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Download Heitor Villa-Lobos, o músico educador - · PDF file2 2 Resumo A dissertação aborda as idéias de Heitor Villa-Lobos, contextualizando-as historicamente. A partir dos anos de 1930,

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  • CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E FILOSOFIA PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM HISTRIA

    Mirelle Ferreira Borges

    Heitor Villa-Lobos, o msico educador

    Dissertao de mestrado apresentada ao Departamento de Histria do Instituto de Cincias Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Histria.

    .

    Orientador: Prof. Dr. Jorge Ferreira

    Niteri

    2008

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    Resumo

    A dissertao aborda as idias de Heitor Villa-Lobos, contextualizando-as

    historicamente. A partir dos anos de 1930, o maestro colocou em prtica o

    seu projeto do canto orfenico cujo objetivo era ensinar a msica nas

    escolas, despertar o civismo e unir a nao, que cantaria a uma s voz.

    Apresentando a sua esttica monumental, Villa-Lobos inseriu-se num

    grupo de intelectuais que, a partir do apoio estatal, percebeu a

    possibilidade de colocar em prtica os seus projetos. Para isso, trabalhou

    intensamente na organizao dos espetculos orfenicos, que contavam

    com a presena de inmeros polticos importantes e atuantes no perodo.

    frente da SEMA (Superintendncia de Educao Musical e Artstica), o

    maestro organizava a estrutura administrativa necessria implementao

    do seu ideal. Pretendo recuperar o pensamento de Villa-Lobos enquanto

    educador e analisar a relao entre Estado e Intelectuais no perodo de

    1932 a 1945 utilizando os conceitos e mtodos oferecidos pela Histria

    das Idias e pela Histria Poltica Renovada.

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    Abstract This dissertation discusses the ideas of Heitor Villa-Lobos,

    contextualizing them historically. From years of 1930, the conductor put

    into practice the choral society project, whose goal was to teach music in

    schools, arouse civic pride and unite the nation, which would sing in one

    voice. Presenting his monumental aesthetic, Villa-Lobos entered into a

    group of intellectuals who, from the State support, saw the possibility of

    putting in practice their projects. For achieving that, he worked intensely

    organizing choral society spectacles, which was attend by numerous

    important engaged politicians at the period. As a director of SEMA

    (Superintendency of Artistic and Musical Education), the conductor

    organized the administrative structure wich was necessary to the

    implementation of his ideal. I plan to recover the Villa-Lobos thought as

    an educator, and analyze the relationship between the State and

    Intellectuals from1932 to 1945 using the concepts and methods provided

    by History of Ideas and the Renewed Political History.

    Palavras-chave: 1. Canto orfenico. 2. Intelectuais e Estado. 3. Heitor Villa-Lobos

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    SUMRIO

    Agradecimentos......................................................................................................................4

    Introduo..............................................................................................................................6

    Captulo I - Ministrio Capanema: Intelectuais e polticas pblicas

    1. O ministrio e suas polticas pblicas...............................................................................13

    2. Intelectuais, Estado e Ministrio Capanema ....................................................................36

    3. Villa-Lobos e a SEMA..................................................................................................... 51

    Captulo II - O pensamento de Heitor Villa-Lobos: Educao e Msica 1. As palavras do maestro.................................................................................................... 59

    2. Contextualizando as idias de Villa-Lobos...................................................................... 80

    Captulo III - O Brasil cantando a uma s voz: Estado, msica e nacionalismo

    1. A histria do canto orfenico........................................................................................... 87

    2. O embate entre Villa-Lobos e o Estado......................................................................... 108

    3. O nacionalismo de Villa-Lobos..................................................................................... 115

    Consideraes finais.........................................................................................................120

    Fontes.................................................................................................................................123

    Bibliografia.......................................................................................................................126

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    Agradecimentos

    So muitos a serem citados. Agradeo minha famlia e ao meu orientador pela

    compreenso e dedicao. Aos meus amigos que me distraam nos momentos mais difceis,

    aos meus alunos que me ensinam tanto em cada dia, aos meus colegas de trabalho que

    torceram tanto por essa pesquisa. Agradeo pelo incentivo, palavras de apoio e carinho.

    Aos funcionrios do Museu Villa-Lobos pela pacincia e boa vontade. A todos os que esto

    presentes em minha trajetria, pois representam para mim, sinceramente, alavancas de

    crescimento, possibilidades de aprendizado. O aprendiz estuda, se dedica e compreende que

    tem sempre mais a aprender. Quando nos deparamos com um desafio, enxergamos mais

    atentamente a importncia de todos os que esto ao nosso redor.

