guia de estudos 2º semestre - fundamentos hermenêuticos

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www.metodista.br Bacharelado em Teologia Fundamentos hermenêuticos Organizador Nicanor Lopes 2 a edição– 2012

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Bacharelado em

Teologia

Fundamentos hermenêuticos

OrganizadorNicanor Lopes

2a edição– 2012

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teUniversidade Metodista de São Paulo

Conselho DiretorPaulo Roberto Lima Bruhn (presidente), Nelson Custódio Ferr (vice-presidente). Titulares: Ademir Aires Clavel, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Carlos Alberto Ribeiro, Kátia Santos, Marcos Sptizer, Oscar Francisco Alves, Osvaldo Elias de Almeida, Suplentes: Regina Magna Araujo, Valdecir Barreros

Reitor: Marcio de MoraesPró-Reitora de Graduação: Vera Lúcia Gouvêa StivalettiPró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa: Fábio Botelho JosgrilbergDiretor da Faculdade de Teologia: Paulo Roberto GarciaCoordenação do NEAD: Adriana Barroso de AzevedoCoordenador Geral de EAD: Francisco José Sousa Lima

Coordenador do Curso de Teologia Nicanor Lopes Organizador Nicanor Lopes Professores Autores Claudio de Oliveira Ribeiro José Carlos de Souza Luiz Carlos Ramos Magali do Nascimento CunhaSuely Xavier dos SantosTércio Machado Siqueira Assessoria Pedagógica Adriana Barroso de AzevedoPatricia Brecht InnarelliRosangela Spagnol Fedoce

Coordenação Editorial Nicanor Lopes

Editoração Eletrônica Editora Metodista

Projeto Gráfico Cristiano Leão

Revisão Eliane Viza Bastos Barreto

Impressão Assahi Gráfica e Editora Ltda. Data desta edição 2o semestre de 2012

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo)

Un3f Universidade Metodista de São Paulo

Fundamentos hermenêuticos / Universidade Metodista de São Paulo. Organização de Nicanor Lopes. 2.ed. São Bernardo do Campo : Ed. do Autor, 2012. 104 p. (Cadernos didáticos Metodista - Campus EAD) Bibliografia ISBN 978-85-7814-150-9 1. Teologia 2. Hermenêutica - Aspectos religiosos I. Lopes, Nicanor II. Título. CDD 230

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO Rua do Sacramento, 230 - Rudge Ramos 09640-000 São Bernardo do Campo - SP

Tel.: 0800 889 2222 - www.metodista.br/ead

É permitido copiar, distribuir, exibir e executar a obra para uso não-comercial, desde que dado crédito ao autor original e à Universidade Metodista de São Paulo. É vedada a criação de obras derivadas. Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros os termos da licença desta obra

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OrganizadorNicanor Lopes

Bacharelado em

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Fundamentos hermenêuticos

UMESP

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Prezado/a aluno/a do Campus EAD Metodista,

Seja bem-vindo(a) à Universidade Metodista de São Paulo! A modalidade de educação a distância,

escolhida por você, está em crescente expansão. Para ter uma ideia, um em cada cinco alunos que

ingressaram no ensino superior no início de 2010 optaram pela EAD, segundo dados do Ministério

da Educação. Isso significa que vem ganhando confiança e credibilidade o ensino a distância, graças

também ao desempenho bastante positivo dos alunos no ENADE (Exame Nacional de Desempenho

Estudantil), se comparado àqueles matriculados na modalidade presencial.

O melhor de tudo isso é a democratização do acesso ao curso superior, facilitada pela EAD,

permitindo a uma parcela cada vez maior da população condições mais adequadas de inserção no

mercado de trabalho com a qualidade exigida. Tal atributo, associado a valores ético-cristãos que

como uma instituição ligada à Igreja Metodista a Universidade defende, são marcas e atributos que

buscamos vivenciar na prática pedagógica de nosso dia a dia acadêmico.

Este Guia de Estudos reúne os principais conceitos relacionados às disciplinas que integram o

curso que você escolheu. Nosso desejo é que tal material seja um norteador de trabalhos, atividades

e outros afazeres acadêmicos a serem desenvolvidos no decorrer do período em que estiver na

Metodista. Importante também é incentivá-lo no sentido de que as temáticas sejam aprofundadas em

outras fontes de pesquisa (livros, revistas e outras referências que os docentes podem oferecer-lhe).

Bons estudos e um ótimo semestre!

Prof. Dr. Marcio de Moraes

Reitor

Aprendizagem e autonomia

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Módulo: Comunicação na Ação Pastoral

Introdução às regras da comunicação científica I

Introdução às regras da comunicação científica II

Temas básicos em comunicação

Técnicas básicas de expressão oral

Técnicas básicas da expressão e escrita

Comunicação eficaz na celebração comunitária da fé

Módulo: Fundamentos de teologia e história

O que é teologia?

Teologia latino-americana: histórico e métodos

História do cristianismo e as origens cristãs

O catolicismo antigo

Cristianismo e Estado Imperial

A cristandade medieval

Módulo: Literatura e contexto histórico do Antigo Testamento

O Pentateuco

Israel chega à Canaã O período profético em Israel O período pós-exílico

Hermenêutica bíblica I Hermenêutica Bíblica II

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Módulo

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Introdução às regras da

comunicação científica I

Objetivos:Introduzir as regras do universo acadêmico, seus métodos, seus

pressupostos e sua maneira própria de expressão;

Apresentar os princípios da leitura sistemática.

Palavras-chave:Metodologia científica, teologia, fé,

razão, leitura sistemática.

Prof. Luiz Carlos Ramos

Comunicação na ação pastoral

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Introdução ao jogo científico Há muitas maneiras de aprender, conhecer e pensar. A

maneira como isso se dá na Universidade distingue-se daquela que vulgarmente se experimenta cotidianamente. Muito do que sabemos foi descoberto de forma intuitiva, a partir de experiências sensoriais, estéticas, afetivas, religiosas, etc. Todas essas são formas legítimas e produzem conhecimento verda deiro.

Não obstante, há um tipo de conhecimento que pretende se basear em algo menos subjetivo que os sentidos, a intuição ou a fé. Esse outro tipo de conhecimento é a grande aspiração da ciência. Assim, a ciência, começando pela observação das coisas, e terminando pela demonstração de suas causas, pertence a um outro tipo de conhecimento: trata-se do gênero do conhecimento científico. E isso não é tarefa para os sentidos corporais ou a intuição, mas uma tarefa para a inteligência.

Embora haja quem advogue a supremacia do gênero científico sobre os demais tipos de conhecimento, tal como o conhecimento vulgar, o estético, o teológico ou religioso, o filosófico, etc., preferimos considerar o conhecimento científico apenas como sendo diferente dos demais. Tendo, cada qual, seu valor, desde que devidamente contextualizados.

Fique claro, porém, que, uma vez na Universidade, deve-se jogar com as regras do jogo acadêmico ou científico. É como nos esportes: não se pode jogar vôlei com as regras do basquete, e vice-versa. Por essa razão, deve ficar entendido porque os textos acadêmicos não se parecem com as cartas de amor, ou com os romances, nem com os sermões ou as orações. Cada um desses textos pertence a um gênero distinto, e tem seu valor dentro do seu próprio contexto. O equívoco é tentar impor as regras de um gênero sobre o outro.

Quais são, então, as regras do gênero científico? Há muitos métodos considerados científicos que foram desenvolvidos em diferentes épocas,

destinados a diferentes tipos de abordagens e pesquisas, depen dendo do problema ou objeto de estudo. Estritamente falando, porém, há, basica mente, duas maneiras de se chegar a uma conclusão científica: ou pela via descendente, por meio da dedução (que é a aplicação de alguma lei ou regra geral a um objeto de estudo em particular), ou pela via ascen dente, por meio da indução (que consiste na reunião ampla de dados a respeito do objeto em questão, até que se possa estabelecer uma regra mais geral).

Seja como for, a ciência sempre almeja, nos passos que dá rumo ao conhecimento, ser racional, objetiva, factual, analítica e sistemática. Além disso, ela pretende transcender os fatos, buscando a clareza e a precisão no seu processo comunicativo, adotando procedimentos seguros de registro e verificação; reconhecendo-se, portanto, como falível. Por essa razão, a ciência deve sempre estar aberta à revisão dos seus postulados para que suas investigações metódicas sejam úteis para a humanidade.

Dependendo do objeto a ser pesquisado, a ciência obtém mais ou menos sucesso. A pretendida objetividade científica é mais facilmente alcançada quando se trata de pesquisas no contexto das ciências exatas. Quando se trata de ciências humanas, entretanto, por ser extremamente mais difícil exercer mecanismos de verificação e controle em função da complexidade dos seres humanos e de suas expressões sociais, os ventos já não sopram tão favoráveis. Isso exige uma série de adequações dos métodos e procedimentos.

Seja como for, uma vantagem do emprego do método científico, sobre os métodos subjetivos e intuitivos, é que o conhecimento científico pode ser comunicado e sua experiência repetida por qualquer um que se disponha a seguir os passos registrados rigorosamente por um primeiro pesquisador. A

Muito do que sabemos foi descoberto de forma

intuitiva, a partir de experiências sensoriais,

estéticas, afetivas, religiosas, etc.

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experiência intuitiva é única para cada indivíduo, ao passo que o conhecimento científico é comum a qualquer pessoa.

Talvez, a esta altura, alguém esteja levantando a seguinte pergunta: Mas por que um curso de teologia precisa da ciência? A religião não é uma questão de fé? Esta é mesmo uma boa pergunta, e merece uma boa resposta. Ao contrário do que o senso comum poderia supor, não há oposição entre fé e teologia. A partir do momento em que

Alguém queira expressar sua fé, como experiência pessoal e íntima, ao fazê-lo por meio de palavras (seja oralmente ou por escrito), terá de recorrer, neces sariamente, à razão. Ora, a teologia é precisamente isso: a expressão racional da fé. Da mesma forma, toda vez que alguém, por intermédio do testemunho (falado ou escrito) de outra pessoa, interioriza esse testemunho, passa a ter uma experiência de fé. Logo, conclui-se que a fé, enquanto experiência íntima, fica restrita ao indivíduo, mas quando expressa de modo que possa ser compreendida, torna-se acessível a muitos. A teologia é, portanto, a fé expressa de maneira inteligível. Na próxima aula, o Prof. Cláudio Ribeiro nos ajudará a compreendermos um pouco melhor o que é teologia.

A nós interessa, particularmente nesta aula, entender como as regras do jogo científico se aplicam ao nosso curso. Como na maioria dos cursos de graduação, o Curso de Teologia utiliza-se amplamente de fontes bibliográficas no processo de construção do conhecimento. Dizendo de outro modo, muito do que precisamos saber, para nos tornarmos teólogos e teólogas, está nos livros. Mas toda essa informação não nos servirá de nada enquanto continuarem nas estantes da biblioteca. É preciso que nos apropriemos desse conhecimento. Por onde começar? O que fazer com tantos livros? Quais são os melhores? O que fazer com tanta informação?

Como ler sistematicamente? Primeiramente você deve se recordar que os textos acadêmicos diferem dos outros textos. Não

lemos obras científicas da mesma maneira que lemos uma carta da namorada ou namorado, nem da mesma forma que lemos um romance ou a Bíblia. Alguns textos dirigem-se mais diretamente à nossa sensibilidade, tais como os poé ticos; outros se dirigem mais especificamente à nossa vontade, tais como os textos publi citários, e sermões; e há os que se dirigem à nossa inteligência, esse é o caso dos textos científicos e técnicos. Sabendo disso, não se deve esperar muito sensacionalismo, nem muita diversão na maioria dos textos que deverão ser lidos ao longo do curso. Como “o combinado

não sai caro”, é bom que se diga de saída, e fique bem claro, que tipo de textos teremos de enfrentar daqui por diante..

Vamos lá. Tomemos um livro nas mãos. Por onde começamos? Pela capa, é óbvio. Os títulos dos textos científicos não tendem a ser muito divertidos, mas a ser mais técnicos e precisos. Assim, temos mais chance de saber a respeito do que trata um livro científico lendo seu título, do que pelo título de um desses livros puramente comerciais, de títulos enigmáticos (exemplo de título comercial: “Quem mexeu no meu queijo?”). Além disso, alguns livros acadê micos também incluem um subtítulo mais preciso ainda, que detalham a aborda gem do texto.

A experiência intuitiva é única para cada indivíduo, ao passo que o conhecimento científico é comum a

qualquer pessoa.

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A teologia é a fé expressa de maneira inteligível

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Lido o título, deve-se dar uma olhada na quarta capa que costuma conter uma breve resenha do livro em questão. Fique a leitora ou o leitor advertido, porém, de que quem faz essa resenha, em geral, são os editores, que têm interesse comercial na obra. Assim, você dificilmente encontrará alguma crítica mais contundente ao conteúdo, ou comentários que indiquem alguma debilidade ou imprecisão do texto, mas muito mais provavelmente você lerá algo como “este livro não pode faltar na sua biblioteca...”. Feita essa ressalva, o breve resumo apresentado poderá servir para uma primeira apreciação do conteúdo do texto, e ajudará na tomada de decisão a respeito de se valerá a pena lê-lo ou não.

Lida a quarta capa, deve-se dar uma espiada nas orelhas do livro. Nelas, você encontrará uma resenha um pouco mais elaborada e, muito provavelmente, uma breve biografia do autor da obra. Sabendo quem é o autor, qual a sua formação e qualidades acadêmicas, você poderá julgar entre um livro e outro.

Finalmente chegou a hora de abrir o livro. Resista, porém, à tentação de correr para o miolo e começar a ler compulsivamente. Comece pelo sumário, que apresenta uma relação esquemática do conteúdo do livro por meio da menção dos títulos dos capítulos e de suas seções. Assim, você poderá saber qual parte do livro interessa mais especificamente à sua leitura, poupando você de

perder um tempo considerável lendo o que não interessa até chegar ao ponto desejado. O índice — que pode ser de autores, de assuntos, ou de citações bíblicas — também é muito útil, pois pode indicar precisamente qual a página na qual o autor aborda alguma questão específica que o leitor está buscando.

Verificados o sumário e os índices, corra os olhos pela bibliografia. Não, isso não é perda de tempo, não. Além de familiarizar o leitor com os expoentes e principais pensadores ligados ao tema tratado no livro, a avaliação da bibliografia ajudará o leitor a decidir entre um livro e outro, caso não disponha de tempo para ler todos os livros disponíveis, julgando qual é a obra mais bem fundamentada, qual a bibliografia mais completa, qual a menos restrita científica, ideológica e teologicamente.

Não, ainda não é hora de ler o miolo. Agora é a vez de lermos a introdução e a conclusão. Pode ir

se acostumando desde já: a ciência costuma começar sempre pelo fim. Os textos científicos têm o compromisso de dizer logo de saída o que pretendem. Eles não sonegam nem escondem informações fundamentais em parágrafos obscuros em subunidades secundárias. Assim, na introdução, o autor dirá logo qual é o assunto do livro, que hipótese pretende verificar, quais os referenciais teóricos assumidos, qual a metodologia empregada e qual a estrutura básica do texto. Na conclusão, ele explicitará o caminho percorrido e resumirá as principais conclusões a que chegou. Em outras palavras: na introdução o autor diz o que pretende dizer; no corpo do livro, o autor desenvolve o que ele disse que iria dizer; e na conclusão, o autor reafirma que disse o que pretendia dizer.

Lida a quarta capa, deve-se dar uma

espiada nas orelhas do livro. Nelas, você

encontrará uma resenha um pouco mais elaborada.

Atenção! Nunca salte ou deixe de ler a introdução e a conclusão de um livro. Você saberá muito mais sobre uma obra lendo sua introdução e sua conclusão, do que lendo pedaços do seu miolo.

Finalmente chegou a hora de abrir o livro

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Chegou a hora de ler sistematicamente! Para isso é preciso compreender que a leitura se dá em diferentes níveis. O primeiro é o nível

inspecional, que é o procedimento que descrevemos anteriormente, de aproximação do texto.

O segundo é o nível textual, para o qual é imprescindível o domínio do código adotado pelo texto e o conhecimento básico do vocabulário empregado. Se alguém não sabe russo, de nada lhe servirá querer ler um livro escrito nessa língua. Conhecimento elementar de gramática e do vocabulário é, portanto, uma primeira condição. Para isso, são absolu tamente necessários os dicionários (se você não sabia por onde começar sua biblioteca, então aí está: comece pela aquisição de um bom dicionário de língua portuguesa).

O terceiro é o nível conceitual. Não basta sabermos em que língua um texto está escrito, se não compreendermos os conceitos expostos. Não basta, por exemplo, saber que a palavra “Iluminismo” deve ter alguma coisa a ver com luz, ou iluminação. Iluminismo, conceitualmente falando, é muito mais do que isso. Como é que eu posso descobrir o que esse e outros conceitos significam? É aqui

que entram os livros de referência, as enciclopédias e os dicionários específicos. Esses não são livros feitos para serem lidos de capa a capa, mas são obras de consulta, às quais devemos voltar assiduamente para podermos nos apropriar dos conceitos recorrentes que

dizem respeito ao objeto das nossas pesquisas (um bom dicionário teológico será imprescindível para alguém que pretenda fazer o curso de teologia. Aos poucos, na medida da necessidade, poder-se-á acrescentar à biblioteca um dicionário de filosofia, de sociologia, de psicologia, etc.).

O quarto é o nível analítico. A análise é o desdobramento de assuntos complexos em unidades menores, de tal maneira que permita a compreensão gradual de questões difíceis por meio do estudo de suas subpartes mais simples. Em geral, os capítulos e subtítulos dos textos acadêmicos já nos ajudam nessa tarefa, mas isso também pode ser feito no âmbito dos parágrafos e dos períodos ou frases. A identificação das palavras e idéias centrais dos capítulos, das seções e dos parágrafos, devidamente anotadas, permitirá a elaboração de um esquema do texto lido, que seja mais preciso e detalhado do que o sumário.

O quinto é o nível sintético, que resulta de todo o processo anterior. Uma vez de posse do esquema da leitura, poder-se-á elaborar uma síntese ou resumo do texto. Este resumo deve ser escrito tendo como referência o esquema analítico, resultante dos apontamentos do leitor ou leitora, e não mediante a transcrição de partes do livro. Nesse estágio, o livro deve ser fechado e deixado de lado. Assim, o leitor e a leitora poderão escrever a síntese do livro usando as suas próprias palavras para transformar em redação fluente o que antes estava em forma esquemática. Até esta etapa, o fundamental é o leitor apropriar-se das idéias do autor, independentemente de concordar ou não com ele.

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O sexto, e último, é o nível crítico. Somente depois que o leitor tiver certeza de que compreendeu o que o autor quis dizer é que ele poderá arriscar reagir às idéias expressas no texto. Aqui, o leitor poderá apresentar suas dúvidas e discordâncias em relação ao livro, bem como poderá compa-rar as idéias desse autor em particular com outros autores e textos lidos pelo resenhista. Um resenhista é alguém que escreve uma resenha. O resultado de todo esse procedimento é justamente a resenha, que deve começar com uma apresentação do autor e da obra a ser resenhada, seguida de um resumo das principais idéias do autor, terminando com uma apreciação crítica na qual o leitor emite seu parecer sobre a obra lida. Pedir resenhas é uma das tarefas preferidas pelos professores e professoras universitárias. Por isso, é bom que você compreenda o que é isso e comece a gostar de ler sistematicamente, caso ainda não o esteja fazendo.

Próximos passos: uma vez aprendidos os critérios para uma leitura sistemática (ver maiores instruções nas orientações e indicações para aprofun damento), resta abordarmos o tema do raciocínio científico e da redação acadêmica. Disso trataremos na nossa próxima aula. Até lá.

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Se você não sabia por onde começar sua biblioteca, então aí está: comece pela aquisição de um bom dicionário de língua portuguesa...

Uma vez de posse do esquema da leitura, poder-se-á elaborar uma

síntese ou resumo do texto.

ReferênciasALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e a suas regras. São Paulo: Loyola, 2000. (Leituras Filosóficas).AZEVEDO, IsRael belo de. O prazer da produção científica: diretrizes para elaboração de trabalhos acadêmicos. 10 ed. SÃO PAULO: Hagnos, 2002. BOFF, ClodovIs. Teoria do método teológico. Petrópolis: Vozes, 1998. IDE, PasCal. A arte de pensar. Tradução de Paulo Neves. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Ferramentas).

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Objetivos:Aprofundar o conhecimento das

regras do universo acadêmico, seus métodos, seus pressupostos e sua

maneira própria de expressão;Apresentar os princípios do raciocínio

científico e da redação acadêmica.

Palavras-chave:Raciocínio científico, silogismo, indução, analogia , entimema,

redação acadêmica.

