heidegger e a verdade (ul ph.d)

Upload: carlos-renato-lopes

Post on 08-Oct-2015

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

dissertation chapter

TRANSCRIPT

A Verdade Ontolgica em Heidegger e a Tradio MetafsicaCarlos Renato Lopes"Facts sometimes have a strange and bizarre power

that makes their inherent truth seem unbelievable." Werner Herzog, Lessons of Darkness, 1999

Uma silenciosa conivncia habita a espessura de uma

experincia que um enuncia e outros declaram verdica.

Michel de Certeau, A Cultura no Plural, 1974

A problemtica da verdade e a busca de sua compreenso se confundem, de certa forma, com a prpria histria da filosofia ocidental, ou pelo menos com uma longa e estabelecida tradio metafsica de se fazer filosofia. De Plato aos pragmticos norte-americanos do sculo XX, dificilmente encontraremos uma corrente ou escola de pensamento filosfico que no tenha, em maior ou menor grau, se debruado sobre a questo.

Abordar o tema da verdade pela filosofia de Heidegger pode soar, a princpio, como uma tarefa um tanto desafiadora. Seu pensamento bastante complexo e, alm disso, suas contribuies no parecem ter sido muito exploradas em conexo com os estudos de linguagem e discurso. De qualquer maneira, a partir da investigao de um primeiro Heidegger, o de Ser e Tempo (1927/1995), possvel encontrar conceitos que dialogam bastante de perto com o tipo de discusso que pretendo fazer da problemtica da verdade no discurso sobre as lendas urbanas.

A proposta aqui tomar como base o que o filsofo escreve sobre a verdade, especificamente no pargrafo 44 da Primeira Parte daquela obra e no ensaio Sobre a Essncia da Verdade (1930/1961), e a partir da apropriar-me das idias que podem de alguma forma iluminar o percurso que aqui comeo a desenhar. Obviamente, isso significa passar ao largo de toda uma intricada rede de argumentao filosfica, que o autor define como ontologia fundamental alicerada sobre a questo do Ser, e concentrar-se prioritariamente sobre como verdade e no-verdade ecoam no cotidiano e nas formas concretas isto , nas prticas de ser-no-mundo.

Entretanto, no possvel chegar s idias que o autor avana sobre a verdade simplesmente desviando-se da questo do Ser, da qual indissocivel. Faz-se necessrio traar pelo menos um resumo simplificado da argumentao de Heidegger que ir desembocar no aspecto que julgo mais relevante para meu propsito. E, nessa tarefa, muito me auxiliaram as leituras de comentadores da obra do filsofo, obra essa cuja leitura representa por si s um caminho espinhoso (mas no menos compensador) de entendimento.

Em Ser e Tempo, Heidegger abre sua reflexo propondo o conceito operacional de Dasein (o ser-a) para dar conta de seu projeto de descrever o modo de existncia do ser-no-mundo. O Dasein um construto, uma instncia que se projeta, por assim dizer, em direo compreenso do Ser em sua totalidade. Para Heidegger, a inclinao metafsica de toda uma tradio filosfica que se inicia com o platonismo levou a um gradual esquecimento da especificidade do Ser, em privilgio de uma ciso entre ente e ser e o eventual apagamento deste ltimo. De Plato a Nietzsche, e entre estes Aristteles, os romanos, Descartes e Kant, todos, sua maneira, postularam uma forma de metafsica que foi gradualmente construindo o ente como essncia, ou nica modalidade que baliza a existncia e o prprio conceito de verdade quer num sentido idealista, quer num sentido racional-cientfico. Vejamos, em brevssimas pinceladas, como isso se deu.

