guia de estudos - comunicação e expressão

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  • 8/17/2019 GUIA de ESTUDOS - Comunicação e Expressão

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    Universidade Federal de Lavras UFLA

    Centro de Educação a Distância CEAD

    LEITURA E PRODUÇÃO DETEXTOSGUIA DE ESTUDOS 

    Helena Maria Ferreira

    Marco Antônio Villarta Neder 

    Raquel Márcia Fontes Martins

    Mauricéia Silva de Paula Vieira

    Lavras/MG2011

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    Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de ProcessosTécnicos da Bibl ioteca da UFLA 

    Leitura e produção de textos : guia de estudos / Helena Maria

    Ferreira ... [et al.]. Lavras : UFLA, 2011.

      85 p. : il. ; 20 x 26 cm.

     

    Uma publicação do Centro de Educação a Distância da

    Universidade Federal de Lavras.

      Bibliografia.

     

    1. Formação de professores. 2. Língua Portuguesa. 3. Linguística.I. Ferreira, Helena Maria. II. Neder, Marco Antônio Villarta. III.Martins, Raquel Márcia Fontes. IV. Vieira, Mauricéia Silva de Paula.V. Universidade Federal de Lavras. VI. Título.

    CDD 372.6

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    Governo Federal

    Presidente da República: Dilma Vana Rousseff 

    Ministro da Educação: Fernando Haddad

    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

    (CAPES)

    Universidade Aberta do Brasil (UAB)

    Universidade Federal de Lavras

    Reitor: Antônio Nazareno Guimarães Mendes

    Vice-Reitor: José Roberto Soares Scolforo

    Pró-Reitor de Graduação: João Chrysóstomo de Resende Júnior 

    Centro de Educação a Distância

    Coordenador Geral: Ronei Ximenes Martins

    Coordenadora Pedagógica: Carolina Faria Alvarenga

    Coordenador de Projetos: Cleber Carvalho de Castro

    Coordenadora de Apoio Técnico: Fernanda Barbosa Ferrari

    Coordenador de Tecnologia da Informação: Ahmed Ali Abdalla Esmin

    Departamento de Ciências HumanasLetras Português (modalidade à distância)

    Coordenador do Curso: Marco Antonio Villarta Neder 

    Coordenadora de Tutoria: Raquel Márcia Fontes Martins

    Revisora Textual: Andréa Portolomeos

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    Leitura e Produção de Textos

     APRESENTAÇÃO DOS PROFESSORES

    Helena Maria FerreiraProfessora Adjunta do Departamento de Ciências Humanas(DCH/UFLA) das disciplinas Introdução aos Estudos Linguísticos eLeitura e Produção de Textos. Licenciada em LetrasPortuguês/Inglês (UNIPAM - Patos de Minas) e emPortuguês/Espanhol (UNIUBE- Uberlândia), Especialista emLinguística (UNIPAM Patos de Minas), Mestre em Linguística (UFU)e Doutora em Linguística (PUC-SP). Atua no desenvolvimento deprojetos de pesquisa e de extensão, entre eles, destacam-se o projetoProdução de Materiais Didáticos e Ferramentas Educativas (Projeto

    TIC s) e Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência(PIBID). Tem concentrado sua atuação nas áreas de Leitura, Escrita eEnsino de Língua Materna.

    Marco Antonio Vil larta Neder Professor Adjunto do Departamento de Ciências Humanas eCoordenador do Curso de Letras da Universidade Federal de Lavras.Atua na Graduação e Pós-Graduação. Licenciado em Letras(Universidade de Taubaté,1986), mestrado em Linguística Aplicada(ensino-aprendizagem de língua materna - Unicamp, 1995) edoutorado em Letras (Linguística e Língua Portuguesa - Unesp-

    Araraquara, 2002). Tem publicações e experiência em projetos eorientações na área de Letras, com ênfase em Linguística, atuandoprincipalmente nos seguintes temas: discurso, linguística, leitura,produção escrita e formação de professores. Membro dos Grupos dePesquisa: Estudos de História do Pensamento: Ética, Lógica eOntologia - Universidade Federal de Lavras - UFLA); GAMPLE - GrupoAcadêmico Multidisciplinar: Pesquisa, Linguística e Ensino (Unesp -São José do Rio Preto); GEPPEP (Grupo de Estudos e PesquisasProdução Escrita e Psicanálise - USP); LEP (Laboratório de EstudosPolifônicos - Universidade Federal de Uberlândia). Participação emProjetos de Extensão e de Cooperação Internacional. É avaliador do

    Inep para os Cursos de Graduação na área de Letras.

    Raquel Fontes Marti nsMestre e doutora em Linguística pela Faculdade de Letras daUniversidade Federal de Minas Gerais Fale/ UFMG, é professora docurso de Letras da Universidade Federal de Lavras UFLA, ondeleciona, entre outras, a disciplina de Leitura e produção de textospara alunos de diversos cursos de graduação desta universidade. Suaatuação se concentra nas áreas de Linguística, Ensino de LínguaPortuguesa e Educação.

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    Leitura e Produção de Textos

    Mauricéia Silva de Paula VieiraDoutora em Linguística pela UFMG e mestre pela PUC-MG, na áreade Leitura: produção e recepção de textos. Professora naUniversidade Federal de Lavras, onde leciona na graduação epesquisa sobre leitura nos livros didáticos, leitura no ensino superior einterações mediadas por computador.

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    Leitura e Produção de Textos

    SumárioUNIDADE 1........................................................................................... ..7

    1.1 Os usos da língua em diferentes contextos..................................9

     1.2 Para compreender a noção do texto.........................................11

    1.3 Fatores de textualização.............................................................16

    UNIDADE 2.......................................................................................... .28

    2.1 Leitura: uma atividade complexa........................................... .....29

    2.2 Leitura e produção de coerência e coesão.................................32

    2.3 Ler para quê? A importância dos objetivos de leitura..............36

    UNIDADE 3.......................................................................................... .41

    3.1 Os gêneros textuais e a produção escrita..................................42

    UNIDADE 4.......................................................................................... .564.1 Resumos........................................................................... .........65

    4.2 Resenha ............................................................................. .......70

    4.3 Pôster (ou Painel) ................................................................... ...73

    4.4 Seminário.......................................................................... .........74

    4.5 Artigo Acadêmico............................................................ ...........78

    4.6 Artigo de Opinião...................................................................... ..81

    REFERÊNCIAS............................................................................ ........83

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    Leitura e Produção de Textos

    UNIDADE 1

    Objetivos:

    Discutir sobre os diferentes usos da linguagem e suas implicações

    para as interações linguístico-discursivas.

    Analisar conceitos da Linguística (gênero textual, tipo textual, texto)

    que favorecem a compreensão do funcionamento da linguagem e o

    desenvolvimento das habilidades e competências de leitura, de

    produção textual e de reflexão sobre a língua.

    Refletir sobre a necessidade de usar linguagens variadas em

    contextos diversos meio de expressar e comunicar ideias, interpretar

    e usufruir das produções culturais e tecnológicas.

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    Leitura e Produção de Textos

    1.1 Os usos da língua em diferentes contextos

    É comum você ouvir alguém dizendo que não sabe falar

    direito, que tem dificuldades para ler e compreender textos, que

    escrever é muito difícil. E você, de que modo avalia o seu desempenho

    como usuário do português?

    Saber utilizar a língua materna com propriedade não é tarefa

    simples. Apesar da vivência num contexto essencialmente

    comunicativo, da nossa escolarização e dos inúmeros textos falados,

    lidos ou escritos com os quais lidamos no nosso dia-a-dia, o

    enfrentamento de desafios no ato de compreender e produzir textos é

    constante na vida de qualquer indivíduo. No entanto, podemos sempre

    aperfeiçoar nossas habilidades e nossas competências linguísticas e

    discursivas. 

    Nesse sentido, cursar a disciplina Leitura e Produção de

    Textos, na Universidade, poderá contribuir para que você adquira ou

    aperfeiçoe informações e conteúdos necessários para a compreensão

    do funcionamento dos gêneros textuais que circulam socialmente, em

    especial daqueles que são próprios do meio acadêmico. A oralidade, a

    leitura e a escrita constituem-se como práticas de natureza transversal,

     já que atravessam todas as disciplinas. Assim, independente do curso

    que tenha escolhido, você precisará dispor de habilidades e de

    competências linguísticas para participar das atividades acadêmicas;

    precisará se preparar para falar, compreender e escrever

    adequadamente no mercado de trabalho. Por meio da fala, da leitura e

    da escrita, temos acesso aos textos das diversas áreas doconhecimento, obtemos e repassamos informações, interagimos com

    os textos e com nossos pares.

    De acordo com o pesquisador da linguagem Mikhail Bakhtin

    (1992), as atividades humanas, independentemente de suas

    variedades, estão sempre relacionadas com o uso da língua, ou seja, a

    língua concretiza nossos enunciados, sejam eles orais ou escritos, que

    emanam dos integrantes de uma ou outra esfera da atividade humana.

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    Leitura e Produção de Textos

    Desse modo, segundo o autor, a palavra entra no tecido dialógico da

    vida humana (p.35).

