heidegger – a historicidade da existência

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Heidegger – a historicidade da existência (Machado de Oliveira, Cristina G.) Temos em“Ser e Tempo”, a obra que eterniza o pensamento de Heidegger, pois,nela o filósofo faz uma revisão da metafísica e da questão ontológica, abordando toda a história da filosofia, buscando uma verdadeira reconstrução do problema e, talvez, sua possível resposta, como ele próprio falou: “Caso a questão do ser devaadquirir a transparência de sua própria história, é necessário, então que seabale a rigidez e o endurecimento de uma tradição petrificada e se removam osentulhos acumulados. Entendemos essa tarefa como destruição do acervo da antigaontologia, legado pela tradição”. [1] Esse caminho escolhido por Heidegger se revela como uma estratégia para organizar a pergunta fundamental de sua filosofia, porque toda consideração da realidade, daquilo que é, exige uma prévia consideração de qual é o “sentido do ser”, para que se possa chegar à questão privilegiada”, questão do ser: “Deve-se colocar aquestão do sentido do ser. Tratando-se de uma ou até da questão fundamental,seu questionamento necessita, portanto, de uma transparência conveniente. Porisso é preciso que se discuta brevemente o que pertence a um questionamento paraentão, a partirdaí, se poder mostrar a questãodo ser como uma questão privilegiada.” [2] Deste modo, podemos perceber queHeidegger procura demonstrar no bojo de sua obra, que a pergunta fundamental (sobre o sentido do ser) sempre esteve presente na filosofia desde os gregos, porém, segundo o filósofo, tal questão caiu no esquecimento,vejamos: “Embora nosso tempo se arrogue o progresso de afirmar novamente a ‘metafísica’, a questão aqui evocada caiu no esquecimento (...). A questão referida não é, na verdade, uma questão qualquer. Foi ela que deu fôlego às pesquisas de Platão e Aristóteles para depois emudecer como questão temática de uma real investigação. O que ambos conquistaram manteve-se, em muitas distorções e ‘recauchutagens”, até à Lógica de Hegel.” [3] Apesar de ter sido trivializada, como o próprio autor diz (Vide o Parágrafo 1º de“Ser e Tempo”, p. 27), porque a tradição equivocou-se, pensando que aquestão já estaria respondida, mas Heidegger revela o inverso. O que ocorreufoi uma verdadeira inadequação da linguagem em relação à questão. Sendonecessário afirmar as fronteiras entre o “sere o “ente”, entreo “ontológico” e o “ôntico”. A partirdeste aspecto, Heidegger procura explicitar a pergunta sobre o sentido do ser,usando um ente que possa clarificar o problema.

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A Historicidade Da Existência

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Heidegger a historicidade da existncia

Heidegger a historicidade da existncia(Machado de Oliveira, Cristina G.)

Temos emSer e Tempo, a obra que eterniza o pensamento de Heidegger, pois,nela o filsofo faz uma reviso da metafsica e da questo ontolgica, abordando toda a histria da filosofia, buscando uma verdadeira reconstruo do problema e, talvez, sua possvel resposta, como ele prprio falou:

Caso a questo do ser devaadquirir a transparncia de sua prpria histria, necessrio, ento que seabale a rigidez e o endurecimento de uma tradio petrificada e se removam osentulhos acumulados. Entendemos essa tarefa como destruio do acervo da antigaontologia, legado pela tradio.[1]Esse caminho escolhido por Heidegger se revela como uma estratgia para organizar a pergunta fundamental de sua filosofia, porque toda considerao da realidade, daquilo que , exige uma prvia considerao de qual o sentido do ser, para que se possa chegar questo privilegiada, questo do ser:

