guimarães rosa, clarice lispector e joão cabral de melo neto
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3ª Fase Modernista
A geração de 45 A redescoberta da linguagem – o processo de reinvenção.
O romance deixa de ser uma simples representação da realidade para ter um valor em si – o romance instrumental.
A universalização do romance nacional.
• A ficção se altera no modo de enfrentar a palavra:
“Enquanto vou escrevendo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em um idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros. A gramática e a chamada filologia (...) foram inventadas pelos inimigos da poesia.”
• A revitalização dos recursos da expressão poética – imortalizar os valores culturais de um povo em
transição:
“Portanto, torno a repetir; não do ponto de vista filológico e sim do metafísico, no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (...).”
• A musicalidade da fala sertaneja: “As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no meio, na massa embolada com atritos de couros, estralos de guampos, estrondos de baques, e o berro queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com muitas tristezas, saudades dos campos, querência dos passos de lá do sertão.”
• Os neologismos: adormorrer, adâmico, bem-
trapilho, bicipitalidade, bis-viu, concerimoniantes, coraçãomente, delirido, desdeslembrar, excelentriste, gaviãoão, funebrilho, tediota.
• O sertão é uma forma de aprendizado sobre a vida, sobre a existência do homem. (Famigerado)
• O espaço como território marginal à civilização
moderna. (Duelo)
• A natureza como cenário e como agente modificador dos destinos do homem. (A terceira margem do rio)
• O gado é o elemento de subsistência e o
componente poético da narrativa. (Conversa de Bois – Sequência)
Sagarana
“Lá em cima daquela serra,
passa boi, passa boiada,
passa gente ruim e boa,
passa a minha namorada.”
A violência e o misticismo no confronto entre o bem e o mal. A força do épico revela o universo
guerreiro do sertão.
Augusto Matraga
•a crueldade•o desapego pelas mulheres•o prazer pela força
A experiência cristã •pecado•castigo•autoaperfeiçoamento•ato limite.
O herói rosiano •bruto•valente •carrega o impacto do meio físico
O Bem e o Mal precisam de uma nova definição moral.
Clarice Lispector
• A Pesquisa da Linguagem > a quebra da rigidez sintática e das pontuações tradicionais.
• Uso da Metalinguagem > o livro volta-se para o
seu próprio fazer, criticando a linguagem padronizada.
• Anticonvencionalismo > estilo caótico –
desordenado.
• A náusea > a repugnância pelo mundo – reação inconsciente.
• O fluxo da consciência > liberação do inconsciente – o pensamento do narrador é solto.
• Sondagem psicológica > estados de alma das
personagens – análise aprofundada – indagações metafísicas.
• O monólogo interior > o narrador dialoga
consigo mesmo – questionamento de atitudes.
• O sentido de Epifania > revelação – momento
de iluminação.
A Hora da Estrela
•O narrador projeta-se na protagonista (narrador onisciente intruso).
•Interferência no destino da personagem.
•Alterego de Clarice – versão masculina – evitar o sentimentalismo exacerbado.
“Mas a pessoa de quem falarei mal tem corpo pra vender, ninguém a quer, ela é virgem e inócua, não faz falta a ninguém.”
“Limito-me a contar as fracas aventuras de uma moça numa cidade toda feita contra ela.”
“A pessoa de quem vou falar é tão tola que às vezes sorri para os outros na rua. Ninguém lhe responde ao sorriso porque nem ao menos a olham.”
“(...) Vou agora começar pelo meio dizendo que - que ela era incompetente. Incompetente para a vida.”
“(...) sua cara de tola, rosto que pedia tapa.”
“Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. (...) Olhou-se tão e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.”
“Até mesmo o fato de vir a ser mulher não parecia pertencer a sua vocação. A mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há o desejo de sol.”
“Ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. Pensando bem: quem não é um acaso na vida?”
“- A cara é mais importante do que o corpo porque a cara mostra o que a pessoa está sentindo. Você tem cara de quem comeu e não gostou, não aprecio cara triste, vê se muda de expressão.
Ela disse consternada:
- Não sei como se faz outra cara. Mas é só na cara que sou triste porque dentro eu sou até alegre. É tão bom viver, não é?
