guia de treino hema brasília

60
 SOCIEDADE DE COMBATE HISTÓRICO ESTUDO RECRIAÇÃO MEDIEVAL EM ARMAS  1 SCHERMA BRASÍLIA

Upload: luciano-bastos

Post on 04-Nov-2015

70 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Guia de Treino Hema Brasília para os interessados em Sword Combat no Brasil, ótimo material inicial. Disponível gratuitamente no site do grupo, boa leitura.

TRANSCRIPT




José Manuel Nunes Vilar
WU SHU GALICIA, ESPANHA
Bernardo Tepedino, Estevão Fernandes, Filipe Rodrigues,
 

APRESENTAÇÃO
 uando se trata de esgrima medieval, há uma série de fatores  que podem atrapalhar os treinos, tal como a ausência de  métodos em português, um sistema de regras e uma direç ão sobre
equipamento, manuais, tradições etc.
 Para tornar nossa arte mais sólida (em especial no Brasil) elaborei este guia com base nos modelos de treino das Salas de Armas da Europa e Estados Unidos.
 O sistema de regras como a duração dos combates (assaltos) e  pontuaç ão também foram inspirados na esgrima olímpica, descendente direta da esgrima medieval européia.
 Cabe aqui também citar um pouco os exercícios de alongamento com espada nos meus tempos de Kendo, no Saga Dojo, que me fizeram  perceber que sendo em combate ou treinos há muito mais  semelhanças do que diferenças.
QUEM SOMOS
SCHERMA BRASÍLIA
 Scherma: Abreviação de Sociedade de Combate Histórico, Estudo e  Recriação Medieval em Armas. Também um trocadilho com a palavra  “Scherma” (se pronuncia “squêrma”), “esgrima ” em italiano.
 Somos um grupo voltado para o estudo das artes de luta do período  medieval em Brasília e região.
 Estudamos os antigos manuais de combate medievais e  renascentistas, em especial o Flos Duellatorum, a Flor das Batalhas.
Nosso escudo Nas cores de Brasília, escudo verde com espadas cruzadas por trás Elmo com a cruz em formato de flechas da bandeira do Distrito Federal,  seguida pelo dragão (conhecimento antigo oculto), a manopla (força e coragem), o livro e a pena (dedicação ao estudo da arte), finalizando na árvore (o fim do ciclo, o conhecimento apoiado e  gerado sob raízes firmes e fortes). Nosso lema:
HONOR VIRTUTIS PRAEMIUM
Q

SOBRE O AUTOR
GUIARONY MOREIRA MACHADO
 Instrutor, líder e fundador da Scherma Brasília, campeão de todas as arenas de combate dos Festivais Medievais de Brasília: Primus Inter Pares e  Mittellalter.
Amante das artes marciais ocidentais,  passando antes pelas artes do kendo, aikido e esgrima olímpica, tradutor e web designer, associado a Schola Saint George dos EUA, e membro fundador da  Espada –  Associação Ibero Americana de Esgrima Antiga, além de manter contato com escolas de artes marciais ocidentais de outras partes do mundo, como a Schola Gladiatoria de Londres, Sala de Armas de
 Cintra em Portugal, e Gallaecia In Armis, Espanha.
Contato  [email protected] / Facebook  guiaronyy
UM OBRIGADO ESPECIAL PARA
 Rosane Colaço (amada mãe), Mestre Paul Santinho (in memorian ao amado mestre/pai/irmão de armas), e família, Diana Walkiria,
 Estevão Fernandes, Filipe Rodrigues, Bernardo Tepedino, Henrique Aarstad, Lucas Nicândio, Mirna Barcelos, Samuel C. Arantes, Tácito  Silva, Valker Viana e Vinícius Pinheiro.
AOS IRMÃOS DE ARMAS AO REDOR DO MUNDO
 


que uma espada necessita de uma pedra de amolar
se quisermos que se mantenha afiada.”   - Tyrion Lannister
 ntende-se por esgrima como o combate em que são utilizadas armas brancas  para atacar e defender-se, em especial espadas. Inicialmente, era utilizado  para caça e sobrevivência. Entretanto, com a evolução das armas e da humanidade, passou a se tornar arma de combate, sendo abolida somente com o
surgimento das armas de fogo. Atualmente, existe a esgrima esportiva (esta dividida em três diferentes tipos de armas, a saber: espada, florete e sabre, representando os
 antigos armamentos utilizados em combate e treino) e a histórica, baseada nos  antigos manuais de combate.
esgrima (escrima do germânico skirmjan , "proteger"), em si tem uma origem de,  pelo menos, três mil anos. Pinturas egípcias e gregas mostram guerreiros empunhando espadas. A Bíblia também se refere a muitas espadas ao longo dos
dois testamentos. Um templo japonês construído em 1170 a.C. mostrava alguns guerreiros semidespidos empunhando armas pontiagudas com bicos de proteção.
esgrima nessa época era muito mais que um simples esporte —  era uma  maneira de combater, e como tal não havia nenhuma regra precisa; porém, surge a preocupação com a técnica para aplicar e defender-se dos golpes. Em Roma, existiam escolas de gladiadores onde se formavam os doctore armarum ,
especialistas na arte de combater com armas brancas para entreter o público. Na Idade Média, a esgrima se diversificou devido aos vários formatos de espadas e sabres existentes.
DA ANTIGUIDADE À ALTA IDADE MÉDIA (ANTES DE 1350)
 ão se sabe da existência de nenhum manual de esgrima  anterior à Baixa Idade Média (exceto por algumas  instruções de luta grega, embora a literatura Antiga e
 Medieval (Sagas Vikings e Contos Alemães) mencionam feitos e conhecimentos militares; além de arte do período mostrar combates e armamentos (Tapeçaria de Bayeux, a Bíblia Morgan). Alguns pesquisadores tentaram reconstruir antigos métodos de lutas como o Pancrácio e técnicas de combate dos gladiadores usando como referência estas
 fontes e testes práticos, embora estas recriações sejam mais especulativas do que  baseadas em instruções reais.
E
A
A
N