    A língua relata a história, integra a formulação de

    enunciados de problemas matemáticos, explicita relações sociais,

    fortalece argumentos, integra projetos das engenharias, demonstra

    prescrições, divulga a ciência, descreve ambientes, ressignifica

    sentimentos, aproxima e distancia pessoas. Dominando a

    compreensão do funcionamento linguístico-discursivo, você terá um

    instrumental básico para se lançar às diversas áreas do conhecimento

    humano. A língua fornece, inclusive, o suporte para que nossas

    diferentes operações mentais possam ser realizadas, já que é a partir

    dela que se organiza o pensamento e é por meio dela que se dá

    qualquer processo de aprendizado. O domínio eficiente da língua é um

    instrumento essencial para garantir a sua participação na vida social,

    acadêmica e profissional, de modo mais ativo e mais crítico.

    Você deve saber que os sentidos são construídos na relação

    entre as palavras, no contexto sociodiscursivo, na interação entre as

    pessoas. Leia o texto abaixo e observe como os sentidos são

    construídos:

    10

     Autor : Brasil. Ministério da Saúde. Título: O que eles vendem não é oque você leva. Fumar causa câncer na boca. Cigarro faz mal até napropaganda.Informação Descritiva: 1 cartaz: color.; 64x44 cm. Fonte:[Brasília]: s.n, s.d. Disponível em: http://bvsms-bases.saude.bvs.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/ms/ . Acesso em: 03/10/2011.

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    Leitura e Produção de Textos

    Como você pode observar, cada um desses textos tem uma

    forma de organização, um estilo de linguagem e uma função social. Em

    todo texto que você fala ou escreve, você busca interagir com alguém.

    Ao interagirmos por meio da língua, nós, sujeitos sociais,

    produzimos e recebemos discursos, ou seja, praticamos ações verbaisdotadas de intencionalidade. Esses discursos que produzimos se

    manifestam por meio de textos. A escolha do modelo de texto que

    fazemos está ligada a questões contextuais, ou seja, com quem

    falamos, sobre o que falamos, com qual finalidade o elaboramos.

    O texto a seguir constitui um exemplo dessa escolha. Veja o

    fotopoema e responda:

     Autor :   Lívio Soares de Medeiros. 01. Disponível em:http://www.liviosoares.com/fotopoemas/fotopoemas021.html. Acesso em:03/10/2011.

    1) Qual é o objetivo do texto lido?

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    Leitura e Produção de Textos

    2) No seu entendimento, para que tipo de leitor esse fotopoema foi

    produzido?

    3) Quais são as características peculiares desse texto?

    4) Comente a afirmativa: Esse texto estabelece um diálogo

    intertextual com outro texto. Para expor sua ideia, considere o

    fragmento abaixo.

    Intertextualidade é elemento constituinte e constitutivo do processo

    de escrita/leitura e compreende as diversas maneiras pelas quais a

    produção/recepção de um dado texto depende de conhecimentos de

    outros textos por parte dos interlocutores, ou seja, dos diversos tipos

    de relações que um texto mantém com outros textos (KOCH; ELIAS,

    2006, p. 86).

    Os textos que produzimos circulam socialmente dentro de

    determinadas configurações - receitas, charges, piadas, notícias,

    reportagens, horóscopos, e-mails, cartas, poemas, telefonemas,

    petições, relatórios, artigos de opinião, artigos  científicos, teses,

    resumos, resenhas, etc. e são conhecidos como gêneros textuais.Cada um desses textos reflete/ indicia o resultado da atividade verbal

    de indivíduos socialmente atuantes, que o produzem intencionalmente

    a fim de alcançar um objetivo. Nesse sentido, segundo o linguista

    Marcuschi (2002), gêneros textuais são textos materializados encontrados

    no cotidiano e que apresentam características sócio-comunicativas

    definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e estrutura.

    Você precisa saber também que cada texto encontra-seorganizado segundo uma espécie de construção definida pela natureza

    linguística de sua composição (aspectos lexicais, sintáticos, tempos

    verbais, relações lógicas). Esses modos de construção são intitulados

    tipos textuais, que abrangem as categorias conhecidas como:

    narração, argumentação, exposição, descrição, injunção. Mas, muitos

    gêneros textuais apresentam mais de um tipo em sua composição,

    sendo esse fenômeno chamado de heterogeneidade tipológica. Para

    entender essa ideia, você poderá observar uma bula de remédio, em

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    Leitura e Produção de Textos

    para que uma fala ou um escrito seja(m) considerado(a)(s)

    efetivamente um texto?

    Etimologicamente, a palavra texto origina-se do latim textum,

    que significa tecido, entrelaçamento. Definir o que é um texto, embora

    pareça fácil, mostra-se uma tarefa complexa, uma vez que esta noção

    varia de acordo com a corrente teórica que se adote e também com

    noções como língua e linguagem. Atualmente, um conceito sobre texto,

    amplamente aceito pela Linguística Textual refere-se a qualquer

    produção linguística, falada ou escrita, de qualquer tamanho, que

    possa fazer sentido numa situação de comunicação humana, isto é,

    numa situação de interlocução. (COSTA VAL, 2004, p.113).

    Podemos compreender que o texto oral ou escrito é

    composto por enunciados que,  articulados entre si, podem fazer

    sentido numa dada situação comunicativa, considerando-se os

    elementos de contextualização. Em Texto e Coerência, os linguistas

    Koch e Travaglia (2000, p. 08) definem o texto como unidade linguística

    concreta (perceptível pela visão ou audição), que é tomada pelos

    usuários da língua (falante, escritor/ ouvinte, leitor) em uma situação de

    interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e

    como preenchendo uma função comunicativa (...) independentemente

    de sua extensão. Tomemos, por exemplo, a palavra silêncio. Dita, em

    uma sala de aula, por um professor ou, então, escrita em uma placa

    em um hospital, essa palavra constitui-se como um texto. Há,

    claramente, nas duas situações de interação, uma intenção

    comunicativa que faz com que os participantes possam perceber a

    intenção de quem produziu tais textos (falado ou escrito) e produzir ounão o silêncio. Uma piada, por exemplo, tem uma intenção

    comunicativa: fazer o outro rir/produzir humor; uma placa de trânsito

    serve para orientar os motoristas a fim de que o trânsito não fique um

    caos; uma homepage  é construída com o objetivo de fornecer links

    para que se possa localizar mais facilmente as informações e utilizar

    os vários recursos ali disponíveis. Esses são exemplos de textos que

    circulam no cotidiano cumprindo funções sociais especificas.

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    Leitura e Produção de Textos

     Outro aspecto relevante quando se discute a noção de texto

    diz respeito à construção do sentido. O sentido não está dado no texto,

    como algo pronto, mas é produzido pelo leitor em cada situação

    comunicativa. Embora produza o sentido, o leitor não é livre para

    produzir qualquer sentido. Como seres socioculturais, autor e leitor

    partilham conhecimentos, crenças, valores, etc. e atuam ativa e

    colaborativamente na construção do sentido. Marcuschi (2008, p. 23)

    esclarece que não existe um uso significativo da língua fora das inter-

    relações pessoais e sociais situadas .

    A Linguística Textual, parte de linguística encarregada de

    estudar os textos, enumera alguns fatores que nos auxiliam a

    compreender o que faz com que um conjunto de palavras possa ser

    considerado um texto e não um amontoado de frases soltas. Dentre

    eles, podemos destacar: a intencionalidade, a aceitabilidade, a

    situacionalidade, a informatividade, a intertextualidade, a coerência e a

    coesão.

    1.3 Fatores de textualização

     

    a) Intencionalidade: toda pessoa, ao produzir um texto,

    possui uma disposição em escrever algo coerente, que faça

    sentido numa situação comunicativa. Essa disposição cor-

    responde à intencionalidade e determina, em grande parte,

    as escolhas que o produtor de um texto faz.

    b) Aceitabi lidade: assim como quem produz um texto pos-

    sui uma intencionalidade, o leitor também possui expectati-

    vas em relação ao que ele lê. A aceitabilidade está ligada às

    intenções do leitor em ler um texto coerente, coeso, útil e re-

    levante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos. É essa

    aceitabilidade que faz com que o leitor atue colaborativa-

    mente na construção de sentido.

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    Leitura e Produção de Textos

    c) Situacionalidade: refere-se à adequação do texto à

    situação sócio comunicativa. Assim, compreender o contexto

    sócio-histórico-cultural em que o texto foi elaborado é

    relevante para se construir o sentido. É preciso considerar o

    local e a data de publicação do texto, o autor, os elementos

    gráficos escolhidos (cores, tamanho de letra, ilustrações,

    etc), o suporte onde ele foi publicado (jornal, revista, internet,

    livro, etc) Cada um desses fatores interfere na forma como o

    leitor interage com o texto. Ler uma crônica em uma

    coletânea é diferente de ler a mesma crônica em um livro

    didático em sala de aula.

    d)  Informatividade: relaciona-se ao nível de novidade que

    cada um atribui ao texto. Assim, ao ler um texto que só traga

    informações já conhecidas o leitor pode considerá-lo inútil,

    enfadonho. Por outro lado, se o nível de informações novas

    for muito elevado, pode não entendê-lo ou desprezá-lo.

    e)  Intertextualidade: está relacionada às relações que um

    texto estabelece com outros textos. O sentido a ser

    produzido durante a leitura é dependente dos

    conhecimentos que o leitor tem dos outros textos com os

    quais o texto lido dialoga.

    f) Coerência: é o que faz com que um texto pareça lógico,

    consistente, aceitável, com sentido. A coerência está relacio-

    nada não só aos conceitos e as relações entre conceitos que

    o texto põe em jogo, mas também aos conhecimentos e in-

    formações partilhadas. Para avaliar se um texto é coerenteou não, é necessário considerar as condições de produção.

    g) Coesão : A língua dispõe de vários mecanismos (prono-

    mes, advérbios, operadores argumentativos, etc) com os

    quais o produtor de um texto podem indicar as relações que

    pretende que sejam estabelecidas entre palavras, frases, pe-

    ríodos do texto.