Plato, o pai de toda a metafsica, lanou a base da tradio que coloca o ser num mundo das idias, em oposio ao ente vivente concreto. Aristteles, por sua vez, aparentemente materialista e portanto oposto a Plato, tambm precisou partir daquela suposta diviso postulada por Plato. Era o perodo em que a idia de verdade se estabelecia como a de correspondncia s coisas adequao do olhar ao objeto, ou seja, do modo de ver natureza das coisas. Na poca dos romanos, caracterizada pela asceno do conceito de imprio, comeava-se a abrir mo do platonismo em privilgio da noo de correo. Ser verdadeiro era ter uma viso correta, justa da realidade. A partir dos modernos, fundamentalmente com Descartes, o ente alou-se condio de sujeito cognoscente, ente supremo a partir do qual todo o conhecimento e toda a verdade estavam condicionados. Como sintetiza Marcondes: A verdade torna-se assim uma relao sujeito-objeto, base de toda nossa concepo de epistemologia, central no pensamento moderno, mas originando-se, de acordo com esta interpretao, j na teoria platnica do conhecimento (1997/2005: 267). Finalmente, Nietzsche, ao negar categoricamente qualquer essncia ao ser o ente sendo tudo o que restou da metafsica , desponta como o ltimo dos metafsicos, segundo a leitura de Heidegger.

Olhando retrospectivamente para essa tradio, sem no entanto se colocar fora dela, Heidegger ir propor uma espcie de passo atrs em direo aos pr-socrticos, com quem se plantou (no por muito tempo) uma compreenso inicial do ser indissociado do ente. Heidegger faz isso no como nostalgia, mas como uma espcie de revelao do destino abortado da compreenso do Ser como fundamento da existncia destino esse que a metafsica tratou de obscurecer at sua mxima potncia, esquecendo-se de que se esqueceu do Ser. Em suma, a metafsica abandonou o ser como h (lampejo, fora, revelao) e abraou o ser como . Da o curioso paradoxo: o ente , mas o ser no .

Para resgatar o Ser em sua especificidade, isto , o carter ontolgico da existncia, preciso romper com o sentimento mais imediato que temos de ns mesmos, sentimento esse alicerado sobre dicotomias do tipo subjetividade e objetividade, mente e mundo, empirismo e idealismo. Como bem define Jonathan Re (2000: 8), a viso com a qual Heidegger busca romper est embutida na prpria alvenaria da filosofia ocidental, ao longo de toda sua histria, alm de mesclar-se ao prprio tecido de nosso auto-conhecimento cotidiano.

Bem entendido, o homem j nasce com uma certa vocao ontologia, alternando entre a compreenso que tem de si mesmo como fazendo parte de um universo de coisas que esto prontas--mo isto , as coisas que s existem porque tm uma funo, ou se relacionam com o homem de modo instrumental e a abertura para um conjunto de questes mais abstratas que o acompanham desde sempre, incluindo O que significa ser? e O que a verdade?. O que ocorre que o homem est to absorvido pela cotidianidade que tende a abstrair as coisas como perdidas numa coletividade impessoal, agindo como um mero ser-entre-as-coisas e se afastando de sua autenticidade.

Quando o homem est imerso nessa cotidianidade, e este um ponto que nos interessa mais de perto na discusso de nosso tema, ele engaja em atividades inautnticas, como o palavreado, a tagarelice e a curiosidade (e a incluiria os rumores), que so, segundo Heidegger, formas de corrupo do discurso, formas do senso comum de escapar do auto-conhecimento do Dasein. O apego a essas formas refora a impessoalidade trivial do modo mundano do ser-entre-os-outros. Quando tudo se torna acessvel a todos, numa facticidade disforme e indiferente, as coisas--mo tornam-se mais e mais instrumentalizadas, o que gera uma opacizao na relao estabelecida entre o ente e suas crenas.