A escola alemã:
 figura central das artes marciais medievais na Alemanha é Johannes
Liechtenauer  . Pai da esgrima alemã, Liechtenauer nasceu provavelmente no começo do século XIV, possivelmente em Lichtenau, Mittelfranken (Francônia).
O que se sabe sobre ele, junto com seus ensinamentos, está preservado no Manuscrito 3227a e nos vários manuais dos seus alunos e sucessores. De acordo com esse
 manuscrito, Liechtenauer era um grande mestre que viajou por muitas terras para  aprender sua arte. Nos manuscritos do século posterior, a Sociedade Liechtenauer (Gesellschaft Liechtenauers) é conhecida como um grupo de mestres de esgrima que se consideravam discípulos de Liechtenauer, que detinham seus ensinamentos.
A escola italiana:
 primeiro manuscrito em língua italiana de que se tem  notícia é o manuscrito Flos Duellatorum de Fiore dei  Liberi, encomendado pelo Marquês de Ferrara por volta
de 1410. Neste manual, ele documentou técnicas que envolvem combate corpo-a-corpo, adaga, espada de uma mão, espada longa, lanças e alabardas, combate com e sem armadura. A esgrima italiana com armas medievais ainda é representada
 por Filippo Vadi (1482 – 1487).
O começo do período moderno (1500 a 1700) 
o século XVI, muitas técnicas do antigos manuscritos  foram reimpressas com as técnicas modernas de impressão, notadamente por Paulus Hector Mair (por volta de 1540) e Joachim Meyer (por volta de 1570).
 Neste século a esgrima alemã tendeu-se ao enfoque esportivo da arte. Os tratados de Paulus Hector Mair e Joachim Meyer descendem dos ensinamentos dos séculos
 anteriores na tradição de Liechtenauer, mas com novas e distintas características. O manuscrito de Jacob Sutor (1612) é um dos últimos da tradição alemã.
A escola italiana é representada pela Escola Dardi, com mestres como Antonio  Manciolino e Achille Marozzo. No final do século XVI, a rapieira italiana ganha  muita popularidade em toda a Europa, principalmente com o manual de Salvator Fabris (1606).
A
O
N