    17

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    Leitura e Produção de Textos

    Para compreender melhor a noção de texto e os fatores

    envolvidos na textualização, leia três textos que tratam do mesmo

    assunto.

    Texto 01: cartaz

    Texto 02: outdoor 

    Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/campanha/outdoor_transito_250711.jpg . Acessoem: 03/10/2011.

    18

    Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/campanha/cartazes_44x64_brancadeneve _250711.jpg . Acesso em: 03/10/2011.

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    Leitura e Produção de Textos

    Texto 03: fo lder 

    Disponível em: http://portal.saude.gov.br/saude/campanha/folder_250711.jpg Acesso em:03/10/2011.

    Embora os textos possuam vários elementos comuns, você

    deve ter observado que cada um deles tem características que o

    diferenciam dos demais. Vejamos o porquê disso:

    O primeiro aspecto a ser considerado diz respeito ao fato de

    que os textos apresentados fazem parte de uma campanha nacional

    de trânsito, veiculada em 2008, no Rio de Janeiro, intitulada  Ajude a

    salvar as nossas crianças. Cuide delas no trânsito , promovida peloGoverno Federal, pelo SUS e pelo Ministério da Saúde. O texto 01 é

    um cartaz de campanha, desses que são encontrados afixados nas

    paredes em escolas, postos de saúde, etc. O texto 02, por sua vez, foi

    produzido para ser veiculado em um outdoor   e o texto 03 é um folder,

    próprio para ser entregue em mãos em uma campanha de

    conscientização. Essas informações recuperam dados relacionados à

    situacionalidade e permitem compreender a quantidade de informação,o formato de cada um e as estratégias empregadas. Como se trata de

    19

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    Leitura e Produção de Textos

    uma campanha governamental e, portanto, institucionalizada, nos três

    textos há a presença da logomarca das instituições que participam do

    evento. Em todos eles, há a exploração da linguagem verbal e da

    linguagem não verbal. A integração dessas linguagens é característica

    desses suportes (cartaz, outdoor  e folder). No outdoor , o texto verbal é

    curto,  claro e escrito em padrão formal. As letras são maiúsculas e

    grafadas em uma fonte maior. Tais estratégias se justificam porque o

    outdoor   é um texto para ser lido numa fração de segundos.

    Geralmente, ele é colocado em pontos estratégicos da cidade ou

    próximo a rodovias e muitos leitores o leem rapidamente enquanto

    dirigem. O cartaz também é um texto para ser lido de forma rápida.

    Embora haja semelhanças, o formato físico mudou, não é mesmo? Isso

    porque cada um circulará em um suporte específico. Já o folder, como

    é entregue em mãos, apresenta uma quantidade maior de informação

    para ser lida, se comparado aos outros analisados.

    Em todos eles, há uma intencionalidade: produzir um texto

    coerente que faça sentido e que possa conscientizar pais e

    responsáveis sobre cuidados com crianças no trânsito. Para isso,

    elegeu-se como o foco principal as crianças, isto é, para conscientizar

    os pais procura-se primeiro atingir as crianças. Por isso, não causa

    estranheza nos leitores a presença dos personagens Branca de Neve,

    Chapeuzinho Vermelho, da bruxa e nem do príncipe em uma

    campanha de trânsito. O leitor trabalha colaborativamente,

    empreendendo o esforço necessário para produzir sentido para a

    campanha. Trata-se da aceitabilidade desses textos por parte não só

    das crianças (que não são motoristas), mas também dos adultosresponsáveis. Na elaboração da campanha, há uma intertextualidade

    com os textos da literatura infantil e o leitor aciona conhecimentos

    sobre esses contos e seus personagens. O grau de informatividade

    nos textos está relacionado aos objetivos da campanha e aos demais

    fatores de textualização: o texto verbal traz as informações básicas,

    pois é necessário atingir um grande número de leitores. Outro fator

    importante pode ser verificado no enunciado Ajude a salvar as nossascrianças. Cuide delas no trânsito. O termo delas  retoma a palavra

    20

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    Leitura e Produção de Textos

    crianças. Essa retomada estabelece uma inter-relação, um

    encadeamento entre partes do texto e mantém o foco de sentido no

    mesmo referente. Tem se aí, portanto, um mecanismo de coesão

    textual. Por fim, os três textos mantêm uma unidade lógica de sentido,

    uma consistência conceitual que confere aos textos interpretabilidade,

    considerando-se os vários aspectos analisados. Trata-se de um texto

    coerente.

    Como visto, há uma série de fatores que interferem na

    constituição de um texto e na construção de sentido. Assim, um texto

    não é um amontoado de palavras.

    A fim de produzirmos o sentido para um texto que

    lemos/escrevemos é preciso considerar: quem o produziu?, com qual

    objetivo?, para qual leitor? , em que gênero?, onde e em que suporte

    circula?.

    21

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Younger_Women _g57-Woman_Verifying_Document_p41025.html . Acesso em: 03/10/2011.

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    Texto 2: FELICIDADE

    Felicidadeem pó,em frascos.

    Felicidadelíquida,cheirosa.

    Felicidadesobre rodasou num avião.

    Felicidadefinanciada,

    emprestada.

    Felicidadeaparente,bem-vestida.

    Felicidadeno shopping,no banco.

    Felicidadeque supomosno outro.

    Felicidadeque maquiatoda a cara.

    Lívio Soares de Medeiros

    Disponível em: http://liviosoares.blogspot.com/2011/08/felicidade.html . Acesso em: 03/10/2011.

    Texto 3: Um Apólogo

    Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:

     Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda

    enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?

     Deixe-me, senhora.

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    Leitura e Produção de Textos

     Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que

    está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me

    der na cabeça.

      Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é

    agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual

    tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos

    outros.

     Mas você é orgulhosa.

     Decerto que sou.

     Mas por quê?

     É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de

    nossa ama, quem é que os cose, senão eu?

     Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você

    ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?

     Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um

    pedaço ao outro, dou feição aos babados...

     Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou

    adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço

    e mando...

     Também os batedores vão adiante do imperador.

     Você é imperador?

     Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel

    subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o

    trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...

    Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da

    baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de umabaronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela.

    Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha,

    enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando

    orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os

    dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana para dar a isto

    uma cor poética. E dizia a agulha:

     Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que

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    vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e

    acima...

    A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela

    agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o

    que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela

    não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo

    silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic

    da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o

    dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto

    acabou a obra, e ficou esperando o baile.

    Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira,

    que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para

    dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela

    dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando,

    abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:

     Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da

    baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai

    dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a

    caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos,

    diga lá.

    Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de

    cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:

    Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que

    vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como

    eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.

    Contei esta história a um professor de melancolia, que medisse, abanando a cabeça: Também eu tenho servido de agulha a

    muita linha ordinária!

    (ASSIS, Machado de. Um apólogo. In: ____. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964)

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    Texto 4: Rede social

    Disponível em: http://cafeeopiniao.blogspot.com/ Acesso em: 03/10/2011.

    Texto 5: Indignação

    À Revista Veja,

    Ficamos muito indignados com a matéria publicada nesta revistaedição 1999 ano 40 número 10 de 14 de 3 de 2007 com o título (Made

    in Paraguai).

    O jornalista José Edward escreveu coisas que não dissemos: 1

    Augusto Karai Tataendy é nascido na aldeia Palmeirinha, estado do

    Paraná, e não no Paraguai conforme escreveu o jornalista. 2

    Augusto Karai Tataendy nunca morou no Morro dos Cavalos. Os

    antropólogos nunca nos levaram para lugar nenhum, sempre

    seguimos nossos conhecimentos e a revelação de Nhanderu (Deus).

    Somente na aldeia Maciambu, em Palhoça - SC, em que a Terra foi

    sequestrada judicialmente, o juiz nos permitiu morar lá. Ficamos nessa

    aldeia até 1999 quando conquistamos essa nova Terra e mudamos

    para Marangatu. Pedimos que seja informado corretamente os

    leitores, senão teremos que entrar com justiça contra revista.

    Augusto da Silva

    Eduardo da Silva (cacique)

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    UNIDADE 2

    Objetivos:Refletir sobre a noção de leitura como processo de interação, levando-

    se em consideração o contexto de produção e o papel dos

    interlocutores na construção dos sentidos do texto.

    Discutir a natureza da leitura, em termos de operações cognitivas,

    determinantes socioculturais relevantes, mecanismos textuais-

    discursivos envolvidos, de modo a promover uma reflexão crítica sobre

    as diferentes finalidades e formas de leitura no espaço escolar esocial.

    Analisar aspectos linguísticos e extra-linguísticos envolvidos no ato de

    ler e suas implicações para a produção dos sentidos, de modo a

    entender que diferentes objetivos de leitura produzem interpretações

    distintas para um mesmo texto.

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    Leitura e Produção de Textos

    Leia os dois textos a seguir, para refletir sobre a atividade de

    leitura.

