helder - consciência histórica na forma folclorica da canção de protesto norte-americana
DESCRIPTION
Anais Eletrônicos daX Semana de HistóriaISSN 2238-071XA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NA FORMA FOLCLÓRICA DA CANÇÃO DE PROTESTO NORTE-AMERICANA Helder Silva Lima1Na primeira metade da década de 1960 nos EUA, músicos lançaram mão de um repertório musical consagrado como tradicional – depositário da expressão folclórica – para atuar nas situações políticas da sociedade americana. Tidas como canções de protesto, baseavam-se na prática do uso político da arte, como fora estabelecida por músicos folcloTRANSCRIPT
Anais Eletrônicos da
X Semana de História
ISSN 2238-071X
A CONSCIÊNCIA HISTÓRICA NA FORMA FOLCLÓRICA DA CANÇÃO DE
PROTESTO NORTE-AMERICANA
Helder Silva Lima1
Na primeira metade da década de 1960 nos EUA, músicos lançaram mão de um
repertório musical consagrado como tradicional – depositário da expressão folclórica – para
atuar nas situações políticas da sociedade americana. Tidas como canções de protesto,
baseavam-se na prática do uso político da arte, como fora estabelecida por músicos
folcloristas ligados ao comunismo americano, entre as décadas de 1930 a 1950. Os seis anos,
que vão de 1960 a 1966, foram tempo do surgimento da Nova Esquerda e da mobilização
negra por direitos civis. Nesse período estudado, ocorre a rearticulação da pratica de protesto
através de canções, que remonta as décadas anteriores, para uma nova situação política, onde
se destaca o Movimento por Direitos Civis.2
Buscando suas origens, a prática de protesto por meio da música foi formulada
dentro da esquerda americana, na segunda metade da década de 1930; período em que
vigorou a Frente Popular – uma união entre as esquerdas, socialista e comunistas, anarquistas,
e liberal, contra o fascismo. É particularmente nesse tempo da Frente Popular, que se concebe,
dentro da esquerda comunista, a possibilidade de se utilizar canções folclóricas para veicular
um conteúdo político. Com a atuação de músicos e apoiadores, estabeleceu-se, na década de
1930, um cancioneiro, que estaria na base da prática de protesto através da música, nos anos
seguintes (LIEBERMAN, 1995).
Sua forma apropriava-se de um corpus de canções populares, coletadas e
registradas por folcloristas e antiquários. Sobre uma balada popular, adaptavam-se novas
letras, para comentar algum fato político na visão comunista – o apoio a greve sindical, apoio
a um candidato, ou crítica ao governo. Por trás dessa apropriação do folclore estava a
1 Mestrando. PGHIS/Universidade Federal do Paraná. Bolsista CAPES. [email protected].
2 O leitor encontrará no final as referências aos álbuns que constituem o recheio de experiência - as canções
que este trabalho trata.
concepção de que essa música era expressão da tradição popular, fruto da experiência do
homem comum frente a sua luta cotidiana. (COHEN, 2002) Como era o povo quem construía
a história, o comunismo americano identifica no o agir e sofrer popular a expressão do mesmo
ideal democrático e republicano fundador da nação. (LIEBERMAN, 1995). De outro modo,
também era uma reminiscência da América pré- industrial, enquanto ainda intocada pelo
avanço da urbanidade. Se o proletariado urbano havia sido alienado de sua consciência
cultural, com a canção folclórica a esquerda não apenas falava a língua do vulgo, mas
devolvia- lhe sua própria tradição.
O projeto oposicionista da esquerda viu-se frustrado com o irromper da II Guerra
Mundial. No pós-guerra, o ambiente gerado pela Guerra Fria que começava, impediu que
conseguisse retomar seu projeto popular de atuação. O anticomunismo histérico, como foi
representado pelo macarthismo, acabou por desmembrar politicamente a esquerda americana.
A perseguição ao partido comunista e aos seus membros fechava os espaços de atuação
possíveis (LIEBERMAN, 1995).
Reprimido politicamente, sem espaço para atuação, sobrevive entre seus membros
uma literatura social, um repertório de signos visuais, e um corpo de canções. Mantido
enquanto uma prática, o protesto através da música sobrevivera ao primeiro decênio de
Guerra Fria, até encontrar no início dos anos 1960 uma nova conjuntura, que lhe propiciou
um novo espaço(ANDERSON, 1995).
Não seria a forma folclórica não apenas medium para veicular a mensagem de
protesto, mas em si mesmo não carregaria algum sentido que falasse aos que a ouviam? Se
assim, qual sentido que o folclore poderia ter para uma sociedade industrial avançada?
