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  • 7/31/2019 GuiaDireitoCivil Geral AngeloRigon

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    DIREITO CIVIL

    PARTE GERAL

    Lei de Introduoao Cdigo Civil

    1. Denominao, contedo e finalidade: con-vencionou-se denominar o Decreto-Lei n 4.657/42como Lei de Introduo ao Cdigo Civil. Na reali-dade, trata-se de legislao anexa ao Cdigo Civil,mas que dele no faz parte, tendo natureza aut-noma. No obstante esteja anexa ao Cdigo Civil,

    destina-se no apenas a facilitar a aplicao des-se Cdigo, mas tambm de toda a legislao p-tria, em todos os ramos do direito.Sua finalidade est ligada exatamente organiza-o normativa, trazendo regras acerca da prpriavigncia e aplicao da lei, bem como referentes soluo de conflitos na aplicao da lei no espaoe no tempo. Assim, de maneira geral, podemosapontar brevemente seu contedo como: a) Oincio da obrigatoriedade da lei (art. 1);b)O tem-po da obrigatoriedade da lei (art. 2);c)A eficciaglobal da ordem jurdica, no admitindo alegaode ignorncia da lei (art. 3); d)Os mecanismos

    de integrao das normas jurdicas para solucio-nar as lacunas (art. 4); e)Os critrios de interpre-tao das normas, quando da sua aplicao pelomagistrado (art. 5);f)O direito intertemporal parapreservar as situaes consolidadas (art. 6); g)O direito internacional privado (art. 7 a 17); h)Osatos das autoridades consulares brasileiras prati-cados no estrangeiro (art. 18 e 19).

    2. Vigncia da lei:segundo o art. 1 da Lei deIntroduo, a lei comea a vigorar em todo o pasquarenta e cinco dias depois de oficialmente pu-blicada (no Dirio Oficial), salvo disposio emcontrrio. Desse modo, a obrigatoriedade da lei

    no se inicia no dia de sua publicao, salvo seela prpria assim o determinar. O intervalo entrea data da sua publicao e sua entrada em vigorrecebe a denominao de vacatio legis.Em regra as leis tm carter permanente e notemporrio. Assim, salvo alguns casos especiais,a lei permanece em vigor at ser revogada por ou-tra lei (princpio da continuidade). Revogao asupresso da fora obrigatria da lei, retirando-lhea eficcia. S pode ser feita por meio de outra lei.A revogao pode ser total (ab-rogaco) ou parcial(derrogao) e expressa ou tcita, no se admi-tindo efeito repristinatrio (restaurador) pois a lei

    revogada no se restaura por ter a lei revogadoraperdido a vigncia(art. 2, 3).

    3. Obrigatoriedade das leis: a lei obrigatriapara todos. Desse modo, o art. 3 da Lei de In-troduo estabelece que ningum poder alegar

    ignorncia da lei para escusar-se de seu cumprimento.Trata-se do chamado princpio da obrigatoriedade dalei que tem por objetivo garantir a ordem jurdica, querestaria seriamente comprometida se fosse aceito oargumento de desconhecimento da lei.

    4. Supresso de lacunas e integrao das normasjurdicas: as leis, em nosso sistema jurdico, so cria-das a partir de idias abstratas para aplicao a casosconcretos. Desse modo, em uma situao ideal, olegislador deveria ser capaz de prever todas as situa-es que poderiam ocorrer na sociedade, para regul-las por meio de lei. Evidentemente isto no possvel.Em razo de o legislador no conseguir prever todasas situaes presentes e futuras e considerando-se ofato de que o juiz no poder deixar de julgar um casoque for a ele apresentado, sob o argumento de quea lei no trata do tema (art. 126 do CPC), fazem-senecessrios mecanismos para a soluo desses casosque no estejam claramente previstos em lei, mas quenecessitam de uma deciso por parte do Judicirio.Tambm nessas situaes a Lei de Introduo aoCdigo Civil que apresenta a soluo adequada. Seu

    art. 4 determina que sejam aplicadas na soluo daslacunas da lei a analogia, os costumes e os princpiosgerais de direito. No h determinao na lei para queseja seguida essa ordem, mas alguns autores enten-dem que h uma hierarquia, ou seja, o juiz deveria, se-gundo eles, buscar a soluo primeiramente na analo-gia, se no a a encontrar deve busc-la nos costumes,e porfim nos princpios gerais de direito.

    LINK ACADMICO 1

    Pessoas naturais

    1. Conceito: pessoas so os sujeitos de direitos -aqueles que so considerados titulares de direitos eobrigaes na esfera jurdica. As pessoas so os des-tinatrios das normas jurdicas, pois a sua condutaque a norma pretende regular ou estabelecer.

    2. Modalidades de pessoa:distinguir duas modalida-des de pessoas, ambas igualmente titulares de direitose obrigaes: Pessoa Natural e Pessoa Jurdica.

    Chamamos Pessoa Natural - ou Pessoa Fsica, ou ain-da Pessoa Material, em alguns casos - a pessoa quetem existncia material, fsica, ou seja, a pessoa queexiste materialmente. So os seres humanos.De outro lado, as Pessoas Jurdicas, ou Ficcionais, notem existncia material. So apenas uma fico jurdi-ca, com o objetivo de realizar negcios jurdicos maiscomplexos, que talvez no pudessem ser realizadospelas pessoas naturais.

    3. Personalidade Jurdica: para que o indivduo seja

    considerado pessoa, necessita de um atributo es-sencial denominado personalidade jurdica. Pode-mos definir personalidade jurdica como o atributoessencial para que o indivduo seja titular de direi-tos e obrigaes, ou seja, para que ele possa serconsiderado pessoa.O art. 2 do CC estabelece que a personalidadeda pessoa natural comea com o nascimento,com a vida, o que se constata pela respirao (art.

    53, 2, da Lei dos Registros Pblicos - Lei n6.015/73). Antes do nascimento, no h persona-lidade. Mas a expectativa de direitos do nascituro protegida.

    4. Extino da personalidade jurdica: a perso-nalidade jurdica da pessoa natural termina com amorte (art. 6 do CC). A morte, por sua vez, podeser classificada como real ou presumida.Haver morte real quando for possvel compro-var sua ocorrncia. Sua prova ser realizadapelo atestado de bito, com base na anlise docadver (exame cadavrico). Assim, s poderhaver morte real se houver cadver localizado.No havendo localizao do cadver, no poderser considerada real a morte. Excepcionalmentepoder haver morte real, ocorrendo a justificao,em caso de catstrofe, se no for encontrado ocorpo (art. 88 da Lei n 6.015/73).Quanto morte simultnea, prevista no art. 8do CC, consideram-se mortos ao mesmo tempoindivduos que morrerem na mesma ocasio,no sendo possvel verificar se a morte dealgum deles precedeu aos demais. No ne-cessrio que essas mortes ocorram no mesmolugar, mas apenas ao mesmo tempo. Esse fato denominado comorincia e entre os comorien-tes no haver transferncia e bens, ou seja, oscomorientes no herdam entre si.Porfim, temos a morte presumida: h dois tiposde morte presumida: ela pode ocorrer em razoda decretao de ausncia ou sem a necessidadeda decretao de ausncia. Sobre a ausncia, tra-taremos mais adiante.Ser possvel a decretao da morte presumidasem a declarao de ausncia, nos termos doart. 7 do CC:a)Se for extremamente provvela morte de quem estava em perigo de vida; b)Se algum, desaparecido em campanha ou feitoprisioneiro, no for encontrado at dois anos aps

    o trmino da guerra.Em ambos os casos, a declarao da morte pre-sumida somente poder ser requerida depois deesgotadas as buscas e averiguaes, devendo asentena fixar a data provvel do falecimento.

