habacuque - libertação em uma sociedade opressora

25
H A B A C U Q U E Libertação em uma sociedade opressora Jakler Nichele Nunes

Upload: flavioce71100594

Post on 16-Aug-2015

259 views

Category:

Documents


4 download

DESCRIPTION

Um Livro para todos

TRANSCRIPT

H A B A C U Q U E Libertao em umasociedade opressora Jakler NicheleNunes Sumrio 1 POR QUE ESTUDAR O LIVRO DE HABACUQUE? ..................................................... 2 BASES PARA O LIVRO DE HABACUQUE (1.1) ............................................................ 2.1 O profeta ............................................................................................................................ 2.2 Contexto histrico e religioso ........................................................................................ 2.3 Plano do livro .................................................................................................................... 3 OLHOS ATENTOS PARA A REALIDADE (1.2-2.4) ....................................................... 3.1 A situao catica (1.2-4) ................................................................................................. 3.2 A resposta de Deus (1.5-11) ............................................................................................ 3.3 O desabafo de Habacuque (1.12-2.1) ............................................................................ 3.4 A fidelidade que salva (2.2-4) ........................................................................................ 4 O JULGAMENTO DA INJUSTIA (2.5-20) ...................................................................... 4.1 O Primeiro Ai: contra o roubo e a extorso (2.6b-8) ............................................... 4.2 O Segundo Ai: contra o conforto e segurana injustos (2.9-11) ........................... 4.3 O Terceiro Ai: contra a cidade sanguinria (2.12-14) ............................................. 4.4 O Quarto Ai: contra os alienadores (2.15-17) .......................................................... 4.5 O Quinto Ai: contra a idolatria (2.18-19) .................................................................. 4.6 O fim solene (2.20) ...........................................................................................................5 CANTANDO A VITRIA (3.1-19) ...................................................................................... 5.1 Pedindo a ao de Deus (3.1-2) ...................................................................................... 5.2 A fama de Deus (3.3-7) .................................................................................................... 5.3 A viso da salvao (3.8-15) ............................................................................................ 5.4 A vida em meio dor e o vibrante testemunho da f (3.16-19) ...............................6 CONCLUSO ......................................................................................................................... 7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................... 1 3 3 4 5 6 6 8 9 10 12 13 14 14 15 16 17 18 18 19 19 20 21 23 POR QUE ESTUDAR O LIVRO DE HABACUQUE? Apesardosmaisde2500anosquenosseparamdarealidadedoprofetaHabacuque,olivro quetrazoseunometratadegrandestemasqueaindahojeenvolvemahumanidade.Guerras, polticasinternacionaisopressoras,decadnciamoralereligiosa.Naquelesdiasosmpios prosperavamenquantoosjustossofriam.Omundoestavadeponta-cabea.Habacuqueviusua naocaminhandoparaadestruio.Issofezoprofetagritar,assimcomons,diantedeDeus: at quando?. Neste contexto, o profeta denuncia a situao interna e externa do pas e pergunta oquefazerdentrodeumquadrotodifcilparaopovo.Contudo,suafofezreconhecere celebrar a soberania de Deus na histria. Ao longo do livro, encontramos um plano de resistncia para que povo justo possa compreender as causas da situao e, ao mesmo tempo, proceder a uma aocrticaquetragaesperanasdetransformao.Agrandedescobertadesseprofetaqueo justo no pode ser personagem passiva dentro da histria, mas sujeito ativo. O ncleo do seu livro estnoversculo2.4:Ojustoviverporsuafidelidade.atravsdafidelidadeaoprojetode Deusqueojustoencontraoseulugarnahistriaenelaintroduzumnovocaminhoparaa construo do mundo. Udemilta Dias Lopes ressalta trs aspectos do livro que nos motivam a debruarmo-nos sobre Habacuque: 1.Habacuque faz um diagnstico dos nossos dias. Ele tira uma radiografia do tempo em que vivemos, e esmia as entranhas da nossa gerao. Ele v o mundo com os olhos de Deus e interpreta a vida pela tica do Criador. 2.Habacuque mostra coragem. Ele abre seu corao para Deus e faz perguntas que chegam a nosconstranger.Elequestionaasituaomoraleespiritualdoseupovoedepoisos mtodos de Deus. 3.Habacuque esperanoso. Depois do vale escuro ele espera confiantementepor um tempo novo. Habacuque nos ensina que as rdeas da histria esto nas mos de Deus. DallasWillarddestacaqueverarealidadeapartirdeumanovaperspectivafundamental paraodesenvolvimentodaespiritualidade.Oprofeta,somentequandosecolocounatorrede vigia(novopontodevista),reconheceuasoberaniadeDeussobreahistriaesobreseupovo. Ento ele entendeu que os mpios sero julgados e os justos vivem pela f. Seu corao se aquietou e seu comportamento at mudou. Seu choro se tornou louvor. EssesaspectosiniciaismostramqueHabacuqueumhomematual,oupelomenosquea humanidadeemnadamudou,equeasuaexperinciaplenamenteeperturbadoramentevlida para os dias de hoje. Cabe a ns conhec-la e a compararmos s nossas experincias. As manchetes 1 HabacuqueCap 1 Por que estudar o livro de Habacuque? dosjornaismostramqueavozdoprofetaaindasefazouvir.Seusdilemassoasnossasmais profundasinquietaes.Suasperguntaspenetrantessoaquelasqueaindaecoamdonosso corao. Por isso, estudar Habacuque diagnosticar o nosso tempo, abrir as entranhas da nossa prpria alma e buscar uma resposta para as nossas inquietaes. 2 3 BASES PARA O LIVRO DE HABACUQUE OlivrodeHabacuqueooitavodalistadosprofetasmenoresetrazumamensagemparao tempo da monarquia de Israel dividida no reino do Sul. MiquiasNaumHabacuqueSofoniasAgeu Neste captulo conheceremos alguns aspectos que nos ajudaro a compreender melhor a obra pertencente ao movimento proftico. 