Severi (2002) e das recomendações da Prefeitura

Municipal de São Paulo (2004), que os Diferenciais Térmicos (DT) existentes nas placas em

todos os instantes seriam nulos. Portanto, todas as metodologias definidas para as próximas

etapas se respaldaram nessa suposição.

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Figura 4.7 – Relação entre a temperatura atmosférica e a temperatura na superfície do

pavimento registradas durante os levantamentos deflectométricos

Fonte: Autor.

As magnitudes dos dois carregamentos sucessivos (B1 e B2), por sua vez, não foram

registradas como sendo idênticas (Figura 4.8). Entretanto, a média das diferenças entre as cargas

aplicadas em um e outro momento foi estimada, percentualmente, pequeníssima, de 1,73%. À

vista disso, esses foram considerados suficientemente próximos para que as médias entre eles

representassem as condições que resultaram em tanto B1 como em B2.

Figura 4.8 – Relação entre as cargas aplicadas no primeiro e no segundo carregamento durante

os levantamentos deflectométricos

Fonte: Autor.

20

22

24

26

28

30

20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

Tem

per

atua

na

super

fíci

e

do p

avim

ento

(ºC

)

Temperatura atomosférica (ºC)

4000

4080

4160

4240

4320

4000 4040 4080 4120 4160 4200 4240 4280 4320Car

ga

apli

cada

em B

2 (

kgf)

Carga aplicada em B1 (kgf)

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4.2 ESTIMATIVA DA EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA

Realizadas as avaliações deflectométricas e a exclusão daquelas mal delineadas, o

primeiro parâmetro estimado a partir destas fora a Eficiência de Transferência de Carga (LTE)

na fissura e nas juntas avaliadas. Desenvolveu-se essas estimativas por meio da relação direta

das deflexões aferidas em pista em suas proximidades.

Para tanto, relacionou-se na Equação 2.8 (p. 29) duas deflexões mensuradas em dois

pontos igualmente afastados da junta ou fissura em análise, desde que uma estivesse na placa

mais à esquerda, e a outra na placa central.

Adotou-se como denominador aquela deflexão aferida no geofone “zero”, pois este era

o único sensor que se encontrava na placa mais à esquerda, e também por sua respectiva

deflexão poder ser obtida diretamente das planilhas emitidas pelo equipamento. Essa deflexão

foi aferida, portanto, em um ponto afastado “a” da junta (Figura 4.2, p. 53).

Assim, a segunda deflexão de interesse estaria afastada “2a" do centro do carregamento

(Figura 4.2, p. 53). Todavia, para todos os casos, inexistia um geofone nessa posição, impedindo

que se realizasse a leitura direta nas planilhas desse segundo valor. À vista disso, recorreu-se

ao famoso método da regressão linear para estimar a segunda medida de interesse dentro das

bacias (Figura 4.9).

Figura 4.9 – Ilustração da aproximação linear realizada para estimar a segunda deflexão de

interesse em B1 de A5

Fonte: Autor.

10

20

30

40

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância do centro do carregamento (cm)

B1

Aproximação

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59

As regressões foram realizadas, entretanto, somente com base nos resultados dos

sensores que se localizavam na placa central (Figura 4.9). Todas as regressões se mostraram

bastante satisfatórias, com coeficiente R² médio de 0,991, validando, portanto, a estimativa da

segunda deflexão por esse método. Apresentou-se na Figura 4.9 a “bacia” formada pelos seis

pontos remanescentes da primeira bacia da junta A5, aqueles utilizados para construir a reta de

aproximação linear, esta também ilustrada abaixo.

Realizou-se esse mesmo procedimento de aproximação todos os pontos de interesse

avaliados, e separadamente para B1 e B2. Conhecida as deflexões, estas foram apenas

relacionadas na Equação 2.8 (p. 29), obtendo-se, portanto, duas estimativas de LTE para uma

mesma junta ou fissura.

4.3 RETROANÁLISE DOS DEMAIS PARÂMETROS ESTRUTURAIS

Estimou-se os “demais” parâmetros estruturais – o Módulo de Reação do Subleito (k) e

o Módulo de Elasticidade do Concreto (E) – pela retroanálise daquelas avaliações

deflectométricas realizadas no centro de placas.

4.3.1 Estimativa Teórica de 𝐤 𝐞 𝐄

A retroanálise, como definida anteriormente, é um procedimento interativo, para o qual

se define a cada etapa novos intervalos para os parâmetros que se procura estimar, até que esses

resultem em respostas suficientemente próximas àquelas observadas em pista.

À vista disso, utiliza-se comumente modelos teóricos baseados nas formulações de

Westergaard para estabelecer valores de k e E condizentes com o comportamento observado da

estrutura em pista (BALBO, 2009), evitando que as suposições de intervalos iniciais sejam

muito distantes daqueles característicos das placas avaliadas, prolongando demasiadamente o

processo. Balbo (2009) recomenda os modelos de Hall (1991 apud BALBO, 2009) para o

cálculo de Módulo de Rigidez Relativo, e as formulações de Crovetti (1994 apud BALBO,

2009) para definir os valores iniciais de k e E.

4.3.1.1 Modelos para a Estimativa Teórica de 𝑘 𝑒 𝐸

Para tanto, primeiramente aplicou-se os resultados das avaliações deflectométricas

realizadas no centro de placas na Equação 4.1, onde se relaciona as deflexões (δ), em polegadas,

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medidas em distâncias predefinidas do centro do carregamento e subscritas nas variáveis da

equação para estimar o parâmetro adimensional AREA (HALL, 1991 apud BALBO, 2009). Essa

metodologia foi repetida para cada placa individualmente e para B1 e B2 separadamente.

AREA = 6× (1 +2δ30

δ0+

2δ60

δ0+

δ90

δ0)

Equação 4.1

Aplicou-se então as estimativas de AREA na Equação 4.2 para aferir o Módulo de

Rigidez Relativa (𝑙) da placa (HALL, 1991 apud BALBO, 2009).

𝑙 = [𝑙𝑛 (

36 − AREA1812,279133)

−2,55934]

4,387009

Equação 4.2

O Módulo de Reação do Subleito (k), em libras por polegada quadrada por polegada,

foi estimado pela Equação 4.3. Além de variáveis já definidas, relaciona-se abaixo – alterado o

significado das variáveis para o caso deste trabalho – o raio da placa do FWD (a), em polegadas,

e a carga aplicada pelo equipamento em cada instante (P), em libras-força (CROVETTI, 1994

apud BALBO, 2009).

k = P

8×d0×𝑙2{1 + (

1

2π) [𝑙𝑛 (

a

2×𝑙) − 0,67278436] × (

a

𝑙)

2

}

Equação 4.3

Por último, o valor teórico do Módulo de Elasticidade do Concreto (E) foi estimado pela

Equação 4.4, onde relaciona-se o seu coeficiente de Poisson (μ) e a espessura da placa (h)

(CROVETTI, 1994 apud BALBO, 2009).

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E = 12×(1 − μ2)×k×𝑙4

h3

Equação 4.4

4.3.1.2 Considerações sobre os Modelos para a Estimativa Teórica de 𝑘 𝑒 𝐸

Apresenta-se como exemplo na Tabela 4.2 os valores encontrados pelas formulações

apresentadas no item 4.3.1 para o grupo de placas avaliado em A18.

Tabela 4.2 – Estimativas teóricas de k e E para o grupo de placas A18

Bacia E (MPa) 𝐤 (MPa/m)

B1 44609,15 62,93

B2 46490,85 63,01

Fonte: Autor.

As equações empregadas para desenvolver essas estimativas, todavia, consideraram

sempre carregamentos estáticos, enquanto que o carregamento nas avaliações deflectométricas

fora de natureza dinâmica (BALBO, 2009). Logo, a AASHTO (1998 apud COLIM, 2009)

recomenda adotar na retroanálise no mínimo o dobro do valor de k estimado pela Equação 4.3.

Portanto, os valores iniciais de k para A18 foram 125,86 e 126,03MPa/m. A mesma

sistemática foi realizada para todas os outros grupos de placas.

4.3.2 Configuração do Pavimento em Análise no Modelo para a Retroanálise

Ainda antes de iniciar o procedimento de retroanálise em si, configurou-se cada grupo

de placa em avaliação no EverFE 2.24, o software empregado para modelar o pavimento.

Relata-se a seguir como se configurou o programa na mesma sequência em que os diferentes

aspectos da estrutura são apresentados ao usuário pela sua interface gráfica.

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4.3.2.1 Estrutura do Pavimento e Dimensões das Placas

Avaliou-se cada placa como pertencente a um conjunto de três placas, igual àquele

apresentado no início deste capítulo. Adotou-se que a placa avaliada deflectometricamente seria

a central do sistema ilustrado na Figura 4.10, e que o grupo estaria apoiado diretamente sobre

o subleito.

Figura 4.10 – Reprodução de como o problema em estudo é apresentado ao usuário na interface

gráfica do EverFE 2.24

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24.

Essa configuração permitiria que se simulasse, caso necessário, o efeito da transferência

de carga nas juntas. Ainda, possibilitaria que a restrição à flexão da placa central imposta pela

inércia das placas lindeiras fosse considerada. Acreditava-se que dessa forma as respostas

modeladas se aproximariam ainda mais daquelas desenvolvidas em campo.

A modelagem do sistema como se fosse apoiado diretamente sobre o subleito é uma

simplificação comum quando existem bases granulares (BALBO, 2009; COLIM, 2009). As

dimensões em planta das placas, por sua vez, foram consideradas tais como aferidas em campo

(Apêndice A), e as suas espessuras iguais àquela especificada em projeto, 23cm.

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4.3.2.2 Propriedades dos Materiais do Pavimento

Apresenta-se no Quadro 4.1 os valores adotados para as diferentes propriedades

configuráveis dos elementos que compõem o pavimento como configurado no modelo para este

trabalho.

Quadro 4.1 – Valores adotados para as propriedades dos materiais do pavimento no modelo

Elemento Propriedade Valor Adotado Observação

Placa de CCP

E - Retroanalisado

μ 0,20 Padrão1

∝ 10-5 ºC-1 Adotado2

Peso específico 2.400 kg m³⁄ Padrão1

BT E 200.000 MPa Padrão1

μ 0.3 Padrão1

Subleito k - Retroanalisado

Fonte: Autor.

Notas: 1Valores padrões do EverFE 2.24. 2Adotado valor idêntico àquele de Severi (2002).

Adotou-se, portanto, as significâncias padrões do software para todas as propriedades

exceto aquelas que seriam retroanalisadas (k e E) e o coeficiente de expansão térmica linear do

concreto (∝), que foi adotado igual àquele considerado por Severi (2002). Os valores padrões

do EverFE 2.24 se mostraram compatíveis com os adotados em trabalhos desenvolvidos

nacionalmente (BALBO, 2009; COLIM, 2009; SEVERI, 2002).

4.3.2.3 Carregamentos para a Retroanálise

Para simular o carregamento aplicado sobre a placa central durante as avaliações

deflectométricas, configurou-se uma roda isolada no software para que fosse quadrada e

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apresentasse uma área de contato com o pavimento muitíssimo próxima da área da placa

metálica do equipamento – ou seja, 265mm de lado (Figura 4.10).

A magnitude dos carregamentos foi particular a cada grupo e placa retroanalisado e igual

à média das cargas aplicadas nos instantes B1 e B2, como comentado previamente. A posição

do centro geométrico da carga, por sua vez, foi igual à posição do centro do carregamento do

FWD (Apêndice A).

4.3.2.4 Propriedades das Juntas Transversais

As propriedades das juntas foram quase todas mantidas como oferecidas por padrão pelo

software, com exceção do número de BT, suas dimensões e a configuração espacial delas, que

foram consideradas como apresentado no projeto estrutural do pavimento (Figura 4.10).

Apesar de se conhecer neste instante os níveis de LTE das juntas, estes não foram

modelados, pois se mostraram insignificantes às respostas. Visto que o carregamento estava

posicionado no centro da placa, ocorria sobre uma pequena área de contato e com pequena

magnitude, as áreas nas proximidades das juntas eram pouco mobilizadas pelos esforços

internos desenvolvidos na placa (Figura 4.11), e diferentes níveis de LTE não alterariam os

resultados.

Figura 4.11 – Ilustração das máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas na fibra inferior

de uma placa com o carregamento adotado para a retroanálise

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24.

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4.3.2.5 Configuração da Malha do Modelo para a Retroanálise

A análise numérica realizada pelo EverFE 2.24 se baseia no Método dos Elementos

Finitos. Portanto, necessita-se configurar a malha do modelo para cada problema em análise,

de forma que as respostas obtidas sejam aprimoradas para a configuração geométrica do

problema, os carregamentos aplicados nele e o tipo de respostas avaliadas; evitando-se, dessa

forma, favorecer as incertezas inerentes das soluções numéricas.

À vista disso, investigou-se os efeitos de diferentes configurações de malhas nas bacias

de deflexões retroanalisadas, comparando-as, através do parâmetro Erro (Equação 2.1, p. 21),

com aquelas obtidas nas avaliações deflectométricas. Almejava-se encontrar uma configuração

tal que a bacia retroanalisada fosse igual àquela aferida na malha mais densa, mas que o tempo

necessário para a computação do problema fosse ao mesmo tempo mínimo.

Exemplifica-se o procedimento de configuração de uma malha no EverFE 2.24, e todas

suas particularidades, a partir daquelas verificadas para o grupo de placas A18 (Tabela 4.3).

Tabela 4.3 – Número de elementos definidos para cada malha verificada durante a configuração

do modelo para a retroanálise do grupo de placas A18

Malha

Número de elementos

Direção X Direção Y Direção Z

Placa A Placa B Placa C

M1 12 12 12 12 2

M2 20 20 20 20 2

M3 20 20 20 20 4

M4 25 25 25 25 2

M5 30 30 30 30 2

M6 12 20 12 20 2

Fonte: Autor.

Registrou-se para cada uma dessas malhas os valores de Erro em relação a B1 e a B2, e

o tempo necessário para que o problema fosse solucionado (Figura 4.12). Entretanto, para

simplificar a exemplificação, ilustrou-se abaixo somente os valores de Erro em relação a B1.

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Figura 4.12 – Tempo necessário para conclusão das análises e Erro em relação a B1 para cada

malha verificada durante a configuração do modelo para a retroanálise do grupo de placas A18

Fonte: Autor.

A malha M1 seria a configuração padrão do EverFE 2.24. Verificou-se, logo, que ao

aumentar consideravelmente o número de elementos em todas direções em M2, o valor de Erro

se elevou 116% (Figura 4.12). Averiguou-se, portanto, a importância desta etapa na

retroanálise, pois as bacias de deflexões obtidas em M1 e M2 eram totalmente diferentes, apesar

de serem obtidas com os mesmos parâmetros estruturais.