Deve-se colocar aquesto do sentido do ser. Tratando-se de uma ou at da questo fundamental,seu questionamento necessita, portanto, de uma transparncia conveniente. Porisso preciso que se discuta brevemente o que pertence a um questionamento paraento, a partirda, se poder mostrar a questodo ser como uma questo privilegiada.[2]Deste modo, podemos perceber queHeidegger procura demonstrar no bojo de sua obra, que a pergunta fundamental (sobre o sentido do ser) sempre esteve presente na filosofia desde os gregos, porm, segundo o filsofo, tal questo caiu no esquecimento,vejamos:

Embora nosso tempo se arrogue o progresso de afirmar novamente a metafsica, a questo aqui evocada caiu no esquecimento (...). A questo referida no , na verdade, uma questo qualquer. Foi ela que deu flego s pesquisas de Plato e Aristteles para depois emudecer como questo temtica de uma real investigao. O que ambos conquistaram manteve-se, em muitas distores e recauchutagens, at Lgica de Hegel.[3]Apesar de ter sido trivializada, como o prprio autor diz (Vide o Pargrafo 1 deSer e Tempo, p. 27), porque a tradio equivocou-se, pensando que aquesto j estaria respondida, mas Heidegger revela o inverso. O que ocorreufoi uma verdadeira inadequao da linguagem em relao questo. Sendonecessrio afirmar as fronteiras entre o ser e o ente, entreo ontolgico e o ntico.

A partirdeste aspecto, Heidegger procura explicitar a pergunta sobre o sentido do ser,usando um ente que possa clarificar o problema.

Desse modo, aplicado aoproblema do ser, o mtodo fenomenolgico utilizado por Heidegger leva-o acolocar como ponto de partida de sua reflexo aquele ser que se d a conhecerimediatamente, ou seja, o prprio homem.Aexistncia humana no um simples fato: ela articula, no prprio ato da suamanifestao, a questo do ser. Existir, habitar estaticamente na verdade doSer. Pensar, descobrir reflexivamente o caminho do Ser: no significa,originariamente, compreender algo, mas compreender que se est jsituado.[4] Portanto aquesto fundamental da filosofia no o homem mas sim o ser, no s do homemcomo de todas as coisas. Uma filosofia que colocasse o homem como centro depreocupao seria antes uma antropologia. Heidegger afirma que a questo quelhe preocupa no a existncia do homem e sim a questo do ser em seu conjuntoe enquanto tal. Logo, um dosobjetivos bsicos de sua obraSer e Tempo investigar o sentido do ser.Para efetuar tal tarefa, comeou investigando o ser que ns prpriossomos. Porm,Heidegger em sua obraO que isto filosofia?,mais especificamente emIdentidade e Diferena, desloca-se da problemtica imediata da existnciahumana, que o ocupou em Ser e Tempo, e dirige todas as suas reflexes para oprprio ser. Trata-se de tal forma que no a existncia humana o acesso deentrada para o ser, mas este mesmo que torna possvel a abertura para acompreenso da existncia humana. O trao marcante dessas reflexes ontolgicas constitudo pela penetrao cada vez maior no universo da linguagem, que passaa ser o horizonte no qual se poderia divisar o ser. O ser do segundo Heidegger uma espcie de iluminao da linguagem; no da linguagem cientfica, queconstitui a realidade para aproveitar-se dela, mas um ser que habita antes alinguagem potica e criadora, na qual se pode comemor-lo, isto , lembr-loconjuntamente, a fim de que no se cair no esquecimento. O ser no apresentado como ente algum, nem o princpio dos entes, nem o fundo darealidade. No tambm algo inefvel, pois aquilo que torna possvel alinguagem, sendo o responsvel pelo homem falar sobre as coisas. No sendo entealgum, nem princpio dos entes, o ser, de certa forma, identifica-se com o nada,mas apesar disso, ele . O ser um mistrio, no sentido de que no pode sercompreendido atravs de nenhum ente. O pensar essencial seria o pensar quejoga com o ser e se reflete nele, fazendo-o, ao mesmo tempo,surgir. Assim, emHeidegger, ao conceber o ser como forma e presena objetiva acabamos por tornarimpossvel o devir e a histria, ou seja, a existncia histrica do homem. Parasalvaguardar a historicidade da existncia esta a tese de Heidegger no sedeve entender, portanto, o ser como aquilo que comum a todos os entes, mascomo diferena de todo o ente. Enquanto diferena do ente Heidegger chamaprecisamente diferena ontolgica diferena entre o ser e o ente o ser ooutro do ente, ou seja, no-ente e neste sentido o nada, mas no comonihilabsolutum(nada absoluto) e sim como transcendncia em relao aoente. Desse modo,podemos dizer que a metafsica um pensamento de identidade e a ontologiaheideggeriana uma meditao da diferena, isso fica explcito no fragmentoheideggeriano a seguir:... O ser determinado apartir de uma identidade, como um trao desta identidade. Pelo contrrio, aidentidade, mais tarde pensada na metafsica, representada como um trao doser. Portanto, no podemos querer determinar a partir da identidade representadametafisicamente aquela que Parmnides nomeia...[5]. O ser da ontologiametafsica preenche os espaos para os quais se pode dirigir a existncia no seuprojetar-se e, portanto, impede o devir, enquanto presena objetiva, tal sersubordina a si e acaba por absorver em si o futuro. Heideggersalientaque de Parmnides aHegel e mesmo at o prprio Nietzsche, a metafsicadefine o ser comopresena (no sentido em que se diz que num lugar est presente um objeto)ou seja, como aquilo que, em vez de ex-sistere subsiste, in-siste, se d comoforma e visvel e pode, portanto, ser encontrado e de algum modo apreendido algo, portanto de objetivo. Concebido como presena objetiva, o ser cristaliza eanula o devir histrico. Pelo contrrio, enquanto o ser entendido, comHeidegger, como nada como o nada em que consiste o surgimento do ente oser assegura o futuro ao ente e, acima de tudo, aquele ente que a existncia ohomem, garante a possibilidade de futuro e, portanto, dodevir.