Comunicação na ação pastoral

Introdução às regras da

comunicação científica II

Prof. Luiz Carlos Ramos

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Hoje retomaremos a nossa conversa sobre as regras do jogo científico no curso de teologia. Em nosso primeiro encontro, conversamos brevemente sobre os princípios e os métodos científicos como sendo o gênero de conhecimento privilegiado pelas universidades. Vimos também que, fundamen talmente, a fonte do conhecimento acadêmico são os livros. Por isso, refletimos sobre a necessidade de estabelecer critérios consistentes para garantir uma leitura sistemática proveitosa. Assim, conversamos sobre os níveis de leitura: o inspecional, o textual, o conceitual, o analítico, o sintético e, finalmente, o crítico.

Agora está faltando considerarmos, com um pouco mais de atenção, o processo de reflexão que permite um julgamento crítico e criterioso dos conteúdos veiculados nos livros. Para isso, precisamos pensar sobre o pensamento, do mesmo modo que temos lido sobre a leitura. Ora, o pensamento científico não se contenta com meras afirmações; ele exige que se sejam apresentadas as causas e que sejam demonstradas as razões que permitem que certas afirmações sejam feitas. Isso é possível, precisamente, por meio do raciocínio. O raciocínio permite a demons tração da causa da união de determinado predicado a um determinado sujeito.

Comparando com a estrutura grama tical, pode-se dizer que as operações intelectuais dependem de três elementos básicos: o conceito (que equivale na gramá tica às palavras), o juízo (que equivale à sentença) e o raciocínio (que equivale ao parágrafo).

Um raciocínio é feito de diferentes proposições (pelo menos três): duas premissas (que servem para aproximar os termos da problemática) e uma conclusão (que expressa o postulado pretendido pela afirmação, ou negação resultante desse procedimento intelectual).

Quando alguém faz uma afirmação e outra pessoa pergunta “por quê?”, está-se a exigir um raciocínio, pois a pergunta está em busca da causa daquela afirmação. Os filósofos chamam a causa de Termo Médio. Foi Aristóteles que, 350 anos antes de Cristo, constatou que, a rigor, só existem quatro tipos de Termo Médio: a causa, os exemplos ou casos singulares, a similitude e o sinal. Daí concluiu que existem quatro tipos de raciocínio:

• O silogismo, ou dedução, que se baseia nas causas;• A indução, que se baseia num conjunto de casos;• A analogia, que se baseia na similitude com um único caso;• O entimema, que se baseia no sinal secundário, que é uma espécie de “descaso” para

com a causa última.

Também foi Aristóteles quem perce beu que o silogismo e a indução são raciocínios adequados à demonstração, enquanto a analogia e o entimema se aplicam mais à persuasão. Vamos tentar compreender isso melhor.

Pascal Ide, em seu livro A arte de pensar (que consta da nossa bibliografia), sugere quatro exemplos do emprego desses ra ciocínios. Vejamos: Suponhamos que alguém quer demonstrar que “o aborto é um mal”. Para isso ele poderia recorrer ao raciocínio silogístico da seguinte maneira: “Todo homicídio é um mal; ora, o aborto é um homicídio; logo, o aborto é um mal”. A força do silogismo está no fato de que ele emprega uma lei geral a um fenômeno em particular, levando à conclusão inevitável imposta pela lei geral, uma vez que, de fato, esse fenômeno esteja sujeito a essa lei. A única maneira de contra-argumentar em relação a um silogismo é questionando-lhe a validade de suas premissas. Neste caso, especificamente, poder-se-ia questionar a afirmação de que “todo homicídio é um mal” evocando, por exemplo, a legítima defesa, ou o fato de que, em muitos casos, mãe e filho morreriam, caso a gravidez fosse levada em conta etc. O que levaria à relativização da afirmação, pois considerados certos casos “nem todo homicídio seria um mal”.

O raciocínio permite a demons tração da causa da união de

determinado predicado a um determinado

sujeito

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Vejamos outro exemplo, desta vez de um raciocínio indutivo, para defender a mesma tese de que “o aborto é um mal”: “As mulheres que conheci, que cometeram o aborto, ficaram traumatizadas. Ora, o trauma/culpa é um mal. Logo, o aborto é um mal”. A indução tira sua força da quantidade de casos que consegue evocar para demonstrar sua tese. Nisso está sua força e sua fraqueza; pois, para desmontar o argumento indutivo, basta que seja evocado um único caso contrário às estatísticas apresentadas. Se no auditório houvesse uma mulher que se levantasse e declarasse ter cometido aborto e afirmasse não ter ficado traumatizada, enfraqueceria consideravel-mente o nosso empenhado combatente do aborto.

Agora consideremos um exemplo de raciocínio analógico: “O aborto reedita os horrores do

holocausto; ora, o holocausto foi um mal terrível cometido contra inocentes; logo, o aborto, ao matar um ser inocente, reedita o holocausto, e comete um mal igualmente terrível”. De longe, o argumento analógico é muito mais contundente, conquanto muito mais frágil que os anteriores. O problema do argumento analógico é que sua força não depende da consistência das provas apresentadas, mas do estado de ânimo do seu interlocutor. No exemplo dado, a reação do auditório poderia ser bastante diferente da esperada, caso este fosse composto de neonazistas, ou de skinheads.

Um último exemplo, agora de raciocínio por entimema: “Matar um ser vivo é um mal; ora, ao abortar você mata um ser vivo, prova disso é que ele se move; logo, o aborto é um mal”. Este também é um argumento forte do ponto de vista da persuasão psicológica. Embora impressione, trata-se de um argumento que não resiste a uma análise minima mente lógica. Ora, nem tudo que se move é vivo: as nuvens se movem, a água do rio se move etc., e nem por isso são seres vivos. O entimema contenta-se com apenas um sinal — o movimento é um dos sinais característicos do ser vivo, mas não é expressão essencial e causal dos seres vivos.

Esses são os argumentos que Aristó teles considerava legítimos ao processo de argumentação, objetivando a demonstração e a persuasão. Há outras formas de procurar convencer alguém que, no entendimento do filósofo e da ciência contemporânea, não são dignas de serem levadas a sério. Dentre elas está o argumento de autoridade, muito recorrente, principalmente no contexto religioso. Com freqüência, ouve-se dizer que algo deve ser crido ou feito porque o pastor disse que deve ser assim; porque a Bíblia diz que deve ser assim; porque o Papa falou que é assim... Para a ciência, os méritos de quem disse contam pouco. Os argumentos devem convencer pelas qualidades intrínsecas ao próprio raciocínio. Para isso, o raciocínio deve ser correto quanto à formulação, e verdadeiro no que diz respeito às suas premissas. É isso que garantirá a força de um raciocínio.

Pois bem, sabendo desses princípios lógicos, podemos aplicá-los para julgar a consistência argumentativa de um texto que estamos lendo. Podemos julgar se este tem de fato fundamento ou se está tentando nos manipular. Quanto mais racional e lógico, mais demonstrativo será o texto. Ao passo que, quanto mais passional e adjetivado, mais manipulador e persuasivo ele tenderá a ser. Identificar, portanto, se um texto está se dirigindo à minha inteligência ou à minha sensibilidade já é um bom começo para evitarmos a manipulação e iniciarmos um processo de julgamento crítico do texto.

Um raciocínio é feito de diferentes proposições

Existem quatro tipos

de raciocínio são eles:

- Silogismo;- Indução;- Analogia;- Entimema

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Estas informações também nos aju darão quando tivermos de escrever os nossos próprios textos científicos. Quando tivermos de elaborar os trabalhos acadêmicos que nos serão solicitados ao longo do curso, devemos privilegiar os argumentos dedutivos e os indutivos, e recorrermos com moderação às analogias e entimemas. Na verdade, a base de uma conclusão deve ser sempre uma dedução ou uma indução, que poderá ser “ilustrada” com analogias e entimemas. Mas nunca devemos construir teorias sobre estes últimos, pois seria como edificar castelos de areia. Como, então, redigir um artigo científico? Isso é o que veremos a seguir.

• Comecemos pela identificação do autor e do texto. Titulo e subtítulos: Textos acadêmicos/científicos se distinguem dos publicitários ou comerciais por serem mais precisos, técnicos e menos (ou nada) sensacionalistas. Assim, os títulos de um artigo acadêmico não podem prometer mais do que o artigo oferece, além do que o título e os subtítulos deverão dar uma idéia clara e corresponder precisamente ao conteúdo que será abordado.

• Autoria: O/a autor/a deverá oferecer aos editores os dados mais importantes e recentes sobre sua formação acadêmica. Forneça sempre seu nome completo, sua titulação acadêmica e mencione a principal atividade atual (e o local onde a desenvolve). Se desejar, poderá divulgar seu endereço eletrônico para eventuais contatos da parte dos/as/ leitores/as.

• Abstract ou Resumo: Este é muito importante para poupar o tempo dos/as leitores/as. O resumo deverá apresentar explicitamente qual é a idéia principal do texto e a linha de raciocínio que a demons trará. Deverá vir no início do artigo, logo abaixo do título e do nome do autor, na forma de um único parágrafo.

• Palavras-chave: As palavras-chave ajudarão o/a leitor/a a medir a relevância do artigo. Sugere-se que tais palavras sejam colocadas em ordem de aparição no texto, separadas por vírgulas. Assim, o resumo oferecerá aos/às leitores/as uma espécie de índice de assuntos.

• Correção política: a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista – Umesp – não admite o emprego de expressões com conotação sexista, racista, depreciativa ou desrespeitosa em relação ao objeto em estudo. É imprescindível a explicitação dos créditos de textos e idéias de terceiros, ainda que não sejam transcritos literalmente.

Os textos acadêmicos, a rigor, tem três partes: uma introdução, o corpo argumentativo (ou desen volvimento) e a conclusão. Vejamos o que deve conter a introdução:

• Aproximação: A introdução deverá aproximar o/a leitor/a do assunto, do tema e da perspectiva a partir da qual ele será abordado.

• Primeiro parágrafo: Deve-se dar especial atenção ao primeiro parágrafo. Um texto acadêmico diz logo de saída o que pretende; deve facilitar ao máximo a leitura; não deve “esconder” idéias centrais em parágrafos secundários.

Quando tivermos

de elaborar os trabalhos

acadêmicos que nos serão solicitados

ao longo do curso, devemos privilegiar

os argumentos dedutivos e os indutivos,

e recorrermos com moderação às analogias e

entimemas.

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• Outros parágrafos: Também os demais parágrafos devem ser construídos preferen-cialmente obedecendo à seguinte hierarquia: primeiro deve vir o mais importante (a idéia principal), a seguir os detalhes (escla-recimentos, definições, demonstrações) e, por último, os exemplos (analogias, aplica ções...). Esta orientação serve igualmente para as demais partes do artigo.

• Justificativa: O/a autor/a pode jus tificar seu interesse pelo assunto proposto.

• Delimitação: A introdução deve deli mi tar o assunto. Dificilmente se poderá dizer tudo sobre algum objeto de estudo, portanto aquilo que será necessariamente deixado de fora deve sê-lo conscientemente. Aqui deve ser explicado por que o objeto será analisado de tal perspectiva e não de outra, por que tal aspecto será considerado em detrimento de outro etc.

• Revisão bibliográfica: O tema deverá ser situado, dando informação de “a quantas anda” a pesquisa sobre o assunto, a partir de uma revisão bibliográfica (ou de literatura).

• Fontes: Devem ser, igualmente, apre sentadas as fontes, os métodos e as teorias que fundamentam a pesquisa do/a autor/a.

• Transição: Deve-se fazer uma transi ção natural para o desenvolvimento do texto. Uma boa maneira de fazer isso é explicar como as próximas seções (subtítulos) estão concebidas, quais seus conteúdos, por que estão naquela ordem e por que será abor-dado tal assunto em primeiro lugar. Então, é só passar imediatamente a tratar do assunto no desenvolvimento, isto é, no corpo demonstrativo do artigo.

Como se pode notar, a redação da introdução pode dar mais trabalho do que a redação do corpo argumentativo, porque ela leva em conta a pesquisa como um todo. Com relação ao desenvolvimento, pode mos considerar:

• Discussão: Nesta parte do artigo, procede-se à discussão do tema proposto, comentando e demonstrando o(s) resul tado(s) da pesquisa realizada.

• Divisões: A divisão do texto em capí tulos ou subtítulos ajuda o/a leitor/a a compreender as várias fases da pesquisa e da discussão, bem como a evolução dos raciocínios do/a autor/a. As divisões devem ser: exclusivas (não devem

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O resumo é importante para poupar o tempo dos/as leitores/as

Os textos acadêmicos, a rigor,

tem três partes: uma introdução, o corpo argumentativo (ou

desen volvimento) e a conclusão.

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Referências GONÇALVES, HoRtênCIa de abReu. Manual de artigos científicos. São Paulo: Editora Avercamp, 2004.IDE, PasCal. A arte de pensar. Tradução Paulo Neves. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

se confundir), exaustivas (não devem omitir abordagens fundamentais), necessárias (deve-se eliminar tudo o que não é absolutamente relevante), simétricas (as partes devem ser propor cionais tanto na quantidade quanto na qualidade), coerentes (não se deve usar categorias diferentes) e conseqüentes (uma divisão deve surgir da anterior e desembocar naturalmente na seguinte).

Finalmente, podemos considerar o conteúdo da conclusão:

• Considerações finais: Em ciências humanas é difícil falar em “conclusão” definitiva. Cabem melhor expressões, como “considerações finais”, ou “implicações da pesquisa”, ou ainda “pistas...”.

• Síntese: A conclusão deve oferecer uma síntese das principais descobertas do/a autor/a.

• Sugestões: O/a autor/a poderá oferecer sugestões para possíveis aplicações dos resultados da pesquisa.

• Continuidade da pesquisa: Da mesma forma, poderá dar indicações de como o tema poderá vir a ser aprofundado em pesquisas futuras.

Há, ainda, uma série de normatizações sobre a formatação, que devem ser levadas em conta na hora de se redigir um trabalho acadêmico. Essas regras são estabelecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas, a famosa ABNT. Nós elaboramos para você um modelo de trabalho acadêmico com a demon stração prática e concreta da aplicação dessas normas — o modelo contém ainda uma série de orientações úteis sobre redação e o uso do computador no processo de formatação. Sugerimos que você dedique um tempo para conferir esse modelo, para lê-lo com atenção e para experimentá-lo. Se você fizer isso, eu garanto, a sua vida acadêmica será tremendamente facilitada. Bons estudos.

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Uma série de normatizações

sobre a formatação, que devem ser levadas em conta na hora

de se redigir um trabalho acadêmico. Essas regras são

estabelecidas pela ABNT

Referências de imagens Imagem 1: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a4/Aristoteles_Lou-vre.jpg. Acesso em 20’Jun’06.

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Temas básicos em comunicação

Objetivos:Introduzir elementos básicos da teoria da

comunicação que devem ser aplicados à reflexão da prática pastoral, como o conceito da comunicação, o valor da

linguagem, os tipos de comunicação e o processo da comunicação;

Abordar o tema da comunicação sob uma perspectiva teológica, a partir

dos princípios da comunhão, da solidariedade e do diálogo.

Palavras-chave:Comunicação, linguagem,

mídia, religião.

Profa. Magali do Nascimento Cunha

Comunicação na ação pastoral

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Comunicação é elemento-chave na ação pastoral. Afinal, um pastor ou pastora ou uma liderança leiga que atua em igrejas ou qualquer outro agrupamento do campo religioso lida com pessoas; relaciona-se com um público. Saber comunicar bem, desenvolvendo boas relações interpessoais e liderança de qualidade e disseminando mensagens que sejam bem recebidas por seu público-alvo, por meio de uso correto e eficaz da palavra, é requisito fundamental na ação pastoral clériga ou leiga.

Nesta primeira unidade de estudos, vamos buscar na teoria da comunicação alguns conceitos que nos ajudam a compreender elementos muito importantes na prática pastoral e que envolvem o ato de comunicar.

Comunicação é elemento-chave na ação pastoralConceito. Comunicação é uma palavra que vem do latim comunicare, que quer dizer “tornar

comum”. Tornar comum, o quê? Exteriorizar idéias e sentimentos, com o fim de estabelecer comunhão com o outro. Esse ato de tornar comuns elementos significativos levou estudiosos a estabelecerem uma premissa: todos os seres vivos são capazes de se comunicar. No que diz respeito ao ser humano, é possível afirmar que a comu nicação é um processo inerente à condição humana e existe desde que as pessoas surgiram no mundo. Um homem ou uma mulher se comunicam de forma articulada ou mesmo de forma involuntária, pois o corpo humano está programado para comunicar, seja com a fala, um sorriso ou a indicação de fome ou dor. Portanto, o ser humano é comunicação pois, para existir, precisa comunicar-se. Comunicação é necessidade social.

Estudiosos, com base nesta referência, passaram a identificar duas principais formas de comunicação humana: a verbal (oral e escrita) e a não-verbal (sonorizadora, gestual, sinalizadora – gráfica ou não). A linguagem aqui é elemento fundamental a ser enfatizado, pois é a forma de o ser humano se expressar, exprimir a capacidade de raciocínio (os pensamentos) e os senti mentos. Com a linguagem, verbal ou não, damos nomes e atribuímos sentido às coisas que fazem parte da nossa vida.

Linguagem, cultura e ideologia Falando em linguagem, é importante destacar que ela é elemento que compõe a cultura de um

grupo social, pois ela reflete o modo de ser e de pensar dele. Dito de outro modo, é a forma de um grupo social produzir/atribuir/dar sentido a alguma coisa. Por ser resultado de uma produção social, a nossa linguagem também carrega ideologias que assimilamos em nossa sociedade. E o que é ideologia? De acordo com a filósofa Marilena Chauí, é o conjunto de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade; o que devem pensar e como devem pensar; o que devem valorizar e como devem valori zar; o que devem sentir e como devem sentir; o que devem fazer e como devem fazer.

É assim que, por meio de expressões que usamos, assimilamos valores e idéias que determinam por exemplo, cores “boas” e cores “ruins”. Dizemos, por exemplo: “A situação está preta”; “Isto vai denegrir a minha imagem”; “Meu coração era preto; encontrei Jesus e ele se tornou branco”. Por que é a cor preta que indica o que é ruim? Daí, também passamos à classificação de pessoas, como em “Neguinho não sabe o que faz”; “Não faz besteira. Isto é coisa de preto”. Por meio da linguagem, também determinamos que o gênero masculino é superior ao feminino, como por exemplo, quando se diz: “Deus enviou seu filho para salvar o homem dos seus pecados”; “Quero que todos que estão aqui, na igreja, compre endam que somos uma comunidade de irmãos”; “Parabéns, alunos do Curso de Teologia, pelo esforço para estudar”. Por que é o masculino que determina o que é genérico ou coletivo? Ainda, com as pala vras, determinamos quem é socialmente aceitável, como em: “Os deficientes

Comunicação é

uma palavra que vem do latim

comunicare, que quer dizer “tornar

comum”

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precisam de que se abram vagas de empregos para eles” ; “Arrume este quarto, menina, parece uma favela!”. Com estas reflexões, levantamos a necessidade de interpretarmos critica mente a nossa linguagem e a transformarmos para que ela adquira uma dimensão mais inclusiva. Com a nossa linguagem podemos ser excludentes e reforçar preconceitos e discriminações, ainda que de forma inconsciente. Claro! É assim que a ideologia funciona.

O processo da comunicaçãoA partir da compreensão das formas de

comunicar e de construção da linguagem, podemos identificar tipos de comunicação (intrapessoal, interpessoal e social) e o processo como esta comu nicação acontece. “Alguém emite uma mensagem para alguém” seria a concepção básica desse processo. No entanto, outros elementos se fazem necessários para uma compreensão mais profunda do processo que envolve o ato de comunicar: em que contexto acontece o processo? qual é o repertório utilizado nesta comunicação? como a mensagem foi articulada? (a codificação); qual é o meio utilizado para fazer a mensagem chegar ao receptor? (o canal); como a mensagem é recebida? (a decodificação); há proble mas que envolvem o ato de comunicar? (o ruído); qual é o retorno oferecido pelo receptor? (o feedback). Se a comunicação é desenvolvida na perspectiva da comunhão, do diálogo e da interação, esses elementos devem ser levados em conta, em toda a sua com plexidade.

Abordagem teológicaNo campo da teologia, podemos desenvolver

uma leitura dessa mesma compreensão de comu-nicação: o ser humano é comunicação porque Deus o criou com tal dom. Na narrativa da Criação, registrada em Gênesis 2.18, lemos: “Não é bom

que o homem viva só...”. O termo original, do hebraico, que no português é normalmente traduzido como “homem” é Adam, que, na verdade, quer dizer muito mais do que

“homem”. Adam significa “o ser humano”, “a pessoa humana”. Com isso, podemos ter uma perspectiva muito mais ampla do sentido da Criação: Deus criou o ser humano para viver junto, não em solidão, portanto, deu-lhe o dom da comunicação para que houvesse comunhão, integração e cooperação.