Em M3, alterou-se, em relação a M2, somente o número de elementos na direção

vertical. Observou-se que o Erro foi idêntico àquele de M2, com somente o ônus de um

consumo de tempo 56% maior (Figura 4.12). O EverFE 2.24 recomenda que o número de

elementos nessa direção seja igual à distribuição do diferencial térmico ao longo da espessura.

Por exemplo, se o diferencial térmico for medido em relação a dois pontos (topo e fundo, por

exemplo), o número de elementos em z precisaria ser par. Visto que se adotou que seriam nulos,

o número de elementos nessa direção não afetaria as respostas. À vista disso, foi mantido

sempre igual ao valor mínimo, dois – e isto para todos os grupos de placas.

As respostas do EverFE 2.24 seriam, segundo tutoriais disponibilizados no seu menu de

“ajuda”, menos suscetíveis a erros provenientes das análises numéricas, se houvesse dentro da

área carregada ao menos um nó formado pelo encontro de elementos da malha

(“Posicionamento B”, Figura 4.13).

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Figura 4.13 – Exemplos de malha que resultam em nós dentro da área carregada

(Posicionamento B) e de outra, que não possui nó dentro da área carregada (Posicionamento A)

Fonte: Autor.

Verificou-se em M4 os efeitos da configuração indevida da malha para o carregamento

simulado. Adotou-se nesse caso um número de elementos de tal forma que se configurasse um

“Posicionamento A”. Em consequência disso, observou-se que o Erro foi 9% menor que em

M2 (Figura 4.12), ilustrando os efeitos do erro induzido nas respostas pela disposição errada

dos nós. Portanto, atentou-se para o posicionamento adequado dos nós em todas as outras

malhas avaliadas.

Em M5, avaliou-se a malha mais densa dentre as apresentadas na Tabela 4.3. Entretanto,

verificou-se que as respostas foram idênticas a M2 (Figura 4.12). Assim, M2 configuraria o

primeiro ponto de interesse: uma malha que fornece a mesma resposta, nos termos avaliados,

daquela mais densa.

Para finalizar a configuração do modelo, verificou-se em M6 os efeitos de reduzir o

número de elementos nas placas lindeiras. Averiguou-se disso que as bacias de deflexões

permaneciam idênticas, devido, provavelmente, à região da placa mobilizada pelo

carregamento simulado (Figura 4.11, p. 64), e que o tempo de computação do problema era

felizmente reduzido 142% em relação a M5 (Figura 4.12). Portanto, M6 foi aquela utilizada na

retroanálise dos parâmetros estruturais de A18, pois oferecia respostas idênticas àquela mais

refinada, mas requisitando o menor tempo possível para o cálculo dos problemas.

Ilustra-se na Figura 4.14 a diferença visual entre a malha padrão (M1) e a malha

adequadamente configurada para a retroanálise de A18 (M6).

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Figura 4.14 – Comparação entre a malha padrão e a malha adequadamente configurada para a

retroanálise de A18

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24.

Repetiu-se esse mesmo procedimento para todas as placas avaliadas, pois as

configurações geométricas, e o posicionamento dos eixos, eram diferentes para cada uma delas,

tornando necessário adaptar a malha a cada grupo de placas. As configurações finais foram

aquelas que ofereceram as mesmas propriedades, exatidão das respostas e otimização de tempo,

do exemplo apresentado acima.

4.3.3 Retroanálise dos Parâmetros Estruturais 𝐤 e 𝐄

Estimado os valores iniciais para os parâmetros por meio dos modelos teóricos, e

configurado os problemas no EverFE 2.24, possibilitou-se estimar k e E por meio da

retroanálise das bacias de deflexões aferidas no centro de placas.

Para tanto, definiu-se para cada grupo de placas, a partir das estimativas teóricas, um

intervalo plausível em que os parâmetros finais pudessem se encontrar. Para A18, por exemplo,

verificou-se valores de E entre 35.000 e 42.500MPa, e valores de k entre 0,090 e 0,100MPa/mm

(Tabela 4.4). Dentro desses intervalos, e para todas as placas igualmente, verificou-se somente

valores múltiplos 2500MPa para E e múltiplos de 0,005MPa/mm para k, pois averiguou-se que

o uso de valores intermediários não alterava as respostas.

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Apresenta-se na Tabela 4.4, como exemplo, todos os valores investigados para A18,

além das bacias de deflexões retroanalisadas em cada estágio, e os valores de Erro em relação

a somente B1 (para evitar excesso de dados na tabela abaixo).

Tabela 4.4 – Resultados parciais da retroanálise de k e E de A18: parâmetros, bacias de

deflexões e Erro em relação a B1 em cada estágio

E

(MPa)

k

(MPa/

mm)

Distância a partir do carregamento (cm)

e Deflexões (10-2mm)

Erro

(10-4

mm²)

0 20 30 45 60 90 120 B1

35000 0,095 15,2 14,6 14,2 13,4 12,7 11,1 9,7 1,10

35000 0,100 14,7 14,0 13,6 12,9 12,1 10,6 9,2 0,74

37500 0,090 15,5 14,9 14,5 13,8 13,1 11,6 10,2 3,75

37500 0,095 14,9 14,3 13,9 13,2 12,5 11,0 9,7 0,40

37500 0,100 14,4 13,8 13,4 12,7 12,0 10,5 9,2 1,35

40000 0,090 15,2 14,6 14,3 13,6 12,9 11,5 10,1 2,01

40000 0,095 14,6 14,1 13,7 13,0 12,4 10,9 9,6 0,36

4000 0,100 14,1 13,5 13,32 12,5 11,8 10,5 9,2 2,51

42500 0,090 14,9 14,4 14,1 13,4 12,8 11,4 10,1 1,18

42500 0,095 14,4 13,9 13,5 12,9 12,2 10,9 9,6 0,67

42500 0,100 13,9 13,3 13,0 12,4 11,7 10,4 9,1 3,81

Fonte: Autor.

A partir dos resultados parciais, primeiramente avaliou-se como a variação dos

parâmetros modificavam as deflexões aferidas naqueles sete pontos que compunham as bacias

de deflexões, e observou-se que:

Ao aumentar os valores de k e E, as deflexões diminuíam;

A bacia inteira era alterada com qualquer modificação no valor de k;

As deflexões nos dois últimos pontos eram características de determinado k;

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Ao se conformar os últimos pontos com o observado em B1 e B2, era possível

ajustar somente e levemente o valor de E para colimar os primeiros pontos.

Essas observações seriam facilmente explicadas pela teoria que rege o comportamento

de placas em flexão. Entretanto, o entendimento de como a variação dos parâmetros afetava

especificamente os pontos de interesse dentro das bacias de deflexões mostrou-se de suma

importância para que as demais retroanálises ocorressem de forma hábil.

Essa “sensibilidade” adquirida quanto aos efeitos nas respostas com a alteração de k e

E se mostrou fundamental principalmente quando foi necessário definir novos intervalos, após

os verificados em um primeiro instante não se mostrarem capazes de reproduzir

satisfatoriamente as bacias de pista.

A retroanálise foi finalizada quando certos valores de k e E resultavam,

simultaneamente, em valores de Erro muito pequenos, e em uma bacia retroanalisada cuja

forma fosse graficamente similar àquelas obtidas em pista.

Para A18, concluiu-se a retroanálise definindo que o comportamento em pista da placa

central seria definido no modelo por um k de 95 MPa/m e um E de 40.000 MPa, pois foi a

combinação que resultou nos menores valores de Erro, como se verifica na Tabela 4.4, e

também por resultarem uma bacia retroanalisada que apresentasse um bom fitting visual a B1

e B2 (Figura 4.15).

Figura 4.15 – Ilustração das bacias de deflexões B1, B2 e a retroanalisada de A18

Fonte: Autor.

9

10

11

12

13

14

15

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância do centro do carregamento (cm)

Retronalisada

B1

B2

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Todavia, impossibilitou-se retroanalisar alguns grupos de placas avaliados, pois todos

os amplos intervalos de parâmetros verificados para esses grupos resultavam em valores de

Erro altos e/ou em bacias de deflexões que não conseguiram reproduzir o formato daquelas

aferidas em pista. À vista disso, esses grupos foram considerados “não retroanalisáveis” e

excluídos das demais etapas deste trabalho.

4.4 ESTIMATIVA DAS SOLICITAÇÕES NO PAVIMENTO

Requisitava-se para as análises de desempenho, e para a forma como estas foram

objetivadas neste trabalho, primeiramente caracterizar o comportamento em pista de segmentos

amostrados ao longo do corredor, tarefa descrita nas seções anteriores deste capítulo e

completada com a retroanálise de k e E.

Agora, caracteriza-se as solicitações provenientes do tráfego e do clima que atuariam,

nas condições médias, sobre aqueles grupos de placas avaliados anteriormente, completando os

pré-requisitos para a estimativa do desempenho do pavimento.

4.4.1 Estimativa das Solicitações Provenientes do Tráfego

As solicitações provenientes do tráfego foram estimadas com base nos resultados

daqueles trabalhos que contabilizaram os veículos que foram observados transitando no

corredor e que avaliaram as suas condições de ocupação (GONÇALVES, 2013; LOBO,

SEIFFERT; PEREIRA, 2016).

4.4.1.1 Estimativa do Número de Solicitações

Aferiu-se o número de solicitações de eixos simples de rodas duplas atuantes em dias

típicos de 2013 e 2015 de forma idêntica ao que fora realizado anteriormente para comparar as

características do tráfego observado, e do pressuposto em projeto. Isto é, considerou-se que os

ônibus convencionais observados pelos referidos autores solicitariam o pavimento uma vez ao

trafegar sobre um ponto, e que os ônibus articulados o solicitariam duas vezes.

As solicitações foram desassociadas por faixa horárias de uma hora de duração, de forma

que permitisse que fossem posteriormente combinadas com os diferenciais térmicos que

atuariam nesses mesmos intervalos, como recomendava o método de dimensionamento de PCS

da Prefeitura Municipal de São Paulo (2004).

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4.4.1.2 Estimativa dos Níveis de Carregamento dos Eixos

As solicitações horárias foram então desagregadas pelos níveis de carregamento em que

foram observadas em pista por Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016). Agrupou-

se em um mesmo nível de carregamento tanto as solicitações dos ônibus convencionais como

aquelas dos articulados, pois estas representavam menos de 2% das solicitações totais em ambos

os anos, e para simplificar os procedimentos posteriores, foram diluídas junto às outras

solicitações.

Todavia, apresentou-se anteriormente que as participações dos diferentes níveis de

carregamento eram ligeiramente diferentes nos dois anos em que se dispunha desses dados

(Tabela 3.3, p. 46). Ainda, existiam resultados para somente esses dois anos, impossibilitando

afirmar se um ou outro seria mais “realista”, pois inexiste qualquer tendência observada quanto

à variação dos níveis de ocupação dos veículos. À vista disso, considerou-se, por prudência,

que a média entre as observações desses dois anos seria a “característica” do corredor.

4.4.1.3 Demais Características das Solicitações Provenientes do Tráfego

As magnitudes das solicitações foram definidas iguais às estimativas de Chaves (2009)

para os diferentes níveis de carregamento de ônibus convencionais (Tabela 3.4, p. 47). E a taxa

de crescimento anual das solicitações foi definida como igual àqueles 0,98% a.a. considerados

anteriormente característicos do tráfego efetivado no corredor.

4.4.2 Efeitos Provenientes do Clima

Finalizou-se a caracterização das solicitações atuantes no pavimento com a estimativa

dos efeitos do clima sobre a placa de concreto, descritos em termos dos diferenciais térmicos.

Para tanto, utilizou-se os modelos desenvolvidos por Severi (2002), e apresentados

anteriormente neste trabalho, para estima-los a partir das condições climáticas locais, uma vez

que inexiste hoje dados empíricos a respeito dos DT em PCS expostos ao clima santa-mariense,

ou gaúcho.

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4.4.2.1 Reunião dos Dados Climáticos Locais

Primeiramente, reuniu-se informações sobre as condições climáticas no município de

Santa Maria (RS). Essas foram encontradas em séries históricas disponíveis no Banco de Dados

Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (BDMEP) do Instituto Nacional de Meteorologia

(INMET). A estação meteorológica onde se registrara esses dados localizava-se dentro do

perímetro urbano do município, porém cerca de 11.000m de qualquer ponto do corredor de

ônibus.

Reuniu-se os dados diário do BDMEP no período entre 01/01/2010 e 31/12/2015, e para

as seguintes variáveis: temperatura atmosférica máxima, temperatura atmosférica mínima,

níveis de precipitação, número de horas de insolação e umidade relativa do ar média – todas

aquelas necessárias para emprego dos modelos de Severi (2002).

Apresenta-se, como exemplo, na Tabela 4.5, os dados reunidos referentes aos cinco

primeiros dias de 2013.

Tabela 4.5 – Dados climáticos santa-marienses referentes aos cinco primeiros dias de 2013

Data Temp. mín.

(Celsius)

Temp. máx.

(Celsius)

NHI Total

(h)

H média

(%)

Prec. ac.

(mm)

01/01/13 18,2 30,2 3,3 80,75 49

02/01/13 12,6 24,6 12,6 75,25 0

03/01/13 12,8 28,6 12,0 79,00 0

04/01/13 18,4 32,6 12,3 74,00 0

05/01/13 20,6 26,2 0,0 85,75 0

Fonte: (INMET, 2016).

As únicas informações fornecidas pelo INMET sobre esses dados eram as suas unidades.

À vista disso, utilizou-se do senso comum para assumir quais valores seriam a média, a soma

ou os extremos das observações ao longo das 24h do dia. A nomenclatura adotada na Tabela

4.5 acima reflete essas considerações.

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As únicas variáveis trabalhadas de alguma forma foram as temperaturas. Severi (2002)

considera em seus modelos as temperaturas médias em um dia. Portanto, simplesmente se

calculou a média entre as temperaturas máximas e mínimas disponibilizadas no BDMEP.

4.4.2.2 Estimativa dos Parâmetros Climáticos Locais para Uso nos Modelos

As informações reunidas para o município foram separadas em função dos anos e das

estações do ano a que se referiam, sendo estas últimas iguais às divisões de Severi (2002):

“primavera e verão” e “outono e inverno”.

Todavia, os modelos de Severi (2002) são empíricos e, portanto, foram calibrados com

base em observações realizadas dentro de certos intervalos e sob certas condições (Quadro 2.1,

p. 35). À vista disso, para evitar extrapolações, e consequentemente o aumento das incertezas

sobre as estimativas desenvolvidas neste trabalho, enquadrou-se os dados santa-marienses

dentro das condições e limites daqueles utilizados pela referida autora na calibração dos seus

modelos.

Por exemplo, Severi (2002) desconsiderou os dados daqueles dias em que se registrou

chuva. Analogamente, suprimiu-se dos dados locais todos os dias em que se registrou chuva.

No período dos dados apresentados na Tabela 4.5, por exemplo, o primeiro dia seria eliminado.