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    5. Capacidade Civil:como visto, para que o indi-vduo seja considerado pessoa e, portanto, titularde direitos e obrigaes, necessita de um atributodenominado personalidade jurdica. No entanto,para que possa livremente exercitar esses direi-tos e assumir obrigaes, necessita de um outroatributo denominado capacidade civil. Assim,podemos definir capacidade civil como o atributonecessrio para que a pessoa possa livremente

    exercitar direitos e assumir obrigaes na esferacivil.Com o objetivo de proteger algumas pessoas etambm de garantir a segurana jurdica da so-ciedade, a lei limitou a capacidade civil, preten-dendo evitar que pessoas sem discernimento, oucom discernimento reduzido realizem negcios

    jurdicos livremente. Para tanto, estabeleceu trsnveis diferentes de capacidade, quais sejam: acapacidade absoluta, a capacidade relativa e aincapacidade absoluta.5.1. Incapacidade absoluta:a absoluta incapa-cidade acarreta a proibio total do exerccio de

    direitos e da assuno de obrigaes. Somenteo representante do incapaz poder realizar o ato,em nome daquele, sob pena de nulidade (art. 166,I, do CC). O art. 3 do CC traz o rol das pessoasabsolutamente incapazes. a) Os menores de de-zesseis anos: a primeira hiptese de incapacidadeabsoluta diz respeito s pessoas que ainda nocompletaram a idade mnima de 16 anos. So oschamados menores impberes, ou seja, os queno atingiram suficientemente a maturidade paraparticipar da atividade jurdica. Os atos praticadospor tais pessoas sem o auxlio do representanteso nulos;b) Os privados do necessrio discer-

    nimento por enfermidade ou deficincia mental:nesta categoria de incapazes, a lei reuniu todosos casos de insanidade mental, permanente ouduradoura, caracterizada por graves alteraesdas faculdades mentais. A pessoa nessa condioprecisa ser interditada judicialmente (arts. 1.177 ess. do CPC), e os atos praticados por ela so nu-los; c) Os que, mesmo por causa transitria, nopuderem exprimir sua vontade: trata-se tambm,assim como no caso anterior, de uma expressogenrica, que, nesse caso, no se refere a pes-soas portadoras de molstia ou deficincia mentalpermanente, mas s que no puderem expressar

    sua vontade por causa transitria, como a pessoadesmaiada ou em transe, excessivamente embria-gada ou drogada. No h a necessidade de inter-dio judicial, mas os atos praticados no momentoem que estava nessa condio so nulos.5.2. Capacidade relativa: diferentemente daincapacidade absoluta, na capacidade relativa(que tambm pode ser denominada incapacidaderelativa), o incapaz pode praticar alguns atos davida civil livremente (por exemplo o casamento desde que autorizado; o voto, dentre outros), masoutros no. Para esses atos que no podem serrealizados livremente pelo incapaz relativamente,

    ele deve ser acompanhado por um assistente, sobpena de anulabilidade (art. 171, I, do CC). Assim,podemos dizer que os relativamente incapazestm algum discernimento, por isso no h a neces-sidade de representao, e sim, de assistncia.So descritos no art. 4 do CC. a)Os maiores de

    dezesseis e menores de dezoito anos: so os menorespberes. No se tratando de casos especiais (aceitarmandato, ser testemunha, fazer testamento, ser eleitoretc.), necessitam de assistncia, sob pena de anula-bilidade do ato, se o lesado no tomar providnciasnesse sentido e o vcio no vier a ser sanado. Nessescasos, diz-se que o ato anulvel;b)Os brios habi-tuais, os viciados em txicos e os deficientes mentaisde discernimento reduzido: tais pessoas se encontram

    habitualmente com o discernimento reduzido. Depen-dendo do caso h a necessidade de interdio e osatos praticados por estes incapazes sero anulveis;c) Os excepcionais sem desenvolvimento mental com-pleto: os excepcionais so aqueles que no possuemdesenvolvimento completo dos sentidos cognitivos aponto de ter discernimento para a prtica dos atos davida civil, como no caso dos surdos-mudos que no re-ceberam educao adequada. Todavia, se receberame puderem plenamente manifestar sua vontade, serocapazes; d) Os prdigos: a pessoa que destri seupatrimnio desvairadamente chamada de prdigo. Aprodigalidade no uma doena capaz de causar a

    completa alienao mental, mas um desvio (transtor-no) de comportamento. H a necessidade de interdi-o e ele ficar proibido de praticar, sem assistncia,os atos que importem envolvimento de seu patrimnio.Nesse caso, se os praticar, tais atos sero anulveis;e)Os ndios: ndios ou silvcolas so os moradores deselvas no integrados civilizao. O pargrafo nicodo art. 4 diz que a situao jurdica dessas pessoasser regulada por legislao especial. Tal lei o Esta-tuto do ndio (Lei n 6.001/73).

    6. Emancipao: a incapacidade cessa quando ces-sar sua causa (v.g. quando o menor alcanar 18 anos)ou pela emancipao (art. 5). A emancipao pode

    ser voluntria, judicial ou legal.6.1. Voluntria: aquela concedida pelos pais ao filhomenor que j conte pelo menos dezesseis anos com-pletos. Dever ser necessariamente feita por meio deescritura pblica, sob pena de nulidade;6.2. Judicial: concedida pelo juiz por sentena, de-vendo ser ouvido o tutor, sempre devendo o menor jcontar pelo menos dezesseis anos completos;6.3. Legal: aquela que decorre de certos fatores es-tabelecidos na lei, como o casamento, o exerccio deemprego pblico efetivo, a colao de grau em cursode ensino superior e o estabelecimento de economiaprpria, civil ou comercial, ou a existncia de relao

    de emprego, tendo o menor dezesseis anos comple-tos.

    LINK ACADMICO 2

    Direitos dapersonalidade

    1. Conceito:so chamados direitos da personalidadeos direitos inerentes prpria condio de pessoa.Podemos conceitu-los como os direitos subjetivos dapessoa de defender sua integridade fsica, integridadeintelectual e integridade moral.

    2. Atos de disposio do prprio corpo:nos termosda nossa legislao (arts. 13 e 14 do CC) quaisquer

    atos de disposio do prprio corpo so proibidos,quando importarem diminuio permanente da integri-dade fsica, ou contrariarem os bons costumes, salvoem caso de exigncia mdica. No entanto, ser con-siderada lcita essa disposio, tambm, para fins de

    transplante.Alm disso vlida a disposio gratuita do pr-prio corpo, no todo ou em parte, para depois damorte, desde que seja para objetivos cientficos oualtrusticos. No esqueamos que aps a morte apessoa deixa de ter personalidade jurdica, portan-to deixa de ser considerado sujeito de direitos.

    3. Tratamento mdico de risco: o art. 15 doCC dispe que ningum pode ser obrigado asubmeter-se a tratamento mdico, com risco devida, bem como a cirurgias. Assim, ainda que opaciente esteja diante de grave risco, desde queesteja consciente e em condies de optar, sersempre dele a escolha de submeter-se a eventualtratamento ou no.

    4. O Direito ao nome: nome a designao pelaqual a pessoa conhecida e individualizada nasociedade. Em certas situaes e para certas fina-lidades, a pessoa pode ser conhecida tambm porum pseudnimo. o caso, por exemplo, de algunsautores de obras literrias ou artsticas de modo

    geral. A lei protege tais pseudnimos, da mesmaforma que protege o nome (art. 19 do CC).No estudo do nome podemos vislumbrar doisaspectos: um aspecto pblico e um aspecto par-ticular ou individual.Temos o aspecto pblico, pois interesse do Es-tado que o indivduo seja clara e perfeitamenteidentificado e individualizado.De outro lado, no aspecto individual, encontramoso direito ao nome dito, garantido pelo art. 16 doCC. Esse direito inclui a possibilidade de us-lo,de proteg-lo contra exposio e utilizao indevi-da e contra a usurpao.