Na história do conceito de cultura popular, desde o final do século XVIII, tenta-se,
de bom coração, salvá-la de ser engolida pelo progresso da sociedade. Irracional, simples,
analfabeto, instintivo, carecendo do sentido moderno de individualidade, o povo, não
obstante, preservava na sua naturalidade comunal a poética da vida, o espírito original daquilo
que estava se tornava nação. Era, pois, o depositário da cultura, que o tempo dizia, estava a
modificar-se em passado. Urgia, portanto, o trabalho de homens a coletar e registrar as
manifestações populares, para preservá- las antes que desaparecessem. Resgatada das mãos do
vulgo, a balada popular obtinha seu lugar entre as coleções do homem refinado; estava salva
do tempo.
Se o movimento de interesse pela cultura popular no final do século XVIII, fora de
tal modo intenso, a ponto de ser considerado como o momento em que o conceito – como
categoria distinta de cultura – foi inventado, no século XIX ele se definiria enquanto uma
disciplina, o folclore (BURKE, 1989). No século XX, ele continuaria com adeptos,
pesquisando, coletando e catalogando os objetos que encontravam, geralmente em regiões
campestres, ainda pouco modificadas pelo avanço da sociedade industrial. Essa tradição de
estudos folclóricos legaria o material, as canções utilizadas pelos cantores de protesto,
conforme haviam concebido durante a Frente Popular.
Contudo, não se apropriariam tão somente das canções disponíveis feitas pelos
folcloristas, mas, com elas, ganhavam junto a mentalidade destes. No recôndito da civilização
industrial, agora marcada pelo domínio do mercado nas questões da cultura, o gênio popular
continuava a criar suas canções – a expressão de seu agir e sofrer existenciais. Ora, formou-se
na esquerda americana o desejo de colher e devolver essa cultura ao povo, no caso, aos
trabalhadores. Embora durante os anos da Frente Popular se entenda a relação tecida entre
povo e operário, nos movimentos sociais dos anos 1960, não vigorava os mesmos princípios
trabalhistas. De forma que a utilização do folclore na música, não teria outro motivo que não
o de ser já a esse tempo uma prática consolidada. Entretanto, o folclore possuiu um apelo
intrínseco a sua forma: na remissão a um passado bucólico, oferecia uma contraposição ao
presente. Além do que, a significação popular que carrega, vinha de encontro com a pretensão
da Nova Esquerda, mas também do Movimento por Direitos Civis, de atuar junto à
comunidade, de se organizar em bases na tentativa de retomar o poder concentrado nas altas
esferas do Estado (JAMISON; EYERMAN, 1994).
A forma folclórica que reveste as canções estabelece uma ponte temporal entre o
passado e o presente. O folclore articula um tempo complexo, folheado, representando um
modo de percepção subjetiva que a sociedade tem com seu passado. Podemos entender essa
articulação temporal intrínseca ao folclore como regimes de historicidade existentes na sua
concepção. Ou seja, na própria compreensão do que seja cultura popular, iniciada no final do
século. XVIII há inerentemente uma relação temporal específica, segundo a qual, o povo
pertence a um tempo anterior àquele do observador; o popular é o camponês que todos foram,
mas que somente subsiste nas regiões em que a modernidade, tempo do novo e do futuro,
ainda não alcançou.
O historiador François Dosse, sintetizando as ideias de Koselleck, diz:
O futuro permaneceu durante muito tempo retrospectivamente ligado ao passado, e a
desassociarão progressiva das expectativas em relação às experiências passadas,
próprias aos tempos chamados modernos, permite reabrir o passado como recurso
vivo para alimentar o presente (DOSSE, 2004:56).
Para dar-se conta da experiência temporal própria da modernidade, o historiador
deve atentar para os regimes de historicidade, assim apreendendo a “pluralidade de maneiras
como as comunidades humanas vivem sua relação com o tempo” e de que forma “conceberam
os diversos recortes do tempo a partir de um determinado numero de invariáveis, de
categorias transcendentais” (DOSSE, 2004: 54).
Parece que o folclore é exatamente uma dessas categorias transcendentais, de que
fala Dosse. Ora,
um regime de historicidade se definiria pela forma que toma no seio de uma
sociedade a articulação entre categorias recebidas e contextos percebidos, entre
significação cultural e imperativos pragmáticos, cada um definindo configurações
singulares (DOSSE, 2004: 54).
Destarte, percepção da cultura popular como categoria distinta, conforme o que
ocorreu no final do século XVIII, não estaria também relacionada com a mudança geral na
percepção de tempo, que vem definir a era da modernidade? Revisitando a origem da
formação do conceito de cultura popular, assim como da disciplina do folclore, a questão se
esclarece.
Propondo uma arqueologia do conceito, Renato Ortiz argumenta que toda herança
cultural que pesa sobre sua utilização tem sua origem em dois grupos intelectuais do início da
Idade Contemporânea: os românticos e os folcloristas. Aos primeiros coube a fabricação de
um popular ingênuo, anônimo, espelho da alma das nacionalidades que começavam a formar-
se. Os segundos foram seus continuadores, inventando sobre o sentimento romântico em
relação ao povo uma disciplina, que na sua evolução tentará tornar-se científica, ressoando
positivismo (ORTIZ, 1992:9).