2.1 O profeta Sabemosquenaculturajudaicaonomedizmuitoarespeitodapessoa.Masnocasode Habacuque difcil acertar com preciso o verdadeiro significado de seu nome. Na Bblia hebraica seunomeaparececomoHbhqqq,masessaformanofoipreservadanemnaSeptuaginta (Ambakoum),nemnaVulgata(Habacuc).Algunschegamatraduzirseunome,baseando-sena semelhanacomapalavraassriahambakku,queonomedeumaplanta.Osestudiososatuais, concordando com outros do passado, costumam atribuir ao nome o sentido de abrao, s vezes atcomosentidodeforteabrao.Jernimo,tradutordaVulgata,entendeuquetalabraose referiria a um abrao de luta, porque no seu sofrimento o profeta teria lutado com Deus. A partir desta perspectiva do abrao, podemos dizer que Habacuque se agarrou a Deus buscando respostas parasuasntimaseprofundasindagaes,quantoabraouopovo,levando-lheaconsoladora verdade de que o inimigo opressor seria julgado por Deus. Alguns dizem que Lutero entendeu que onomesignificaabraador,poisHabacuqueabraaopovoetoma-oemseusbraos,isto, conforta-o e segura-o como se abraa uma criana que chora, acalmando-o com a garantia de que, se Deus quiser, tempos melhores viro em breve. Absolutamentenadasabemosarespeitodafamlia,daprocedncia,davidaedaposio social de Habacuque. Alis, o livro de Habacuque faz meno ao nome do profeta em apenas duas ocasies na Bblia hebraica: 1.1 e 3.1. Menos se sabe sobre Habacuque do que qualquer outro autor bblico.AlgunsachamqueHabacuquealcanouumaposioreconhecidacomoprofeta.Cabe destacarque,dentreoslivrosprofticos,Habacuqueonicoqueusaotermoprofeta Habacuque(1.1)comoseoseditoresquisessemdeixarclaroqueHabacuqueumprofeta diferente dos outros. Um tipo de profeta cultual.Apartirdealgumasparticularidadesrelacionadasmusicalidadedotextohebraico, especialmenteodesuaorao(cap3),fizeramqueoutrossugerissemqueoprofetafosseum membro do coral do Templo, e conseqentemente um Levita. Entretanto, no podemos insistir na certeza de que o prprio profeta escreveu o texto que leva o seu nome. HabacuqueCap 2 Bases para o Livro de Habacuque UmcertoprofetajudeuchamadoHabacuqueapareceofragmentodeuterocannicosdolivro de Daniel intitulado Bel e o Drago (Dn 14.33-39), levando, miraculosamente, comida para Daniel na cova dos lees.Nafaltadetradioautntica,houvemuitastentativasderelacionarpersonagensbblicos annimos a Habacuque ou de se construir um: a)filho de um certo Jesus ou Josu da tribo de Levi (Introduo da verso grega de Daniel); b)filho da mulher sunamita, a quem Eliseu trouxe de volta a vida (2Rs 4.16) c)a sentinela estabelecida por Isaas para assistir a queda da Babilnia (Is 21.6) d)membrodatribodeSimeoenativodeBete-Zucar,umacidadelaaparentemente pertencente Jud1. 2.2 Contexto histrico e religioso Depois dos reinados de Manasss e Amom, que foram anos difceis para Jud, subiu ao trono o reiJosias(640-609a.C.)quepsemaoumapolticareligiosadegrandevulto.Comamortede Josiasem609estareformafoibruscamenteinterrompidae,porcontadisso,noalcanoua profundidade necessria. Naqueles dias o mapa poltico das grandes potncias mundiais estava mudando rapidamente. Haviatrsgrandespotnciasmundiais:aAssriadecadente,aBabilniaemfrancaascensoeo Egito, a superpotncia que dominava a regio de Jud. Neste tempo o Reino do Norte j havia sido levado cativo para a Assria, o que tinha ocorrido h mais de 100 anos, e, agora em 612 a.C., cerca de 3 anos antes da morte de Josias, a Babilnia havia derrotado tal grande esmagadora das naes do Crescente Frtil. Com a morte de Josias, Jeoacaz o sucedeu, mas 3 meses depois foi deposto pelo faradoEgito,quecolocouemseulugarJeoaquim(609-597a.C.).NocurtotempoemJeoacaz esteve liderando Jud, Jeremias o confrontou, mas a reao do rei foi prend-lo e mandar queimar os rolos do Livro da Lei.EssainstabilidadefezcomqueJudbuscasseseequilibraremmeioaessasituao,ora buscandoapoionoEgito,oranaAssria.Oproblemaerasempredistinguirqualseriaagrande potncia em que deviam se apoiar para manter a segurana e a independncia. Jeoaquim ficava do ladodoEgito,mashaviapartidosquenoadmitiamessavassalidadeejulgavamquerecorrer decadente Assria poderia ser mais vantajoso. Ao lado dessa instabilidade poltica, o reino de Jud apresentava srias crises econmicas, devido ao pesado tributo. Ao lado desse tributo, o povo era explorado para sustentar o luxo da elite governante, como denunciado pelo profeta Jeremias (Jr 22.13-19). Emtermosinternacionais,oEgitosesentiaameaadodiantedosavanosdaBabilnia,ao ponto em que no ano de 605 a.C. enviou um poderoso exrcito ao norte, para refrear o programa expansionistacaldeu.OscarrosdeguerradofaraNecoatravessaramodesertodoSinai, cruzaramoterritriodeJudsemdificuldades,jqueJeoaquimeraumreivassalodoEgito,e avanaramparanonortedaSriaparaenfrentaremCarquemisoexrcitobabilnioqueahavia dominado,sobocomandodeNabucodonosor.Nessalutaosegpciosforamderrotadose recuaram para sua terra. Comisso,aBabilniasetornavaanicasuperpotnciamundial.Seusexrcitosmarcharam desenvolvendocampanhasexpansionistas.AgoraNabucodonosorassumeotronodaBabilniae apresentaumpodermilitaraparentementeirresistvel.ComoJuderaumpassatlitedorecm 4 1 Segundo o apcrifo Vida dos Profetas, que levanta esta ltima hiptese, quando Nabucodonosor chegou a Jerusalm, o profeta fugiu para Ostraquine e morou como estrangeiro na terra de Ismael. Quando os caldeus voltaram para a Babilnia e o resto dos judeus que estavaemJerusalmfoiparaoEgito,Habacuquefoimorarnasuaterraaserviodosquefaziamacolheitanoseucampo.Daele tomou alimentos e profetizou sua famlia: Vou para um pas longnquo, mas voltarei logo. Se eu demorar, levai alimentos para os ceifeiros. Depois foi levado para a Babilnia e deu alimentos a Daniel (Dn 14.33-39). Quando voltou, aproximou-se dos ceifeiros que estavam precisamente se alimentando, mas no contou para ningum o que havia acontecido. Entendeu, porm, que o povo iria voltar logo da Babilnia. Ele morreu dois anos da volta do povo. Foi sepultado sozinho na prpria fazenda. Ele teria morrido dois anos antes do edito de Ciro para o retorno dos exilados e teria sido sepultado sozinho em sua fazenda. HabacuqueCap 2 Bases para o Livro de Habacuque dominadoEgito,oreiJeoaquimsenegaaaceitarodomniodosnovosdonosdomundo.Porm, porvoltade603/602,terdefaz-lo,obrigadopelascircunstncias.Apartirdestecontexto histrico possvel consider-lo contemporneo a Naum e Sofonias. nesta poca to conturbada que podemos situar a atividade do profeta Habacuque, um dos maisinteressantesedifceisdoPrimeiroTestamento.LendoolivrodoprofetaHabacuque,os oprimidoseexploradosdetodosostemposelugarespodemneleencontrarumcaminhoque esclarea o seu papel e a sua ao dentro da histria, descobrindo a razo para a resistncia e para a esperana. atravs do ser e da ao do justo que Deus julga a opresso e o opressor e liberta o oprimido. 2.3 Plano do livro Para ajudar a compreenso dos livros da Bblia muito importante a estruturao de um plano esquemticodolivro.Apartirdeleconseguemserdefinidososgrandestemasquecompemo livro e, com isso, podemos ter alguma idia sobre seus objetivos gerais. ParaolivrodeHabacuque,nodiferentementedosoutroslivrosdaBblia,forampropostos vrios planos. Aqui apresentaremos um bastante simplificado que orientar o nosso estudo: I)Cabealho 1.1 II)Leitura da Realidade 1.2-2.4 III)Julgamentos contra a injustia 2.5-20 IV)Salmode Esperana3.1-19 Uma cpia dos captulos 1 e 2 est includa no Comentrio de Habacuque, encontrado entre os PergaminhosdoMarMorto.Quantoaocaptulo3,existeapossibilidadedeeleserumaadio posteriorindependente,mas reconhecido agora como um fragmento litrgico. Tal adio poderia ter sido feita, at mesmo pelo prprio profeta. 5 6OLHOS ATENTOS PARAA REALIDADE O primeiro bloco textual do livro de Habacuque apresenta um dilogo entre o profeta e Deus em que o profeta denuncia as mazelas da sua realidade. 