    5. A proteo palavra e imagem: o autorexerce poder sobre sua obra. Assim, tambm en-tre os direitos da personalidade (art. 20 do CC), in-sere-se a possibilidade de ele proibir a divulgaode seus escritos ou de de suas obras de qualquergnero. Ao mesmo tempo, o mesmo artigo preva proteo da imagem das pessoas, ou seja, aexposio ou divulgao da imagem de qualquerum deve ser expressamente autorizada por aque-la pessoa, salvo se autorizadas ou necessrias administrao da justia, pois so direitos da per-sonalidade.

    6. A proteo intimidade: sendo a vida privadada pessoa inviolvel, o juiz adotar, a requerimen-to do interessado, as providncias necessriaspara impedir ou fazer cessar ato contrrio a estasituao (art. 21 do CC). Caso o dano intimidade

    j tenha ocorrido, seja ele de natureza materialou moral, assegurado direito indenizao noapenas pelo Cdigo Civil, mas pelo prprio textoconstitucional (art. 5, X, da CF).

    Ausncia

    1. Conceito: considera-se ausente a pessoa quedesaparece de seu domiclio sem dar notcias

    de seu paradeiro e sem instituir procurador paraadministrar-lhe os bens.Ausncia o procedimento judicial estabelecidopela lei para que seja declarada a ausncia dapessoa natural, bem como que sejam tomadasprovidncias acerca do patrimnio do ausente.

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    aos consumidores.

    4. Responsabilidade civil da pessoa jurdica: as pessoas jurdicas de direito privado respondempelos atos de seus prepostos, tenham ou no finslucrativos (arts. 186 e 932, III, do CC). Sobre aresponsabilidade das pessoas jurdicas de direitopblico, o assunto est regulamentado no art. 37, 6, da CF e o art. 43 do CC, que proclama: Aspessoas jurdicas de direito pblico interno so ci-vilmente responsveis por atos dos seus agentesque, nessa qualidade, causem danos a terceiros,ressalvando direito regressivo contra os causado-res do dano, se houver, por parte destes, culpa oudolo.

    5. Extino da pessoa jurdica: a existncia dapessoa jurdica se encerra pelas seguintes causas(art. 54, VI, 2a parte, e arts. 1033 e ss, do CC.): a)Convencional: por deliberao de seus membros,conforme qurum previsto nos estatutos ou na lei;b) Legal: em razo de motivo determinante na lei- art. 1034; c) Administrativa: quando as pessoas

    jurdicas dependem de aprovao ou autorizaodo Poder Pblico e praticam atos nocivos ou con-trrios aos seus fins. Pode haver provocao dequalquer pessoa do povo ou do MP;d) Natural:resulta da morte de seus membros, se no ficouestabelecido que prosseguir com os herdeiros);e)Judicial: quando se configura algum dos casosde dissoluo previstos em lei ou no estatuto e asociedade continua a existir, obrigando um dosscios a ingressar em juzo.

    Domiclio

    1. Conceito:domiclio o local em que a pes-

    soa pode ser encontrada para atender os seuscompromissos legais, ou as suas obrigaes as-sumidas. Assim, a pessoa poder, por vezes, termais de um domiclio diferente, para mais de umafinalidade.

    2. Domiclio da pessoa natural: o art. 70 do CCconsidera domiclio da pessoa natural o lugaronde ela estabelece a sua residncia com nimodefinitivo. A pessoa pode ter tambm mais de umdomiclio, pois o Cdigo Civil admite essa plura-lidade. Para isto, necessrio que tenha vriasresidncias, onde alternadamente viva (art. 71do CC). Tambm considerado domiclio o lugaronde se exerce a profisso (domiclio profissional).Se a pessoa trabalha em mais de um lugar, cadaum deles ser considerado domiclio para as rela-es que lhe corresponderem (art. 72, pargrafonico, do CC). possvel tambm, segundo o art.73, algum ter domiclio sem ter residncia fixa,o chamado domiclio ocasional. Considera-se, en-to, domiclio o lugar onde for encontrado.O domiclio voluntrio (fixado livremente), podeser geral ou especial. Diz-se que ser especialquando se tratar de foro contratual ou de eleio(art. 78 do CC). J o domiclio necessrio es-tabelecido pela lei, por isso tambm chamado delegal e se d em razo da condio ou situaode certas pessoas. O pargrafo nico do art. 76estabelece que o domiclio necessrio do incapazser o do seu representante ou assistente; o doservidor pblico, o lugar em que exercer perma-

    nentemente suas funes; o do militar, onde servir e,sendo da Marinha ou Aeronutica, a sede do comandoa que se encontrar imediatamente subordinado; o domartimo, onde o navio estiver matriculado; o do preso,o lugar onde cumprir a sentena.

    3. Domiclio da pessoa jurdica: o art. 75 do CC de-termina que o domiclio da Unio o Distrito Federal;dos Estados e Territrios, as respectivas capitais; doMunicpio, o lugar onde funciona a administrao mu-nicipal. O das demais pessoas jurdicas, incluindo-sea as de direito privado, o lugar onde funcionam asrespectivas diretorias e administraes ou onde ele-gem domiclio especial no seu estatuto ou atos cons-titutivos.

    LINK ACADMICO 4

    Bens

    1. Conceito:se as pessoas so os sujeitos de direito, preciso que esses direitos sejam exercidos sobrealgum objeto. Sobre esses objetos que se desenvol-vem os poderes de fruio das pessoas. Os objetos do

    exerccio do direito so denominados bens.1.1. Distino entre coisa e bem:o Cdigo Civil de1916 no fazia clara distino entre o conceito de coisae o de bem, utilizando-se a cada tempo de um dessestermos para denominar os objetos de direito.

    Por outro lado, o Cdigo de 2002 utiliza sempre o ter-mo bem para se referir aos objetos de direito, evitandoo termo coisa. Entende a maioria dos autores que oobjetivo disso seria fazer uma clara distino entre oconceito de coisa e o de bem. Assim, coisa um con-ceito mais amplo do que bem. Inclui-se nesse conceitotudo aquilo que no pessoa,ou seja, tudo o que exis-

    te mas no tem personalidade jurdica.Bem, por sua vez, um conceito mais restrito, aplic-vel apenas s coisas suscetveis de apropriao pelohomem. Portanto, bem ser sempre alguma coisaconcreta de expresso econmica, passvel de apro-priao pelo homem.Em sentido amplo, o conjunto de bens pertencentes aum titular designado de patrimnio. Em sentido estri-to, o patrimnio abrange apenas as relaes jurdicasativas e passivas de que a pessoa titular, aferveiseconomicamente, ou seja, os bens avaliados em di-nheiro. Os bens so os objetos das relaes jurdicas.

    2. Classificao: a classificao dos bens pode ser di-

    vidida em dois grandes grupos: classificao dos bensem si mesmos considerados e classificao dos bensreciprocamente considerados.A classificao dos bens em si mesmos considerados fundada na sua natureza, levando em conta suascaractersticas prprias e absolutas. Por esta classifi-cao podemos dividir os bens em: mveis e imveis;fungveis e infungveis; consumveis e inconsumveis;divisveis e indivisveis; singulares e coletivos.A classificao dos bens reciprocamente considera-dos, por sua vez, s pode ser aplicada quando compa-ramos os bens entre si, considerando as relaes quese estabelecem entre eles. Desse modo, no leva em

    conta critrios absolutos e caractersticas dos prpriosbens, mas, sim, critrios relativos, referentes relaodos bens em uma certa situao. Por essa classifica-o os bens podem ser classificados em principais eacessrios.