Essa metodologia foi, claro, repetida para todas as variáveis.

Ao realizar essa compatibilização, avaliou-se também se os dados remanescentes ainda

caracterizavam o clima local. Explica-se: ao omitir os dias em que a umidade relativa do ar

estivesse fora dos intervalos do Quadro 2.1 (p. 35), por exemplo, poder-se-ia descaracterizar o

clima local, que poderia ser muito mais úmido ou muito mais seco que o paulistano. Essa

avaliação também permitiria, portanto, validar os modelos da autora para as condições locais,

visto que caso houvesse essa descaracterização, esses se provariam impróprios para o clima

local.

Os parâmetros climáticos para uso nos modelos de Severi (2002) foram a média dos

restantes desse procedimento, e foram calculados para cada ano e estação do ano. Para aqueles

dias da Tabela 4.5, por exemplo, o NHI característico desse período seria a média dos quatro

dias remanescentes, 12,30h.

Estimados esses parâmetros para cada ano e estação, esses foram aplicados diretamente

nas formulações de Severi (2002) para estimar primeiramente as temperaturas de topo máximas

nesses períodos, e, com isso, e a espessura das placas, estimar os diferenciais térmicos máximos

nos mesmos.

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De posse dos diferenciais térmicos máximos, utilizou-se as recomendações da Prefeitura

Municipal de São Paulo (2004) para estimar como os DT se distribuiriam ao longo do dia em

cada estação do ano, conforme os dados referenciais apresentados no Quadro 2.2 (p. 45).

4.5 PREVISÃO DO DESEMPENHO DO PAVIMENTO

Estimado os parâmetros estruturais característicos do comportamento em pista do

pavimento, e as solicitações características sobre o mesmo, realizou-se a previsão de

desempenho à fadiga da estrutura, considerando todas essas primeiras estimativas.

Para tanto, primeiramente configurou-se o EverFE 2.24 para estimar as tensões

desenvolvidas nas placas sobre essas condições. Após, aplicou-se essas tensões nos modelos de

desempenho à fadiga de Cervo (2004) e da PCA de 1984, que foram incluídos em um algoritmo

escrito para prever o consumo de resistência à fadiga do pavimento de forma mais símil a como

este se desenvolveria em pista.

4.5.1 Considerações sobre os Resultados Desenvolvidos neste Trabalho

Para apresentar como ocorrera a estimativa de desempenho, necessita-se antecipar que

os resultados desenvolvidos neste trabalho demonstraram que os parâmetros estruturais, k e E,

das placas que compunham um mesmo trecho foram adotados como suficientemente próximos

entre si para que as médias entre eles fossem considerados como característicos de todo o

trecho; mas, ao mesmo tempo, diferentes o suficiente para que não representassem toda a

extensão do pavimento. À vista disso, desenvolveu-se a previsão de desempenho para cada

trecho individualmente.

4.5.2 Configuração do Pavimento em Análise no Modelo para a Estimativa de Tensões

A configuração do EverFE 2.24 para a estimativa de tensões se assemelhou em alguns

pontos àquela realizada para a retroanálise dos parâmetros estruturais, e que fora introduzida a

partir da página 61 deste capítulo. Portanto, apresenta-se abaixo somente aquelas propriedades

que foram configuradas diferentemente daquele primeiro momento.

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4.5.2.1 Dimensões das Placas e Propriedade dos Materiais

As dimensões em planta das placas modeladas como representantes dos diferentes

trechos foram consideradas como iguais às médias das dimensões das placas que os

compunham. Estas foram dispostas no Apêndice A.

Neste caso, claro, considerou-se os valores de k e E característicos de cada trecho como

fixos, e iguais aos valores médios dos valores retroanalisados para as placas que os compunham,

apresentados e analisados no próximo capítulo (Tabela 5.5, p. 101).

4.5.2.2 Inclusão do LTE Estimado no Modelo

Incluiu-se nesta etapa os valores de LTE característicos dos trechos, pois simular-se-ia

os efeitos de eixos veiculares e de diferenciais térmicos, e as condições das juntas poderiam

interferir nos resultados. Os LTE dos trechos foram definidos como a média entre os valores

estimados para as juntas que compunham um segmento (Tabela 5.3, p. 92) e, coincidentemente,

foram todos estimados iguais a 89%.

Para introduzir a eficiência de transferência de carga aferida nos problemas em análise,

alterou-se um parâmetro do EverFE 2.24 denominado Dowel-Slab Support Modulus (DSM),

cuja concepção teórica foi comentada anteriormente. Infelizmente, o software não possui uma

variável denominada “LTE”, cujo valor poderia ser simplesmente definido igual a “89%”.

Portanto, necessitou-se simular as condições das avaliações deflectométricas realizadas em

juntas (Figura 4.16), e estimar duas deflexões medidas em pontos igualmente afastados das

mesmas à medida que se alterava o valor do DSM.

A posição e magnitude do carregamento nessa simulação foi igual a posição e magnitude

do carregamento do FWD durante os levantamentos deflectométricos realizados nas

proximidades das juntas (Apêndice A).

Apresenta-se na Tabela 4.6 os resultados parciais do procedimento de configuração do

DSM para que o LTE das juntas do grupo de placas representante do T2 fosse igual ao seu valor

característico, 89%.

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Figura 4.16 – Ilustração da simulação das condições das avaliações deflectométricas realizadas

em juntas para a inclusão do LTE observado no modelo

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24.

Tabela 4.6 – Resultados parciais do procedimento de configuração do DSM para o T2

DSM (MPa) Deflexão (mm)

LTE (%) Placa A Placa B

75.000 0,195 0,178 91

50.000 0,197 0,177 90

40.000 0,198 0,180 89

Fonte: Autor.

Partiu-se do valor padrão do EverFE 2.24 para o parâmetro, 75.000. Estimou-se deste

um LTE igual a 91%. Para aproximar o LTE simulado do valor desejado, reduziu-se o valor do

parâmetro pela metade, obtendo-se ainda altos 90%. O valor do LTE desejado foi obtido,

portanto, somente quando o DSM foi definido igual a 40.000MPa.

Demonstrou-se acima que o módulo do DSM precisaria ser alterado muito

significantemente para aumentar ou diminuir o LTE sensivelmente. Essa observação foi

importante para otimizar posteriormente a estimativa do DSM dos demais trechos, apresentados

na Tabela 4.7.

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Tabela 4.7 – Valores de DSM estimado para os diferentes trechos

Trecho DSM (MPa)

T1 52.500

T2 25.000

T3 40.000

Fonte: Autor.

4.5.2.3 Configuração dos Carregamentos

As dimensões apresentadas por Balbo (2007) como características de Eixos Simples de

Rodas Duplas (ESRD) foram primeiramente transfiguradas para as variáveis geométricas

configuráveis do mesmo eixo no EverFE 2.24 (Figura 4.17).

Figura 4.17 – Dimensões adotadas para o ESRD do EverFE 2.24 para a estimativa de tensões

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24 e Balbo (2007).

As magnitudes dos carregamentos impostos por esses eixos foram particulares a cada

nível de carregamento, estes foram reapresentados na Tabela 4.8, pois foram arredondados para

o valor inteiro mais próximo, como demanda o EverFE 2.24.

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79

Tabela 4.8 – Magnitudes dos carregamentos dos eixos veiculares adotadas para estimativa das

tensões, por classe de carregamento

Classificação Carga no ESRD (kN)

Leve 91

Médio 100

Pesado 114

Fonte: Adaptado de Chaves (2009).

Almejava-se estimar a máxima Tensão de Tração na Flexão (σtf,m) desenvolvida nos

diferentes grupos de placas, e sob diferentes configurações de carregamento, para posterior

aplicação nos modelos de desempenho à fadiga. Para tal fim, posicionou-se todos eixos na

“posição crítica”, que se verificou que seria quando o eixo estivesse na metade longitudinal da

placa central, e com uma das rodas mais externas distante cerca de 20cm de uma das

extremidades transversais da placa (Figura 4.18).

Figura 4.18 – Ilustração do posicionamento crítico do ESRD para a estimativa de tensões

Fonte: Adaptado de EverFE 2.24.

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Na verdade, como demonstrou Westergaard (BALBO, 2009), o posicionamento crítico

ocorreria quando a roda tangenciasse a borda transversal (Figura 2.6, p. 28). Entretanto, o

software apresenta algumas imprecisões nos cálculos quando os eixos são posicionados nesse

ponto, segundo o próprio. À vista disso, e por recomendação do orientador deste trabalho, Prof.

Dr. Deividi da Silva Pereira, adotou-se aquela distância de 20cm, ilustrada acima.

Os diferenciais térmicos, por sua vez, foram inseridos sem necessidade de nenhuma

configuração extra, bastando apenas defini-los no modelo com a magnitude estimada para cada

faixa horária, e atentando-se para que fosse positivo.

4.5.2.4 Refinamento da Malha para a Estimativa das Tensões

A configuração da malha para a estimativa das tensões ocorreu de forma similar ao

procedimento anterior desenvolvido para a retroanálise dos parâmetros estruturais. A única

diferença fora que desta vez avaliou-se a malha ideal com base nas diferenças entre as σtf,m

obtidas em uma configuração e naquela imediatamente anterior. A malha final precisaria,

segundo Balbo (2009), resultar em uma σtf,m que fosse no máximo 5% maior ou menor do que

aquela aferida na malha imediatamente anterior.

4.5.3 Previsão do Desempenho à Fadiga dos Trechos

A estimativa do desempenho à fadiga dos trechos foi configurada de forma que se

contabilizasse o Consumo de Resistência à Fadiga (CRF) muito similarmente a como este se

desenvolveria em pista, desde que fosse verdadeira a hipótese de Palmgren-Miner, e as

estimativas desenvolvidas neste trabalho.

A Figura 4.19 apresenta as etapas do procedimento de previsão do desempenho à fadiga

dos trechos, descritas em seguida.

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81

Figura 4.19 – Fluxograma ilustrando como fora desenvolvida a previsão do desempenho à

fadiga dos trechos

Fonte: Autor.

4.5.3.1 Estimativa da Tensão Horária Máxima

Configurado o EverFE 2.24 para as propriedades geométricas e paramétricas de

determinado trecho, procedimento descrito detalhadamente, acrescentou-se ao modelo as

solicitações que ocorreriam em cada faixa horária (“Solicitação Horária”), estimadas na etapa

anterior. Estas eram sempre três: um diferencial térmico associado a três níveis de carregamento

possíveis para os eixos veiculares. Para cada uma dessas combinações, aferiu-se no software as

suas respectiva “Tensões Horárias Máximas”.

4.5.3.2 Estimativa do CRF Horário

As Tensões Horárias Máximas foram dispostas em planilhas juntamente com o número

de eixos veiculares que solicitariam o pavimento com aquela tensão quando associados aos

diferenciais térmicos. A disposição dos resultados na planilha foi a última etapa “manual” do

problema.

A partir desse ponto, utilizou-se de um algoritmo para completar a análise de

desempenho. Este fora escrito no Visual Basic for Applications (VBA), uma ferramenta para a

automação de tarefas repetitivas que fora instalada, neste caso, no Microsoft Office Excel.

Solicitação Horária

EverFE 2.24Tensão Horária Máxima

RT Horária

Modelos de Desempenho

CRF Horário CRF Diário CRF Sazonal

CRF AnualAnos-

Solicitações Possíveis

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Escreveu-se, portanto, um código que lesse cada Tensão Máxima Horária e, num

primeiro instante, calculasse a correspondente “RT Horária” (Equação 2.15, p. 37). Para cada

RT Horária, calculou-se um Número de Ciclos de Fadiga Disponíveis (Nf) aplicando-a em

diferentes modelos de desempenho – detalhados a seguir.

Assim, relacionando-o com aquele número de solicitações que atuariam naquela faixa

horária (Nt), disposto na planilha, pode-se calcular o “CRF Horário” (Equação 2.13, p. 36) pela

soma dos consumos de fadiga das três solicitações horárias (hipótese de Palmgren-Miner).

Assim, considerou-se neste o diferencial térmico e todos os diferentes níveis de carregamento

que ocorreriam naquele horário.

4.5.3.3 Estimativa do CRF Anual

Para calcular o “CRF Diário”, somou-se todos os CRF Horários. As “Solicitações

Horárias”, entretanto, eram particulares a cada estação. Assim, no fim de cada estação, estimou-

se um “CRF Sazonal” pela soma dos seus respectivos CRF Diários. Pela soma dos CRF

Sazonais, estimou-se um “CRF Anual”.

Permitiu-se, portanto, considerar na previsão de desempenho estrutural dos trechos as

diferenças climáticas sazonais, transfiguradas para o problema em termos de diferentes

diferenciais térmicos para cada estação climática.

A estimativa do próximo CRF Anual ocorreu igualmente, mas com a única exceção que

se considerou que as solicitações cresceriam (0,98% a.a.), sendo esta taxa igual para todos os

valores de Nt, independentemente do nível de carregamento ou horário.

4.5.3.4 Estimativa do Número de Anos-Solicitações

Ainda considerando a hipótese de Pamgren-Miner, repetiu-se o procedimento até que o

somatório dos CRF Anuais fosse igual a 100%, indicando que as placas de concreto dos trechos

haviam chegado à condição de ruptura por fadiga. Dispôs-se ao usuário como resultados do

procedimento somente os CRF Anuais e o número de “anos-solicitações” que seriam

necessários para que se chegasse à condição de ruptura.

Evitou-se, entretanto, o uso da expressão “vida útil remanescente”, em favor de “anos-

solicitações”, pois aquela estaria, a princípio, ligada também a questões funcionais, algo que

não foi contemplado neste trabalho.

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4.5.3.5 Modelos de Desempenho à Fadiga

Aferiu-se o número de anos-solicitações para o consumo total da resistência à fadiga

dos trechos por três modelos de desempenho à fadiga:

i. Pelo modelo de Cervo (2004) para concretos convencionais em condições de

laboratório (Equação 2.18);

ii. Pelo modelo de Cervo (2004) para concretos convencionais em condições de

laboratório e considerando o shift-factor desenvolvido pela mesma autora

(Equação 2.19);

iii. Pelos modelos da PCA de 1984 (Equação 2.16 e Equação 2.17)

Permitiu-se, portanto, comparar os desempenhos averiguados para os diferentes

modelos, sendo esses aqueles comumente utilizados no país para análise de concretos para

pavimentação.

4.5.3.6 Avaliação dos Efeitos dos Diferencias Térmicos

Averiguou-se também os efeitos dos diferenciais térmicos no desempenho do

pavimento. Para tanto, em um primeiro momento estes foram considerados nas solicitações

horárias, e em outro momento, foram desconsiderados.