JOÃO CABRAL DE MELO NETO MORTE E VIDA SEVERINA (auto de natal pernambucano) •escreve sob encomenda de Maria Clara Machado•musicada por Chico Buarque•a obra de visão social mais evidente. O subtítulo – influência do teatro medieval de Gil Vicente. Os autos - teatro de caráter religioso – efeito moralizante – teocentrismo – linguagem popular (literatura de cordel).
O “natal” – nascimento – mudança no panorama social – predestinação. A divisão da obra: viagem e chegada - (18 cenas )
A VIAGEM
1ª etapa > apresentação O meu nome é Severinonão tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,que é santo de romaria,
deram então de me chamarSeverino de Maria;
como há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:há muitos na freguesia,
por causa de um coronelque se chamou Zacariase que foi o mais antigo senhor desta sesmaria.
(...)
Somos muitos Severinosiguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grandeque a custo se equilibra,
no mesmo ventre crescidosobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangueque usamos tem pouca tinta.
(...)morremos de morte igual,
mesma morte severina:que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,(...)
2ª etapa – o morto por emboscada(...)
Ali é difícil dizer,irmão das almas,
sempre há uma bala voandodesocupada.
3a etapa – monólogo – a seca do rio Capibaribe.
(...)Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
4a etapa – homenagem a um defunto
5a etapa – o desejo de interromper a viagem e procurar trabalho.
Na verdade, por uns tempos,
parar eu bem podiae retomar a viagem
quando vencesse a fadiga.
6a etapa – a mulher que encomenda os defuntos - a morte como sobrevivência.
(...)como aqui a morte é tanta,
vivo de a morte ajudar.(...)
É sim uma profissão,e a melhor de quantas há:
sou de toda a regiãorezadora titular.
7a etapa – chegada à Zona da Mata e a vontade de permanecer ali.(...)
Quem sabe se nesta terranão plantarei minha sina?
(...)Decerto a gente daqui
jamais envelhece aos trintanem sabe da morte em vida,
vida em morte severina.
8a etapa – o enterro de um trabalhador
(...)Não é cova grande,
é cova medida,é a terra que querias
ver dividida.(...)
É uma cova grande para tua carne pouca
mas a terra dada não se abre a boca.
•
9a etapa – monólogo melancólico comparando Agreste – Caatinga – Zona da Mata.
(...)
Mas não senti diferençaentre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mataa diferença é a mais mínima.Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
10a etapa – a chegada ao Recife e a conversa entre dois coveiros.
(...)
De trabalhar no de Santo Amarodeve alegrar-se o colega
porque parece que a gente que se enterra no de Casa Amarela
está decidida a mudar-se toda para debaixo da terra.
11a etapa – Severino e a idéia do suicídio.
(...)E chegando, aprendo que,Nessa viagem que eu fazia,Sem saber desde o Sertão,
Meu próprio enterro eu seguia.Só que devo ter chegado adiantado por uns dias;
o enterro espera na porta:o morto ainda está com vida.
A solução é apressar a morte a que se decida
12a etapa – a conversa com José, mestre carpina.
(...)Seu José, mestre carpina,
que diferença fariase em vez de continuar
tomasse a melhor saída:a de saltar, numa noite, fora da ponte e da vida?
A CHEGADA
13A etapa – o nascimento do filho de Mestre Carpina.(...)
Estais aí conversando em vossa prosa entretida:não sabeis que vosso filho
saltou para dentro da vida?
14a etapa – a visita dos vizinhos, amigos e das ciganas.
15a etapa - as pessoas trazendo presentes ao recém-nascido.
16a etapa – as previsões das ciganas para o menino.
a primeira cigana – vida infeliz como todos no lugar.
a segunda cigana – oportunidade melhor de vida e ascensão social.
17a etapa – todos elogiam o menino.
18a etapa – a fala de Mestre Carpina. Severino retirante,
deixe agora que lhe diga: eu não sei bem a reposta
da pergunta que fazia, se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida; nem conheço essa resposta, se quer mesmo que lhe diga;
é difícil entender, só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é esta que se vê, severina;
mas se responder não pude à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu com sua presença viva.
E não há melhor resposta que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,que também se chama vida,ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequenaa explosão, como a ocorrida;
como a de há pouco, franzina;mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.