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® MAUREEN CHILD Jogo sedutor

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MAUREEN CHILD

Jogo sedutor

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MAUREEN CHILD

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Jogo sedutor

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Editados por HARLEQUIN IBÉRICA, S.A.

© 2009 Maureen Child. Todos os direitos reservados.JOGO SEDUTOR, N.º 982 - Fevereiro 2011Título original: Conquering King’s HeartPublicado originalmente por Silhouette® Books.Publicado em portugués em 2011

Todos os direitos, incluindo os de reprodução total ou parcial, sãoreservados. Esta edição foi publicada com a autorização deHarlequin Enterprises II BV.Todas as personagens deste livro são fictícias. Qualquer seme-lhança com alguma pessoa, viva ou morta, é pura coincidência.® ™. Harlequin, logotipo Harlequin e Desejo são marcasregistadas por Harlequin Books S.A.® e ™ São marcas registadas pela Harlequin Enterprises Limited esuas filiais, utilizadas com licença. As marcas que têm ® estãoregistadas na Oficina Española de Patentes y Marcas e noutrospaíses.

I.S.B.N.: 978-84-671-9561-3Editor responsável: Luis Pugni

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Capítulo Um

Jesse King adorava as mulheres e elas adora-vam-no a ele. Bem, todas excepto uma.

Jesse entrou na Bella’s Beachwear e parou à en-trada da loja. Observou o local, que tinha um as-pecto deprimente. Então, abanou a cabeça vendoa teimosia das mulheres.

Era-lhe difícil conseguir acreditar que Bella Cruzpreferisse aquele lugar deprimente ao que ele lhe es-tava a oferecer. Chegara, há nove meses, a MorganBeach, uma pequena cidade costeira no sul da Ca-lifórnia. Comprou várias das ruinosas e ecléticas lo-jas da rua principal, restaurou algumas, demoliuoutras e criou a cadeia de estabelecimentos e escri-tórios que conseguiria atrair os consumidores aocentro da cidade. Toda a gente tinha ficado bas-tante satisfeita ao assinar os contratos. Tinham acei-tado as ofertas feitas por Jesse com uma alegria maldisfarçada e, a maioria, arrendava-lhe pequenas lo-jas. Mas Bella Cruz não. Aquela mulher enfren-tava-o durante meses a fio.

Tinha liderado um motim depois de conseguirque vários dos seus amigos se colocassem à frentedos rolos dos compressores durante uma tarde in-teira. Tinha organizado um desfile em forma deprotesto ao longo de toda a rua principal, desfileesse que contava com a participação da própria

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Bella, mais quatro mulheres, duas crianças e um cãocom três patas. No final, tinha organizado uma vigí-lia à luz de velas para recordar os edifícios «históri-cos» de Morgan Beach.

Na noite em que ocorreu a primeira grande tem-pestade de Verão, havia cinco pessoas sentadas comvelas nas mãos diante dos escritórios de Jesse King.Passados poucos minutos, estavam todos encharca-dos, com as velas apagadas. Bella foi a única que fi-cou de pé na escuridão, observando-o revoltada en-quanto ele a olhava pela janela do seu escritório.

– Porque é que está a levar tudo isto tão a peito?– questionou-se. Jesse não tinha ido a Morgan Beachcom a intenção de arruinar deliberadamente a vidaa Bella Cruz.

Tinha vindo atraído pelas ondas. Quando os surfistas profissionais paravam de ca-

valgar as ondas competitivamente, instalavam-seonde fosse possível ficar em contacto com o mar aolongo de todo o ano. A maioria acabava no Havaimas, como natural da Califórnia, Jesse tinha-se de-cidido por Morgan Beach. Toda a sua família aindacontinuava a viver naquele Estado e Morgan ficavasuficientemente perto para continuar a visitá-los,embora suficientemente longe dos três irmãos paranão os encontrar a cada duas por três. Gostavamuito da sua família, embora isso não significasseque quisesse viver ao lado dela. Por isso, tinha deci-dido construir um pequeno reino ali, naquela pe-quena cidade, que só não era totalmente perfeitopor causa de Bella Cruz.

– O malvado fazendeiro vem tomar posse dassuas propriedades – disse uma voz feminina, prati-camente num sussurro, vindo de um lugar próximo.

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Jesse virou-se e percebeu qual era o objecto dosseus pesadelos. Estava de joelhos atrás do balcão,colocando uma vitrina com uma colecção de ócu-los de sol, chinelos e sacos de praia. Aqueles olhoscastanho-escuros observavam-no com dureza.

– A senhora não está armada, pois não? – per-guntou-lhe Jesse aproximando-se lentamente.

Bella levantou-se e Jesse conseguiu ver a roupaque trazia vestida naquele momento.

Media cerca de um metro e setenta, o que eramuito bom, porque Jesse gostava de mulheres altas,o suficiente para não ficar com um torcicolo aobeijá-las. Claro que, não estava nos seus planos bei-jar Bella. Era apenas uma observação.

Tinha o cabelo preto e ondulado, que lhe che-gava até ao meio das costas, enormes olhos cor dechocolate e uma boca atraente da qual Jesse aindanão tinha visto sair um sorriso. Era linda, excep-tuando a roupa.

Sempre que a via, parecia que Bella estava emcondições de posar para a capa da publicação do-minical dos Amish, com camisolas largas de algo-dão e saias compridas até ao chão. Parecia-lhe de-masiado estranho que uma mulher que ganhava avida a vender e a desenhar fatos de banho femini-nos tivesse o aspecto de nunca ter usado uma dassuas próprias criações.

– O que é que deseja, senhor King? Jesse sorriu confiante, já que conhecia bem o

poder do seu sorriso. Mas parecia que Bella não fi-cava minimamente impressionada.

– Venho informá-la de que vamos começar a res-taurar este edifício no mês que vem.

– Restaurar – repetiu ela franzindo a testa. – Está

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a referir-se a derrubar paredes, levantar os soalhosde madeira e retirar as antigas janelas de chumbo?

– O que é que tem contra os edifícios bem isola-dos e com bons telhados?

Ela cruzou os braços por debaixo do peito eJesse distraiu-se por um instante. Aparentemente,aquela mulher tinha pelo menos um lugar comboas curvas.

– Eu não tenho goteiras. Robert Towner era umexcelente senhorio.

– Sim, ouvi dizer. Repetidamente – suspirou. – O senhor podia aprender muito com ele. – Pois nunca se preocupou em pintar a fachada

da loja dele – replicou Jesse. – E porque é que o haveria de fazer? –perguntou

ela. –Fui eu própria que a pintei há três anos. – Está a dizer-me que foi você que escolheu pin-

tar a loja de roxo? De propósito? – É alfazema. – Roxo.Bella respirou fundo e lançou-lhe um olhar as-

sassino. No entanto, ele ficou petrificado. Era umKing. E os King não se assustavam com nada nemcom ninguém.

– O senhor não vai descansar até pintar todos osedifícios da rua principal desta cidade de bege comos rodapés cor de ferrugem, pois não? – disse ela.– Vamos acabar por nos vestirmos e calçarmos damesma forma.

– Por favor, não... – disse ele a olhar a roupa queela trazia vestida. Bella corou um pouco.

– O que quero dizer é que já não existe indivi-dualidade nesta cidade. Morgan Beach tinha per-sonalidade.

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– E madeira podre. – Era eclético. – Desastroso. – O senhor não é mais do que um tubarão dos

negócios – acusou ela. Jesse ficou espantado que alguém o descrevesse

daquela forma. Aquela nunca tinha sido a sua in-tenção. Raios, tinha feito todos os possíveis para es-capar à armadilha na qual, mais tarde ou maiscedo, pareciam cair todos os King, o mundo dosnegócios. Realmente, o seu apelido sempre foraum fardo demasiado pesado ao longo de toda a suavida.

Todos os King pareciam estar fechados em gabi-netes. Jesse não se importava com o facto dos ditosgabinetes serem luxuosos. Ele nunca tinha queridoter qualquer tipo de relação com aquele mundo.

Tinha sido testemunha da forma como os seustrês irmãos se deixavam levar pelas preocupaçõesdo negócio familiar como se tivessem sido treina-dos para aquela tarefa. Até Justice, apesar de serproprietário de um rancho, era acima de tudo umhomem de negócios. No entanto, ele decidira afas-tar-se de tudo aquilo. Tinha-se tornado um surfistaprofissional e tinha-se dedicado com toda a sua almaàquela vida.

Enquanto os seus irmãos e primos usavam fato egravata e tinham reuniões umas atrás das outras, eleviajava por todo o mundo, procurando a onda per-feita. Fazia as coisas à sua vontade. Vivia a vida comoqueria.

Assim foi até o fabricante das suas pranchas desurf favoritas abrir falência há já alguns anos.

Jesse comprou-lhe a empresa porque queria ter

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acesso às pranchas que mais lhe agradavam. Fez omesmo quando, finalmente, encontrou o fato demergulho perfeito. E o mesmo com o fato de ba-nho ideal. Em pouco tempo, tinha feito o que sem-pre prometera que nunca faria: tinha-se transfor-mado num homem de negócios, no presidente daKing Beach, uma empresa muito grande e diversi-ficada centrada na vida de praia. Era de facto umaironia que precisamente o que mais lhe agradavativesse acabado por o converter naquilo que jamaisdesejara ser.

– Olhe – disse, afastando de si aqueles pensa-mentos, – não precisamos de ser inimigos.

– Oh, sim, claro que sim. Bolas. Era demasiado teimosa. Durante dez anos,

tinha pertencido à fina flor do seu desporto. Ganhara centenas de competições. Tinha saído

em anúncios de revistas e tinha frequentado festascom os famosos mais conhecidos. No ano anteriortinha sido eleito o solteiro mais sexy e desejado detoda a Califórnia. Tinha dinheiro, encanto e todasas mulheres que pudesse desejar. Então, porque éque o desprezo de Bella Cruz o deixava à beira deum ataque de nervos?

Porque ela o intrigava... e o atraía. Algo que, dealguma forma, lhe era familiar.

Conteve a respiração. Então, apoiou as duas mãosem cima do balcão e olhou-a nos olhos.

– Trata-se apenas de paredes e janelas, senhoritaCruz... ou posso tratá-la por Bella?

– Não, não pode. E garanto-lhe que não se trataapenas de paredes e janelas – disse estendendo osbraços como se estivesse fisicamente a tentar abra-çar o edifício inteiro. – Este lugar tem uma histó-

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ria. Toda a cidade a tinha. Até aparecer o senhor,claro.

Bella lançou-lhe ao mesmo tempo um olhar ge-lado e ardente. Impressionante. Estava há meses atentar ganhar a Bella Cruz. Tudo teria sido muitomais fácil se ela tivesse aceitado uma agradável rela-ção de trabalho. Ela tinha amigos em Morgan Beache era uma empresária de sucesso. Além disso, cara-ças, as mulheres nunca lhe resistiam.

– A história da cidade continua presente – afir-mou Jesse, – bem como os edifícios que não vão des-moronar-se à mais leve brisa.

– Sim, claro. O senhor é um verdadeiro filan-tropo.

Jesse começou a rir. – Estou, simplesmente, a tentar gerir um negó-

cio – respondeu. Sentiu-se, de imediato, escandali-zado pelas palavras que acabara de pronunciar.Quando é que se tinha transformado num dos seusirmãos? Ou no seu pai?

– Não. O que o senhor está a tentar fazer é geriro meu.

– Acredite se quiser que não tenho qualquer in-teresse na sua empresa.

Enquanto respondia, Jesse olhou por trás delapara o local na parede onde pendurava os fatos debanho à medida que os ia desenhando. A sua em-presa tinha como público-alvo os homens. Sabiaperfeitamente o que um cliente procurava, masnão fazia a mais pequena ideia do que procuravamas mulheres e não queria alargar o seu negócio atéo descobrir. Embora os seus sócios e empregadosestivessem a tentar convencê-lo a incluir peças fe-mininas entre a sua gama de produtos, ele conti-

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nuava a resistir a essa ideia. Não sabia o que as mu-lheres preferiam. Bella Cruz podia ficar com a ver-tente do mercado que correspondia às mulheres.

– Então, o que é que está aqui a fazer? Ainda fal-tam três semanas para pagar a renda.

– Que simpática. Que acolhedora – replicou ele.Aquela mulher estava decidida a odiá-lo. Colocouas mãos nos bolsos das calças e começou a observaro conteúdo das estantes.

– Sou tudo isso. Mas com os meus clientes – vo-ciferou Bella.

– Sim, já tinha reparado. A loja está tão cheiaque quase não se consegue dar um único passo.

Ela conteve a respiração com um ar digno. – O Verão acabou. Nesta altura, as vendas costu-

mam baixar um pouco. – É estranho. Toda a gente diz que o negócio vai

lindamente. – Talvez o preocupe a renda que tem de me co-

brar?– Deveria preocupar-me? – Não – respondeu Bella rapidamente. – Tenho

uma clientela pequena, mas leal. – Hum. – O senhor é impossível. Pelo menos, foi isso que a Jesse lhe pareceu ou -

vi-la murmurar. Sorriu, ficava satisfeito por saberque estava a mexer com ela tanto como ela com ele.

Do outro lado, Morgan Beach continuava o seucurso. Já era quase meio-dia e os surfistas estavama dar o dia por terminado. Jesse sabia bem que asmelhores ondas eram logo ao amanhecer, antes dehaver muitas crianças, mães e aspirantes a surfistascom as suas pequenas pranchas.

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As pessoas andavam na rua, a aproveitar o dia,enquanto ele estava numa loja de roupa feminina,a falar com uma mulher que reclamava de cada vezque o via. Emitiu um suspiro de impaciência.

Observou a loja. Nas paredes cremes estavampendurados fatos de banho e posters emolduradosde algumas das melhores praias do mundo. Ele ti-nha apanhado ondas na maioria delas. Durante dezanos não tinha saído de dentro de água. Dedicoua vida a ganhar troféus, cheques e a atenção que lheera dada pelas maravilhosas senhoritas que acompa-nhavam o circuito.

Nalgumas ocasiões, sentia saudades. Como na-quele instante.

– Bem, como sou o seu senhorio, porque é quenão tentamos dar-nos bem?

– O senhor só é meu senhorio porque os filhosde Robert Towner lhe venderam este edifício quan -do ele morreu. Ele tinha-me prometido que não ofariam – disse, com a voz repleta de tristeza. – Pro-meteu que me deixava ficar aqui mais cinco anos.

– Isso não constava no testamento – lembrou Jes -se enquanto se virava para olhá-la. – Os filhos deci-diram vender e isso não é culpa minha.

– Claro que é. Ofereceu-lhes uma pequena for-tuna por este edifício!

– Sim. Foi um bom negócio – replicou ele comum sorriso.

Bella conteve um suspiro. Jesse King era donodo edifício, apesar das promessas feitas por Robert.

Robert Towner fora um idoso encantador, quaseum pai para ela. Tomavam café todas as manhãs ejantavam juntos pelo menos uma vez por semana.Bella vira-o com mais frequência que os seus pró-

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prios filhos e queria ter-lhe conseguido comprar oedifício algum dia. Infelizmente, Robert morreranum acidente de carro há já quase um ano e nãotinha contemplado disposição alguma para ela notestamento.

Cerca de um mês após a morte de Robert, osseus filhos venderam o edifício a Jesse King. Bellavia o seu futuro ameaçado desde então. Robertmantivera-lhe a renda baixa para que ela pudessemanter a loja num local tão privilegiado. No en-tanto, estava convencida de que Jesse King não iafazer o mesmo.

Ele estava a fazer obras de «melhoramento» emtodas as lojas e não tardaria a subir as rendas parapagar o investimento.

Isso significava que ela ia ter de deixar a rua prin-cipal de Morgan Beach e perder pelo menos umquarto do seu volume de negócio, dado que muitosdos seus clientes eram utentes que iam ou vinhamda praia.

Jesse King ia estragar tudo, como tinha feito trêsanos antes. Ele não se recordava de nada. Desgra-çado.

Bella precisava desesperadamente de descarre-gar em alguém, principalmente no seu novo senho-rio. Jesse King queria que o mundo girasse ou pa-rasse quando ele quisesse. O problema era que, namaioria das vezes, conseguia levar a sua avante.

Ele olhou-a por cima do ombro e sorriu. – Perturbo-a muito a nível pessoal, não perturbo?

Isto é, há mais alguma coisa a acrescentar ao factode eu me ter apoderado de todas as lojas da ruaprincipal desta cidade, não é verdade?

Era isso mesmo. O facto de Jesse nem sequer sa-

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ber a razão pela qual o odiava tanto irritava-a aindamais. Não podia ser ela a lembrar-lhe o que, evi-dentemente, tinha esquecido.

– O que é que quer, senhor King? Ele franziu ligeiramente a testa. – Bella, conhecemo-nos há demasiado tempo pa -

ra estarmos com tanta cerimónia. – Não nos conhecemos absolutamente nada –

corrigiu-o ela. – E sei que adoras a tua loja, posso tratar-te por

tu, não posso? – disse ele, tratando-a pela primeiravez por tu, voltando ao balcão. E a ela.

«Porque é que tinha de cheirar tão bem? Porqueé que os seus olhos tinham de ser tão azuis quantoas profundezas do oceano? E porque é que tinhade fazer covinhas nas bochechas quando sorria?»,questionou-se Bella.

– Tens aqui coisas muito giras – comentou ele,olhando a montra que ela tinha estado a organizar.– Tens bom olho para a cor. Acho que eu e tu te-mos muito em comum. A minha empresa fabricafatos de banho. A tua também.

Bella começou a rir. – O que é que te diverte assim tanto? – pergun-

tou ele franzindo a testa. – Oh, nada – respondeu enquanto apoiava as

mãos sobre o vidro da montra. – Simplesmente, osmeus fatos de banho são produzidos artesanalmentepor mulheres locais a partir de tecidos orgânicos e osteus são cosidos por crianças encurvadas sobre mesassujas de fábricas clandestinas, disse ela tratando-opor tu pela primeira vez.

– Eu não tenho fábricas clandestinas – vociferouele.

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– Tens a certeza? – Sim, claro que tenho. E não vim para esta ci-

dade a fim de roubar e destruir. – Alteraste a fachada do centro desta cidade em

menos de um ano. – E as vendas a retalho subiram vinte e dois por

cento. Sim, claro que me deviam fuzilar. Bella estava prestes a explodir. – Nesta vida há mais para além dos lucros. – Sim, há o surf e o sexo de qualidade – replicou

ele com um sorriso. Bella jamais deixaria que percebesse o quanto a

afectavam aquele sorriso e as encantadoras covi-nhas, como também a referência ao sexo. Para Jes -se King não era difícil encontrar mulheres. Tinhaaprendido a lição três anos antes, quando ela setransformou numa das suas fãs.

A World Surf tinha-se realizado na cidade e Mor-gan Beach já contava com uma semana de come-morações. Uma noite, Bella estava na doca quandoJesse King se aproximou. Naquela ocasião, tambémlhe dirigiu um sorriso. E tinha tido um affair comela. Beijou-a ao luar e levou-a ao pequeno bar quehavia no final do cais. Ali, ambos tomaram umasquantas Margaritas.

Admitia que se tinha sentido atraída pelas aten-ções que lhe foram dedicadas. Era bonito. Famoso.Além disso, ficou com a sensação de que, por de-baixo de tanta sofisticação, havia um bom rapaz.

Naquela noite, passearam pela areia até a docae a praia ficarem para trás. Então, ficaram de pédiante do oceano e observaram a lua cheia sobre asondas.

Quando Jesse a beijou, Bella deixou-se levar pela

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magia do momento e pela delirante sensação de sesentir desejada. Fizeram amor na areia, com a brisado mar a refrescar as suas peles e o pulso do oceanocomo música de fundo.

Bella achou que ia alcançar as estrelas, mas nodia seguinte, ele partiu, assim que amanheceu. Ti-nha querido falar com ele sobre o que acontecera,mas Jesse limitou-se a dizer-lhe que tinha ficado fe-liz por vê-la e passou ao seu lado sem dizer maisnada. Bella ficou tão surpreendida que não conse-guiu sequer gritar.

Voltou a olhá-lo fixamente no interior da loja.Sem conseguir evitá-lo, lembrou cada minuto danoite que passaram juntos e a humilhação que ti-nha sentido no dia seguinte. Mas nem sequer issoconseguiu apagar as maravilhosas lembranças quetinha de ter estado nos seus braços.

Não gostava de saber que uma noite com Jesse atinha feito perder o interesse pelos homens, masmuito menos lhe agradava que ele continuasse semse lembrar dela. Mas, porque iria fazê-lo?

Não voltaria a cair no mesmo erro. Toda a gentecometia erros, mas só os idiotas tropeçavam sobrea mesma pedra uma e outra vez. Respirou fundo edisse:

– Olha, não há razão para continuarmos a discu-tir. Tu já ganhaste e eu tenho um negócio para ge-rir. Portanto, se não vieste cá para dizer que te vaislivrar de mim, tenho de voltar ao trabalho.

– Livrar-me de ti? E porque é que iria fazer isso? – És o dono do edifício e eu tentei livrar-me de

ti há uns meses. – Sim – disse ele, – mas como já disseste, eu ga-

nhei essa batalha. De que me serviria prejudicar-te?

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– Então, porque é que estás aqui? – Para te informar acerca das próximas obras

desta loja. – Bem. Já informaste. Muito obrigado. Tchau. Jesse voltou a sorrir, o que lhe provocou um nó

no estômago. – Sabes uma coisa? Quando uma mulher não

simpatiza comigo, tenho de descobrir a razão. – Já te disse porquê. – Há muito mais para além do que disseste –

afirmou olhando-a fixamente. – E vou descobrir oque é.

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Capítulo Dois

Jesse não compreendia porque é que ainda con-tinuava a pensar em Bella. Porque é que o aromaque vinha do seu corpo ainda o perseguia. Porqueé que uma mulher mal vestida com uns olhos má-gicos continuava a enfeitiçá-lo horas mais tarde.

– De acordo com os nossos dados, os artigos depraia das mulheres são duas vezes mais vendidos doque os dos homens – disse Dave.

Jesse interrompeu os seus pensamentos e encos-tou-se na poltrona da sua secretária.

– Dave, já te disse. Não tenho nenhum interessepelas mulheres... pelo menos no que se refere aoque se vende nas minhas lojas – acrescentou comum sorriso.

– Pois estás a perder bastante – apressou-se a di-zer Dave, que era calvo e baixinho. – Se pudessesdar-me um minuto do teu tempo, poderia expli-car-te a que é que me refiro.

Dave Michaels era o director de vendas da KingBeach e estava sempre a tentar convencê-lo a pen-sar na diversificação. No entanto, Jesse tinha umapolítica muito firme: só vendia produtos que conhe-cesse e utilizasse pessoalmente. Como membro da fa-mília King, tinha aprendido muito rapidamente queo sucesso se baseava em promover o que era comer-cializado. Em conhecer o negócio melhor do que

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ninguém. Apesar de saber que Dave não ia conse-guir fazê-lo mudar de opinião, sabia também quenão se renderia até ter oportunidade para se ex-plicar.

– Está bem, diz – disse Jesse. Levantou-se porque detestava ser interrompido

a trabalhar. Embora fosse uma elegante e leve com-binação de cromo e vidro, o móvel lembrava-lhesempre o seu pai, ocupado após ter estado a despa-char uma série de papéis e dizendo aos seus filhospara irem brincar porque ele estava demasiadoocupado para fazê-lo com eles.

Embrenhado nessas lembranças, começou a per-correr o seu escritório. Contemplou com gesto au-sente as estantes, repletas com os troféus que ga-nhara ao longo dos anos. Nas paredes, estavampenduradas fotos emolduradas dele em competi-ção, das suas praias favoritas e fotos da sua família.

A sua prancha da sorte estava colocada a umcanto e das janelas que estavam por detrás da mesapredominava uma magnífica vista da rua principalda cidade e do oceano por trás dela.

Como se precisasse dessa união com o oceanoque tanto amava, Jesse aproximou-se das janelas edeteve o olhar na água. A luz do sol reflectia-se nomar e iluminava os sortudos que aguardavam pelaonda seguinte sentados nas suas pranchas. Era alique ele deveria estar. Indagou como é que tinhapassado para os escritórios, acabando exactamentecomo o pai.

Os seus irmãos com certeza que se estariam a rirà gargalhada só de o imaginar.

– Aqui na cidade há uma loja com o tipo de pro-dutos que nós devíamos vender – dizia Dave.

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Jesse quase não o ouvia. Estava disposto a fazero trabalho que tinha criado para si mesmo, mas issonão significava que fosse o que mais queria fazer nasua vida. Contrariamente ao resto da família, Jesseconsiderava-se o pólo oposto a um King. Gostava dedinheiro, mas não tinha sido feito para trabalhar.O trabalho era apenas isso: trabalho, e permitia-lhefazer o que quisesse. Aproveitar a vida. Surfar. Saircom mulheres maravilhosas. Não ia acabar como oseu pai, um homem que tinha dedicado tudo à fa-mília King e que jamais tinha vivido.

– Se quisesses olhar para estas fotografias, tenho acerteza que compreenderias que os produtos dessamulher seriam um complemento perfeito para aKing Beach.

– As peças produzidos por essa mulher? – Sei que não queres acrescentar artigos femini-

nos à linha, mas se quisesses dar uma olhadela...Jesse deu uma gargalhada.

– Nunca desistes, pois não, Dave? – Nunca quando sei que tenho razão. – Deverias ter sido um King – com má vontade,

pegou nas fotografias que lhe estava a oferecer.Queria acabar o trabalho o mais rápido possível,para poder aproveitar o sol. – O que é que estouaqui a ver? – acrescentou folheando as fotografiasa cores que Dave lhe tinha dado.

Fatos de banho. Biquínis. Vestidos de praia. Eratudo muito lindo, mas não compreendia a emoçãode Dave.

– Estes fatos de banho – disse Dave – são cadavez mais populares. São produzidos com tecidosecológicos e as mulheres que os compram garan-tem que não há nada igual.

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De repente, Jesse teve um mau pressentimento. – No mês passado, foi lançada uma colecção na

revista do dominical e, pelo que me contaram, assuas vendas têm subido em flecha.

Oh, sim. O pressentimento estava a ficar cadavez pior. Estudou as fotos mais cuidadosamente eviu que alguns fatos de banho lhe eram familiares.Realmente, tinha visto alguns pendurados numaparede de uma desajeitada loja da rua principal na-quela mesma manhã.

– Estás a falar de uma loja chamada Bella’s Beach-wear?

– Sim! – exclamou Dave com um sorriso en-quanto apontava para uma fotografia. – A minhaesposa comprou este biquíni vermelho cereja na se-mana passada. Diz que é o mais confortável e quemelhor lhe assentou de todos os que comprou aolongo da sua vida. Perguntou-me porque é que nósnão oferecemos este tipo de coisas.

– Fico muito satisfeito por a tua mulher estarcontente com a compra.

– Não se trata apenas da minha mulher – inter-rompeu Dave com os olhos a brilhar de entu-siasmo. – Desde que transferimos o negócio paraMorgan Beach, o único do qual ouvi falar foi deBella Cruz. Sei que há mulheres que vêm aqui demuito longe para comprar fatos de banho. Um dosnossos rapazes da contabilidade fez uma projecção.Se uníssemos a nossa linha à dela, o negócio dessamulher subiria em flecha. Claro que não é precisodizer que grande parte da sua linha influenciariaas vendas da King Beach.

Jesse abanou a cabeça. Embora compreendessea importância das margens de lucro mais altas, ti-

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nha os seus próprios planos para o negócio.Quando decidisse comercializar peças femininas,fá-lo-ia à sua maneira.

– Bella Cruz tornou-se responsável por uma partedo negócio que nunca antes se tinha tocado. Investi-gámos um pouco e verificámos que recebeu propos-tas de outras empresas muito importantes para fica-rem com o seu negócio, mas ela rejeitou-as todas.

Jesse ficou intrigado. Encostou-se à secretária ecruzou os braços sob o peito.

– Explica-te. – A maioria dos fatos de banho deste país e, na

verdade, de todo o mundo, foram desenhados ecriados para a denominada mulher «ideal». Umamulher magra, elegante.

Jesse esboçou um sorriso. Mulheres magras debiquíni. Como é que não teria vontade de sorrir?Embora, na verdade, ele preferisse as mulheres umpouco mais rechonchudas.