No início da Idade Moderna, a coleta de contos e costumes popular não era uma
preocupação maior dos homens educados, embora desde o século XVI alguns escritores, a
maioria deles clérigos, se ocupassem em falar sobre as superstições e outros vícios heréticos
que “seduzem o povo e intrigam os sábios”3. A preocupação com o povo surge com o espírito
do antiquário, a curiosidade pelas práticas e narrativas do homem comum, seu afã
colecionador, sempre de alguma forma misturado com o ímpeto moralizador, deu origem
primeiramente a coletores individuais, mas que logo se organizaram em clubes e associações.
3Referência ao livro do padre Le Brun “História Crítica das Práticas Supersticiosas que seduziram o Povo e
Intrigaram os Sábios” (1702). Outros livros mencionados são “Tratado das Superstições”, de Jean -Baptiste Thiers (1679), “Antiquitates Vulgares, ou as as Antiguidades das Pessoas Comuns”, escrito pele clérigo Henry Bourne (1725). “Tais escritos, tinham por finalidade apontar os erros e as crendices das classes inferiores, e se encontravam em consonância com um espírito moralizador e hostil às manifestações populares” (ORTIZ,
1992:11).
O antiquário, pelo menos até o advento do romantismo, não possuía nenhuma predileção
especial pelo povo senão o interesse pelo excêntrico, o “amor às antigüidades”, o “gosto do
bizarro”. Quando clérigos, pretendiam, ao elencar as práticas da vulgaridade, combater a
superstição e resquícios do paganismo; tal traço da preocupação com o popular fez com que
os historiadores do século XX pensassem que depois da Reforma e Contra-Reforma, a cultura
popular teria sofrido uma grande modificação, pela atuação das duas Igrejas na direção de
reprimir essas manifestações. Seria com o Romantismo que a cultura popular toma
significado positivo, aparecendo como valor de virtude a ser preservada e não de víc io a ser
reprimido.
É essa prática de coleta e registro de um material do qual se cria antigo que se
transformará na pesquisa folclórica do século XIX, caracteristicamente mais preocupada com
a compilação e ordenamento do material e a metodização da coleta, com intuito de conferir
rigor cientifico àquela prática. É de atribuição certa a William John Thoms, fellow da
“Sociedade dos Antiquários” inglesa, o cunho da palavra Folklore. Em uma carta dirigida a
revista The Atheneum, de Londres, em 22 de agosto de 1846:
Suas páginas mostraram amiúde tanto interesse pelo que chamamos, na Inglaterra de
„antiguidades populares‟ ou „literatura popular‟ (embora seja mais precisamente um
saber popular do que uma literatura e que poderia ser com mais propriedade
designado com uma boa palavra anglo-saxônica, folk-lore – o saber do povo), que
não perdi a esperança de conseguir sua colaboração na tarefa de recolher as poucas
espigas que ainda restam espalhadas no campo no qual os nossos antepassados
poderiam ter obtido uma boa colheita. [é, tem-se também que resgatar os velhos
espantalhos!]
Quem quer que tenha estudado os usos, costumes, cerimônias, crenças, romances,
refrãos, superstições etc., dos tempos antigos deve ter chegado a duas conclusões : a
primeira, quanto existe de curioso e de interessante nesses assuntos, agora
inteiramente perdidos; a segunda, quanto se poderia ainda salvar, com esforços
oportunos. (...) E que é isso? Uma soma de pequenos fatos, muitos dos quais,
tomados separadamente, parecem t riv iais e insignificantes – mas, quando
considerados em conjunto com o sitema no qual os entrelaçou sua grande
mentalidade, adquirem um valor que jamais sonhou atribuir-lhes o que primeiro os
recolheu. (...)
Tais dados seriam de grande utilidade, não apenas para o inglês estudioso de
antiguidades. As relações entre o folk-lore da Inglaterra (lembre-se de que reclamo a
honra de haver introduzido a denominação folk-lore, como Disraeli introduziu
father-land, na literatura deste país) e o da Alemanha são tão grandes, que esses
dados provavelmente servirão para enriquecer futura edição da “Mitologia” de
Grimm (THOMS apud LIMA, 2003:2-3).
Para que a cultura popular se tornasse um valor positivo, haveria a necessidade dos
românticos. Interpretado por muitos autores como uma sensibilidade que busca dar conta da
dupla transformação que perpassa todo o mundo no final do século XVIII, nomeadamente a
Revolução Francesa e a Revolução Industrial, o romantismo é um movimento amplo. Não se
restringe ao campo das artes, embora sempre contenha alguma intenção estética. “Sensíveis,
reticentes, eles os românticos, são críticos do capitalismo nascente.” No âmbito da discussão
na qual debruçamos, o romantismo se reveste de uma característica peculiar.