Mas voltaremos a essa questo mais adiante quando investigarmos as relaes possveis entre as diferentes vises de verdade e a prtica das lendas urbanas. Por enquanto, sigamos buscando entender o que significa, ento, para Heidegger, ser autntico. Ora, no se trata de buscar um Ser essencial, subjetivizado, isolado do mundo e frente a frente com sua prpria individualidade. Antes, trata-se de compreender a natureza autenticamente incompleta e fragmentada do Ser em sua totalidade, visto que este marcado por uma falha constitutiva do prprio estar-no-mundo. Para ser autntico, o ente precisa se abrir para a liberdade de deixar-ser, deixar as coisas se revelarem como so. Ele precisa se descobrir, paradoxalmente, como irremediavelmente inautntico, vivendo imerso num universo de coisas prontas--mo. A inautenticidade, dessa forma, no um mero erro ou desvio moral, mas parte integrante da existncia autntica.

mesmo na abertura revelao como descobrimento, desvelamento que se coloca a questo da verdade. Para Heidegger, a verdade est indissocidada do Ser que a desvela, no sendo esta, portanto, uma propriedade independente das coisas. Toda a verdade relativa ao Ser do Dasein. A verdade existe necessariamente em funo do Dasein, pois medida em que busca o entendimento de si mesmo, o homem abre caminho para o desvelamento da verdade.

Heidegger ilustra essa proposio tomando como exemplo as leis de Newton. A descoberta de tais leis, segundo o autor, s possvel como resultado da projeo da existncia historicamente situada do Dasein, a qual pode nos desvelar um aspecto permanente da natureza como ela realmente . Em outras palavras, as leis, ao serem descobertas, mostram-se, pelo resultado da abertura verdade operada pelo Dasein, precisamente como entidades que j existiam antes. porque ocorre essa abertura que a cincia se encontra ao nosso alcance.

Num primeiro momento dessa discusso, talvez seja difcil ver de que maneira Heidegger se distancia de uma viso idealista de verdade uma verdade a cujo reino sublime precisamos ascender via conscincia transcendente, abrindo mo de nossas peculiaridades individuais, livrando-nos, enfim, de nossa mundanidade ordinria. Mas no nesses termos que o filsofo coloca a questo. Ao contrrio, para Heidegger, a origem e ncora de todo nosso conhecimento fundamentalmente ontolgica, isto , est atrelada modalidade do Ser enquanto ser-com, ser-entre outros, ser relacional. A conscincia, para o filsofo, no a de uma essncia subjetiva, mas antes a escuta de um lugar possvel de autenticidade, um lugar possvel de abertura a um desvelamento que, j por constituio, se apresenta como ocultamento em funo mesmo do modo de estar-no-mundo inerente ao Ser.

Mas Heidegger ir aprofundar um pouco mais essa problemtica da verdade quando fala da no-verdade e da errncia como instncias inseparveis da verdade, e no simplesmente como seus opostos lgicos. Se, como vimos, a verdade se d como desvelamento, porque nasce j como ocultao de sua totalidade. Pelo fato de estarmos todos invariavelmente sujeitos a essa ocultao (ou dissimulao), esta se torna pressuposto e fundamento para o desvelamento mesmo do ser-no-mundo. Ora, Heidegger vem ento dizer que esse ocultamento ele prprio ocultado, uma vez que, inseparvel de toda verdade, ele impede que essa ltima seja concebida como desvelamento total, no chegando nunca a ser reconhecido pelo ser-a como privao do desvelamento radical. Como resumem Waelhens e Biemel:[O] desvelamento sempre parcial, particular. Ele se d sobre um fundo de ocultamento que ele ajuda a dissimular por fora de seu prprio progresso. Aquilo que se sabe sobre um ente em particular empurra para a sombra o ente em sua totalidade; o prprio sucesso desse desvelamento implica a dissimulao daquilo que necessariamente oculto. (Waelhens & Biemel 1948: 47)

Tal concepo tem implicaes claras para a tentativa do homem de impor-se como medida de todas as coisas, uma vez que cego para esses esquecimentos. Conforme aponta Ernildo Stein, na tradio moderna, o sujeito sempre foi medida da verdade. Medida enquanto condio de possibilidade, e enquanto tal, o ser humano se apresenta como o padro para todas as proposies que se referem a situaes contingentes onde h verdade e falsidade (1993: 191). De fato, para Heidegger, na tcnica, no saber moderno da cincia, que se manifesta o apogeu dessa metafsica onde o ente tomado como a baliza de tudo.