    Bens em si mesmosconsiderados

    1. Bens mveis e imveis:na prtica, os prin-cipais efeitos vislumbrados so: os bens mveisso adquiridos por simples tradio, enquanto osimveis dependem de escritura pblica e registrono Registro de Imveis; os imveis exigem auto-rizao conjugal para serem alienados; a usuca-

    pio de bens imveis exige prazos maiores; osdireitos reais de garantia so diferentes (hipotecae anticrese para imveis e penhor para mveis); odireito de superfcie s cabe em imveis.1.1. Bens imveis:consideram-se bens imveisas coisas que no podem ser removidas de umlugar para outro sem destruio (no se conside-rando neste conceito os imveis por determinaolegal). O art. 79 do CC assim descreve os bensimveis: o solo e tudo o que se lhe incorporar na-tural ou artificialmente. E o art. 80 complementatrazendo os imveis para os efeitos legais. Osbens imveis podem ser classificados assim: a)

    Imveis por natureza (o solo, com sua superfcie,subsolo e espao areo);b) Imveis por acessonatural (incluem-se aqui as rvores e os frutospendentes, bem como todos os acessrios natu-rais); c) Imveis por acesso artificial ou industrial:acesso quer dizer justaposio ou aderncia deuma coisa a outra. Diz-se que artificial porqueresulta do trabalho do homem (so as construese plantaes, ou seja, tudo quanto o homem incor-porar permanentemente ao solo, como a sementelanada terra, os prdios e demais construes,de modo que no se possa remover sem des-truio, modificao ou dano - excluindo-se as

    construes provisrias como circos, parques,barracas, pavilhes etc.). No perdem o carterde imveis: i)As edificaes que, separadas dosolo, mas conservando a sua unidade, forem re-movidas para outro local (casas pr-fabricadas);ii) Os materiais provisoriamente separados doprdio, para nele se reempregarem (art. 81 doCC). O art. 84 diz: os materiais destinados a algu-ma construo, enquanto no forem empregados,conservam sua qualidade de mveis; readquiremessa qualidade os provenientes da demolio dealgum prdio; d)Imveis por determinao legal(o art. 80 assim classifica os direitos reais sobre

    imveis e as aes que os asseguram e o direito sucesso aberta).1.2. Bens mveis: o art. 82 do CC considera m-veis os bens suscetveis de movimento prprio,ou de remoo por fora alheia, sem alterao dasubstncia ou da destinaco econmico-social.Tais bens se classificam em: a)Mveis por nature-za: so os semoventes (que se movem por foraprpria, como os animais) e os mveis propria-mente ditos (os que admitem remoo por forcaalheia, sem dano, como objetos inanimados, noimobilizados pela sua destinao). O gs, assimcomo os navios e as aeronaves, bem mvel.

    Os ltimos so imobilizados somente parafi

    ns dehipoteca (art.1473, VI e VII, do CC; art. 138 do C-digo Brasileiro de Aeronutica - Lei n 7.565/86);b)Mveis por determinao legal: so as energiasque tenham valor econmico, os direitos reais so-bre bens mveis (e as aes correspondentes) e

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    os direitos pessoais de carter patrimonial - comas respectivas aes - art. 83 do CC.

    2. Bens fungveis e infungveis: os bens fung-veis so os que podem ser substitudos por outrosda mesma espcie, qualidade e quantidade (art.85 do CC). Infungveis so os que no tm esseatributo, porque so considerados de acordo comas suas qualidades individuais, como o quadro deum pintor famoso. A fungibilidade ou a infungibili-dade resultam no s da natureza do bem, comotambm da vontade das partes. Por exemplo, umboi infungvel e, se emprestado a um vizinhopara servios de lavoura, deve ser devolvido. Sefoi destinado ao corte, poder ser substitudo poroutro (fungvel). Por outro lado, um quilo de p decaf fungvel e pode ser substitudo livrementepor qualquer outro. No entanto, se as partes acor-darem que aquela mesma embalagem de p decaf deve ser devolvida, marcando a embalagemde certa forma, ela passar a ser infungvel paraos fins daquele contrato.

    3. Bens consumveis e inconsumveis: pres-creve o art. 86 do CC que so consumveis osbens mveis cujo uso importa destruio imediatada prpria substncia (de fato, como os gnerosalimentcios), sendo tambm considerados taisos destinados alienao (de direito, como o di-nheiro). Ao contrrio, os bens inconsumveis soos que admitem uso reiterado, sem destruio desua substncia. Pode o bem consumvel tornar-se inconsumvel pela vontade das partes, comouma garrafa de bebida rara emprestada para umaexposio. Tambm pode um bem inconsumveltransformar-se em juridicamente consumvel,

    como os livros (que no so imediatamente des-trudos pelo uso) vendidos em uma livraria.

    4. Bens divisveis e indivisveis:considera o art.87 do CC divisveis os bens que se podem fracio-nar sem alterao na sua substncia, diminuioconsidervel de valor ou prejuzo do uso a que sedestinam. Um relgio, pois, um bem indivisvel,uma vez que cada parte no conservar as qua-lidades essenciais do todo, se for desmontado.Dispe o art. 88 do CC que os bens naturalmentedivisveis podem tornar-se indivisveis por determi-nao da lei ou por vontade das partes. Os benspodem ser indivisveis por natureza (os que no se

    podem fracionar sem alterao na sua substncia,diminuio de valor ou prejuzo), por determinaolegal (servides, hipotecas) ou por vontade daspartes (convencional).

    5. Bens singulares e coletivos: o art. 89 do CCproclama que so singulares os bens que, embo-ra reunidos, se considerados em si mesmos, in-dependem dos demais. So considerados na suaindividualidade, como uma rvore. Mas a rvorepode ser bem singular ou coletivo, conforme sejaconsiderada - individualmente ou agregada a ou-tras. Uma floresta um bem coletivo. Os bens co-letivos so chamados, tambm, de universais ouuniversalidades e abrangem as universalidades defato e as universalidades de direito. Segundo o art.90 do CC, universalidade de fato a pluralidadede bens que, pertencentes a uma mesma pessoa,tenham destinao unitria (rebanho, biblioteca).

    O pargrafo nico do mesmo artigo acrescenta queos bens que formam a universalidade podem ser ob-

    jeto de relaes jurdicas prprias. J o art. 91, afirmaser universalidade de direito o complexo de relaes

    jurdicas, de uma pessoa, dotadas de valor econmico(herana, patrimnio, fundo de comrcio).

    LINK ACADMICO 5

    Bens reciprocamenteconsiderados

    Nesta modalidade, os bens so classificados em prin-cipais e acessrios.

    1. Principal: o bem que tem existncia prpria, queexiste sobre si, abstrata ou concretamente. O nicobem que ser sempre e invariavelmente consideradoprincipal o solo.

    2. Acessrio: aquele bem cuja existncia dependedo principal (art. 92 do CC). Por tal definio, como re-gra, o bem acessrio segue o principal (accessoriumsequitur suum principale). Para que tal princpio noseja aplicado, necessrio que tenha sido conven-

    cionado o contrrio ou de modo contrrio estabeleaalgum dispositivo legal. Tal regra traz algumas con-sequncias, a saber: a) A natureza do acessrio a mesma do principal; b) O acessrio acompanha oprincipal em seu destino; c)O proprietrio do principal proprietrio do acessrio.Na classe dos bens acessrios compreendem-se osprodutos, os frutos, as pertenas e as benfeitorias(arts. 93 ao 97 do CC).

    3. Produtos: so as utilidades que podem ser retira-das da coisa, diminuindo-lhe a quantidade, porque nose reproduzem periodicamente, como as pedras e osmetais. Esgotam-se em razo da explorao.