    TEXTO 1

    OBJETIVO:  A lesão renal aguda isquêmica, de causamultifatorial, apresenta morbidade e mortalidade alarmantes. Aestatina, inibidor de HMG-CoA redutase, tem demonstrado papelrenoprotetor, com componente antioxidante, antiinflamatório evascular. A atividade de heme oxigenase-1 pode ser mediadoradesses efeitos pleitrópicos da estatina sobre o rim, ou seja,independente da ação de redução de lipídio. Esse estudo visouavaliar se o efeito renoprotetor da estatina pode ter mecanismoheme de proteção em ratos. MÉTODOS:  O modelo isquêmico foiobtido por meio do clampeamento dos pedículos renais bilateraispor 30 minutos, seguido de reperfusão. Foram utilizados ratosWistar, machos, pesando entre 250-300g, distribuídos nosseguintes grupos: SHAM (controle, sem clampeamento renal);

    Isquemia; Iquemia+Estatina (sinvastatina 0,5 mg/kg, via oral por 3dias); Isquemia+Hemin (indutor de HO-1, 1 mg/100g,intraperitoneal 24h antes da cirurgia); Isquemia+SnPP (inibidor deHO-1, 2 mol/kg intraperitoneal 24h antes da cirurgia); Isquemia+Estatina+Hemin e Isquemia+Estatina+SnPP. Foram avaliados afunção renal (clearance  de creatinina, Jaffé), osmolalidadeurinária, peróxidos urinários e a imunohistoquímica para ED-1.RESULTADOS:   Os resultados mostraram que a estatinamelhorou a função renal, a osmolalidade urinária, reduziu aexcreção de peróxidos urinários e a infiltração de macrófagos emrins de animais submetidos à isquemia renal. O indutor da hemeoxigenase-1 e a sua associação com sinvastatina reproduziram opadrão de melhora determinado pela sinvastatina. CONCLUSÃO:

    O estudo confirmou o efeito renoprotetor da estatina, com açãoantioxidante e antiinflamatória, e sugere que esse efeito tenhainterface com o sistema heme de proteção renal.

    Fonte: TESHIMA, Claudia Akemi Shibuya; WATANABE, Mirian;NAKAMURA, Sandra Hideko e VATTIMO, Maria de FátimaFernandes. Efeito renoprotetor da estatina: modelo animal deisquemia-reperfusão.  Rev. bras. ter. intensiva  [online]. 2010,vol.22, n.3, pp. 245-249. ISSN 0103-507X. doi: 10.1590/S0103-507X2010000300005.

    TEXTO 2

    Disponível: http://gaia.saude.mg.gov.br/blog/wp-content/uploads/2010/02/Outdoor.pdf .Acesso em: 01/06/2011.

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    Leitura e Produção de Textos

    Esses fatos indicam que a leitura, além de ser uma atividade

    cognitiva, é também uma atividade social, ou seja, para compreender

    um texto, você mobiliza conhecimentos que adquiriu no convívio social.

    A sua experiência com o gênero, o tema e o contexto do texto é

    decisiva para uma interpretação adequada.

    2.2 Leitura e produção de coerência e coesão

    Neste momento, é importante refletir sobre a seguinte

    questão: se usamos os nossos conhecimentos prévios na leitura,

    então, onde está o sentido ou a coerência do texto? Está no próprio

    texto? Está somente no leitor? 

    O sentido ou a coerência do texto está na relação entre

    autor, texto e leitor. O texto é o mediador da interação que se

    estabelece entre autor e leitor. Dessa forma, os sentidos do texto não

    estão simplesmente prontos e dados nele; dependem do trabalho doleitor que interage com o autor por meio do texto. Como afirma a

    pesquisadora Delaine Cafiero (2005), a leitura

    [...] é uma atividade ou um processo cognitivo deconstrução de sentidos realizado por sujeitos sociaisinseridos em um tempo histórico, em uma dada cultura.Entender a leitura como processo de construção desentidos significa dizer que quando alguém lê um texto nãoestá apenas realizando uma tradução literal daquilo que oautor do texto quer significar, mas que está produzindosentidos, em um processo concreto de comunicação, a

    32

    Foto: Lívio Soares. 

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Girls_With_Book_p9595.html. Acesso em: 03/10/2011.

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    partir do material escrito que o autor fornece [o texto].Nesse processo, o leitor busca o texto como um ponto departida, um conjunto de instruções; relaciona essasinstruções com as informações que já fazem parte de seuconhecimento, com o que já aprendeu em outras situações,produzindo sentidos ou construindo coerência para o texto.

    [...] o sentido não é uma propriedade do texto, não seencontra pronto em sua superfície, depende da ação dequem o processa (CAFIERO, p.17).

    Vejamos, a seguir, uma piada que nos permitirá refletir mais

    sobre o fato de o sentido ou a coerência do texto não estar pronto no

    próprio texto, mas demandar trabalho por parte do leitor:

    A filha para a mãe: Mamãe, é verdade que, na África, a mulher só conhece seu marido

    depois de se casar com ele?

     Aqui também é assim, minha lindinha...

    Piada de domínio público

    Como se pode notar, além de o texto ser de um gênero mais

    familiar (piada) e de curta extensão, apresenta um vocabulário simples.

    Desse modo, é provável que você tenha tido facilidade para interpretaressa piada. Contudo, será que ela seria compreendida facilmente por

    uma criança de 8 anos de idade, mesmo que ela já saiba ler

    fluentemente? É provável que não. O que dificultaria a leitura dessa

    criança? Um conhecimento sociocultural muito importante, implícito

    nesse texto, relativo a relações de gênero na nossa sociedade.

    Para compreender a piada, é necessário considerar as

    rixas entre homens e mulheres na nossa cultura, os pontos de vistafeminino e masculino sobre o relacionamento amoroso, sobre o

    casamento... A criança mencionada teria dificuldade de interpretar o

    texto não por desconhecer o gênero piada ou por ter algum problema

    com o vocabulário ou o tamanho do texto, mas por não conseguir inferir

    esse conhecimento que está implícito na piada. Ela não perceberia

    que, no texto, a palavra conhecer apresenta diferentes significados

    para a filha e para a mãe. Enquanto a mãe utiliza tal palavra no sentido

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    Ainda, na fórmula com que o texto se inicia, A filha para a

    mãe: a qual anuncia o gênero piada para um leitor que tenha uma

    relativa experiência com esse gênero, ou seja, um conhecimento prévio

    em relação ao referido gênero , o leitor produz coesão, inferindo um

    verbo entre as palavras filha e para . Possivelmente, o leitor infere

    verbos como pergunta ou diz : A filha pergunta para a mãe ou A

    filha diz para a mãe . Esse processo de ligação feito pelo leitor se

    relaciona, novamente, à coesão produzida por ele a partir das marcas

    linguísticas deixadas pelo produtor do texto no texto.

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    2.3 Ler para quê? A importância dos objetivos deleitura

    Você já notou que os objetivos que temos ao ler um texto

    influenciam no modo como interagimos com esse texto? Por exemplo,

    ler anúncios classificados de imóveis com interesse em alugar ou

    vender imóveis é o mesmo que ler tais anúncios sem esse interesse

    específico? Certamente que não. Se o interesse do leitor recai sobre os

    anúncios de aluguel de imóveis apenas, é muito provável que esse

    leitor não leia anúncios de outros tipos: de compra de imóveis, de

    carros, de empregos etc.

    Vejamos, com a atividade a seguir, o quanto os objetivos ou

    finalidades de leitura interferem na interpretação do texto.

    36

    Figura 1: Disponível em: h ttp://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400- Man_Indicating_A_Page_p48808.html  . Acesso em: 03/10/2011.

    Figura 2: Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Reading_The_Sports_News_p37575.html . Acesso em: 03/10/2011.

    Figura 3: Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Young_Man_Reading_Book_p49266.html . Acesso em: 03/10/2011.

    Figura 4: Disponível: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Woman_Hand_p31676.html  . Acesso em: 03/10/2012.

    Figura 5: Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Woman_With_Notebook_p47628.html  . Acesso em: 03/10/2011.

    Figura 6: Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Reading_g400-Prayer_p21187.html . Acesso: em: 03/10/2011

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    Destacam-se, ainda, a igreja do Rosário e o museu Bi Moreiracomo atrações históricas.

    TRANSPORTE COLETIVO

    Terminal Rodoviário (35) 3821-9933: Belo Horizonte - Lavras - BeloHorizonte (Gardênia 0300 313 2020); São Paulo - Lavras - São Paulo(Gardênia - 0300 313 2020); Divinópolis - Lavras - Divinópolis (SãoCristóvão - 3821.7250); Varginha - Lavras Varginha (Gardênia - 0300 3132020); Araxá - Lavras - Araxá (Gontijo - 3821.9333); Uberlândia - Lavras -Uberlândia (Gontijo - 3821.9333); São João del Rei - Lavras - São João delRei (São Cristóvão - 3821.7250); Rio de Janeiro - Lavras - Rio de Janeiro(Bel-Tur - 3821.8937); Juiz de Fora - Lavras - Juiz de Fora (Transur - 38218887); Brasília Lavras - Brasília (São Cristóvão - 3821.7250); Santos -

    Lavras - Santos (Útil - 3821.9099).

     HOSPITAIS - PRONTO-SOCORRO

    Hospital Vaz Monteiro: Fone: 3829.2600; Santa Casa de Misericórdia: Fone:3829.2800; Pronto-Atendimento: 3821.0009.