Heidegger esclarece do modo mais ntidopossvel que a existncia do homem enquanto poder ser que decide acerca de simesmo e que se escolhe a si prprio apenas possvel como compreenso do ser.Esta compreenso do ser o transportar-se para alm do ente abrindo o livrecampo de jogo do ser onde os entes se tornam patentes e onde a existncia dohomem pode projetar e ser existncia histrica em devir. Sendo assim, o pensamento da identidade pe o sernuma relao imediata com a conscincia. assim que a presena se degradatransformando-se num objeto que a linguagem apreende. Podemos perceber que apergunta principal de Heidegger : qual o sentido do ser?Em sua obraIdentidade e Diferena ele indaga: ... que significaser?...[6]Desse modo, ele substitui a pergunta dos filsofos clssicos o que oser? Pois, para ele, essa ficou indevida por estar clara eevidente. No se pode definir ohomem em relao a ele mesmo: ele no um sujeito isolado, pois antes de pensare mesmo de falar, vive em relao com as coisas, com os outros e com o mundo.Esta presena fundamental, cujo conhecimento uma das expresses privilegiadas,no exclusivamente um fato verificvel, mas um acontecimento vivido. O homem um sendo acontecendo, isto significa que em cada instante ele se manifesta noser. Entretanto, Heidegger nos recorda o carter pr-dado da existncia, poispara ele o homem no se liga imagem do mundo como uma coisa integrada numatotalidade: ele descobre-se sempre enraizado no j-a cujo horizonte o mundo.H entre o ser e o mundo uma diferena irredutvel uma vez que o homem capazde interrogar sobre a realidade e de englob-la. A isso Heidegger conceitua decompreenso, esta se desenvolve antes de toda a tomada de conscincia reflexiva,do mesmo modo que a situao se impem antes da reao afetiva. A existncia um meio-termo caracterizado por um movimento perptuo de vai-e-vem entre opr-dado na situao e a realidade desvelada na compreenso. Isso fica explcitona passagem: ... O homem propriamente esta relao de correspondncia, e somente isso. Somente no significa limitao, mas uma plenitude...[7]A existncia, nesse sentido, no para de reporem questo, superando-a, a realidade que a determina, sem deixar, portanto, deexistir nela. Segundo Heidegger, o cuidado que abre ao homem o universo dapresena. Definir a existncia como cuidado destruir a imagem clssica de umcogito isolado, recolhido sobre si. Graas ao cuidado o ser humanoexperimenta-se para alm do j-a. Neste horizonte da transcendncia,interpretamos o homem como um ser-no-mundo, o homem descobre-se sempre comoser-com. Isso fica explicito quando Heidegger afirma: ... Na presena est emjogo o seu poder-ser-no-mundo e, com isso, a ocupao que descobre nacircunviso o ente intramundano...[8].O ponto de partida necessrio de toda tentativa por determinar, em seurigor, o ser do ente em geral, o homem como ser-a ou Dasein, pois, de todosos entes, o homem o nico ao qual funcionalmente exigida uma soluo para oproblema do existir.Assim, criando uma terminologia prpria, Heidegger denominao modo de ser do homem, nossa existncia, com a palavra Dasein, cujo sentido ser-a, estar a, histrico e situado, e por isso j sempre um algo forjadonesta ou naquela situao. o acontecimento que tem a forma do salto, doimediato, no tendo nenhum sujeito ou causa que sustente isso por trs. Nessesentido ele lanado, jogado no mundo, e por isso o vivente sempre j se fez,pois existe a co-pertinncia entre homem e mundo, por isso no entendemos se ohomem fez o mundo ou vice-versa, pois a juno disso o prprio salto. E esseser-no-mundo o modo fundamental do homem, j que o ente nele mesmo umapossibilidade de ser no mundo antes de todo e qualquer eu, porm j sempresituado e imerso no jogo sujeito/objeto, pois realidade se faz realidade nessejogo. como Heideggerafirma:... Osalto a sbita penetrao o mbito a partir do qual o homem e ser, desdesempre atingiram juntos a sua essncia, porque ambos foram reciprocamenteentregues como propriedade a partir de um gesto que d A penetrao no mbitodesta entrega com propriedade dispem e harmoniza a experincia dopensar...