Não importa tanto a idéia de revolta, da id iossincrasia do Eu. Seu impacto, a meu
ver, deve ser considerado quando transforma a predisposição negativa, que havia
anteriormente em relação às manifestações populares, em elemento dinâmico para a
sua apreensão. Isto, paradoxalmente, vai afastá-lo inclusive dos próprios ideais
românticos, valorizados pela consciência artística (ORTIZ,1992:18).
Quer dizer, o artista romântico valoriza a força do Eu, introduzindo e cultuando a
noção de individualidade libertada; livre das regras estabelecidas pela estética classicista. Por
isso, Renato Ortiz diz ser paradoxal a atitude dos românticos frente a cultura popular; pois, “o
popular romantizado retoma inclinações como sensibilidade, espontaneidade, mas enquanto
qualidades diluídas no anonimato da criação. Não é, pois, o indivíduo o ponto nodal, mas o
coletivo.” (ORTIZ,1992:18). O Romantismo também é ligado ao historicismo, marcado por
um tipo característico de lidar com o tempo e por conseguinte, com todo o passado. A
revalorização do Gótico e da Idade Média, juntamente com os romances de cavalaria e
poemas medievais, traduz um distanciamento do presente. Sua crítica ao capitalismo nascente,
ao progresso, enfim, à modernidade contém esse elemento de recuo a um passado no qual a
vida seria mais pura, autêntica, e digna.
O historicismo talvez possa ser encarado não apenas como a escola histórica a qual
Ranke empresta o nome, mas como uma atitude em relação ao tempo próprio da
modernidade, que põe dentro da história, dentro do passado, do futuro e do presente, toda a
experiência da vida. Como resultado dessa concepção temporal em que tudo é histórico, o
presente é das três dimensões a mais fugaz, pois nunca é fixo. Dito de outra maneira,
enquanto o passado é aquilo que foi, e o futuro aquilo que será, o presente é a dimensão do
efêmero, na qual o futuro realizando-se torna-se passado. Para Reinhart Koselleck, o final do
século XVIII vivencia uma profunda modificação da experiência da vida, a que corresponde a
uma mudança na percepção do tempo, com a finalidade de diagnosticar e dirigir a sociedade
politicamente. Na base dessa transformação que envolveu todas as camadas da sociedade, está
a sensação do movimento, a rápida modificação da qual agora os indivíduos no tempo de sua
existência tem de tomar cuidado, rumo a um futuro aberto (KOSELLECK, 2006). Herbert
Marcuse interpreta a estética da época moderna cuja uma das expressões, senão a maior, é o
romantismo aqui debatido nos seguintes termos:
O efêmero que não deixa at rás de si uma solidariedade dos sobreviventes necessita
ser eternizado para poder ser suportado, pois se repete em cada instante da existência
e antecipa a morte também em cada instante. Uma vez que cada instante porta em si
a morte, o instante belo precisa ser perpetuado como tal, para tornar possível algo
como a felicidade. A cultura afirmativa [ o que vale dizer para elucidar, no contexto
do ensaio de Marcuse, cultura afirmat iva é a cultura burguesa que se desenvolveu
desde os séc. XVIII até o presente] eterniza o instante belo na felicidade que ela
proporciona; ela eterniza o efêmero (MARCUSE, 1997:117)
O belo buscado pela estética burguesa cumpre seu papel na medida em que pode
eternizar seu instante; ele para o tempo. “O romantismo é um fato histórico e, mais do que
isso, é o fato histórico que assinala, na história da consciência humana, a relevância da
consciência histórica”, nesta análise de Jacó Guinsburg, o romantismo corresponde à
historicização geral do modo do homem conceber-se no universo (GUINSBURG, 1985:13-
25). Contudo, haveria de aparecer alguns problemas inerentes a todo esse historicismo, fosse
por Cronos relativizar tudo quanto toca, deuses ou mortos, fosse pela incapacidade da
civilização industrial baseada no progresso infinito de realizar sua auto-superação.
A transformação do pensamento, responsável, na virada do século, pela descoberta
da cultura popular pelos intelectuais, é observada nos números crescentes de publicações
sobre as canções, baladas, e contos populares. Talvez seja Herder o filósofo mais importante
nesse debate, e seu nome deve figurar ao lado dos irmãos Grimm. Não por coincidência, a
Alemanha de então foi o berço do romantismo, sendo que tanto Herder como Goethe,
procederam a coleta de canções populares. A posição preponderante da Alemanha nessa
descoberta da cultura popular deve-se, segundo Renato Ortiz e Peter Burke, a característica
fragmentaria e múltipla do estado e da cultura germânica, o que gerava problemas para a
constituição do moderno estado-nação. Necessidade, pois, de resolver contradição interna
entre elite e povo e então formar uma identidade com a qual enfrentar, no plano externo, os
países centrais (França e Inglaterra) (BURKE, 1989). É nesse contexto que surge o debate
sobre cultura popular; expressão da alma nacional, a poesia autêntica, aquela encontrada na
canção e na poesia popular, representariam a essência da cultura(ORTIZ, 1992).