Lista com os grandes mestres da época e suas nacionalidades: 
- Antonio Manciolino (1531) (italiano) - Achille Marozzo (1536) (italiano) - Angelo Viggiani (1551) (italiano) - Camillo Agrippa (1553) (italiano) - Diogo Gomes de Figueiredo (1682) (português) - Jerónimo Sánchez de Carranza (1569) (espanhol) - Giacomo Di Grassi (1570) (italiano) - Giovanni Dall’Agocchie (1572) (italiano)  - Henry de Sainct-Didier (1573) (francês) - Frederico Ghisliero (1587) (italiano) - Vincentio Saviolo (1590) (italiano) - George Silver (1599) (inglês) - Luis Pacheco de Narváez (1600) (espanhol) - Salvator Fabris (1606) (italiano) - Nicoletto Giganti (1606) (italiano) - Ridolfo Capoferro (1610) (italiano) - Joseph Swetnam (1617) (inglês) - Francesco Antonio Marcelli (1686) (italiano) - Bondi' di Mazo (1696) (italiano)
O período moderno (1700 a 1918)
esde os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna (1896) a esgrima faz parte das modalidades olímpicas, sendo uma das quatro modalidades que fazem parte dos Jogos Olímpicos desde a primeira edição. As disputas masculinas começaram
 nas olimpíadas com o florete e o sabre em 1896. A espada foi introduzida nas disputas masculinas nos Jogos Olímpicos de 1900.
Em 1924 as mulheres começaram a participar dos jogos olímpicos, mas somente na  modalidade de florete individual, e até 1992 as mulheres continuaram a jogar somente na modalidade do florete. A partir de 1996 elas começaram a competir nas olimpíadas na modalidade da espada também. E a partir de 2004 elas começaram a competir nos jogos olímpicos com o sabre. Apesar do termo "luta de esgrima" ser
 frequentemente usado, no esgrimir nunca se tem uma "luta de esgrima" ou "luta esgrima", mas sim "jogar esgrima", pois a esgrima olímpica é um esporte, porém, a esgrima olímpica não é o foco deste guia.
D
10 
Por Pete Kautz; tradução de Bruno Cerkuenik
“Não há homem de armas que possa usar cortesia
ou bondade para enfrentar seu inimigo.”   – Fiore dei Liberi, 1410
urante a Idade Média, por volta dos séculos XIV-XV, os guerreiros da Europa desenvolveram um poderoso estilo de combate que provou ser igualmente vitorioso no campo de batalha em tempos de guerra, nas ruas para suprimir
 revoltas e para defesa pessoal. Esses homens lutavam duelos pessoais e judiciais  até a morte, assim como participavam de batalhas organizadas ou torneios. Embora os torneios possam nos parecer civilizados e fossem disputados com espadas cegas ou de madeira e juízes, eles normalmente acabavam com homens portando bestas envolvidos na disputa, tentando prevenir que seus cavaleiros fossem derrotados, capturados e usados para pedir resgate mais tarde por outro cavaleiro. Esqueça as
 noções de cavalaria que você possa ter sobre a vida desses homens  –   ou eles  matavam, ou eles morriam, simples. Quando as guerras avançavam pela Europa, técnicas de combate eram temperadas na forja da batalha, e guerreiros de cada país
 aperfeiçoaram suas técnicas para que pudessem passá-las para a próxima geração.
ssas técnicas de matar, conhecidas por homens que lutaram e sobreviveram a  muitas batalhas, se tornou parte de uma tradição militar oral, transmitida de um guerreiro a outro. Então, começando por volta de 1300, livros que
ensinavam técnicas de luta eram feitos em pequenas quantidades, cada um cuidadosamente reproduzido a mão. Alguns desses livros continham uma pequena quantidade de técnicas ilustradas, mas outras, como o trabalho de Fiori dei Liberi e Hans Talhoffer catalogavam literalmente centenas de técnicas individuais e contra-ataques. Por volta de 1400 esses manuscritos eram produzidos em um número
 maior, com vários autores escrevendo vários livros durante sua vida. E assim continuou pela Idade Média e pela Renascença, com livros escritos em vários países, embora a maior quantidade viesse do Império Romano-Germânico (Atualmente Alemanha, Áustria e Itália). Essa Era viu o peso do combate corpo-a-corpo Medieval, e essa foi a Era dourada dos “Fechtbuch” ou “Livros de luta”. 
ontudo, durante a Renascença, por volta dos séculos XVI-XVII, as coisas  mudariam com a invenção da imprensa e com os novos professores que aceitavam civis como estudantes. Durante a Idade Média, os livros de combate eram
 mantidos com os guerreiros profissionais, e as verdadeiras técnicas de matar e suas defesas eram guardadas como segredos.
D
E
C
11 
SCHERMA BRASÍLIA
o ano de 1410 o Flos Duellatorum (Flor das Batalhas) o mestre Italiano Fiori de Liberi diz que essas técnicas deveriam ser mantidas em segredos exceto
 “Para os especialistas em espadas para ajudar os guerreiros em tempos de
guerras, revoltas e duelos” e nunca deveriam ser revelados ao povo comum “Que
 foram criados por Deus sem capacidade como vacas apenas nascem apenas para carregar cargas pesadas”. Fiori nunca mostrou suas técnicas em público, exceto
quando as usava em batalha, e ele ensinou a seus estudantes atrás de portas  fechadas, fazendo-os jurar segredo sobre o que aprenderam. Ele escreveu seu livro quando estava velho, muito depois de suas técnicas serem necessárias, e sob o serviço do “mais ilustre mestre Niccolo Marquês de Ferrara, Modena, Parma, and
Reggio”, Que usaria seu livro para treinar seus cavaleiros.
 m um nível técnico, um dos primeiros elementos chave que você encontra ao ler os livros medievais e que eles contém uma grande quantidade de material de combate desarmado. Um cavaleiro medieval, um Homem-de-Armas, era de se
esperar que soubesse combate desarmado e com adagas assim como combate de espada e lança, com o qual os associamos hoje. Nos manuais de sobrevivência no campo de
 batalha, muitos continham longas seções de ataques desarmado, agarrões, defesa desarmada contra adaga, e combates com adagas. Técnicas desarmadas contra espada e adaga contra espada também eram mostradas. Os manuais mostram travas de juntas sistemáticas, quebras, arremessos, desarmes, contra-ataques, clinches, agarrões e
 agarrões em solo e mais. O sistema de combate desarmado é também totalmente  integrado ao combate de espada e lança, com a maior parte das técnicas mostradas envolvendo algum degrau de trabalho a curta distância.
ocê verá técnicas idênticas (particularmente arremessos e travas de braço)  feitas com todos as formas diferentes de armas, mostrando a natureza  integrada desse sistema. O Cavaleiro medieval realmente entendia como fazer
 a conexão entre as técnicas essenciais de combate, não importando o tipo de arma. Primariamente, esse era um estilo de luta baseado em armas, que usava agarrões de
 pé como um complemento às técnicas de combate armado, de maneira similar ao os treinos militares de hoje, usando ataques nos olhos, socos no queixo, joelhadas e chutes baixos. Luta no chão era usado basicamente pra manter o cara no chão tempo suficiente para você sacar sua espada ou adaga e furá-lo, ou segurar ele para os lanceiros possam perfurá-lo.
omente quando você via essas técnicas usadas em duelos judiciais ou duelos, onde ninguém fosse interferir com a luta, você veria os agarres como nós vemos hoje, sendo aplicados. Assim como aquelas usadas de pé, você verá
enforcamentos, quebras de perna e braços e muitas outras técnicas semelhantes sendo usadas no chão. A armadura era usada pra desgastar e cansar o oponente, e era comum ver homens pegando armas que caíram no chão, ou sacando uma adaga, enquanto agarravam.
N
E
V
S
12 
SCHERMA BRASÍLIA
s duelos eram grandes espetáculos, com preparações elaboradas de ambos os combatentes, envolvendo orações, banho ritual e mais. Ele deveria andar de seu pavilhão orgulhosamente, em frente a grande platéia, para o campo de
 batalha, e aí, não haveria ninguém lá alem de dois homens, um juiz e Deus. Muitas  imagens que temos desse período mostram imagens nesses padrões.
lém de usar várias outras armas, como a maça ou o machado, o guerreiro  medieval tinha que aprender a usar a armadura que ele vestia como uma arma.  Lutar com uma armadura real é bem diferente do que lutar sem armaduras, e
os Alemães usavam os termos “blousfechten” e “harnisfechten” pra descrever
combate em trajes normais e com armaduras, respectivamente. A armadura de placas e  a armadura de anéis daquele tempo incapacitavam muitos ataques de corte e  perfuração, permitindo ao usuário chegar perto e lutar com sua espada longa de uma maneira diferente, segurando no meio da lamina com uma mão e usando como uma
 baioneta, técnica cham ada de “halbschwart”, “half- sword” ou técnicas de “meia-  espada”, projetadas para entregar estocadas poderosas nas falhas da armadura.
Adicionalmente, a armadura seria usada pra desgastar o oponente no solo, e os cotovelos e joelhos pontudos poderiam fazer uma horrível pressão em um oponente sem armaduras. Até os sapatos da armadura (chamadas “sabatons” pelos franceses)
vinham com pontas usadas para chutar por baixo das armaduras ou, quando à cavalo, para chutar pessoas caso chegassem muito perto de você.
utar à cavalo era outra técnica que o cavaleiro devia aperfeiçoar. A lança era usada, junto com a maça e a espada, de cima do cavalo. Fiore dei Liberi, e outros, também mostravam muitas maneiras de usar técnicas de agarre para
tirar o adversário do cavalo. Ao lutar em um cavalo de guerra, o cavaleiro era uma  força imponente no campo de batalha. Pesando quase uma tonelada com seu cavalo, viajando a 35 milhas por hora, um cavaleiro montado deveria inspirar um verdadeiro terror em qualquer soldado o enfrentando a pé.
ssa completa arte de combate desarmado ocidental é muito mais antiga que estilos como Jiu-Jitsu, Aikido, ou Hapkido. A maioria das artes marciais ensinadas hoje tem mais ou menos 100 anos e podem ou não ter relação com
combate mortal. Muitas hoje são ensinadas para manter a saúde ou como meditação.  Nos livros de combate medievais, são ensinadas técnicas com mais de 500 anos de  idade, e eram usadas para matar. Muitos falarão da “Descendência Samurai” ou do
 “Espírito Shaolin”, fazendo-os parecer mais antigos, mas qual é a história verdadeira das técnicas do que eles ensinam? Elas foram desenvolvidas em separado, ou foram inspiradas em uma arte mais antiga? Com o Ocidente, a história das artes de combate foi preservada através dos manuais escritos dos mestres que sabiam que elas seriam usadas, tanto no campo de batalha como na rua.
O
A
L
E
13 
Significado de HEMA:
 rata-se de uma sigla em inglês para  "Historical European Martial Arts" (Artes  Marciais Históricas Europeias) se referindo  as técnicas de combate tradicionais
 praticadas na Europa, geralmente com espadas,  mas também há tratados sobre combate desarmado,  adaga, à cavalo etc. 
s técnicas se perderam por anos, porém hoje há uma  forte campanha de renascimento das artes europeias com base no estudo e interpretação dos antigos tratados de luta, o que leva a um grande esforço, pois
do mesmo modo que há textos bem detalhados, muitos outros são ilustrações com explicações breves, muitas vezes sendo uma referência para uma tradição oral/prática, daí muitas vezes algumas técnicas e manuais levarem anos de estudo.
