habermas 10 autorreflexão como ciência 2

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  • 8/16/2019 Habermas 10 Autorreflexão Como Ciência 2

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    10 Autorrefexão como ciência: a crítica psicanalítica do

    sentido e Freud

    Freud a medida que desenvolvia uma nova disciplina, ele refetia sobre seuspressupostos. 322

    Com a psicanálise se abre a possibilidade de um acesso metodológico,ranqueado pela própria lógica da pesquisa, a uma dimensão soterrada pelopositivismo. Essa possibilidade não se realiou, pois o próprio Freud, o!siólogo por origem, inaugurou o mal"entendido cienti!cista da psicanálise.323# trabal$o do analista se distingue do !lólogo, porque ele requer uma$ermen%utica especi!camente ampliada que, considera uma novadimensão. 32&'ara Freud, ()* a biogra!a só + obeto de análise na medida em que + aomesmo tempo o con$ecido e o descon$ecido por dentro, de sorte que se

    deve recuar para trás do que + maniestamente recortado. 32&-ilt$e/ 0 primeira condi1ão para a constru1ão do mundo $istórico +, ()* apuri!ca1ão das recorda1es do g%nero $umano, conusas e deterioradas dediversas maneiras, gra1as a crtica que consiste na correla1ão com ae4egese. 'or isso a ci%ncia undamental da $istória + a !lologia. 3256em d7vida, -ilt$e suplantou a compreensão psicológica da e4pressão emavor da $ermen%utica do sentido, 8no lugar do re!namento psicológicoentrou a compreensão dos construtos espirituais9. :as tamb+m a !lologiadirigida ao ne4o de smbolos permanece restrita a uma linguagem na qualse e4pressa o que + conscientemente intencionado. 32;

    #s ne4os simbólicos que a psicanálise busca compreender são deterioradospor infuências internas. 0s mutila1es possuem como tais um sentido. ()*unica a análise da linguagem com a pesquisa psicológica dos nexos

    causais. ()*

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    dist7rbios internos. 0s neuroses distorcem os ne4os simbólicos em todas astr%s dimenses a e4pressão lingustica Drepresenta1es compulsivas, a1esDcompulses repeti1ão e a e4pressão vivencial ligada ao corpo Dsintomascorporais $ist+ricos. 33B# padrão não patológico de um semel$ante te4to + o son$o. ()* # son$o se

    desatrela das a1es e das e4presses/ o ogo de linguagem integral +somente imaginado. 33B0 interpreta1ão dos son$os permaneceu sempre o modelo para oesclarecimento de ne4os de sentido patologicamente deturpados. 33G# analista precisa investigar atrás do conte7do maniesto do te4to onrico,a !m de apreender os pensamentos latentes do son$o. 0 t+cnica dainterpreta1ão do son$o vai al+m da arte da $ermen%utica na medida emque tem que alcan1ar não apenas o sentido de um te4to possivelmentedeturpado, mas o sentido da própria deturpação do sonho. !!"0 camada superior do son$o ()* + a ac$ada onrica, o resultado de uma

    elabora1ão secundária que só come1ou depois que a recorda1ão son$oemergiu. ()* Essa atividade racionaliadora busca sistematiar conte7dosconusos, preenc$er lacunas e aplainar contradi1es. 0 camada seguinte doson$o se dei4a resumir aos resduos diurnos pendentes, ou sea aosragmentos te4tuais dos ogos de linguagem da v+spera que se c$ocaramcom bloqueios e não oram levados at+ o !m. Hesta uma camada prounda,com os conte7dos simbólicos que se comportam de maneira resistenteperante o trabal$o de interpreta1ão. 333#corre com bastante requ%ncia que o paciente não possa lembrar de umde seus son$os, ()* :as, depois que eliminamos em uma parte do trabal$o

    analtico uma di!culdade que $avia incomodado o paciente em sua rela1ãoa análise, o son$o esquecido reaparece de s7bito. ()* 0 e4peri%ncia mostra

     ustamente que esse ragmento + o mais signi!cativo/ supomos que nocamin$o da comunica1ão se encontrava uma resist%ncia mais orte do queno caso das demais. 33&0 resist%ncia, que o analista e4perimenta na tentativa de desenla1ar ospensamentos latentes do son$o de seu disarce/ + c$ave para o mecanismodo trabal$o do son$o. 3350 inst>ncia comunicante conseguiu dier o que queria, mas não do modocomo ela queria. 6e + preciso um trabal$o para lan1ar ponte entre ambos

    então isso + um %4ito da inst>ncia inibidora. 335'odemos dier que a inst>ncia restritiva que controla de dia a ala e a a1ão,reprime os motivos da a1ão, mas durante o sono arou4a sua domina1ão,con!ando na aquieta1ão da atividade motora. 335.# camin$o psiquicamente mais e!ca para tornar inócuas as disposi1es decar%ncias indeseadas + excluir da comunicação p#$lica as interpreta1es squais se atam ustamente o recalque. #s smbolos atravancados e osmotivos assim reprimidos são denominados por Freud @deseosinconscientesI. ()* Jo sono, ()*, os motivos recalcados encontram gra1asao vnculo com os smbolos publicamente admitidos dos resduos diurnos,

    uma linguagem, mas uma linguagem pri%ati&ada ' 8pois o son$o não + em siuma maniesta1ão social, não + um meio de entendimentoK. 33;

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    0 análise do son$o recon$ece na omissão  e no deslocamento duasestrat+gias distintas de deesa o recalque no sentido mais estrito, dirigidorepressivamente contra o si mesmo, e o disarce, passvel de tornar"setamb+m o undamento para uma guinada proetiva do si"mesmo para ora.33= ()* 'ois a deesa se dirige de imediato contra as interpreta1es dos

    motivos da a1ão. 33="33?8# son$o + um ragmento da vida psquica inantil suplantadaK. Cabe a suaanálise erguer o v+u da amn+sia que esconde os primeiros anos e a vidase4ual na primeira in>ncia. ncias da rustra1ão, ele paga então o pre1odo dist#r$io da comunicação em si mesmo. 3&2 ()* 0ssim a parte

     pri%ati&ada da linguagem excomungada  ()* untamente com os motivosindeseados da a1ão, + silenciada na pessoa do neurótico, tornando"seinacessvel para ele mesmo. 3&2()* a $ermen%utica psicanaltica não visa, como a $ermen%utica dasci%ncias do esprito, compreensão dos ne4os simbólicos / antes, o ato dacompreensão) ao qual ela condu, + autorrefexão. !*!