Dessa forma, é possível afirmar que comunicaçõ é dom de Deus, e que ninguém existe para viver sozinho, daí a necessidade

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O ser humano é comunicação

porque Deus o criou com tal dom.

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de comunicar. O ser humano é comu nicação, por isso precisa do outro. Sem o outro o ser humano não é. O contrário disso é comunicação aparente, superficial, ou mesmo incomunicação, como preferem alguns. A ação pastoral que leva em conta esses aspectos não se concentra nem se esgota na palavra, nem nos gestos, nem nas imagens, e busca, acima de tudo, o desejo de Deus, de que sua Criação experimente o diálogo e a comunhão.

Meios de comunicação e religião Um dos grandes fenômenos no Brasil de

hoje é a intensa presença dos grupos religiosos nos meios de comunicação eletrônicos. Desde o advento da eletrônica no século XIX, as diferentes igrejas já procuraram colocar a mídia a seu serviço. Não pode restar dúvida de que a presença nos meios de comunicação é hoje, na era da eletrônica, importante para qualquer grupo social, religioso ou não, que queira tornar públicas suas propostas e mensagens. Porém, o desafio que se coloca aos cristãos e cristãs de hoje, em especial no Brasil, é res ponder à pergunta: Para que estar presente na mídia? Com quais valores e objetivos? O aprofundamento dessa reflexão é impor tante para pensar uma ação pastoral comprometida com a dimensão teológica da comunicação que está exposta acima.

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ReferênciasBORDENAVE, Juan e. díaz. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1991.(Col. Primeiros Passos).

Bibliografia complementarASSMANN, Hugo. A Igreja eletrônica e seu impacto na América Latina. Petropólis: Vozes, 1986. BABIN, PIeRRe. A era da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1989.CUNHA, magalI do nasCImento. O crescimento do marketing evangélico no Brasil – resultado da inserção da doutrina neoliberal no discurso religioso das igrejas evangélicas. Comunicação & Política. Rio de Janeiro: Cebela, n.s., v. VI, n. 2 e 3, p. 63-133.CUNHA, magalI do nasCImento. A influência da ideologia neoliberal na religiosidade evangélica. Caminhando, São Bernardo do Campo, v. 7, n. 10, p. 9-30, 2002. CUNHA, magalI do nasCImento. A vida e a missão da Igreja Metodista (1987-1997): uma tentativa de avaliação. In: CASTRO, Clóvis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma nova Igreja: dons e ministérios em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001.DIEZ, FelICísImo maRtInez. Teologia da Comunicação. São Paulo: Paulinas, 1997.KELLNER, douglas. A cultura da mídia: estudos culturais: identidade e política entre o moderno e o pós moderno. Bauru: Edusc, 2001.MORAN, José manuel. Mudanças na comunicação pessoal. 2.ed. São Paulo: Paulinas, 2000.

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Técnicas básicas de expressão

oral

Objetivos:Fornecer orientações aos estudantes sobre

técnicas de comunicação oral com vistas a uma comunicação eficaz, com ênfase no

volume, no tom, no gestual e na pronúncia;

Identificar e indicar correção para os erros comuns de vocabulário no processo de

comunicação oral.

Palavras-chave:Comunicação verbal oral, comunicação não-

verbal, pronúncia, vocabulário.

Profa. Magali do Nascimento Cunha

Comunicação na ação pastoral

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Uma das formas de comunicação mais utilizadas na ação pastoral é a expressão oral. Vamos nos dedicar nesta etapa a este tema e é bom ressaltarmos, desde já, que expressão oral não significa apenas falar, exprimir corretamente e articuladamente as palavras por meio da voz mas um conjunto de formas combinadas.

Volume, tom e gestualQuando nos expressa mos oralmente, usamos a voz que precisa de recursos como volume e

tom. Usamos ainda elementos de reforço à comunicação como os gestos e a expressão facial. Para comunicarmos bem, precisamos desen volver formas eficazes de utilizar esses recursos, e pensar em outros como os materiais visuais que auxiliam a expressão oral.Com isso estaremos trabalhando para que nossa comunicação contribua e não atrapalhe a nossa ação.

Para começar, é preciso atentar para o seguinte:• Quem fala em público tem que se preocupar com o volume da emissão vocal e para

a entonação das frases.• Quem fala em público deve saber jogar, adequadamente com os gestos do corpo,

dos braços, das mãos, e com a fisionomia.

Estes recursos físicos, que já possuímos a priori, podem facilitar a comunicação oral quando bem empregados, mas podem se transformar em pesadelo e destruir nosso contato com as pessoas. Isto aliado aos fenômenos psíquicos da simpatia e da antipatia. Há ainda a necessidade de prender a atenção e de se levar em conta as características do local (contexto e repertório) e dos meios (canais e possíveis ruídos) por onde acontece a comunicação.

O equilíbrio do volume, da tonalidade e o bom uso dos gestos e da fisionomia são aspectos para as quais devemos dar amplo valor para que possamos comunicar bem com as pessoas com quem vamos desenvolver a ação pastoral.

A pronúncia Outro elemento importante na expressão oral é o cuidado com

a pronúncia. Uma boa pronúncia das palavras implica em usar a acentuação tônica correta e na atenção às terminações como o “r” e o “s”. Quem se preocupa em pronunciar bem as palavras e frases, cuida também da velocidade da exposição oral: pessoas que falam muito rápido muitas vezes atropelam-se nas palavras, o que causa sérios ruídos na comunicação. Por outro lado, uma fala lenta e muito pausada, cansa os ouvintes. É preciso equilibrar a velocidade. Há exercícios de pronúncia que são realizados freqüentemente por todos os profissionais que têm a fala como ferramenta e podem ser utilizados na

prática pastoral. Da mesma forma há cuidados físicos a serem tomados: com o aparelho fonador, a respiração e com a ingestão de alimentos e líquidos apropriados para estimularem um bom uso da voz.

O vocabulário Preocupar-se com a expressão oral eficaz é

também dedicar atenção ao vocabulário. Atentar para o vocabulário significa usar corretamente as palavras e expressões e construir boas frases, evitando erros comuns como falta de concordância verbal e nominal, o uso equivocado

Quem se preocupa em pronunciar bem as palavras e frases, cuida também da velocidade

da exposição oral

‘‘...pessoas que falam muito

rápido atropelam-se nas palavras, mas por outro lado

uma fala muito lenta e pausada, cansa os ouvintes...’’

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de pronomes, a atribuição de significados que não correspondem ao sentido da palavra, os modismos, os gerundismos, os coloquialismos, os estrangeirismos, as redundâncias. Dedicar atenção ao vocabulário é elemento fundamental para que um/a orador/a adquira credibilidade e respeitabilidade.

A leitura oral Outro aspecto significativo para quem trabalha com igrejas,

grupos religiosos ou similares é a leitura oral. Na ação pastoral há dois tipos de leitura em público, no caso das celebrações religiosas: aquela que faz parte do conteúdo de uma apresentação, como as leituras bíblicas, as antifônicas (litanias), os anúncios outros textos para meditação; e a leitura da própria apresentação ou do sermão. O problema, na maioria das vezes, é que, por não se preocupar com a audiência, quem faz a leitura oral a faz para si próprio/a, em boa parte das situações, burocraticamente e mecanicamente, e transforma a leitura em pública em uma das atividades mais desagradáveis (para não dizer “chatas”) da comunicação, que perde apenas para a fala decorada.

Quem não sabe ler em público, não sabe porque: teve poucas oportunidades de praticar, não se preocupa com o público e nem com a capacidade que o texto que foi escrito tem de comunicar.

Para comunicar bem, ao se fazer uma leitura em voz audível, é preciso atentar para o tom e o volume da voz, o gestual, a fisionomia, a velocidade da leitura, a pronúncia, da mesma forma que na expressão espontânea.

Base fundamental Além de tudo isso que merece a nossa

atenção para uma boa apresentação em público, há três elementos fundamentais e que estão na base de qualquer técnica de expressão oral:

• Não falar sem conhecer o assunto. Nesse caso, já se começa com insegurança. Ao receber um convite para falar para um determinado grupo sobre determinado tema e não se dominar o assunto, é melhor recusar o convite do que sofrer as conseqüências da decisão de aceitar.

• Não falar sem ter um mínimo de informação sobre os ouvintes. Mesmo dominando-se um tema,

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Atentar para o

vocabuláriosignifica usar

corretamente aspalavras e

expressões...

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ele não deve ser apresentado da mesma forma para contextos e públicos diferentes. O conhecimento do nível intelectual do público, do nível do conhecimento do assunto, da faixa etária e do gênero predominantes são essenciais para uma comunicação eficaz.

• Cuidar da apresentação visual. A vestimenta é importante instrumento de comunicação não-verbal: ela pode dizer muito de quem se apresenta em público e, de acordo com o contexto da apresentação, pode contribuir para captar a atenção dos/as ouvintes para o assunto ou criar rejeição.

Na ação pastoral, respeitabilidade e credibilidade são requisitos básicos para um líder, o que exige uma apresentação visual que expresse asseio, sobriedade e elegância, sem exageros para mais ou para menos. Combinação de cores, comprimento de mangas, calças compridas e saias merecem atenção redobrada. Para os homens, o cuidado com a cor das meias, das gravatas e com o corte do cabelo e da barba é importante. Para as mulheres, evitar decotes, acessórios grandes (brincos e colares) e maquiagem carregada é fundamental. Esses itens aqui mencionados podem, com uso incorreto, transformar-se no objeto de atenção da audiência, deixando o conteúdo, que deve ser o destaque, em último plano. Um modelo para quem se apresenta em público em igrejas, grupos religiosos e similares é o visual de apresentadores/as dos principais telejornais – buscam respeita bilidade e credibilidade e para tal expõem-se com um visual sóbrio e elegante. Claro que há situações no contexto da ação pastoral que expressam informalidade e não exigem visual formal e sóbrio, o que não descarta as indicações acima, pois mesmo na informalidade, lideranças religiosas precisam de credibilidade e respeitabilidade.

ReferênciasCÂMARA JR, J. mattoso. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986POLITO, ReInaldo. Assim é que se fala. 26 ed. São Paulo: Saraiva, 2004HALLIDAY, teReza lúCIa. O que é retórica. São Paulo: Brasiliense, 1990. Coleção Primeiros Passos.PROFESSOR REINALDO POLITO (Como Falar em Público): http://www.polito.com.brFALAR EM PÚBLICO: http://www.falarempublico.com.br/

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Técnicas básicas de expressão

e escrita

Objetivos:Fornecer orientações aos estudantes

sobre técnicas de comunicação escrita com vistas a uma comunicação eficaz,

com ênfase nos elementos básicos que compõem um texto;

Identificar e indicar correção para os erros comuns de redação para um

bom uso da língua escrita.

Palavras-chave:Comunicação verbal escrita, redação,

língua portuguesa

Profa. Magali do Nascimento Cunha

Comunicação na ação pastoral

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Uma liderança religiosa, clériga ou leiga, precisa muitas vezes da comunicação escrita em suas atividades. É freqüentemente demandada a redação de uma carta ou ofício, de material para um informativo da comunidade ou um artigo ou texto, solicitado muitas vezes por um veículo da localidade onde atua. O que importa é que quem escreve tem de escrever bem e corretamente, se deseja uma comunicação eficaz e obter credibilidade e respeitabilidade com o seu trabalho.

Na expressão oral, podemos muitas vezes disfarçar um erro ou mesmo apostar que tal deslize cairá no esquecimento dos/as ouvintes (o que nunca deve servir de desculpa para que se cometam erros freqüentes). Na expressão escrita, no entanto, é impossível disfarçar ou apostar no esquecimento: o material redigido estará sob os olhos de alguém que terá a chance de ler, reler, ler uma terceira vez e ainda mostrar a outras pessoas.

Portanto, nesta terceira unidade de estudos, vamos nos dedicar ao estudo das noções básicas para se elaborar textos, inclusive os acadêmicos que serão solicitados pelos professores do Curso de Teologia. Vamos ainda listar alguns erros comuns de redação e fornecer orientações básicas para um bom uso da língua escrita.

Tipo e forma do texto

Um princípio básico de redação é que o tipo de texto determina a forma do texto. Na universidade, por exemplo, os tipos de textos mais comuns que professores/as e estudantes desenvolvem são: monografias, papers, fichamentos, resumos, resenhas, ensaios. Já na ação pastoral, os mais comuns são as cartas, os ofícios, as reflexões/meditações, os artigos, os estudos, os relatórios, os projetos. Cada contexto tem o próprio público-alvo e o repertório (vocabulário) que lhe é adequado. Portanto, ao se redigir um texto é preciso começar com algumas perguntas: por que e para quem vou escrever? Qual vai ser o formato do meu texto?

O roteiroUm texto deve ter início, meio e fim e ser redigido com objetividade, sem rodeios (redundâncias).

Para se alcançar este objetivo, uma ação importante é listar os principais tópicos a serem abordados no texto como ponto de partida para organizar as idéias. Essa pequena providência inicial pode simplificar o trabalho de redigir. Um roteiro deve conter: assunto, introdução, desenvolvimento e conclusão.

O título

O título é o cartão de visitas do texto: ele deve resumir o assunto para o/a leitor/a. Quem lê o título deve ser capaz de entender sobre o quê trata o texto. Um bom título atrai leitores/as. Exemplos:

Em seus passos que faria Jesus; A mosca azul. Já um título ruim pode revelar um trabalho ruim ou mesmo esconder um bom trabalho. Exemplos: O encontro; Relatório final. Comissão Internacional Anglicano-Católica Romana.

Importante: o título é o último elemento a ser redigido em um texto porque ele deve refletir o que está escrito (resumir) e não o que vai ser escrito. Começar pelo título é redigir com problemas, pois o processo pode ficar “engessado” desde o início.

Redação de uma carta ou ofício

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O título é o cartãode visitas do texto.

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AberturaÉ um elemento importante do texto que serve para prender o/a leitor/a. Em qualquer texto, o

mais importante é o primeiro parágrafo; no primeiro parágrafo, a primeira frase; na primeira frase, as primeiras palavras. O segundo parágrafo deve ser a continuação do primeiro com a finalidade de introduzir o texto e criar no/a leitor/a o desejo de continuar a leitura. A abertura deve conter de dois a três parágrafos em textos longos e um parágrafo em textos curtos.

Intertítulos São usados para auxiliar a leitura do texto e torná-lo mais

agradável e menos pesado. É recomendável colocar intertítulos a cada 20 linhas de um texto curto e a cada cinco a sete parágrafos de um texto longo. O primeiro intertítulo deve, preferencialmente, vir logo após a abertura (como recomendamos, ela deve ocupar os dois primeiros parágrafos). O intertítulo pode ser apenas uma palavra, uma locução ou mesmo uma frase. Evite apenas que seja longo, para que a linha não se quebre em duas.

Parágrafos Existem para indicar que uma idéia foi exposta e outra será iniciada dentro do mesmo assunto, é,

portanto, uma unidade de pensamento, e serve para facilitar a leitura. Não devem ser tão curtos nem tão longos. Para um texto longo (acadêmico, por exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a oito linhas cheias de um texto digitado em papel A4. Para um texto curto (carta ou reflexão pastoral, por

exemplo), os parágrafos devem conter de quatro a cinco linhas cheias de um texto digitado em papel A4. Interligue um ao outro de acordo com o roteiro, mas cuidado: expressões de

ligação devem ser usadas com moderação. Evite usar uma em cada parágrafo para estabelecer as conexões. Ao usar, varie as expressões para que não fiquem repetitivas. Exemplos de expressões de ligação de frases e parágrafos: Portanto, Entretanto, Não obstante, Nesse caso, Conforme mencionado anteriormente [acima], Conforme visto anteriormente [acima].

Frases Devem ter uma característica básica: clareza.

Para redigir com clareza, é preciso pensar com clareza, em seguida, colocar as idéias na ordem direta, ou seja, na velha fórmula que sempre facilita a redação: sujeito + verbo + complemento. As frases devem ser curtas. O ponto deve ser usado à vontade. Pontos encurtam frases. Facilitam a compreensão. Já as vírgulas não devem ser usadas em excesso, pois provocam confusão e cansaço. Quando bem empregadas, contribuem para dar clareza, precisão e elegância ao texto. Só se deve usar palavras necessárias, precisas, específicas, concisas, simples. Não se deve dizer nem mais nem menos do que se quer dizer.

Intertítulos:

São usados para auxiliar a leitura

do texto e torná-lo mais agradável e menos pesado.

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ReferênciasCÂMARA JR, J. mattoso. Manual de Expressão Oral e Escrita. 17 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.MANUAL DE REDAÇÃO DA PRESI DÊNCIA DA REPÚBLICA: http://www.planalto.gov.br/legisla.htmNOVO MANUAL DA REDAÇÃO DA FOLHA DE S. PAULO: http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_introducao.htmNOSSA LÍNGUA PORTUGUESA: http://www2.uol.com.br/linguaportuguesa/

Conclusão Funciona como fechamento do que foi dito

anteriormente. Como a Abertura, deve ter dois ou três parágrafos em textos longos e um parágrafo em textos curtos.

Providência imprescindível

Para um texto estar bem apresentado, é preciso que quem redigiu faça uma leitura do que produziu. Para isso recomenda-se uma leitura e três releituras ao final do trabalho: na primeira, checam-se os conteúdos; na segunda, os erros de digitação e grafia; na terceira, eliminam-se as repetições; na quarta, corta-se tudo o que for desnecessário.

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Para redigir com clareza, é preciso pensar com clareza.

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Comunicação eficaz na

celebraçãocomunitária da fé

Objetivos:Orientar os estudantes sobre princípios

e técnicas para uma comunicação eficaz nos momentos de celebração

comunitária da fé (liturgias);

Introduzir elementos básicos para a elaboração de uma liturgia e na pregação da Palavra (sermão) em

momentos de celebração comunitária da fé com ênfase na comunicação oral

Palavras-chave:Liturgia,homilética, comunicação

verbal oral.

Profa. Magali do Nascimento Cunha

Comunicação na ação pastoral

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Universidade Metodista de São Paulo

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Um dos espaços de maior atuação do pastor e da pastora, e de muitas lideranças leigas, são os momentos de celebração comunitária da fé, na tradição católico-romana denominados “missas”, e na tradição evangélica, denominados “cultos”. É um momento que exige, especialmente, uma boa expressão oral, que, como já estudamos, não significa apenas falar corretamente, mas também desenvolver eficazmente a comunicação do ponto de vista não-verbal.

Clareza do sentido Para estudarmos técnicas de comunicação

nos momentos de celebração da fé, é preciso primeiro termos clareza do sentido desses momentos. O culto ou a missa para ser fiel à tradição bíblica e teológica dos/as cristãos/ãs tem de ser: (1) centralizado na presença de Deus; (2) fundamentado na Palavra de Deus; (3) afirmação da vida comunitária; (4) oportunidade de experiência de renovação de vidas; (5) dinâmico e participativo; (6) um convite à participação na missão de Deus. Depois, é preciso ter clareza do sentido do espaço do culto/da missa, o local de reuniões regulares da comunidade para celebrar a sua fé. Na tradição cristã, esse espaço é composto de três elementos: (1) o altar (de onde atuam os/as celebrantes) – espaço de orientação; (2) o atrium ou a nave (onde estão localizados/as os/as participantes) – espaço de missão; (3) o decoro (a ornamentação/decoração) – espaço de beleza.

É preciso ter também clareza sobre o que se realiza no culto e na missa, e, com isso, recorrer ao sentido do termo liturgia. Esta palavra vem do grego leiturgia que quer dizer “serviço”, “trabalho do povo”. Na prática cristã, liturgia quer dizer o serviço que prestamos a Deus e ao próximo por meio de palavras, gestos, símbolos e ritos. Por isso, liturgia é o serviço cúltico a Deus prestado pela comunidade quando se reúne para celebrar a sua fé. É a liturgia que dá significado e coerência à reunião dos/as fiéis. Na tradição cristã, a inspiração para os momentos litúrgicos vem do texto de Isaías 6 1-8: adoração (v. 3-4); confissão (v. 5-7); louvor e ação de graças (pelo amor e pelo perdão e por todas as bênçãos alcançadas); edificação (ênfase no caráter profético da comunidade; a Palavra); intercessão (apresentação dos sofrimentos, das dores e das necessidades); envio (v. 8).

Um tema comunica bem

Para uma boa comunicação nos momentos de celebração da fé, é importante que se atribua um sentido à liturgia (um tema), para que tudo o que for realizado aconteça em função dele. Os cultos/as missas podem ser: regulares (as celebrações freqüentes, geralmente dominicais); especiais (relacionados a datas do calendário cristão, como Páscoa, Natal, ou a momentos específicos de ações de graças, como aniversários, bodas, ou de evangelismo). Na escolha do tema, portanto, deve-se levar em conta essas características, que precisam nortear as leituras que serão feitas, as palavras que serão pronunciadas e as canções que serão cantadas.