grande desafio dos grupos de esgrima histórica é se aproximar o mais fiel  possível da tradição da época. Os documentos históricos atualmente utilizados  para reconstruir estas artes marciais perdidas começam pelo Fechtbuch MS
I.33, um manuscrito anônimo do século XII. Os ”Fechtbuch”, ou “livros de luta” em Alemão, são
 manuais que documentavam técnicas marciais para efeitos de treino, embora muitas vezes fossem concebidos como referência ou lista das técnicas transmitidas pelos mestres. 
Reenactment: Recriaç.ão Histórica
Recriacionismo histórico, ou Historical Reenactment, é uma prática educativa que tem por objetivo recriar
 alguns aspectos de um determinado período ou evento, havendo a possibilidade de se  focar em apenas uma grande batalha, como a de Hastings, na Inglaterra, ou em um  período que dure séculos, criando um conceito dinâmico de ensino, ao invés de apenas  apresentarem "resíduos" de uma época desprovidos de seus contextos.
Para maiores informações:
REENACTMENT BRASIL  www.reenactmentbr.blogspot.com.br
14 
15 
Por Denis Cabrera 
endo um documento de um colega da ESPADA vi que ao praticar HEMA há mais  razões do que pessoas, em especial no Brasil, mas muitos concordam que há uma  abordagem marcial para isso: treinamos técnicas de combate, e não (apenas) um
esporte. O problema com as técnicas destinadas a matar pessoas com armas projetadas  para matar pessoas é que, se você realizá-las corretamente, vai acabar matando  alguém. Isso significa que temos que comprometer seja na técnica, seja na arma ou,  mais provavelmente, ambas. É por isso que usamos armas de treino (zugadores),  proteções (máscaras, luvas) e abstemo-nos de algumas técnicas (Mordschlag, ataques contra as articulações, chutes na genitália, joelho etc).
uando treinamos durante as sessões ordinárias, mesmo quando fazemos combate  aberto, o ambiente é de cavalheirismo. Não há tensão nem stress real para executar a técnica como num duelo até a morte (à exceção do enorme interesse
em realizá-la corretamente e força de vontade para se concentrar nisso), porque  provavelmente você está tendo a chance de tentar novamente. Especificamente, nos  assaltos livres muitas vezes não há preocupação por ter sido atingido, porque é tudo simulação e ser atingido não tem um custo associado como seria na vida real - a
 própria vida, o mais provável.
entamos simular um duelo  "real" até a morte. É  impossível para nós para  recriar completamente o
 ambiente, é claro, e, especificamente, é impossível
 recriar o estresse, medo e  adrenalina que deve vir de tal situação.
 melhor substituto que encontramos para simular esse estresse é a competição: uma, onde apenas uma única
estocada ou corte bem colocado é o suficiente para jogá-lo fora da corrida, assim como em um combate real. Lutamos nossas competições tentando encontrar um equilíbrio entre a segurança, e a idéia de que cada combatente é potencialmente letal e devemos acima e antes de tudo proteger-nos de suas ações. Acreditamos que
 isso vai produzir uma boa técnica (se bem conservadora), e melhor recriar o que uma  arte de combate deve ser.
L
Q
T
O
16 
Benefícios físicos e psicológicos da prática de HEMA:
 prática de esportes é fundamental para a saúde e bem-estar do ser humano. Ela ensina valores fundamentais, como a autoconfiança, a inclusão social, o trabalho em equipe e o respeito pelas outras pessoas. Além de um esporte
HEMA são técnicas de combate que trazem toda uma carga histórica consigo, mas ao  praticá-la não se ganha apenas no conhecimento, mas também mais saúde, confiança etc. Segue abaixo uma lista com alguns benefícios da prática:
- Melhoria da auto-estima; - Maior poder de concentração ; - Condicionamento do corpo; - Reflexos mais apurados; - Desenvolvimento/aprimoramento da tomada de decisões; - Convívio social; - Humildade ao receber/dar instruções; - Maior resistência física; - Aumento na concentração; - Combate à depressão ; - Fortalecimento dos músculos e do coração ; - Manutenção da massa óssea; - Melhora no sono; - Combate o stress e muito mais;
Retorno ao medieval
uitos praticantes (senão todos) praticam esgrima medieval por amor ao período
 medieval e a mística em torno não só da época, mas de tudo que remete a ela: das espadas em si, aos cavaleiros em armaduras e
 aos combates com armas brancas. De fato os  manuais de esgrima medieval foram concebidos  por cavaleiros, nobres versados nas artes da guerra, porém há algo que deve ter sempre em
 mente:
 reinar esgrima medieval de maneira séria, real, envolve estudo, interesse,
 força de vontade comprometimento e  muito respeito. Isto você, praticante, sempre deverá ter em mente para que se crie um ambiente saudável dentro do seu círculo de treinos e aproveite de maneira saudável os treinos.
A
T
17 
O DECÁLOGO DO ESGRIMISTA
 m decálogo, originalmente, refere-se as 10 regras de Deus; como o próprio nome diz acima, aqui falaremos sobre as 10 regras para instruir um esgrimista no seu caminho de desenvolvimento físico, mental e espiritual. Vale lembrar que
este decálogo é usado na esgrima olímpica, porém perfeitamente aplicável na esgrima medieval. Use-o, sinta-o e de fato será um esgrimista melhor.
1
° -A ESGRIMA É UM DESPORTO DIFÍCIL, mas é o único em que poderás, aos cinquenta
 anos, enfrentar com vantagem um jovem de vinte;
2°-A ESGRIMA É UMA CIÊNCIA E UMA ARTE. Pela complexidade da sua técnica, mesmo os predestinados para este desporto só com treino assíduo podem atingir a
 perfeição;
3°-DEDICA-TE COM PERSEVERANÇA À LIÇÃO  e procura executar corretamente os  movimentos ensinados;
4°-NUNCA POUPE AS PERNAS. Do seu bom trabalho depende em grande parte o teu  futuro como esgrimista;
5°-NÃO PENSES ASSALTAR enquanto não te sentires senhor de boa execução;
6°-TRABALHA COM PERSISTÊNCIA E ASSIDUIDADE.  Serás compensado pelo progresso que verificarás;
7°-QUANDO ASSALTARES NÃO DESCUIDE  a prática da lição.  Nela irás corrigir os deslizes que no assalto te escapam e receber novas condições para continuares a
 progredir;
8°-QUANDO FORES BATIDO NO ASSALTO, NÃO DESANIMES.  Procura saber porque  perdeste e tenta remediar os erros que tiveres cometido;
9°-NÃO ESQUEÇAS, NO ASSALTO, que os teus recursos físicos são, em geral, comandados  pelo cérebro. Nunca combatas da mesma forma todos os adversários. Estuda-os  primeiro, pois o que é bom com um poderá ser perigoso com outro;
10°-NÃO ESQUEÇAS, FINALMENTE, que a esgrima é um desporto de correção e que, para dominar os adversários, precisa primeiro aprender a dominar-te a ti próprio.
U
18 
Por Estevão Fernandes 
omo este capítulo trata da filosofia por trás da esgrima medieval, nada mais  justo do que dedicar o texto de um dos membros-chave e um dos mais antigos da SCHERMA BRASÍLIA sobre as virtudes que devem ser seguidas por um
espadachim em seu caminho de descobrimento não só da arte do combate, mas de si  mesmo, como ser humano. Logo, elaborada e enumerada seguem as 11 virtudes:
A Honra
Talvez a mais importante das virtudes, a honra é a vida do espadachim. Em todos seus atos e palavras, em qualquer gesto, a honra deve estar presente como se sua vida dependesse disso, aliás, como poderá perceber mais a frente, ela realmente depende. O espadachim não vive para sua honra, ele vive a sua honra. Ou seja, sua honra não é uma simples parte de sua vida, e ao mesmo tempo ela é a sua vida! A honra engloba todas as outras virtudes, e ao mesmo tempo é por si só uma virtude
 independente. Engloba pois se formos analisar, a sinceridade, a justica, a dignidade, só são manifestas se forem a partir de um motivo honrado. Independente pois apenas
 a honra dita a vida do espadachim.
A Coragem
A coragem é de fundamental importância na vida do espadachim. Como dizem os 4 verbos, é necessária a coragem para o Saber, pois apesar do caminho ser aberto a todos, não são todos que tem a coragem de aprender seus ensinamentos. É necessária
 a coragem para o Querer, para enfrentar as consequências dos seus atos e para empregar o que lhe foi ensinado. É necessária a coragem para o Ousar, pois aquele que tem medo, nunca saberá o que poderia ter, e nunca terá o que queria. E
 finalmente é necessária a coragem para o Calar, para que seu ato possa ser  realizado e terminado.
O Conhecimento
 De nada valem as outras virtudes, sem conhecimento para aplicá-las...
A Curiosidade
 De que valeria a vida do espadachim sem a curiosidade de buscar mais, de querer conhecer coisas novas, sem buscar novas aventuras e novos ares? A curiosidade é uma virtude pouco compreendida, e se mal empregada, ou se não acompanhada das outras virtudes, leva a caminhos perigosos como as trevas. Portanto, o espadachim deve sempre ser curioso enquanto essa curiosidade acompanhar sua honra, sua dignidade e sua sinceridade.
C
19 
SCHERMA BRASÍLIA
A Fé
Ai está um ponto importante. O homem deve ter Fé. Não importa sua religião, seu credo, se o espadachim tiver fé em seu coração então o mundo lhe será dado.
 Nenhuma fé deve ser menosprezada, desde que essa seja uma fé verdadeira. Nenhuma  fé é invalida se for sincera. “todos os caminhos levam a roma” diz o antigo ditado. Todas as fés levam ao Todo.
A Sinceridade
A primeira sinceridade do espadachim deve ser para com ele mesmo. Sem isso,  nenhuma outra sinceridade é válida. O espadachim deve ser sincero para com seus  ideais, para com seu próximo. Faz parte de sua honra a sua sinceridade. Faz parte de sua dignidade sua sinceridade. Sua curiosidade deve ser sincera, do contrario o levara a caminhos obscuros. Sua fé deve ser sincera a ponto de não precisar ser testada.
O Respeito
O espadachim deve ter respeito por tudo na vida. Respeito para com a Natureza,  para com o próximo, para consigo. Com o respeito, se é respeitado. O espadachim deve ter respeito com os mais velhos, com as tradições e com a cultura, mesmo estes não sendo seus.
A Fortaleza
A forca de vontade atua junto de todas as outras virtudes, pois nenhuma seria desempenhada e guardada sem esta. É necessário forca de vontade para se ter fé,
 para se ter coragem e ser sincero. A forca de vontade é a base das virtudes do espadachim.
A Justiça
O espadachim deve ser justo em todas suas decisões e em todos seus atos. Dessa forma, todas as medidas devem ser tomadas para que um ato não prejudique ninguém, todas
 as decisões devem ser ponderadas de forma a serem as mais corretas possíveis.  Ninguém esta livre do erro, mas o espadachim deve fazer o máximo para minimiza-lo.
A Paciência
Tudo tem seu tempo e sua hora. O espadachim não deve nunca querer se adiantar  para uma tarefa ainda não alcançável, não deve nunca querer mais do que lhe pode ser dado, e deve sempre saber esperar pelo que está por vir. Não basta ter o conhecimento, não basta saber como usar. É preciso saber quando usar. Existe um tempo preparado para tudo o que você aprendeu. Cabe a você usá-lo no momento
 apropriado.
O Amor
 