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    0 $ermen%utica obt+m seu valor posicional no processo de emerg%ncia daconsci%ncia de si/ não basta alar da tradu1ão de um te4to, a própriatradu1ão + refe4ão 8tradu1ão do inconsciente no conscienteK. 3&3()* + preciso desaer todos os recalques/ ()* trata"se de tornar oinconsciente acessvel ao consciente, o que acontece mediante a

    suplanta1ão das resist%ncias. 3&&0 limita1ão dogmática de um alsa consci%ncia se mede não pela alha) maspela inacessi$ilidade espec!ca de inorma1es/ não + apenas uma altacognitiva, mas a alta se !4a no undamento das atitudes aetivas porstandards $abitualiados. 3&&Jão + esse não saber em si que + patog%nico , mas a unda1ão do não saberem resistências internas) as quais primeiramente provocam o não saber eo sut%m ainda agora. N no combate a essas resist%ncias que reside a tareada terapia. 3&5# trabal$o do analista parece coincidir ()*, com o do arqueólogo) pois a

    tarea consiste, com eeito, na reconstru1ão da pr+"$istória do paciente. ()*# trabal$o intelectual + partil$ado entre m+dico e paciente de tal maneiraque um reconstrói o esquecido partindo dos te4tos deectivos do outro, 3&5()* o camin$o que parte da constru1ão do analista 8terminaK 8na recorda1ãoD) do analisadoK. 6ó a recorda1ão do paciente decide sobre a pertin%nciada constru1ão/ se + pertinente ela tem de traer de volta, tamb+m para opaciente um ragmento da $istória de vida perdida, isso +, tem de poderdesencadear uma autorrefe4ão. 3&;-o ponto de vista do analista, a constru1ão ()* $ipot+tica ()* permanecesomente @para nósI at+ que a comunica1ão da constru1ão se transorme

    em esclarecimento, ou sea em um saber @para eleI, para a consci%ncia dopaciente 8Josso saber nesse ragmento tornou"se tamb+m seu saber. #esor1o comum que supera esse $iato entre a comunica1ão e oesclarecimento, ()*. # esor1o comum que supera esse $iato entre acomunica1ão e o esclarecimento, ()* 0  pé la$oração  designa a partedin>mica de uma opera1ão cognitiva que leva recogni1ão somente contraas resist%ncias. 3&;0s no1es inconscientes não querem ser lembradas, como a cura o desea,()*. # m+dico quer compeli"lo a alin$ar essas emo1es no conte4to dotratamento e de sua $istória de vida, para subordiná"las considera1ão

    intelectual e recon$ece"las segundo seu valor psquico. 3&=()* as condi1es e4perimentais da situa1ão de análise de um lado, consisteem enraquecer, mediante a dilui1ão dos controles conscientes ()* osmecanismos de deesa e em ortalecer inicialmente a necessidade de agir()* . 3&=0 compulsão patológica repeti1ão pode ser recon!gurada sob ascondi1es controladas de uma doen1a arti!cial, tornando"se um motivo paraa recorda1ão. ()* aprende"se a ver com os ol$os de um outro e a refetirnos sintomas os derivados de suas próprias a1es. 3&?Jós partimos da tese segundo a qual o processo cognitivo do paciente,

    induido pelo m+dico pode ser concebido como autorrefe4ão. 3&?

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    0 totalidade virtual que se despeda1a em un1ão da segrega1ão +representada pelo modelo da a1ão comunicativa pura. ()* #s processo deorma1ão que desviam desse modelo ()* remontam a uma repressão porparte de inst>ncias sociais. 3&A0 análise tem consequ%ncias terap%uticas imediatas, visto que a supera1ão

    crtica dos bloqueios da consci%ncia e a penetra1ão nas alsas obetiva1esdão incio apropria1ão de um ragmento perdido da $istória de vida,aendo recuar, desse modo, o processo de segrega1ão. 3&A"35B-e incio, dois momentos estão inclusos nela em igual medida o cognitivo eo aetivo motivacional. Ela + crtica no sentido de que + inerente aodiscernimento a or1a analtica de dissolver atitudes dogmáticas. 0 crticatermina em uma transorma1ão do undamento aetivo"motivacional, assimcomo ela começa tamb+m com a necessidade de uma transorma1ãoprática. 35B# paciente procura o m+dico porque sore em seus sintomas ()*. :as

    dierentemente do tratamento m+dico usual, a pressão do sorimento e ointeresse pelo restabelecimento não são apenas ense(o para a introdu1ão daterapia, mas o pressuposto do próprio sucesso da terapia. 35G0 mel$ora do sorimento diminui a or1a que impele para a cura. ()* Ele deimpedir que o paciente substitua prematuramente, no curso do tratamento,os sintomas pela satisa1ão substitutiva sem o caráter de sorimento. 35GN preciso leva"lo a considerar o acontecimento da doen1a como uma partede si mesmo. Em ve de tratar os sintomas e suas causas como umelemento e4terior, o paciente tem de estar pronto para assumir de certamaneira uma responsabilidade pela doen1a. 352

    # +u do paciente se recon$ece em seu outro representado pela doen1a,como seu si-mesmo que l$e oi alienado, identi!cando"se com ele. Como nadial+tica da eticidade de Oegel, o criminoso recon$ece em sua vtima opróprio ser arruinado, uma autorrefe4ão mediante a qual as partesabstratamente separadas recon$ecem a totalidade +tica destruda comoseu undamento comum e com isso retornam a ele. 3530 ningu+m + licito e4ercer análise se não se submeteu antes a uma análisedidática) 353Ja situa1ão de transer%ncia, o m+dico não procede de maneiracontemplativa/ pelo contrário, obt+m sua interpreta1ão na medida em que

    assume de orma metódica o papel do parceiro, ele converte a compulsãoneurótica repeti1ão em uma identi!ca1ão de transer%ncia, preserva e, aomesmo tempo, virtualia as transer%ncias ambivalentes e, no instantecorreto, desliga o vnculo do paciente consigo. Jisso tudo o m+dico se a deinstrumento do con$ecimento, mas não por elimina1ão, mas ustamentepela inter%enção controlada de sua su$(eti%idade.0s constru1es conceituais Eu, isso e upereu devem seus nomens, ()*, e4peri%ncia da refexão. 6ó posteriormente oram transpostos para umquadro de reer%ncias obetivistas e reinterpretados. 3558a teoria psicanaltica inteira + construda propriamente sobre a percep1ão

    da resist%ncia que o paciente oerece na tentativa de torna"lo consciente deseu inconsciente. 35;