Resultara a disciplina da pesquisa folclórica, a qual dispõe da prática de coleta de
material, da pesquisa de campo, como métodos aplicados por intelectuais, na tentativa de
recuperar ou salvar o gênio nacional e a alma popular. Isso resultará na concepção de folclore,
na metodologia dos folcloristas no século XIX: o pesquisador funcionaria apenas como um
médium entre o tesouro perdido e a nação que o reclama.
No século XIX, a cultura popular vê-se entre o ideal romântico e o espírito científico,
que consagra no folclore um determinado tipo de análise da cultura popular, marcado pelo
parâmetro da ciência positivista.
O antiquário tinha um afã colecionador, o folclorista, respaldado pelo Positivismo,
cria o museu das tradições populares. Como diz Michel de Certeau, ele se contenta
em mirar a „beleza do morto‟, pois o que lhe interessa é o passado em vias de
extinção. Diga-se que o fo lclorista tem plena consciência das mutações sociais que
vivencia. (...) O tom nostálgico é revelador; trata-se de lutar contra o tempo. O
esforço colecionador identifica-se à ideia de salvação; a missão é agora congelar o
passado, recuperando-o como patrimônio histórico (ORTIZ, 1992:39).
Enfim, a cultura popular “associa-se à herança passadista, cujo destino, no choque
com o processo civilizatório, é ser eliminada ou confinada nos museus” (ORTIZ, 1992:65).
Ocorre, portanto, uma identificação entre o popular e o pretérito. Se na Europa a cultura
popular serviu a edificação dos estados nacionais ao lhes proporcionar uma identidade
idealizada através da noção de povo, na América Latina, intentou-se utilizá- la para assistir a
resistência dos subalternos às elites, em todo caso, identificadas com a cultura estrangeira.
No caso dos países de Terceiro Mundo, nos quais as elites ilustradas geralmente são
acusadas de conivência histórica com a exploração estrangeira, constituída pela dependência
colonial e imperialista, entende-se o apelo de resistência que a cultura popular exerça. No
caso dos EUA, cujos cantores engajados também atribuem às manifestações populares uma
potencialidade subversiva, como entender o teor da crítica que o Homem comum pode
propiciar à sociedade industrial tardia, senão como a imagem antagônica dessa própria
sociedade? Assim, qual o sentimento que a realidade urbana, racional, modernista e
industrializada suscita, para que se ache nos objetos da cultura popular uma forma de lhe a
contrapor?
Na década de 1930, o comunismo americano, no seu projeto da Frente Popular, já
identificava no agir e sofrer do povo comum o ideal democrático, fundador da nação. Esse
povo, categoria social indistinta entre artesão rural e operário urbano, todavia, não se referia
às modernas profissões industriais: o técnico, o engenheiro, o cientista, o burocrata,
definitivamente não são populares. Portanto, a cultura popular em que pensavam era muito
semelhante àquela já formatada pelos folcloristas.
A pesquisa folclórica do início do século XX, ainda mantinha do século XIX, os
mesmos pressupostos teóricos sobre o que seja cultura popular. Por exemplo, numa coletânea
de canções americanas organizadas por Carl Sandburg, em 1927, The American Songbag, o
folclorista dedica o trabalho àqueles cantores anônimos, que da alegria, do amor e do
desgosto, compuseram as letras contidas no volume. O anonimato do povo, assim como a
experiência real em que se baseiam, dá universalidade à poética expressa nos versos
coletados, justificando o interesse pelos objetos populares.4
4O livro de Sandburg, The American Songbag, foi um das importantes coleções de música folclórica, que
estabeleceram um cancioneiro, do qual ext raiam os músicos de esquerda suas canções populares. A coleção de
O material, reunindo “o gênio de autênticos cantores americanos”, expressaria, para
Sandburg, a própria história do povo americano, pois era testemunho direto da maneira de
viver dos diversos tipos e personagens que o país abriga. O conteúdo das canções expressaria
os conflitos humanos tão bem como o que se poderia encontrar em Shakespeare. Além do
que, eram tão antigas quanto àquelas baladas medievais que haviam de sobreviver nos
recônditos das Montanhas do Apalache; mas, eram também modernas como os a rranha-céus,
pois o povo continuava a cantá- las (SANDBURG, 1943:VIII).
Isso representa uma concepção de que a cultura popular continua a fazer-se, nos
lugares que cabe ao pesquisador da cidade descobrir. Outra coletânea de canções folclóricas, o
livro de John e Alan Lomax, American Ballads and Folk Songs, contêm uma perspectiva
semelhante. Embora, os autores afirmem que o avanço da civilização industrial está
aumentando a dificuldade de se achar cantores populares, as baladas continuam a existir.