20 
21 
“ Quando encontrar um espadachim, saque sua espada;
não recite poemas para quem não é poeta.”   - Clássico Budista Ch'na
os que desejam treinar esgrima medieval, devem se  pautar pelas regras de conduta do grupo, para que se crie um ambiente saudável e proveitoso para
todos na prática da arte e seu desenvolvimento. As  regras de conduta impõem limites, direitos e obrigações, sendo algumas direcionadas a alunos, outras a
 instrutores e outras, a todos os membros.
Da conduta do grupo em geral:
Simplesmente TODOS, tem a obrigação de agirem de  maneira cavalheiresca, sendo humildes e honestos em  reconhecer que estão lá acima de tudo para treinarem uma arte, e não em uma batalha (mortal ou não) para
 mostrar que é melhor do que os outros. A seguir as 10  regras gerais, direcionadas a todos os membros:
1  –   Segurança: Por se tratar de uma arte de combate, é evidente que haverá
contato físico, logo acima de tudo preze pela segurança sua e de seus colegas. Evite golpes muito fortes, certifique-se de que sua máscara, luva etc, estejam bem
 ajustadas, cuidado com golpes em áreas desprotegidas e as evite.
2
 –   Respeito:Respeito e cortesia devem pautar os treinos, não é permitido nenhum
tipo de insulto, discussão ou briga, ataques a um colega no treino e/ou fora deles, sob risco de expulsão imediata. Você tem todo o direto de não gostar, mas tem a obrigação de repeitar. Também não é aceito nenhum tipo de preconceito racial,
 religioso ou sexual. Sabemos que brincadeiras existem e sempre existirão, mas deve haver cuidado com palavras e gestos obscenos.
3  –  Humildade:Tanto alunos quanto instrutores devem manter a humildade, ambos
devem dar um bom exemplo, serem pacientes no ensino/aprendizado e de maneira  nenhuma criarem animosidades entre si.
4  –  Camaradagem:Além de treinar uma arte de combate, nos reunimos por causa de
um interesse em comum: a paixão pela esgrima medieval. Um clima de camaradagem vai ampliar seu círculo de amigos, seus conhecimentos (já que vão poder partilhar de outras coisas pós-treino) e o fará ganhar mais respeito com os colegas
A
22 
Da conduta do instrutor e requisitos para dar instrução:
 ada instrutor deve ter consigo mesmo este pensamento antes de iniciar qualquer aula: Quanto maior for sua experiência, maior deverá ser o seu exemplo. Logo, para ser instrutor além de
conhecimento e técnica prezamos acima de tudo o caráter. Eis as regras que todo instrutor deve seguir:
1  –  Conhecimento:Para correr, você deve antes aprender
 a andar. Aprenda os nomes dos golpes suas posições e  aplicações, execute-as sob a supervisão de um instrutor  mais experiente, estude suas progressões, para saber exatamente o que está fazendo e falando. Domine o que
 pretende instruir, estude sempre e revise.
2  –  Experiência: Com o advento de fóruns, Youtube e da
 internet em geral, o número de “especialistas” no assunto
 aumentou consideravelmente, logo surgem “mestres”,
 “instrutores” e “especialistas” o tempo todo, mas a maioria não sobrevive a lições  práticas e a falta de base/conteúdo nas suas explicações. Um aluno esforçado é  melhor do que um “mestre” com conhecimento parcial. 
3  –  Humildade:Você não sabe tudo. Tendo conhecimento, experiência e aprovação de
outro instrutor, o aluno passará a ser instrutor, sob observação dos membros mais  antigos e depois, se necessário, sozinho. Mas seja sob supervisão ou não, deverá  manter humildade e cortesia com os demais.
4  –  Responsabilidade:Instruir vai lhe trazer funções adicionais além de golpear
e explicar golpes, mas também verificar equipamentos, ensinar como usá-los corretamente, como fazer sua manutenção, organizar os alunos, ser mais ativo em questões internas do grupo, resolver pendências com alunos e em cima disso tudo treinar para manter-se apto a instruir, e estudar cada vez mais.
5  –  Educação paciência:Como instrutor você pode (e deve) erguer a voz em tom
 alto e claro para que entendam suas instruções, mas NUNCA deverá usar deste tom  para ofender o aluno, ou ridicularizá-lo se errar um golpe ou algo parecido. Se o aluno errar 6 vezes, sua função é corrigi-lo até acertar na sétima e assim por diante
6  –  Postura:Evite conduta inapropriada, agora você é um exemplo a ser seguido.
 Nada de fotos estúpidas com material de treino (seja no local ou não), se for postar  algo no grupo, faça uma revisão ortográfica, tenha cuidado redobrado com seu equipamento, chegue se possível com antecedência, não venha de ressaca, leia e colabore mais com artigos, estude mais e pratique mais. Seja um exemplo!
C
23 
Da preparação dos instrutores para o treino :
 m cada treino haverá no mínimo um instrutor, em certas ocasiões haverão dois ou mais. Para que os treinos transcorram de maneira fluída os instrutores devem agir da seguinte maneira:
1  –   Reunião pré-treino: Seja pessoalmente ou on-line, os membros deverão se
 reunir e confirmar presença. Em seguida determinar o conteúdo que será abordado  na aula e quem irá conduzir o treino.
2  –   O pré-treino em si:  Mesmo com tudo já definido, recomenda-se que os
 instrutores cheguem em horário mais cedo para uma última conversa antes de começarem a aula. O instrutor que conduzirá o treino deverá ser amparado pelos colegas, o ajudando na orientação dos alunos e, se necessário, participar das demonstrações dos golpes e suas aplicações.
3  –  Segurança: Como instrutor, é obrigatório e essencial verificar o equipamento
dos membros, e verificar se todos estão devidamente equipados e o grupo em ordem  para o início da instrução.
4  –  Recomendações: Mesmo que domine o tema revise antes, ensaie o quê, como e
quando dirá. Não abuse da sua autoridade, não mande aluno pagar flexões, não o ofenda, nem faça nada que o ridicularize na frente dos demais. Exija golpes corretos, se o aluno não o fizer, corrija-o até fazer corretamente. Peça aos alunos mais experientes orientar os recém-chegados, além de economizar tempo e não atrapalhar os mais antigos, é uma ótima preparação para um futuro
 instrutor, e este poderá ser avaliado como se sai ensinando os outros.
5  –  Pós treino:Avalie o grupo como um todo, faça observações com base no que viu
 no treino e fale de maneira coletiva (observações pessoais devem ser feitas no treino, diretamente com o aluno), elogiando os pontos positivos e cobrando os pontos
 nos quais devem trabalhar mais para melhorar. Faça deste momento uma hora para conversar sobre a filosofia aos membros, AGRADEÇA a presença, se possível registre tudo em fotos e vídeos, tanto para estudar o treino como para guardar de
 recordação a presença de todos. Se o tempo permitir saia com os colegas para beber,  rir e descontrair. As lições aprendidas são mais bem absorvidas assim.
E
24 
Da postura do aluno nos treinos:
o mesmo modo que os instrutores devem ter postura e serem comedidos em suas  palavras e ações o comportamento do aluno deverá ser exemplar. Já que está dispondo do seu tempo para treinar uma arte tão rara nos dias de hoje, então
 não desperdice seu tempo (e o dos instrutores e demais alunos) com atos tolos e desnecessários. Eis o que será cobrado de você como aluno:
1  –   Humildade: Com o advento da internet é possível aprender muito sobre
qualquer tema, inclusive esgrima medieval, porém querer trazer seu conhecimento só virtual pouco acrescenta ao grupo, que já tem uma didática pronta e trabalha em cima dela. Entenda que você está começando e como tal deverá
 mais ouvir e aprender do que qualquer outra coisa.
2  –   Sinceridade:  Não tenha medo de dizer que não
entendeu. Se a explicação não ficou clara peça ao instrutor que repita. Burrice não é você não entender, e sim mesmo tendo um instrutor na sua frente não tirar a dúvida.
3  –   Compromisso:  Não tenha medo de dizer que não
entendeu. Peça ao instrutor que repita. Burrice não é você  não entender, e sim ter alguém para tirar sua dúvida, mas  não perguntar. Tente não se atrasar, muito menos faltar. Evite ainda mais faltas seguidas ou um longo tempo sem treinar, além de ficar para trás em relação aos colegas.
4  –   Estudo: O treino vai além da aula prática. Leia, acompanhe fóruns, treine
sozinho em casa, se prepare fisicamente, estude !
 