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    Hesist%ncia signi!ca manter aastado da consci%ncia. 'ortanto, contamoscom uma esera do consciente e do pr+"consciente, dado ustamente no$orionte da consci%ncia evocável em qualquer momento e conectado coma comunica1ão lingustica e com as a1es. 35; ()* 0 e4peri%ncia daresist%ncia e a distor1ão espec!ca dos ne4os simbólicos rementem de

    orma complementar mesma coisa ao inconsciente, que, de um lado, + 8reprimido, ou sea, + aastado da comunica1ão p7blica, mas, de outro, seinsinua por meandros nas alas p7blicas e nas a1es observáveis,8impingindo"se9 consci%ncia repressão e movimento ascensional são osdois momentos do 8recalque9. 35;Freud obteve o conceito de inconsciente em uma orma espec!ca dedist7rbio da comunica1ão em linguagem corrente. 35=Esta + a obra da un1ão da linguagem que coloca em vnculo sólido osconte7dos do Eu com os tra1os mn%micos das percep1es visuais, mas emespecial das ac7sticas. ()* e se carece de um dispositivo especial que

    distingue entre as duas possibilidades, o assim c$amado teste de realidade. A equiparação ‘percepção-realidade’ (mundo exterior) caducou.

    35=0 un1ão da linguagem ()* + uma estabilia1ão de processos de consci%nciapelo ato de que o 8internoK se liga a smbolos, gan$ando e4ist%ncia8e4ternaK. 35=0trav+s dos smbolos lingusticos, cadeias de a1ão alternativas podem sersimuladas a ttulo de ensaio, isto +, calculadas. 'or isso, a linguagem + abase das opera1es do Eu de que depende a capacidade para o teste derealidade. 35?

    Essa tentativa de conceber o processo de deesa interno segundo o padrãoda rea1ão de uga leva a ormula1es que concordam surpreendentementecom os discernimentos $ermen%uticos da psicanálise o Eu em uga, quenão consegue mais escapar a uma realidade e4terna, precisa se ocultar desi mesmo. 35A0 luta deensiva secundária contra os sintomas mostra que o processo deuga interna com o qual o Eu se oculta de si mesmo substitui um inimigoe4terno pelos derivados do Psso que oram neutraliados, constituindo"seem corpos estran$os. 3;B#ra, a distin1ão entre representa1ão de palavras e representa1es isentas

    de smbolos + tão problemática quanto + insatisatória a suposi1ão de umsubstrato não lingustico, no qual essas representa1es desligadas dalinguagem pudessem 8eetuar"seK. 3;G0s constru1es conceituais do Eu e do Psso resultam de uma interpreta1ãodas e4peri%ncias do analista com a 8resist%nciaK do paciente. 3;2 8PssoK +então o nome para a parte do si"mesmo e4ternaliada em virtude dadeesa, ao passo que o 8EuK + a inst>ncia que cumpre a tarea de teste derealidade e de censura das pulses.0 resist%ncia só pode ser uma maniesta1ão do Eu, que eetuou a seutempo o recalque e agora quer preservá"lo. 3;3

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    -esde que supomos uma inst>ncia especial no Eu que deende ase4ig%ncias de restri1ão e recusa 6upereu, que ele mesmo o eetua ou, porsua incumb%ncia, o Eu, obediente a ele. 3;3Q adapatação inteligente realidade exterior) que coloca o Eu em condi1esde testar a realidade, corresponde a apropriação de papéis sociais pelo

    camin$o da identicação com outros su(eitos) os quais representam para acrian1a as e4pectativas socialmente sancionadas. 'or meio dainternalia1ão dessas e4pectativas , com base na introe1ão, na instaura1ãono Eu de obetos de amor abandonados, orma"se o 6upereu. 3;30 un1ão da censura pulsional + e4ercida então pelo Eu, como que sob opatronato do 6upereu. 3;&0ssim instaura"se no si"mesmo aquela inst>ncia que compele o Eu a ugir desi"mesmo com a mesma viol%ncia obetiva com que se l$e contrapemobetivamente, por outro lado, como resultado do recalque, os derivados doPsso. 3;&

    0parentemente, acontece uma esp+cie de sacralia1ão de determinadasproposi1es mediante a cone4ão de motivos de a1ão libidinosas recalcadas.8imuniam"se contra as obe1es crticas. Psso e4plica tamb+m a raquea doEu, em seu teste de realidade, perante a autoridade do 6upereu proibitivo,ao qual, no entanto, ele permanece vinculado na base de uma linguagemcomum, não mutilada. 3;50 deri%ação do modelo estrutural a partir das experiências da situaçãoanal/tica liga as tr%s categorias Eu, Psso e 6upereu ao sentido espec!co deuma comunica1ão na qual m+dico e o paciente adentram com o obetivo depLr em marc$a um processo de esclarecimento e de levar o enermo

    autorrefe4ão. 3;5 0 linguagem teórica é mais po$re do que a linguagem em que oi descrita a

    técnica. 3;;'or+m o movimento de refe4ão que transorma um estado em um outro, oesor1o caracteristicamente emancipador da crtica, que transorma oestado patológico da compulsão e da autoilusão no estado do confitosuperado e da reconcilia1ão com a linguagem e4comungada R isso nãoaparece entre as un1es do Eu no plano metapsicológico. N caracterstico omodelo estrutural denega que as próprias categorias procedem de umprocesso de esclarecimento. 3;=

    GG # mal" entendido cienti!cista da metapsicologia sobre si mesma. 6obre alógica da interpreta1ão universal@reud ten$a undado, de ato, uma nova ciência humana, mas visto nelasempre uma ciência natural. ()* da neuro!siologia, ()* ele tira deempr+stimo os modelos determinantes para a orma1ão da teoria. 3;=Jo entanto só a psicanálise converteu a psicologia em ci%ncia 8Jossassuposi1es de um aparel$o psquico espacialmente estendido,uncionalmente composto, desenvolvido em virtude das car%ncias da vida, oqual dá origem aos enLmenos da consci%ncia somente em um determinado

    ponto e sob certas circunst>ncias.K 3;?