3.1 A situao catica (1.2-4) Habacuque:Atquando,Senhor,clamareiporsocorrosemquetuouas?Atquandogritareiati: Violncia!,semquetragassalvao?Porquemefazesverainjustiaecontemplara maldade? A destruio e a violncia esto diante de mim; h luta e conflito por todo lado. Por issoaleiseenfraquece e a justia nunca prevalece. Os mpios prejudicam os justos, e assim a justia pervertida. DessaformaHabacuquecaracterizaasituaodeseutempocomodeinjustia,destruio, violncia, maldade, lutas e conflitos. A expresso destruio e violncia [HEB: shd wehms] de especialsignificadodevidorelevnciadapalavrahms,violncia.Estapalavrafoiutilizada para descrever o tipo de pecado que precedeu ao dilvio, a terra estava corrompida aos olhos de Deus e cheia de violncia (Gn 6.11). O que se quer dizer com esta violncia? Um ponto de vista quehmsnosignificaatosdeatrocidadeeviolncia,ouseja,coisasfeitasforacontraalei esporadicamente por esta ou aquela pessoa. Em vez disso, hms se refere a qualquer coisa que seja incorreta, como injustia pessoal ou social. Curiosamente, shd (destruio, devastao) bastante parecido com shd (demnio). Logicamente,dentrodocontextodomovimentoproftico,oprofetatratadeumarealidade tantonacionalquantointernacional.HabacuquenocompreendecomoDeuspodecontemplar impassvelaslutasecontendasdesuapocaeaopressodofaraedoseufantoche,Jeoaquim. Internamente,asestruturaspolticaseeconmicasquedetinhamopoderemJudfaziamopovo sofrer para pagar os tributos ao Egito e para sustentar a elite governante, que no tinha escrpulos em tirar violentamente o que bem desejava de um povo indefeso. ArealidadequeDeusfazoprofetaHabacuqueveraindamaiscruel.Roubadoeexplorado detodososlados,opovobuscarecuperarseusdireitos.Contudo,aquemouaoquerecorrer? Habacuquepercebequeassentenasnoaparecem,ouaparecemdistorcidas.Asinstituies mantenedorasdajustiaestocorrompidas.Ojustonotemveznosjulgamentosesempresaem prejudicados.Aleisetornaumamerapeadedecoraoparaenfeitaroleitodeumasociedade em estado terminal. O opressor aparentemente vence. importante notarmais uma vez que Deus fez o profeta Habacuque ver esta realidade do seu povo. Esse o entendimento que vem da f em Deus. A f viva leva a pessoa a ver a realidade para alm de todos os vus que a encobrem ou disfaram. Quando a pessoa guiada pela f em Deus, HabacuqueCap 3 Olhos Atentos para a Realidade elasetornacapazdedescobriraestruturadetodaasituaoechegaratomaisfundo, percebendoasrazesdomal.Diantedestaterrvelviso,oprofetaquestionaoprprioDeus dizendo: At quando, Senhor? Pausa para reflexo Pensenanossarealidadeeemtodoosistemaviolentoemquenos encontramos.Issoemnvelnacionaleinternacional.Pensetambmnas realidades mais prximas de voc como seu trabalho ou faculdade. Voc consegueenxergarcomclarezasuarealidade?Vocsofrecoma injustia?Sofrecomorisomaldosodosopressoresqueaparentemente vencem?Quantovocestincomodadocomsuarealidade?Lembre-se queparaverarealidade,nadamelhorqueosolhosdeDeusatravs da fequeDeusolhadecimavendocommuitomaisamplitudeo problema. Baseando-se neste texto, Hernandes Dias Lopes destaca nove pontos que se relacionam com a degradao da sociedade. Ele diz que uma sociedade decadente : 1.saturada de violncia; 2.dominada pela iniqidade, e no pela virtude; 3.marcada pelo domnio opressor dos fortes sobre os fracos; 4.onde esto presentes os sinais visveis da destruio; 5.marcada por relacionamentos quebrados; 6.onde a impunidade prevalece; 7.marcada por um poder judicirio impotente ou corrompido; 8.onde se v uma inverso total dos valores; 9.onde os tribunais esto mancomunados com os criminosos para roubar o direito dos justos. Diante de tal sociedade decadente, ns, assim como Habacuque, homens e mulheres de Deus, no podemos ficar indiferentes ao carter morale espiritual do tempo em que vivemos, devemos nutriromaisaltointeressedelevarosproblemasdanossanaoaDeusemoraoejamais devemosperderaconfianadequeDeusestdoladodajustia,mesmoquandoainiqidade parece triunfar. 7 HabacuqueCap 3 Olhos Atentos para a Realidade 3.2 A resposta de Deus (1.5-11) Deus: Olhem as naes e contemplem-nas, fiquem atnitos e pasmem; pois nos dias de vocs farei algo em quenocreriamselhesfossecontado.Estoutrazendoosbabilnios,naocrueleimpetuosa,que marchaportodaaextensodaterraparaapoderar-sedemoradiasquenolhepertencem.uma naoapavoranteetemvel,quecriaasuaprpriajustiaepromoveasuaprpriahonra.Seus cavalossomaisvelozesqueosleopardos,maisferozesqueoslobosnocrepsculo.Suacavalaria vemdelonge.Seuscavalosvmagalope;vmvoandocomoavederapinaquemergulhapara devorar;todosvmprontosparaaviolncia.Suashordasavanamcomooventododeserto,e fazendo tantos prisioneiros como a areia da praia. Menosprezam os reis e zombam dos governantes. Riemdetodasascidadesfortificadas,poisconstroemrampasdeterraeporelasasconquistam. Depois passam como o vento e prosseguem; homens carregados de culpa, e que tm por deus a sua prpria fora. Diantedoclamordoprofeta,emvezdeumaresposta,Deusdumnovodesafioaoprofeta: Olhemasnaese contemplem-nas, .... Habacuque chamado por Deus ir alm dos limites da suaterraefazerumaanlisedocenriointernacional.Nestecenrioelepoderiapercebercomo Deus age na histria. Essa ao de Deus muitas vezes inacreditvel, inesperada. Os meios que Deus usa para agir so inexplicveis, insondveis. A resposta que Habacuque ouviu de Deus no era a que estava em seus planos. 8Essa experincia nos ensina que no nosso relacionamento com Deus, devemos ter maturidade para entender que a voz de Deus pode ser mais perturbadora do que Seu silncio e a ao de Deus podesermaisperturbadoradoqueSuainao.QuemdiriaqueDeuspermitiriaqueumanao mpia chegasse e destrusse Jud, o povo do pacto, levando seus habitantes como escravos? Obviamente devemos lembrar que o sofrimento de Jud e Israel no foi conseqnciaapenasdepecadosreferentesaocultoedoutrina.Muito maisdoqueisso.Adesordemsocialemoral,aexploraodopobreea gannciasemmedidadospoderosos,ouseja,essacondiodepecadoem todososaspectosdasociedade,acaboutrazendoconseqncias avassaladoras. A voz de Deus pode ser mais perturbadora do que Seu silncio. A ao de Deus pode ser mais perturbadora do que Sua inao. Navisoprofticaclssica,Deusosoberanodahistriaeusaas naes como instrumentos para a realizao do seu governo. Neste governo, Deus quer que a justia seja praticada, mas sempre que ela violada Deus se serve desta ou daquela nao para punir os culpados. Infelizmente, a justia que Habacuque tanto queria ver s chegou por meio da disciplina de Deus. Comoospobreseoprimidossofriamemqualquercaso,acabavamsentindocommenor intensidadeasdoresdadominao.Quemmaisexperimentavaador,acabavasendoaelite poderosa que perdia as suas regalias. No podemos esquecer que muitos pobres permaneceram na terra apesar do exlio. Pausa para reflexo Quantas voc j foi surpreendido pela ao de Deus? Consegue lembrar de uma? Voc lembra dos planos que voc estruturou para a soluo de umproblemaeasoluodeDeusparaoproblema?Lembra-sedas pessoas que ele usou? Agora em termos sociais, voc consegue perceber oquantoassolueshumanasficamdistantesdasoluoideal?Basta lembrar da nossa experincia com governantes evanglicos... PaulodiscursandoemAntioquiadaPisdia(At13.13-42)usaotextodeHc1.5(v.41)para alertar seus ouvintes judeus e no-judeus a terem cuidado para que no sofressem o mesmo que o povo judata suportou. A diferena do texto justifica-se pelo uso da Septuaginta por Paulo. HabacuqueCap 3 Olhos Atentos para a Realidade 3.3 O desabafo de Habacuque (1.12-2.1) Habacuque:Senhor,tunosdesdeaeternidade?MeuDeus,meuSanto,tunomorrers.Senhor,tu