25 
“ Voce tem a sua espada e seus truques.
Cada um luta com aquilo que lhes foi dado.”   - Caderno de Poesias e Frases Scarlat
 pós um alongamento, e a inspeção do material vamos ao treino. O instrutor deverá se posicionar a frente dos colegas de treino, que deverão estar em linha de frente para o instrutor ou então em um semi-círculo ao seu redor.
Feito isso deve-se saudar aos colegas, e estes devem repetir o gesto. Em seguida a aula do dia deverá ser apresentada e os treinos começam.
Do sistema de treino:
 artindo do básico a exercícios mais avançados devemos seguir uma linha-base  para o desenvolvimento do aluno. Eis as lições essenciais baseadas neste caso  na tradição italiana, mais especificamente Fiore dei Liberi, porém
 metodologia semelhante pode ser aplicada a outras tradições:
- Apresentação (quem foi Fiore, seu livro), uso da espada, pegada, postura etc. - Postas básicas e suas aplicações, equilíbrio, balanço. As quatro bestas. - Os cortes e os golpes ascendentes e descendentes, estocada, golpes/ contragolpes . - Ações com as guardas: Pulsativa, Stabile, Instabile. - Noção de espaço, direção, alvos, lutas de envolvimento, recondução e contato. - Posições: Guarda alta, média e baixa. - Zogho Largo & Zogho Stretto. e mais itens que serão desenvolvidos com o tempo.
A
P
26 
Um dia de treino:
Todo treino deve ser pautado pelas normas citadas no Guia, sendo assim tomaremos como exemplo um treino de espada longa com 4 pessoas:
1  –   Saudação: Primeiramente o instrutor deve saudar os colegas que já estão
 alinhados e prontos para o treino:
 