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    0 autocompreensão da psicanálise como ci%ncia natural sugere o modelo dae4plora1ão t+cnica das inorma1es cient!cas. 3;?@Sma concep1ão tecnológica da análise só está em acordo com uma teoriaque se desprendeu do quadro categorial da autorrefe4ão, substituindo ummodelo estrutural a!nado com processos de orma1ão por um modelo de

    distri$uição energética. 3;A0 e4peri%ncia da refe4ão, induida pelo esclarecimento, + por sua ve, o atopelo qual o sueito ustamente se desliga de uma posi1ão no interior da qualse tornou obeto. Essa opera1ão espec!ca tem de ser e4igida do própriosueito/ não pode $aver para tanto nen$um substituto, isto +, umatecnologia, uma ve que a t+cnica não serve para desonerar o sueito daspróprias opera1es. 3;A"3=BEste programa !sicalista + dei4ado de lado por Freud em avor de umaabordagem psicológica em sentido estrito. Esta, por sua ve, mant+m alinguagem neuro!siológica, mas torna seus predicados undamentais

    acessveis a uma reinterpretação mentalista tácita. 3=B0 localidade psquica corresponde então a um lugar no interior do aparel$o,onde sucede uma das primeiras etapas da imagem. 3=GJós representamos, portanto, o aparel$o psquico como um instrumentocomposto, cuos componentes queremos c$amar de inst1ncias ou, por morda clarea, de sintomas. 3=GFreud estabelece algumas correla1es elementares entre e4peri%nciassubetivas e os cursos energ+ticos representados como obetivos. #despraer resulta do ac7mulo de e4cita1ão, ()*. #s movimentos doaparel$o se regulam pela tend%ncia de evitar o ac7mulo de e4cita1ão. Essa

    correla1ão entre e4presses mentalistas Dcomo pulsão, e4cita1ão,despraer, praer, deseo e processos !sicalistas Dcomo quantidade deenergia ) Tasta para desligar as categorias de consciente e inconsciente,obtidas de incio da comunica1ão entre m+dico e paciente, do sistema dereer%ncias da autorrefe4ão e transeri"las para o modelo de distribui1ãoenerg+tico 3=2Freud recon$ecera logo depois as desvantagens da $ipnose, introduindoem seu lugar a t+cnica da livre associa1ão. 0 8regra undamental da análiseKormula as condi1es de uma reserva livre de repressão, na qual a 8situa1ãode urg%nciaK, isto +, a pressão das san1es sociais se anula tão crivelmente

    quanto possvel. 3=3"3=&0 passagem da t+cnica antiga para a nova + essencial, Ela não resulta depondera1es sobre conveni%ncias terap%uticas, mas antes do discernimentode princpio segundo o qual a recorda1ão do paciente, recon$ecida comorica em consequ%ncias terap%uticas , deve levar apropria1ão conscientede um ragmento reprimido da própria $istória de vida. ()* 8Hecordar repetirperlaborarK. 3=&Essa perlabora1ão sobre as resist%ncias pode tornar"se na prática umatarea penosa para o analisando e uma prova de paci%ncia para o m+dico.:as + aquela parte do trabal$o que tem a maior infu%ncia transormadora

    sobre o paciente e que distingue o tratamento da análise de toda infu%nciapor sugestão.3=&

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    :as, se o quadro categorial da psicanálise, como comprovamos por seumodelo estrutural, se liga em termos de lógica da ci%ncia aos pressupostosde uma interpreta1ão de te4tos mutilados e deturpados, com os quais osautores se iludem a respeito de si mesmos, tamb+m a orma1ão da teoriapermanece inserida no conte4to da autorrefe4ão. 3=&"3=5

    -ecerto, Freud supLs tacitamente que sua metapsicologia) que desliga omodelo estrutural do undamento da comunica1ão entre m+dico e paciente ,associando"o , em ve disso, de maneira de!nitória, ao modelo dedistri$uição energética ) representaria uma ormula1ão desse tipo, rigorosano sentido das ci%ncias empricas. 3=;Freud se iludiu. 3=; ()* # modelo de distribui1ão energ+tica cria apenas aaparência de que os enunciados psicanalticos se reeririam atransorma1es energ+ticas mensuráveis. 3==0 verdadeira dieren1a entre a observa1ão astrnmica e o diálogo analtico+, por+m , que ali a sele1ão quase"e4perimental das condi1es de partida

    permite uma observa1ão controlada de eventos prognosticados, ao passoque aqui o plano de controle de sucessos da a1ão instrumental (...* +substituido pelo plano da intersubetividade do entendimentosobre o sentidode smbolos incompreensveis. 3==0 metapsicologia desdobra a logica da interpretação na situação anal/ticade diálogo. Jeste sentido ela se encontra no mesmo plano que ametodologia das ci%ncias da naturea e das do esprito. 3=?Contudo, e4iste uma dieren1a no nvel metodológico as interpreta1esuniversais são tanto quanto as teorias das ci%ncias empricas, ()* acessveisdiretamente ao teste emprico, ao passo que as suposi1es undamentais da

    meta"$ermen%utica a respeito da a1ão comunicativa, da deorma1ão dalinguagem e da patologia do comportamento prov%m da refe4ão ulteriorsobre as condi1es do con$ecimento psicanaltico possvel e sóindiretamente podem se con!rmar ou racassar pelo %4ito de toda umacategoria de processos de pesquisa por assim dier. 3=A0 metapsicologia trata de um ne4o tão undamental quanto a saber, aqueleentre a deormação da linguagem e a patologia do comportamento. 3=ASma ve que a estrutura da linguagem, de acordo com essa teoria,determina em igual medida a linguagem e a prá4is de vida, tamb+m osmotivos da a1ão são concebidos na qualidade de car%ncias linguisticamente

    interpretadas, de sorte que as motiva1es representam não impulsos que seimpem pelas costas, mas inten1es subetivamente orientadoras,simbolicamente mediadas e, ao mesmo tempo, reciprocamenteentrela1adas. 3?B0 tarea da metapsicologia +, então, revelar esse caso normal como casolimite de uma estrutura da motiva1ão que depende simultaneamente dasinterpreta1es das car%ncias publicamente comunicadas e das reprimidase privatiadas. #s s/m$olos segregados e os moti%os repelidos desdobram"se seu poder por cima das cabe1as dos sueitos e or1am a satisa1es esimbolia1es substitutivas. 3?B

    Em compara1ão com as motiva1es conscientes, as inconscientesrecuperam, por isso, um momento da impulsão por trás, do pulsional/ ()*

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    permitem recon$ecer com evid%ncia as orienta1es libidinosas e agressivas,uma teoria de pulsão + indispensável. 'or+m, esta tem de manter"se livrede um also obetivismo. Uá o conceito de instinto, que + reerido aocomportamento animal, oi obtido privativamente da pr+"compreensão deum mundo $umano, interpretado em linguagem corrente, ainda que de

    maneira redutora, ou sea, obtido simplesmente das situa1es de ome,amor e ódio. 3?B"3?G

     