     TELEFONES E ENDEREÇOS ÚTEIS

    Serviço Despertador: 134; Hora Certa: 130; Rádio-Patrulha: 190; Delegaciade Polícia: 3821.6211; INSS: R. Dr. Francisco Sales, 505. Fone: 3829.2412,3829.2422; Posto Telefônico Público: R. Raul Soares, 48; Agência deCorreios e Telégrafos/ECT R. Raul Soares, 159, Fone: 3822.4492.

     ONDE SE HOSPEDAR EM LAVRAS

    Hotéis - Alvorada (campus histórico da UFLA): 3829.1198; 3821.1110;Califórnia: 3821.6009; Cama e Café: 3822.5789; Lavras Apart Hotel:3821.1413; Mazza: 3821.7366 SITE: http://www.mazzahotel.com.br ;Minas Hotel: 3821.0363 SITE: http://www.minashotel.net ; OuroLavras:3822.8300; Pingüim: 3821.2955; Serema Palace Hotel: 3829.8350; TropicalPalace Hotel: 3821.8868; hotel ipê: 3821.7522; Vila Romana Flat: 031 33342010; Vitória Palace Hotel: 3822.3555.

    Casas de Família: 3821.0686, 8843.2602 ([email protected] )site: http://casadocalouro.vilabol.uol.com.br ; 821.1926; 3822.3127;3821.6157; 3821.0389/9156.1415([email protected] ); 3822.6514 ([email protected] ),

    site: http://casadefamilia.vilabol.uol.com.br .

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    necessariamente linear. Acima de tudo, é preciso ter

    sempre claro o seu objetivo ao ler um texto. Esses

    objetivos podem ser variados: ler para se informar; ler

    para operar um eletrodoméstico; ler para executar uma

    receita; ler para escolher um filme para assistir; ler para se

    divertir etc. Cada objetivo desses muda completamente a

    sua interação com um mesmo texto.

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    UNIDADE 3

    Objetivos:Refletir sobre os processos envolvidos na atividade de produção

    textual.Compreender as etapas do processo de produção de textos: planejar,escrever, revisar e reescrever.Vivenciar práticas de produção de gêneros textuais, considerando osmecanismos estudados.

    Analisar os tipos de parágrafos e seus efeitos na construção dossentidos dos textos.

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    3.1 Os gêneros textuais e a produção escrita.

     

    Leia o texto abaixo e reflita sobre o processo de produção

    textual. Elabore um texto, registre sua posição acerca da afirmação de

    muitas pessoas de que escrever é muito difícil. Poste sua produçãonum arquivo de texto.

    Papo brabo por Jô Soares

    A verdade é que não se escreve mais como antigamente,

    pois naquele tempo não havia computadores e, por incrível que pareça,

    nem mesmo canetas esferográficas. Porém, se fôssemos registrar em

    42

    Disponível em: :http://www.freedigitalphotos.net/ images/Off ice_and _Stationer _g145-Paper_p11932.html  . Acesso em: 03/10/2011.

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Computers_g62-Hand_Writing_Through_Computer_p56367.html%20. Acesso em: 03/10/2011.

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    papel todos os absurdos do ser humano, não sobraria sequer uma

    resma para os cartões de Natal.

    Isso posto, não de gasolina nem de saúde, já que uma é

    cara e a outra é carente, vamos ao que interessa. Quando digo vamos

    ao que interessa, vem-me logo à mente a pergunta: interessa a quem?

    A mim, pensará o leitor desavisado.

    O leitor avisado perceberá facilmente que estou me referindo

    em geral a assuntos interessantes e, se não forem, também não

    interessa.

    Resolvida essa questão da maior importância para aqueles

    que assim pensam, passo a seguir ao tema central da discussão, por

    sinal uma discussão que se perpetua enquanto dura.

    A pergunta é a seguinte: como abordar um tema central

    quando se está fora do centro e, por isso mesmo, longe do efeito da

    força centrífuga? Como ficam nisso tudo o centro do poder, o centro

    espírita, o centro da cidade e o centro sempre discutido das pessoas

    autocentradas? Convenhamos, o que é centro para uns é esquerda

    para outros e direita no sentido de quem vem.

    Infelizmente, quando se entra em assunto tão polêmico,

    ninguém se atreve a responder. Mesmo porque, ainda nem foi

    perguntado. Se for e quando for, tenho certeza de que sempre haverá

    alguém para discordar e eu perdôo, pois essas contradições são

    inerentes à alma humana. Disse alma humana? Que dizer, então, das

    outras almas? Da desumana, da penada, da alma do negócio e,

    principalmente, da alma minha gentil que te partiste/ tão cedo desta

    vida descontente/ repousa lá no céu eternamente?Não quero parecer ilógico, mas seria de péssimo gosto

    trazer mais uma vez à baila essa intrigante questão. Aliás, pensando

    bem, ou mesmo pensando mal, por que trazer à baila e não levar ao

    baile? Ou mesmo trazer o baile à baila? Nunca tiveram a coragem de

    revelar essa incongruência histórica: no baile da Ilha Fiscal ninguém

    pagava imposto de renda. Digam o que disserem: a dura realidade é

    que nenhum intelectual que se preze pode desprezar-se. Tenho a mais

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    absoluta convicção de ter sido claro e objetivo na colocação dessas

    ideias.

    Para finalizar, termino.

    Moral: Pode ser que esse texto seja incoerente, mas faz muito maissentido do que o massacre dos sem-terra. Antes que eu me esqueça: areforma agrária já começou. Criaram um ministério.

    Disponível em: http://www.colegiovsjose.com.br/www.colegiovsjose.com.br/recursos/File/2010/ VESTIBULA

    R /PUCMG/2008/vestibular_2008_01_interior_portugues.pdf   . Acesso em: 03/10/2011.

    QUE S

    A nossa vida em uma sociedade letrada é marcada pelo

    contato com diversos gêneros textuais. Com eles, informamos o que

    pensamos e sentimos, contamos piadas e fazemos rir, externamos

    nossos desejos e nossas inquietações. Eles organizam a nossa vida

    diária e podem ser considerados artefatos culturais: existem para

    atender às demandas de uma sociedade em um determinado contexto

    sócio-histórico-cultural.

     Para interagirmos com alguém através da língua escrita, é

    importante produzirmos textos de qualidade e que estejam de acordo

    com os padrões aceitos, isto é, precisamos produzir determinados

    gêneros textuais. Quando escrevemos, estamos praticando uma ação.

    A produção de textos escritos é uma prática de linguagem e, como tal,

    uma prática social.

    Mas... Produzir um texto não é uma tarefa muito simples.

    Escrever é uma atividade cognitiva complexa. A escrita, como atividade

    interativa, requer a mobilização de um conjunto de conhecimentos

    referentes à língua, aos textos, à própria situação comunicativa. Ao

    escrever, nos deparamos com um conjunto de questões sobre o qual

    se precisa refletir:

    1. Quem escreve: que papel social estamos assumindo ao

    produzir determinado texto? Ao produzir um texto, é

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    Leitura e Produção de Textos

    Ao produzir um texto escrito, é preciso, então, levar em conta ascondições propostas pelo autor. Para tanto, é preciso que o professorpermita ao aluno que se constitua como sujeito de suas produções, deseus discursos, e que realmente produza seus textos dentro de umasituação real de comunicação, sabendo para quem dizer, e, sobretudo,

    o que dizer, utilizando, como destaca o autor, estratégias adequadaspara tal.Nessa perspectiva, são levadas em consideração as funções daescrita, as variações linguísticas, a intencionalidade e a imagem dointerlocutor, que pode ser real ou virtual. A escrita deixa de ser ummero exercício escolar, para adquirir um caráter dinâmico eprocessual, no qual o aluno se constitui como um sujeito ativo, epassa a estabelecer uma real interação com seu interlocutor. Brito(1997) também traz importantes considerações a respeito do assunto.Segundo ele, a prática de produção de texto está bastante relacionadaà norma, principalmente, aos aspectos da ortografia, concordância e

    regência. Enfim, ensina-se redação apenas para fixar a norma, aindaque nem sempre se assuma explicitamente esta perspectiva (1997,p.108).Portanto, tem-se, aí, a redação caracterizada, nos dizeres de Brito(1997), enquanto gênero escolar, utilizado como um exercício denorma gramatical, além de estar subdividido em narração, descrição edissertação. [...]

    Cruz, Mônica Cidele da. A produção textual no nível médio: uma análise das condições deprodução. Maringá [PR], 2005. Disponível em: http://www.ple.uem.br/defesas/pdf/mccruz.pdf .Acesso em: 03/10/2011.

    A partir das considerações feitas, esperamos que você tenhapercebido que para produzir um texto significativo numa situação real

    de escrita, você precisa ter em mente o que escrever, isto é, saber de

    que assunto irá tratar. Isso significa que não é possível escrever a

    partir do nada, sem ter algo para dizer. O linguista Wanderley Geraldi

    (1997, p. 171) ressalta que para as pessoas produzirem precisam

    voltar-se para sua própria experiência (real ou imaginária) para dela

    falarem: buscam e inspiram-se nela para extrair daí o que dizer . Alémdisso,

    [...] ninguém escreve bem sem ter o que dizer, sem saberalguma coisa sobre o assunto de que deverá tratar. Muitasvezes, por não ter conhecimento suficiente sobre o tema, o alunovê como única saída tentar enrolar o leitor: dispondo de poucosdados e sem tempo para amadurecer uma opinião pessoal, érealmente muito difícil armar uma argumentação consistente,capaz de convencer o interlocutor.  (EVANGELISTA, 1998,

    p.121)

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    Leitura e Produção de Textos

    Outra questão importante é ter uma razão significativa para

    escrever. Geraldi explica que o aluno deve encontrar motivação interna

    para escrever, caso contrário, haverá apenas uma tarefa imposta a ser

    cumprida. Essa motivação está relacionada às situações reais de

    comunicação, ao uso da escrita como prática social, o que torna a

    prática de produção uma atividade concreta, em que são claras as

    finalidades de se produzir. Nesse sentido, a pesquisadora Aracy

    Evangelista (1998) declara que:

    O registro da linguagem (mais coloquial ou mais formal), a seleção deinformações e o modo de organizá-las, o tipo e até o tamanho do textosão escolhas que dependem das razões que levam o autor a escrever.Quanto mais claros forem os objetivos a cumprir com o texto, mais

    chances terá quem escreve de escolher melhor as estratégiasadequadas para concretizá-los (EVANGELISTA, p. 122).