4.5.3.7 Simplificações e Outras Considerações

Para poder desenvolver o código do algoritmo, algumas simplificações ou considerações

foram realizadas, tais como:

Adotou-se, para poder dividir o ano em quatro estações, que cada ano possuiria

somente 364 dias e, portanto, cada estação se prolongaria por 91 dias;

Adotou-se que todos os 364 dias seriam solicitados de forma idêntica,

desconsiderando-se as variações que ocorrem em finais-de-semana ou feriados,

pois inexiste dados observacionais desses dias para as condições do pavimento;

Arbitrou-se que o algoritmo deveria ser interrompido após 75 anos-solicitações,

para evitar que em situações em que as RT fossem baixas o suficiente para

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resultar em um CRF zero pela PCA, as iterações ocorressem em um loop infinito.

Ainda, a adoção de 75 anos daria margem para modelos pouco conservativos,

como aquele de Cervo (2004) desenvolvido em laboratório, retornassem no

consumo total da resistência à fadiga do concreto.

4.5.3.8 Comparação com as Avaliações de Desempenho Anteriores

Os resultados desenvolvidos nesta etapa foram, por fim, relacionados com os resultados

das avaliações de desempenho outrora realizadas no pavimento, que procuraram investigar a

ocorrência de defeitos superficiais e estimar o desempenho pelo Índice de Condição do

Pavimento (ICP). Os principais resultados destas avaliações foram apresentados anteriormente

neste trabalho (Figura 3.4, p. 49).

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5 RESULTADOS

5.1 AVALIAÇÃO DEFLECTOMÉTRICA EM PISTA

Primeiramente, apresenta-se as bacias de deflexões obtidas nas avaliações

deflectométricas desenvolvidas nas placas, fissura e juntas amostradas. Essas foram

introduzidas abaixo em gráficos, e foram identificadas com base naquela nomenclatura

introduzida no capítulo anterior (Tabela 4.1, p. 51). Esses mesmos resultados foram também

tabelados, mas se encontram dispostos no Apêndice B.

5.1.1 Bacias de Deflexões Observadas em Juntas

Exibe-se na Figura 5.1 e na Figura 5.2, respectivamente, as bacias B1 e B2 obtidas como

resultado das avaliações deflectométricas desenvolvidas nas proximidades da fissura e das

juntas transversais amostradas.

Figura 5.1 – Primeiras bacias de deflexões (B1) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas na fissura e em juntas

Fonte: Autor.

0

10

20

30

40

50

60

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)A1

A3

A5

A7

A9

A11

A13 (F)

A15

A17

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Figura 5.2 – Segundas bacias de deflexões (B2) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas na fissura e em juntas

Fonte: Autor.

5.1.1.1 Análise das Diferenças entre B1 e B2 das Avaliações em Juntas

Apresenta-se na Tabela 5.1 os valores de Erro estimados entre as bacias B1 e B2

apresentadas acima. Estas estimativas foram desenvolvidas, como esclarecido no capítulo

anterior, para assinalar bacias mal delineadas.

Tabela 5.1 – Valores de Erro entre as bacias de deflexões B1 e B2 resultantes das avaliações

deflectométricas realizadas na fissura e em juntas

(continua)

Avaliação deflectométrica Erro (10-4 mm2)

A1 32,29

A3 0,77

A5 0,77

A7 78,56

A9 0,09

0

10

20

30

40

50

60

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)A1

A3

A5

A7

A9

A11

A13 (F)

A15

A17

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Tabela 5.1 – Valores de Erro entre as bacias de deflexões B1 e B2 resultantes das avaliações

deflectométricas realizadas na fissura e em juntas

(conclusão)

Avaliação deflectométrica Erro (10-4 mm2)

A11 1,10

A13 (F) 1,99

A15 4,48

A17 0,12

Fonte: Autor.

Verificou-se nos dados dispostos na Tabela 5.1 que houve uma substancial variação

entre as respostas aferidas em um instante (B1) e outro imediatamente posterior (B2) em alguns

pontos, notavelmente em A1 (32,29.10-4mm²) e A7 (78,56.10-4mm²). Averiguou-se também

que esses valores divergiam nimiamente dos demais, como evidenciou o coeficiente de variação

daqueles dados, que foi estimado em significativos 1,990. Isso indicaria, portanto, que caso

ocorrera qualquer problema nas avaliações deflectométricas em A1 e A7, possivelmente foram

casos pontuais.

À vista disso, investigou-se, em um primeiro instante, somente os resultados verificados

nessas juntas. Para isso, ilustrou-se na Figura 5.3 as bacias B1 e B2 da junta A7. Entendeu-se

da Figura 5.3 que a razão para o desmedido valor de Erro em A7 fora, principalmente, algum

erro na leitura realizada sob o primeiro geofone durante o carregamento B1, como indica o

formato anômalo da respectiva bacia. Por esse motivo, eliminou-se a bacia B1 de A7 da amostra

empregada nas estimativas desenvolvidas neste trabalho. Entretanto, manteve-se a B2, por se

entender que estaria bem delineada.

Apresenta-se na Figura 5.4, por sua vez, as bacias B1 e B2 da junta A1, aquela que

apresentou o segundo maior valor de Erro na Tabela 5.1. Observou-se na Figura 5.4 que ambas

as bacias de A1 estariam bem delineadas, e apresentando a mesma “curvatura”, indicando,

portanto, que não houvera algum problema perceptível nas leituras do equipamento. Todavia,

uma se encontrava visivelmente deslocada em relação a outra, e o suficiente para que o Erro

medido entre elas fosse igual àqueles significativos 32,29.10-4mm².

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Figura 5.3 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na junta avaliada em A7

Fonte: Autor.

Figura 5.4 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na junta avaliada em A1

Fonte: Autor.

Ao investigar as possíveis causas para isso, averiguou-se que ao relacionar as

desigualdades entre B1 e B2 (Erro, Tabela 5.1) com as diferenças entre as cargas impostas pelo

FWD nesses dois instantes (Figura 4.8, p.57), o Coeficiente de Correlação de Pearson (𝜌) entre

esses dados seria igual a altíssimos 0,925.

5

15

25

35

45

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)

B1

B2

5

15

25

35

45

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)

B1

B2

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À vista disso, concluiu-se que as diferentes respostas observadas em B1 e B2 nesses

pontos – com exceção de A7, aquele primeiro caso anômalo apresentado – foram consequência

da variabilidade das cargas aplicadas nos dois instantes.

A diferença entre as magnitudes dos dois carregamentos realizados em A1, por exemplo,

foi 3,26%, e justificaria o significativo deslocamento observado na Figura 5.4, pois um maior

carregamento no instante B2 provocou a observância de maiores deflexões sob todos os

geofones. Pela significância de 𝜌, intuiu-se que similares episódios se desenvolveram nos

outros pontos, validando, juntamente com os pequenos valores de Erro destes, os demais

resultados.

5.1.2 Bacias de Deflexões Observadas no Centro de Placas

Apresenta-se na Figura 5.5 e na Figura 5.6, respectivamente, as bacias B1 e B2 obtidas

na segunda avaliação deflectométrica realizada em cada um dos grupos de placas amostrados,

com o carregamento desta vez posicionado no centro de placas B.

Figura 5.5 – Primeiras bacias de deflexões (B1) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas no centro das placas

Fonte: Autor

2

4

6

8

10

12

14

16

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregaemnto (cm)

A2

A4

A6

A8

A10

A12

A16

A18

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90

Figura 5.6 – Segundas bacias de deflexões (B2) resultantes das avaliações deflectométricas

realizadas no centro das placas

Fonte: Autor.

5.1.2.1 Análise das Diferenças entre B1 e B2 das Avaliações no Centro de Placas

Analogamente ao que foi realizado para as avaliações em juntas, dispôs-se na Tabela

5.2 os valores de Erro estimados comparando as bacias B1 e B2 referentes às avaliações no

centro de placas.

Tabela 5.2 – Valores Erro entre as bacias B1 e B2 resultantes de avaliações deflectométricas

realizas no centro de placas

(continua)

Avaliação deflectométrica Erro (10-4 mm2)

A2 0,12

A4 0,03

A6 0,08

A8 0,35

A10 0,05

2

4

6

8

10

12

14

16

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)

A2

A4

A6

A8

A10

A12

A16

A18

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91

Tabela 5.2 – Valores Erro entre as bacias B1 e B2 resultantes de avaliações deflectométricas

realizas no centro de placas

(conclusão)

Avaliação deflectométrica Erro (10-4 mm2)

A12 0,53

A16 0,51

A18 0,03

Fonte: Autor

Verificou-se da Tabela 5.2 que as disparidades entre as bacias de deflexões obtidas no

centro de uma mesma placa se mostraram consideravelmente inferiores àquelas obtidas em

juntas. Observou-se também que essas estimativas se mostraram sensivelmente mais

homogêneas, com um coeficiente de variação igual a praticamente a metade do estimado a partir

dos resultados da outra avaliação, 1,018.

Entretanto, mostraram-se fracamente correlacionáveis (𝜌 igual a -0,493) com as

diferenças entre as magnitudes dos carregamentos nos dois instantes (Figura 4.8, p. 57),

indicando que a razão para as desigualdades seria, desta vez, diferente. À vista disso, apresenta-

se na Figura 5.7 as bacias B1 e B2 da placa avaliada em A12, aquela que apresentou o maior

valor de Erro entre os dispostos na Tabela 5.2.

Verificou-se na Figura 5.7 algo que se observou também em A8 e A16, os dois outros

pontos que apresentaram significativos valores de Erro: ocorrera algum erro na leitura do

primeiro geofone nos instantes B2. Por esse motivo, essas segundas bacias foram

desconsideradas durante a retroanálise dos parâmetros estruturais dessas placas. Todavia,

manteve-se as primeiras bacias, pois estas se mostraram bem delineadas. As demais

desigualdades, por sua vez, foram consideradas insignificantes, e ambas as bacias dessas placas

foram consideradas adequadas para uso nas próximas etapas.

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92

Figura 5.7 – Bacias de deflexões B1 e B2 observadas na placa avaliada em A12

Fonte: Autor.

5.2 ESTIMATIVA DA EFICIÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE CARGA

Apresenta-se na Tabela 5.3 os valores de Eficiência de Transferência de Carga (LTE)

estimados separadamente para as bacias B1 e B2 da fissura e das juntas transversais avaliadas,

e a média entre essas duas estimativas, desenvolvidas pela relação direta entre deflexões

aferidas em campo.

Tabela 5.3 – Valores de LTE estimados para as bacias de deflexões B1 e B2 da fissura e das

juntas avaliadas, e o valor médio entre essas duas estimativas

(continua)

Junta ou fissura LTE (%)

B1 B2 Média B1-B2

A1 89 89 89

A3 93 92 93

A5 93 92 93

A7 - 92 92

A9 95 95 95

4

6

8

10

12

0 20 40 60 80 100 120

Def

lex

ão (

10

-2m

m)

Distância a partir do centro do carregamento (cm)

B1

B2

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93

Tabela 5.3 – Valores de LTE estimados para as bacias de deflexões B1 e B2 da fissura e das

juntas avaliadas, e o valor médio entre essas duas estimativas

(conclusão)

Junta ou fissura LTE (%)

B1 B2 Média B1-B2

A11 83 83 83

A13 (F) 55 56 56

A15 86 85 86

A17 89 89 89

Fonte: Autor.

As estimativas para B1 e B2 foram reapresentadas na Figura 5.8, para facilitar a

visualização dos dados tabelados.

Figura 5.8 – Valores de LTE estimados para as bacias B1 e B2 da fissura e das juntas

transversais

Fonte: Autor

40

50

60

70

80

90

100

A1 A3 A5 A7 A9 A11 A13 (F) A15 A17

LT

E (

%)

Junta ou fissura

B1

B2

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94

Verificou-se dos dados ilustrados na Figura 5.8 que os valores de eficiência de

transferência de carga aferidos para as diferentes bacias de um mesmo ponto eram

consideravelmente similares. A média das diferenças entre essas duas estimativas foi de 0,61%,

e o coeficiente de variação dessas diferenças era de pequenos 0,730.

À vista disso, possibilitou-se considerar que as duas estimativas seriam suficientemente

próximas em todas as juntas para que a média entre elas representasse satisfatoriamente as

condições existentes na fissura e nas juntas avaliadas. Apresentou-se esses valores na última

coluna da Tabela 5.3, e, graficamente, na Figura 5.9.

Portanto, estimou-se que os valores de LTE característicos das juntas transversais do

pavimento estudado variaram entre 83 e 95%. Na Pista Experimental da EPUSP, Colim (2009)

estimou para juntas que também apresentavam Barras de Transferência de Carga (BT) valores

de LTE no intervalo 86-99%. Assim, as estimativas desenvolvidas neste trabalho se mostraram

compatíveis com os mecanismos de transferência de carga existentes entre as placas do

corredor.

Figura 5.9 – Valores médios de LTE estimados para a fissura e as juntas transversais

Fonte: Autor.

Esses valores também se mostraram “bons”, uma vez que estavam seguramente acima

daquela limítrofe de 70% das normativas estadunidenses que indicariam desempenho

40

50

60

70

80

90

100

A1 A3 A5 A7 A9 A11 A13 (F) A15 A17

LT

E M

édio

(%

)

Junta ou fissura

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insatisfatório das juntas e obrigatoriedade de alguma intervenção no pavimento de concreto

(FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION, 1990 apud BALBO, 2009).

Para a fissura transversal avaliada, estimou-se um LTE de humildes 56% entre suas

faces. Colim (2009) não avaliou fissuras. Entretanto, a autora relatou em seu trabalho valores

de LTE entre 53 e 75% para aquelas juntas em que o único mecanismo de transferência de carga

existente era o intertravamento de agregados. Apesar de ser um elemento estrutural de

configuração diferente, os resultados da autora permitiram inferir que esta estimativa seria

compatível com os mecanismos presentes na fissura.

5.3 RETROANÁLISE DOS DEMAIS PARÂMETROS ESTRUTURAIS

A retroanálise do Módulo de Reação do Subleito (k) e do Módulo de Elasticidade do

Concreto (E) se mostrou executável, pelos critérios adotados, em seis das oito placas

amostradas. Apresenta-se na Tabela 5.4 os resultados encontrados para essas placas, que são

analisados em seguida.

Tabela 5.4 – Valores de k e E estimados a partir da retroanálise

Ensaio 𝐤 (MPa/m) E (MPa)

A2 205,0 62.500

A6 200,0 90.000

A8 200,0 52.500

A12 170,0 37.500

A16 150,0 37.500

A18 95,0 40.000

Fonte: Autor.

5.3.1 Análise dos Módulos de Reação do Subleito Retroanalisados

A estrutura do pavimento avaliado neste trabalho, e as propriedades do seu subleito,

foram idealizadas como homogêneas sob todas as placas em seu projeto estrutural. Entretanto,

as estimativas desenvolvidas para k demonstraram que os comportamentos do sistema de apoio

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96

às placas seriam excepcionalmente heterogêneos ao longo do corredor, visto que o parâmetro

variou entre díspares 95 e 205MPa/m.