designaste essa nao para executar juzo; Rocha, determinaste que ela aplicasse castigo. Teus olhos so to puros que no suportam ver o mal; no podes tolerar a maldade. Ento, por que toleras os perversos? Por que ficas calado enquanto os mpios devoram os que so mais justos que eles? Tornaste os homens como peixes do mar, como animais, que no so governados por ningum.Oinimigopuxatodososanzis,apanha-osemsuaredeenelaosarrasta;ento alegra-seeexulta.Eporessarazoeleoferecesacrifciosuaredeequeimaincensoemsua honra,pois,graassuarede,viveemgrandeconfortoedesfrutaiguarias.Ficareinomeu posto de sentinela e tomarei posio sobre a muralha; aguardarei para ver o que o Senhor me dir e que resposta terei minha queixa. ArespostadeDeus,naturalmenteincomodoumuitooprofeta.aqueletipoderespostaque ficaentaladanagargantaenoseconsegueengolir.PareciacontradioDeususarumpovoque tinhanasuaforaoseudeus.CorajosamenteeledesabafacomDeusportodaessasituao. ReconheceagrandiosidadeesoberaniadeDeus,masreclamaapresentandoaDeustodaasua inquietao.ComHabacuqueaprendemosqueodesabafocomDeuspodeserumaexperincia libertadora.Naverdade,odesabafooinciodacura.Atravsdasnossasoraes,queso oportunidades para desabafar com Deus, podemos encontrar respostas para a nossa aflio. 9 O desabafo o incio da cura. Aofinaldeseudesabafo,Habacuquepercebeobecosemsadatantodasituaonacional quanto internacional. Agora, mais calmo, no tinha dvidas de que Deus ouviria a sua reclamao jqueeleafavordajustia.Confiantemente,ento,elesecolocana posiodeplatia,elesobenatorredevigia,paraassistiratentamente comoDeusiriaresolveresteproblema.Epelovistoseriacomuma novidade.OconhecimentoqueHabacuquetinhadeseuDeusfoiomaior remdio para o seu desespero. Estaaatitudedetodapessoaquesedeuaotrabalhodefazerumaprofundaanliseda realidade. As dificuldades e os problemas so tantos e, por outro lado, parece no haver nenhuma sadapossvel.Qualquerumdensacabasendotentadoacairnodesnimo.Entretanto,nos entregarmos no a melhor soluo. mais prudente aguardar com expectativa e confiana a ao surpreendente de Deus. Pausa para reflexo VoctemexperimentadodesabafarsuasdoresdiantedeDeus?Sua igrejatemexperimentadodesabafarsuasdoresdiantedeDeus?Nossa sociedadetemexperimentadodesabafarsuasdoresdiantedeDeus?O grito de paz que costumamos ouvir nas passeatas um desabafo diante deDeus?Oudiantedeoutrem?QuemoDeusemquemconfiamos? QualDeusdevemosapresentaraosqueestodesesperadosanossa volta? HabacuqueCap 3 Olhos Atentos para a Realidade 3.4 A fidelidade que salva (2.2-2.4) Deus:Escrevaclaramenteavisoemtbuas,paraqueseleiafacilmente.Poisavisoaguardaumtempo designado; ela fala do fim e no falhar. Ainda que demore, espera-a; porque ela certamente vir e no se atrasar. Escreva: O mpio est envaidecido; seus desejos no so bons; mas o justo viver por sua fidelidade. Nesta segunda resposta de Deus, percebemos algumas caractersticas fundamentais da mesma: ela clara, aberta e pblica. Essa resposta pode ser vista, ou seja, alguma coisa que acontece na realidade.Elapodeserdescrita,isto,traduzidaemlinguagemhumanae,assim,tornar-se acessvel a todos, ou seja, pblica. Emoutraspalavras,arespostadeDeusestsemprea,bastandoquesepresteatenoaos fatos e acontecimentos. No fundo, portanto, o profeta aquele que ensina a olhar profundamente a vida e a histria e nelas descobrir o que Deus est falando. 10Contudo, ser que a resposta de Deus costuma demorar? O texto de Habacuque no responde quesimouno,masasseguraqueessarespostavir.Elaserefereaomomentocerto,temuma dinmica prpria e supera as melhores expectativas do homem. Todavia, ela tem a hora certa, que depende da maturao das situaes. Para quem est desesperado e impaciente pode parecer que elaestdemorando.Oquefazer?Esperarativamente,comf,ajudandoamaturaodos acontecimentos. E a certamente ela vir e no falhar. Aindapodemosficarcomumadvida:ComoDeusvaidarsua resposta?Elacairmilagrosamentedocuouviratravsdeuma grandepersonagempolticaoureligiosa?Emgeralficamosesperando quealgumresolvaosproblemas.MasDeusdsuareposta definitivasplicadoprofetadizendoqueojustoviverporsua fidelidade. Esta a grande novidade! Habacuque se perguntava quem poderiafazerjustia,tantoemnvelnacionalcomointernacional.Sua constatao era que tanto num nvel, como no outro aparecia o mesmo problema:oinjustodevorandoojusto.Dequeformasairdessaroda vivadainjustia,demodoqueapareaajustialibertadoradeDeus? Quem poderia ser o instrumento dela? O que importa que o justo tome conscincia e se mantenha fiel, pois atravs da fidelidade do justo que Deus agir, realizando a justia: libertar os oprimidos e injustiados e punir os opressores. O texto de Hb 2.4 acabou se tornando o lema da cristandade. Ela achavedetodoolivrodeHabacuqueeotemacentraldetodasas Escrituras.AimportnciadesteensinotograndequeoTalmude1declaraqueaquiesto resumidos todos os 613 preceitos dados por Deus a Moiss no Sinai. Nummundogovernadopeloinjustooperigoo justo permanecer passivo, sem acreditar na presenaeaodeDeusnahistria.Contudo,quandoojustopercebeessaaoepresenaese descobre como instrumento da ao de Deus, ele passa a ser o novo sujeito, que vai construir uma novahistriaeumanovaformadeviveremsociedade.Habacuquedestriaesperapassiva.Ele diz que possvel um mundo novo e que Deus o quer. Mas ele s vai se concretizar se ns tambm o quisermos e nos colocarmos em ao para que ele se concretize. No adianta esperar que um dia tenhamosessaouaquelapossibilidadequenospareaimprescindvelparafazeralgumacoisa. Talvezessapossibilidadenuncachegueatns.Asituaoperfeitanoexiste.Oimportante perceberquaisaspossibilidadesreaisquetemoseus-lasdamelhorformapossvel.Oquefalta, talvez,sejaadescobertadequeaforamaisinvencvelequepodederrotarqualquerestrutura injusta a vontade de um povo que luta ao lado de Deus pela justia. Para que o mal prevalea, basta que os homens de bem no faam nada. Edmund Burke 1 O talmude um livro sagrado dos judeus, no qual esto compilados a tradio, as doutrinas, os costumes e outros aspectos do povo hebreu. Seus textos costumam ser datados do sc III a.C. ao sc V d.C. HabacuqueCap 3 Olhos Atentos para a Realidade Pausa para reflexo QuemojustodequefalaHabacuque?apessoaisentadefalhase incapaz de cometer erros? Na Bblia, o justo aquele que conhece a Deus e que leva esse conhecimento em conta para todas as coisas de sua vida. O justo aquele que ajusta a sua vida de acordo com o projeto de Deus. Serquenspodemosnosconsiderarjustosnestesentido?Justono texto, no tem apenas um sentido de indivduo, mas tambm um sentido comunitrio. Isso porque em comunidade a luta em favor da justia e do direitotomacorpoepelasuafidelidadeabre-secaminhosparauma nova sociedade. Neste sentido ser que nossas igrejas tm sido casas de justos? A fidelidade do justo, portanto, no apenas o cultivo de uma religio entre outras coisas na vida.Aocontrrio,essafidelidadeumcompromissoquefazver,compreendereviveravida conformeajustiaqueDeusquer.EmvemdeficarpassivamenteesperandoqueDeusrealize milagrosamenteummundonovo,ojustocolocamosepsemmovimento,assumindoasua funo de instrumento, para que Deus realize a justia que todos esperam. AimportnciadeHb2.4refletidanaprpriaBblianoSegundoTestamento.Estetexto citado diretamente pelo menos em trs vezes: Rm 1.17; G 3.11 e Hb 10.38. 