    Complementando o exposto, pode-se considerar ainda que

    todo texto pressupõe um interlocutor. Para isso, é preciso sempre levar

    em consideração para quem você produz seu texto. É em função do

    seu interlocutor que os recursos linguísticos serão selecionados para a

    construção do texto. E sem interlocutor não há texto, pois é ele quem

    determina o conteúdo e o objetivo do que é escrito.

    Para produzir um bom texto, faz-se necessário constituir-se

    como autor do que se escreve, ou seja, comprometer-se com sua

    palavra. O sujeito, na atividade de produção de texto, é um agente e

    produz porque tem conteúdo, objetivo. Ao escrever, ele reflete sobre o

    que tem a dizer, expõe a sua subjetividade, considerando as relações

    de sentido que possui com seu interlocutor, encarando o seu texto

    como fruto de interação, resultante de uma situação significativa queacontece num determinado momento e que possui, portanto, um

    caráter social. No processo de produção, é preciso também saber

    escolher as estratégias, observando o conteúdo, a finalidade e o

    interlocutor. O nosso discurso se organiza por meio da consideração

    das imagens construídas sobre o nosso interlocutor, ou seus gostos,

    suas opiniões, suas antipatias. É em função do interlocutor que

    selecionamos as estratégias adequadas. Nessas condições, a

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    Leitura e Produção de Textos

    A escrita é uma atividade processual. Produzir um texto não

    implica apenas o ato de pegar o lápis/caneta e a folha de papel ou

    abrir um documento em branco e digitar. A produção textual é uma

    atividade interativa e pressupõe um conjunto de etapas interligadas:

    planejar, escrever, revisar e reescrever.

    a) Escrever Planejar 

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/OfficeandStationer _ g145CrumpledWhitePaper_p45131.html  Acesso em: 03/10/2011.

     

    Disponível em:http://www.freedigitalphotos.net/images/Other_BusinessConce _g200-planning _p43560.html . Acesso em: 03/10/2011.

    49

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Business_People_g201-Business_Meeting_p46993.html  Acesso em: 03/10/2011.

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    Leitura e Produção de Textos

    Escrever supõe planejar. Um texto não planejado pode

    sofrer de circularidade, ou seja, poderá ficar sempre repetindo o

    mesmo argumento, parecendo que não sai do lugar, não progride, e,

    no final, dar ao leitor a impressão de que não diz nada.

    Planejar significa delimitar o tema, eleger os objetivos,

    escolher o gênero, delimitar os critérios de ordenação das ideias,

    refletir sobre o padrão de linguagem. Também é necessário buscar

    informações sobre o assunto que será abordado. Muitos alunos

    aprendem o formato, mas não possuem informações e conhecimentos

    sobre o tema. Empregam determinadas expressões, clichês, para

    impressionar o leitor, tais como hodiernamente, destarte, baluarte, etc.,

    mas não cuidam da informatividade. Não demonstram que sabem

    examinar os fatos, articular acontecimentos, prever suas possíveis

    consequências para a qualidade de vida das pessoas. Assim, para

    produzir bons textos é importante buscar conhecimentos, ler bons

    livros, jornais e revistas.

    b) Etapa da escrita

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Bus iness Peope q2012-W orkinq _Hard_p17294.html  Acesso em: 03/10/2011

    Etapa em que registramos o que foi planejado.

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    Leitura e Produção de Textos

    c) Etapa da revisão e da reescrita

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net /images/Reading_and Writign q344-Edit_Wrong_Word_p36421.html. Acesso em: 03/10/2011.

    É o momento de analisarmos o que foi escrito, comparando-

    o com o planejamento estabelecido; de verificarmos se conseguimos

    desenvolver o tema; de observarmos se há coerência e clareza no

    desenvolvimento das idéias; de percebermos se aspectos formais

    foram respeitados (ortografia, concordância, pontuação, etc).

    A etapa da revisão consiste em rever o que foi escrito e

    verificar se os objetivos foram cumpridos. Permite reorganizar e

    desenvolver melhor as ideias apresentadas no texto.Segundo a professora Gladys Rocha (2005), a revisão

    textual contribui para que possamos corrigir e fixar melhor aspectos

    relacionados ao nível de informações do texto como ortografia,

    concordância e melhor organização das ideias. Revisar é importante

    também para dizermos mais e melhor, para corrigirmos o que foi dito,

    para analisarmos a ideia de outro jeito, visando a uma melhor

    compreensão do texto por parte de nosso interlocutor.É preciso considerar também que, esse processo de revisão

    se constitui em um movimento gradual e não-linear, portanto não se

    pode esperar que, em uma única revisão, seja possível corrigir todos

    os problemas do texto.

    O significado da revisão nada mais é que rever as nossas

    habilidades textuais permitindo-nos enxergar o próprio texto de um

    outro lugar, sob outras perspectivas, colocando-nos no lugar de leitor.Isso nos possibilita uma melhor compreensão das estratégias

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    Leitura e Produção de Textos

    constitutivas do ato de escrever e auxilia no processo de reflexão/

    reelaboração do texto.

    O trabalho contínuo de escrita e de reescrita de texto

    possibilita descobrir os recursos linguísticos disponíveis para a

    expressão escrita e desenvolver a competência linguística necessária

    à produção de textos qualitativamente melhores.

    Assim, toda escrita precisa ser entendida como um processo

    em cuja realização faz-se necessário planejar, escrever, revisar e

    reescrever. Escrever é reescrever. Além disso, é preciso atentar para a

    questão da gramática e da ortografia, pois os diferentes gêneros

    textuais irão exigir padrões de escrita com diferentes níveis de

    formalidade. Irandé Antunes (2003) afirma que

    A competência para escrever textos relevantes é umaconquista inteiramente possível. O mito de que somentesabem escrever as pessoas que nasceram com esse domcai por terra numa análise aprofundada e objetiva. O domde escrever é, na verdade, resultado de muitadeterminação, de muitas tentativas, de muita prática, afinal.(ANTUNES, p.54).

    Para complementar as discussões acerca da produção de

    textos, você irá estudar sobre uma questão muito importante para a

    organização das idéias: a paragrafação.

      Produção de textos a escrita do parágrafo

     O parágrafo é uma das unidades básicas de construção

    textual e conhecer como ele se estrutura é relevante na produção de

    um texto.

    O estudioso da linguagem, Othon Garcia (2002) define o

    parágrafo como:

    [...] uma unidade de composição constituída por um ou maisde um período, em que se desenvolve determinada ideiacentral, ou nuclear, a que se agregam outras, secundárias,intimamente relacionadas pelo sentido e logicamentedecorrentes dela [ ] (GARCIA, p.219).

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    Leitura e Produção de Textos

    O parágrafo, assim estruturado, configura-se como parágrafo

    padrão e compõe-se das seguintes partes:

    1- Tópico frasal : corresponde ao primeiro período do pará-

    grafo. Traz uma ideia central ou nuclear e deve ser claro e

    objetivo.

    2- Desenvolvimento : refere-se às ideias que aprofundam o

    núcleo do tópico frasal.

    3- Conclusão : parte que pode estar expressa ou não. Quan-

    do presente, encerra o texto e reforça o enfoque adotado.

    Leia o fragmento a seguir para compreender melhor a

    estrutura do parágrafo padrão:

    O amor no mundo contemporâneo[Na sociedade contemporânea, fala-se e escreve-se muitosobre o sexo e quase nada sobre o amor.] 2[Talvez sejapelo fato de que o amor, sendo um enigma, não se deixadecifrar, repelindo toda tentativa de classificação oudefinição.] 3[Por isso, a poesia, campo mítico porexcelência, encontra na metáfora a compreensão melhor doamor.] [...](ARANHA; MARTINS, 1986. p.353-354 apud  CASTRO,2003).

    É importante lembrar que o parágrafo precisa apresentar

    elementos de ligação que irão lhe conferir coesão. Assim, no exemplo

    apresentado, o termo por isso é um elemento que estabelece a

    ligação entre as partes e, semanticamente, fornece ideia de conclusão.Existem várias estratégias para se construir o parágrafo. Vamos

    apresentar algumas e você pode pesquisar para saber mais e também

    observar a construção do parágrafo em textos lidos.

    A construção do parágrafo

    Podemos empregar como estratégia para a construção do tópico

    frasal:

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    Leitura e Produção de Textos

    1- Declaração inicial: constrói-se o parágrafo com uma afir-

    mação ou negação de alguma coisa que será, em seguida,

     justificada ou fundamentada. Essa afirmação precisa de ser

    clara e direta.