A estrutura de fundação sob a placa A18, por exemplo, foi estimada com pouco mais do

dobro da capacidade de deformação elástica daquela sob A2. Ainda, considerando que as

camadas granulares de base e subbase fossem iguais sob todas as placas avaliadas, os resultados

desenvolvidos indicariam que à medida que se afastasse do ponto inicial do corredor (nas

proximidades de A2), e se aproximasse do seu final (nas proximidades de A18), os solos de

subleito se mostrariam mais deformáveis. Portanto, diferentemente das idealizações de projeto,

o subleito apresentaria um comportamento sensivelmente variável ao longo de sua extensão.

A literatura permite inferir, com diversas incertezas, alguns intervalos ou valores

esperados para k, consideradas as propriedades do subleito e do restante do sistema de apoio

(BALBO, 2009). Todavia, esses valores presentes na literatura seriam aqueles que se obteria

por meio de ensaios de prova de carga (k*), e seriam também, segundo Darter, Smith e Hall

(1992), iguais a metade do valor “k” retroanalisado.

Isto posto, e adotadas as propriedades do sistema de apoio das placas tais como definidas

em projeto, e que o solo de subleito se enquadraria na classificação A-6 na HRB-ASSHTO,

verificou-se que:

Para Balbo (2009), o k* do sistema de apoio variaria entre 40-80MPa/m;

Para Hall et al. (1997), k* variaria entre 7 e 70MPa/m.

A Figura 5.10 ilustra a comparação realizada entre esses dois intervalos e as estimativas

desenvolvidas neste trabalho para k*. Averiguou-se que as placas que melhor se enquadrariam

naqueles intervalos, comuns para solos de subleito argiloso e camadas de base e subbase

granulares, seriam aquelas avaliadas em A12, A16 e A18, para as quais k* variou no intervalo

47,5-85,0MPa/m. Para A2, A6 e A8, estimou-se valores de k* entre 100 e 102,50MPa/m, que

ficaram um pouco acima dos intervalos apresentados pelos referidos autores, mas que, apesar

disso, não seriam valores impossíveis.

Contraposições como a ilustrada na Figura 5.10 possibilitaram avaliar, em um primeiro

momento, se os resultados desenvolvidos na retroanálise seriam plausíveis, como concluiu-se

que realmente seriam. Todavia, não validam explicitamente os resultados. A única forma de

avaliar objetivamente as respostas de um sistema de apoio de placas de concreto em pista seria

por meio de provas de carga realizadas sobre a respectiva estrutura (BALBO, 2009). As

estimativas obtidas pela retroanálise, como as desenvolvidas neste trabalho a partir das

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respostas avaliadas na superfície das placas, seriam somente uma forma conveniente de

representar as condições do subleito em pista e, portanto, não possuem grandezas idênticas

àquelas outras.

Figura 5.10 – Comparação entre os valores de k* estimados para diferentes placas e os

intervalos de variação esperados para o parâmetro segundo Balbo (2009) e Hall et al. (1997)

Fonte: Autor, Balbo (2009) e Hall et al. (1997).

Ainda, devido à natureza dinâmica do carregamento aplicado pelo falling weight

deflectometer, o sistema estrutural do pavimento seria menos mobilizado durante as avaliações

deflectométricas, comparado ao que seria por um carregamento estático, como aquele simulado

no EverFE 2.24. Assim, durante a retroanálise, compensa-se numericamente as diferenças entre

as naturezas dos carregamentos, minimizando as deflexões obtidas sob efeito de carregamentos

estáticos com maiores rigidezes, ou seja, com maiores valores de k e E (BALBO, 2009).

À vista disso, adotou-se as estimativas desenvolvidas para k como admissíveis para a

estrutura do pavimento, seu subleito, e a metodologia pela qual foram aferidas. A análise de

desempenho, cujos resultados foram dispostos no final deste capítulo, contempla os efeitos

daquelas variações de k observadas ao longo do corredor.

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98

5.3.2 Análise dos Módulos de Elasticidade do Concreto Retroanalisados

As estimativas desenvolvidas para o módulo de elasticidade do concreto variaram entre

37.500 e 90.000MPa (Tabela 5.4, p. 95). Aquele primeiro valor seria usual para concretos

convencionais, como o empregado na composição das placas do corredor, enquanto que este

seria um valor impossível.

Atesta-se a irrealidade do resultado encontrado para A6 pelas relações entre a resistência

à compressão simples de um concreto e seu E presente na NBR6118 (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003), por exemplo. Para que E fosse 90.000MPa,

a resistência à compressão simples do concreto seria igual a cerca de 350MPa, algo

indiscutivelmente impossível. Assim, eliminou-se A6 da amostra utilizada para dar

continuidade a esta análise, e também daquela utilizada para desenvolver as próximas etapas

deste trabalho.

Acredita-se que esse resultado decorrera de algum problema no FWD ou na operação

do mesmo durante a avaliação deflectométrica realizada em A6. Por exemplo, poderia haver

materiais rijos sob a placa carregada do equipamento, alterando a distribuição de tensões e

fomentando leituras incomuns nos sensores. Ainda, haveria a possibilidade de ter ocorrido

algum erro na captação das informações lidas nos geofones. Ademais, verifica-se o que se

comentara anteriormente: a estimativa dos parâmetros estruturais configura também uma forma

de legitimar as bacias de deflexões aferidas em campo.

Colim (2009) estimou por retroanálise valores de E entre 26.500 e 58.500MPa para o

concreto convencional empregado na Pista Experimental da EPUSP. Apesar desses resultados

impossibilitarem validar as estimativas desenvolvidas neste trabalho, pois eram função de

concretos de diferente composição, indicariam uma faixa de variação plausível para valores

retroanalisados para um mesmo concreto (Figura 5.11).

Logo, verificou-se, como ilustrado na Figura 5.11, que a faixa de variação das

estimativas desenvolvidas neste trabalho para o parâmetro, 37.500-62.500MPa, seria menor do

que a faixa de variação das estimativas desenvolvidas por Colim (2009) pela mesma

metodologia. À vista disso, considerou-se razoável o intervalo de variação averiguado para E.

As estimativas desenvolvidas para A12, A16 e A18, que variaram entre 37.500 e

40.000MPa, seriam valores retroanalisados comuns para concretos convencionais empregados

em pavimentação. Aqueles desenvolvidos para A2 e A8, por sua vez, que foram iguais a 53.500

e 62.500MPa, respectivamente, seriam valores possivelmente altos demais para o concreto

empregado.

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99

Figura 5.11 – Comparação entre os valores de E estimados neste trabalho e a faixa de variação

do E retroanalisado por Colim (2009)

Fonte: Autor e Colim (2009).

Entretanto, estas estimativas, maiores do que aqueles valores típicos de laboratório,

poderiam ser também decorrência da simulação de um carregamento estático no EverFE, como

comentado anteriormente para k. Ainda, o alto consumo de cimento Portland, a utilização de

um cimento do tipo CPV ARI RS, e a adição de fibras de polipropileno provocariam ganhos no

módulo de elasticidade do concreto retroanalisado anos após a execução.

Ademais, levantou-se a possibilidade de as placas A2 e A8 apresentarem em pista

espessuras superioras àquela definida em projeto, e adotada na retroanálise. As placas foram

moldadas com auxílio de régua vibratória e executadas por uma empresa com escasso know-

how na execução de pavimentos de concreto, condições estas que, acredita-se, fomentariam a

execução de placas mais espessas, principalmente no primeiro trecho executado, aquele que A2

e A8 fizeram parte. Se isso fosse verdade, justificaria os valores altos de E encontrados para

essas placas, pois se compensaria na retroanálise a maior rigidez existente em pista, devido às

maiores espessuras, com maiores valores de E.

Apesar disso, e dos valores controversos encontrados para A2 e A8, manteve-se todas

as estimativas, com exceção de A6, aquela placa que apresentou um valor irreal, nas amostras

empregadas nas próximas etapas.

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100

5.3.3 Estimativa dos Valores de 𝐤 e 𝐄 Característicos dos Trechos

Ao analisar os resultados desenvolvidos para k e E, verificou-se também que seus

valores eram bastante similares entre as diferentes placas que compunham um mesmo trecho.

A visualização disso foi facilitada na Figura 5.12, onde se ilustrou os resultados validados da

Tabela 5.4 (p. 95) em diferentes cores, compatíveis com o trecho a que pertenciam: amarelo

para o T1, verde para o T2 e azul para o T3.

Figura 5.12 – Ilustração da distribuição dos valores de k e E estimados para diferentes placas

Fonte: Autor.

Averiguou-se, como ilustrado na Figura 5.12, que a distribuição e reunião dos pontos

no espaço gráfico demonstra que as placas de um mesmo trecho apresentam valores para ambos

os parâmetros bastante similares entre si. Adotou-se – uma vez que uma análise estatística seria

impossível, pela pequena quantidade de elementos nas amostras – que os valores de k e E

estimados para as placas que compunham um mesmo trecho seriam suficientemente próximos

para que as médias entre eles representassem as condições predominantes nos segmentos

(Tabela 5.5).

As informações dispostas na Tabela 5.5 acima demonstraram que cada trecho que

compõe o pavimento em estudo apresenta um comportamento bastante particular. À vista disso,

decidira-se realizar a estimativa de desempenho à fadiga por cada trecho, como antecipado no

30

40

50

60

70

80 100 120 140 160 180 200 220

E (

MP

a) Mil

har

es

k (MPa/m)

A2

A8

A12

A16

A18

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101

capítulo anterior, para verificar como os parâmetros característicos deles impactariam seu

desempenho estrutural.

Tabela 5.5 – Valores de k e E característicos dos trechos

Trecho 𝐤 (MPa/m) E (MPa)

T1 202,5 57.500

T2 160,0 37.500

T3 95,0 40.000

Fonte: Autor.

As observações realizadas anteriormente para k e E separadamente podem ser repetidas

para os resultados apresentados acima:

Os valores de k característicos dos trechos seriam compatíveis com o sistema

de apoio das placas, em vista da metodologia pelo qual foram estimados, e

indicariam que o subleito apresenta um comportamento diferente ao longo da

extensão do corredor, em discordância com as pressuposições de projeto;

Os valores de E característicos de T2 e T3, além de bastante similares, são

valores comuns, considerada a metodologia pelo qual foram estimados, para

concretos convencionais;

O valor de E característico de T1, por sua vez, seria alto para concretos

convencionais, indicando, considerada as avaliações deflectométricas e a

retroanálise como realizadas corretamente, que a estrutura desse trecho fora

executada diferentemente da dos outros dois.

5.4 ESTIMATIVA DAS SOLICITAÇÕES NO PAVIMENTO

Estimou-se, como comentado no capítulo anterior, tanto as solicitações que

provenientes da ação do tráfego, como da ação do clima sobre as placas de concreto que seriam

características das condições efetivadas no corredor.

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102

5.4.1 Solicitações Provenientes do Tráfego

Apresenta-se na Tabela 5.6 as solicitações horárias de eixos simples de rodas duplas

consideradas neste trabalho como características do tráfego efetivado no corredor,

desassociadas por nível de carregamento.

Tabela 5.6 – Solicitações horárias características do corredor, por nível de carregamento

Hora (h) Número de solicitações

Leve Médio Pesado

6-7 64 10 1

7-8 89 21 8

8-9 100 12 2

9-10 78 11 2

10-11 62 17 3

11-12 81 26 1

12-13 89 21 6

13-14 89 18 4

15-16 59 25 8

16-17 65 29 13

17-18 59 43 19

18-19 56 46 17

19-20 61 22 9

20-21 47 8 2

21-22 28 14 1

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Estimou-se, portanto, que ao longo de um dia típico ocorreriam 1545 solicitações sobre

o pavimento, um valor 54,50% superior àquele pressuposto no projeto estrutural do pavimento.

A participação dos veículos leves em um dia foi estimada em 71,72%; de médios, em 22,07%;

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103

e de pesados, em 6,21%. Esses valores foram confrontados com as hipóteses de projeto na

Figura 5.13, mas em função do número de solicitações que elas representariam nos dois casos.

Figura 5.13 – Comparação dos números de solicitações diárias em cada nível de carregamento

estimadas e consideradas em projeto

Fonte: Autor e Seiffert et al. (2014).

Logo, como ilustrado na Figura 5.13, a quantidade de solicitações estimadas ocorrendo

abaixo da carga máxima legal (leve) se mostrou 454% superior ao que foi considerado no

projeto estrutural do pavimento. Em contrapartida, estimou-se um número 57% inferior de

solicitações ocorrendo com a carga máxima legal (médio). Ademais, aferiu-se que ocorrem 96

solicitações com carga superior à máxima legal, sendo que estas não foram contempladas no

dimensionamento da estrutura.

Assim como as observações de Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016), as

características do tráfego estimado aqui também se mostraram, obviamente, já que foram

desenvolvidas a partir daquelas, bastante divergentes das pressuposições de projeto. Analisa-se

objetivamente os impactos dessas diferenças na análise de desempenho, cujos resultados foram

dispostos em seguida.

Para continuar a análise da Tabela 5.6 acima, reapresenta-se a seguir em gráficos

algumas propriedades importantes do tráfego estimado para o corredor. A Figura 5.14 abaixo,

0

300

600

900

1200

Leve Médio Pesado

Núm

ero

de

soli

cita

ções

Nível de carregamento

Estimado

Projeto

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104

por exemplo, ilustra a distribuição ao longo do dia do número total de solicitações,

independentemente do nível de carregamento.

Figura 5.14 – Distribuição ao longo de um dia típico do número total de solicitações

característico do corredor

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Verificou-se dos dados ilustrados na Figura 5.14 que as solicitações seriam bem

distribuídas ao longo de um dia típico, pois mantem-se relativamente constantes entre as 07 e

as 19h, horário a partir do qual começam a diminuir. Observou-se também a configuração

daqueles três picos comuns na distribuição do tráfego em vias urbanas – manhã, meio-dia e fim

de tarde. Entretanto, esses seriam sensivelmente menos tangíveis que os de vias arteriais

urbanas, por exemplo (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 2004).

As solicitações intensas (somente veículos comerciais) e constantes sobre o pavimento

são justamente duas das principais características que diferenciam os corredores urbanos de

outras vias urbanas – e que resultam muitas vezes nos problemas de serventia encontrados nos

corredores quando o pavimento se mostra incapaz de suporta-las.

A Figura 5.15 abaixo apresenta, por sua vez, a variação da participação dos diferentes

níveis de carregamento ao longo de um dia típico.

2%

4%

6%

8%

10%

6-7

7-8

8-9

9-1

0

10-1

1

11-1

2

12-1

3

13-1

4

14-1

5

15-1

6

16-1

7

17-1

8

18-1

9

19-2

0

20-2

1

21-2

2

Per

centa

gem

do

mer

o t

ota

l

de

soli

cita

ções

Faixa horária (h)

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105

Figura 5.15 – Distribuição ao longo de um dia típico do número de solicitações característico

do corredor, por nível de carregamento

Fonte: Adaptado de Gonçalves (2013) e Lobo, Seiffert e Pereira (2016).