11 12O JULGAMENTO DA INJUSTIA OsegundoblocotextualdolivrodeHabacuque(2.5-20)aparececomoumacontinuidadedo primeiro bloco e traz cinco ais que sentenciam o injusto, apontando os motivos.Antes de apresentar estas sentenas, o profeta deixa bastante claro como a situao se inverte. Aparentemente a injustia havia se estabelecido. S que muitas vezes esta estabilidade se alimenta da ignorncia e alienao do povo que, apesar de vtima, acaba sustentando um sistema opressor no qual est inserido. Defato,ariquezailusria,eompioarroganteenodescansa;elevorazcomoasepulturaecomoa morte. Nunca se satisfaz; apanha para si todas as naes e ajunta para si todos os povos. Todos estes povos um dia riro dele com canes de zombaria, ... Quando o povo compreende que todo o sistema opressor pode ser desestabilizado e pode dar lugar a uma realidade mais justa, j que Deus promete vida ao fiel, tudo muda de contexto. Agora, o tirano injusto que antes ria, acaba se tornando motivo de piada.Aqui devemos perceber que o profeta fala tanto em nvel nacional, quanto internacional. Tanto da classe privilegiada que abusa do povo, como das grandes naes que exploram outras. Pausa para reflexo Apoltica,especialmenteanacional,andamuitodesacreditada. Percebemosacadadiaaexistnciadeverdadeirosladresnocomando danaoecadavezmaisomaispobresofrer.Osprimeirosrindodos ltimos.Numnvelmundial,vemosnaesjogandoumascomas outras,tendoemvistaapenasolucroedeixandodeladoovalorda coroadacriao.Olhandocomnossoshumanosecorruptveisolhos, vemos uma situao estabelecida e imutvel. Mas, ser que nossa f tem permitido,tantocompreendertodaadoenadonossosistema,quanto ver uma nova situao estabelecida com a vitria do bem, por Deus? De repentenoprecisamosirtolongenum nvel nacional e internacional. Bastaolharmosparaonossolado,especialmentenoambientede trabalho. Voc j passou por alguma experincia desse tipo? Antes de prosseguirmos, devemos dar ateno especial a alguns detalhes que nos orientaro a uma melhor compreenso do texto: HabacuqueCap 4 O Julgamento da Injustia a)Otextoestrepletodateologiadaretribuio,muitopresentenaliteraturasapiencial especialmentenosProvrbios.AteologiadaretribuioformataDeusaoseguintemolde: aos justos, a bno de Deus; e aos mpios, a maldio de Deus. O livro de Eclesiastes nos mostra com preciso que a coisa no bem assim... b)Deus no tem prazer no sofrimento do mpio. Na verdade o que mais aprendemos na Bblia que Deus odeia o pecado, mas ama o pecador. Por conta da maldade, podemos dizer que Deusseentristece.MasissovalemesmoparaoPrimeiroTestamento?Lgico.Para defenderestaidiapodemoslembrardacartaaosHebreusquando encontramos a citao de que Deus [Jesus Cristo] o mesmo ontem, hoje e sempre (Hb 13.8). c)Deus no fica maquinando castigos. Se pesquisarmos bem os fatos na Bblia, veremos que a grandemaioriadoscastigossetratadaaplicaododitadodasabedoriapopularquem planta,colhe.Asconseqnciasdopecadosoresponsabilidadespessoais.Noconvm jogaraculpaemDeuspeloscastigosqueacontecem.OfantsticoqueDeuspodeusar essasconseqnciasparanosensinar,mesmoemmeioador.Muitasnaesrurampor suas decises erradas, por se manterem longe de Deus e dos projetos de Deus. Pausa para reflexo MartinLloyd-Jones,umdosexpoentesdoprotestantismoinglsdo sculo XX, diz: Os maus podem triunfar por algum tempo, mas sua sentena est selada. E ns, o que dizemos? Concordamos ou discordamos? Pela poesia que se apresenta na seqncia destes ais, possvel que se trate de uma cano fnebreparaaquedadaBabilnia.Agoranosocuparemosdecadaumdosaisnatentativade traz-los para nossa realidade. 4.1 O Primeiro Ai: contra o roubo e a extorso (2.6b-8) ...ediro:Aidaquelequeamontoabensroubadoseenriquecemedianteextorso!Atquandoisto continuarassim?Noselevantaroderepenteosseuscredores?Nosedespertaroosqueofazem tremer?Agoravocsetornarvtimadeles.Porquevocsaqueoumuitasnaes,todosospovosque restaram o saquearo. Pois voc derramou muito sangue, e cometeu violncia contra terras, cidades e seus habitantes. Oscaldeustinhamdepsitosenormesdebensroubadosesaqueadosdepessoasenaes desamparadas.Suaganncianotinhalimites.Adisposiodelesparaacumularalmdo necessrio era como uma fonte insacivel. Mas s os caldeus? Lgico que no. Com a elite judata ocorria o mesmo. Este roubo era uma quebra explcita do oitavo mandamento: No furtars. Neste primeiro ai o justo descobre e pe s claras a sede de poder e riqueza que domina os poderosos, que no temem fazer vtimas, a fim de satisfazer sua cobia e ambio. Na sentena do profeta ele deixa evidente que o julgamento se dar com a revolta dos oprimidos contra o opressor. O julgamento ser feito pela prpria injustia. O feitio se virando contra o feiticeiro. Pausa para reflexo Reclamamosmuitodoproblemadaviolncianosgrandescentros urbanos.Masatqueponto,conseguimosveresteproblemacomoalgo que foi e tem sido plantado ao longo de vrios anos? 13 HabacuqueCap 4 O Julgamento da Injustia 4.2 O Segundo Ai: contra o conforto e segurana injustos (2.9-11) Aidaquelequeobtmlucrosinjustosparaasuacasa,paraprseuninhonoaltoeescapardasgarrasdo mal!Voctramouarunademuitopovos,envergonhandoasuaprpriacasaepecandocontraasua prpria vida. Pois as pedras clamaro da parede, e as vigas respondero do madeiramento contra voc. 14Aseguranaeoconfortoconquistadosinjustamentesoalvosda segundasentenadoprofeta.Osimpriosegrandesnaesconstruamo seu bem-estar e desenvolvimento s custas das naes que ficavam cada vez maisempobrecidasesubdesenvolvidas.Estemundinhoseguroe confortveloninhonoaltodoprofeta.Acabasendonatural, infelizmente,queodinheiroemexcessoacabetrazendoumarde invulnerabilidade. Mas o dinheiro um falso refgio. A riqueza injustamente adquirida acaba se tornando testemunha contra o opressorganancioso. Masagora,aprpriaseguranaebem-estardospoderosostornam-se acusaododinheiroinjustocomqueelesconstruramseumundo.As paredeseasmadeirasdestecastelodeinjustiaclamampelajustiaobservandotamanha incoerncia.Ariquezainjustamenteadquiridaacabasetornandotestemunhacontraoopressor ganancioso. Juntamente a este testemunho vem a vergonha da casa. A desmoralizao completa do homem e das instituies. Pausa para reflexo TodossabemdamarcadeopressodeixadapelaIgrejaCristdo passadoqueconstruatemploslindssimosacustodeouroesangue. Hojesepercebeumesforodamesmaparareverterestequadro, especialmente nas comunidades eclesiais de base. Por outro lado, igrejas evanglicasreacionriasaocatolicismoeadeptasdateologiada prosperidade,tminvestidonaconstruodetemploscolossais querendo,talvez,comisso,demonstraragrandiosidadeeopoderde Deus. Sabemos, tambm, o nvel de maldade com que agem com relao fdaspessoasmaissimples.Qualdeveseranossarespostacom relao a estas igrejas? Tais templos so vontade de Deus? 4.3 O Terceiro Ai: contra a cidade sanguinria (2.12-14) Aidaquelequeedificaumacidadecomsangueeaestabelececomcrime!AcasonovemdoSenhordos Exrcitos que o trabalho dos povos seja s para satisfazer o fogo, e que as naes se afadiguem em vo? Mas a terra se encher do conhecimento da glria do Senhor, como as guas enchem o mar. OtemadacidadenaBbliamuitointeressante.Issoporquemuitasvezesapareceum conflito, mesmo que