Como se conseguisse ler o pensamento de Jesse,Dave disse:

– A maioria das mulheres dos Estados Unidosnão encaixa nesse perfil. Felizmente, têm curvas.Comem mais do que uma folha de alface. E graçasà maioria dos estilistas, as suas necessidades sãocompletamente ignoradas.

– Sabes que mais, Dave? Eu prefiro mulheres comcurvas e não só – disse Jesse, – mas a verdade é quenem todas as mulheres deviam usar biquíni. Se aBella quiser vender às mulheres que provavelmentenem sequer deviam usar biquíni, que o faça. Não éproblema nosso.

Dave sorriu. Então, colocou a mão na algibeirapara tirar outra fotografia.

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– Imaginei que tivesses essa reacção. Por isso,vim preparado. Olha para isto.

Jesse pegou na fotografia e franziu a testa. – Mas esta é a tua mulher. – Sim, no seu estado normal, Connie proíbe o

uso de máquinas fotográficas quando vamos nadar.Desde que comprou esse biquíni, não tem qual-quer complexo em posar.

Jesse percebia bem porquê. Connie Michaels ti-nha tido três filhos em seis anos. Não estava magra,mas também não demasiado gorda e, com aquelebiquíni, tinha um aspecto fantástico.

– Está muito bonita – murmurou. De imediato, Dave arrancou-lhe a foto da mão. – Sim, também acho. O que eu queria dizer era

que, se os fatos de banho da Bella assentam tãobem a uma mulher com medidas comuns, às maiselegantes ainda lhes assentará melhor. Garanto-teque deverias pensar no assunto.

– Ok, vou pensar – respondeu Jesse, para queDave mudasse de assunto.

– As suas vendas não param de crescer e julgoque essa mulher seria uma mais-valia para a nossaempresa.

Jesse recordou a expressão que se tinha dese-nhado no rosto de Bella naquela manhã durante aconversa. Sim. Já tinha rejeitado propostas de outrasempresas. Imaginava quão feliz poderia ficar quandoele lhe apresentasse a sua proposta de compra donegócio. Raios. Era provável que tivesse vontade deatropelá-lo com o carro. Não ia ser necessário.

– Nós não vendemos peças femininas. – Diz-se que a Pipeline está a tentar ganhar ter-

reno.

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– A Pipeline? – repetiu Jesse. Era a sua maiorconcorrente. Nick Alona era o proprietário e, entreJesse e ele sempre tinha existido uma enorme riva-lidade. Se Nick estivesse interessado em Bella... Issoera o suficiente para que Jesse também ficasse inte-ressado.

– Ele afirma que a forma de aumentar as vendasé cativando as mulheres – disse Dave.

Jesse olhou-o atentamente. Sabia o que Dave ti-nha na manga e estava a funcionar.

– Vou estudar o assunto. – Mas... – Dave, gostas do teu trabalho? Dave sorriu. Já tinha ouvido antes aquela ameaça

e nunca lhe dava demasiada importância. – Claro que sim. – Bem. Pois então, continuemos assim. – Está bem – replicou Dave. Começou a apanhar

as fotos e as notas, dirigindo-se para a saída, – masdisseste que ias pensar.

– E é o que vou fazer. A verdade era que sabia que deveria comercializar

as peças femininas. Simplesmente, ainda não tinhaencontrado nada que realmente lhe interessasse atéàquele momento. O desafio seria conseguir conven-cer Bella a unir-se a eles antes de a Pipeline lançar oisco.

Quando Dave saiu, algo atraiu a sua atenção. Bai-xou-se para apanhar algo do chão e viu que era umafotografia que devia ter caído. Era de um biquíniverde-mar, com fitas finas no sutiã e anéis prateadosnas nádegas. Sem conseguir evitá-lo, tentou imagi-nar Bella com ele vestido, mas não conseguiu e isso

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deixou-o muito irritado. Usava sempre roupas queescondiam os contornos do seu corpo.

Sorriu e deixou a fotografia em cima da secretá-ria. Então, deu meia volta e começou a olhar pelajanela para ver a loja de Bella. Não conseguia pararde pensar nela. Só conseguia ter na cabeça a ima-gem do brilho de aço dos seus olhos, como se esti-vesse pronta para iniciar uma guerra a qualquermomento. Embora se vestisse como uma refugiada,havia algo nela que...

Não, Bella Cruz não despertava em si qualquerinteresse. Na verdade, interessava-lhe uma certamulher de Morgan Beach. Aquela que procuravaincessantemente. A mulher misteriosa.

Olhou fixamente para o mar e pensou numanoite de há três anos atrás. Não se lembrava de gran-des pormenores sobre essa noite nem sobre ela. Na-quele dia, tinha ganho uma competição muito im-portante e a comemoração tinha-se estendido pelodia todo. Aí, encontrou-se com ela, deu continuidadeà comemoração acabando com uma noite de amorna praia. Uma experiência sexual completamentesurpreendente. Arrebatadora.

Nunca mais conseguiu esquecer aquela mulher.Não conseguia lembrar-se da sua cara, mas lem-brava-se do fogo transmitido pelas suas carícias.Não se recordava do timbre da sua voz, mas sim dosabor dos seus lábios.

Para além das ondas, houve mais alguma coisaque o levou a Morgan Beach. Aquela mulher mis-teriosa continuava ali. Pelo menos, assim desejavaque fosse. Havia a possibilidade de só ter estado emMorgan Beach para assistir à competição, mas pre-feria pensar que ela vivia ali. Que, mais tarde ou mais

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cedo, voltaria a encontrar-se com ela e, quando a ti-vesse nos seus braços, não a deixaria escapar nova-mente.

Felizmente, o telefone tocou, acalmando assimos seus pensamentos.

– King. – Jesse, é o Tom Harold. Só te estou a ligar para

confirmar a sessão fotográfica que está agendadapara amanhã.

– Claro. Está tudo organizado, Tom. Os modeloschegam de manhã cedo. A sessão vai ser na praia.O presidente da câmara deu-nos autorização paratapar uma parte.

– Óptimo, lá estarei então. Jesse desligou o telefone. Sentou-se e decidiu

afastar do seu pensamento tudo que se relacionassecom Bella Cruz. Estava cheio de trabalho, a únicaforma de afastar os pensamentos que o estavam aassolar.

– Por favor, Bella – disse Kevin Walters naquelanoite, ao jantar. – Queres que te deixe nalgum sítio?

Kevin era o melhor amigo de Bella. Conheciam-sehá cinco anos, desde que ela se mudara para MorganBeach e começara a viver numa casa arrendada quepertencia a Kevin. Podia falar com ele como fariacom qualquer mulher e Kevin estava sempre prontoa dar-lhe o ponto de vista masculino que ela tanto va-lorizava. No entanto, naquela noite, Bella preferiuque ele se pusesse na sua perspectiva.

– Não – respondeu. Ainda faltavam dois mesespara o termo do contrato de arrendamento e, se Jes -se a despejasse, teria de passar a vender os fatos de

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banho a partir de casa. Não achava que Kevin fosseapreciar essa solução, o que acrescentava mais umarazão para ficar furiosa com Jesse King. – Sabesbem que se conseguir ficar mais dois anos onde es-tou agora, consigo comprar-te a casa.

– Fiz um acordo contigo. – Sabes que não quero acordos por favor, Kevin.

Quero fazer isto sozinha. – Sim, eu sei. – Agradeço-te muito por me quereres ajudar a

comprar a minha casa, Kevin, mas nunca seria real-mente minha se não o fizesse sozinha – acrescen-tou, para não desiludir o amigo.

– Claro, como essa camisa que vestiste – afirmouele, apontando para a camisa de musselina amarelaque ela tinha vestido com a sua melhor saia preta.– É tua? Foste tu que a desenhaste?

– Não... – As casas e as camisas são diferentes? – Bem, sim... – Ok, pronto – disse Kevin com um suspiro. –

Queres comprar a casa e irritar profundamente oKing, ele anula o teu aluguer e assim não vais tercasa nenhuma. Porque é que continuas a irritá-lo as-sim tanto?

Bella picou a lasanha com o garfo. Depois lar-gou-a e deixou-a no prato. Então, cruzou os braçose olhou Kevin nos olhos.

– Porque nem sequer se lembra de mim. É humi-lhante.

Bela contara tudo ao amigo numa noite, duranteuma sessão infinita de cinema. Kevin tinha-lhe ditologo que devia ter avivado a memória de Jesse sobrequem era.

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Kevin resignou-se e continuou a comer. – Conta-lhe. – Contar-lhe? – perguntou Bela com grande es-

panto. – Sabes uma coisa? Talvez fosse mais fácil teruma rapariga como amiga. Não teria de explicar aoutra mulher o motivo pelo qual contar a Jesse quepassámos uma noite juntos é má ideia.

Kevin sorriu. – Sim, mas uma rapariga não viria à tua casa às

dez da noite para te desentupir a banheira. – Nisso tens razão, mas, no que diz respeito a

Jesse, não percebes nada. – As mulheres conseguem sempre fazer com

que tudo pareça mais complicado do que realmenteé – murmurou abanando a cabeça. – Esse é o motivopelo qual existe a chamada guerra de sexos, sabias?Porque são sempre vocês que estão no campo de ba-talha prontas para uma eventual guerra enquantonós, homens, ficamos sempre na retaguarda a ques-tionar-nos sobre o motivo pelo qual vocês estão zan-gadas.

Bela começou a rir perante aquele exemplo, oque não conseguiu acalmar absolutamente nada osânimos a Kevin.

– A ver se adivinho – disse Kevin com um suspiroresignado de esgotamento, – este é um daqueles ca-sos em que as mulheres acham que se um homemnão sabe porque é que estão zangadas não são vo-cês que lho vão dizer, ou estou enganado?

– Sim, é verdade. Ele deveria sabê-lo. Por favor,será que o seguem assim tantas mulheres que, nofinal, se fundem todas numa só? – replicou ela en-quanto bebia o seu copo de vinho.

– Bella, por favor. Sabes que gosto muito de ti,

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mas estás a falar de coisas tão femininas... que nãotêm nada a ver com o mundo dos homens.

Kevin tinha razão e ela sabia. Em relação aosexo, os homens e as mulheres pensavam de umaforma completamente diferente. Embora ela ti-vesse bebido muitas Margaritas naquela noite, ti-nha ido para a cama com Jesse de livre vontade. Enão o tinha feito por ser rico, famoso ou lindo. Ti-nha-o feito porque tinham estado a falar e tinha-secriado um vínculo especial e um clima propício aoromance. Infelizmente, tal como pôde comprovarno dia seguinte, Jesse só tinha ido para a cama comela porque se tinha proporcionado ela estar ali, dis-ponível.

– Se querias algo mais do que uma noite, deviaster-lho dito no dia seguinte – disse Kevin. – Deviaster-lhe avivado a memória acerca de ti. Mas não.Em vez disso, optaste por te comportar de umaforma completamente feminina e deixá-lo sem per-ceber nada.

– Eu não o deixei sem perceber nada. Pela enésima vez, Bella recordou a conversa que

tivera com Jesse King naquela manhã. Ele olhoupara ela e não se lembrou de que tinha ido para acama com ela. Tinha estado com tantas mulheresao longo da vida que ela tinha sido apenas maisuma.

– Olha, sei que esse homem não te traz boas re-cordações, mas agora está aqui e não se vai embora– disse Kevin enquanto comia um pouco da sua co-mida. – Transferiu a sua empresa para cá e abriu asua loja mais importante aqui, em Morgan Beach.Jesse King veio para ficar, quer gostes quer não.

– Eu sei...

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– Então, se vão viver na mesma cidade, deves fa-lar com ele. Se não, vais dar em doida.

– Sabes uma coisa? Garanto-te que não estava àprocura de nenhuma lógica nesta conversa. Só que-ria aproveitar para arremeter contra ele e desaba-far.

– Ah, nesse caso, estou livre. Desabafa, sou todoouvidos.

– Claro, mas não vais fazer de juiz de defesa –disse ela a sorrir.

– Não, claro que não. Tenho pena que o odeies,cá a mim parece-me um homem às direitas.

– Isso é porque te comprou um colar de ouro eesmeraldas – disse Bella. A loja de Kevin vendia tra-balhos de artistas e estilistas de jóias locais. Ficavasempre muito satisfeito quando fazia uma vendaimportante.

Kevin sorriu. – Sim, tenho de admitir que um homem que

gasta uns quantos milhares de dólares num colarsem pensar duas vezes é o tipo de cliente que maisme agrada.

– Tens razão, és feliz. A cidade é feliz – comen-tou ela sem parar de remexer a comida do prato. –Enviei uma carta ao jornal local.

– Eh lá...! Que tipo de carta? Bella semicerrou os olhos. Arrependia-se do que

tinha feito, mas já era demasiado tarde. – Fala sobre as grandes empresas que arruínam

a vida das pequenas cidades. Kevin deu uma gargalhada. – Bella...– De certeza que nem sequer a vão publicar. – Claro que vão. E acredito que o Jesse King te

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vai fazer outra visita... ou tudo isto não é para o vol-tares a ver? Queres que te vá ver, não queres?

– Não, claro que não. Desejou que Kevin fosse menos observador. Na

verdade, de cada vez que Jesse King entrava pelasua porta, sentia algo inexplicável. Não tinha culpade as suas hormonas reagirem daquela forma en-quanto ele continuava impávido e sereno.

Tinha decidido fazer-lhe a vida num inferno jus-tamente pelo facto de a afectar daquela forma. Cer-tamente deveria parar de enfrentá-lo, mas não con-seguia resistir.

Tinha-se oposto com todas as suas forças a queJesse se transformasse no dono e senhor de Mor-gan Beach e saíra derrotada daquela batalha. Ele ti-nha-se instalado ali, tinha começado a adquirir esta-belecimentos e, em pouco tempo, tinha destruído oúnico lugar que ela considerara o seu lar.

Bella era filha única. Perdera os seus pais aos seteanos de idade e começara uma longa caminhadapor lares de acolhimento, agradáveis mas impes-soais. Quando atingiu a maioridade, aos dezoitoanos, deu início a uma vida sozinha. Não se impor-tou, embora tivesse sempre desejado pertencer auma família.

Conseguiu ir para a universidade, fazendo roupapara as jovens que não tinham de se preocupar comquestões financeiras. Quando fez as primeiras férias,deu por si em Morgan Beach e nunca mais dali saiu.

Estava naquele sítio há cinco anos e sentia-se feliz.Aquela pequena cidade costeira era tudo o que sem-pre desejara. Pequena, agradável e perto o suficientede cidades maiores onde poderia ir quando preci-sasse. Além disso, ali o sentido de união era tão forte

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que encontrou a família que sempre tinha procu-rado. Ali, as pessoas preocupavam-se umas com as ou-tras.

Naquele momento, com Jesse King por perto, asua querida cidade fazia-a sentir claustrofobia .

– Vai enganar outro, Bella – disse Kevin rindo àgargalhada. – De cada vez que dizes o nome dele,ficas com um brilhozinho especial nos olhos.

– Isso não é verdade – replicou ela. E se Kevin ti-vesse razão? Era uma vergonha.

– Claro que é e vais ver como é mesmo. Olhapela janela.

Bella virou a cabeça e olhou pela janela do res-taurante. Precisamente naquele momento, JesseKing estava a passar por ali. As calças de ganga,muito na moda, ficavam-lhe muito justas nas per-nas compridas. A camisa branca que tinha vestidoacentuava-lhe ainda mais o bronzeado.

Bella suspirou. – Apanhada – disse Kevin. – És mau! – replicou ela. No entanto, não con-

seguiu parar de olhar para aquele homem que con-tinuava a ocupar grande parte dos seus pensamen-tos.

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Capítulo Três

Na manhã seguinte, Bella convenceu-se de queKevin estava certo. Tinha de deixar o orgulho delado e falar com Jesse, dizer-lhe tudo o que pensavade um homem que fazia amor com uma mulher ese esquecia completamente da sua existência namanhã seguinte. Assim, poderia arrumar de vez opassado.

Parou por um instante em frente à sua loja e sor-riu. Nem Jesse King podia diminuir a emoção quesentia todos os dias ao entrar no mundo que tinhaconstruído com o seu próprio talento. No entanto,embora desfrutasse da sua loja, quando Jesse con-cluísse as obras, o local perderia toda a sua persona-lidade. Arranjariam o chiar que a porta fazia ao abrir.Alisariam as paredes, colocariam uma carpete paratapar a madeira brilhante. Bella’s Beachwear sobre-viveria, mas nunca mais seria a mesma. No que se re-feria aos negócios, Jesse King tinha a mesma intuiçãoque para as mulheres. Para ele, tudo se reduzia a lu-cros.

Reparou que na praia tinha começado a juntar-seuma pequena multidão. Virou-se para ver melhor eviu que havia muitas câmaras, enormes focos e venti-ladores eléctricos na areia. No meio de todo aqueleaparato estava Jesse King.

Com muita pena sua, sentiu curiosidade. Atra-

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vessou a rua e subiu à calçada. Uns lindíssimos mo-delos, vestidos com as peças da King Beach, esta-vam à volta de umas pranchas de surf, pousadas naareia. Apesar de tudo, o que mais lhe chamou aatenção foram os modelos que faziam parte dacena em segundo plano.

– Sinceramente, qualquer um diria que bem sepoderia interessar um pouco mais pelo que as mu-lheres envergam...

– Porque é que não me surpreende que tenhasuma palavra a dizer?

Bella virou a cabeça e encontrou os olhos de Jesse,que reflectiam uma expressão divertida e trocista.

– Diz lá... – disse ele, com um sorriso nos lábios eos braços cruzados sobre o peito. Então, olhou paraa cena que o fotógrafo estava a realizar. – O que éque não te agrada em tudo isto?

Bella mordeu o lábio inferior. Não lhe dizia res-peito e não deveria importar-lhe absolutamentenada, mas...Voltou a olhar para as bonitas e magrasmodelos que usavam fatos de banho vulgares e nãoconseguiu suportá-lo.

– Se te empenhaste tanto para fazer uma campa-nha publicitária tão ambiciosa, porque é que não tepreocupa que as modelos fiquem lindas nas fotos?

– Estão lindas. – Para que é que me dou ao trabalho? – murmu-

rou ela abanando a cabeça. – Olha para a loira queestá lá atrás.

Jesse olhou-a e sorriu. Bella não ligou nenhuma. – O fato de banho não lhe fica bem. Está muito

justo nas nádegas e muito largo no peito. – Pois a mim parece-me óptimo – afirmou ele. Bella afastou uma madeixa de cabelo da cara e

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apontou para uma morena que estava a falar comum dos modelos.

– E o que é que me dizes daquela? Aquele bi-quíni tem o corte mal feito e o tecido é demasiadobrilhante. O que é que fizeste? Ir aos grandes arma-zéns e comprar fatos de banho em saldo?

Jesse franziu a testa. – Para mim estão muito bem. Além disso, esta

sessão fotográfica não é para mulheres. Trata-se daKing Beachwear. Vendemos fatos de banho parahomens. As raparigas são só o pano de fundo.

– E têm de ser um fundo mal vestido? – Temos um contrato. Estamos a dar aos gran-

des armazéns... – Ah! – exclamou ela. Estava satisfeita por não se

ter enganado quando disse onde achava que Jessetinha comprado os fatos de banho.

– Esses grandes armazéns aparecem nos agrade-cimentos da fotografia – afirmou ele.

– Bem. Utiliza um ou dois, mas se quiseres queeste anúncio seja apelativo, todas as modelos queaparecem na foto deveriam estar mais atraentes.

– E isso significa...? Bella disse que não se devia ter metido. Afinal

de contas, o que é que lhe interessava se o anúncionão estava tão bem como deveria? No entanto...

Voltou a olhar os fatos de banho que as modelosusavam. O seu instinto de estilista não conseguiusuportá-lo. Além disso, Jesse King era tão arroganteque ela queria...

– Significa que são as mulheres que vão às com-pras, senhor King. Se tivesse algum bom senso, sa-beria do que estou a falar. Aqueles fatos de banhoque as modelos usam são tão genéricos que deviam

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ter a etiqueta de tamanho único. Os meus fatos debanho foram feitos para enaltecer a imagem damulher. Aliás, de todas as mulheres.

Jesse sorriu. Olhou-a de alto a baixo e desafiou-acom o olhar.

– Até mesmo a tua? Bella sentiu-se insultada. Levantou o queixo e

lançou-lhe um olhar de desaprovação. Sabia que es-tava a ser manipulada, mas, naquele momento, nãointeressava. Estava tão convencida de que era donada razão que estava cheia de vontade de lhe provarquão errado estava. A melhor forma de fazê-lo eraprovando exactamente o que queria dizer.

– Volto já – anunciou. Dirigiu-se às modelos e falou com elas por um

instante. Fez com que lhe dissessem as suas medi-das e atravessou rapidamente a rua para entrar naloja. Demorou apenas uns minutos a sair. Na mão,trazia alguns fatos de banho da sua colecção.

– O que é que pensas que estás a fazer? – per-guntou Jesse enquanto ela empurrava as modelospara uma das caravanas.

– Vais já descobrir. Não disse mais nada. Limitou-se a fechar as portas.Os minutos foram passando. Jesse só franzia a

testa. Não tinha a certeza da razão pela qual dei-xara que Bella levasse a sua avante.

– Jesse, quanto tempo...? Voltou a olhar para Tom, o fotógrafo, e depois

olhou para o seu próprio relógio. – Vamos dar-lhe mais alguns minutos, Tom. As-

sim que admitir que se enganou por ter vindo me-ter o bedelho onde não era chamada, voltaremos ainiciar a sessão.

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– Pela minha parte, tudo bem – respondeu Tom,– mas só temos autorização para utilizar a praia naparte da manhã.

– Tens razão – disse Jesse. A autorização termi-nava ao meio-dia. Aproximou-se da caravana e ba-teu à porta. – Bella, o tempo está a acabar. É pre-ciso terminar a sessão.

A porta da caravana abriu-se e as modelos saí-ram. Estavam muito sorridentes. Jesse olhou-as to-das quando passaram ao seu lado. Até a mais magraparecia ter uma bela imagem. O tecido ficava-lhejusto no corpo e destacava as suas curvas. Não que-ria admitir, mas Bella tinha razão.

Tom deixou escapar um assobio e começou, deimediato, a preparar as modelos para a sessão. Jesseobservava atentamente e não parava de abanar a ca-beça. Estava surpreendido com a transformação.

Onde é que se tinha metido Bella? Subiu os de-graus da caravana e espreitou para o seu interior.

– Arrependeste-te, Bella? Anda, mostra-te comum desses fatos de banho cujas criações te deixamtão orgulhosa...

– Vira-te. A voz de Bella vinha das suas costas. Jesse não

conseguia entender como é que tinha passado aoseu lado sem reparar nela. Quando deu meia voltae a viu, compreendeu tudo. Não poderia estar maisenganado.

– Bella? Olhou-a da cabeça aos pés uma vez e não conse-

guiu parar de olhá-la mais uma e outra vez, fa-zendo-o naquela ocasião com mais calma. Aquelamulher tinha curvas suficientes para deixar um ho-mem de cabeça perdida.

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– Uau! – disse, dando voltas à sua volta. – É...Esteve quase a dizer «familiar», mas não conse-

guia perceber porquê. Por isso, substituiu aquelapalavra por «surpreendente».

O biquíni que vestia era de um vermelho intensoe vincava-lhe as curvas como se fosse as mãos de umamante. Tinha os peitos firmes e hirtos, abundan-tes, uma cintura estreita, as nádegas arredondadase, mesmo por cima do traseiro, um pequeno sol ta-tuado. A sua pele era suave, dourada. O longo efarto cabelo caía-lhe pelas costas e ondulava em har-monia com cada um dos seus movimentos. Os enor-mes olhos cor de chocolate observavam-no com sa-tisfação.

– Obrigada – replicou ela, depois de colocar asmãos nas ancas. – Bem, acho que demonstrei o quequeria dizer.

– E o que é que querias dizer? – Que um fato de banho adequado faz a diferen -

ça. – Linda, com um corpo como este, podias usar

um dos meus fatos de banho e ficar maravilhosa. Bella abanou a cabeça. Jesse ficou maravilhado

com a forma como o cabelo dançava ao sabor decada movimento. Sentiu uma repentina tensão nocorpo. O desejo apoderou-se dele como um animalsedento. Queria agarrá-la, apertá-la contra o seucorpo, beijá-la até deixá-la sem fôlego e depois en-contrar a superfície plana mais próxima, deitá-la efazer amor com ela.

No entanto, a avaliar pelo fogo que ardia nos olhosde Bella naquele momento, aquela pequena fantasianão ia acontecer num futuro muito próximo.

– És incrível – disse ela suavemente.

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– E então, o que é que isso significa? – Vesti as tuas modelos, e a mim própria, para te

provar que tinha razão. Que a tua forma de fazer ascoisas nem sempre é a melhor. Que a minha formaé a melhor.

– Não vai ser a tua maneira de ganhar a vida. – E quem é que disse que é isso que me interessa?

– perguntou Bella. – És uma mulher de negócios. Porque é que não

queres ter sucesso? – O sucesso não tem de ser à tua maneira. – A minha maneira não é má. O facto de contra-

tar os fabricantes alarga o negócio, permite chegara uma maior diversidade de clientes e...

– Também te afasta deles – interrompeu ela. –Uma empresa pode ser tão grande que se esque-cem as motivações que conduziram à criação do ne-gócio, mas isso não interessa a um King, pois não? –acrescentou. Aproximou-se dele e colocou-lhe umdedo no peito. – Toda a tua família... é dona e se-nhora da guerra. Chegam a um lugar, compram oque querem e nunca consideram outra forma defazer as coisas que não seja a vossa.

– Eh, um momento – replicou Jesse. Agarrou-lheo dedo. Ao sentir o calor que saía dele, todos osseus pensamentos se desfizeram.

Lembrou-se de se ter sentido daquela maneiraao sentir o toque da pele de uma mulher. Recor-dou-se de como aquela pele deslizava contra a sua,o calor da união, o sabor da sua boca. Por um ins-tante, olhou Bella fixamente, mas de imediato re-cusou-se a acreditar que Bella Cruz fosse a sua mu-lher misteriosa.

– O que é que estás a fazer? – perguntou ela, ten-

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tando libertar-se. – Porque é que me estás a agarrardessa forma?

– Nem pensar – murmurou ele, mais para si em-bora ela também conseguisse ouvir. Não podia ser.Não conseguia acreditar que a sua mulher misteriosafosse a mesma que se tinha transformado num pesa-delo para si desde o primeiro dia.

– O que é que estás a dizer? – inquiriu ela. Na-quele momento, conseguiu libertar-se. Recuou umpasso e entrou na caravana para ir buscar as suascoisas. – Olha, eu... tenho de voltar para a loja. Jáestive demasiado tempo aqui e...

– Espera – sussurrou ele. Aproximou-se de Bella e deixou a porta da cara-

vana fechar-se nas suas costas. Lá dentro estava tudocheio de sombras. A luz do sol infiltrava-se através dasfrestas das persianas. De fora, ouviam-se os gritos e osrisos da multidão que se tinha reunido para ver a ses-são fotográfica.

Jesse só conseguiu vê-la a ela. Aqueles olhos corde chocolate de Bella observavam-no com reserva en-quanto ele dizia que a única forma infalível de saberse era a mulher misteriosa era beijando-a. Saboreá-la.Não ia deixá-la sair da caravana até descobrir.

– Jesse – sussurrou ela olhando em seu redor co -mo se estivesse a tentar encontrar uma saída. – Jesse,a sério, tenho de ir já embora.

– Sim – replicou ele aproximando-se até sentir asua respiração no queixo. – Eu sei, mas primeiro te-nho de fazer uma coisa.

Bella humedeceu os lábios. – E o que é? Jesse sorriu e baixou a cabeça. – Isto... – murmurou. Depois, beijou-a.

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Bella ficou tão rígida como uma tábua duranteum instante. Então, aproximou-se dele e colocou-lheos braços à volta do pescoço. Jesse apertou-a contrao seu corpo, colocando-lhe as mãos na cintura. Ascabeças dos dedos ardiam com o calor que vinha dasua pele. Bella separou os lábios e deixou que che-gasse à língua que ele procurava.

Jesse nunca conseguiu esquecer aquele sabor. So-nhara com ele nos últimos três anos. Finalmente,voltava a tê-la nos braços. Finalmente pôde abraçá-la,saboreá-la, tocá-la... Ao perceber que a tinha encon-trado, interrompeu o beijo repentinamente eolhou-a nos olhos.

