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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA - DGEO CURSO: GEOGRAFIA BACHARELADO HELENA COSTA DE ARAÚJO SEGREGAÇÃO URBANA E O REFLEXO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS: um estudo sobre o bairro João XXIII na cidade de Caicó-RN CAICÓ-RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ - CERES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA - DGEO CURSO: GEOGRAFIA BACHARELADO

HELENA COSTA DE ARAÚJO

SEGREGAÇÃO URBANA E O REFLEXO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS: um estudo sobre o bairro João XXIII na cidade de

Caicó-RN

CAICÓ-RN 2015

HELENA COSTA DE ARAÚJO

SEGREGAÇÃO URBANA E O REFLEXO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS:

um estudo sobre o bairro João XXIII na cidade de Caicó-RN

Monografia apresentada ao curso de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho.

CAICÓ-RN 2015

Aos meus pais por todo amor e cuidado

durante a minha vida: sem vocês eu não

teria chegado até aqui. Às minhas irmãs,

por toda força e apoio, vocês são as

melhores irmãs que eu poderia ter. Ao

meu amor, M./S./A pelo amor

incondicional, pela paciência e por

sempre estar ao meu lado, me ajudando,

sem você, eu não teria conseguido.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, em primeiro lugar, àquele que esteve ao meu lado, em todos os

momentos da minha vida, sempre me dando força e coragem para superar os

desafios, inclusive me acompanhando em minha trajetória durante esses quatro

anos na universidade. Agradeço ao meu Deus, aquele que faz o impossível

acontecer!

Aos meus pais, pelo amor, incentivo, cuidado e apoio incondicional. Sem

vocês eu não teria chegado até aqui. Às minhas irmãs e à minha sobrinha pela força

e pelo carinho de sempre, meu muito obrigada. Vocês, minha família, são peças

fundamentais para cada conquista que eu venha a realizar.

Ao meu amor M./S./A por todo apoio, carinho, paciência e incentivo e por

sempre me colocar para frente; Por ter estado ao meu lado em todos os momentos

durante a realização deste trabalho, desde o seu início, quando era apenas um

projeto, até a sua conclusão. Você é parte fundamental de cada conquista que

venho a realizar. Obrigada por fazer parte da minha vida!

Ao meu orientador, Prof. Dr. João Manoel de Vasconcelos Filho, por ter me

acolhido como orientanda e ter encarado de peito aberto minha ideias. Meu muito

obrigada, por todos os ensinamento e paciência. Cresci muito com o senhor, e sem

sua ajuda eu não teria chegado à conclusão desse trabalho.

Às minhas amigas, que conheci na residência e que se tornaram uma família

para mim, Tamisiane, Débora, Luana, Elizangela, Laedja, Patrícia, Renata e

Jucilene, pessoas que sempre estiveram ao meu lado nos bons e maus momentos

me dando força e apoio durante esses quatro anos. Obrigada pelo carinho, sorrisos

e broncas.

À Alexsandra e à Monique Hellen por terem me ajudado desde o início. À

Sandrinha por ter compartilhado as aflições e sugestões e por ter dividido comigo o

mesmo barco dessa jornada. À Monique, por ter me apresentado ao professor João

Manoel e por ter estado sempre aberta para sugestões e concelhos. Agradeço

também ao colega Paulo Roberto pela ajuda com o mapa do bairro João XXIII.

Às amigas de curso Fernanda e Ana Cláudia, que sempre me deram força e

incentivo nessa caminhada. Vocês foram essenciais para a superação de tantos

obstáculos nessa longa jornada. Obrigada pelos conselhos, broncas e sorrisos.

A seu Geraldo, presidente da Associação de Moradores do bairro, objeto de

estudo desta pesquisa, pela paciência ao percorrer a pé, rua por rua, do João XXIII

ao nosso lado, durante várias tardes de sol escaldante. Assim como a toda

comunidade do bairro pelo acolhimento. Meu muito obrigada!

Ao professor Adauto Guerra Filho, por ter nos acolhido (eu e Monique) em

sua casa, além de nos fornecer informações primordiais para a realização desta

pesquisa.

A todos aqueles que contribuíram de maneira direta e indireta para a

conclusão deste trabalho, eu agradeço!

Você nunca sabe que resultados virão da

sua ação. Mas se você não fizer nada,

não existirão resultados.

(Mahatma Gandhi)

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS LISTA DE GRÁFICOS LISTA DE MAPAS LISTA DE QUADRO LISTA DE SIGLAS RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO.............................................................................................

17

1.BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO

SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE CAICÓ................................................

21

2. HISTÓRIA DA DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL NO BAIRRO

JOÃO XXIII...................................................................................................

37

3. A SEGREGAÇÃO RESIDENCIAL E SUAS CONFIGURAÇÕES NO

BAIRRO JOÃO XXIII...................................................................................

51

CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................

66

REFERÊNCIAS............................................................................................

69

LISTA DE FIGURAS

1: Embrião de uma cidade – Período da Pecuária..........................

27

2: Eventos futuros............................................................................

31

3: Os eventos como extensores urbanos........................................

33

4: Uma das primeiras casas do bairro João XXIII...........................

46

5: Ruas sem pavimentação no bairro João XXIII............................

56

6: Ruas sem pavimentação no bairro João XXIII............................

56

7: Saneamento Básico utilizado pela população do bairro..............

57

8: Saneamento Básico utilizado pela população do bairro..............

57

9: Residências com infraestrutura precária.....................................

61

10: Novo posto de saúde que está sendo construído no bairro João XXIII....................................................................................................

64

LISTA DE GRÁFICOS

1- Motivos pelos quais as pessoas migraram para residir no bairro João XXIII......................................................................................................

58

2- Renda adquirida pela população do bairro João XXIII mensalmente.................................................................................................

59

3 - Forma de Moradia predominante no João XXIII.........................

60

LISTA DE MAPAS

1 – Caicó. Mapa de localização da cidade, 2015............................

25

2 – João XXIII. Mapa do bairro, 2015.............................................. 43

LISTA DE QUADRO

1- Algumas informações sobre a infraestrutura......................... 62

LISTA DE SIGLAS

AABB - Associação Atlética do Banco do Brasil

ALSECOSA - Algodoeira Seridó Comércio e Indústria S/A

CAERN - Companhia de Águas e Esgoto do Rio Grande do Norte

CAIC - Centro de Atenção Integral à Criança

CERES - Centro Regional do Seridó

CDS - Colégio Diocesano Seridoense

COPOM - Central de Operações da Polícia Militar

DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

GDS - Ginásio Diocesano Seridoense

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IFRN - Instituto Federal do Rio Grande do Norte

ONU - Organização das Nações Unidas

SESP - Serviço Cooperativo de Saúde Pública

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

RESUMO

Esta monografia traz um estudo sobre questões referentes ao urbano, mais

precisamente a respeito das contradições e das diferenças existentes na cidade.

Nesta perspectiva, buscamos compreender e mostrar como são formadas as áreas

periféricas e qual a sua verdadeira realidade social e de que maneira isso afeta a

vida dos seus moradores. Utilizamos como objeto deste estudo o bairro João XXIII,

da cidade de Caicó-RN, que se enquadra no fenômeno segregação, sendo este um

processo que impõe aos menos favorecidos uma má qualidade de vida, uma

exclusão dos direitos necessários a todos os cidadãos. Para tanto, realizamos

entrevistas com a população, assim como analisamos o espaço as informações

adquiridas. Dessa forma, constatamos que os excluídos da cidade passam a residir

na periferia da urbe caicoense, dando origem ao bairro com característica de favela

desde sua formação até os dias atuais. No ambiente em estudo, as pessoas foram

obrigadas a morar lá, por não terem condição de pagar pelo alto valor do imóvel e da

terra na área central ou e em outros compartimentos da cidade, já que a urbe se

desenvolveu a partir do centro, seguindo o padrão centro-periferia que é uma

característica da maioria das cidades brasileiras. A partir dessa conjuntura, foi

determinado que os melhores espaços, com infraestruturas de qualidade e todos os

direitos cabiam à classe de alto poder aquisitivo; enquanto os lugares ausentes de

equipamentos urbanos e infraestrutura adequada, seriam para a classe de menor

poder financeiro, ocasionando, dessa maneira, a segregação e a exclusão dos

menos favorecidos.

Palavras-Chave: Caicó, Segregação, Desigualdade social.

ABSTRACT

This monograph presents a study on issues relating to urban, more precisely about

the contradictions and differences in the city. In this perspective, we seek to

understand and what is their real social reality and how it affects the lives of its

residents. We use as object of this study João XXIII neighborhood in the city of

Caicó-RN, which falls within the segregation phenomenon. This is a process that

requires the disadvantaged poor quality of life, an exclusion the necessary rights to

all citizens. To this end, we conducted interviews with the population, as well as

analyze the space and information acquired. Thus, we find that excluded the city took

up residence on the outskirts of the metropolis caicoense, giving rise to the

neighborhood with slum feature from its formation to the present day. Environmental

study, people were forced to live there, not to pay the high value of the property and

land in the central area or elsewhere in town, as the metropolis grew from center,

following the center-periphery pattern that is characteristic of most Brazilian cities.

From that juncture, it was determined that the best spaces, with quality infrastructure

and all rights fit to the high-income class, while the missing places of urban facilities

and adequate infrastructure, while the poor would be places for the class of smaller

financial power, would be for the class of smaller financial power, causing, thus,

segregation and exclusion of the poor.

Keywords: Caicó, segregation, social inequality.

17

INTRODUÇÃO

O espaço urbano é produzido de forma contraditória. Encontramos, nas

cidades, lugares diferentes, distintos socialmente e espacialmente, e isso se torna

mais evidente quando paramos para observar os bairros, onde de um lado

enxergamos os que são destinados aos privilegiados, de forma que existe a

predominância de grandes mansões, com carros luxuosos nas garagens,

seguranças vistoriando as ruas, que, por sinal, são bem divididas e elaboradas;

enquanto do outro, as favelas, os bairros excluídos, onde vemos casas com

infraestruturas ruins, alta incidência de violência, falta de pavimentação e de

saneamento adequado.

Com isso, fica claro que existe uma grande diferença entre ambos, um possui

todas as regalias e o outro é relativamente esquecido e excluído, gerando, assim, o

processo que abordaremos nesta pesquisa, a segregação residencial e a

socioespacial. A segregação é a forma mais evidente das desigualdades sociais

existentes no espaço urbano, caracterizando conflitos. É um processo que impõe

aos menos favorecidos uma má qualidade de vida, uma exclusão aos direitos

necessários a todos os cidadãos. Assim sendo, os excluídos passam a residir nos

subúrbios das cidades, dando origem às favelas ou aos conjuntos habitacionais

populares.

Esse fenômeno é ocasionado devido ao elevado preço da terra e dos imóveis,

concentrados nas mãos daqueles que detêm o poder do capital e, a partir de então,

a classe baixa é expulsa da área central da cidade, impondo a estes a periferia; e,

como essas pessoas não têm condições de pagar por moradias de qualidade, veem-

se obrigados a morar nas áreas periféricas, já que compreendem ao que podem

pagar.

O bairro João XXIII, na cidade de Caicó-RN, foi escolhido como tema de

estudo desta monografia, pois se insere nesse quadro. O mesmo foi criado na

década de 1960, mais precisamente em 1962 através da doação de terras feita pela

diocese caicoense para a prefeitura, que já havia solicitado ao bispo D. Manoel

Tavares essa ajuda, pois não havia lugar para alocar a população pobre que se

encontrava concentrada na parte central da cidade, incomodando as pessoas de alto

18

poder aquisitivo. E a melhor maneira encontrada pelo poder público local foi afastar

essas pessoas, levando-as para longe, de forma a não causar mais incômodos.

Segundo Morais (1999), foi a partir do bairro em estudo que surgiu na cidade

de Caicó, bairros periféricos, pois o mesmo possuía uma população muito pobre e

era composto inicialmente por casebres. Seus moradores foram alguns dos

primeiros que migraram para a cidade devido à má qualidade de vida que os

espaços rurais estavam lhes proporcionando, e assim se viram obrigados a vir em

busca de melhorias, não alcançadas já que foram obrigados a morar em um espaço

onde a qualidade de vida continuaria inadequada.

Diante de tal situação, esta pesquisa se torna relevante, pois tem por objetivo

compreender e mostrar como são formadas as áreas periféricas e qual a sua

realidade social, além de evidenciar como isso afeta na vida dos seus moradores.

Ao revelar o contexto em que a população de baixa renda vive e os problemas que

enfrenta como falta de segurança, de saneamento e de pavimentação,

infraestruturas precárias e mobilidade reduzida, ressaltamos a importância deste

trabalho, pois poderá servir para uma possível atuação futura do estado no intuito de

trazer melhoria de vida para a população, ou seja, nossa intenção é de tentar induzir

transformações positivas para o espaço em estudo a partir desta análise.

Foi utilizado como procedimento de pesquisa um levantamento bibliográfico

sobre o tema proposto no intuito de entendermos melhor a problemática que iríamos

trabalhar. Nesse aspecto, destacamos os autores Ana Fani Alessandri Carlos que

debate sobre temas relacionados à cidade e suas contradições; Roberto Lobato

Corrêa, que, ao discutir sobre espaço e segregação, traz-nos considerações

significativas sobre tais temas; Milton Santos, com suas teorias sobre o urbano e a

pobreza, de essencial importância para entendermos as contradições urbanas; João

Manoel de Vasconcelos Filho, com seus debates sobre a segregação residencial na

cidade de João Pessoa, que nos traz um conhecimento de grande relevância sobre

este tema que também é nosso foco neste estudo; entre outros autores que

contribuíram de maneira considerável para a realização desta pesquisa.