Assim que o ser ex-istente torna-se in-sistente. O ente erra, e o faz desde sempre, isto , est condenado errncia. Errncia no como o simples erro acidental ou isolado, mas antes o domnio da histria daqueles emaranhados nos quais todos os tipos de erro se entrelaam (Heidegger 1930/1961, seo 7). E essa errncia e a dissimulao da dissimulao ou esquecimento, conforme referido anteriormente constituem-se como uma anti-essncia do homem, algo que do interior mesmo da essncia original da verdade, e a ela pertencendo, a ela se ope.

De onde se pode concluir que a verdade, em sua origem, se d sempre-j como no-verdade, no no sentido de oposto lgico verdade, mas antes no sentido de uma privao, uma incompletude, posto que opera dialeticamente, pela errncia do homem histrico, ou seja, pela manifestao da dissimulao/ocultamento de sua totalidade na errncia do cotidiano mundano. Conforme resume Stein:A verdade originria tem, justamente, este carter de negao da absolutidade, enquanto nela se d verdade e no-verdade como contrapontos que se completam. E a no-verdade introduzida no carter transcendental da verdade, justamente para no nos perdermos na idia de que apenas verdade se constitui em fundamento de toda a verdade, de transparncia, de apoditicidade, de absolutidade, etc. (Stein 1993: 190)

Ainda assim, em mais uma demonstrao de seu pensamento dialtico que visa a eliminar as facilidades de uma lgica binria, Heidegger nos lembra que se o homem conseguir vivenciar essa errncia como errncia, e no simplesmente se deixar debater ou absorver por ela, poder se orientar dialeticamente, j que uma coisa funda ou est dentro da outra em direo verdade essencial.

Como observamos, Heidegger busca romper com uma tradio metafsico-epistemolgica ao resgatar o Ser e a verdade em seu carter ontolgico. No entanto, preciso que se tenha claro que tal ruptura no se pode dar simplesmente do exterior da tradio, como se se pudessem apagar em toda sua extenso, e por uma deciso voluntariosa, os conceitos submetidos reviso. o que postula Derrida, ao falar da dupla marca. Para ele, no h sentido abandonar os conceitos da metafsica para abalar a metafsica, uma vez que no possumos nenhuma linguagem que seja estranha a essa histria; no podemos enunciar nenhuma proposio destruidora que no se tenha j visto obrigada a escorregar para a forma, para a lgica e para as postulaes implcitas daquilo mesmo que gostaria de contestar (1967/2002: 232).

Cada emprstimo especfico faz vir a si toda a rede de significaes do qual retirado. Assim que, embora Heidegger esteja negando a possibilidade de descoberta de uma verdade absoluta, est falando ainda de uma verdade originria. Assim que, enquanto est falando de verdade e no-verdade como elementos dialeticamente constitutivos dessa essncia de verdade, est falando ainda de verdade nos termos de uma presena a si.

Mas, aparentemente, no h como escapar desse jogo, para usar o termo derridiano. Derrida, ele mesmo, em seu A Farmcia de Plato elabora a problemtica da verdade-como-presena j se apoiando na discusso que Heidegger pde avanar. Fala da no-verdade, isto , da desapario da verdade enquanto presena, como sendo a condio mesma de manifestao da verdade. Em uma relao de suplemento. Diz que a iterabilidade a possibilidade de repetio, duplicao a condio pela qual o ente-presente pode ser nico, idntico a si. Mais especificamente: o verdadeiro e o no- verdadeiro so espcies de repetio. E s h repetio possvel no grfico da suplementaridade, acrescentando, na falta de uma unidade plena, uma outra unidade que vem supri-la, sendo ao mesmo tempo a mesma o bastante e outra o bastante para substituir acrescentando (1972/2005: 121). Enfim, Derrida desloca a questo, elabora sua discusso sobre uma base de termos que ecoa familiarmente a filosofia heideggeriana, mas no necessariamente suplanta essa filosofia.