– És tu... Ela cambaleou um pouco. – O que é que estás a dizer? – Tu. Na praia. Há três anos. Bella pestanejou, esfregou a boca com os dedos

e respirou fundo. – Parabéns! Estou a ver que finalmente perce-

beste. – Sabias? Sabias e não disseste nada? – E porque é que iria fazê-lo? Pensas que estou

orgulhosa daquela noite? – Devias estar. Tivemos uma noite espectacular

juntos. – Éramos perfeitos desconhecidos. Foi um grande

erro, não devia ter acontecido. Bella tentou passar ao lado de Jesse, mas ele

agarrou-lhe o braço e fê-la parar. – Procurei-te. No dia seguinte, voltei à praia e

procurei-te por todo o lado. – Achas que ia continuar ali deitada na areia, à

tua espera?

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– Não me estava a referir a isso, caramba! Ondeé que te meteste?

– Não me parece que tenhas feito grande esforçopara me encontrar. Fui ver-te na manhã seguinte epassaste ao meu lado sem me ver.

Jesse franziu a testa e tentou lembrar-se, mas nãoconseguiu. Naquela noite bebera tanto que tudo oque aconteceu no dia seguinte estava imerso na nu-vem do álcool. Só se conseguia lembrar do toqueda pele de Bella, do seu sabor.

– Quando me viste, disseste quem eras? – Claro que não! – E como é que eu ia adivinhar quem tu eras se

não me disseste? – Que tipo de homem não se lembra da cara da

mulher com a qual fez amor? – Um homem de ressaca. Caso não te lembres,

bebemos algumas Margaritas naquela noite. – Sim, mas lembrava-me de ti – gritou ela. –

Além disso, estás a dizer que andaste à minha pro-cura. Como é que tencionavas reconhecer-me?

– Não sei – sussurrou Jesse, coçando a nuca comuma mão. – Caramba, Bella, podias ter-me dito,pelo menos na manhã seguinte, quando voltei à ci-dade. Por isso é que tens andado numa batalha cer-rada comigo desde que regressei?

– Por favor – disse ela levantando o queixo. –Como é que podes ter uma opinião tão boa de ti pró-prio? Isto não é nada pessoal, Jesse – mentiu.Virou-lhe as costas e saiu. – O que acontece é que teestás a apoderar da minha cidade. Não vês? Odeio-tea ti e a tudo o que te diz respeito.

– Não me podes odiar. Não me conheces sufi-cientemente bem.

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Bella começou a rir, mas a gargalhada não a dei-xou com um brilhozinho nos olhos.

– Acho que te conheci bastante bem há três anos. – Sim... Bem, acho que está na altura de nos vol-

tarmos a conhecer. – Nunca – gritou ela. Abriu a porta.– Nunca digas nunca, Bella – replicou Jesse an-

tes de ela fechar a porta. Há três anos que pensavanaquela mulher. Não ia descansar até conseguirtê-la onde mais desejava. Na sua cama.

– Chama o Dave Michaels – disse Jesse à assis-tente pessoal antes de entrar no escritório.

Fechou a porta e foi até à janela. Disse que sóqueria observar o mar uns minutos para pensar eacalmar-se um pouco, mas a verdade era que estavaa controlar a loja de Bella. – Caramba, porque éque tinha de ser precisamente ela? –sussurrou.

Colocou as mãos nas algibeiras das calças. A mu-lher misteriosa estava há três anos a perturbar osseus pensamentos. Depois de uma única noite ma-ravilhosa na praia com ela, tinha ficado na cidadedurante duas semanas, procurando-a em todas ascaras que via. No entanto, ela parecia ter desapare-cido da face da terra. Devia reconhecer que, na ver-dade, tinha decidido instalar-se ali, em MorganBeach, com a esperança de voltar a vê-la.

– Isto do Karma atrai a falta de sorte – murmu-rou.

O sol lançava os seus raios pela janela. Se o vi-dro não estivesse protegido, Jesse teria ficado com-pletamente cego pelo brilho do sol. Inclusive es-tando na praia, as temperaturas para o mês de

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Setembro na Califórnia podiam atingir níveis bas-tante elevados.

Alguém bateu à porta. Dave entrou de imediato. – Querias falar comigo? Jesse deu meia volta e concordou. – Conta-me tudo o que sabes sobre a Bella Cruz. O rosto de Dave ficou iluminado. – Estás a falar a sério? Estás a considerar a expan-

são? Estava? Sim. Como homem de negócios que era,

não ia deixar o seu trabalho a meio. Isso significavaque tinha chegado o momento de parar de tratara sua empresa como se de um passatempo se tra-tasse. Ia conseguir fazer com que se tornasse a maisimportante na moda de banho a nível mundial.Para fazê-lo, precisava de conseguir clientes, e Bellaera a chave para chegar até eles.

– Por onde queres que comece? – perguntou Da -ve enquanto se sentava.

– Pela vida pessoal. Família, namorados, maridosou ex de qualquer tipo. Quero saber todos os por-menores.

– Ora, ora... Pensava que isto tinha a ver com onegócio.

– E tem – garantiu Jesse sentando-se também. –Para ganhar terreno à Pipeline, tenho de ser rápido.Isso significa que preciso de toda a informação quepuder conseguir. Para derrubares o teu adversário,primeiro tens de o conhecer bem.

– Estás a dizer adversário? – repetiu Dave. – Elanão é tua adversária em nada.

Jesse suspirou e depois sorriu. – Há quanto tempo é que a Connie e tu são ca-

sados, Dave?

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– Treze anos. Porquê? – Já estás fora do jogo da sedução há tanto tempo

que te esqueceste de como é. As mulheres e os ho-mens são sempre forças opostas. Afinal é essa a di-versão. Se compreendêssemos as mulheres, ondeestaria o desafio?

– Porque é que tudo tem de ser um desafio? – Não tem de sê-lo, mas é. O truque é conhecer

a mulher que te interessa, avaliar como funciona asua mente, se conseguires. Quando o fizeres, tudoo resto é fácil.

– Se tu o dizes – afirmou Dave, sem estar muitoconvencido.

– Confia em mim para isto. Se quiser ganhar aBella, impedir que assine com a Pipeline, tenho deconhecê-la.

– Acredito que sim – afirmou Dave. Depois sor-riu. – Acredito que os fatos de banhos da Bella vãoser óptimos para a King Beach.

– Também acho. Vou tratar disso, mas, até con-seguir convencer a Bella, os nossos planos são ab-solutamente sigilosos. Ninguém pode saber. Nemsequer a Connie.

Dave resignou-se. – O chefe manda. – Óptimo! Jesse ouviu atentamente enquanto Dave come-

çava a dar-lhe toda a informação que tinha sobreBella. Enquanto Dave falava, começou a planear aforma de poder provar a Bella como precisava dele.

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Capítulo Quatro

Nos dois dias que se seguiram, Jesse viu o movi-mento incessante da loja de Bella. Da vista privile-giada proporcionada pela janela do seu escritório oupor uma mesa da esplanada do café da praia, conse-guia ver sem obstáculos a loja e a sua intrigante dona.O que mais o surpreendeu foi o enorme volume devendas que fazia. Bella tinha-lhe dito que as vendastinham ficado um pouco estagnadas devido ao finaldo Verão. Ora, ora. Se aquilo era estagnação, estavaverdadeiramente impressionado.

Continuava sem querer expandir o negócio, masnão conseguia parar de pensar nessa ideia. As in-vestigações de Dave comprovaram o sucesso queBella detinha na parte do mercado que lhe compe-tia. Não ia deixar Nick Alona ficar com aquele ne-gócio tão próspero e aliciante à frente do seu nariz.

Ela era o anúncio perfeito para os seus artigos.Uma mulher comum entrava na sua loja frustradacom a oferta das grandes superfícies e saía dali sem-pre com um sorriso estampado na cara. Admitiaque a loja de Bella funcionava lindamente, mas elefaria com que funcionasse ainda melhor.

Se a comprasse ou se, simplesmente a aniqui-lasse e a mantivesse como estilista chefe, os doisjuntos poderiam render milhões. Com certeza queela não acharia piada nenhuma aos seus planos

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para o espaço. Sorriu só de pensar na reacção dela.Agradava-lhe aquela personalidade tão forte e vin-cada. A maioria das mulheres que conhecia anda-vam tão ocupadas a curtir com ele que nunca que-riam discutir. Bella era uma mulher diferente.Agora que sabia que era a sua mulher misteriosa,sentia-se ainda mais atraído.

Amava-a com todo o seu coração e a sua alma.Desejava poder explorar aquele corpo maravilhoso,sentir o calor da sua pele e construir novas recor-dações. Queria muito mais do que uma só noite.Não sabia quanto mais é que ela lhe poderia dar,mas isso era o que menos interessava naquele mo-mento. Só queria aquela mulher.

Raios. A verdade é que estava completamenteapaixonado por Bella. E compreendia-a. Enquantoa observava a negociar com os seus clientes, com-preendeu que a loja era muito mais do que um sim-ples trabalho para ela. Ele próprio sentira o mesmoquando começou. Quando comprou a primeiraempresa, quisera aprender ele próprio como criarpranchas de surf. Tinha gostado de estar ali, sen-tir-se ligado à empresa. Sentindo que fazia parte desi.

Não tinha dúvida nenhuma de que Bella tam-bém sentia o mesmo com a sua loja. Admirava-apor isso, mas sabia que seria sempre um ponto dediscórdia entre eles. Bella nunca iria aceitar entre-gar as rédeas da sua loja. Mas ele conhecia o seu se-gredo. Sabia que era uma mulher apaixonada.Uma mulher que lograra virar o seu mundo de per-nas para o ar três anos antes.

A única coisa a fazer era seduzi-la. Deixá-la per-turbada. Adorá-la. Levá-la para a cama e, quando a

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tivesse na sua cama, nos seus braços, estaria no rumocerto para conseguir que lhe entregasse a loja. De-pois, quando finalmente tudo tivesse acabado, ela se-ria rica e agradecer-lhe-ia por isso. Se havia algo queJesse King conhecia muito bem, eram as mulheres.

– O Jesse King já esteve com tantas mulheresque nem consegue fazer a distinção. Todo o gé-nero feminino não é para ele mais do que uma lojade guloseimas bem sortida e apetrechada – comen-tou Bella enquanto batia com as unhas da mãonuma das montras de jóias da loja de Kevin.

Tinham passado três dias desde a última vez queo vira, e ele não fizera qualquer tentativa para falarcom ela. Não é que tivesse alguma vontade de over, mas sentia-se, de certa forma, frustrada.

Tinha-se mostrado emocionado ao descobrir queera ela a mulher com quem estivera há três anos.Tanto que, desde então a andava a evitar. Bella sen-tia uma enorme fúria. Por favor, ficava furiosa esti-vesse ele presente ou não.

– É claro que está a dar comigo em doida.– Não há mal nenhum num pouco de loucura –

disse Kevin. – É muito fácil falar quando não se é o objecto

em questão – murmurou Bella. Inclinou-se parauma montra para ver um novo par de brincos. –São de turquesa?

– Oh céus, és uma ignorante – comentou ele, a rir.– Não, minha querida. São de lápis-lazúli. É uma ma-téria-prima muito antiga.

Essa pedra era muito popular nos tempos dosimperadores e faraós.

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– Sabes uma coisa? – disse-lhe ela com um sor-riso. – Se não tivesse conhecido a tua namorada, iajulgar que eras homossexual.

– Os heterossexuais também sabem muito sobrejóias. O teu surfista comprou um maravilhoso colarde esmeraldas, sabias?

Bela sentiu um aperto no peito. Para quem é queo teria comprado? Essa mulher tinha de ser muitoimportante para ele. Não ia comprar esmeraldaspara uma aventura casual.

– Ah, sim, o senhor Considerado. Pergunto-mequem de entre as suas escravas vai ficar com o colarde esmeraldas – murmurou Bella.

– Credo, quase pareces uma esposa ciumenta!Ela ergueu de imediato o rosto e olhou-o com

dureza. – Garanto-te que não sou. – Pois parece-me bem que sim. – Não sou ciumenta. Simplesmente, irrito-me

com certas coisas. – E disfarças muito bem. Bem, então quer dizer

que ele já soube do que aconteceu há três anos. – Sim, e teve o descaramento de me dizer que

devia ter-lhe dito antes quem era. – Que idiota! Como é que teve o descaramento

de utilizar a lógica? – Que engraçadinho – replicou Bella. – Isto não

tem nada a ver com a lógica. Mostrou-se completa-mente insultante.

– Insultante? Vá lá, Bella. Dá a esse pobre ho-mem uma abébia. Disse-te que se lembrava daquelanoite. Que se lembrava de ti. Porque é que isso tesoa a insulto? Ah, e fala mais devagar. Não te esque-ças de que tenho um cromossoma Y.

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– É insultante porque se lembrava do sexo, masnão de mim.

– Pois claro. As mulheres fazem sempre com queas coisas pareçam mais difíceis do que na realidadesão. Ele lembrava-se do sexo por causa de ti. Porisso, lembrava-se também de ti.

– É preciso vocês terem sempre de se apoiar unsaos outros?

– Contra as mulheres, sim – admitiu Kevin. – Euadoro mulheres, mas vocês podem fazer com queum homem envelheça cedo demais.

– Kevin, podias ser mais meu amigo em vez deseres o irmão de armas do Jesse? Não percebes?Para ele, eu poderia ter sido apenas mais uma.

– Sou o teu melhor amigo e por isso estou a di-zer-te a verdade apesar de não a quereres ouvir.Não foste uma qualquer para ele. Foste tu. Lembra -va-se de ti. Deixa-te de tretas.

– Não posso crer que continues a tomar o par-tido dele.

– A questão, na verdade, é que tu estás contraele. A mim, está-me a parecer que estás a ficar ob-cecada pelo Jesse.

– Isso não é verdade. Além disso, não percebonada. Costumavas fazer campanha contra ele. Nãofoste tu que me ajudaste a organizar a marcha deprotesto contra as absorções de empresas em Mor-gan Beach?

– És a única que continua a ter um problemacom ele.

– Pois. A loba solitária. Essa sou eu. A campainha da porta tocou. Kevin lançou-lhe

um sorriso. – Volto num instante, dona Loba. Tenho um

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cliente. Dá uma olhadela à nova colecção de brincosde prata. Senhora Latimer – disse Kevin, dirigindo-seà alta e elegante mulher que acabava de entrar naloja, – tenho uns jades que lhe vão assentar quenem uma luva.

– As coisas ficam muito complicadas quandonem sequer o teu melhor amigo está do teu lado –murmurou Bella. Dirigiu-se à montra onde Kevinguardava as pratas. Observou-a, deslizando o dedosobre o vidro frio. – Jade, esmeraldas, diamantes...

– De qual é que gostas mais? Bela ficou boquiaberta. – O que é que estás aqui a fazer? Jesse sorriu. Com um dedo, ajudou-a a fechar a

boca. – Voltei para ver se o Kevin tem uns brincos a

condizer com o colar que levei há duas semanas. – Ah, sim, as esmeraldas – disse. Tinha parecido

melancólica? Esperava que não. – Tens algo contra elas? – De modo algum. Só espero que a mulher para

quem as compraste aprecie o gesto. Humm... per-gunto-me se ainda te lembras do seu nome.

– Claro que sim – replicou ele. – No entanto,agora estou a questionar-me sobre o que é que issote interessa. Estás com ciúmes?

– Por favor... Claro que não estava com ciúmes. Olhou-o nos

olhos e disse que devia lembrar-se de que ela nãosignificava nada para ele. Uma confusa recordaçãode uma noite.

– Não é assunto meu que compres jóias para umamulher – replicou. – Simplesmente, espero que acoitadinha saiba no que é que se está a meter.

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– Oh, acho que sabe – afirmou ele, a sorrir. – É surpreendente ver quantas mulheres ficam

absortas na tua órbita. – Se não te lembras, foste precisamente tu que

ficaste encantada com a minha órbita. Ela lançou-lhe um olhar de desaprovação.– Pensava que tinhas dito que não te recordavas

de grande coisa. – Bem, as lembranças são um pouco vagas, mas

aí estão. Pele ligeiramente bronzeada ao luar – sus-surrou, inclinando-se suavemente para ela. – O des-pertar de algo electrizante quando nos tocámos. Osuspiro do teu fôlego...

Parou e Bella começou a tremer. – Podes avivar-me um pouco mais a memória? –

acrescentou Jesse. Ela sentiu que a indignação estava a apoderar-se

do seu interior. Efectivamente, aquele homem erao mais atraente à face da terra. Sexy, lindo... mascompletamente imoral.

– Sim, claro – replicou ela com irritação. – Claroque sim. Estás aqui para comprar esmeraldas parauma conquista enquanto estás a apalpar terrenopara outra. Tenho imensa pena dessa mulher. Sesoubesse o seu nome, ia procurá-la para preveni-laem relação a ti.

– Confia em mim quando te digo que não pre-cisas de avisar ninguém sobre nada.

– Acho que sim. De certeza que está sentada nasua casa, a pensar que é especial, sem fazer sequerideia sobre quem está a tentar seduzir-me e...

– Seduzir-te? Não me parece que isso tenha malnenhum .

Bella olhou-o boquiaberta.

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– És um verdadeiro porco! – Acalma-te, Bella. Porque é que não vamos al-

moçar juntos e falamos sobre tudo isto? – Nem pensar – disse Bella, recuando um passo

para que as suas intenções fossem claras. Sabia queJesse King não era bom para ela, mas o seu corporeagia quando ele estava por perto. Questionou-sesobre se diria o mesmo sobre ela. Jesse era o únicohomem que mexia com ela daquela forma. – Nãohá nada que me consiga convencer a repetir umerro que demorei três anos a apagar da minha me-mória – disse, lançando uma pequena mentira.Não podia admitir à frente dele o imenso signifi-cado daquela noite para si. Além disso, depois deter passado a conhecê-lo um pouco melhor, es-tava a começar a recordar aqueles momentos deprazer.

O sorriso desapareceu dos lábios de Jesse dandorapidamente lugar à irritação que ficou reflectidanos seus olhos.

– Se realmente tens estado a tentar apagar aque -la noite da tua cabeça, não estarias agora tão zan-gada pelo facto de eu andar a comprar jóias para ou-tra mulher.

Bela conteve o fôlego. Quando falou, a sua voz es-tava carregada de fúria.

– Estás a falar a sério? Tens a certeza de que o teuego é assim tão grande?

– Bella, podes calar-te por um instante... – Estás a mandar-me calar? Não posso acreditar

que tenhas acabado de dizer isso. – Bella, deixa-me falar... – Não. Já disseste mais do que devias. Estás aqui

a tentar seduzir-me enquanto compras jóias caríssi-

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mas para outra pobre mulher que provavelmentepensa que é amada.

– É verdade. Bela ficou boquiaberta. Magoada. Ferida. Fu-

riosa. Surpreendida. Questionou-se sobre o motivopelo qual aquelas palavras a tinham ferido tanto.Nunca tinha deixado de pensar nos seus sentimen-tos por Jesse King, mas ouvi-lo admitir que amavaoutra mulher era simplesmente... insustentável.

Não se devia preocupar com aquilo. Há trêsanos que não o via. Não o tinha querido na suavida. No entanto, saber que isso já não podia acon-tecer, deixava-a de coração partido de uma formaque não estava à espera. Aquilo fê-la ficar aindamais furiosa com ele.

– Desgraçado. – Claro que a amo. É uma mulher maravilhosa.

Divertida, inteligente... – Fico feliz por ti – inquiriu. Tentou sair. – Não

te incomodes em mandar-me um convite para o ca-samento.

– O casamento acabou. – Como? Isso quer dizer que já és casado? Jesse começou a rir, fazendo com que, tanto Ke-

vin como a sua cliente voltassem a olhar para elescom curiosidade. Passados alguns instantes, os doisvoltaram a concentrar-se no assunto que os trou-xera ali enquanto Bella tentava controlar-se.Aquele cenário era pior do que poderia ter algumavez imaginado. – És casado? –repetiu, com incredu-lidade.

– Eu não. Ela sim. Bela ficou completamente atónita com o que

acabara de ouvir. A situação ia de mal a pior.

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– Bom, isso transforma-te num verdadeiro herói,não achas? Compraste jóias para uma mulher casada.

– Acho que o marido vai compreender. – Oh, tenho a certeza disso. – Não acreditas – disse ele, com um sorriso, –

mas o meu primo Travis sabe perfeitamente quesou louco pela sua mulher Julie.

– Sim, claro, tenho a certeza de que... Bela deteve-se quando compreendeu a essência

das palavras que Jesse acabava de pronunciar. En-tão, reparou que ele estava a sorrir e que a alegriaprovocada pela diversão com aquela situação estavareflectida nos seus olhos.

– O quê? Jesse estendeu a mão, agarrou na de Bella e co-

meçou a acariciá-la de uma forma que esperava serapaziguadora, mas que, na verdade, estava a des-pertar todos os seus instintos mais básicos. Porqueé que tinha de ser Jesse King a despertar os senti-dos de todo o seu corpo com uma só carícia?

Como se conseguisse ler-lhe os pensamentos,Jesse olhou-a então de uma forma mais... íntima.

– O colar e os brincos são para a mulher do meuprimo Travis.

– Para a mulher do teu primo?– Sim – respondeu ele, com um sorriso. – Acaba

de ser mãe. Pela segunda vez. Desta feita, teve ummenino. A sua filha Katie tem quase dois anos e oColin nasceu há um mês.

– E compraste umas esmeraldas – disse Bella. Sen-tiu que os últimos vestígios da sua raiva iam desapa-recendo e que estavam a dar lugar a algo muito se-melhante à ternura, um sentimento muito maisperigoso no que se referia a Jesse King.

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– Sim. Tem olhos verdes e o Travis está-lhe sem-pre a comprar esmeraldas, por isso, quando vi o co-lar aqui, não consegui resistir.

Tinha comprado um colar caríssimo para a mu-lher do primo. Porque é que isso despertava em sitanta ternura? Porque explicava que estava muitoligado à família. Ela tinha vivido praticamente todaa sua vida sozinha. A família nunca fora mais doque um sonho. Sentiu inveja de Julie King. Tinhaum marido que a adorava, dois filhos e um primoque a amava o suficiente para lhe comprar algo es-pecial para comemorar o nascimento do seu filho.

– Bem, continuo a ser um porco? – Provavelmente, mas em relação a isto não, claro. – Pareces desiludida. – Não. Só estou um pouco confusa. – Bem. Acho que tenho de dizer que isso me pa-

receu um passo na direcção certa. – Como é que é isso? – A confusão significa que já não tens tanta cer-

teza de que eu seja o demónio em pessoa e que, tal-vez estejas disposta a arriscar.

O coração de Bella começou a bater descompas-sadamente e sentiu um nó no estômago. Malditafosse. O seu corpo estava carente. Sabia que tinhade continuar afastada de Jesse King. Já se desiludiranuma ocasião, por isso seria uma estupidez voltar acolocar lenha na fogueira.

No entanto... tinha comprado esmeraldas paraa mulher do primo, o que lhe parecia correcto, oque devia fazer. Isso dizia muito sobre a sua perso-nalidade, não?

A vida fora sempre muito mais fácil quando só oodiava.

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– Arriscar-me a quê? – O que é que achas de eu te levar a conhecer a

minha empresa? – perguntou ele com um sorriso.– Quero provar-te que não sou o director de umimpério malvado.

– Humm. Para poder mudar de opinião terei dever primeiro com os meus próprios olhos. Aceito oconvite para conhecer a King Beach.

– Para já, fico satisfeito com esta evolução. Estábem para ti daqui a uma hora?

– Sim, pode ser – respondeu Bella. O sentimen -to de luta tinha-se desvanecido de dentro de si. Asua alma, o seu corpo e o seu coração estavam atentar compreender aquela nova faceta da perso-nalidade de Jesse King.

– Muito bem. Então combinamos assim, atélogo.

Saiu da loja de Kevin sem olhar para trás, dei-xando Bella mais confusa do que alguma vez tinhaestado.

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Capítulo Cinco

Jesse estava à espera de Bella na rua, ao pé daporta da King Beach. Por alguma estranha razão,quase que se sentia como um adolescente na pri-meira saída romântica.

O sol das primeiras horas da tarde iluminava-ovindo de um céu brilhante. O tráfego da rua prin-cipal não era muito intenso, mas as ruas estavamcheias de pessoas que entravam e saíam das lojasno espaço que ele tinha reabilitado. Todos os habi-tantes de Morgan Beach estavam encantados como trabalho por ele desenvolvido. Todos, excepto amulher na qual estava interessado.

Seria obra do destino querer vingar-se dele? Aolongo de toda a sua vida, as mulheres tinham tidouma excelente relação com ele. Excepto Bella, umamulher cuja lembrança o perseguira durante trêsanos e que, depois de a ter reencontrado, não que-ria ter qualquer tipo de relação consigo. Pior ainda,tinha alguma coisa com aquele tal Kevin. Questio-nava-se sobre o que seria. Estaria apaixonada porele?

Franziu a testa e pensou que isso não lhe inte-ressava. Fosse lá o que fosse que ela sentisse por ou-tro homem, conseguia aceitar aquela situação. De-sejava Bella e Jesse King não perdia. Nunca.

– Então, pareces zangado.

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Uma voz feminina fê-lo despertar dos seus pen-samentos. Ao virar-se para perceber de onde viera,deparou-se com uns olhos cor de chocolate. Bellatinha-se aproximado sem que se apercebesse, maso perfume vindo dela deveria tê-lo alertado. Erauma mistura de flores e especiarias que fazia re-montar aos dias de Verão. Bem, pelo menos, a umanoite de Verão em particular.

– Desculpa. Só estava a pensar. – A avaliar pela tua cara, não me parece que fos-

sem pensamentos muito felizes. – Ias ficar surpreendida se soubesses – disse.

Agarrou-lhe no braço e fê-la virar-se para a porta daKing Beach. No entanto, quando fez o gesto paraentrar, ela não se mexeu. – Há algum problema?

– Não, sinto-me como se estivesse a entrar emterritório inimigo.

– Estás à espera de alguma emboscada? – Sinceramente, não sei o que esperar – replicou

olhando-o fixamente. – Nesse caso, acho melhor começarmos para

que possas satisfazer a tua curiosidade. Os dois atravessaram a ombreira da porta e pa-

raram do outro lado. Em frente à porta, ficava a re-cepção do edifício. A senhora que ali estava sen-tada não parava de atender o telefone que tocavasem parar. Jesse esboçou-lhe um sorriso e conduziuBella até ao elevador. Ali, premiu um botão e espe-rou. Não a largara nem um só instante, como se te-messe que saísse dali a correr.

Ela não o fez, mas tinha na cara uma expressãode resignação. Jesse desejou que sorrisse. Era sur-preendente como aquela mulher tão mal vestidaconseguia afectá-lo daquela forma. Naquele mo-

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mento, não conseguiu evitar perguntar porque éque se vestia daquela maneira.

– Bem, queres explicar-me porque é que usaspeças de roupa sem qualquer forma?

– Desculpa? Ela virou a cara para olhá-lo. Jesse apontou para

a camisa larga verde pálido e a saia amarela que lhechegava aos pés. Talvez devesse ter ficado calado.Depois de tudo o que acontecera, estava a tentar se-duzi-la, não a afastá-la ainda mais. No entanto, de-pois de ver o corpo que se escondia por baixo detoda aquela roupa, não conseguia compreenderporque é que tinha decidido escondê-lo. Principal-mente, porque três anos antes não o fizera. Lem-brava-se bem de umas calças de ganga justas e umablusa bastante decotada.

Quando Bella corou, Jesse ficou encantado. Nemsequer conseguia lembrar-se da última vez que tinhavisto uma mulher corar. No entanto, aquele mo-mento de confusão só durou um instante. Bella re-cuperou rapidamente o fôlego e olhou-o de ime-diato com enorme ferocidade.

– Não me parece que tenhas alguma coisa a vercom isso, mas gosto de usar tecidos naturais.

– Claro, mas, porque é que...? O elevador chegou naquele momento. As portas

abriram-se e Bella entrou. Ali, virou-se com indife-rença e olhou-o com desprezo.

– Deixei de usar roupas justas ao corpo há trêsanos, quando descobri que atraía os homens aquem só interessava uma coisa.

Por debaixo da dura luz do fluorescente, tinhaum aspecto orgulhoso, feroz. Jesse sentiu por elaum misto de admiração e vergonha. Por sua causa,

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Bella tinha passado a vestir-se daquela forma. Es-condia aquele maravilhoso corpo porque tinha idopara a cama com ela e logo a seguir desaparecerada sua vida.