Observou-se dos dados ilustrados Figura 5.15 que as solicitações leves são majoritárias

ao longo do dia, com exceção daquele breve período entre as 17 e as 19h. A distribuição entre

os diferentes níveis de carregamento seria homogênea até as 15h, quando a participação dos

veículos leves começaria a diminuir, para voltar aos patamares iniciais somente após as 20h. A

percentagem das solicitações referentes às condições médias e pesadas conjuntamente se

manteve na estimativa em média 23% até as 15h, quando aumentou até alcançar o pico de 53%

no intervalo 18-19h.

5.4.2 Solicitações Provenientes do Clima

Apresenta-se na Figura 5.16 os Diferenciais Térmicos Máximos (DTm) estimados pelos

modelos de Severi (2002) para os diferentes anos para os quais se reuniu dados climáticos

referentes ao município de Santa Maria (RS), e para cada estação do ano. Aferiu-se valores de

DTm para a primavera e o verão santa-marienses que variaram entre 9,11 e 12,54ºC. Para o

período compreendido entre o outono e inverno, estimou-se valores entre 5,24ºC e 6,31ºC.

0%

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60%

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100%

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soli

cita

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Faixa horária (h)

Pesado

Médio

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106

Figura 5.16 – Diferenciais térmicos máximos estimados para Santa Maria, por estação do ano

(2010-2015)

Fonte: Autor.

Em ambas as estações, todavia, observou-se pouca variabilidade entre as estimativas

realizadas para diferentes anos, tanto que os coeficientes de variação foram iguais a

pequeníssimos 0,12 e 0,08, respectivamente. À vista disso, considerou-se que os valores

médios entre os DTm de diferentes anos estimados para uma mesma estação representariam

satisfatoriamente os efeitos sobre o pavimento das condições climáticas predominantes no

município gaúcho (Tabela 5.7).

Tabela 5.7 – Diferenciais térmicos máximos adotados como característicos das condições

climáticas predominantes em Santa Maria

Estação Diferencial Térmico Máximo (ºC)

Primavera e Verão 10,63

Outono e Inverno 5,68

Fonte: Autor.

0

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2010 2011 2012 2013 2014 2015Dif

eren

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)

Ano

Primavera e Verão

Outono e Inverno

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107

5.4.2.1 Análise da Adequabilidade dos Modelos de Severi (2002) às Condições Climáticas

Santa-Marienses

A Prefeitura Municipal de São Paulo (2004) recomenda para as condições climáticas

daquela cidade valores de DTm iguais a 11,5 e 12,5ºC para a primavera e o verão,

respectivamente. Apesar de não utilizar a mesma divisão de estações de Severi (2002), aqueles

valores foram baseados no trabalho da pesquisadora.

À vista disso, e por razões que ficarão claras em seguida, apresenta-se na Figura 5.17 a

faixa de variação das Temperaturas de Topo Máximas (Ttm) observadas nas estações climáticas

mais quentes do ano por Severi (2002), e os valores aferidos para o parâmetro nas mesmas

estações para Santa Maria.

Figura 5.17 – Temperaturas de topo máximas estimadas para primavera e verão em Santa Maria,

e o intervalo das observações de Severi (2002) para o parâmetro em São Paulo

Fonte: Autor e Severi (2002).

Verificou-se disso que as estimativas realizadas neste trabalho para as Ttm ficaram

dentro da faixa de variação das observações de Severi (2002). Intui-se, ainda, que os valores

apresentados na PMSP (2004) seriam compatíveis com aquelas condições mais críticas, como

seria comum a normativas, ou seja, seriam compatíveis com o limite superior das observações

realizadas pela referida autora.

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2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Severi (Lim. Superior)

Severi (Lim. Inferior)

Estimado

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108

Portanto, entendeu-se que os valores estimados neste trabalho seriam inferiores àqueles

ditos característicos da capital paulistana pela PMSP (2004) por representarem as condições

climáticas médias santa-marienses, e não por diferenças climáticas explicitas entre as duas

cidades nos períodos mais quentes do ano.

Verdadeiramente, pois em nenhum dia sem chuvas da primavera ou do verão ao longo

de 2010-2015 duas das variáveis climáticas utilizadas para o cálculo das temperaturas de topo

– NHI e H – foram observadas fora dos intervalos em que variaram em São Paulo durante o

desenvolvimento dos modelos de Severi (2002). Entretanto, a temperatura atmosférica máxima

em alguns dias em Santa Maria fora superior àquela máxima observada na capital paulistana,

de 36ºC (Figura 5.18).

Figura 5.18 – Número de dias de primavera e verão eliminados das amostras por não se

enquadrarem nos intervalos que resultaram nos modelos de Severi (2002), por ano

Fonte: Autor.

Verificou-se, como ilustrado na Figura 5.18, que entre 4 e 21 dias em um mesmo ano

apresentaram temperaturas atmosféricas superiores a 36ºC, ou entre somente 2,74 e 11,51% dos

dias de primavera e verão daqueles anos. Esses dias apresentaram temperaturas atmosféricas

para as quais os modelos de Severi (2002) não seriam aplicáveis, razão pela qual foram

desconsiderados do rol de dados utilizado para a estimativa das temperaturas de topo, como

comentado no capítulo anterior. Todavia, esses dias configurariam também condições extremas

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109

do clima santa-mariense nos anos de 2010, 2011, 2013 e 2015, e os anos de 2012 e 2014 em si

configurariam também condições inabituais do clima local, como se observa abaixo.

À vista disso, e da perfeita adequabilidade dos outros dois parâmetros climáticos às

faixas de Severi (2002), principalmente o NHI, aquele com o maior “peso” nas equações,

considerou-se que as estimativas desenvolvidas pelos modelos da referida autora para os

períodos mais quentes do ano em Santa Maria seriam válidas. Assim, admitiu-se que não se

extrapolara os modelos para um local com clima nitidamente distinto do paulistano durante a

primavera e o verão, segundo as variáveis que impactariam o diferencial térmico observado em

placas de concreto.

Para o outono e o inverno, por sua vez, as Temperaturas de Topo Máximas estimadas

para os diferentes anos se demonstraram mais próximas daquele limite inferior da faixa de

variação das observações de Severi (2002) (Figura 5.19). Por essa razão, o DTm estimado para

os períodos mais frios em Santa Maria, 5,68ºC, foi novamente inferior à recomendação da

PMSP (2004) para aquela cidade, 8-10ºC.

Figura 5.19 – Temperaturas de Topo Máximas estimadas para Outono e Inverno em Santa

Maria, e o intervalo das observações de Severi (2002) para o parâmetro em São Paulo

Fonte: Autor e Severi (2002).

As variáveis climáticas NHI e H dos períodos mais frios do ano se encaixaram

perfeitamente, e novamente, nas faixas em que foram observadas na calibração dos modelos.

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Severi (Lim. Superior)

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110

Todavia, o número de dias que apresentaram temperaturas atmosféricas inferiores àquela

mínima observada por Severi (2002), 6ºC, foi possivelmente significativo em todos os anos

entre 2010 e 2015 (Figura 5.20).

Figura 5.20 – Número de dias de outono e inverno eliminados das amostras por não se

enquadrarem nos intervalos que resultaram nos modelos de Severi (2002), por ano

Fonte: Autor.

Entre 18 e 25 dias das estações mais frias do ano foram, em cada ano, eliminados da

amostra empregada para estimativa dos diferenciais térmicos máximos por não se enquadrarem

nos intervalos de Severi (2002), como ilustrado na Figura 5.20 acima. À vista disso, entendeu-

se que os modelos desenvolvidos para o clima paulistano seriam menos adequados para a

estimativa de diferenciais térmicos presentes em placas de concreto no outono e no inverno de

Santa Maria, onde as condições climáticas predominantes nessas estações seriam mais severas

(frias) do que em São Paulo.

Portanto, averiguou-se dessa estimativa que os modelos de Severi (2002), desenvolvidos

para o clima de São Paulo, seriam, para os dados climáticos de Santa Maria reunidos, e para as

condições predominantes, adequados para a estimativa de diferenciais térmicos máximos

desenvolvidos em placas de concreto na primavera e no verão neste município no verão.

Verificou-se também que o emprego dos modelos de Severi (2002) para os períodos

mais frios do ano seriam possivelmente menos adequados para uso em Santa Maria, pois a

maior amplitude térmica durante essas estações no Rio Grande do Sul, e a latitude em que se

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111

encontra Santa Maria, fazem com que um talvez considerável número de dias apresente

temperaturas mais frias do que usualmente ocorre em São Paulo.

Apesar disso, considerou-se para o desenvolvimento das próximas etapas as duas

estimativas de diferenciais térmicos máximos, apresentadas na Tabela 5.7, visto que os períodos

mais frios, obtidos pelos modelos considerados como menos aplicáveis às condições locais,

representariam condições menos significativas para as análises de desempenho.

5.4.2.2 Estimativa dos Diferenciais Térmicos Horários

Apresenta-se na Tabela 5.8 abaixo os diferenciais térmicos estimados para cada faixa

horária e para cada estação do ano, ao longo de um dia típico no corredor, segundo as

recomendações da PMSP (2004), como comentado no capítulo anterior.

Tabela 5.8 – Diferenciais térmicos estimados para cada faixa horária de um dia típico, por

estação do ano

(continua)

Faixa horária

(h)

Estação e Diferencial térmico (ºC)

Primavera Verão Outono Inverno

6-7 0,00 0,00 0,00 0,00

7-8 0,00 0,00 0,00 0,00

8-9 1,77 1,77 0,00 0,00

9-10 3,54 3,54 1,14 1,14

10-11 5,32 5,32 2,27 2,27

11-12 7,09 7,09 3,41 3,41

12-13 8,86 8,86 4,54 4,54

13-14 10,63 10,63 5,68 5,68

14-15 10,63 10,63 5,68 5,68

15-16 7,97 8,50 4,26 3,79

16-17 5,32 6,38 2,84 1,89

17-18 2,66 4,25 1,42 0,00

18-19 0,00 2,13 0,00 0,00

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112

Tabela 5.8 – Diferenciais térmicos estimados para cada faixa horária de um dia típico, por

estação do ano

(conclusão)

Faixa horária

(h)

Estação e Diferencial térmico (ºC)

Primavera Verão Outono Inverno

20-21 0,00 0,00 0,00 0,00

21-22 0,00 0,00 0,00 0,00

Fonte: Autor.

Esses valores foram desenvolvidos para serem associados com as solicitações do tráfego

que ocorreriam no mesmo intervalo de hora (Tabela 5.6, p. 102). A combinação desses dois,

por sua vez, foram desenvolvidos para serem as ações externas sobre o pavimento nas

estimativas de desempenho. Portanto, por apenas serem a união de duas tabelas, e por somente

obedecerem a divisão comentada anteriormente (Quadro 2.2, p. 35), omitiu-se qualquer análise

dos resultados combinados especificadamente.

5.5 PREVISÃO DO DESEMPENHO DO PAVIMENTO

Apresenta-se primeiramente os resultados das estimativas das Máximas Tensões de

Tração na Flexão (σtf,m) desenvolvidas no pavimento, dados essenciais para realizar a previsão

de desempenho do mesmo como objetivada neste trabalho. As estimativas apresentadas abaixo,

como comentado no capítulo anterior, foram desenvolvidas para as placas e os parâmetros

definidos como representativos dos trechos, e as solicitações foram consideradas tais como

estimadas ou adotadas ao longo deste trabalho.

5.5.1 Estimativa das Máximas Tensões de Tração na Flexão

Exibe-se na Tabela 5.9 as σtf,m desenvolvidas para todas as combinações de diferenciais

térmicos e níveis de carregamento simuladas atuando nos trechos. Em seguida, analisa-se

alguns dos principais aspectos destas estimativas.

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Tabela 5.9 – Máximas tensões de tração na flexão estimadas para os trechos, sob efeito de

diferentes níveis de carregamento e diferentes diferenciais térmicos

DT

Máximas Tensões de Tração na Flexão (MPa)

Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3

Leve Médio Pesado Leve Médio Pesado Leve Médio Pesado

0,00 1,17 1,30 1,47 1,14 1,27 1,39 1,17 1,32 1,46

1,14 1,54 1,67 1,83 1,37 1,50 1,62 1,38 1,53 1,67

1,42 1,63 1,76 1,92 1,43 1,55 1,68 1,44 1,58 1,73

1,77 1,75 1,87 2,03 1,49 1,62 1,75 1,50 1,65 1,79

1,89 1,79 1,91 2,07 1,52 1,65 1,77 1,52 1,67 1,81

2,13 1,86 1,98 2,15 1,57 1,70 1,82 1,57 1,71 1,86

2,27 1,91 2,03 2,19 1,60 1,73 1,85 1,60 1,74 1,89

2,66 2,03 2,16 2,32 1,68 1,80 1,93 1,67 1,82 1,96

2,84 2,09 2,21 2,37 1,71 1,84 1,97 1,71 1,85 1,99

3,41 2,27 2,40 2,55 1,83 1,96 2,08 1,81 1,96 2,10

3,54 2,32 2,44 2,60 1,86 1,98 2,11 1,84 1,98 2,13

3,79 2,40 2,52 2,68 1,91 2,03 2,16 1,88 2,03 2,17

4,25 2,55 2,67 2,82 2,00 2,12 2,25 1,97 2,11 2,26

4,26 2,55 2,67 2,83 2,00 2,13 2,25 1,97 2,12 2,26

4,54 2,64 2,76 2,92 2,06 2,18 2,31 2,02 2,17 2,31

5,32 2,89 3,01 3,16 2,21 2,34 2,47 2,17 2,32 2,46

5,68 3,01 3,12 3,28 2,29 2,41 2,54 2,24 2,38 2,53

6,38 3,23 3,35 3,50 2,43 2,55 2,68 2,37 2,51 2,66

7,09 3,46 3,58 3,73 2,57 2,71 2,83 2,50 2,65 2,79

7,97 3,75 3,86 4,01 2,77 2,88 3,00 2,67 2,81 2,96

8,50 3,92 4,03 4,18 2,90 3,00 3,11 2,77 2,91 3,06

8,86 4,03 4,14 4,29 2,98 3,08 3,18 2,84 2,98 3,12

10,63 4,61 4,71 4,85 3,39 3,49 3,60 3,19 3,31 3,46

Fonte: Autor.

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114

5.5.1.1 Análise das Máximas Tensões Estimadas

Reapresenta-se na Tabela 5.10 abaixo, para facilitar as leituras dos seletos dados

utilizados nesta análise, as σtf,m estimadas para os trechos nos casos em que os diferenciais

térmicos fossem nulos, e nos casos em que fossem aqueles estimados como máximos durante

as estações frias e quentes do ano.