Linguagens

No culto/missa são várias as linguagens desenvolvidas. A linguagem falada é normalmente trabalhada na direção/orientação da liturgia; na pregação da Palavra (sermão/homilia/meditação); na realização dos rituais (eucaristia, batismos, outros); nas orações em voz audível; nas leituras bíblicas e outras leituras audíveis; nos anúncios; nas comunicações diversas; nas palavras de saudação; nos depoimentos e testemunhos. Utilizar as técnicas de expressão oral que estudamos é imprescindível para uma boa comunicação nesses momentos.

Momentos de celebração comunitária da fé

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A linguagem visual é geralmente desenvolvida em dois formatos: visual simbólica, por meio das cores, dos ícones, dos objetos, dos gestos; visual ilustrativa, por meio da decoração, dos audiovisuais, dos cartazes, das coreografias. O espaço do culto/missa, como já mencionamos, tem um sentido, portanto, tem uma linguagem. No altar fica a mesa fixa, podendo também ser móvel, destinada à celebração eucarística. É o espaço mais importante da comunidade de fé, de onde atuam os celebrantes (pastores/padres/sacerdotes) e de onde se renova o sacrifício redentor de Cristo. O que se coloca no altar representa, portanto, o que é mais importante para a tradição de uma comunidade de fé.

A localização dos objetos no altar também tem uma mensagem sobre como o grupo crê. Em alguns templos, por exemplo, vamos encontrar o púlpito (espaço de onde se faz a pregação da Palavra) no centro do altar e a mesa da eucaristia, atrás dele ou ao lado, o que significa que a pregação da Palavra é o mais importante no momento celebrativo. Em outros, já vamos encontrar a mesa no centro e o púlpito ao lado

dela ou mesmo fora do altar, o que indica que a eucaristia é o momento mais significativo para a celebração da fé. Em algumas comunidades, podemos perceber a localização de instrumentos musicais no altar ao lado da mesa da eucaristia e do púlpito, o que comunica que a música tem tanta importância religiosa quanto a eucaristia e a pregação da palavra.

Vale ressaltar que a linguagem visual, mais do que as palavras, provoca sentimentos e motiva atitudes. Estudos no campo da psicologia demonstram que uma pessoa memoriza: 10 a 15% do que ouve; 30 a 35% do que vê; 50 a 60% do que ouve e vê ao mesmo tempo. Portanto, a utilização de recursos visuais aliados aos orais contribuirá para uma comunicação mais eficaz no culto.

A linguagem musical aparece nos momentos de celebração da fé por meio da música instrumental e da música cantada coletivamente ou por meio de apresentações. Para que a música comunique bem, é preciso distribuir as canções pela liturgia, atribuindo-lhes sentido e coerência com cada momento proposto.

Na liturgia, há também a linguagem do silêncio. É importante lembrarmos que o silêncio é forma de comunicação de muitas culturas, inclusive a judaico-cristã. Nessa tradição, o silêncio existe para: interiorizar o que se ouve ou a experiência vivida, valorizar a audição (ouvir), intensificar a expressão (pausa, ruptura que chama a atenção para alguma coisa), simbolizar respeito. Ele pode acontecer: nos atos de confissão/contrição; antes das orações comunitárias; depois de leituras bíblicas e mensagens; depois da eucaristia.

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ReferênciasROMERO, PedRo. Comunicação e Vida Comunitária. São Paulo: Paulinas, 2002. (Col. Carisma e Missão).TEIXEIRA, neReu de CastRo. Comunicação na Liturgia. São Paulo: Paulinas, 2003. VV.AA. Mosaico Apoio Pastoral São Bernardo do Campo: Editeo, Ano 12, n. 31. jun./ago. 2004.

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O que é Teologia?

Objetivo:Em nossas primeiras reflexões, a intenção

é dar uma idéia do surgimento e do desenvolvimento da teologia, tratando-a

como uma estrutura e método de pensar a fé cristã, buscando uma visão sistemática aberta

que articule as doutrinas bíblico-teológicas fundamentais com a realidade. Para isso, serão apresentados exemplos de teologia na Igreja. O objetivo deste tema é apresentar, de modo

panorâmico, as principais formas do pensar teológico, assim como as questões e conflitos

entre fé e razão que marcaram a história do pensamento teológico.

Palavras-chave:Método, teologia liberal,

fundamentalismo, neo-ortodoxia.

Prof. Claudio de Oliveira Ribeiro

Fundamentos de teologia e história

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Teologia e Bíblia A teologia é um esforço humano, racional e metódico para se

compreender mais adequadamente o amor de Deus. Ela não é a Palavra de Deus, mas, sim, uma tentativa sistemática de compreendê-la melhor e, em sentido amplo, discernir a vontade de Deus para a humanidade e para o mundo. A teologia se distingue da Bíblia. Esta, ainda que tenha se formado também a partir de reflexões sobre a fé, é a fonte básica da teologia. Isso significa dizer que há outras fontes, como a história da igreja e a história da cultura e as ciências.

Teologia como ciênciaNão obstante a natureza da teologia como conhecimento crítico, metódico e

sistemático da fé e como disciplina científica – especialmente em função de sua relação com a filosofia e com as ciências humanas –, há forte tendência de se compreender a teologia como linguagem e interpretação da vida humana e da sociedade. Tal perspectiva não elimina o caráter científico da teologia, uma vez que o seu próprio surgimento e desen volvimento, desde o período bíblico, reve lam-na como uma estrutura e método de pensar os conteúdos da fé cristã. O caráter hermenêutico da teologia revela-se funda mentalmente na concepção que a compre-ende como um pensar que se faz e se modifica no tempo a partir de fontes mais permanentes. Nesse sentido, articulam-se o rigor metodológico e científico, de um lado, e, por outro, uma certa liberdade e intuição – não arbitrárias – que diferentes grupos possuem em suas avaliações crítico-religio sas de cada momento e circunstância histórica.

Teologia e pastoral

A teologia contemporânea defende a articulação entre teoria e prática. Uma teologia meramente teórica, especulativa, fechada em sistemas formais, perde a sua relevância histórica. A teologia precisa ser

uma resposta às perguntas que surgem da realidade social e eclesial. Tal resposta, segundo o teólogo Paul Tillich (1886-1965), necessita articular duas dimen sões funda mentais da teologia: a kerigmática (no sentido de garantir o núcleo central da mensagem bíblica) e a

apologética (no sentido de “colocar em prática”; defender concre-tamente a idéia). Também a teologia latino-americana, que se desenvolveu a partir dos anos de 1960, parte sempre da realidade, procura refletir bíblica e teologicamente a partir dela e propor ações concretas de transformação da socieda de e da Igreja. Trata-se do conhecido método ver-julgar-e-agir. Outras correntes teológicas como a teologia wesleyana de John Wesley (1703-1791), líder inicial do movimento metodista na Ingla terra também se consti tuem como teologias essencialmente práticas.

Teologia e modernidade

No campo da experiência judaico-cristã, as tensões entre fé e razão estão presentes desde os primórdios. Cada momento histórico expressou formas diferenciadas de tensão, mas foi, sobretudo, no século 19, após os impactos do Racionalismo e do Iluminismo na civilização ocidental, que a teologia precisou enfrentar mais deti damente as questões relativas ao método científico. No referido século, o liberalismo teológico de Schleiermacher (1768–1834), Ritschl (1822–1899), Harnach (1851–1930) e outros, foi a expressão que mais fortemente demonstrou o interesse pela articulação entre fé e ciência. Entre as ênfases da teologia liberal (ou liberalismo teológico) podem ser listadas: a busca de aproximação entre teologia e ciências e entre fé e racionalidade moderna; visão antropológica positiva, com forte expectativa em relação à educação como possibilidade de promoção humana; relativização

A teologia não é a Palavra de Deus, mas,

sim, uma tentativa sistemática de

compreendê-la melhor...

A teologia precisa ser uma resposta às perguntas que

surgem da realidade social e eclesial.

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das perspectivas cristocêntricas e eclesiocêntricas, com vistas à perspectiva universalistas e seculares; abertura para as questões próprias da relação Igreja e sociedade, e a valorização do mundo como espaço do Reino de Deus; valorização da exegese bíblica e uma conseqüente visão histórico-crítica da Bíblia; aceitação dos valores culturais modernos; reforço das dimensões da individualidade e da subje tividade reduzindo a religião à esfera dos sentimentos; interpretação predomina ntemente ética do cristia nismo, em especial, em relação ao dado salvífico.

O fundamentalismo

Como reação a essa perspectiva, consolida-se, no início do século 20, o fundamentalismo, cujos pontos principais são: visão religiosa contrária às perspectivas secularizadas e às interpretações modernizantes da fé cristã; visão antropológica negativa, baseada na corruptibilidade humana resultante de um pecado inicial (original); perspectivas cristocêntricas e eclesiocêntricas, base do exclusivismo salvífico; combate às iniciativas socialistas e comunistas e às formas do “Evangelho Social”; defesa da inerrância da Bíblia, com refutação aos princípios básicos do contexto bíblico e da exegese; crítica a valores da sociedade moderna que reforcem a autonomia, a secularização e o pluralismo; visão histórica baseada no dispensacionalismo, que a partir da Bíblia compreende a história em etapas fixas e distintas, já previstas e pré-determinadas; perspectiva de exclu sivismo salvífico, em geral identificada com a adesão religiosa formal e institucional: “Fora da Igreja não há salvação”.

A neo-ortodoxia teológica

Também em contraposição ao liberalismo, a conhecida neo-ortodoxia teológica ou Teologia Dialética, de Barth (1886–1968), Brunner (1889–1966) e Bonhoeffer (1906–1945) e outros, realçou, no século XX, outra metodologia teológica. As ênfases dessa corrente revelam a inovação que a reflexão teológica vivenciou. Entre elas destacam-se: o esforço em não aprisionar a reflexão teológica aos limites da razão, destacando para isso os elementos da fé, da graça e do absoluto; a visão antropológica negativa, baseada na corrupção humana resultante dos processos socioculturais; um destaque para o caráter cristológico e eclesiológico da reflexão teológica cristã; avaliação teológica permanente dos problemas sociais e políticos e as implicações deles para a fé cristã e para a Igreja; defesa da centralidade da Bíblia na vida da Igreja e na reflexão teológica, considerando os avanços da pesquisa e da exegese bíblica; crítica aos valores da sociedade a partir de uma correlação com a fé cristã; distinção entre fé e religião, destacando a primeira como elemento fundamental da vida, que chega ao ser humano como dádiva graciosa de Deus. Desde essa época, variadas correntes teológicas e pensadores surgiram, cada qual com especificidades metodo lógicas.

Fora da Igreja não há salvação

No campo da experiência judaico-

cristã, as tensões entre fé e razão estão

presentes desde os renciadas de tensão

ReferênciasBARTH, KaRl. O lugar da Teologia In: Introdução à teologia evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 1977.LIBANIO, J. B. & MURAD, aFonso. Conceito de Teologia In: Introdução à teologia, perfil, enfoques e tarefas. São Paulo: Loyola, 1996. ROLDÁN, albeRto F. O que é teologia In: Para que serve a teologia? Método história pós-modernidade. Curitiba-Londrina: Descoberta Editora, 2000. TILICH Paul. Introdução. In: Teologia sistemática. São Paulo-São Leopoldo: Paulinas-Sinodal, 1967.

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Teologia latino-americana:

história e métodos

Objetivo:O objetivo deste tema é

mostrar como o contexto socioeconômico, político e

cultural da América Latina, na segunda metade do século

20, marcou o surgi mento e o desenvolvimento de um novo

método teológico.

Palavras-chave:Teologia da libertação, missão

integral, socialismo.

Prof. Claudio de Oliveira Ribeiro

Fundamentos de teologia e história

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O surgimento da teologia latino-americana da libertação Aspectos do contexto socioeconômico e político (décadas de 1950 a 1970)

Como já referido, cada contexto exige a formulação de uma nova teologia. No caso da teologia latino-americana, os pontos que se destacam no processo de sua elaboração são: (1) o conflito ideológico do pós-guerra: a “guerra fria”; (2) a disputa entre capitalismo e socialismo; (3) o impacto da revolução socialista cubana (1959); (4) os processos de industrialização e de urbanização na América Latina, com o crescimento da pobreza e da desigual dade social no Continente; (5) a crítica ao modelo desenvolvimentista e à constituição da teoria da dependência; (6) as lutas políticas de libertação social e de contestação ao regime (1960-1970) e a força dos movimentos estudantis e sindicais; (7) a contes tação aos golpes militares: Brasil (1964), Uruguai (1973), Chile (1973), Argentina (1976); e (8) a influência dos movimentos negros, feministas e contraculturais.

Aspectos do contexto eclesial (décadas de 1950 a 1970)Relacionados com o contexto social, há no ambiente das igrejas vários acon tecimentos que marcam

o início da teologia latino-americana.

No mundo evangélico, os mais destacados são: (1) o fortalecimento do movimento ecumênico internacional, desde a formação do Conselho Mundial de Igrejas (CMI); (2) a discussão sobre a temática da responsabilidade social da Igreja; (3) o desenvolvimento do ecumenismo na América Latina, em especial com o trabalho de ISAL (Igreja e Sociedade na América Latina) e o da revista Cristianismo y Sociedad; (4) os esforços da Confederação Evangélica Brasileira (CEB); (5) a realização da Conferência do Nordeste (Recife-PE, 1962) com o tema: “Cristo e o processo revolucionário brasileiro”; (6) a dinâmica dos movimentos de juventude (1950-1960) e a busca de uma fé inculturada; (7) a contribuição do teólogo Richard Shaull (1919–2002).

No mundo católico-romano, igualmente, encontramos fatores que contribuíram para o surgimento da teologia latino-americana. Entre vários, destacamos: (1) os movimentos bíblicos e de renovação litúrgica, em vários continentes, desde os anos de 1950; (2) a realização do Concílio Vaticano II (1962-1965) que, entre outros aspectos, possibilitou maior abertura da Igreja para a sociedade e para o ecumenismo; (3) as propostas pastorais politizadas das ações católicas: as articulações da juventude universitária, estudantil e operária (JUC, JEC, JOC); (4) a formação das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs); (5) a Conferência Episcopal Latino-Americana de Medellín (Colômbia) (1968), que procurou efetivar as mudanças da Igreja Católica indicadas no Concílio Vaticano II e destacou a opção preferencial pelos pobres como ênfase pastoral; (6) o desenvolvimento das pastorais especializadas (da Terra, Operária e outras).

O método teológico latino-americano A novidade metodológica, o apelo de articulação entre teoria e prática, a expe riência de leitura

da Bíblia por grupos populares, e uma sensibilidade especial pela realidade desumana e opressiva vivida pelas populações empobrecidas geraram, na América Latina, entusiasmo e novas pers pec tivas eclesiais e sociopolíticas a partir da década de 1960.

Entre diferentes análises, pelo menos cinco pontos podem caracterizar a teologia latino-americana da libertação: (1) A práxis de libertação dos pobres e o compromisso evangélico de outros setores sociais com eles. A consciência dessa práxis gera uma nova linguagem religiosa e teológica, fruto da relação dialética entre práxis e teoria presente na metodologia desse novo pensar teológico.

Golpes militares

na America do Sul:Brasil (1964),

Uruguai (1973), Chile (1973),

Argentina (1976)

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(2) A necessidade de análise científica da realidade social com o recurso da teoria da dependência e, posteriormente, com o que se denominou mediações socio analíticas. (3) A cons ciência do condi cionamento socioeconômico da teologia e da Igreja e a crítica de ambos a partir da ótica da libertação histórica dos pobres. (4) A perspectiva de a reflexão teológica estar a serviço da transformação da sociedade, com indicações práticas e concretas de caminhos históricos de libertação sociopolítica. Nesse sentido, a Teologia da Libertação não se esgota no âmbito acadêmico. (5)

O lugar central da economia na reflexão teológica para, entre outros aspectos, estabelecer uma crítica ao mes sianismo tecnologista, às relações entre capital e trabalho, e vislumbrar alternativas de cunho socialista.

A “nova forma de ser Igreja” relacionada à Teologia da Libertação está vinculada às possi bilidades de transformação social e política e possui como uma das referências centrais a busca por uma sociedade igualitária, participativa e firmada nos princípios bíblicos da justiça social. Tal proposta representa, desde os primórdios, uma contraposição ao modelo econômico capitalista, devido ao seu caráter excludente e concentrador de riquezas para grupos minoritários. Nesse contexto, a Teologia da Libertação – de Gustavo Gutierrez, dos irmãos Clodovis e Leonardo Boff, José Comblin, Miguez-Bonino, Júlio de Santa Ana, Elza Tamez e tantos outros – como elaboração teórica, procura compre ender a realidade por meio de mediações científicas, julgá-la mediante a tradição bíblica, com destaque para o aspecto profético, e indicar uma nova inserção prática dos cristãos.

O movimento evangelical e a missão integral

Há outras expressões teológicas que não se auto-identificam como teologia da libertação, mas que são consideradas como teologia latino-americana. A teologia evangelical é uma delas. As raízes dessa visão teológica remontam à formação da Aliança Evan gélica Mundial (1923), fruto das Alianças Evangélicas nacionais do século 19. O evangelicalismo surge no contexto do fundamentalismo, sobretudo com a influência do Congresso Mundial de Evangelização (Berlim, 1966), na liderança do evangelismo de Billy Graham. Com a realização do Congresso Interna cional de Evangelização Mundial (Lausanne-Suíça, 1974), como o tema “Para que o mundo ouça a Sua (de Deus) Voz”, deu-se o Pacto de Lausanne – uma reação ao conservadorismo fundamentalista, tendo em vista maior abertura às questões sociais. Os teólogos latino-americanos de destaque desse proces so foram: Rene Padilla, Samuel Escobar, Orlando Costas.

A teologia evangelical se desenvolveu a partir dos Congressos Latino-Americanos de Evangelização (I – Bogotá-Colômbia, 1969. II – Huampani-Peru, 1979. III – Quito-Equador, 1992. IV – Quito-Equador, 2000), com papel de destaque para a Fraternidade Teológica Latino-Americana. Outras insti tui ções brasileiras afins são: FTL-B, ABU (Aliança Bíblica Universitária), Vinde, Visão Mundial, Associação Evangélica Brasileira (AevB), Revista Ultimato. Entre os líderes brasileiros ligados ao movimento evangelical, podemos destacar: Valdir Steuernagel, Robinson Cavalcanti, Ricardo Barbosa, Ricardo Gondim, Caio Fábio, Darcy Du silek, Paul Freston (inglês).

Para Valdir Steuernagel, a Missão Integral, base da teologia evangelical, “quer expressar duas coisas básicas:

• O compro misso de todo o Conselho de Deus. Na missão não se deveria fazer da Bíblia um picadinho, onde e quando se trabalha com a Bíblia com um critério de seleção limitante. A Bíblia quer e precisa ser considerada na sua totalidade.

• A missão da igreja leva em conta a pessoa na sua totalidade, bem como o contexto no qual a pessoa vive. A missão veste a roupa da encarnação”.

O evangelicalismo

surge no contexto do

fundamentalismo, sobretudo com a influência do

Congresso Mundial de Evangelização

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ReferênciasBOFF, ClodovIs. Fundamentos In: Teoria do método teológico. São Paulo: Cesep-Vozes, 1998. (versão didática).RIBEIRO, CláudIo de o. A teologia da libertação morreu? Revista Eclesiástica Brasileira, s.l., 63 (250) abr. 2003.

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História do cristianismo e as

origens cristãs

Objetivos:Identificar os pressupostos, a

metodologia e as principais tarefas de uma história do cristianismo;

Analisar as origens, a formação e o desenvolvimento das primeiras

comunidades cristãs no contexto das sociedades palestinenses e greco-

romanas.

Palavras-chave:História, movimento de Jesus,

cristianismo judaico, cristianismo gentílico.

Prof. José Carlos de Souza

Fundamentos de teologia e história

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Cristianismo e história Não há dúvidas de que, como escreveu Marc Bloch, “o cristianismo é uma religião de historiadores”

a fé não se fundamenta em narrativas legendárias ocorridas em esferas distantes do convívio humano. Antes, o contrário! Os acontecimentos relatados nas Escrituras judaicas e cristãs estão inseridos na trama de encontros e desencontros, de alianças e conflitos, de acordos de paz e tempos de guerra, que constituem o cotidiano das sociedades humanas. Daí a preocupação constante em registrar os eventos, buscando discernir o seu sentido de acordo com o que se supunha ser a vontade divina.