Entrou no elevador com uma sensação de re-pulsa por si próprio. Premiu o botão do segundoandar. Era estranho que uma mulher tivesse conti-nuado a pensar nele depois do prazer que ambostinham partilhado. Ele aproveitara sempre e certi-ficara-se de que a mulher do momento se divertissetambém. Aí, tinha continuado com a sua vida.

Sentiu-se inseguro, questionando-se sobre quan-tas outras mulheres feridas teria deixado ao longoda sua extensa trajectória de conquistas. Nunca seconsiderou um homem que fizesse mal às mulheres.Raios, adorava as mulheres, mas... Teria de reflectir.

Apesar de tudo, sentiu que devia dizer algumacoisa.

– Não me parece que a tua estratégia esteja a fun-cionar.

– A sério? Não fui incomodada por nenhum ho-mem que eu não desejasse nos últimos três anos.

– Nesse caso, os homens desta cidade estão ousão provavelmente uns idiotas. Com certeza que fi-cas melhor sem eles.

– Achas? – Sim. Isto é, a roupa que usas é muito feia, mas

não escondes os teus olhos, nem a tua boca – sus-surrou.

Levantou uma mão e acariciou-lhe suavementeos lábios com o polegar. Ela afastou a cabeça nummovimento brusco. Jesse sorriu. – Mesmo que tives-ses estado assim vestida há três anos, eu teria repa-rado em ti.

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Bella pestanejou. Era óbvio que estava surpreen-dida pelo que acabava de ouvir. Ele sentiu-se comoum perfeito idiota. Pela primeira vez na vida, en-frentava uma mulher que tinha abandonado e ar-rependia-se por tê-lo feito. A experiência não eranada agradável.

O elevador parou e as portas abriram-se, impe-dindo-os assim de continuarem a conversar. Foramenvolvidos pela actividade desenvolvida no andar aque tinham chegado.

– Vamos, Bella – disse, estendendo uma mãopara ela e sorrindo. – Deixa-me mostrar-te o acam-pamento inimigo.

Ela olhou em redor e, finalmente, deu-lhe a mãode má vontade. Seguiu-o através daquele caos orga-nizado. Os telefones não paravam de tocar, as im-pressoras trabalhavam sem parar e ouvia-se uma sé-rie de conversas paralelas em voz baixa por todo olado.

Jesse avançava pelo andar como se fosse um reia inspeccionar o seu reino. Certificou-se de que elareparava na utilização da tecnologia de ponta e noelevado número de empregados responsáveis pelapublicidade e marketing. Mostrou-lhe os mapas nosquais tinha assinalado as centenas de lojas que ti-nha por todo o país. Então, virou-se para comungarda admiração que ela estaria a sentir.

No entanto, Bella não estava a reparar nele nemna sua apresentação. Não fazia mais nada senãopercorrer os espaços entre as mesas, observando to-das as partes e inclusive olhando para os caixotesdo lixo.

– O que é que estás a fazer? – perguntou ele, in-crédulo.

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Bella virou-se para olhá-lo. Tinha na mão umalata de sumo vazia e mostrava-a com orgulho, comose fosse uma semente de ouro que tivesse tirado daterra.

– Olha para isto! Mas vocês nem sequer reci-clam.

O empregado de mesa que Bella tinha estado aobservar soltou uma gargalhada. Um olhar de Jessefoi suficiente para que se calasse. Tudo o que lhetinha mostrado, tudo o que tinha feito para a im-pressionar não tinha significado nada. Tinha-seconcentrado numa lata vazia. Admirava a sua pai-xão. Bella praticamente vibrava com ela e Jesse nãodesejava outra coisa senão poder experimentá-la deperto. Bella estava a dar-lhe um raspanete e ele nãoconseguia parar de a desejar.

– Claro que reciclamos, Bella – disse, com a vozpaciente, – mas não somos nós que o fazemos. Osempregados de limpeza tratam disso todas as noi-tes.

– Claro. Contratas alguém para que faça o queé necessário e não tenhas de te esforçar em nada –inquiriu ao mesmo tempo que deixava que o pro-tagonismo voltasse a recair no caixote do lixo.

– O que é que estás a dizer? – Ouviste muito bem. Não interessa o que faça a

tua empresa desde que obtenhas bons lucros. Nemtão pouco pedes aos teus empregados para fazerema reciclagem. Será que era muito difícil colocar doiscaixotes do lixo em cada mesa, por questões de lo-gística? Seria assim tão difícil assumir uma respon-sabilidade pessoal nos produtos da tua empresa?

O dono da secretária em questão resignou-se econtinuou a trabalhar. Jesse abanou a cabeça, agar-

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rou no braço de Bella e levou-a dali para fora. Nãoia defender-se à frente dos empregados.

Quando estavam afastados o suficiente de todosos que conseguissem ouvi-los, disse-lhe:

– Caso não tenhas reparado, os painéis que de-limitam todas as secretárias marcam um espaço de-masiado pequeno para conseguir colocar muitacoisa lá em cima.

– É a desculpa mais simples. – O que é que te interessa acerca da forma como

é feita a reciclagem desde que seja feita? – É o princípio das coisas. – O princípio... Isto é, não se trata de reciclar,

mas de que a reciclagem seja feita pessoalmentepor mim – Bella franziu a testa. – Contrato pessoaspara fazerem esse trabalho, Bella.

– Humm. – Está bem – disse Jesse olhando-a nos olhos. –

Far-te-ia sentir melhor se despedisse todos os em-pregados de limpeza e tratasse disso eu pessoal-mente? Faria com que o mundo se tornasse numlugar melhor para ti, Bella, o facto de eu deixarvinte pessoas sem trabalho? Seria benéfico para omeio ambiente?

Bella demorou vários segundos a responder.Quando o fez, resignou-se e suspirou.

– Está bem. Acredito que tenhas razão. Jesse sorriu. Pelo menos, Bella admitia os seus en-

ganos. – Ora, ora... Não posso crer que tenha ganho um

ponto a Bella Cruz. Ela resmungou. Jesse levantou uma mão e sorriu. – Espera, ainda não acabei de saborear a minha

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vitória. Quero gozar mais um pouco da glória destemomento – disse. O tempo foi passando. – Estábem. Acabei.

– Será tudo isto uma piada para ti? – E quem é que te disse que estava a brincar?

Conseguir fazer com que admitas que tenho razãoem alguns aspectos é motivo suficiente para ficarsatisfeito. Agora, queres continuar a visita?

Jesse agarrou-lhe na mão. Ela demorou algunssegundos a agarrá-la, mas, no final, lá cedeu. Naquelemomento, ele não sorriu fisicamente, mas fê-lo parasi. Bella começou a andar ao seu lado e falou com al-guns empregados. Jesse conseguiu observar a formacomo os deslumbrava a todos. Aparentemente,aquela mulher misteriosa tinha uma personalidademuito forte. O que era evidente era que não conse-guia baixar a guarda quando estava com ele. Não opreocupava. Não queria que ela ficasse mais calma.Queria-a excitada, zangada, prestes a cair na paixãosexual. Então, ajudá-la-ia a libertar-se.

Sim, ia voltar a fazer amor com Bella. Ia dar-lhevinho, comida e seduzi-la de tal forma que ela aca-baria por lhe implorar que comprasse a sua loja efizesse dela milionária. Quando tivesse na sua posseaquele estabelecimento, tudo seria mais fácil. Quan -do fizesse parte da King Beach, as coisas correriammelhor a Bella, a ele e a toda a gente.

Ficou a um canto enquanto ela falava com duassecretárias. As duas mulheres não paravam de elo-giar o trabalho dela e de se queixarem de comogostariam de conseguir encontrar fatos de banhode qualidade em todas as superfícies. Até mesmona King Beach. Jesse franziu a testa ao ouvir aforma como as suas próprias funcionárias se quei-

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xavam do facto de a sua empresa não estar a con-seguir satisfazer as necessidades dos consumido-res.

Aquele facto convenceu-o ainda mais acerca danecessidade de absorver a empresa de Bella. Na-quele momento, Dave Michaels aproximou-se delescom uma expressão alegre no rosto.

– Bella – disse, depois de cumprimentar Jessecom um aceno de cabeça. – Ficamos encantadospor te ter cá. O Jesse disse-me que te queria mos-trar a nossa empresa. Espero que não te importesse te chamar Bella.

– Claro que não – respondeu ela. Afastou-se dasduas secretárias com as quais tinha estado a conver-sar. – Tudo isto é... impressionante.

Tinha dito «impressionante», mas a Jesse não lheparecia que estivesse muito impressionada. Aos olhosde Jesse parecia-lhe antes desiludida.

– Bem, somos uma grande empresa e estamos acrescer – disse Dave. – Esta é uma das razões pelasquais fico feliz por estares aqui. Como sabes, a KingBeach não vende roupa de banho feminina...

Jesse começou a fazer gestos a Dave para pararpor ali. Ainda não tinha chegado a altura de dizera Bella que estavam interessados em comprar a suaempresa. Quando chegasse a altura, queria ser elea informá-la sobre as suas pretensões. Tinham deser cautelosos para que toda aquela informaçãonão lhes explodisse no rosto. Dave compreendeu oque Jesse estava a tentar dizer-lhe e interrompeu afrase a meio. Mudou de tema subtilmente.

– ...mas tenho de te dizer que a minha mulhercomprou um fato de banho na tua loja e não con-segue deixar de falar sobre a sua nova aquisição.

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– Fico muito contente por sabê-lo. Espero queregresse à minha loja – disse ela, satisfeita.

– Garanto-te que o fará. Na próxima semana, asminhas cunhadas virão cá às compras. A Connie fa-lou-lhes tanto na tua loja que as três insistiram emvir conhecer a tua loja quando cá estiverem.

– Obrigada. Fico muito satisfeita por descobrirque tenho um cliente satisfeito.

– Claro, todos nós gostamos – murmurou Jesse.Depois, voltou a indicar a Dave com um gesto paraque se retirasse.

– Bem, tenho alguns telefonemas para fazer –disse ele, percebendo a indirecta. – Vou deixá-lospara prosseguirem com a visita. Fiquei contentecom a tua visita, Bella. Espero voltar a ver-te muitoem breve.

Bela observou-o enquanto se retirava. Então, vi-rou-se para olhar Jesse.

– Gosto do teu amigo. – Mas de mim não. – E isso importa? Sim, claro que importa. Jesse não estava certo do

motivo pelo qual não queria reconhecer aquele fac -to, mas do que realmente tinha a certeza era quenão ia deixar que Bella percebesse o que sentia.

– Deixa-me mostrar-te o meu escritório – disse. – Oh, senhor King – disse-lhe uma mulher en-

quanto se aproximava rapidamente deles. – Acabá-mos de ter notícias sobre a prova de surf. A cidadeaprovou tudo e todos os nossos convidados aceita-ram participar.

– Boas notícias, Sue – respondeu Jesse após veri-ficar a curiosidade que se reflectia nos olhos de

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Bella. – Ligue ao Wiki, sim? Diga-lhe que entro emcontacto com ele amanhã.

– Com certeza – disse a mulher antes de sair acorrer.

– Wiki? – perguntou Bella enquanto Jesse lheagarrava no braço e a levava para o escritório.

– Danny Wikiloa – respondeu enquanto lhe abriaa porta. Quando já lá estavam os dois dentro, a voltoua fechá-la. – É um surfista profissional. Competimosjuntos durante vários anos. Vem daqui a duas sema-nas para uma prova. Na verdade, fá-lo como um fa-vor para mim, uma vez que agora já está fora decena.

– A prova – murmurou ela. Toda a gente andavahá vários dias a falar do mesmo assunto.

Jesse colocou as mãos nos bolsos enquanto ob-servava a forma como ela se movia no seu escritó-rio.

Bela reparava em tudo, parando para ver as ima-gens das praias. Mal olhou para os troféus, o que omagoou um pouco, mas pareceu fascinada com asfotos familiares.

– Vai ser muito divertido – comentou enquantose aproximava dela. – Dez dos melhores surfistasmundiais vão participar nesta prova.

– Tens saudades, não tens? Estou a referir-me àcompetição.

– Sim, claro. Eu gosto de ganhar – disse Jesse.Nunca o tinha admitido com ninguém.

– Isso não me surpreende. Todos os King são as-sim, não são?

– É verdade. Gostamos de competir e não per-demos de boa vontade.

– Pois não se pode ganhar sempre.

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– Não percebo por que não. – Estás a falar a sério? – Sim. Nenhuma das pessoas que aparece nessas

fotografias se contenta com um segundo lugar. – Às vezes, não resta alternativa. – Há sempre uma alternativa, Bella. Há muito

tempo que a família King decidiu que as únicaspessoas que perdem são as que encaram as coisascomo uma derrota à partida. Nós queremos sem-pre ganhar, e é isso que fazemos.

– Assim tão facilmente? Jesse olhou-a e viu que ela estava a observá-lo

atentamente. Os seus olhos tinham um aspectomisterioso, escuro. Pareciam estar repletos de se-gredos que ele ansiava conhecer. Partilhar comela. Levantou uma mão e acariciou-lhe a face comela.

– Eu nunca disse que seria fácil. Realmente, ga-nhar nunca deveria ser tarefa fácil. Se toda a gentesoubesse fazê-lo, já não teria a mesma piada.

– E a diversão é muito importante para ti, não é?– disse ela. Recuou um passo, afastando-se da suacarícia. Dele.

– Deveria ser importante para toda a gente. Deque serve a vida se não a aproveitarmos devidamen -te? Raios, porque é que uma pessoa há-de ficar aver a vida passar sem a aproveitar?

– E gostas do que fazes agora? – Sim – disse resignado. – Não achava que fosse

assim. Nunca pensei em vir a ser empresário, masse as coisas me correrem bem, não tenho por queme preocupar.

– Sim, também acho – sussurrou ela olhando àsua volta.

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– Folgo em saber que estamos de acordo em al-guns pontos.

– Não cantes vitória antes do tempo. – E por que não, Bella? Podíamos formar uma

equipa fantástica. – Nós nunca podíamos ser uma equipa. Aquele era o momento indicado para lhe fazer

a sua proposta. De repente, ficou surpreendido aopensar que nunca tinha tido de fazer tamanho es-forço para conseguir agradar a uma mulher.

– Claro que poderíamos vir a sê-lo. Pensa nisso.King Beach. Bella’s Beachwear. Uma união perfeita.Bella ficou completamente imóvel. Então, olhou-oinsegura e perguntou-lhe:

– Que tipo de união? – Bem, eu não queria falar já sobre o assunto,

mas também não gosto de esperar. Está bem –disse. Foi até à sua secretária e apoiou-se contra ela.Nas suas costas, o sol entrava fortemente pela ja-nela. – Quero comprar a Bella’s Beachwear.

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Capítulo Seis

– Não – disse Bella. Largou a palavra instintivamen -te.

– Vá lá... – replicou ele. Afastou-se da secretáriae aproximou-se dela. – Pelo menos, deixa-me ter-minar a frase.

– Não é preciso. Eu não estou à venda. Deveria ter imaginado. Teria de se ter aperce-

bido de que Jesse andava a preparar alguma. Tinhabaixado a guarda com ele, tinha deixado que a aca-riciasse... Tudo tinha sido uma estratégia para en-fraquecer as suas defesas.

– Não estou a tentar comprar-te, Bella. Só queroa tua loja.

– Tu não estás a perceber, eu sou a minha loja –informou-o. Estava irritada, desiludida e zangadaconsigo própria por se ter metido naquele sarilho.– Queres comprar a minha roupa de banho mas,para ti, são só fatos de banho que se penduramnum cabide e se vendem em massa.

– Há algum mal em vender as tuas peças às pes-soas que as querem comprar?

– Não, eu não estou interessada em vendas rápi-das e fáceis. Interessam-me sobretudo os meus clien-tes. Quero ajudar as mulheres normais a recupera-rem a sua auto-estima. Tu queres que as mulheresjovens e magras se sintam bonitas e bem com elas

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próprias. Bem, bonitas já elas são. Não tinhas repa-rado ainda?

– Bella, eu sei que achas que quero mudar o teutrabalho, mas estás enganada. Há anos que hesitoem vender roupa de banho feminina porque nãosei que género de peças é que as mulheres gostamde usar. Só vendo peças que conheço e que acre-dito que podem fazer sucesso. Por isso quero quefaças parte da King Beach. Porque defendes as tuaspeças da mesma forma que eu defendo as minhas.

– A minha colecção não é um conjunto de «pe-ças».

Jesse soltou uma gargalhada que fez com queBella ficasse ainda mais furiosa.

– Já percebi. A tua linha não é para ser interca-lada com os fatos de banho vendidos nas grandessuperfícies.

– Não quero que compres a minha loja para aremodelar ou inseri-la no contexto da King Beach.Não me podes comprar como tens feito com esta ci-dade, Jesse. Não vou deixar que estragues o que maisquero só em prol do teu negócio.

– Tens alguma coisa contra tornares-te milionária?– replicou ele. – Porque garanto-te que, se te uniresa mim, é isso que vai acontecer.

Por um instante, Bella considerou a sua oferta.Pensou no que significaria para si ser independentea nível financeiro. Poderia comprar a Kevin a casaque este lhe arrendava. Poderia doar todo o dinheiroque quisesse a diferentes organizações de beneficên-cia. Poderia...

– É o diabo em pessoa – concluiu finalmente. – Bem, folgo em saber que estás a começar a

considerar os prós e os contras.

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– Já o fiz, durante trinta segundos. – Já é um começo. – Não é. Não me sinto preparada para a produ-

ção em grande escala. Sou uma empresa pequenae gosto que seja assim. Conheço as minhas costu-reiras. Escolho pessoalmente os tecidos e desenhoos modelos. As mulheres que trabalham para mimnutrem tanto respeito pelo resultado final comoeu.

– Sim, mas tens de fazê-lo sendo pobre? Pensabem. Se te juntares à King Beach, vais contribuirpara a criação de mais postos de trabalho, melho-res salários para as tuas costureiras. Estou certo deque poderemos contratá-las. Poderão ensinar aosprofissionais muita coisa.

– Elas também são profissionais. – Não duvido, mas a uma escala muito menor.

Não percebes, Bella? Se te unires a mim, vais con-seguir muito mais para a tua empresa.

– Sei que queres a minha empresa, mas não tavou entregar.

– Não quero apenas a tua loja, Bella. Tambémte quero a ti.

Céus. Uma onda de algo caloroso, delicioso eperturbador atravessou-a dos pés à cabeça. Jesse de-sejava-a. Estava a falar a sério? E como é que a de-sejava? Há quanto tempo? Oh, meu Deus. Estava ner-vosa. Excitada. Era alvo de uma série de sensaçõesdiferentes e vibrava com as possibilidades que aque-las palavras lhe ofereciam. Tudo mudou quandoJesse começou a falar e acabou com as ilusões detudo o que ela tinha pensado.

– Quero que sejas tu a ocupar-te dos negócios.Continuavas responsável pelo design e terias a úl-

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tima palavra em tudo o que estivesse relacionadocom a Bella’s Beachwear.

O calor que tinha sentido transformou-se numagélida sensação. Muito bem. Não a desejava a ela.Queria que trabalhasse com ele. Para ele. Mais nada.Tinha de parar de pensar nos sonhos perfeitos paraevitar desilusões.

– Este sempre foi o teu plano desde o início, nãofoi? Tantas falinhas mansas e tanta sedução que sópretendiam apanhar-me desprevenida.

– Isso depende. – Todos os teus comentários sobre o facto de a

King Beach não ser dirigida às mulheres eram ape-nas isso, comentários. Estiveste a planear a absor-ção da minha empresa desde o início.

– Considerei isso, sim. O dia da sessão fotográ-fica abriu-me os olhos. Mas a única culpada de tudoisso foste tu. Mostraste-me que os teus fatos de ba-nho podiam adaptar-se ao corpo de cada mulher.Tu abriste-me os olhos. Tenho culpa de que me te-nhas dado ideias?

– Isso agora não interessa – disse Bella. De re-pente, arrependeu-se profundamente de tudo oque fizera naquele dia. – Nada mudou. Eu não mu-dei. Achas que a tua empresa é a primeira a pro-por-me a compra da loja? Pois não é. E provavel-mente também não vai ser a última. No entanto,não vou vender, Jesse. Desta vez, perdes tu.

– Oh meu Deus, és tão teimosa! – Eu estava a pensar o mesmo sobre ti – replicou

ela. Ao ver que ele estava a sorrir, ficou ainda maisfuriosa. Como se só com o seu sorriso conseguissefazê-la mudar de opinião. – É de família, não é? Deveser uma característica própria dos King. Vocês sem-

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pre conseguiram tudo a que se propuseram. Ti-veste uma vida maravilhosa – acrescentou. – Aocontrário do que acontece com muitas pessoas.

Jesse mudou de posição. Como era óbvio, come-çava a incomodá-lo o rumo que a conversa tinha to-mado.

– Está bem. Confesso, mas se achas que os Kingsão educados para serem preguiçosos ou mimados,estás muito enganada.

– Não estás a falar a sério, pois não? – replicouela. Depois, apontou para as fotografias de famíliapenduradas na parede. – Nenhuma destas pessoasparecer ter tido uma vida dura.

Jesse apontou para um deles. – Este é o meu irmão Justice. – É um nome muito interessante. – O meu pai ganhou um julgamento muito im-

portante no dia em que ele nasceu. De certa forma,tentou convencer a minha mãe de que Justice eraum nome perfeitamente normal e justo. Masdeixa-me falar-te sobre o Justice e a vida dos ricosmimados – disse ele. Sentou-se no braço da pol-trona.

– O Justice tem um rancho a cerca de uma horadaqui. Levanta-se à alvorada todos os dias para vercomo está o gado, as vedações e saber como vai estaro tempo. Como se o tempo mudasse com frequên-cia no sul da Califórnia. O nosso primo tambémtem um rancho, situado mais a norte. Cria cavalos.O Justice tem gado alimentado a substâncias orgâ-nicas. Tem enormes campos de cultivo de feno. Fazum trabalho muito mais duro do que qualquer umdos seus peões e não sabe o que é ser mimado nemmesmo que alguém lhe pague para tentar.

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Bela franziu a testa. – E este? – Ah, este é o meu primo Travis. É o que tem a

maravilhosa esposa que adora esmeraldas – expli-cou. Depois, apontou para mais algumas fotogra-fias. – Estes são os meus primos, Jackson e Adam,com as respectivas esposas, Casey e Gina e tambémtêm filhas, duas meninas cada um. Pelo que ouvidizer, a Gina está outra vez grávida. Aquele é o meuprimo Rico e o irmão Nick no hotel que o Rico temno México. E os outros são o Nathan e o Gareth nocasamento de uma tia. Os seus irmãos Chance,Nash e Kieran são os três que estão nessa fotografiae...

– Quantos é que são ao todo? – perguntou ela,surpreendida.

– Dúzias e dúzias. E provavelmente muitos maisque nem sequer conheço! – exclamou Jesse, rindo.– Não se pode dar um pontapé numa uma pedrana Califórnia sem que nasça um King.

– É... – Demasiado? – perguntou-lhe ele, sorrindo. –

Demasiados King? – É maravilhoso – disse ela, finalmente, com a

voz entrecortada. Há um minuto atrás ficara furiosa com ele por

ter querido comprar a sua loja, mas a ira tinha de-saparecido, sendo substituída por uma enorme in-veja. Nem sequer conseguia imaginar como seriater uma família assim tão grande. Em criança, tinhadesejado ter pais ou, pelo menos, um irmão ouirmã. Alguém a quem recorrer. Jesse era realmenterico e ela perguntava-se se ele sabia qual era a ver-dadeira riqueza da família King, que, segundo ela,

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não estava nos números, mas em cada um dosmembros da família.

– Estás bem? – perguntou ele. O sorriso tinhadesaparecido da sua cara.

Ela assentiu e apontou para outra fotografia.Não queria falar de si própria.

– Quem é este? – O meu irmão mais velho, Jefferson, que é di-

rector da King Studios. Faz filmes e mata-se a tra-balhar porque não confia em que ninguém seocupe dos pormenores.

– Assim, quantos irmãos é que tens afinal? – sus-surrou Bella. Até ela própria reparava no carinhoque havia na sua voz.

– Três. – Três irmãos. E tantos primos... E este quem é?

– perguntou. – É marinheiro?– É o meu irmão Jericho. Este sim, é um rapaz

mimado e preguiçoso. É sargento. Não queria seroficial. Disse que preferia servir com os verdadeirosmarinheiros. Já esteve duas vezes no ultramar e estáquase a ir embora outra vez.

Bela suspirou e olhou para Jesse. Ele não era oque a família esperava dele e a família não era oque ele tinha esperado. Trabalhadores ranchei-ros. Marinheiros. Além disso, estavam todos apa-rentemente tão unidos que para Jesse era mais doque natural pendurar as suas fotografias no escri-tório.

Invejava aquele vínculo. Vidas entrelaçadas, la-ços reforçados por anos de amor. Questionou-se so-bre como seria ter tanto, saber que teria sempre al-guém a quem recorrer quando precisasse.

– Bella, estás bem?

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– Sim, simplesmente...fiquei surpreendida, foiisso.

– Porquê? Porque tenho família? – Não. Pelo quanto os amas. – Ficaste surpreendida por saber que amo tanto

a minha família? – Nunca pareceste... Não interessa. – Bem, pois se estas fotografias te impressiona-

ram, devias saber que ainda tenho mais. – Mais? – Muitas mais na minha casa. Aqui já não tinha

espaço na parede. – Isso não é justo. – O quê? – Achava que te tinha etiquetado – admitiu ela.

– Que eras um ladrão da vida moderna que avan-çava conseguindo tudo o que desejava sem pedirperdão.

– Pois, estás enganada. Claro que tento conse-guir o que quero e não deixo que ninguém se in-trometa para o conseguir.

Aproximou-se dela até que a única barreira queos separou foram uns escassos centímetros e a firmedecisão de Bella.

Ela sentiu o calor que emanava do corpo de Jesse.Era tão tentador deixar-se levar, deixá-lo acabar como espaço que os separava para poder sentir final-mente o alto e forte corpo dele contra o seu... Aslembranças da única noite que tinham passado jun-tos continuavam bastante presentes. Podia atirar-sesobre ele, mas sabia que, se o fizesse, perder-se-iapara sempre. Por isso, fez a única coisa que conse-guiu. Recuou um passo, mental e fisicamente. Jessesuspirou.

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– Não precisas de ter medo de mim, Bella. – Não tenho. Só estou a ser cautelosa. – Ser cauteloso é bom. Isso significa apenas que

cada um leva o seu tempo, mas que, quando se tema certeza daquilo que se quer, se avança sem hesitar.

Bella sabia do que ele estava a falar. Não haviamuito para ler nas entrelinhas. Jesse desejava-a eela também o desejava. O que é que tudo aquilolhe tinha custado? Uma noite de glória e três anosde tristeza. Estaria realmente preparada para en-frentar novamente aquele tipo de dor?

Jesse King não era o tipo de homem que pen-sava no «para sempre». E Bella não era o tipo demulher que se conformava com algo temporário.Os dois nunca estiveram de acordo.

– Porque é que não aceitas vir jantar comigo? – Desculpa? – Um jantar. Tu sabes, é considerado habitual-

mente a última refeição do dia. – Não sei se é boa ideia. – A mim, parece-me uma ideia genial – replicou

ele, acabando novamente com a distância que osseparava.

– Conheceste a minha empresa. Viste que o es-paço não é um escritório clandestino. Os meus em-pregados são felizes e bem pagos. Acho que sou umchefe bastante decente, não achas?

– Sim... – Além disso, não é assim tão difícil passar algum

tempo comigo, pois não? – Não...– Por isso, vamos jantar. Conversamos... – Jesse, não vou mudar de opinião em relação à

venda da minha loja.

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Jesse interrompeu-a. Pousou-lhe as mãos nosombros e deixou que ela sentisse como o calor dasua pele trespassava o suave tecido da camisa.

– Neste momento, não estou a falar de negócios.Desejo-te, Bella. Há três anos que te desejo – sussur-rou, deixando que o seu olhar a percorresse da ca-beça aos pés como se de uma carícia se tratasse. –Raios, há três anos que sonho contigo. Tu tambémme desejas. Sinto-o de cada vez que estamos juntos.

– Eu nem sempre faço o que quero – disse-lhe.Não fazia mais que pensar que tinha de ser forte.Que não devia ceder, mas, infelizmente, o seucorpo não respondia.