Encontra-se ela guardada pelo: “‟cowboy‟, o mineiro, o vagabundo, o lenhador, o soldado, o
marinheiro, o negro agricultor (assim como pelo seu sofisticado sobrinho da cidade), o
velejador dos Grandes Lagos, etc.” (LOMAX; LOMAX, 1994:XXVIII). Todos esses tipos
compunham canções cujos conteúdos descreviam suas experiências cotidianas. A face iletrada
dos sujeitos populares é ressaltada como valor positivo, pois, significa a experiência
espontânea, a qual não se filtrou na elaboração intelectual típica da literatura: Q uando
reconhecido o valor próprio da cultura popular, o “poema folclórico”, como chamado pelos
autores, ganha qualidade estética comparável à literatura clássica. Assim, convergindo com as
ideias de Sandburg, acreditam que a canção folclórica americana possui valor amplo valor
humanístico.
We offer a composite photograph of what we and other, in Field and Forest, on
mountain and plain, by the roadside and in the cabin, on big cane or cotton
plantations and in prison camp, have set down of the songs of the people – isolated
groups, interested only in an art which they could immediately enjoy, and thus an art
that reflected and made interesting their own customs, dramas, and dreams. Grimm
has said that the folk song composes itself. It ‟s music comes straight from the heart
of the people, and its idioms reveal their daily habits of speech. Furthermore, the
individual author is so unimportant that he usually is lost sight of altogether.
(LOMAX; LOMAX, 1994:XXVIII)
A noção de povo anônimo, que compõe a si mesmo, é uma herança da grande
corrente de estudos folclóricos do século XIX. A pesquisa, a coleta e a catalogação de
material, criaram um grande corpus de objetos da cultura popular, que passa a refluir para o
“povo”. “Assim, um folclorista ajuda a criar o folclore que outros virão coletar”(BURKE,
Sandburg reflete a mistura da ideologia de esquerda com um nacionalismo populista, que formavam as bases
intelectuais do autor, cf. (COHEN, 2002:11).
1992:108). Do mesmo modo, inventam o que é chamado de cultura popular, e, porventura,
folclore.
Segundo Roger Chartier, até recentemente a pesquisa de cultura popular foi
caracterizada por essa concepção folclórica, para a qual o povo tradicional está a desaparecer:
Foi assim de um extremo ao outro de uma cultura de massa cujos novos meios de
comunicação supostamente destruíram uma cultura antiga, criat iva, plural, livre. O
destino historiográfico da cultura popular, portanto, é ser sempre sufocada,
reprimida, destruída, e ao mesmo tempo sempre renascer de suas cinzas. Isso
certamente indica que o verdadeiro problema não é tanto de datar seu
irremediável desaparecimento mas de considerar, para cada época, a maneira
como se estabelecem as relações complexas entre formas impostas, mais ou
menos opressivas e imperativas, e identidades afirmadas, mais ou menos
expandidas ou refreadas (CHARTIER, 2004:15). [Grifo meu]
O historiador francês propõe, portanto, que se abandone essa perspectiva folclórica,
em favor de “uma abordagem diferente, que concentre sua atenção nos empregos
diferenciados, nas apropriações plurais dos mesmos bens, das mesmas ideias, dos mesmos
gestos” (CHARTIER, 2004:12). Destarte, podemos apreender o folclore como uma prática
que se apropria de materiais e objetos que circulam numa determinada sociedade; para a qual
se designa o qualificativo de popular.
As músicas de protesto dos anos 1960 são, nesse sentido, uma apropriação de objetos
consagrados pelo cancioneiro; as canções folclóricas são retomadas com fim à servirem de
veículo para as letras engajadas. Contudo, a própria forma folclórica assume seu significado
próprio, senão maior, se entendido que ela articula um passado indeterminado, chamado para
se contrapor ao presente insatisfatório.
A sociedade americana do início dos anos 1960 vivia a época de prosperidade
econômica, em que se via emergência de uma classe média de técnicos e administradores, que
gozavam dos produtos oferecidos pela maior civilização industrial, caracterizando-a como
cultura de consumo. Porém, essa sociedade industrial, assentava-se seu funcionamento
econômico-social, naquilo que David Harvey chamou de fordismo: um conjunto de práticas
de controle sociais, que se estendem ao âmbito do trabalho, da tecnologia, da universidade,
definindo hábitos e configurações do poder político-econômico. Para Harvey, o modelo de
sociedade corporativista, baseada na racionalização da produção e do consumo de massa, que
vigorou nos EUA de 1945 a 1973, foi a base material dos vários “movimentos contraculturais
e antimodernistas dos anos 60”. Nas palavras do autor:
Antagônicas às qualidades opressivas da racionalidade técnico-burocrática de base
científica manifesta nas formas corporativas e estatais monolíticas e em outras
formas de poder institucionalizado (inclu indo partidos políticos e sindicatos
burocratizados), as contraculturas exploram os domínios da auto -realização
individualizada por meio de uma polít ica distintivamente "neo-esquerdista"da
incorporação de gestos antiautoritários e de hábitos iconoclastas (na música, no
vestuário, na linguagem e no estilo de vida e da crítica da vida cotid iana)
(HARVEY, 1992:44).