Em um segundo momento, colhemos informações junto à associação dos

moradores do bairro, assim como com o Agente de Endemias, o senhor Geraldo,

que percorre o espaço diariamente e o conhece muito bem; ele nos deu os limites do

bairro e nos ajudou a percorrê-lo e a realizar nosso estudo. Também fomos até à

Central de Operações da Polícia Militar – COPOM, onde tivemos acesso aos dados

19

relacionados à violência da cidade e do bairro de maneira geral, o que nos ajudou

bastante, principalmente porque comprovou aquilo que já suspeitávamos: que o

João XXIII é um dos bairros mais perigosos de Caicó e possui a maior incidência de

mortes e tentativas de homicídios.

E, para entendermos melhor a realidade do ambiente de pesquisa, realizamos

visitas constantes no intuito de observarmos a paisagem e a maneira como a

mesma se configura. Aproveitamos para fotografar a área de estudo com o objetivo

de ilustrar o trabalho e comprovar o que vimos e descrevemos. E realizamos

também entrevistas estruturadas que foram de fundamental importância para

enxergarmos e comprovarmos a realidade do espaço. As mesmas foram destinadas

aos moradores do bairro. Como nosso intuito era a parte residencial, procuramos

saber o total de residências e, usando regra de “3”, obtivemos a quantidade de

imóveis que precisaríamos entrevistar.

O total de domicílios presentes no bairro é de 1.406 moradias, isso calcularia

140 formulários, no entanto, como o bairro é comprovadamente um lugar perigoso,

não poderíamos andar sós. Diante disso, o agente de endemias citado acima nos

ajudou a percorrer o lugar; entretanto, o tempo do mesmo era curto, pois ele

trabalhava e ainda fazia trabalhos extras. Com isso, vimo-nos obrigados a reduzir o

número de entrevistas para 5% do total, o certo seria os 10% de acordo com o

IBGE, porém, não houve como realizar essa quantidade. Por fim, realizamos 70

entrevistas com os moradores. Evidenciamos, portanto, uma amostragem qualitativa

e não quantitativa.

E assim, os dados coletados foram tabulados e interpretados, buscando

sempre relacioná-los com as bibliografias consultadas. Com isso, obtivemos os

problemas que o bairro possui e discutimos sobre os mesmos, de forma a enfatizar

que naquele ambiente existe o fenômeno da segregação.

Esta monografia está dividida em três capítulos, além de introdução e

considerações finais. O primeiro capítulo aborda a formação socioespacial da cidade

de Caicó-RN, de forma a mostrar como se deu seu desenvolvimento e como surgiu a

problemática deste estudo.

No segundo capítulo, apresentamos a história do bairro João XXIII e como se

deu o processo de desigualdade e de exclusão daquele espaço. Para isso,

contamos com uma ajuda de grande relevância, que foi o professor Adauto Guerra

Filho, o qual nos relatou com precisão como ocorreram tais problemas.

20

No terceiro e último capítulo, discutimos o processo de segregação

residencial e a maneira como se apresenta no espaço estudado. Além disso,

realizamos a tabulação das entrevistas e discutimos os resultados e as observações

feitas em campo, bem como evidenciamos os problemas que aquelas pessoas

enfrentam diariamente. E assim, finalizamos nosso trabalho na perspectiva de

termos contribuído para trazer um conhecimento acerca da segregação e do que ela

causa às pessoas menos favorecidos socialmente.

Por fim, realizamos nossas considerações finais de maneira a tentar enfatizar

os principais pontos desta pesquisa e problematizar questões referentes ao termo

segregação, assim como, sugerimos soluções plausíveis que podem ser realizadas

pelo poder público no intuito de melhorar a qualidade de vida daquele ambiente.

21

1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DA CIDADE DE CAICÓ

As cidades surgiram a partir do desenvolvimento da agricultura, quando as

civilizações começaram a se fixar e a ampliar essa técnica. Com o passar dos anos,

o processo de formação e o crescimento urbano foram se aperfeiçoando, devido às

tecnologias, as quais trouxeram benefícios e malefícios; a globalização e suas

multinacionais transformaram o cenário urbano ao longo do tempo, fazendo com que

o espaço se tornasse algo desconhecido, devido às mudanças que ocorreram.

Essa globalização produz um desenvolvimento urbano desigual. De forma

que há um alto nível de vulnerabilidade, graças aos efeitos em grande parte

negativos, tanto para as pessoas, quanto para os lugares. Por isso, as mesmas

começaram a enxergar a cidade como algo externo, passando a observar apenas as

ruas, os prédios, os carros e as avenidas, deixando de lado o convívio com o

próximo. Carlos (2009) utiliza o semáforo para mostrar que o tempo das pessoas é

medido pela pressa, e é adequado entre o verde-amarelo-vermelho. Com isso, os

relacionamentos, sejam de amizade, amor ou até mesmo familiar ficam em segundo

plano.

Ainda de acordo com Carlos (2009), a sociedade urbana impõe uma pressa

de se chegar a algum lugar, também atribui os valores urbanos, pelos quais as

pessoas serão avaliadas pelas roupas que vestem, pelos carros que possuem, os

lugares que frequentam ou os cartões de crédito que usam; enfim, as pessoas são

tratadas de forma diferente de acordo com a aparência que apresentam. Quando

olhamos e analisamos a cidade, enxergamos uma variedade de uso do solo urbano,

de tal maneira, existem diferentes modos de vida.

E, assim, vemos de um lado a favela, a classe pobre, humilde; e do outro os

grandes condomínios e luxuosos apartamentos, onde reside a população de alto

poder aquisitivo. Uma das diferenças entre ambos os espaços é que, em um bairro

nobre, existe a predominância de silêncio e rua vazia. Já onde residem as pessoas

de baixo poder aquisitivo, há muita movimentação e barulho: “O uso diferenciado da

cidade demonstra que esse espaço se constrói e se reproduz de forma desigual e

contraditória. A desigualdade espacial é produto da desigualdade social” (CARLOS,

2009, p. 22-23).

22

A cidade acaba se apresentando como um modo de ocupação do espaço,

que se dá na forma de necessidade de realizar atos, como viver, habitar, consumir e

produzir. O espaço não pode existir sem a sociedade e vice-versa. Se um se

desenvolver, o outro também deve seguir o mesmo ritmo. As autoridades privadas

tomam as decisões por conta própria e excluem os membros da sociedade de forma

a determinar qual classe social terá direito à determinada coisa. A partir daí a classe

alta passa a residir nos melhores espaços enquanto a população de classe baixa

continua a viver em piores condições.

Isso ocorre devido à cidade surgir como algo material e seguir a doutrina do

capital que, por sua vez, não consegue suprir as necessidades de toda a sociedade

urbana, principalmente quando se refere aos mais humildes. Ao olharmos e

analisarmos a cidade, enxergarmos as desigualdades impostas pela forma que foi

produzido o espaço urbano: “[...] a cidade apresenta-se como um fenômeno

concentrado e contraditório, fundamentado numa complexa divisão espacial do

trabalho;” (CARLOS, 2009, p. 42).

Por meio das diferentes formas de apropriação desse espaço, que ocorre a

disputa do uso dos solos urbanos. E a partir da paisagem urbana diferenciada, surge

uma das contradições urbanas, que é a segregação socioespacial, causada pela

renda estabelecida no método de produção e divisão do trabalho, bem como na má

distribuição da terra. E esse fenômeno fica evidente na utilização de serviços como

infraestrutura, saúde, educação, segurança, enfim, nos meios necessários à vida

humana.

Corrêa (1989) considera o espaço urbano como sendo a cidade em si, ou

seja, algo produzido pela sociedade de forma que se divide em diferentes usos da

terra, gerando locais como: o centro, áreas industriais, entre outros. É a partir

desses vários usos que ocorre a divisão do solo urbano em diferentes setores,

constituindo, a organização do espaço urbano.

Sobre esse contexto, Corrêa (1989) ainda ressalta que é a partir dessa

divisão que surgem os bairros e, junto com eles, a parte segregada, pois o espaço

urbano é fragmentado. Então há uma contribuição significativa para essa

fragmentação, por parte dos agentes sociais, que são aqueles que consomem,

produzem, contribuem e compõem o espaço urbano. São eles: os proprietários dos

meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado

e os grupos sociais excluídos.

23

Já Santos (2006) considera o espaço como um sistema de objetos e de

ações. Onde os fluxos são uma consequência direta das ações e, ao juntar-se aos

fixos, acabam por se modificar. Porém, o que mais modifica o espaço é a presença

de objetos tecnológicos, pois eles substituem os objetos naturais de forma a

transformar o lugar de tal maneira que se torna algo estranho e artificial para seus

habitantes.

É justamente devido a esses sistemas de objetos e de ações que são ligados

e acabam por interagir, que o espaço se modifica, evolui e se transforma. Santos

(2006) ainda coloca que, no mundo atual, não existem coisas1, mas objetos2 que são

utilizados pelo homem de forma a se tornar apenas uma ferramenta. Porém, esses

objetos têm uma vida útil, pequena e podem ser substituídos a qualquer momento e,

assim, são descartados. Através dos sistemas de objetos, o espaço forma suas

configurações territoriais, fazendo com que a ação dos sujeitos permita a criação de

um espaço e, nesse espaço, configura a presença de materialidade.

Apenas, o espaço é um misto, um híbrido, formado como já o dissemos, da união indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. Os sistemas de objetos, o espaço-materialidade, formam as configurações territoriais, onde a ação dos sujeitos, ação racional ou não, vem instalar-se para criar um espaço. Este espaço – o espaço geográfico – é mais que o espaço social dos sociólogos porque também inclui a materialidade. (SANTOS, 2006, p.294).

Quando os objetos materiais tomam conta do espaço, trazem consigo as

formas artificiais, de maneira que as pessoas mantêm relações voltadas para o

capital, esquecendo até mesmo os valores familiares, e assim acabam por competir

umas com as outras. Tudo isso ocorre com a chegada da globalização, que contribui

para gerar essa competitividade a ponto de provocar também a irracionalidade na

sociedade urbana, o que acarreta no fato de cada um viver por si, sem

preocupações com o próximo.

Com a modernização, surgem novos objetos a que a cidade e a população

precisam se adaptar, porém esses objetos custam caro. O poder público deve

implementá-los em nome das necessidades da globalização e da economia. As

1 SANTOS, (2006, p. 64) descreve: “As coisas seriam um dom da natureza [...]”.

2 SANTOS, (2006, p. 64) descreve: ”[...] os objetos um resultado do trabalho".

24

autoridades privilegiam uma minoria, esquecendo todo o resto que seria a maioria

(SANTOS, 2006, p.308).

Sendo assim, a minoria obtém as condições necessárias para se adaptar; já a

maioria não consegue atingir suas necessidades fundamentais. É justamente essa

globalização e tudo que ela traz como, por exemplo, o aumento das desigualdades

na sociedade urbana que contribui para criar os excluídos, pois aquele que não tem

condições financeiras adequadas para acompanhar a modernização se torna um

excluído.

De acordo com Faria (2011), a cidade de Caicó-RN surge a partir do primeiro

sistema técnico de subsistência da época, que era a pecuária, em meados do século

XVIII. Essa técnica contribuiu para a criação de vilas que serviam como repouso

para os animais, assim como uma forma de manter o território organizado para as

lutas entre os colonizadores e os nativos.

Segundo Morais (1999), a região do Seridó só foi povoada de fato após uma

guerra entre colonizadores e indígenas, mais conhecida como Guerra dos Bárbaros,

na qual os conquistadores conseguiram vencer e, assim, passaram a ocupar o

território. Como a própria autora fala, a história de povoamento do Seridó se

confunde com a de Caicó. Ambas foram ocupadas através da criação de gado.

Ainda de acordo com a autora, a cidade surge em meados de 1748 com a

construção da capela de Nossa Senhora Sant’Ana, nas proximidades do chamado

poço de Sant’ Ana. Morais (1999) mostra, em seu livro, dois possíveis fundadores da

cidade de Caicó, um seria o Manoel Fernandes Jorge, por ter construído a capela de

Sant’Ana, e o outro, o Senhor Coronel da Cavalaria Manoel de Souza Forte, pois foi

em suas terras, na fazenda Penedo, que começou o povoado, que mais tarde se

tornaria uma vila.

Diante de tudo que já foi exposto, a cidade de Caicó apresenta as

características necessárias para ser o objeto de estudo desta pesquisa. A mesma

está localizada no semiárido potiguar, na Microrregião do Seridó Ocidental, situado a

aproximadamente 280 km de distância da capital do Rio Grande do Norte, Natal.

Possui uma área de unidade territorial de 1.228,583 km² e população senso 2010 de

62.709 habitantes, de acordo com (IBGE, 2010) a estimativa para 2015 é de 67.259

habitantes. Limita-se com os municípios de Jucurutu (norte); Florânia, Cruzeta, São

José do Seridó, Jardim do Seridó e Ouro Branco (leste); São João do Sabugi (sul); e

Serra Negra do Norte, Timbaúba dos Batistas e São Fernando (oeste).

25

Mapa 1 – Caicó. Mapa de localização da cidade. 2015

Fonte: IBGE. Elaborado pela autora.

26

E assim, é a partir da época da construção da capela em que se deu início ao

povoamento da urbe que a mesma vem alimentando o espírito de fé e devoção que

é mantido até a atualidade pela sua população, e é um fato que parte de geração

para geração. A igreja assumiu um papel de grande importância na aglomeração de

pessoas naquele espaço em que hoje é a cidade de Caicó. A autora ainda enfatiza

isso quando afirma que as construções de casas e pequenas ruas surgem no

entorno da igreja, bem como nas proximidades da margem esquerda do Rio Seridó:

Nas proximidades da Matriz, ou seja, no centro, situavam-se as casas de famílias mais aquinhoadas, geralmente, grandes fazendeiros. Essas famílias mantinham as residências quase sempre fechadas, pois só vinham à sede do município em momentos específicos, ou seja, por ocasião de festas, atos religiosos, eleições e feiras (MORAIS, 1999, p. 45).