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    Introduo Na verdade, cada coisa [Ding] capaz de se modificar traz em si a prpria medida de seu tempo; essa medida continua existindo; mesmo se no houver mais nenhuma outra ali; no h duas coisas no mundo que tenham a mesma medida de tempo(...) Pode-se afirmar, portanto, com certeza e tambm com alguma audcia, que h, no universo, a um mesmo e nico tempo, um nmero incontvel de outros tempos.

    Johann Gottfried Von Herder

    Em tempos do Ministrio Gustavo Capanema, vrias caractersticas de outros

    tempos so superpostas. Embora fosse marcado pela inovao, o seu desenvolvimento

    contava com a elaborao de determinada cultura poltica que j se apresentava antes

    mesmo da ecloso do movimento modernista. Arrebatador, o Ministrio exps

    transformaes extremamente significantes nas esferas da Sade, Cultura e Educao. A

    partir da necessidade de construo de uma mentalidade que confortasse as vontades

    polticas daquele momento, intelectuais entram em cena descortinando os vus da

    nacionalidade que deveria ser construda.

    Diante de contexto to desafiador, entra em cena o Maestro. O compositor Heitor,

    de mente efervescente, capaz de criar fantsticas histrias que sero repassadas por

    geraes e geraes, repetidas em diversos momentos da historiografia. Heitor Villa-Lobos,

    o msico educador, desenvolveu na dcada de 1930 um projeto educacional que pretendia

    estabelecer o ensino do canto nas escolas, cujo objetivo era despertar o gosto pela msica, o

    civismo e a cidadania, que, naquele momento, apresentava linhas bem diferentes dos

    tempos atuais.

    Antes mesmo dos laos unirem as polticas pblicas implementadas no Ministrio

    Capanema aos projetos do maestro, uma gerao de intelectuais iniciava a atuao no palco

    da construo do cenrio nacional. Diversas tendncias surgiram, a educao se tornou a

    arena de debates onde as bases da construo da nacionalidade se consolidariam.

    Representantes de diversos setores, militares, Igreja, intelectuais de Minas Gerais, Rio de

    Janeiro, So Paulo, integrantes do movimento modernista, escreviam ento as suas verses

    da histria.

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    Recm-chegado da Frana, em fevereiro de 1932, o maestro Villa-Lobos recebeu de

    Ansio Teixeira o convite para chefiar o Servio de Msica e Canto Orfenico da capital da

    Repblica. Acusado por alguns estudiosos de aceitar o projeto apenas por uma questo

    monetria, o msico trabalhou exaustivamente para implementar o seu projeto, organizando

    ento inmeras concentraes orfenicas em diversos estados do Brasil, convidando a

    nao a cantar a uma s voz. O propsito era a integrao, nas palavras do maestro a

    elevao das almas pela msica. Destinadas a estudantes, trabalhadores, donas de casa,

    ricos, pobres, militares, civis, as concentraes apresentavam a verdadeira majestade da

    monumentalidade pretendida.

    Em 1932, Getlio Vargas assinou um decreto que tornava obrigatrio o ensino do

    canto orfenico em todas as escolas no Brasil, ou seja, o Estado patrocinou o projeto de

    Villa-Lobos. De 1932 a 1941 o msico se dedicou s pesquisas sobre educao musical,

    elaborando textos, mtodos e aulas que se encaixassem no perfil das escolas brasileiras.

    Assim, para facilitar o ensino de ritmo, regncia de corais e notao musical, criou o

    sistema de Manossolfa. Em 1936, Villa-Lobos foi convidado para apresentar seu plano

    educacional no I Congresso de Educao Musical de Praga, sendo o nico representante da

    Amrica Latina.

    Para entender o elo existente entre Villa Lobos e o Estado, importante

    contextualizar historicamente o perodo em que Villa Lobos esteve inserido. Getlio

    Vargas, em 1930, representou uma ruptura histrica na relao Povo Presidente da

    Repblica. Getlio criou normas trabalhistas e voltou-se para a negociao com o povo.

    Segundo ngela de Castro1, existiu um sistema de troca simblica, uma negociao entre o

    presidente e os trabalhadores. No se trata de uma classe trabalhadora manipulada e sem

    conscincia. As pes