    4. Frutos: so as utilidades que podem ser retiradasda coisa (exploradas), mas que no se esgotam emrazo dessa explorao. Renovam-se periodicamente.No acarretam a destruio da coisa, no todo ou emparte. Os frutos podem ser:a) Naturais (os que se de-senvolvem e se renovam periodicamente, em virtudeda fora orgnica da natureza, como as frutas das r-vores, crias dos animais);b)Industriais (os que surgempelo trabalho humano, ou seja, aparecem em razo daatuao do homem sobre a natureza, como a produ-o de uma fbrica); c)Civis (rendimentos produzidospela coisa em virtude de sua utilizao por outrem queno o proprietrio, como os aluguis e os juros).

    5. Pertenas:so os bens mveis que, no constituin-do partes integrantes, esto afetados de forma dura-doura ao servio ou ornamentao do outro, como asmquinas agrcolas destinadas a uma melhor explora-o da propriedade. Importante lembrar que, no casodas pertenas, no se aplica a regra geral do acess-rio segue o principal. Aqui , ao contrrio, a regra oacessrio no seguir o principal. Como exemplo, bastarecordarmos a situao de venda de um imvel: emregra quando vendemos um imvel a moblia que oguarnece no acompanha o imvel, no obstante sejapertena do bem. Para que a casa seja vendida mobi-

    liada preciso que assim esteja pactuado no contrato,constituindo, portanto, exceo.

    6. Benfeitor ias: so tambm consideradas bens aces-srios. Diferenciam-se das pertenas fundamentalmen-te, porque fazem parte integrante do bem principal, ao

    contrrio daquelas. Dividem-se em trs categoriasdiferentes: necessrias, teis e volupturias. Sonecessrias as benfeitorias que tm porfim con-servar o bem principal ou evitar que se deteriore;teis as que aumentam ou facilitam o uso do bem;volupturias, as de mero deleite ou recreio, queno aumentem o uso habitual do bem, ainda que otornem mais agradvel ou sejam de elevado valor.Esta classificao no apresenta carter absoluto,

    uma vez que uma benfeitoria pode ser til em umasituao e volupturia em outra, como uma pisci-na construda em uma casa (volupturia) ou emuma escola de natao (til).

    LINK ACADMICO 6

    Fatos Jurdicos

    1. Conceito:tudo o que acontece nossa voltaso fatos: chuva, sol, nascimentos, mortes, aci-dentes, realizao de contratos, dentre outros.Alguns desses fatos tm relevncia para o Direito,outros no. Os fatos que tm alguma relevnciapara o Direito so denominados fatos jurdicos.

    2. Classificao: em sentido amplo, os fatos jur-dicos podem ser classificados da seguinte forma:2.1. Fatos naturais: so os fatos jurdicos emsentido estrito, aqueles que no dependem davontade humana para ocorrerem. Estes podemser ainda divididos em ordinrios - nascimento,morte, decurso do tempo, maioridade - e extraor-dinrios - terremotos, tempestades, raios e outrosfatos considerados caso fortuito ou fora maior.2.2. Fatos humanos: tambm denominadosatos jurdicos. So os fatos jurdicos que, paraocorrerem, dependem da vontade humana. Estes

    podem se dividir em atos lcitos e ilcitos. Os atoslcitos, por sua vez, podem ser divididos em trssub-classes:a)Ato jurdico em sentido estrito: ou ato meramen-te lcito. Nestes atos o efeito da manifestao devontade est predeterminado na lei, como na noti-ficao ou no reconhecimento de filho; b) Ato-fato

    jurdico: em que o efeito do ato no buscadonem imaginado pelo agente, mas decorre deuma conduta e reconhecido pela lei, como nocaso de um louco, casualmente, achar um tesou-ro; c) Negcio jurdico: o ato jurdico em que avontade tem atuao determinante. As partes po-dem, via de regra, definir uma srie de aspectosacerca do negcio. o mote principal de estudonos atos jurdicos.

    3. Negcio jurdico3.1. Conceito:negcio jurdico a declarao devontade privada destinada a produzir efeitos queo agente pretende e reconhecidos pelo ordena-mento. Os efeitos so a constituio, modificaoou extino de relaes jurdicas patrimoniais. Asregras do negcio so vinculantes, ou seja, soobrigatrias para as partes intervenientes.3.2. Classificao:3.2.1. Unilaterais, bilaterais e plurilaterais

    a)Unilaterais so os negcios que se aperfeioamcom uma nica manifestao de vontade, como otestamento, o codicilo, a instituio de uma funda-o, a aceitao e a renncia da herana, a pro-messa de recompensa; b) Bilaterais so os que se

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    aperfeioam com duas manifestaes de vontadeincidentes sobre um mesmo objeto. Esta incidn-cia se denomina consentimento mtuo ou acordode vontades e o melhor exemplo so os contratosem geral. Pode haver vrias pessoas nos plos darelao (ativo e passivo), sem, contudo, descon-figurar a bilateralidade, pois o contrato ainda terduas partes: uma passiva e uma ativa;c)Plurilate-rais so os negcios que envolvem mais de duas

    partes, como os contratos societrios com mais dedois scios.

    3.2.2. Gratuitos, onerosos e bif rontes: a)Gratui-tos so os negcios jurdicos em que s uma daspartes tem vantagens ou benefcios patrimoniais,como na doao pura e simples;b) Onerosos soos negcios em que ambas as partes auferemvantagens que correspondem a uma contrapres-tao, como na compra e venda ou na locao;c) So chamados bifrontes os negcios jurdicosque podem ser tanto gratuitos como onerosos, acritrio das partes nele envolvidas. o caso, porexemplo do contrato de mtuo ou de depsito.

    3.3. Planos do negcio jurdico: para que sepossa compreender melhor a teoria do negcio

    jurdico, preciso analis-lo sempre sob trs pris-mas - ou planos - diferentes. A correta percepoe distino desses trs planos essencial para acompreenso do negcio jurdico. Os planos sobos quais devemos analisar o negcio jurdico soo da existncia, o da validade e o da eficcia.

    3.3.1. Plano da existncia do negcio:o planoda existncia avalia a prpria realizao do neg-cio, ou seja, se existe de fato uma relao jurdicaentre as partes que possa ser considerada um

    negcio jurdico. Caso no sejam atendidos osseus requisitos, diremos que no existe negcio

    jurdico entre aquelas partes ou que se trata de umnegcio inexistente. So requisitos de existnciado negcio jurdico: partes, objeto e manifestaode vontade.a) Partes: so os agentes de criaodo negcio jurdico. No havendo partes, ou ain-da, no havendo todas as partes necessrias,no haver negcio. Assim, no poder haver umcontrato de compra e venda se no houver de umlado comprador e de outro vendedor. Somenteesto aptos a ser partes em negcios jurdicos osindivduos portadores de personalidade jurdica

    ou seja, as pessoas. Excepcionalmente poderorealizar negcios criaturas que no so pessoas,mas que, para os fins da lei, so autorizadas rea-lizao de certos atos (entes despersonalizados).Para exemplificar, no exemplo acima, do contratode compra e venda, imaginemos uma situao emque um homem deseja vender seu carro para umamesa ou uma porta. Evidentemente nesse casono pode haver negcio jurdico, pois a mesa oua porta no so sujeitos de direito e por isso nopodem ser partes em negcios jurdicos. Da, te-mos um negcio inexistente; b)Objeto: obejto aquilo que se pretende realizar com o negcio,

    qual a finalidade pretendida com ele. Por exem-plo, num contrato de compra e venda temos comoobjeto a prpria compra e venda de algum bem.Conforme o ngulo do qual se olha o contrato, sedo comprado ou do vendedor, o objeto poder ser

    a compra de uma casa, por exemplo, ou a venda deuma casa; c)Manifestao de vontade: o elemen-to que constitui propriamente o negcio. somente apartir da manifestao de vontade que se consideraconstitudo o negcio. Importante salientar que a mani-festao de vontade deve ser das partes envolvidas nonegcio. Manifestao de terceiros no ser capaz deconstituir negcio jurdico entre aquelas partes. Assim,se A e B so as partes no negcio, devero eles

    manifestar vontade para a constituio do negcio. Seeventualmente C manifestar vontade concordandocom o negcio, ele no se constituir, portanto trata-se de negcio inexistente. A manifestao de vontadepode ser expressa (palavra escrita ou falada, gestos,mmicas etc.) ou tcita (a que se infere da conduta doagente). Em alguns contratos, ela pode ser tcita, des-de que a lei no exija que seja expressa. O art. 111 doCC dispe que o silncio importa anuncia, quandoas circunstncias ou os usos o autorizarem e no fornecessria a declarao de vontade expressa