[9]. Nesse sentido,Heidegger recusa-se a separar o ser do sendo, o sentido do dado: a aparentegratuidade do existente precisamente o sinal da presena do ser no seio domundo, o reflexo da transcendncia do sentido. No h, com efeito, qualquerpossibilidade de conhecer o sendo fora da luz do ser. Segundo ele o verdadeiromundo no o da ao ou o da contemplao; o da presena, ora, esta engloba osendo no seu conjunto como o existente humano. Desse modo, no se pode definir ohomem em relao a ele mesmo: ele no um sujeito isolado que, tomando-se comoobjeto de reflexo, operaria uma reflexo do mundo. O ser humano existe emconaturalidade com os sendos circundantes que o investem, com efeito, no setrata mais do homem concebido primeiramente como um ser isolado e solto quetivesse de vir ao mundo para a cumprir uma trajetria finita, mas, aocontrrio, o ser-no-mundo a condio fundamental do homem mesmo em suahumanidade. Ele ir chamar essa ontologia de hermenutica, pois no ensina maisverdades, mas nos ensina como interpretar. A existncia,portanto, ser um meio-termo, caracterizado por um movimento perptuo devai-e-vem entre o real pr-dado na situao e a realidade desvelada nacompreenso. A transcendncia , segundo Heidegger, a expresso dessa dinmicainterior do ser. O que equivale a dizer que o modo humano de ser interrogativo. A existncia no para de repor em questo, superando-a, arealidade que a determina, sem deixar, portanto, de existir nela. E o Dasein onico que pergunta, o nico capaz de se questionar sobre o sentido do ser,questionar ir raiz, procurar o ente naquilo que ele e como ele , porisso, Heidegger privilegia o Dasein porque ele capaz de perguntar pelo sentidodo ser. A grande questo na filosofia heideggeriana o ente como questionador(Dasein). a anlise do ente, de seu modo de existir capaz de questionar, poiso objetivo o ser do ente, explicar o prprio ente. O ser o conceitomais universal de todos porque o primeiro lanado em nossas cabeas, e porisso o mais evidente. Por ser o mais universal, isto , o geral, no temlimitao, portanto indefinvel. Assim, o conceito de ser est acima, fora etranscendente ao gnero e a diferena especfica, portanto, o conceito de sertranscende ao gnero e a espcie, desse modo, podemos definir o conceito de sercomo o mais universal, indefinvel e evidente por si mesmo. O sentido de ser um arranjo das coisas de tal sorte que elas se revelam exatamente nessecontexto. sempre o contexto das coisas que mostra o seu significado. Nada fazsentido sozinho, o ser humano ganha o seu sentido na histria. O sentido do serest dentro da progresso temporal, nesse sentido, ns sempre progredimos eevolumos.Por isso, dentro da viso heideggeriana, ... o pensamento descobre,encarando o presente, alm da situao do homem, a constelao de ser e homem, apartir daquilo que a ambos apropria numa comunidade, a partir doacontecimento-apropriao....[10] Assim,a fenomenologia, numa viso heideggeriana, um esforo de revelar aquiloque est oculto. Fazer filosofia um processo de retirada do vu de maia. Aestrutura da ocultao e da revelao se interligam e cabe ao filsofo trazer claridade aquilo que est oculto. A estrutura vem tona, mas a claridade nunca total sempre h uma obscuridade, por isso a busca do sentido nunca chega aofim, devido a isso sempre haver filosofia, deste modo, podemos definir fenmenocomo aquilo que se torna visvel a si mesmo. Manifestar-se o no se mostrarcomo o caso da doena, nesta temos apenas os sintomas (uma aparncia traz acarga de uma realidade), temos manifestaes. De tal modo, a verdadeirarealidade do fenmeno est oculta pelo sintoma. Na perspectivaheideggeriana o homem preenche a possibilidade de ser com a cura (= ser jsempre ocupado de, com, no qual abarca todo o existencial) e a nasce o homem,pois a cura o lugar onde as coisas se do, o mbito onde se d compreensode ser no modo prprio de ser, desse modo, o homem j sempre numadeterminao, sempre um sujeito, um ente histrico inserido no mundo, nosvalores. E