Tabela 5.10 – Máximas tensões de tração na flexão estimadas para os trechos, sob efeito de

diferentes níveis de carregamento e diferentes diferenciais térmicos

DT

Máximas Tensões de Tração na Flexão (MPa)

Trecho 1 Trecho 2 Trecho 3

Leve Médio Pesado Leve Médio Pesado Leve Médio Pesado

0,0 1,17 1,30 1,47 1,14 1,27 1,39 1,17 1,32 1,46

5,68 3,01 3,12 3,28 2,29 2,41 2,54 2,24 2,38 2,53

10,63 4,61 4,71 4,85 3,39 3,49 3,60 3,19 3,31 3,46

Fonte: Autor.

5.5.1.2.1 Efeito dos Diferentes Níveis de Carregamento nas Máximas Tensões

Verificou-se, a partir da Tabela 5.10, que houve, para diferenciais térmicos nulos, um

aumento sensível de 9 a 13% entre as σtf,m estimadas para uma classe de carregamento veicular

e aquelas estimadas para aquele outro de classe imediatamente superior – de leve para médio,

e de médio para pesado. Esse aumento se mostrou similar aos aumentos nas magnitudes das

solicitações dos eixos veiculares entre as mesmas classes (Tabela 4.8, p. 79), que estavam no

intervalo 11-13%.

Averiguou-se também, a partir dos mesmos dados, que os efeitos dos níveis de

carregamentos veiculares eram minimizados à medida que os diferenciais térmicos

aumentavam. No caso em que estes eram iguais a 10,63ºC, por exemplo, os aumentos de tensões

com a variação das cargas aplicadas pelos eixos veiculares eram iguais a 2-5%, em nítido

contraste ao aumento de 11-13% das magnitudes dos carregamentos aplicados nesses instantes.

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115

À vista disso, intuiu-se, a partir dos tipos e das faixas de variação das variáveis que

compuseram o problema, que os esforços desenvolvidos pelos eixos veiculares eram diluídos

pelos esforços oriundos do empenamento das placas à medida que aumentavam os diferenciais

térmicos. Entendeu-se, portanto, que no problema em análise o conhecimento das variáveis que

governam o empenamento térmico seria mais imprescindível para a avaliação de tensões

desenvolvidas em placas de concreto do que o conhecimento pormenorizado das cargas sobre

os eixos veiculares.

5.5.1.2.2 Efeito dos Diferenciais Térmicos nas Máximas Tensões

Verificou-se, a partir dos resultados completos dispostos na Tabela 5.9, que as σtf,m

aumentaram linearmente com incrementos nos diferenciais térmicos atuantes. Averiguou-se

também que esse aumento era devido a um “acréscimo”, proporcional ao diferencial térmico

simulado, acrescido ao valor estimado para quando os diferenciais térmicos fossem nulos

(Figura 5.21). Esse acréscimo proveria da forma que o EverFE 2.24 trata as tensões de

empenamento térmico, sobrepondo-as àquelas estimadas para os eixos veiculares isoladamente.

Figura 5.21 – Máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas no T1 para carregamentos

leves associados a diferentes diferenciais térmicos, e a parcela dessas tensões oriundas do efeito

do empenamento térmico

Fonte: Autor.

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o n

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lex

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Máx

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(MP

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Diferencial Térmico (ºC)

Tráfego + Empenamento

Empenamento

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116

Aferiu-se também que esses incrementos de tensões devido ao empenamento térmico

ocorriam em grandezas particulares aos trechos, e independentemente do nível de carregamento

veicular aplicado. Para o T1, por exemplo, a cada aumento unitário no diferencial térmico

simulado, as σtf,m aumentavam 32% do valor estimado para quando aqueles fossem nulos. Para

os outros dois trechos, esses incrementos foram verificados menores, e iguais a 21% para o T2

e 19% para o T3.

As σtf,m estimadas para distintos trechos, mas para um mesmo nível de carregamento

veicular, eram muito similares quando os diferenciais térmicos foram considerados nulos,

variando em no máximo 5,76%, como mostra os dados dispostos acima na Tabela 5.10.

Em contrapartida, para o diferencial térmico mais extremo, as diferenças entre as

tensões máximas dos distintos trechos, mas para uma mesma classe de carregamento veicular,

variaram em até 44,51%. Entendeu-se que isso ocorrera devido àqueles incrementos

característicos dos segmentos com aumentos progressivos nos diferenciais térmicos, uma vez

que o “valor inicial”, quando os diferenciais térmicos eram nulos, era muito similar para os três

trechos, como ilustrado na Figura 5.22.

Figura 5.22 – Máximas tensões de tração na flexão desenvolvidas nos trechos para

carregamentos leves associados a diferentes diferenciais térmicos

Fonte: Autor.

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a F

lex

ão

Máx

ima

(MP

a)

Diferencial Térmico (ºC)

T1

T2

T3

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117

A principal razão para essas respostas particulares aos trechos seria os parâmetros

característicos deles, que são distintos entre si. Balbo (2009) esclarece que maiores valores de

k acarretariam em maiores perdas de suporte à placa quando ocorressem empenamentos

térmicos, condição esta que majoraria as tensões oriundas do fenômeno. Ainda, valores altos

de E majorariam também as tensões de empenamento térmico, segundo Tang et al. (1996).

Portanto, os altos valores para ambos os parâmetros em T1 justificariam as altíssimas

tensões de empenamento estimadas para esse trecho. Ademais, verificou-se na Figura 5.22

acima que T2 e T3 apresentaram um comportamento bastante similar. Esses trechos possuem

valores de E quase iguais, 37.500 e 40.000MPa, respectivamente, mas valores de k bastante

distintos, 95 e 160MPa/m. Logo, o maior valor de k estimado para T2 resultou em maiores

tensões de empenamento térmico, apesar de um E ligeiramente inferior.

5.5.1.2.2 Variações Diárias e Sazonais nas Máximas Tensões

Ainda, verificou-se a partir dos dados dispostos na Tabela 5.10 que as σtf,m variavam

significantemente ao longo de um dia e, portanto, do ano. Estimou-se, por exemplo, que ao

longo de um dia as tensões variariam até 137-294%, dependendo do trecho e do nível do

carregamento considerado. A diferença entre as σtf,m estimadas para as condições mais

extremas dos períodos frios e quentes, por sua vez, variou entre 37 e 53%, novamente

dependendo do trecho e do nível de carregamento.

Essas diferenças permitem compreender as limitações do método de dimensionamento

da PCA de 1984, por exemplo, ainda empregado, que desconsidera totalmente essas mudanças

significativas nos esforços desenvolvidos em placas de concreto e que ocorrem naturalmente

devido a sua exposição ao ambiente.

Todas as observações apresentadas até este momento a respeito das implicações dos

diferenciais térmicos nas respostas de placas de concreto ilustram, detalhadamente, as

motivações para que se realizasse a estimativa de desempenho à fadiga dos trechos de forma

que também se avaliasse os efeitos dos diferenciais térmicos no desempenho dos mesmos.

5.5.2 Previsão do Desempenho à Fadiga dos Trechos

As previsões de desempenho, como comentado no capítulo anterior, foram

desenvolvidas adotando-se as tensões apresentadas acima como atuantes ao longo de

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118

determinada faixa horária, naquela em que atuavam os diferenciais térmicos e veículos que as

originaram, e essas tensões foram computadas em modelos de desempenho para estimar o

Consumo de Resistência à Fadiga (CRF) dos trechos. Ainda, em um primeiro momento,

considerou-se que os diferenciais térmicos inexistiriam, e em outro, as variações diárias e

sazonais dos mesmos como estimadas e discutidas acima.

5.5.2.1 Desempenho à Fadiga dos Trechos Desconsiderando os Diferenciais Térmicos

Ao desprezar os diferenciais térmicos, adotou-se consequentemente que as mesmas

tensões, iguais àquelas estimadas para diferenciais térmicos nulos (Tabela 5.10, p. 114)

atuariam ao longo dos dias, em todas as faixas horárias. Apresenta-se na Tabela 5.11 as

Relações entre Tensões (RT), adimensional, que atuariam nessa conjectura.

Tabela 5.11 – RT estimadas atuando ao desprezar os diferenciais térmicos, por nível de

carregamento veicular

Trecho RT

Leve Médio Pesado

T1 0,26 0,29 0,33

T2 0,25 0,28 0,31

T3 0,26 0,29 0,32

Fonte: Autor.

Apresenta-se na Tabela 5.12, por sua vez, os resultados encontrados para CRF dos

trechos, a partir dessas condições, para os modelos de fadiga da PCA (1984) e os desenvolvidos

por Cervo (2004). Estimou-se desempenhos iguais para todos os trechos, como esperado, posto

que as RT eram praticamente iguais para um mesmo nível de carregamento devido à

desconsideração dos diferenciais térmicos. Ainda, devido aos valores ínfimos destas, os

resultados indicaram que o CRF, mesmo após inúmeros anos-solicitações, seria praticamente

nulo, independentemente do modelo de fadiga empregado.

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119

Tabela 5.12 – CRF estimado após 75 anos-solicitações ao desprezar os diferenciais térmicos

para diferentes modelos de fadiga

Trecho

CRF (%)

PCA (1984) Cervo (2004)

Laboratório Campo

T1 0,00 0,0000000450 0,00000693

T2 0,00 0,0000000219 0,00000433

T3 0,00 0,0000000443 0,00000699

Fonte: Autor.

Pelos modelos da PCA (1984) em particular, o consumo de fadiga seria verdadeiramente

nulo, visto que as relações entre tensões estimadas eram todas inferiores a 0,45 (Tabela 5.11),

aquele nível que para a associação norte-americana permitiria, apesar da incompatibilidade da

premissa com o comportamento real dos materiais de pavimentação (BALBO, 2009), que o

concreto resistisse a infinitas solicitações sem romper por fadiga.

À vista disso, dimensiona-se PCS pelo método da PCA (1984), a metodologia

empregada para o dimensionamento pavimento em análise, objetivando normalmente uma

espessura para a placa, desde que adotada uma resistência à tração na flexão para o concreto,

de tal sorte que as tensões desenvolvidas nessa placa resultem em RT inferiores a 0,45,

acreditando-se que dessa forma se estaria evitando que o pavimento fissurasse.

Entretanto, alcançou-se relações entre tensões nesse patamar somente por

desconsiderar-se todos os significativos diferenciais térmicos que naturalmente se

desenvolveriam em placas de concreto, estruturas estas que se encontram expostas diretamente

aos efeitos do clima e constituídas por materiais que fomentam o surgimento daqueles. Por

esses motivos, além de outros, claro, aquela previsão de desempenho se mostra errônea e

verifica-se em pista, como se verificou no pavimento em estudo, placas fissuradas.

Pelos modelos de Cervo (2004), aferiu-se desempenho similar, senão igual àquele

estimado pelos modelos da PCA (1984). Todavia, os modelos de Cervo (2004) para laboratório

e campo retornaram na rotina computacional desenvolvida um valor numérico para o CRF após

75 anos-solicitações, posto que permitem o computo de RT baixíssimas em suas equações.

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120

Apesar disso, esses valores seriam irrisórios, e as observações apresentadas para os modelos da

PCA (1984) também seriam válidas para esses resultados.

5.5.2.2 Desempenho à Fadiga dos Trechos Considerando os Diferenciais Térmicos

Apresenta-se na Tabela 5.13 os números de anos-solicitações estimados como

necessários para que, considerado os diferenciais térmicos, o pavimento rompesse por fadiga.

Para desenvolver esses resultados, repete-se, adotou-se todas as variações horárias e sazonais

nas máximas tensões que ocorreriam no pavimento, assim como a taxa de crescimento do

tráfego observada em pista.

Tabela 5.13 – Número de anos-solicitações até ruptura por fadiga dos trechos, considerados os

diferenciais térmicos

Trecho

Anos-solicitações

PCA (1984) Cervo (2004)

Laboratório Campo

T1 0 0 0

T2 0 14 8

T3 0 45 24

Fonte: Autor.

Verificou-se desses dados que a consideração daqueles incrementos nas máximas

tensões devido ao empenamento resultou em um desempenho totalmente diferente daquele

estimado quando os diferenciais térmicos foram desconsiderados. Ainda, cada trecho

apresentou um desempenho extremamente particular, como pormenorizado em seguida.

5.5.2.2.1 Previsão do Desempenho do Trecho 1

Estimou-se que as placas de concreto do T1 romperiam bruscamente no primeiro dia de

solicitações, pois em algumas faixas horárias as máximas tensões estimadas superaram a

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121

capacidade portante do pavimento. Entretanto, o desempenho observado do T1 em pista,

segundo as avaliações outrora desenvolvidas no pavimento, seria satisfatório (Figura 3.4, p. 49)

e, ainda, somente 6,67% das placas do trecho apresentavam fissuras lineares (LOBO;

SEIFFERT; PEREIRA, 2016; MULLER, 2016).

À vista disso, repete-se a hipótese desenvolvida anteriormente, ao analisar os parâmetros

estruturais das placas que compunham esse trecho: acredita-se que a espessura das placas desse

segmento seja superior àqueles 23cm adotados na retroanálise. A principal razão para as

altíssimas tensões estimadas para o T1, e consequentemente a previsão de desempenho

totalmente discordante da realidade, seriam precisamente os valores dos parâmetros estruturais

característicos do segmento, principalmente o elevado módulo de elasticidade do concreto

(TANG et al., 1996). Consequentemente, a estimativa de desempenho desenvolvida seria

inverídica.

5.5.2.2.2 Previsão do Desempenho do Trecho 2

Pelos modelos da PCA (1984), como apresentado na Tabela 5.13 acima, estimou-se que

as placas do T2 romperiam em algum momento do primeiro ano-solicitação. Todavia, para esse

trecho as relações entre tensões ao longo de um ano variaram entre 0,25 e 0,80. Portanto, esse

resultado caracterizaria um rápido esgotamento da resistência à fadiga, diferentemente do

rompimento brusco que se verificou para o T1. Entendeu-se que o péssimo desempenho aferido

pelos modelos da PCA (1984) para o segmento fora fomentado pelo fato de estes serem os

modelos mais conservadores disponíveis na literatura internacional (BALBO, 2009).

Pelos modelos de Cervo (2004), aferiu-se que as placas suportariam 14 anos-solicitações

nas condições de laboratório e oito anos-solicitações nas condições de campo (Tabela 5.13).

Ilustrou-se na Figura 5.23 as diferenças na evolução do CRF do trecho em análise nessas duas

condições. Verificou-se que ao emular o comportamento à fadiga do concreto em campo,

empregando o shift-factor de Cervo (2004), a previsão de desempenho do trecho se tornou

significantemente mais conservadora. Balbo (2007) explica que fatores de calibração campo-

laboratório reduzem a resistência aferida neste, onde as condições em que ocorrem os ensaios

resultam na superestimação do desempenho dos materiais.