Heideggers Ontological Truth Versus the Metaphysical TraditionThe search for truth is, to a certain extent, co-extensive to the very history of Western philosophy, or at least to a long established metaphysical tradition of doing philosophy. From Plato to the 20th century American pragmatists, we will hardly find a school or current of philosophical thought which has not, to a higher or lesser degree, examined this issue.

Let us begin to unravel this web by drawing on one of its many possible threads: Heideggers view of being and truth. In Time and Being (1927/1995), Heidegger starts off by proposing the concept of Dasein (the being there) to account for his project of describing the mode of existence of the being-in-the-world. The Dasein is a construct which projects itself, so to speak, towards the understanding of the Being in its totality. For the German philosopher, the metaphysical inclination of an entire philosophical tradition beginning with Platonism led to a gradual abandonment of the specificity of the Being (in capital letters), favoring a split between entity and being and the eventual erasure of the latter. From Plato to Nietzsche with Aristotle, the Romans, Descartes and Kant in between philosophical thought would posit one form of metaphysics which gradually constructed the entity as an essence, or the only category by which existence and truth could be measured, be it in an idealistic or rational-scientific sense.

Plato, the father of all metaphysics, set the ground for the tradition that places the being in a world of ideas, favoring it over the concrete living entity. Aristotle, in his turn, apparently a materialist unlike Plato, also needed to take that supposed divide for granted. It was the time when the idea of truth was established as one of correspondence to things an adjustment of the eye to the object, that is, of the way of seeing to the nature of things. In the Roman period, characterized by the rise of the concept of empire, Platonism began to give way to the notion of correction. Being truthful meant having the correct, fair view of reality. From modernity, fundamentally with Descartes, the entity was hoisted up to the condition of cognoscent subject, the supreme being to whom all knowledge and all truth were conditioned. Truth then became a subject-object relation, a central one in our very conception of epistemology. Finally, Nietzsche, by categorically denying any essence to the being the entity being all that was left from metaphysics stood out as the last of the metaphysicians, according to Heideggers reading.

Looking retrospectively at this tradition, without leaving himself outside it, however, Heidegger proposes a sort of step back in the direction of the pre-Socratics, with whom an initial understanding of the non-separation between being and entity came to place. Heidegger does that not in nostalgia, but rather as a sort of revelation of the aborted fate of the understanding of Being as the fundament of existence a fate which metaphysics set out to obscure to the full, forgetting that it forgot the Being. In sum, metaphysics abandoned the being as there is (a spark, a force, a revelation) and embraced the being as is. Hence the paradox: the entity is, but the being is not.In order to recover the Being in its specificity, that is, the ontological nature of existence, we must let go of the most immediate perception we hold of ourselves, a perception which is grounded on dichotomies such as subjectivity and objectivity, mind and world, empiricism and idealism. As Jonathan Re (1999: 2) points out, the view that Heidegger wishes to distance himself from is woven into the very fabric of Western philosophy, throughout its history, and is enmeshed into our quotidian self-knowledge.

Man is already born with a certain call for ontology, alternating between the understanding he has of himself as being part of a universe of things ready-at-hand things which only exist because they serve a function or which relate to man in an instrumental way and the opening up to a set of more abstract questions that accompany him throughout life, including: What does being mean? and What is truth?. What occurs is that man is so absorbed by everydayness that he tends to abstract things as lost in an impersonal collectivity, acting as a mere being-among-things and moving away from authenticity.

When man is immersed in this everydayness (and this is a point which more closely interests us here), he engages in inauthentic activities, such as curiosity, ambiguity and idle talk (rumors included), which are, according to Heidegger, modes of corrupted discourse, common sense forms of evading the self-knowledge of Dasein. The attachment to those forms reinforces the trivial impersonality of the being-among-others mundane world. When everything becomes accessible to all, in an indifferent and shapeless factuality, the things-at-hand become more and more instrumental, which leads to an opacity in the relation between the entity and its beliefs.