ao se dar na abertura, o homem, quando se d conta disso ele j isso, mas ele tambm se projeta nisso, por isso vir-a-ser.A filosofia de Heidegger, nesse sentido, circular, pois procurao sentido avanando e se desdobrando. Ele trabalha com o crculo hermenutico eno com o sentido de causa. O prprio Herclito nos diz, sua maneira, apresena universal do ser: a permanncia do rio no existe seno pelo fluxo dasguas. Tambm concorda com Parmnides: o movimento idntico a apario do ser.Os pr-socrticos compreendem as coisas na sua raiz, na sua fonte. O universo dapresena manifesta-se numa unidade harmoniosa que conjuga o devir e o ser. Eleno se revela sob um duplo aspecto, excluindo uma dicotomia que nos familiar:a da representao das coisas e da linguagem. Nesse sentido, podemos nosreferir ao pr- socrtico Herclito, pois sua doutrina fundamenta-se nomovimento de todas as coisas, o ser identifica-se com sua manifestao, e s hmanifestao para o homem. O encontro da questo do ser com a tese daexistncia, vai ser o ponto de partida de uma projeo mtica, pois Heideggerreconduz o assunto da questo do ser aurora do pensamento ocidental. Ospr-socrticos: Parmnides, Herclito, Anaximandro, primeiros pensadores,trouxeram uma perspectiva nova sobre o ser, isenta depr-juzos. Dentro dessaviso pr-socrtica, Heidegger afirma que para aquele que se dispem a fazer ocaminho da verdade ela aparece, pois essa se revela para quem faz, porm o erroest em querer provar a verdade, pois esta estrutura no objetiva nemsubjetiva, mas a evidencia da ao do fazer. Entendendo vida como ao,atividade, porque j sempre interpretao, compreenso, e isso permite umalida oportuna das coisas. Verdade, dessemodo, o jogo integrador onde no temos objetos singulares, mas uma unidade qued sentido ao todo.Desta maneira, a noo metafsica de verdade limita-se aestabelecer relaes de identidade ou de conformidade entre os fenmenosobservados, e ao fazer isto, negligencia o fenmeno original da apario. Como possvel representar os objetos se no h um lugar onde possam ser iluminados?Ora, a verdade realiza-se bem mais no plano desta viso primordial do que no dasvises particulares. Ver um objeto no , primeiramente, descobri-lo, abri-lo aalgo diferente dele? no interior dessa abertura ontolgica que toda a viso possvel. A abertura o meio de onde surge a coisa.A realidade aparece carregada designificaes de que o esprito no percebe seno o esqueleto. O pano de fundono qual este se desvela o ser-no-mundo, mas tambm o mundo do ser. A verdade o desvelamento (a-letheia) que faz sair do ser doesquecimento.Em suma, de acordo com a viso heideggeriana... toda verdade relativa ao ser da presena na medida em que seu modo de serpossui essencialmente o carter da presena...[11], analisando em linhas gerais este fragmento podemos dizer que se ohomem compreende o mundo no interior da situao, porque ele prprio estsituado na compreenso do ser e, portanto, constitudo Dasein, logo, existir reconhecer este dom pelo qual estamos despertos para o ser. Desse modo,Heidegger ao descrever o fenmeno originrio da verdade nos fala da estrutura deao enquanto ser no-mundo.... Maisde dois mil anos precisou o pensamento para entender verdadeiramente uma relaoto simples como a mediao no seio da identidade. Podemos ns pensar que apenetrao na origem essencial da identidade pelo pensamento se deixa realizanum dia? Precisamente, pelo fato de esta penetrao exigir um salto, ela precisade seu tempo, o tempo do pensamento, que bem outro do que aquele do clculoque hoje em dia, por toda parte, mantm tenso nossopensamento...[12] Assim podemosperceber que a historicidade como livre jogo do devir do ente a quem sepermitiu existir para alm de toda a organizao precisamente a posio deHeidegger.Estacompreenso de Heidegger, mostra que a pre-sena um projeto, com todos asimplicaes que o termo importa e, ainda, que o projeto parece ser umaespcie de guia ulterior, que est sempre sujeito a modificaes edesenvolvimento, sendo essencialmente um esboo das suaspossibilidades.