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Figura 5.23 – Evolução do CRF do T2 pelos modelos de Cervo (2004), considerando os

diferenciais térmicos

Fonte: Autor.

Entretanto, Cervo (2004) desenvolveu o shift-factor empregado originalmente para

Concretos de Alto Desempenho, que, segundo a autora, apresentam um desempenho à fadiga

inferior aos concretos convencionais. Assim, a PMSP (2004) possivelmente recomenda o uso

do fator de calibração campo-laboratório da autora por esse subestimar o desempenho em

campo de concretos convencionais. À vista disso, intuiu-se que o desempenho em campo dos

concretos convencionais, e consequentemente do T2, seria representado por uma curva

posicionada entre as duas apresentadas na Figura 5.23.

Independente da curva que melhor represente o trecho, a influência dos diferenciais

térmicos no desempenho do pavimento se mostrou expressivíssima. A variação nas máximas

tensões de tração, apresentadas e comentadas anteriormente, indicavam que o desempenho seria

expressivamente impactado. Todavia, averiguou-se que a alteração foi significativa ao ponto

de, para um mesmo segmento, partir-se de uma hipótese de virtual nulo consumo de resistência

à fadiga, e isto mesmo após um irreal número de anos-solicitações, para uma previsão de que o

pavimento romperia após 8-14 anos-solicitações.

Portanto, constatou-se com essas estimativas novamente a importância de se considerar

os diferenciais térmicos na avaliação estrutural e dimensionamento de pavimentos de concreto

simples. Ao desconsidera-los, o avaliador ou projetista estaria possivelmente obtendo

resultados falazes, que poderiam comprometer o desempenho funcional e estrutural da estrutura

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0 3 6 9 12 15

CR

F

Ano-solicitação

Cervo (2004) Laboratório

Cervo (2004) Campo

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123

em longo termo, algo que se provaria ainda mais relevante por amplos recursos financeiros

serem direcionados para a execução de pavimentos de concreto e por estes serem vistos como

soluções mais duradouras.

5.5.2.2.2 Previsão do Desempenho do Trecho 3

Para o T3, os resultados desenvolvidos a partir dos modelos da PCA (1984) foram iguais

àqueles obtidos para o T2. Novamente, portanto, a placa romperia no primeiro ano-solicitação,

e por esses modelos serem expressivamente mais conservadores que os de Cervo (2004) ou de

outros disponíveis na literatura.

Para os modelos de Cervo (2004), as previsões de desempenho para o terceiro trecho

foram notadamente mais positivas, como exposto na Tabela 5.13 . Aferiu-se que seriam

necessárias 45 anos-solicitações para que as placas deste trecho rompessem, consideradas o

modelo desenvolvido para as condições de laboratório, e 24 anos-solicitações para que

rompessem nas condições de campo. Portanto, novamente o desempenho do trecho foi

expressivamente alterado ao considerar os diferenciais térmicos. As mesmas considerações

realizadas para o T2, dessa forma, se mostrariam válidas para este trecho.

Ilustrou-se na Figura 5.24 as evoluções dos CRF do T2 e do T3, desenvolvidos a partir

dos modelos de Cervo (2004). Averiguou-se, ao comparar as estimativas que consideraram os

diferenciais térmicos, e ao recordar que o T1 foi estimado (erroneamente) como apresentando

ruptura brusca, que o desempenho apresentado por cada trecho seria expressivamente particular

a ele, como indicou a parametrização desenvolvida neste trabalho (Tabela 5.5, p. 101).

Anteriormente, ao desconsiderar o efeito do empenamento térmico, os desempenhos dos

três trechos foram estimados idênticos, e isso apesar dos parâmetros estruturais serem

nitidamente distintos. Portanto, verificou-se que outro efeito significativo da omissão dos

diferenciais térmicos, nestas análises de desempenho, fora que, devido a isso, aquelas primeiras

estimativas se mostraram pouco ou nada suscetíveis às diferentes respostas que as placas e o

subleito apresentaram em campo.

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124

Figura 5.24 – Evoluções dos CRF dos Trechos 2 e 3 pelos modelos de Cervo (2004),

considerando os diferenciais térmicos

Fonte: Autor.

Observou-se também que quando as máximas tensões eram altas, como nos casos em

que os diferenciais térmicos foram simulados, uma pequeníssima variação no máximo RT

estimado de 0,77 no T2 para 0,80 no T3 resultou em uma previsão de que haveria um intervalo

de 16-31 anos-solicitações entre o instante em que um trecho e o outro atingiria o ponto de

ruptura. Logo, esta observação também demonstraria as sensíveis incertezas das estimativas

desenvolvidas neste trabalho, pois pequenas variações nas RT que efetivamente se

desenvolveriam em pista, acima ou abaixo das estimadas aqui, resultariam num desempenho

futuro real à fadiga, em termos de número de anos até a ruptura, diferente do que foi estimado

neste trabalho. Apesar disso, entendeu-se que as diferenças nas respostas dos trechos se

efetivaria em pista.

Verdadeiramente, pois 11,90% das placas do T2, aquele estimado com o menor número

de anos-solicitações remanescentes, apresentaram fissuras lineares, um defeito desenvolvido

com o esgotamento da resistência à fadiga do concreto (BALBO, 2009). Em contrapartida,

somente 4,35% das placas do T3 apresentaram o defeito, segundo os levantamentos de Lobo,

Seiffert e Pereira (2016) e Muller (2016). Portanto, o desempenho à fadiga do T2 em pista se

mostrou efetivamente inferior àquele que o T3 apresenta hoje, como indicou as estimativas

desenvolvidas neste trabalho.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

CR

F

Ano-solicitação

T2 (Lab.)

T2 (Campo)

T3 (Lab.)

T3 (Campo)

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125

6 CONCLUSÕES

Esta pesquisa objetivou prever o desempenho estrutural de um PCS, executado em um

corredor de ônibus santa-mariense. Procurou-se com este trabalho complementar as avaliações

outrora realizadas na estrutura e, assim, aprimorar o entendimento adquirido com esses

trabalhos do desempenho funcional e estrutural da estrutura em longo termo.

Para tanto, caracterizou-se as respostas que as placas apresentavam em campo, e

também as solicitações sobre o pavimento. Com isso, viabilizou-se aferir as máximas tensões

de tração na flexão que se desenvolveriam nas placas sob e o desempenho à fadiga das placas

de concreto, em condições compatíveis com aquelas existentes em pista. Abaixo, apresenta-se

as principais conclusões obtidas nas diferentes etapas deste trabalho.

Estimativa dos Parâmetros Estruturais

Aferiu-se com êxito o LTE em uma série de juntas transversais. Verificou-se que o

parâmetro variou entre 83 e 95% nas juntas amostradas, indicando uma boa condição

de deslocamento de esforços;

Aferiu-se também um LTE de 56% entre as faces de uma fissura linear;

Estimou-se por retroanálise valores de k entre 95 e 205MPa/m, demonstrando que o

comportamento do subleito variava significativamente ao longo do corredor, uma

observação em discordância com as pressuposições de projeto, que o considerava

homogêneo;

Estimou-se também por retroanálise valores de E entre 37.500 e 62.500MPa para um

mesmo concreto convencional. Entretanto, verificou-se que valores entre 37.500 e

40.000 seriam mais plausíveis.

Estimativa das Solicitações

As solicitações oriundas da ação do tráfego, estimadas com base em observações

realizadas em campo, mostraram-se bastante discordantes das pressupostas em projeto,

em volume e quanto a participação das diferentes classes de carregamento;

Estimou-se para Santa Maria, pelos modelos de Severi (2002), diferenciais térmicos

máximos iguais a 10,63ºC para a primavera e o verão, e de 5,69ºC para o outono e

inverno;

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Verificou-se também que os modelos empíricos de Severi (2002) seriam adequados para

a estimativa de diferenciais térmicos em Santa Maria, mas mais adequados para os

períodos mais quentes do ano do que para os períodos mais frios do ano;

Possibilitou-se com isso estimar satisfatoriamente os efeitos conjuntos do tráfego e do

clima que atuariam em cada faixa horária de um dia típico no corredor.

Previsão do Desempenho Estrutural do Pavimento

Ao desconsiderar os diferenciais térmicos para a previsão de desempenho, verificou-se

que todos os três segmentos em que o pavimento fora dividido apresentavam

comportamentos basicamente idênticos, apesar da parametrização desenvolvida indicar

que o sistema de apoio e as placas deles se comportariam de forma muito distinta;

Ao simular os diferenciais térmicos em toda sua variabilidade, verificou-se, além do

expressivo efeito deles nas máximas tensões desenvolvidas, um comportamento muito

distinto entre os trechos, como indicava a parametrização. Observou-se que os

incrementos nas máximas tensões devido ao empenamento térmico eram particulares a

cada trecho, pois dependeriam significativamente dos seus díspares valores de k e E;

Em virtude possivelmente do valor de E pouco plausível estimado para o T1, as

máximas tensões estimadas para o segmento superaram a resistência característica do

concreto. À vista da discordância dessa estimativa com o bom desempenho do trecho

observado em pista e da metodologia empregada para estima-la, levantou-se a hipótese

de que as placas desse trecho poderiam apresentar em pista espessuras superiores

àquelas especificadas em projeto;

Para o T2 e o T3, estimou-se valores plausíveis de anos-solicitações necessários para a

ruptura pelos modelos de Cervo (2004), 8-14 anos-solicitações para o T2 e 24-45 anos-

solicitações para o T3;

Pelos modelos da PCA (1984), previu-se que o pavimento romperia por fadiga antes do

fim do primeiro ano-solicitação, demonstrando o significativo conservadorismo desse

ainda popular modelo de fadiga;

Em pista, o T2 apresentava 11,90% das suas placas fissuradas, enquanto que o T3

apresentava somente 4,35% das suas placas nas mesmas condições, demonstrando que

a diferença no comportamento à fadiga observada nas previsões desse trabalho

desenvolvidas pelo modelo de Cervo (2004) se materializaram em pista.

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APÊNDICE A – POSIÇÃO DO FWD DURANTE AS AVALIAÇÕES

DEFLECTOMÉTRICAS E DIMENSÕES EM PLANTA DAS PLACAS AVALIADAS

Ensaio

Placas e Dimensões (mm) Posição do

Carregamento Placa A Placa B Placa C

P1 L1 P2 L2 P3 L3 a (mm) b (mm)

A1 3820 5040 380 5010 3770 5000 195 1930

A3 3780 5050 3840 4940 3860 5030 190 1910

A5 3880 4880 3880 5000 3880 5200 188 2030

A7 3890 5000 3920 4990 38880 5120 175 2283

A9 3890 6230 3880 4950 3870 4970 180 2310

A11 3830 5070 3860 5050 3860 3270 170 2160

A13 (F) 3860 5060 3850 5080 3830 5040 330 2140

A15 3880 5120 3860 5090 3890 5040 175 2380

A17 3900 4770 3910 4870 39000 3900 185 2210

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131

Ensaio

Placas e Dimensões (mm) Posição do

Carregamento Placa A Placa B Placa C

P1 L1 P2 L2 P3 L3 a (mm) b (mm)

A2 3820 5040 380 5010 3770 5000 2480 2100

A4 3780 5050 3840 4940 3860 5030 2520 1940

A6 3880 4880 3880 5000 3880 5200 4640 2050

A8 3890 5000 3920 4990 38880 5120 2525 2320

A10 3890 6230 3880 4950 3870 4970 2510 2340

A12 3830 5070 3860 5050 3860 3270 2040 2185

A14 (F) 3860 5060 3850 5080 3830 5040 3320 2140

A16 3880 5120 3860 5090 3890 5040 2395 2380

A18 3900 4770 3910 4870 39000 3900 2525 2080

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APÊNDICE B – RESULTADOS DAS AVALIAÇÕES DEFLECTOMÉTRICAS

(continua)

Ensaio Bacia Distância do centro do carregamento (cm) e Deflexões (10-2 mm)

0 20 30 45 60 90 120

A1 B1 36,7 37,1 36,0 31,9 26,0 20,0 14,4

B2 39,4 39,2 38,3 33,8 29 21,3 15,4

A2 B1 7,8 7,0 7,0 6,6 6,0 5,2 4,5

B2 7,5 7 7,1 6,7 6 5,2 4,6

A3 B1 38,5 39,4 38,8 34,6 29,8 22,4 16,3

B2 38,4 39,2 38,5 34,3 29,5 21,8 16

A4 B1 7,0 6,1 6,0 5,7 5,1 4,3 3,7

B2 7,1 6,1 6,1 5,7 5 4,3 3,7

A5 B1 52,7 54,0 53,1 47,1 40,7 30,3 22,2

B2 53,4 54,2 53,2 47,3 40,8 30 21,9

A6 B1 7,0 6,2 6,4 6,1 5,7 5,1 5,0

B2 7 6,1 6,2 6 5,6 5,1 4,9

A7 B1 42,8 34,0 33,6 30,0 26,2 20,2 15,9

B2 38,3 37,8 37,4 33,5 29,2 22,5 17,6

A8 B1 8,1 7,3 7,4 7,0 6,3 5,4 4,8

B2 8,4 7,2 7,2 6,8 6,1 5,2 4,5

A9 B1 32,6 33,7 33,0 29,2 25,1 18,8 13,6

B2 32,7 33,8 33,2 29,3 25,2 18,7 13,6

A10 B1 10,5 9,5 9,6 9,0 8,1 7,0 6,1

B2 10,6 9,6 9,7 9,1 8,2 7 6,1

A11 B1 45,5 40,2 39,8 35,6 31,1 24,0 18,5

B2 46,1 40,8 40,1 36 31,4 24,2 18,5

A12 B1 10,3 9,1 9,1 8,5 7,7 6,4 5,5

B2 9,6 9,1 9,1 8,6 7,8 6,5 5,6

A13 (F) B1 11,6 11,3 11,7 11,7 11,3 11,0 11,3

B2 11,8 11,3 11,7 11,7 11,1 11 11,3

A14 (F) B1 18,7 34,0 8,6 8,0 6,9 5,5 4,5

B2 18,6 35,4 8,6 7,9 6,9 5,5 4,4

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(conclusão)

Ensaio Bacia Distância do centro do carregamento (cm) e Deflexões (10-2 mm)

0 20 30 45 60 90 120

A15 B1 47,1 43,8 43,0 38,3 33,7 25,4 19,5

B2 48,6 44,6 43,7 39 34,3 25,8 19,8

A16 B1 10,3 10,0 10,0 9,4 8,6 7,3 6,5

B2 11 10 10 9,5 8,6 7,4 6,5

A17 B1 37,0 36,2 35,7 31,5 27,0 20,3 15,5

B2 36,8 36,2 35,6 31,4 26,9 20,2 15,3

A18 B1 14,7 13,8 14,1 13,3 12,4 10,8 9,6

B2 14,6 13,8 14,1 13,3 12,3 10,7 9,6