– Devias fazê-lo, mas logo falamos disso numaoutra ocasião. Neste momento, tenho um pacto parate propor.

– Que tipo de pacto? – perguntou ela com receio. – É muito simples. Perfeito para os dois. Acho que

sabes o que é, não sabes? – Demasiado bem. – Sim. Bem, eu acho que estás enganada e estou

disposto a apostar algo nisso. Se conseguir mos-trar-te algo sobre mim que te deixe verdadeira-mente atónita, faremos amor, outra vez. Aquela pa-lavra de quatro letras, sexo, despertava nela tantasemoções e necessidades que Bella quase não con-seguia respirar devido ao efeito estrangulador quelhe produzia nos pulmões.

– Um momento... – Vá lá, Bella. Tu mesma disseste que sabes exac-

tamente que tipo de homem sou. – Sim, mas... Com isto já me surpreendeste – disse

ela apontando para as fotografias que estavam naparede.

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– Porque amo a minha família – replicou ele,como se não conseguisse acreditar que algo assimtivesse conseguido surpreendê-la. – No entanto, eunão estou a falar de surpresa, mas de choque. Se tedeixar atónita, fazes amor comigo, outra vez.

– Pára de dizer «outra vez». – Não há razão para fingir que te sentes insul-

tada ou algo parecido – observou ele. – Já nos co-nhecemos fisicamente numa ocasião. A única coisaque te estou a dizer é que seria realmente agradávelque nos voltássemos a conhecer outra vez.

– Tenho a certeza de que estás a fazer de propó-sito. Para mo recordares.

– Tens razão. E está a dar resultado? Bela esteve quase a gritar que tinha razão. Sen-

tia-se tão deslocada do seu ambiente... Jesse Kingera um sedutor nato. Conseguia fazê-lo até em so-nhos, mas ela sentia-se completamente perdida.Não sabia entrar no jogo da sedução. O seu jogoera mais o da sinceridade e a honra. Não obstante,decidiu olhá-lo nos olhos e não parar para não per-ceber quão assustada se sentia. Não queria queJesse pensasse que tinha medo de aceitar o pacto.

– Já sei o que acarreta este pacto se perder, mas,o que é que acontece se ganhar?

Jesse franziu a testa. Depois, sorriu. – Se eu não conseguir deixar-te completamente

atónita, e vais ter de ser sincera na resposta, nãovolto a insistir para que me vendas a tua loja.

Ora. Bella nunca se tinha imaginado numa situa-ção daquelas. Era muito fácil. Jesse observava-a comum sorriso nos lábios. Evidentemente achava quepodia ganhar facilmente o pacto. Será que não lhetinha dito que os King nunca jogam para perder?

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Pensou em quão satisfatório seria deixá-lo emevidência. Derrotá-lo no pacto que ele mesmo lhetinha feito. A oportunidade de algo assim era de-masiado atractiva para a repelir. Além disso, estavaconvencida de que ele jamais a deixaria atónita. Sa-bia exactamente quem era Jesse King.

– Está bem, pacto feito. – Sexta-feira à noite. Jantar e pacto. – Sim. Sexta-feira – disse ela. Então, levantou o

queixo e estendeu a mão. – Queres que te aperte a mão? – Sim, claro.– Com certeza. De repente, agarrou a mão que Bella lhe esten-

dia e aproximou-se dela. Apertou-a tão intima-mente contra o corpo que Bella conseguiu sentirtodos os contornos do seu corpo, para não mencio-nar uma parte concreta que não deixava dúvida al-guma sobre como se sentia ele naquele momento.

Bela ergueu o olhar e conteve o fôlego ao verque ele baixava a cabeça. No momento em que osseus lábios se uniram, tudo pareceu parar à suavolta. Definitivamente, ela parou de respirar.

O mais importante de tudo foi que não se impor-tou. Todas as células do seu corpo pareceram ganharvida. O sangue pulsava-lhe nas veias freneticamente.Jesse beijou-a com um gesto duro e apaixonado, quea fez vibrar como se de fogo-de-artifício descontro-lado se tratasse. Sentiu-se viva, expectante. Jesse en-rolou a língua na sua e a paixão apoderou-se dela,empurrando-a para uma espécie de espiral na qualnada era como devia ser e tudo brilhava com novaspossibilidades.

Jesse sentiu um impulso que alimentou.

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Sentiu uma paixão que ateou. Sentiu um desejo que nutriu. Bella agarrou-se a ele, apertando-se contra o seu

corpo, gozando com o contacto da rígida prova doseu desejo. Enquanto o seu cérebro se fechava to-talmente, o seu corpo cantava, ela só podia implo-rar a Deus que a ajudasse se perdesse o pacto queos dois acabavam de selar.

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Capítulo Sete

Durante os dias que se seguiram, Bella tentou deesquecer Jesse e o beijo partilhado, tarefa nada fá-cil. Caramba! A noite que passou com ele, há já trêsanos, ainda continuava fresca na sua cabeça.

Ajudava-a manter-se activa. Eram os momentosde descanso que mais a enfastiavam. Na altura emque o cérebro se descontraía, começava a pensarem Jesse e o corpo não ficava atrás.

Ao longo dos anos, quase tinha podido conven-cer-se de que os beijos de Jesse não eram tão mara-vilhosos como ela achava. No entanto, tinham bas-tado uns segundos no seu escritório para seaperceber de que se estava a enganar. Aquele beijotinha sido tão maravilhoso como os que Jesse lhe ti-nha dado há três anos atrás. A pele dela ainda vi-brava. Já era sexta-feira e tinha chegado a altura decolocar à pro va o seu acordo. Nessa noite, iam jantarjuntos. Se ele conseguisse deixá-la verdadeiramenteatónita, teriam sexo como sobremesa.

– Bella? – chamou-a uma voz do provador. Bellaagradeceu profundamente a distracção.

– Precisa de alguma coisa? Uma loira de olhos azuis assomou a cabeça acima

da porta do provador e sorriu. – Necessito de um tamanho mais pequeno do fato

de banho prateado.

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Bella começou a rir. – Não lhe tinha dito? A mulher era uma cliente nova e, como todas as

que iam à sua loja pela primeira vez, não tinha ou-vido Bella quando esta lhe disse que os fatos de ba-nho lá tinham de ser um tamanho mais pequenodo que os das outras lojas.

– Não posso crer, mas sim, tinha razão.– Voltarei já com um tamanho mais pequeno.– Nem sabe como gosto de ouvir essas palavras

– exclamou a mulher com uma gargalhada. Bella passou perto de outras três clientes que es-

tavam a inspeccionar os cabides e dirigiu-se ao quecorrespondia àquele fato de banho para encontrarum tamanho mais pequeno.

Imediatamente, voltou ao provador e deu-o àcliente. Então, voltou ao balcão.

Precisamente naquele momento, a portaabriu-se. Bella esboçou imediatamente um sorriso,que se apagou do rosto ao ver que se tratava deJesse King. Ele, que parecia estar no seu melhor,sorriu às clientes e centrou a sua atenção em Bella.

Deus... Ela odiava admitir o que sentia só aovê-lo. Ia vestido com uma indumentária da sua li-nha de roupa desportiva. Tinha o cabelo loiro des-grenhado por causa do vento. As rugas de expres-são que tinha em torno dos olhos aprofundaram-seum pouco mais quando sorriu.

– Bom dia, minhas senhoras – disse. Então, diri-giu-se directamente para o lugar no qual Bella seencontrava.

– Meu Deus! É o Jesse King – exclamou uma dasmulheres. Imediatamente após a declaração, se-guiu-se uma suave gargalhada.

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Naturalmente, ele escutou o comentário e alar-gou ainda mais o sorriso. «Genial», pensou Bella.

– Bella – chamou ele, colocando as mãos sobreo balcão de vidro. Então, baixou o tom de voz. –Fico feliz por voltar a ver-te. Tiveste saudades mi-nhas?

– Não – replicou, quando a realidade era bemdiferente. Jesse tinha-se mantido afastado dela du-rante três dias. Sem dúvida, tinha feito isso delibe-radamente para ela ficar louca. Pois não estava afuncionar!

«Sei muito bem que não é assim», disse para siprópria.

Jesse sorriu como se soubesse o que ela estava apensar.

– Tive saudades tuas – sussurrou. – Tenho a certeza disso – replicou Bella. – Vieste

dizer-me que já não queres jantar comigo? – per-guntou-lhe, sem muitas esperanças.

– E porque ia eu fazer isso quando estou deci-dido a levar-te onde tanto desejo ver-te? Não. Vimpara te dizer que, se te parecer bem, vou buscar-teàs sete.

– Oh, não tens que fazer isso. Posso encontrar-mecontigo em qualquer lugar.

– No nosso primeiro encontro oficial? – replicouele. – Não me parece. Vou buscar-te a casa.

– Pronto, está bem – anuiu ela. – Vou dar-te a mi-nha morada.

– Oh, eu sei onde vives. – O quê? Como? – perguntou. Então, lembrou-se

do contrato de arrendamento. – Fiz tudo o que era possível para saber – respon-

deu ele. A seguir, inclinou-se sobre ela por cima do

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balcão e deu-lhe um beijo rápido na boca. Por fim,piscou-lhe um olho. – Bom, vemo-nos às sete.

– Combinado. Às sete. – Excelente! Até logo.Bella estava completamente segura de que tinha

ouvido as clientes suspirarem. Ou talvez tivesse sidoela...

Jesse deu a volta e dedicou um deslumbrantesorriso às senhoras que estavam na loja.

– Senhoras... Os suspiros velados começaram praticamente no

momento em que a porta se fechou. Bella decidiunão escutar. Em vez disso, enterrou a cabeça no tra-balho e tentou de não pensar na noite que a espe-rava.

Jesse saiu da loja de Bella e dirigiu-se a um pe-queno café que havia numa esquina próxima. O es-tabelecimento tinha uma pequena esplanada comuma linda vista da praia, do cais e de uns homensque trabalhavam para pendurar um grande cartazno qual se lia «Prova de surf: Venham ver os campeões».

A prova tinha sido ideia sua. Decidira reunir al-guns dos seus amigos para que todos pudessem di-vertir-se no oceano. Ao mesmo tempo, a exibiçãosuporia uma importante propaganda para a suaempresa. Viriam muitos turistas à cidade e gasta-riam muito dinheiro nas lojas.

Não gostava de o admitir, mas tinha saudades dacompetição. A excitação de um encontro com sur-fistas exímios. Não tinha saudades da imprensa oudos fotógrafos, embora nada pudesse superar a ex-citação de uma vitória.

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Sorriu e sentou-se a uma das mesas. Esperou queuma jovem empregada o atendesse.

– Só um café, por favor – disse Jesse. – Com certeza, senhor King – respondeu a jo-

vem muito bem-disposta. – O senhor vai participarna prova de surf, não vai?

– Vou pois. – É genial. Morro de vontade de vê-los a todos

em acção! A jovem loira sorriu e lançou o rabo-de-cavalo

para trás. Então, exibiu o peito para o caso de Jessenão ter dado por ele.

Jesse assentiu com indiferença. Claro que repa-rara, mas não lhe interessava. Há não muito tempo,teria começado a seduzir aquela jovem e ter-se-iaaproveitado do brilho que reluzia nos olhos damesma. A única mulher que lhe interessava tinhaoutro tipo de brilho nos olhos, o da luta. O mais es-tranho de tudo era que aquele tipo de brilho oatraía mais do que o da descarada loira.

A empregada sorriu esperançada e desapareceuno interior do café. Jesse ficou sozinho, à excepçãode uns quantos desconhecidos que também esta-vam sentados no café. Notou que um lhe deitavaum olhar de interesse, mas não lhe prestou aten-ção. O lado negativo da fama era que jamais podiaestar sozinho.

– Bom – disse uma voz profunda nas suas costas.– Acho que deveríamos falar.

Jesse virou a cabeça e viu que se tratava de Kevin,o amigo de Bella. O recém-chegado rodeou a mesae foi sentar-se na cadeira que ficava de frente paraJesse. Antes que ele tivesse oportunidade de falar,chegou a empregada com o café de Jesse.

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– Olá, Kevin – disse ela. – O de sempre? – Sim, Tiff. Muito obrigado – respondeu Kevin,

sem deixar de olhar para Jesse. Quando voltaram aficar sozinhos, Jesse examinou Kevin. Tinha o as-pecto de um cão de guarda, o que fez com queJesse se perguntasse que tipo de amizade partilhavacom Bella. Eram um casal? Não gostava dessa ideia,mas era possível. Jesse jamais tinha achado que oshomens e as mulheres pudessem ser simplesmenteamigos. No entanto, ao mesmo tempo, não achavaque Bella fosse o tipo de mulher que pudesse estarcom um homem e beijar outro. Então, qual era asituação do tal Kevin? Que interesse tinha ele na-quele assunto?

– De que queres falar? – perguntou-lhe Jesse, tra-tando de conter a irritação. – Vieste dizer-me quejá tens os brincos de esmeralda?

– Não. Vêm na próxima semana. Trata-se da Bella. Claro. Já imaginava. Era melhor ter uma pequena

conversa com ele e esclarecer algumas coisas. Que-ria saber que terreno pisava ele com Bella. Não éque isso lhe importasse minimamente. DesejavaBella e ia tê-la a qualquer preço. No entanto, erabom saber quantos homens teria que afastar parapoder chegar até ela.

– Bem. Falemos então – disse Jesse. – Começoeu. Vieste afugentar-me? Vou ser muito sincero;não vai servir de nada.

Antes que Kevin pudesse responder, a loira vol-tou com o café com natas que Kevin pedira.

– Obrigado – murmurou ele. A loira desapareceu. Kevin pegou na chávena e

deu um gole antes de voltar a colocá-la sobre a mesa. – Sei que a Bella te vai mandar passear se assim

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quiser. Portanto essa não é a razão para eu estaraqui.

– Muito bem. Então? – Quero saber o que se passa contigo. – E porque te interessa isso? Jesse não gostava da forma como aquilo soava.

Não gostava que Kevin achasse que tinha direito adefender Bella dele. Cerrou os olhos e apertou osdentes.

– Preocupas-te com ela. Para que vieste? Para teconverteres no seu cavaleiro andante?

– Por acaso ela necessita de um? – Se o necessitasse, não acho que fosses tu. – É aí que estás enganado. – Dormiste alguma vez com ela? – perguntou-lhe

Jesse, sem rodeios. – Não. – Óptimo. Nesse caso, se não és amante dela,

nem esposo, nem pai, a que vem tudo isto? – Sou amigo dela. Mais do que isso – replicou

Kevin. – Somos família. – Isso é verdade? – Sim. Ela ficou bastante magoada há três anos

quando partiste. Não vou consentir que faças outravez o mesmo.

Jesse não era o tipo de homem que se auto-exa-minasse com frequência. Normalmente, as mulherescom as quais passava tempo procuravam o mesmoque ele, uma tarde agradável. Sabia que Bella nãopertencia a essa categoria. Diabos, talvez até o tivessesabido então, instintivamente. Simplesmente, nãotinha querido reconhecê-lo.

– Normalmente, não aceito ordens. – Considera-o uma sugestão.

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– Também não gosto muito – disse Jesse. Apoiouos cotovelos sobre a mesa e observou Kevin cuida-dosamente. Não havia ira, nem ciúmes. Só preocu-pação. Talvez, efectivamente, fosse simplesmenteamigo de Bella. Se assim fosse, não podia culpá-lopor querer protegê-la. No entanto, esse seria a par-tir daquele momento o trabalho de Jesse. Seria elea protegê-la. O que havia entre Bella e ele não eraassunto de ninguém. – Não te estou a pedir permis-são para nada.

Surpreendentemente, Kevin começou a rir. – Não, demónios, não. Homem, a Bella ma-

tava-me se soubesse que estou a falar contigo.– Então, porque o estás a fazer? Kevin pôs-se de pé e deixou umas moedas ao

lado da chávena do café. – A Bella não é o tipo de mulher a que estás

acostumado. Ela é real. E portanto, parte-se. Jesse pôs-se também de pé e deslizou uma nota

de dez dólares debaixo da chávena do seu café. – Eu não tenho intenção alguma de magoá-la. – Esse é o problema – disse Kevin encolhendo

os ombros. – Um tipo como tu pode magoar umamulher sem sequer ter intenção.

Kevin foi embora e deixou Jesse a observá-lo.Que queria dizer com isso de «um tipo como tu»?Era ele assim tão diferente de outros homens? Nãoachava. Quanto a Bella...

Não tinha intenção de magoá-la, que o torturas-sem se o fizesse. Jesse desejava-a. Portanto ia tê-la.

– Oh, pelo amor de Deus, deixa de olhar-te aoespelho – murmurou Bella, olhando-se ao espelho

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e ajeitando o cabelo com as mãos. Estava pronta hámais de meia hora e tinha passado esse tempo todoa olhar e a voltar a olhar para o espelho.

O cabelo estava bem; solto e ondulado, caindo-lhepela costas. Tinha vestido uma saia preta, muito com-prida e uma blusa vermelha de manga curta e comum decote profundo, que deixava ver a parte supe-rior do peito. Olhou-se mais uma vez ao espelho epensou seriamente em trocar de roupa.

Afinal, Jesse era o principal responsável por elater deixado de vestir peças de roupa justas ou su-gestivas. Será que estava tão louca a ponto de en-trar na guarida do leão com aspecto de uma sucu-lenta peça de carne?

– Provavelmente – respondeu. Então, suspirou de impaciência e saiu da casa de

banho. Já estava. Não ia voltar a olhar-se ao espe-lho, nem ia continuar a preocupar-se com o as-pecto que tinha ou com o que tinha vestido. Apesardo que Jesse lhe tinha dito naquela tarde na loja,não se tratava de um encontro, mas simplesmentede um jantar. E de um pacto que ela não tinha in-tenção de perder.

Sobressaltou-se quando ouviu a campainha. En-tão, respirou fundo e dirigiu-se à porta. Não demo-rou muito. A sua casa era pequena, mas agradava-lhe.Além disso, tinha muito carinho por ela, porque setratava da primeira casa que era sua a sério.

Olhou em redor para se assegurar que estavatudo em ordem e abriu a porta. Jesse estava no pe-queno alpendre repleto de vasos que transborda-vam de camélias, amores-perfeitos e margaridas.Bella teve de conter a respiração ao vê-lo.

Jesse tinha um aspecto... quase comestível.

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O cabelo, algo longo, acariciava-lhe suavementeo colarinho da camisa branca. Trazia-a aberta e dei-xava a descoberto uma pequena parte do troncobronzeado. Envergava umas calças pretas, sapatosda mesma cor e um sorriso que parecia estar dese-nhado para tentar os anjos do céu.

– Estás muito bonita – disse ele, olhando um se-gundo mais do que o necessário para o decote dablusa. – Estás pronta?

Bella sentiu que os nervos lhe afectavam o estô-mago. Tentou convencer-se que conseguiria do-miná-los. No entanto, só de olhar para Jesse, aper-cebeu-se de que aquela sensação só ia piorar. Aúnica coisa que tinha a fazer era manter-se firme.Assim não teria problemas.

– Claro, não, mas vamos de qualquer modo. Jesse sorriu. – Assim agrada-me! Bella sorriu também apesar do formigueiro que

ainda sentia no estômago. Então, deu a volta, me-teu a mão ao bolso, tirou as chaves e saiu para o al-pendre. Jesse fechou a porta, pegou-lhe na mão edisse-lhe suavemente:

– Há três anos que espero por esta noite.

A casa de Jesse era, naturalmente, maravilhosa.Bella tinha-a imaginado desde o momento no qualele tinha feito entrar no seu desportivo pelo cami-nho de acesso a uma mansão que parecia estar si-tuada no alto de uma colina.

Essa foi também a primeira surpresa da noite. – Trata-se de uma casa «verde»? – perguntou en-

quanto os dois se dirigiam para a porta.

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– Sim. Tem o chão de bambu e as janelas de vi-dro reciclado. Os construtores utilizaram betão,que proporciona um melhor isolamento, requermenos aço e é mais fácil de colocar com alicercescom menos impacto sobre a terra. Além disso... emque pensas?

Bella abanava a cabeça. Simplesmente, não po-dia acreditar. Jesse... era muito mais ecológico doque ela.

A casa fora concebida para parecer uma antigamoradia de taipa de estilo espanhol. Estava ro-deada por uma multidão de arbustos em flor e dú-zias de árvores. Sobre o telhado, havia painéis sola-res. Umas amplas janelas vigiavam o oceano. Até aporta principal tinha um aspecto rústico.

– Não posso crer – sussurrou ela. – Surpreendida? Diria mesmo atónita? Bella levantou o rosto para olhá-lo. Jesse tinha-a

enganado muito bem, porque ele devia saber que elajamais achara que ele tinha tanta consciência ecoló-gica. Jesse tinha fama de destruir e de mudar, masera ele que tinha os tapetes das entradas de juta.

Deus. Estava presa numa armadilha. – Armaste-me uma armadilha. – A armadilha armaste-a tu, Bella – replicou ele

rindo enquanto lhe abria a porta e lhe dava acessoà casa. – Pensaste que sabias tudo sobre mim e es-tavas disposta a apostar a esse respeito.

– Mas tu permitiste-o – replicou ela, entrandono interior da casa. Por dentro, era ainda mais per-feita do que por fora. Ora bolas.

– Sim, bom, permiti-o. – Enganaste-me. Sabias que eu nunca esperaria

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algo assim. Isto é, eu trato de fazer as coisas o maisecologicamente que posso, mas isto é...

– Porque estás tão surpreendida? – É uma piada? És o homem que rasgou total-

mente o coração do bairro comercial da cidade elhe deu a personalidade de uma pedra.

– Os negócios são assim. E para tua informação,só utilizámos materiais verdes.

– Porquê? Porque te importas tanto? – Sou surfista, Bella. Naturalmente que me inte-

resso pelo meio ambiente. Quero oceanos e ar lim-pos. Simplesmente, não dou propaganda ao quefaço.

– Pois não; oculta-lo. – Isso não é verdade. Se te tivesses incomodado

a investigar-me mais um pouco, terias encontradobastante informação. A Fundação «Salvemos as on-das» é minha. A King Beach financia-a.

Bella precisava de se sentar. Olhou-o fixamente,surpreendida e impressionada. Como ia poder re-conciliar a sua imagem do predador empresarialcom aquele lado tão inesperado de Jesse King? Se-ria possível que estivesse enganada sobre ele? Se eraassim, em que outras coisas tinha criado uma ima-gem falsa dele? Olhou em redor. Chão de bambu.Clarabóias no tecto que permitiam que o luar ilumi-nasse o vestíbulo, o que dava à casa inteira um as-pecto mágico.

Estava mais do que atónita. Sentia-se encantada.Quase orgulhosa. Como podia ser tão ridícula?

Jesse agarrou-a pelo braço e conduziu-a por umlongo e amplo corredor.

– Vamos. Pedi à governanta para nos servir o jan-tar no jardim.

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De ambos os lados, as paredes caiadas estavamcobertas de fotos de familiares. Olhou-as superfi-cialmente, procurando vê-las todas. No entanto, foiimpossível. Havia muitas.

– Bem te disse que tinha mais em casa. Mos -trar-te-ei todas depois do jantar, se quiseres.

Jantar. Dado que ele a tinha deixado completa-mente atónita, ela seria a sobremesa. A menos querecuasse. Que fugisse. Podia dizer-lhe que tinha mu-dado de opinião.

Com certeza que não lhe agradaria, mas não ti-nha nenhuma dúvida que a deixaria partir.

– Estás a pensar demais – disse ele. – Deste-me muitas coisas sobre as quais posso

pensar. – Sabia que ficarias atónita, mas não posso evitar

perguntar-me porquê. Chegaram a um pátio com o chão de tijoleira.

Ao vê-lo, Bella sentiu que ficava sem fôlego. A lua cheia luzia no céu e reflectia-se sobre o mar,

criando um caminho prateado que parecia conduzira algum lugar maravilhoso. As estrelas brilhavamnum céu quase negro e a brisa do mar aproxima -va-se suavemente deles, como se quisesse acari -ciar-lhes a pele. Havia uma pequena mesa redondaposta com uma toalha de linho fino, porcelana deli-cada e cristal reluzente. No centro, havia uma gar-rafa de vinho e as chamas das velas ardiam sob aprotecção de delicadas telas.

– Caramba... – Estou completamente de acordo. Bella voltou a olhá-lo e comprovou que Jesse a

fitava. Aquilo fazia tudo parte do seu jogo, da sua

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rotina para deslumbrar as mulheres ou era algomais? Algo só para ela?

Esse pensamento era muito perigoso.– Isto é muito lindo – sussurrou ela, muito im-

pressionada.– Pois é – replicou ele. Aproximou-se da mesa e

serviu um copo de vinho para cada um. – Encon-trei este lugar da última vez que estive em Morgan.A localização é maravilhosa, mas eu queria algomais ecológico. Por isso, decidi restaurá-la.

– Parece que gostas muito de restaurar edifícios. – Não posso evitá-lo. Sou um habilidoso – brin-

cou. Bella sentiu o estômago às voltas. Então, parou

para pensar no que ele lhe tinha dito.– Compraste esta casa há três anos? – Sim – respondeu ele enquanto se aproximava

de Bella com os copos nas mãos. Ela aceitou o vinho, deu-lhe um gole e disse: – Então, sempre planeaste mudar-te para cá... – Nem sempre – disse ele. – Na verdade, foi um

encontro com uma certa mulher numa praia o queme levou a fazê-lo.

Jesse conhecia muito bem a arte da sedução, aspalavras exactas, os gestos adequados. Bella sentiaque estava a render-se. Se tivesse um mínimo debom senso, teria saído dali tão rápido quanto pos-sível. No entanto, não queria fazê-lo.

– Porque fazes as coisas assim? – Como? – perguntou ele. – Falas-me como se estivesses a tentar seduzir-me. – Isso é precisamente o que estou a fazer. Não

guardo segredo. – Porque cumpres todas as regras do jogo? Não

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tens de me lisonjear, nem sequer seduzir-me. Nemnenhuma das coisas que fazes normalmente paraseduzir as mulheres. Já sabes que eu também te de-sejo. Então, porque finges que sentes por mim algoque não sentes?

Os rasgos de Jesse ficaram completamente imó-veis. Ao luar, os seus olhos azuis reluziam como sefossem de prata. Contraiu o queixo. A brisa revol-via-lhe ligeiramente o cabelo.

– E quem diz que não sinto?

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Capítulo Oito

Bella voltou-se para olhá-lo. Quando o seu olharse cruzou com o dele, sentiu que todo o seu corpovibrava silenciosamente. Jesse tinha um olhar selva-gem, que reflectia paixão, desejo e mais algumacoisa que ela não pôde identificar. No entanto,fosse o que fosse, Bella sentiu que uma emoção si-milar despertava nela.

– O que é que queres de mim, Jesse? Jesse aproximou-se dela e pousou o copo sobre

a mesa. Então, colocou as duas mãos sobre os om-bros de Bella.

– Esta noite, só te desejo a ti e não quero queseja porque ganhei o estúpido pacto – sussurrou.Deslizou as mãos até ao rosto dela e emoldurou-odelicadamente. – Desejo que venhas ao meu quartoporque tu também o desejas. Porque os dois neces-sitamos de estar aqui.

Bella apercebeu-se de que Jesse estava a dar-lhe aoportunidade de voltar atrás. No entanto, não iafazê-lo. No momento em que soube que Jesse tinharegressado a Morgan Beach, tinha tido consciênciade que iam terminar assim. Que, no final, termina-riam juntos mais uma vez, mesmo que fosse só poruma noite. Além disso, se aquela noite ia ser única,estava decidida a aproveitá-la ao máximo.

Não ia continuar a esconder-se do que sentia.

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Não ia fingir que o odiava. Não ia continuar a men-tir a si própria. A verdade era que se tinha apaixo-nado por ele há três anos atrás, quando os dois fa-lavam do passado, do futuro e partilhavam umasurpreendente paixão sob o luar.

Não tinha desejado apaixonar-se por ele. Nuncao premeditara. Há três anos que tentava esconder-seda verdade atrás de uma cortina de ódio, porque ti-nha a certeza que aquele sentimento não ia a ladonenhum. Os homens como Jesse King não assenta-vam a cabeça e, se assentavam, não se casavam commulheres como Bella. Portanto, fora muito mais fá-cil pensar que o odiava, em vez de enfrentar a ideiade que amava um homem que jamais podia ter.

Amava-o, mesmo que jamais lho confessasse. Iapassar outra noite com ele, mesmo que isso fosse aúnica coisa que pudesse obter.