No ano de 1788, inicia de fato a Vila Nova do Príncipe, porém a mesma só foi

oficializada no ano de 1868 quando o governador da província, o senhor Manuel

José Marinho, assinou a lei que elevou a vila à categoria de cidade, com o nome de

“Cidade do Príncipe”. De início, a cidade era bem simples e crescia em um ritmo

bem lento (FARIA, 2011, p. 86).

A cidade começou a se expandir para além da igreja e tomou novos rumos

em sua ocupação territorial. De acordo com Morais (1999), isso ocorreu devido a

uma grande cheia no Rio Seridó, que incidiu no ano de 1875, deixando parte da vila

alagada. Foi a partir daí que houve a necessidade de procurar construir longe das

proximidades do rio. Assim, a população começa a ir em direção aos lugares mais

altos da cidade.

Segundo Faria (2011), é a partir desse momento que começa a se

desenvolver a pequena cidade de Caicó. Nesse mesmo período, as técnicas haviam

se tornado mundiais, surgiam as primeiras experiências industriais, e então

aparecem os primeiros objetos que, de acordo com Santos (2006), são os fixos. Na

vila/cidade, também nascem os fixos, como mencionado anteriormente, a partir da

criação da igreja de Sant´Ana, por ter sido em seus arredores a construção de

algumas casas. Sendo assim, passam a existir também os fluxos que abarcavam a

cidade e seus entornos rurais.

Na Figura 2, podemos observar o início da Vila Nova do Príncipe, na época

da pecuária. É nítido que era um espaço bem pequeno, porém, com possibilidade de

27

expansão devido ao vasto território em seu entorno. Na época, já existiam a matriz

de Sant´Ana, a Casa Forte do Cuó e a Casa de Pedra.

Figura 1: Caicó no Período da Pecuária.

Elaboração: FARIA, Carlos Eugênio De. 2011. Fonte: Com base em mapa da Prefeitura Municipal de Caicó-RN, 2009.

Em seguida, o meio de subsistência a ser desenvolvido em Caicó é a

cotonicultura, pois a pecuária já não correspondia às ambições capitalistas. A

produção algodoeira começou de forma simples, apenas com plantio, colheita e

retirada do caroço, ocorrendo na área rural. Só um pouco mais tarde é que o

algodão começou a se mecanizar de forma a se espacializar pela cidade, e isso irá

acontecer devido às usinas de beneficiamento que surgem a partir dos anos de

1930, as mesmas trarão uma grande contribuição para a expansão urbana de Caicó

(FARIA, 2011, p. 90-91).

Esse algodão produzido na região do Seridó, mais especificamente na cidade

de Caicó, possuía um diferencial e era de excelente qualidade, apresentava uma

fibra longa que servia de forma bastante ativa no cenário nacional e até mesmo

internacional. O produto era conhecido como “Algodão Mocó”. Foi devido ao algodão

que Caicó se expandiu significativamente de forma a se tornar uma cidade polo na

região do Seridó. Entre a década de 1930 até meados de 1970, a expansão urbana

28

aumentou consideravelmente devido ao beneficiamento do produto (FARIA, 2011, p.

92).

Porém, na década de 1980, a economia algodoeira do Rio Grande do Norte

começa a sofrer uma crise; a região do Seridó passou por uma seca que, junto com

o conflito, gerou um quadro de decadência na região. Diante da situação, as demais

cidades do Seridó redirecionaram sua economia para agricultura, porém, Caicó

demonstrou certa resistência por estar estagnada no setor algodoeiro (MORAIS,

1999, p. 139-142).

E mesmo parecendo que a cidade estava sem um norte, é a partir daí que a

mesma começa a tomar novos rumos em sua economia, assim como a aumentar

significativamente sua estrutura física. A urbe passa a investir no comércio e nas

pequenas indústrias, bem como na prestação de serviços, que resinificam a

importância da mesma, a ponto de colocá-la acima das demais em seu entorno:

Desde os anos de 1960, que algumas empresas do capital internacional, como Mercedes-Benz, Wolkswagen e Chevrolet têm representações na urbe caicoense; Estavam representadas, também, lojas, como as Casas Pernambucanas e Socic69, disponibilizavam produtos elétrico-eletrônicos de grandes e importantes marcas nacionais e internacionais. Assim sendo, o acesso à técnica e à tecnologia já era possível na cidade de Caicó, mesmo que esse acesso fosse restrito a uma classe de caicoenses mais ilustres, pois ali, naquela época, 1960-1980 [...] (FARIA, 2011, p. 98-99).

Desse modo, a cidade deu início ao seu processo de expansão por meio de

eventos que irão colocá-la, cada vez mais, como centro regional do Seridó Potiguar.

Morais (1999) destaca alguns fatos que contribuem para o crescimento da urbe, são

eles: Mesa de Rendas Estaduais, Telégrafo, 29 Batalhão de Caçadores, Banco

Rural de Caicó, Agência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Cada evento desses trouxe uma contribuição para o desenvolvimento da cidade.

Todavia, como enfatiza Morais (1999), não foram apenas esses eventos,

como também não foi só o algodão que deu início à expansão da cidade, houve

outro fator contribuinte, a educação. Com a criação da diocese, a religião e o ensino

ganharam destaque na urbe, e quem contribuiu de forma direta para isso foi o

primeiro bispo da cidade, D. José de Medeiros Delgado, que construiu o Ginásio

Diocesano Seridoense - GDS, o qual mais tarde passou a ser chamado de Colégio

Diocesano Seridoense, popularmente conhecido como CDS.

29

Foi a partir de então que a cidade começou a receber um aumento

considerável de pessoas em seu território, pois as mesmas se sentiram atraídas pela

esperança de melhorar socialmente, e a educação lhes proporcionava essa

possibilidade. O ginásio ganhou fama na região e assim vinham pessoas não só do

entorno da cidade como também das cidades vizinhas e até mesmo dos estados

mais próximos como, por exemplo, o estado da Paraíba. (MORAIS, 1999, p. 88-89)

A autora também destaca as usinas de beneficiamento do algodão como mais

um fator contribuinte na expansão da cidade de Caicó. Além de aumentar a

demanda de empregados em seus arredores, eram construídas várias casas que

impulsionam o surgimento de nossas ruas. Porém, a usina que mais contribui para

esse processo foi a ALSECOSA. “Ela foi o exemplo mais concreto de uma usina,

enquanto pólo dinamizador da ocupação de uma área, responsável direta pelo

surgimento de novos bairros” (MORAIS, 1999, p. 97).

Percebe-se que a autora ainda dá ênfase a um acontecimento específico da

década de 1930, que foi a construção do açude Itans, pois essa obra trouxe

benefícios não só para a cidade, mas também para as áreas rurais em seu entorno,

sem falar que trouxe um conforto nos períodos de estiagem, até mesmo aos

municípios vizinhos. Essa obra foi executada pelo Departamento Nacional de Obras

Contra as Secas (DNOCS): “O açude Itans, cuja sua capacidade, de acordo com o

seu projeto, é de 81.750 milhões de m³, foi inaugurado em 2 de fevereiro de 1936”

(MORAIS, 1999, p.67).

Com a construção desse reservatório, houve um aumento na população da

cidade, pois chegavam de vários lugares pessoas para trabalhar na obra; além dos

operários, também vinham comerciantes de outros municípios para oferecer seus

produtos. Os negociantes locais não tiveram condições de suprir o aumento

populacional, pois não estavam preparados para tal situação. Algumas das pessoas

que chegavam devido às obras permaneciam e se estabeleciam por ali mesmo.

Outro fato importante que contribuiu para transformar Caicó na cidade centro

regional do Seridó foi à chegada do batalhão, que foi instalado, de acordo com

Morais (1999), em 1955 com o objetivo de amenizar os efeitos da seca que afligia a

população do Seridó potiguar. Esse fato foi um grande marco para a cidade de

Caicó e para as demais em seu entorno. Porém, somente em 1957 é que o mesmo

recebeu o nome que possui hoje: 1º Batalhão de Engenharia de Construção.

30

Faria (2011) também cita alguns eventos que serviram como meio para

expandir a urbe, são eles: a construção do conjunto habitacional Castelo Branco e,

em seguida, com a política de interiorização da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, a construção do Centro Regional do Seridó, mais conhecido como

CERES, atualmente Centro de Ensino Superior do Seridó.

Outro evento de fundamental importância para a cidade é a criação da AABB,

Associação Atlética do Banco do Brasil – (AABB). Em seguida, foi realizada a

construção do Estádio Marizão e, junto com ele, surgiu o bairro Samanaú. Nas

proximidades deste, surgiu o Presídio Desembargador Francisco Pereira da

Nóbrega, chamado popularmente de “Pereirão”. “Mas o Marizão será ainda mais

importante para o uso de um território que, na verdade, incrementa um outro

adensamento já existente – o Bairro Boa Vista”(FARIA, 2011, p. 105-106).

Devido a esses eventos, a cidade de Caicó e seu tecido urbano ultrapassam

sua delimitação territorial original de maneira que começou a se inserir no rural;

diante disso, o poder público se vê obrigado a aumentar as delimitações da cidade:

“A urbe caicoense avança pelas margens da RN-288 em busca das montanhas (sic)

que a cercam, provocando novos usos territoriais” (FARIA, 2011, p.106).

Em 1983 e 1989, foram criados alguns conjuntos habitacionais, localizados na

zona norte, são eles: o Vila do Príncipe e o Recreio. A cidade, que antes era

povoada só até o açude recreio, passou agora para além dele. Esses novos bairros,

ou melhor, esses fixos foram criados para comportar a população de classe média

de Caicó, no intuito de lhes dar mais conforto, já que esses espaços eram bem mais

planejados que os locais mais antigos da cidade (FARIA, 2011, p.107).

Outros importantes acontecimentos ocorreram entre 1990 e 1994, foram algo

de grande valor para a ampliação urbana de Caicó, a construção do Serviço

Cooperativo de Saúde Pública, mais conhecido como SESP, que atualmente é o

Hospital de emergência da cidade e dá assistência mínima em saúde, necessária à

população local. Na mesma época também, foi construído o Centro de Atenção

Integral à Criança – CAIC, que foi também de grande importância tanto para Caicó

como para as cidades vizinhas, pois sua finalidade era abrigar os menores infratores

e, antes de sua construção, não havia um local certo para colocá-los: “Esses

eventos contribuíram para expandir a zona sul e sudoeste” (FARIA, 2011, p.108).

Na Figura 2, podemos observar que, a partir da década de 1970, a cidade

começa a se desenvolver de fato. Com isso, seu território urbano ganhou mais

31

espaço. É nesse período que a urbe ganha eventos como, por exemplo, a

implantação do campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,

além do Serviço Cooperativo de Saúde Pública - SESP, que trouxe benefícios no

quesito saúde para a população. Esses acontecimentos a colocam ainda mais em

destaque em relação às demais cidades da região do Seridó potiguar.

Figura 2: Eventos implantados a partir da década de 1970.

Elaboração. FARIA, Carlos Eugênio De. 2011.

Fonte: com base no mapa da Prefeitura Municipal, 2009.

O último evento nas considerações de Faria (2011) seria a construção de uma

ponte chamada de Ponte José Josias Fernandes, popularmente conhecida como

“ponte nova”, a mesma traz a possibilidade de diminuir o tráfego na área central da

cidade, assim como reduzir os engarrafamentos. Com a construção da ponte, os

carros pesados criam uma espécie de estrada alternativa e param de transitar na

área principal da urbe:

A Caicó, expandida dos últimos anos, é assim. Esse misto de arranjos e desarranjos. Desde o centro até os bairros mais distintos, a cidade exibe a cada dia uma nova, alargada e complexa mancha urbana que expõe lado a lado a organização e a desorganização espacial em uma mesma urbe. Estamos nos referindo aos processos de expansão e ordenamento territorial, pelos quais a cidade passa em seu processo expansão. (FARIA, 2011, p.130).

32

O autor ainda destaca outro evento que contribuiu de forma direta para a

expansão da cidade em estudo, o êxodo rural. Em busca de uma melhoria de vida, a

população da zona rural migra para a zona urbana. Esses migrantes passam a

compor as áreas mais humildes, os bairro periféricos, aqueles mais afastados. Um

dos impulsos para esse processo de transição do rural para o urbano foram as

políticas públicas.

Devido à influência das políticas sociais ao trabalhador do campo que, de

certa forma, trazia um seguro nas conquistas trabalhistas, gerou um estímulo aos

proprietários de terras quanto a despedir os trabalhadores. Dessa forma, os

agricultores ficaram sem terra e sem água, sendo mais expostos às adversidades da

crise e, a partir de então, como uma consequência a essa situação, acabaram

migrando para os núcleos urbanos (MORAIS, 1999, p. 142-146).

Contudo, Caicó não ganhou destaque na região do Seridó potiguar apenas

por esses meios que já foram citados. A cidade também se destacou na parte

religiosa com a festa da padroeira Sant’Ana, que atrai uma quantidade considerável

de turistas todos os anos, contribuindo para o aumento da economia da cidade.

Ademais, merece destaque sua culinária, pois, de acordo com a população, eles

possuem a melhor carne de sol e o melhor queijo da região. O que, de fato, não

deixa de ser verdade, pois realmente a cidade é famosa por esses produtos

existentes desde seu surgimento.

O que podemos observar é que os fenômenos já citados contribuíram de

forma considerável para o crescimento da cidade, assim como para seu

desenvolvimento. Porém, os bairros periféricos, os mais afastados, surgiram como

uma forma de a população rural buscar uma melhoria de vida e, assim, começarem

a se fixar, e é a partir de então que se originam os bairros como: Walfredo Gurgel,

Paulo VI e o objeto desta pesquisa, João XXIII.

Na Figura 3, observa-se com mais precisão o quanto os eventos geográficos

proporcionaram desenvolvimento e expansão à urbe caicoense. Foram 7 fatos de

suma importância para a cidade e foi a partir deles que a mesma ganhou a

configuração e o destaque que possui hoje, como centro regional do Seridó

Potiguar. É nítido como a cidade cresceu e, ao observamos a figura, vemos o quanto

esse território ainda pode ser expandir.