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    e4pe o desenvolvimento psicodin>mico da crian1a como um enredo comuma distribui1ão tpica de pap+is, confito undamentais aparecendosucessivamente, padres de intera1ão repetindo"se com perigos, crises,desec$os, com triunos e derrotas. 3?56omente a metapsicologia pressuposta permite uma generali&ação

    sistemática do que, do contrário permanece história 234.  Ela oerece oconunto de categorias e $ipóteses básicas que se estendem aos conte4tosde deorma1ão da linguagem e da patologia do comportamento. 3?5 :astamb+m essas e4peri%ncias á se desenvolveram com a antecipação geraldo esquema de processos de ormação pertur$ados. 3?5 ()*-ierentemente da antecipa1ão $ermen%utica do !lólogo, a interpreta1ãouniversal + 8veri!cadaK e precisa se comprovar nos prognósticos derivados,da mesma maneira que uma teoria universal. 3?5# ne4o uncional + interpretado segundo o modelo teatral os processoselementares aparecem como partes de um conte4to de interpreta1es, por

    meio das quais se realia um 8sentidoK. ()* ncia,com suas variantes evolutivas tpicas, coloca o m+dico em condi1es de

    compor as inorma1es ragmentárias obtidas no diálogo analtico, ()*. Elea propostas de interpreta1ão para uma $istória que o paciente não podenarrar/ contudo, só podem ser veri!cadas de ato porque o paciente asassume e narra com seu au4lio sua própria $istória. 3?=()* a validade de interpreta1es universais depende diretamente de que osenunciados sobre o domnio de obetos seam aplicados sobre si mesmospelos @obetosK, isto +, pelas pessoas concernidas. 3?='ode"se obetar que a validade emprica de interpretações uni%ersais +determinada, da mesma maneira que as teorias uni%ersais pelas aplica1esreiteradas sobre as condi1es reais de partida, ()* Essa ormula1ão correta

    encobre, no entant, a dieren1a espec!ca a aplica1ão de $ipóteses sobre arealidade permanece um assunto do sueito pesquisador, no caso do testede teorias da observa1ão D), 0 aplica1ão torna"se por+m a autoaplicaçãodo obeto de pesquisa, participante no processo de con$ecimento. ()*

     

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    ()* Psto tem consequ%ncias para a estrutura da linguagem da interpreta1ãoDG, para as condi1es do teste emprico D2 e, por !m, para a própria lógicada e4plica1ão D3.DG 0ssim como as interpreta1es de modo geral, tamb+m as interpreta1es

    universais permanecem presas dimensão da linguagem corrente.3?A

    # signi!cado $istórico do acontecimento sempre se reere implicitamenteao ne4o de sentido de uma $istória de vida mantida coesa pela identidadedo Eu, ou de uma $istória coletiva determinada pela identidade do grupo.'or isso, a e4plora1ão narrativa se liga linguagem corrente 3ABCada $istória +, dada que representa um conte4to individualiado, uma$istória particular. ()* Ela tem a orma de uma narrativa porque deve serviraos sueitos para reconstruir a própria $istória de vida em orma narrativa/mas só pode ser um undo para muitas narrativas semel$antes, visto quedeve valer não só para um caso individual. Ela + uma históriasistematicamente generali&ada) ()* . 3AB

    Como + possvel uma tal universalia1ãoV ()* Oistórias são compreendidastanto mais como e4emplos quanto mais cont%m algo tpico. # conceito detipo designa aqui uma qualidade da tradutibilidade Sma $istória + tpica,em uma situa1ão dada e com reer%ncia a um determinado p7blico, se o8enredoK pode ser acilmente desligado de seu conte4to e transerido paraoutras condi1es de vida, igualmente individualiadas. 3AG0 universalia1ão sistemática consiste, portanto, em que, nas e4peri%ncias$ermen%uticas preliminares, á se realiou a abstra1ão de muitas $istóriastpicas, tendo"se em vista muitos casos individuais. 0 interpreta1ãouniversal não cont+m nomes individuais, mas somente papeis anLnimos/

    3AG-esse modo, Freud e4pLs o confito de Ndipo e suas solu1es com au4iliode conceitos estruturais como Eu, Psso e 6upereu D) Com au4lio depap+is, pessoas e padres de intera1ão Dresultantes da estrutura amiliar/e/ por !m, com o au4lio do mecanismo de a1ão e da comunica1ão D). 3A20o inscrever nomes individuais e papeis anLnimos e integraliar os padresde intera1ão em cenas vividas, ()*.Esse passo revela a aplicação como uma tradução. 3A28Eu não duvido de que a pertin%ncia de nossas suposi1es psicológicastamb+m impressionará os incultos mas teremos de buscar a e4pressão

    mais simples e mais palpável de nossas doutrinas teóricas. 3A3

    G2 'sicanálise e teoria social. 0 redu1ão nietsc$iana dos interesses docon$ecimento

    Freud entendeu que a sociologia seria uma psicologia aplicada. &B3

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    Hecon$ecemos que a delimita1ão entre a norma psquica e a anormalidadenão + e4equvel cienti!camente, de sorte que a essa distin1ão, apesar desua import>ncia prática só cabe um valor convencional. &B&()* um Eu dirigido por seu deseo não se conronta imediatamente com arealidade da naturea e4terna/ a realidade com que se c$oca e em vista da

    qual as próprias mo1es pulsionais, pren$es de confito, aparecem comoonte de riscos, + o sistema da autoconserva1ão, + a sociedade, cuase4ig%ncias institucionais os pais representam perante as crian1as. &B58# motivo da sociedade $umana +, em 7ltima inst>ncia um motivoeconLmico.K &B5:as, se o confito undamental se de!ne pelas condi1es do trabal$omaterial e pela car%ncia econLmica, então a escasse de bens, asrustra1es decorrentes impostas são uma grandea $istoricamentevariável. &B;Wuanto mais o poder de disposi1ão t+cnica se amplia ()*, tanto mais orte

    se torna a organia1ão do Eu e, com isso, a capacidade de lidarracionalmente com as rustra1es. ()* 0s mesmas constela1es queimpelem os indivduos neurose levam a sociedade a erigir institui1es. #que caracteria as institui1es constitui, ao mesmo tempo, sua semel$an1acom ormas patológicas. 0ssim como a compulsão a repeti1ão ()* pordentro, a coer1ão ()* institucional provoca por ora uma reprodu1ão docomportamento uniorme, relativamente rgida e protegida da crtica 8#con$ecimento das enermidades neuróticas de diversos seres $umanosrealiou bons servi1os para a compreensão das grandes institui1es sociais,pois as próprias neuroses se revelam tentativas de solucionar