Levantou as mãos, rodeou-lhe o pescoço com osbraços, pondo-se em bicos de pés.

– Eu quero estar aqui, Jesse. Contigo.– Graças a Deus – sussurrou ele, enquanto incli-

nava a cabeça para lhe beijar a boca. Bella sentiu que o pensamento se desfazia em

pedaços quando ele separou os lábios dela com alíngua para aprofundar o beijo, roubando-lhe opouco fôlego que lhe restava. A língua acariciavasuavemente a de Bella, enredando-se juntas numadança de que ela tinha saudades há três anos. Elaestendeu as mãos sobre as largas costas e apertou-ocom força contra si para poder dar-lhe tudo o quetinha e aceitar tudo o que ele lhe oferecia.

Jesse abraçou-a com força, apertando-a comuma necessidade tão feroz que a sua também se in-flamava. Levantou-a com facilidade entre os braços,

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fazendo com que Bella se sentisse a heroína de umfilme romântico. Deixou que ele a conduzisse atéuma escada. Não importava para onde a levasse,desde que não parasse de a beijar.

Quando finalmente se deteve e a pousou nochão, Bella olhou em redor. Estavam no que ima-ginava ser o quarto de Jesse. Uma enorme cama debambu ocupava a maioria do espaço. Por cima dacama havia uma clarabóia que permitia que o luarcaísse directamente sobre um edredão preto ebranco que parecia feito à mão. Além disso, haviauma dúzia de almofadas empilhadas contra a cabe-ceira. As janelas proporcionavam uma bela imagemdo mar e permitiam que a suave brisa do mar ven-tilasse o quarto.

– Gostas? – perguntou-lhe ele. – Claro que sim... – Acho que também gostarás disto – disse. Reti-

rou o edredão e deixou a descoberto uns lençóisbrancos. – Algodão reciclado.

Bella suspirou. – Acho que acabo de ter um orgasmo. Jesse começou a rir.– Ainda não, céus, mas terás muito em breve. Pro-

meto. – Os King mantêm sempre as suas promessas? – Efectivamente. Jesse apertou contra o corpo de um modo que

provocou tremores de excitação por todo o corpode Bella. Sentia cada firme centímetro do seucorpo, fazendo-a esquecer tudo o resto. O negócio,a rivalidade com ele, tudo... Bella não queria pen-sar. Só desejava sentir.

E Jesse estava completamente disposto a satis-

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fazê-la. O beijo foi-se tornando mais apaixonado,mais frenético. Era como se não pudesse cansar-sedo seu sabor. Bella deslizou as mãos pelas costasdele uma e outra vez, sentindo como flectia e rete-sava os músculos tonificados graças a anos de nataçãono mar que ele tanto amava. Os braços de Jesse pa-reciam bandas de aço que a estreitavam com força.Quando lhe agarrou o traseiro e a aproximou aindamais contra o corpo, ela sentiu a inconfundível lon-gitude do pénis que se erguia entre eles.

Bella sentiu que o seu corpo se ateava. A tempe-ratura dela começou a subir enquanto se excitavae se preparava para ele. Jesse pareceu sentir o queela estava a experimentar porque lhe agarrou a ca-misa e tirou-lha pela cabeça. Em questão de segun-dos, também a tinha despojado da saia. Bella estavade pé, diante dele, coberta apenas por um sutiã derenda branco e umas cuecas da mesma cor.

Acariciou-lhe o corpo, delineando as suas cur-vas, cobrindo-lhe os seios até que ela notou o calorda sua pele através do delicado tecido.

– Jesse... – Não me apresses – disse ele, com um sorriso. –

Há muito que espero por esta oportunidade. – Não há pressa, mas acho que os meus joelhos

se estão a desfazer.– Nesse caso, vejamos o que podemos fazer a

esse respeito. Conduziu-a para a cama e empurrou-a ligeira-

mente para que ela caísse sobre o colchão. Os len-çóis eram suaves e tinham um tacto frio, enquantoas mãos de Jesse, fogosas e firmes, não paravam deacariciá-la. Bella fechou os olhos para desfrutar maisdas sensações.

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Estava ali, na cama de Jesse, a deixar que ele aacariciasse. Sabia que o que quer que se passasseentre eles, nada poderia arrebatar-lhes a perfeiçãodaquela noite.

Quando sentiu que Jesse se afastava dela, abriuos olhos e observou como ele se despia rapida-mente. O luar iluminava-lhe o corpo nu, o que pro-vocou que Bella pensasse que jamais havia vistonada tão formoso. Sorriu.

– Acabo de me lembrar de como ficas linda aoluar – sussurrou ele.

– Que estranho. Eu estava a pensar exactamenteo mesmo sobre ti.

– Os homens não são lindos, Bella. – Tu sim. – Já falámos bastante – disse-lhe Jesse. Então, in-

clinou-se sobre ela. Em questão de segundos, desapertou-lhe o sutiã

e tirou-lhe as cuecas. Bella retorceu-se debaixo dele,tentando apertar-se mais ainda contra ele, sentir cadacentímetro do seu corpo ardente.

As mãos de Jesse pareciam estar em todas as partesao mesmo tempo. Os seios, o ventre e a zona genitalde Bella vibravam sob as carícias dele. Uns dedos há-beis acariciavam o centro da sua feminilidade, fa-zendo-a retorcer-se de prazer à medida que a neces-sidade se ia convertendo numa tempestade queameaçava devorá-la.

Uma e outra vez, Jesse empurrava-a para o augedo prazer, mas evitava que ela o alcançasse. Bella le-vantou os quadris para ele, mas Jesse desceu a cabeçae levou primeiro um mamilo aos lábios, aspirando-oavidamente para o interior da boca. Lábios, línguae dentes estimulavam um mamilo já muito eroti-

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zado, fazendo Bella gemer de prazer e arranhar-lheas costas enquanto se retorcia de gozo debaixo deJesse. Ela levantou as mãos para afundá-las no ca-belo dele e imobilizar-lhe assim a cabeça para quenão pudesse separá-la dos seus seios.

– Jesse... – Em breve – prometeu ele. Teria de sê-lo ou Bella morreria de desejo. Sen-

tiu que o seu corpo se contraía mais um pouco. Sa-bia que já não conseguiria aguentar muito mais.

– Preciso de ti... Dentro de mim... Jesse, por fa-vor...

Ele levantou a cabeça, olhou-a fixamente e dei-xou que Bella comprovasse nos seus olhos que es-tava a sentir a mesma paixão. Ela sentiu que o seucoração dava uma reviravolta no peito e que algoselvagem e maravilhoso lhe corria pelas veias. Haviamuito mais que simples desejo. Havia um vínculoíntimo entre eles. Bella sentia-o. Conhecia-o. Reco-nhecia-o.

Jesse beijou-a mais uma vez, fundindo a línguaprofundamente na boca dela. Continuou a acari-ciá-la com os dedos, torturando-a enquanto se co-locava entre as suas pernas.

Bella levantou as ancas a modo de convite silen-cioso. Quando Jesse interrompeu o beijo e olhoupara ela, ela sentiu-se a mulher mais bela à face daterra. Observava-a com desejo, o que a fazia sentir-sepoderosa, forte, arrebatadora.

Jesse afastou-lhe mais um pouco as pernas, des-lizando as mãos pelo interior das coxas dela até queela conteve o fôlego e sussurrou com voz entrecor-tada:

– Jesse, por favor...

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– Sim – murmurou ele, afundando o seu corpono dela com um longo e sensual movimento. – Ago -ra...

Bella grunhiu de prazer quando ele a penetrou,sentindo o seu corpo alargar-se para acomodá-lo.Ficou completamente imóvel dentro dela duranteum longo instante. Bella moveu-se debaixo dele,mostrando-lhe que estava pronta. Para tudo o queele quisesse dar-lhe.

Jesse observou como os olhos dela se nublavame sentiu o bater do seu coração a rugir contra opeito quando se inclinou sobre ela mais uma vezpara lhe beijar os seios. O seu próprio coração ga-lopava como um cavalo desgovernado. Era impos-sível recuperar o fôlego, mas não se importava.Aquilo era o que procurava há três anos. Aquelamulher. Aquele momento. Aquele elo.

Bella movia-se sinuosamente debaixo dele. Jessedecidiu deixar-se levar e começou a mexer-se comela, uns movimentos longos e firmes destinados aproporcionar o máximo prazer, para que ambos ar-dessem nas chamas do orgasmo. Uma e outra vez,reclamava-a em cada investida. Ela recebia-o empleno, levantando as ancas para ele e criando assimum ritmo suave que ele não tinha encontrado comnenhuma outra mulher. Era como se os corpos re-conhecessem facilmente o sentimento a que os doisse tinham andado a opor. Pertenciam um ao outro.Encaixavam.

Jesse colocou as mãos em ambos os lados da ca-beça dela e olhou aqueles maravilhosos olhos corde chocolate, que brilhavam ao luar. Então, entre-gou-se totalmente. Sentiu que o corpo se contraía esoube que o momento tinha chegado quando Bella

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alcançou o clímax e observou a magia nos seus olhos.Só então se permitiu segui-la.

Quando os últimos tremores do seu corpo ces-saram por fim, deixou-se cair por cima dela. Sentiuque Bella o abraçava e o aconchegava contra o pei -to.

A noite passou muito rapidamente. Jesse não pa-recia saciar-se dela. Fizeram amor repetidas vezes ecada ocasião foi melhor do que a anterior. Alcan-çavam juntos o orgasmo, dormiam brevemente evoltavam a fazer amor. Por fim, às duas da manhã,puseram uns roupões de banho e desceram à cozi-nha para, por fim, jantarem o que a governanta deJesse lhes tinha deixado preparado. Já estava com-pletamente frio, mas não se importaram. Beberamvinho, jantaram e então, Bella foi a sobremesa emcima da mesa da cozinha.

Jesse não podia afastar as mãos dela. Sabia quãodiferente era aquela experiência para ele. Jamais ti-nha querido que uma mulher passasse a noite comele. No caso de Bella, não queria que se fosse em-bora. Nada mudaria enquanto a tivesse ali, na suacasa. Quando o mundo se interpusesse entre eles,tudo seria diferente.

No entanto, não pôde ignorar o amanhecer. Eleestava acostumado a levantar-se cedo. O hábito vi-nha de todos os anos que treinara no mar de ma-nhã bem cedo. Para ele, o amanhecer era a melhorparte do dia.

Bella continuava a dormir quando ele se levan-tou da cama para fazer um pouco de café. A sua go-vernanta só chegaria ao meio-dia, por isso o pe-

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queno-almoço dependia dele. Sorriu ao pensar quepodia levar a Bella uma chávena de café à cama,para depois convencê-la a tomar um duche longoe ardente com ele.

Sem deixar de sorrir, apertou o botão que acen-dia a cafeteira e dirigiu-se à porta principal. Diri-giu-se ao exterior, pegou no jornal do alpendre eregressou a casa. Foi desdobrando o jornal enquan -to entrava na cozinha.

Enquanto esperava que o café se fizesse, recli-nou-se contra a bancada e folheou o magro jornallocal. Deteve-se na página do editorial e deixou-oum instante para servir o seu primeiro café do dia.Tomou um gole e examinou as cartas ao editor,que continham todas as queixas dos habitantes deMorgan Beach, desde os miúdos que utilizavam atrotinete nas ruas ou o facto de os cães não deve-rem passear pela praia.

– Nas cidades pequenas como esta há sempre al-guém que tem algo a dizer.

Então, uma carta em concreto chamou-lhe aatenção. Franziu a testa. olhou para cima e, apósdeixar o jornal um instante, serviu duas chávenasde café e dirigiu-se ao quarto. Bella continuavaainda encolhida sob o edredão. Durante um ins-tante, Jesse esteve a ponto de ignorar aquele estú-pido jornal e de unir-se de novo com ela na cama.

Abanou a cabeça e sentou-se na beira do colchão.Deixou o café sobre a mesa-de-cabeceira e come-çou a afastar o sedoso cabelo do rosto de Bella.

– Bella, acorda... – O quê? Porquê – sussurrou ela, enquanto co-

locava o travesseiro sobre a cabeça e se afundavamais um pouco sob o edredão.

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Jesse tirou-lhe o travesseiro e deixou-o num doslados.

– Vá lá, acorda. Bella abriu um olho e olhou-o com desaprova-

ção. – Jesse, mas se ainda é de noite... – Está a amanhecer e o jornal já chegou. O Se-

manário de Morgan Beach – disse ele, observan -do-a para ver qual era a sua reacção.

– Ainda bem – murmurou. Então, começou acheirar. – Cheira-me a café.

– Trouxe-te uma chávena – disse ele. Quando Bella já se tinha acomodado, entre -

gou-lhe uma chávena. Ela tinha coberto os seios como lençol e tinha o cabelo completamente despen-teado. Estava tão linda... E parecia tão inocente... Eranormal que Jesse jamais tivesse considerado a pos-sibilidade de que ela pudesse estar a trabalhar con-tra ele. Deveria tê-lo feito.

Bella deu um gole e tentou de acordar. – Porque estamos acordados? – Eu levanto-me sempre muito cedo. – É um péssimo costume, ainda bem que, pelo

menos, me trouxeste café – acrescentou, com umdoce sorriso.

– Sim. E material de leitura. – Como? – perguntou ela. Então, reparou no

jornal, que ele tinha dobrado para destacar umasecção. Passaram uns segundos antes de compreen-der tudo. – Oh, não...

– Oh, sim! A tua carta ao director foi publicadaesta manhã.

– Jesse... – Espera, quero ler-te a minha parte favorita –

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disse ele, concentrando a sua atenção na carta curtae directa que Bella tinha escrito. – «Morgan Beachanda a vender a sua alma a um predador empresarial aquem não importa o que nos possa ocorrer a nós ou aos nos-sos lares desde que a sua empresa obtenha lucros. Devería-mos unir-nos e deixar bem claro ao senhor Jesse King quenão permitiremos que nos compre. Não abandonaremosnunca a nossa identidade. Morgan Beach existia muitoantes de Jesse King e continuará a existir muito depois deele se cansar de brincar a ser um membro da nossa comu-nidade».

Bella fechou os olhos. Um grunhido esca -pou-se-lhe da garganta. Então, cobriu os olhos comuma mão, como se nem sequer pudesse olhá-lo. Ti-nha uma expressão de tristeza total no rosto. Pelomenos, Jesse alegrou-se disso.

– Muito lindo! – acrescentou, com o sarcasmoreflectido na voz. – Gosto especialmente do «pre-dador empresarial». Parece que essa expressão teagrada. O resto é bastante bom. Deverias ser escri-tora.

– Estava zangada. – Estavas? E já não estás? Bella subiu o lençol mais um pouco e depois

acariciou o cabelo com uma mão, afastando-o as-sim do rosto.

– Não sei. – Óptimo. Não sabes...Jesse pôs-se de pé e dirigiu-se a uma das janelas.

Sentia-se como se tivesse recebido um pontapé nabarriga. Sempre soubera que Bella não gostava doque ele estava a fazer na cidade, mas aquilo era...Acabava de passar a noite com ele apesar de saberque ia disparar-lhe de novo publicamente.

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Lembrou-se da noite anterior. Como podia ter-semostrado tão ansiosa, tão disposta, se era isso quepensava dele? Jesse sentia-se usado. De repente,deu-se conta de como se deviam ter sentido todas asmulheres que tinham passado pela sua vida.

Olhou para o mar e tentou de não ouvir o baru-lho dos lençóis, indicador de que ela se estava a le-vantar. Pouco depois, ela juntou-se a ele. Levava oedredão enrolado no corpo como se fosse umatoga.

– Tinha-me esquecido de que tinha escrito essacarta – disse.

– Se é uma desculpa, é esfarrapada – replicou ele.Deitou o jornal contra uma cadeira e tomou umgole do seu café.

– Não é uma desculpa. Quando o escrevi sentiacada uma das palavras, por isso não me vou descul-par por isso.

– Óptimo – disse Jesse olhando-a. – Dizias tudoa sério? Parece-te mesmo que não me preocupocom o que possa acontecer a esta cidade?

– Jesse, quando me mudei para este lugar, fi-loporque o adorava. Eu nunca antes tinha tido umverdadeiro lar. Eu... cresci em lares de acolhimen -to.

Bella disse-o tão tranquilamente que ele nem se-quer pôde dizer-lhe que lamentava. No entanto,lembrou-se da avidez com que ela tinha contem-plado as fotografias familiares dele, como tinhagostado do facto de serem muitos membros na fa-mília. Então, pensou no que devia ter sido para elacrescer sozinha e não pôde evitar sentir compaixãopor ela.

Imediatamente, surpreendeu-se com o facto de

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sentir tanto por ela. Decidiu que devia experimen-tar o ódio, mas, se olhasse para ela, tudo parecia fi-car para trás.

– Gostava dos edifícios da rua principal, do ritmolento de uma cidade pequena, das casas da praia. Dasensação de comunidade. Mal o vi, soube que esteera o meu lugar porque eu jamais tinha pertencidoa outro. Passei o primeiro ano a acostumar-me àvida da cidade, a encaixar neste lugar. Quando tute mudaste para cá, começaste a alterar tudo ime-diatamente.

– Nada permanece sempre inalterável – disseele.

– Suponho que não... – Então, a mudança é má, é isso? – Não é má. Simplesmente é uma mudança. Eu

não gosto de mudanças. Adoro esta cidade. Gostode como era e aborreceu-me que tu...

– Comprasse a sua alma? – disse ele, citando aspalavras do texto. Ele jamais tinha tido a intençãode ser um predador empresarial. No entanto, ocor-rera. Tinha encontrado a paz na mudança, inclu-sive tinha começado a desfrutar da sua vida. Atéque encontrou Bella. De repente, sentia que o su-cesso que atingira era só um fracasso habilmentedisfarçado.

Bella fechou os olhos. – Sinto muito. Não tinha intenção de magoar-te.

Bom, suponho que isso era precisamente o que de-sejava, mas era antes...

– Antes de te meteres na minha cama? – inqui-riu ele. – Suponho que poderias achar algo vergo-nhoso atacar em público o mesmo homem com oqual dormes em privado.

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– Não é isso, Jesse. Acho que poderia ter-me en-ganado sobre ti e que...

– Poderias? Dizes que poderias ter-te enganado?Caramba, Bella! Quanta amabilidade.

Com a mão que estava livre, ela agarrou-o pelobraço. Olhou-o nos olhos e disse:

– Enganei-me sobre ti. Admito-o. Queria odiar-teporque me era mais fácil assim. Queria que te fossesembora de Morgan Beach porque não queria vol-tar a ver-te. Queria...

– O quê? – Queria-te a ti, Jesse. Desejava-te, mas não podia

admiti-lo nem sequer a mim própria. – E agora já admites? – sussurrou ele enquanto

lhe acariciava suavemente o cabelo. Deliberadamente, Bella soltou o edredão e dei-

xou que este caísse aos seus pés. Aproximou-se delee deslizou-lhe as mãos sobre o tronco para encai -xá-las por fim ao redor do pescoço.

– Admito. Até estou disposta a enviar uma cartaao jornal para voltar atrás se tu quiseres.

Jesse sorriu. A irritação que tinha sentido ao leraquela carta no jornal desapareceu face à perspec-tiva de voltar a tê-la entre os seus braços.

– Acho que prefiro uma desculpa mais íntima. – Oh, eu não me estou a desculpar – corrigiu-o

ela, pondo-se numa posição delicada mais uma vezpara voltar a beijá-lo. – Simplesmente, digo que es-tou a rever a minha opinião.

– O suficiente para considerares que a Bella’sBeachwear passe a fazer parte da King Beach?

– Bom, o suficiente para considerá-lo – sussur-rou ela.

Jesse soltou uma gargalhada.

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– Isso chega-me por enquanto. Então, abraçou-a e levou-a para a cama para se

perder mais uma vez nos maravilhosos atributos deBella.

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Capítulo Nove

«Tudo é diferente», pensou Bella. Desde a incrí-vel noite que passou com Jesse poucos dias antes,tinham-se visto diariamente. Ela ia à King Beach ouele à loja dela para falarem de negócios. Jesse ti-nha-lhe pedido conselho sobre como tornar a suaroupa de banho mais ecológica e tinha escutadoatentamente as suas opiniões. Ia reunir-se com tece-lãs e costureiras enquanto continuava a tentar queela passasse a fazer parte da King Beach.

Pela primeira vez, Bella sentia certa tentação. Osucesso continuava a não lhe interessar dado quesó tinha como objectivo ganhar mais dinheiro. Noentanto, ele tinha-a bajulado com a possibilidadede fazer chegar os seus fatos de banho especiais amulheres de todo o país e isso era algo que não po-dia descartar tão rapidamente. Com a King Beach,ela poderia encontrar forma de o seu pequeno ne-gócio ser viável a um nível mais importante, semperder por isso a qualidade na qual Bella tanto in-sistia.

Mais do que tudo isso, o facto de estar com Jesseestava a converter-se na melhor parte dos seus dias.E das suas noites. Passavam juntos todas as noites.Na casa dele ou na de Bella. Na praia, relembrandoo primeiro encontro. Bella sentia-se plena. Sen -tia-se... maravilhosa. Mas também estava aterrorizada.

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Estava apaixonada, mas sabia que a sua relaçãocom Jesse não ia acabar bem. Apesar da atençãoque ele lhe dedicava, Jesse King não era homem deassentar a cabeça. Mais tarde ou mais cedo, can -sar-se-ia do que tinham e continuaria com a sua vida.Bella sabia que a dor que sentiria seria tão forte quetalvez nunca conseguisse recuperar.

Para se proteger, sabia que devia começar a afas-tar-se dele. A manter uma distância segura entre oseu coração e Jesse. Porém, também não podia pri-var-se do que tinha naquele momento para prote-ger-se no futuro. Não era melhor desfrutar do quetinha enquanto contava com isso? Logo haveriatempo para sofrer mais tarde.

– Estás novamente a pensar nele. Ela pestanejou e olhou para Kevin. – Como sabes? – perguntou-lhe, com um sorriso. – Estás a babar-te. Rapidamente, ela levou a mão à boca. Então, fez

um gesto de recriminação ao seu amigo. – És tão engraçadinho... – Pareces feliz, Bella. Gosto de te ver assim. – Sou feliz – admitiu ela, mas a sua voz delatou-a. – Mas... – Mas não vai durar, Kevin. Um destes dias, o

Jesse vai decidir que chegou o momento de conti-nuar com a vida dele e eu não desejo que esse ins-tante chegue.

– Como sabes? A mim parece-me que está a pas-sar muito tempo contigo – disse ele estendendo amão sobre a mesa na qual estavam a almoçar paralhe acariciar suavemente a mão. – Um homem nãofaz isso se não estiver interessado.

– Eu sei – replicou. Então, afastou o prato. Já

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não tinha fome. – Está interessado agora, mas quantotempo vai durar?

– Ora, Bella – disse Kevin abanando a cabeça...– talvez devesses dar-lhe a oportunidade de estragaras coisas antes de castigá-lo por isso.

– Eu não o estou a castigar. – Talvez não, mas já estás a ensaiar o teu dis-

curso de despedida. – Simplesmente estou-me a preparar; o meu me-

lhor amigo devia aprová-lo, não?– O teu melhor amigo pensa que estás louca. A

sério, quando não o tens, estás triste. Quando otens, enlouqueces. As mulheres estão «passadas doscarretos».

– Obrigada. Contaste à Traci a tua teoria? – per-guntou Bella. A namorada dele, uma modelo quetrabalhava para uma das agências mais importantesda Califórnia, viajava constantemente e, naquelaocasião, estava fora de Morgan Beach há quase qua-tro semanas.

– Claro. Ela diz que estou errado. Como tu, masas duas são mulheres. Não vêem certas coisas.

– Ora, ora. E se as mulheres estão loucas, paraque querem os homens estar connosco?

Kevin sorriu. – Bom, onde está o teu príncipe hoje? Há mais

de uma semana que não almoçavas comigo. Nor-malmente, costumas ir com ele.

– Disse que tinha uma reunião. Não disse comquem – disse Bella, franzindo levemente a testa.

– Por isso, como é lógico, estás a pensar que setrata de outra mulher.

Bella arregalou os olhos.

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– Bom, não tinha pensado nisso. Até agora. Kevin suspirou. – Anda, come os teus rebentos de alfalfa.

– Estás a dar comigo em louco – disse Jesse. – Se queres a minha opinião, isso não é muito

difícil – disse Justice King ao seu irmão enquantocompunha o arame farpado que estava a colocarnum muro.

– Muito amável, obrigado. Jesse introduziu as mãos nos bolsos e contem-

plou as suaves colinas e os campos que rodeavam orancho do irmão. Soprava um vento frio e o sol ver-tia os seus raios apesar de um céu coalhado de nu-vens cinzentas. Parecia que o Verão se ia despedircom uma tempestade.

Tinha feito a viagem de duas horas que demo-rava a chegar ao rancho do irmão numa hora emeia. Apesar de o terem multado por excesso develocidade, tinha valido a pena. Tinha de sair deMorgan Beach. Necessitava distanciar-se de Bella eesclarecer as ideias. Conduzir a toda a velocidadeera o melhor modo de consegui-lo.

Não parava de pensar que a estava a ver dema-siado. Todos os dias. Todas as noites. Estava-se a con-verter numa parte dele e ameaçava introduzir-seainda mais na sua vida, até que chegaria o momentono qual ele não ia saber desprender-se dela. Quan -do estava ao seu lado, não parava de tocá-la. Quandonão estava, só pensava nela.

O que estava acontecer à sua vida? – Isto é muito sério, Justice. Está-se a introduzir

na minha vida e eu estou a consentir.

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– Talvez seja bom – replicou Justice, enquantocontinuava a trabalhar no seu muro. – Talvez te te-nhas cansado de ter uma mulher nova todas as se-manas e estás preparado para algo diferente. Maispermanente.

– Espera lá, ninguém falou em nada permanente. – Mãe santíssima, ficaste pálido – comentou Jus-

tice, rindo. Voltou à sua carrinha e deixou as ferra-mentas na parte traseira. – Gosto de te ver assim.

– Sim, porque a ti correu-te muito bem. Imediatamente, o sorriso de Justice apagou-se do

rosto. – O que se passou entre a Maggie e eu não tem

nada a ver com isto. – Claro, podemos falar de mim, mas não da Mag-

gie – comentou Jesse, dando um pontapé na terra. – Foste tu que vieste ver-me, lembras-te, Jesse? Se

tens problemas com uma mulher, são os teus pro-blemas, não os meus.

– Bem, esquece. E continua com a boca fechadasobre os teus assuntos.

Justice nunca tinha contado a ninguém o que éque tinha acontecido entre Maggie Ryan, a sua es-posa, e ele. Toda a família adorava Maggie, mas umdia, Justice e ela decidiram separar-se sem que ne-nhum dos dois fornecesse qualquer explicação.

Tinha passado um ano e Justice continuava com-pletamente mudo sobre o assunto.

– Olha, és o único que foste casado dos nossosirmãos – disse-lhe Jesse passado um minuto. – Aquem deveria perguntar?

– Pergunta ao Travis. Ou ao Jackson. Ou mesmoao Adam – replicou Justice, mencionando os três pri-mos que eram felizmente casados há um par de anos.

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– Não estão por aqui. Tu sim. – Que sorte a minha... – Como diabos pode um homem acostumar-se a

ter uma só mulher na vida? – perguntou-lhe Jesse.– Eu nunca tinha tido antes. Jamais tive uma namo-rada formal. Nem quis. Gosto de relações sem com-promissos, já sabes.

– Pois não tenhas compromissos. – A Bella não é desse tipo de mulher. Ela tem

compromissos em todo o lado e eu não faço maisdo que enredar-me neles.

– Não os queres? Corta-os e segue com a tuavida. Ponto final.

Jesse olhou para o seu irmão e suspirou. Sabiaque Justice tinha razão, mas...

– Esse é o problema – disse. – Pela primeira vezna vida, não sei se quero continuar com a minhavida.

A prova de surf tinha atraído uma grande quan-tidade de público. Espectadores de todo o Estadotinham-se reunido ali, em Morgan Beach, para con-templar um espectáculo que, até ao momento, ti-nha valido a pena.