    3.3.2. Plano da validade do negcio:os elementosde validade do negcio esto previstos no art. 104 doCC e so: capacidade do agente (condio subjetiva);objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel(condio objetiva); forma prescrita ou no proibidapela lei.a)Capacidade do agente: a aptido paraintervir em negcios jurdicos como parte. A incapaci-dade de exerccio suprida pelos meios legais, comoa representao e a assistncia. Um negcio realizadopor um agente absolutamente incapaz, sem represen-tao ou assistncia, nulo. Um negcio realizado porum agente relativamente incapaz, sem representaoou assistncia, anulvel;b) Objeto lcito, possvel edeterminado ou determinvel: lcito o objeto que noatenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Pos-

    svel, diz-se da possibilidade fsica e jurdica de sua re-alizao . Se o objeto for impossvel, o negcio nulo.A impossibilidade fsica a derivada de leis fsicas enaturais. Impossibilidade jurdica ocorre quando o or-denamento expressamente probe negcios a respeitode determinado bem, como a herana de pessoa viva.O objeto tambm deve ser determinado ou determin-vel (indeterminado relativamente ou suscetvel de de-terminao no momento da execuo), como a vendade coisa incerta; c)Forma prescrita ou no defesa emlei: via de regra, a forma livre, portanto as partes po-dem celebrar os negcios por escrito, verbalmente, deforma pblica ou particular. nulo, porm o negcio

    jurdico quando no revestir a forma prescrita na leiou for preterida alguma solenidade que a lei conside-re essencial para a sua validade (art. 166, IV e V, doCC).

    3.3.3. Plano da eficcia do negcio:no plano da efi-ccia verificamos se o negcio j rene todas as condi-es necessrias para efetivamente gerar efeitos e, seele ainda est gerando efeitos, ou seja, se est dentrodaquilo que se denomina intervalo de eficcia, o pe-rodo de tempo em que o negcio gera seus regularesefeitos. Em regra o negcio jurdico comea a gerarefeitos no momento de sua constituio, mas, caso aspartes assim desejem, podero alterar o momento emque ele comea a gerar efeitos, bem como estabelecero momento em que ele deixar de gerar efeitos.Para interferir dessa forma no intervalo de eficcia donegcio, as partes subordinam os efeitos do negcio aum evento. Ocorrendo o evento esperado, o negciopassa a gerar efeitos, no ocorrendo, no gera efeitos.Caso as partes subordinem os efeitos do negcio a um

    evento futuro e certo, chamaremos a isso termo,caso subordinem a um evento futuro e incerto,chamaremos condio.

    3.4. Condio:o art. 121 do CC nos define con-dio como a clusula que, derivando exclusiva-mente da vontade das partes, subordina o efeitodo negcio jurdico a evento futuro e incerto. Afuturidade e a incerteza so requisitos para quese configure a condio. O art. 122 do CC dispeque so lcitas todas as condies no contrrias lei, ordem pblica ou aos bons costumes. E oart. 123 probe expressamente as condies queprivarem de todo efeito o ato; as que o sujeitaremao puro arbtrio de uma das partes; as fsicas ou

    juridicamente impossveis; as incompreensveisou contraditrias. A condio pode ainda sersuspensiva ou resolutiva. A condio suspensivaimpede que o ato produza efeitos at a realizaodo evento futuro e incerto ou, em outras palavras,impede a aquisio do direito, enquanto o even-to esperado no ocorrer. J a resolutiva a queresolve o direito transferido pelo negcio quandoocorrer o evento futuro e incerto.

    3.5. Termo: termo o dia em que comea ou se

    extingue a eficcia do negcio jurdico, portanto otermo est relacionado a evento futuro e certo. Otermo pode ser inicial ou suspensivo (dies a quo)e final ou resolutivo (dies ad quem). O termo ini-cial suspende o exerccio, mas no a aquisio dodireito (art. 131 do CC). Por ter certa semelhanacom a condio devido futuridade, o art. 135dispe que Ao termo inicial e final aplicam-se, noque couber, as disposies relativas condiosuspensiva e resolutiva. Termo e prazo no sosinnimos. Prazo o intervalo entre o termo ini-cial e o termo final, estando regulamentado nosarts. 132 a 134, do CC. Na contagem dos prazos,exclui-se o dia do comeo e inclui-se o do venci-mento (art. 132).

    3.6. Encargo: tambm chamado de modo, o en-cargo clusula acessria s liberalidades (doa-es, testamentos), pela qual se impe um nusou uma obrigao ao beneficirio. Em regra, identificado pelas expresses para que, a fimde que, com a obrigao de. Est regulado nosarts. 136 e 137, do CC.O encargo no impede a aquisio nem o exerc-cio do direito. S interfere no incio dos efeitos donegcio, porque, se o beneficirio da liberalidadeno aceitar o encargo, o negcio no gerar efei-tos, visto que a aceitao da liberalidade pressu-pe de imediato a aceitao do encargo.

    3.7. Elementos essenciais e acidentais do ne-

    gcio: os elementos do negcio jurdico se divi-dem em essenciais e acidentais. Os essenciaisso os requisitos de existncia e validade. So as-sim denominados, pois devem estar presentes emtodo e qualquer negcio, sob pena de o negciono ocorrer ou no ter validade. Os acidentais noso exigidos pela lei, mas so introduzidos pelaspartes para subordinar a eficcia do negcio. Soa condio, o termo e o encargo.

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    Invalidade donegcio Jurdico

    1. Ato inexistente, nulo e anulvel: na teoria donegcio jurdico, como vimos, importante distin-guir os planos da existncia e da validade do ne-gcio. Havendo um defeito quando aos requisitosde existncia, o negcio jurdico ser inexistente.Constitui um nada no mundo jurdico.

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    Tratando-se, no entanto, de um problema no planoda validade, poderemos estar diante de um neg-cio invlido. A invalidade do negcio poder ocor-rer quando o negcio for nulo ou anulvel.O negcio ser nulo quando ofender preceitos deordem pblica, aqueles que interessem a toda so-ciedade. Assim, quando o interesse pblico lesa-do, a sociedade o repele, eivando-o de nulidade,para evitar que produza os efeitos esperados pelo

    agente. O negcio ser anulvel, quando a ofensaatingir o interesse particular protegido por lei, semse falar em interesse pblico. A anulao do ato facultada s partes e este ser considerado vlidose os interessados o confirmarem e no promove-rem, nos prazos legais, a sua anulao.