    individualmente os problemas da compensa1ão do deseo, os quais devemser solucionados socialmente pelas institui1es. &B;"&B=Freud concebe a 8culturaK como aquilo por meio da qual a esp+cie $umanase eleva acima das condi1es animais de e4ist%ncia. Ela + um sistema deautoconserva1ão, que se serve antes de tudo a duas un1es a a!rma1ãocontra a naturea e a organia1ão das rela1es dos $omens entre si. &B=0 cultura $umana ()* Ela abrange, por um lado, todo o saber e o poder queos $omens conquistaram para dominar as or1as da naturea e adquirir seusbens para a satisa1ão das car%ncias $umanas, por outro lado, todas asinstitui1es que são necessárias para regular as rela1es dos $omens entre

    si, e em particular a distribui1ão dos bens alcan1áveis. &B?:ar4 concebe o quadro institucional como uma regulamenta1ão deinteresses ()*. # poder Dge5alt6  das institui1es deriva de que elasestabelecem por um longo prao uma distribui1ão de compensa1es eonera1es, undada na viol%ncia DgeXalt e distorcida de uma maneiraespec!ca de classe. &B?"&BA Freud, em contrapartida, concebe o quadroinstitucional em cone4ão com a repressão de mo1es pulsionais, a qualdeve ser impingida no sistema da autoconserva1ão de modo geral)independentemente mesmo da distribui1ão, espec/ca de classe) de bens epriva1es &BA

    Jão + o trabal$o, mas a coer1ão para o trabal$o socialmente dividido quecarece de regula1ão &BA

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    # quadro institucional do sistema do trabal$o social serve organia1ão dotrabal$o na medida em que se trata de coopera1ão e divisão do trabal$o, eda distribui1ão de bens, portanto, da inserção da ação racional com relaçãoa ns em um contexto de interação. &GB ()* # quadro institucional consiste,por isso, em normas coercitivas que não só licenciam car%ncias

    linguisticamente interpretadas, como tamb+m as redimensionam,transormam e reprimem. &GB0s antasias desiderativas coletivas, que compensam as ren7ncias dacultura, estruturam"se em interpreta1es do mundo e colocam"se a servi1oda domina1ão na qualidade de racionalia1es, uma ve que não sãoprivadas, mas no plano da própria comunica1ão p7blica, levam umae4ist%ncia segregada, isto +, protegida da crtica. N o que reud denomina a@posse psquica da culturaK imagens religiosas do mundo e ritos, ideais esistemas de valor, estilia1es e produtos artsticos, o mundo das orma1esproetivas e da apar%ncia obetiva, em suma as 8ilusesK. &GG

    Sma ilusão que assumiu uma !gura obetiva no plano da tradi1ão cultural,como a religião udaico"cristã, não + uma ideia xa, ()* 8Ja ideia !4a, nóssublin$amos como essencial a contradi1ão dirigida contra a realidade/ ailusão não tem de ser necessariamente alsa, isto +, irrealiável ou emcontradi1ão com a realidade.K &GG0s 8ilusesK não são apenas alsa consci%ncia. Como naquilo que :ar4c$amava de ideologia, tamb+m nelas está contida a utopia. ()* esseconte7do utópico pode se desligar de sua amálgama com os componentesda cultura alucinatórios, com os componentes ideológicos, reuncionaliadoscomo legitima1ão da domina1ão, transpondo"se para a crtica das

    orma1es da domina1ão que se tornaram $istoricamente obsoletas. &G2:as, se uma cultura, não vai al+m do ponto em que a satisa1ão de umapor1ão de participantes tem por pressuposto a repressão de uma outra,talve da maioria, e este + o caso em todas as culturas presentes, então +compreensvel que esses reprimidos desenvolvam uma $ostilidade intensivacontra a cultura, a qual eles possibilitam por meio de seu trabal$o, mas decuos bens t%m uma parcela pequena demais ()*. &G3Freud obteve na metapsicologia um quadro da a1ão comunicativadistorcida, que permite compreender o surgimento das institui1es e o valorposicional das iluses, ustamente da domina1ão e da ideologia. Freud pLde

    e4por uma correla1ão que :ar4 não distiscerniu. &G&Freud concebe as institui1es como um poder que permutou viol%nciae4terna aguda pela compulsão interna, posta de maneira sólida, de umacomunica1ão invertida que se restringe a si mesma. &G&6ão os poderes que, em ve do perigo e4terno e da san1ão imediata,eneiti1am a consci%ncia, legitimando a domina1ão. 0o mesmo tempo, sãopoderes dos quais a consci%ncia ideologicamente aprisionada pode selibertar pela autorrefe4ão, se um novo potencial de domina1ão da natureatira a credibilidade das antigas legitima1es. &G&"&G5:ar4 não conseguiu discernir a dominação e a ideologia como comunica1ão

    distorcida, visto que e a suposi1ão segundo a qual os $omens sedistinguiram dos animais quando come1aram a produir seus meios de vida.

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    &G5 ()* # ol$ar de Freud, em contrapartida, não estava dirigido ao sistemado trabal$o social, mas amlia. Ele e a suposi1ão de que os $omens sedistinguiram dos animais quando conseguiram inventar uma ag%ncia desocialia1ão para o rec+m"nascido biologicamente amea1ado e dependentepor um longo tempo. Freud estava convencido de que outrora a esp+cie

    $umana se elevou acima das condi1es animais da e4ist%ncia pelo ato deque conseguiu transgredir os limites da sociabilidade animal e transormar ocomportamento guiado por instintos em a1ão comunicativa. ()* o animal

     pulsionalmente ini$ido e ao mesmo tempo antasiador. ()* &G5 #desenvolvimento biásico da se4ualidade $umana ()* e o papel daagressividade na instaura1ão da inst>ncia do 6upereu aem aparecer,como problema antropológico undamental, não a organi&ação do tra$alho)mas o desen%ol%imento das instituições) de maneira duradoura o confitoentre e4cesso pulsional e a coer1ão da realidade. &G5"&G;Ele se concentra no surgimento dos undamentos motivacionais da a1ão

    comunicativa. Pnteressam"no os destinos das potencialidades pulsionaisprimárias, nas vias de uma intera1ão, determinada pela estrutura amiliar,da crian1a com um entorno do qual permanece dependente durante umlongo perodo de crescimento. ()* &G; 6ob os pressupostos da teoriareudiana, a base natural não oerece uma  promessa de que por meio dodesdobramento das or1as produtivas + criada alguma ve a possibilidadeobetiva de libertar o quadro institucional completamente da repressividade,nem pode ela desencoraar em princpio tal esperança. &G;()* oi indicado claramente por Freud o desenvolvimento das or1asprodutivas gera de novo, em cada etapa, a possibilidade obetiva de mitigar

    a viol%ncia do quadro institucional e de 8substituir os undamentos aetivosde sua obedi%ncia cultura por undamentos racionaisK. &G=0 meta + 8a undamenta1ão racional das prescri1es da culturaK, portanto,ua organia1ão das rela1es sociais segundo o princpio de que a validadede toda norma rica em consequYencias polticas se tornou dependente deum consenso obtido no interior da comunica1ão isenta de domina1ão. &G=0s ideias do esclarecimento prov%m do undo das iluses $istoricamentetransmitidas. 'or isso, temos de conceber as a1es do esclarecimento comotentativas de testar os limites da realia1ão do conte7do utópico da tradi1ãocultural sob circunst>ncias dadas. &G=