Alguns dos melhores surfistas do mundo caval-gavam as ondas. Parecia que não faziam esforço al-gum enquanto deslizavam pela superfície da águaou enquanto avançavam por um túnel de água. Odia estava algo enevoado, mas quando o sol saía, re-flectia-se sobre a superfície da água como se fosseum foco potente. O cheiro a cerveja e a cachorrosinundava tudo, enquanto as gaivotas gritavam amodo de acompanhamento. A prova estava a de-

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monstrar ser um modo fantástico de se despediremdo Verão e, sem dúvida, todos os espectadores ter-minariam por visitar as lojas quando terminasse afesta. Por enquanto, Bella tinha a sua loja fechadapara poder desfrutar do espectáculo. E de Jesse.

Tinha um lugar magnífico nas bancadas que setinham instalado na areia para a ocasião. Não estavasozinha. Ao seu lado encontrava-se Jackson, primode Jesse, e a esposa Casey. As suas filhas Mia e Mollyacompanhavam-nos. Na verdade tinham ido à Cali-fórnia para visitar a Disneylândia, mas não tinhampodido resistir a ver Jesse cavalgando as ondas.

– É muito bom, não é? – comentou Casey ao ob-servar Jesse a manobrar a prancha sobre as ondas.

Toda a gente aplaudiu efusivamente. Bella sor-riu. Estava muito emocionada por poder ver comoJesse fazia o melhor que podia. Tinha tanta graçae estilo que eclipsava os demais surfistas. Toda agente parecia pensar o mesmo.

– É muito bom – repetiu Bella. Não podia afastaros olhos do homem que se tinha transformadonuma parte tão importante da sua vida. Não podiacrer na maravilha que era a sua existência.

A cada momento que passava junto de Jesse,mais se apaixonava por ele. A única coisa que apreocupava era não saber o que ele sentia. Jessepartilharia os sentimentos dela ou a relação que ha-via entre eles era para ele uma simples aventura daqual acabaria por se cansar? Se era esta última op-ção, como ia ela conseguir superar isso?

Fechou os olhos e pensou que não devia preo-cupar-se a esse respeito. Devia desfrutar do mo-mento. Estava a reunir tantas lembranças que o seucoração ficaria completamente cheio.

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– Claro que é – afirmou Jackson. – É um King,não é? Molly, querida, não comas o papel.

– O papel? – perguntou Casey centrando logo aatenção na filha pequena. – Que papel?

– Nada. Não te preocupes – disse-lhe Jackson. –São fibras naturais.

Bella começou a rir. Casey suspirou e tirou a fi-lha ao seu marido para colocá-la no regaço.

– Santo Deus, Jackson... – Não lhe disseste que comesse o papel da bola-

cha, pois não, Mia? – disse à outra filha enquantolhe fazia cócegas. Bella suspirou.

O primo de Jesse e a sua família tinham chegadoà cidade na noite anterior e, desde então, todos setinham divertido juntos. Jesse era uma pessoa com-pletamente diferente quando estava com as duasmeninas. Evidentemente, as duas adoravam-no e eleestava louco por elas. Ao vê-lo com as filhas de Jack-son, Bella não evitou que um sentimento perigosa-mente maternal despertasse dentro dela. Pergun-tou-se como seria converter-se na esposa de Jesse.Ser a mãe dos seus filhos. Sentir a calidez que a ro-deava naquele momento durante o resto da vida.

No entanto, a verdade era que, por muito que oamasse, por muito que o desejasse, não tinha a cer-teza de ele sentir o mesmo por ela. Sim, era um ma-ravilhoso amante, mas era algo mais? Gostaria desaber.

– Onde está o tio Jesse? – perguntou Mia pondo-sede pé no colo do pai para olhar para o mar.

– Ali – indicou Bella assinalando o surfista queestava à espera da próxima onda. – Vês? Quandovier a próxima onda, pôr-se-á de pé e surfará sobreela até chegar à praia.

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– E eu posso fazer igual? – perguntou-lhe Mia. – Claro – respondeu o pai dela. – Quando tive-

res trinta anos.Casey piscou um olho a Bella. – É um pai muito protector – disse-lhe. – A mim parece-me muito lindo – respondeu ela. – A mim também – admitiu Casey. – Os irmãos e

ele protegem os filhos como se fossem cães de caça.Realmente é surpreendente. Quando as crianças es-tão todas juntas, ver todos os irmãos a tomar contadelas é incrível.

– Asseguro-te que é muito stressante – disse Jack-son.

– Eu cá acho maravilhoso – comentou Bella sor-rindo, mas Casey olhou-a com compaixão.

Aproximou-se dela e sussurrou: – Apaixonar-se por um King não é fácil, Bella.

Se deixas, dão contigo em louca, mas vale a pena,prometo.

Bella assentiu, mas não pôde evitar pensar quevaleria a pena se o King em questão correspondesseaos sentimentos que lhe professavam. Se não era as-sim, seria uma tortura.

– Ali vai! – exclamou Mia enquanto saltava deemoção sobre as pernas do pai e assinalava Jesse,muito emocionada.

Bella afastou os seus pensamentos e centrou aatenção na última onda que Jesse ia cavalgar nessedia. Foi uma demonstração perfeita. Quando che-gou à praia, viu como centenas de mulheres em bi-quíni corriam para ele. Todas tratavam desespera-damente de captar a sua atenção. No entanto, elepassou a correr ao lado de todas elas como se nãoas tivesse visto. Bella conteve a respiração ao ver que

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se dirigia directamente para ela. O coração come-çou a bater-lhe com força no peito quando viu queele deixava a prancha diante dela e lhe perguntava:

– Que tal me portei? – Óptimo! – gritou Jackson. Quando a esposa

lhe deu um boa cotovelada nas costelas, olhou-amuito surpreendido. – Eh! A que veio isso?

– Não estava a falar contigo – disse-lhe Casey. Jesse sorriu. – Tem razão, Jackson – disse. – Bella, como me

portei? – Foste maravilhoso – respondeu ela. Era cons-

ciente que todos os estavam a observar. – Isso é o que eu gosto de ouvir. Agora, preciso

do meu prémio.– Hoje não há troféus, não sabias? – respondeu

Bella, rindo. – E quem está a falar de um troféu? – perguntou

Jesse. Fê-la levantar-se do lugar e abraçou-a. – Estaé a única recompensa que me interessa.

Beijou-a demorada e profundamente, com umgesto tão romântico que todos os presentes come-çaram a lançar assobios de aprovação.

Vagamente, Bella escutou os aplausos e os cli-ques das máquinas fotográficas. Não se importou.Como se ia importar quando os braços de Jesse arodeavam enquanto a beijava? Sentiu que a electri-cidade lhe percorria o corpo todo.

Tinha-a procurado. Tinha-a beijado diante detoda a gente. Pela primeira vez na vida, Bella sen-tiu-se como uma princesa. Como se importasserealmente. O coração saltou dentro do seu peito.Sentiu-se mais apaixonada do que nunca, algo quejamais tinha achado possível.

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Por fim, depois do que lhe pareceu uma eterni-dade, Jesse interrompeu o beijo e levantou a cabeçapara olhá-la nos olhos. A Bella pareceu-lhe ver...amor brilhando neles.

Então, ele sorriu. O momento passou e ela já nãopôde ter a certeza de ter ocorrido realmente. Imedia-tamente, os espectadores rodearam-nos para felicita-rem Jesse pela vitória. Ele rodeou os ombros de Bellacom um braço e manteve-a ao seu lado.

Amava-a? Não sabia, mas o sol brilhava. Jesse ti-nha-a abraçado e, por enquanto, isso era-lhe de todosuficiente.

Mais tarde, em casa de Bella, os dois estavamsentados no primeiro degrau do alpendre, obser-vando como as nuvens ocultavam a lua e obscure-ciam ainda mais a noite. De casa da sua vizinha, asenhora Clayton, escutavam um concurso de tele-visão que estava a dar naquele momento. Pelo con-trário, a casa de Kevin estava imersa no mais abso-luto silêncio.

Jesse respirou o aroma dos crisântemos, que sem-pre associaria com Bella, e rodeou-lhe os ombroscom um braço. Esta reclinou-se sobre ele e apoioua cabeça sobre o seu ombro.

– Foi um bom dia... – Sim – afirmou ela. – Foste surpreendente na

água. – Não está nada mal para um predador empre-

sarial, pois não? – Nunca me vais deixar esquecer isso. – Não. Acho que isso vale pelo menos seis meses

para me meter contigo.

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– Seis meses? – Pelo menos. – Então, achas que continuaremos juntos durante

esse tempo? – perguntou-lhe ela. – Bom, sim. Por que não íamos estar? Ela inclinou a cabeça para trás e olhou o rosto

dele.– Simplesmente não sabia o que sentias. O que

esperavas. – Não espero nada, Bella. Estamos bem juntos,

não estamos? – Sim. – O sexo é genial. – Sim – disse ela, com um sorriso. – Nesse caso, já está – concluiu ele. Era tal e qual

como tinha dito a Justice. Gostava do homem queera ao lado de Bella. No entanto, sentia que ela he-sitava e sabia que tinha voltado a pensar muito. Es-tava a tentar criar um plano. Ou ver o futuro. – Por-que deveríamos colocar um rótulo temporário ànossa relação ou defini-la de algum modo? Olha,ninguém sabe o que se vai acontecer de um diapara outro, e muito menos dentro de seis meses.No entanto, aqui, esta noite, não me imagino emnenhum outro lugar.

Aquilo era o mais perto que tinha estado de di-zer a uma mulher que não queria perdê-la.

Ela olhou-o durante um longo instante e sorriu. – Eu também não. Jesse sorriu também. Problema resolvido. Pelo

menos por enquanto.Bella mudou de assunto de repente. Jesse per-

guntou-se se o teria feito de propósito. – Gostei muito do teu primo e da sua família.

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– Sim. É sempre muito agradável vê-los, a eles eàs meninas.

– Invejo-te por isso. – Porque dizes isso? – perguntou-lhe. Deu-lhe

um beijo na parte superior da cabeça, animando-aa seguir com aquele simples gesto.

– A tua família. Vocês são todos tão unidos...Além disso, dás-te tão bem com essas meninas.

– São estupendas. Não é difícil divertir-me comelas.

– Isso é verdade, mas muitos homens não se inco-modariam em sentar-se no chão com elas paradeixá-las montar a cavalo durante mais de uma hora.

Jesse começou a rir. Ao ver que ela se limitava aolhá-lo, o sorriso dele desapareceu rapidamente doslábios.

– Em que pensas? – Tenho pensado muito ultimamente.– Óptimo – sussurrou. Ela tinha uma expressão séria no rosto, quase so-

lene. Jesse preparou-se mentalmente para o quepudesse acontecer.

– E cheguei à conclusão de que não és o homemque eu achava que eras no início.

– Gosto de sabê-lo – afirmou Jesse com um sor-riso.

– Há mais. Jesse, já sabes que eu nunca tive de-sejos de expandir o meu negócio.

– Sim. Deixaste isso muito claro desde o princí-pio.

– Pois mudei de opinião. – Como? Isso surpreendeu tanto Jesse que não pôde evi-

tar perguntar-se se alguma vez poderia entender

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Bella. Observou-a, tentando determinar os seussentimentos, mas ela ocultava muito bem o quepensava.

Finalmente, sorriu, levantou a mão e acariciousuavemente a face de Jesse.

– Decidi unir-me à King Beach. Convenceste-mede que posso confiar em ti, Jesse. Acho que juntospoderemos fazer coisas maravilhosas.

Jesse pegou-lhe numa mão e apertou-a comforça. Era muito estranho, mas durante as duas úl-timas semanas, tinha-se esquecido totalmente dapossibilidade de a King Beach absorver a empresade Bella. Tinha-se centrado muito em levá-la paraa cama. O facto de ela anunciar a novidade tãoinesperadamente deixou-o completamente atónito.

Sentia-se muito emocionado. Há semanas quetentava que ela ouvisse as razões dele. No entanto,agora que por fim tinha conseguido os seus propó-sitos, sentia-se algo... inquieto. Porquê? Tinha com-prado muitas empresas antes, mas para Bella, a si-tuação falava por si só. Confiava nele para que nãoarruinasse o seu trabalho que ela tanto amava.

– Não te arrependerás, Bella. – Eu sei. Confio em ti, Jesse. De repente, uma inesperada sensação de preocu-

pação assaltou Jesse. Afastou-a imediatamente. Istoera o que ele tinha querido e tinha-o feito melhordo que pensava. Não só tinha um negócio novo,como parte da sua empresa, como tinha Bella.

Que podia correr mal?

Três dias depois da prova, a vida tinha voltado ànormalidade em Morgan Beach.

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Excepto uma coisa. Jesse sentia-se nervoso. Não era normal. Pelo

menos para ele. Preocupava-se com a sua relação com Bella quan -

do por fim tinham decidido começar a fazer negó-cios juntos. E se descobrisse que ele tinha planeadoseduzi-la só para ficar com tudo? Sentir-se-ia ma-goada, zangada. Não esperava que este facto lheimportasse, mas assim era.

Além disso, não podia suportar a perspectiva deperdê-la.

No entanto, muito menos podia suportar a ideiade lhe ocultar a verdade. Há muito tempo, tinhaaprendido que os segredos se descobrem maistarde ou mais cedo, quando menos se espera.

Que raio estava ele a sentir? Bella tinha sabidochegar-lhe ao coração. De facto, Jesse nem sequerimaginara ser capaz de sentir o que sentia com ela.Jamais se tinha achado capaz.

Durante anos, tinha-se mantido à margem de re-lações passíveis de converter-se em algo permanente.Com sumo cuidado e deliberação, só saía com mu-lheres que queriam exclusivamente divertir-se. Asque pensavam mais no futuro ficavam estritamentede fora.

Então, como diabo lhe tinha acontecido a elealgo assim? O que é que ia fazer a esse respeito? Hátrês dias que se mantinha afastado de Bella, ten-tando compreender o que sentia e o que queria fa-zer. Aque le jogo era completamente novo para ele.Nunca antes tinha contemplado sequer o futuro aolado de uma mulher. Jamais o desejara. No entanto,naquele momento, não podia imaginar o resto dasua vida sem Bella ao lado.

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Deus sabia que não tinha querido envolver-setanto. Principalmente, tinha querido que Bella de-monstrasse algo a Nick Alona. Agora já não sabiacomo controlar o assunto. Levantou-se da secretá-ria e dirigiu-se à janela. Parecia que se estava a for-mar uma tempestade, um clima que condizia per-feitamente com o seu estado de espírito. Jesse jamaisse considerara dos que se casam, mas Bella era dasmulheres que pensavam no casamento. Onde éque isso os situava exactamente?

O casamento dos pais dele não tinha corridonada bem, dado que o seu progenitor estava sem-pre concentrado no trabalho; o mesmo tinha ocor-rido com o seu irmão Justice, embora ninguémsoubesse porquê. Como se supunha que poderiaele conseguir que funcionasse?

– Senhor King? – Sim? – perguntou. Olhou por cima do ombro,

algo aborrecido pela interrupção. Viu que era DaveMichaels que entrava no seu escritório. – De que setrata, Dave?

– Já tenho todos os documentos preparados paraque a Bella os leia e assine.

– Muito bem. Deixa-os em cima da minha secre-tária, está bem?

Voltou a concentrar-se na vista. Tinha conven-cido Bella para que se unisse a ele nos negócios.Para que confiasse nele. Naquele momento, Jessenão podia deixar de se sentir culpado. No entanto,tinha ganho. Aquele tinha sido exactamente o seuplano: seduzi-la e persuadi-la para que se unisse àsua empresa. Tudo tinha corrido de acordo com osplanos dele. Tinha-a convencido para que parti-lhasse com ele o mais importante da sua vida.

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O único problema era que, enquanto a seduzia,ele próprio tinha ficado apanhado, talvez porque,na verdade, não queria estar livre.

Arranjou o cabelo com uma mão. Decidiu que asua vida era muito menos complicada antes de seinstalar em Morgan Beach.

Tinha duas clientes novas na sua loja, um novopedido a ponto de chegar e uma bonita soma nobanco graças às vendas que tinha feito no dia daprova de surf.

Então, por que não estava mais feliz? Franziu a testa e começou a colocar os novos fa-

tos de banho nos cabides. Conhecia perfeitamentea resposta a essa pergunta: não tinha voltado a verJesse desde o dia em que concordou em unir-se àKing Beach .

Naturalmente tinha falado com ele ao telefoneem várias ocasiões. Estava muito ocupado. Tinha reu-niões. Decisões a tomar. Papéis a redigir. Tinha-lhedito tudo o que devia dizer e, quando falava com ele,tudo fazia sentido. As dúvidas começavam quando fi-cava sozinha.

Se ele sentia o mesmo do que ela, porque se man-tinha afastado?

Abanou a cabeça e tentou desfazer-se de certospensamentos constrangedores, cada qual pior doque o anterior.

«Tem o que queria e já não precisa de mim».Abanou a cabeça. Não gostava nada disso. «Sedu-zir-me sempre fez parte do plano, para baixar asminhas defesas e apossar-se da minha empresa».Deste gostava menos ainda. Era impossível que ti-

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vesse fingido. Seria possível que fosse tão bom ac-tor?

Não gostava de estar ali à toa. Decidiu que o me-lhor que podia fazer era ir vê-lo e perguntar-lhe oque é que se estava a passar. Eram sócios, nãoeram? Nos negócios e na vida. Se tinha perguntas,teria de questionar Jesse. Afinal, talvez aquilo nãotivesse nada a ver com ela. Poderia ser um pro-blema familiar. Talvez ela pudesse ajudá-lo. Deci-diu que logo que os seus clientes saíssem, iria tercom Jesse para falar com ele.

Naquele momento, a porta da loja abriu-se.Bella levantou o olhar para ver de quem se tratavae viu que um homem ataviado de fato e colete seaproximava do balcão.

– Bella Cruz? – Sim. Em que posso ajudá-lo? – Deram-me instruções para que lhe entregue

isto – disse, tirando um envelope do bolso interiordo casaco. – Muito bom dia para si.

Posto isso, o desconhecido saiu. Bella abriu o en-velope imediatamente e tirou uma folha de papeldobrado que havia no seu interior. Leu-o. Voltou alê-lo.

Sentiu o sangue gelar-se nas veias e uma doraguda a atazanar-lhe com força o estômago. As le-tras da página apagaram-se à medida que os olhosse foram enchendo de lágrimas. Pestanejou parasecá-las com determinação. Não ia chorar.

Aquilo não podia ser verdade. Não podia afastaro olhar de uma série de palavras em questão.

Tinha de haver um erro. No entanto, a lógicaexplicava tudo perfeitamente. A razão pela qualJesse tinha andado a evitá-la, por exemplo. A trai-

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ção foi-se alojando no coração até que decidiu queestava a ponto de explodir.

Tinha-se perguntado o que se estava a passar. Jásabia. No entanto, não podia fazer nada a esse res-peito até que os clientes tivessem abandonado aloja. Com esse pensamento em mente, colocou umbom sorriso nos lábios. Portanto, o mais rápidopossível tentou ajudá-las a encontrar o que tinhamido buscar, depois poderia enfrentar Jesse.

Se ele tinha achado que poderia desaparecer as-sim, estava muito errado. Estava a ponto de desco-brir o que Bella pensava dele.

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Capítulo Dez

Uma hora mais tarde, Jesse franziu a testa ao ou-vir alguém bater à porta do seu escritório.

Antes que pudesse dar permissão para que quemali estivesse entrasse, a porta abriu-se.

Dave Michaels assomou a cabeça. Parecia preo-cupado.

– Chefe, há um problema. – De que se trata? – Oh! – disse Bella. Empurrou Dave para um

lado e entrou no escritório sem mais preâmbulos.– Há mais do que um problema.

A expressão do rosto de Dave passou de preocu-pação a pânico. No entanto, Jesse não se apercebeuporque toda a sua atenção se centrava na mulherfuriosa que acabava de entrar no seu escritório. Osolhos de Bella brilhavam como sinais de perigo e oseu rosto estava completamente tenso. Praticamentevibrava de ira.

– Obrigado, Dave – disse-lhe Jesse. – Podes ir. Játrato disto.

Agradecido por se ver dispensado da situação,Dave deu um passo atrás e fechou a porta.

Jesse pôs-se de pé e aproximou-se de Bella. Aover que tentava tocá-la, ela deu um passo atrás e le-vantou uma mão para impedi-lo.

– Nem sequer te aproximes de mim, canalha.

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– Espera aí um minuto... – Foi tudo um jogo, não foi? – inquiriu ela com

frialdade. – De que estás a falar? – Disto – replicou ela. Introduziu a mão num dos

bolsos da saia e tirou um papel muito enrugado quelhe atirou à cara.

Jesse apanhou-o no ar e examinou-o rapidamente.Então, sentiu que a alma lhe caía aos pés.

– Que diabos...? – Não reconheces o que tu próprio ordenaste?

– troçou ela. – Nesse caso, permite-me que to expli-que. Trata-se de uma ordem de despejo na qual meconcedem três semanas para abandonar a minhaloja. A loja da qual és dono.

– Bella, tens de perceber que tudo isto foi um erro. – Não. Não percebo. Está tudo aí, escrito. Está

tudo muito claro. – Eu não te estou a despejar. – A sério? Pois esse papel tem todo o ar de ofi-

cial. O meu contrato de arrendamento acaba daquia três semanas e tu queres-me fora. É tudo muitoclaro – repetiu.

– Eu não ordenei isto... Jesse interrompeu o que ia dizer. Inclinou a ca-

beça para trás e fechou os olhos. Em silêncio, mal-disse o seu assessor de assuntos económicos.Quando comprou o edifício no qual se encontravaa loja de Bella à família do antigo proprietário,disse ao seu assessor que a deixasse em paz até aotermo do contrato. Efectivamente, o seu contratoterminava dentro de poucas semanas e, aparente-mente, o assessor tinha feito o que ele lhe tinhapedido. Jesse não pensava naquele maldito con-

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trato há semanas. Deveria ter prestado mais aten-ção.

– Está bem. Deixa-me explicar... – Não há nada que possas dizer que explique

isto. – Repito que isto é um erro. Sim. Admito que a

ordem de despejo foi redigida há uns meses, masdisse ao meu assessor económico para não fazernada até o teu contrato estar quase a...

– Parabéns! Esse homem segue as tuas ordens àletra.

– Eu jamais tive em mente despejar-te, Bella.Queria ter a oportunidade de te convencer para teunires à minha empresa. Só... só que me esqueci deinformar o meu assessor.

– Esqueceste-te de quê? – rugiu ela, com uma ex-pressão horrorizada no rosto. – Esqueceste-te de di-zer a alguém que não devia despejar-me?

– Sim, admito-o. É mesmo assim. No entanto,devo dizer em minha defesa que nestas últimas sema-nas estive muito ocupado, principalmente contigo.

– Então, é culpa minha, não é? – Pronto, Bella, tem calma. Podemos falar disto. Mais uma vez, Jesse tentou-se aproximar dela,

mas Bella impediu-o. – Atreve-te, juro-te que me defenderei. E não será

pacificamente. A julgar pelo olhar que ela tinha nos olhos, Jesse

acreditou. Um homem sábio devia saber quandodar um passo atrás. Jesse ficou imóvel e olhou-a nosolhos.

– Já te disse isto mil vezes, mas repito que é umerro, Bella. Não podes acreditar que eu quisesse ti-rar-te da tua própria loja.

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– Por que não? – Ora bolas para ti, Bella... porque... porque

gosto de ti. – Não te engasgues com as palavras. As coisas não corriam bem. Devia tê-lo imagi-

nado, mas tivera tantos assuntos em mãos ultima-mente que não lhe era fácil tratar de tudo. Natural-mente, Bella não aceitaria isso como explicação eele não a culpava por isso. Levantou uma mão eagarrou o próprio cabelo com as duas mãos, pu-xando-o de pura frustração.

– Isto não faz sentido. Pensa bem. Caramba, aca-bas de aceitar unir-te à minha empresa. Por que iaeu querer fazer-te isto agora?

– Isso tenho de admitir que foi um erro. Aí me-teste o pé na poça – comentou ela, rindo sem ale-gria nenhuma. – Deverias ter conseguido que eu teassinasse os papéis antes de enviares o lacaio coma ordem de despejo. Meteste o pé na poça, senhorpredador empresarial.

– Voltamos a isso? Achava que já tínhamos dei-xado isso para trás. Que nos compreendíamos.

– Eu também achava muitas coisas. Pensava queeras mais do que parecias. Que tinhas um coraçãoem alguma parte, mas parece que os dois comete-mos erros.

– Bella... Ela continuava muito zangada com ele e isso preo-

cupava-o, sobretudo porque nos seus olhos conti-nuava a reflectir-se uma expressão gélida que augu-rava que ela não ia escutar nada do que ele lhedissesse. De qualquer forma, ia tentar...

Raios... gostava dela. Muito. Talvez algo mais doque isso. Talvez até fosse amor. Talvez se tivesse apai-

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xonado por Bella e só o tivesse percebido tarde de-mais. Deus. Era um verdadeiro idiota. Ia mesmoperdê-la logo agora que percebera como precisavadela? Nem pensar. Não ia permitir que ela se fosseembora. Tinha de confessar. Pronunciar as palavrasque jamais tinha dito a alguém. Então, ela faria oque achasse melhor. Teria de o fazer.

– Bella, amo-te. Ela pestanejou e abafou uma gargalhada. – Estás assim tão desesperado que tens de atirar

com a artilharia pesada? Não era a resposta que ele tinha esperado. – Bolas! Estou a falar a sério. És a única mulher

à qual disse algo assim. – E só por isso devo acreditar? – Sim! – Pois eu cá acho que não. Por que devo acredi-

tar? Eu aceitei unir-me à King Beach e desapare-ceste imediatamente. Há dias que não te vejo por-que já conseguiste o que querias.

– Não é isso. Tenho andado a pensar. Sobre nós.Sobre... o nosso futuro.

Bella suspirou, deixando escapar uma garga-lhada triste que o rasgava por dentro.

– Nós não temos nenhum futuro, Jesse. Jamaistivemos. A única coisa que tivemos sempre foi umanoite na praia há três anos. O resto não foi real. Es-tas últimas semanas, as que partilhámos, foram sóuma farsa.

– Não é verdade. – O romance, a sedução, o acto sexual, os risos...

Tudo. Tu jamais me desejaste. Só desejavas o meunegócio. Foi tudo um jogo.

Jesse sentiu vergonha e odiou a sensação que ex-

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perimentou. Tinha temido aquele momento e ti-nha esperado poder evitá-lo a todo custo. Dariaqualquer coisa para poder dizer-lhe que estava en-ganada, mas sabia que não ganharia mentindo.

– Sim, foi assim que começou tudo. Admito –disse. Observou a dor que se reflectiu nos lindosolhos de Bella. Sentiu-se um canalha como ela ti-nha dito que ele era. – Ouvi dizer que o Nick Alonaestava interessado no teu negócio e...

– Deliberadamente, vieste até mim para derrotaro teu amigo.

– Assim foi em parte... – Tudo. – Está bem, mas não é assim que estão as coisas

agora. – Pois claro – disse ela com ironia. – Acredito.

Não foi um jogo. Amas-me. Por que não? – Bella, caramba... Admito que no início come-

cei a sair contigo porque queria o teu negócio, que-ria derrotar o Nick, e também te desejava. Há trêsanos que ocupavas os meus pensamentos! – excla-mou Jesse. Bella não disse nada. Simplesmente per-maneceu de pé, observando-o. Jesse sentiu-se comoum animal sobre a bandeja de um microscópio. –Tudo mudou. Que diabo, Bella, deixei de pensarno teu negócio há semanas. Sei que me esquecidessa maldita ordem de despejo porque passavamuito tempo contigo e não me importava mais nada.

– Não acredito – afirmou ela, sem expressão al-guma no rosto.

– Eu sei – disse Jesse. Pegou na ordem de despejoe rasgou-a ao meio. Depois repetiu a operação e dei-tou os restos de papel ao chão. – Esquece tudo isto,Bella. Fica com a tua maldita loja; nem sequer te

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vou cobrar a renda! E esquece o nosso acordo paraque a tua empresa passe a fazer parte da minha. Nãoquero o teu negócio. Só te quero a ti. Não quero per-der-te.

– Já perdeste – sussurrou ela. Nada do que Jessepudesse dizer mudaria o facto de ter tentado se-duzi-la deliberadamente para tirar-lhe o seu negó-cio. Como podia voltar a confiar nele?

Tinha-lhe dito que a amava. Horas antes, ela te-ria dado qualquer coisa por ouvir essas palavras doslábios de Jesse. Já era demasiado tarde. Tinha a cer-teza que as utilizava para tentar desesperadamenteremediar o que tinha feito.