33

Figura 3: Os eventos como extensores urbanos.

Elaboração. FARIA, Carlos Eugênio De. 2011. Fonte: baseado em Mapa da Prefeitura Municipal, 2010.

O que podemos observar é que os fenômenos já citados contribuíram de

forma considerável para o crescimento da cidade, assim como para seu

desenvolvimento. Porém, os bairros periféricos, os mais afastados, surgiram como

uma forma de a população rural buscar uma melhoria de vida e, assim, começarem

a se fixar, e é a partir de então que se originam os bairros como: Walfredo Gurgel,

Paulo VI e o objeto desta pesquisa, João XXIII.

O bairro em estudo tem uma origem bem humilde, é composto por lavadeiras

de roupas e agricultores. De acordo com Morais (1999), esse espaço começa a ser

povoado a partir da doação da diocese para a prefeitura. O prefeito da época, o

Senhor José Josias Fernandes, procurou o bispo e solicitou parte do terreno da

igreja para construir casas populares, para pessoas pobres. O prefeito teve êxito na

sua solicitação e, então, dá-se início ao povoamento do bairro em meados da

década de 1960.

Segundo Faria (2011), Caicó continua a crescer e a se desenvolver, surgem

novos eventos que dão ainda mais vigor à expansão urbana. Novos objetos como a

cidade judiciária e o campus do Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN.

Com a chegada desses novos empreendimentos ao longo dos anos, outros menores

irão acontecer de forma a completar ainda mais as áreas urbanas da cidade. Ocorre,

34

assim, um aumento considerável na economia e a urbe se desenvolve, porém, a

mesma está inserida no processo de divisão de classes e em tudo que ele traz,

inclusive o aumento das desigualdades sociais e de níveis de pobreza.

Contudo, apesar de ter aumentado seu desenvolvimento nos últimos tempos,

a urbe, ainda não consegue suprir as necessidades da sua população, pois não

proporciona uma infraestrutura de qualidade. Nas ruas centrais, observamos que a

pavimentação está sendo, como nos falam os populares, “remendada” de forma que

os paralepípedos ficam meio soltos e acabam prejudicando um tráfego tranquilo,

seja de carros, motos e até mesmo de pessoas a pé. E se a área central da cidade

está nessa situação, em pior situação estão os outros bairros, principalmente sendo

eles periféricos, a situação é lastimável tanto no quesito pavimentação, como

saneamento e isso é visível a qualquer um que queira observar.

A cidade não possui espaços destinados ao lazer que satisfaçam a

população. Os únicos que são coletivos é a Ilha de Sant’Ana e a Praça de

Alimentação, que se enquadram como os equipamentos urbanos maiores e os

menores são os restaurantes e bares, que não são muitos. Com isso, a população

não tem muitas opções para um sábado à noite, por exemplo. Os locais citados já se

tornaram repetitivos aos olhos da população, devido aos mesmos já terem usufruído

muitas vezes deles. As pessoas querem novidades e isso está em falta na cidade.

Esta, por ser considerada o centro regional do Seridó, deveria ao menos ter um

Shopping Center, que atualmente é um local de lazer e compras bastante usado em

todo o mundo.

Outro fator que podemos observar na urbe é o fato de a área central estar

estagnada no comércio e serviços e não apresentar possibilidade de se expandir.

Isso gera um problema, não existe emprego para toda a população, os serviços são

os mesmos de sempre, vez ou outra é que aparece uma empresa nova requisitando

pessoal; mesmo assim não comporta nem a maioria dos desempregados da cidade.

Isso irá ocasionar outro problema, que é a violência. Andar em Caicó à noite

se tornou uma aventura de risco, pois se pode ser assaltado a qualquer momento. O

medo toma conta da população seja na área central, seja na zona oeste, leste,

norte, independente da área em que se encontre na cidade, existe um temor por

parte das pessoas. De acordo com a Central de Polícia Militar – COPOM, no ano de

2014, foram atendidas 6.128 ocorrências na cidade. O maior número dos últimos

35

anos, com isso, observa-se que a cidade se tornou muito violenta ao longo do

tempo.

O que acarretou toda essa violência foi justamente, a falta de emprego, de

renda para a população humilde da cidade. As crianças já crescem revoltadas por

mal terem o que comer, por viverem em situação de miséria e acabam entrando no

mundo das drogas e do crime. O medo que toma conta da população caicoense é o

mesmo que aflige várias cidades do Brasil. Essa problemática afeta diretamente a

vida das pessoas, e essa situação é uma das muitas trazidas pelas diferenças

existentes na sociedade, assim como pela divisão das camadas sociais.

Entretanto, o temor que a sociedade enfrenta na atualidade, ao sair na rua, é

uma situação que eles próprios causaram em conjunto com o Estado, com o setor

imobiliário, quando supervalorizaram o mercado de imóveis tornando o acesso à

terra e à moradia mais difícil para os pobres. Com a industrialização, a situação só

se agravou, pois não havia emprego suficiente para a população que migrava da

zona rural para a urbana em busca de melhorias de vida. Dessa forma, essas

pessoas foram obrigadas a morar nos subúrbios das cidades e isso acarretou a

segregação socioespacial, privando as pessoas de solos e imóveis de qualidade por

seu elevado preço, essa situação ocasionou um aumento das desigualdades.

O que podemos observar, com isso, é que a cidade ainda possui muitas

carências que necessitam ser superadas, assim como existe a necessidade de mais

investimentos na qualidade de vida de sua população. É preciso que o poder público

local instale mais políticas públicas, para dar à população de Caicó, de uma maneira

geral, o direito à cidadania, expresso na Constituição Federal, na qual está claro que

toda pessoa tem direito de exercer seus direitos políticos e civis.

Com isso, é necessário haver mais investimentos na saúde, na educação,

em água tratada, em moradias com infraestruturas de qualidade, em segurança.

Como está expresso na Constituição Federal, Art. 6º: “São direitos sociais a

educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a

previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos

desamparados, na forma desta Constituição”.

É preciso haver também mais investimentos na geração de emprego, na

prática de esportes e cursos educativos e profissionalizantes para proporcionar às

crianças e aos adolescentes uma ocupação, um estímulo para crescerem em um

ambiente que lhes tragam mais oportunidades. Os direitos que essas pessoas

36

possuem estão sendo negados, principalmente no que concerne à população de

baixa renda de Caicó, por isso a prefeitura precisa rever seus investimentos e dar

prioridades àqueles que se encontram em condições de vulnerabilidade social.

37

2 HISTÓRIA DA DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL NO BAIRRO JOÃO XXIII

No século XVIII, o capitalismo teve um crescimento considerável devido à

industrialização, a qual possibilitou a relação do capital com o trabalho, de forma que

incentivou o surgimento de uma espécie de organização que foi composta pelo

patrão que dava ordens e pelo trabalhador assalariado. Já naquela época, as

pessoas que possuíam mais dinheiro e posses eram consideradas superiores, eram

exemplos a serem seguidos; e aqueles que se dedicavam ao trabalho eram

considerados pessoas inferiores, fracassadas (SILVA; SOUSA JUNIOR, 2012, p.6).

Essas pessoas, pobres e humildes, serviam apenas para trabalhar e tinham o

direito de ganhar apenas o necessário para sobreviver, e de forma precária. Os

mesmos não podiam obter uma melhoria de vida, pois os ricos subordinavam e

interferiam nos pagamentos, poucos, mas que eram necessários. Tudo isso

aconteceu porque a classe superior (rica) precisava da classe inferior (pobre).

Percebe-se, com isso, que a desigualdade é um problema que vem sendo

alimentado pela burguesia há bastante tempo e está ligada ao fato da má

distribuição de terra, além da concentração de capital nas mãos de poucos.

De fato, o que caracteriza a desigualdade social é o ser que apresenta o

poder de dominar e de controlar em mãos. As classes sociais mostram claramente

as diferenças alimentadas pelo capital e por quem detém o poder econômico. Pois

aqueles que controlam o capital buscam o melhor para si, sem se importar com os

mais necessitados. Dessa maneira, existirá uma grande diferença, uma divisão entre

ricos e pobres, de tal modo que, enquanto uns têm mais, outros têm menos e ainda

há aqueles que têm pouco e chegam a passar fome.

No caso do Brasil, podemos observar um alto índice de pobreza e

desigualdade social. De acordo com os autores Silva; Sousa Junior (2012), a

Organização das Nações Unidas (ONU) classifica o Brasil como um dos países mais

desiguais do mundo, inclusive o coloca entre os 10 primeiros:

Todavia, a desigualdade social no Brasil tem sido percebida nas últimas décadas, não como herança pré-moderna, mas sim como decorrência do efetivo processo de modernização que tomou o país a partir do início do século XIX (SILVA; SOUSA JUNIOR, 2012, p.5).

38

Somente no século XX, a pobreza e essas questões sociais são abordadas

como algo científico, que merecia destaque. A partir disso, houve uma diminuição

dos níveis de heterogeneidade no Brasil, acontecendo também o declínio das

desigualdades. Ocorre, assim, uma considerável diminuição na pobreza existente no

país, isso mais especificamente no século XXI, no ano de 2003 através dos projetos

sociais que possibilitam a população humilde sair da miséria e possuir uma renda

mesmo sendo esta baixa. (SILVA, SOUSA JUNIOR, 2012, p.8).

Com esses dados, a parcela mais humilde do país ganha uma esperança de

melhorar de vida. Segundo Silva; Souza Junior (2012), no ano de 2008 ocorreu uma

queda ainda mais acentuada de desigualdade e pobreza no país, o que faz com que

os níveis de miséria diminuíssem de forma considerável. Observa-se, diante desses

fatos, que o Brasil tem evoluído bastante nesse quesito, porém ainda existe muito

para se melhorar, pois mesmo depois de tanto tempo, permanece a velha divisão de

classes, onde os ricos detêm o poder:

Apesar da estrondosa melhora, o nível de desigualdade brasileiro continua muito elevado. Enquanto os 40% mais pobres vivem com 10% da renda nacional, os 10% mais ricos vivem com mais de 40%. Embora a situação há uma década atrás fosse certamente pior, ainda hoje, a renda apropriada pelo 1% mais rico é igual à dos 45% mais pobres. O que um brasileiro pertencente ao 1% mais rico (isto é, que vive em uma família com renda per capita acima de R$ 4.400 por mês) pode gastar em três dias equivale ao que um brasileiro nos 10% mais pobres levaria um ano para gastar. (SILVA; SOUSA JUNIOR, 2012, p.9-10).

O problema do Brasil é que a renda é mal distribuída, se houvesse uma

distribuição igualitária, as famílias brasileiras não se mostravam tão desiguais, ao

ponto de ser privadas de suas necessidades básicas para sua existência. Há uma

necessidade de aumentar as politicas públicas para tentar amenizar cada vez mais o

nível de pobreza do país: “Contudo, quase 50 milhões de pessoas ainda vivem em

famílias com renda abaixo desse nível (R$ 190/mês)” (SILVA; SOUSA JUNIOR,

2012, p.10).

Tal situação é lastimável, o que ocorre de acordo com Santos (2009), é que a

pobreza ainda é considerada como algo passageiro, ela é tida como uma situação

em que as pessoas podem sair a qualquer momento, por esse motivo não se

buscam ideias e soluções para tentar amenizar o problema que afeta não só a

população brasileira, mas também vários outros países subdesenvolvidos.

39

Segundo Santos (2009), o que define a pobreza é a influência tanto

econômica, como social de cada país. A pobreza é um problema social que priva as

pessoas de modos de vida. Ou seja, elas não têm um direito de escolha; se nascem

pobres, têm de se acostumar com a situação em que vivem.

De acordo com o autor, existem várias causas para a pobreza, a educação, o

êxodo rural, o crescimento demográfico elevado, a modernização, esses são alguns

dos que ele nos cita. A questão é que, se o capital não se concentrasse apenas nas

mãos de poucos, se houvesse um equilíbrio, uma igualdade social, esses fatores

citados anteriormente não seriam problema, pois a população não viveria em

situação de miséria:

As raízes dessa “crise urbana” encontram-se no sistema mundial. É, portanto, nesse nível que se podem encontrar explicações válidas. É necessário voltar-se para as raízes do mal, para fazer uma análise correta e

estar em condições de fornecer soluções adequadas. (SANTOS, 2009, p.

32)

Com o tempo, o termo “pobreza” é substituído pelo termo “marginalidade”,

que é um conceito desenvolvido pelos sociólogos, criado justamente nesse intuito de

troca, e também como uma característica negativa, pois, para a maioria das

pessoas, marginal é alguém que pode fazer algum mal como roubar, agredir, entre

outros. E, assim como o autor nos fala, esse termo acarreta um julgamento com

relação à população considerada marginal, de forma que acabam sendo

consideradas inúteis pessoas sem perspectivas.

O autor acha que essa tese de marginalidade não é apropriada. É necessário

levar em conta a modernização e o que ela pode causar, além de seus efeitos sobre

a população mais pobre, que não possui condições de alcançá-la. Sendo assim, ela

cria novos empregos, no entanto, também cria inúmeros desempregados, situação

que gera o subemprego e a marginalidade: “É para esses remanescentes da força

de trabalho nos níveis mais baixos do espectro sócio profissional que foi reservado o

termo marginal.” (SANTOS, 2009, p.42).

Esse termo e esses julgamentos são errôneos, pois não é porque uma

pessoa é pobre e não tem condições de ter uma vida melhor ou por morar em

assentamentos precários que ela deva ser considerada marginal. O caráter não

pode ser medido pelo dinheiro que se possui, mas pelos valores que se tem. Se

essas pessoas tiveram uma boa educação e bons exemplos em suas casas, a

40

probabilidade de se portarem bem perante os princípios estabelecidos pela

sociedade é bem maior. Todavia, se já nasceram no crime, há uma tendência maior

em permanecerem nessa situação.