Portanto, o folclore, remetendo a um passado pré-industrial e bucólico, oferecia aos
ativistas políticos da década de 1960 um tempo antagônico ao que experimentavam no seu
presente. A própria referência ao passado é intrínseca a forma da música folclórica, uma vez
que o folclore carrega a concepção de uma suposta cultura popular que pouco a pouco, a
medida da modernização e industrialização da sociedade, foi sendo perdida. Ao mesmo
tempo, o folclore eleva a suposta cultura do “povo” ao status de tradição autêntica – nacional
e democrática – um passado que se guarda mas, também, ao qual se invoca no presente. Ou
seja, possuindo referência intrínseca a um tempo pré- industrial, o folclore possui em si a
nostalgia de um pretérito indeterminado, que todavia revela-se como ponto de estabilidade
para a ação.
FONTES
Registros fonográficos:
Almanac Singers. Talking Union. LP, Keynote, 1941.(CD, Smithsonian Folkways
Recordings, 2007)
BAEZ, Joan. Live At Newport. 1959 – 1965. CD, Vanguard. DYLAN, Bob. Bob Dylan. Columbia, LP, 1962. (CD, 2005,)
___________. The Freewhelin’ Bob Dylan. Columbia, LP, 1963. (CD, 2004)
___________. The Times They A-Changin’. LP, Columbia, LP, 1964. (CD, 2005)
___________. Bringing All Back Home. Columbia, LP, 1965. (CD, 1990)
___________. Highway 61 Revisited. Columbia, LP, 1965. (CD, 2004) OCHS, Phil. All The News that’s fit to sing. Hannibal, LP, 1964. (CD, 1995)
_________. I’ain’t Marching anymore. Hannibal, LP, 1965. (CD, 1995)
PAXTON, Tom. Ramblin’ Boy. LP, Electra, 1964. (CD, 2005)
_____________. Ain’t That News! LP, Electra, 1965. (CD, 2005)
PETER, Paul, Mary. Peter Paul & Mary. Warner Bros, LP, 1962. (CD, 2003) PETER, Paul, Mary. In the Wind. Warner Bros, LP, 1963. (CD, 2005)
PETER, Paul, Mary. Moving. Warner Bros, LP, 1963. (CD, 2006)
SEEGER, Pete. American Industrial Ballads. Smithsonian Folkways, LP,1957. (CD, 1993)
____________. American Favorites Ballads IV. Smithsonian Folkways, LP,1961. (CD, 2006)
____________. “We Shall Overcome” Carnegie Hall Concert Live June 8, 1963. 2 CD, Columbia, 1989.
____________. Dangerous Songs!? Columbia, LP,1966. (CD, 1998,)
NARA, Leão; KETI, Zé; VALE; João do. Show Opinião. LP Philips,1965. (CD, Universal Music, 2004)
Sing For Freedom: The Story of the Civil Rights Movement Through Its Songs. CD,
Smithsonian Folkways, 1990. Documentos Textuais:
Compêndios de canções folclóricas:
SANDBURG, Carl. The American Songbag. New York: Harcourt, Brace & Company,
1943.
LOMAX, John; LOMAX, Alan. American Ballads and Folk Songs. New York: Dover Publications, 1994.
BIBLIOGRAFIA
ANDERSON, Terry. H. The movement and the sixties. Oxford, New York: Oxford University Press, 1995
BAER, Cheryl LS. Concurrent Revolutions: Rock & Roll and the Civil Rights Movement.
Thesis/Project. (Master of Social Sciences)_– The Faculty of Humboldt State University. Califórnia, 2005.
BASKERVILLE, John D. Free Jazz: A Reflection of Black Power Ideology. IN: Journal of
Black Studies, Vol. 24, No. 4. (Jun., 1994), pp. 484-497.
BURKE, Peter. A cultura popular na idade moderna : Europa, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
CATENACCI, Vivian. Cultura Popular entre a tradição e a transformação. IN: São Paulo em
Perspectiva. São Paulo, v. 15, n. 2, 2001
CHARTIER, Roger. Leitura e leitores na França do Antigo Regime . São Paulo; Ed. Unesp, 2004.
COHEN, Ronald. D. Rainbow quest: the folk revival and American society. 1940 -1970. University of Massachusetss Press, 2002
DAHLHAUS, Carl. Foundations of music history. Cambridge: Cambridge University Press,
1983. D‟ANGELO, Raymond. The American Civil Rights Movement. Readings and
Interpretations. McGraw-Hill/Dushkin, 2001.