Bella tinha perdido tudo. De uma só assentada,tinha desaparecido tudo. Sonhos. Esperança. Umfuturo com o homem que amava. Tudo se transfor-mara em pó levado pela brisa do mar.

– Além disso, eu jamais fui tua para que me pos-sas perder – sussurrou ela.

– Isso não vou aceitar. – Pois tens de aceitar, Jesse – sussurrou ela, aba-

nando a cabeça. A sua ira tinha desaparecido paraser substituída por uma profunda indignação. –Acabou. Tudo.

– Bella, se pelo menos me ouvisses... – Não – disse ela enquanto se dirigia para a porta

sem afastar os olhos dele. – Vou mudar de loja. Saiodaqui antes do fim do mês.

– Quero lá bem saber da loja... Não tens que temudar.

– Claro que sim. Agarrou a maçaneta da porta e voltou-se para

olhá-lo por cima do ombro. Desejava guardar parasempre a imagem que tinha dele. Desejava poder

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correr para ele, abraçá-lo e fingir mais um dia queo que tinham partilhado era real. Que o que elasentia era correspondido. Que por uma vez, tinhaalguém que a amava. No entanto, se não era real,não importava nada.

Suspirou e disse-lhe: – Não te vou ceder o meu negócio. O meu ne-

gócio é meu e nunca o terás. Não o mereces, Jesse. – Bella... Dá-nos uma oportunidade. Dá-me uma

oportunidade – sussurrou ele, numa voz suave. – Não haverá mais oportunidades. Deveria ter

imaginado que a nossa relação terminaria assim. Tu jamais te comprometeste com coisa alguma

em toda a tua vida. Agora sei disso. E também seique é essa a razão pela qual nunca te compromete-rás comigo.

– Enganas-te, Bella. Comprometi-me em muitasocasiões. Se aceitasses ouvir-me ... Por favor, não tevás embora...

Estas últimas palavras soaram como se lhas tives-sem tirado à força da garganta. Era demasiadopouco. Demasiado tarde.

– Se te serve de alguma coisa, também não vouvender o meu negócio ao Nick Alona.

– Bella... – Tchau, Jesse. Bella abriu a porta, saiu do escritório e fechou-a

nas suas costas com um gesto silencioso.

Dois dias mais tarde, Jesse continuava atónito.Ninguém nunca lhe tinha falado do modo que Bellatinha feito.

Nunca alguém tinha estado tão certo sobre ele. Ti-

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nha querido argumentar, rejeitar tudo o que elalhe tinha dito, mas ela tinha-o calado na perfeição.

Tinha vivido a sua vida à procura do caminhomais fácil. Tinha encontrado um negócio que corrialindamente e só quando o tinham posto em cima damesa tinha feito o esforço de fazê-lo funcionar. Eramuito duro que a mulher que amava lhe pusesse ospontos sobre os is e que depois lhe dissesse que elenão a merecia.

O pior de tudo era que tinha razão. Bella tinha-lhe mostrado um bom quadro de si

próprio e Jesse não tinha gostado do que tinhavisto. Queria ir a casa dela naquela mesma noite.Enfrentá-la, admitir que tudo o que ela lhe tinhadito era verdade e, mesmo que lhe custasse, supli-car-lhe que o ouvisse. No entanto, sabia que elacontinuaria muito zangada com ele para o ouvir.Quem podia culpá-la?

Decidiu dar-lhe alguns dias. O tempo suficientepara que a ira dela se mitigasse um pouco. Otempo suficiente para que a ele lhe ocorresse pelomenos um plano com o qual esperava poder con-vencê-la a voltar para o seu lado. Quando saiu daKing Beach para percorrer a pouca distância queseparava a King Beach da loja de Bella, soprava umvento frio. As aves marinhas tinham acudido a terrapara se refugiarem, sinal inequívoco de que a tem-pestade que já se estava a formar há vários dia iaeclodir por fim. Deus. A tempestade esclareceria oambiente e talvez, só talvez, isso fosse precisamenteo que Bella e ele necessitavam que ocorresse. Res-pirou profundamente ao chegar à loja, mas com-provou que estava fechada. Franziu a testa e, du-rante um segun do, pensou que talvez tivesse ido

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almoçar. No entanto, eram três da tarde. Rodeouos olhos com uma mão e aproximou-se da montrapara olhar para o interior. A loja estava vazia.

Tinha desaparecido tudo. Os cabides estavamcompletamente vazios. A máquina registadora ti-nha desaparecido da prateleira. O pânico apode-rou-se dele. Sem poder crer no que estava a ver, diri-giu-se à outra montra e repetiu o gesto com osmes mos resultados.

Bella tinha levado tudo. A mesa de trabalho es-tava vazia e faltavam as caixas da nova colecção. Derepente, Jesse sentiu-se tão vazio como o edifícioque tinha diante de si. Porém, não pensava ficar debraços cruzados.

Retornou a King Beach, tirou o seu carro e diri-giu-se à casa de Bella. Os lindos canteiros de flores,os vasos e a brilhante porta vermelha fizeram-lhelembrar tudo o que tinha vivido naquela casa comela. Lembranças que jamais esqueceria. Promessasde um futuro que não queria perder.

Bateu com força à porta e esperou uma respostaque não chegou. Olhou pelas janelas e suspirou ali-viado quando notou que Bella ainda tinha ali assuas coisas.

– Bella! – gritou batendo de novo à porta. – Bella,abre e fala comigo, ora bolas!

Esperou o que lhe pareceu uma eternidade, masBella jamais acudiu à porta. Olhou a casa do lado,na qual vivia o amigo dela, Kevin, mas esta tambémestava escura e, além disso, não havia nenhum carroestacionado junto dela. Isso significava que Bella nãoestava a tentar esconder-se com ele. Onde demóniosestava? Sentada na sala, escutando-o a fazer figura deridículo? O desespero apoderou-se dele.

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– Está bem! – gritou. – Vou continuar sentadoaqui até que saias!

Passou as horas seguintes à espera. Cumprimen-tou os vizinhos, pediu uma pizza quando sentiufome e continuava ali quando, naquela noite, a tem-pestade se abateu por fim sobre Morgan Beach.

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Capítulo Onze

No dia seguinte à tarde, Jesse foi à loja de Kevin.Estava decidido a que o melhor amigo de Bella lhedissesse onde podia encontrá-la. Se alguém o sabia,tinha de ser ele. Abriu a porta e ficou atónito como que viu.

Ali estava Kevin com uma loira muito alta e muitobonita que se colava a ele como o plástico de umDVD. O beijo que trocavam resultava suficiente-mente apaixonado para que o vidro da montra seembaciasse. Separaram-se de má vontade quandoouviram Jesse entrar.

A loira olhou-o e começou a rir. – Ui... Kevin sorriu. – Não se passa nada, Traci. Jesse, esta é minha

namorada, Traci Bennett. Traci, Jesse King. A loira olhou-o e Jesse notou que a reconhecia.

O rosto dela aparecia em centenas de anúncios.Era alta, bonita e vestia com uma elegância dis-creta, mas ele só podia pensar numa mulher muitomais baixa, mal vestida e com o cabelo escuro.

– É o ex surfista que tem administrado tudo isto– disse Traci. – Bom trabalho. Agrada-me o que feznesta cidade.

– Obrigado.

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– Fico muito contente por conhecê-lo – insistiua loira, – mas lamento que nos tenha interrompidoo beijo. Estive fora quatro semanas e tive muitassaudades do Kevin.

– Não há problema – disse Jesse. – Só preciso defalar com Kevin uns minutos, se não se importa.

– Claro que não – respondeu ela. Limpou asmanchas de batom que tinha deixado nos lábios deKevin e pegou na mala antes de se dirigir para aporta. – Deixarei que falem. Espero-te depois emminha casa, meu amor...

– Claro – disse Kevin, com os olhos brilhantes. – Ora – comentou Jesse quando ela foi embora,

– é verdade que tens namorada. – Sim. De que querias falar? – perguntou-lhe Ke-

vin sem preâmbulo algum. – Põe o cartaz de fe-chado e anda comigo lá atrás.

Era evidente que Bella já tinha contado tudo aoseu amigo. Kevin já estava do lado da amiga. Jesseaceitaria tudo o que ele quisesse dizer-lhe. Era me-recido, mas não ia embora dali sem saber onde seencontrava Bella.

Jesse fez o que Kevin lhe pediu, além de metera chave na porta e depois seguiu Kevin ao que po-deria considerar-se um pequeno armazém. Ali,também havia um pequeno lava-loiça, um frigorí-fico e uma mesa com duas cadeiras.

– Senta-te – disse-lhe Kevin. – Apetece-te umacerveja?

– Claro. Quando estavam os dois sentados, Kevin tomou

um gole da sua cerveja e perguntou: – Porque estás à procura da Bella? – Porquê? Pois porque tenho de falar com ela.

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– A mim parece-me que vocês já disseram tudoo que tinham para dizer.

– Vejo que te contou tudo. – Sim. Esteve a chorar. – Ora bolas... Jesse nunca pensou que pudesse sentir-se pior

do que se sentia naquele momento, mas estava en-ganado. Odiava o facto de ela ter chorado e ser eleo causador daquelas lágrimas.

– Deixou a loja. – Despejaste-a. – Isso não é verdade. Rasguei a ordem de des-

pejo. Disse-lhe que podia ficar... – E achas que a Bella poderia ficar depois de

tudo o que aconteceu? – Claro que não. A Bella é muito orgulhosa; e as-

saz teimosa. Que diabos quer de mim? – Parece-me que nada. Jesse pegou na garrafa entre as mãos e sentiu

que a frieza do vidro chegava muito dentro. Era pre-cisamente assim que se sentia sem Bella...

– Deixou a loja. Não está em casa e quando lheligo para o telemóvel vai imediatamente para o aten-dedor de chamadas.

Kevin suspirou e deu um gole à cerveja. – Não quer falar contigo, homem. Quer que a

deixes em paz. – Isso não é verdade – replicou Jesse. – Sei que

me ama. – Amava-te. – E deixou de fazê-lo da noite para o dia? – Porque vieste aqui se não queres ouvir o que

te estou a dizer?

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– Não vim aqui para que me dês conselhos. Vimaqui para procurar a Bella.

– Não está aqui. – Sim. Isso estou eu a ver. E onde está? – E porque achas que eu to diria a ti? Partiste-lhe

o coração. Jesse fez um gesto de dor. Não tinha sido fácil ir

ver o amigo de Bella, mas quer o admitisse quernão, necessitava de ajuda. Tinha de encontrá-la. Fa-lar com ela.

Convencê-la a voltar para ele. Se alguém sabiaonde estava Bella, era Kevin.

– Tenho de falar com ela. – E que lhe vais dizer? – Tudo. – Não te correu muito bem da última vez. – Não – admitiu Jesse, – mas é que ela não me

deu oportunidade. Foi ao meu escritório, deu-meum raspanete e desapareceu.

Kevin sorriu. Deu um gole à cerveja e disse: – E que vais fazer a esse respeito? – Aparentemente, vou sentar-me nas traseiras da

loja do melhor amigo dela para que me torture. – Além disso. – Vou encontrá-la – disse-lhe Jesse olhando-o fi-

xamente. – Mesmo que tu não me digas onde está,encontrá-la-ei. Então, atá-la-ei a uma cadeira se forpreciso para me assegurar de que me ouve e dir-lhe-eique me ama e que nos vamos casar.

– Acho que gostaria de ver isso. – Estás a gozar bem o pratinho, não estás? – Não tanto como tinha pensado – replicou Kevin.

– Já te disse uma vez que a Bella é como um membroda minha família para mim. Magoaste-a muito em

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duas ocasiões, mas estou disposto a dar-te outraoportunidade porque sei que ela está louca por ti.

A esperança ateou-se no peito de Jesse. – Não obstante – prosseguiu Kevin, – advirto-te

de uma coisa. Se voltares a magoá-la, encontrareiforma de te fazer o mesmo.

– Compreendido. Kevin estudou-o longamente. Depois assentiu e

disse: – Muito bem. Tem estado em minha casa, mas

voltou à dela esta mesma manhã. – Obrigado. Jesse pôs-se de pé e dirigiu-se a toda a velocidade

para a porta principal.

Uma hora mais tarde, Bella estava encolhida nasala. Sentia muita pena de si própria.

Quando alguém bateu à porta, alçou a cabeçacomo movida por uma mola. Sem nem sequerolhar pela janela, sabia perfeitamente que se tra-tava de Jesse. Era capaz de sentir a sua presença.

Apesar de não lhe apetecer vê-lo, sabia que nãopodia esconder-se dele eternamente. Tinha tido al-guns dias para chorar e desabafar. Tinha chegadoo momento de voltar a retomar as rédeas da suavida. Aquela era a sua casa, a sua cidade. Não ia dei-xar tudo só porque tinha cometido o erro de seapaixonar por um homem que era incapaz de lhecorresponder.

Secou as lágrimas e olhou-se no espelho maispróximo. Estava muito despenteada, sem maqui-lhagem e parecia exactamente o que era: uma mu-lher que passara muito tempo a chorar.

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Jesse voltou a bater, daquela vez com mais força.Bella encheu-se de coragem e abriu a porta. Aovê-lo, o coração dela deu uma volta. Era tão bonitoe tinha tido tantas saudades dele...

– Bella – sussurrou ele, com um sorriso de alívio.– Graças a Deus. Há dias que te procuro.

– O que é que queres, Jesse? – perguntou-lheela, colocando-se junto da porta de tal modo quepudesse impedir-lhe o acesso com facilidade se elefizesse algum gesto para entrar.

– Quero falar-te de muitas coisas, mas vamos co-meçar com isto – disse-lhe entregando-lhe ummonte de papéis.

Bella suspirou, pegou neles e examinou-os. Tra-tava-se de uma escritura.

– O que é isto? – É a escritura do edifício, Bella. Quero que o te-

nhas tu. Faz o que quiseres com ele. Amplia o teunegócio ou fecha-o. É teu. Sem compromisso.

– Não entendes, Jesse? Eu não quero isto. Nãoquero nada teu – replicou. Lançou a escritura porcima da cabeça dele. Após bater as asas uns segun-dos ao vento, foi cair sobre a relva. – Agora, por fa-vor, peço-te que te vás embora.

Fechou a porta e tentou de não se lembrar da sur-presa que o olhar dele reflectia. Então, apoiou-se so-bre a porta e voltou a chorar. Pensava que já tinhachorado mais do que suficiente, mas, aparente-mente, ainda lhe restavam algumas lágrimas.

Jesse não compreendia. Aquilo não tinha nada aver com a sua loja, com o seu negócio, nem com aKing Beach, mas com eles. Tinha a ver com o muitoque o amava e o muito que se tinha enganado comele.

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– Bella – disse ele, do outro lado da porta, – nãofaças isto...

Ela conteve o fôlego, fechou os olhos e esperouque ele se fosse embora. Por fim, ouviu uns passosque se afastavam. Quando já não ouviu mais nada,sentou-se lentamente no chão, agarrou-se aos joe-lhos e permaneceu ali em silêncio. Tinha feito oque devia. Tinha a certeza disso. Tinha de ser forte.Não podia permitir que ele voltasse a magoá-la. Na-quele momento, Jesse estava a reagir mal porque,segundo ele lhe tinha dito, os King nunca perdem.Pouco a pouco, terminaria por perceber que deviadeixá-la em paz.

No entanto, na manhã seguinte muito cedo, Jessevoltou a bater à porta dela.

– Bella! Bella! Abre a porta! Deixa-me falar con-tigo, caramba!

Ela levantou-se da cama no meio da penumbra.Estava a amanhecer. Tinha decidido que não lheabriria a porta se voltasse, mas não tinha contadoque ele gritaria tão alto o seu nome. Se não abrissea porta, a senhora Clayton chamaria a polícia empoucos minutos.

Colocou um robe e abriu a porta. Ao olhar paraJesse, pareceu-lhe que ele não tinha dormido nada.Tinha o cabelo alvoroçado, como se tivesse estadoa acariciá-lo toda a noite. Camisa enrugada; barbaa escurecer-lhe o rosto; um café em cada mão.

– Trouxe-te um café. Bella suspirou e tomou um. Jesse conhecia bem

a sua debilidade, mas isso não significava nada. Também não significava nada o facto de ela ter

aceitado o café. – Jesse, tens de deixar de fazer isto.

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– Não. Não pararei nunca, pelo menos até queme escutes.

Bella voltou a suspirar. – Está bem, fala. – Não posso entrar? – Não. – Está bem. Não me queres em tua casa, por isso

dir-te-ei o que tenho a dizer aqui mesmo. Bella,amo-te – afirmou olhando-a nos olhos.

– Jesse, não... – É verdade. Olha, sei que estraguei tudo. Sei

que estás magoada e zangada. Tens todo o direitodo mundo a estar assim, mas ora bolas, Bella, eununca me senti assim antes. Talvez por isso estou aestragar tudo. Tudo é novo para mim. És nova paramim, mas isso não faz que o que sinto seja menosautêntico. Amo-te, Bella. De verdade.

Bella sentiu que se formava um nó na sua gar-ganta. Não queria chorar diante dele, mas os seusolhos estavam a encher-se de lágrimas. Se não fe-chava a porta rapidamente, isso era exactamente oque ia ocorrer. A humilhação seria completa.

– Como posso acreditar em ti, Jesse? Tens-mementido desde o princípio.

– Eu sei e peço desculpa. Lamento-o mais doque imaginas. Como te disse, sei que cometi erros,mas amar-te não é um deles, Bella. Tens de acredi-tar em mim. Tens de saber que o que sinto é de ver-dade. Quero casar-me contigo... ena – acrescentou,com um leve sorriso. – Jamais pensei que me ouvi-ria a pronunciar essas palavras.

Ela começou a tremer e esforçou-se mais umpouco para conter as lágrimas.

– Basta, por favor...

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– Não. Não pararei nunca. És a minha alma gé-mea, Bella. És a peça que sempre me faltou. Dia-bos, nem sequer sabia que estava incompleto atéque te conheci a ti – sussurrou. Estendeu uma mãoe deslizou-a pela porta até encontrar a dela. – Nãoposso perder-te agora. Não quero voltar a estar sozi-nho. Eras a minha mulher misteriosa, Bella. Agoravejo que o único mistério é como consegui viver semti toda a vida. Dá-me a oportunidade de te compen-sar, por favor. Dá-nos aos dois essa oportunidade.

Ela olhou-o nos olhos. Queria acreditar naque-las palavras, mas custava-lhe até tentar.

– Oxalá pudesse acreditar em ti, mas não posso. Então, fechou a porta e permitiu por fim que as

lágrimas lhe escorressem pelas faces.

Naquela noite, já muito tarde, Jesse murmurouuma maldição quando os céus se abriram sobre ele.Nunca em toda a sua vida tinha tido de se esforçartanto para conseguir algo. Tudo tinha sido fácil. Ti-nha conseguido tudo com facilidade. Até àquelemomento.

Naquele momento, tudo dependia de poderconvencer uma mulher, a mulher mais importanteda sua vida. E não estava disposto a perdê-la.

Ela era teimosa? Ele era-o mais. Se Bella achava que se ia render tão facilmente,

aguardava-a uma grande surpresa. Molhou-se com-pletamente mal saiu do carro. Estava a chover acântaros. Então, olhou para as casas que ladeavama de Bella e viu que estavam às escuras. Kevin esta-ria certamente com Traci e a senhora Clayton esta-ria a dormir. Ninguém o veria. Então, centrou a sua

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atenção no quarto de Bella. Ela estaria ali, enco-lhida sob as mantas. Sozinha.

Não por muito tempo. Afastou o cabelo molhado do rosto e dirigiu-se

directamente para a janela. Estava farto de tentarpela porta principal. De pedir para que ela o dei-xasse entrar. Bella ia ter de escutá-lo. Ia ter de acre-ditar nele. Jesse não ia embora até conseguir queela acreditasse nele.

Sorriu e abriu a janela. Ficava feliz que não esti-vesse fechada à chave. A última vez que esteve emcasa de Bella, viu que o fecho estava defeituoso e ti-nha decidido trocá-lo. Ficou contente por não o terfeito.

A porta de madeira rangeu um pouco. Deteve-separa se assegurar que ninguém se tinha apercebidoda sua presença. Viu que se tinha acendido uma luzna casa da senhora Clayton. Se acordasse e o vissea entrar na casa de Bella pela janela, chamaria ime-diatamente a polícia.

Não tinha tempo a perder. Ao entrar, bateu com a tíbia na janela. Afogou

um grito de dor, mas Bella começou a mexer-se umpouco sob as mantas. Deu a volta e a suave luz darua iluminou-lhe o rosto. Jesse sentiu que o seu co-ração se detinha um instante. Amava-a mais do queachava possível que se pudesse amar alguém.

Com sigilo, dirigiu-se para a cama. Tirou o ca-saco e atirou-o para o chão. Então, abanou a cabeçae sussurrou:

– Bella, Bella. Acorda. Ela espreguiçou-se com um lânguido movimen -

to. Abriu os olhos e olhou-o atónita. Então pesta-nejou rapidamente e disse:

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– Jesse? – Esperavas mais alguém? – Não, mas também não te esperava a ti – afir-

mou. Jesse estendeu uma mão e apertou-a contra ocorpo. – Mas estás todo molhado...

– Está a chover. – Como entraste aqui? – Pela janela. Tens de arranjar essa fechadura. – Parece que sim. – Olha, Bella. A senhora Clayton poderia ter-me

visto entrar aqui, portanto temos de falar muito rá-pido, porque, se me viu, provavelmente já terá cha-mado a polícia.

– Pelo amor de Deus! – Vês o que estou disposto a fazer por ti? Com

certeza que me vão prender, por isso agora tens deouvir.

– Jesse, estás louco...– Provavelmente. – Porque estás a fazer tudo isto? Por que não pa-

ras de tentar? – Porque vale a pena. – Jesse, quero acreditar em ti. De verdade que sim. – Porque me amas. Por que não o admites? –

perguntou ele enquanto lhe acariciava suavementeas maçãs do rosto com os polegares.

Bella fechou os olhos. Uma única lágrima desli-zou por baixo de uma pálpebra. Jesse secou-a comum beijo.

– Não posso. Se o fizer, voltarás a partir-me o co-ração.

Jesse sofria muito ao vê-la chorar porque sabiaque era ele o motivo de tanta dor. Porém, sabia que

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podia solucioná-lo. O objectivo da sua vida seriaque Bella nunca mais voltasse a chorar.

– Não chores mais, Bella. Estás-me a matar. – Não posso parar – admitiu ela. Levantou os

olhos para olhá-lo. – Deus, amo-te tanto... Juro-te que jamais volta-

rei a fazer-te chorar. Aquelas palavras fizeram com que Bella come-

çasse a rir.– Jesse, não podes prometer-me algo assim. – Claro que posso, Bella. Acredita em mim se

digo que vou passar o resto da minha vida a fazer-tesorrir. Assegura-me que não voltas a duvidar domuito que te amo.

Bella mordeu o lábio inferior e conteve o fôlego.Então, Jesse introduziu a mão num dos bolsos dascalças e tirou a caixa que tinha tido o dia todo nobolso. Tinha ido à loja de Kevin naquela mesmamanhã depois de deixá-la.

Levantou a tampa de veludo vermelho e mos-trou-lhe o anel que o tinha feito pensar nela nomomento em que o viu.

– Jesse... Ele pegou-lhe na mão esquerda. Bella estava a tre-

mer, mas não a retirou. Lentamente, colocou-lhe oanel no dedo sem deixar de olhá-la nos olhos

– É um diamante amarelo – explicou-lhe ele. –Quando o vi na loja do Kevin, pensei em ti, nessascamisas amarelas que vestes. No quanto adoras osol. No brilho que há no mundo quando estou aoteu lado.

Bella levantou a outra mão e cobriu-lhe os lá-bios. Os olhos dela marejaram-se de lágrimas e co-meçou a chorar de emoção.

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– Ai! E não é que quebrei a minha promessa.Voltei a fazer-te chorar – sussurrou ele. Inclinou-sesobre ela para beijá-la com reverência.

– Não conta. As lágrimas de felicidade não con-tam, Jesse.

Ele sorriu aliviado. Bella tinha-lhe perdoado. – Amo-te, Bella. Quero casar-me contigo. Ter fi-

lhos contigo. Construir uma vida ao teu lado. – Eu também o desejo, Jesse. Amo-te tanto... – Por fim – disse ele com um sorriso rasgado. –

Sabes uma coisa? Vais ter de dizer isso com muitafrequência. Acho que nunca me cansarei de o es-cutar.

– De acordo. Jesse pegou-lhe em ambas as mãos entre as suas

e disse: – Estou a realizar um compromisso, Bella. Con-

tigo. Connosco. Inclusive pus dois caixotes do lixoem cada um dos cubículos do escritório.

Ela começou a rir. As suas gargalhadas eram umsom delicioso que o envolvia como se se tratasse deuma bênção.

– Oh, Jesse, estás verdadeiramente louco. – Queres dizer louco por ti? Claro que sim, meu

amor. Conta com isso. No exterior, umas luzes vermelhas e amarelas

iluminaram a escuridão.– É a polícia – disse. – Céus, importar-te-ias de

sair comigo e explicar a esses amáveis oficiais queisto é só o início de uma vida em comum muito in-teressante?

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Epílogo

Três meses depois, Bella saiu do escritório e en-trou no de Jesse com um amplo sorriso no rosto.Agitava uma folha de papel como se fosse a ban-deira do vencedor de uma corrida de carros.

– Está aqui! É maravilhoso! É maravilhoso! Avançou sobre ele de maneira que Jesse teve de

levantar-se para a abraçar. A sua esposa. Não achava que fosse cansar-se nunca do som da-

quelas palavras. A sua esposa. Bella e ele estavam náum mês casados e a diferença que esse aconteci-mento tinha provocado na sua vida era abismal. Sen-tia-se mais vivo do que nunca e devia tudo a Bella.

– De que estás a falar? – perguntou-lhe enquantoinclinava a cabeça para lhe mordiscar suavemente opescoço.

Dado que o escritório de Bella era contíguo aodele, contavam com uma porta que unia ambas as di-visões e que só eles os dois utilizavam. Assim, po-diam estar juntos quando quisessem sem que oresto da empresa tivesse conhecimento.

Embora Jesse não se importasse minimamentecom isso.

Bella gemeu suavemente ao sentir como ele lhebeijava o pescoço. Jesse adorava como ela se vestia.Calças de ganga que lhe realçavam as pernas mara-

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vilhosas. Camisas do seu verdadeiro tamanho quecostumavam ser acompanhadas de decotes genero-sos...

– Não é justo – sussurrou ela. – Sabes que nãoconsigo pensar quando fazes isso.

– Boa! Não tens nada em que pensar. Havia novas regras na empresa. Ninguém podia

entrar naquele escritório sem bater e sem receberresposta, por isso sentiam-se livres para fazerem oque quisessem. Jesse sorriu. Ocorriam-lhe váriascoisas nas quais os dois pudessem entreter-se du-rante uma hora ou duas.

– Jesse... não vim cá para isto. Só queria mos-trar-te... Agradecer-te...

– Oh... óptimo. Adoro que a minha mulher meagradeça.

Ela desatou a rir e arrojou o papel sobre a secre-tária de Jesse para assim poder abraçá-lo com maisliberdade. Beijou-o longa e profundamente e, en-tão, afastou-se dele para olhá-lo.

– Dizes isso com muita frequência, não dizes?Minha mulher...

Jesse sorriu. – Quero que te acostumes a ouvi-lo. A minha es-

posa. A minha... – Tal como eu gosto – sussurrou ela. Voltou a

beijá-lo mais uma vez, dando-lhe tudo o que ele po-dia desejar. Fazendo com que todos os seus sonhosse tornassem realidade. Fazendo com que a vida deJesse fosse tal como devia ser.

Quando se afastou dele, dirigiu-se para o sofá quehavia no escritório com um sorriso sedutor. Ele se-guiu-a imediatamente. No entanto, primeiro, olhouo papel que ela tinha deixado sobre a secretária.

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Era o novo anúncio da King Beach para a im-prensa nacional.

Congratulava-se que lhe agradasse. Nele, apareciam as fotografias de ambos e da

respectiva roupa de banho junto ao slogan: Bella eKing: finalmente juntos.

Perfeito.

No Desejo intitulado De novo perto de ti, de Maureen Child,

poderás continuar a série OS REIS DO AMOR

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BRONWYN JAMESON

Escândalo e diamantes

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