No quediz respeito ao projeto enquanto compreenso, parece que ela possui a totalidadedos significados que constituem o mundo antes de encontrar as coisasindividuais, mas isto ocorre porque a pre-sena , constitutivamente, poder-sere, pode encontrar as coisas somente inserindo-as neste seu poder-ser,entendendo-as, portanto, como possibilidades abertas.

Na nossa possibilidade de encontrar omundo, ou entrar em contato com um mundo que se revela, surge o conhecimento.Esse conhecimento no um ir do sujeito ao objeto simplesmente presente, ouvice-versa. Se adisposio um aspecto constitutivo do estar aberto ao mundo, logo vem aconstituir o modo mesmo em que as coisas so dadas aos seres humanos e,portanto, o modo em que elas so. Por outro lado, a disposio afetiva algoque encontramos como o modo originrio de captar e compreender o mundo, aquilo que cada um de ns tem de mais prprio, de mais individual e maistransformador.H que se afirmar,porm, que apesar da pre-sena estar-lanada s suas prprias possibilidades,de incio o seu modo de ser-no-mundo o prprio-impessoal. Parece queHeidegger, diz aqui que o impessoal (do alemo man algum, a gente),ou seja, a no singularidade da pre-sena, uma etapa pela qual ela passa parasaber-se como possuidora de uma identidade que lhe prpria, mas que serelaciona permanentemente com o mundo ao seu redor (ser-junto eser-com). Tendo sempre como direo o poder-ser mais prprio.