DENISOFF, R. Serge. Protest Movements: Class Consciousness and the Propaganda Song. IN: The Sociological Quarterly. v. 9 (2) , 228–247. 1968.
____________.; LEVINE, Mark H. The Popular Protest Song: The Case of "Eve of Destruction". IN: The Public Opinion Quarterly, Vol. 35, No. 1, (Spring, 1971), pp. 117-
122 DESMOND, J.; McDOUNAGH, P.; O‟DONOHOE, S. Counter-Culture and Consumer
Society. IN: Consumption, Markets and Culture Volume 4, Number 3, p. 241 -279. DOSSE, François. Introdução. Ensaio de Ego-história: percurso de uma pesquisa. IN:
História e Ciências Sociais. Bauru, SP: Edusc, 2004.
EDELMAN, Marc. Social Movements: Changing Paradigms and Forms of Politics IN: Annual Review of Anthropology, Vol. 30. (2001), pp. 285-317.
EYERMAN, Ron. BARRETA, Scott. From the 30s to the 60s: The Folk Music Revival in the United States. IN: Theory and Society. n.25, pp. 501-543, 1996.
FILENE, Benjamin. Romancing the folk : Public Memory and American Roots Music. Chapel Hill, University of North Carolina at Chapel Hill, 2000.
GUINSBURG, Jacó. Romantismo, Historicismo, e História. IN: GUINSBURSG, JACÓ.
[org.] O Romantismo. Ed. Perspectiva: São Paulo,1985. HARVEY, David. Condição pós-moderna: Uma pesquisa sobre as Origens da Mudança
Cultural. São Paulo: Edições Loyola, 1992.
ISSERMAN, Maurice.; KAZIN, Michel. America divided : the Civil War of the 1960‟s. Oxford, New York: Oxford University Press, 2000.
JAMISON, Andrew.; EYERMAN, Ron. Seed of the Sixties. Berkeley, California: University of California Press, 1994.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado. Rio de Janeiro: Contraponto, Puc Ed-Rio, 2006.
KRAMER, Michael J. The Civics of Rock : Sixties Countercultural Music and the Transformation of the Public Sphere. Chapel Hill, University of North Carolina at Chapel
Hill, 2006.
_________________. The Multitrack Model. Cultural History and the Interdisciplinary Study of Popular Music. IN: JACKSON, Jeffrey H.; PELKEY, Stanley C. (org) Music and History. Bridging the Disciplines. Jackson, University Press of Mississippi, 2005.
LANKFORD, Ronald D. Folk Music USA: the changing voice of protest. New York:
Schirmer Trade Books, 2005. LEUCHTENBURG, W (org). O Século Inacabado: a América desde 1900. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1976.
LIEBERMAN, Robbie. “My Song Is My Weapon” People‟s Songs, American Comunismo, and the Politics of Culture, 1930-50. Chigago: University of Illinois Press, 1995.
MARCUSE, Herbert. Cultura e Sociedade. v.1. 2.ed. SP: Paz e Terra, 1997
MITCHELL, Gillian A. M. Visions of Diversity: Cultural Pluralism and the Nation in the Folk Music Revival Movement of the United States and Canada, 1958–65. IN: Journal of
American Studies, 40, 3, (2006), pp. 593–614.
MORRIS, Aldon D. A Retrospective on the Civil Rights Movement: Political and Intellectual Landmarks. IN: Annual Review of Sociology, Vol. 25. (1999), pp. 517-539.
NASSTROM, Kathryn L. Beginnings and Endings: Life Stories and the Periodization of the
Civil Rights Movement. IN: The Journal of American History, Vol. 86, No. 2, Rethinking History and the Nation-State: Mexico and the United States as a Case Study: A Special Issue. (Sep., 1999), pp. 700-711.
ORTIZ, Renato. Românticos e Folcloristas. Cultura Popular. São Paulo: Olho D‟Água,
1992. ROSZAK, T. A Contracultura: Reflexões sobre a sociedade tecnocrática e a oposição
juvenil. Petrópolis: Vozes, 1972.
ROY, William G. Aesthetic Identity, Race, and American Folk Music. IN: Qualitative
Sociology, Vol. 25, No. 3, 2002. pp. 459-469.
SOLIE, Ruth A. Melody and the Historiography of Music. IN: Journal of the History of
Ideas, Vol. 43, No. 2. (Apr. - Jun., 1982), pp. 297-308.
VALLE, Maria Ribeiro do. Herbert Marcuse e a defesa da violência revolucionária nos anos 60. IN: Estudos de Sociologia, Araraquara, 15, 45-61, 2003
TACHI, Mikiko. Commercialism, Counterculture, and the Folk Music Revival: A Study of
Sing Out! Magazine, 1950–1967. IN: The Japanese Journal of American Studies , No. 15, 2004.
WEISSMAN, Dick. Which Side Are you On. An Inside History of the Folk Music Revival in America. New York: Continuum, 2005.