But what does being authentic actually mean for Heidegger? It is certainly not a question of searching for an essential, subjectivized, isolated Being face to face with its own individuality. Rather, it is a question of comprehending the authentically incomplete and fragmented nature of the Being in its totality, since the Being is marked by a constitutive flaw of the very being-in-the-world. To be authentic, the being needs to open up to the freedom of letting-be, letting things reveal themselves as they are. The being needs, paradoxically, to find itself as inescapably inauthentic, living immersed in an universe of ready-at-hand things. Thus, inauthenticity is not merely an error or moral flaw, but an integral part of authentic existence.

It is actually in the opening towards revelation as discovery, unveiling that the question of truth comes to place. To Heidegger, truth is inseparable from the Being that unveils it. It exists necessarily as a function of Dasein, for once man searches for self-understanding, he opens himself up to the unveiling of truth.

It might seem at first that Heidegger hardly moves away from an idealist view of truth a truth to whose sublime realm we need to ascend via transcendental awareness, letting go of our individual peculiarities, ridding ourselves of our ordinary everydayness. However, it is not in those terms that Heidegger puts the question. On the contrary, for Heidegger the origin and anchor of all knowledge is fundamentally ontological, that is, it is bound to the category of Being as being-with, being-among-others. Relational being. Awareness, for the philosopher, is not of a subjective nature, but rather the listening of a possible place of authenticity, a possible place of opening to an unveiling which, already by constitution, presents itself as veiling due to the very mode of the being-in-the-world that is inherent to Being.

But Heidegger goes deeper into the problematic of truth when he talks about non-truth and errancy as inseparable from truth, and not merely as its logical opposites. If, as we have seen, truth is unveiling, it is because it is already born as veiling its totality. The fact that we are all invariably subject to this veiling (or dissimulation) makes it a presupposition and fundament to the very unfolding of the being-in-the-world. As Waelhens and Biemel summarize:The unveiling is always partial, particular. It takes place against a backdrop of veiling which it helps to dissimulate by force of its own progress. That which is known about an entity in particular casts to a shadow the entity in its totality; the very success of that unveiling implies the dissimulation of that which is necessarily occult. (Waelhens and Biemel 1948: 47, my translation)

Such a conception has clear implications for mans attempt to impose himself as the measure of all things, since he is blind to that forgetting. As Ernildo Stein points out, in the modern tradition, the subject has always been the measure of truth a condition of possibility and as such, the human being presents him/herself as the yardstick for all propositions referring to contingent situations where there is truth or falsity (Stein 1993: 191, my translation). In fact, for Heidegger, it is in technology and in the modern knowledge of science that the zenith of that metaphysics occurs, whereby the entity is taken to be the reference for all things.

It is thus that the entity errs. And it has always done it. In other words, it is condemned to errancy understood not as the mere accidental or isolated mistake, but rather the domain of the history of those entanglements in which all types or errors get caught (Heidegger 1930/1961, section 7). And this errancy and the dissimulation of the dissimulation or forgetting constitute the anti-essence of man, something that, from within the original essence of truth, and belonging to that essence, is opposed to it.

We may then conclude that truth, at its root, is always-already non-truth not in the sense of a logical opposite to truth, but rather in the sense of deprivation, an incompleteness, since it operates dialectically, through historical mans errancy that is, through the manifestation of the dissimulation/veiling of its totality in the errancy of everyday life.

Even then, in one more demonstration of this dialectical thinking which looks to eliminate the facility of binary logics, Heidegger reminds us that if man can experience this errancy as errancy, and not simply let himself be absorbed by it, he may guide himself towards essential truth.

So, as we have seen, Heidegger tries to break away from an epistemological-metaphysical tradition by recovering the Being and truth in their ontological nature. Nevertheless, it must be made clear that such rupture just cannot take place from outside that tradition, as if the concepts which are being subject to revision could be erased in all their extension, and by some voluntary decision. That is what Derrida claims when he speaks of trace. For him, there is no sense in abandoning the concepts of metaphysics in order to shake metaphysics, since we do not possess any language that is strange to this history. [W]e cannot enunciate any destructive proposition that will not have been forced to slip into the shape, the logic and the implicit postulations of that which it itself would like to contest (Derrida 1967/1989: 152). Each specific borrowing brings to surface (or bears the trace of) a whole web of meanings from which it is taken. It is in this sense that Heidegger, although denying the possibility of the discovery of an absolute truth, is still talking about an original truth. It is in this sense that, while speaking of truth and non-truth as dialectically constitutive elements of that essence of truth, he is still talking about truth in terms of presence.