Segundo Santos (2009), a modernização é a principal responsável pela

marginalização, ou seja, a sociedade principalmente a parcela humilde sofre com os

malefícios que as novas técnicas causam. Pois os países desenvolvidos possuem

as mais altas tecnologias, ao contrário dos países em desenvolvimento que são bem

atrasados. Não existe capital suficiente para que os menos favorecidos sejam

absorvidos pelas novas formas de produzir.

Nessa situação, é necessário discutir a relação entre as necessidades e os

recursos, pois se houvesse uma mudança de forma que ambos obtivessem uma

renda com a proporção parecida o problema da pobreza e da escassez seria

solucionado, uma vez que haveria recursos suficientes para a população. O que falta

para solucionar esse problema é mais interesse por parte do poder público, além de

um bom planejamento.

Diante disso, um dos processos que evidencia essas questões como já citado

anteriormente é a industrialização, a qual ganha força no Brasil no ano de 1940 e,

junto com ela, vem a urbanização, que ocorre quando o território do país começa a

se integrar. A partir daí, as cidades apresentam um crescimento considerável,

acarretando problemas como o desemprego e as dificuldades em obter terras.

Assim, as pessoas passam a procurar melhoria de vida como emprego e

estudo para seus filhos e passam a buscar outros espaços, expandindo rapidamente

as cidades. Dessa forma, esses espaços passam a ser polos atrativos, pois

oferecem emprego e moradia, assim como proporciona expectativa aos migrantes

de conseguirem ter uma vida digna.

Na cidade de Caicó-RN, o bairro estudado se enquadra nesse processo. Com

o fenômeno da urbanização, a cidade ganhou um aumento populacional

considerável e o desenvolvimento do algodão mocó, assim como tantos outros fatos

citados anteriormente (primeiro capítulo) deram à urbe um destaque, todavia, a

mesma só veio a se tornar o centro regional do Seridó quando passou a investir na

oferta de bens e serviços, e no setor do comércio.

Com esse crescimento da cidade de Caicó, a urbe não possui bens e serviços

para suprir todas as necessidades da população, que chega como resultado da

migração da zona rural em busca de uma melhor condição de vida. Para essas

41

pessoas, são negados duplamente há um tempo o direito à cidade e à moradia de

qualidade, em áreas que ofereçam ou possibilitem uma boa estrutura para fixar sua

residência. Inserindo, assim, na lógica do cidadão que necessita de todos os

benefícios urbanos a exemplo de saneamento básico de qualidade, pavimentação

das ruas, serviços de saúde, dentre tantos outros. Pois na cidade não havia

maneiras de tirar a subsistência necessária para sobreviver e, a partir daí, a miséria

aparece na paisagem urbana com tudo que ela possui como prostituição, roubo,

fome, dentre tantas outras coisas.

E, assim, com o desenvolvimento do centro da cidade, as pessoas de baixa

renda são obrigadas a se afastarem para as periferias, pois aquele espaço, que se

enquadra como o melhor da urbe, pertence à população de alto poder aquisitivo.

Como consequência direta da expansão urbana advinda através da industrialização,

do aumento e da valorização do capital, surge a divisão da sociedade em classes de

forma que aqueles que detêm o poder do dinheiro possuem as melhores condições

de vida, enquanto os que trabalham para viver têm uma vida difícil.

Portanto, as classes dividem-se em: classe dominante, que são aqueles que

residem nas melhores residências, com as melhores infraestruturas; que possuem o

controle do estado e a classe dominada, que é aquela dos trabalhadores

assalariados que lutam pelo pão de cada dia, pessoas humildes, sem condições de

ter acesso a moradias de alto padrão. Aqui se configuram os processos de

segregação residencial e socioespacial, fazendo com que essas camadas sociais

passem a morar nas periferias da cidade. Essa divisão obteve como consequência a

desigualdade social, onde uma parte considerável da população é excluída. Dessa

forma, fica evidente a heterogeneidade existente nas cidades, sejam elas brasileiras

ou não, esse fato ocorre em todo o mundo.

Diante disso, a pobreza acaba por se tornar um problema social tanto na

cidade de Caicó como nas demais cidades do país. E a partir daí, a Igreja, assim

como o estado, veem-se obrigados a interferir e, de certa forma, amparar a pobreza.

Como nos fala Lapa (2008), no Brasil, pobre nunca teve vez. E para o poder público

se torna mais barato administrar a pobreza do que tentar encontrar meios de

solucionar o problema. “[...] ao pobre será dado sobreviver com dignidade, melhorar

seu padrão de vida, adquirir a moral que lhe falta, sem com isso quebrar a hierarquia

social na qual está posto ou que lhe foi imposta.” (LAPA, 2008, p.46).

42

O pobre é aquele que não possui condições de conseguir aquilo que almeja,

ele é privado de várias coisas, inclusive de coisas essenciais a exemplo de

habitação de qualidade, segurança, alimentação, mobilidade, dentre tantos outros

meios necessários a uma vida digna. E, além dele, ainda há o miserável, que aquele

que é ainda mais carente de recursos, isto é, são pessoas que passam fome, muitos

pedem esmolas para não morrer.

Sempre existiu muito preconceito contra as pessoas menos favorecidas,

principalmente aqueles que pedem nas ruas, que são classificados também como

mendigos, eles são tratados da pior forma possível pela sociedade, que é a principal

responsável por tal situação. Eles atribuem aos mesmos a preguiça, a vadiagem e

acreditam que os mendicantes vivem naquela situação por querer e, assim, mantêm

suas consciências limpas com relação à parcela de culpa diante de tal situação:

“Consideremos preliminarmente que a existência e permanência da pobreza

ocorrem como um subproduto da sociedade que a consente, que dela vive,

envolvendo, portanto, uma certa interdependência.” (LAPA, 2008, p. 36)

É diante de tal situação que o poder público viu a necessidade de administrar

a pobreza como nos fala Lapa (2008) quando cita a cidade de Campinas como

exemplo dessa situação. Na referida cidade, foram criados órgãos para dar

assistência aos menos favorecidos. Como a fundação São Vicente de Paula, que

acolhia essas pessoas e lhes ajudava. Esse tipo de fundação funcionava através de

doações privadas, posto que alimentando os pobres, os caridosos tinham seus

pecados perdoados.

De acordo com o que foi exposto, podemos dizer que o bairro objeto desta

pesquisa se enquadra nessa questão, pois possui uma população bem carente e

marginalizados socialmente, basta olharmos e analisarmos sua paisagem para

enxergarmos a situação difícil que aquelas pessoas enfrentam todos os dias. E é

nítido que eles não possuem os serviços urbanos necessários a todo cidadão.

O bairro João XXIII está localizado na zona oeste da cidade de Caicó-RN, nas

proximidades do rio Barra Nova, entre os bairros, Paulo VI e Barra Nova. Possui

uma área bem extensa. Com um número considerável de residências, num total de

1.406 imóveis e com uma população de 4.337 habitantes.

43

Mapa 2: – Caicó. Mapa de delimitação do bairro João XXIII. 2015

Elaboração: VASCONCELOS, Paulo Roberto Medeiros. 2015. Fonte: Google Earth. 2015

44

Conforme Morais (1999), o bairro nasce do rural e o mesmo tinha em sua

formação uma população bem humilde de agricultores e lavadeiras de roupas. De

acordo com moradores mais antigos do bairro, o mesmo surgiu na década de 1960.

Porém, só conseguimos uma data exata com o professor Adauto Guerra Filho que

trabalhou no bairro durante muitos anos, inclusive foi o mesmo que fundou a

Associação de Promoção Humana, para dar assistência à população daquele

espaço. Em uma conversa informal, ele nos conta a história desse objeto de estudo.

Pedimos ao senhor Adauto3 que nos descrevesse como surgiu o bairro João XXIII e

em qual ano. O mesmo inicia seu discurso falando que:

“O terreno onde se desenvolveu o João XXIII era da diocese de Caicó. A história remonta data do século XIX quando aquele terreno pertencia ao juiz de direito Dr. Antônio do Aladim, que se estendia desde o Riacho das Salinas 4até encostar em biririu. Incluindo a Barra Nova que hoje é totalmente urbanizada. E então Antônio do Aladim morre por volta de 1887, ele morre e então o terreno, tudo aquilo que era dele é inventariado e fica para os filhos. A partir de 1939 Monsenhor Walfredo convenceu dona Dalila, neta de Antônio Aladim, a vender o terreno para a diocese, pois a mesma ia precisar de chão para fazer seminários e igrejas. E então o pegou a partir da Soledade, Riacho das Salinas e o atual João XXIII e o Paulo VI. Quando foi em 1962, D. Manoel Tavares doou à prefeitura aquele terreno. Nesse tempo, o prefeito era Seu José Josias e então aí iniciou o processo de urbanização e de divisão, só que foi muito mal elaborado. Porque de acordo com o plano da diocese já estava tudo dividido e acontece que apareceu os sabidos e adulteraram a planta para ganhar o quê? Porco, galinha, lata de doce. Então os encarregados da prefeitura para ganhar alguma coisa, faziam de tudo, e aquelas ruas que eram bem feitinhas, bem divididinhas, seriam, né? Ficaram estreitas, mal acomodadas, lugares onde não passam dois carros, isso porque chegavam uma pessoa querendo um terreno e as pessoas em casa diziam não mais não tem, aí a outra falava: eu te dou um porco, um bacurin, tá aqui, então um terreno que era para uma pessoa era divido em dois. Era um sistema de corrupção, especulação e assim ficou tudo mal feito, diferente do que a diocese tinha planejado, ficou tudo diferente, um

3 O professor Adauto Guerra Filho é formado em pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte

– UFRN. Cursou 5 períodos de História também pela mesma Universidade. Natural de Cruzeta-RN. Sempre

gostou de escrever e de buscar entender e saber, das histórias dos locais por onde passou e foi a partir de

então que pesquisou sobre, o bairro João XXIII, além de contribuir para a trajetória desse espaço.

4 O Riacho das Salinas ficava localizado no bairro Paraíba, próximo de onde hoje é o Colégio Diocesano

Seridoense.

45

caos. A prefeitura era a encarregada de fazer a doação dos terrenos. Porque D. Manoel Tavares não deu casa a ninguém, nem à diocese. Deu o terreno todinho à prefeitura e cabia a eles dividirem bem direitinho. E então quando foi em 1962 eu estudava onde hoje é a emissora rural, ali era o seminário e a gente já via as paredes, começando a se levantar e começou ali onde hoje é a capela de São João Batista. E então, ali depois de 62 a gente começou a ver as paredes se erguendo, inclusive a capela de São João Batista. E então foi descendo em busca da atual Rua Leônidas Monteiro. Acontece que ali tinha muita gente porque interessava à prefeitura doar o chão para que as pessoas pobres não vivessem pela rua vagabundando e perturbando o comércio.” (Adauto Guerra Filho).

Professor, o senhor sabe nos dizer quem procurou fazer esse acordo? Foi o prefeito

ou a diocese?

“É, isso aí, eu não dizer exatamente. Só sei que houve um acordo entre eles e o terreno foi legalmente doado e foi com a finalidade de atender aos sem tetos. E a prefeitura muito interessava isso porque eles podiam invadir um terreno público e se era de invadir um terreno público invadisse lá, né? Pois o intuito era dar um lugar para essas pessoas para que parassem de perambular pela área central. E então ali (Bairro João XXII) as pessoas menos privilegiadas iam se aglomerando nos lugares onde existia mais acidentes geográficos no caso da baixa da cachorra5, e o nome surgiu porque eles levavam os cachorros para criar e no tempo do cio os cachorros faziam fila atrás das cachorra e batizam o local com esse nome. As pessoas ficaram nesse terreno acidentado porque os espertalhões procuraram os melhores terrenos. Foi como no Paulo VI teve a mesma finalidade do João XXIII, só que a corrupção entrou no meio, só que com uma diferença: o Paulo VI a divisão foi muito bem estruturada. Foi em 78 no tempo de Dr. Iramir. Você ver que as ruas de lá são tudo bem direitinha, divididinha, diferente do João XXIII que tem ruas tortas, engembradas. Você vê que a rua José Maria Gonçalves Vale é bem larga e junto dela tem a rua José Benévolo Xavier que é aquela coisinha que não cabe um carro. Ali tem aparência de favela e será favela a vida toda.” ( Adauto Guerra Filho).

Como o professor nos fala, o bairro surgiu em 1962, e de acordo com os

moradores mais antigos que encontramos, o mesmo começa a se expandir a partir

da capela, que fica nas imediações do Rio Barra Nova. Mais precisamente na Rua

5 Baixa da Cachorra é um local chamado hoje de Nova Jerusalém. Esse espaço está localizado na parte mais

acidentada do bairro,na Rua Maria Rufino.

46

José Maria Gonçalves Vale que é conhecida como a área central do bairro. Lá foram

construídas as quatro primeiras casas, não foi possível identificarmos a primeira,

pois, segundo os moradores, existe a possibilidade de já ter sido demolida, contudo,

identificamos uma das quatro, que é justamente de frente para a pequena igreja.

Essa casa pertence à dona Irani Celestine de Brito, uma senhora muito

simpática com seus 80 e poucos anos. A mesma nos relatou que, quando chegou,

existiam três casas, bem humildes e que construiu a sua com bastante esforço e só

conseguiu depois de ter ganhado o terreno doado por intermédio da diocese e

repassado pela prefeitura. Ela nos disse que na época que veio morar naquelas

imediações, não existia a capela de São João Batista ainda. Inclusive seu esposo,

senhor já falecido, Elias Brito Dantas, contribuiu diretamente para a construção

daquele espaço religioso.

A Figura 4 mostra uma das primeiras casas do bairro João XXIII quando se

deu início sua expansão urbana que tem atualmente uma infraestrutura bem melhor

em relação a quando foi construída como nos relata dona Irani, pois no início era

bem simples e possuía apenas três cômodos. Sendo já aposentada, dona Irani

possui uma renda melhor do que possuía à época da construção da residência.