Eusébio de Cesaréia Apesar da importância dada à história pelas comunidades

cristãs, somente no século IV, apareceu uma obra intitulada História Eclesiástica, isto é, da Igreja, escrita pelo então bispo de Cesaréia, Eusébio (c. 263-339). É claro que o seu empenho teve precedentes, como por exemplo, o livro de Atos dos Apóstolos no Novo Testamento. Porém, o que distingue a obra de Eusébio de todas as iniciativas anteriores é a sua visão abrangente, o seu respeito pelas fontes, isto é, pelos documentos que cita abundan-temente, e o seu esforço por acompanhar o padrão rigoroso dos historiadores gregos, mas sem deixar de lado a racionalidade teológica cristã. Muito do que sabemos sobre os três primeiros séculos do cristianismo devemos a ele. Talvez, com algumas alterações, o propósito que estabeleceu nos primeiros parágrafos de sua obra pudesse ainda hoje ser aceito, se não totalmente, ao menos em parte (cf. HE, I, 1, 1-2). De fato, o seu estilo, o seu programa, e mesmo as suas conclusões, têm encontrado, ao longo do tempo, muitos seguidores. Portanto, não é causal que Eusébio de Cesaréia seja lembrado como “pai” da história da Igreja e que muitos autores falem até mesmo da existência de uma tradição eusebiana nos estudos da história do cristianismo. Contudo, não podemos silenciar as críticas que lhe são feitas.

Tradição crítico-profética Eusébio reflete o momento vivido pelos cristãos no século IV quando o Império Romano deixa de

perseguir e passa a favorecer progressivamente a Igreja. Assim, ele estrutura a sua exposição acerca do passado cristão a partir da aliança que surge entre o Estado e a igreja e, por isso, privilegia os que estão no poder. A sua visão está centralizada na Igreja como instituição, identificada principalmente com os seus líderes, cuja mera sucessão garante a fidelidade à doutrina dos apóstolos. Judeus, gentios e hereges, isto é, todos que não se ajustam à grande igreja que está se formando, são considerados inimigos. Os leigos, as mulheres, os pobres, e todas as pessoas que ousam protestar, são ofuscados pelo brilho das “grandes personalidades”, sejam bispos ou teólogos. Entretanto, sempre houve correntes que não aceitaram essa interpretação e procuraram reviver a memória radical de Jesus, que acolheu aqueles que a sociedade de seu tempo marginalizou e excluiu.

Não há neutralidade!

Logo se vê que fazer história, inclusive história do cristianismo, não é uma tarefa neutra. As nossas opções, os nossos compromissos, o nosso lugar social sempre interferem na maneira como interpretamos os acontecimentos. Hoje há uma expressiva tendência de romper com a tradição eusebiana, ressaltando a Igreja como comunidade, composta por homens e mulheres

Eusébio de Cesaréia

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O cristianismo é uma religião de historiadores

Marc Bloch

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comuns; chamando a atenção para todo o povo, e não apenas para sua liderança; reconhecendo que, desde as suas origens, o cristianismo é um fenômeno plural e, conseqüentemente, recusando estabelecer um padrão normativo entre as diferenças; situando a presença cristã no contexto social, ao qual influencia e do qual recebe influências; enfim, destacando menos as grandes construções dogmáticas e mais a vivência cristã no enfrentamento das questões do dia-a-dia (trabalho, lazer, sexo, família, educação, justiça, relação com o mundo da cultura e da política). Nada disto substitui, é verdade, o rigor do método; e todo aquele que examina a história do movimento cristão não pode ceder à sua imaginação em detrimento da análise apurada dos documentos que lhe dão acesso, de alguma forma, aos fatos sob investigação. Por sua vez, é preciso ter consciência de que suas escolhas no presente e seus projetos para o futuro condicionam a leitura que faz do passado. Não é isso que torna o estudo da história tão intrigante quanto fascinante?

O movimento de Jesus

Já é hora de perguntarmos sobre as origens cristãs. A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo. Simples, porque remete à figura histórica de Jesus de Nazaré, o qual, supõe-se, é bem conhecido por nós. Complexa, porque tudo o que sabemos dele procede quase que exclusivamente dos evangelhos canônicos, ou seja, do círculo de seguidores direta e pessoalmente comprometidos com sua mensagem. As fontes extrabíblicas, como Flávio Josefo e Fílon de Alexandria, importantes para se conhecer o seu meio social, são de pouca ajuda quando se buscam informações sobre sua trajetória. O mesmo se pode dizer das fontes romanas. É difícil até mesmo estabelecer com precisão uma cronologia, considerando que o chamado “calendário cristão” que assinalou o nascimento de Cristo como marco zero só foi proposto no século VI e, com certeza, não sem equívocos. De todo modo, há certo consenso em reconhecer que Jesus iniciou o seu ministério após a prisão de João, o Batista, a quem a literatura cristã considera como seu precursor. Estima-se que Jesus tivesse cerca de 30 anos quando recebeu o batismo e deu início à carreira de pregador itinerante e profeta. De acordo com os primeiros evangelhos, a vida pública de Jesus teria durado pouco mais de um ano. Já para João, ela se estendeu por três anos, pelo menos. No centro de sua pregação, estava o anúncio do reino de Deus, que incluía uma radical transformação da ordem social vigente. É certo que Jesus evitou os caminhos oficiais. Boa parte de sua vida transcorreu na conflitiva região da Galiléia, onde as esperanças messiânicas eram tão intensas quanto a exploração social e a pobreza. Não tardou para que a identificação de Jesus com os impuros, os pobres, as mulheres e as crianças, aliada às suas duras críticas aos dirigentes (cf. Mt

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23), despertasse a fúria da elite política e religiosa, que ardilosamente tramou a sua morte. A sua crucificação dispersou os seus discípulos que, no entanto, renascem fortalecidos anunciando a sua ressurreição como prova de que ele era o Messias esperado. A partir daí, tem-se a formação das primeiras comunidades cristãs, a difusão da pregação nos limites do Império Romano e além dele, e o início do processo, que segue até os nossos dias, buscando responder à pergunta “quem foi mesmo Jesus, chamado o Cristo?”.

Nascimento da Igreja São poucas as informações sobre as primeiras

comunidades. Nossas únicas fontes são praticamente Atos dos Apóstolos e Eusébio de Cesaréia. Há indicações de que a comunidade de Jerusalém cresceu rapidamente, incluindo tanto os judeus da diáspora, quanto naturais da Galiléia e da Judéia. O nome “igreja” foi logo adotado, e expressa a convicção de que os discípulos constituíam o verdadeiro Israel. No entanto, até esse momento os seguidores de Cristo eram vistos como mais um partido judaico ao lado de outros, como os saduceus e fariseus. A perseguição levou à dispersão da primeira comunidade e ao anúncio da pregação do Evangelho, não só além dos seus limites geográficos iniciais, mas para populações não alcançadas pelo judaísmo. Sem dúvida, a passagem do contexto judaico palestinense para o helenista urbano foi um passo decisivo para a história do cristianismo. Ao aderir à fé cristã, o apóstolo Paulo contribuiu decisivamente para que as tendências universalistas fossem vitoriosas sobre as correntes judaizantes. Com as revoltas judaicas dos anos 70 e 135, o cristianismo judaico entrou em ocaso e basicamente apenas o cristianismo gentílico sobreviveu. Em todo o caso, a relevância dessa primeira expressão da fé cristã se torna evidente quando se pondera que ela se tornou fonte e manancial de onde brotam o ensino e a prática que ainda hoje orientam as igrejas.

É difícil até mesmo estabelecer com precisão uma cronologia, considerando que o chamado

“calendário cristão” que assinalou o nascimento de Cristo como marco zero só foi proposto no

século VI

Referências CesaRéIa, eusébIo de. História Eclesiástica. São Paulo: Paulus, 2000. gonzález, Justo l. A Nova Geografia da História. In: Wesley para a América Latina Hoje. São Bernardo do Campo: Editeo, 2003, p. 93-104.HooRnaeRt, eduaRdo. O Movimento de Jesus. Petrópolis: Vozes, 1994.sImon, M.; benoIt, A. Judaísmo e cristianismo antigo. São Paulo: Pioneira- edusp, 1987.

Referências de imagensImagem 2: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/6/66/Eusebio.jpg.Acesso em 12’Jun’06.

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O catolicismo antigo

Objetivos:Distinguir os principais desafios

externos e internos enfrentados pelas comunidades cristãs até o início do

século IV;

Avaliar o processo de mudanças então ocorridas no sentido da

institucionalização do movimento cristão.

Palavras-chave:Perseguição, apologistas, gnosticismo,

catolicismo antigo, cânon, credo, bispos.

Prof. José Carlos de Souza

Fundamentos de teologia e história

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Ambiente hostil No final do primeiro século, já havia comu nidades cristãs

espalhadas por quase todo o Império, em particular na província da Ásia. Porém, as relações dos cristãos com a sociedade ao seu redor eram tensas, manifestando-se, muitas vezes, sob a forma de violenta perseguição.

Muitos boatos populares distorcendo o sentido de práticas cristãs legítimas alimentavam o ódio nutrido pelo público em geral. Atenágoras, em sua veemente Petição a favor dos cristãos, faz uma síntese desses rumores: “São três as acusações que se propagam contra nós: o ateísmo, os convites de Tiestes, e as uniões edípicas”. Em outras palavras, os cristãos eram considerados ateus, pois não participavam das cerimônias religiosas nas cidades e recusavam os seus deuses; canibais, pois, numa refeição sacramental, comiam a carne e bebiam o sangue do seu Senhor, o que, segundo a imaginação de quem não era cristão, implicava um ritual macabro em que crianças eram sacrificadas; e incestuosos, pois se reuniam à noite para orgias e bebedeiras, e assim davam plena vazão a paixões descon troladas entre “irmãos” e “irmãs”. Com certeza, o simples conhecimento da vida exemplar dos cristãos seria suficiente para desfazer essas falsas impressões.

Crítica dos intelectuais

Já os questionamentos dos sábios e políticos não eram tão fáceis de serem desfeitos. Alguns, como o filósofo platônico Celso, escreveram obras bem fundamen tadas contra as principais doutrinas cristãs. Tais críticos, usualmente partilhavam do desprezo disseminado contra o cristianismo que descreviam como “superstição nova e maléfica”; censuravam, ainda, o que lhes parecia ser arrogância e fanatismo; e tinham os cristãos como inimigos da cultura e do Estado. Seus ensinamentos, cheios de contradições, seriam imitações grosseiras da, sem dúvida mais antiga e bem fundamen tada, sabedoria egípcia e grega.

Perseguições O pior de tudo é que tais opiniões justificavam as perseguições movidas pelo Estado. A essa

altura, é preciso desfazer um equívoco muito comum: supor que as comunidades cristãs foram implacavel mente caçadas pelas autoridades romanas em toda a extensão do Império e durante todo tempo até o seu reconhecimento como religião lícita no ano de 313. Na verdade, a intensidade, a extensão, as motivações e as formas da perseguição se diversificaram conforme as circunstâncias, além do que se alternaram com prolongados períodos de paz. A perseguição de Nero, no ano 64, por exemplo, esteve limitada à cidade de Roma. No final do primeiro século, com Domiciano, entre as vítimas estavam não apenas os cristãos de Roma, mas também as comuni dades da Ásia Menor, como testemunha o livro do Apocalipse. Já no segundo século, prevaleceu a política definida na corres pondência entre Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, e o Imperador Trajano: ser cristão é crime punível com a pena da morte, porém o processo só é instaurado mediante acusa ção. Em sua apologia, Tertuliano denunciou a incoerência dessa decisão: “Oh sentença necessariamente confusa! Nega-se a buscá-los como a inocentes; e manda castigá-los, como culpados”. Apenas com Décio, em meados do século terceiro, e com Diocle ciano, no início do quarto, a perseguição alcança todos os limites do Império.

As relações dos cristãos com a

sociedade ao seu redor eram tensas

Os questionamentos dos sábios e políticos

não eram tão fáceis de serem desfeitos

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Mártires É impossível precisar o número de mártires. Pensou-se em

200 mil, embora hoje há quem considere que 10 mil é ainda uma estimativa elevada. Em todo o caso, a memória cristã conserva muitos nomes de homens e mulheres, como Inácio de An tioquia, Policarpo de Esmirna, Justino, Blandina, Perpétua e Felicidade, entre outros, que selaram com sangue o seu testemunho de fé. Aqui vale a máxima de Santo Agostinho: “O que faz o mártir não é a pena, mas a causa!”E a causa, naquela época, era o estilo de vida inspirado pelo evangelho, de solidariedade e justiça, de comunhão e oposição às forças que semea vam a morte e a destruição.

Apologistas Nesse contexto, era urgente que os cristãos

oferecessem respostas à altura dos seus críticos. Estava em jogo a própria sobrevivência das comunidades. À tarefa de defender e apresentar a fé cristã ao público pagão, dedicaram-se os autores cristãos conhecidos como apologistas. Entre os gregos se destacam Aristides e Atenágoras, ambos de Atenas, Taciano, o Sírio, Hermas, Teófilo, o autor da Carta a Diogneto e, sobretudo, Justino Mártir e Orígenes de Alexandria; entre os latinos, Tertuliano e Minúcio Felix. É certo que os apologistas não conseguiram mudar a opinião pública, porém reforçaram a convicção dos cristãos acerca da nobreza da sua causa. Ademais, o seu empenho em dialogar com a cultura helênica e expor a fé para os “pagãos”, fazendo uso de conceitos filosóficos, favoreceu o desenvolvimento da teologia.

Movimentos gnósticos Entretanto, o maior desafio enfrentado pelos

cristãos não vinha de fora, mas nascia dentro das próprias comunidades. Enquanto a ameaça externa fortalecia os laços de coesão e solidariedade, a ameaça interna dividia as opiniões e espalhava a cizânia entre seus membros. Referimo-nos às várias formas de gnosticismo, que assimilavam elementos de diversas tradições religiosas e filosóficas, integrando-as ao cristianismo. O recém-encontrado Evangelho de Judas provém desses círculos. A expressão vem do grego gnosis e significa conhecimento. Trata-se do conheci-mento místico, sobrenatural, revelado apenas para um pequeno grupo de eleitos e que diz respeito à salvação da alma aprisionada nesse mundo inferior. Aliás, no geral, os gnósticos

O que faz o mártir não é a pena, mas

a causa!Santo Agostinho

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Referênciasbettenson, H. Documentos da Igreja Cristã. São Paulo: aste-Simpósio, 1998. Hoornaert, eduaRdo. A memória do povo cristão. Uma História da Igreja nos três primeiros séculos. Petrópolis: Vozes, 1986. Walker, W. História da Igreja Cristã. São Paulo: aste, 1967, v. 1.

sustentavam um dualismo radical que encarava com desdém a realidade material e o corpo, e exaltava as coisas espirituais. Jesus, como mensageiro do Deus Supremo, distinto do demiurgo que criou este universo mau, era um ser espiritual, sendo o seu corpo apenas aparente. Muitos gnósticos se orgulhavam de possuir os segredos revelados por este ou aquele apóstolo. Marcião, por exemplo, rejeitou o Antigo e formou, o que poderíamos considerar, o primeiro Novo Testamento, composto por dez cartas de Paulo e pelo evangelho de Lucas truncado (ele eliminou o relato do nascimento de Cristo e as referências ao Antigo Testamento). A situação requeria ações determinadas das comunidades.

A resposta das Igrejas Vários pensadores cristãos se mobilizaram para

contestar os pregadores gnósticos, com destaque para Irineu (c. 135-203) e Tertuliano (c. 155-220). Nesse embate, as comunidades cristãs acabaram assumin do formas mais institucionalizadas e menos espontâneas, definindo padrões de crença, de culto e de organização mais rígidos. Como escreveu o historiador alemão Heussi: “Por volta do ano 50, pertencia à igreja quem tivesse recebido o batismo e o Espírito Santo e atribuísse a Jesus o nome de Senhor. Já por volta de 180, membro da igreja era aquele que aceitasse a regra de fé (credo), o cânon do Novo Testamento e a autoridade dos bispos” (WalKeR. 1967, v. 1, p. 88). Foi Inácio de Antioquia quem usou pela primei ra vez, em sua Carta aos Esmirnenses (8.2), a expressão “Igreja Católica”, ou Universal, em oposição aos inúmeros grupos gnósticos espalhados pelo Império. E, de fato, o catolicismo antigo corresponde exatamente a esse período de comunidades mais bem estruturadas. O tempo dos apóstolos já havia passado definitivamente!

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Cristianismo e Estado imperial

Objetivos:Discernir qual o sentido das mudanças em processo no

movimento cristão durante o século quarto, quando se estabeleceu a

aliança entre Igreja e Estado;

Investigar como os arranjos sociais e políticos afetaram a vida e a

missão da Igreja nos séculos IV e V.

Palavras-chave:Era constantiniana, aliança entre

Igreja e Estado, donatismo, movimento monástico, concílios ecumênicos, doutores da Igreja.

Prof. José Carlos de Souza

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Era constantinianaNada teve efeitos tão duradouros na história do movimento

cristão quanto a ascensão de Constantino ao poder. Após sua vitória na Ponte Múlvia, supostamente com a bênção do Deus cristão, ele se apressou em assinar, em 313, junto com Licínio, que governava a parte oriental do Império, o famoso Edito de Milão, assegurando a todos os súditos, inclusive os cristãos, a plena liberdade de culto. Finalmente, após derrotar o seu rival e assumir o controle total do Estado, Constantino passou a favorecer gradualmente os cristãos. Pela primeira vez desde a sua origem, a Igreja, equiparada às demais religiões do Império, foi reconhecida como corporação de direito público, com os bispos gozando de um status similar ao dos senadores. O clero obtém privilégios e isenções. As propriedades, confiscadas durante a última perseguição, são restituídas e se

constroem, com recursos públicos, novos edifícios consagrados para o culto, as assim chamadas basílicas. Tornou-se comum o emprego de símbolos cristãos nos selos e nas moedas romanas. O dia de culto dos cristãos logo é declarado dia de descanso. Pouco a pouco, aprova-se uma legislação que inibe práticas pagãs, como a magia e a consulta às entranhas de animais. O prestígio social da Igreja organizada não pára de crescer, sepultando totalmente o seu passado de minoria odiada e perseguida.

Mudanças internas

Não apenas as condições exteriores da Igreja se modificaram, como tiveram um forte impacto, tanto sobre as práticas quanto sobre a própria consciência das comunidades cristãs. O grande número de pessoas que afluíam às igrejas, seja por conversão real ou por adesão interessada, atenuou as exigências e o tempo da catequese, gerando uma vivência

cristã superficial que convivia pacificamente com resquícios da religiosidade mágica pré-cristã. A ordem interna da Igreja também se estabiliza imitando o modelo imperial. O clero, diferencia-se e se distancia dos leigos por suas vestimentas, pela pompa e tratamento que recebem, e, sobretudo, pela concepção de poder sacerdotal que justifica sua autoridade. Os bispos não são mais vistos como ministros, isto é, servidores, e sim, como dignitários que devem ser honrados e obedecidos. Impõe-se igualmente uma estrita hierarquia com os bispos das grandes metrópoles subjugando as sés menores. Tudo isso se reflete no culto que assimila a influência do protocolo da corte, com a introdução de procissão, coros e veneração das relíquias dos mártires.

Legitimação do Estado Sendo a Igreja favorecida dessa forma pelo poder do Estado, é compreensível que não poucos

cristãos o vissem como expressão da providência divina. Eusébio de Cesaréia chega a saudar Constantino como amigo de Deus e uma espécie de novo Moisés (HE, X, 9, 2), porém nada fala acerca de sua conduta reprovável do ponto de vista da ética cristã, como a condenação à morte de sua esposa, filho mais velho e outros familiares. Convém lembrar que Constantino só recebeu o batismo em 337, pouco antes de sua morte. De todo jeito, a aliança que vai se construindo entre Igreja e Estado subtrai da mensagem cristã a sua virtude profética e a leva a legitimar incondicionalmente o exercício do poder. Por outro lado, torna a Igreja refém do Estado que sempre interfere em seus assuntos internos, quando julga que seus interesses estão envolvidos. A propósito, é interessante verificar como o imaginário cristão passa a representar, em função dessa aliança, a figura de Cristo.

...após derrotar o seu rival e assumir o controle total do

Estado, Constantino passou a favorecer

gradualmente os cristãos.

Os bispos não são mais vistos como ministros,

isto é, servidores, e sim, como dignitários que devem ser honrados e

obedecidos

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As imagens do rabi da Galiléia, ou do profeta messiânico, ou ainda do servo sofredor, desaparecem por completo e cedem lugar à do Rei universal que, soberano, dirige todas as coisas. Obviamente, essas mudanças não ocorreram da noite para o dia, nem sem tensões. Aliás, o processo, iniciado por Constantino, atingiu o seu ápice com Teodósio, que reconheceu, em 380, o cristianismo como religião oficial do Império. Doravante, a oposição à Igreja se transforma em crime contra o Estado. Assim, de perseguidos, os cristãos passam a ser perseguidores, inclusive daqueles que, professando a mesma fé em Cristo, não se submetem às novas condições.