    2. Diferenas entre nulidade e anulabilidade: considera-se nulo (art. 166 do CC) o ato quandopraticado por pessoa absolutamente incapaz,quando seu objeto for ilcito, impossvel ou indeter-minvel, quando for ilcito o motivo determinante,comum a ambas as partes, quando no revestir aforma prescrita em lei, quando for preterida algu-

    ma solenidade que a lei considere essencial parasua validade, quando tiver por objetivo fraudar leiimperativa e quando a lei expressamente o de-clarar nulo ou proibir-lhe a prtica, sem cominarsano. Ser nulo tambm o negcio simulado(art. 167 do CC).J a anulabilidade visa, em regra, proteco doconsentimento ou diz respeito incapacidade doagente, pois o art. 171 declara que, alm dos ca-sos expressamente mencionados na lei, anul-vel o negcio jurdico por incapacidade relativa doagente e por vcio resultante de erro, dolo, coao,estado de perigo, leso ou fraude contra credo-

    res. Alm das j citadas acima, podemos apontartambm como diferenas entre a anulabilidade ea nulidade: a)A anulabilidade declarada no in-teresse privado da pessoa prejudicada, enquantoa nulidade declarada no interesse da prpriacoletividade, de ordem pblica;b) A anulabilida-de pode ser suprida pelo juiz, a requerimento daspartes ou sanada, expressa ou tacitamente pelaconfirmao (art. 172) enquanto a nulidade nopode ser sanada pela confirmao nem supridapelo juiz; c) A anulabilidade no pode ser decla-rada de ofcio, pois depende de provocao dosinteressados (art. 177) e no opera antes de julga-

    da por sentena e o efeito de seu reconhecimento, portanto, ex nunc (de agora, ou seja, a partir dasentena) enquanto a nulidade deve ser pronun-ciada de ofcio pelo juiz (art. 168, pargrafo nico)e seu efeito ex tunc (de antes), pois retroage data do negcio para lhe negar efeitos;d) Ocorredecadncia da anulabilidade em prazos mais oumenos curtos, pois, quando a lei no dispuser quedeterminado ato anulvel, sem estabelecer pra-zo para pleitear-se a anulao, ser de dois anos,a contar da data da concluso do ato (art. 179),enquanto o negcio nulo no se valida pelo decur-so do tempo nem pela confirmao (art. 169); e)

    O negcio anulvel produz efeitos at o momentoem que decretada a sua invalidade (naturezadesconstitutiva), enquanto o ato nulo no produznenhum efeito e o pronunciamento judicial sobre anulidade produz efeitos retroativos at o momentoda emisso da vontade (natureza declaratria).

    Defeitos donegcio Jurdico

    Como mencionado anteriormente, o Cdigo Civil es-tabelece que ser anulvel o ato que for praticadocom vcio (ou defeito), exceo da simulao, quetorna o negcio nulo. Assim, passamos a analisar maisaprofundadamente os chamados vcios ou defeitos donegcio jurdico.

    Os vcios do negcio podem ser divididos em dois gru-pos, quais sejam: o dos vcios do consentimento e odos vcios sociais.

    1. Vcios do consentimento: vcios do consentimento,como o prprio nome j indica, so aqueles que afetamo consentimento, ou seja, a manifestao de vontade.Ocorrem no momento em que a parte vai manifestarvontade concordando com a realizao do negcio einfluenciam de alguma forma essa manifestao devontade, ou seja, a parte s concorda com a realizaodo negcio em razo do vcio. Nesse caso, o negcioser anulvel. So vcios do consentimento o erro, odolo, a coao, o estado de perigo e a leso.

    2. Erro ou ignorncia: o Cdigo Civil equipara erro ignorncia, pois erro a falsa idia da realidade,mas entende-se por ignorncia o completo desconhe-cimento da realidade. Para tanto, dispe o art. 138que so anulveis os negcios jurdicos, quando asdeclaraes de vontade emanarem de erro substan-cial que poderia ser percebido por pessoa de diligncianormal (erro escusvel), em face das circunstncias donegcio. Ento, no erro, o agente engana-se sozinho.A parte que erra a pessoa de diligncia normal. Esubstancial o erro sobre as circunstncias e aspectosrelevantes do negcio. Para que se anule o negcio, oerro deve ser a causa determinante, ou seja, se a parteconhecesse a realidade, o negcio no seria celebra-do. Alm disso, esse erro deve causar efetivo prejuzo parte, no cabendo anulao por mero capricho (erroreal). Assim, podemos dizer que, para que o erro sejacausa de anulao do negcio, ele deve, simultanea-mente, ser substancial, escusvel e real.

    3. Dolo: dispe o art. 145 do CC que so anulveisos negcios jurdicos por dolo, quando este for suacausa. O dolo o induzimento malicioso de algum prtica de um ato que lhe prejudicial, mas deproveito ao autor do dolo ou a um terceiro. Tambmcaracteriza-se dolo quando, a seu despeito, o negcio

    seria realizado, embora por outro modo. Nesse caso,s obriga satisfao de perdas e danos (art. 146 doCC). Para ser causa de anulao o dolo deve ser acausa principal da realizao do negcio, ou seja, se aparte iria realizar o negcio de toda forma, mesmo queno houvesse dolo, no cabe a anulao.

    4. Coao: coao toda ameaa ou presso exerci-da sobre algum para for-lo, contra a sua vontade, apraticar um ato ou realizar um negcio, mas nem todaameaa configura coao.Na coao a parte realiza o negcio em razo de umfundado receio de dano grave e iminente contra simesmo, pessoa de sua famlia ou contra seus bens.

    Especifica o art. 151 do CC os requisitos para que a co-ao possa viciar o consentimento, tornando o negcioanulvel: a)A coao deve ser a causa do ato;b)Deveser grave;c)Deve ser injusta; d)Deve ser de dano atu-al ou iminente;e)Deve acarretar justo receio de dano;

    f)Deve constituir ameaa de prejuzo pessoa oua bens da vtima ou a pessoas de sua famlia.Caso a ameaa seja voltada a pessoas que noso da famlia da parte, o juiz decidir caso a casose trata-se ou no de coao.Estabelece, ainda, o Cdigo Civil que no caracte-riza coao a ameaa do exerccio regular de umdireito e o mero temor reverencial.

    5. Estado de perigo: o estado de perigo ocorrequando algum, com necessidade de salvar-se oua pessoa de sua famlia, de grave dano conhecidopela outra parte, assume obrigao excessiva-mente onerosa. o que ocorre no j tradicionalexemplo da exigncia de cheque-cauo em hos-pitais. O hospital, aproveitando-se da situao emque se encontra a outra parte, que necessita darpronto atendimento pessoa de sua famlia ou,por vezes, a si mesma, necessitando savar-se degrave dano, faz com que esta concorde com ne-gcio jurdico com o qual numa situao normalno concordaria.O estado de perigo no se confunde com a coa-

    o, pois naquela existe a ameaa de um danofuturo (ainda que iminente) e, no estado de perigo,o dano j est em processo de ocorrer, indpen-dentemente da atuao da parte que ir se bene-ficiar ou de terceiro conscientemente direcionadopara isso. A parte apenas se aproveita do fato parabeneficiar-se no negcio.

    6. Leso:a leso configura-se quando h um de-sequilbrio nas obrigaes assumidas no contrato.Quando algum assume obrigao excessiva-mente onerosa, em razo de necessidade ou deinexperincia, configura-se leso.

    Importante observar na leso que o negcio j constitudo em situao de desequilbrio, ou seja,desde o momento da constituio a prestao e acontraprestao no esto em p de igualdade;h evidente desproporo entre elas. muitoimportante prestar ateno a este fato para noconfundir a leso com a resoluo do contrato poronerosidade excessiva, que nada tem a ver como assunto.

    7. Vcios sociais: se os vcios do consentimentoocorrem no momento da manifestao de vonta-de e, em razo disso, afetam somente as partesenvolvidas no negcio (pois somente elas mani-festam vontade para a constituio do negcio),os vcios sociais recebem esse nome justamenteporque extrapolam os limites do negcio e afetamterceiros que no so parte no negcio. So vciossociais a fraude contra credores e a simulao.