    Exemplo: O corpo humano evolui tão bem através dos

    tempos que o homem às vezes atrapalha, querendo injetar-

    lhe milagres para alcançar o impossível . (CASTRO, 2003,

    p.62)

    2- Definição: essa estratégia é simples e didática, porém

    exige do produtor consulta a livros especializados, a dicioná-rios e materiais de referência para buscar a definição preten-

    dida.

    Exemplo: A sociedade humana é um conjunto de

    pessoas ligadas pela necessidade de se ajudarem umas as

    outras, a fim de que possam garantir a continuidade da vida

    e satisfazer seus interesses e desejos . (CASTRO, 2003,

    p.62)

    3- Interrogação:

    Quantos morreram pela liberdade de sua pátria? Quantosforam presos ou espancados pela liberdade de dizer o quepensam? Quantos lutaram pela libertação dos escravos?(CASTRO, 2003, p. 62)

    4- Comparação ou contraste: 

    Exemplo: Parece possível distinguir duas tendências

    fundamentais na reação ao grupo novo: uma de admiração e

    aceitação, outra de desprezo e recusa . (CASTRO, 2003,

    p.63)

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    Leitura e Produção de Textos

    UNIDADE 4

    Objetivos:

    Refletir sobre as especificidades dos gêneros acadêmicos como forma

    de construção do conhecimento e de identificação de diretrizes

    teóricas e metodológicas para a leitura e para a produção de textos do

    domínio científico.

    Discutir sobre a funcionalidade e as formas de composição dosgêneros acadêmicos.

    Vivenciar a prática de análise ou de elaboração de textos acadêmicos.

    Compreender a importância e a organização textual-discursiva dos

    textos acadêmicos para a consolidação de um processo de formação

    crítico e ativo global dos alunos.

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    Leitura e Produção de Textos

    4.1 Gêneros Textuais Acadêmicos

    Para iniciar nossa reflexão sobre o tema desta seção,

    partimos das seguintes indagações: Os textos que circulam na

    Universidade se diferenciam dos outros gêneros textuais? Quais são as

    especificidades dos textos que circulam no meio acadêmico?

    No decorrer de sua trajetória universitária, você será

    solicitado a ler/produzir (oralmente ou por escrito) diversos textos para

    várias disciplinas com diversas finalidades, seja com intuito de

    estimular uma leitura mais minuciosa, possibilitando que você consiga

    assimilar de modo mais completo o conteúdo estudado, seja com

    intuito de viabilizar a produção de conhecimento adquirido a partir do

    desenvolvimento de suas pesquisas.

     Escreva 5 (cinco) modalidades de gêneros textuais que

    circulam no meio acadêmico.

    A partir desse elenco, você pode perceber que os gêneros

    acadêmicos têm as suas peculiaridades, as quais, por sua vez,

    demandam estratégias diferentes de leitura e de produção. Por isso, é

    indispensável que você exercite, desde os primeiros dias de sua

    trajetória acadêmica, o uso de um instrumental teórico-metodológico

    que lhe possibilite o progressivo domínio das práticas do trabalho

    intelectual, em termos da estrutura, da linguagem, das normas

    técnicas, do tratamento dado às informações e aos conteúdos. Assim,

    você poderá se tornar não apenas um consumidor, mas também um

    produtor de conhecimento.

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    Leitura e Produção de Textos

    Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net/images/Gestures_g185-Searching_p36020.html . Acesso em: 03/10/2011

    Você sabia que as práticas do trabalho intelectual são

    atividades centrais na vida acadêmica? Por meio dessas práticas, você

    poderá adquirir competências e habilidades diversas referentes ao (à):

    => trato da informação: ler e compreender textos teóricos;

    identificar fontes mais relevantes da área; buscar e selecionar

    informação necessária para a realização dos trabalhos; registrar a

    informação e as fontes consultadas, de modo mais crítico, mais

    reflexivo;

    => sistema cognitivo: capacidade de raciocínio (identificar

    proposições, estabelecer relações, inferir, argumentar; capacidade

    para formação de conceitos (fazer conexões e distinções, explicar e

    definir); capacidade de interpretação (perceber implicações, extrair

    informações, interpretar criticamente, parafrasear); capacidade prática

    de investigação (formular questões, levantar hipóteses, observar,

    autoavaliar-se);

    => capacidade de elaboração própria: analisar criticamente

    textos teóricos, apresentar e discutir temas, redigir segundo as normas

    de apresentação de trabalhos acadêmico-científicos.

    A partir do exposto, constatamos que a incursão na prática

    da leitura e da produção de textos constitui instrumento primordial na

    ampliação e na consolidação de conhecimentos, na abertura de novasformas de agir e de pensar. De acordo com Darcília Simões (2005,

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    Leitura e Produção de Textos

    p.34), "os processos de estudo implicam aperfeiçoamento das

    habilidades que envolvem o ato de ler. [...] A leitura integra a formação

    do indivíduo por atravessar todos os planos de sua vida: social,

    cultural, intelectual, político etc." Por outro lado, a produção escrita

    permite a apropriação crítica do conhecimento, a elaboração própria, o

    desenvolvimento da autonomia intelectual, a aquisição e o

    aperfeiçoamento das habilidades e das competências linguísticas e

    discursivas.

    É com base nessas considerações iniciais que propomos a

    você o estudo de alguns gêneros textuais presentes do cotidiano

    acadêmico.

    Você já deve ter observado que, em cada situação de sua

    vida, há coisas diferentes acontecendo. A forma de olhar, de agir, a

    maneira como as pessoas se comportam e como reagem, o que cada

    um espera do outro naquela situação, etc. Quando você está com

    amigos num barzinho ou quando vai assistir a uma palestra, poderá

    perceber (se é que já não se deu conta disso) que há diferenças

    importantes. Se, no barzinho, alguém usar palavras e construções da

    língua muito formais, se começar a falar de assuntos que não

    combinem com o ambiente de descontração que se espera, essa

    pessoa vai ser mal-vista pelos colegas (e, possivelmente, o grupo vai

    ficar em dúvida se vale a pena sair junto com essa pessoa).

    Igualmente, numa palestra (principalmente se for mais técnica) espera-

    se uma linguagem mais apropriada à situação e ao assunto e, embora

    o jeito de alguém fazer uma palestra possa variar bastante, espera-se

    que respeite o assunto a ser abordado e que o faça numa linguagemacessível, mas que acrescente conhecimento para quem for assistir.

    A primeira constatação que podemos fazer, ao comparar

    situações como essa, é que nem a linguagem, nem nós mesmos, nem

    as situações que vivemos com as pessoas são fixas. Temos

    expectativas diferentes em relação à combinação de todos esses

    elementos. Assim, podemos conviver com uma pessoa falante,

    brincalhona, provocativa, mas se a convidamos para assistir a um filme

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    Leitura e Produção de Textos

    que estamos com muita vontade de ver e se essa pessoa fica

    conversando o tempo todo, vamos cobrar depois:

     __ Puxa, você nem me deixou ver o filme direito!

    Porém, se vamos a uma festa com a pessoa e ela fica muito

    quieta, desanimada, vamos nos preocupar ou nos ressentir disso:

     __ Você estava tão desanimada na festa! O que aconteceu?

    Pensei que a gente ia se divertir bastante...

    Por que acontece isso?

    Será que a explicação é que o ser humano é uma criatura

    contraditória, instável, que nunca mantém o mesmo comportamento

    por ser imperfeito?

    Essa explicação não atende à maneira como o mundo

    (principalmente do ponto de vista social, cultural, humano) funciona.

    Não é por imperfeição que mudamos tanto de uma situação para outra.

    Em primeiro lugar, é comum, no nosso cotidiano, depararmo-nos com

    situações complexas, em que muitas coisas diferentes estão juntas,

    relacionadas.

    Como seres humanos, vimos aprendendo a lidar com essas

    configurações complexas que nos cercam, desenvolvendo habilidades

    para responder às necessidades que cada situação nos apresenta. É

    bom perceber que já nascemos rodeados por pessoas que pertencem

    a grupos, que se juntam em função de interesses, necessidades,

    construindo identidades comuns.

    Nossa identidade individual é fruto da maneira como lidamos

    com outras pessoas nos grupos a que pertencemos (família, escola,

    lazer, religião, esporte, organizações políticas etc.) e da relação quecada um dos grupos de que fazemos parte tem com outros grupos.

    Neste processo, encontramos uma linguagem que já

    participa dessas identidades e que vai sempre se reconstruindo, na

    medida em que novas situações vão acontecendo e exigindo novas

    respostas.

    E é aí que podemos começar a pensar no espaço

    universitário, acadêmico . Se não pensarmos em como funciona esseespaço, como as pessoas se relacionam nele, com que interesses e

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    Leitura e Produção de Textos

    necessidades e como esse mundo e essas pessoas constroem uma

    identidade própria, nas formas de agir e, principalmente, de dizer as

    coisas e receber o que é dito pelas outras, não vamos jamais entender

    esse espaço e se fazer entender dentro dele.

    Por que, nesse ambiente, as pessoas agem de maneira tão

    diferente e tão estranha ? Por que escrevem e leem textos

    esquisitos , cheios de palavras difíceis ? Por que são tão exigentes

    com os posicionamentos e ideias um dos outros?