 
27 
4  –  Ação: Lição explicada, agora execute-a:
 
28 
SCHERMA BRASÍLIA
5  –  Avalição:Além de ver, treine com o aluno, avalie sua ação, reação postura etc.
6  –  Alterne: Duas linhas são formadas, uma ataca, outra defende, após executar um
 
29 
SCHERMA BRASÍLIA
7  –  Combatendo:Após os estudos dos golpes, incia-se o combate individual, então é
colocado o equipamento de segurança: luvas máscaras etc.
8  –  Finalizando:Faça a saudação aos colegas, reúna-os e converse sobre o treino,
 
30 
“ Alguns homens são como espadas: feitos para lutar.
Pendure-os, e enferrujam.”   -- Donal Noye, As Crônicas de Gelo e Fogo, Vol. II: A Fúria dos Reis.
Scambio di guarda: Drills. 
Termo “drill” se refere a exercícios das trocas de guarda em sequência. Trataremos as trocas de guarda com espada longa em seu termo de origem: Scambio di guarda. Estes exercícios serão úteis para decorar as guardas e suas
 posturas, podendo, com o tempo, alternar a sequência.
1- Saudação
2- Guardas
31 
32 
33 
“No fim, são as pequenas coisas que vencem uma batalha.” 
- Uthred Ragnarson, Crônicas Saxônicas.
Glossário Ilustrado 
om o intuito de facilitar o aprendizado colocaremos aqui uma série de termos da tradição italiana de forma ilustrada, através de fotos para uma melhor
 absorção do conteúdo das aulas. Mesmo assim este recurso serve para ajudar seu  aprendizado, de preferência sempre tenha um instrutor com você. Aqui não estão listados todos os termos, mas uma boa parte deles. Alguns terão semelhança e deverão ter suas diferenças explicadas pelo intrutor.
Guia Ilustrado de termos da tradição italiana
C
34 
35 
36 
37 
38 
39 
40 
41 
42 
Todas as artes têm comprimento e medida.”   -- Johannes Liechtenauer.
A anatomia de uma espada. 
uito foi dito neste guia sobre o uso da espada, mas ao manuseá-la deve-se entender sua anatomia e funcionalidade, abaixo um diagrama com as partes de uma espada. Alguns termos não são padrão, podendo sofrer variação.
Lâmina - a extensão de aço que forma a espada.
Faces  –  Os lados da lâmina.
Vinco - chamado de baixo-relevo de sangue ou calha, o vinco é um baixo-relevo estreito que corre pela maior parte da extensão de muitas espadas, serve para diminuir o peso da lâmina sem diminuir a resistência.
Ricasso - encontrado em algumas espadas, o ricasso é a parte sem fio da lâmina,  próxima à guarda. Era normalmente usada em espadas mais pesadas para permitir segurá-las com a outra mão, se necessário.
Espiga - porção da lâmina coberta pelo punho.
Guarda - peça de metal que impede a espada do oponente deslizar até o punho e cortar a sua mão.
Punho - sendo a empunhadura da espada, um punho é normalmente feito de couro,  arame ou madeira. Ele é preso à espiga da lâmina para proporcionar uma forma confortável de empunhar uma espada.
 
43 
Pegadas com a espada
s formas de se pegar a espada chamadas aqui de pegadas (também podendo chamar de “pegas” ), definem o tipo de ataque a ser realizado e também o tipo de guarda que está se usando. Os termos aqui citados são uniformes.
Pegada prono:  Mãos fechadas com as palmas das mãos olhando para baixo.
Pegada supina:  O oposto as palmas das mãos olham para cima.
Pegada alternada:  Cada uma das palmas das mãos olham para um lado diferente.
Pegada neutra ou de martelo: Pegada aonde o punho está em vertical, de fato como se segurasse um martelo.
Postura
 rata-se do alinhamento do corpo com um todo, cabeça tronco e membros em sintonia com a espada. É de suma importância a postura adequada, para
 atacar/defender e contra-atacar corretamente. É a partir da postura que se valerá seu jogo de pés e suas manobras com os braços e tronco, podendo se
 aproveitar do seu eixo e de sua área de ataque.
Ataques, defesas e contra  – ataques
 ada ação, seja de ataque, defesa ou contra ataque deriva da tomada de posição em função da avaliação pró-ativa de uma série de fatores que envolvem: Força, envergadura, física, idade  e experiência do oponente. Fiore dei Liberi
 apresenta e classifica as postas, posições ou guardas em 3 grupos no que concerne à AÇÃO e 3 grupos no que concerne à LOCALIZAÇÃO e :
TIPOS DE AÇÃO DAS GUARDAS
e baseando na aplicação mecânica e força dos golpes e seus movimentos, Fiore dei Liberi classificou as ações como três:
Pulsativa -  Representa a maior aplicação dinâmica da força de golpe. Exemplos: Tutta Porta di Ferro/di Donna/di Donna Sinistra.
Stabile - Permite a execução de defesa ou ataque com segurança. Exemplos - Breve/ Coda/Denti de Cinghiale/Mezzana Porta di Ferro.
Instabile - A espada encontra-se sempre em movimento procurando linhas de fuga,  ataque, contra ataque. Exemplos - Bicornio/Longa/ Corona/Finestra.
A
T
C
S
44 
ALTURA DAS GUARDAS
esumindo-se a Guarda Alta, Baixa e Média e de descanso cada tradição com sua terminologia adequada. Acrescente-se o termo "guarda de provocação",
 aquela em que você está a espera tanto de golpear e ou contra atacar, por exemplo: Posta di donna, que embora seja uma guarda média de descanso
também fica pela sua posição a iminência de a qualquer momento atacar ou a espera do avanço adversário. 
Altas - Finestra sinistra/Donna sinistra/Finestra destra/Donna destra.
Médias - Bicornio/Breve/Corona/Lunga.
Baixas - Coda Lunga/Dente di Cinghiale/Mezza Porta di Ferro/Tutta Porta di Ferro.
AS CINCO POSIÇÕES PRIMÁRIAS
45 
Motricidade 
 palavra motricidade refere- se a “ciência que estuda o movimento". Nela  incluímos a movimentação, e seu raio de ação e equilíbrio assim como coordenação e ritmo.
Direção/orientação
 No raio de ação do esgrimista as tradições falam sobre a "cebola", que define um  pouco as direções do ataque, em frente atrás, esquerda e direita, acima e abaixo.
A
46 
Marcha
Se refere ao modo de andar e recuar frente ao adversário, ou seja, os passos, feitos de forma ordenada, definindo seu avanço, recuo, giro e afundo.
Marcha de avanço  –   Marcha em linha reta em direção ao adversário.
Marcha de recuo  –  Indo para trás, recuando sem perder de vista o adversário.
Luta
Aqui observando os tipos de luta que se tem com os colegas podemos definir os modos de combate, com as suas modalidades:
Luta envolvente: Luta de contato físico, com travas, estrangulamento e derrubadas.
Luta de recondução: Usa a força do adversário a seu favor, para desequilibrá-lo, ou então troca-se de posição/guarda para forçar nova postura do oponente.
Luta de contato: Uso do pomo da espada e todo tipo de golpe que pode lesionar e por  assim minar as forças/defesas adversárias.
JOGO DE PÉS
 arte de uma boa postura com a espada envolve o seu jogo de pés e pernas. A postura básica consiste no pé esquerdo a frente, podendo variar com o pé direito.
Instância básica, pé esquerdo a frente. Instância básica, pé direito a frente.
P
47 
Marcha de avanço e recuo
Avanço à partir do pé esquerdo.  Recuo à partir do pé esquerdo. 
O movimento de ida/deslocamento para as laterais é chamado de “travessia” .
Travessia à esquerda. Travessia à direita.
O selo
As 8 direções que podemos tomar em um combate são: à frente, para trás, lateral esquerda e direita, avanço diagonal à esquerda e a direita e, por fim, recuo diagonal à esquerda e direita.
 