velado, da cidade contra o campo e vice-versa. Oconceitodecidadenotextovemdapalavrahebraicaresereferequelascidadesda antiguidadecercadacommurosquevemosnosfilmes.Doladodeforadosmuros,masjunto cidadeficavamasaldeiasagrcolasquecultivavamaterraparaforneceralimentoscidades.Ao mesmo tempo tais aldeiasdependiam da proteo militar destas cidades. O Deus apresentado no Gnesis exalta a relao existente entre o homem e a terra, o adam e a adamah.MasHabacuque,olhandoemtornodesi,percebequeadestruiodogadoedalavoura estmuitoprxima,senojestiveracontecendo,atravsdosavanosdoopressorcaldeu.A histriatambmregistraquebabilniosdavamgrandevalorsatividadesdeconstruo. Nabucodonosor,empregavapovossubjugadoscomotrabalhadoresforados,eteveumorgulho HabacuqueCap 4 O Julgamento da Injustia todoespecialnaconstruodaBabilnia(Dn4.30).Essesprojetosimplicavamnamortedos trabalhadores e eram bancados com os despojos de guerra. Almdisso,aopressointernasefazalvodessasentenaindiretamente.Jeoaquim,devido crise interna, oprimia o povo com impostos para manter a proteo do Egito. s cidades, ento, se associava uma postura de no-vida diferentemente do campo. A cidade apenas usufrua a vida produzida pelo campo e devolvia em troca a opresso. Em ambos os casos, o trabalho do povo oprimido de nada adiantar, pois ser destrudo pelo fogo. Este julgamento da cidade levar todos ao reconhecimento do Deus verdadeiro, voltado para a vida e em luta contnua contra a idolatria dos deuses que produzem a alienao, a escravido e a morte. Pausa para reflexo Nomundo,algunsgruposnutremumaferrenharesistnciaao cristianismo.NoporCristo,maspeloscristos.Ahistriarecordaque muitas das cidades muradas da igreja foram construdas com sangue e crime.Ouseja,nopassamdeumprojetohumanocompletamente contrrio ao projeto de Deus. Equantoavoc?Qualtemsidoopreodascidadesfortificadasdasua vida?Sangueecrimepodemserinterpretadosdemuitasmaneiras.A conivncia ou omisso so exemplos. 4.4 O Quarto Ai: contra os alienadores (2.15-17) Ai daquele que d bebida ao seu prximo, misturando-a com seu furor, at que ele fique bbado, para lhe contemplaranudez.Bebabastantevergonha,emvezdeglria!Sim!Bebavoctambmeexponha-se!A taadamodireitadoSenhordadaavoc,muitavergonhacobrirasuaglria.Aviolnciaquevoc cometeu contra o Lbano o alcanar, e voc ficar apavorado com a matana, que voc fez, de animais. Pois voc derramou muito sangue e cometeu violncia contra terras, cidades e seus habitantes. Uma das armas de opresso mais terrveis consiste nos mecanismos de alienao, que mantm opovoembriagadoeforadesi.Issoseverificaanveldegrupohumano,ondeaclasse privilegiada impe seus interesses e valores como absolutos, despojando o povo de seus valores e dignidade(nudez).Naqueletempoanudezempblicoeraocmulodavergonhaeda desgraa. Tambmobservvelnonvelinternacional,ondeasgrandespotnciasditamasnormas poltico-econmicas, que dirigem todo o modo de viver das naes por elas submetidas. Ojulgamentodosopressoresserodesmascaramentodasmanobrascomquealienamos outros.preciso,svezes,terumavisoaguadaparaperceberqueessaalienaomuitasvezes 15 HabacuqueCap 4 O Julgamento da Injustia escondeaviolnciaeoderramamentodesangue.Emboramuitasvezesosopressoresusem argumentaes, at mesmo religiosas, o desmascaramento mostrar que o projeto deles nada tem a ver com o projeto de Deus. Pausa para reflexo Umsistemaeducacionalfalhofavoreceaalienao.Umacano pertencenteaoHinrioparaoCultoCristofaztranspareceressa verdade: Milhes no sabem como escrever,Milhes de olhos no sabem lerNas trevas vivem sem perceberQue so escravos de outro ser.(Que estou fazendo se sou cristo? HCC 552) O que temos feito, enquanto igreja, para atuar contra essa alienao? 4.5 O Quinto Ai: contra a idolatria (2.18-19) Dequevaleumaimagemfeitaporumescultor?Ouumdolodemetalqueensinamentiras?Poisaquele queofazconfiaemsuaprpriacriao,fazendodolosincapazesdefalar.Aidaquelequedizmadeira: Desperte! Ou pedra sem vida: Acorde! Poder o dolo dar orientao? Est encoberto de outro e prata, mas no respira. 16Logicamenteapalavraquemelhorrepresentacontraoqueasentena do profeta se dirige neste texto idolatria. Idolatria tudo o que o homem produz e que apresentado como absoluto, mas que, na verdade, s produz escravido e morte. Isso porque os dolos escondem atrs de si pessoas que seservemdelesparamanipularasoutras,sugando-lhesaliberdadeea vida, ao passo que o verdadeiro Deus produz e promove a liberdade. O justo deve ter em mente que suaconscincia deve lev-lo denncia e destruio da idolatria. Crabtree diz que a idolatria a fonte, a razo bsica de todos os ais. Karl Barthjvaimaisfundodizendoqueoverdadeirosentidodopecado colocarohomemnolugardeDeuseDeusnolugarnohomem.Ouseja, tornar o prprio homem algum digno de ser adorado. No para menos que a palavra hebraica para dolo [HEB: ll] significa coisa v, ou seja, aquilo que no tem nenhum valor, o que d o real sentido do que um dolo. Ojustodeveteremmentequesuaconscinciadevelev-lodennciaedestruioda idolatria. Para o profeta, este o ponto-chave da libertao da opresso. Sem dolos, os absolutos opressores aparecem em sua verdadeira relatividade. HabacuqueCap 4 O Julgamento da Injustia Pausa para reflexo Fcilencontraralgumqueidolatraalgumacoisa.Maisfcildeveser nosconsiderarmosidlatras.Apesarde,comoprotestantes,no possuirmosimagens,temosdolos.Quaistmsidoosseusdolos? Dinheiro,poder,beleza,realizaoprofissional,igreja,capacidade intelectual,sucesso,prazeres,marcas,carros?Oquenosdum sentimentodesermosabsolutos,denosidolatrarmos,denos considerarmos superiores aos outros, de nos sentirmos auto-suficientes? Quaistmsidoosdolosdenossasigrejasenquantoinstituies? Pastores, nmeros, templos? 4.6 O fim solene (2.20) Oscincoaisousentenasqueacabamosdetratarconstituemumverdadeiroprogramade resistnciaedeaodosjustosdentrodahistria.Alutadelescontraomalqueaparece personificado principalmente atravs do poder, que produz violncia e causa o derramamento de sangue.Quandoseconseguedesmistificarosmpiospoderosos,osjustosvopoucoapouco revelando o poder de Deus que s a ele pertence e que por ele usado para dar eficcia luta dos pequeninos para se conquistar a liberdade e a vida para todos. Habacuque termina a seqncia de ais de forma solene: O Senhor, porm, est em seu santo templo; diante dele fique em silncio toda a terra. Todosesperamagora,emsilncio,apalavrafinaldeDeus,juizdahistria.Emboraoseu julgamentotenhaseprocessadoatravsdaconscinciaedaaodosjustos,asentenacabe somente a ele. Isso ressalta que nem os justos esto em condies de dar a palavra final dentro da histria. Caso contrrio, haveria o risco de uma troca de lugares, e a grande tentao do justo de se tornarumgrandeopressor.SDeustemavisodotodoe,portanto,selepodedizeraltima palavra. EssatemticadolivrodeHabacuqueecoaprofundamentenoevangelhodeMateus.O evangelistaproclamaacomunidadedosjustoscomoosal,aluzeacidadeconstrudasobrea montanha(Mt5.13-15).Ouseja:osjustossoaesperanadeumnovomundo,poisdeseu testemunhoeao,jqueDeusdesejaquesejamsujeitosativosnahistria,nasceragrande transformao. Contudo, o evangelista deixa bem claro que a finalidade de tudo o prprio Deus: Assim, brilhe a luz de vocs diante dos homens, para que vejam as suas boas obrase glorifiquem ao Pai de vocs, que est nos cus. (Mt 5.16) 17 CANTANDO A VITRIA FinalmentechegamosaoterceiroeltimoblocotextualdolivrodeHabacuque(Hc3.1-19). Este texto se assemelha muito aos salmos de splica e confiana, a uma cano no meio da noite. Alguns estudiosos concordamem dizer que este final do livro um acrscimo que terminaria em2.19ou2.20especialmentepelamudanadeestilo,apesardeotematratadocondizer perfeitamentecomorestantedolivro.Contudo,difcildefinirseotextoanteriorouposterior cronologicamente aos captulos 1 e 2. Outros discordam desta idia dizendo que esta mudana de comportamento radical a obra de Deus sobre a vida do profeta. Fatoqueestamosdiantedeumaobradebelezafantsticaqueapresentaumserhumano como ns, as suas aflies e em que est firmada a sua esperana. 