Deste modo paraanalisar o fundamento da pre-sena, no podemos faz-lo mediante a uma reflexoisolada ou estanque, mas atravs de uma relao contnua do ser da pre-senacom tudo que o cerca, uma viso conjunta, um contemplar sobre oser-no-mundo.

Ousadamente, Heidegger conceituar como condio priori depossibilidade, isto , como o estado de ser, o tempo, ou melhor dizendo, atemporalidade. Surpreendemos assim, nascidos no cerne do existir humano, ofuturo, o passado e o presente, os trs momentos fundamentais da temporalidade.O tempo portanto o prprio homem conduzido plena elucidao de seu maisntimo ser. luz da analtica heideggeriana, o tempo deixade ser algo exterior que nos sobreviria de fora para impor-nos sua lei,mutilar-nos se for preciso. O tempo , na realidade, o homem mesmo comoser-no-mundo, entendendo o homem enquanto tolhido na facticidade e j possudopela morte, mas igualmente homem na ultrapassagem gloriosa do projeto e naexaltao do impulso. O porvir, enquanto dimenso interna da liberdade,constitui, poderamos assim dizer, a parte divina de nossa natureza; aquela que,se viesse a preencher todo o espao disponvel, nos tornariadeuses.

Se o homemcompreende o mundo no interior da situao, porque ele prprio est situado nacompreenso do Ser e, por isso, constitudo Dasein. Logo, existir reconhecer este dom pelo qual estamos despertos para oSer. Assim, o sentido de ser um arranjo das coisasde tal sorte que elas se revelam exatamente nesse contexto. sempre o contextodas coisas que mostra o seu significado. Nada faz sentido sozinho, o ser humanoganha o seu sentido na histria.BibliografiaBEAUFRET, Jean.Introduo sfilosofias da existncia. So Paulo: Livraria duas cidades,1976.DELACAMPAGNE, Christian.Histria da filosofia no Sculo XX; traduo, Lucy Magalhes;consultoria, Carlos Coutinho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1997.GIORDANI, Mrio Curtis. Iniciaoao existencialismo. Petrpolis: Vozes, 1997.HEIDEGGER, Martin.Ser e tempo.Petrpolis: Vozes, 1997._____________.Identidade eDiferena. Portugal: Livraria duas cidades, 1971.JASPERS, Karl.Iniciaofilosfica; traduo, Manuela Pinto dos Santos Lisboa: Guimares, 1987.RESWEBER, Jean-Paul.O pensamentode Martin Heidegger.Coimbra: Almedina, 1971[1]HEIDEGGER, Martin.Ser e tempo; traduo, Mrcia de SCavalcante. Petrpolis: Vozes, 1995, p.51.

[2]Op.cit. p. 30.[3]Op.cit. p. 27.[4]RESWEBER, Jean-Paul.O pensamento de Martin Heidegger.Coimbra: Almedina, 1971. p.57.

[5]HEIDEGGER, H. Identidade e diferena. p.54

[6]Idem..p..56.

[7]HEIDEGGER, H. Identidade e diferena.p. 57

[8]HEIDEGGER, Ser e tempo, 44, p. 297

[9]HEIDEGGER, H. Identidade e diferena.p.59.

[10]HEIDEGGER, H. Identidade e diferena.p.67.

[11]HEIDEGGER. Ser e Tempo. p.296

[12]HEIDEGGER, H. Identidade e diferena.p.68