    8. Fraude contra credores:a fraude contra cre-dores praticada com o intuito de prejudicar ter-ceiros, ou seja, os credores. Com o desfazimentodo patrimnio, perde-se a garantia de se pagar advida. Ocorrer a fraude contra credores, se odevedor desfalcar maliciosamente e substancial-mente o seu patrimnio a ponto de no garantir

    mais o pagamento de todas as dvidas, tornando-se insolvente, com seu passivo superando o ativo.O objetivo o prejuzo do credor decorrente da in-solvncia do devedor. E no s nas transmissesonerosas pode ocorrer fraude contra credores.Tambm pode ocorrer em atos de transmisso

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    gratuita de bens (doaes) ou remisso (perdo)de dvida, pagamento antecipado de dvidas vin-cendas e constituio de garantias (hipoteca, pe-nhor, anticre-se) a algum credor quirografrio, jestando o devedor insolvente. A fraude torna osnegcios de transmisso anulveis e protege aboa-f do adquirente.Como a fraude contra credores envolve prejuzoapenas para o interesse privado (credores), torna

    o negcio anulvel e no nulo.

    9. Simulao: simulao uma declarao falsa,enganosa, da vontade, visando aparentar negciodiverso do efetivamente desejado. A simulao resultado do conluio entre as partes negociantes,visando obteno de efeito diverso daquele queo negcio parece conferir. A simulao tem, emregra, o objetivo de burlar a aplicao da lei. Trata-se, portanto, de interesse pblico, o que torna onegcio nulo.A simulao pode ser de dois tipos: simulao to-tal ou absoluta e simulao parcial, ou relativa. Nasimulao total as partes no pretendem realizarqualquer negcio, mas apenas o simulacro de umnegcio. Querem apenas representar que teriamrealizado um negcio que, em verdade, no foi.Na simulao parcial ou relativa as partes desejamrealizar negcio, mas pretendem ocultar o negcioque, de fato, pretendem ocultar, sob a aparnciade um outro negcio. Assim, por exemplo, algumdeseja realizar uma doao de imvel. Ao invs dedizer que estou doando, quero que todos pensemque compra e venda. Dessa forma, realizam osimulacro de uma compra e venda,ou seja, formal-mente realizam uma compra e venda, que, na pr-tica, jamais ser cumprida, seu preo nunca serpago, pois de fato trata-se de doao.

    10. Interpretao do negcio jurdico: o ele-mento principal do negcio jurdico a vontadedas partes nele envolvida. Por vezes, quando ex-teriorizada, por meio de sinais ou smbolos, a von-tade pode ensejar clusulas nem sempre claras.Desse modo, pode-se fazer necessrio interpretaro negcio e suas clusulas para tentar chegar omais prximo possvel da inteno das partes aorealizarem o negcio.Nos negcios do tipo contratos escritos, a anli-se do texto conduz, via de regra, inteno das

    partes. Portanto parte-se da declarao escritapara se chegar vontade das partes. Quando,porm, determinada clusula resta obscura ouduvidosa e um dos contratantes alega que norepresenta com fidelidade a vontade manifes-tada por ocasio da celebrao do contrato, oart. 112 do CC declara que, nas declaraesde vontade, atender-se- mais a inteno nelasconsubstanciadas do que ao sentido literal dalinguagem. regra de interpretao que os negcios jurdicosdevem ser interpretados conforme a boa-f e osusos do lugar de sua celebrao (art. 113). Desse

    modo, o intrprete presume que as partes estoagindo com correo e que tanto a proposta comoa aceitao foram feitas dentro de uma realidadeque ambas compreendem e entendem como ra-zovel. A boa-f nas relaes negociais presumi-

    da e qualquer alegao de m-f deve ser provada.

    11. Reserva mental: ocorre reserva mental quandoum dos declarantes manifesta vontade em um certonegcio, porm, interiormente, no deseja os efeitosdaquele negcio. Em outras palavras, o declarantepretende enganar a outra parte do negcio, escondesua verdadeira inteno, ou seja, no quer um efeito

    jurdico que declara querer. Mas, se a outra parte notem conhecimento da reserva, o ato subsiste e produzos efeitos que o declarante no desejava, pois aquiloque se passa na mente do declarante irrelevante noque se refere validade e eficcia do negcio jurdico.Apenas o que foi efetivamente exteriorizado, declara-do, pode ser levado em conta.No entanto, se o destinatrio da declarao tiver co-nhecimento da reserva, a soluo ser diversa. Oart. 110 do CC assim estabelece: A manifestaode vontade subsiste ainda que o seu autor haja feitoa reserva mental de no querer o que manifestou,salvo se dela o destinatrio tiver conhecimento.Portanto, no direito brasileiro, essa hiptese confi-gura ausncia de vontade, o que tornaria o negcioinexistente.

    LINK ACADMICO 8

    Prescrio e Decadncia

    1. Prescrio1.1. Conceito e requisitos: prescrio a perda dapretenso atribuda a um direito e de toda a sua ca-pacidade defensiva, em consequncia do no-uso,durante determinado lapso temporal. O art. 189 do CCenuncia que a prescrio se inicia no momento em queh a violao de direito. Tem como requisitos:a) Inrciado titular, ante a violao de um seu direito;b) Decurso

    do tempo fixado em lei.No prescrevem as pretenses: a) Que protegemos direitos da personalidade;b) Que se prendemao estado das pessoas; c)De exerccio facultativo(ou potestativo), em que no existe direito viola-do, como as destinadas a extinguir condomnio; d)Referentes a bens pblicos de qualquer natureza;e) Que protegem o direito de propriedade; f) Dereaver bens confiados guarda de outrem, a ttulode depsito, penhor ou mandato.

    1.2. Causas que impedem ou suspendem a prescri-o:o art. 197 declara que no corre a prescrio en-tre os cnjuges na constncia da sociedade conjugal;entre ascendentes e descendentes, durante o poderfamiliar; entre tutelados ou curatelados e seus tutoresou curadores, durante a tutela ou curatela. O motivo,nesses casos, a confiana que existe entre as partes.O art. 198 declara que no corre a prescrio contraos absolutamente incapazes; contra os ausentes doPas em servio pblico da Unio, dos Estados ou dosMunicpios; contra os que se acharem servindo nasForas armadas, em tempo de guerra. O motivo apreocupao de proteger pessoas que se encontramem situaes especiais.O art. 199 declara que no corre prescrio pendendocondio suspensiva; no estando vencido o prazo;

    pendendo ao de evico. Entende-se, nesses ca-sos, que ainda no houve a violao do direito.1.3. Causas que interrompem a prescrio: a in-terrupo da prescrio, via de regra, depende de umcomportamento ativo do credor, pois qualquer ato de

    exerccio ou proteo ao direito violado interrompea prescrio, extinguindo o tempo j decorrido, quevolta a correr por inteiro. , portanto, instantneo oefeito da interrupo da prescrio (art. 202, par-grafo nico, do CC). As causas que interrompem aprescrio esto indicadas no art. 202 do CC.

    2. Decadncia2.1. Conceito e caractersticas: na decadn-cia h a perda de um direito previsto em lei. O

    legislador estabelece que certo ato dever serexercido dentro de determinado tempo, fora doqual no mais se efetivar, porque dele decaiuseu titular. O tempo age como requisito do ato eno nasce de violao de direito, mas de prazopara o exerccio.

    2.2. Disposies legais: prescreve o art. 207 doCC; Salvo disposio legal em contrrio, no seaplicam decadncia as normas que impedem,suspendem ou interrompem a prescrio. Osprazos decadenciais so fatais e peremptrios,no se suspendem nem se interrompem.O art. 208 do CC determina que se aplique decadncia o disposto nos art. 195 e 198, in-ciso I, que diz respeito aos incapazes. O art.209 determina nula a renncia decadnciafixada em lei. A irrenunciabilidade da prprianatureza da decadncia.

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    Direito Civil Parte Geral 1 edio - 2009

    Autor:ngelo Rigon Filho, advogado em SoPaulo. Mestre e doutorando em Direito Civilpela Faculdade de Direito da Universidadede So Paqulo (USP). Professor Universitrioem cursos de graduao e ps-graduao, nacadeira do Direito Civil. Professor de cursospreparatrios para a OAB e para as carreiraspblicas jurdicas.

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