    Para entender isso, precisamos saber que o mundo

    acadêmico organiza-se em torno de um tipo de conhecimento

    específico, que é o conhecimento científico. Faz parte da natureza

    desse saber pôr em dúvida, questionar, de maneira a se propor

    entender processos do mundo, mas de uma forma que possamos ter

    algumas certezas e algum controle sobre essas respostas. Para isso, é

    comum que se tente organizar as próprias questões que fazemos, os

    problemas que levantamos e não só as respostas que encontramos,

    mas o quanto essas respostas resistem ao confronto com os

    problemas, o quanto elas se apresentam como soluções para essas

    questões, mesmo que de maneira provisória ou temporária.

    Para se dar conta disso, a linguagem utilizada tem que ser

    mais cuidadosa, mais controlada, refletindo essas condições de prova,

    argumento, embate pela compreensão dos problemas e (se

    representam realmente) suas soluções.

    Vamos voltar à ideia geral exposta acima e retomá-la de

    maneira resumida. As pessoas envolvidas numa situação, a própria

    situação e a linguagem que ocorre nela e conosco mudam, serearranjam, buscando cumprir as finalidades e dar conta das

    necessidades que se mostram nessa inter-relação. Isso acontece o

    tempo todo, em cada minuto em que vivemos. O que ocorre no mundo

    acadêmico não é estranho a isso.

    Como podemos entender e aprofundar nosso conhecimento

    a respeito disso?

    Se pensarmos na linguagem envolvida mas sem nosesquecermos de tudo o que está implicado nas situações , podemos

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    Leitura e Produção de Textos

    utilizar um conceito que já foi criado para tentar entender, descrever e

    interpretar essa complexa rede de pessoas e acontecimentos que cada

    situação apresenta.

    Estamos falando do conceito de gêneros discursivos. Este

    conceito foi formulado, no início e meados do século XX, pelo autor

    Mikhail Bakhtin exatamente com o propósito de dar conta dessas

    relações complexas que ocorrem no cotidiano da linguagem e da

    sociedade e que afetam a maneira como a linguagem é produzida em

    diferentes textos, com diferentes propósitos e efeitos socioculturais

    (desde uma conversa até uma obra literária como um romance).

    De um tempo para cá, vários outros autores têm se utilizado

    desse conceito e procurado estendê-lo, para entender as relações e

    especificidades de textos em  situações diversas. Essa compreensão

    tem procurado auxiliar, também, em situações de ensino de textos

    acadêmicos e na melhor  preparação dos estudantes para darem conta

    adequadamente do que se produz e se consome, em termos de

    conhecimento, no ambiente universitário.

    Conforme estudado na unidade 1, os gêneros são

    compostos por um plano composicional, um conteúdo temático e um

    estilo. Esses elementos estão sempre interligados, são indissociáveis e

    a compreensão de cada um deles deve se dar em relação uns aos

    outros. Para exemplificar, podemos considerar a tirinha abaixo:

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    Leitura e Produção de Textos

    O que faz uma tirinha ser uma tirinha , ser reconhecidacomo tal, por nós? Em primeiro lugar, porque estamos acostumados a

    encontrar tirinhas no nosso contato cotidiano com textos

    impressos/postados. Nossa familiaridade com o formato (distribuição

    em quadrinhos, desenho de personagens, sequência dos quadrinhos,

    balões) foi construída pela vivência com essas características. Isso é

    da ordem do plano  composicional. Cada desenhista/autor de

    quadrinhos tem um jeito de desenhar, um traço , como se costumadizer. Claro que esse traço foi desenvolvido a partir dos desenhos,

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    Disponível em: www.laboratoriodefisica.com.br/GREF/mec/mec28.pdf . . Acessoem: 03/10/2011

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    Leitura e Produção de Textos

    ilustrações, gravuras, tirinhas, charges que esse autor viu e, a partir

    delas, mas com uma característica própria, desenvolveu um jeito só

    seu de desenhar: seu estilo.  E há também os conteúdos temáticos.

    Que assunto é possível abordar numa tirinha. Depende dos leitores, da

    proposta da tirinha. A tirinha acima é do personagem Hagar. É um

    viking, rude, machista, violento, mas que sempre se depara com a

    realidade e, de alguma maneira, se dá mal.

    Esse conteúdo temático só é possível numa sociedade que

    possa ter uma abordagem crítica com relação ao homem, seja na

    posição de cidadão, pai, marido, amigo, chefe. E o estilo tem que

    responder a isso, ou seja, o traço tem que evidenciar a rudeza do

    personagem.

    Na história acima, Eddie Sortudo tenta provar a Hagar que o

    planeta Terra é redondo. Essa temática somente vai ser

    profundamente compreendida e apreciada nesta história em particular

    pelos leitores que sabem (1) que a Terra é redonda/arredondada; (2)

    que esse conceito nem sempre foi assim (antes de Galileu, Copérnico

    e Kepler a maioria das pessoas achava que a Terra era plana. Antes

    deles, somente alguns poucos estudiosos gregos sabiam disso); (3)

    que na época retratada (vikings = Idade Média europeia) a Terra era

    tida como sendo plana.

    O efeito de humor reside na contraposição entre um

    conhecimento exposto pela argumentação e outro defendido pela força.

    A frase final de Eddie Sortudo é irônica porque Hagar não argumentou.

    Ele, num gesto violento, esmagou o ovo e o tornou plano.

    São todos esses elementos JUNTOS que fazem com queeste texto faça sentido para um determinado grupo de pessoas, em

    situações específicas. É isso que está envolvido no conceito de

    gêneros.

    Da mesma maneira, um texto produzido no mundo

    universitário responde a igual inter-relação de elementos. Vamos ver

    um pouco de alguns deles.

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    Leitura e Produção de Textos

    b) resumos de textos para mapeamento de um campo de

    estudo, integrando a discussão sobre o estado da arte , ou

    seja, o que já foi publicado sobre a temática;

    c) resumos inseridos antes de um texto científico (artigos,

    monografias, dissertações, teses) ou encaminhados para

    submissão de trabalhos em eventos científicos (encontros,

    congressos, semanas acadêmicas...), com o objetivo de

    apresentar e descrever a pesquisa empreendida.

     

    Por que a atividade de resumir pressupõe igualmente uma

    atividade de leitura e outra posterior de escrita?

    Você concorda que o resumo é um texto que possui

    características (formato, estilo e função social) que são peculiares a

    esse gênero textual?

    Observe os dois tipos de resumo:

    Resumo de pesquisa de revisão bibliográfica

    SOUZA, Luiza Jane E. de; BARROSO, Grasiela T. Revisão

    bibliográfica sobre acidentes com crianças.

    ResumoO objetivo do estudo consistiu em apresentar uma revisão bibliográficados acidentes com crianças. Utilizaram-se as pesquisas documental ebibliográfica como metodologia. Os dados evidenciam que o acidentecom criança é um dos maiores problemas de saúde pública naInglaterra. Nos Estados Unidos aconteceram, em 1989, cerca de 2.700mortes como resultado de acidentes em crianças abaixo de 11 anos.No Brasil, também registram-se elevados índices de atendimentosenvolvendo os acidentes domésticos e, em Fortaleza, no Ceará, esses

    casos também são identificados. Conclui-se que os acidentes comcrianças são alarmantes e merecem atenção específica com umaabordagem preventiva.

    Resumo de pesquisa de trabalho de campo ou experimental

    VON PINHO, Renzo Garcia; CARVALHO, Graciela Silva;RODRIGUES, Victor do Nascimento e PEREIRA, Joelma.Características físicas e químicas de cultivares de milho para produçãode minimilho. Ciênc. agrotec. [online]. 2003, vol.27, n.6, pp. 1419-1425.Resumo

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    Leitura e Produção de Textos

    produção de resenhas poderá ajudá-lo no desenvolvimento das

    habilidades de síntese e crítica dos textos lidos.

    A produção de uma resenha envolve:

    a) leitura global da obra;

    b) segunda leitura mais analítica, identificando e

    selecionando as ideias e argumentos do autor;

    c) condensação (resumo) dos dados selecionados;

    d) posicionamento crítico para construção da resenha;

    e) pesquisa, se necessário, para facilitar as argumentações;

    f) observação do público-alvo para o qual a obra é

    destinada;

    g) produção do texto propriamente dito.

    Assim, para avaliar e para produzir uma resenha, você deverá

    observar os seguintes elementos:

    a) cabeçalho, contendo o nome da instituição de ensino e do

    autor da resenha;

    b)  identificação da obra (referências completas de acordo

    com a ABNT);

    c) apresentação da obra, sintetizando a ideia central ou o

    objetivo do texto, contextualizada com dados acadêmicos do

    autor;

    d) descrição sumária da estrutura da obra (divisões);e) descrição (resumo) do conteúdo da obra;

    f) avaliação crítica, argumentativa, fundamentada em

    pesquisas bibliográficas e/ou na própria obra;

    posicionamento final quanto ao texto em si, que deverá levar

    em consideração os seguintes pontos:

    - Conteúdo, objetivo(s) e destinatário(s);

    - Plano estrutural e desenvolvimento lógico da temática;- Linguagem, vocabulário e estilo do autor;

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    4.3 Pôster (ou Painel)

    No ambiente acadêmico, há um processo que é uma das

    razões de ser da universidade, que é a pesquisa científica. Ela mantém

    com o ensino uma relação muito importante: na sala de aula, o

    conhecimento acessado e debatido vem da pesquisa e, da própria

    discussão, criam-se situações que geram questões e oportunidades

    para alimentar as pesquisas existentes e abrir novos caminhos para o

    sabe