48 
SCHERMA BRASÍLIA
 nalisando o conceito de combate homem a homem, temos o conceito da porta, ou seja: uma área a sua frente aonde devemos passar, entrar e sair através de uma área específica. Observando as guardas e suas instâncias, então
enxergará a porta e como através das guardas temos a noção do campo de visão e as suas aplicações em combate.
A
49 
 
50 
51 
se esgrima é uma arte ou ciência
ouça minhas palavras."   -Philippo Vadi."
Equipando-se 
equipamento padrão varia de acordo com o tempo de treino de cada um, não sendo necessário comprar tudo desde o começo. O básico para treinos com espada longa envolve apenas roupa leve para a prática com a espada sendo
emprestada até que o aluno compre a sua. Uniforme e demais itens também conforme descrito abaixo.
UNIFORME
 Dividindo-se (nesta ordem) em camisa, gambeson, tabard, jaqueta, armadura e máscara.
Camisas - Assim como os demais materiais de treino, não é necessária sua aquisição  imediata, servindo mais para dar uma identidade junto ao grupo do que uma função específica. Nas cores da SCHERMA BRASÍLIA com a logo da espada (Associação Ibero-  Americana de Artes Marciais Medievais).
Onde Comprar?
 Diretamente com os membros da Scherma ou na nossa página do Facebook:  facebook.com/schermabrasilia 
Gambeson  –  Um jaqueta acolchoada usada no período medieval para lutas corpo-a- 
O
52 
SCHERMA BRASÍLIA
corpo, além de ajudar na proteção dos golpes devido ao seu acolchoamento.
Onde Comprar?
Em sites de equipamento para HEMA ou então encomendar com uma costureira que se disponha afazer, na média sai entre R$60 a R$ 160 de acordo com o pedido. 
Tabards  –  Uma túnica, geralmente usada por cima do gambeson, no caso das HEMA  funciona como referência ou ocasiões especiais como reuniões ou graduação de  membros. Por baixo pode-se usar um protetor peitoral.
Onde Comprar?
 
53 
SCHERMA BRASÍLIA
 mais simples basta usar umajaqueta de MotoCross. Ambas fazem a função da  armadura medieval., sai de R$250 a R$ 400.
Onde Comprar?
Em sites especializados e em lojas de equipamentos para moto. A jaqueta de HEMA você encontra no site: www.histfenc.com
Luvas  –   Não há um modelo padrão, aqui temos duas desenhadas para HEMA, mas uma luva de MotoCross também se adapta aos treinos. Saem entre R$80 a R$ 350.
Onde Comprar?
 
54 
SCHERMA BRASÍLIA
Máscaras  – O mesmo modelo usado na esgrima olímpica se usa na medieval, a máscara  a partir de 350N aguenta golpes da esgrima medieval.
Onde Comprar?
Em sites especializados para a esgrima como a Fleche (fleche.com.br). E também na Historical Fencing: www.histfenc.com
Espada  –  O modelo padrão da Scherma é a Zugadore, uma espada sintética, feita  pela Revival, o preço varia de acordo com o dólar, saindo de R$150 a R$ 250.
Onde Comprar?
você encontra no site: www.revival.us
 
55 
SCHERMA BRASÍLIA
Federschwert  –   Ou carinhsamente chamada de “Feder”, é um termo emprestado da escola alemã, da espada de metal usada nos treinos. Sem lâmina e sem ponta
 justamente para evitar acidentes.
Onde Comprar?
Pode ser feita sem muito mistério por um ferreiro, ou também na Historical Fencing:  www.histfenc.com
Outros itens  –  Protetores de garganta, peito, seios, genitália etc.
Onde comprar todos os equipamentos?
Absolute Fencing Gear  www.absolutefencinggear.com/shopping/shop.php/ cPath/111
Purpleheart Armoury  www.woodenswords.com
The HEMA Shop  www.thehemashop.com/
Praticar HEMA custa caro?
 
56 
57 
e pensada centenas de anos atrás."  
- Johannes Liechtenauer
lgumas regras sobre conduta e atitude tanto dos  alunos quanto dos instrutores já foram citadas aqui  no Guia de Treino, o que nos deixa neste capítulo
 apenas com um regulamento para questões internas da Scherma. Alguns itens ainda estão sob elaboração:
Associação
A Scherma Brasília é uma associação sem fins lucrativos, dedicada a prática e estudo das HEMA sem associação
 religiosa, partidária ou qualquer outra. Respeitamos a opção religiosa, sexual e política de cada integrante, não tolerando qualquer tipo de discriminação, podendo resultar em expulsão imediata.
Treinos
A metodologia de ensino deverá ser passada aos alunos e  revista antes com os instrutores sempre em local definido anteriormente.
Instrutores
O período mínimo para se tornar instrutor é de 3 a 6 meses para cada modalidade (adaga espada, lança etc), e cada aluno deverá ter um instrutor como seu
 responsável direto. O período de aprendizagem para ser instrutor varia podendo ser  reduzido ou estendido de acordo com o seu responsável.
Participação
Todo aluno tem direito a dar sua opinião sobre qualquer tema desde que seja feito de forma respeitosa, porém as decisões finais cabem aos membros mais antigos.
Treinos Adicionais
Qualquer membro pode participar de treinos de HEMA, swordplay, etc com outros grupos ou pessoas, mas a não ser que tenha permissão expressa da Scherma Brasília
 não pode declarar um treino em nome do grupo com outras pessoas.
Uniforme e equipamento
 Não sendo obrigatório, não exigi-se sua compra. As máscaras podem ter pinturas na grade, e de fornecedor diferente, desde que não descaracterize a prática de HEMA. 
A
58 
FONTES E REFERÊNCIAS
ste Guia não passa de uma referência cruzada de várias fontes, livros pessoas e associações ao redor do mundo que gentilmente cederam seu tempo, material e conhecimento para a concepção deste guia, eis as fontes de estudo:
LIVROS
Manual do Bom Combatente - José Manuel Nunes Vilar
Medieval Swordsmanship: Illustrated Methods And Techniques - John Clements
Mestrado de Armas - Fernando Brecha
O Livro da Ordem de Cavalaria - Ramon Lulio
OldSwordPlay - Alfred Hutton 
ESCOLAS DE HEMA
 www.gallaeciainarmis.info  www.facebook.com/gallaeciainarmis 
Schola Gladiatoria
 www.fioredeiliberi.org  www.facebook.com/historicalfencing
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
O Guia de Treino nada mais é do que uma ajuda em HEMA que ainda engatinha no Brasil, mas a cada nova edição (pois não quero que esta seja a única, e nem será)
 novos itens serão adicionados e mais coisas estão por vir. Esperamos que desfrute de cada momento do Guia e se empenhe no estudo da esgrima medieval. Boa sorte e muitos treinos!
E
59 
60