    :in$as iluses não são incorrigveis como as religiosas, não t%m o caráteralucinatório. 6e a e4peri%ncia or mostrar que nos enganamos, entãorenunciaremos a nossas e4pectativas. &G?#ra, o padrão biológico da !loso!a da $istória + apenas a sil$ueta domodelo teológico, ambos pr+"crticos em igual medida. 0s pulses como

     primum mo%ens da $istória a cultura como o resultado de sua luta R uma talconcep1ão iria esquecer que o$ti%emos o conceito de impulso somente demaneira privativa, da deorma1ão da linguagem e da patologia docomportamento. Jo plano antropológico, não encontramos nen$umanecessidade que á não ten$a sido interpretada. &GA

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    ()* a e4peri%ncia da autoconserva1ão coletiva de!ne a precompreensão daqual derivamos privativamente algo como a conserva1ão do g%nero para apr+"$istória animal da esp+cie $umana. &2BJaturea em si + uma constru1ão/ ela designa uma natura naturans, queproduiu a naturea subetiva tanto quanto aquela que se l$e deronta como

    obetiva, mas de tal sorte que nós, como os su(eitos cognoscentes, nãopodemos ocupar por princpio uma posi1ão ora ou mesmo 8dentroK dadivisão da 8naturea em siK em uma naturea subetiva e em uma obetiva.0s potencialidades pulsionais reconstrudas pertencem como tais natureaincognoscvel/ contudo, elas são acessveis ao con$ecimento na medida emque determinam a situa1ão de partida daquele confito no qual se esala aesp+cie $umana. &2BJós nos certi!camos das estruturas do tra$alho) da linguagem e dadominação não ingenuamente, mas pelo camin$o de uma autorrefexão doconhecimento que come1a pela teoria da ci%ncia, em seguida recebe uma

    guinada transcendental e, por !m, se inteira de seu conte4to obetivo. &2B"&2G# processo de pesquisa das ci%ncias naturais + organiado no quadrotranscendental da a1ão instrumental, de modo que a naturea se tornaobeto de con$ecimento necessariamente sob o ponto de vista dadisposi1ão t+cnica. # processo de pesquisa das ci%ncias do esprito se moveno plano transcendental da a1ão comunicativa, de modo que a e4plica1ãodos ne4os de sentido se encontra necessariamente sob o ponto de vista daprote1ão da intersubetividade do entendimento. &2G# processo de pesquisa, que tem de ser ao mesmo tempo um processo de

    autoinvestiga1ao, liga"se aqui s condi1es do diálogo analtico. &2GJa situa1ão analtica a unidade de contempla1ão e emancipa1ão, dediscernimento e liberta1ão da depend%ncia dogmática, + eetivamenteaquela unidade de raão e uso interessado da raão que Fic$te desdobrouno conceito de autorrefe4ão. &220 órmula segundo a qual o interesse é inerente ra&ão  tem um sentidosu!ciente somente no idealismo, ou sea, na medida em que estamosconvencidos de que a raão pode se tornar transparente pelo camin$o daautoundamentação. :as, se nós concebermos a opera1ão cognitiva e aor1a crtica da raão a partir de uma autoconstitui1ão da esp+cie $umana

    sob as condi1es contingentes da naturea, então + a ra&ão que é inerenteao interesse. *""

    Pnstitui1ão da domina1ão e tradi1es culturais são concebidas por Freudcomo solu1es temporárias de um confito undamental entre aspotencialidades pulsionais e4cedentes e as condi1es da autoconserva1ãocoletiva. &22"&23 :as, como na situa1ão clnica, na própria sociedade +posto, unto com a coer1ão patológica, o interesse por sua supera1ão. &23 #interesse da raão + uma tend%ncia para a realia1ão crtico"revolucionáriaprogressiva, mas de modo tentati%o) das grandes ilusões da $umanidade,nas quais se elaboraram os motivos reprimidos como antasias

    esperan1osas.

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    'ois o interesse na autoconserva1ão não pode se de!nir de modo algumindependentemente das condi1es culturais trabal$o, linguagem edomina1ão. &23# 8bomK não + ai uma conven1ão nem uma essencialidade, ele + antasiado,mas tem de ser antasiado de modo tão e4ato que conserna a um interesse

    undamente, articulando"o/ ustamente o interesse pelo grau deemancipa1ão que + obetivamente possvel na $istória, sob as condi1esdadas e sob as condi1es manipuláveis. &2& Enquanto os seres $umanostiverem de conservar a sua vida por meio do trabal$o e da intera1ão sobren7ncia pulsional, ()*, o interesse na autoconserva1ão, possuirá comonecessidade, a orma de interesse da raão, o qual se desdobra somente nacrtica e con!rma por suas consequ%ncias práticas.6ó quando pelo tipo da ci%ncia crtica, essa unidade de con$ecimento einteresse + discernida, a correlação de pontos de %ista transcendentais da

     pesquisa e interesses condutores do conhecimento pode ser vista como

    necessária.Enquanto o interesse da autoconserva1ão ormal compreendido de umponto de vista naturalista, será dicil en4ergar como ele poderia assumir aorma de um interesse condutor do con$ecimento que não permanecessee4terior un1ão do próprio con$ecimento. &2&:as, se no movimento da autorrefe4ão con$ecimento e interesse aemuma unidade, então a depend%ncia das condi1es transcendentais dasci%ncias da naturea e das do esprito em rela1ão aos interesses docon$ecimento t+cnico e prático tampouco pode signi!car uma $eteronomiado con$ecimento. Psso signi!ca que os interesses condutores do

    con$ecimento, que determinam as condi1es de obetividade da validade deenunciados, são eles mesmos racionais, de sorte que o sentido docon$ecimento, e com isso tamb+m o crit+rio de sua autonomia, não podeser clari!cado sem um recuo ao ne4o com o interesse de modo geral. &258que o problema de uma constitui1ão do mundo sem considera1ão pornosso aparel$o psquico perceptivo + uma abstra1ão vaia, sem interesseprático. Jão, nossa ci%ncia não + uma ilusão.K &2;Jietsc$e viu o ne4o de con$ecimento e interesse, mas, ao mesmo tempo,psicologiou"o e, com isso, converte"o em undamento de uma dissolu1ãometacrtica do con$ecimento em geral. Jietsc$e completou a

    autossupressão da teoria do conhecimento) ()*. &2=0s considera1es de Jietsc$e partem de duas suposi1es undamentaispositivistas. Em primeiro lugar, ()* estava convencido que a crtica docon$ecimento tradicional, de Zant a 6c$open$auer, coloca uma pretensãoirrealiável, a saber, a refe4ão do sueito cognoscente sobre si mesmo, e ,por isso desperta uma metasica. &2=8()* amais surgiu um ceticismo ou um dogmatismo na teoria docon$ecimento sem segundas intenses, de que ela tem um valor desegunda ordem, tão logo se pondera o que no undo orça a essa posi1ão.K&2?