Figura 4: Uma das primeiras casas do bairro João XXIII.

.

Fonte: Acervo Particular. Outubro de 2015

47

Segundo Morais (1999) foi a partir do bairro em estudo que surgiu na cidade

de Caicó, o termo favela6, pois o mesmo possuía uma população muito pobre e era

composto inicialmente por casebres. Seus moradores foram alguns dos primeiros

que migraram para a cidade devido à má qualidade de vida que o rural estava lhes

proporcionando e, assim, viram-se obrigados a vir em busca de melhorias de vida.

O Professor Adauto nos relatou que não sabe dizer ao certo quem tomou a

iniciativa para o acordo entre a prefeitura e a diocese para a doação do terreno,

porém Morais (1999) diz que quem tomou a iniciativa para a combinação foi o

prefeito da época, o senhor José Josias Fernandes. Este solicitou à diocese a

doação daquele terreno para construir casas populares, pois, dessa forma, os

pobres teriam um lugar para morar.

O João XXIII já nasceu desigual, composto por pessoas que não tinham onde

morar. O que podemos observar, de acordo com nossas fontes, é que de início era

um lugar para abrigar a parcela pobre da sociedade caicoense, (o “lixo humano”

como nos falou seu Adauto), pois essas pessoas viviam no centro da cidade

“tumultuando”, na verdade incomodando a parcela rica da urbe. E assim como Lapa

(2008) cita o exemplo da cidade de Campinas, onde o poder público junto com a

igreja administrou a pobreza daquele espaço, o mesmo ocorreu na urbe caicoense.

A prefeitura atendeu aos pedidos da classe rica e retirou da paisagem urbana,

do centro, o que manchava e incomodava a elite, para eles, aquelas pessoas

representavam uma ameaça constante. Havia um preconceito relacionado, como

nos relata Santos (2006) quando fala do termo “marginal”, pois a sociedade via

aquelas pessoas como uma ameaça.

Contudo, a igreja realmente doou o terreno na intenção de ajudar, como fala

o senhor Adauto, no projeto tudo estava dividido; contudo, os encarregados de

colocar a divisão em prática usaram de má fé e, assim, o bairro e o seu terreno

tomaram a característica de favela, bastante acidentado com casas muito próximas

uma das outras, desrespeitando qualquer critério urbanístico, resultando numa

infraestrutura precária, além de mobilidade quase inexistente.

6 IBGE (2010) define: “[...] caracterizadas por ausência de título de propriedade, irregularidade das vias de

circulação e do tamanho e forma dos lotes e /ou carência de serviços públicos essenciais (como coleta de lixo,

rede de esgoto, rede de água, energia elétrica e iluminação pública)”.

48

E, assim, até os dias atuais, permanece com essa estrutura mal organizada.

O bairro possui 53 anos e é um dos mais antigos em vista dos muitos que surgiram

nos últimos anos e, além disso, também é um dos maiores da cidade com uma

população de 4.337 habitantes de acordo com a Secretária Municipal de Saúde de

Caicó-RN. Porém, a sua infraestrutura permanece praticamente igual, não houve

melhorias significativas, é como se aquelas pessoas tivessem sido esquecidas. Essa

é uma observação nossa, da população e do professor Adauto Guerra Filho.

É nítido que não existe uma preocupação por parte do poder público para

com essas pessoas e assim acabam por contribuir diretamente para torná-los

excluídos na sociedade. Na verdade não existe ninguém por essa parcela abastarda

e sofrida. Cabe aos mesmos lutar e fazer por si o que aqueles que deveriam fazer,

mas não fazem. Depois que os afastou dos espaços visíveis, de onde causavam

incômodo não se buscou mais nada para tentar ajudá-los.

Inclusive, além das perguntas que o professor nos respondeu, relatou-nos

uma história de uma menina que ele conheceu ainda quando criança nas

imediações daquele espaço. Ele nos relata que a menina cresceu na pobreza, não

teve direito à escola de qualidade, nem a uma infância como qualquer criança

normal teria e hoje ela é uma pessoa muito fechada, não sorri, não brinca, não é

muito sociável. É como se fosse uma pessoa triste e assustada. Ele observa que

essa maneira de ser dela é devido ao ambiente em que passou sua infância e

adolescência.

E, realmente, quando paramos para analisar a população do João XXIII,

vemos características deste tipo, principalmente nas crianças. Essas são as que

sofrem mais, pois os idosos e adultos já estão acostumados com aquela situação de

pobreza e desigualdade em que vivem. Porém, aqueles meninos e meninas

gostariam de ter uma infância como as crianças que moram em outros espaços com

condições melhores na urbe. Ao olhar aqueles pequenos, vemos que são

assustados e que estão sempre observando os movimentos das ruas, parece até

que têm responsabilidades, que precisam ficar atentos ao invés de brincar e

aproveitar a infância.

E essa condição a que são impostos é advinda da segregação urbana que

alimenta as desigualdades existentes. Contribui para a má qualidade de vida de

forma que torna mais difícil o acesso à moradia de qualidade e aos direitos que todo

cidadão tem, como segurança, saúde, educação, saneamento, dentre tantos outros.

49

Além de prejudicar as relações sociais e dividir cada vez mais a sociedade em

classes, esse fenômeno está presente em todas as cidades, sejam elas pequenas,

médias ou grandes.

Com isso, os direitos ou são negados ou aparecem de maneira precária.

Devido ao modelo de expansão urbana de nossas cidades, que obedecem a um tipo

de capitalismo centralizador e ao mesmo tempo periférico e, assim, contribui para o

aprofundamento da segregação socioespacial, algo que se tornou comum no

cenário paisagístico de nossas cidades, agravando, por fim, o quadro de pobreza

urbana em todo o território brasileiro.

Sendo assim, a segregação social está ligada à segregação residencial que

se dá na forma de autossegregação, sendo esta realizada pela própria elite que

possui as melhores residências, moram em condomínios protegidos e limpos, essa

medida é tomada como forma de se preservar. Temos também a segregação

induzida, assim como a imposta, estas são colocadas a pessoas de classe de baixo

status social, que moram em favelas, cortiços, casebres com uma infraestrutura

precária. E, dessa forma, o direito ao solo urbano acaba se tornando restrito por ser

controlado tanto pelo mercado, quanto pela sociedade de alto status social.

A cidade de Caicó está inserida em todos os tipos de segregação

mencionados. Atualmente, por exemplo, está em construção um condomínio

luxuoso na saída para Jardim do Seridó, mais precisamente nas proximidades da

cidade judiciária. Sua finalidade é proporcionar à classe alta da urbe uma boa

qualidade de vida, residências com excelente infraestrutura, pavimentação e

saneamento de boa qualidade, além de lhes garantir aquilo que a maioria das

pessoas busca, que é segurança e bem-estar.

Com a criação desse espaço, a população de baixo poder aquisitivo ficará

ainda mais segregada, pois será nítida a separação entre ambas as camadas

sociais. O bairro estudado possui uma segregação imposta, aquelas pessoas moram

ali por não terem condições de morar em um lugar melhor. E esse processo é reflexo

do ontem, pois Caicó, assim como a maioria das cidades brasileiras, teve sua

organização espacial, a partir do centro, até se expandir para a periferia, onde

passou a abrigar a população de baixa renda. Esse modelo centro-periferia

contribuiu para dividir o espaço urbano da cidade entre pobres e ricos.

E, assim, ao olharmos o Centro, vemos o comércio, os prédios de

apartamentos, as casas mais luxuosas, assim como em alguns bairros a exemplo do

50

Penedo e do Maynard. Quando alguém precisa ir ao banco, Correios, praça de

alimentação, dentre tantos outros espaços, é para a área central que essa pessoa

vai, pois é lá que ela resolverá seus problemas e encontrará o que precisa.

Já quando paramos para observar a periferia como, por exemplo, o bairro

João XXIII, enxergamos a heterogeneidade existente no espaço urbano, com

relação aos bairros que se dividem em nobres e periféricos, de forma que, nos

ambientes da classe baixa, tudo é precário, as pessoas moram ali porque não têm

condições de pagar por um imóvel próximo ao Centro, devido ao elevado preço da

terra e dos imóveis.

E, dessa maneira, o espaço da urbe caicoense se torna um híbrido e isso

ocorre devido a todos os processos já mencionados anteriormente como a

industrialização, valorização do capital, êxodo rural, dentre outros. O que falta em

Caicó é um planejamento urbano7 feito de forma adequada, que atenda de uma

maneira geral a todas as pessoas, sejam elas de classe alta ou baixa. É necessário

se pensar no bem-estar social, ao invés de se isolar em lugares “perfeitos”, como

está prestes a fazer a parcela de alto poder aquisitivo da cidade. Existe a

necessidade de tratar as pessoas que residem nos espaços segregados com mais

dignidade e respeito.

7 SOUZA, (2008, p.27-28) descreve “[...] planejamento teria por missão criar as condições para uma

sobrevivência do sistema a longo prazo – mesmo que, para isso, fosse necessário, algumas vezes, ir contra os interesses imediatos de alguns capitalistas ou mesmo de frações inteiras da classe capitalista.”

51

3 A SEGREGAÇÃO RESIDENCIAL E SUAS CONFIGURAÇÕES NO BAIRRO

JOÃO XXIII

O espaço urbano é produzido de forma fragmentada e contraditória, assim

como a terra é monopolizada pelo capital e por aqueles que possuem alto poder

aquisitivo. De forma que, desde o momento em que o solo se tornou um produto a

ser comercializado, acabou virando um meio de acumulação do sistema capitalista.

Portanto, ao invés de haver uma preocupação social e distribuição de terras, ocorre

que a mesma se torna uma mercadoria.

E, dessa maneira, nem todos terão acesso a um solo urbano de qualidade

devido ao elevado preço ao que ele é imposto. Principalmente porque o mesmo fica

concentrado nas mãos de poucos e isso acaba gerando lugares segregados na

cidade. Porém, a responsabilidade desse problema não cabe apenas ao capitalismo,

mas também ao Estado, que tem por obrigação cumprir suas funções perante a

sociedade.

E isso deve ser feito de forma que garanta habitações de qualidade, com

saneamento, luz e água, bem como pavimentação, o que acaba não acontecendo

no Brasil, principalmente nas áreas periféricas das cidades. Ao não cumprir suas

funções com a sociedade, o Estado acaba por refletir e interferir diretamente na vida

das pessoas que necessitam do trabalho que deveria por ele ser realizado.

Outro fator que contribui para a exclusão de parcela da população brasileira é

o fato de que os imóveis localizados nas melhores áreas da cidade, como o Centro,

por exemplo, são bem mais caros do que aqueles mais afastados. Sendo assim, os

que não possuem condições de pagar pelo elevado preço do imóvel se veem

obrigados, muitas vezes, ao sistema de autoconstrução, que consiste em construir

suas próprias casas de maneira desestruturada e sem planejamento, por vezes em

áreas de risco.

E, assim, através desse capitalismo centralizador e desse Estado disperso

com relação a suas obrigações, vão sendo geradas as áreas segregadas das

cidades. Com o aumento da terra, aumentam-se os imóveis, de forma que isso afeta

de maneira direta o modo como a cidade e os grupos sociais se organizam no

espaço urbano. Dessa maneira, ocorre um desequilíbrio socioambiental e isso fica

52

evidente na paisagem das cidades, devido não haver planejamento adequado,

principalmente nos subúrbios.

O estudo da cidade capitalista leva-nos a perceber que ela é extremamente desigual, ou seja, é constituída de segregações e fragmentações que se consolidam em sua paisagem urbana. Espaços diferenciados abrigam classes sociais desiguais. As classes dominantes, por seu turno, possuem maior poder de mobilidade no espaço urbano, o que leva a transformar mais fortemente esse espaço, enquanto as outras classes vão se organizando de acordo com as articulações que possuem manifestadas, principalmente, nas entidades civis de direitos do cidadão. (VASCONCELOS FILHO, 2003, p.104-105)

A segregação, de uma maneira mais comum, é percebida, segundo o

Dicionário Aurélio (2010), como “ato ou efeito de segregar-se”, em que segregar

significa “pôr de lado; pôr à margem; separar, marginalizar”. A segregação é a forma

mais evidente das desigualdades sociais existentes no espaço urbano,

caracterizando conflitos. É um processo que impõe aos menos favorecidos uma má

qualidade de vida, uma exclusão aos direitos necessários a todos os cidadãos.

Dessa forma, os excluídos passam a residir nos subúrbios das cidades, dando

origem às favelas ou aos conjuntos habitacionais populares.

Sendo assim, caracterizamos a segregação de classes como também

residencial, como aquela em que as camadas são diferenciadas em termos de

distribuição e de padrão arquitetônico das residências e esse fato está diretamente

ligado à divisão de classes; com isso, os grupos de alto poder aquisitivo vivem nas

melhores casas, enquanto as pessoas de baixa renda vivem em casas com

infraestrutura precárias, deterioradas.

Já a segregação socioespacial é aquela que ocorre em função da utilização

desigual do uso do solo urbano. É um pouco parecida com a residencial, porém, a

questão não é residência, mas espaço. Por exemplo, ela pode ser caracterizada

devido ao modelo de expansão urbana de nossas cidades, que obedecem a um tipo

de capitalismo centralizador e ao mesmo tempo periférico.

De acordo com Sposito (2013), o termo segregação tem sua origem com Park

(1916), porém, só é definido como conceito na escola de Chicago com Burgess

(1925) E Mckenzie (1926). Gonçalves (2012) faz uma análise da publicação de

Robert Ezra Park do ano de 1916, sob o título “A cidade: sugestões para a

investigação do comportamento humano no meio urbano”. Nesse artigo de

fundamental importância, o autor discorria sobre como os meios de comunicação

eram um fator que proporcionava movimento à população e, dessa forma, acabava

53

contribuindo para o agrupamento das pessoas. Para ele, a segregação era um

processo natural, onde o ambiente é conquistado mediante uma competição em que

vence o mais forte (PARK, 1916, apud GONÇALVES, 2012, p.30).