Protestos

A resistência se fez tanto de forma aberta como velada. Entre os primeiros estão os donatistas que, logo após a subida de Constantino ao poder, protestam, no Norte da África, contra a ordenação de bispos considerados traditores, isto é, que fraquejaram durante a última onda de perseguição. Para eles, os sacramentos celebrados por tais ministros, considerados indignos, não eram considerados válidos. Logo identificado com as aspirações das populações locais, exploradas pelas classes latinizadas, o donatismo vai dirigir a sua crítica ao consórcio espúrio entre a Igreja e as forças imperiais. Entre os que se opõem indiretamente a essa aliança está o movimento monástico, que surge ainda no final do terceiro século. Numa época em que a grande maioria dos cristãos se deixa seduzir pela ambição das riquezas, do prestígio e do poder, os monges apregoam uma vida de pobreza e simplicidade, em comunidades ou em lugares ermos como os desertos ou as montanhas, onde a dependência da graça divina é sua única segurança. Sem posicionar-se frontalmente contra o sistema, essa era uma forma alternativa de viver as exigências do evangelho naqueles tempos conturbados.

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Concílio de Nicéia

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Efervescência teológica Esse período, marcado pelas grandes controvérsias teológicas em torno da doutrina trinitária e

da cristologia, também foi palco dos primeiros concílios ecumênicos. Era a primeira vez que bispos de diferentes partes do mundo, reuniam-se para debater assuntos que afligiam as igrejas. O primeiro Concílio, convocado por Constantino, aconteceu em Nicéia, em 325, e rejeitou as idéias de um Ário, um presbítero da igreja em Alexandria que negava a divindade de Cristo. O Concílio de Constantinopla, em 381, reafirmou a fé na Trindade, sustentando igualmente que o Espírito é Deus. Os Concílios de Éfeso, em 431, e de Calcedônia, em 451, definiram que, em Cristo, havia duas naturezas unidas numa só pessoa, sendo ele, portanto, plenamente Deus e plenamente humano. Infelizmente, nem sempre o consenso era alcançado e a ambigüidade da linguagem filosófica empregada deixava margem para novos conflitos que sedimentaram as divisões.

Doutores da Igreja

Provavelmente em função de tantos desafios, mudanças e debates, floresceu uma geração de escritores cristãos que marcaram decisivamente os rumos do cristianismo tanto no Oriente como no Ocidente e que foram honrados como o título de doutores. Na impossibilidade de fazer uma lista completa, apenas mencionamos, entre os orientais, Efrém, o Sírio (306-373); entre os gregos, Atanásio (295-373), João Crisóstomo (354-407), Basílio de Cesaréia (330-379), Gregório de Nissa (335-394) e Gregório de Nazianzo (330-390); e, entre os latinos, Ambrósio de Milão (333-397), Jerônimo (347-420), Agostinho (354-430) e Gregório Magno (540-604). Sem a contribuição deles, o cristianismo não seria o que é!

Referências de imagensIimagem 3: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/31/Nicaea_icon.jpg. Acesso em 21’Jun’06.

ReferênciasCOMBY, Jean. Para Ler a História da Igreja I Das origens ao século XV. São Paulo: Loyola, 2001. dREHER maRtIn N. A igreja no império romano. São Leopoldo: Sinodal, 1993. (Col. História da Igreja, v. 1).gONZÁLEZ, Justo L. A era dos gigantes. São Paulo: Vida Nova, 1980. ( Col. E até aos Confins da Terra: Uma História Ilustrada do Cristianismo, v. 2).PIERINI, FRanCo. A idade antiga. São Paulo: Paulus, 1998. (Col. Curso de História da Igreja I).

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A cristandade medieval

Objetivos:Traçar um panorama geral dos

principais fatos e elementos que caracterizam o movimento cristão no

período medieval;

Indicar como o desenvolvimento institucional da cristandade medieval

e a discussão teológica se desenrolam entre muitos conflitos.

Palavras-chave:Povos germânicos, islamismo,

cruzadas, papado, cristandade, monasticismo, escolástica.

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Um período intermediário? Em nossa última etapa, vamos abordar o que se convencionou

chamar de Idade Média. É um largo período, praticamente dez séculos, que separam, conforme a visão tradicional, a Antiguidade e a Renascença. É usual fixar seus limites entre os anos de 476, quando Odoacro invade Roma e põe fim ao Império Romano no Ocidente, e de 1453, quando os turcos otomanos conquistam Constantinopla decretando o ocaso do Império Bizantino. Contudo, não há consenso quanto a tal proposta. Não apenas estes marcos cronológicos são debatidos, mas o próprio conceito de Idade Média é questionado. De fato, quando os humanistas do século XVI forjaram esse conceito, deram-lhe uma conotação fortemente negativa. A época medieval seria apenas um hiato entre duas etapas realmente essenciais, a Antiguidade greco-romana e a era moderna. Hoje não se admite mais um juízo tão categórico quanto este. Realmente, muito do que constitui a civilização européia e a cultura no Ocidente encontra suas raízes na Idade Média e, ademais, um milênio de história está carregado de altos e baixos, de esplendor e de crises, e não comporta, em hipótese alguma, qualquer generalização. Também por essa razão, os parágrafos a seguir pretendem apenas destacar alguns aspectos que devem ser aprofundados em nosso estudo.

Uma nova geografia

Talvez o primeiro fato que chama a atenção, nesse novo período, é a alteração de nossas referências geográficas. Se nas primeiras etapas da história do movimento cristão, deslocávamos, principalmente, pela Costa do Mediterrâneo – Norte da África, Oriente Médio, Ásia Menor, Sul da Europa – agora, o foco está situado, sobretudo, no Norte e no Oeste da Europa. Não apenas a Península Itálica, mas a região hoje ocupada pela Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha compõem o novo cenário. Duas ondas de acontecimentos explicam essa mudança.

Os povos germânicosEm primeiro lugar, está a expansão dos povos

germânicos – vândalos, visigodos, ostrogodos e francos, entre outros – rompendo as fronteiras da Europa e Norte da África, impondo o final do domínio do Império Romano no Ocidente e isolando-o da parte oriental. Muitos supunham que a decadência do antigo modo de vida comprometesse também a vitalidade da Igreja, mas o que ocorreu foi justamente o contrário. Aos poucos, os povos germânicos que, anteriormente haviam sido evangelizados pelos arianos, aderem à fé católica e a Igreja, como portadora da cultura e civilização antigas; desempenha um significativo papel como educadora dos povos. Por sua vez, a desarticulação do poder político abre espaço para que bispos e outras autoridades eclesiásticas

ocupem o vazio deixado pela ausência da administração pública. No caos que se estabelece, com as freqüentes batalhas e os deslocamentos populacionais, a Igreja é a instituição mais bem organizada, senão a única. Mais tarde, por ocasião do avanço de normandos, escandinavos e húngaros, a Igreja responderá com a mesma determinação aos novos desafios.

Os bispos não são mais vistos como ministros,

isto é, servidores, e sim, como dignitários que devem ser honrados e

obedecidos

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Imperio Bizantino.

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Surgimento do IslamismoEm segundo lugar, situa-se o nascimento, as conquistas políticas e a difusão da religião muçulmana.

O profeta Mohamed (570-632), apregoando o mais absoluto monoteísmo, unifica as tribos árabes e dá origem à última das grandes religiões mundiais. Após a sua morte, vários califas ampliam o domínio árabe em direção tanto ao Oriente quanto ao Ocidente. Egito, Síria, Pérsia, mas também todo o Norte da África e a Península Ibérica – domínios onde, antes, prevalecia a presença cristã –, submetem-se aos novos senhores. O isolamento do antigo Império Romano no Oriente agora é completo, culminando com a separação definitiva das Igrejas Ocidental e Oriental no ano 1054. Na Europa, o avanço do Islã só não é maior porque é contido pelos francos em 732, na batalha de Poitiers. Aliás, boa parte da história medieval registra os encontros e desencontros entre os dois mundos, cristão e muçulmano. Disto fazem parte as lutas pela reconquista da Península Ibérica, que chegam ao seu termo somente em 1492, quando Granada, o último reduto ocupado pelos muçulmanos, é retomada; e as cruzadas que, a partir de 1095, procuram, em vão, retomar o controle da denominada Terra Santa. No geral, as suas conseqüências foram desastrosas.

O papado

Outro aspecto significativo que diferencia a Igreja Antiga da Medieval é a centralidade do papado. Se, no catolicismo antigo e na Igreja imperial, conforme foram analisados anteriormente, os bispos eram figuras fundamentais, na Idade Média, a instituição do papado é incontestável. Inúmeros fatores explicam esse desdobramento, porém, é mais importante observar como a autoridade do papa foi sendo gradualmente admitida no Ocidente (no Oriente, o Patriarca de Constantinopla não só jamais aceitou a sua interferência, como também reivindicou, para si próprio, uma jurisdição universal). De qualquer modo, foi apenas no século V, com a crise política e administrativa gerada pelo avanço dos germânicos, que amadureceram as condições para o aparecimento do papado. Nesse sentido, o título de primeiro papa deve ser atribuído a Leão Magno, que esteve à frente da Igreja nos anos 440-461, embora nem sempre os seus sucessores atingissem o mesmo desempenho. Independentemente disso, a história medieval está marcada pelos conflitos entre os poderes políticos e os papas, cujas pretensões parecem não ter medida. O auge da influência papal se alcançou no pontificado de Inocêncio III (1198-1216) que afirmou: “Do mesmo modo que a lua recebe sua luz do sol, assim também o poder real recebe da

autoridade pontifical o esplendor de sua dignidade”. A história subseqüente, no entanto, mostra uma instituição progressivamente desgastada pelo surgimento dos estados nacionais, pela ascensão do espírito leigo, pelo chamado Cativeiro Babilônico da Igreja,

quando o papado, submetido à coroa francesa, foi transferido para Avignon (1309-1377), pelo Grande Cisma (1378-1417), quando dois e até três papas reclamavam o primado na direção da Igreja, enfim, pelas críticas que circulavam por toda a sociedade. Essa decadência já prenunciava o final de uma época.

Cristandade A importância da instituição eclesiástica e do papado nesse

período corresponde ao que muitos autores denominam com o termo cristandade, o qual descreve um modo de relação de intensa cooperação e aliança entre sociedade, Estado e Igreja. A religião modela todas as instituições e sanciona as relações sociais, recebendo, em troca, benefícios e proteção das autoridades

Do mesmo modo que a lua recebe sua luz

do sol, assim também o poder real recebe da autoridade pontifical o esplendor de sua

dignidadeInocêncio III

Outro aspecto

significativo que diferencia a Igreja

Antiga da Medieval é a centralidade do

papado.

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A vida religiosa e o ideal monástico estão presentes durante todo o tempo e em toda a parte, adaptando-se às condições em mudança constante, como comprova o florescimento das ordens mendicantes dos franciscanos (1209) e dos dominicanos (1216). Mesmo a contestação contra o sistema social assume a forma religiosa, com destaque para os valdenses e os cátaros no século XII, violentamente reprimidos pela Inquisição.

EscolásticaPor ú l t imo , é p rec i so ass ina la r o

desenvolvimento extraordinário da discussão teológica especialmente vinculada às escolas e às universidades, sobretudo a partir do século XIII. A introdução da argumentação filosófica, em particular das idéias de Aristóteles, trouxe precisão e revolucionou o modo de se fazer teologia, ainda que a maioria dos teólogos pretendesse apenas sistematizar a herança recebida do passado. As obras de pensadores como Santo Anselmo, Pedro Abelardo, Pedro Lombardo, São Boaventura, Alexandre Magno, Tomás de Aquino, Duns Scotus e William de Ockham, têm sido publicadas e o seu estudo, ainda hoje, é considerado indispensável.

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Referências de imagensImagem 4: http://www.lib.utexas.edu/maps/historical/shepherd/byzantine_empire_1265.jpg. Acesso em 18’Jun’06.

ReferênciasdREHER, maRtIn N. A Igreja no mundo medieval. São Leopoldo: Sinodal, 1994. (Col. História da Igreja v. 2) IRVIN, dale T. ; sunquist, Scott W. História do movimento cristão mundial. São Paulo: Paulus, 2004. (Volume I: do cristianismo primitivo a 1453)PIERINI, FRanCo. A idade média. São Paulo: Paulus, 1997. (Col. Curso de História da Igreja II).vAUCHEZ, andRé. A Espiritualidade na idade média ocidental (Séculos VIII a XIII). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1995.

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O Pentateuco

Literatura e Contexto Histórico do Antigo Testamento

Prof. Tércio Machado Siqueira

Objetivos: Os livros do Pentateuco não devem ser lidos

como um documento histórico, mas como um testemunho da ação de Deus na história.

O Pentateuco deve ser lido à luz do credo de fé do povo de Deus (Dt 26,5b-9; conforme

6,20-23). A narrativa do êxodo é a matriz de todo testemunho para o mundo.

Palavras-chave:Pentateuco; família; libertação;

Javé e ensino (Torá).

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O nomeO Pentateuco é um conjunto literário formado de pequenas histórias. Ao contrário da História

Deuteronomista (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis) que contém longas redações (1Sm 16,1 a 2Sm 5,25). As micro-estruturas, ou pequenas histórias, são próprias da casa, isto é, do período em que Israel vivia no ambiente pastoril.

O nome Pentateuco é grego. Pentateuco é formado por duas palavras: penta, cinco + teucos, instrumento, estojo. Daí, o nome Pentateuco significa a caixa onde se costumava guardar os papiros ou pergaminho dos cinco livros. Mais tarde, teucos passou significar livros.

A forma literária.

É fácil fazer um esboço da primeira parte da Bíblia. Ela começa com a história primeira do mundo (Gn 1 – 11) e segue com as histórias dos Patriarcas (Gn 12 – 50). Eis a estrutura dos livros do Pentateuco:

A. A primeira história - capítulos 1 a 11

1. As narrativas da Criação 1,1 a 2,25

2. O surgimento do pecado 3,1 a 4,26

3. A genealogia: de Adão a Noé 5,1-32

4. A corrupção da humanidade 6,1 a 9,28

5. A tábua das nações 10,1-32

6. A Torre de Babel 11,1-9

7. A genealogia de Noé a Abraão 11,10-32.

B. A história Patriarcal - capítulos 12-50

1. As histórias de Abraão 12 a 25

a) A emigração 12 a 14

b) A aliança 15 a 20

c) O nascimento dos filhos 21 a 24

d) A morte de Abraão 25

2. As histórias de Jacó-Esaú 25 a 36

a) O direito de progenitura 25 a 28

b) Jacó na casa de Labão 29 a 31

c) O encontro dos irmãos 32 a 36

3. As histórias de José 37 a 50

O livro de Gênesis discorre sobre a Criação e o projeto de Deus para estabelecer ordem no mundo. Para tanto, Deus privilegia a família como instrumento da ordem. As gerações passam e a maldade, entre os seres humanos, diversifica. O historiador bíblico narra que os filhos de Abraão se encontram no Egito, oprimidos sob o comando de Faraó. Lá, eles eram chamado de hebreus (Ex 1,15; 2,6; 3,8). Portanto, o livro de Gênesis, na estrutura do Pentateuco, parece ser um prólogo à história de Moisés e do êxodo.

O historiador, agora no livro de Êxodo, relata que, em meio do sofrimento, a mão libertadora de

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Deus alcança os seus filhos e filhas.

A. Do Egito ao Sinai Ex 1,1 a Nm 10,10

1. Viagem para o Sinai Ex 1 a 18

2. Eventos do Sinai Ex 19 a Nm 10,10

B. Do Sinai a Moab Nm 10,11 a Dt 34,12

1. Viagem para Moab Nm 10,11 a 36,13

2 Eventos nas planícies de Moab Dt 1,1 a 34,12.

A maneira como que os hebreus foram libertos da escravidão tranformou-se no testemunho mais eloquente da história do AT, somente comparado ao episódio da ressurreição de Jesus, no NT. Os relatos contidos nos livros de Êxodo a Deuteronômio reafirmam a força libertadora do Deus dos hebreus, através da figura de Moisés.

Observando a estrutura acima, vamos notar que, no percurso entre o Egito e as cercanias de Canaã, há duas etapas: do Egito ao Sinai (Ex 1,1 – Nm 10,10) e do Sinai até Moab (Nm 10,11 – Dt 34,12). Dessas duas etapas, a passagem pelo Sinai é a mais significativa para a história, a teologia e a liturgia bíblica.

A forma canônica do Pentateuco apresenta esta primeira parte da Bíblia em duas formas de linguagem: Os gêneros literários narrativo e legal. O primeiro concentra-se no livro de Gênesis e o segundo prevalece nos livros Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

O livro de Gênesis cobre um espaço de tempo que vai da Criação até a morte de José. Isso corresponde a 25% do total de textos do Pentateuco. Gênesis tem sua história resumida na genealogia.

Os livros Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio têm como referência a vida de Moisés. A história de Moisés cobre o tempo de 120 anos e ocupa um espaço de 75% dos textos do Pentateuco. Enquanto as histórias da Criação e dos Patriarcas são narradas em 50 capítulos (Gênesis), a história de Moisés (de Êxodo a Deuteronômio) ocupa 137 capítulos.

O Pentateuco e a históriaPouco se pode afirmar sobre a história de Abraão, fora da Bíblia. Sabe-se, porém, que ele fez parte

das imigrações que ocorreram entre 2000 e1700 aC, vindos da Mesopotâmia para a Síria e Canaã. O livro de Gênesis relata que ele se ficou no sul de Canaã, na periferia das terras férteis e cultivadas onde viviam os pastores, tal como a Bíblia relata.

A índole do ser humano é encontrar a veracidade histórica para as narrativa bíblicas. Por mais que as descobertas arqueológicas possam trazer provas documentais, dois detalhes têm que ser ditos: (1) A fonte mais importante, sobre a veracidade das narrativas do AT, continuam ser os textos bíblicos, embora estes escritos, não necessariamente, podem ser tomados como documentos históricos; (2) É preciso que o/a estudante da Bíblia a leiam, não como um documento histórico, mas, acima de tudo, como testemunho da ação de Deus.

Para entender este ponto é preciso compreender que o processo de surgimento do texto bíblico, especialmente do Pentateuco, aconteceu através da transmissão oral. No processo de contar, recontar e escrever uma dada história, ela perde alguns detalhes mecânicos e ganha o elemento da fé. Assim, o texto bíblico contem mais declaração de fé do que a reprodução factual de um acontecimento. Por exemplo, a forma como o Pentateuco apresenta a figura de Moisés está mais próximo de uma proclamação de fé, do que a preocupação com a história científica. Eis aí o grande mistério da verdade bíblica.

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Como o livro de Gênesis é uma espécie de introdução à história de Moisés, o livro de Deuteronômio é a conclusão dessa história e a introdução aos livros históricos: Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis.

Bibliografia

SCHWANTES , Milton. História de Israel. v. 1: Local e origens. São Leopoldo: Oikos Editora, 2008.

______________. A família de Sara e Abraão: Texto e contexto de Gênesis 12-25. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1986.

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Literatura e Contexto Histórico do Antigo Testamento

Israel chega à Canaã

Prof. Tércio Machado Siqueira

Objetivos:O deserto é fértil: No deserto, o povo

olham para cima e vêem o sol; olham para os lados e vêem areia quente. Se ele não acreditar em Deus, ele morre.

A aprendizagem do deserto preparou o povo para os desafios da vida em Canaã.

Palavras-chave:Deserto; Instrução (Torá); terra; juiz e rei.

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Com o livro de Deuteronômio encerra a primeira fase da história do povo israelita. Com o livro de Josué inicia uma nova fase na história do povo de Deus. Essa primeira fase é caracterizada pelo semi-nomadismo da vida pastoril, na periferia das terras férteis de Canaã, da opressão egípcia e no aprendizado do deserto, especialmente no Sinai.

A história bíblica descreve que os escravos hebreus e seus descendentes caminharam 40 anos, do Egito à Canaã (Ex 16,35; Nm 14,33). A data precisa da chegada de Israel não é possível consta-tar. Todavia, é possível prever que foi um tempo muito significativo para o Antigo Oriente Médio (AOM) e, consequentemente, para a teologia bíblica.

O Historiador Deuteronomista – compilador e redator dos livros Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis – resumiu o início da história dos israelitas, em Canaã, em três partes.

O primeiro período foi a conquista da terra. O longo preparo no deserto não se referia à guerra de conquista, mas ao testemunho ético. O povo israelita

Momento novo na história de Canaã. A chegada dos escravos israelitas, em Canaã, ocorreu no período num período de grandes trans-

formações. Até então, o território de Canaã vivia sob o sistema de cidades-estados. Os cananitas viviam sob o domínio dos senhores donos de amplas propriedades. Todavia, o povo israelita chegava com um novo conceito de vida societária que viria revolucionar as práticas sociais daquela época.