5.1 Pedindo a ao de Deus (3.1-2) Ohinoseabrecomumasplica,pedindoparaqueDeusaja.Estasplicafundamenta-sena memriadosatosdeDeus.Defato,opassadodeIsraeltestemunhoabertodasobrasque Deus realizoujuntocomseupovo,ensinando-oalutarpelajustia,afimdealcanaraliberdadeea vida.Dessaforma,alembranadopassadosetransformaemmemriaativa,isto,empontode partida para novas lutas. Orao do profeta Habacuque. Uma confisso. Senhor, ouvi falar da tua fama; tremo diante dos teus atos, Senhor. Realiza de novo, em nossa poca, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo; em tua ira, lembra-te da misericrdia. 18 Deus no sente prazer na morte de ningum, antes ele sempre deixa a porta aberta para que todos tenham a chance de encontrar vida. Iraemisericrdiasoduasexpresseshumanascomunspararepresentarossentimentosde Deus muito presentes nos textos bblicos. Atravs desses sentimentos o profeta entende a ao de Deusemproldajustia.HabacuquepedequeemSuaira,Deusselembre damisericrdiapoisele,reconhecendoopoderdeDeus,sabequenada subsistiria ira de Deus. Podemos perceber um certo ar de temor do profeta diantedaaodeDeus,entretantoelenopedelivramentodosofrimento. Ele parece entender que diante das dolorosas circunstncias que estavam ao seu redor, Israel passaria por um momento de dor. Mas o profeta j tinha a certeza de que apesar das dificuldades, ele viveria por sua fidelidade. Com isso,aprendemosqueojustojulgamentoincluialmdaindignao,a compaixodeDeusparatodos.Deusnosenteprazernamortede ningum,anteselesempredeixaaportaabertaparaquetodostenhama chance de encontrar vida (Ez 18.32). HabacuqueCap 5 Cantando a Vitria 19 Pausapara reflexo Estamos de fato preparados para presenciarmos as aes de Deus para a mudana da nossa realidade? Estamos dispostos, custe o que custar? 5.2 A fama de Deus (3.3-7) Deus veio de Tem1, o Santo veio do monte Par2. Sua glria cobriu os cus e seu louvor encheu a terra. Seu esplendor era como a luz do sol; raios lampejavam de sua mo, onde se escondia o seu poder. Pragas iamdiantedele;doenasterrveisseguiamosseuspassos.Eleparou,eaterratremeu;olhou,efez estremecerasnaes.Montesantigossedesmancharam;colinasantiqssimassedesfizeram.Os caminhos dele so eternos. Vi a aflio das tendas de Cuch3; tremiam as cortinas das tendas de Midi. Depois da breve introduo, o profeta-poeta comea a cantar a tal fama de Deus que ele havia dito.Em5versculoselefazumaviagemnahistriadaredenoreveladaatentoparabuscar forasafimdeenfrentarascrisesqueodeixaramaparentementesemsada.Lendoestapartedo salmo, podemos fazer um esboo da histria de Israel, desde o Egito at Cana, j que vrias frases nos recordam as obras de Deus em favor do seu povo. HabacuquequerdizernestecnticoqueDeusaindaomesmo.Oprofetaqueranimare consolar os fiis de Jud. Os justos devem esperar e confiar no Senhor. Tendo se manifestado para seu povo nos dias de Moiss e na luta para a tomada da terra, voltar a faz-lo na crise atual. Pausapara reflexo Qual a imagem de Deus que construmos ao longo da nossa vida? Quem oDeusemqueconfiamos?Releronossopassadoumexerccio formidvelparaodesenvolvimentodaespiritualidade.Comele, podemosrelembraraaodeDeusnanossavidaealimentarmosa esperana da ao de Deus para os dias atuais. Mas para reler o passado importante ter um passado. Temos nos preocupado em construir uma histria com Deus? 5.3 A viso da salvao (3.8-15) Era com os rios que estavas irado, Senhor? Era contra os riachos o teu furor? Foi contra o mar que a tua friatransbordouquandocavalgastecomosteuscavalosecomosteuscarrosvitoriosos?Preparasteo teu arco; pediste muitas flechas. Fendeste a terra com rios; os montes te viram e se contorceram. Torrentes de gua desceram com violncia; o abismo estrondou, erguendo as suas ondas. O sol e a lua pararam em suas moradas, diante do reflexo de tuas flechas voadoras, diante do lampejo de tua lana reluzente. Com ira andaste a passos largos por toda a terra e com indignao pisoteaste as naes. Saste para salvar o teu povo,paralibertaroteuungido.Esmagasteolderdanaompia,tuodesnudastedacabea aos ps. Comassuasprpriasflechaslheatravessasteacabea,quandoosseusguerreirossaramcomoum furacoparanosespalharcommaldosoprazer,comoseestivessemprestesadevoraronecessitadoem seu esconderijo. Pisaste o mar com teus cavalos, agitando as grandes guas. 1 Tem: Edom. 2 Par: monte situado na regio montanhosa ao longo do golfo de caba, entre o monte Sinai (provavelmente) e Edom. 3 Cuch: um lugar na Arbia ou Mesopotamia, de localizao desconhecida. HabacuqueCap 5 Cantando a Vitria 20Agora, depois de celebrar o poder de Deus no passado, encontramos o profeta cantando a ao deDeustransformandoahistria.Podemosconsiderarotextocomoteofnico,ouseja,aaode Deus to radical e a sua manifestao to intensa que provoca uma realidade inteiramente nova. Participamdestatransformaooselementosdanatureza(rios,mar,montanhas,sol,lua, relmpagos, troves) evidenciando a grandiosidade do poder transformador de Deus. HernandesDiasLopesdizqueHabacuqueolhaparaDeuscomoocondutordeuma carruagem celestial que sai numa cavalgada vitoriosa. Nessa corrida triunfante de Deus, o mar se abre,aterrafendida,osmontessecontorcem,asprofundezasdomarescutamoestampidode sua passagem, e o sol e a lua param o seu cortejo. O Universo inteiro d passagem a esse guerreiro vitoriosoquesaimontadoemsuascarruagensdevitria.Nessapassagemluminosaetriunfante de Deus, a terra convulsionada, e os cus so eclipsados pelo seu esplendor. Da o profeta comea a analisar o propsito desse guerreiro que vem montado em suas carruagens: elevemparasalvarelibertaroseupovo.OremanescentefieldeJudseriasalvopelasua fidelidade.Emoutraspalavras,podemosdizerqueagrandeesperanaparatodosaaodeDeus, realizada atravs dos justos, fazendo o julgamento. O julgamento destruir o sistema injusto para, emseulugar,construirumarealidadejusta.Dessagrandetransformaotodosparticipam,pois, quando reina a justia, at a natureza encontra uma nova destinao. Ojustonodeveeconomizaraesperanadeumagrandetransformao,contentando-se apenas com uma reforma parcial da ordem existente. Aqueles que acreditam que Deus est do seu lado ousam muito mais, pois, junto com Deus, possvel pretender uma criao nova, inteiramente refeita segundo o projeto de Deus. 5.4 A vida em meio dor e o vibrante testemunho da f (3.16-19)