Ao refletir sobre McKenzie e sua obra “A Vizinhança: Um Estudo da Vida

Local em Columbus, Ohio”, na década de 1920, Gonçalves (2012) mostra que o

mesmo trabalhou no aprofundamento sobre a análise do espaço urbano

desenvolvido por Park. Contudo, ele fez um trabalho mais delimitado por ser apenas

a cidade de Ohio e assim conseguiu desenvolver melhor os conceitos, entre eles o

de segregação. Ele dizia que a população é dividida de acordo com seu status, sua

posição social e, assim, vão residir em áreas residenciais com valores altos onde a

renda de alto valor de famílias ricas vai segregar a população urbana em diferentes

bairros (MCKENZIE, 1920, apud GONÇALVES, 2012, p. 31).

Segundo Gonçalves (2012), o modelo de Burgess consistia em demonstrar a

escala da segregação no espaço urbano sob o ângulo de competição e cooperação.

Ele fala que a expansão da cidade está ligada a uma sucessão de eventos e

caracteriza a cidade como um organismo. Coloca que os desequilíbrios urbanos

como a segregação fazem parte da adaptação do ordenamento urbano. Seu modelo

foi desenvolvido na cidade de Chicago (BURGESS, 1994, apud, GONÇALVES,

2012).

Como podemos observar, o modelo de McKenzie está correto, pois a

sociedade é realmente dividida em classes e, de acordo com seu poder aquisitivo,

irá residir nas melhores residências de forma que irá segregar aqueles que não

possuem condições de morar em casas bem estruturadas. Já o modelo de Burgess,

consideramos com certo aspecto conformista, ao falar que esse processo de separar

a classe de baixo poder aquisitivo para as áreas precárias da cidade é “parte da

adaptação do ordenamento urbano”, o mesmo acaba por colocar a problemática

como algo natural.

E, durante muito tempo, foi assim, o termo foi meio que tratado como algo

sem muita importância. Só nas ultimas décadas é que esse problema vem sendo

comentado. Todavia, ainda hoje o termo “segregação” é desconhecido por grande

parcela da população, justamente porque foi, e ainda é, pelo menos, por alguns,

considerado “normal” ou comum, também devido ao fato de que, o Estado, como já

mencionado, não cumpria com suas obrigações, era mais viável para ele, assim

54

como para aqueles que detinham o capital, que não houvesse um foco em cima

desta questão, pois, assim, os mesmos poderiam continuar a lucrar.

Na cidade de Caicó, isso ocorre frequentemente, se perguntarmos às

pessoas nas ruas, nos comércios, se elas conhecem alguma área segregada na

cidade, elas não saberão dizer ao certo, devido não terem se familiarizado com o

termo. Agora, se explicarmos que a segregação é uma forma de excluir a população

de baixo poder aquisitivo dos melhores espaços da cidade e privá-los dos direitos

necessários a toda pessoa, como saneamento, água tratada, saúde, dentre outros,

as mesmas entenderão do que estamos falando, e inclusive nos citarão exemplos, e

com certeza o primeiro será o bairro objeto desta pesquisa, o João XXIII, já que é

emblemático no quesito exclusão.

Este bairro é um dos bairros mais carentes da cidade. Conforme mencionado

diversas vezes nessa pesquisa, o mesmo já nasceu com essa característica, pois a

elite, junto com o poder público, no caso a prefeitura, expulsaram da Área Central da

cidade as pessoas de baixa renda e as colocaram naquele espaço doado pela

diocese, para abrigar os menos favorecidos. A partir daí o mesmo já nasce

segregado, excluído e com uma característica de periferia que é mantida até hoje.

E mesmo tendo se passado 53 anos, praticamente nada mudou naquele

ambiente. De acordo com a população residente, os governantes não se preocupam

com eles, só os procuram para pedir votos em período de eleição. Um fato que não

deveria acontecer, porém, já é uma característica do nosso país em períodos de

eleição, notadamente para eleger prefeitos e vereadores. Para o poder público e a

sociedade de alto status social, essas pessoas não têm a menor importância, a não

ser que precisem delas para alguma coisa.

O bairro não possui uma praça de convivência para os moradores, a primeira

praça está sendo construída pelo padre de lá em conjunto com os moradores. Um

dá algo, outro consegue algum material e assim vão “tocando” a obra, que, por sinal,

anda parada, sem possibilidade de continuar, pelo menos por enquanto, devido a

essa crise que o país enfrenta no atual período presidencial da república. Com a

inflação alta, as pessoas mal têm o que comer, o que dificulta ainda mais a vida dos

que são de baixa renda.

A pavimentação nas ruas, por exemplo, quase nem existe. O que podemos

observar nitidamente, durante as idas a campo, é que apenas a Rua principal, mais

conhecida como Professor Leônidas Monteiro, e a Rua Joaquim Bezerra que dá

55

seguimento à mesma são totalmente calçadas, pois as outras ruas possuem

pavimento apenas no início, depois o que vemos são apenas bastante terra, buracos

e rochas. Inclusive uma das entrevistadas nos revelou que para subir até a sua casa

é muito complicado, pois a rua é muito íngreme e acidentada, com rochas soltas e

isso acaba tornando o trajeto em um sacrifício diário, ainda mais para ela que já tem

certa idade. Essa questão não foi apenas abordada por uma residente do bairro,

mas pela maioria das pessoas com quem falamos. As reclamações foram unânimes.

Como sabemos, a pavimentação tem uma importância significativa para a

população, pois evita a poeira em excesso, além dos riscos de acidentes. É uma

medida necessária para contribuir com a qualidade de vida das pessoas,

principalmente porque facilita a locomoção das mesmas.

Sendo assim, podemos ver que essa situação é inadmissível. No Estatuto da

Cidade (2004), é estabelecido que a população urbana possua alguns benefícios

necessários como: “I – garantia do direito a cidades sustentáveis, entendido como o

direito à terra urbana, à moradia, ao saneamento ambiental, à infraestrutura urbana,

ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e

futuras gerações”.

O Estatuto da Cidade dá diversas garantias à população urbana, porém, o

poder público não cumpre com seus deveres, isso fica evidente quando observamos

a situação do bairro João XXIII. Pois o saneamento básico também é um dos direitos

de todos os habitantes de uma cidade, no caso do objeto de estudo desta pesquisa,

foram os moradores quem improvisaram seu próprio saneamento de forma que a

tubulação fica invisível.

É na base do improviso que os moradores vão levando a situação, o

problema é que aqueles canos são expostos ao sol o dia inteiro, com o tempo irá se

desgastar até quebrar. E então o que será feito? Bem, de acordo com eles, os

próprios moradores terão que dar um jeito como sempre deram. “O poder público é

que não vai fazer nada por nós, minha filha” essa foi a fala não de apenas um

morador, mas de vários.

Como todos sabem, o saneamento básico é necessário para manter nossas

ruas limpas, além de manter a higiene tanto do bairro como da cidade em si, por isso

ele é tão necessário. Contudo, infelizmente, existem ruas no bairro que não

possuem nem uma tubulação improvisada, pois não tem como os moradores

trabalharem em ambientes com acesso tão complicado, esse problema já vem de

56

outro, que é a questão citada acima, sobre a pavimentação do bairro, que é algo

realmente lamentável.

Nas figuras 5 e 6 a seguir, poderemos observar o que foi relatado sobre tal

situação difícil em que se encontra a população do bairro em estudo, com relação à

pavimentação das ruas. Onde podemos observar uma mobilidade reduzida

principalmente para os mais idosos, sem falar nas crianças, pois se torna até

perigoso deixar uma criança brincar naquele espaço.

Figuras 5 e 6: Ruas sem pavimentação no bairro João XXIII.

Fonte: Acervo Particular. Setembro de 2015.

Nas Figuras 7 e 8, a seguir, podemos ver o saneamento improvisado pelos

moradores do bairro. Os mesmos tomaram uma medida provisória que acabou por

se tornar permanente. O que lhes resta é esperar que um dia o poder público

cumpra com seus deveres. O que é bem pouco provável, já que nada foi feito até os

dias atuais, mesmo depois de tanto tempo da criação do bairro. Com isso, os

moradores acabam solucionando os problemas, por eles mesmos.

57

Figuras 7 e 8: Saneamento Básico utilizado pela população do bairro.

Fonte: Acervo Particular. Setembro de 2015.

Para termos uma análise verídica em relação aos problemas enfrentados pelo

bairro, realizamos uma entrevista estruturada com uma parcela da população, mais

precisamente com 70 famílias; já que a quantidade de imóveis residenciais de

acordo com a Secretária Municipal de Saúde de Caicó-RN é de 1.406, fizemos uma

porcentagem de 5% das residências. O certo seria 10% do total de acordo com o

IBGE, porém, como o local é muito perigoso e a pessoa que nos ajudava a percorrer

o bairro não tinha muito tempo, e nosso próprio tempo para realização da pesquisa

estava se vencendo, optamos por apenas 5% e acreditamos ser o suficiente para

entendermos a problemática, em que aquele ambiente está inserido.

De início, procuramos conhecer a naturalidade das pessoas que compõem

aquele espaço, usando uma regra de três, tabulamos os dados e os resultados que

obtemos é que 34% dos moradores são naturais de Caicó, porém, os outros 66%

são de fora da urbe, são pessoas que migraram de cidades como: Serra Negra do

Norte, Brejo do Cruz-PB, Jucurutu-RN, Currais Novos-RN, Alexandria-RN,

Juazeirinho-PB, São Tomé-RN, Nova Cruz-RN, Solânea-PB, Acari-RN, Ouro

Branco-RN, São José do Seridó-RN, São Fernando-RN, São Bento-PB, Parelhas-

58

RN, Catolé do Rocha-PB, Jardim de Piranhas-RN, Pau dos Ferros-RN e Jardim do

Seridó-RN.

Diante disso, percebemos que o bairro é composto mais por pessoas de fora

do que da cidade e do seu entorno rural. O que nos leva a relembrar que, como

Caicó se tornou o centro regional do Seridó, acabou atraindo pessoas de toda

região, inclusive até mesmo de um dos nossos estados vizinhos que é a Paraíba.

Esse processo de migração ocorreu de acordo com nossa pesquisa, a partir da

década de 1970. Já que o tempo que os habitantes viveram naquele local é de 30

anos; porém, existem moradores que residem ali há mais de 40 e 50 anos, que é a

idade oficial do bairro.

Com isso, surge o questionamento sobre o motivo que trouxe aquelas

pessoas justo para aquele bairro. E a população nos deu essa resposta, que será

mais expressa no Gráfico 1 a seguir.

Gráfico 1- Motivos pelos quais as pessoas migraram para residir no bairro João XXIII.

Fonte: Organizado por Helena Costa em Outubro de 2015. Dados primários.

Como podemos observar, o principal motivo, como nos relata 40% dos

entrevistados, que os levou a migrarem do seu local de origem para a cidade de

Caicó foi o preço baixo do imóvel. Por ser um bairro periférico, a terra acaba sendo

barata, como também os imóveis que são construídos no espaço. Situação bem

59

diferente da zona central da cidade, onde os preços são bem mais caros, motivo

pelo qual as pessoas não tiveram condições de residir lá.

O segundo motivo que os trouxe até a urbe caicoense foi a esperança de uma

melhoria de vida. Desejo esse que é mantido. Porém, o sonho de fato não se

transformou, pois aquelas pessoas vivem uma realidade difícil no bairro estudado.

Necessitam batalhar muito para colocar a comida na mesa. E as profissões dos

mesmos são bem simples, como, por exemplo: dona do lar, lavadeira de roupas,

agricultor, cuidadora de crianças, costureira, pedreiro, auxiliar de cozinha, bicos,

moto-taxista, aposentados, pensionistas, recicladores de lixo.

Essas são as maneiras que os mesmos usam para ganhar dinheiro e

sustentar suas famílias que não são pequenas, pois chegamos a encontrar casas

com 9 a 12 pessoas para serem alimentadas. As profissões seguem um padrão

antigo, pois basicamente são passadas de pais para filhos como eram em décadas

atrás. No Gráfico 2, observa-se a renda familiar total das famílias do João XXIII.

Gráfico 2- Renda adquirida pela população do bairro João XXIII mensalmente.

Fonte: Organizado por Helena Costa em Outubro de 2015. Dados primários.

O gráfico 2 mostra claramente que a renda da população residente no bairro

é baixa, principalmente se formos comparar com a das pessoas que residem nos

espaços próximos ao Centro, ou nos bairros de luxo, com suas mansões e carros

60

caros, além de outras formas de ostentação. Realidade bem diferente do João XXIII,

onde os moradores fazem verdadeiros milagres, com seus pequenos salários.

Os mesmos compram comida, remédios, roupas, gás, pagam conta de luz,

água. Dão de vestir às crianças e assim vão vivendo. Porém, isso diz respeito

àqueles que ainda possuem um salário ou dois, e aqueles que nem possuem isso?

Pois mesmo sendo uma parcela pequena, ainda existem, no bairro, aqueles que não

possuem renda fixa e têm que se virar pelo menos para comer.

E, além de viverem nessa situação difícil, de pobreza e exclusão, não

possuem sequer espaços de lazer para se distraírem. Quando perguntamos aos

mesmos, qual a atividade de lazer que eles gostam de fazer, alguns não sabem nem

o que é isso, e a grande maioria diz que o bairro não lhes proporciona isso. Quando

querem se divertir, vão para outras áreas da cidade como, por exemplo, a ilha de

Sant’Ana8.

O que podemos ver nitidamente é que aquela população é bem carente e

humilde, assim como suas casas. No Gráfico 3, poderemos ver a forma de moradia

predominante do bairro.

Gráfico 3: Forma de Moradia predominante no João XXIII

Fonte: Organizado por Helena Costa em Outubro de 2015. Dados primários.