O AOM e, particularmente, Canaã recebia os primeiros resultados do descobrimento da liga do ferro. Na agricultura, aconteceu uma verdadeira revolução com o uso da enxada, do facão e do arado. Ao mesmo tempo, as batalhas entre os povos se tornaram mais violentas, com as lanças, couraças entre outros instrumentos.

Os instrumentos de ferro possibilitaram, também, a abertura de cisternas nas mon-tanhas, local, até então, inabitado pelos cananeus. A abertura de poços possibilitou a retenção de água da chuva por vários meses. Consequentemente, os hebreus, recem chegados, puderam habitar as montanhas, hoje chamadas de Cisjordânia.

Estas duas ocorrências fazem parte da história do AOM. Todavia, a teologia as toma como um testemunho da ação de Deus. Os livros de Josué e Juízes descrevem, cada um ao modo, os primeiros anos da história dos hebreus em Canaã.

O povo de Israel foi, pouco a pouco, assumindo um novo estilo de vida: jeito de vestir e ali-mentar, adaptação à cultura cananita, incluindo o novo jeito de morar. O trabalho pastoril, semi--nômade, foi lentamente perdendo força para a prática agrícola e sedentária. Pouco a pouco, a vida agrícola se tornou o meio de vida mais comum entre os israelitas, conforme o livro de Rute e as proclamações proféticas do 8º. século aC. Contudo, sendo pastor ou agricultor, o povo manteve a família como organização básica de sua sociedade.

Não levou muito tempo e os problemas foram surgindo. A nova geração de israelita, que não participou das experiências da caminhada pelo deserto, encarou o problema da identidade de fé. O livro de Josué descreve parte desse problema (Js 24, 1-15). Isso mostra que a vida sedentária trouxe muitos problemas para israelitas. As tentações do lucro proporcionado pela produção das terras férteis, a carência de uma liderança central e as atrações da religião dos cananeus foram contribuindo para que a identidade social e religiosa fosse perdendo sua forma original. A frase “Os israelitas fizeram o que é mau aos olhos de Javé. Esqueceram Javé seu Deus para servir aos baalins e às aserás” é repetida, pelo menos seis vezes, no livro de Juízes. Esta observação, do autor do livro de Juízes, representa uma crítica profética sobre o futuro do povo de Israel.

A conquista de Canaã e o novo projeto político.

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Martin Noth, em sua pesquisa (O Deuteronomista, Revista Bíblica Brasileira, Ano 10, 1093, no. 1-2, Fortaleza), propôs a tese que os livros Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel e 1 e 2 Reis constituem uma obra histórica compilada, no período exílico, por um grupo residente em Canaã. A constatação desse grupo de historiadores é percebida pelo registro encontrado em 2 Reis 25,27-30. Martin Noth deu, a essa obra, o nome de Obra Historiográfica Deuteronomista.

Na verdade, a Obra Historiográfica Deuteronomista (OHD) não deve ser vista, simplesmente, como uma história, propriamente data. Ela é uma história crítica e profética. Por exemplo, a OHD valoriza o ensino (da Torá) e, consequentemente, a disciplina; exalta a fidelidade a Deus e condena a idolatria; ela não incentiva o ódio racial aos cananeus, mas age severamente contra aquele que pratica injustiça. Para os redatores da OHD, a terra é um dom de Deus para todas as famílias e a luta pela terra é reponsabilidade das famílias, e não de exércitos profissionais. Daí, o conceito de Guerra Santa (conforme o Cântico de Débora - Jz 5).

O livro de Juízes descreve a luta do povo bíblico pela sobrevivência sob a ameaça interna e externa. O relato dessa batalha revela a forma ideal proposta pela Bíblia para construir uma nova sociedade. O testemunho de Nabote é típico para retratar o projeto divino (1Rs 21,1-3).

Do juiz para o rei.Não se sabe exatamente quando os israelitas chegaram à Canaã, mas é possível supôr que eles

chegaram por volta do ano 1200 aC. Em Canaã, o povo desbravou as montanhas. Lá, eles viveram sob o regime tribalista. Somente por volta do ano 1030 aC que surgiu o primeiro rei de Israel.

O surgimento do regime monárquico, em Israel, deveu-se a três fatores: (a) O enfraquecimento do regime dos juízes (1Sm 8,1-6); (b) Necessidade de um comandante de guerra (1Sm 8,20); e (c) A comparação com as nações vizinhas (1Sm 8, 5.20). Observando toda a história bíblica, pode-mos concluir que estes três argumentos são tímidos. Na verdade, o Historiador Deuteronomista, conforme 1Sm 8,10-17, descreve três inconvenientes, usando a expressão “Ele tomará... (v.11. 13 e 14). Aqui, ele critica o sistema monárquico, argumentando que ele acumula riqueza, espoliar e empobrece o povo. Ao mesmo tempo, o historiador afirma que que o reinado fortalece a idolatria (1Sm 10,19; 12,6-8). Essa foi uma das razões do chamado de Elias (1Rs 17,1 – 22,54). Em resumo, o historiador levanta uma questão inquietante: “Não há rei sem idolatria”.

A OHD oferece aos seus leitores e leitoras uma visão completa do reinado em Israel. Dessa visão passamos entender que o reinado constitui-se uma ruptura na história do povo de Israel. Ainda que o historiador tenha alguma simpatia por alguns reis (Davi, Josias, entre outros), ele mostra-se negativo para com a maioria.

A história da monarquia, em Israel, começa com a escolha de Saul, um rei sem palácio e sem coroa (1030 aC). Em 1010 aC, Davi assume o governo, depois de cortejá-lo durante o reinado de Saul (1Sm 16 a 2Sm 5 – História da ascensão de Davi). Em 970 aC, Salomão assume o trono em Jerusalém. A OHD descreve seu período de governo de maneira negativa. Com a morte de Salomão (931 aC) concretizou-se o que era uma ameaça: A divisão do Reino de Israel. A partir daí, Israel passou a ter dois reinos: Reino do Norte ou Israel e Reino do Sul, ou Judá.

BibliografiaSCHWANTES, Milton. Breve história de Israel. São Paulo: Paulinas, 2006.

_________. Breve história de Israel. São Leopoldo: Oikos Editora, 2008.

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Literatura e Contexto Histórico

do Antigo Testamento

O período profético em Israel

Prof. Tércio Machado Siqueira

Objetivos:O projeto do povo de Deus sofreu a pri-

meira decepção com os reis. Os profetas falam e criticam em nome de Deus.

Apesar do revés, o povo de Deus nunca perdeu a esperança de construir uma

sociedade justa e feliz: surge o movimento messiânico.

Palavras-chave:Profeta; Elias; Ungido; Messias;

Reforma e Assíria.

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A atuação profética está intensamente entrelaçada com a história de Israel. As propostas pro-féticas não dizem respeito à reformas jurídicas ou à discussões doutrinárias, mas suas atuações estão diretamente ligadas com a história de suas épocas. Competentes na interpretação da Torá, a instrução divina, eles leram e analisaram atentamente a vida do povo comum e de seus líderes políticos e religiosos. Enfim, os profetas foram intérpretes da história.

Os profetas pré-literáriosInicialmente, é preciso dizer que no tempo dos patriarcas não se falava em profetas. Somente

no período da monarquia o termo “profeta” foi usado com frequência. Isso nos leva a dizer que os profetas e os reis foram contemporâneos.

No período de transição da época dos juízes para a monarquia, no início do reinado de Saul, os historiadores utilizam o termo “profetas”, no plural (Ism 10; 18). A figura do profeta não é muito antiga, em Israel, só aparecendo nos dias de Samuel e Saul. Nesse período, os profetas atuavam em grupos.

Só vamos reconhecer o profeta, com características israelitas, nos dias de Davi. É Natan, do seu marido Urias (2Sm 12,1-12). Daí para frente, a história bíblica destaca Aías de Silo que se opôs ao rei Salomão e à idolatria de Jeroboão (1Rs 11,29-40; 14,1-20). Também. O historiador menciona o profeta Jeú que atuou e contesteou o rei Baasa, no Reino do Norte (1Rs 16,1).

Somente nos dias da dinastia de Amri, ou Omri, no século IX aC, que a figura de um pro-feta tornou-se uma figura notável, com Elias e Eliseu. Muitos detalhes tornam a profecia de Elias como importante para a história bíblica. Primei-ro, a história colhida pela Obra Historiográfica Deuteronomista (OHD) apresenta elementos da história de Moisés. Segundo, a atuação de Elias revela algumas novidades não encontradas nas pessoas, até então conhecidas como “profetas” (1Rs 17,1 – 22,54).

Se de um lado, esta história mostra as ca-racterísticas dos profetas de Israel, do outro, o rei Acab revela a personalidade da maioria dos monarcas de Israel e Judá. Como no governo de Acab o grande injustiçado foi Nabote (1Rs 21,1-3), nos outros reinados, certamente, o grande prejudicado era o povo pobre e trabalhador. Em todas as ocasiões, os profetas tiveram uma atuação corajosa e exemplar em defesa do povo pobre e fiel.a Javé. A história de Elias nos leva a concluir que os profetas exigem ser lidos e interpretados em uma ótica política. A trilha deixada por Elias fez com que os profetas literá-rios de Issrael fossem marcados pelas seguintes características: A defesa dos pobres; Oposição à idolatria patrocinada pela Estado; Demonstração de zelo pelo culto a Javé; Crítica ao templo de Jerusalém e Ausência de discurso genérico e doutrinários.

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Resumindo: A cronologia dos profetas pré-literários“Profetas estáticos”, nos dias de Saul (1Sm 10); Natan, nos dias de Davi (2Sm 7,1-17; 12,1-12);

Aías de Silo, no reinado de Salomão (1Rs 11,29-40: 14,1-20); “Um homem de Deus vindo de Judá” (1Rs 13,12-14); Jeú, no reinado de Baasa (1Rs 16,1); Elias, no reinado de Acab (1Rs 17,1-2R 2,18); Eliseu, no reinado de Jorão e Jeú (2Rs 2,19-13,21). Da atuação desses primeiros profetas, desta-camos algumas características: (a) Estes profetas são conhecidos como pré-literários; (b) Dentre todos, o que mais se destacou foram Elias e Eliseu; (c) A maioria deles tem origem no Reino do Norte; (d) Suas atuações levam-nos crer que eles herdaram a tradição dos juízes libertadores; (e) O que move esses profetas é a crítica aos reis em defesa dos pobres e a denúncia da idolatria promovida pelo Estado.

Profetas literáriosA história de Israel é marcada pela atuação dos profetas. A partir do século VIII, suas ações

foram registradas nos pergaminhos. A presença desses documentos escritos assinala um avanço na transmissão das pregações proféticas, especialmente. Até então, as proclamações eram guardadas na memória e transmitidas oralmente.

Profetas do século VIII aC.

O século VIII aC foi de grande importância para a história do povo bíblico. Acomodados, os reinos de Israel e de Judá viviam em função do bem-estar da classe dominante. O AT não faz refe-rência à presença de um profeta que pudesse adverti-los do perigo, ainda oculto, da Mesopotâmia.

Na virada do século IX para o VIII, o grande e perigoso inimigo, a Assíria, estava preparando-se para as suas expansões por todo AOM. O período bom e tranquilo de Israel foi quebrado pelas pregações Amós, Oséias, Isaías e, poucos anos depois, Miquéias. Foram estes profetas que tiveram um olhar bastanto crítico e perceberam o perigo mortal que vinha com a expansão assíria. Os profetas, então, procuram admoentando os governantes e os religiosos para a responsabilidade de agirem em defesa da população pobre, mas, contudo, fiéis a Deus.

A profecia de Israel chega, nesse período, ao seu auge intelectual e religioso. Apesar dessa pregação estar baseada nas raízes mais profundas da fé javista, os líderes políticos e religiosos não reconheceram a legitimidade de suas advertências. Duas diferentes ameaças trouxeram terríveis dificuldades para o povo de Deus: A primeira ameaça veio da coligação Siro-efraimita, buscando apoio para se defender contra a invasão assíria, em 732 aC. A segunda ameaça foi mais ampla, tendo como sujeito a Assíria, em 701 aC.

O comandante assírio, Tiglate-Pileser III, invadiu o território de Canaã e destruiu a região onde se localizava o Reino do Norte, em 722 aC. Anos mais tarde, depois do Reino de Judá, negar o pa-gamento de tributo, os assírios cercam Jerusalém. A invasão não ocorreu em virtude do pagamento de tributo (2Rs 16,8). Nesse tempo de desesperança, Isaías e Miquéias pontuam que a esperança não está mais na dinastia de Davi, mas na figura de um Ungido, o Messias.

Judá e Jerusalém escaparam da submissão total aos assírios, e sua população de uma deportação como ocorreu às tribos do Reino do Norte. A aniquilação do Norte proporcionou um fato especial na história do povo bíblico. Judá passou a representar todo Israel e as tradições do Norte de Israel foram acolhidas e agregadas em Judá. Assim, tradições do Norte foram assumidas, compiladas e, muitas vezes, atualizadas para o contexto do povo de Judá.

Resumindo, a cronologia dos profetas do século VIII aC é a seguinte: Amós e Oséias profeti-saram, entre 745 a 722 aC, no Reino do Norte. Enquanto isso, os profetas Isaías, em Jerusalém,

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e Miquéias, no interior de Judá, atuaram entre 740 a 700 aC. Os dois últimos foram os grandes proclamadores da esperança messiânica.

Os profetas do século VII aC.

O Reino de Judá escapou da destruição, mas continuou submisso ao domínio dos assírios. O rei Acaz ofereceu-se como vassalo, e permitiu que, no templo de Jerusalém, construísse um altar, segundo o modelo assírio. Com isso, Javé ganhou a posição de um deus secundário. Eze-quias, filho de Acaz, continuou a política pró-assíria do pai. Após dominar Jerusalém, os assírios dedicaram-se à conquista do Egito. Em 671 aC, os assírios formaram um dos maiores impérios da história, naturalmente, com a ajuda do rei Manassés (2Rs 21,1-18). Surpreendentemente, poucos anos após, a Assíria entrou em decadência. Assim, em 640 aC, o Povo da Terra encontra-se livre para escolher o seu segundo mais famoso rei, Josias (2Rs 21,24). A ascensão ao trono do menino Josias resgata e reacende muitas antigas tradições do povo, e o menino rei, acessorado pelo Povo da Terra, empreende um grande reforma com base no livro de Deuteronônomio, supostamente encontrado durante a fachina no templo de Jerusalém (2Rs 22,3-10).

Resumindo, a cronologia dos profetas do século VII é a seguinte: Sofonias atuou no reinado de Josias (640-609 aC); Naum, atuou no final do reinado de Josias. Os profetas Habacuque e Jeremias participaram do final do período da Reforma de Josias. Porém, Jeremias dedica mais tempo de seu livro antes, durante e após a destruição de Jerusalém.

Bibliografia

SCHWANTES, Milton. A terra não pode suportar suas palavras: Reflexão e estudo sobre Amós. São Paulo: Paulinas, 2004.

SIQUEIRA, Tércio Machado; Santos, Suely Xavier dos. O Messianismo: Desde o AT até Jesus Cristo. São Paulo: Editora Cedro, 2008.

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Literatura e Contexto Histórico do Antigo Testamento

O período pós-exílico

Prof. Tércio Machado Siqueira

Objetivos: Apesar da destruição de Jerusalém e exílio dos

líderes do povo, a mão de Deus e a

esperança do povo se fizeram presente nos anos mais críticos do povo bíblico.

A história bíblica faz descobrir novas

formas de Deus agir e falar: Os profetas silenciam-se e o movimento apocalíptico

preocupando-se com todos os povos da terra.

Palavras-chave:Babilônia; exílio babilônico; reconstrução

do Templo; Esdras e Apocalípse

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O movimento reformista, sob a liderança do rei Josias, foi rápido como um relâmpago na noite, mas deixou elementos positivos. O Império Assírio foi derrotado pelo Império Babilônico, em 612 aC, deixando um vazio de liderança na região de Canaã. O Egito acordou momentanea-mente, reacendendo sua esperança de domínio sobre Judá. Depois de assassinar o rei Josias e desinstalar o rei Joacaz (609 aC), os egípcios seduzem as autoridades políticas e religiosas de Je-rusalém, por apoio à sua política. O interesse dos egípcios provoca a reação do profeta Jeremias. Ele dedica boa parte de suas pregações sobre esse tema.

Tentando evitar uma catástrofe maior, especialmente, sobre o povo camponês do interior, Jeremias prefere que os reis – Joaquim (609-597 aC), Joaquin (597 aC) e Sedecias (597-587 aC) – façam acordos e submetam-se aos babilônios, e não estabeleçam aliança com o Egito. Tudo em vão, pois a liderança do povo, em Jerusalém, insistia desafiar o poder babilônico. Reafirmando o seu poderio, Nabucodonozor, comandante do exército dos babilônios, exilou parte da população israelita e destruiu Jerusalém, em 587 aC.

Na Babilônia, os exilados israelitas tiveram grandes dificuldades, no início, conforme relatos de Ezequiel e, principalmente, do profeta anônimo, por nós denominado Dêutero Isaías (Is 40-55).

O vigor político e guerreiro da Babilônia não foi muito longe. Em 539 aC, Ciro, comandante da Pérsia, outro povo localizado na Mesopotâmia, derrotou a já fragilizada Babilônia, e assumiu o controle político do Antigo Oriente Médio (AOM). Em 537 aC, Ciro assina um edito libertando os israelitas no exílio (Esd 1,2-4). Apesar do Profeta Anônimo atribuir-lhe o título de messias (Is 44,28; 45,1-4), o retorno dos exilados não foi tão concorrido. O primeiro grupo de “retornantes” não realizou as obras necessárias (Ag 1,1-11). Somente o segundo grupo se destacou, reconstruindo o Templo de Jerusalém (520-515 aC). Os profetas Ageu e Zacarias estão entre os que realizaram essa obra histórica.

A reconstrução do Templo não trouxe os re-sultados previstos e esperados pelos anúncios apocalípticos. O que a história conta é que os funcionários persas deram muita atenção aos postos da cobrança de tributo. Jerusalém, sem os muros, era uma cidade modesta, mas o povo camponês, que não dependiam de Jerusalém, é que manteve a identidade israelita.

No século V aC, o comércio de perfume, especialmente, cresce e Jerusalém passa ter importância no cenário do AOM. Os nabateus, com suas sedes na cidade de Petra e nas mon-tanhas de Edom, são os novos sujeitos do co-mércio. Os caminhos desse comércio passam por Berseba, Jerusalém e Palmira, no deserto siro-arábico, valorizam essas localidades. É nesse contexto que deveremos ler a notícia da construção dos muros de Jerusalém, liderado por Neemias.

Não devemos ler a reconstrução de Je-rusalém de modo poético, como o relato bíbli-co faz. Por trás dessa obra, houve um enorme conflito político. Os samaritanos, que eram os representantes oficiais dos persas naquela região, chamada Transeufratênia, não queriam a restauração de Jerusalém e de Judá, pois além do surgimento de um novo entreposto comer-

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cial, ressurgiria, de novo, a identidade dos judeus, com base na sua história e na sua fé. O exemplo de Neemias abriu caminho para a obra de Esdras. O símbolo externo da cidade de Jerusalém, com sua identidade própria, passa a ser um diferenciador na tentativa de um ampla reconstrução do povo de Israel, em tempos tão adversos. A obra de Neemias em Jerusalém transforma-se em semente para a formação de um imorredouro ideal de fé.

O texto de Neemias, capítulos 1-2, sugere que a reconstrução da cidade de Jerusalém teve a participação do rei Artaxerxes I (465-424 aC), porém a obra de Esdras tem muito a ver com o an-seio da comunidade de judeus. Por exemplo, observamos o interesse de Neemias é eliminar todo foco que induz à escravidão na comunidade judaica (Ne 5).

Embora ser de origem sacerdotal, a obra de Esdras foi centralizada na codificação da lei, na sua releitura e na ressignificação da Bíblia. O entusiasmo gerado por essa obra está refletido nos Salmos 19 e 119, especialmente.

A atuação de Esdras foi além da canonização das leis inseridas no Pentateuco. Diante da obra de Neemias, Jerusalém voltou a ser povoada e a produção agrícola do interior de Judá foi revi-talizada e a sociedade judaíta passou a estar inserida nas atividades internacionais de comércio. Contudo, a fé e o culto perderam a força entre a população. Percebendo isso, Esdras procura pre-parar a população judaíta para viver sua identidade de fé. Para ele, os judeus precisavam cumprir a lei para marcarem a presença social e religiosa Para tanto, os judeus tinham que expressar a fé, através, especialmente, através da obediência à Lei: Não aos casamentos mistos; Obrigatoriedade para com a guarda do sábado, a prática do dízimo e a circuncisão.