    ()* se entrega a uma autorrefe4ão das ci%ncias, mas com a meta deenganar as duas coisas de maneira parado4al a crtica e a ci%ncia. &2?

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    Jietsc$e partil$a com o positivismo o conceito de ci%ncia. 6omente asinorma1es que correspondem aos crit+rios dos resultados das ci%nciasempricas podem valer como con$ecimento no sentido estrito.8Ja medida em que aumenta o senso de causalidade, diminui a e4tensão doreino da moralidade &2A

    Jietsc$e concebe as consequ%ncias crticas do progresso t+cnico"cient!cocomo suplanta1ão da metasica/ &2A-e teorias cient!cas se segue um saber tecnicamente aplicável, mas nãoum saber normativo, não um saber orientador da a1ão &2A# processo de esclarecimento, que as ci%ncias possibilitam, + crtico, mas adissolu1ão crtica de dogmas não liberta, ela cria indieren1a ela não +emancipatória, mas niilista. &3B# conceito positivista de ci%ncia torna"se peculiarmente ambivalente com arecep1ão eita por Jietsc$e. Q ci%ncia moderna se concede, de um lado,um monopólio de con$ecimento, o qual se con!rma na desvaloria1ão do

    con$ecimento metasico. -e outro lado, o con$ecimento monopoliado +desvaloriado porque or1osamente dispensa o ne4o com a prá4is, próprioda metasica e, com isso perde nosso interesse. &3B"&3G'ois devido mesma metodologia que garante certe&a a seuscon$ecimentos, a ci%ncia se torna alienada dos interesses, os quaisunicamente poderiam conerir um signicado a seus con$ecimentos. ()*.Sma pondera1ão análoga 8aus%ncia de signi!cado das ci%ncias naturaisK á$avia sido apresentada por Jietsc$e contra a $istória em sua 86egundaconsidera1ão e4tempor>neaK.

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    8# aparel$o inteiro do con$ecimento + um aparel$o de abstra1ão esimpli!ca1ão R não se dirige ao con$ecimento, mas ao apoderamento dascoisas 8!nsK e 8meiosK estão tão distantes da ess%ncia quanto os 8conceitosK.Com 8!nsK e mKmeiosK, apodera"se do processo ()*.&3&Jietsc$e concebe a ci%ncia como a atividade com que transormamos a

    8natureaK em conceitos para a !nalidade de dominá"la. &3&8Jão se deve entender essa coação para ormar o conceito, g%nero, ormas,!ns, leis, como se estiv+ssemos, com isso, em condi1es de !4ar o mundo%erdadeiro7 mas como coa1ão para nos preparar um mundo em que nossaexistência + possibilitada Rcriamos com isso um mundo que + para nóscalculável, simpli!cado compreensvel etc.K &35Essa proposi1ão poderia ser compreendida no sentido de uma pragmatismodeterminado em termos de lógica transcendental. # interesse peladomina1ão da naturea, condutor do con$ecimento, de!niria as condi1esda obetividade possvel do con$ecimento da naturea. ()* :aniestamente,

    não + esta a concep1ão de Jietsc$e. &358# 8crit+rio de verdadeK era, de ato, meramente a utilidade $iológica de umtal sistema de alsicação undamental, e, uma ve que a esp+cie animalnão con$ece nada mais importante do que se conservar , de ato seria lcitoalar aqui de 8verdadeK. 0 ingenuidade era somente a de tomar aidiossincrasia antropoc%ntrica como medida das coisas) como lin$a diretri arespeito do 8realK e do 8irrealK em sua, absolutiar um condicionamento. &3;0 base de interesses do con$ecimento aeta a possibilidade docon$ecimento como tal. ()* # ne4o de con$ecimento e interesse,concebido em termos naturalistas, dissolve, sem (ustica-lo de no%o de um

     ponto de %ista su$(eti%ista, ()* 8o mundo + congnoscvel/ mas ele +interpretá%el de modos dierentes, ele não tem nen$um sentido atrás de si,mas in7meros sentidos R 8perspectivismoK. 6ão nossas car%ncias queinterpretam o mundo7 nossos impulsos e seus prós e contras. &3='orque Jietsc$e estava preso desde o incio no positivismo, na medida emque não podia recon$ecer sua crtica autocompreensão obetivista daci%ncia como crtica do con$ecimento, ele acabou entendendo mal ointeresse condutor do con$ecimento. &3=86eria preciso sa$er  ()* o que + certe&a) o que + conhecimento e coisasque tais. Como, nós, por+m não o sabemos, uma crtica da aculdade de

    con$ecer + absurdaK &3?Jietsc$e partil$a a cegueira de uma era positivista em rela1ão e4peri%ncia de refe4ão/ ()* 8Jós sabemos que a destrui1ão de uma ilusãonão resulta em nen$uma verdade, mas apenas em um pouco de ignor1nciaa mais, uma amplia1ão de nosso 8espa1o vaioK, um crescimento de nosso8destinoK. &3?"&3A8Jós somos seres de antemão ilógicos e, por isso, inustos, e podemosreconhecer isso, esta + uma das maiores e insol7veis desarmonias dae4ist%ncia.K &3A8Jós, psicólogos do uturo, não temos muito boa vontade para a auto"

    observa1ão tomamos quase como um sinal de degeneresc%ncia quando uminstrumento busca 8se con$ecer a si mesmo/ &3A

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    ()* ele ao mesmo tempo desdobrou e interpretou mal, em termosempiristas, o ne4o de con$ecimento e interesse. ()* 0 8autorrefe4ãoK dasci%ncias pLde aparecer como mais um e4emplo da alácia naturalista, ()*.&&B