8 Ambiente de diversão da cidade de Caicó-RN, onde as famílias vão geralmente no fim de semana para comer

algo, levar as crianças para brincar, além de rever os conhecidos e conversar.

61

No Gráfico 3, fica claro que a principal forma de moradia do bairro é a da casa

própria. Esse fato ocorre devido no local ser desvalorizado e servir justamente para

abrigar a classe inferior da cidade, de forma que, por não ser uma área considerada

boa, diante dos olhos da sociedade, ainda mais daquela que detém o poder do

capital, torna-se uma terra barata, assim como seus imóveis também o serão. Os

promotores imobiliários não investem em áreas assim por acreditar que não lhes

trará lucro algum, já que é considerada uma área marginalizada9.

As residências do João XXIII possuem uma arquitetura muito simples em sua

maioria. Ao observando-as logo podemos perceber que fazem parte do sistema de

autoconstrução, ou seja, não são bem planejadas. Ao contrário dos bairros nobres

que possuem casas bem elaboradas, enormes, que chamam a atenção de longe. Na

Figura 9 a seguir, teremos uma noção melhor da situação.

Figura 9: Residências com infraestrutura precária.

Fonte: Acervo Particular. Outubro de 2015.

Outro fato que merece destaque é o quesito mobilidade, das pessoas

residentes do bairro; 58% delas, na verdade, andam a pé quando precisam ir a

9 Área Marginalizada é aquela que é excluída socialmente. Compreende as favelas e as periferias, assim como a

pobreza e o ser excluído.

62

outros espaços da cidade, apenas 18% dessa população possui condução própria.

Diante disso, fica claro que os mesmos fazem parte da classe menos favorecida da

cidade de Caicó.

No Quadro 1, tem-se algumas informações sobre a infraestrutura do bairro,

são algumas das perguntas que fizemos aos moradores. Em alguns casos, podemos

ver que houve melhorias em alguns aspectos.

QUADRO 1

Algumas informações sobre a infraestrutura.

PERGUNTAS

RESPOSTAS

SIM NÃO OUTROS

TEM ENERGIA ELÉTRICA

LIGADA EM CASA?

100%

--

--

A RESIDÊNCIA ESTÁ

LIGADA À REDE DE

ABASTECIMENTO DE

ÁGUA?

100%

--

--

A RESIDÊNCIA POSSUI

CAIXAS D´ÁGUA OU ALGUM

OUTRO TIPO DE

ARMAZENAMENTO EXTRA?

66%

34%

--

EXISTE COLETA PÚBLICA

DOMICILIAR DO LIXO NO

BAIRRO?

90%

10%

--

Fonte:Organizado por Helena Costa em Outubro de 2015. Dados obtidos através da tabulação das entrevistas realizadas com os moradores.

Como está nitidamente claro no Quadro 1, apesar de a população daquele

espaço ser humilde e possuir uma renda baixa e fazer parte da classe menos

favorecida de Caicó, ainda possuem alguns benefícios, que são, na verdade, o

63

básico para sua sobrevivência. 100% do bairro possuem energia elétrica e água

encanada. No quesito armazenamento, 66% possuem caixas d’água, contudo, ainda

existem 34% dos moradores sem ter como armazenar uma quantidade considerável

de água, o que é grave já que moramos no semiárido nordestino com secas longas.

Com relação ao saneamento, é precário como em toda a cidade de Caicó.

Buscamos informações a respeito, junto à Companhia de Águas e Esgoto do Rio

Grande do Norte – CAERN, onde encontramos o funcionário Enilton Mario de

Oliveira, que nos relatou que apenas 7% de toda a cidade possui saneamento pela

CAERN, o restante é improvisado ou realizado pela prefeitura. Com isso, fica claro

que o bairro não possui saneamento básico adequado, tem apenas esgotamento

jogado na rede fluvial, poluindo o meio ambiente e prejudicando o ecossistema

aquático da localidade.

No quesito coleta de lixo domiciliar, o bairro recebe a visita do carro do lixo

duas vezes por semana, o que é um ponto positivo. Porém, mesmo assim, ainda

existe muita sujeira nas ruas, pois o pessoal apenas recolhe os lixos que as pessoas

deixam dentro dos sacos. Não fazem a limpeza das ruas, isso não ocorre apenas no

João XXIII, mas também nos demais bairros da cidade, menos no Centro e naqueles

com uma população de alto poder aquisitivo. Inclusive alguns moradores nos

relataram que existem ruas em que o carro não vai, por exemplo, a Maria Rufino dos

Anjos, que é uma das mais íngremes.

Com relação à saúde, esta, é precária como em toda Caicó, não existem

médico especializados suficientes para dar conta da população, os mesmos só

conseguem atender aos casos urgentes. No local, existe um posto de saúde

improvisado; 50% do pessoal, quando precisam, procuram o posto, outras 30%

procuram o Hospital Regional, que antes era conhecido como SESP, no bairro

vizinho, e os 20% restantes procuram as farmácias e acabam se automedicando. E

isso pode ser um problema, pois se, por acaso, um indivíduo toma um medicamento

errado, isso pode piorar a situação ao invés de melhorá-la.

Atualmente, estão construindo um novo posto de saúde no bairro, com mais

conforto para a população, porém, em se tratando de João XXIII, a coisa não

poderia ser fácil e a obra faz meses, de acordo com os moradores, que não sai do

lugar. Existe apenas um pedreiro trabalhando e, além disso, ainda tem os meliantes

que vêm e destroem vez ou outra, partes da obra. Na Figura 10, podemos observar

o novo estabelecimento de saúde do bairro.

64

Figura 10: Novo posto de saúde que está sendo construído no bairro JoãoXXIII.

Fonte: Acervo Particular. Setembro de 2015.

A obra deste mini posto está sendo executada em cima de uma rocha

enorme, o que irá dificultar bastante a acessibilidade de pessoas portadoras de

alguma deficiência, ou mesmo idoso e crianças. De imediato, vê-se que a obra não

foi planejada adequadamente.

O espaço possui também um elevado índice de violência, já se tornou

conhecido como um dos bairros mais violentos da cidade. Quando se fala em João

XXIII, percebe-se certo temor por parte da sociedade caicoense. Por ser um bairro

mais afastado, carente e, de certa forma, esquecido, torna-se o melhor lugar para

abrigar meliantes e acaba por se tornar propício a expansão do tráfico de drogas. Os

habitantes são inseguros devido a todos esses fatores e esse medo não é apenas

dos moradores do bairro, mas dos demais residentes da cidade que necessitam, por

algum motivo, ir ao local.

Quando perguntamos aos moradores quais os principais problemas que eles

destacam no bairro, a saúde, como já mencionado, é um deles, assim como a falta

de pavimentação e saneamento adequado. Todavia, o que mais é frisado por eles é

o comércio ilegal de drogas e a violência, que é um fator que as pessoas destacam

e que as preocupam bastante.

65

E não é para menos, o bairro João XXIII está inserido em uma das zonas

consideradas como uma das mais violentas de Caicó, que é a Zona Oeste. De

acordo com a central de operações da polícia militar – COPOM, esta é a parte da

cidade em que ocorrem mais crimes violentos. Por isso as pessoas têm tanto medo

dessa área e evitam trafegar por lá. O bairro é o que mais possui esse tipo de

violência. E, além da alta incidência de mortes, o mesmo ainda lidera também as

tentativas de homicídio.

Diante do que foi exposto, pode-se afirmar que o João XXIII é um bairro muito

carente, excluído pelos agentes políticos e econômicos, tais como o setor imobiliário,

o poder público. O mesmo apresenta muitos problemas que eles mesmos têm que

tentar solucionar. Como, por exemplo, postes de iluminação, os moradores já

instalaram nas ruas, quando foi preciso, já que não dá para esperar pela atuação da

prefeitura. Como eles mesmos falaram, vivem por conta própria. E o que é mais

lamentável é que essa circunstância vem perdurando por 53 anos, desde sua

criação até os dias atuais; sem previsão de se pôr um fim a essa condição, a qual

essas pessoas são impostas. Com isso, o que deve ser feito para amenizá-la é o

poder público local começar a implantar melhorias naquele ambiente, ao invés de

fingir que o bairro não faz parte da configuração espacial de Caicó.

É preciso que aquelas pessoas tenham os direitos que todos os cidadãos têm

quanto a um saneamento de verdade, não algo improvisado, ruas pavimentadas,

medidas de segurança, com rondas policiais diárias e frequentes, investimentos na

área de educação e esportes para que as crianças e adolescentes tenham uma

perspectiva de vida, possam sonhar com um futuro melhor, ao invés de ficarem

consumindo drogas ou cometendo delitos. A sociedade e os governantes precisam

pensar mais nessas pessoas e amenizar a condição à qual foram impostas. É

necessário pensar que os mesmos também fazem parte da sociedade caicoense e

que merecem ser tratados com respeito e dignidade.

66

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização desta pesquisa é uma forma de procurarmos entender as

contradições urbanas existentes na cidade de Caicó-RN. De forma a destacar a

situação em que as pessoas que residem nas periferias enfrentam todos os dias.

Nosso objetivo não é solucionar os problemas, e nem poderíamos, pois não

compete apenas à pesquisa acadêmica rever a organização espacial do ambiente,

mas a toda sociedade e ao poder público.

Queremos apenas levantar questionamentos e debates a respeito dessa

realidade desigual, que é imposta às pessoas que vivem no nosso objeto de estudo,

de forma que ele deixe de ser invisível aos olhos da sociedade de maneira geral. A

escolha desse local ocorre no primeiro momento que passamos a observá-lo, pois é

nele que está expressa a maior incidência de contradição, desigualdade e exclusão

da sociedade caicoense. Assim acreditamos que suscitamos a ideia de saber pensar

o espaço. Este que é muito caro à ciência geográfica.

Ao estudarmos o bairro João XXIII, percebemos que mesmo a urbe não

sendo uma cidade de porte grande, possui os aspectos sociosespaciais de uma.

Pois o bairro objeto desta pesquisa é segregado e apresenta um aspecto de favela

ainda nos dias atuais, mesmo sendo antigo, com mais de 50 anos, não houve

desenvolvimento ou possíveis progressos. É formado por uma população de baixa

renda e com muitas carências.

A participação da população com seus relatos a respeito da realidade que

vive foi de grande importância para comprovarmos o que já identificamos de início,

que o João XXIII era excluído. Nossas idas frequentes a campo, observando cada

detalhe, também foi essencial para enxergarmos aquele ambiente como de fato ele

se configura, ou seja, um bairro com uma segregação imposta, sem opções de

escolha.

Isto também é o reflexo de uma cidade que se expande a partir do modelo

centro-periferia, que configura a maioria das nossas cidades, com isso, a população

de baixa renda é levada a residir nas periferias, já que não possuem condições de

pagar pelo alto preço do imóvel e da terra nas melhores áreas da cidade.

A maioria das pessoas que vivem no bairro reside lá há muitos anos, alguns a

partir da criação deste, ou seja, desde o início, que os mesmos habitam em uma

área cuja infraestrutura é de péssima qualidade e isso permanece até o momento

67

contemporâneo. As ruas foram instaladas de maneira aleatória, e com isso as casas

acabam sendo construídas de qualquer jeito, umas coladas nas outras. Além disso,

a mobilidade se torna reduzida por não haver pavimentação adequada em todas as

ruas. Dessa forma, irá existir uma dificuldade de locomoção dos moradores das suas

casas, principalmente no que diz respeito aos idosos e às crianças.

No quesito saneamento, a situação é bem difícil, pois, por ter sido mal

esquematizado, em muitas ruas não existe. Os dejetos das casas são colocados em

fossas sépticas que, muitas vezes, transbordam e acabam gerando outro problema,

o mau cheiro. Sem falar que existe esgotamento a céu aberto, por exemplo, existe

uma galeria que fica aberta em algumas ruas do bairro, trazendo incômodo à

população com predominância de insetos e bactérias.

Logo, fica claro que o João XXIII necessita que medidas urgentes sejam

tomadas, pois não é justo que a classe dominante viva bem com todas as regalias e

direitos e a classe de baixo status social sofra com tanta discriminação. É necessário

que sejam implantadas políticas públicas, para que essas pessoas possam ter uma

vida digna. O poder público local precisa parar de fechar os olhos para um problema

que está bem a sua frente e tomar atitudes para resolver a situação.

Assim, é preciso proporcionar alguns serviços para a população. Como, por

exemplo, melhorar o acesso às ruas, começar a trabalhar no saneamento e retirar

os esgotos a céu aberto. Colocar policiais realizando rondas periódicas, para tentar

conter a violência e futuramente seria interessante um posto policial, pois só assim

haveria um controle adequado. E o fundamental é que o poder público local e a

sociedade passem a tratar as pessoas de forma correta, como cidadãos que

merecem ter uma vida de qualidade.

Contudo, não é apenas no quesito infraestrutura que a situação necessita ser

melhorada, é mais que isso, é preciso mudar o quadro social. Pois não adianta só

saneamento de qualidade, pavimentação, se as pessoas permanecerem pobres,

passando por necessidades. Não adianta melhorar as moradias, investir em mais

construções, se a população não tem condição de pagar por elas, pois, como nos

fala Sposito (2005), a possibilidade de possuir habitação está subordinada ao nível

salarial.

Dessa forma, torna-se indispensável a predominância de planejamento para

todos, não apenas para a classe alta. Ao invés de utilizar o capital, para melhorar

apenas os espaços centrais da cidade, é preciso investir na geração de emprego e

68

renda, assim como na educação e na saúde. E, além do investimento nessas áreas,

convém também um incentivo para que as pessoas acreditem nessas melhorias e

lutem por elas, pois só assim haverá mudanças significativas na sociedade e na vida

das pessoas de baixo poder aquisitivo, ocasionando, dessa maneira, uma mudança

social, onde a pobreza não será mais um problema, uma vez que todos os cidadãos

terão acesso aos seus direitos e a uma vida digna.

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REFERÊNCIAS

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