No período pós exílicos, a atividade dos profetas cessa. Os que atuam, como Ageu e Zacarias e Malaquias, têm a ver com o intento de restaurar o davidismo. Joel está mais próximo do apoc-alipsismo. Ei-los em resumo: Malaquias (O desânimo enfraqueceu a fé: é preciso organizar); Isaías 56-66 (É tempo de reconstruir a nação). Todos estes profetas atuaram no século VI aC.

Os demais profetas atuaram no fim do século V até o século IV. Em Joel, o movimento apocalíti-co mostra a sua face; Abdias ou Obadias anuncia as boas novas de Deus, incluindo o julgamento divino sobre o desleal Edom; Enquanto isso, Jonas é anti-profeta, mas o livro afirma que Javé é Deus do mundo, em bom tom apocalíptico.

O tipico da profecia é a sua atuação no período dos reis de Israel e Judá. Como fim da monar-quia, cessou a atividade profética que se restringia, particularmente à Judá e Israel. Quando o povo israelita perdeu a terra, surgiu um novo fenômeno na proclamação da palavra: o apocalip-sismo está focado numa mensagem para a terra e o mundo.

Ainda que a linguagem apocalíptica seja típica do período grego (333-63 aC), a sua origem deve ser pesquisada nos dois séculos anteriores.

Bibliografia

SCHWANTES, Milton. Sofrimento e esperança no exílio: História e teologia do povo de Deus no século VI aC, São Leopoldo: Oikos Editora, 2009.

SIQUEIRA, Tércio Machado. Tirando o pó das palavras: História e teologia de palavras e expressões bíblicas. São Paulo: Editora Cedro, 2005.

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Literatura e Contexto Histórico do Antigo Testamento

Hermenêutica Bíblica I

Profa. Suely Xavier dos Santos

Objetivos:Apresentar os conceitos que ajudam na

compreensão da história da hermenêutica bíblica, assim como apresentar uma definição

de hermenêutica.

Discorrer sobre as principais correntes hermenêuticas no decorrer da história e suas

contribuições para o estudo da Bíblia.

Palavras chaves: Hermenêutica Bíblica; método; Bíblia;

interpretação.

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Texto Base

Estudar Teologia é debruçar-se sobre textos, uma vez que a Teologia é a ciência centrada no texto. Deste modo, se faz necessário o conhecimento de alguns métodos de interpretação que darão clareza ao texto e fará emergir um significado, tanto do contexto que foi escrito, quanto para o/a leitor/a em sua realidade. Neste sentido a Hermenêutica Bíblica se propõe a apresentar métodos de interpretação para leitura e análise do texto bíblico, a fim de demonstrar eixos pelos quais o texto pode ser lido. Neste sentido, podemos compreender que “a hermenêutica bíblica trabalha com textos que passaram por uma longa trajetória de criação, interpretação e reelaboração”.1

Há que se levar em consideração que a hermenêutica tem diante de si três aspectos que fazem parte do texto:

1 CROATTO, J. Severino. Hermenêutica Bíblica. p. 14.

A autoria do texto no seu lugar de origem; o texto como produção de sentidos para uma de-terminada época; e o leitor como receptor do texto, que não tem vínculo com o autor/a, mas que precisa dele para ressignificar a mensagem para os seus dias.

Para uma melhor compreensão do significado de Hermenêutica, a partir de agora, vamos conceituar o termo e abordar um pouco a história da transmissão do texto bíblico a partir das hermenêuticas existentes em cada época.

1. Definição de Hermenêutica

Hermenêutica é a arte de interpretar. A origem desta palavra está no verbo grego hermeneuein que significa traduzir, interpretar. Presente nos textos clássicos da filosofia grega, o termo hermenêutica aparece no Organon de Aristóteles como unidade que merece um tratado próprio: Peri hermeneias. Da interpretação. Ou seja, Aristóteles demonstrou a importância da interpretação do texto ao escrever um tratado sobre o tema em sua época.

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A etimologia da palavra Hermenêutica, também tem sua origem na palavra grega hermeios com referência ao sacerdote do oráculo de Delfos e o mensageiro-alado Hermes. A função de Hermes não se restringe a proclamação da mensagem, mas ele tem como tarefa torná-la compreensíveis, ou seja, ele deve interpretá-las. No mundo grego, Hermes está associado à descoberta da lingua-gem e da escrita, neste sentido observamos sua estreita ligação com os instrumentos da razão para chegar ao significado das coisas e as mediações para uma boa comunicação.

Assim sendo, podemos observar que a hermenêutica tem como objeto de análise os discursos realizados ao longo da história, no caso da história bíblica, considerando as dinâmicas próprias da produção e abrangência da recepção das mensagens.

2. Uma visão panorâmica da história

Para uma melhor compreensão dos discursos e das interpretações feitas ao longo da histó-ria, vamos no deter sobre os processos hermenêuticos, como forma de se conhecer melhor o texto, em várias etapas da produção de sentido da religião cristã. Vejamos alguns métodos de interpretação:

“Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de uma maneira que entendessem o que lia.” (Ne 8.8)

2.1. Exegese Judaica Antiga

O texto de Ne 8.8 indica que por ocasião da volta do cativeiro Babilônico, Neemias faz uma interpretação do Pentateuco de forma que a população entendesse a leitura. Lia-se em hebraico e traduzia-se para o aramaico, explicando o significado do texto em mãos. Aqui observamos um processo hermenêutico ocorrido na volta do cativeiro. Nos tempos do cristianismo primitivo, também havia a releitura dos textos do Antigo Testamento (Torah, Profetas e alguns Escritos – Lc 24.27), de maneira que os cristãos/ãs pudessem compreender as Escrituras.

A exegese judaica no período de Jesus era literal, midráshica, pesher e alegórica. Que significa o seguinte:

Literal: o que se lê é fato; há uma leitura fundamentalista do texto.

Midráxica: concentrava-se na identificação de significados ocultos de detalhes gramaticais, escola do Rabi Hillel. Para esta escola as regras de interpretação são as seguintes:

o Dava significado a textos, frases e palavras sem levar em conta o contexto em que se pretendia ser aplicados;

o Combinava textos que continham palavras ou frases semelhantes, sem considerar se tais textos referiam-se á mesma idéia;

o Tomava aspectos incidentais de gramática e lhes dava significação interpretativa.

o Também se devia fazer inferência ao texto por analogia.

Midraxe: palavra hebraica cujo significado é método de interpretação da escritura, com caráter homilético. Faz as interpretações, principalmente, das narrativas bíbli-cas. (BARRERA, 1996; p.697

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Outra escola de interpretação conhecida na época de Jesus é a escola de Shammai, que faz uma leitura mais conservadora do texto, apesar de reconhecer mais, por exemplo, os direitos da mulher e a validade de seu testemunho.

Pesher: a forma interpretativa própria da midraxe, acrescentou-se o enfoque escatológico e apocalíptico (Comunidade de Qumran).

2.2. Exegese Patrística: 100-600 d.C.

A exegese da Patrística priorizou o método alegórico, no qual o verdadeiro sentido jaz sob o significado literal da Escritura.

• Para Filão de Alexandria (20 a.C. – 50 d.C.) o sentido literal da Escritura representava um nível imaturo de compreensão; já o significado alegórico era para os maduros.

• Clemente de Alexandria (150-215 d.C.), usou este método e alegava que as Escrituras ocultavam o verdadeiro sentido. Para ele, cinco sentidos estão ligados às Escrituras: histórico, doutrinal, profético, filosófico e místico.

• Orígenes (185-254 d.C.?), sucessor de Clemente no uso deste método, dizia que nas Escrituras havia uma vasta ale-goria, na qual cada detalhe é simbólico (1Co 2.6-7). O corpo, alma e espírito tem sentido literal, moral e alegórico/místico.

• Agostinho de Hipona (354-430 d.C.) en-tendia que a Escritura também deveria ser lida de forma alegórica (2Co 3.6). E ainda, no que diz respeito a interpreta-ção dos textos, dentre outros requisitos, deveria observar os seguintes2:

Método Alegórico: este método trabalha com o texto como produtor de sentido que é transmitido através de símbolos. O seu sentido em grego é “falar algo mais do que parece dizer”. Um exemplo de alegoria está nas cartas de Paulo, que apresentam algumas interpretações alegóricas de temas do Antigo Testamento: 1 Co5.6-8; 9.8-10; 10.1-11; Gl 4.21-31.

2 Cf. PIRES, Carlos Alberto. O que é hermenêutica. p. 24-25.

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O intérprete deve possuir fé cristã autêntica

Deve-se ter em alta conta o significado literal e histórico da Escritura.

A Escritura tem mais que um significado e, portanto, o método alegórico é adequado.

Há significado nos números bíblicos.

O Antigo Testamento é documento cristão porque Cristo está retratado nele do prin-cípio ao fim.

Compete ao expositor entender o que o autor pretendia dizer, e não introduzir no texto o significado que ele, expositor, quer lhe dar.

Um versículo deve ser estudado em seu contexto, e não isolado dos versículos que o cercam.

• A Escola de Antioquia da Síria desenvolveu, através de Teodoro de Mopsuéstia (350-428 d.C.), o princípio da interpretação histórico-gramatical, isto é, que um texto deve ser inter-pretado segundo as regras da gramática e dos fatos históricos. Evitava a exegese dogmática e criticava os alegoristas. Os princípios exegéticos da escola de Antioquia lançaram a base da hermenêutica moderna.

2.3 Exegese Medieval: 600-1500 d.C.Na interpretação da Idade Média, há a reedição dos trabalhos dos Pais da Igreja. Neste sen-

tido, a interpretação está vinculada a tradição e ao método alegórico. O sentido agostiniano de interpretação era o que vigorava.

2.4 Exegese da Reforma: século XVI

• Lutero (1483-1546 d.C.), para ele interpretação da Bíblia é feita através da fé e iluminada pelo Espírito Santo. Neste sentido, as Escrituras devem determinar o que a Igreja ensina. Por isso o método que vigorava era o sentido literal e cristocêntrico do texto (o AT e o NT apontam para Cristo). Mesmo sendo uma leitura literal, ele dizia que era necessário consi-derar a história, a gramática e o contexto.

• Calvino (1509-1564 d.C.) diz que a alegoria é uma “artimanha de Satanás para obscurecer o sentido da Escritura”. Assim, ele não partilhava da idéia de que Cristo deve ser encontrado em toda a Escritura, e ainda deve-se deixar o autor dizer o que ele de fato diz.

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1.5 Exegese de Pós-Reforma

Na exegese da pós-reforma há quatro momentos que se expressam da seguinte forma:

• O Confessionalismo que trata a exegese como uma “criada da dogmática”

• O Pietismo que reage à exegese dogmática. Os expoentes deste movimento ressaltam, conforme Spener (1635-1705), o retorno ao interesse cristão mútuo e às boas obras; melhor conhecimento da Bíblia e melhor preparo espiritual para os ministros. Ora leitura histórico-gramatical, ora leitura com base na luz interior ou unção.

• O Liberalismo prioriza a razão com graus de inspiração, e nega o caráter sobrenatural da interpretação por alguns.

• A Pós-modernidade que desconfia do método hermenêutico. Isso porque se abre para o relativismo hermenêutico, para o qual todas as interpretações são arbitrárias ou válidas.

4. Considerações finaisComo podemos observar a Teologia tem contribuições significativas a dar às discussões não

só sobre interpretação bíblica, mas também sobre hermenêutica em geral. Para Martim Buber, o que o cristianismo dá ao mundo é a hermenêutica, isto porque o que se conhece do cristianismo são interpretações feitas ao longo da história.

Vale a pena salientar que o/a intérprete é limitado pelo tempo, espaço, geografia e língua, no que concerne a intepretação da Bíblia, assim sendo há que se levar em consideração a importância dos métodos exegéticos para se fazer Hermenêutica Bíblica, ou seja, para se interpretar o texto bíblico.

Bibliografia

BARRERA, J. Trebolle. Bíblia Judaica e a Bíblia Cristã: introdução à história da Bíblia. Pe-trópolis: Vozes, 1994.

CROATTO, Severino. Hermenêutica bíblica. São Paulo: Paulinas, 1985.

VIRKLER, Henry A. Hermenêutica avançada: princípios e processos de interpretação bíblica. São Paulo: Vida, 2001.

VANHOOZER, Kevin. Há um significado neste texto? Interpretação bíblica: os enfoques contemporâneos. São Paulo: Vida, 2005.

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Literatura e Contexto Histórico do Antigo Testamento

Hermenêutica Bíblica II

Prof. Tércio Machado Siqueira

Objetivos: Levar os/as alunos/as analisarem com maior

profundidade a relação entre o Antigo Testamen-to e o Novo Testamento.

Palavras-chave:Hermenêutica/interpretação; Palavra de Deus,

Tora/lei/ensino divino e cânon bíblico.

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A relação entre Antigo e Novo TestamentoApesar dos grandes estudiosos da Bíblia sustentarem que a teologia cristã tem que ser vista

e interpretada à luz do Antigo Testamento, a prática das igrejas mostra o contrário. Pretendemos abordar este atraente e desafiador tema que a Igreja Cristã enfrentou, ao longo de dois milênios, e continua enfrentando nos dias de hoje.

Paira sobre o povo cristão uma inquietante pergunta: Como se lê e interpreta o Novo Testa-mento frente ao Antigo Testamento? Há muito detalhes que estão na base desta questão: (1) A Igreja Cristã canonizou, como Bíblia Sagrada, o Antigo Testamento e o Novo Testamento; (2) É, praticamente, impossível conhecer o Novo Testamento sem conhecer o Antigo Testamento. Por-tanto, não se deve aproximar deste tema com emoção e superficialidade.

Para analisar esta questão, vamos iniciar nossa análise com duas afirmações de dois estudiosos da Bíblia. Eles são sérios defensores do cânon bíblico, e condenam a idéia de que Deus se revelou de modo progressivo ao longo da história bíblica.

Inicialmente, a afirmação de Dietrich Bonhoeffer: “Quem deseja ser muito rapidamente e muito diretamente neotestamentário não é, a meu ver, um cristão” (Citado por Frank Crüsemann, Em: Cânon e história social, São Paulo: Loyola, 2009, p. 411).

A Igreja Cristã, ao longo de sua história, “reconhece que o Antigo e o Novo Testamento, juntos, representam a fonte original e o fundamento da verdade cristã, a serviço de Jesus Cristo, e que o AT e NT estão mutuamente abertos um ao outro” (Rolf P. Knierim, A interpretação do AT, São Bernardo do Campo: Editeo, 1990, p.63).

A constatação do problema.O biblista alemão, Frank Crusemann, procura discutir este tema levantando a seguinte questão:

“Até que ponto a teologia cristã pode ser veterotestamentária?” Para ele, a origem desse conflito encontra-se no segundo século da Era Cristã, quando Marcião levantou uma histórica controvérsia sobre a validade do AT para a Igreja Cristã. Para Crusemann, o Deus do AT seria um outro deus, inimigo do Deus cristão (conforme Antonius H. Gunneweg, Hermenêutica do Antigo Testamento, São Leopoldo: Editora Sinodal, 2003, p. 131).

Evidentemente que essa crise teológica já existia, antes de Marcião. Ele apenas a aprofundou e a tornou público. O agravante desse conflito aconteceu logo em seguida: Suas teses foram consi-deradas heréticas pelos Pais da Igreja, em Roma, no ano 144 dC. A condenação de Marcião, pelos tribunais eclesiásticos, não eliminou a discussão em torno da importância do AT em relação ao NT.

O preconceito para com o AT continuou sem a agressividade dos marcionitas, mas intenso e sutil. Seguiu uma aparente paz na convivência entre cristãos judeus e cristãos de outras nacio-nalidades, caracterizada como enganosa. Isso fica claro que muitas doutrinas cristãs, através de concílios, são substanciadas apenas de modo neotestamentário.

A dúvida sempre esteve presente na vida das igrejas cristãs: “Pode a teologia da Igreja Cristã ser veterotestamentária?” Essa dúvida tem uma razão de ser: Ela nasce do medo de perder o elemento autêntico e próprio da mensagem cristã. Este receio gera desconfiança entre o povo cristão, ainda que de forma oculta. Este medo faz sugerir que o significado do AT para a fé cristã é e deve ser limitado. Diante disso, parte do povo cristão interpreta e confessa através do argumento que o NT conduz intensamente a revelação maior da Bíblia, nos níveis lingüístico e no de conteúdo teológico.

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Argumentando em favor de uma nova hermenêutica bíblica.Entre tantos exegetas e teólogos cristãos, Martin Lutero representa um marco. Como professor

de Bíblia, no século XVI de nossa era cristã, ele elaborou uma marcante tradução da Bíblia para a língua alemã. Todavia, o decisivo, em toda sua obra, não foi a tradução, mas a motivação para ler e compreender as Escrituras, proporcionando ao leitor/a a vontade de ir às raízes do testemunho bíblico. Ao contrário da Igreja Primitiva, que privilegiava a leitura dos Evangelhos, Lutero incentivava uma leitura que busca o fio condutor da história da salvação.

Inspirado na obra de Lutero, Dietrich Bonhoeffer, morto pelos nazistas em 1945, argumentou em favor da importância do AT para o NT. Não desprezando o evento-eixo, Jesus Cristo, ele enten-deu que a Igreja Cristã e a teologia tornaram-se mais cristãs quando redescobriram o valor do AT para a fé. Bonhoeffer é considerado um mártir cristão. Foi ele que formulou algumas afirmações dirigidas aos que vêem o AT com certo preconceito.

O nome divino: “Apenas quando se conhece a indescritível e inefabilidade do nome de Deus, Javé, também se pode enunciar uma vez o nome de Jesus Cristo”. Em oração, Jesus mostra com clareza que a Sua obra é tornar conhecido o nome do Pai: Eulhesfizconheceroteunomeeaindaofareiconhecer,afimdequeoamorcomquemeamasteesteja neles, e eu neles esteja (Jo 17,26).

Novos céus e nova terra: “Apenas quando se ama a vida e a terra de modo tal que com elas tudo parece perdido e no fim pode-se crer na ressurreição dos mortos e num novo mundo”. Com efeito, criarei novos céus e nova terra... (Is 65,17; conforme 11,2-10). Os teus mortos tornarão a viver; Os teus cadáveres ressurgirão. Despertai e cantai, vós os que habitais o pó... (Is 26,19); E muitos dos que dormem no solo poeirento acordarão, uns para a vida eterna e outros para o opróbrio... (Dn 12,2).

Torá/lei e graça: “Apenas quando se deixa a lei de Deus valer sobre si próprio pode-se também falar uma vez de graça”. A Torá, no AT, é definida como ensino divino. O Salmo 19 a define como restauradora da vida e doadora de sabedoria às pessoas humildes; ela traz alegria ao coração, ilumina os olhos e é considerada tão doce como o favo de mel (v.7-10). Enfim, o salmista definia a Torá como um instrumento de graça. Das profundezas clamo a ti, Javé; Senhor, ouve o meu grito! Que teus ouvidos estejam atentos ao meu pedido por graça... (Sl 130,1-2).

Ira e perdão: “Apenas quando a ira e a vingança de Deus contra seus inimigos perma-necem como realidade válida, então algo do perdão e do amor ao inimigo pode tocar nosso coração”. O perdão torna-se mais vivo e necessário na comunidade quando a ira de Deus volta-se contra o malfeitor. Javé! Javé! Deus de ternura e de piedade, lento paraacólera,ricoemgraçaeemfidelidade...(Ex 34,6-7). Por trás da pregação de Jesus – “amarás o teu próximo... Amai os vossos inimigos” (Mt 5,43-44) estão as instruções de Levítico: Não andarás caluniando entre teu povo; Não levantarás contra a vida de teu vizinho ... Não odiarás o teu irmão, em teu coração; Certamente tu repreenderás o teu compatriota (Lv 19,16-17). Portanto, Jesus se serve do conteúdo da Torá para instruir os contemporâneos.

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ConclusãoPor trás de todo preconceito para com o AT está uma leitura equivocada. É certo afirmar que a

Bíblia é Palavra de Deus, contudo, ela também tem palavras dos homens. No capítulo 28 do livro de Jeremias, encontramos um exemplo disso. Há um diálogo acirrado entre dois profetas: Jeremias e Hananias. Ambos reivindicam que têm a autoridade de Deus, mas o verso 17 diz que somente Jeremias tinha autorização para tal.

Os grandes temas do AT não estão em contradição com os do NT. A renovação de toda criação, a disciplina como sinal da graça e a supremacia do perdão sobre a ira estão presentes tanto no AT como no NT. A vida boa e feliz prevalece sobre toda a Bíblia derrotando toda maldade que tenta desestruturar a vida no mundo.

Bibliografia

MESTERS, Carlos. Por trás das palavras. Petrópolis: Editora Vozes.

GUNNEWEG, Antonius H.,Hermenêutica do Antigo Testamento. São Leopoldo: Editora Sinodal.

CROATTO, J. Severino. Hermenêutica Bíblica. São Paulo: Edições Paulinas.

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