guilhermina suggia o violoncelo

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  • 7/28/2019 Guilhermina Suggia o Violoncelo

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    Guilhermina

    Suggia,o

    violoncelo

    Exposio C.M. Porto 2006

    Artigos Meloteca 2009

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    Guilhermina Suggia, o violoncelo

    Antnio

    Meloteca 2009

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    Durante o ltimo trimestre de 2006 e primeiro trimestre de 2007, na Casa-Museu Guerra Junqueiro, a

    Cmara Municipal do Porto apresentou uma exposio sobre

    a grande violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia (1885-

    1950), tendo por ttulo "Suggia, o violoncelo". A sua vida e

    carreira foram evocadas atravs de cartas, fotografias,

    programas de concertos, livros, desenhos e aguarelas,

    partituras musicais, jias e condecoraes, um dos seus

    vestidos de gala e alguns dos seus violoncelos, com

    destaque para o "Montagnana", que quis deixar sua cidade

    do Porto.

    Nascida perto do rio Douro, na Rua Ferreira Borges, a 27 de Junho de 1885, criada junto ao mar, em

    Matosinhos/Lea, Guilhermina era filha de Elisa e de Augusto Suggia, violoncelista e professor de Lisboa,

    com origens espanholas e italianas. A infncia e a juventude foram passadas com os pais e a nica irm,

    Virgnia, que, tantas vezes, com grande talento, a vir a acompanhar ao piano. As marcas do ambiente

    familiar e dos primeiros lugares no mais se apagaro. Em memria do pai deixar, um dia, ao

    Conservatrio Nacional, um dos seus amados violoncelos.

    Augusto Suggia , desde a infncia, o professor e "orientador de carreira" da filha. Pablo Casais, em

    Espinho, o primeiro mestre de fora, em 1898. Em Leipzig, em 1901, graas a uma bolsa de estudo e por

    sugesto de scar da Silva, Julius Klengel prosseguir a sua orientao tcnica e artstica noConservatrio, onde a extraordinria discpula se vem a formar com grande brilho. E continuar a

    aprender mais e mais pela vida fora, com professores, maestros, pianistas, com pblicos que sempre a

    adoravam.

    A primeira apresentao pblica d-se em Matosinhos, em 1892, acompanhada ao piano pela irm. EmLisboa, tocando diante da Famlia Real, abre-se-lhe outro rumo, que Guilhermina decididamente sabia

    Quarteto Moreira de S

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    3bem estar-lhe destinado. Parte com o pai para Leipzig, graas tambm ao apoio de msicos de Lisboa,

    seus amigos - Micnel'Angelo Lambertini, Antnio Lamas. Na cidade natal, o trabalho feito e as actuaes

    pblicas com o Quarteto Moreira de S e a sociedade de concertos Orpheon Portuense contriburam

    largamente para o seu prestgio artstico

    Os plos onde irradia o seu talento so vrios - Portugal,

    Espanha, Frana (Paris, com Casals), a Inglaterra - para

    sempre - e um pouco toda a Europa Central e mesmo

    Oriental, numa carreira que se revela fulgurante. Quase portodos considerada um talento extraordinrio: um dos

    melhores violoncelistas ou a maior violoncelista de todos os

    tempos. Comea a construir-se um mito. A projeco in

    ternacional no a deixa nunca esquecer o Pas, aqui

    actuando com o maior xito. J no fim dos anos, sentir o

    fascnio pela Amrica, onde, por falta de sade, no chegar

    a ir.

    A 2 Guerra Mundial (1939-1945) vem interromper, de modo abrupto e quase por completo, a carreira. A

    violoncelista acolhe-se ao seu Porto natal, daqui viajando, uma e outra vez, para fora do Pas. o tempo

    da dedicao, como que em exclusivo, actividade docente. Entre portugueses e estrangeiros contam-se

    por muitos os seus discpulos. Toca em pblico, praticamente s em Portugal, sobretudo acompanhada

    por Ernestina da Silva Monteiro ou por Maria Adelaide de Freitas Gonalves. Vive na sua casa da Rua daAlegria, n. 2665, espao de que tanto gostava.

    No apenas durante a guerra, Suggia revela-se uma mulher de muitas causas humanitrias e culturais:

    Cruz Vermelha, Fundo de Assistncia aos Msicos, Sociedade Protectora dos Animais. Essas

    preocupaes estaro presentes na hora de fazer o testamento. Para alm dos maiores amigos e

    "servidores", no esquece os legados a favor de instituies religiosas e filantrpicas. Lembremos que a

    Paris, 1909

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    4participao em aces de beneficncia j nesse tempo era, de uma forma geral, apangio dos msicos

    e os membros da famlia Suggia (o pai, a madrinha) no eram

    excepo.

    Tal como em jovem merecera o apreo, que se revelou

    decisivo em termos de carreira, da Famlia Real portuguesa,

    a Famlia Real inglesa quem a acolhe, j em plena fase de

    apogeu. Recorda-se o concerto no Royal Albert Hall, em

    1948.0 magistral retrato por Augustus John predissera j, de

    certo modo, em 1923, esses tempos de glria. Os maiores

    espectculos em Portugal realizam-se no Porto e em Lisboa.

    Em Inglaterra, entre rosas, jias, sedas, ouvem-se, em

    apoteose, os sons divinos do violoncelo...

    A doena, de modo forte, comea a atingi-la. Tambm a irm, os pais e o marido a deixaram mais e cada

    vez mais s. Assistida plos melhores mdicos, tenta ainda uma interveno em Londres. Regressa,porm, ao seu lugar de abrigo, o seu Porto, triste e conformada, despedindo-se da vida, aos 65 anos - 30

    de Julho de 1950. Parece excessiva e quase divina a fama que ganha; a sua figura vai-se, cada vez mais,

    transformando em mito, que arrasta e atrai e intriga, um nome que permanece alto na Histria da Msica

    e, com grande afecto, na nossa memria colectiva.

    Suggia, o Violoncelo. Exposio Casa-Museu Guerra Junqueiro. Cmara Municipal do Porto 2006. ISBN

    972-9147-73-6.

    Suggia /Antnio Carneiro 1923