We could perhaps appreciate Heideggers lesson that everydayness or rather, situatedness is the only social space we can be inhabit. If we live inauthentically, negotiating our meanings through idle talk, ambiguity and curiosity, that is the only site from within which we may eventually open ourselves up to a different, more democratic, truth. Becoming aware of the very space we speak from sounds like a basic move, but it is definitely a first step (sometimes a very difficult one) that we as mere entities can take towards critically reading our cultures artifacts legends, rumors, fictions, and objective truths all included.

Thus, erring, according to Heidegger, is being immersed in a universe in which the ready-at-hand things, inasmuch as they are apprehended in their relation with man, become instrumental. Sure, Heidegger sees there the very operating mode of the entity in its forgetfulness of Being. But it is precisely this immersion in half-blind, always partial everydayness that interests us here, more than a supposed forgotten essence.

Para os propsitos da exposio breve que estou traando aqui, seguirei usando a forma com letra maiscula quando quiser enfatizar o conceito heideggeriano de Ser em sua totalidade, embora esteja consciente de que a discusso a respeito das diferentes denominaes (incluindo o prprio Dasein) pode ser bastante mais tcnica.

Nesse percurso, Heidegger credita a Kant um momento privilegiado do pensamento filosfico, em que a questo da relao ser-tempo, fundamental na teoria do primeiro, pde ser mais claramente articulada. No entanto, Kant teria ficado a meio-caminho de um desenvolvimento aprofundado da questo, nos termos de Heidegger (ver Boutot 1991: 73-75).

Comentando o conceito de mundanidade de Heidegger, o socilogo Michel Maffesoli coloca a questo nos seguintes termos: o ser-aqui por constituio paradoxal, pois o que prprio do vivenciado, do saber e da experincia enraizada, o prprio da comunidade orgnica, s permite a existncia individual em relao ao dado: o que dado pela natureza, pelo grupo (...) O grupo, enquanto limite espacial, permitindo pr em ordem a experincia individual (2004/2007: 72).

Heidegger remete ao conceito de aletheia, palavra usada pela tradio mtico-potica dos gregos para se referir verdade, e que significa precisamente no-ocultamento, desvelamento.

Nos termos de Heidegger, ex-istir estar do lado do ente, apegar-se a ele, posto que o que lhe mais acessvel pela prpria cotidianidade.

A propsito, Waelhens e Biemel (1948: 55) apontam que a dialtica uma marca registrada da filosofia de Heidegger. No se trata, porm, da dialtica hegeliana, que busca superar as oposies numa sntese superior. Ao contrrio, na dialtica heideggeriana, as oposies so definitivamente insuperveis o que no significa uma destruio da unidade de seu pensamento. Antes diramos, como faria Derrida posteriormente (1972/2001a.) , tratar-se de uma desconstruo.

A reflexo de Derrida sobre a metafsica da presena , obviamente, muito mais complexa do que posso sugerir aqui. De qualquer maneira, lano mo especificamente dessa passagem no autor com o intuito de ilustrar um ponto-chave aqui: o de que no h ruptura sem re-insero, o novo sem a marca do velho.

Heidegger uses the concept of aletheia, the word used by the Greeks mythical-poetic tradition to refer to truth, which literally means unveiling.

Waelhens and Biemel (1948: 55) point out that dialectics is a hallmark of Heideggers philosophy. But unlike Hegels dialectics, which aims at subsuming the oppositions into a higher synthesis, Heideggers dialectics presents the oppositions as definitely unresolvable which, in any case, does not mean a destruction of the unit of his thought. Rather, we might say, as Derrida would do later (1972/2001), that this is a deconstruction.