Ouvi isso, e o meu ntimo estremeceu, meus lbios tremeram; os meus ossos desfaleceram; minhas pernas vacilavam.Tranqiloesperareiodiadadesgraa,quevirsobreopovoquenosataca.Mesmono florescendoafigueira,enohavendouvasnasvideiras,mesmofalhandoasafradeazeitonas,no havendo produo de alimento nas lavouras, nem ovelhas no curral nem bois nos estbulos, ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvao. O Senhor, o Soberano, a minha fora; ele faz os meus ps como os do cervo; faz-me andar em lugares altos. O final do hino resume toda a mensagem do livro de Habacuque. O profeta, neste ltimo ato, finaliza sua obra trmulo. Mas por que ele estremece? 1)Porque ao olhar para o futuro, ele v sua nao rumando para a destruio, e ao olhar ao seu redor, v todo o sistema prestes a se desintegrar. 2)PorqueemsuavisodaaodeDeussobrearealidadeopressora,oprofetareconheceSua grandiosidade e poder, diante da qual at mesmo o justo estremece. Masoprofetanosensinaqueojustoesperacontratodaadesesperana.Aindaquetodaa realidade seja contrria e no haja qualquer sinal de transformao, o justo vive na certeza da ao deDeus,queserealizaatravsdoprojetodejustia,comoqualosjustossecomprometem. Tranqilo ... mesmo no florescendo a figueira. Mesmo que toda a lavoura e rebanhos fossem destrudos pelo invasor, e esgotasse o seu sustento, mesmo que essas fontes viessem a se esgotar, mesmo diante da calamidade, o profeta no perde sua esperana, j que sua confiana no estava na proviso, mas no provedor.Habacuque,quecomeaolivrodeprimidoeemdvidaquantojustiadeDeus,termina agora o livro com alegria e confiana no poder sustentador de Deus. CONCLUSO ComovimosNaumfoiumcontemporneoaHabacuque.Eletambmfoiumprofeta preocupadocomaopresso,masnoseucasoreferia-seopressoassria.Eleofereceucomo respostaparaoseuproblemaocastigodeNnive.Paraonossoprofeta,Habacuque,issono bastava,jqueocastigodeumimprioopressorsupeasimplessubstituiodeleporoutra potnciaimperialista,talvezmaiscrueldoqueaanterior.Comissonoseresolverianada. Permanece,ento,depoproblemadajustiadeDeus.Habacuquenoencontrasoluoparao problema,massuperaoproblemacomumaatitudedef,convencidodequetodoimprio opressor,qualquerqueseja,acabarsendocastigado.AnovidadedeHabacuqueconsistenofato deDeusaparecernocomoquemjulgaecondenaumimprio,mascomoalgumquejulgae condena toda forma de imperialismo. Habacuquenosedeixalevarporidiastradicionais.AntesdiscutecomDeus at achar uma resposta que devolva a paz e ajude a aceitar seus planos para a histria. Hernandes Dias Lopes destaca dois pontos essenciais que devemos lembrar sempre a respeito dos ensinos de Habacuque para ns: 1)Quando tudo parece perdido, com Deus ainda no est perdido. Qualquer analista poltico queolhasseasituaovivenciadaporHabacuque,lavrariaumasentenademorteao pequeno reino de Jud. A Babilnia, a nova dona do mundo, era detentora de um poder aparentementeirresistveledeumacrueldadeindescritvel.Jerusalmseriaesmagada impiedosamente,esuasruasseriampisadaspelosopressoressemquehouvessequalquer resistncia.Masofortesetornafraco,eofracoresistidodefora.Nofinaldascontas, Israel sofreu o povo justo resistiu pela sua f e sobreviveu ao sofrimento. De modo tambm noesperadoaBabilniacaiueDeusexecutousuajustianovamente.Parans,ficao exemplo de que quando tudo a nossa volta est sendo derrubado, possvel ficar em p e resistir pois Deus est conosco. Quando vemos as famlias, as igrejas, a moral, o respeito ao serhumano,ajustia,etudomaisqueconsideramosimportanteruirtemosquemanter nossosolhosemDeuseconfiarativamentedisponibilizandotodonossoserparaoseu trabalho. 2)Quandochegamosaofinaldosnossosrecursos,osrecursosdeDeusaindaesto disponveis.Acriseumtempodeoportunidade.Massconseguecompreend-laassim quemmudaseupontodevistaatravsdaf.Habacuquenosucumbiudianteda aterradora situao, mas subiu torre de vigia. Ao meditar sobre a pessoa de Deus e sobre osfeitosdivinos,recobrouonimoeps-seacantar.averdadeacercadeDeusedos Seusgloriososfeitosquenosoxigenaaalmaenosfortaleceparaacaminhadacomele. Quando os recursos da terra acabam, os celeiros do cu continuam abarrotados. Quando a 21 HabacuqueCap 6 Concluso fora humana entra em colapso, o brao onipotente de Deus sai em defesa do seu povo. A f no fuga dos problemas, mas a nica maneira sensata de enfrenta-los vitoriosamente. SecomosantaIgrejaestamoscansadosdelutar,devemosentregarestalutaaDeuse mantermos nossa fidelidade. Neste ponto convm lembrar da experincia de Salomo com Deus por conta do trmino da construo do Templo: Se eu fechar o cu para que no chova ou mandar que os gafanhotos devorem o pas ou sobre o meu povo enviar uma praga, se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos cus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra. (2Cr 7.13-14) Aresponsabilidadenodosoutros.Antes,nossade,emmeiocrise,nosmantermos fiis a Deus. Habacuquemarcouahistriacomsuaspalavrashmaisde2500anosevemosque permanecem plenamente atuais. uma esperana aberta e uma confiana que ainda no se deixou vencer. Seria utopia? Seria tudo inalcanvel? Para os que desejam uma transformao mgica e paternalistadarealidade,talvezsim.Mascertamentenoparaaquelesque,comooprofeta, compreendemqueDeusnocostumaagirdeformapaternalistaoumgica.Deuscontacomo justo para, atravs dele, realizar a sua justia em favor de todos.Enquantocadaumdensnocompreenderisso,tambmnoteremoscompreendidooque significa o livro de Habacuque e, dessa forma, no haver motivo para esperana. Deus transforma a realidade na medida em que ns, os justos, quisermos e nos dispusermos a transform-la. Jesus, o Cristo, facilitou muito este caminho. O profeta se identifica com os oprimidos de todos os tempos que clamam pela justia de Deus e em coro entoam o salmo que ecoa atravs das eras: Quanto a mim, sou pobre e necessitado, mas o Senhor preocupa-se comigo. Tu s o meu socorro e o meu libertador; meu Deus, no te demores! (S 40.17) 22 23Referncias Bibliogrficas AUTH, R. Coleo Bblia em Comunidade: Srie Viso Global. v. 7. So Paulo: Paulinas, 2007. BALANCIN,EuclidesMartins;STORNIOLO,Ivo.OLivro de Habacuque: a teimosia do justo. 3 ed. So Paulo: Paulus, 2006. BBLIA de Estudo Genebra. So Paulo: Sociedade Bblica do Brasil, 1999. BBLIA Sagrada: Edio Pastoral. So Paulo: Paulus, 1990. BBLIA Sagrada: Nova Traduo da Linguagem de Hoje. So Paulo: Paulinas, 2007. BBLIA Sagrada: Nova Verso Internacional. So Paulo: Editora Vida, 2000. CHARPENTIER, Etienne. Para uma primeira leitura da Bblia. 8 ed. So Paulo: Paulus, 2005. DASILVA,DomingosSvioda.Elpobreeselno!divinoalaviolenciatambinintervensionista.RIBLA, Quito, n. 35-36, p.194-196, 2000. FARIA, Jacir de Freitas. Profetas e profetisas na Bblia. So Paulo: Paulinas, 2006. HARRIS, R. Laid; ARCHER JR, Gleason L.; WALTKE, Bruce K. Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento. So Paulo: Vida Nova, 1998. LOPES,HernandesDias.Habacuque:comotransformarodesesperoemcnticodevitria.SoPaulo: Hagnos, 2007. MAXEY, Al. The Minor Prophets: Habakkuk. Disponvel em: . Acesso em: 07 jan. 2009. SICRE, Jos Luis. Profetismo em Israel: o profeta, os profetas, a mensagem. Petrpolis, RJ: Vozes, 1996. STEPHENS-HODGE, L. H. E. Habacuque. Separata de: Davidson, F. O Novo Comentrio da Bblia. 3 ed. So Paulo: Vida Nova, 1997. WILLARD, Dallas. A Grande Omisso. So Paulo: Mundo Cristo, 2008.